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HW BGXZ C
40586.18.14
MEMEM
In Memory of
de Sotomayor d'Almeida
eVasconcellos
TheGift of
oftheClass of1906
O GENIO DO CHRISTIANISMO
TRADUCÇÃO
DE
VOLUME II
CUS
PORTO
LIVRARIA CHARDRON
De LELLO & IRMÃO, editores
RUA DAS CARMELITAS , 144
-
1911
O GENIO DO CHRISTIANISMO
Livraria Chardron , de Lello & Irmão, editores
Rua das Carmelitas , 144 — PORTO
O GENIO DO CHRISTIANISMO
TRADUCÇÃO
DE
VOLUME II
DECUS
12
PORTO
LIVRARIA CHARDRON
De LELLO & IRMÃO, editores
RUA DAS CARMELITAS; 144
-
1911
40586.18.14
HARVARD COLES F
COUNT OF SANTA EULALIA
COLLECTION
GIFT OF
JOHN & STETSON, Jr.
Ju6.16,1923
BELLAS-ARTES E LITTERATURA
LIVRO PRIMEIRO
BELLAS - ARTES
CAPITULO I
Musica
CAPITULO II
O canto gregoriano
1
10 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO III
CAPITULO IV
Assumptos de quadros
Verdades fundamentaes :
1. Os assumptos antigos ficaram em legado aos
modernos pintores ; de modo que ao cabedal das scenas
mythologicas ajuntam o das scenas christãs .
2. Que o christianismo falla mais que a fabula ao
talento, prova-se no melhor exito que, em geral, os
nossos pintores têm tido no desempenho de assumptos.
sagrados .
3. Os costumes modernos adaptam-se pouco ás ar-
tes d'imitação : porém o culto catholico prestou á pin-
tura costumes tão nobres como os da antiguidade . ¹
3
Pausanias, 2 Plinio, e Plutarco 4 deixaram -nos a
descripção dos quadros da escola grega. Zeuxis tomára
como traça das suas principaes obras Penélope , Helena,
e o Amor; Polygnoto configurára nos muros do templo
de Delphos o saque de Troya, e a descida de Ulysses
aos infernos . Euphranor pintou os doze deuses ; Theseu
dando as leis e as batalhas de Cadmea, de Leuctres e
de Mantinea ; Apelles representou Venus Anadyomena,
sob as feições de Campaspe ; Etion as bodas de Ale-
xandre e Roxana, e Timantho o sacrificio de Ephigenia .
Cotejae estes assumptos com os christãos , e conhe-
cer-lhe-heis a inferioridade . O sacrificio de Abrahão ,
por exemplo, é tão pathetico e mais simples em gosto
que o de Ephigenia, porque não tem soldados, nem
grupo, nem tumulto, nem esse movimento que serve
para distrahir da scena . E ' o viso d'uma montanha ;
é um patriarcha que conta seus annos por seculos , é
um cutélo erguido sobre um filho unico, é o braço de
Deus suspendendo o braço paternal . As historias do
Velho Testamento têm enchido os nossos templos de
quadros identicos ; e sabido é quanto os habitos patriar-
chaes, os costumes do Oriente, a magestosa natureza
dos animaes e solidões da Asia , são favoraveis ao pincel .
O Novo Testamento muda o genio da pintura. Sem
The apoucar a sublimidade, dá-lhe mais ternura. Quem
não ha cem vezes admirado as Natividades, as Virgens,
e o Menino, as Fugidas para o deserto, as Coroações
de espinhos, os Sacramentos , as Missões dos apostolos ,
os Descendimentos da cruz, as Mulheres no santo sepul-
chro ? Bacchanaes , festas de Venus, raptos, metamor-
phoses, pódem tocar o coração como os quadros tirados
da Escriptura ? O christianismo mostra-nos em tudo a
CAPITULO V
Esculptura
CAPITULO VI
Architectura
CAPITULO VII
Versailles
CAPITULO VIII
CHRISTIANISMO
DO
GENIO
O
A ordem gothica, com suas barbarescas proporções,
tem , todavia, uma peculiar belleza . ¹
As florestas fôram os primeiros templos da divin-
dade, e lá hauriram os homens a primeira ideia archi-
tectonica. Conforme os climas, devia de variar essa
arte . Os gregos contornaram a elegante columna co-
rynthia com o seu capitel de folhagem, pelo molde da
palmeira. 2 Os pilares enormes de vetusto estylo egy-
pcio representam o sycomoro, a figueira oriental, a
bananeira, e a maior parte das arvores gigantescas
d'Africa e Asia .
As florestas gaulezas tambem passaram aos templos
de nossos paes, e as nossas carvalheiras mantiveram
assim a sagrada origem d'ellas . Essas abobadas cinze-
ladas em folhagem, esses umbraes que escoram as pa-
redes e rematam rapidamente como troncos partidos ,
a frescura dos tectos, as trevas do santuario, as naves
obscuras, os passadiços secretos, as portadas profundas,
tudo simula os labyrinthos das selvas na igreja gothica,
tudo nos insinua o religioso terror, os mysterios e a
divindade d'esses bosques . As duas alterosas torres ,
erectas á entrada do edificio, sobrelevam os olmos e o
teixo do cemiterio, e recortam-se pittorescas no azul
do céo . Umas vezes o sol nado illumina suas gemeas
frontes ; outras vezes parecem coroadas d'um capitel de
nuvens, ou engrossadas por um cinto de vapores atmos-
phericos . Até as aves parece enganarem- se , e tomal-as
pelas arvores das suas florestas : as gralhas esvoaçam
em redor das suas cupulas, e empoleiram-se nas gale-
PHILOSOPHIA
CAPITULO I
Astronomia e Mathematica
1
pábulo ás suas disputações . O physico póde pesar o
ar no seu tubo, sem receio de offender Juno . Não é dos
elementos do nosso corpo, mas sim das virtudes da
nossa alma, que o soberano Juiz nos pedirá conta um
dia .
Sabemos que se não esquecerão de recordar algumas
bullas da santa Sé, ou alguns decretos da Sorbonna,
condemnando tal ou tal descobrimento philosophico ;
mas quantos decretos, em favor d'esses mesmos desco-
brimentos , não pódem citar-se emanados de Roma ?
Que ha ahi que reparar, senão que os padres são ho-
mens como nós, e uns se têm mostrado mais alumia-
dos que outros, conforme o curso natural dos seculos ?
Para que a nossa primeira asserção tenha uma base,
basta que o christianismo por si mesmo nada haja dito
contra as sciencias .
Advirtamos bem que a Igreja protegeu quasi sempre
as artes, com quanto algumas vezes desalentasse os
estudos abstractos ; n'isto mostrou ella a sua costumada
sapiencia. Atormentem-se embora os homens , jámais
comprehenderão a natureza, porque não foram elles que
disseram ao mar : Virás até aqui: não passarás além; e
aqui se quebrará a soberbia das tuas vagas. 2 Systemas
succederão eternamente a systemas, e a verdade ficará
sempre desconhecida . Que não aprasa um dia á na-
tureza, diz Montaigne, abrir-nos seu seio ? O' Deus !
quantos abusos, quantos erros não achariamos em nossa
pobre sciencia ! 3
Os antigos legisladores, consentaneos n'este ponto ,
como em outros muitos, com os principios da religião
4
christã, impugnavam os philosophos, e honorificavam
á larga os artistas . Essas suppostas perseguições do
christianismo contra as sciencias devem tambem ser
1 De Leg., liv. vn .
2 Examinatio et emendatio mathematicæ hodierna, dial. vi
contra Geometras.
3 Hobb. , Opera omnia. Amsterd ., edit. 1667 .
4 De Lug. scient. , lib . v.
PARTE TERCEIRA LIVRO SEGUNDO 29
CAPITULO II
pre um vacuo no systema, para o acido muriatico, que não tinha po-
itivo em oso. Diz-se que Mr. Berthollet está em ponto de provar que
o azote, considerado até agora uma simples essencia combinada com
o calorico, é uma substancia composta. Ha em chimica um só facto
assignado por Boerhaave, e desenvolvido por Lavoisier , a saber-
que o calorico, ou a substancia que, unida á luz, compõe o fogo, tende
sem cessar a dilatar os corpos, ou a afastar entre si as moleculas
constituintes.
38 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO III
METAPHYSICOS
CAPITULO IV
PUBLICISTAS
CAPITULO V
Moralistas
LA BRUYÈRE
CAPITULO VI
HISTORIA
CAPITULO I
CAPITULO II
CAUSA PRIMEIRA
CAPITULO III
Seguimento do anterior
SEGUNDA CAUSA
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO VI
CAPITULO VII
CAPITULO VIII
ELOQUENCIA
CAPITULO I
1
em cata das sombras da vida; ¹ ignoravam que a ver-
dadeira existencia começa na morte . Só a religião chris-
tă fundou esta grande escola do tumulo, onde se instrue
o apostolo do Evangelho ; não consente, como os semi-
sabios da Grecia, que se prodigalise o pensamento im-
mortal do homem em coisas momentaneas .
Demais, em todos os seculos e paizes, a caudal da
eloquencia foi a religião . Se Demosthenes e Cicero fô-
ram insignes oradores, é porque eram, sobretudo, re-
2
ligiosos . Os membros da Convenção , ao revéz, só os-
tentaram talentos mutilados, retalhos de eloquencia,
porque atacavam a fé de seus paes, e se vedavam assim
3
as inspirações do coração. ³
CAPITULO II
Dos oradores
1 Job.
1 Constantemente trazem na boca o nome dos deuses. Vejam a
invocação do primeiro aos manes dos heroes do Marathon, e a apo-
theose do segundo aos deuses despojados por Verres.
2 Nem se diga que os francezes não tiveram tempo de se exer-
citarem na nova liça onde desceram : a eloquencia é um fructo das
revoluções ; cresce n'ellas espontanea e descultivada ; o selvagem e o
negro fallaram algumas vezes como Demosthenes. Álém d'isso, não
lhes escasseavam os modelos , pois que traziam entre mãos as obras
primas do antigo forum, e as d'esse forum sagrado, onde o orador
christão explica a eterna lei. Quando M. de Monthosier exclamava, a
respeito do clero, na assembléa constituinte : «Vos os expulsaes dos
seus palacios, elles irão ter à cabana do pobre que nutriram ; vós que-
reis as suas cruzes d'ouro, elles tomarão uma cruz de pau : foi uma
cruz de pau que salvou o mundo. Este rasgo não foi inspirado pela
demagogia, mas sim pela religião. Vergniaud, emfim, exaltou - se à
grande eloquencia , n'algumas passagens do seu discurso a favor de
Luiz xvi, porque o assumpto o alteou à esphera das ideias religiosas ;
as pyramides, os mortos, o silencio e os túmulos.
78 O GENIO DO CHRISTIANISMO
1 Jeron., Epist.
PARTE TERCEIRA LIVRO QUARTO 81
1 Locum spatha non det. Póde traduzir- se : não vergue sob a es-
pada. Preferi a outra accepção como mais litteral e energica. Spatha,
de origem grega, é a etymologia da nossa palavra espada.
2 Oraç. funeb. da Duq. de Orl.
VOL. II 6
O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO III
Massillon
1 Fleury, Hist. Eccl., tom. iv, liv. xix, cap. 1x, pag. 557.
2 De Mor., liv. XXXIV , cap. XVI .
84 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO IV
CAPITULO V
VOL . II 17
f
LIVRO QUINTO
CAPITULO I
CAPITULO II
Harmonias physicas
A CARTUXA DE PARIS
10 Luxembourg.
PARTE TERCEIRA LIVRO QUINTO 105
CAPITULO III
Ruinas em geral
CAPITULO IV
CAPITULO V
1 Ps ., cap. cl . v. 25.
VOL. II 8
114 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO VI
Harmonias moraes
DEVOÇÕES POPULARES
O REGRESSO DO PEREGRINO
PARTE TERCEIRA LIVRO QUINTO
CULTO
LIVRO PRIMEIRO
CAPITULO I
Dos sinos
CAPITULO II
CAPITULO III
Canticos e orações
1
Ao pôr do sol, entòa a Igreja : ¹
CAPITULO IV
DO DOMINGO
1 Vêde Buffon.
2 Os lavradores diziam : 66 Os nossos bois conhecem o domingo,
e não querem trabalhar n'este dia. "
3 Sap., cap . 1 , v. 16.
138 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO V
Explicação da Missa
CAPITULO VI
1
Falta só justificar os ritos do sacrificio . Supponha-
mos que a missa é uma antiga ceremonia, cujas orações
e descripção se encontram nos jogos seculares de Ho-
racio , ou em algumas tragedias gregas : como nos faria
admirar este dialogo que principia o sacrificio christão !
y. Chegarei ao altar de Deus.
R. De Deus, que alegra a minha mocidade .
. Fazei fulgurar vossa luz e vossa verdade, ellas
me guiarão aos vossos tabernaculos e ao vosso santo
monte.
R. Chegarei ao altar de Deus, de Deus que alegra
a minha mocidade.
y. Cantarei vossos louvores na harpa, ó Senhor !
Mas porque está triste a minha alma, e porque me
conturbas ?
R. Espera em Deus, etc.
Este dialogo é um verdadeiro poema lyrico entre o
padre e o catechumeno ; o primeiro , cheio de dias e
experiencia, geme sobre a miseria do homem, pelo
qual vae offerecer o sacrificio ; o segundo, cheio de mo-
CAPITULO VII
1 Bibl. Sacr.
VOL. II 10
146 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO VIII
Das Ladainhas
CAPITULO IX
CAPITULO X
Funeraes
CAPITULO XI
CAPITULO XII
1 lbid. , vu liç.
158 O GENIO DO CHRISTIANISMO
TUMULOS
CAPITULO I
Tumulos antigos
EGYPTO
CAPITULO II
Gregos e Romanos
CAPITULO III
Tumulos modernos
CHINA E TURQUIA
CAPITULO IV
CAPITULO V
Otaiti
CAPITULO VI
Tumulos christãos
CAPITULO VII
Cemiterios ruraes
CAPITULO VIII
CAPITULO IX
S. Diniz
CAPITULO I
CAPITULO II
Clero secular
JERARCHIA
1
os pobres coraçãò paternal . ¹ Comtudo, era de seu dever
ser moderado nas dadivas , e não alimentar profissão
perigosa ou vã, como a de farçantes e caçadores : 2 ver-
dadeira lei politica, que por um lado acatava o vicio
principal dos romanos , e pelo outro a paixão dos bar-
baros .
Se o bispo tivesse parentes necessitados , era-lhe li-
cito antepôl- os aos estranhos, mas enriquecel- os não :
«Pòrque, diz o canon, é o estado de indigencia d'elles,
e não os laços de sangue, que o bispo deve ter em
vista em similhante caso » . 3
E' de espantar que os bispos, com tantas virtudes,
acareassem o acatamento dos povos ? Curvavam a ca-
beça á sua benção ; cantavam diante d'elles o Hosannah ;
denominavam- os santissimos , carissimos a Deus, e taes
titulos eram tão magnificos, quanto justamente adqui-
ridos.
Civilisadas as nações, os bispos, menos apertados
em seus deveres religiosos, saborearam-se dos bens
que haviam feito aos homens, e curaram de augmen-
tal-os, devotando- se com maior affinco á manutenção
da moral, ás obras caridosas , e ao progresso das let-
tras . Os seus palacios constituiram-se o centro da po-
lidez e das artes . Chamados pelos soberanos ao publico
ministerio, e revestidos das precipuas dignidades eccle-
siasticas, luziram ahi em talentos que maravilharam a
Europa. Até nos derradeiros tempos, os bispos de
França hão sido modelos de moderação e saber. Poder-
se-iam citar algumas excepções , de certo ; mas , em
quanto os homens fôrem sensiveis á virtude, lembrar-
se-hão que mais de sessenta bispos catholicos erraram
foragidos entre os protestantes, e que a despeito dos
prejuizos religiosos, e das prevenções inherentes ao
infortunio, attrahiram a veneração e respeito d'esses
povos ; lembrar- se-hão que o discipulo de Luthero e
CAPITULO III
Clero regular
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO VI
Seguimento do precedente
MISSÕES
CAPITULO I
AS MISSÕES
1
PARTE QUARTA LIVRO QUARTO 213
DIPLOMA REGIO
CAPITULO II
Missões do Levante
CAPITULO III
Missões da China
CAPITULO IV
Missões do Paraguay
CAPITULO V
CAPITULO VI
Missões da Cuiana
CAPITULO VII
CAPITULO VIII
CAPITULO IX
CAPITULO I
Cavalleiros de Malta
1 Fleury, Hist. eccles., tom. xv, lib. LXXII , pag. 466, ediç. 1719.
PARTE QUARTA ·---- - LIVRO QUINTO 257
1 Hist. eccles.
VOL . II 17
258 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO II
Ordem Teutonica
CAPITULO III
CAPITULO IV
1 Sainte-Palaye.
2 Hist. do Marechal de Boucicault.
PARTE QUARTA LIVRO QUINTO 267
1 Sainte-Palaye. ·
268 O GENIO DO CHRISTIANISMO
1 Du Gange, Gloss.
2 Joinville, ediç . de Capperonnier, pag. 84.
PARTE QUARTA LIVRO QUINTO 269
1 Froissart.
272 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO I
CAPITULO II
Hospitaes
CAPITULO III
AS IRMÃS DA CARIDADE
PARTE QUARTA · LIVRO SEXTO 287
CAPITULO IV
RASGOS DE BENEFICENCIA
CAPITULO V
Educação
CAPITULO VI
CAPITULO VII
Agricultura
CAPITULO VIII
CAPITULO IX
CAPITULO X
1 Euseb., de Vit. Const., lib. 1v, cap. xxvп ; Sozom, cap. 1X, Cod
Justin., lib. 1 , t. Iv, leg. 7.
2 Vêde Voltaire, no Ensaio sobre os costumes.
PARTE QUARTA LIVRO SEXTO 311
1 Segundo o direito
mas não por causa de idolatria» .
romano, os infames não podiam ser juizes . Santo Am-
brosio e S. Gregorio levam ainda mais longe esta bella
lei, porque não querem que aquelles que commetteram
grandes faltas sejam juizes, para que não succeda con-
demnarem-se a si proprios , condemnando os outros. 2
Em materia criminal, o prelado abstinha- se, porque
a religião tem horror ao sangue. Santo Agostinho
obteve pelas suas supplicas a vida dos Circumcellions ,
convencidos d'assassinos de padres catholicos . O con-
cilio de Sardica impôz como lei aos bispos a sua me-
diação nas sentenças d'exilio e degredo . 3 D'este modo,
o desgraçado devia a esta caridade christã, não só a
vida, mas, o que é mais precioso ainda, a felicidade de
respirar o ar natal .
Estas disposições da nossa jurisprudencia criminal
são tiradas do direito canonico : « 1. ° Não se deve con-
demnar um ausente que póde ter meios legitimos de
defeza . 2.º O accusador e o juiz não podem servir de
testimunhas . 3.º Os grandes criminosos não podem
ser accusadores . 4 4. ° Não basta para condemnar um
accusado o simples depoimento d'uma pessoa, qualquer
que seja a dignidade a que esteja elevada» . 5
Póde vêr - se em Hericourt a porção de leis que con-
firmam o que acabamos de dizer ; isto é : que devemos
as melhores disposições do nosso codigo civil e crimi-
nal ao direito canonico . Este direito é em geral mais
dôce do que as nossas leis ; e nós recusamos em muitos
pontos a sua indulgencia christã . Por exemplo : o se-
timo concilio de Carthago determina que, quando ha
muitos pontos d'accusação , se o accusador não póde
provar o primeiro, não seja admittido á prova dos ou-
tros : os nossos costumes alteraram isto .
1 In cap. Isaic , 3.
2 Hericourt, Lois eccl., quest . vill .
3 Conc. Sard., can. xvII.
4 Este admiravel canon não era seguido nas nossas leis.
5 Her., loc. cit. et seq.
314 O GENIO DO CHRISTIANISMO
CAPITULO XI
Politica e governação
A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
CAPITULO XII
Recapitulação geral
CONJECTURAS- -CONCLUSÃO
NOTA 1.ª
NOTA 6.ª
NOTA 8.a
DO
GENIO DO CHRISTIANISMO
1
DEFEZA
DO
GENIO DO CHRISTIANISMO
PELO AUCTOR¹
MOTIVO DA OBRA
1 Cartas provinciaes, xì .
2 Pensamentos de Pascal, cap. xxvIII .
3 N'um pequeno tratado sob o titulo de Reflexões sobre a Elo-
quencia dos prégadores.
4 Histoire de la Vie de Fénelon,
372 DEFEZA DO GENIO DO CHRISTIANISMO
PLANO DA OBRA
MIUDEZAS DA OBRA
1 riem-se das
que isso são imagens do Apocalypse;
torres gothicas toucadas de nuvens , e não vêem que o
auctor traduziu litteralmente um verso de Shakespea-
re; julgam que os ursos embriagados d'uvas são uma
circumstancia inventada pelo auctor , e o auctor, n'este
ponto, não foi mais que um historiador fiel ; o esquimó ,
que se embarca sobre um monte de neve , parece-lhes
uma imagem atrevida, e é um facto relatado por Char-
3
levoix ; o crocodilo que põe um ovo é uma expressão
d'Herodoto ; astucias da sabedoria é da Biblia ; 5 etc.
Pretende um critico que o epitheto dado por Homero
a Nestor se deve traduzir por Nestor de doce lingua-
gem; mas a phrase grega jámais póde entender- se d'esse
modo . Rollin traduziu quasi como o auctor do Genio
do Christianismo « Nestor, essa boca eloquente» , 4 se-
gundo o texto grego, e não segundo a lição do com-
mentador latino, suaviloquus, que o critico visivelmente
seguiu .
Por fim, o auctor já disse que não pretendia defen-
der talentos que, sem duvida, não possue ; mas é-lhe
forçoso observar que tantos pequenos reparos sobre
uma longa obra, só servem para desgostar o auctor,
sem o esclarecer : é a mesma reflexão que o proprio
Montesquieu fez, n'esta passagem da sua Defeza:
«Aquelles que sempre querem ensinar, impedem
muitas vezes d'aprender : não ha genio que se não aca-
FIM DA DEFEZA
Pag. 372 — «S. Gregorio quiz dar, aos que amam a poesia
e a musica, uteis assumptos para se divertirem , sem dei-
xarem aos pagãos a vantagem de julgar que eram os unicos
que podiam brilhar nas_bellas -lettras » . (Fleury, Hist. eccl. ,
tom. Iv, liv. xix , pag . 557) .
A philosophia escandalisou-se do modo philosophico ,
moral e até poetico, porque o auctor fallou dos mysterios ,
sem attender a que muitos padres da Igreja tambem assim
fallaram , e a que o auctor não fez mais que repetir os
raciocinios d'estes grandes homens. Origenes, escrevera nove
livros, de Stromatas , onde confirma, diz S. Jeronymo, todos
os dogmas da nossa religião com a auctoridade de Platão,
Aristoteles, Numesius e Cornutus. (Epist. ad Magn) . S. Gre-
gorio de Nysse mistura a philosophia com a theologia, e
serve-se das razões dos philosophos na explicação dos mys-
terios; segue Platão e Aristoteles pelos principios, e Origenes
pela allegoria. Que não teriam, portanto, dito os criticos,
se o auctor fizera, como S. Gregorio Nazianzeno , algumas
estancias sobre a graça, o livre arbitrio, a invocação dos
santos, a Trindade, o Espirito Santo, a presença real, etc. ?
O poema 70.º composto em versos hexametros, e intitulado
Os segredos de S. Gregorio, contém, em cito capitulos, tudo
o que a theologia tem de mais sublime e importante. S. Gre-
gorio cantou até a primazia da Igreja de Roma :
Fides vetustæ recta erat jam antiquitus
Et recta perstat nunc item , nexu pio,
Quodcumque labens sol videt, devinciens :
Ut universi præsidem mundi ducet,
Totam colit quæ Numinis concordiam .
FIM DA NOTA
INDICE DO SEGUNDO VOLUME
799
musica
II. - - O canto Gregoriano
III. - Parte historica da pintura dos modernos 11
IV . - Assumpto de quadros. 14
V. - Esculptura . 16
VI. -- Architectura Quartel dos Invalidos • 17
VII. ---- Versailles 19
VIII. Das igrejas gothicas • 20
PAG.
CAP. III. - Seguimento do anterior :
Segunda causa - Os antigos exhauriram
todos os generos de Historia, excepto o
genero Christão . 60
IV . -- Porque teem os francezes memorias sómente ? 63
V. - O bom da historia moderna . 66
VI. - Voltaire, como historiador 68
VII. ―― Philippe de Commines e Rolin . 70
VIII. - Bossuet, como historiador • 71
2785
CAP. I. Influxo do christianismo na eloquencia • 75
II. Dos oradores - - Dos padres da Igreja 77
III. - Massillon. · 83
IV. -- Bossuet, como orador. 87
V. www - Que a incredulidade é a causa principal da
decadencia do gosto e do engenho . 91
PAG.
CAP. IV . Das constituições monasticas 194
V. -- Quadro dos costumes e da vida religiosa -
Monges cophtas, maronitas, etc. 197
VI. - Seguimento do precedente - Trappistas,
cartuxos, irmãs de Santa Clara, padres
redemptoristas, missionarios, irmãs da ca-
ridade . · 202
PAG.
CAP. V. Educação Escolas, collegios, universida-
des; benedictinos e jesuitas . 290
VI. -- Papas e côrte de Roma, descobrimentos mo-
dernos, etc. 295
VII. - Agricultura . • 301
VIII. - Cidades e villas, pontes, estradas reaes , etc, 304
IX . - - Artes e mesteres ; commercio · 307
X. - - Das leis civis e criminaes 310
XI. - Politica e governação. 314
XII. Recapitulação geral · 320
XIII e ultimo Qual seria hoje o estado da socieda-
de se não tivesse apparecido o christianis-
mo ? - Conjecturas — Conclusão 325
ANNOTAÇÕES . 343
DEFEZA DO GENIO DO CHRISTIANISMO PELO AUCTOR. 357
Motivo da obra . 358
Plano da obra 376
Miudezas da obra · 379
Nota • • 383