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Unidade 2: Incorporação de medicamentos no SUS e as listas de

referências
Seja bem-vindo à segunda unidade do módulo que tem por objetivo:

Conhecer os componentes da Assistência Farmacêutica e a Relação Nacional de Medicamentos


Essenciais (RENAME);

Conhecer o conceito de medicamento essencial;

Compreender a importância da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME).

Introducao Introdução

Anteriormente, foi apresentado o conceito de incorporação de medicamentos no SUS e


descreveu-se o processo de avaliação de tecnologias, que preconiza a comparação entre o
“novo” e o “já disponível” para decidir se essa nova tecnologia passará ou não a ser
disponibilizada no sistema de saúde.

Tendo sido decidido pela incorporação, quem será o responsável pelo financiamento,
planejamento e processo de compra (programação e aquisição) e dispensação desse
medicamento? É justamente sobre isso que vamos falar neste tópico. Mais adiante, também
falaremos sobre os medicamentos não disponíveis, que estão nessa condição por não terem
sido avaliados ou porque foram avaliados com a decisão final de não incorporação.

Introducao Discussão teórico-legal

Componentes da Assistência Farmacêutica

A partir do momento que se define que um medicamento será incorporado ao SUS, uma das
principais questões que deve ser discutida é: Em qual componente poderá ser feita a
incorporação?

Mas o que é esse componente?


Componente Especializado

O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, instituído em março de 2010, é


resultado de um processo que foi iniciado ainda antes do SUS, em 1982, como uma forma de
promover o acesso a “medicamentos excepcionais”.

✔Uma vez que a maioria dos medicamentos solicitados por essa via era de grande valor
monetário, esse componente foi por muito tempo conhecido como “alto custo”.

✔Atualmente, é reconhecido como uma estratégia que compõe a integralidade do cuidado


ambulatorial e da manutenção do equilíbrio financeiro entre as esferas de gestão.

✔As linhas de cuidado estão definidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)
publicados pelo MS.

Componente Básico

O Componente Básico é aquele no qual são alocados os medicamentos do


Elenco de Referência Nacional de Medicamentos e Insumos
Complementares para a Assistência Farmacêutica na Atenção Básica.

 ✔São medicamentos essenciais (serão definidos na unidade a seguir),


incluindo medicamentos alopáticos, fitoterápicos e homeopáticos.
 ✔O financiamento desses medicamentos é tripartite, ou seja,
compartilhado entre as três esferas de governo. Cada uma delas
contribui com um valor monetário/habitante/ano mínimo (valores
mínimos definidos e atualizados por legislação específica, repassados
fundo a fundo) (BRASIL, 2013).
 ✔A definição de quais medicamentos serão incorporados (seleção) e de
sua respectiva programação, envolvendo aquisição, distribuição e
dispensação aos usuários, é de responsabilidade do município.

Componente Estratégico

O Componente Estratégico está relacionado ao tratamento de doenças ou


condições que são consideradas problemas de Saúde Pública e, por isso, estão
contempladas em programas estratégicos do Ministério da Saúde (MS), como é
o caso de algumas doenças infectocontagiosas e de situações como o
tratamento de coagulopatias, controle do tabagismo e planejamento familiar.
Os medicamentos são financiados e comprados pelo MS, que realiza a
distribuição para os estados. Cada estado fica responsável por distribuir os
medicamentos para seus municípios. O tratamento dessas doenças é feito com
base em protocolos clínicos cujo processo de elaboração é de responsabilidade
do MS. A dispensação desses medicamentos aos usuários é de responsabilidade
dos municípios.
Para consultar os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)
disponíveis:

 ✔acesse o portal do Ministério da Saúde.


 ✔ou o website da CONITEC .

Inclui o tratamento farmacológico para doenças de menor prevalência ou linhas


de tratamento para doenças de alta prevalência cujo tratamento na atenção
primária com os medicamentos do Componente Básico não tenha obtido
sucesso. Os medicamentos desse componente são classificados em três grupos,
de acordo com a complexidade da doença a ser tratada:
 

É financiado pelo MS e subdividido em: 1a) medicamentos


comprados pelo MS; 1b) medicamentos comprados pelas
Secretarias Estaduais de Saúde (SES), sendo o res É
financiado pelo MS e subdividido em: 1a) medicamentos
comprados pelo MS; 1b) medicamentos comprados pelas
Secretarias Estaduais de Saúde (SES), sendo o ressarcimento aos
estados feito por meio de apresentação de Autorização de
Procedimentos de Alta Complexidade (APAC).sarcimento aos
estados feito por meio de apresentação de Autorização de
Procedimentos de Alta Complexidade (APAC).

É composto por medicamentos comprados e financiados pelas


SES.É composto por medicamentos comprados e
financiados pelas SES.

É É composto por medicamentos comprados, financiados e


dispensados pelos municípios.composto por medicamentos
comprados, financiados e dispensados pelos municípios.

 
Com exceção dos medicamentos do grupo 3, todos são dispensados em
farmácias gerenciadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde (SES), e a
organização dessa rede de farmácias apresenta particularidades nos diferentes
estados brasileiros.

 ✔Para que ocorra a dispensação, o paciente precisa apresentar a


prescrição e um formulário LME (Laudo para Solicitação, Avaliação e
Autorização de Medicamentos).
 ✔Além disso, podem ser solicitados resultados de exames e outros
documentos, conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
(PCDT), para que seja iniciada a avaliação do processo.
Ao iniciar suas atividades na atenção primária à saúde, da mesma forma que
em hospitais, é importante conhecer a legislação do município (normas) sobre
prescrição e dispensação de medicamentos do Componente Básico da
Assistência Farmacêutica.

 ✔ Uma vez que no SUS é praticada a descentralização da gestão,


são os gestores municipais quem determinam se serão atendidas
todas as prescrições, independentemente da origem, ou se
somente aquelas elaboradas por prescritores do SUS, por
exemplo.
 ✔ Também é importante conhecer, entre outras informações,
quais os documentos a serem apresentados pelo paciente para
que possa receber os medicamentos.

Para medicamentos de outros componentes, as regras também podem ser


diferentes.

 ✔ Por exemplo: Se o paciente precisar de medicamentos do


Componente Especializado, deve receber do prescritor o
formulário LME devidamente preenchido, além de informações
sobre documentação e local para onde levar esses documentos.

Todos os medicamentos inclusos nos Componentes da Assistência


Farmacêutica estão descritos na Relação Nacional de Medicamentos
(RENAME).

A RENAME
O Brasil teve uma lista de medicamentos prioritários mesmo antes de a
Organização Mundial de Saúde (OMS) propor sua primeira lista de
medicamentos essenciais, em 1977.
Essa lista brasileira inicialmente teve um papel norteador da produção de
medicamentos similares pela indústria nacional, para compra pela Central de
Medicamentos (CEME). A CEME foi uma instituição de compra e distribuição de
medicamentos que vigorou entre 1971 e 1997.
O papel orientador das políticas públicas e de prática clínica da
RENAME passou a ser exercido de forma mais impactante a partir da
publicação da Política Nacional de Medicamentos (PNM), em 1998,
inclusive com a reafirmação de sua importância e reconhecimento da
necessidade de atualização periódica.
Essa base jurídico-institucional criada a partir da PNM propiciou um novo
cenário para o emprego do medicamento no sistema público,
revalorizando as relações de medicamentos essenciais, que
[…] são aqueles que satisfazem às necessidades de saúde prioritárias da
população e devem ser selecionados por critérios de eficácia, segurança,
conveniência, qualidade e custo favorável. Eles devem estar acessíveis em
todos os momentos, na dose apropriada, a todos os segmentos da sociedade
(WHO, 2005).

Listas de medicamentos essenciais são importantes referências para os


profissionais de saúde, principalmente em cenários em que há grande
disponibilidade de produtos farmacêuticos.
Essas listas têm como objetivo promover a ampliação do acesso e o uso
racional de medicamentos.
Além disso, possibilitam não só que os profissionais tenham maior
familiaridade com os medicamentos selecionados, compreendendo seus
benefícios e riscos, como também facilitam a realização de compras em
larga escala, reduzindo custos.
A lista de medicamentos selecionados pela OMS é elaborada com base nesses
princípios e serve de referência para que os países construam suas próprias
listas nacionais (“RENAMEs”), considerando a sua realidade local (prevalência
de doenças e recursos disponíveis).
A RENAME, por sua vez, orienta a construção das Relações Estaduais de
Medicamentos Essenciais (RESMEs) nos estados e as Relações Municipais de
Medicamentos Essenciais (REMUMEs) nos municípios.
A versão atual da RENAME tem cinco anexos:

Anexo I – Relação Nacional de Medicamentos do Componente


Básico da Assistência Farmacêutica;Anexo I – Relação
Nacional de Medicamentos do Componente Básico da
Assistência Farmacêutica;

A Anexo II – Relação Nacional de Medicamentos do Componente


Estratégico da Assistência Farmacêutica;nexo II – Relação
Nacional de Medicamentos do Componente Estratégico da
Assistência Farmacêutica;

Anexo III – Relação Nacional de Medicamentos do Componente


Especializado da Assistência Farmacêutica;Anexo III – Relação
Nacional de Medicamentos do Componente Especializado
da Assistência Farmacêutica;

A Anexo IV – Relação Nacional de Insumos Farmacêuticos; nexo


IV – Relação Nacional de Insumos Farmacêuticos;

Anexo V – Relação Nacional de Medicamentos de Uso H


Anexo V – Relação Nacional de Medicamentos de Uso
Hospitalar.ospitalar.
Até há poucos anos, a RENAME era atualizada por uma comissão, a Comissão
Técnica e Multidisciplinar de Atualização da Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais (COMARE). Tratava-se de uma instância colegiada, de caráter
consultivo, que elaborava as propostas de inclusão, exclusão ou substituição de
medicamentos. Esse processo era muito similar ao praticado atualmente nos
estados, municípios e hospitais com as Comissões de Farmácia e Terapêutica
(CFT), comissões multidisciplinares que selecionam os medicamentos ou
produtos para a saúde com base em critérios, como disponibilidade do produto
no mercado nacional, efetividade, segurança, custo-efetividade, impacto
orçamentário, entre outros.
A partir da regulamentação da CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação
de Tecnologias no SUS), esse processo de atualização mudou e a RENAME
passou a ser uma lista que inclui não apenas os medicamentos essenciais, mas
todos os medicamentos disponíveis no SUS. Apesar de suas modificações serem
compiladas anualmente nos últimos anos, sua atualização passou a ser
contínua, dependendo da avaliação e incorporação de novos medicamentos
pela CONITEC.
É desejável que as listas de medicamentos essenciais sejam
complementadas com formulários terapêuticos que tenham
informações sobre os medicamentos selecionados e seu emprego na
prática clínica, como o Formulário Terapêutico Nacional (FTN). O FTN tem a
função de orientar prescritores e dispensadores de medicamentos, além de
outros profissionais e os próprios usuários.
No Brasil, o FTN foi atualizado em 2017, após longo tempo - o anterior era
datado de 2010. Além da atualização recente do conteúdo, o novo FTN está
disponível no formato de aplicativo, com o nome MedSUS, o que possibilitará
que os processos de consulta e atualização das monografias seja mais
dinâmico.
Para aprofundar-se no assunto não deixe de consultar:

 Lista de medicamentos essenciais da OMS disponível


em https://www.who.int/medicines/publications/essentialmedicin
es/en//en/
 Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – 2018, disponível
em http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/dezem
bro/17/170407M2018final.pdf
 Formulário Terapêutico Nacional 2010, disponível
em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/formulario_terap
eutico_nacional_2010.pdf

Avaliação
da unidade

Questionário

Material Suplementar
Os Links listados a seguir não são de responsabilidade da UNASUS. Apenas foram
selecionados e indicados por apresentarem informações úteis para os interessados em
aprofundar seu conhecimento sobre os assuntos aqui discutidos.

Essencialidade e racionalidade da relação nacional de medicamentos


essenciais do Brasil

Baseline assessment of WHO's target for both availability and


affordability of essential medicines to treat non-communicable diseases

Insulin prices, availability and affordability in 13 low-income and middle-


income countries

Comparison of essential medicines lists in 137 countries


    Considerações Finais
Com a descentralização da gestão no SUS, o município tem autonomia para
decidir quais medicamentos comprar para oferecer à população. No entanto, só
pode utilizar o recurso pactuado do Componente Básico para a compra de
medicamentos listados na RENAME, condição que garante a seleção de
medicamentos que já passaram por alguma avaliação baseada em critérios de
efetividade e segurança. Por isso, é importante que todos os municípios tenham
CFT para discutir os medicamentos mais necessários para a população local e
definir uma REMUME.
 

    Referências
ASSUNÇÃO, I. A.; SANTOS, K.; BLATT, C. R. Relação municipal de
medicamentos essenciais: semelhanças e diferenças. Revista de Ciências
Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 34, n. 3, p. 431-439, 2013.
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Farmacêutica no SUS. Brasília, 2015. 186 p. (Coleção Para Entender a Gestão
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em: http://www.conass.org.br/biblioteca/assistencia-farmaceutica-no-sus/.
Acesso em: 30 nov. 2016.
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Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de
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Saúde, 2018. 218 p. Disponível no http://portalms.saude.gov.br/assistencia-
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Dispõe sobre as normas de financiamento e de execução do Componente
Básico da Assistência Farmacêutica no âmbito do Sistema Único de Saúde
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______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
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