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⋆☽♕☾⋆ status: única

⋆☽♕☾⋆ tempo: 29/01/22

⋆☽♕☾⋆ local: paradísia, cólquida

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ㅤㅤ◜a Velha, a Ceifadora... Ela é a Lua Negra, o que você não vê vindo em sua direção, o que
você não consegue escapar, o vento que chicoteia a faísca através da linha de fogo. Acaso,
você poderia dizer, ou, o que é ainda mais assustador: a interseção do acaso com escolhas e
ações feitas antes. O mato que está seco por décadas de seca, o aquecimento do clima da
Terra que manda as tempestades para o norte, o buraco na camada de ozônio. Não punição,
nem mesmo justiça, mas consequência.◞

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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ— starhawk.

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ㅤㅤ O corpo morto tem olhos frios quando o sangue escarlate se torna uma seiva esverdeada
e viscosa. O veneno é mortal, arrancando a alma através das perfurações em seu colo vazio.
São raízes cruéis que se arrastam pela escuridão da noite onde nem mesmo a lua ousa
aparecer, o terror dos gritos e o medo do fim faz com que seus músculos se travem diante da
caminhada. O suor adorna seu rosto, pingando pelo queixo de encontro as videiras que agora
são suas inimigas, os nós dos dedos se apertam firmes, deixando a pele amarelada pela falta
de sangue tamanha é a força entorno do cabo da espada. O rosnado feroz, há algo na
escuridão. Um par de olhos brilhosos e desligados, há apenas a menção de uma consciência e
ela busca matar tudo que se coloca em seu caminho. O fim tem nome.

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ㅤㅤ Uma lança corta o caminho, abrindo uma ranhura na bochecha da jovem. De onde veio?
Quem foi? Seja lá, era melhor um arranhão no rosto do que ser estripada pelo monstro
daquele quarto.

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ㅤㅤ— Saiam daqui imediatamente!

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ㅤㅤ A voz salvadora não precisou falar duas vezes para que a obedecessem de imediato.
Pendurado na parede, se debatendo e rosnando, a besta rasgava o ar com suas garras afiadas.
Sorte que quem a empalou era boa o suficiente no manejo da arma.

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ㅤㅤ— Acorda! – disse a voz. — Pela Deusa, acorda!

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ㅤㅤ Um suspiro fundo e foi tirada de seu pesadelo, arremessando com um tapa sua salvadora
contra a parede. Um grunhido de dor, mas ainda de pé; precisaria mais do aquilo para lhe
desacordar.

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ㅤㅤ— Será que você pode dar um jeito nisso? – apontou para a coisa pendurada na parede.

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ㅤㅤ Ainda estava um pouco sonolenta, seu coração batia acelerado e nada melhorou ao ver
os corpos caídos no chão. Cobriu a boca com as costas das mãos, sentindo as lágrimas virem à
tona e a falta de ar descompassar sua respiração. Não era um pesadelo afinal. Se levantou
cambaleante, indo trôpega em direção a forma que com sua aproximação trocava o rosnado
ameaçador para um ganido dolorido, quase um choro magoado.

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ㅤㅤ— Shhh... a mamãe só teve um pesadelo. – tocou seu rosto, acariciando a derme
enrugada do acreditado monstro assassino. Puxou a lança que estava cravada em seu peito, o
corpo despencou, caindo nos braços de sua genitora. — Me perdoe por isso, me perdoe, okay?

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ㅤㅤ Apenas o que deveria ser um sorriso, roçando o rosto contra o braço da mãe. A carícia
deslizava por sua testa, acalmando aquela fera que causou o ferimento de tantos. Um beijo e
aos poucos o ferimento foi cicatrizando, a mesma seiva usada para matar agora agia como sua
cura.

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ㅤㅤ— Elas ainda estão vivas, eu posso sentir. Levam-nas para a ala médica, precisam de
socorro imediato.

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ㅤㅤ Com um sinalizar de cabeça da outra, guardas entraram e resgataram as mulheres que


jaziam quase moribundas no chão. Não obstante, a dama de cabelos carmesim não parou por
ali, se aproximando um pouco mais com passos firmes.

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ㅤㅤ— Você precisa dar um jeito nisso, Ann. Está colocando a vida de todos nós em perigo. –
breve pausa, embora Eadlyn fosse solidária com o que ela passava, precisava adverti-la. — Há
um limite até onde 𝒗𝒐𝒄𝒆̂ pode se dar ao luxo de ter medos. E você cruzou a linha vermelha.

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ㅤㅤ— Eu sei.

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ㅤㅤ A dor no peito, barriga, perna e costas ainda era dilacerante, os cortes conquistados
durante o resgate da sacerdotisa de Psiquê não haviam degrado apenas sua alma mas também
sua mente. Quanto mais se empenhava em fechar os cortes causados por aquela espada
maldita, mais eles tornavam a se abrirem; era psicológico. Quase oito dias assim, atormentada
por seus demônios que se esforçou para socar no mais fundo da mente.

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ㅤㅤ— Minha mente está instável desde a última missão. – falou por fim. — Preciso da sua
ajuda enquanto me preparo para o que está por vir e busco ajuda d'Ela.

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ㅤㅤ— Andrômaca, não estarei aqui sempre que precisar de uma muleta para se escorar. -
Cora respondeu mais rápido do que ela imaginava. — Sua fraqueza são os seus medos.
Quando eles apenas limitavam seu potencial, era repugnante observar ainda assim não tão
perigoso. Todavia isso se tornou também a sua arrogância e agora arrisca a vida dos que estão
ao seu redor. Se continuar nesse ritmo - levou a xícara aos lábios. — logo darão um jeito de
julgarem incapaz de governar. - a encarou por cima da borda. — Lembre-se que tem planos,
então evite que isso aconteça. A criança pode até ser poderosa, só que sua mente não dará
conta caso isso aconteça agora, ela ruirá.

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ㅤㅤ— Estou dando um jeito nisso, vovó. - falou baixinho, com a voz embargada.

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ㅤㅤ— É claro que está. Sempre está...

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