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Acesso aos medicamentos no

sistema público de saúde


Disciplina de Assistência Farmacêutica
Profa. Tânia Alves Amador
Considerações Gerais
❖ ONU: acesso a medicamentos essenciais é reconhecido como um dos cinco
indicadores relacionados a avanços na garantia do direito à saúde.
❖ Estimativas no início do século XXI: ⅓ pessoas no mundo não dispõe de acesso
aos medicamentos, sendo a pior situação verificada nos países de baixa e média
renda, onde essa proporção pode chegar a 50%.
❖ Nesses países, em apenas um terço das vezes, as instituições públicas têm os
medicamentos essenciais disponíveis quando são procuradas pela população.
❖ O acesso aos medicamentos se dá mediante a:
-> disponibilidade
-> a capacidade aquisitiva das pessoas
-> acessibilidade geográfica e aceitabilidade, levando ao uso racional do produto
Aspectos globais sobre acesso a medicamentos

Monopólio da
Preços dos
me d i c a me n t o s indústria Patentes 20 anos

farmacêutica
Questões sobre acesso a medicamentos no
Brasil
Dados do CONASS
Principais problemas nas
compras de medicamentos nos
estados da federação.
• licitações desertas;
• aumento desproporcional de
preços em relação às compras
anteriormente realizadas;
• descumprimento dos prazos
de entrega pelos fornecedores;
• descumprimento de exigências dos editais, como a • solicitações dos fornecedores para haver troca de
apresentação de Certificado de Boas Práticas de marca ou fabricante do produto originalmente cotado
Fabricação e da Autorização de Funcionamento e na licitação;
Autorização Especial (para os medicamentos sob • dificuldades para a aplicação do CAP e desoneração
controle especial), ambos expedidos pela Anvisa; tributária, o que leva ao não cumprimento do PMVG
• descumprimento do prazo mínimo de validade estabelecido para os produtos a ele sujeitos;
vigente por ocasião da entrega estabelecido pelas • no caso de compra de produto de fabricação
SES; exclusiva, muitos estados têm dificuldade de fazer a
• fracionamentos das quantidades por ocasião da compra direta de fabricantes e fornecedores
entrega; exclusivos praticam preços superiores àqueles
conseguidos por outras SES em compras diretas junto
ao fabricante;
• existência de lobby entre distribuidoras regionais • Dificuldades maiores em relação às compras
que deixam de apresentar propostas de intermediadas por distribuidoras são relatadas
fornecimento quando o valor máximo a ser pago pelos estados das Regiões Norte e Nordeste, onde
pelo produto é estabelecido com base no valor essa é a principal forma de acesso aos
praticado em outros estados. Na iminência do medicamentos adquiridos por licitação.
desabastecimento, essas SES acabam por fazer • Demora dos fornecedores assinarem as atas e
compras emergenciais, situação na qual as retirarem as Notas de Empenho.
distribuidoras acabam por ofertar os
medicamentos a preço superiores aos inicialmente • Inúmeros e injustificados atrasos nas entregas;
estabelecidos no processo licitatório.
• Solicitações frequentes de cancelamento de
empenhos;

Acesso a medicamentos
Objetivos:
Acesso a medicamentos no setor  Descrever a prevalência e os fatores associados
ao acesso total, pelos usuários, a medicamentos
público: análise de usuários do no Sistema Único de Saúde (SUS) que tiveram
prescrição no próprio sistema.
Sistema Único de Saúde no Brasil.  Investigar o meio de obtenção dos medicamentos
pelos indivíduos que não os receberam por
intermédio do SUS,
 Distribuição, segundo fatores socioeconômicos e
demográficos, daqueles que não obtiveram, seja
Boing, Alexandra Crispim et al. , 2013 no setor público, seja no privado, quaisquer dos
medicamentos prescritos.

Participantes: a população analisada


correspondeu aos indivíduos que tiveram
medicamentos receitados em atendimentos de saúde
realizados no SUS, nas duas semanas anteriores à
entrevista (n = 19.427).
- Foram analisados dados
oriundos do suplemento saúde
da Pesquisa Nacional por
População Amostra de Domicílios (PNAD).
Conduzida em 2008 no Brasil
Amostragem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).

391.868

19.427
Resultados
Resultados
- Pouco menos da metade da
população que teve medicamentos
prescritos no SUS os obteve no próprio
sistema público;
- Esse número foi mais elevado entre
os habitantes da Região Sul, os de cor
de pele preta, com menor escolaridade
Conclusões e renda e entre aqueles que residem
em domicílios cadastrados na ESF..
- No entanto, quando se considerou
também a obtenção desses
medicamentos via setor privado,
verificou-se maior acesso total para os
mais ricos, com maior escolaridade e
brancos.
- A prevalência de acesso aos
medicamentos encontrada neste
estudo foi de 45,3%.
- O maior acesso foi evidenciado
entre os de cor de pele preta, com
menor escolaridade e menor renda.
Conclusões - Apesar da relevância do SUS na
provisão de fármacos, observou-se
que apenas 45,3% das pessoas que
têm medicamentos prescritos em
consultas no sistema público os
obtêm integralmente no próprio
SUS.
- Apesar da PNM e PNAF, maiores avanços
dependem:
- da seleção e uso racional de
medicamentos,
- financiamento sustentado,

Conclusões - preços acessíveis


- Adequado sistema de suprimento, o qual
ainda não está consolidado no Brasil.
- Para que se efetive o acesso aos
medicamentos pela população, é necessário
que os governos melhorem sua capacidade
de financiamento, uso eficiente dos
recursos e regulação do mercado.
Características da judicialização do
acesso
a medicamentos no Brasil: uma Objetivo: caracterizara judicializaçãodo acesso
a medicamentos no Brasil, considerando-se os
revisão
aspectos processuais, médico sanitários e
sistemática
político-administrativos das ações,assim como
algumascaracterísticasdosautoresdasações.

Métodos: revisão com busca sistemática


Izamara Damasceno Catanheide, Erick Soares Lisboa, dosestudossobrea judicializaçãodo acesso
Luis Eugenio Portela Fernandes de Souza a medicamentosno Brasil. Foram incluídos
Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 26 [ 4 ]: na na revisão53 estudos.
1335-1356, 2016
Ao menos, quatro pontos foram bem
estabelecidos:
Conclusões da 1º: a prescrição médica é a prova necessária e

revisão suficiente para embasar a sentença judicial no


deferimento de liminares.

2º: predomina a prescrição pelo nome


comercial, em detrimento da denominação
genérica.

3º: a maioria das ações teria sido evitada, caso


fossem observadas as alternativas terapêuticas
presentes nas listas do SUS.

4º: os medicamentos sem registro na ANVISA


são exceção como objetos de ações judiciais.
Pontos pouco esclarecidos são diversos.
❖ Embora vários estudos indiquem que a
judicialização favorece indivíduos com
boas condições socioeconômicas

Conclusões da resultados contraditórios que exigem


revisão estudos mais abrangentes.
❖ Não se pode afirmar nem negar: valores
gastos com a compra de medicamentos
demandados judicialmente
comprometam o orçamento do SUS.
Não se sabe ao certo:
- se os medicamentos do elenco do
SUS foram incluídos nas ações judiciais:
❖ em decorrência de falhas na
gestão
❖ ou apenas por constarem da
mesma prescrição de um
medicamento não pertencente
Conclusões da que motivou a demanda.
Não está claro se a demanda judicial
revisão por medicamentos foi:
❖ dos componentes da assistência
farmacêutica resulta da não
adesão dos prescritores às listas
oficiais,
❖ de estratégias da indústria
❖ e/ou da desatualização das listas.
Lacunas
- os desfechos da utilização do
medicamento demandado
judicialmente
Conclusões final - o grau de adesão dos
prescritores às listas oficiais
da revisão - e a participação da indústria e
das associações de portadores de
doenças nesse processo.

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