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Leandro Lima
Introdução
Testemunhas oculares
Dentre as muitas provas convincentes que Jesus ofereceu aos discípulos durante
aqueles 40 dias, estavam sua aparição dentro da sala com as portas fechadas (Jo 20.19), sua
permissão para que os discípulos tocassem nele para verem que não era meramente um
espírito (Lc 24.39; Jo 20.27; 1Jo 1.1-4), além de ter até mesmo comido com eles (Lc 24.41-
43). Estudos têm demonstrado que as pessoas perdem a memória sobre fatos que ocorreram
com extrema rapidez ou sob muita pressão, mas, este não foi o caso dos discípulos que
descreveram minuciosamente as aparições de Jesus. Ou seja, eles devem ter passado muito
tempo com Jesus. E de fato Lucas nos diz que ele apareceu vivo, por um intervalo de 40
dias (At 1.3).
Os discípulos não foram os únicos que tiveram o privilégio de ver o Senhor Jesus
ressuscitado. O apóstolo Paulo nos diz que Jesus “foi visto por mais de quinhentos irmãos
de uma só vez” (1Cor 15.5-6). Era até possível que alguns poucos discípulos inventassem
uma história com respeito à ressurreição de Cristo, mas, seria difícil mais de 500 pessoas
confirmarem isso. Seria impossível que tantas pessoas tivessem se enganado com respeito a
quem viram. Como diz Josh MacDowell, “quando ocorre um acontecimento na história e
existem pessoas vivas suficientes que foram testemunhas oculares ou participaram do
acontecimento, e quando se publica essa informação, é possível verificar-se a validade de
um determinado acontecimento mediante as provas circunstanciais” 1. Num tribunal, o
testemunho de tantas pessoas seria amplamente convincente. Além disso, ainda estavam
vivas quando Paulo escreveu a carta. Se não fosse verdade, procurariam demonstrar a
mentira. Se fosse uma invenção e havendo tantas supostas testemunhas, a fraude não
duraria muito tempo. É interessante Paulo dizer que viu o Senhor ressuscitado. Ele está
testemunhando não de algo que ouviu falar, mas de algo que viu. Ele é mais uma
testemunha ocular, e em qualquer tribunal, seu testemunho seria considerado uma prova.
1
Josh McDowell. Evidência que Exige um Veredito, p. 239-240.
punição para a quebra do selo seria a crucificação. Os judeus admitiram a evidência do
túmulo vazio. Existem evidências históricas de que eles mandaram mensageiros aos quatro
cantos do mundo desmentindo que Jesus tinha ressuscitado, alegando que os discípulos
tinham roubado o corpo, ou seja, admitiram que o corpo desapareceu. O fato histórico
permanece: O corpo sumiu, o túmulo está vazio.
2
João, entretanto, foi prisioneiro na terrível Ilha de Patmos.
3
Charles Hodge. Teologia Sistemática, p. 951.
4
Charles Hodge. Teologia Sistemática, p. 951.
vidas, em decorrência de seu testemunho. 7) Seu testemunho foi confirmado por Deus, ao
dar testemunho juntamente com eles, com sinais e prodígios, com diversos milagres e com
os dons do Espírito Santo. 8) Esse testemunho do Espírito continua até o tempo atual e é
concedido a todos os genuínos filhos de Deus, porque o Espírito dá testemunho da verdade
no coração e na consciência. 9) O fato de que a ressurreição de Cristo tem sido
comemorada como uma observância religiosa do primeiro dia da semana, desde sua
ocorrência até hoje. 10) Os efeitos produzidos por seu Evangelho, e a mudança que ele tem
efetuado no estado do mundo, não admitem nenhuma outra solução racional além da
veracidade de sua morte e subseqüente ressurreição. A igreja cristã é seu monumento desse
fato, e todos os crentes são suas testemunhas.
Josh MacDowell, em um excelente livro intitulado “As Evidências da Ressurreição
de Cristo”, narra a história de um importante advogado de Harvard, o Dr. Simon Greenleaf,
que decidiu aplicar as regras do direito para o acontecimento da ressurreição e acabou
convencido da veracidade do evento5. Horton, contando a mesma história, diz que esse
advogado que fundou a Escola de Direito de Harvard, começou com a intenção de contestar
a alegação da ressurreição, certo de que, uma atenção simples e constante às alegações do
Novo Testamento, com relação às testemunhas dos Evangelhos e aos testemunhos externos
dos historiadores seculares daquele período, iriam finalmente extinguir as crenças cristãs
remanescentes. Ele desejava levar as alegações da Bíblia ao tribunal e verificá-las a partir
das técnicas do direito. Queria demonstrar a mentira intencional dos escritores a partir da
improbabilidade dos relatos e suas contradições internas. Qual foi sua conclusão? Ao final
dos trabalhos, aquele homem estava plenamente convencido da veracidade da ressurreição
a partir do testemunho do Novo Testamento6. Ele se tornou um crente.
O corpo ressuscitado
Um argumento que, em geral, é levantado contra a idéia da ressurreição é a da
impossibilidade de trazer de volta todas as moléculas de um corpo, especialmente se ele já
tiver se desintegrado, uma vez que as partículas se espalham e passam a fazer parte de
outros corpos. Paulo antevê esse questionamento: “Mas alguém dirá: Como ressuscitam os
mortos? E em que corpo vêm?” (1Co 15.35). Ele usa uma ilustração da própria natureza
para explicar isso: “O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e, quando semeias,
não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra
semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu
corpo apropriado” (1Co 15.36-38). Assim como a semente lançada na terra é bastante
diferente da planta que um dia chegará a idade adulta, também o corpo lançado à sepultura
fará nascer um corpo bem diferente. É verdade que, embrionariamente, poderíamos dizer
que as características principais da planta já estão na semente. O mesmo então poderíamos
dizer do corpo atual em relação ao futuro.
Nesse ponto é interessante a discussão sobre a natureza do corpo ressuscitado de
Jesus. Muitos não entendem que ele possa ser realmente físico. Mas, o ensino da Escritura
nos aponta para o aspecto físico do corpo de Jesus, sem qualquer possibilidade de dúvida.
Jesus apareceu aos discípulos, comeu e bebeu com eles (At 10.41); disse-lhes: “Vede as
minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito
não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.39). Como diz Grudem, “teria
5
Josh MacDowell. As Evidências da Ressurreição de Cristo, p. 25-26.
6
Ver Michael Horton. Creio, p. 111-112.
sido muito errado ensinar aos discípulos que ele tinha um corpo físico, se no seu modo
normal de existência ele realmente não possuía”7. Portanto, Jesus possui um corpo físico,
embora, como diz o Apóstolo Paulo, possa ser chamado também de corpo espiritual. Não
temos condições de entender exatamente como é esse corpo, a única coisa que podemos
dizer é que ele é “material” e “espiritual” ao mesmo tempo. É um corpo absolutamente
perfeito e sem os limites impostos pela fraqueza ou pelo pecado. A seguinte definição de
Hodge é muito útil: “O corpo ressurecto de Cristo, portanto, tal como existe agora no céu,
ainda que retenha a identidade com seu corpo enquanto estava na terra, é glorioso,
incorruptível, imortal e espiritual. Continua ocupando determinada porção de espaço e
retém todas as propriedades essenciais como corpo” 8. A definição de Berkhof é semelhante:
“Sua ressurreição consistiu em que nele a natureza humana, o corpo e a alma, foi restaurada
à sua prístina força e perfeição e até mesmo elevada a um nível superior, enquanto que o
corpo e a alma foram reunidos num organismo vivo” 9.
Por mais que os críticos modernos rejeitem a noção histórica da ressurreição de
Cristo, afirmando ser uma mensagem inventada pelos discípulos, como diz Ladd, o que deu
origem à igreja “foi a crença em um evento acontecido no tempo e no espaço: Jesus de
Nazaré ressuscitou dentre os mortos. Fé na ressurreição de Jesus é um fato histórico
inevitável. Sem essa evidência não haveria igreja” 10. Foi a certeza da ressurreição que
transformou aqueles homens simples da Galiléia em poderosas testemunhas de Jesus em
todo o mundo. A convicção de que Jesus venceu a morte lhes dava a certeza de que, mesmo
que morressem no testemunho, poderiam experimentar a mesma experiência do Senhor: a
vitória sobre a morte.
Consumação da redenção
Continuando a argumentação do capítulo 15 de 1Coríntios, Paulo enfatiza o
verdadeiro significado da ressurreição, ele diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa
pregação, e vã, a vossa fé” (1Co 15.14). Disso decorre que a ressurreição de Cristo tem um
enorme significado para a fé cristã. Em seguida ele complementa: “E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15.17). A
ressurreição de Cristo tem um significado crucial para a obra da redenção, podemos dizer
que se a ressurreição não ocorresse a redenção não seria possível. Por isso Paulo diz que a
fé cristã seria vã caso Cristo não tivesse ressuscitado, pois os pecados não teriam sido
removidos como o Evangelho prega. Paulo diz isso não só porque a fé cristã está
profundamente ligada aos eventos históricos, e que sem esses, ela não tem sentido, como
porque a ressurreição consuma a redenção. Cristo morreu pelos pecados na sexta-feira, se
ele tivesse permanecido morto, que esperanças haveria de salvação? Um Deus morto que
7
Wayne Grudem. Teologia Sistemática, p. 512.
8
Charles Hodge. Teologia Sistemática, p. 953.
9
Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p. 347.
10
George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento, p. 303.
não consegue salvar a si mesmo, não poderia salvar toda a humanidade. Sem a ressurreição,
o argumento irônico dos soldados na trágica sexta-feira seria válido: “Salvou os outros, a si
mesmo não pode salvar-se” (Mt 27.42). A ressurreição de Cristo é uma demonstração
majestosa do poder de Deus, ele pode salvar a todos. É uma proclamação estrondosa de que
Deus não está morto, de que ele ainda está no controle do universo e de que não há
impossíveis para ele.
Por essa razão, precisamos discordar inteiramente de Lewis Sperry Chafer que diz
que “pelos teólogos do pacto, não há praticamente importância doutrinária dada à sua
ressurreição”11. Esse é um entendimento equivocado a respeito do entendimento reformado
sobre o pacto e sobre a ressurreição. A ressurreição é a consumação do pacto, é o
restabelecimento da vida do pacto. Sem a ressurreição, no entendimento da teologia
reformada, simplesmente não haveria redenção. O teólogo reformado Louis Berkhof
resume o significado da ressurreição da seguinte forma:
Constituiu uma declaração do Pai de que o último inimigo tinha sido vencido, a
pena tinha sido cumprida, e tinha sido satisfeita a condição em que a vida fora
prometida. Foi um símbolo daquilo que estava destinado a suceder aos membros
do corpo místico de Cristo em sua justificação, em seu nascimento espiritual e
em sua bendita ressurreição futura. Relacionou-se também instrumentalmente
com a justificação, a regeneração e a ressurreição final dos crentes. 12
Diante disso, fica absolutamente sem sentido a declaração de que a ressurreição não
tem importância para os teólogos do pacto. Ela é o fato mais importante que esse mundo já
vivenciou. Ela consuma a redenção.
Certeza da Justificação
A ressurreição está ligada a nossa justificação. Paulo diz que Cristo foi: “Entregue
por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (At 4.25).
A justificação que é mediante a ressurreição nos dá a paz com Deus, conforme Paulo
continua: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo” (At 5.1). Sem a ressurreição não seríamos justificados, pois a obra de Cristo
realizada através de sua morte não poderia ser aplicada a nós. A ressurreição de Cristo deu
valia a sua própria morte em nosso lugar. Se Cristo não ressuscitasse, a justificação não
poderia ser aplicada a nossas vidas, e nós, de acordo com as palavras do Apóstolo Paulo:
permaneceríamos em nossos pecados (1Cor 15.17). Jesus Cristo foi ressuscitado para nos
assegurar diante de Deus que estamos livres dos nossos pecados, ou seja “a ressurreição de
Cristo tinha como propósito trazer a luz o feito de que todos os que reconhecem a Jesus
como seu Senhor e Salvador têm entrado em um estado de justiça diante dos olhos de
Deus”13, pois “o Pai, ao ressuscitar a Jesus de entre os mortos, nos assegura que o sacrifício
expiatório tem sido aceitado; em conseqüência, nossos pecados são perdoados” 14.
15
Justino (100-167 d.C.), por volta do ano 150, fez a mais completa descrição do culto na Igreja
Primitiva, onde ele se referiu ao Domingo como dia de culto: “No dia que se chama do sol
[domingo], celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem,
enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos [quatro Evangelhos] ou os escritos dos
profetas....”. (Ver Justino de Roma, I Apologia, 67.7. p. 83-84). Justino inclusive explicou o porquê
de a Igreja guardar o Domingo: “Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro
dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus
Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos.” (Justino de Roma, I Apologia, 67. p. 83-84). Um
outro documento que atesta a antigüidade da guarda do domingo por parte da Igreja Cristã, é o
Didaquê (c. 120 d.C.), documento anônimo, o qual usa a mesma linguagem de João se referindo ao
domingo como o “dia do Senhor”: “Reunindo-vos no dia do Senhor, parti o pão e dai graças....”
(Didaquê, XIV. In: J.G. Salvador, ed. O Didaquê, p. 75).
será incomparavelmente mais glorioso: “Pois assim também é a ressurreição dos mortos.
Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra,
ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural,
ressuscita corpo espiritual” (1Co 15.42-44). A explicação de Paulo é que na ressurreição
acontecerá uma grande transformação, de corpo natural as pessoas passarão a ter um corpo
espiritual. A seguinte transformação acontecerá: “Eis que vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Co 15.51-52). Os que estiverem vivos na
volta de Cristo não passarão pela morte, mas serão transformados e terão o mesmo corpo da
ressurreição de Jesus. Nosso coração regenerado encontra muita dificuldade em relação ao
corpo atual, pois o corpo que temos agora é na melhor das hipóteses, instrumento ineficaz
para expressar os desejos e propósitos do coração regenerado. De fato, como Packer coloca
“muitas das fraquezas com as quais os santos lutam – timidez, temperamento agressivo,
luxúria, depressão, frieza nos relacionamentos, e outras – estão intimamente ligadas à nossa
constituição atual”16, mas, “os corpos que se tornam nossos na ressurreição geral serão
corpos que harmonizam com nosso caráter aperfeiçoado e se revelarão instrumentos
perfeitos para santa auto-expressão por toda a eternidade” 17. Tudo isso somente será
possível porque Cristo ressuscitou. Paulo tinha certeza dessa ressurreição, por isso podia
dizer: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na
obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58). A
ressurreição de Cristo garante o presente e o futuro dos crentes.
Graças a ressurreição de Cristo, estabeleceu-se para a humanidade uma nova ordem,
a Ordem da Ressurreição. A morte perdeu pela primeira vez, e em breve, será derrotada
para sempre. Não há razões para duvidarmos de que Jesus realmente tenha ressuscitado, e
certamente, há espaço para milagres hoje tanto quanto no passado ou no futuro. A
existência de Deus garante que os milagres também existam. Jesus Cristo ressuscitou, essa
é a grande proclamação e a grande verdade do Cristianismo. Podemos aumentar nossa
esperança e nossa fé, pois Cristo ressuscitou. Graças a ele podemos desfrutar dos benefícios
que essa ressurreição nos traz, tanto para essa vida, como para a vindoura. Louvemos ao
Cristo ressuscitado, ao triunfante Rei que venceu a morte, pois um dia também a
venceremos.
16
J. I. Packer. Teologia Concisa, p.233.
17
J. I. Packer. Teologia Concisa, p.234.