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O rito escocês, ritual, monitor e guia

(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

O Rito Escocês, ritual,


Monitor e Guia
Arturo de Hoyos, 33°, Cavaleiro da
Grã-Cruz de Honra de York
Past-Master da McAllen Lodge N° 1110, da Grande Loja do Texas
Grande Arquivista e Grande Historiador

Prefácio por
Ronald A. Seale, 33°
Pat-Master, East Gate Lodge N° 452, Grande Loja do Estado de
Louisiana
Soberano Grande Comandante

Terceira edição
Revisada e ampliada

Supremo Conselho, 33 °, Jurisdição Sul


Washington, DC • 2010
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

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Supremo Conselho do Grau 33, da Jurisdição Sul

Terceira edição, revisada e ampliada, 2010

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Supremo Conselho do Grau 33, da Jurisdição Sul


1733 Sixteenth Street, NW
Washington, DC 20009-3103

www.scottishrite.org
(202) 232-3579

de Hoyos, Arturo, 1959-


The Scottish Rite Ritual Monitor and Guide / Arturo de Hoyos

ISBN: 978–0–9708749–3–1 (papel alc.)

As ilustrações aquareladas a caneta e tinta precedendo cada Grau,


representando os sinais dos graus do rito escocês do 4º ao 32º, foram
elaborados por volta de 1815, e são cortesia do Supremo Conselho
da Holanda em Haia. Artista desconhecido.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

ÍNDICE

Uma nota sobre o conteúdo e a natureza deste livro............................................. v


Prefácio à segunda edição................................................................................... vii
Prefácio à primeira edição................................................................................... ix
Prefácio de Ronald A. Seale............................................................................... xxi

Algumas informações gerais para novos membros........................................ 23


A Casa do Templo............................................................................................... 23
Albert Pike........................................................................................................... 23
O anel do Grau 14................................................................................................ 24
Patente de filiação................................................................................................ 24
O Scottish Rite Journal........................................................................................ 25
Vales do Rito Escocês......................................................................................... 25
Os Encontros........................................................................................................ 25
O Sinal do Bom Pastor........................................................................................ 25
A Caixa da Assistência Fraterna.......................................................................... 26
O Encerramento Especial.................................................................................... 26
Moral e Dogma e uma Ponte para a Luz............................................................ 26
A águia de duas cabeças...................................................................................... 27
Scottish Rite Research Society [Sociedade de Pesquisa do Rito Escocês]......... 29
Regularidade maçônica........................................................................................ 29

Algumas reflexões sobre a natureza e os objetivos da Maçonaria


por Albert Pike..................................................................................................... 31

O que é a Maçonaria e seus Objetos por Albert Pike....................................... 35

Sobre a Natureza e os Propósitos do Rito Escocês por Albert Pike................ 69

Uma breve história da Maçonaria e as origens do Rito Escocês................... 75


Antigas origens maçônicas.................................................................................. 75
Os Estatutos Schaw e o primeiro alojamento...................................................... 78
"Maçons" não operativos e o sistema inicial de dois graus................................. 79
Maçonaria especulativa e o nascimento dos “altos graus”.................................. 84
Maçonaria Noachita e Hirâmica.......................................................................... 85
A morte do construtor.......................................................................................... 88
O alojamento, o esfregão e o balde...................................................................... 91
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Palavras e senhas significativas........................................................................... 95


Os Altos Graus e as “Lojas dos Maçons Escoceses”........................................... 98
A Maçonaria Francesa dos Altos Graus: Stephen Morin e a Ordem do Real
Secgredo.............................................................................................................. 98
Os Graus da “Ordem do Real Segredo” de Stephen Morin............................... 100
Nascimento do Rito Escocês: Charleston, 31 de maio de 1801.........................101
Finalidade e autoridade do início do Supremo Conselho...................................104
A Jurisdição Maçônica do Norte....................................................................... 106

Desenvolvimento dos Rituais do Rito Escocês............................................... 109


Rituais de John Mitchell, antes de 1801............................................................ 110
Os Rituais de Dalcho, 1801–02......................................................................... 110
Revisão de Moses Holbrook, ca. 1821–25........................................................ 111
Revisão de Giles F. Yates, ca. 1823–27............................................................ 111
Magnum Opus de Albert Pike, 1857.................................................................. 112
Charles Laffon de Ladébat................................................................................. 114
Revisões posteriores de Pike, 1861-84.............................................................. 115
Revisões de Hugo, 1889-1919........................................................................... 116
As "Interpolações" ou Rubricas de 1929-1931.................................................. 116
O Aprimoramento dos Rituais por Clausen, de 1985-87................................... 117
A versão revisada dos Rituais de Pike de 2000................................................. 117

Estrutura do Rito Escocês............................................................................... 119


Oficiais do Supremo Conselho.......................................................................... 119
Oficiais de um Oriente....................................................................................... 120
Oficiais de um Vale........................................................................................... 120
Os Quatro Corpos do Rito Escocês................................................................... 120
Nomes dos Graus e Honrarias do Rito Escocês................................................. 122
Honras do Rito Escocês..................................................................................... 124
Oficiais dos Corpos do Rito Escocês................................................................. 125
Deveres dos Oficiais Eleitos.............................................................................. 125

Grandes Comandantes.................................................................................... 127

Insígnias de Membros...................................................................................... 129


Loja de Perfeição............................................................................................... 129
Capítulo Rosa Cruz............................................................................................ 130
Conselho de Cavaleiros Kadosh........................................................................ 130
Consistório de Mestres do Real Segredo Real................................................... 131
Supremo Conselho............................................................................................. 132
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Assinaturas oficiais...........................................................................................137

Símbolos do Rito Escocês................................................................................ 139

Os Graus Inefáveis da Loja de Perfeição...................................................... 169


Introdução à Loja da Perfeição.......................................................................... 171
4 ° Mestre Secreto.............................................................................................. 173
5 ° Mestre Perfeito............................................................................................. 187
6 ° Secretário Íntimo.......................................................................................... 203
7 ° Preboste e Juiz.............................................................................................. 213
8 ° Intendente do Edifício.................................................................................. 225
9 ° Eleito dos Nove e 10 ° Eleito dos Quinze.................................................... 237
11 ° Eleito dos Doze.......................................................................................... 253
12 ° Mestre Arquiteto........................................................................................ 263
13 ° Real Arco de Salomão................................................................................ 275
Adendo: Lenda e História.............................................................................. 288
14 ° Eleito Perfeito............................................................................................. 295
Comentários preliminares ao 14° Grau para uma reunião de Um Dia.............. 300
Abertura............................................................................................................. 305
Encerramento..................................................................................................... 318
Apêndice: “Ode para um Maçom Grande Eleito Perfeito e Sublime”
por Giles Fonda Yates, 33°................................................................................ 344

O Segundo Templo: Os Graus do Capítulo dos


Cavaleiros Rosa Cruz de Heredom................................................................ 347
Introdução ao Capítulo de Rosa Cruz................................................................ 349
15 ° Cavaleiro do Leste...................................................................................... 351
16 ° Príncipe de Jerusalém................................................................................. 369
17 ° Cavaleiro do Leste e do Oeste.................................................................... 385
18 ° Cavaleiro Rosa Cruz.................................................................................. 401
Deveres dos Cavaleiros Rosa Cruz, e a palavra Heredom................................. 408
Palestra — A Tetractys...................................................................................... 422
Características.................................................................................................... 426

Os Graus Filosófico e Cavalheiresco do Conselho de Kadosh..................... 431


Introdução ao Conselho de Kadosh................................................................... 433
19 ° Grande Pontífice......................................................................................... 435
Sobre a natureza religiosa e política da Maçonaria........................................... 438
20 ° Grão-Mestre de todas as Lojas Simbólicas................................................ 451
21 ° Noachita ou Cavaleiro Prussiano............................................................... 467
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Adendo: História Tradicional do Vigésimo Primeiro Grau e


Lenda do Vigésimo Primeiro Grau: História do Vehm-Gericht........................ 476
22 ° Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano.................................. 485
23 ° Chefe do Tabernáculo................................................................................ 495
Adendo: Legenda do Vigésimo Terceiro Grau.................................................. 509
24 ° Príncipe do Tabernáculo............................................................................ 513
25 ° Cavaleiro da Serpente de Bronze............................................................... 527
Adendo: Cavaleiro da Serpente de Bronze (versão anterior)............................. 538
Lenda do Vigésimo Quinto Grau....................................................................... 558
26 ° Príncipe da Misericórdia, ou Trinitário Escocês........................................ 567
Adendo: Lenda do Vigésimo Sexto Grau.......................................................... 580
27 ° Cavaleiro do Sol, ou Príncipe..................................................................... 587
Adendo: Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto (versão anterior)...................... 604
28 ° Cavaleiro Comandante do Templo............................................................. 645
História Tradicional........................................................................................... 655
Discurso Tradicional.......................................................................................... 660
29 ° Cavaleiro de Santo André.......................................................................... 663
30 ° Cavaleiro Kadosh....................................................................................... 675
Adendo: Palestra Tradicional............................................................................. 698
História da Ordem do Templo........................................................................... 706
Lenda do Grau Trigésimo.................................................................................. 719
Nomes para Conselhos de Kadosh.................................................................... 733
Alfabeto dos Templários.................................................................................... 734
“Ode para um Crânio” de Denham S. Wagstaff................................................ 735

O Consistório de Mestres do Real Segredo................................................... 737


Introdução ao Consistório de Mestres do Real Segredo.................................... 739
31 ° Inspetor Inquisidor..................................................................................... 741
32 ° Mestre do Real Segredo............................................................................. 755
Adendo: Lenda do Trigésimo Segundo Grau: Lenda “A”................................. 778
Lenda “B”.......................................................................................................... 804
Adendo: Leituras do Grau do Trigésimo Segundo............................................ 818

Honras do Conselho Supremo........................................................................ 915


Cavaleiro Comandante da Corte de Honra........................................................ 917

Calendário do Rito Escocês............................................................................. 927


Outros calendários maçônicos........................................................................... 931

Apêndice 1. A Circular ou Manifesto de 1802.............................................. 933


O rito escocês, ritual, monitor e guia
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Apêndice 2. Uma Introdução aos Graus do Rito Escocês............................ 943

Apêndice 3. Como eram os primeiros graus do rito escocês?...................... 947

Apêndice 4. Abreviações e frases estrangeiras.............................................. 955

Apêndice 5. Alfabetos e cifras tradicionais do Rito Escocês........................ 963

Apêndice 6. Monitores do Rito Escocês: Uma Breve Visão Geral...............973

Apêndice 7. Leitura Maçônica Sugerida....................................................... 983

Índice................................................................................................................. 987
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UMA BREVE HISTÓRIA DA MAÇONARIA


E AS ORIGENS DO RITO ESCOCÊS
Primeiras origens maçônicas

A busca pelas origens da


Maçonaria resultou em duas escolas de
pensamento: (1) a “escola autêntica”,
que, contando com a disciplina de
pesquisa histórica, advoga uma "teoria
da transição" voltada aos pedreiros
operativos da Escócia e Inglaterra, e (2)
a "escola romântica", que acredita que
as lendas maçônicas, simbolismo e
evidências circunstanciais apontam
para uma série de outras possíveis
origens. Entre as mais populares
noções “românticas" da origem estão
no Templo de Salomão, a Torre de
Babel, os Cavaleiros Templários
medievais, os Herméticos e/ou
Rosacruzes, os Essênios (uma seita
judaica que existiu cerca de dois
milênios atrás), os antigos egípcios e
Maçons Operativos do Século X. Robert
qualquer número de antigas religiões
Ingham Clegg, Editora, Mackey´s Revised
e/ou escolas 1 de mistério. History of Freemasonry (1921)

A escola autêntica admite sem hesitação que os símbolos e lendas da


Maçonaria são emprestados de uma ampla gama de tradições, mas os historiadores
são rápidos em notar que este ecletismo não deve obscurecer as verdadeiras origens
da sociedade. Em vez disso, é necessária evidência esmagadora e substanciosa de
que as lojas maçônicas, incluindo suas cerimônias privadas de admissão, foi um
subproduto dos pedreiros operativos no final do século XVI 2.

O primeiro uso conhecido da palavra "Fremason" aparece em 8 de Setembro


de 1325 em registro no Calendar of Coroner´s Rolls of the City of
London. Infelizmente, a inscrição não é nada animadora! Ele afirma que "Nicholas

1
Proposições recentes da “escola romântica” afirmam que a lenda Hirâmica se originou com o assassinato
de um Faraó egípcio, enquanto outro afirma que o sudário de Turim traz a imagem de Jacques De Molay,
último dos Grão-Mestres dos Cavaleiros Templários, que era adorado como um “segundo messias” por
certos maçons. Os historiadores rejeitam a ambos fundamentos como produto de ficção.
2
David Murray Lyon, History of the Lodge in Edinburgh (Mary´s Chapel), Nº 1. Embracyng an Account of
the Rise and Progress of Freemasonry in Scotland (Edimburgo: William Blackwood and Sons, 1873; ed.
reimpressão: Gresham Publishing Co., 1900); David Stevenson, The Origins of Freemasonry: Scotland’s
Century 1590–1710 (Cambridge University Press, 1988); David Stevenson, The First Freemasons:
Scotland's Early Lodges and their Members (Aberdeen University Press, 1988).
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le Fremason" foi certamente cúmplice no crime de facilitação na fuga de


prisioneiros 3.

Em 1332, aparece novamente com o sobrenome de “John le Fremassoun”. 4


Um outro uso inicial aparece em um registro de 9 de Agosto de 1376 no “Livro de
Cartas H” (letter-book H) da cidade de Londres, onde dois homens são listados
como “fremasons” por profissão. 5 O uso original da palavra em todas as suas
formas, “free mason” (maçom livre), “free-mason” e, finalmente, “freemason”,
provavelmente deriva de uma das duas fontes. A evidência mais substanciosa se
apoia na visão de que ele deriva do trabalho de cantaria em uma Freestone 6, “um
arenito homogêneo de granulação fina com a possibilidade de ser trabalhada
igualmente em qualquer direção” 7. Foi ensinado que um “master freestone
mason” era diferente de um “rough masons”, “pedreiros brutos, que constroem
apenas paredes”. 8 Isso sugere que a palavra free-stone-mason foi empregada
para free-mason, pedreiro livre.

Em 1349, todos os pedreiros vêm sob o termo geral de caementarii 9. Pode-


se observar que este havia sido um nome comum para eles a muito tempo; e
em 1334 o Arquiteto da torre de Salisbury é chamado em um documento
formal, indiferentemente de caementarius e lathomus 10.
Em 1350 os salários de um “master freestone mason” eram fixados em
4 d. por dia, e outros pedreiros em 3 d., e de seus servos em 1½d. O “servo”
deste estatuto seria análogo (por exemplo) ao “ajudante” do encanador

3
Reginald R. Sharpe, ed., Calendar of Coroners Rolls of the City of the London DC 1300 -1325 (Londres:
Richard Clay and Sons, Ltd., 1913), pp. 130–31.
4
P.H. Reaney, Richard Middlewood Wilson, “A Dictionary of English Surnames” – [Um Dicionário de
Sobrenomes em Inglês] - (Londres e Nova York: Routledge, 1991), pp. 177, 1228. Em 1480, lemos sobre a
obra (de opera manuali) de Benedict Crosse, também conhecido como “Benet le Fremason”. Veja John
Harvey, English Mediaeval Architects: A Biographical Dictionary Down 1550, Including Master Mason,
Carpenters, Building, Contractors, and Others Responsible for Design – Um Dicionário Biográfico até 1550,
incluindo Mestres Maçons, Carpinteiros, Escultores, Empreiteiros e outros responsáveis pelo Desenho -
(Londres: Batsford, 1954), pp. 31, 79. O termo “le fremason” continuou em uso e apareceu em um registro
muito posterior da época de Henrique VIII, que afirma que em 25 de junho de 1544, Robert Sylvester seria
"chefe 'le fremason' de todas as mensagens principais, casas e edifícios…” James Gairdner e RH Brodie,
eds., Letters and Papers, Foreign and Domestic, of the Reign of Henry VIII (Londres: Mackey and Co., 1903),
vol. 19, pt. 1, pág. 642
5
Reginald R. Sharpe, ed., Calendar of Letter-books, Preserved between the Archives of the Corporation
da cidade de Londres no Guildhall. Letter-Book H. Circa 1375–1399 DC (Londres: John Edward Francis,
1907). Uma transcrição aparece online em www.british-history.ac.uk/report.aspx?compid=33459, no
entanto, o texto subjacente da entrada manchada é omitido. Veja também WJ Williams, “The Use of the
Palavra 'maçom' antes de 1717 ”, Ars Quatuor Coronatorum 48 (1935), pp. 141–42.
6
Nota do tradutor: Freestone, assim chamada porque pode ser cortada livremente em qualquer direção,
pois possui uma granulação fina, uniforme e macia o suficiente para ser cortada facilmente, sem quebrar
ou rachar.
7
James Geikie, Structural and Field Geology (Nova York: D. Van Nostrand Co., 1905), p. 60
8
Do Latin Dictionary de Sir Thomas Elyot (1538), conforme citado em G.G. Coulton, Art and the
Reformation (Oxford: Basil Blackwell & Co., 1928), p. 183.
9
Nota do tradutor: CAEMENTARII, palavra latina que deriva de CAEMENTU (Cimento), que genericamente
se traduz por trabalhador em concreto, argamassa, construtor de paredes, pedreiro ou cortador de pedra.
10
Nota do tradutor: LATHOMUS, do latim, lapidador, mestre de obras, arquiteto.
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(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

moderno 11. A frase “mestre mason de franche pere” [mestre pedreiro da


pedra livre – ou franca] é mais sugestiva para a provável origem do
termo freemason. 12

Em 1383, o reformador religioso inglês e tradutor da Bíblia. John Wyclif


declarou que “pedreiros livres... apenas cortam pedras”, enquanto outros faziam o
“legging” [assentamento]. 13 Um contrato de construção de 1396 também
distinguia entre “lathomos vocatos ffre Maceons” (trabalhadores da pedra
chamados pedreiros livres) do “lathomos vocatos ligiers” (trabalhadores da pedra
chamados Assentadores de Camadas). 14

Primeiros Maçons Livres. Esta lista de 9 de agosto de 1376 do “Letter Book H” (Livro de
Cartas H) da cidade de Londres, apresenta um dos primeiros usos da palavra
"fremasons" [pedreiros livres]. A lista, que incluía dois nomes (Thomas Wreck e John
Lesnes), foi apagada e riscada, e os nomes foram adicionados com outros no final da
página, onde agora estão listados como “masons” [pedreiros]. Acredita-se que o
registrador não sabia a diferença entre os termos. — Foto de Ars Quatuor Coronatorum,
vol. 41 (1928), página 159.

No entanto, a teoria etimológica concorrente sugere que privilégio, em vez


de habilidade, que foi o responsável pelo nome:

11
Nota do Tradutor: ou “servente de pedreiro”.
12
GG Coulton, Art and the Reformation (1928), p. 181.
13
“The Grete Sentence of Curs Expounded,” in Thomas Arnold, Select English Works of John Wyclif (Oxford:
Clarendon Press, 1871), vol. 3, pág. 333.
14
Robert Freke Gould, The History of Freemasonry 4 vols. (Londres: Thomas C. Jack, 1882-85) vol. 2, pág.
308.
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Um homem admitido na posição privilegiada de mestre em uma guilda


comercial, ou como um burguês de uma cidade, era feito “livre” da guilda ou
cidade, tornando-se um “homem livre” no sentido de ser livre para desfrutar
de certos direitos, e a partir disso chamar um mestre maçom totalmente
qualificado de freeman mason [homem livre] ou freemason [pedreiro livre]
é apenas um pequeno passo. 15

O ofício desses maçons operativos é conhecido principalmente a partir das


“Antigas Obrigações” ou “Constituições Góticas”, uma coleção de cerca de 127
documentos conhecidos envolvendo os maçons o código de conduta dos maçons,
seus regulamentos e uma história tradicional ou mítica. 16 As duas primeiras cópias
conhecidas dessas constituições são o Manuscrito Regius (cerca de 1410) e o
Manuscrito Cooke (cerca de 1420). 17 Todas as cópias mais antigas conhecidas das
Antigas Obrigações são de origem inglesa.

Os Estatutos Schaw e a primeira loja

Acredita-se que o rei James III da Escócia, ao favorecer Robert Cochrane no


início da década de 1470, aumentou o prestígio entre os cavalheiros, para com o
ofício da maçonaria. Cochrane, que era o “Mestre de Obras” do rei, e
presumidamente o Arquiteto do Grande Salão do Castelo de Stirling, e representa
“a primeira e autêntica autoridade, em que um mestre maçom Escocês, tem lugar
de destaque na história”. 18 Cochrane, que foi mestre de obras da coroa escocesa,
foi nomeado Conde de Mar pelo Rei, que também lhe concedeu “uma pensão
substancial” 19. Seja como for, há evidência direta de que as lojas escocesas, que
foram estabelecidas por decreto real, teriam posteriormente se desenvolvido em
organizações sociais fornecendo mútuo benefício para os primeiros membros.

William Schaw, nomeado “Mestre de Obras” vitalício por James VI (também


conhecido como Jaime I, rei da Inglaterra), em 1583, desempenhou um papel
significativo no início do desenvolvimento da Maçonaria. Sua edição do primeiro
e segundo “Estatutos Schaw” na Escócia em 1598 e 1599 introduziu muitos
conceitos que continuam até hoje. 20 Seus estatutos foram fundados nas Antigas

15
Stevenson, The Origins of Freemasonry (1988), p. 11. Ênfase adicionada.
16
Ver Wallace McLeod, The Old Gothic Constitutions (Bloomington, Ill.: Masonic Book Club, 1985).
17
Douglas Knoop, GP Jones e D. Hamer, The Two Earliest Masonic MSS (Manchester University Press,
1938) e Andrew Prescott, "The Regius and Cooke Manuscripts: Some New Contexts", em Collected Studies
in the History of Freemasonry, 2000-2003 (University of Sheffield, 2003).
18
William Dick, The Art of Masonry in Britain (Londres: Offices of the Stone Trades Journal, 1904), p. 87
19
Robert Scott Mylne, The Master Masons to the Crown of the Scotland and their Works – [Os Mestres
Maçons da Coroa da Escócia e suas Obras] - (Edimburgo: Scott & Ferguson e Burness & Company, 1893),
p. 4 -
20
O interesse nos Estatutos Schaw aumentou com a publicação de Robert LD Cooper, The Rosslyn Hoax?
Viewing Rosslyn Chapel from a New Perspective – [O Embuste Rosslyn? Visualizando a Capela Rosslyn de
uma Nova Perspectiva] - (Londres: Lewis, 2006). No livro de Cooper é exposto que obras de ficção, como
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Obrigações [Old Charges] e juntos eles formaram as bases da autoridade para as


modernas Grandes Lojas Maçônicas. Nos primeiros dias, uma loja (lodg, luge ,
etc.) era uma estrutura temporária, erguida pelos pedreiros operativos próximo da
consrução, onde poderiam descansar e se refrescar após um dia de trabalho. Os
Estatutos de Schaw ampliaram a ideia da loja para algo muito maior, expandindo-
a para abranger uma jurisdição territorial mais ampla. Os Estatutos de Schaw
também definiram uma hierarquia de “vigilantes, diáconos e mestres em todas as
coisas relativas ao seu ofício”. As lojas deveriam ser presididas por um “Vigilante
Geral”, enquanto o próprio William Schaw presidiu todas as lojas maçônicas em
seu país, como hoje os grandes mestres fazem em quase todo o mundo. É
importante notar que antes e depois da instituição do sistema de lojas maçônicas,
muitos continuaram como membros associados às guildas comerciais. Lojas
operavam em paralelo, e às vezes em competição com essas corporações.

Uma leitura cuidadosa dos Estatutos Schaw também revela que havia
originalmente apenas duas classes de maçons, ou seja, “aprendiz aceito” e
“companheiro de ofício”. A Admissão na loja não era um direito concedido a todos
os pedreiros; em vez disso, a admissão a este companheirismo era um privilégio
conferido através de um cerimonial de indução. A Iniciação na sociedade incluía
(1) uma oração, (2) a descrição das sete artes liberais ou ciências, (3) o relato da
“história” tradicional do Ofício, (4) a leitura das Antigas Obrigações, (5) a tomada
de um juramento ou obrigação de sigilo, e (6) a comunicação da “Palavra de
Maçom” - um termo que incorpora a soma dos modos de reconhecimento (ou seja,
o catecismo, palavras, toques e sinais). 21 As primeiras evidências para a Palavra
de Maçom datam de 1630, 22 e foi vista por não-maçons com suspeita. A
capacidade dos Maçons de se comunicarem por meios não verbalizados era
considerado como um poder misterioso e pode ter contribuído para a fama de laços
entre a Maçonaria e o esoterismo. 23 No entanto, alguns escritores notaram
corretamente no Estatuto de Schaw, a difusão de um método “esotérico” de
aprendizagem. Ordenou ao seu “vigilante de Kilwynning ... irá pôr à prova toda
vossa arte da memória e da ciência”. A “arte da memória” é um exercício mental

O Código Da Vinci, bem como recentes proposições da “Escola Romântica” são fundadas na fantasia e
sequestraram o verdadeiro curso da história da Escócia.
21
Douglas Knoop e GP Jones, The Scottish Mason and the Mason Word (Manchester: Manchester
University Press, 1939).
22
Stevenson, The Origins of Freemasonry (1988), p. 136
23
Em uma passagem frequentemente citada, The Muses' Threnodie (1638) de Henry Adamson conectou
Rosacrucianismo, Maçonaria e as artes ocultas: “Pois que o presságio que praticamos não é grosseiro, por
que somos irmãos da Rosa Cruz; Temos a Palavra de Maçom e uma segunda visão; Coisas por vir, podemos
predizer corretamente”. Contudo, nenhuma evidência contemporânea sugere que os próprios maçons
alegaram quaisquer habilidades ocultas.
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(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

que emprega imagens abstratas idades e características arquitetônicas para criar


um mapa mental que auxilia a memória. 24

“Maçons” não operativos e o sistema inicial de dois graus

Ao mesmo tempo, que o sistema de lojas estava se desenvolvendo na Escócia,


a London Mason Company tornou-se ativa na Inglaterra. Há evidências de que já
em 1630 alguns maçons da London Mason Company tinham o privilégio exclusivo
de serem admitidos para “Aceitação”, embora o significado preciso do termo não
esteja claro. No entanto, o princípio da subsidiariedade sugere que “a aceitação”
representa uma iniciação em algum tipo de grupo que abrangia ambos os maçons
operativos [operative mason] e aqueles que não eram artesãos [non-craftsmen].25
Assim, uma combinação dos termos “pedreiro livre” [free-stone mason] e “maçom
aceito” [accepted mason] pode ser a origem da frase “Maçom Livre e Aceito”
[Free and Accepted Mason].

No início da década de 1640, podemos identificar non-craftsmen que eram


cerimonialmente admitidos na loja e tornaram-se “maçons” não operativos. Sir
Robert Moray é o primeiro “cavalheiro maçom” não operativo conhecido, tendo
sido admitido no Loja de Edimburgo, em 20 de maio de 1641. A razão exata pela
qual essas pessoas foram admitidas não é conhecida, embora possam ter sido
patrocinadores ou pessoas de influência, cuja amizade pode ter sido benéfica. Mais
notável foi a iniciação de Elias Ashmole, o antiquário e arauto inglês, em 16 de
outubro de 1646. A iniciação de tais cavalheiros não operativos, e a atribuição a
eles da Palavra de Maçom, é a condição sine qua non do que agora chamamos de
Maçonaria Especulativa. 26 Assim, a Maçonaria Especulativa surgiu quando a
Palavra de Maçom deixou de ser puramente na prática, de uso operativo, e se
tornou um segredo de valor puramente simbólico para os “cavalheiros
construtores” [gentlemen masons]. 27

24
Frances A. Yates, Giordano Bruno and the Hermetic Tradition (Chicago: The University of Chicago Press,
1964); Frances A. Yates, The Art of Memory (Chicago: The University of Chicago Press, 1966)
25
RF Gould, The Concise History of Freemasonry (London: Gale & Polden, 1903), p. 185. Mateus D. Scanlan,
"The Mystery of the Acception, 1630-1723", in Heredom 11 (Washington, DC: Scottish Rite Research
Society, 2003), pp. 55-112.
26
O uso mais antigo do termo “especulativo” aparece em 1757. Ver Douglas Knoop e GP Jones, The
Genesis of Freemasonry: An Account of the Rise and Development of Freemasonry in Its Operative,
Accepted, And Early Speculative Phases Hardcover (Manchester: Manchester University Press, 1947), p.
131
27
Albert Pike observou: “Ashmole não desejava relações sociais com marteladores de pedra comuns ou
pedreiros de construção. Ele não poderia ter cuidado de seus cachimbos e cerveja, ou ter sentido qualquer
interesse em que em relação ao seu comércio. Houve algum motivo suficiente ... ”. Para Pike, as primeiras
lojas maçônicas eram provavelmente um ponto de encontro para pessoas interessadas em hermetismo e
esoterismo. Veja Arturo de Hoyos, ed., Albert Pike's Esoterika - The Symbolism of the Blue Degrees of
Freemasonry Hardcover (Washington, DC: Scottish Rite Research Society, 2005, 2008).
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Embora as informações sejam escassas, alguns documentos sobreviventes


desta época podem revelar algo sobre a natureza do ritual maçônico
primitivo. Nossa primeira descrição, registrada no Edinburgh Register House
Ms (1696), inclui uma breve cerimônia e um catecismo simples usado para
identificação dos membros. Notavelmente, inclui muitas características ainda
familiares aos maçons hoje. Não se acredita que o Edinburgh Register House
Ms (1696), seja um indício, mas provavelmente foi usado como um guia de
reconhecimento. Desse modo, pode-se preservar um autêntico catecismo usado
pelos primeiros maçons. Contudo, a Maçonaria primitiva era bem diferente
daquela conhecida hoje. Neste período inicial havia apenas dois graus para adesão:
Aprendiz Aceito [Entered Apprentice] e Companheiro [Fellow-craft]
(companheiro de ofício – fellow-of-the-craft). Nos primeiros documentos, quando
lemos sobre um “mestre maçom ou companheiro”, apenas uma classificação é
estabelecida. Os Mestres Maçons eram Companheiros mais antigos no Ofício, e
que detinham os contratos de construção; esta é a razão pela qual os maiores
segredos eram conferidos sobre os [cinco] pontos do companheirismo [fellow-
ship], e não da aprendizagem [apprentice-ship] ou de mestrado [master-ship]. 28

 A Iniciação do Aprendiz Aceito. Na descrição mais antiga conhecida do


Ritual maçônico, lemos que o candidato era primeiro colocado de joelhos e
submetido a “muitas cerimônias para assustá-lo”. Ele então colocava sua mão
direita sobre uma Bíblia e lhe era dito que seria obrigado a jurar segredo, tendo o
sol e a companhia dos presentes convocados como testemunhas, e sob a ameaça
de condenação e morte, ele então assumia a seguinte obrigação:

Na presença do próprio Deus, e a Deus responderei quando estiver nu diante


d´Ele, no grande dia, juro que jamais revelarei qualquer parte do que aqui
e agora venha ouvir ou ver e onde quer que seja, nunca falar, escrever, nem
por ironia e em qualquer tempo, traçar com a ponta de uma espada, ou
qualquer outro instrumento sobre a neve ou areia, nem falarei sobre ele,
senão a um Maçom aceito, assim Deus me ajude.

Embora breve, é importante notar os elementos rudimentares que são hoje,


familiares para nós:

28
“Cada companheiro poderia se tornar um mestre maçom, desde que tivesse habilidade suficiente e a
sorte para encontrar um empregador [para lhe dar como arrendatário um contrato de construção]“. Mas,
suponha que ele tenha obtido um contrato, o que ocorreria então? A menos que o contrato fosse muito
pequeno, ele empregaria alguns de seus companheiros e seria chamado de “Mestre” por eles “todo o
tempo em que trabalharam com ele”, como nos informam muitas versões das Constituições; e se o
trabalho era grande, é de se presumir que também construiu uma loja e se tornou Mestre de uma Loja?”
W. H. Upton, Ars Quatuor Coronatorum 11 (1898), p. 76. No entanto, deve-se atentar que alguns rituais
estrangeiros se referem agora aos [cinco] “pontos do mestrado” [ou do Mestre].
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

(1) O juramento começa invocando a presença de Deus;


(2) A frase “quando estiver nu diante d´Ele” pode sugerir porquê os rituais
posteriores preparam o candidato de maneira peculiar;
(3) O candidato jurou que não escreveria nem desenharia os segredos de
qualquer maneira. Esta é a declaração ancestral do conhecido “escrever,
indicar, imprimir, traçar, ” etc.
(4) O candidato jurou manter o segredo entre os maçons, e
(5) O juramento termina com “Deus me ajude".

O candidato era então retirado da sala pelo maçom mais jovem, advertido
novamente com “1000 posturas excêntricas e meneios”, e era ensinado a sinal
conhecido como “due guard”, a postura e as palavras para admissão. Ao retornar
ele se curvava, fazia o sinal, abençoava-os em nome de Deus e pronunciava as
palavras para admissão. Ele expressava seu desejo de servir seus Mestres, sob pena
de ter sua garganta cortada e ser enterrado, enquanto repetia o sinal, levando sua
mão sobre sua garganta. Finalmente, todos os maçons sussurraram “a palavra”
entre eles próprios, começando com o mais jovem, até chegar ao Mestre Maçom,
que ele próprio a deu ao novo Aprendiz Aceito.

 A Iniciação do Companheiro de Ofício. Os Aprendizes Aceitos deixavam


a sala e o candidato era colocado de joelhos e repetia seu juramento. Ele então saia
como o “mais jovem maçom” e aprendia as “posturas e sinais de
comunhão”. Retornando, ele fazia “o sinal do mestre” e repetia a palavra de
admissão, omitindo um item. Os membros então sussurraram a palavra entre si
como antes, e o novo Companheiro de Ofício avançava e se colocava na posição
adequada para receber a palavra. Ele então sussurrava uma saudação ao Maçom
mais antigo, e recebia a palavra e o toque.

Devido à importância deste documento, ele é aqui reproduzido na íntegra:

[Edimburgo Register House Ms (1696)] 29

ALGUMAS PERGUNTAS QUE OS MAÇONS USAM AOS QUE DIZEM TER


A PALAVRA ANTES QUE OS RECONHEÇAM

Questão 1. Sois maçom? Resposta: Sim

29
"Edinburgh Register House Ms, 1696", em Douglas Knoop, GP Jones e Douglas Hamer, The Early
Masonic Cathechisms - Primeiros Catecismos Maçônicos - 2d ed. (Manchester: Manchester University
Press, 1963), p. 31–34.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Questão 2. Como saberei isso? Resposta: Você saberá no momento e local


convenientes. Observe que a resposta prevista somente deverá ser
ofertada quando em nossa companhia houver alguém que não seja
maçom, mas se houver tal companhia, você deve responder por sinais
toques e outros pontos da minha admissão.

Questão 3. Qual é o primeiro ponto? Resp: Diga-me o primeiro ponto que lhe
darei o segundo. O primeiro é velar e ocultar, o segundo, sob não
menor que a dor de ter a garganta cortada, você deve executar esse
sinal [executa o sinal] quando disser isso.
Questão 4. Onde foste recebido? Resposta: Em uma respeitável Loja.
Questão 5. O que torna uma loja justa e perfeita? Resp: Sete mestres e cinco
aprendizes aceitos, a um dia de jornada de uma cidadela fortificada
[ou de uma região habitada], sem ladrar de cachorro ou cantar de galo.
Questão 6. Um número menor não faz uma loja justa e perfeita? Resp: Sim. Cinco
pedreiros e três aprendizes aceitos.
Questão 7. Não menos? Resp: Quanto mais, maior será a alegria, quanto menos,
melhor será a refeição.
Questão 8. Qual é o nome da sua Loja? Resp: Kilwinning.
Questão 9. Como se orienta sua Loja? Resp: De Leste a Oeste como no Templo
de Jerusalém.
Questão 10. Onde se encontrava a primeira Loja? Resp: No pórtico do Templo de
Salomão.
Questão 11. Existem luzes em vossa Loja? Sim, três: no Nordeste, no Sudeste, e
na passagem Oriental. Uma simboliza o Mestre Maçom, a outra o
Vigilante, e a terceira o Companheiro de Ofício.
Questão 12. Há alguma joia em vossa loja? Sim, três: o Silhar Perpendicular 30, o
Pavimento Mosaico e o Largo Oval 31.
Questão 13. Onde se encontra a chave de vossa loja? Três pés e meio da porta da
Loja sob um silhar perpendicular e um verde gramado. Mas sob o colo
do meu fígado onde estão todos os segredos do meu coração.
Questão 14. Qual é a chave de sua loja. Resp: Uma língua bem segura.
Questão 15. Onde está a chave. Resp: Na caixa de ossos. Depois que os Maçons o
tenham examinado por todas ou algumas dessas perguntas, tendo
você respondido exatamente e feito os sinais, eles o reconhecerão,
mas não como Mestre Maçom ou Companheiro do Ofício, mas apenas

30
Nota do Tradutor: Pedra Perfeita, Pedra Polida ou ainda, a Lápide de uma sepultura.
31
Nota do Tradutor: Maço.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

como Aprendiz, então dirão: Vejo que esteve na Cozinha, mas não sei
se esteve no Salão. Estive no Salão, assim como na Cozinha.

Questão 1. Você é um Companheiro de Ofício? Resposta: sim.


Questão 2. Quantos pontos da comunhão existem? Resp.: Cinco a saber, pé contra
pé, joelho contra joelho, peito contra peito 32, mão contra mão e orelha
contra orelha. Em seguida faça o sinal de comunhão dê o toque e será
reconhecido como um verdadeiro maçom. As palavras encontram-se
no 1º Livro de Reis, capítulo 7, versículo 21, e no 2º Livro de Crônicas,
capítulo 3, versículo final.

A FORMA DE DAR A PALAVRA DE MAÇON

Primeiro, quem receberá a palavra ajoelha-se e depois de um grande número de


cerimonias, a fim de adverti-lo, permitirão que faça sua promessa de sigilo,
segurando a Bíblia, esta sob a sua mão direita, advertindo-o que se não cumprir
seu juramento, isto seguramente será a causa de sua morte, que terá por
testemunhas o Sol no firmamento e todos aqueles presentes para o ato solene de
sua condenação. Em seguida, depois da promessa de silêncio lhes jura desse modo:

Na presença do próprio Deus, e a Deus responderá quando estiverdes nu diante


d´Ele, no grande dia, jure que jamais revelará qualquer parte do que vai ouvir ou
ver neste momento, nunca falar, escrever, nem por ironia e em qualquer tempo,
traçar com a ponta de uma espada, ou qualquer outro instrumento na neve ou
areia, nem falará a esse respeito, senão a um Maçom aceito, assim Deus te ajude.

Depois que fizer esse juramento, ele será retirado da loja, com o maçom mais
jovem da Loja, onde depois ele será suficientemente advertido com 1000 posturas
insensatas e meneios, e lhe será ensinado como o maçom deve fazer sua devida
guarda (due guard), qual é o sinal, comportamento e palavras de sua admissão que
são as seguintes:

Primeiro, quando entra novamente na loja, ele deve fazer uma excêntrica
reverência curvando-se; depois, o sinal e dizer “Deus abençoe essa honrada
corporação”. Após, retirando o chapéu de uma maneira muito tola, o que deve ser
demonstrado somente neste momento, assim como os outros sinais, ele diz as
palavras de sua admissão, que são as seguintes:

32
Nota do Tradutor: No original consta “coração contra coração”.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Aqui estou eu, o aprendiz mais jovem e o último a ingressar. Como jurei por Deus
e São João, pelo Esquadro e pelo compasso, e pelo juízo comum (perfeito juízo),
de estar a serviço dos mestres desta honrosa loja, da manhã de segunda-feira até
sábado à noite e manter as chaves disso, sob pena não menor que ter a língua
cortada por baixo do queixo e de ser enterrado, dentro do limite das ondas, onde
nenhum homem saberá.

Então ele fará o sinal novamente, puxando a mão sob o queixo ao longo da
garganta, indicando que será cortado caso quebre sua palavra.

Em seguida, todos os maçons presentes sussurram entre si a palavra, a começar


pelo mais jovem até chegar ao Mestre Maçom que dá a palavra para o aprendiz
aceito, mas para ser um Mestre Maçom ou Companheiro de Ofício, ainda há muito
mais a ser feito, a seguir.

Primeiramente, todos os aprendizes devem ser retirados da Loja e ninguém poderá


permanecerá além dos Mestres.

Então, aquele que será admitido como membro da Irmandade ajoelhar-se-á e


prestará novo juramento. Ele deverá sair da Loja, acompanhado do Maçom mais
jovem para aprender as posturas e sinais do Companheiro. Entrando novamente,
agora ele faz o sinal do Mestre, e diz as mesmas palavras quando foi admitido,
deixando apenas de fora o juízo comum, então os Maçons sussurram a palavra
entre si começando pelo mais jovem como anteriormente, o Maçom mais jovem
deve avançar e colocar-se na postura para receber a palavra, dizendo ao Maçom
mais antigo, sussurrando:

Os respeitáveis Mestres desta honrada corporação condignamente vos saúdam,


condignamente vos saúdam, condignamente vos saúdam.

Então o Mestre lhe dará a palavra e o toque na forma dos maçons, e isto é tudo o
que deve ser feito para torná-lo um perfeito Maçom.
[ Aprovação ]

Algumas questões sobre a palavra maçom 1696

É importante notar que ainda há muito a ser aprendido sobre as origens da


Maçonaria. Embora a Escócia tenha desempenhado um papel indubitavelmente
vital na a formação da Maçonaria Especulativa, permanecem enigmas a serem
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

resolvidos do lado inglês. Por exemplo, as Antigas Obrigações são anteriores às


tradições Maçônicas Escocesas cerca de 200 anos. Como elas se desenvolveram e
em que circunstâncias? Ainda não sabemos.

Maçonaria especulativa e o nascimento dos "altos graus"

Em 24 de junho de 1717, quatro lojas de Londres 33 reuniram-se na Taverna


“O Ganso e a Grelha”, e institucionalizaram a Maçonaria não operativa quando
estabeleceram a Grande Loja da Inglaterra e elegeram seu primeiro Grão-
Mestre. O registro original, se houver, não pode ser encontrado, mas foi
reconstruído e publicado pelo Reverendo James Anderson em seu New Book of
Constitutions (1738) [Nota do tradutor – O Novo Livro de Constituições]:

Assim, no Dia de São João Batista, no 3º ano do Rei George I.


AD. 1717, a ASSEMBLÉIA e Festa dos Maçons Livres e aceitos foi
realizada na supracitada Goose and Gridiron Alehouse.
Antes do jantar, o mais antigo Mestre Maçom (agora
o Mestre de uma Loja) na presidência propôs uma Lista de
Candidatos adequados; e os irmãos por um a maioria das mãos,
elegeu o Cavalheiro, Sir Anthony Sayer, Grão Mestre dos
Maçons... 34

Deve-se lembrar que quando a primeira Grande Loja foi formada, ainda
possuíam apenas dois graus: Aprendiz e Companheiro. Como visto anteriormente
no Edinburgh Register House Ms (1696), os “pontos de comunhão” eram uma
referência ao Companheiro de Ofício, que recebeu duas palavras tiradas de 1 Reis
7:21 e 2 Crônicas 3:17. No entanto, outros documentos iniciais incluem sugestões
de uma alta honraria distinta, concedida mesmo antes da criação da Grande Loja.
Incluía uma palavra única que foi dada aos Mestres (Companheiros de Ofício
Sênior) e foi associada ao “abraço ritual”.

33
As quatro lojas originais eram (1) A Goose and Gridiron Ale-house na Igreja de St. Paul; (2) A Crown Ale-
house em Parker's Lane, perto de Drury Lane; (3) A Apple-Tree Tavern em Charles Street, Covent Garden;
(4) No Rummer and Grapes Tavern em Channel Row, Westminster.
34
James Anderson, The Nes Book of the Constitutions of the Antient and Honourable Fraternity of Free
and Accepted Masons (Londres: Cæsar Ward e Richard Chandler, 1738), pp. 109-10. Este foi o título dado
à segunda edição da famosa obra de Anderson, The Constitutions of the Free-Masons (Londres: William
Hunter, 1723).
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Sloane Ms 3329 (ca. 1700) 35 Trinity College Dublin Ms (1711) 36

Outra que eles chamaram de Palavra O sinal do Mestre é coluna vertebral,


de Mestre e é Mahabyn, que está a palavra é Matchpin. O sinal do
sempre dividida em duas palavras, dá- Companheiro do Ofício se dá na
se de pé, tendo peito contra peito articulação e no tendão dos dedos, e
direito um do outro, agarrando-se por a palavra é Jachquin. O sinal do
suas mãos direitas e a parte superior Aprendiz Aceito se dá no tendão dos
dos dedos da mão esquerda dedos, a palavra Boaz ou é oco. Para o
empurram as costas de um contra o Mestre, pressione a coluna, coloque o
outro e nessa postura eles ficam de joelho entre os dele e diga
pé, até que um sussurre para o outro “Matchpin”. Para o Companheiro de
Maha, e o outro responde, Byn. ofício, pressione as articulações e os
tendões dos dedos e diga “Jachquin”.
Para o Aprendiz Aceito, pressione os
tendões e diga “Boaz” ou “é oco”.

O Sloane Ms 3329 também descreve o “Toque do Mestre” que se dá com o


abraço: 2829

A garra dos mestres é segurar suas mãos direitas, colocando as


unhas de seus quatro dedos com força no carpo ou na ponta dos
pulsos um do outro e as unhas do polegar são empurradas com
força diretamente entre a segunda articulação do polegar e a
terceira articulação do primeiro dedo, mas alguns dizem que a
garra do mestre é a mesma, descrita por último, só que os dedos
médios de cada um, devem atingir um terço de uma polegada ou o
comprimento mais ou menos para tocar em uma das veias que vem
do coração.

Alguns anos depois, uma transformação notável ocorreu, quando da


separação do Ritual Esotérico do Companheiro de Ofício Sênior, foi utilizado para
ajudar na criação do primeiro “Alto grau” – o grau de Mestre Maçom.

“Em novembro de 1725, havia um novo grau, um grau intermediário entre o


de Aceitação 37 e parte do Grau de Mestre, que então era conhecido como

35
“Sloane Ms 3329, ca. 1700”, em Douglas Knoop, GP Jones e Douglas Hamer, The Early Masonic
Catechisms 2a ed. (Manchester University Press, 1963), pp. 45-49.35
36
“Trinity College, Dublin, Ms, 1711”, em Douglas Knoop, GP Jones e Douglas Hamer, The Early Masonic
Catechisms 2d ed. (Manchester University Press, 1963), pp. 69–70.
37
Nota do Tradutor: um termo que reflete o processo cerimonial de “Aceitação” que tornava maçons e
membros de uma loja operativa, aqueles que não exerciam o ofício de pedreiros.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Companheiro de Oficio”. 38 Assim, também lemos sobre a primeira concessão


conhecida deste novo alto grau, apenas oito anos após a formação da primeira
Grande Loja quando, em 12 de maio, 1725, o irmão Charles Cotton recebeu o grau
de Mestre Maçom. 39

A identidade dos autores do novo ritual não é conhecida, nem precisamente,


como a transformação ocorreu. No entanto, podemos comparar a criação do Grau
de Mestre Maçom como o Grau de Past Master “Virtual” (agora parte do American
York Rite Masonry), desenvolvido a partir da [cerimônia de] instalação própria de
um Mestre de uma Loja de Ofício. Também chamado de Grau de “Mestre
Instalado” (ou cerimonial), ainda é realizado em muitas jurisdições. Como parte
da cerimônia, o Mestre (Instalado) é “regularmente instalado” de uma maneira
peculiar e determinada (na cadeira) e nos “Segredos da Presidência”. Por óbvio,
considerando que relativamente poucos maçons têm a honra de presidir uma loja,
esses segredos são ocultados de muitos. No entanto, a dignidade tornou-se um pré-
requisito para receber o Grau do Real Arco. 40 Para adaptar este requisito, a
cerimônia de instalação e seus segredos foram remodelados no Grau de Past
Master “virtual”. Assim, os segredos associados à honra de ser um “Mestre
Maçom” (Companheiro Sênior), pode ter sido convertido e transformado no Grau
de Mestre Maçom.

Maçonaria Noachita e Hirâmica

Após o grande incêndio de Londres em 1666, uma convocação foi realizada


para que artesãos ajudassem reedificar a cidade, e é provável que durante a
reconstrução maçons mutuamente compartilharam suas lendas e tradições. Não
sabemos qual lenda, ou se alguma, foi originalmente relacionada com a grandeza
do grau Companheiro de Ofício Sênior ou de Mestre Maçom. Mas os primeiros
manuscritos sugerem uma tradição oral que provavelmente evoluiu para a lenda

38
Lionel Vibert, “The Evolution of the Second Degree” (1926), in, The Collected Prestonian Lectures.
Volume Um 1925–1960 (Londres: Lewis Masonic, 1984), pp. 47–61.
39
Charles Cotton foi feito (iniciado) Maçom em 22 de dezembro de 1724, mais tarde foi passado (elevado)
como Companheiro (em data desconhecida), e em 12 de maio de 1725, ele e Papillon Ball “eram
regularmente passados (exaltados) como Mestres”. RF Gould, “Philo-Musicæ et Architecturæ Societas
Apollini. [A Review.]”, em Ars Quatuor Coronatorum 16 (1903), pp. 112–28.
40
O Grau do Real Arco, que pode ter se originado por volta de 1740, foi descrito como "uma organização,
um corpo de homens que passaram pela cadeira ... ” Fifield D'Assigny, A Serious and Impartial Inquiry into
the cause of the Present Decay of Free-Masonry in the Kingdom Ireland (Dublin: 1744; ed. reimpressa,
Bloomington, Ill∴ Masonic Book Club, 1974), p. 44. Alguns anos depois, Laurence Dermott, Secretário da
Antients Grand Lodge of England (Grande Loja dos Antigos), escreveu sobre o “aborto” de “todos aqueles
que pensam que são Maçons do Real Arco, sem passar pela cadeira na forma regular”. Veja em sua obra
Ahiman Rezon: or A Help to a Brother (London: 1756; ed. Reimpressa, Bloomington, Ill∴ Masonic Book
Club, 1975), p. 48.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

do Terceiro Grau. Duas versões distintas, mas relacionadas a esta tradição


sobrevivem. De acordo com uma lenda preservada no Graham Ms (1726), o
Patriarca Bíblico Noé, morreu na posse de um valioso segredo que seus três filhos
desejavam. Eles se dirigiram ao túmulo de seu pai e tentaram, sem sucesso,
recuperá-lo ao levantarem o cadáver, primeiro por garras e, em seguida, por um
abraço semelhante aos pontos de comunhão. Incapaz de obter o segredo, eles
adotaram um substituto:

[Nós] temos por tradição mas também referências nas Escrituras, que
Sem Cam e Jafet foram ao túmulo de Noé, seu pai, para tentar encontrar
algo que os ajudasse a recuperar o poderoso segredo que guardava esse
famoso Patriarca. Aqui, espero que todos admitam que as coisas
necessárias para o novo mundo estavam na arca com Noé.
Esses três homens concordaram que, se não tivessem encontrado o
verdadeiro segredo, a primeira coisa que descobririam seria, de
qualquer modo, considerada seu segredo. Eles não tinham dúvidas,
acreditavam firmemente que Deus foi capaz também revelar sua própria
vontade, por sua fé, sua oração e obediência; então o que eles
descobriram provou ser tão útil para eles como se eles tivessem obtido
o segredo desde o início, do próprio Deus, e da própria fonte.
Eles chegaram ao túmulo e não encontraram nada além do cadáver
quase totalmente consumido. Eles agarraram um dedo que se rompeu e
assim por diante, falange por falange até o pulso e cotovelo. Então,
levantaram o corpo e o apoiaram, colocando pé contra pé, joelho a
joelho, peito contra peito, rosto contra rosto, e exclamaram: “Ajude-
nos, Pai”! “Oh Pai do Céu, ajuda-nos agora, porque nosso pai terreno
não pode”!
Então, novamente descansaram o corpo, e sem saber o que fazer um
deles disse: “Ainda há um pouco de tutano nesse osso”, e o segundo
disse, “mas é um osso seco”, e o terceiro disse, “isso fede”.
Na ocasião, eles concordaram em dar-lhe um nome que ainda hoje é
conhecido na Maçonaria. … 41

Um traço dessa lenda e da tradição primitiva pode ter sido mencionado no


Rev. Anderson's Constitutions (1723), que afirma que “a grande Arca ... embora
de Madeira, foi certamente fabricada pela Geometria e de acordo com as Regras
da Maçonaria 42”. E acrescenta: “Noé e seus três filhos, JAPHET, SHEM e Ham,

41
"The Graham Manuscript, 1726", em Knoop, Jones e Hamer, The Early Masonic Catechisms (1963), pp.
92-93.
42
Nota do Tradutor: Ao invés de Maçonaria, leia-se Construção.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

todos verdadeiros maçons 43, trouxeram com eles sobre o Dilúvio, as Tradições e
Artes dos Antediluvianos ...” 44. No New Book of the Constitutions 45 (1738) de
Anderson, afirmou ainda que um Maçom deveria ser “Um verdadeiro Noachita”,
e se referia a Noé e seus filhos como “esses Maçons, ou quatro Grandes
oficiais”. No entanto, esta referência “Maçonaria Antediluviana” (A Maçonaria
antes das inundações), tornou-se objeto de um infeliz anúncio impresso em 1726,
o mesmo ano em que o Manuscrito Graham foi escrito. O anúncio, em tom de
zombaria, serviu para alertar aos maçons de que “as inovações foram recentemente
introduzidas pelo Doutor” (Dr. John T. Desaguliers), que foi eleito Grão-Mestre
da primeira Grande Loja em 1719. Os detalhes do anúncio sugerem que a lenda de
Noé fora aposentada, e que a lenda de Hiram Abif havia sido recentemente
introduzida em seu lugar.

MAÇONARIA ANTEDILUVIANA [1726]. 46

O presente é para anunciar,

A todos os Maçons que foram feitos segundo a maneira Antediluviana.

Que uma Loja se fará realizar no Ship Tavern em Bishopsgate Street amanhã,
dia 24 de junho corrente, por ser festa de São João Batista, o Precursor —— e
quem lançou a primeira Linha paralela —— pois não houve Irmãos em número
suficientemente reunidos nos últimos anos para formar uma verdadeira e perfeita
Loja.

Haverá várias Palestras sobre a Antiga Maçonaria, particularmente sobre a


Significação da Letra G., como os Maçons formaram suas lojas depois do Modo
Antediluviano, demostrando as inovações que foram recentemente produzidas e
introduzidas pelo Doutor e algum outro dos Modernos, com suas Fitas, Valetes,
Letras Móveis, Estrelas Flamejantes & Companhia, para a grande Indignidade do
Esfregão e do Balde.

Haverá também uma Palestra com uma particular Descrição do Templo de


Salomão, mostrando de que forma os Companheiros de Ofício entravam na
Câmara do Meio para receber seus Salários, oferecendo provas sem os rotular

43
Nota do Tradutor: Ao invés de Maçom, leia-se construtor.
44
Anderson, The Constitutions of the Free-Masons (1723), p. 3 -
45
Nota do Tradutor: Novo Livro das Constituições
46
“Antediluvian Masonry”, em Knoop, Jones e Hamer, Early Masonic Panphlets (Manchester University
Press, 1945) pp. 193–94.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

primeiro ou segundo, que os dois Pilares do Pórtico não foram lançados no Vale
de Jehosaphat, mas em outro lugar; e que nem a Honorável [Cultura] Apolínea, ou
os Maçons Livres e Aceitos conhecem qualquer coisa sobre o assunto, como toda
a História do Filho da Viúva morto pelo Golpe de um Besouro, após o encontrarem
a três Pés a Ocidente, três Pés a Oriente e três Pés em Perpendicular, e a
necessidade de um Mestre compreender bem a Regra de Três.

Por último, haverá um Discurso de despedida bem enxuto, sobre a


Antiguidade de Sinais, Símbolos, Pontos, Garras, Juntas, Pulsos, Mãos direitas,
joelhos dobrados, Peito Esquerdo nu, Bíblias, Compassos, Esquadros, Jaquetas
Amarelas, Calças Azuis, Pavimentos em Mosaico, Pedras ásperas [brutas], Pedras
Cúbicas, Joias móveis e fixas, Arcas abauladas, Paralelogramos, cassias 47, covas
cobertas de musgo, recebido nem de pé, nem sentado, nem nu, nem vestido, mas
na devida Forma 48, concluindo com um número Infindável e genuíno de
Penalidades para Gargantas, Línguas, Corações, Areia, Cordas, Orlas, Marés,
Corpos queimados, Cinzas, Ventos, Obrigações solenes & Companhia.

N.B. — A Wax Chandler 49 próxima a Pall Mall, fornecerá Três Grandes


Luzes e um Gormogon 50 para afastar Impostores e Bisbilhoteiros.

Por Ordem da Fraternidade

Lewis Giblin, MBN

O Epitáfio da Maçonaria não será postergado de forma alguma.

A alusão a “toda a História do Filho da Viúva morto pelo Golpe de um


Besouro 51”, que mais tarde foi encontrado em uma “cova coberto de musgo”,
lembra o relato de Hiram Abiff encontrado em Masonry Dissected (1730), de

47
Nota do Tradutor: A palavra “cassia” que figura no texto original, segundo tradução do inglês antigo e
medieval significa “acácia”: S. XIV, procedente do latim e este do grego akakía (que pode traduzir-se como
"sem maldade": a-kakos), The Concise Oxford dictionary of English etymology, Oxford University Press,
New York 1992.
48
Nota do Tradutor: A expressão “na devida Forma” consiste no “Due of Guard”.
49
Nota do Tradutor: Wax Chandlers Company, Companhia de Ornamentação e fabricação de velas e
produtos de cera de abelha, fundada por volta de 1330, com Carta Real de 1484.
50
Nota do Tradutor: Membro de uma seita antimaçônica do século XVIII, também conhecida como Antiga
Nobre Ordem dos Gormogons, de vida efêmera em razão dos poucos artigos publicados, acredita-se que
tinha por objetivo ridicularizar a Maçonaria, formada por um maçom expulso de seu quadro de membros,
Philip Wharton, primeiro Duque de Wharton, Grão-Mestre da Primeira Grande Loja da Inglaterra em 1723,
e partidário dos jacobitas, que tentaram restabelecer o Trono aos “Stuart”.
51
Nota do Tradutor: No original “Blow of Beetle”.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Prichard. O relato de Prichard, que forneceu a descrição mais antiga conhecida do


Grau de Mestre Maçom, e afirmava que Hiram foi morto pelo golpe de um “Setting
Beadle” 52, e que ele foi enterrado em uma cova com “musgo e relva verdes”. 53

A morte do construtor

As primeiras descrições do ritual maçônico contêm referências veladas às


lendas Noaquita ou Hirâmica. Uma sepultura verde é mencionada no Edinburgh
Register House Ms (1696), que afirmou que se pode “encontrar a chave de vossa
loja ... Três pés e meio da porta da Loja sob um “perpend esler” e um verde
“divot”. Um “perpend esler” é um silhar perpendicular (uma lápide erguida sob
uma campa), enquanto um “divot” é um pedaço quadrado [uma placa] de
relva ou gramado. Ele explica ainda que a chave é uma “língua bem segura” que
se encontra dentro da “caixa de ossos” (o crânio). Assim, a chave acha-se em uma
cova verde [Nota do tradutor – Talvez a melhor tradução seja cova fresca]
marcada com uma lápide. Já o Manuscrito Dumfries No. 4 Ms (cerca de 1710)
difere ao afirmar que o mestre, está em um “cocho de pedra” (um jazigo?): [.]
“Onde repousa o mestre [?] [.] Em uma calha de pedra sob a janela oeste, de onde
olha para leste ...” 54. 55 Também é interessante observar que o Dumfries No. 4
Ms termina com um tom poético e pouco pitoresco que menciona um “caput
mortuu [m] {locução latina para designar [restos sem valor]}... para se lembrar da
mortalidade”. Essas indicações iniciais são fascinantes, mas na melhor das
hipóteses são apenas vagas referências; uma vez que aparecem sem um contexto
explícito, elas não seriam compreendidas por um não-Maçom.

52
Nota do Tradutor: I) Na frase original da obra Masonry Dissecated: “A Setting Maul, Setting Tool and
Setting Beadle" – “Um Malho de Sitim, uma Ferramenta de Sitim, e um Malhete de Sitim”. “Sitim” é o
nome do arbusto conhecido por Acácia, do grego, “Akakía”, do árabe “Houza”. A expressão Abel-Sitim
significa Vale das Acácias, e aparece em diversas passagens bíblicas (Números, 33:49; Josué, 2:1). II) Albert
G. Mackey, em sua obra An Encyclopedia of Fremasonry, esclarece que “Beadle” seria “Um funcionário de
um Conselho de Cavaleiros do Santo Sepulcro, correspondentes ao Diácono Júnior de uma Loja Simbólica”,
ou seja, aquele “que proclama e executa a vontade de poderes superiores”, um “Executor”, e quanto a
“Beetle” esclarece que “A esfinge e o escaravelho sagrado eram os sinetes favoritos entre os egípcios”. III)
Segundo Arturo de Hoyos, o emprego da expressão “Golpe de um Besouro” neste Manuscrito, se traduz
pela nítida intenção de dizer que se tratava de uma “História da Carochinha”. Contudo encontrei uma
interpretação interessante de que, no contexto da obra de Samuel Prichard (Maçonaria Dissecada), a
palavra “Beadle”, por vezes soletrada “Beetle”, foi utilizada para definir “o mal”, da qual extraímos a
interpretação de que Hiram foi morto pelo golpe do “Grande Mal” – vide The Universal Language of
Freemasonry, por Christina L. Voss, Düsseldorf, Alemanha, 2003, página 145.
53
O texto completo de Masonry Dissected é reproduzido em Arturo de Hoyos, ed., Albert Pike's Esoterika:
The Simbolism of the Blue Degrees of Freemasonry (Washington, DC: Scottish Rite Research Society, 2005,
2008), pp. 344–67.
54
“Dumfries No. 4 Ms, ca. 1710 ”, em Knoop, Jones e Hamer, The Early Masonic Catechisms (1963), p. 66
55
Nota do Tradutor: A frase completa da resposta contida no Manuscrito Dumfries nº 4 MS se traduz por:
“Num cocho de pedra, sob a janela oeste, de onde olha para o leste, esperando o sol nascer para mandar
seus homens ao trabalho”.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Embora os detalhes da lenda de Hiram não tenham despontado até a época


de Prichard em sua [obra] Maçonaria Dissecada (1730), a evidência
circunstancial era forte o suficiente para convencer a mente crítica de Robert F.
Gould, reitor da “Escola Autêntica” de pesquisa Maçônica, da antiguidade da
lenda. Em 1889, Gould escreveu a Albert Pike, “Agora, estou convencido que
semelhante desconhecimento prevaleceu entre 1717-30, e por este motivo rejeito
[,] por igual insustentável, a teoria de que o cerimonial de 1730 [isto é, o relato
de Prichard da elevação 56] foi introduzido na Maçonaria depois de 1717 ”. 57

O esteio para a antiguidade da lenda, pode ser encontrado numa análise


paralela dos primeiros relatos do ritual. Embora não possamos ter certeza de qual
sepultura se refere no relato mais antigo, mas sua descrição permaneceu
suficientemente consistente para sugerir a existência de uma cerimônia
(Noachita?), que escapou ao relato durante algum tempo, e emergiu como a lenda
de Hiram em 1730.

A Ressurreição do Mestre por Guercino [Giovanni Francesco Barbieri], 1591–1666.


Elementos desta pintura compartilham uma afinidade com as lendas Noachita e
Hirâmica, que Albert Pike e Robert F. Gould acreditavam ser mais antiga do que a
fundação da primeira Grande Loja em 1717. A pintura original está em posse do
Supremo Grande Capítulo do Real Arco da Escócia. — Foto de JSM Ward, The Sign
Language of the Mysteries 2 vols. (1928).

56
Nota do Tradutor: Para melhor adequação aos nossos rituais leia-se “exaltação” ao Grau de Mestre
Maçom.
57
Robert F. Gould, 26 de outubro de 1889, para Albert Pike. Original nos Arquivos do Supremo Conselho
do Grau 33, Jurisdição Sul, Washington, DC Citado em Arturo de Hoyos, ed., Albert Pike's Esoterika: The
Symbolism of the Blue Degrees of Freemasonry (Washington, DC: Scottish Rite Research Society, 2005,
2008), p. xxxvi.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Edinburgh Register A Mason´s Antediluvian Prichard´s Masonry


House (1696) Examination Masonry (1726) Dissecated (1730)
(1723)
Três pés e meio da dois pés e meio, três Pés a Leste, 6 Pés a Leste, 6 Pés
porta da Loja, sob sob um Torrão três a Oeste, e 6 Pés
um silhar Verde, e um Pés a Oeste, e três em perpendicular, e
perpendicular e um Esquadro. 58 Pés em sua cobertura eram
verde gramado. perpendicular musgo e relva
… Sepulturas verdes.
cobertas de musgo.

Além dessas sugestivas narrativas,


o Edinburgh Register House Ms também
faz a declaração enigmática de que o
candidato era “amedrontado” com certas
cerimônias. Isso poderia envolver a
revelação de um cadáver ou sepultura? 39

Pode ser que uma lenda Hirâmica


estivesse em uso até 1723, pois sua
importância foi enfatizada nas
Constituições do Rev. Anderson que se
referiam a "Hiram, ou Huram, o maçom
mais realizado na Terra”, bem como
“o inspirado HIRAM ABIFF [que]
era Mestre do Ofício”.

Embora a primeira edição das


Constituições omita qualquer referência a “Plano da Loja para a Recepção
morte de Hiram, a segunda edição (1738) de um Mestre ” de L'Ordre des
mencionou “a Morte repentina de seu Franc-Maçons Trahi (1745).
Este diagrama nos ajuda
querido Mestre Hiram Abbif, a quem eles entender o signifcado da
decentemente enterraram no Alojamento passagem “do esquadro para o
perto do Templo, de acordo com o antigo compasso”, bem ciomo o
propósito das etapas do Mestre
costume”. E se a primeira Grande Loja - cada um dos que estava
expressou qualquer preferência pela lenda repleto de perigos. A antiga
Hirâmica sobre a de Noé, pode ter palavra de um mestre maçom e
um ramo de acácia adorna a
favorecido uniformidade ao ritual, bem
sepultura, que está rodeada de
como fortalecido os laços com o Templo de lágrimas.
Salomão, o projeto de construção mais

58
“A Mason's Examination, 1723”, em Knoop, Jones e Hamer, The Early Masonic Catechisms (1963), p. 74
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

sagrado na Bíblia. Seja como for, esta lenda de Noachita sucumbiu à lenda de
Hiram Abiff, e as semelhanças foram mescladas na versão apresentada em
Maçonaria Dissecada:

Ex. Como Hiram foi elevado?


R. Como o são todos os outros maçons, quando recebem a Palavra do Mestre.
Ex. E como é isso?
R. Pelos cinco Pontos de Comunhão.
Ex. Quais são? Mão com Mão (1), Pé com Pé (2), Face com Face (3), Joelho
com Joelho (4) e Mão nas Costas (5).
NB: Quando Hiram foi elevado, eles o agarraram pelos dedos Indicadores, e a
Pele se soltou, o que é chamado de Desprendimento; o estender da Mão Direita
e o colocar do Dedo Médio no Pulso, segurando-o com os Dedos Indicador e
Anelar pelos lados deste, é chamado de Garra. O Sinal se faz colocando o
Polegar da Mão Direita contra o Peito Esquerdo, estendendo os Dedos.

Também deve ser observado que Noé e Hiram são mencionados nas Old
Charges [ou Velhas Obrigações], incluíram elementos adicionais, e que
provavelmente inspiraram as lendas de outros “altos graus”. O segundo mais
antigo desses [Manuscritos], The Cook Ms (cerca de 1420) 59, inclui a primeira
alusão maçônica a Hiram, afirmando: “O filho do
Rei de Tiro era seu Mestre Maçom”.

[Ao lado] Uma Tábua de Delinear para o


Terceiro Grau, pintada por John Cole em 1808,
usada pela Loja Unanimity and Sincerity, nº 261,
Taunton, Inglaterra. Comparada com a
ilustração na página anterior, podemos ver que
o esquadro e os compassos ocupam as mesmas
posições correspondentes, embora as
ferramentas utilizadas pelos três assassinos
também adornem o caixão, assim como uma
representação do sanctum sanctorum, que
fazem referência aos segredos de um Mestre
Maçom. Os três numerais “5” representam
quinze Companheiros mencionados na lenda
de Hiram. Um ramo de acácia está ao lado do
caixão [no canto inferior direito de quem olha e
parece melhor na gravura original], e emblemas
de mortalidade adornam a cena. — De Ars
Quaturor Coronatorum 75 (1962).

Nota do Tradutor: The Cook Ms (cerca de 1420), o Manuscrito Cooke, tem o nome da editora londrina,
59

Matthew Cooke, que publicou sua primeira transcrição em 1861.


O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

A Loja, o balde e o esfregão

Nos primeiros dias os Maçons não possuíam Lojas com prédios próprios
como temos hoje. Nossos primeiros irmãos se congregavam em qualquer sala
conveniente, onde pudessem se reunir em particular para trabalhar, muitas vezes
em cima de tavernas (os salões sociais da época), ou em residências
particulares. Qualquer mobília era removida, expondo as tábuas do assoalho e um
diagrama da “loja” era então desenhado no pavimento usando giz ou carvão. 60 A
Loja desenhando (um tipo de quadro) exibia as ferramentas de trabalho, e outros
itens necessários. Os membros permaneciam ao redor de suas margens durante as
iniciações, e enquanto os símbolos eram explicados. Na conclusão do encontro o
Aprendiz mais jovem entrava com um esfregão e um balde para limpar o chão.

A Noite, de William Hogarth (1738) retrata as misérias da vida em Londres nos primeiros
dias da Grande Loja da Inglaterra. Um Mestre da Loja, vestindo sua joia e avental, está
acompanhado por um Tyler, que carrega uma lâmpada e uma espada. Na extrema
direita está uma figura, de costas, segurando um esfregão, que servia para lavar o chão
da pousada após a reunião. — Coleção dos Arquivos do Conselho Supremo, 33 °,
Jurisdição Sul

O anúncio simulado [em], Maçonaria Antediluviana (1726), mencionou


algumas das “inovações” introduzidas pela primeira Grande Loja, incluindo

60
Isso pode ajudar a explicar por que giz, carvão e argila são mencionados em muitos rituais do Ofício
hoje.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

“Fitas, Valetes, Letras Móveis, Estrelas Flamejantes & Companhia, para a


grande Indignidade do Esfregão e do Balde”. A Loja não era mais e apenas
desenhada no Pavimento; objetos físicos foram adicionados, bem como novos
símbolos. UMA descrição e desenho desta “nova Loja sob a Regulamentação de
Desaguliers” apareceu em A Dialogue Between Simon and Philip 61 (ca.1740), uma
das primeiras exposições maçônicas:

O Sol, a Lua e o Mestre são três grandes Luzes em grandes Castiçais


esculpidos em madeira e em todas as ordens, são colocados de forma
triangular em Loja. O [Quadro] da Loja é comumente feito, com fitas brancas
pregadas no Pavimento na forma arredondada onde se vê as letras E para
Leste e S para sul & Companhia, que são elaboradas de Prata fina ou Estanho
muito fino; A exemplo da letra G no topo da página, nas novas Lojas
constituídas, há um Quadrante (Nível), um Esquadro, um Compasso e um
Prumo colocados no topo da Loja. Os Oficiais da Loja ficam de pé em seus
devidos lugares, com seu pé direito a marcar uma Esquadria à esquerda, a
mão esquerda pendurada em uma linha perpendicular e sua mão direita sobre
o peito esquerdo, formando uma Esquadria com seus dedos e polegar, com
seus aventais brancos, e luvas ajustadas em seu lado direito. Esta é a postura
e o grande sinal que irá esquadrinhar qualquer Maçom do topo de um
Edifício, e é chamada de Postura de um Maçom. 62

“The New Lodge under Desaguilers Regulation” [A Nova Loja sob o Regulamento de Desaguilers], Da
[obra] A Dialogue Between Simon and Philip 63 (ca.1740). Foto da Ars Quatuor Coronatorum 57 (1946).

61
Nota do tradutor: “A Dialogue Between Simon and Philip”, trata-se de Um diálogo entre Simon, um
maçom da cidade, e Philip, um maçom viajante.
62
“Dialogue Between Simon and Philip, ca. 1740”, em Knoop, Jones e Hamer, The Early Masonic
Catechisms (1963), pp. 175-81. Knoop e Jones fizeram um estudo mais detalhado que aparece na [Revista]
Ars Quatuor Coronatorum 57 (1949), pp. 3-21. A ilustração aparece entre as páginas 10 e 11.
63
Nota do tradutor: “A Dialogue Between Simon and Philip”, trata-se de Um diálogo entre Simon, um
maçom da cidade, e Philip, um maçom viajante.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Vinte anos depois, The Three


Distinct Knocks (1760), outra
exposição, incluindo um diagrama da
loja, explicando que é “geralmente
feito com Giz, ou Carvão sobre o
Pavimento”, enquanto o esfregão e o
balde eram necessários para “lavá-
lo”; acrescentando que “algumas
Lojas usam Fitas e pequenos Pregos
para formar a mesma Coisa”. 64 O
desenho da loja só permanecia no
chão até que o candidato cumprisse
sua obrigação [ou juramento], “Então,
uma Mesa era colocada no lugar onde
a Figura encontrava-se, e todos eles
se sentavam ao redor; mas todos os
homens sentavam-se na mesma
posição em que estavam antes da
Figura ter sido lavada, ou seja, o
Mestre no Oriente, o Diretor Sênior
no oeste e companhia”. Dois anos Um traçado da “loja” do livro The Three
Distinct Knocks (1760). Assim que a
depois, Jachin e Boaz (1762)
obrigação [juramento] era assumida
confirmou que o desenho no este desenho era lavado, e uma mesa
pavimento, traçado com giz ou carvão era colocada em seu lugar.
[vegetal], era “o mais antigo
Costume”. E ainda, adverte que “o Maçom Recém-iniciado... deve levar um
Esfregão e um Balde de água, para lavá-lo. Em algumas lojas usam
Fitas vermelhas e pregos para formá-lo, o que evita qualquer Marca ou Mancha
sobre Pavimento, como no caso do giz”. 65

Com o tempo, o desenho deixou de ser aplicado diretamente no pavimento,


e era esboçado ou pintado sobre lonas ou outro tecido; e eventualmente, era tecido
em [forma de] tapetes. O desenho portátil permitia a rápida formação da Loja, em
torno do qual os Irmãos continuaram a se reunir, como [é] visto na primeira gravura
francesa abaixo e à direita.

64
The Three Distinct Knocks, Or the door of the Most Antient Free-Masonry – [As Três Batidas Distintas,
ou a Porta da Mais Antiga Maçonaria] (Londres: H. Srjeant, 1760), pp. 9–10.
65
Jachin e Boaz; Or Autentic Key to the Door of Free-Masonry – [Jachin e Boaz; ou a Autêntica Chave para
a Porta da Maçonaria] (Londres: W. Nicholl, 1762), entre as páginas 8 e 9.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Os primeiros catecismos e referências nos ajudam a entender como a


Maçonaria evoluiu, bem como porque hoje existem diferenças de rituais. Algumas
jurisdições mantiveram práticas mais antigas, enquanto outros as modernizaram e
as harmonizaram. Por exemplo, os primeiros maçons também realizavam reuniões
nas lojas em torno de uma mesa. O candidato era introduzido e conduzido nas
costas dos membros durante sua iniciação. No momento apropriado, uma Tábua
de Delinear [ou Traçar] podia ser colocada sobre a mesa para representar o grau
em que trabalhavam, e seus símbolos poderiam ser explicados. Este arranjo explica
um artefato retido pela Grande Loja de Pensilvânia, mas não visto em nenhum
outro lugar nos Estados Unidos. Durante a iniciação cerimônia em que os três
oficiais principais deixam seus postos e ficam ao redor do altar em suas posições
adequadas. O candidato é então conduzido ao redor do corpo da Loja aberta e por
trás das costas dos oficiais, como se estivessem sentados a uma mesa.

Assembleia de Maçons para Recepção do Aprendiz (1745). Antes da existência de


edifícios próprio para Lojas, os símbolos necessários eram retratados em tecido que era
colocado no pavimento de uma sala conveniente, onde Oficiais e membros da
assembleia reuniam-se ao redor de sua borda para constituir a loja. Esses desenhos
[traçados em tecido ou desenhados em tapetes] são os ancestrais dos “tracing-boards”
[que hoje conhecemos como Painéis dos Graus]. — Coleção do autor
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

The Cerimony Making a Free-Mason from Hiram; or The Grand Master-Key to the
Door of Both Antient and Modern Free-Masonry, 2ª edição (Londres, 1766) [A
Cerimônia de Iniciação um Maçom de Hiram; ou a chave do Grande Mestre para a
Porta da Maçonaria Antiga e Moderna]. Com o oficiais e membros reunidos em
[torno de] uma mesa, o candidato [realizava] circunvoluções (as viagens) atrás de
suas costas. A forma das Lojas modernas foi influenciada por este arranjo. Observe
agora, como os três degraus antes da mesa, os castiçais e os pequenos pilares,
correspondem precisamente ao diagrama do [livro] The Three Distinct
Knocks (1760). — Coleção do autor

Palavras e senhas significativas

Vimos anteriormente que a “Palavra de Maçom” era um termo que


personifica a soma dos modos particulares de reconhecimento (o catecismo, as
palavras, os toques e sinais). As primeiras descrições de rituais indicam que as
palavras “Boaz” e “Jachin”, os nomes dos pilares do Templo de Salomão, estavam
entre os principais modos de reconhecimento.

Todavia, o Sloane Ms 3329 (ca . 1700) conferiu uma nova palavra para os
Mestres (Companheiro de Ofício Sênior). A partir do Século XVIII esta nova
palavra aparece com muitas variantes:

Maha-Byn (Sloane Ms , c.1700)


Matchpin (Trinity College, Dublin Ms, 1711)
Maughbin (A Mason Examination, 1723)
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Magboe e boe (The Wole Institutions of Free-Masons Opened, 1725)


Machbenah (Masonry Dissecated, 1730)
Mag Binach (John Coustos to the Portuguese Inquisition, 1743)
Macbenac (Catechisme des Franc-Maçons, 1744)
Mak-benak (L'Ordre des Franc-Maçons Trahi, 1745) 66
Mahhabone (The Three Distinct Knocks, 1760)
Mahhabone ou Macbenack (Jachin e Boaz, 1762)
Mahhabone ou Macbenac (Shibboleth, 1765)

A palavra original, bem como seu significado (se houvesse), está perdido. No
entanto, [na obra] “The Wole Institutions of Free-Masons Opened” afirmou-se que
[as palavras] “Magboe e Boe” significam Medula no Osso” 67. O leitor atento pode
se lembrar que a frase “tutano [medula] nesse osso” também apareceu no Graham
Ms (1726), e o leitor ávido pode notar que cem anos mais tarde, na narrativa de
William Morgan, Illustrations of Masonry by One of the Fraternit [Ilustrações da
Maçonaria por Alguém da Fraternidade] (1826), afirmou que o substituto para a
palavra do Mestre “significa medula no osso”. 68 Embora não esteja conectado a
nenhuma palavra única, é interessante notar que as Grandes Lojas de New
Hampshire e Texas usam a frase “força no tendão e medula óssea”. 69 No entanto,
a definição no Three Distinct Knocks (1760) forneceu um significado totalmente
diferente. Afirmou que “Mahhabone ... significa apodrecimento, ou apodrecido
até o Osso”. É possível que, atuando como um dispositivo de memória, o som
dessa “palavra” sugeria as várias concepções “ósseas”.

Entre as interpretações oferecidas por outros rituais estão “a morte do


construtor” e “o construtor está apaixonado”. Curiosamente, “Machbenah”, a
quinta palavra da lista acima, é um nome hebraico encontrado em 1º [Livro de]
Crônicas 2:49, que foi definido na Bíblia de Barker (1580) como significando “o
ferimento do construtor”. Mais interpretações dessas palavras incluem “a carne
desprende-se dos ossos", “o cadáver é podre” e “ele vive no filho” 70. Albert Pike

66
Nota do Tradutor: A Ordem dos Maçons traídos, de Gabriel-Louis Calabre Pérau, de 1745.
67
"The Whole Institutions of Free-Masons Opened (1725)", em Knoop, Jones e Hamer, The Early Masonic
Catechisms (1963), p. 88
68
As argumentações de Morgan aparecem na íntegra [na obra] de Arturo de Hoyos, Light on Masonry:
The History and Rituals of America's Most Important Masonic Exposé (Washington, DC: Scottish Rite
Research Society, 2008), pp. 233–306.
69
Isso é uma reminiscência de Provérbios 3: 5-8, que diz que a confiança no Senhor “será saúde para o
teu umbigo e medula para os ossos”.
70
A importância e o significado original da palavra não são conhecidos. No entanto, The Whole Institutions
of Free-Masons Opened (1725) fornece a primeira sugestão de que pode ter sido um substituto, ao afirmar
que “a palavra primitiva” era “ Eu sou, e Jeová é a resposta para ela”. Isso sugere uma tradição que lembra
mais tarde formas do Grau de Mestre Maçom, bem como aquelas que evoluíram para o Grau [de Maçom]
do Real Arco.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

dividiu a palavra em duas hebraicas palavras, “Makh-ba, [que significa] cobertura,


ocultação, esconderijo” e “Nakah, [que significa] golpeado, ferido, ferido,
abatido, morto”; portanto, “‫מחבא־נך‬, Makhbenak, o local de ocultação do
assassinado; ou seja, o lugar onde o corpo do assassinado estava escondido”. 71 O
uso ritual mais antigo de senhas é encontrado na exposição francesa L'Ordre des
Francs-Maçons Trahi et Le Secret des Mopses Révélé [A Ordem dos Franco-
Maçons Traídos e o Segredo dos Mopses 72Revelado] (1745). Explicara que sua
introdução foi uma proteção prescrita em oposição aos falsos “Irmãos”:

P. Qual é a Palavra de Passe de um aprendiz?


R. Tubalcain.
P. E do Companheiro?
R. Schibboleth.
P. E a do Mestre?
A. R[esposta]. de M[estre]. Giblim.
Essas três Palavras de Passe raramente são usadas, exceto na França e em
Frankfurt. Elas têm natureza de Watchwords [Palavras de Ordem],
apresentadas como uma garantia de salvaguarda [ao lidar] com irmãos que
eles não conhecem… 73

Tal como acontece com outros aspectos do ritual, os toques (típicos),


penalidades simbólicas e obrigações também evoluíram. As descrições dos toques
diferem e, originalmente, pode ter existido apenas uma penalidade simbólica. O
[Manuscrito] Edinburgh Register House Ms. (1696) afirma que “o primeiro é
velar e ocultar, o segundo, sob não menor que a dor de ter a garganta cortada,
você deve executar esse sinal quando disser isso”. Quando The Mistery of Free-
Masonry foi publicado em 1730, encontramos um juramento que incluía três
penalidades distintas. Eles foram divididos na época em que [Três Batidas
Distintas] Trhee Distinct Kanocks (1760) apareceu, o que originou três obrigações
distintas (uma para cada grau), cada um com sua própria penalidade.

Vários outros exemplos de divergência e evolução ritual podem ser citados.


Um exemplo interessante pode ser observado ao conceber as [formas]
representativas das “Luzes Menores”. Lembre-se que [a obra citada] A Dialogue
Between Simon and Philip (cerca de. 1740) menciona “grandes Castiçais

71
Albert Pike, The Book of the Words (1879; ed. Reimpressa, Washington, DC: Scottish Rite Research
Society, 1999), p. 92
72
Order of the Mopses - Uma associação secreta fundada na Alemanha no século XVIII, que se espalhou
pela Holanda, Bélgica e França, que popularmente era considerada uma ordem de magia negra.
73
Harry Carr, ed., The Early French Exposures 1737-1751 (Londres: Quatuor Coronati Lodge No. 2076,
1971), p. 267.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

esculpidos em madeira e em todas as ordens”. Hoje, os ritos maçônicos continuam


a exigir três luzes, mas diferem muito na aparência. Alguns são meros castiçais ou
“velas acesas”; outros são pequenos castiçais que lembram pilares em miniatura; e
ainda outros são pilares grandes e ornamentados, cada um produzido para se
assemelhar com uma das Ordens de Arquitetura, e cada um carregando uma vela
(ou luz) no topo. Finalmente, algumas Lojas simplesmente usam luzes elétricas,
modernas, que são colocadas em formato triangular, ou apresentadas na forma de
um candelabro de três braços.

Os Altos Graus e “Lojas dos Maçons Escoceses”


Quando consideramos a criação do Grau de Mestre Maçom, o primeiro “alto
grau” adicionado ao Ofício da Maçonaria, este é um fato importante, pois a
Maçonaria dos altos graus é, teoricamente, tão antiga quanto a própria Maçonaria
Especulativa. Outros altos graus também seguiram rapidamente os passos do Grau
de Mestre Maçom. Já em 1733 a referência a uma “Loja de Maçons Escoceses”
apareceu em uma lista manuscrita de lojas pelo Dr. Richard Rawlinson, 74 e no ano
seguinte foi novamente mencionada em uma lista impressa de Corpos Maçônicos.

Scotts Masons Lodge, No. 115, que se reunia na Devil (Tavern), Temple Bar, em Londres,
apareceu pela primeira vez como “Scotch Masons’ Lodge” numa lista manuscrita de Lojas, de
1733, do Dr. Richard Rawlinson's, e continuou a aparecer em listas impressas de lojas, como se
observa acima, até 1736. — Detalhes da [obra] “Les Free-Massons” de Bernard
Picart, Cerérémonies et costumes religieuses de tous les peuple du monde” (1735) - Coleção dos
Arquivos do Conselho Supremo, 33 °, Jurisdição Sul

74
Ver Ars Quatuor Coronatorum 1 (1886–88), p. 167
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

As primeiras designações “Scotts”, “Scotch” e “Scottish”, ao invés de em vez


de se referir aos escoceses de origem, referem-se a uma forma de Maçonaria
praticada. Assim, lemos que de 1733 a 1740, o grau de “Mestres Maçons
Escoceses” estava sendo conferido aos Mestres Maçons “regulares”. Por exemplo,
em 18 de julho de 1740, no Lodge at the Rummer, Bristol, foi “Ordenado e
concordado que o Ir. Tomson e o Ir. Watts e qualquer outro membro desta
L[oja]. que já são Mestres Maçons, podem ser feitos Mestres Escoceses…” 75. Por
volta de 1734/1735, graus adicionais foram concebidos, dois dos quais foram o
“Excelente Maçom” e o “Grande Maçom”. Esses primeiros Graus [chamados]
“Scotts” (ou Escoceses) são ancestrais ao Rito Escocês em nome e tradição, e
representam uma forma de Maçonaria tão antiga quanto o Grau de Mestre
Maçom. A tradição da Maçonaria [nominada] “Scotts” (ou Escocesa) é a segunda
categoria mais antiga de Maçonaria dos altos graus conhecida, superando
inclusive, a antiguidade do Grau do Real Arco 76.

Maçonaria Francesa [dos] altos graus:


Stephen Morin e a Ordem do Real Segredo

Se os altos graus se originaram na Grã-Bretanha, [é certo que] floresceram


na França. Em 1732 uma Loja Inglesa, apropriadamente chamada Loge
L'Anglaise, foi fundada em Bordeaux, França. Esta Loja foi posteriormente
fundada pela Grande Loja Moderna Inglesa e hoje ainda existe. Um
desdobramento inicial da Loge L'Anglaise foi a Loge la Française que, como o
nome indica, era francesa. Essa última Loja tinha uma tendência para os
chamados haut grades (altos graus), entrando então em moda, e fundou a Loge
Parfaite Harmonie [Perfeita Harmonia] em 1743. Étienne (Stephen) Morin, que se
tornaria importante na história da Maçonaria dos altos graus, estava entre os
fundadores da [Loja Perfeita Harmonia] Loge Parfaite Harmonie.

O livro Le Parfait Maçon, publicado em 1744, tem particular relevância para


o desenvolvimento da Maçonaria dos altos graus. Em uma seção sobre o “Segredo
dos Maçons Escoceses” (Secret des maçons ecossaise), apresenta outra origem
direta dos altos graus, cujo tema permanece a base do Rito Escocês para o Grau
15, Cavaleiro do Oriente e 16, Príncipe de Jerusalém:

75
Eric Ward, "Early Masters 'Lodges and their Relation to Degrees", Ars Quatuor Coronatorum 75 (1962),
p. 131
76
Sobre a maçonaria escocesa e os primeiros altos graus, ver J. Fairbairn Smith, “A Commentary. D'Assigny
Enquiry — Serious, Impartial” em Fifield D'Assigny, A Serious and Impartial Enquiry into the Cause of the
Present Decay of Free-Masonry in the Kingdom of Ireland (Bloomington, IL: Masonic Book Club, 1974);
Alain Bernheim, “Did Early 'High' or Écossais Degrees Originate in France?” em Heredom 5 (1996), pp. 87-
113.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

É dito entre os Maçons que ainda existem vários graus acima dos
mestres, dos quais acabei de falar; há quem diga que são seis no total, e
outros chegam a sete. Aqueles chamados Maçons
Escossais [Escoceses] afirmam que eles formam a quarta série. Como
esta Maçonaria, difere das outras em muitos aspectos, está começando
a se tornar conhecido na França, e o Público não se aborrecerá se eu
contar o que li sobre isso... que parece dar aos Escossais um grau de
superioridade sobre os Aprendizes, Companheiros e Mestres comuns.
Em vez de chorar pela ruína do templo de Salomão, como fazem seus
irmãos, os Escossais preocupam-se em reconstruí-lo.
Todos sabem que após setenta anos de cativeiro na Babilônia, o Grande
Ciro permitiu que os israelitas reconstruíssem o templo e a cidade de
Jerusalém; que Zorobabel, da Casa de Davi, foi nomeado por ele [Ciro]
o chefe e líder daquele povo para seu retorno à Cidade Santa; que a
primeira pedra do templo foi colocada durante o reinado de Ciro, mas
não foi concluído até o sexto ano daquele de Dario, Rei dos Persas.
É desse grande acontecimento que os Escossais têm origem a época de
sua criação, e embora tenham sido mais tardiamente que os outros
Maçons por vários séculos, eles se consideram de um grau superior. 77

Neste período inicial, os redutos Maçônicos Franceses estavam em Bordeaux


e Paris. Em 27 de agosto de 1761, a Grande Loja Francesa em Paris (a Grande e
Soberana Loja de São João de Jerusalém), atuando com um corpo dos graus
superiores (o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, Soberana Loja
Mãe Escocesa), emitiu uma patente para Morin como Grande Inspetor,
“autorizando-o e habilitando-o a estabelecer a perfeita e sublime Maçonaria em
todas as partes do mundo”.

Por volta de 1763, Morin criou e propagou um rito maçônico de vinte e cinco
graus que ele chamou de “Ordem do Real Segredo” ou “Ordem do Príncipe do
Real Segredo” (às vezes erroneamente chamado de “Rito da Perfeição”). Esta
Ordem incluía muitos dos graus mais populares trabalhados na época. Embora já
se acreditasse que o Conselho dos Imperadores do Oriente e o Ocidente criaram a
Ordem do Segredo Real, pesquisas recentes sugerem que Morin foi pessoalmente
responsável por sua organização. 78 Também há evidências convincentes de que,

77
O texto completo de Le Parfait Maçon foi traduzido em Harry Carr, The Early French Exposures 1737–
1751 (Londres: Quatuor Coronati Lodge No. 2076, 1971), pp. 157–200.
78
Para argumentos a favor da visão de que Morin forjou sua autoridade, ver Alain Bernheim, “Une dé-
coverte étonnante concernant les Constitutions de 1762”, Renaissance Traditionnelle No. 59 (julho 1984),
pp. 161-97; A.C.F. Jackson, “The Authorship of the Constitutions of the Ancient and Accepted Rite”, Ars
Quatuor Coronatorum 79 (1984), pp. 176-91. A.C.F. Jackson, Rose Croix: A History of the Ancient ande
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

para reforçar sua autoridade, ele criou e retroagiu [a data de] documentos
conhecidos como Constituições e Regulamentos de 1762 - um ato que não foi
descoberto por mais de 220 anos.

Os Graus de Stephen Morin


“Ordem do Real Segredo” 79

4 ° Mestre Secreto
5 ° Mestre Perfeito
6 ° M[estre] Perfeito por Curiosidade, ou Secretário Íntimo
7 ° Preboste e Juiz, ou Mestre Irlandês
8 ° Intendente dos Edifícios, ou Mestre em Israel [.] Muitas Lojas francesas,
chamam este grau, M[estre] Escocês dos Três J.J.J.
9 ° Capítulo do Mestre Eleito dos Nove
10 ° Ilustre Eleito dos 15 [Quinze]
11 ° Um capítulo chamado Sublimes Cavaleiros Eleitos
12 ° Grande Mestre Arquiteto
13 ° Real Arco
14 ° Perfeição [.] O Último da Maçonaria Simbólica
15 ° Conselho de Cav[aleiros] do Oriente ou da Espada
16 ° Grande Conselho dos Ilustres e mui valentes Príncipes de Jerusalém
17 ° Cavaleiros do Oriente e do Ocidente
18 ° Cavaleiros da Águia Branca ou do Pelicano, conhecidos pelo nome de
Perfeito Maçom ou Cavaleiro da Rosa Cruz
19 ° Sublime Maçonaria Escocesa, chamado pelo nome de Gr[ande] Pontífice
20 ° Venerável Gr[ão]-M[estre] de todas as lojas simbólicas, Soberanos
Príncipes da Maçonaria, ou M[estre] ad vitam
21 ° Cav[aleiro] Prussiano ou Noachita, em dois graus – [também]
denominado de outra forma, A Chave Maçônica
22 ° Cavaleiros do Real Machado — ou os Gr[andes] Patriarcas com o Nome
de Príncipes do Líbano
23 ° A Chave da Maçonaria [.] Loja Filosófica dos Cav[aleiros] da Águia ou
do Sol
24 ° Capítulo do Grande Inspetor de Lojas, Grandes Eleitos Cavaleiros
de Kadoch, agora pelo Título de Cavaleiros da Águia Branca e Negra

Accepted Rite for England and Wales rev. & enl. (London: Lewis Masonic, 1980, 1987), pp. 46–54. Para a
visão contrária, ver Jean-Pierre Lassalle, “From the Constitutions ande Regulations of 1762 to the Grande
Constitutions of 1786 ”, em Heredom 2 (1993), pp. 57-88.
79
Os títulos são aqui retirados do Francken Manuscript de 1783. Outros documentos podem incluir
pequenas diferenças.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

25 ° O Real Segredo, ou os Cavaleiros de Santo André e os Guardiões Fiéis


do Sagrado Tesouro

Por volta de 1763, Morin apresentou a Ordem do Segredo Real em Kingston,


Jamaica, e em 1764 [os] Altos Graus foram trazidos para o solo norte-americano,
quando eles foram estabelecidos em New Orleans, Louisiana. Mais ou menos
nessa época, Morin habilitou um entusiástico maçom holandês, Henry Andrew
Francken, para estabelecer Corpos Maçônicos em todo o Novo Mundo, incluindo
os Estados Unidos. Francken em breve navegou para Nova York, e em 1767 ele
começou a conferir os altos graus em Albany. Felizmente, ele também transcreveu
várias cópias manuscritas dos rituais do Ordem do Real Segredo, alguns dos quais
sobrevivem até hoje. Essas cópias são conhecidas como os Manuscritos
Francken. 80

Em 6 de dezembro de 1768, Francken nomeou Moses Michael Hays (ou


Hayes), de ascendência holandesa, Inspetor Geral Adjunto do Rito, para as Índias
Ocidentais e América do Norte. A patente de Hays concedia-lhe autoridade para
conferir todos os Graus de Ordem do Real Segredo de Morin. No ano seguinte,
Francken retornou à Jamaica, e em 1780 Hays imigrou para Newport, [Estado
americano de] Rhode Island. Em 1781, Hays viajou para a Filadélfia, onde ele se
reuniu com oito irmãos a quem nomeou Inspetores Gerais Adjuntos para os
Estados Americanos, com exceção de Samuel Myers que presidiu as Ilhas
Leeward, nas Índias Ocidentais (Polinésia Francesa) no Caribe. Por fim, Moses
Spitzer, um dos Inspetores Gerais Adjuntos, morava em Charleston de 1770 a 1781
e mudou-se para a Filadélfia, onde foi nomeado deputado para a Geórgia e, após
uma breve viagem ao exterior, retornou a Charleston em 1788. Em 2 de abril de
1795, Spitzer nomeou o irlandês John Mitchell, então morava em Charleston,
Inspetor Geral Adjunto da Ordem do Real Segredo. O Coronel Mitchell serviu
como Vice-Quarter-Master General [uma espécie de Oficial responsável pela
Administração Financeira e de Abastecimento Geral] do Exército Continental, e
era conhecido de George Washington.

Nascimento do Rito Escocês: Charleston, 31 de maio de 1801

Em 24 de maio de 1801, John Mitchell investiu o Reverendo Frederick


Dalcho (um Prussiano, nascido em Londres), Inspetor Geral Adjunto da Ordem do
Real Segredo, e uma semana depois, em 31 de maio, “o Supremo Conselho do 33º
Grau para os Estados Unidos da América foi aberto... de acordo com as Grandes

80
A cópia mais completa é o Francken Ms de 1783, de propriedade do Supremo Conselho, 33 °, NMJ
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Constituições” em Charleston, Carolina do Sul, sob a presidência do Coronel


Mitchell e do Rev. Dalcho. O Supremo Conselho era um sistema superior ao de
Morin e da Ordem do Real Segredo, administrando trinta e três graus, incluindo
todos os vinte e cinco do rito de Morin.

A autoridade tradicional do Supremo Conselho deriva da “Grande


Constituição do 33º grau” (também [conhecida por] Grandes Constituições de
1786), propositadamente ratificada por Frederico II (“o Grande”), Rei da Prússia. 81
As datas das cópias mais antigas conhecidas são aproximadamente de 1801–02, e
foram escritas [pelas próprias] mãos do Rev. Dalcho. Seus dezoito artigos são
precedidos pelo título “Constituição, Estatutos, Regulamentos & c. para o Governo
do Supremo Conselho de Inspetores-Gerais do 33º e para o Governo de todos os
Conselhos sob sua jurisdição”. 82 A Circular para toda extensão dos dois
Hemisférios, ou “Manifesto de 1802” (o primeiro documento impresso emitido
pela Supremo Conselho), também afirmou que Frederico, o Grande, instigou sua
criação:

No dia 1º de maio de 5786 [1786], a Grande Constituição do Grau 33,


chamado Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores-Gerais,
foi finalmente ratificado por Sua Majestade o Rei da Prússia, que como
Grande Comandante da ordem do Príncipe do Real Segredo, possuía o
Soberano Poder maçônico sobre todo o Ofício. Na nova Constituição,
este alto Poder foi conferido a um Supremo Conselho de nove irmãos
em cada nação, que possuem todas as prerrogativas maçônicas em seu
próprio distrito, que Sua majestade possuía individualmente; sendo
assim Soberanos da Maçonaria.

O envolvimento de Frederico II, Rei da Prússia, foi reforçado na “História”


que foi dedicado no ritual original do Grau 33:

O Mui Poderoso Grande Soberano - Grande Mestre Comandante em


Chefe - Soberano dos Soberanos do grau de Príncipe do Segredo Real,
era nosso Ilustre irmão Frederico, o 2º Rei da Prússia. Ele estabeleceu

81
Para cópias desses documentos, consulte Albert Pike, Ancient and Accepted Scottish Rite of
Freemasonry. The Constitutions and Regulations of 1762. Statutes and Regulations of Perfection, and
Other Degrees. Vera Instituta Secreta et Funtamenta Ordinis of 1786. The Secret Constitutions of the 33d
Degree (New York: Masonic Publishing Co., AM 5632 [1872]; Nova edição impressa por J.J. Little, & c.,
5664 [1904]; reimpresso ed. Np., Nd)
82
Um facsimile fotográfico completo aparece na [obra de] James D. Carter, ed., R. Baker Harris, History of
the Supreme Council, 33 ° (Mother Conulcil of the World) Ancient and Accepted Scottish Rite of
Freemasonry Southern Jurisdition, U.S.A. 1801-1861 (Washington, DC: The Supreme Council, 33 °), pp.
337-46.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

este grau, em conjunto com nosso irmão, Sua Alteza Sereníssima, Louis
de Bourbon, Príncipe do Sangue Real da França e outros ilustres
personagens, que recebeu os graus de K.H. e príncipe do Real
Segredo…. Este novo grau ele chamou de “Soberanos Grandes
Inspetores Gerais, ou Supremo Conselho do Grau 33” 83

Coronel John Mitchell, outrora Vice- Rev. Frederick Dalcho foi o primeiro
Quarter-Master General do Exército Grande Tenente Comandante da Supremo
Revolucionário, foi o primeiro Grande Conselho. Seu Trigésimo Terceiro Grau é a
Comandante do Supremo Conselho. – Patente mais antiga conhecida. — Coleção
Coleção do Supremo Conselho, 33 °, SJ do Conselho Supremo, 33 °, SJ

Como as Constituições e Regulamentos de Morin de 1762, muitos


historiadores maçônicos modernos, enxergam as Grandes Constituições de
1786 como [uma] “tradição” ao invés de documentos históricos. Após uma
investigação detalhada sobre suas possíveis origens, Albert Pike aceitou a tradição
sobre o envolvimento do rei e seu papel de renome na a criação do Conselho
Supremo, embora não existam evidências diretas que ele tenha feito isso. Pike
argumentou corretamente, no entanto, qualquer que seja a origem, a adoção formal
de qualquer lei constitui uma base legal para o governo. A opinião moderna
concorda com esta última e afirma que, no mínimo, as histórias a respeito das
origens das Constituições de 1762 e 1786 são semelhantes às lendas preservadas

83
“33 rd Grau Chamado, Soberano Grande Inspetores Gerais, ou Conselho Supremo da 33: rd ” [folhas
20r, 22r]. Manuscrito não publicado com a caligrafia de Frederick Dalcho, por volta de 1801–02, com
emendas feitas aproximadamente em 1804. Cópia nos Arquivos do Conselho Supremo, 33 °, SJ,
Washington, DC
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

nas Old Charges, proporcionando um ambiente ancestral para os graus, assim


como o relato bíblico do Templo do Rei Salomão constrói o cenário simbólico para
as origens da Maçonaria.

Frederico, o Grande (iniciado em 1738), As primeiras cópias conhecidas da


“Protetor dos Maçons na Grande Loja Mãe “Constituição, Estatutos, Regulamentos” ou
Nacional dos Três Globos”, era a autoridade Grandes Constituições de 1786, são da
de renome por trás das Grandes caligrafia do Rev. Frederick Dalcho (ca.
Constituições de 1786. — Foto, Wikipedia 1801–02). - Coleção do Supremo Conselho
Commons do 33°, Jurisdição Sul

Escopo e autoridade do primeiro Supremo Conselho

O “Supremo Conselho de Charleston”, como às vezes era chamado, foi o


primeiro Supremo Conselho do 33º Grau no mundo. Continua a existir hoje como
Supremo Conselho do Grau 33 da Jurisdição do Sul, e sua sede permanece em
Charleston, embora sua residência tenha sido transferida para Washington, DC,
por volta de 1870, e agora situa-se na Casa do Templo. Como o primeiro Supremo
Conselho, naturalmente exerceu autoridade sobre todo o país, e o coronel Mitchell
foi referido como “Grande Comandante dos Estados U[nidos]. da América”, 84 e

84
Ver a circular em dois hemisférios, Apêndice 1.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

também “Presidente do Supremo Conselho de Maçons dos Estados Unidos”. 85


Como veremos mais adiante, após um pouco mais de uma década, o Supremo
Conselho de Charleston criou um segundo Conselho Supremo nos Estados Unidos.

Em seus primeiros dias, o Supremo Conselho emitiu “Cartas Constitutivas”


para fundar Sublimes Grandes Lojas de Perfeição (que administravam os graus 4
ao 14), e Grandes Conselhos de Príncipes de Jerusalém (administrando os graus
15 e 16), sem se se envolver diretamente em seu governo ou
administração. Contudo, o Supremo Conselho exercia controle direto sobre o Grau
17, Cavaleiro do Oriente e do Ocidente. Isso foi explicado na Circular para toda
extensão dos dois Hemisférios, bem como na cópia manuscrita de Dalcho
das Grandes Constituições de 1786:

[Artigo] 6º
O poder do Supremo Conselho não interfere em nenhum grau abaixo
do 17º ou Cavaleiro do Oriente e do Ocidente. Mas cada Conselho e
Loja de Perfeitos Maçons são obrigados a reconhecê-los na qualidade
de Inspetores Gerais, e recebê-los com as altas honras que lhes
são devidas a que tem direito.

Esta limitação foi repetida no ritual manuscrito original do Grau 33:

O Rei em primeiro de maio de 5786, formou e estabeleceu o


33:rd Degree para dar algumas elucidações do K.H. –
O Rei também estava consciente, que venturosamente [sic] ao curso
comum dos acontecimentos da natureza humana , ele não poderia viver
muitos anos; e ele concebeu e executou o glorioso desígnio de investir
no Soberano e Maçônico poder que ele ocupou, como Soberano Grande
Comandante da ordem do Príncipe do Real Segredo - em um Conselho
de Grandes Inspetores Gerais - para que eles pudessem, após seu
falecimento, regular, satisfatoriamente [sic] à Constituição e aos
Estatutos que ele então idealizou, o governo do Ofício, em todos os
graus, a partir do 17º grau ou Cavaleiros do Oriente e Ocidente,
inclusive, deixando o controle sobre a Loja simbólica - a Grande,
Inefável e Sublime Loja dos Perfeitos Maçons, e a dos Cavaleiros do
Oriente ou da Espada – para o Grande Conselho dos Príncipes de

85
Frederick Dalcho, An Oration Delivered in the Sublime Grand Lodge, in Charleston, South-Carolina, on
the 23d of September, 5801 [Uma Oração entregue na Sublime Grande Loja, em Charleston, Carolina do
Sul, em 23 de setembro de 5801] (Charleston, SC: TB Bowen, [1801]), p. [ii]; reimpresso em orações do
Ilustre Irmão Frederick Dalcho Esqr. M.D. (Dublin: John King Westmoreland, 1808)
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Jerusalém, a quem ele concebeu ter o justo direito a essa Honra e


poder. 86

De acordo com a Circular para toda extensão dos dois Hemisférios, na época
da criação do primeiro Supremo Conselho, os graus 30, 31 e 32 coletivamente
constituíram o Grau de “Príncipe do Real Segredo, Príncipe dos Maçons”. Isso
significa que apenas quinze dos graus estavam sob controle direto do Supremo
Conselho. A direção do sistema completo, do 4° Mestre Secreto, ao 32 ° Real
Segredo inclusive, só foi avocado depois do renascimento da Maçonaria americana
na década de 1840, após o “Morgan Affair”. 87 Embora não tenha sido exercido
anteriormente, a autoridade para governar, a universalidade do sistema residia com
os oficiais do Supremo Conselho, que eram a “Soberania da Maçonaria” e
“possuíam o poder Maçônico Soberano sobre todo o Ofício”.

Os altos graus eram frequentemente chamados de Graus Inefáveis e Sublimes


(ou Superiores). Nos primeiros dias do Rito Escocês, os altos graus eram
conferidos apenas aos Past Masters ou Past Masters Virtuais, das Blue Lodges
[Lojas Azuis ou Lojas Simbólicas]. O Ritual de Frederick Dalcho do 4° Grau,
Mestre Secreto (datado de 1801), observou: “O Past Master Azul ou Candidato,
deve ser examinado na Antecâmara (pelo Mestre de Cerimônias) nos seus três
primeiros graus, e nos segredos da Cátedra [da Cadeira ou da Presidência]”; e
a Circular para toda extensão dos dois Hemisférios explicou que os Sublimes
Maçons “comunicam o segredos da Presidência para os candidatos que ainda não
os tenham recebido, à sua iniciação na Sublime Loja, mas ao mesmo tempo são
informados que isso não os confere como Past Masters na Grande Loja”. Uma
exigência semelhante existe no American York Rite, onde os candidatos se tornam
Past Masters virtuais antes de receber o grau de Maçom do Arco Real.

Em 1804 Alexandre-Auguste de Grasse-Tilly, membro do Supremo


Conselho em Charleston, organizou um Supremo Conselho para a França. Em um

86
“33º Degree Clalled, Sovereing Grand Inspectors General, or Supreme Council of the 33:rd”, [O Grau 33
Chamado, Soberano Grande Inspetor Geral ou Supremo Conselho do Grau 33] [folhas 21v-22r]. Manuscrito
não publicado com a caligrafia de Frederick Dalcho, por volta de 1801–02, com emendas feitas
aproximadamente em 1804. Cópia nos Arquivos do Supremo Conselho Supremo, 33 °, SJ, Washington, DC
87
Em 1826, William Morgan, de Nova York, desapareceu após se gabar de sua intenção de expor os ritos
de iniciação Maçônica. Alegando ter sido “assassinado pelos maçons”, a sociedade americana se tornou
antimaçônica, um sentimento que durou até cerca de 1842. Durante o “caso Morgan”, a maioria das
organizações maçônicas cessou o funcionamento, embora os oficiais do Supremo Conselho continuassem
a se reunir em particular e ocasionalmente conferissem os Graus do Rito Escocês. Quando a Maçonaria
americana começou a ressurgir, o Supremo Conselho reformulou as bases da Maçonaria dos altos graus
e exerceu um controle mais direto sobre todo o sistema, do 4° ao 32°. Para um relato moderno e claro do
caso Morgan, consulte a obra de Stephen Dafoe, Morgan: The Scandal that Shook Freemasonry (New
Orleans: Cornerstone Book Pub., 2009).
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

acordo feito naquele ano entre este Supremo Conselho recém-criado e o Grande
Oriente da França (que funcionava como uma Grande Loja), o título de “Rito
Escocês Antigo e Aceito” (Rite Ecossais Ancient et Accepté) foi usado pela
primeira vez. No início da administração do Grande Comandante Albert Pike em
1859, o nome entrou em uso geral na Jurisdição do Sul.

A Jurisdição Maçônica do Norte –


Ratificado em 21 de maio de 1815; Unificado em 15 de maio de 1867

A cópia de Dalcho das Constituições de 1786 permitia que “um Conselho


deste Grau, em cada nação ou reino na Europa – [e] dois nos Estados Unidos da
América tão distantes um do outro quanto possível”. 88 Como resultado, o Supremo
Conselho em Charleston, criou vários Supremos Conselhos em todo o mundo,
incluindo um segundo Supremo Conselho dos Estados Unidos, que foi
estabelecido entre 1813 e 1815, e mais tarde reorganizado em 1867.

Em 1 de maio de 1813, Emanuel De La Motta, Grau 33, e Tesoureiro Geral


do Supremo Conselho em Charleston, iniciou J.J.J. Gourgas e Sampson Simson
no Grau 33. 89 Então, em 5 de agosto, De La Motta, atuando como Grande
Comandante em uma “sessão especial”, iniciou outros quatro e “O Supremo
Conselho do Trigésimo Terceiro grau para o Distrito Maçônico da Jurisdição
Norte” era organizado, com o Governador de Nova York (e posteriormente vice-
presidente) Daniel D. Tompkins como Grande Comandante. Em 21 de maio de
1814, este Supremo Conselho reabriu e passou a “nomear, eleger, declarar, instalar
e proclamar, na devida forma, legal e ampla” os oficiais eleitos “assim formando
o segundo Grande e Supremo Conselho...”. Finalmente, a Carta da Jurisdição

88
Alterações na cópia de Dalcho das Constituições de 1786 revelam que ela foi copiada de um esboço ou
projeto anterior. É possível que a versão original (que não existe mais) permitisse apenas um Conselho
Supremo por nação ou reino, como afirma a Circular para toda extensão dos dois Hemisférios: “Na nova
Constituição, este alto Poder foi conferido a um Supremo Conselho de nove irmãos em cada nação, que
possuem todas as prerrogativas maçônicas em seu próprio distrito ... ”
89
J.J.J. Gourgas, e outros de seu Conselho, podem ter recebido irregularmente o 33° já em 1809, e sua
iniciação no 33 ° por Emanuel De La Motta pode ter sido uma tentativa de “restabececê-los”. Em uma
carta datada de 26 de janeiro de 1830, Gourgas admitiu a Holbrook que havia recebido “A história do 33g
[,] Const Secretas e c.” da França para Kingston, Jamaica. As Constituições Secretas era um documento
confidencial entregue apenas às pessoas que receberam o 33°. Cada destinatário deste documento
assinado [com o] juramento de mantê-lo em segredo de quem não tivesse recebido o Grau 33. Isto pode
explicar por que, anos antes, em uma carta de 17 de janeiro de 1814 escrita por Gourgas, ele pergunta a
De La Motta, “Devemos ficar contentes em saber quais são suas ideias no momento, respeitando nosso
Reconhecimento do 33g por seu Supremo Conselho em Charleston, pois é algo que muito desejamos
realizá-lo o mais rápido possível, devido à situação peculiar neste Grand Oriente de Nova York”. A carta
era assinada por Sampson Simson, John G. Tardy, Richard Riker e J.J.J. Gourgas, nenhum deles assinando
como grau 33, mas apenas como Cavaleiros Kadosh, Príncipes do Real Segredo e Inspetores Gerais
Adjuntos, todos títulos da Ordem do Real Segredo.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

Maçônica do Norte (manuscrita por Gougas a 7 de janeiro de 1815) acrescentou:


“Achamos que a Ratificação deve ser datada de 21º dia de Maio de 5815”. 90

A razão para a fundação do Supremo Conselho, do Grau 33, da Jurisdição


Maçônica do Norte [Northen Masonic Jurisdiction] (NMJ), era combater um falso
“Supremo Conselho” criado anteriormente por Joseph Cerneau, um maçom
francês que morou na cidade de Nova York. Antes de imigrar para nos Estados
Unidos, Cerneau recebeu uma patente para a Ordem do Real Segredo, que o
autorizou a conferir o grau mais alto (25°, Príncipe do Real Segredo) a um maçom
por ano, embora isso limitasse sua autoridade à parte norte de Cuba.

No entanto, depois de se mudar para os Estados Unidos, ele criou várias


organizações maçônicas, incluindo um “Supremo Conselho” em 1813, que foi
ousado o suficiente para imitar o nome e o selo do Supremo Conselho em
Charleston. O grupo foi descoberto por De La Motta, que estava em Nova York na
época. De La Motta encontrou-se com Cerneau e pediu uma prova de suas
credenciais maçônicas, que se recusou [a fornecê-las]. Entre os Membros [do
Supremo Conselho de] Cerneau incluíam-se muitos maçons regulares e
proeminentes, que foram enganados e continuaram acreditando em sua
origem. Após uma investigação, as atividades de Cerneau foram declaradas
irregulares e ilegais, e ele foi expulso da Maçonaria pelo Supremo Conselho em
Charleston. 91 O grupo de Cerneau negou a autoridade de Charleston sobre os
Graus do Rito Escocês, e ainda teve a temeridade de negar a existência do Supremo
Conselho em Charleston. Em uma longa e interessante história, os regular Rito
Escocês dos Maçons em Nova York continuou a lutar contra o Cerneauismo, com
deserções ocasionais de ambos os lados, até que os dois corpos se reconciliassem
em 15 de maio, 1867, no que hoje é conhecido como “União de 1867”. Isso
resultou na formação do atual Conselho Supremo, do Grau 33, da NMJ. 92

Em 1827, um acordo territorial foi alcançado entre o Supremo Conselho em


Charleston e o Conselho Supremo, 33 °, NMJ, na reunião trimestral deste último,
e em junho, por unanimidade o acordo foi aceito e confirmado. Quatro meses
depois, em 31 de outubro de 1827, o Supremo Conselho, 33 °, NMJ emitiu um
“Balaustre” (comunicação oficial), nominando os Estados que presidiria. Mais

90
Para os documentos citados, consulte a obra de Charles S. Lobingier, The Supreme Council, 33°, Mother
Council of the World, Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Southern Jurisdiction, U.S.A
(Louisville, Ky: The Standard Printing Co., 1931), pp. 60–68. A carta original, com a nota de ratificação de
Gourgas, encontra-se nos Arquivos do Supremo Conselho, 33 °, SJ
91
Como “Soberanos da Maçonaria”, o Supremo Conselho acreditava ter autoridade para expulsar Cerneau
de “todo e qualquer grau lícito ou Sociedade Maçônica”. Quaisquer que fossem os poderes que
possuíssem, não o expulsaram legalmente da sua Loja Simbólica.
92
Arturo de Hoyos, “The Union of 1867”, Heredom 7 (1995), pp. 7-45.
O rito escocês, ritual, monitor e guia
(Notas, tradução e adequação da linguagem pelo Ir∴ Carlos Alberto González)

tarde, por consentimento do Supremo Conselho de Charleston, Delaware foi


adicionado à lista. O território da Jurisdição Maçônica do Norte foi fixado como
compreendendo os quinze estados ao norte da Linha Mason-Dixon e a leste do rio
Mississippi. 93 A Jurisdição do Sul ocupa os trinta e cinco Estados restantes, o
Distrito da Columbia e os territórios e dependências americanas. Como primeiro
Supremo Conselho, muitas vezes é referenciado como o “Conselho Mãe do
Mundo”. Este é o Corpo ao qual pertencemos.

A divisão entre as Jurisdições Maçônicas do Norte e do Sul. A Jurisdição


Maçônica do Norte compreende quinze estados do Nordeste dos Estados Unidos
Estados, os trinta e cinco restantes pertencem ao Supremo Conselho Mãe.

93
As fronteiras geográficas selecionadas também podem ter refletido diferenças ideológicas entre os
Estados do Norte e do Sul, que se tornaram progressivamente mais definidos até a Guerra Civil.

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