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Phenolic compounds
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PALMAS
2014
COMPOSTOS BIOATIVOS VEGETAIS
Organizadores:
3. ALCALOIDES ......................................................................................................... 46
4. ANTRAQUINONAS ............................................................................................... 59
CAPÍTULO 1
Os óleos essenciais podem ser sintetizados por todas as partes do organismo vegetal (botões,
flores, folhas, caules, galhos, sementes, frutos, raízes, madeira ou casca) e são armazenados em
células secretoras, cavidades, canais e células epidérmicas ou tricomas glandulares.
O tricoma consiste em uma única célula vesiculosa na base e, gradualmente, afilada em
direção ao ápice, cuja região intermediária entre a base e o ápice lembra um tubo capilar fino.
Três tipos de tricomas foram descritos: os tricomas tectores, os tricomas glandulares
capitados e os tricomas glandulares peltados. Os tricomas glandulares capitados têm capacidade de
armazenamento limitada e contém predominantemente carboidratos, lipídeos e proteínas. Já os
tricomas glandulares peltados se diferenciam pelo número superior de células apicais onde são
sintetizados e armazenados os componentes voláteis do óleo essencial. Os tricomas tectores não
possuem capacidade secretora.
Os tricomas presentes em espécies pertencentes à Euphorbiaceae, Hydrophyllaceae,
Loasaceae e Urticaceae, produzem uma secreção que pode causar, desde uma reação alérgica suave,
até a morte, dependendo da espécie com a qual o animal manteve contato. Nessas circunstâncias,
esses tricomas representam elementos de defesa do vegetal.
Os osmóforos, ou glândulas de odor, produzem e liberam compostos voláteis, terpenos e
compostos fenólicos de baixo peso molecular.
Os idioblastos secretores são células individualizadas, diferentes das células que as cercam,
de formato variável. No vacúolo dos idioblastos pode ocorrer parte da síntese de precursores
(alcalóides indólicos) ou o armazenamento de metabólitos secundários (alcalóides tropânicos e
nicotínicos).
Diversas classes de compostos fenólicos são sintetizadas e/ou armazenadas em um grande
vacúolo central ou em numerosos glóbulos, de vários tamanhos, no citoplasma dos idioblastos.
Os laticíferos são células ou fileira de células, especializadas, que contêm látex. O látex é
composto de pequenas partículas de terpenos (óleos essenciais, resinas) e ceras, em solução
contendo ainda sais, polissacarídeos, ácidos orgânicos, alcaloides e enzimas proteolíticas.
Assim, os organismos vegetais são dotados de inúmeras estruturas secretoras e de
armazenamento, específicas, conforme os metabólitos secundários produzidos e sua necessidade de
estocagem.
OH
OH OH
O PO
OH O
FOTOSÍNTESE
OH OH
OH eritrose 4-fosfato
D-glicose
VIA DAS PENTOSES
FOSFATO
OH
OH
O
PO
OH
OH
glicose 6-fosfato
OHC OH
PO
gliceraldeido 3-fosfato
HO2C OH
CO2H
PO
ácido 3-fosfoglicérico
OH OH
HO2C OP
OH
ÁCIDO CHIQUÍMICO
fosfoenolpiruvato
OH
OH
OP HO2C O CoAS O
OH HO2C
DEOXIXILULOSE 5-P ácido pirúvico ACETIL-CoA OH
ÁCIDO MEVALÔNICO
GLICÓLISE
CICLO DE KREBS
1. Via do Acetato
Por essa via são formados compostos denominados policetídeos (formados pela
condensação de unidades de acido acético, originando cadeias de poli-β-ceto) (Figura 2). Nessa
classe estão os ácidos graxos, poliacetilenos, prostaglandinas, antibióticos macrolídeos e diversos
compostos aromáticos, como antraquinonas e tetraciclinas.
8
CO2H
SCoA SCoA O O
O CH2 C CH2 C SCoA CO2
O
malonil-CoA acetoacetil-CoA
acetil-CoA
n Malonil-CoA
O O O
CH2 C CH2 C CH2 C SCoA n CO2
n
éster poli-beta-ceto
Figura 2. Esquema de formação das cadeias de éster poli-β-ceto (Adaptado de Dewick, 2011).
1.1 Antraquinonas
O
O
reações aldólicas
O O O
SEnz - H2O CO2H
O O O O O O O
enolizações
oxidação
O
O
HO
HO
- CO2
CO2H
OH O OH
OH O OH
endocrocina
emodina
9
É importante ressaltar que muitas outras estruturas de antraquinonas naturais não são
formadas através da via do acetato e, sim, por uma sequência mais elaborada, envolvendo o
chiquimato e uma unidade de isopreno. Outros compostos como alguns flavonoides e alcaloides são
formados por via mista, ou seja, possuem intermediários de reação provenientes da via do acetato e
da via do chiquimato (Ver no tópico Via do Chiquimato).
2.1 Terpenoides
Os terpenoides ocorrem de forma mais abundante nas espécies produtoras de óleo essencial,
onde são encontrados os monoterpenos, formados por duas moléculas de isopreno (cerca de 90%
dos óleos essenciais) e os sesquiterpenos, formados por três moléculas de isopreno.
Esses compostos constituem uma grande variedade de substâncias vegetais. O termo
terpenoide é empregado para designar todas as substâncias, cuja origem biossintética é o isopreno
(2-metil-1,3-butadieno), em que as moléculas bioquimicamente ativas desse composto são definidas
como ésteres difosfato (ou pirofosfato), o dimetilalil difosfato (DMAPP) e o isopentenil difosfato
(IPP). Posteriormente, as estruturas básicas dos terpenos podem ser modificadas por reduções,
oxidações e ciclizações para a biossíntese dos mais diversos terpenoides.
Os terpenoides são sintetizados via mevalonato, no citoplasma. O mevalonato é formado por
condensação de uma unidade da acetoacetil-Coenzima A (acetoacetil-CoA) com a acetil-CoA,
seguida de uma hidrólise, formando o 3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA (HMG-CoA). Em seguida, o
HMG-CoA é reduzido por um processo que depende de NADPH e é catalisado pela HMG-CoA-
redutase a mevalonato que, por sua vez, mediante reações de fosforilação e descarboxilação, é
convertido em isopentenil-pirofosfato e seu isômero dimetilalilpirofosfato (Figura 4).
10
O O
SCoA
acetoacetil-CoA OH O HMG-CoA
OH OH
HO2C redutase
HO2C
SCoA SCoA
O NADPH
HMG-CoA
ácido meváldico
SCoA hemitioacetal
acetil-CoA
O OH OH
2 ATP OH
HO2C
OH HO2C
HO OPP O
NADPH
ácido mevalônico
ácido meváldico
OPP OPP
isopentenil difosfato dimetilalil difosfato
(IPP) (DMAPP)
A produção do IPP pode também ocorrer no cloroplasto (plastídios), pela via 1-deoxi-D-
xilulose fosfato, conhecida como via DXPS. Essa via inicia-se com a condensação de uma molécula
de piruvato e outra D-gliceraldeído-3-fosfato, formando a 1-deoxi-D-xilulose-5-fosfato; após
sucessivas reações, a molécula de IPP e de DMAPP são formadas (Figura 5).
11
CO2H H3C OH
C
O OH
O
N S OP OP
piruvato
OH O OH
OH
OH
7 reações OP OP
OPP
OH OH O OH
isopentenil difosfato 2-C-metil-D-eritritol 4-P 1-deoxi-D-xilulose 5-P
(IPP)
OPP
dimetilalil difosfato
(IPP)
OPP
E
OPP
OPP
geranil difosfato
linalil difosfato cisneril difosfato
(GPP)
(LPP) (NPP)
Devido à polimerização do trans-geranil difosfato com IPP, são formadas cadeias crescentes
de cinco em cinco átomos de carbono, que darão origem aos sesquiterpenos, a partir da molécula
bioquimicamente ativa da farnesil difosfato (FPP); aos diterpenos, a partir do geranilgeranil
difosfato (GGPP); e aos sesterpenos, a partir do geranilfarnesil difosfato (GFPP), ao passo que os
triterpenos são formados a partir da isomerização de duas moléculas de FPP, os tetraterpenos, pela
isomerização de duas moléculas de GGPP e os esteroides são triterpenos modificados (Figura 7).
Monoterpenos (C10)
OPP OPP E
dimetilalil difosfato OPP OPP
isopentenil difosfato
(DMAPP) (IPP) geranil difosfato
(GPP)
IPP
Sequiterpenos (C15)
Diterpenos (C20)
IPP
OPP
OPP farnesil difosfato
geranilgeranil difosfato (FPP)
(GGPP)
IPP
GGPP
Seterterpenos (C25)
FPP
OPP
geranilfarnesil difosfato
(GFPP)
Triterpenos (C30)
Esqualeno
Tetraterpenos (C40)
Carotenóides (Licopeno)
2.2 Esteroides
Esqualeno
NADPH
O2
H
Ciclizações
Animais HO
fungos H
Lanoesterol
O H
Ciclizações
H
Óxido 2,3-esqualeno Plantas
HO
H
cicloartenol
H H
HO
Colesterol
CO2H
E CO2H H
H
D H OH
C H OH 3
3
GlicO H
A B OH H CHO
CHO
Esqueleto triterpenoide ácido quiláico glicosídeo
pentacíclico aglicona
Figura 10. Formação básica das saponinas triterpênicas (Adaptado de Dewick, 2011).
As saponinas esteriodais possuem seis anéis e apresentam grande semelhança estrutural com
as saponinas triterpênicas, a diferença é que a conformação do epóxi-esqualeno, para a biossíntese
das agliconas esteroidais, é de cadeira-barco-cadeira, e não de cadeira-cadeira-cadeira, como ocorre
15
H OH
H 27
16
H H
H H
3 HO
HO
colesterol
25
25
O
O
H
H
O
H 22
O
H 22 H
H H H
H H 3
HO
GlicO
diosgenina/ yamogenina
glicosídeo
Figura 11. Esquema da biossíntese das saponinas esteroidais (Adaptado de Dewick, 2011).
20 22 O
O2 H
H
NADPH
H H
H H 3
3
HO
HO O2
pregnenolona
colesterol NADPH
OH
O O
H H
H OH H H
HO HO
H progesterona
3 beta, 14 beta, 21- trihidroxi-
5 beta-pregnan-20-ona
O CO2H
SCoA
HO2C SCoA
O O malonil-CoA O
O
oxaloacetil-CoA O
H OH
H
HO
H
H OH digitoxigenina
HO O
H
bufalina O O O
COH H H OH
H OH H OH
HO HO
OH H
hellebrigenina gitoxigenina
Figura 12. Esquema da biossíntese das agliconas dos glicosídeos cardiotônicos (Adaptado de
Dewick, 2011).
A parte da molécula formada por açúcar, pode ser formada por 1 até 4 monossacarídeos,
sendo que muitos deles são exclusivos para esse grupo de compostos, como é o caso da D-
digitoxose e D-digitalose (Figura 13). Os glicosídeos naturais também são subdivididos em quatro
grandes categorias, de acordo com o tipo de átomo da aglicona que se une a uma glicona (açúcar),
18
através de uma ligação glicosídica (com consequente perda de uma molécula de água): O-, C-, N- e
S-glicosídeos. Os mais comuns são os O-glicosídeos, onde a ligação glicosídica é formada a partir
de um grupamento hidroxila da aglicona e outro da molécula de açúcar.
OH
HO 6 6
MeO
O O
2 OH 3
OH OH
OH
D-digitoxose (A) D-digitalose (B) O O
OH
HO O H
O O O
O H OH
OH
O
OH H
OH
digoxina (C)
3. Via do Chiquimato
Essa via é usada apenas por microrganismos e plantas e é uma via para a síntese de
compostos aromáticos, particularmente os aminoácidos aromáticos: L-fenilalanina, L-tirosina e L-
triptofano.
Tal via inicia-se a partir de fosfoenolpiruvato (proveniente de glicólise) e da D-eritrose 4-
fosfato (oriunda da via das pentoses ou fotossíntese), formando o ácido chiquímico e esse, por sua
vez, dá origem aos compostos aromáticos (Figura 14). Os aminoácidos fenilalanina e tirosina
formam o fenilpropano, que é uma unidade básica presente em muitos produtos naturais (ácido
cinâmico, fenilpropanoides, cumarinas, lignanas, e flavonoides) e, juntamente com o triptofano, são
precursores de uma vasta gama de estruturas de alcaloides.
19
ATP 2 reações
PO CO2H
HO OH 2 HOP
PO OH fosfoenolpiruvato O CO2H
OH OH OH
ácido chiquímico ácido chiquímico 3-fosfato ácido corísmico
CO2H CO2H
CO2H
O CO2H
NH2
OH
L-fenilalanina ácido fenilpirúvico
ácido prefênico
CO2H
O
CO2H
CO2H
NH2
OH
OH ácido 4-hidroxifenil- pirúvico
ácido L-arogênico
CO2H
NH2
OH
L-tirosina
com o tipo de planta. Esses monômeros, por sua vez, são obtidos pela conversão da fenilalanina e
da tirosina em ácido cinâmico e ácido 4-cumárico, devido à perda do grupo -NH2; esse é reduzido,
via coenzima A, e, finalmente, ocorre a redução do aldeído a álcool pelo NADPH (Figura 15). A
lignina representa um vasto reservatório de materiais aromáticos, geralmente inexploradas por causa
das dificuldades associadas à liberação desses metabólitos.
CO2H CO2H
NH2
FAL
O2
NADPH
CO2H CO2H
CO2H CO2H CO2H
NH2
HO HO MeO OMe
OH OH
OH OH OH
L-tirosina ácido 4-cumárico ácido caféico ácido ferúlico ácido sinápico
CoA CoA
CoA
NADPH NADPH NADPH
x2 POLÍMEROS xn
LIGNANAS LIGNINA
As lignanas são formadas a partir de dímeros, que são formados por pela ligação de dois
monômeros dos álcoois, anteriormente citados. Alguns estudiosos restringem o termo lignana
especificamente a moléculas, em que as duas unidades de fenilpropano são acopladas ao carbono
central da cadeia lateral, enquanto os compostos que contenham outros tipos de acoplamentos, são
denominados neolignanas (Figura 16).
OH
OH
O
OMe OH
MeO
O OMe
O
HO
HO
Pinoresinol Álcool dehidrodiconiferil
(Lignana) OMe
(Neolignana)
Figura 16. Exemplo da ligação formadora das lignanas e das neolignanas, a partir do álcool coniferil
(Adaptado de Dewick, 2011).
3.2 Fenilpropanoides
Os fenilpropanoides também são derivados da rota que se inicia com a formação do ácido
chiquímico, dando origem à fenilalanina e à tirosina que, por sua vez, por ação da enzima
fenilalanina amonialiase (FAL), perdem uma molécula de amônia, resultando na formação dos
ácidos cinâmico e 4-cumárico, respectivamente, e, por meio de várias reações de redução, oxidação
e ciclização dão origem a diversos fenilporpanoides (Figura 17).
22
CO2H CO2H
NH2
FAL
CO2H
CO2H
CO2H
HO OH
NH2
OH
Ácido chiquímico
OH
OH
L-tirosina ácido 4-cumárico
Oxidações
Reduções
Ciclizações
OH
Esses compostos apresentam em sua estrutura um anel aromático, como uma cadeia lateral,
composta de três carbonos que apresentam uma dupla ligação, podendo ter um grupo funcional que
contenha oxigênio. Apresentam também baixo peso molecular e estão presentes na composição de
diversos óleos essenciais. Como exemplo de fenilpropanoides tem-se o cinamaldeído, acetato de
cinamil, eugenol, anetol, entre outros (Figura 18).
OCOCH3
CHO
MeO
OMe OH
cinamaldeído acetato de cinamil anetol eugenol
23
Figura 18. Estruturas químicas de alguns fenilpropanoides (Adaptado de Simões et al., 2007).
3.3 Cumarinas
CO2H CO2H
4 2
OH CO2H
OH O O
ácido cinâmico ácido 2-cumárico cumarina
CO2H CO2H
CO2H
HO HO OH HO OH HO O O
ácido 4-cumárico ácido 2,4- dihidroxi-cinâmico umbeliferona
MeO MeO HO
GlicO O O HO O O HO O O
escopolina escopoletina esculetina
A adição do grupo prenil, por meio do DMAPP, ao anel benzênico, nas posições C6 e C8 da
umbeliferona, é o passo principal para a formação das furano e piranocumarinas. A formação desses
compostos envolve a epoxidação (oxidação da dupla ligação) do grupo prenil, seguida da adição da
hidroxila. Dependendo do local da adição, se originam as piranocumarinas ou as furanocumarinas.
A prenilação na posição C6 origina as furano e piranocumarinas lineares, e na posição C8, origina as
angulares (Figura 20). O psoraleno pode atuar como precursor para as furocumarinas lineares, por
posteriores substituições no anel aromático (ex. bergapteno, xantotoxina e isopimpinelina).
6 O
HO O O Epoxidação
umbeliferona
HO O O HO O O
DMAPP
DMAPP
HO
HO 8 O O HO
O O O O O O
Furanocumarinas Piranocumarinas
lineares lineares
HO O O
O
O O O O O O
Psoraleno Xantiletina
O O O
O O O
Piranocumarinas
OH angulares
Furanocumarinas
HO angulares
O O O
O O O
Seselina
Angelicina
Figura 20. Esquema da biossíntese das furano e piranocumarinas (Adaptado de Simões et al., 2007).
25
As xantonas são compostos fenólicos heterocíclicos, que têm por base o núcleo de dibenzo-
γ-pirona (Figura 21). A biossíntese de xantonas em plantas superiores está bem determinada,
seguindo a via acetato-chiquimato. Em determinados tipos de organismos, como os fungos e
líquens, o padrão de oxigenação das xantonas é diferente, o que permite sugerir a sua origem pela
via poliacetato.
O
8 1
7 2
B A
6 3
O
5 4
dibenzo-gama-pirona
Figura 21. Núcleo básico das xantonas - dibenzo-γ-pirona (Adaptado de Simões et al., 2007).
CO2H
CO2H CO2H HO CO2H SCoA
B +3
O
ácido cinâmico ácido benzóico ácido m-hidroxibenzóico malonil-CoA
O O
O OH
HO
HO O
A B
B
CoAS O
HO OH
2, 3', 4, 6 - tetrahidroxibenzofenona
O OH O OH
O HO
B A B A
O OH O OH
1, 3, 7- trihidroxixantona
Além das hidroxilações que podem ocorrem na estrutura básica das xantonas, outras
transformações associadas à biossíntese de xantonas naturais são a metilação de um ou mais grupos
hidroxi, levando a xantonas metoxiladas ou com grupos metilenodioxi. É comum também a
formação de xantonas preniladas e glicosiladas. A prenilação ocorre preferencialmente após a
formação do esqueleto da xantona e a glicosilação, ocorre preferencialmente no intermediário
benzofenona. Uma característica marcante do substituinte prenil é a ciclização oxidativa, com um
grupo hidroxila em posição orto, formando um anel cromeno, e estas são denominadas de
piranoxantonas (Figura 23).
O OH O OH
O O
OH O
xantona prenilada piranoxantona
As cromonas naturais mais abundantes são aquelas que possuem substituintes nas posições
C2 e C3, por outro anel benzênico, sendo designadas por flavonas e isoflavonas, respectivamente, e
por esse motivo, é recorrente a sua inclusão no grupo dos flavonoides (ver Flavonoides). Esses
compostos constituem um conjunto importante de substâncias biologicamente ativas,
maioritariamente de origem natural, estando presentes em grande abundância no reino vegetal.
3.5 Flavonoides
Os flavonoides são uma classe de compostos polifenólicos que diferem entre si pela
estrutura química e características particulares. A biossíntese desses compostos ocorre por uma via
mista, entre a via do ácido chiquímico e a do acetato. O ácido chiquímico é o precursor do
composto inicial da síntese dos flavonoides, a fenilalanina. Esse aminoácido aromático depois de
desaminado pela fenilalanina amonialiase (PAL) produz ácido cinâmico, que por ação da 4-
hidroxilase cinamato é convertido em ácido p-cumárico (4-cumárico). Posteriormente, ocorre a
adição da CoA, catalisada pelo p-cumarato-CoA liase, originando a p-cumaroil-CoA, que ao reagir
com três moléculas de malonil-CoA forma a naringenina chalcona. Essa reação é catalizada pela
chalcona sintetase. Finalmente, ocorre a ciclização do anel C, catalizada pela chalcona isomerase,
para formar a naringenina. Dessa forma, nos flavanoides, o anel A é formado via acetato, enquanto
o B resulta da via chiquimato e os três átomos de carbono, que ligam o anel A ao B, derivam do
fosfoenolpiruvato (Figura 23). Quando ocorre a redução da molécula, após a adição do malonil-
CoA, há a formação de uma chalcona, a isoquiritigenina, que após a ciclização forma a
liquiritigenina (Figura 25). As estruturas apresentadas na figura ilustram os diferentes padrões de
oxigenação, característicos em anéis aromáticos derivados das vias do acetato ou chiquimato.
28
SCoA
CO2H
O
B SCoA
HO 3
O
p-cumaroil-CoA malonil-CoA
OH OH
SCoA O SCoA
O B B
O O
NADPH
(redutase)
O O OH O
Chalcona
Chalcona sintase
sintase
OH
OH
B
HO OH
B
HO OH A
A
O
OH O
isoliquiritigenina chalcona
naringenina chalcona (uma chalcona)
(uma chalcona)
OH
OH
B
B HO O
HO O
A C
A C
O
OH O
isoliquirtigenina
naringenina (uma flavonona)
(uma flavonona)
formados por mudanças na hidroxilação, metilação, glicosilação, e dimetilalilação nos dois anéis
aromáticos.
OH OH
HO O HO O
R O2 R
2-oxoglutarato R = H, apigenina
R= OH, luteolina
(flavonas)
OH O OH O
R = H, narigenina
R= OH, eriodictiol
(flavanonas)
O2 OH
2-oxoglutarato
OH HO O
R
O2
HO O 2-oxoglutarato
R
OH R = H, kaempferol
OH O R= OH, quercetina
OH R = H, dihidrokaempferol (flavonóis)
OH O R= OH, dihidroquercetina
(dihidroflavonóis)
NADPH
OH OH
OH
HO O HO O
R O R
OH R = H, leucopelargonidina OH
OH OH R= OH, leucocianidina OH OH
(flavandiois; leucoantocianidinas)
- H2O
NADPH
OH OH
HO O HO O
R R
OH R = H, afzalechina OH R = H, perlagonidina
OH R= OH, (+)-catequina OH O R= OH, cianidina
(catequinas) (antocianidinas)
Figura 26. Esquema da biossíntese de algumas subclasses dos flavonoides (Adaptado de Dewick,
2011).
3.6 Antraquinonas
HO2C
O CO2H
O CO2H
HO
ácido corísmico HO2C CO2H
ácido alfa-cetoglutárico
(Ciclo de Krebs/ HO OH
desaminação ácido glutâmico) OH
+ TTP ácido chiquímico
HO2C
- CO2
OH
O CO2H OH
+
TTP CO2H
semi-aldeído sucínico
ácido isocorísmico ânion TTP (coenzima tiamina difosfato)
OH CO2H
CO2H CO2H
CO2H
O
O ácido o-succinilbenzóico
- HSCoA HSCoA
ATP
OH
CO2H
HO CO2H +
OH
OH
ácido mevalônico ácido 1,4-dihidroxi-2-naftóico
OH O OH
CO2H
OH O
ácido 1,4-dihidroxi-3-prenil-2-naftóico
ANTRAQUINONA
31
3.7 Taninos
CO2H CO2H
NH2
FAL
O2
NADPH
CO2H CO2H
CO2H CO2H
NH2
HO OH
HO
OH OH
OH OH ácido 2,4,5-hidroxi-cinâmico
L-tirosina ácido 4-cumárico ácido caféico
CO2H CO2H
HO HO
OH OH
ácido gálico
ácido protocatecuárico
Figura 28. Esquema simplificado da biossíntese do ácido gálico (Adaptado de Simões et al., 2007).
transformações oxidativas, leva a formação dos galotaninos e elagitaninos. Existem três rotas de
biossíntese dos taninos hidrolisáveis: na primeira rota, emprega-se a adição de grupos galoila a 1, 2,
3, 4, 6-pentagaloil-D-glicose, por meio de ligações m-depisídicas. Na segunda rota, duas moléculas
de ácido gálico vizinhas (da 1, 2, 3, 4, 6-pentagaloil-D-glicose) se condensam e, em seguida, esse
composto (monômero) pode se ligar a outros, formando dímeros, trímeros e oligômeros. Ainda
pode ocorrer a hidrólise enzimática da ligação éster no C1, deixando a hidroxila livre. Na terceira
rota, emprega-se a glicose na conformação de cadeira, com substituintes na posição axial (Figura
29).
G
GO
GO OG
G GO OG
OG GO Rota 3
G GO Rota 1 O O
O
OG
OG OG OG
OG
1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose OG
Rota 2
G G
O O
G G
O O
O Dímeros
GO O
Dímeros O
G G
OG OG
OG O
hidrólise hidrólise
G G
O O
G G
O O
GO O
O O
G G
OH OH
OG O
O
OH
HO
HO
O
G G HO O G G
HO
O
HO
OH
O
- HO
O OH
OH
Figura 29. Esquema simplificado da biossíntese dos taninos hidrolisáveis (Adaptado de Simões et
al., 2007).
33
OH
OH
HO O
H HO O
H
OH O OH dihidrokaempferol
OH O (dihidroflavonóis)
narigenina
(flavanonas)
OH OH
HO O HO O
OH OH
4
OH OH
leucocianidina OH O
OH OH dihidroquercetina
(flavandiois; leucoantocianidinas)
(dihidroflavonóis)
OH
HO O
OH
4
OH (+)-catequina
OH (catequinas)
Figura 30. Esquema simplificado da biossíntese dos taninos condensados (Adaptado de Dewick,
2011).
3.8 Alcaloides
A biossíntese dos alcaloides inclui sempre pelo menos um aminoácido, a esses aminoácidos
são também incorporadas outras unidades provenientes de piruvato, malonato ou mevalonato.
34
Assim, com precursores de origem biossintética tão distintas, é fácil entender a complexidade e
diversidade estrutural dessa classe de metabólitos, sendo hoje conhecidos mais de 5 000 alcaloides.
Os alcaloides são classificados de acordo com o aminoácido que fornece, tanto o átomo de
nitrogênio, quanto a parte fundamental do esqueleto da molécula. Os aminoácidos alifáticos ornitina
e lisina dão origem aos alcaloides como núcleos pirrolizidínicos, tropânicos, pirrolidínicos,
piperidínicos, quinolizidínicos e indolizidínicos e o ácido aspártico dá origem aos alcaloides
piridínicos (Figura 31). Os aminoácidos aromáticos histidina, triptofano, tirosina e fenilalanina
originam os alcaloides com núcleos indólicos, isoquinolínicos e o ácido antranílico origina os
alcaloides quinolínicos, quinazolínicos, benzoxazínicos (Figura 32).
CO2H N
NH2
Pirrolizidínicos
NH2
L-Ornitina
H N
Tropânicos
N
Pirrolidínicos CO2H
HH2
Ácido Aspártico
CO2H
HO2C CO2H
NH2 HO2C
O
ácido glutâmico ácido alfa-cetoglutárico
N
Piridínicos
H2N H2N CO2H
Lisina
N
N
H Indolizidínicos
Piperidínicos N
Quinolizidinicos
35
Figura 31. Esquema simplificado da biossíntese dos alcaloides derivados da lisina e ornitina,
aminoácidos alifáticos (Adaptado de Simões et al., 2007).
CO2H CO2H
NH2
CO2H N
OH Ácido Antranílico quinolínicos
ácido corísmico
N
quinazolínicos
CO2H
HO2C CO2H
O
O NH2
N
N
H
OH benzoxazínicos
L-Triptofano
Ácido prefênico
N
CO2H CO2H
indólicos
NH2 NH2
CO2H
L-Fenilalanina L-Tirosina
N N
NH2 N
N
Histidina imidazólicos
isoquinolínicos
Figura 32. Esquema simplificado da biossíntese dos alcaloides derivados da fenilalanina, tirosina
(aminoácidos aromáticos) e ácido antranílico (Adaptado de Simões et al., 2007).
36
Referências
ASCENSÃO, L.; FIGUEIREDO, A.C.; BARROSO, J.G.; PEDRO, L.G.; SCHRIPSEMA, J.;
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Science, n.159, p.31-38, 1998.
BERG, J. M. T.; LUBERT, J. Bioquímica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2008. 545 p.
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monoterpene composition in Mentha x piperita leaves. Canadian Journal of Botany, n.69, p.2271-
2278, 1991.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008. 533 p.
DEWICK, P. M. Medicinal Natural Products: a biosynthetic approach. 3rd ed. West Sussex:
Wiley, 2011. 550 p.
HANSON, J. R. Natural Products: The Secondary Metabolites. Cambridge, UK: Royal Society
of Chemistry, 2003. 147 p.
37
LI, J. J.; COREY, E. J. Total Synthesis of Natural Products. Berlim: Springer Science & Business
Media, 2013. 295 p.
MORAIS, L. A. S. Influência dos fatores abióticos na composição química dos óleos essenciais.
Horticultura Brasileira, v. 27, supl. 4050-63, 2009.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3. ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2004. 720 p.
TURNER, G.W.; GERSHENZON, J.; CROTEAU, R.B. Distribution of peltate glandular trichomes
on developing leaves of peppermint. Plant Physiology, n.124, p.655-663, 2000.
CAPÍTULO 2
1. Introdução
A procura por compostos bioativos se inicia por estudos prévios de etnofarmacologia, a fim
de direcionar a procura por espécies de plantas já utilizadas pela população com finalidade
terapêutica. Outra forma de busca está na abordagem quimiotaxonômica ou filogenética, com foco
em espécies de famílias e gêneros de plantas em que já foram identificados a presença de classes de
compostos com atividades biológicas. Em ambos os casos há a tentativa de se reduzir tempo e
gastos com as pesquisas.
Os estudos com plantas medicinais e fitoterapia envolvem uma série de conhecimentos tais
como a química, botânica, toxicologia, farmacologia entre outros, logo é necessário a todos os
estudantes interessados nesta área ter uma abordagem multidisciplinar.
A produção de um medicamento fitoterápico ou a testagem da segurança e formas de uso de
plantas in natura seguem em geral etapas de estudos já conhecidas, entre elas: i) coleta e
classificação botânica; ii) preparo, que envolve a sanitização, secagem, moagem e armazenamento;
iii) extração; iv) análise fitoquímica; v) testes biológicos entre outros (Fig. 1).
A coleta e preparo inicial do material vegetal requer alguns cuidados, entre eles:
i) Local da coleta – locais diferentes apresentam solo, clima, oferta de água e umidade, todos
fatores que influenciam no metabolismo da planta, consequentemente leva a síntese de
compostos diferentes. É importante registrar a localização da coleta com o auxílio de um
GPS;
ii) Data e horário das coletas – as plantas podem modificar seu metabolismo pelas diferentes
épocas do ano e até mesmo durante o dia;
iii) Parte da planta desejada – coletar exatamente a parte da planta de interesse;
iv) Acondicionamento e identificação em sacos plásticos para transporte;
v) Pesagem do material úmido;
vi) Sanitização;
vii) Secagem em estufa a 40°C – o tempo necessário vai depender da parte da planta coletada;
viii) Pesagem do material seco;
ix) Moagem;
x) Pesagem do material triturado;
xi) Armazenamento – em recipientes esterilizados, e sob o abrigo da luz e umidade.
41
Os itens ii ao iii podem ser obtidos através de estudos etnofarmacológicos. Além disto, cinco
amostras da espécie devem ser coletadas para confecção de exsicatas e depósito em herbário para a
correta identificação, além de uma destas ficar em posse do pesquisador para arquivo.
3. Extração
A escolha do solvente deve levar em consideração sua toxicidade, logo uma vez utilizado
solvente tóxico, como o metanol, o mesmo tem que ser completamente eliminado do extrato.
No processo de extração podemos utilizar o aumento da temperatura para facilitar a
solubilidade, porém muitos compostos passam a ser degradados ou mesmo volatilizados neste
processo.
42
3.1. Maceração
3.2. Percolação
Consiste em passar o líquido extrator pelo MV, com o uso de aparelho conhecido como
percolador, recipiente cônico ou cilíndrico. Este processo leva ao esgotamento da droga, e obtém-se
extratos mais concentrados e ricos em metabólitos.
Para se iniciar o processo de percolação, é necessário umidificar/intumescer o MV, para
então leva-lo ao percolador. O empacotamento do material intumescido no percolador é um ponto
crítico, caso não se apresente homogênea ou muito compacta, dificulta o processo. Outro parâmetro
a ser observado é a altura do enchimento que deve estar em uma proporção de 5:1 em relação ao
diâmetro do percolador. Por último, a velocidade de fluxo depende da granulometria do MV.
Partículas inferiores a 1 mm, podem gerar compactações excessivas, portanto se faz necessário
fluxo menor. Para partículas entre 1 e 3 mm, as velocidades variam entre 0,5 a 5 mL/min/Kg.
Uma das desvantagens nesta técnica é o uso excessivo de solventes para gerar o
esgotamento do MV estudado.
A extração com aparelho de Sxohlet força a passagem do solvente diversas vezes pelo MV,
sob aumento de temperatura. Em ambos os casos são necessários os cuidados já mencionados para o
aumento de temperaturas, porém apresenta como vantagem o menor uso de solventes.
Referências
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC n. 18, de 3 de abril de 2013.
LEITE, J. P. V. Fitoterapia: Bases Científicas e Tecnológicas. São Paulo: Editora Atheneu. 2008.
SIMÕES, C.M.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C.P.; MENTZ, L.A.;
PETROVICK, P.R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3. ed. Porto Alegre:
Ed.UFGRS/Ed.UFSC, p.517-543, 2001.
46
CAPÍTULO 3
ALCALOIDES
Definições
Fontes vegetais
Silva et al. (2007), conseguiram realizar a separação dos seguintes alcaloides: lisicamina e
liriodenina, das cascas do caule de U. lindimanii; lanuginosina, oxobuxifolina e O-
metilmoscatolina, foram obtidas das cascas do caule de D. glabriúscula; aterospermidina foi
separada dos ramos aéreos de D. furfuracea.
Com relação à sua localização intracelular, são sintetizados no retículo endoplasmástico,
concentrando-se, em seguida, nos vacúolos e, dessa maneira, não aparecem em células jovens antes
de ocorrer a formação dessas estruturas. O local de estoque dos alcaloides é diferente daquele no
qual esses são sintetizados, por serem potencialmente perigosos a saúde do próprio vegetal
produtor.
Foram isolados das cascas do caule de Ocotea duckei, três alcaloides benzilisoquinolínicos:
reticulina, coclaurina e N-acetilnorjuzifina. Essas substâncias foram isoladas por métodos
cromatográficos e identificadas por espectroscopia (DIAS et al., 2003).
Da árvore Xylopia langsdorffiana foram identificados quatro alcaloides: coritenchina,
xylopinina, discretamina e xylopina (SILVA et al., 2007).
Foram encontrados no gênero Ocotea, 54 alcaloides aporfinoides, sendo 39 aporfínicos, 4
oxoaporfínicos, 5 6a,7-diidroaporfínicos, 1 dideidroaporfínico, 1 C-3-O-aporfínico, 1 C-4-O-
aporfínico, 2 fenantrenos e 1 pró-aporfínico, distribuídos em 17 diferentes espécies do gênero. Além
disso, foram isolados e identificados alguns alcaloides aporfinoides não usuais, dentre os quais
podemos citar a variabilina, a ococriptina e a N-óxido dicentrina (ZANIN; LORDELLO, 2007).
Devido a seu amargor e toxicidade, atuam como repelentes de herbívoros. Alguns, como os
alcaloides pirrolizidínicos, são utilizados por determinado grupo de borboletas para defesa contra
predadores como as aranhas, outros, são utilizados para síntese de feromônios, necessários ao
acasalamento e provém das plantas que servem de alimentos às lagartas.
Algumas espécies são tóxicas para o homem, como por exemplo, a beladona, que serve de
alimento para coelhos, os quais possuem sistema enzimático passível de hidrolizar a atropina,
tornando esse produto desprovido de toxicidade.
A presença de alcaloides pode ser assinalada em ampla gama de atividades biológicas,
como, emetina (amebicida e emético), atropina, hiosciamina e escopolamina (anticolinérgicos),
49
ALCALOIDES INDÓLICOS
Essa classe de compostos pode ser subdividida em dois grupos: um grupo maior, com
alcaloides conhecidos como indólicos monoterpênicos, e outro, com os demais alcaloides indólicos.
Vários métodos podem ser aplicados para a purificação dos alcaloides. O método utilizado
com maior freqüência para a purificação, é a cromatografia em coluna de gel de sílica (SIMÕES et
al., 2007). Em Cromatografia em Camada Delgada, as substâncias são evidenciadas pelo uso de
radiação ultravioleta, sob comprimentos de onda entre 254 e 366 nm, e pela impregnação das placas
em cubas de vidro saturadas por vapores de iodo, anisaldeído e reagente de Dragendorff (para
revelação de compostos nitrogenados) (HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT, 2010).
Fontes vegetais
Muitos alcaloides indólicos atuam como agonistas ou antagonistas parciais nos receptores α-
adrenérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos e dopaminérgicos. As diferentes atividades, dos vários
compostos, se devem, aparentemente, às diferenças de atividade frente aos vários receptores e à
maneira pela qual cada um interage com os diferentes receptores.
Vários alcaloides, como a psilocibina, o LSD, a dimetiltriptamina e os derivados do
harmano, possuem uma marcante atividade alucinógena.
Foi observada também atividade antitumoral de alcaloides indólicos, como a elipticina (de
Ochrosia sp., Apocynaceae) e olivacina (isolada de várias espécies dos gêneros Aspidosperma e
Tabernaemontana) (SIMÕES et al., 2007). Além disso, as espécies Aspidosperma apresentam um
amplo espectro de atividades biológicas reconhecidas tais como antitumoral, antiplasmódica,
antimicrobiana e antibacteriana (HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT, 2010). Alguns alcaloides
atuam especialmente no sistema cardiovascular, como os do esporão de centeio: ioimbina, reserpina
e ajmalicina.
51
ALCALOIDES TROPÂNICOS
Para a caracterização física e química dos alcaloides tropânicos utilizam-se as extrações por
solventes polares (ácidos diluídos) e solventes apolares (solventes orgânicos em meio alcalino),
extração sólido-líquido (Soxhlet) e/ou cromatografia em camada delgada. Sendo que a extração em
meio aquoso ácido esgota a matéria-prima com solução hidroalcoólica ácida e a alcalinização
ocorre com a solução de amônia, carbonatos, hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio. Já na
extração em solvente orgânico, em meio alcalino, ocorre a alcalinização da solução aquosa com
solvente orgânico apolar.
Fontes vegetais
Os alcaloides extraídos das espécies estudadas da família Solonacea são conhecidos como:
higrina, tropina, cuscoigrina e nicotina; podendo ser encontrados em raízes e brotos, acumulados
52
nos vacúolos. Também são observadas misturas de alcaloides tropânicos em sementes e folhas (Ex.:
Hyoscyamus niger L. – hiosciamina e escopolamina). Nas folhas da coca encontram-se alcaloides
derivados da ecgonina (cocaína), derivados de tropina (tropacocaína e valerina) e derivados da
higrina (higrolina e cuscoigrina).
Beladona (Atropa belladonna L.): pertence à família Solanacea, e apresenta alcaloides tropânicos
em suas folhas e flores. Foi utilizada por mulheres na Itália, para dilatar a pupila como forma de
embelezamento. Em suas folhas encontram-se pequenas quantidades de nicotina e piridina, a taxa
de toxicidade depende a concentração de alcaloides tropânicos. Os extratos de beladona - planta da
sombra da noite - já eram utilizados para envenenamento, desde o Império Romano e na Idade
Média.
Coca: a cocaína foi sintetizada em 1857, pelo alemão Albert Niemmam, que publicou a sua
descoberta de 1860. A coca é encontrada nas folhas secas de Erythroxylon coca Lam e
comercializada na forma de chá e vinhos. A absorção da cocaína por todas as membranas e
mucosas, bloqueia a condução dos impulsos nervosos.
Estramônio (Datura stramonium L.): possui alcaloides tropânicos em suas folhas e flores. Pertence
à família Solanacea, no Brasil é conhecida como figueira-do-inferno e erva-do-diabo, alguns povos
utilizavam suas folhas e flores secas na forma de cigarro.
Meimendro (Hyoscyamus niger L.): pertence à família Solonacea, e possui alcaloides tropânicos em
suas folhas e flores. No Brasil é conhecida como meimendro-negro e erva-dos-cavalos.
aplicados para envenenamento e/ou para matar. Das espécies estudadas são obtidas a hiosciamina, a
escopolamina e a apoatropina, com tais efeitos.
ALCALOIDES PIRROLIZIDÍNICOS
Fontes vegetais
Ayapana (Iapana): alcaloides presentes em folhas. Utilizada na medicina popular com propriedades
tônicas, estimulantes, digestivas, antidiarreicas entre outras.
54
Cinoglosa (lingua-de-cão): alcaloides presentes nas raízes. Utiliza-se na medicina popular com
propriedade antidiarreica, expectorante e refrescante.
Te milagro: alcaloides presentes em folhas secas e raízes. Na medicina popular se faz uso externo
para tratamentos de queimadura e infecções superficiais da pele.
ALCALOIDES ESTEROIDAIS
Fontes vegetais
Veratro: pertence à família Melantiacea. Encontram-se nas raízes dos vegetais as substâncias
Sabadinina e Veratridina.
Segundo Santos et al. (2011), o farelo de cacau apresenta vários alcaloides, compostos
tóxicos (teobromina e cafeína), que estimulam o sistema nervoso dos animais. Em seu estudo, tal
pesquisador analisou o processo fermentativo do farelo de cacau, como forma de reduzir a taxa
desses alcaloides, por meio da aplicação do fungo Aspergillus niger. Houve uma redução de
alcaloides na amostra, de acordo o tempo de fermentação do farelo de cacau. Em 24h de
fermentação, houve uma redução de 13,67% no teor de teobromina, já em 96h esse teor se reduziu
em 35,55%. Para cafeína foi encontrada uma redução mínima de 56,86% (24h) e máxima de
62,76% (96h). Podendo-se concluir que a fermentação utilizando o fungo Aspergillus niger é uma
alternativa para a remoção de compostos tóxicos do farelo de cacau.
Dentre os efeitos negativos da cafeína para o organismo humano destacam-se: a excitação
do sistema nervoso central, a ação estimulatória sobre os sistemas muscular, circulatório e cardíaco.
Um consumo elevado de cafeína pode afetar os rins, fígado e sistema nervoso. A trigonelina possui
uma baixa toxicidade, quando comparada à cafeína.
56
Referências
ALMEIDA, M. R.; LIMA, J. A.; SANTOS, N. P.; PINTO, A. C. A pereirina o primeiro alcaloide
isolado no Brasil. Ciência Hoje, v. 40, n. 240, 2007.
DIAS, C. S.; SILVA, I. G.; CUNHA, E. V. L.; SILVA, M. S.; BRAZ-FILHO, R.; BARBOSA-
FILHO, J. M. Isolamento e identificação de novos alcalóides de Ocotea duckei Vattimo
(Lauraceae). Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 13, p. 62-63, 2003.
SANTOS, C. X.; AMORIM, G. M.; LACERDA, E. C. Q.; SANTOS, M. F.; SIMIONATO, J. I.;
FRANCO, M. Redução de alcaloides e perfil de ácidos graxos de farelo de cacau submetido
à fermentação em estado sólido por aspergillus niger. Revista Higiene Alimentar, v. 25, ns.
194/195, 2011.
SILVA, D. B.; MATOS, M. F. C.; NAKASHITA, S. T.; MISU, C. K.; YOSHIDA, N. C.;
CAROLLO, C. A.; FABRI, J. R.; MIGLIO, H. S.; SIQUEIRA, J. M. Isolamento E Avaliação Da
Atividade Citotóxica De Alguns Alcalóides Oxaporfínicos Obtidos De Annonaceae. Química
Nova, v. 30, n. 8, p. 1809-1812, 2007.
58
CAPÍTULO 4
ANTRAQUINONAS
Solventes apolares, como clorofórmio e acetona, são bastante utilizados para a extração de
quinonas. Através da maceração e/ou percolação esses compostos podem ser obtidos do material
vegetal, uma vez que, na sua maioria, são substâncias quimicamente estáveis. Entretanto, quando
objetiva-se o isolamento das formas reduzidas das antraquinonas, esse requer cuidados
61
diferenciados, como por exemplo, a extração em meio anaeróbico, a fim de evitar o processo de
oxidação (SIMÕES et al., 2007).
A destilação por arraste de vapor de água é um método empregado para a obtenção das p-
benzoquinonas e 1,4-naftoquinonas, por elas serem sublimáveis. Outras técnicas bastante utilizadas
para isolamento e purificação de quinonas são a cromatografia em colunas de alumínio e
adsorventes sólidos (gel de sílica ou resina) e a cromatografia em camada delgada (CCD). O
isolamento das antraquinonas do Rheum palmatum L. (Ruibarbo) pode ser realizado através da
cromatografia em contracorrente e eletroforese capilar (BRUNETON, 2001; COSTA, 2002).
As reações cromáticas são importantes alternativas para a identificação e localização das
quinonas em tecidos vegetais. Quando o acetato de níquel interage com as hidroxibenzoquinonas
pode-se observar a formação de uma coloração azulada, com as hidroxinaftoquinonas, violeta e
rósea com as hidroxiantraquinonas (COSTA, 2002).
O reagente de Bornträger é considerado padrão para caracterização de hidroxiantraquinonas
em meio ácido, permitindo, inclusive, diferenciá-las quanto à alteração da coloração obtida pela
reação química (SIMÕES et al., 2007).
Fontes vegetais
De acordo com Simões et al. (2007) e Bruneton (2001) as quinonas encontram-se com
frequência na natureza, em estado livre ou combinadas com ésteres e heterosídeos e as principais
fontes vegetais estão apresentadas na Tabela 1.
frângula-emodina,
reína, aloe-emodina,
crisofanol e fisciona)
Referências
ALVES, G. M. C.; ROLIM, L. A.; ROLIM NETO, P. J.; LEITE, A. C. L.; BRONDANI, D. J.
Purificação e Caracterização da β-Lapachona e Estudo de Estabilidade dos Cristais em Diferentes
Condições de Armazenamento. Química Nova, v. 31, n. 2, p. 413-416. 2008.
BERTI, F. V.; PÉRTILE, R. A. N.; SIQUEIRA JUNIOR, J. M; VALLE, R. M. R. do; DIAS, P. F.;
PORTO, L. M. Estudo in vitro do efeito antitumoral da aloína em cultura de células de melanoma.
Exacta, v. 5, n. 1, p. 169-176, jan/jun. 2007.
HAIEK, G.; TILLETT, S. El Palo de arco, el Sen, el Yagrumo y la Zarzaparrilla. Revista Facultad
de Farmacia Universidad Central de Venezuela, v. 73, n. 2, 2010.
LIMA, C. P.; CUNICO, M. M.; MIGUEL, O. G.; MIGUEL, M. D. Efeito dos extratos de duas
plantas medicinais do gênero Bidens sobre o crescimento de plântulas de Lactuca sativa L. Revista
de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, Araraquara, v. 32, n. 1, 2011.
OLIVEIRA, F.; AKISUE, G. Fundamentos de Farmacobotânica. 2. ed. São Paulo, SP: Atheneu,
2000.
65
SPELLMEIER, J. G.; STÜLP, S.; Avaliação da degradação e toxicidade dos corantes alimentícios
eritrosina e carmim de cochonilha através de processo fotoquímico. Acta Ambiental Catarinense,
v. 6, n. 1, 2009.
VEGA, A. G.; AMPUERO, N. C.; DÍAZ, L. N.; LEMUS, R. M. El Aloe Vera (Aloe barbadensis
Miller) como componente de alimentos funcionales. Revista Chilena de
Nutrição. v.32 n.3 Santiago. 2005.
HAIEK, G.; TILLETT, S. El Palo de arco, el Sen, el Yagrumo y la Zarzaparrilla. Revista Facultad
de Farmacia Universidad Central de Venezuela, v. 73, n. 2, 2010.
66
CAPÍTULO 5
COMPOSTOS FENÓLICOS
Os ácidos fenólicos apresentam em sua estrutura pelo menos um anel aromático e ao menos
um hidrogênio substituído por um grupo hidroxila, o que gera uma ampla diversidade de compostos
com diferentes variações estruturais, pela alteração de posição dos substituintes (hidroxilas ou
metoxilas) em seu esqueleto aromático comum.
Um dos tipos de classificação desses compostos está relacionada com a ocorrência destes no
reino vegetal (Tabela 1).
67
CLASSIFICAÇÃO CARACTERISTICAS
Derivados dos ácidos benzóicos e de ácidos
Compostos fenólicos amplamente
cinâmicos, cumarinas, flavonóides, taninos
distribuídos
e ligninas
São em menor número, são exemplos os
Compostos fenólicos de distribuição fenóis simples, pirocatecol, hidroquinona,
restrita resorcinol e aldeídos derivados dos ácidos
benzóicos.
Os compostos fenólicos também podem ser classificados de acordo com o tipo do esqueleto
principal (Tabela 2), onde C6 identifica o anel benzênico e Cn, o número de carbonos presente na
cadeia substituinte.
A presença dos átomos de hidrogênio dos grupos hidroxila em diferentes posições nos anéis,
duplas ligações na função oxo (-C=O) e as duplas ligações dos anéis benzênicos as diferentes
moléculas, conferem as diferenças de ação e potência em atividade antioxidante. Esta habilidade em
doar hidrogênio ou elétrons e a formação de radicais estáveis, atuam principalmente na oxidação de
lipídios.
Os compostos fenólicos são biossintetizados por duas rotas metabólicas: pela via do ácido
chiquímico a partir dos carboidratos, ou pela via do acetato-polimalato que inicia com acetil-
coenzima A e malonil-coenzima A. Não estão presentes na natureza no estado livre e sim sob a
forma de esteres ou de heterosídeos, portanto, solúveis em água e em solventes orgânicos polares.
Possuem características ácidas o que facilita o isolamento pelo uso de soluções fracamente básicas,
além de ser quimicamente reativo, o que exige cautela no processo de extração e isolamento, logo é
necessário evitar extremos de pH e concentrar os extratos em temperaturas baixas (Tabela 3).
Tabela 3. Métodos de extração de compostos fenólicos com suas respectivas soluções extratoras.
FLAVONOIDES
Caracterização química
Uma das principais classes de estudo dos flavonoides são os flavonóis e as antocianidinas.
As antocianidinas têm como estrutura base o cátion flavílico (2-fenilbenzopirilium), também
chamado de íon flavilium, representado na Figura 2.
Vale ressaltar que os pigmentos, em sua maioria, expressados na forma de antocianinas são
estruturas derivadas de antocianidinas. As antocianidinas não possuem grupos glicosídeos, sendo,
portanto agliconas, possuindo ligantes hidroxilas nas posições 3, 5 e 7, porém nas antocianinas,
normalmente uma ou mais destas hidroxilas são glicosadas, sendo a ligação do açúcar responsável
pelo aumento da sua solubilidade e estabilidade, quando comparados com a classe das
antocianidinas.
71
As antocianinas (do grego Anthos significa a flor, e Kyanos significa azul) são os pigmentos
vegetais mais importantes visíveis ao olho humano, têm diversas funções dentro de plantas, que vão
desde de proteção e defesa, ajuda no crescimento, desenvolvimento e reprodução. Porém, além de
seus benefícios para as plantas, as antocianinas possuem propriedades antioxidantes e habilidades
removedoras de radicais que foram correlacionados com a prevenção de doenças em seres humanos,
por exemplo, as antocianinas podem afetar a função endotelial e seu consumo na dieta está
associada a efeitos neuroprotetores, especialmente a diminuição do risco de doença de Parkinson.
Fontes vegetais
Diversos estudos avaliaram o efeito benéfico dos flavonoides no organismo humano. A eles
são atribuídas ações anti-inflamatória, antiviral, antibacteriana, antialérgica, vasodilatadora,
neuroprotetora além da prevenção de doenças crônicas tais como o câncer e doenças
cardiovasculares.
Os flavonoides tornaram-se potenciais fármacos naturas devido à capacidade de modificar a
biossíntese de eicosanoides, que causam a resposta anti-prostanóide e anti-inflamatória, além de
proteger o colesterol-LDL da oxidação prevenindo assim a formação de placas ateroscleróticas.
Também possui efeito antitrombótico - ação de prevenção à agregação plaquetária e efeitos anti-
hipertensivo e anti-isquêmico por promover o relaxamento do músculo liso.
TANINOS HIDROLISÁVEIS
Caracterização química
Fontes vegetais
Estes tipos de taninos são encontrados nas folhas e súber (tecido vegetal) de várias espécies
de plantas. As principais plantas que contêm taninos são: goiabeira (folhas de Psidium guajava L.
Myrtaceae); nó-de-galha (formações nodosas resultantes da decomposição de ovos do
inseto Adleria gallaetinctoria na gema foliar do carvalho Quercus infectoria G. Olivier, Fagaceae);
barbatimão (cascas de caule Stryphnodendron barbatimam Mart., Fabaceae); ratânia (raízes
de Krameria triandra Ruiz & Pav., Krameriaceae); hamamelis (folhas de Hamamelis virginiana L.,
Hamamelidaceae), e espinheira-santa (folhas de Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, Celastraceae).
Os taninos também podem ser encontrados nas uvas, sendo notável sua presença em alguns vinhos.
Os vegetais defendem-se dos herbívoros por vários meios, seja por estruturas convencionais
como pêlos urticantes e espinhos ou ainda por defesas químicas. Compostos fenólicos em vegetais,
principalmente taninos, têm a função de inibir os herbívoros, pois em altas concentrações em frutos,
sementes, folhas ou demais tecidos torna-os impalatáveis, sendo defensores das plantas contra o
ataque de herbívoros, principalmente quando os frutos não estão maduros o suficiente e, ainda,
combinado a algumas proteínas, estes tecidos resistem fortemente à putrefação.
TANINOS CONDENSADOS
Caracterização química
Fontes vegetais
Os taninos condensados e os flavonóides que lhes dão origem são conhecidos por sua larga
distribuição em espécies angiospermas e gimnospermas, tais como eucalipto (Eucalyptus spp),
pinheiro (Pinus pinaster), cascas de pau-de-balsa (Ochroma pyramidalis), aroeirinha (Schinus
terebinthifolius), angico, (Peltophorum dubium), chá verde (Camellia sinensis), abacate (Persea
americana), nozes (Areca catechu), mirtilos (Vaccinium myrtillus), semente de uva (Vitis vinifera),
canela, amoras, maçã , peras, nectarinas, banana (Musa paradisíaca), sorgo, ervilha (Pisum
sativum), feijão (família Fabaceae), castanha de caju, entre outras. Localizam-se em quantidades
maiores nas sementes, folhas, frutos e casca.
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CAPÍTULO 6
CROMONAS E XANTONAS
CROMONAS
Podem ser extraídas por meio de cromatografia em camada delgada, segundo descrito por
Wagner & Bladt (1996).
Fontes vegetais
Yan et al. (2011), estudando o arbusto Harrisonia perforata (Blanco) Merr., única espécie
de Harrisonia cultivada na China, isolou das folhas e ramos, duas cromonas: o umtatin e o
greveichromenol.
O Aloe Ferox (A. candelabro, A. Berger) pertencente à familia Xanthorrhoeacea,
conhecido como aloés ou capa aloés, tem sido usado, desde a antiguidade, na medicina, como
laxante. Possui sabor amargo, com propriedades tônicas, antioxidante, antinflamatória,
antimicrobiana, cicatrizante da pele, atividade contra malária, atividade anti-helmíntica,
propriedades laxativas e propriedades anti-cancerígenas. Numerosas classes de compostos, tais
como cromonas, antraquinonas, antrona-C-glicósideos e compostos fenólicos, tem sido isoladas de
Aloe ferox. Embora os preparados à base de Aloe ferox sejam considerados seguros, alguns efeitos
adversos tais como hipersensibilidades foram relatados (CHEN et al., 2012).
Outra fonte de cromonas é a Halenia elliptica D. Don (Gentianaceae), distribuída em todo
o Platô tibetano e em todo o oeste da China. Ela tem sido utilizada durante séculos na medicina
tradicional e na medicina tibetana mongol para curar hepatite. O extrato aquosos das porções aéreas
dessa planta apresentaram potente atividade anti-HBV in vitro. Essa descoberta levou a
caracterização dos constituintes presentes em tais extratos, sendo isoladas seis cromonas, derivadas
de ácido 1-6 halico e três 2-metilcromonas (SUN et al., 2012).
A espécie Harri Sonia perforata (branco) Merr. é amplamente distribuída no sudeste da
Ásia e sudeste da China. Sua raiz tem sido utilizada na medicina popular, no sul da China, para a
prevenção e tratamento da malária. Foram isoladas cinco cromonas e dois limonóides a partir dessa
planta (TANAKA et al., 1995).
Pancratium Viz maritimum (Amaryllidaceae) é uma espécie de planta ornamental,
cultivada no Egito, de cujo extrato etanólico foram isoladas quatro cromonas e duas flavonas (ALI
et al., 1996).
A planta Aloe marlothii, comum em Moçambique, é bastante conhecida pela sua alta
atividade purgativa, podendo causar graves complicações na gestação, razão pela qual não é
administrada a mulheres grávidas, na medicina tradicional. Quando cortadas, as folhas liberam um
líquido amarelo, de consistência leitosa e sabor amargo, que é usado como purgativo,
84
As cromonas podem desempenhar nos organismos produtores, funções tais como: proteção
contra radiação ultravioleta; proteção contra insetos, vírus e bactérias; atração de polinizadores;
controle hormonal; ação aleloquímica e repulsão de herbívoros.
As cromonas são utilizadas no combate a asma, sendo que sua ação foi descoberta através
do uso medicinal da espécie Amni visnaga (Umbelliferae), no Egito e países do sudeste do
Mediterrâneo, no tratamento de problemas respiratórios.
Esses efeitos no trato respiratório se devem à sua propriedade antiinflamatória e
capacidade de diminuir a obstrução brônquica, uma vez que estabilizam os mastócitos, inibindo a
liberação de histamina, leucotrienos e reduzem a ativação de eosinófilos. Entretanto, não possuem
tempo de ação prolongado como os corticosteróides e, praticamente, não são absorvidas pelo
organismo, além de causarem tosse e sensação de queimação após a administração (CORREA et
al., 2008).
A literatura não dispõe de dados suficientes sobre a segurança do Aloe Ferox, necessitando
ainda de mais estudos. Entretanto, há vários relatos de hipersensibilidades e danos colaterias em
pacientes que fizeram a ingestão de preparados à base dessa planta (disfunções hepática e renal,
85
XANTONAS
Xantonas são compostos polifenólicos naturais, com um esqueleto de três anéis simples,
sendo encontradas, principalmente, nas famílias Gentianaceae, Moraceae, Guttiferae, Polygalaceae
e Leguminosae e também em fungos e líquens. As xantonas possuem milhares de derivados,
principalmente substituídos por hidroxilo, metoxilo ou prenilo. Essa classe de metabólitos possui
notáveis atividades biológicas e medicinais, dentre elas antibacteriana, antiviral, antioxidante, anti-
inflamatória, anti-hipertensiva, antitrombótica, anticancerígena, citotóxica, coagulante e inibidora
da atividade da enzima monoamino-oxidase (MAO) (WANG; SANDERSON; ZHANG, 2011).
Devido à sua grande atividade farmacológica, estudiosos estão isolando e sintetizando derivados de
xantonas, afim de desenvolverem novas drogas (YANG et al., 2012).
Xantonas e derivados de xantonas demonstraram efeitos benéficos sobre doenças
cardiovasculares. Xantonas isoladas de Gentiana kochiana (Gentianaceae), tais como a
gentiacauleina e gentiakochianina, apresentaram efeito vasodilatador sobre a aorta de ratos.
Algumas xantonas isoladas de Halenia elliptica podem ser seus constituintes majoritários, com
atividades hepato-protetoras e antioxidante (WANG et al., 2009).
86
As xantonas podem ser identificadas por cromatografia líquida de alta eficiência (SANTOS
et al., 2003).
Fontes vegetais
Tavares et al. (2001) identificaram, nos extratos orgânicos do caule de Tovomita brasiliensis
Walp., dicromenoxantonas com importantes atividades biológicas. As xantonas são de ocorrência
freqüente em espécies de Guttiferae e em um reduzido número de famílias botânicas.
As xantonas são a principal classe de metabólitos secundários encontrada no pericarpo dos
frutos do mangostão (Garcinia mangostana Linn.) (WANG; SANDERSON; ZHANG, 2011).
Da espécie Hypericum brasiliense foram isoladas ainda as xantonas 1,5-diidroxixantona, 5-
hidróxi-1-metoxixantona e 6-deóxijacareubina; um derivado γ-pirônico (hiperbrasilona) (ROCHA
et al., 1995).
A espécie Hypericum perforatum, conhecida como erva-de são-joão, apresentou xantonas
em extratos etanólicos de suas flores (ALVES, 2001).
87
Oliveira et al. (2009) relataram que doze tipos de flavonoides e xantonas foram
identificados em polpas, cascas e caroço de mangas.
As xantonas estão presentes nos vegetais, na forma livre ou ligadas a açúcares e são
essenciais para o crescimento e reprodução das mesmas. Como ocorre normalmente para os
metabólitos secundários, em alguns vegetais, as xantonas são produzidas constantemente e, em
outros, podem vir a serem produzidas em condições de estresse do vegetal, como infecções,
ferimentos e exposição à radiação ultravioleta.
Dentre as funções das xantonas no organismo produtor, destaca-se, principalmente a
proteção conferida contra a radiação ultravioleta; a atração de polinizadores e repulsão de insetos
(interação planta-animal); e atividade antimicrobiana.
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93
CAPÍTULO 7
CUMARINAS E SAPONINAS
Eder Alencar Resende
Renata Junqueira Pereira
CUMARINAS
descritas. Tal família é muito bem caracterizada pela variedade de alcaloides e cumarinas que
apresenta, com potencial atividade microbiológica (SILVA et al., 2010).
Dentre as espécies de Rutaceae, duas destacam-se: Zanthoxylum stelligerum Turcz. e
Spiranthera odoratissima A. St Hil., empregadas na medicina popular contra distúrbios
inflamatórios ou infecções (OLIVEIRA et al., 2010).
Às cumarinas são atribuídas uma grande variedade de atividades biológicas, como:
antimicrobiana, antiviral, anti-inflamatória, antiespasmódica, estrogênica, antitumoral,
hepatoprotetora, antialérgica, anti-HIV (in vitro), antifúngica, anti-asmática, antioxidante,
antidiabética, antidepressiva, atividade fotossensibilizante dérmica, vasodilatadora, anti-helmíntica,
analgésica, sedativa, hipnótica e broncodilatadora. Em plantas cítricas, as cumarinas são
responsáveis pelo efeito fotossensibilizante (MACHADO et al., 2001; LOGHKIN; SCKANYAN,
2006; ANAND; SINGH; SINGH, 2012; SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000).
As cumarinas são lactonas com estrutura de base 1,2-benzopirona, que tem odor herbáceo,
doce de flores como a cereja. As cumarinas são biossintetizadas a partir do ácido chiquímico, com o
intermediário ácido cinâmico. A adição de um anel de furanocumarina resulta no psoraleno (linear)
e na angelicina (angular) (CLARK, 1995; SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000; YANG
et al., 2009).
As cumarinas são heterosídeos que apresentam a seguinte estrutura (C6-C3) (9C) (LEITE,
2009), ocorrendo naturalmente em seu estado livre ou como glicosídeos e muitas são compostos
fenólicos (ELDIN; DUNFORD, 2001).
A cumarina (1,2-benzopirona, 2H-1-benzopiran-2-ona, ou cis-o-lactona do ácido
cumarínico), no estado sólido, é um pó branco cristalino (peso molecular 146,15g/mol). O
composto consiste em um anel aromático, fundido com um anel de lactona condensado. A cumarina
é um pó solúvel em etanol, clorofórmio, éter dietílico e óleos, e é ligeiramente solúvel em água.
Pode ser sintetizada artificialmente a partir de salicilaldeído, embora a cumarina de alta qualidade
ainda seja obtida por isolamento do feijão tonka (LAKE, 1999).
A extração das cumarinas pode ser realizada tanto em material seco, como fresco, por
solventes de diferentes polaridades. Em função dos tipos de estruturas, algumas são pouco solúveis
95
Fontes vegetais
A cumarina foi isolada pela primeira vez, a partir de feijões tonka, e é encontrada em
níveis elevados em alguns óleos essenciais, particularmente no óleo da casca de canela (7000 ppm),
óleo de folha de cássia (até 87.300 ppm) e óleo de lavanda. A cumarina é encontrada também em
frutas (como o mirtilo e amora silvestre), chá verde e outros alimentos, tais como a chicória (LAKE,
1999).
O aipo (Apium graveolens L.), o coentro (Coriandrum sativum L.), a cenoura (Daucus
carota L.), a erva-doce (Foeniculum vulgare Mil.) e a salsa (Petroselinum crispum Nyman Ex A.W.
Hill) são vegetais e especiarias, pertencentes à família Umbelliferae, que contêm cumarinas
(bergapteno, isopimpinellina, xanthotoxina). As cumarinas possuem capacidade de inibir a
multiplicação de bactérias, fungos e vírus (CHERNG; CHIANG; CHIANG, 2008).
Há relatos de presença de cumarinas em muitas plantas, incluindo o trevo doce (Melilotus
alba), o feijão tonka (Coumarouna odourata), lavanda (Lavandula officinalis) e a canela
(Cinnamonum verum), além de ter sido detectada sua presença também em chás (Pouchong e
Longjing), embora as quantidades de cumarinas, em alguns casos, sejam mínimas (YANG et al.,
2009).
As cumarinas estão presentes nos óleos essenciais de plantas utilizadas como condimentos
e ingredientes alimentares. Foi relatada a ocorrência de cumarinas nas seguintes plantas:
Anthoxanthum odoratum (erva doce vernal), Asperula odorata (woodruff doce), Cinnamomum
96
adicionadas aos sabonetes de higiene, detergentes, pastas de dente, produtos que contém tabaco e
algumas bebidas alcoólicas. Podem ainda ser utilizadas em artigos de borracha, materiais plásticos,
tintas e sprays, para neutralizar odores desagradáveis. Por causa de algumas das suas propriedades
bioquímicas, as cumarinas são utilizadas como coadjuvantes em medicamentos, pois possuem a
capacidade de ativar macrófagos, além das propriedades imunomodulatórias.
Segundo Lake (1999), devido às inúmeras finalidades com que as cumarinas podem ser
empregadas, os indivíduos estão expostos a doses terapêuticas de cumarina, que variam de 8 a 7000
mg/dia, por períodos de duas semanas a dois anos.
Ao se compararem a toxidade e carcinogenicidade das cumarinas presentes nas dietas,
cosméticos e outros produtos, esse mesmo autor constatou que a exposição está dentro de margens
aceitáveis, e não representa risco à saúde humana. Os estudos mostraram ainda que a cumarina não
é um agente genotóxico, e, apesar dos achados de hepatotoxidade em ratos, camundongos e
cachorros, tal efeito não foi observado em babuínos e humanos (LAKE, 1999).
SAPONINAS
entre o número de cadeia de açúcares ligada à genina pode repercutir na atividade biológica da
saponina (LEITE, 2008).
As saponinas são extraídas por solventes como: água, etanol, metanol, clorofórmio e
butanol (SIMÕES et al., 2007).
Para identificação da presença de saponinas em extratos, pode-se utilizar a metodologia em
que se pesam 10 mg do extrato etanólico e adiciona-se 2 ml de etanol para dissolver,
adicionando-se, em seguida, 5ml de água fervente. Após o resfriamento, agita-se vigorosamente a
mistura e deixa repousar por 20 minutos. A formação de espuma é indicativa da presença de
saponinas (OLIVEIRA et al., 2010).
Pode-se ainda utilizar a Reação de Liebermann, que consiste de reação colorimétrica com
anidrido acético em meio sulfúrico. Outros métodos incluem a cromatografia de troca iônica ou
extração seletiva; métodos cromatográficos, utilizando resinas sintéticas, gel de sílica ou géis de
exclusão molecular; complexação com colesterol; diálise (SIMÕES et al., 2007).
Fontes vegetais
A distribuição das saponinas varia grandemente nos órgãos da planta e tecidos, durante seu
desenvolvimento e fatores ambientais, como a disponibilidade de nutrientes e água e a irradiação de
luz ou seus efeitos combinados, afetam a produção de saponinas (AUGUSTIN et al., 2011).
No vegetal produtor, podem ser encontradas nos tecidos vulneráveis aos ataques fúngico,
bacteriano ou ao ataque de insetos (WINA; MUETZEL; BECKER, 2005), atuando como
substâncias protetoras (PIZARRO, 1999). A atividade protetora está associada a interação com os
compostos esteróis da membrana dos vegetais (FRANCIS et al., 2002).
O papel biológico das saponinas ainda não foi completamente compreendido nas plantas,
sabe-se que são parte da composição dos sistemas de defesa devido à atividade antimicrobiana,
fungicida, alelopática, inseticida e moluscicida (AUGUSTIN et al., 2011).
De acordo com Ferro (2006), os vegetais ricos em saponinas podem agravar processos de
má-absorção, doença celíaca, deficiências das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), além de
irritações do trato digestivo.
A espécie Aesculus hippocastanum L., vulgarmente conhecida por castanha da Índia, não
deve ser usada por crianças com até 7 anos de idade, nas quais é mais frequente a
hipersensibilidade. Altas doses podem provocar vômitos, sede excessiva, eritema facial, distúrbios
visuais, alteração de consciência, urticária, espasmos musculares e hipersensibilidade. Podem ainda
ocorrer sangramentos e equimoses devido à atividade antitrombótica da aesculina
(hidroxicumarina). As sementes da Aesculus hippocastanum podem conter até 13% de aescina, em
que a parte açúcar compreende duas moléculas de glicose, ácido glicurômico e ácido tíglico
(ELDIN; DUNFORD, 2001).
A Calendula officinalis L., vulgarmente conhecida como calêndula, não deve ser utilizada
durante a gestação, pois pode ser abortiva em doses elevadas, sendo também contra indicada na
lactação (FETROW; AVILA, 2000). Em alguns casos, pode provocar náuseas, vômitos e diarreia,
quando em uso interno prolongado e/ou doses mais elevadas.
A Glyxyrriza glabra L., o alcaçuz, em doses elevadas, por longo tempo, pode elevar a
pressão arterial, provocando crises hipertensivas, pois aumenta a perda de potássio e a retenção de
sódio no organismo.
A Hedera helix L., ou hera terrestre, deve ser evitada durante a gravidez e a lactação, por
falta de estudos clínicos comprovando a sua segurança (FETROW; AVILA, 2000). Crianças
menores de 12 anos e hipertireoidianos não devem usá-la. Doses mais elevadas podem provocar:
diarréia, vômito (por irritação na mucosa) e alterações neurológicas (delírios, convulsões, alterações
104
meníngeas). Superdosagens podem provocar hemólise e seu uso externo pode levar a dermatite
reacional.
A Hydrocotyle asiática L., de nome comum centela asiática, quando usada em doses
habituais não provoca nenhum efeito colateral. Já a superdosagem pode provocar náuseas, vômitos,
hipotensão arterial, depressão do sistema nervoso central, sonolência, sedação, cefaleias, e
fotossensibilização. Não é recomendado o seu uso na gravidez. Seu uso deve ser evitado em casos
de hipercolesterolemia familiar grave, pois pode aumentar os níveis de colesterol no início do
tratamento.
A Ilex paraguaiensis A. St. Hillari, conhecida vulgarmente por erva-mate, pode provocar
insônia, ansiedade, palpitação, arritimias, irritação da mucosa digestiva, úlcera gástrica e gastrite,
anemias. Sua ingestão pode aumentar o risco de câncer de esôfago, boca, laringe, faringe (PINTOS
et al., 1994) e bexiga (DE STEFANI et al., 1991). A metilxantina, em doses elevadas, podem
provocar intoxicação hepática.
A Medicago sativa L., ou alfafa, demonstrou toxicidade, sendo responsável por induzir
síndrome semelhante ao lúpus eritematoso sistêmico em animais de laboratório, reversível com
suspensão do produto. Quando a planta é ingerida fresca, pode ocasionar problemas hemorrágicos
graves.
O Panax Ginseng C. A. Mey., ou ginseng, não deve ser utilizado por grávidas e lactantes,
bem como por hipertensos graves. Pode provocar insônia em doses maiores ou em pessoas mais
sensíveis, especialmente se tomada à noite. Seu uso prolongado pode provocar mastalgia,
ginecomastia, galactorréia e metrorragias.
A Chenopodium quinoa Willd., vulgarmente conhecida como quinoa, é um alimento bem
conhecido da comunidade Andina, como uma fonte alternativa de alimento em outras regiões. A
semente contém proteína de alta qualidade e é particularmente rica em aminoácidos essenciais, com
valor nutricional maior do que cereais como o milho, a aveia, o trigo e o arroz. A semente de quinoa
é utilizada na formulação de ração ou na alimentação humana. No entanto, a principal desvantagem
tem sido relacionada ao amargor dessa semente, devido a presença de saponinas, que exercem
atividade antimicrobiana, toxicidade em camarões, reduz o colesterol sanguíneo e atuam como
adjuvantes imunológicos.
105
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110
CAPÍTULO 8
ESTEROIS VEGETAIS
Esterois são componentes essenciais às membranas das células e podem ser sintetizados
tanto por vegetais, quanto por animais. Fitoesterois e esterois vegetais são conhecidos por
reduzirem os níveis séricos de colesterol LDL e colesterol total. Os fitoesterois estão dispostos em
quatro anéis condensados, um grupo hidroxila ligado a um anel, distinguindo-se dos esteróis
produzidos pelo organismo humano apenas pela cadeia lateral e as posições dos anéis. O efeito da
polaridade interfere na interação micela-colesterol, produzindo um mecanismo de competição na
absorção do colesterol.
Os fitoesterois são componentes naturais das células vegetais, presentes em sua porção
insaponificável, e exercem diversas funções biológicas análogas às do colesterol nas células dos
mamíferos (ROCHA, 2008). Devido a isso, são utilizados no tratamento e prevenção de doenças
cardiovasculares. Sua estrutura é composta por cadeias carbônicas cíclicas, de alto peso molecular,
derivadas do ciclopentanofenantreno (RODRIGUES et al., 2004; LOTTENBERG et al., 2002).
Em 1922, descobriu-se em abóboras, o β-sitosterol, sendo essa a primeira descrição química
do composto. Os fitoesterois são semelhantes ao colesterol, por possuírem um núcleo tetracíclico,
diferenciando-se pela natureza da sua cadeia lateral na posição C24 (RODRIGUES et al., 2004;
OETTERER; D’ARCE; SPOTO, 2006), por disso, possuem uma larga utilização na indústria de
alimentos.
São compostos com 28 ou 29 carbonos, diferindo do colesterol (27 carbonos) pela presença
de um radical metila ou etila adicional na cadeia carbônica (Figras 1 e 2). Os fitosteróis são
semelhantes aos fitostanóis, dos quais diferem pela presença de insaturações. Sua grande
similaridade com o colesterol parece ser responsável pela excreção fecal do colesterol dietético e
conseqüente redução do colesterol sérico (MOREAU; WHITAKER; HICKS, 2002).
111
Nas plantas, podem apresentar-se como esteróis livres, esterificados (ligados a ácidos
graxos), ligados a carboidratos (ELLEGARD; NORMEN; ANDERSSON, 2007) ou como ácidos
fenólicos (NORMÉN et al., 2007). Os seus derivados saturados são os estanois e são menos
abundantes nos alimentos (ORTEGA; LOPES-SOBALER, 2006). O termo fitoesterois é, muitas
vezes, utilizado para as duas formas (ORTEGA; LOPES-SOBALER, 2006).
112
Os esteróis, devido a sua natureza lipossolúvel, devem ser isolados, inicialmente, por meio
de extração com solventes orgânicos, os quais geralmente são apolares. Os métodos indicados para
tal extração são o de Bligh & Dyer (1959), que concentra a amostra pela homogeneização e
posterior retirada da fase aquosa, seguida de subseqüente submissão da fase orgânica a evaporação;
e também o método de Soxleth, que se baseia na extração a quente dos lipídios, por meio de refluxo
com solvente orgânico (éter de petróleo ou hexano). Como os esterois pertencem ao grupo dos
compostos insaponificáveis dos lipídios, se faz necessária a saponificação desse extrato, afim de se
separar a parte insaponificável, contendo os esterois, da parte saponificável contendo, em sua
maioria, ácidos graxos. Tal método se procede, geralmente, com extração utilizando-se hidróxido de
potássio em metanol, sendo o extrato final submetido a um recipiente de ultra-som. A parte superior
contem os insaponificáveis (esterois) e parte inferior, contem os saponifcáveis (ácidos graxos).
Fontes vegetais
atuar como hormônios vegetais ou serem seus precursores (BRUFAU; CANELA; RAFECAS,
2008).
Referências
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116
CAPÍTULO 9
GLICOSÍDEOS CARDIOTÔNICOS
As plantas medicinais têm sido uma rica fonte para obtenção de moléculas para serem
exploradas terapeuticamente. Muitas substâncias isoladas de plantas continuam sendo fontes de
medicamentos como, por exemplo, os glicosídeos cardiotônicos.
Glicosídeos cardiotônicos, também conhecidos como glicosídeos cardioativos; heterosídeos
cardiativos/cardiotônicos, são definidos como compostos que contêm um ou mais resíduos de
açúcar ligados, e que, dependendo da dose, são extremamente tóxicos para humanos ou podem
atuar como drogas de fortalecimento do coração enfraquecido, melhorando o funcionamento do
mesmo. Ressaltando que a dosagem deve ser controlada cuidadosamente, uma vez que a dose
terapêutica é muito próxima da dose tóxica.
A utilização de drogas vegetais contendo glicosídeos cardioativos data de antes da era
Cristã. As plantas eram empregadas como diurético, tônico cardíaco e emético. Além disso, eram
utilizados como veneno, principalmente por causa dos seus efeitos tóxicos.
Esses compostos constituem uma classe muito homogênea estrutural e farmacologicamente
e são produzidos como metabólitos secundários. A estrutura química dos glicosídeos cardiotônicos
é constituída por resíduos de açúcar (ou glicona), núcleo esteroide e anel lactônico. Quimicamente,
as agliconas (ou geninas) desse grupo caracterizam-se pelo núcleo fundamental do
ciclopentanoperidrofenantreno e são divididas em dois grupos, um com compostos de cadeia de
vinte e três carbonos, os cardenolídeos (anel lactônico pentagonal insaturado em α, β); e outro com
compostos de cadeia de vinte e quatro carbonos, os bufadienolídeos (anel lactônico hexagonal di-
insaturado em α, β e γ, δ), sendo que os glicosídeos do grupo dos cardenolídeos são os mais
importantes na medicina e os bufadienolídeos são menos abundantes na natureza e também são
encontrados no reino animal.
Os glicosídeos cardioativos possuem sabor amargo e sua solubilidade em água é diretamente
proporcional ao número de hidroxilas. São solúveis em álcool e possuem solubilidade intermediaria
em solventes orgânicos apolares. A hidrossolubilidade e, consequentemente o tempo de ação, são
proporcionais ao número de hidroxilas presentes no anel esteroidal.
Atualmente esses glicosídeos são usados pela medicina, principalmente para o tratamento da
insuficiência cardíaca. Porém intoxicações podem ocorrer depois do consumo de chás preparados
com partes de plantas ou depois do consumo de flores, folhas ou sementes de plantas, que contêm
117
clorofórmico com ácido acético glacial, cloreto de ferro II e ácido sulfúrico concentrado (Reação de
Keller-Killiani). Para a determinação específica de 2,6-didesoxi-hexose, emprega-se a secura do
extrato clorofórmico, seguida da solubilização do resíduo em ácido acético e finalmente adição do
reativo de xantidrol (reação de Pesez). O surgimento da coloração vermelha, após o aquecimento,
indica reação positiva, ou seja, esse tipo de açúcar está presente.
O principal teste analítico para detecção de esteroides em extratos de plantas é a prova de
Liebermann-Burchard, que consiste no tratamento da amostra com anidrido acético, em presença de
ácido acético e algumas gotas de ácido sulfúrico, ocorrendo a desidratação, seguida de oxidação do
sistema de anéis do ciclopentanoperidrofenantreno, formando um esteroide aromático que é
evidenciado pelo aparecimento de uma coloração azul-esverdeada.
As agliconas cardenolídicas (anel lactônico pentagonal insaturado em α, β), em meio
alcalino (hidróxido de sódio ou de potássio), na presença da solução metanólica de ácido 3,5-
dinitrobenzóico (reação de Kedde), tornam a solução vermelho-violeta e, na presença da solução
etanólica de ácido pícrico (reação de Baljet), a coloração apresentada é alaranjada. Na presença de
m-dinitrobenzeno, heterosídeos e agliconas cardenolídicas a coloração apresentada é laranja (reação
de Raymond-Marthoud). Pelo surgimento da coloração avermelhada, após a adição do
nitroprussiato de sódio (reação de Legal), é possível inferir a presença de agliconas e glicosídeos
cardenolídicos (devido a presença do anel pentagonal insaturado em α, β) e, para os glicosídeos
bufanodienolídeos, esse ensaio é negativo. Em meio ácido desidratante, os glicosídeos
cardiotônicos se convertem em substâncias fluorescentes, sendo que a intensidade varia de acordo
com o tipo de aglicona.
Análises envolvendo cromatografia em camada delgada (CCD) também são úteis para
identificação da presença desses compostos no extrato. Nesses casos, o suporte empregado é a sílica
gel G e a fase móvel é acetato de etila: metanol: água, nas proporções 75:10:7,5 V/V/V, e a
revelação é realizada com ácido trifluoacético em etanol (96%), solução de cloramina T e
observação com luz ultravioleta. O surgimento de bandas fluorescentes (azuis e amarelas) indica a
presença de glicosídeos cardiotônicos. Outro sistema cromatográfico que pode ser utilizado é a
sílica gel 60F como suporte, acetato de etila: metanol: água (81:11:8 V/V/V) como a fase móvel, e a
revelação é realizada com o Reativo de Kedde (solução metanólica de ácido 3,5-dinitrobenzóico) a
presença de glicosídeos cardiotônicos e inferida com o surgimento de bandas na coloração de azul a
vermelho-violeta.
A determinação quantitativa de geninas do tipo cardenolídeas pode ser realizada por
fotocolorimetria, utilizando o princípio das reações de Kedde e Baljet, no comprimento de onda de
540 nm. Também são utilizadas análises cromatográficas, empregando-se a Cromatografia Líquida
de Alta Eficiência (CLAE), em fase reversa, com fase móvel de acetonitrila: água (25: 75 V/V) e
119
com detector de arranjo de diodos (220 nm); a densitometria direta (225 nm), usando CCD em fase
reversa; e determinação enzimática, baseada na inibição da atividade da Na+, K+ ATPase.
Fontes vegetais
Não há fontes alimentares para a obtenção de glicosídeos cardiotônicos, logo são extraídos
de plantas medicinais, sendo que sua ocorrência está restrita as Angiospermas, tanto em
monocotiledôneas como em dicotiledôneas. Os glicosídeos cardiotônicos classificados como
cardenolídeos são mais comuns nas plantas, pertencentes as famílias Apocynaceae (Strophanthus),
Liliaceae (Convallaria) e Scrophulariaceae (Digitalis). Os bufadienolídeos são encontrados apenas
em alguns membros das famílias Liliaceae (Urginea) e Ranunculaceae (Helleborus), sendo que
todos os órgãos dos vegetais podem contém glicosídos cardiativos.
Alguns organismos não pertencentes ao Reino Vegetal sintetizam esses compostos, como é
o caso dos sapos do gênero Bufo (família Bufonidae) e de alguns besouros (Crysolina spp.), que os
sintetizam a partir de fitoesteróis e, outros, são capazes de acumular em seus corpos os glicosídeos
cardiotônicos ingeridos a partir de sua matriz alimentar, como é o caso das borboletas monarca
(Danaus plexippus) e suas larvas, que se alimentam de serralha comum (Asclepias syriaca;
Asclepiadaceae) e acumulam uma variedade de glicosídeos cardiotônicos cardenolídeos,
biossíntetizados por esse vegetal.
Os efeitos dos glicosídeos cardiotônicos sobre o coração foram descobertos como resultado
da aplicação de Digitalis no tratamento de edemas, onde se observou indiretamente, seu efeito sobre
o coração, melhorando o suprimento sanguíneo aos rins e eliminando o excesso de fluido.
A ação farmacológica desses compostos é observada quando o princípio ativo está sob a
forma de glicosídeo; a atividade inata reside nas agliconas (geninas), mas os açúcares conferem
maior solubilidade e aumentam o poder de fixação dos glicosídeos ao músculo cardíaco.
Os glicosídeos cardíacos exercem sua atividade, agindo sobre a contratilidade,
condutibilidade e automaticidade. Em relação à contratibilidade, esses compostos exercem uma
ação inotrópica positiva (aumento da força de contração do miocárdio), levando a distúrbios de
ritmo, incluindo bloqueios, extrasístoles, taquicardia e fibrilações atriais ou ventriculares. A ação
inotrópica positiva é desencadeada pela ligação específica dos glicosídeos cardíacos a um
determinado sítio da bomba sódio-potássio da célula miocárdica. Essa ligação provoca a paralisação
da bomba, levando a um aumento dos níveis intracelulares de Na+. Esse aumento modula a
atividade de um carreador da membrana, envolvido nas trocas de Ca++ por Na+, promovendo
considerável elevação dos níveis intracelulares de Ca++ por influxo ou pela mobilização dos
reservatórios sarcoplasmáticos. O Ca++ nas proximidades das miofibrilas interage com a troponina,
a qual conduz a uma alteração conformacional na tropomiosina, possibilitando a formação do
complexo actina-miosina, induzindo a contração miocárdica ATP-dependente. Os efeitos
ocasionados pela ação desses compostos, além do aumento da força de contração miocárdica (efeito
inotrópico positivo), são o aumento do débito cardíaco (esvaziamento completo do coração),
diminuição do tamanho do coração, diminuição da pressão venosa, diminuição da frequência
cardíaca, aumento da diurese (efeito indireto - hemodinâmico) e alívio do edema. Alguns dos
efeitos colaterais incluem náusea, salivação, dores de cabeça, extrasístoles, arritmias e efeito
sinérgico à toxidade do cálcio.
Por superdosagem, esses compostos são muito tóxicos, o que torna necessário rigoroso
controle da posologia dos princípios ativos. Com todos os glicosídeos, o nível terapêutico parece ser
de aproximadamente 50 a 60% da dose tóxica. No caso dos glicosídeos cardioativos, sua absorção
pelo organismo é cumulativa, de modo que, embora possa ocorrer de forma aguda, a intoxicação é
mais frequentemente crônica. Os sinais e sintomas de intoxicação são observados mais
frequentemente nos idosos, em função do uso crônico por parte desses indivíduos. Os efeitos
secundários mais comuns à intoxicação por digitálicos são ritmo cardíaco anormal, que produz
tontura, palpitação, falta de ar, sudorese ou síncope; alucinações, confusão e alterações mentais;
cansaço e fadiga; visão borrada, dupla, percepção de auréolas amarelas, verdes ou brancas; perda de
apetite, náuseas e vômitos. Cerca de 20% dos pacientes desenvolvem sinais ou sintomas de
intoxicação por glicosídeos cardioativos.
121
Digitalis
Dedaleira, Digitalis purpurea, é uma planta pertencente à família das Scrophulariaceae e é
uma planta bianual, provavelmente nativa do centro e do sul da Europa. Outra planta de grande
importância, pertencente ao mesmo genêro, é a dedaleira grega, Digitalis lanata.
As folhas dessas espécies contém grande número de glicosídeos cardiotônicos, dos quais os
mais importantes, do ponto de vista medicinal, são a digitoxina, a digoxina, a gitoxina e a
gitaloxina. E ambas das espécies são empregadas no tratamento de insuficiência cardíaca
congestiva e fibrilação atrial, sendo a digoxina, o digitálico mais utilizado na terapêutica.
Em geral, nas folhas de D. purpurea, contém no mínimo 0,3% de glicosídeos cardioativos, e
o composto principal é a digitoxina e, as folhas de D. lanata contém de 1 a 1,4% de uma mistura
dos principais glicosídeos cardioativos já citados anteriormente.
A digitoxina era comercializada na forma de solução oral a 0,1%, porém, devido à relação
risco-benefício, foi suspensa pelo fabricante. Ela é comercializada na forma de comprimidos de
0,25mg, elixir pediátrico 0,05mg/mL e solução injetável 0,5mg. Pode ser utilizada por pacientes
com insuficiência renal, pois é eliminada em sua maior parte pelo sistema enterro-biliar.
O deslanosídeo, também é extraído das espécies do gênero Digitalis, é indicado em
emergências nas quais o indivíduo apresenta arritmia severa ou fibrilação atrial.
Estrofanto
Espirradeira
Convalária
Cila
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CAPÍTULO 10
LIGNINAS E LIGNANAS
Karina Nascimento de Almeida
Renata Junqueira Pereira
A palavra lignina vem do latim lignum, que significa madeira. Trata-se de um dos principais
componentes dos tecidos de gimnospermas e angiospermas, ocorrendo em vegetais e tecidos
vasculares. A lignina tem um importante papel no transporte de água, nutrientes e metabólitos,
sendo responsável pela resistência mecânica de vegetais, além de proteger os tecidos contra o
ataque de micro-organismos. É uma substância amorfa, de natureza aromática e muito complexa e
faz parte da parede celular e da lamela média dos vegetais. Vegetais primitivos como fungos, algas
e líquens não são lignificados (FENGEL; WEGENER, 1984 apud SALIBA et al., 2001).
As ligninas são macromoléculas, polímeros de unidades C6.C3, de constituição difícil de ser
estabelecida, não somente pela complexidade de sua formação (baseada em unidades
fenilpropanóides interligadas por diferentes tipos de ligações), mas também porque sofre
modificações estruturais durante o processo de isolamento das paredes celulares (MORAIS, 1987;
MORAIS, 1992; SALIBA et al., 2001).
As lignanas, neolignanas e seus análogos, também chamados de lignóides, são
micromoléculas mais simples, produtos do metabolismo secundário e responsáveis por várias
atividades biológicas interessantes (SIMÕES et al., 2007). Os lignóides possuem esqueleto formado
exclusivamente, ou adicionalmente a outros grupos, pelo grupo fenilpropânico (C6.C3)n, sendo n
restrito a poucas unidades, 1 a 3. Na natureza sua presença se limita a plantas vasculares, que
possuem o tecido enriquecido por ligninas (GOTTLIEB; YOSHIDA, 1984).
A biossíntese, tanto dos lignóides como das ligninas, envolvem os metabólitos primários
finais da via metabólica do chiquimato: ácidos cinâmicos, originando álcoois cinamílicos, que
resultam em propenilfenóis + alilfenóis. A maioria dos lignóides pertence aos grupos das lignanas,
derivadas pela condensação oxidativa de álcoois cinamílicos entre si ou com ácidos cinâmicos; e
das neolignanas, derivadas pela condensação oxidativa de alilfenóis e de propenilfenóis, entre si ou
cruzadas (GOTTLIEB; YOSHIDA, 1984). A principal característica que distingue esses dois
grupos é a presença do oxigênio, no carbono 7 da cadeira lateral C3, nas lignanas e ausência deles,
nas neolignanas (TEIXEIRA, 2007).
125
As lignanas são sólidos incolores, com ponto de fusão que varia entre 60 a 300ºC e, por
apresentarem o carbono gama oxigenado (carboxila ou hidroxila livre), são de polaridade
intermediária. As lignanas glicolisadas, oligolignoides e os heterolignoides são extraídos com
álcoois como metanol, etanol e butanol. A existência de hidroxila fenólica na molécula de algumas
lignanas confere-lhes solubilidade em soluções aquosas diluídas dos hidróxidos alcalinos. A
utilização dessa solução concentrada faz com que os derivados butanóicos dissolvam-se no
reagente, mas em consequência da abertura do anel lactônico e formação de sais alcalinos pelos
seus carboxilatos, tornam-se solúveis em água.
As neoligninas são solúveis em solventes apolares, tais como éter de petróleo e análogos,
principalmente se a porção do anel aromático estiver metoxilada. As neolignanas geralmente se
apresentam como óleos de alta viscosidade (TEIXEIRA, 2007).
Fontes Vegetais
Os precursores dos lignoides estão presentes nas películas que recobrem os cereais e no
processo de refinamento tais películas são removidas. São encontrados nos grãos integrais, legumes,
vegetais e sementes, principalmente no linho (CLAPAUCH, 2002). A semente de linhaça contém
uma concentração de enterolignanas, Secoisolariciresinol e Matairesinol, onde, a forma glicosídica
e seus glicosídeos são hidrolisados pelas bactérias no cólon, originando lignanas bioativas, a
Enterodiol e Enterolactona (ADLERCREUTZ; WILTOD, 1997; CASSANI, 2009).
Tais enterolignanas ou lignanas são encontradas em maior quantidade no grão completo da
semente de linhaça (PRASAD, 2005). As lignanas são absorvidas no intestino delgado e conjugadas
no fígado, sendo excretadas pela urina e bile e podendo sofrer circulação enterohepática, o que,
possivelmente, promove sua reabsorção (BLOEDON; SZAPARY, 2004).
126
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130
SALIBA, et al. Ligninas – Métodos De Obtenção E Caracterização Química. Ciência Rural, v. 31,
n. 5, p. 917-928, 2001.
CAPÍTULO 11
Terpenoides
Constituem o maior grupo dentre os compostos secundários que ocorrem nos vegetais, são
conhecidos e utilizados desde as mais remotas épocas, para uma grande variedade de propósitos.
Segundo Dewick (2002) já foram descritos cerca de 35.000 substâncias terpênicas.
Nas plantas, apresentam-se como compostos essenciais ao funcionamento da fotossíntese, ao
transporte de açúcares através das membranas celulares nos processos metabólicos e como
hormônios reguladores do crescimento. Possuem ainda a função de atrair polinizadores, além de
possuir propriedades de repelirem insetos, através dos componentes do aroma e dos pigmentos de
flores (FERRO, 2006).
Podem ocorrer livres nos tecidos vegetais, sem se combinarem. No entanto, podem ocorrer
na forma combinada com glicosídeo, ésteres e ácidos orgânicos e, em alguns casos, associados a
proteínas. As principais características farmacológicas dos terpenos estão relacionadas ao emprego
como antisséptico, antiflamatório e antipirético (LIMA, 2006).
Os terpenos são formados por unidades isopropênicas, também conhecidas por isoprenos.
Sua classificação é designada de acordo com o número de unidades isoprênicas (C5) incorporadas a
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sua estrutura, formando uma grande variedade de compostos, estruturalmente diferentes (SIMÕES
et al., 2007). As unidades isoprênicas são bioquimicamente ativas, identificadas como ésteres
pirofosfatos de isopentila (IPP) e pirofosfato de dimetila (DMAPP). São biossintetizados, a partir de
metabólitos primários, por duas rotas diferentes: a rota metabólica do mevalonato e a rota
metabólica do desoxixilulose fosfato, sendo a última provavelmente a mais utilizada pelos vegetais
(TAIZ; ZEIGER, 2004).
O ácido mevalônico, que é formado pela combinação de três moléculas de acetil-CoA e a
desoxixilulose fosfato, derivada da combinação dos intermediários glicolíticos piruvato e
gliceraldeido-3-fosfato, são responsáveis pela biossíntese, que origina todos os outros terpenos
(LEITE, 2008).
em 10% das folhas secas da planta (TOTTÉ et al., 2000). O paclitaxel, conhecido por taxol,
substância extraída a partir da casca de Taxus brevifolia, apresenta atividade antitumoral,
principalmente em neoplasias ginecológicas (LONG; CROTEAU, 2005).
Um dos principais papéis desempenhado pelos diterpenos é como hormônios vegetais,
responsáveis pela germinação de sementes e alongamento caulinar de muitas espécies de plantas
(PERES, 2004).
Os triterpenoides (C30) formam os componentes das resinas, látex, ceras e cutículas de
plantas. Entre os triterpenos está uma importante classe de substâncias, os esteroides, os quais são
componentes dos lipídios da membrana e percussores de hormônios esteroides em mamíferos,
plantas e insetos. Outra classe importante de triterpenos são as saponinas, principalmente
reconhecidas pela formação de espuma em certos extratos vegetais. Essas substâncias são
semelhantes ao sabão, porque possuem uma parte solúvel (glicose) e outra lipossolúvel (triterpeno).
Nas plantas, as saponinas desempenham um importante papel na defesa contra insetos e
microrganismos (PERES, 2004).
Exemplos de tetraterpenoides (C40) são os carotenoides, pigmentos responsáveis pela
coloração amarela, laranja, vermelha e purpura dos vegetais, apresentando função essencial na
fotossíntese e, especialmente, na pigmentação de flores e frutos. Os politerpenoides são aqueles
com mais de oito unidades de isoprenos, ou seja, com mais de 40 carbonos na sua estrutura, como
os longos polímeros encontrados na borracha (ROBBERS et al., 1997; CROTEAU; KUTCHAN;
LEWIS, 2000; OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003).
Os terpenos podem ser obtidos de diversas formas, onde os monoterpenos (até C15) são
obtidos geralmente por destilação do material fresco ou seco, enquanto os compostos maiores
(acima C20) podem ser isolados por extração com solvente e separados e purificados por
cristalização, destilação e cromatografia (FERRO, 2006).
Em geral, os terpenoides são os constituintes predominantes dos óleos essenciais das
plantas, mas muitos dos óleos essenciais também podem ser compostos de outros produtos
químicos, os fenilpropanoides.
Fenilpropanoides
ocorre a formação do ácido corísmico (PERES, 2004). O ácido corísmico é responsável por gerar
aminoácidos aromáticos, como a fenilalanina, a tirosina e o triptofano, que são precursores de
vários alcaloides. Esses aminoácidos sofrem ação enzimática, dando origem ao ácido cinâmico ou
ao ácido p- cumárico, também chamado de p-hidroxicinâmico (LORENZO; GONZALEZ;
ROSSINI, 2002).
A partir do ácido cinâmico ou do ácido cumárico são formados compostos fenólicos
simples, denominados fenilpropanoides. Esses compostos costumam ser voláteis, sendo
considerados, em conjunto com os monoterpenos, óleos essenciais (PERES, 2004).
Os principais fenilpropanoides conhecidos são: eugenol, metil-eugenol, miristicina,
elimincina, chavicol, dilapiol, anetol, estragnol, apiol (SANGWAN et al., 2001).
Óleos Voláteis
A extração com CO2 supercrítico realiza a recuperação de vários tipos de aromas naturais e
não somente dos óleos voláteis. É, na atualidade, o método de escolha para extração industrial
desses produtos, devido ao fato de não deixar nenhum resíduo de solvente no produto final,
obtendo-se assim, um óleo essencial mais puro, cujo processo extrativo é rápido e eficiente (LEITE,
2008; SIMÕES et al., 2007).
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Referências
CROTEAU, R., KUTCHAN, T. M., LEWIS, N. Natural Products (Secondary Metabolites). In:
BUCHANAN, B., GRUISSEM, W., JONES, R. Biochemistry & Molecular Biology of Plants.
Americam Society of Plant Physiologists, 2000. p. 1250-1318.
DEWICK, P. M. Medicinal Natural Products: a biosynthetic approach. 2nd ed. West Sussex:
Wiley, 2002. 507 p.
FERRO, D. Fitoterapia: Conceitos clínicos. São Paulo, SP: Editora Atheneu, 2006. 502p.
LEITE, J. P. V. Fitoterapia: bases científicas e tecnológicas. São Paulo, SP: Atheneu, 2008. 344 p.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004. 719 p.
TOTTÉ, N.; CHATON, L.; ROHMER, M.; COMPWNALLE, F.; BABOEUF, I.; GEENS M. C.;
Biosynthesis of deterpenoid steviol, an ent-kaurene derivative from Stevia reboudina Bertoni, via
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