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Phenolic compounds

Chapter · December 2016

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Guilherme Nobre L. Nascimento


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

COMPOSTOS BIOATIVOS VEGETAIS

Renata Junqueira Pereira

Guilherme Nobre Lima do Nascimento

PALMAS

2014
COMPOSTOS BIOATIVOS VEGETAIS

Organizadores:

Renata Junqueira Pereira


Nutricionista. Especialista em Nutrição Humana e Saúde pela Universidade Federal
de Lavras (UFLA), MG. Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV), MG. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal
de Lavras (UFLA), MG. Professora do Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Tocantins (UFT), TO.

Guilherme Nobre Lima do Nascimento

Graduado em Farmácia. Especialista em Genética, Bioquímica e Ciências


Farmacêuticas pelo Instituto Atlas de Ciência e Tecnologia (IACT), GO. Mestre em
Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), GO. Doutor em
Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), MG. Professor do Curso
de Nutrição da Universidade Federal do Tocantins (UFT), TO.
SUMÁRIO

1. METABÓLITOS SECUNDÁRIOS VEGETAIS .................................................... 01

2. PREPARO E EXTRAÇÃO DE DROGAS VEGETAIS ......................................... 39

3. ALCALOIDES ......................................................................................................... 46

4. ANTRAQUINONAS ............................................................................................... 59

5. COMPOSTOS FENÓLICOS ................................................................................... 66

6. CROMONAS E XANTONAS ................................................................................. 82

7. CUMARINAS E SAPONINAS ............................................................................... 93

8. ESTEROIS VEGETAIS ........................................................................................... 110

9. GLICOSÍDEOS CARDITÔNICOS ......................................................................... 116

10. LIGNINAS E LIGNANAS ...................................................................................... 124

11. TERPENOIDES, FENILPROPANOIDES E ÓLEOS VOLÁTEIS ........................ 131


1

CAPÍTULO 1

METABÓLITOS SECUNDÁRIOS VEGETAIS

Renata Junqueira Pereira

Milene Aparecida Andrade

O metabolismo é definido como o conjunto das transformações das moléculas orgânicas,


que ocorre nas células vivas, suprindo o organismo de energia, renovando suas moléculas e
garantindo a homeostasia.
Essas reações possuem direção definida, devido à presença de enzimas específicas,
estabelecendo, assim, as rotas metabólicas, visando o aproveitamento de nutrientes para satisfazer
as exigências fundamentais da célula.
Além do metabolismo primário, responsável pela síntese de celulose, lignina, proteínas,
lipídeos, açúcares e outras substâncias importantes para a realização das funções vitais, as plantas
também apresentam o chamado metabolismo secundário.
Os metabólitos secundários, geralmente de estrutura complexa e baixo peso molecular,
possuem atividades biológicas importantes e, diferentemente dos metabólitos primários,
apresentam-se em baixas concentrações e em determinados grupos de plantas. Apesar de já terem
sido considerados produtos de excreção do vegetal no passado, sabe-se que muitas dessas
substâncias estão diretamente envolvidas nos mecanismos que permitem a adaptação do vegetal
produtor ao seu meio.
No organismo produtor, os metabólitos secundários podem desempenhar funções tais como:
crescimento e desenvolvimento; proteção contra perda de água e aumento da temperatura
ambiental; proteção dos raios ultravioleta; atração de polinizadores e dispersores de sementes
(reprodução); inibição de patógenos e ervas daninhas; defesa contra herbívoros e microorganismos
e alelopatia (afetando o crescimento, prejudicando o desenvolvimento normal e até mesmo inibindo
a germinação de outras espécies ao redor).
Assim, despertam grande interesse, não só pelas atividades biológicas exercidas pelas
plantas em resposta aos estímulos do meio ambiente, mas também pela intensa atividade
farmacológica que possuem. Muitos são de importância comercial, não apenas na área
farmacêutica, mas também nas áreas alimentar, agronômica e de perfumaria. Destacam-se na área
da farmacologia devido a seus efeitos biológicos sobre a saúde da espécie humana.
2

Fatores que influenciam a produção de metabólitos secundários

São fatores que afetam o conteúdo de metabólitos secundários vegetais: a sazonalidade, o


ritmo circadiano, a fase de desenvolvimento do vegetal (idade), a temperatura ambiental, a
luminosidade e a radiação ultravioleta, a disponibilidade hídrica, a disponibilidade de macro e
micronutrientes, a altitude, a composição atmosférica, os estímulos mecânicos e o ataque de
patógenos.
Sabe-se que a quantidade e a natureza dos constituintes químicos secundários produzidos
pelo vegetal não são constantes ao longo das estações do ano. São afetados pela sazonalidade: os
taninos, flavonoides, saponinas, cumarinas, glicosinolatos, glicosídeos cianogênicos, óleos
essenciais e alcaloides. A produção desses quatro últimos metabólitos e também dos tiocianatos é
afetada ainda pelo ciclo dia/noite, de maneira significativa.
A fase do desenvolvimento e a idade na qual se encontram o vegetal e seus diferentes órgãos
podem também afetar a quantidade de metabólitos produzidos, bem como as proporções dos
compostos na mistura. Em tecidos vegetais mais novos, normalmente se observa maior biossíntese
de metabólitos secundários (flavonoides, fenólicos, lactonas, óleos essenciais e alcaloides).
Observa-se ainda uma redução na taxa biossintética de metabólitos, durante os períodos de
crescimento tecidual rápido e intenso.
Temperaturas mais baixas possuem influência marcante nos conteúdos de metabólitos
secundários vegetais. Embora adaptadas ao seu habitat, os vegetais são capazes de resistir a
variações de temperatura, mas sofrem grande influência das variações de temperatura anuais,
mensais e diárias, que podem alterar seu desenvolvimento e, consequentemente, afetar a biossíntese
de compostos secundários. Tanto a temperatura do ar como a do solo, afetam os processos de
crescimento e desenvolvimento vegetal.
A intensidade luminosa também é fator que influencia a concentração e a composição dos
metabólitos secundários. Os vegetais são influenciados pela qualidade da luz, intensidade e foto
período. O foto período exerce influência na determinação do ponto de colheita, na produção de
sementes e na escolha da época de plantio.
Observa-se correlação positiva entre a intensidade de radiação solar e a produção de
compostos fenólicos (flavonoides, taninos e antocianinas), o que pode ser atribuído ao efeito
protetor contra a foto-destruição, proporcionado por flavonoides e fenilpropanoides, principalmente.
Essa maior biossíntese de bioativos, em altos níveis de radiação solar, se deve ao aumento
na velocidade dos processos fotossintéticos e de produção de compostos energéticos, que suprem
esqueletos carbônicos às rotas biossintéticas dos metabólitos secundários.
3

Sabe-se que a disponibilidade hídrica influencia o crescimento e desenvolvimento do vegetal


e espera-se que, em ambientes mais úmidos, a produção de metabólitos secundários seja maior.
Porém a frequência e a intensidade do estresse hídrico podem alterar mecanismos fisiológicos
vegetais tais como a abertura e o fechamento de estômatos, o processo de fotossíntese, a
mobilização de reservas, o crescimento e a expansão foliar, levando, consequentemente, a uma
redução na biossíntese de compostos do metabolismo secundário.
A seca, em curto prazo, pode aumentar a produção de metabólitos secundários (terpenóides,
antocianinas, alcaloides, glicosídeos cianogênicos e glucosinolatos). Já no longo prazo, parece
ocorrer o inverso.
No que se refere à precipitação, sabe-se que chuvas intensas podem ocasionar a perda de
substâncias hidrossolúveis, presentes em folhas, flores e raízes, sendo recomendado o período
mínimo de três dias, após tal precipitação, para que se proceda a coleta do material vegetal.
O estresse nutricional normalmente ocasiona aumento nas concentrações de metabólitos
secundários, exceto daqueles metabólitos com nitrogênio e enxofre em suas moléculas. A maior
disponibilidade de nitrogênio no solo e também a quantidade desse elemento, que é incorporada na
planta, aumentam a produção de metabólitos nitrogenados (alcaloides, glicosídeos cianogênicos e
glicosinolatos).
Metabólitos derivados do ácido chiquímico aparecem em maiores concentrações nas
deficiências de nitrogênio, fósforo e enxofre, o que não é observado com os derivados do
mevalonato.
No entanto, os estudos não avaliam a disponibilidade de nutrientes isoladamente, sendo
difícil estabelecer um padrão de comportamento na produção de metabólitos durante o estresse
nutricional.
A medida que se aumenta a altitude, diminui-se a temperatura ambiental, aumentando a
insolação e, consequentemente, os níveis da radiação ultravioleta, o que interfere na estrutura
vegetal, aumentando a biossíntese de metabólitos secundários.
Observa-se uma correlação positiva entre os teores de flavonoides (fotoprotetores) e
compostos fenólicos e a altitude onde cresce o vegetal, embora os metabólitos não fenólicos
também possam sofrer interferências da altitude.
A composição atmosférica, especialmente aquela alterada pela poluição, pode interferir
significativamente na disponibilidade de gases para o vegetal e afetar a produção de metabólitos
secundários, principalmente de derivados fenólicos.
Em condições normais, os vegetais saudáveis produzem um determinado conjunto de
metabólitos secundários, e essa produção é denominada constitutiva.
4

Quando expostos a estímulos traumáticos (perfuração, infestação por predadores, utilização


de herbicidas, pastagem de herbívoros ou meros estímulos de ferimentos, chuva, granizo, vento ou
areia) os vegetais podem desencadear a chamada produção induzida, em que são sintetizados
compostos que não estavam presentes na planta, até então ou são sintetizados com mais intensidade
e/ou em proporções diferentes, aqueles compostos que o vegetal já produzia, como ocorre com os
metabólitos voláteis.
Os efeitos da perfuração e da infestação por predadores, nos vegetais produtores de resinas,
levam ao acúmulo desses metabólitos em canais e bolsas.
Os estímulos mecânicos e o ataque de patógenos, normalmente induzem uma resposta
bioquímica, reduzindo a tolerância do órgão vegetal acometido ou de todo o organismo, a futuras
injúrias ou ataques.

Produção e Armazenamento no Vegetal Produtor

As constantes interações entre biossíntese, transporte, estocagem e degradação são


fundamentais à produção dos metabólitos secundários vegetais.
Tais metabólitos geralmente não apresentam funções durante o processo de crescimento,
sendo produzidos, frequentemente, após essa fase. No entanto, podem ser essenciais à sobrevivência
e à perpetuação da espécie produtora.
Os metabólitos secundários podem ser encontrados em sementes, flores, folhas, raízes e
caules de vegetais superiores e também em musgos, algas e líquens.
Nas várias espécies vegetais, o local de biossíntese se restringe a um órgão, mas os produtos
podem se acumular nos diferentes órgãos do vegetal, por meio de um sistema de transporte
intercelular.
Canais (ou dutos) e cavidades (ou bolsas) são glândulas, compostas por um epitélio de
células secretoras, formando um lume, alongado nos canais e isodiamétrico nas cavidades, no qual o
material, de natureza química variável, é secretado.
Os metabólitos os lipofílicos geralmente são armazenados em ductos de células mortas ou
ligam-se aos componentes celulares lipofílicos, como membranas, lignina e ceras cuticulares. Já os
hidrofílicos, são armazenados nos vacúolos. Alguns metabólitos tóxicos, utilizados na defesa do
vegetal, são acumulados em estruturas especializadas, protegendo o próprio organismo produtor
(glicosídeos cianogênicos são armazenados nos vacúolos de células epidérmicas, separados das
hidrolases).
5

Os óleos essenciais podem ser sintetizados por todas as partes do organismo vegetal (botões,
flores, folhas, caules, galhos, sementes, frutos, raízes, madeira ou casca) e são armazenados em
células secretoras, cavidades, canais e células epidérmicas ou tricomas glandulares.
O tricoma consiste em uma única célula vesiculosa na base e, gradualmente, afilada em
direção ao ápice, cuja região intermediária entre a base e o ápice lembra um tubo capilar fino.
Três tipos de tricomas foram descritos: os tricomas tectores, os tricomas glandulares
capitados e os tricomas glandulares peltados. Os tricomas glandulares capitados têm capacidade de
armazenamento limitada e contém predominantemente carboidratos, lipídeos e proteínas. Já os
tricomas glandulares peltados se diferenciam pelo número superior de células apicais onde são
sintetizados e armazenados os componentes voláteis do óleo essencial. Os tricomas tectores não
possuem capacidade secretora.
Os tricomas presentes em espécies pertencentes à Euphorbiaceae, Hydrophyllaceae,
Loasaceae e Urticaceae, produzem uma secreção que pode causar, desde uma reação alérgica suave,
até a morte, dependendo da espécie com a qual o animal manteve contato. Nessas circunstâncias,
esses tricomas representam elementos de defesa do vegetal.
Os osmóforos, ou glândulas de odor, produzem e liberam compostos voláteis, terpenos e
compostos fenólicos de baixo peso molecular.
Os idioblastos secretores são células individualizadas, diferentes das células que as cercam,
de formato variável. No vacúolo dos idioblastos pode ocorrer parte da síntese de precursores
(alcalóides indólicos) ou o armazenamento de metabólitos secundários (alcalóides tropânicos e
nicotínicos).
Diversas classes de compostos fenólicos são sintetizadas e/ou armazenadas em um grande
vacúolo central ou em numerosos glóbulos, de vários tamanhos, no citoplasma dos idioblastos.
Os laticíferos são células ou fileira de células, especializadas, que contêm látex. O látex é
composto de pequenas partículas de terpenos (óleos essenciais, resinas) e ceras, em solução
contendo ainda sais, polissacarídeos, ácidos orgânicos, alcaloides e enzimas proteolíticas.
Assim, os organismos vegetais são dotados de inúmeras estruturas secretoras e de
armazenamento, específicas, conforme os metabólitos secundários produzidos e sua necessidade de
estocagem.

Biossíntese de Metabólitos Secundários

Os compostos sintetizados a partir do metabolismo secundário representam a maior parte


dos compostos de origem natural, farmacologicamente ativos, e são encontrados em apenas
6

organismos específicos ou grupos de organismos, expressando assim, características individuais das


espécies.
O metabolismo secundário é um conjunto de reações que possui importantes intermediários
biossintéticos, oriundos de processos bioquímicos que compõem o metabolismo primário da
glicose: como a glicólise, a via das pentoses, o ciclo de Krebs e a fotossíntese. Os principais
intermediários são: o ácido chiquímico, o acetil-coenzima A (acetil-CoA), além da 1-deoxixilulose
5-fosfato. Os compostos através dos quais os metabólitos secundários são produzidos estão
representados na Figura 1.
O ácido chiquímico é sintetizado a partir uma combinação do fosfoenolpiruvato (via
glicólise), com a eritrose 4-fosfato (via das pentoses ou fotossíntese) e é precursor de taninos
hidrolisáveis, cumarinas, alcaloides derivados dos aminoácidos aromáticos e fenilpropanoides,
compostos que têm em comum a presença de um anel aromático na sua constituição. Esses
compostos são produzidos pela rota bioquímica denominada via do Chiquimato.
O Acetil-CoA é formado pela descarboxilação oxidativa do ácido pirúvico (glicólise) e seus
derivados são os ácidos graxos e os policetídeos; por sua vez, três moléculas de acetil-CoA
constituem o ácido mevalônico e a 1-deoxixilulose 5-fosfato origina-se da combinação de ácido
pirúvico e gliceraldeído-3-fosfato (dois intermediários da glicólise); a 1-deoxixilulose 5-fosfato,
junto como o ácido mevalônico, são precursores de diversos terpenoides e esteroides. Os compostos
secundários produzidos a partir desses intermediários são sintetizados por rotas biossintéticas
denominadas via do Acetato, via do Mevalonato e via Deoxixilulose fosfato (DXP),
respectivamente.
7

OH
OH OH
O PO
OH O
FOTOSÍNTESE
OH OH
OH eritrose 4-fosfato
D-glicose
VIA DAS PENTOSES
FOSFATO

OH
OH
O
PO
OH
OH
glicose 6-fosfato

OHC OH

PO
gliceraldeido 3-fosfato

HO2C OH

CO2H
PO
ácido 3-fosfoglicérico

OH OH
HO2C OP
OH
ÁCIDO CHIQUÍMICO
fosfoenolpiruvato
OH
OH
OP HO2C O CoAS O

OH HO2C
DEOXIXILULOSE 5-P ácido pirúvico ACETIL-CoA OH
ÁCIDO MEVALÔNICO
GLICÓLISE

CICLO DE KREBS

Figura 1. Precursores biossintéticos dos metabólitos secundários (Adaptado de Dewick, 2011).

1. Via do Acetato

Por essa via são formados compostos denominados policetídeos (formados pela
condensação de unidades de acido acético, originando cadeias de poli-β-ceto) (Figura 2). Nessa
classe estão os ácidos graxos, poliacetilenos, prostaglandinas, antibióticos macrolídeos e diversos
compostos aromáticos, como antraquinonas e tetraciclinas.
8

CO2H
SCoA SCoA O O
O CH2 C CH2 C SCoA CO2
O
malonil-CoA acetoacetil-CoA
acetil-CoA

n Malonil-CoA

O O O
CH2 C CH2 C CH2 C SCoA n CO2
n
éster poli-beta-ceto

Figura 2. Esquema de formação das cadeias de éster poli-β-ceto (Adaptado de Dewick, 2011).

1.1 Antraquinonas

Alguns compostos de origem natural, classificados como antraquinonas são derivados do


acetato. Como exemplo tem-se a endocrocina, formada por duas moléculas de um policetídeo
contendo oito unidades de acetil, que compõem o esqueleto carbônico da molécula. Três
condensações do tipo aldólicas, seguidas da enolizações, resultam no composto. Uma simples
descorboxilação da endocricina resulta em outra antraquinona, a emodina (Figura 3).

O
O
reações aldólicas
O O O
SEnz - H2O CO2H

O O O O O O O

enolizações
oxidação

O
O
HO
HO
- CO2
CO2H
OH O OH
OH O OH
endocrocina
emodina
9

Figura 3. Esquema da biossíntese da endocrocina (Adaptado de Dewick, 2011).

É importante ressaltar que muitas outras estruturas de antraquinonas naturais não são
formadas através da via do acetato e, sim, por uma sequência mais elaborada, envolvendo o
chiquimato e uma unidade de isopreno. Outros compostos como alguns flavonoides e alcaloides são
formados por via mista, ou seja, possuem intermediários de reação provenientes da via do acetato e
da via do chiquimato (Ver no tópico Via do Chiquimato).

2. Via do Mevalonato e Via Deoxixilulose Fosfato

2.1 Terpenoides

Os terpenoides ocorrem de forma mais abundante nas espécies produtoras de óleo essencial,
onde são encontrados os monoterpenos, formados por duas moléculas de isopreno (cerca de 90%
dos óleos essenciais) e os sesquiterpenos, formados por três moléculas de isopreno.
Esses compostos constituem uma grande variedade de substâncias vegetais. O termo
terpenoide é empregado para designar todas as substâncias, cuja origem biossintética é o isopreno
(2-metil-1,3-butadieno), em que as moléculas bioquimicamente ativas desse composto são definidas
como ésteres difosfato (ou pirofosfato), o dimetilalil difosfato (DMAPP) e o isopentenil difosfato
(IPP). Posteriormente, as estruturas básicas dos terpenos podem ser modificadas por reduções,
oxidações e ciclizações para a biossíntese dos mais diversos terpenoides.
Os terpenoides são sintetizados via mevalonato, no citoplasma. O mevalonato é formado por
condensação de uma unidade da acetoacetil-Coenzima A (acetoacetil-CoA) com a acetil-CoA,
seguida de uma hidrólise, formando o 3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA (HMG-CoA). Em seguida, o
HMG-CoA é reduzido por um processo que depende de NADPH e é catalisado pela HMG-CoA-
redutase a mevalonato que, por sua vez, mediante reações de fosforilação e descarboxilação, é
convertido em isopentenil-pirofosfato e seu isômero dimetilalilpirofosfato (Figura 4).
10

O O

SCoA
acetoacetil-CoA OH O HMG-CoA
OH OH
HO2C redutase
HO2C
SCoA SCoA
O NADPH
HMG-CoA
ácido meváldico
SCoA hemitioacetal
acetil-CoA

O OH OH
2 ATP OH
HO2C
OH HO2C
HO OPP O
NADPH
ácido mevalônico
ácido meváldico

OPP OPP
isopentenil difosfato dimetilalil difosfato
(IPP) (DMAPP)

Figura 4. Esquema geral da Via Mevalonato (Adaptado de Dewick, 2011).

A produção do IPP pode também ocorrer no cloroplasto (plastídios), pela via 1-deoxi-D-
xilulose fosfato, conhecida como via DXPS. Essa via inicia-se com a condensação de uma molécula
de piruvato e outra D-gliceraldeído-3-fosfato, formando a 1-deoxi-D-xilulose-5-fosfato; após
sucessivas reações, a molécula de IPP e de DMAPP são formadas (Figura 5).
11

CO2H H3C OH
C
O OH
O
N S OP OP
piruvato
OH O OH

Tiamina difosfato TPP/piruvato D-gliceraldeído 3-P 1-deoxi-D-xilulose 5-P


(TPP)
NADPH

OH
OH
7 reações OP OP
OPP
OH OH O OH
isopentenil difosfato 2-C-metil-D-eritritol 4-P 1-deoxi-D-xilulose 5-P
(IPP)

OPP

dimetilalil difosfato
(IPP)

Figura 5. Esquema geral da Via DXPS (Adaptado de Dewick, 2011).

As moléculas de IPP e DMAPP formadas em ambas as vias, condensam-se e originaram o


trans-geranil difosfato (GPP), o qual é convertido nos diferentes monoterpenos. Outros dois
isômeros formados a partir do GPP são o linalil difosfato (LPP) (com mudança no grupo difosfato
para um carbono terciário) e o cisneril difosfato (NPP), (formando um estereoisômero cis) (Figura
6), que dão origem a outros monoterpenos.

OPP
E
OPP

OPP

geranil difosfato
linalil difosfato cisneril difosfato
(GPP)
(LPP) (NPP)

Figura 6. Isômeros do GPP (Adaptado de Dewick, 2011).


12

Devido à polimerização do trans-geranil difosfato com IPP, são formadas cadeias crescentes
de cinco em cinco átomos de carbono, que darão origem aos sesquiterpenos, a partir da molécula
bioquimicamente ativa da farnesil difosfato (FPP); aos diterpenos, a partir do geranilgeranil
difosfato (GGPP); e aos sesterpenos, a partir do geranilfarnesil difosfato (GFPP), ao passo que os
triterpenos são formados a partir da isomerização de duas moléculas de FPP, os tetraterpenos, pela
isomerização de duas moléculas de GGPP e os esteroides são triterpenos modificados (Figura 7).

Monoterpenos (C10)
OPP OPP E
dimetilalil difosfato OPP OPP
isopentenil difosfato
(DMAPP) (IPP) geranil difosfato
(GPP)

IPP

Sequiterpenos (C15)
Diterpenos (C20)
IPP

OPP
OPP farnesil difosfato
geranilgeranil difosfato (FPP)
(GGPP)

IPP

GGPP

Seterterpenos (C25)

FPP
OPP
geranilfarnesil difosfato
(GFPP)

Triterpenos (C30)

Esqualeno
Tetraterpenos (C40)

Carotenóides (Licopeno)

Figura 7. Esquema de formação dos terpenoides e esteroides a partir do IPP e do DMAPP


(Adaptado de Dewick, 2011).
13

2.2 Esteroides

Os esteroides são triterpenoides modificados. No caso de esteroides produzidos por animais


e fungos, esses contêm o sistema de anel tetracíclico de lanosterol, que é um típico triterpenoide
animal, e também o precursor do colesterol e outros esteróis. Já nos vegetais, os esteróis contêm o
sistema de anel tetracíclico de cicloartenol, que é precursor para muitos esteróis de plantas (Figura
8).

Esqualeno

NADPH
O2
H

Ciclizações
Animais HO
fungos H
Lanoesterol

O H
Ciclizações
H
Óxido 2,3-esqualeno Plantas

HO
H
cicloartenol

Figura 8. Formação do lanoesterol e do cicloartenol (Adaptado de Dewick, 2011).

Modificações e substituições que ocorrem, principalmente na cadeia lateral, no lanoesterol,


cicloartenol e colesterol (principal esterol animal) (Figura 9) levam a formação de uma grande
variedade de compostos de origem natural, que apresentam diversas atividades biológicas
importantes como, por exemplo, esteróis, saponinas esteroidais, glicosídeos cardioativos, ácidos
biliares, corticosteroides e hormônios sexuais dos mamíferos. As diferenças de atividades
biológicas apresentadas por esses compostos, que contém o esqueleto tetracíclico em comum, são
atribuídas, aos grupos funcionais ligados ao núcleo esteroide, e às variações estereoquímicas desse
núcleo.
14

H H
HO
Colesterol

Figura 9. Estrutura química do colesterol (Adaptado de Simões et al., 2007).

2.3 Saponinas triterpênicas e esteroidais

Saponinas são glicosídeos de esteroides ou de terpenos policíclicos. São classificadas de


acordo com o número fundamental da aglicona, e também, pelo seu caráter ácido, básico ou neutro.
Quanto a aglicona, denominam-se saponinas esteroidais e saponinas triterpênicas.
As saponinas tripterpênicas correspondem a um esqueleto carbônico triterpenoide
pentacíclico (Figura 10), formado pela epoxidação e ciclização do esqualeno, na conformação
cadeira-cadeira-cadeira, podendo, em seguida, ocorrer carboxilações, oxidações, oxidação de
grupos metila, surgimento de grupos formil (-CHO) ou hidroximetil (-CH2OH). Os resíduos de
açúcar são geralmente ligados ao 3-hidroxil, com 1-6 unidades de monossacarídeo, sendo a glicose
o mais comum, seguido de galactose, ramnose, arabinose, e unidades de ácido urônico (ácido
glucurônico e ácido galacturônico).

CO2H
E CO2H H
H
D H OH
C H OH 3
3
GlicO H
A B OH H CHO
CHO
Esqueleto triterpenoide ácido quiláico glicosídeo
pentacíclico aglicona

Figura 10. Formação básica das saponinas triterpênicas (Adaptado de Dewick, 2011).

As saponinas esteriodais possuem seis anéis e apresentam grande semelhança estrutural com
as saponinas triterpênicas, a diferença é que a conformação do epóxi-esqualeno, para a biossíntese
das agliconas esteroidais, é de cadeira-barco-cadeira, e não de cadeira-cadeira-cadeira, como ocorre
15

na biossíntese das agliconas triterpênicas. As saponinas esteroidais glicosiladas possuem de uma a


três unidades de monossacarídeos, também na posição C3.
As sapogeninas são esteróis com 27 carbonos, nos quais a cadeia lateral de colesterol sofre
modificação para produzir um espirocetal. A função espirocetal é derivada da cadeia lateral de
colesterol, através de uma série de reações de oxigenação, hidroxilação de C-16 em um dos grupos
metilas terminais, e em seguida, a produção de uma função cetona em C-22 (Figura 11).
O
22

H OH
H 27
16
H H
H H
3 HO
HO

colesterol

25
25
O
O
H
H
O
H 22
O
H 22 H
H H H
H H 3
HO
GlicO
diosgenina/ yamogenina
glicosídeo

Figura 11. Esquema da biossíntese das saponinas esteroidais (Adaptado de Dewick, 2011).

2.4 Glicosídeos cardiotônicos

Os glicosídeos cardiotônicos (ou cardioativos) compreendem uma classe de substâncias


químicas, formadas pela união de moléculas de açúcar (geralmente um monossacarídeo) e uma
aglicona (ou genina), caracterizada por apresentar como núcleo fundamental o
ciclopentanoperidrofenantreno.
Essa classe de metabólitos secundários é biossintetizada a partir do metabolismo do
colesterol, em que a cadeia lateral sofre clivagem oxidativa entre as hidroxilas, seguida pela
incorporação de dois ou três átomos de carbono, para a formação dos cardenolídeos ou
bufadienolídeos, respectivamente.
16

O encurtamento da cadeia lateral do colesterol ocorre devido à hidroxilação em C-22 e C-20,


seguida da quebra da ligação da C20-C22, formando a pregnenolona, a qual é então oxidada,
originado a progesterona. A progesterona pode ser reduzida e posteriormente hidroxilada,
(invertendo o centro estereoquímico da molécula) e após a inversão, ocorre uma segunda
hidroxilação na cadeia lateral em C21, formando a 3β,14β,21-trihidroxi-5β-pregnan-20-ona. Em
seguida pode ser adicionado a essa molécula, o malonil-CoA (2 átomos de carbono), na cadeia
lateral, que sofre lactonização, originando os glicosídeos cardenolídeos (ex. digitoxigenina).
Também pode ser adicionada à cadeia lateral da 3β,14β,21-trihidroxi-5β-pregnan-20-ona, uma
molécula de oxaloacetil-CoA (três átomos de carbono), formando os glicosídeos cardiotônicos
bufadienolídeos (ex. bufalina) (Figura 12). Outros glicosídeos cardiotônicos são formados por
hidroxilações e oxidações das moléculas formadas pelos processos anteriores.
17

20 22 O

O2 H
H
NADPH
H H
H H 3
3
HO
HO O2
pregnenolona
colesterol NADPH

OH
O O

H H

H OH H H
HO HO
H progesterona
3 beta, 14 beta, 21- trihidroxi-
5 beta-pregnan-20-ona
O CO2H
SCoA
HO2C SCoA
O O malonil-CoA O
O
oxaloacetil-CoA O

H OH
H
HO
H
H OH digitoxigenina
HO O
H
bufalina O O O

COH H H OH
H OH H OH
HO HO
OH H
hellebrigenina gitoxigenina

Figura 12. Esquema da biossíntese das agliconas dos glicosídeos cardiotônicos (Adaptado de
Dewick, 2011).

A parte da molécula formada por açúcar, pode ser formada por 1 até 4 monossacarídeos,
sendo que muitos deles são exclusivos para esse grupo de compostos, como é o caso da D-
digitoxose e D-digitalose (Figura 13). Os glicosídeos naturais também são subdivididos em quatro
grandes categorias, de acordo com o tipo de átomo da aglicona que se une a uma glicona (açúcar),
18

através de uma ligação glicosídica (com consequente perda de uma molécula de água): O-, C-, N- e
S-glicosídeos. Os mais comuns são os O-glicosídeos, onde a ligação glicosídica é formada a partir
de um grupamento hidroxila da aglicona e outro da molécula de açúcar.

OH

HO 6 6
MeO
O O
2 OH 3
OH OH
OH
D-digitoxose (A) D-digitalose (B) O O

OH

HO O H
O O O
O H OH
OH
O
OH H
OH
digoxina (C)

Figura 13. Estruturas químicas de alguns monossacarídeos encontrados nos glicosídeos


cardiotônicos (A e B) e do glicosídeo cardiotônico digoxina (C) (Adaptado de Dewick, 2011).

3. Via do Chiquimato

Essa via é usada apenas por microrganismos e plantas e é uma via para a síntese de
compostos aromáticos, particularmente os aminoácidos aromáticos: L-fenilalanina, L-tirosina e L-
triptofano.
Tal via inicia-se a partir de fosfoenolpiruvato (proveniente de glicólise) e da D-eritrose 4-
fosfato (oriunda da via das pentoses ou fotossíntese), formando o ácido chiquímico e esse, por sua
vez, dá origem aos compostos aromáticos (Figura 14). Os aminoácidos fenilalanina e tirosina
formam o fenilpropano, que é uma unidade básica presente em muitos produtos naturais (ácido
cinâmico, fenilpropanoides, cumarinas, lignanas, e flavonoides) e, juntamente com o triptofano, são
precursores de uma vasta gama de estruturas de alcaloides.
19

CO2H CO2H CO2H

ATP 2 reações
PO CO2H
HO OH 2 HOP
PO OH fosfoenolpiruvato O CO2H
OH OH OH
ácido chiquímico ácido chiquímico 3-fosfato ácido corísmico

CO2H CO2H
CO2H
O CO2H
NH2

OH
L-fenilalanina ácido fenilpirúvico
ácido prefênico

CO2H

O
CO2H
CO2H
NH2

OH
OH ácido 4-hidroxifenil- pirúvico
ácido L-arogênico

CO2H

NH2

OH
L-tirosina

Figura 14. Biossíntese dos aminoácidos aromáticos L-fenilalanina e L-tirosina (Adaptado de


Dewick, 2011).
3.1 Lignanas e lignina

A lignina é formada por acoplamento fenólico oxidativo de monômeros do álcool 4-


hidroxicinamil, álcool coniferil e/ou álcool sinapil, onde os monômeros usados variam de acordo
20

com o tipo de planta. Esses monômeros, por sua vez, são obtidos pela conversão da fenilalanina e
da tirosina em ácido cinâmico e ácido 4-cumárico, devido à perda do grupo -NH2; esse é reduzido,
via coenzima A, e, finalmente, ocorre a redução do aldeído a álcool pelo NADPH (Figura 15). A
lignina representa um vasto reservatório de materiais aromáticos, geralmente inexploradas por causa
das dificuldades associadas à liberação desses metabólitos.

CO2H CO2H

NH2

FAL

L-fenilalanina ácido cinâmico

O2
NADPH

CO2H CO2H
CO2H CO2H CO2H
NH2

HO HO MeO OMe
OH OH
OH OH OH
L-tirosina ácido 4-cumárico ácido caféico ácido ferúlico ácido sinápico

CoA CoA
CoA
NADPH NADPH NADPH

CO2OH CO2OH CO2OH

MeO MeO OMe


OH OH OH
álcool 4-hidroxicinamil álcool coniferil álcool sinapil

x2 POLÍMEROS xn
LIGNANAS LIGNINA

Figura 15. Formação das lignanas e lignina (Adaptado de Dewick, 2011).


21

As lignanas são formadas a partir de dímeros, que são formados por pela ligação de dois
monômeros dos álcoois, anteriormente citados. Alguns estudiosos restringem o termo lignana
especificamente a moléculas, em que as duas unidades de fenilpropano são acopladas ao carbono
central da cadeia lateral, enquanto os compostos que contenham outros tipos de acoplamentos, são
denominados neolignanas (Figura 16).

OH

OH
O
OMe OH
MeO
O OMe
O
HO
HO
Pinoresinol Álcool dehidrodiconiferil
(Lignana) OMe
(Neolignana)

Figura 16. Exemplo da ligação formadora das lignanas e das neolignanas, a partir do álcool coniferil
(Adaptado de Dewick, 2011).

3.2 Fenilpropanoides

Os fenilpropanoides também são derivados da rota que se inicia com a formação do ácido
chiquímico, dando origem à fenilalanina e à tirosina que, por sua vez, por ação da enzima
fenilalanina amonialiase (FAL), perdem uma molécula de amônia, resultando na formação dos
ácidos cinâmico e 4-cumárico, respectivamente, e, por meio de várias reações de redução, oxidação
e ciclização dão origem a diversos fenilporpanoides (Figura 17).
22

CO2H CO2H

NH2

FAL

L-fenilalanina ácido cinâmico

CO2H

CO2H
CO2H
HO OH
NH2
OH

Ácido chiquímico

OH
OH
L-tirosina ácido 4-cumárico
Oxidações
Reduções
Ciclizações

OH

R, R1 e R2 = OH, MeO, H, etc.


R R2
R R2 R R2
R1
R1 R1
álcool cinamil propenilfenol alilfenol

Figura 17. Esquema da biossíntese dos fenilpropanoides (Adaptado de Dewick, 2011).

Esses compostos apresentam em sua estrutura um anel aromático, como uma cadeia lateral,
composta de três carbonos que apresentam uma dupla ligação, podendo ter um grupo funcional que
contenha oxigênio. Apresentam também baixo peso molecular e estão presentes na composição de
diversos óleos essenciais. Como exemplo de fenilpropanoides tem-se o cinamaldeído, acetato de
cinamil, eugenol, anetol, entre outros (Figura 18).

OCOCH3
CHO

MeO
OMe OH
cinamaldeído acetato de cinamil anetol eugenol
23

Figura 18. Estruturas químicas de alguns fenilpropanoides (Adaptado de Simões et al., 2007).

3.3 Cumarinas

As cumarinas são derivadas do metabolismo da fenilalanina, sendo um dos seus primeiros


precursores o ácido 2-coumárico (orto-hidroxi-cinâmico), que em seguida sofre lactonização da
cadeia lateral, dando origem a cumarina. De acordo com alguns autores, embora a hidroxilação
direta do anel aromático dos ácidos cinâmicos ocorra, preferencialmente, na posição C4 do anel
aromático, a partir da cadeia lateral (posição para), também pode ocorrer a hidroxilação na posição
C2 (posição orto). Após essa hidroxilação e lactonização da cadeia lateral há a formação da
cumarina e, a partir do ácido 4-cumárico, pode ocorrer uma hidroxilação subsequente, na posição
orto (posição C2), formando como intermediário, o ácido 2,4-dihidroxi-cinâmico, que após
lactonização da cadeia lateral, dá origem a outra cumarina, a umbeliferona. A formação de di- e
trihidroxicumarinas e seus ésteres envolvem a modificação da umbeliferona, e não a lactonização
dos ácidos cinâmicos correspondentes (Figura 19).

CO2H CO2H

4 2
OH CO2H
OH O O
ácido cinâmico ácido 2-cumárico cumarina

CO2H CO2H

CO2H
HO HO OH HO OH HO O O
ácido 4-cumárico ácido 2,4- dihidroxi-cinâmico umbeliferona

MeO MeO HO

GlicO O O HO O O HO O O
escopolina escopoletina esculetina

Figura 19. Esquema da biossíntese das cumarinas (Adaptado de Dewick, 2011).


24

A adição do grupo prenil, por meio do DMAPP, ao anel benzênico, nas posições C6 e C8 da
umbeliferona, é o passo principal para a formação das furano e piranocumarinas. A formação desses
compostos envolve a epoxidação (oxidação da dupla ligação) do grupo prenil, seguida da adição da
hidroxila. Dependendo do local da adição, se originam as piranocumarinas ou as furanocumarinas.
A prenilação na posição C6 origina as furano e piranocumarinas lineares, e na posição C8, origina as
angulares (Figura 20). O psoraleno pode atuar como precursor para as furocumarinas lineares, por
posteriores substituições no anel aromático (ex. bergapteno, xantotoxina e isopimpinelina).

6 O
HO O O Epoxidação
umbeliferona
HO O O HO O O
DMAPP

DMAPP

HO
HO 8 O O HO
O O O O O O

Furanocumarinas Piranocumarinas
lineares lineares

HO O O
O
O O O O O O

Psoraleno Xantiletina

O O O
O O O
Piranocumarinas
OH angulares
Furanocumarinas
HO angulares

O O O
O O O

Seselina
Angelicina

Figura 20. Esquema da biossíntese das furano e piranocumarinas (Adaptado de Simões et al., 2007).
25

3.4 Xantonas e Cromonas

As xantonas são compostos fenólicos heterocíclicos, que têm por base o núcleo de dibenzo-
γ-pirona (Figura 21). A biossíntese de xantonas em plantas superiores está bem determinada,
seguindo a via acetato-chiquimato. Em determinados tipos de organismos, como os fungos e
líquens, o padrão de oxigenação das xantonas é diferente, o que permite sugerir a sua origem pela
via poliacetato.
O
8 1
7 2
B A
6 3
O
5 4
dibenzo-gama-pirona

Figura 21. Núcleo básico das xantonas - dibenzo-γ-pirona (Adaptado de Simões et al., 2007).

A partir de dois precursores biossintéticos distintos, o ácido chiquímico e o malonil-CoA


(via do acetato), ocorre a formação de um intermediário comum, uma benzofenona, com um anel
aromático proveniente da rota do ácido chiquímico (B), que pode conter caracteristicamente grupos
hidroxila em C5 e/ou C7, e outro da rota do malonil-CoA (A) de acordo com a figura abaixo (Figura
22).
26

CO2H
CO2H CO2H HO CO2H SCoA
B +3
O
ácido cinâmico ácido benzóico ácido m-hidroxibenzóico malonil-CoA

O O
O OH
HO
HO O
A B
B
CoAS O
HO OH

2, 3', 4, 6 - tetrahidroxibenzofenona

O OH O OH
O HO
B A B A
O OH O OH

1, 3, 7- trihidroxixantona

Figura 22. Esquema de biossíntese das xantonas (Adaptado de Missau, 2008).

Além das hidroxilações que podem ocorrem na estrutura básica das xantonas, outras
transformações associadas à biossíntese de xantonas naturais são a metilação de um ou mais grupos
hidroxi, levando a xantonas metoxiladas ou com grupos metilenodioxi. É comum também a
formação de xantonas preniladas e glicosiladas. A prenilação ocorre preferencialmente após a
formação do esqueleto da xantona e a glicosilação, ocorre preferencialmente no intermediário
benzofenona. Uma característica marcante do substituinte prenil é a ciclização oxidativa, com um
grupo hidroxila em posição orto, formando um anel cromeno, e estas são denominadas de
piranoxantonas (Figura 23).
O OH O OH

O O
OH O
xantona prenilada piranoxantona

Figura 23. Estruturas da xantona prenilada e da piroxantona (Adaptado de Missau, 2008).


27

As cromonas são compostos heterocíclicos, que consistem na fusão de um anel benzênico


com um anel de pirona. O composto mais simples dessa família é a própria cromona (4H-cromen-4-
ona, 4H-1-benzopiran-4-ona) (Figura 24).
8 1
O
7 2
3
6
5 4
O
cromona

Figura 24. Estrutura e numeração da cromona (Adaptado de Simões et al., 2007).

As cromonas naturais mais abundantes são aquelas que possuem substituintes nas posições
C2 e C3, por outro anel benzênico, sendo designadas por flavonas e isoflavonas, respectivamente, e
por esse motivo, é recorrente a sua inclusão no grupo dos flavonoides (ver Flavonoides). Esses
compostos constituem um conjunto importante de substâncias biologicamente ativas,
maioritariamente de origem natural, estando presentes em grande abundância no reino vegetal.

3.5 Flavonoides

Os flavonoides são uma classe de compostos polifenólicos que diferem entre si pela
estrutura química e características particulares. A biossíntese desses compostos ocorre por uma via
mista, entre a via do ácido chiquímico e a do acetato. O ácido chiquímico é o precursor do
composto inicial da síntese dos flavonoides, a fenilalanina. Esse aminoácido aromático depois de
desaminado pela fenilalanina amonialiase (PAL) produz ácido cinâmico, que por ação da 4-
hidroxilase cinamato é convertido em ácido p-cumárico (4-cumárico). Posteriormente, ocorre a
adição da CoA, catalisada pelo p-cumarato-CoA liase, originando a p-cumaroil-CoA, que ao reagir
com três moléculas de malonil-CoA forma a naringenina chalcona. Essa reação é catalizada pela
chalcona sintetase. Finalmente, ocorre a ciclização do anel C, catalizada pela chalcona isomerase,
para formar a naringenina. Dessa forma, nos flavanoides, o anel A é formado via acetato, enquanto
o B resulta da via chiquimato e os três átomos de carbono, que ligam o anel A ao B, derivam do
fosfoenolpiruvato (Figura 23). Quando ocorre a redução da molécula, após a adição do malonil-
CoA, há a formação de uma chalcona, a isoquiritigenina, que após a ciclização forma a
liquiritigenina (Figura 25). As estruturas apresentadas na figura ilustram os diferentes padrões de
oxigenação, característicos em anéis aromáticos derivados das vias do acetato ou chiquimato.
28

SCoA
CO2H
O
B SCoA
HO 3
O
p-cumaroil-CoA malonil-CoA

OH OH
SCoA O SCoA
O B B

O O
NADPH

(redutase)
O O OH O

Chalcona
Chalcona sintase
sintase
OH
OH
B
HO OH
B
HO OH A
A

O
OH O
isoliquiritigenina chalcona
naringenina chalcona (uma chalcona)
(uma chalcona)

OH
OH
B
B HO O
HO O
A C
A C

O
OH O
isoliquirtigenina
naringenina (uma flavonona)
(uma flavonona)

Figura 25. Esquema da biossíntese dos flavonoides (Adaptado de Dewick, 2011).

Os flavonoides podem ocorrer como agliconas ou glicosídeos (a uma molécula de glicose


ligada ao anel aromático). Os compostos pertencentes a essa classe são subdivididos nas subclasses:
chalconas, dihidrochalconas, auronas, flavonas, flavonóis, dihidroflavonois, flavanonas, flavanois,
flavandiois, antocianidinas, isoflavonoides, bioflavonoides e proantocianinas. As chalconas são
precursores de muitos derivados de flavonoides, encontrados em todo o reino vegetal, como as
flavononas e essas, por sua vez, podem então dar origem a muitos outros flavonoides, como, por
exemplo, flavonas, flavonóis, antocianidinas, e catequinas (Figura 26). Outros compostos podem ser
29

formados por mudanças na hidroxilação, metilação, glicosilação, e dimetilalilação nos dois anéis
aromáticos.
OH OH

HO O HO O
R O2 R
2-oxoglutarato R = H, apigenina
R= OH, luteolina
(flavonas)
OH O OH O

R = H, narigenina
R= OH, eriodictiol
(flavanonas)
O2 OH
2-oxoglutarato
OH HO O
R
O2
HO O 2-oxoglutarato
R
OH R = H, kaempferol
OH O R= OH, quercetina
OH R = H, dihidrokaempferol (flavonóis)
OH O R= OH, dihidroquercetina
(dihidroflavonóis)

NADPH

OH OH
OH
HO O HO O
R O R

OH R = H, leucopelargonidina OH
OH OH R= OH, leucocianidina OH OH
(flavandiois; leucoantocianidinas)

- H2O
NADPH

OH OH

HO O HO O
R R

OH R = H, afzalechina OH R = H, perlagonidina
OH R= OH, (+)-catequina OH O R= OH, cianidina
(catequinas) (antocianidinas)

Figura 26. Esquema da biossíntese de algumas subclasses dos flavonoides (Adaptado de Dewick,
2011).

3.6 Antraquinonas

As antraquinonas também são denominadas antranoides, derivados antracênicos ou


derivados hidroxiantracênicos. A biossíntese desses compostos tem como precursores o ácido
chiquímico e o acetato, ou apenas o acetato (como demonstrado anteriormente – Via do Acetato),
sendo que no primeiro caso, o ácido chiquímico reage com o ácido α-cetoglutárico, oriundo da
30

desaminação do ácido glutâmico ou do ciclo do ácido cítrico, produzindo o ácido o-


succinilbenzóico. O ácido 1,4-dihidróxi-2-naftoico (produto da redução do ácido o-
succinilbenzóico) combina-se com o ácido mevalônico (proveniente do acetato), originando uma
antraquinona (Figura 27). Algumas pesquisas indicam que a biossíntese desses compostos acontece
através da via do chiquimato-acetato, em vegetais superiores e que, antraquinonas com dois
grupamentos cetônicos nas posições C9 e C10, ocorrem naturalmente em plantas.

HO2C

O CO2H
O CO2H
HO
ácido corísmico HO2C CO2H
ácido alfa-cetoglutárico
(Ciclo de Krebs/ HO OH
desaminação ácido glutâmico) OH
+ TTP ácido chiquímico
HO2C
- CO2
OH
O CO2H OH
+
TTP CO2H

semi-aldeído sucínico
ácido isocorísmico ânion TTP (coenzima tiamina difosfato)

OH CO2H
CO2H CO2H

CO2H
O
O ácido o-succinilbenzóico

- HSCoA HSCoA
ATP

OH
CO2H

HO CO2H +
OH
OH
ácido mevalônico ácido 1,4-dihidroxi-2-naftóico

OH O OH
CO2H

OH O
ácido 1,4-dihidroxi-3-prenil-2-naftóico
ANTRAQUINONA
31

Figura 27. Esquema da biossíntese das antraquinonas (Adaptado de Campestrini, 2007).

3.7 Taninos

Os taninos são uma classe de compostos fenólicos de grande complexidade e importância,


são classificados, de acordo com a estrutura química, em dois grupos: hidrolisáveis e condensados.
Os taninos hidrolisáveis consistem de ésteres de ácidos gálicos e ácidos elágicos
glicosilados, (geralmente ligados a β-D-glicose) formados a partir do chiquimato, onde os grupos
hidroxila do açúcar são esterificados com os ácidos fenólicos. O ácido gálico é um ácido benzóico,
derivado do ácido cinâmico, proveniente da via do chiquimato (Figura 28).

CO2H CO2H

NH2

FAL

L-fenilalanina ácido cinâmico

O2
NADPH

CO2H CO2H
CO2H CO2H
NH2

HO OH
HO
OH OH
OH OH ácido 2,4,5-hidroxi-cinâmico
L-tirosina ácido 4-cumárico ácido caféico

CO2H CO2H

HO HO

OH OH
ácido gálico
ácido protocatecuárico

Figura 28. Esquema simplificado da biossíntese do ácido gálico (Adaptado de Simões et al., 2007).

O ácido gálico reage com a UDP-glicose (Ureadina difosfato-glicose), formando o


intermédiario β-glicocalina, que origina a 1, 2, 3, 4, 6-pentagaloil-D-glicose, molécula que, após
32

transformações oxidativas, leva a formação dos galotaninos e elagitaninos. Existem três rotas de
biossíntese dos taninos hidrolisáveis: na primeira rota, emprega-se a adição de grupos galoila a 1, 2,
3, 4, 6-pentagaloil-D-glicose, por meio de ligações m-depisídicas. Na segunda rota, duas moléculas
de ácido gálico vizinhas (da 1, 2, 3, 4, 6-pentagaloil-D-glicose) se condensam e, em seguida, esse
composto (monômero) pode se ligar a outros, formando dímeros, trímeros e oligômeros. Ainda
pode ocorrer a hidrólise enzimática da ligação éster no C1, deixando a hidroxila livre. Na terceira
rota, emprega-se a glicose na conformação de cadeira, com substituintes na posição axial (Figura
29).
G
GO
GO OG
G GO OG
OG GO Rota 3
G GO Rota 1 O O
O
OG
OG OG OG
OG
1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose OG

Rota 2
G G
O O
G G
O O
O Dímeros
GO O
Dímeros O
G G
OG OG
OG O

hidrólise hidrólise

G G
O O
G G
O O
GO O
O O
G G
OH OH
OG O

O
OH
HO
HO
O
G G HO O G G
HO
O
HO
OH
O
- HO
O OH
OH

Figura 29. Esquema simplificado da biossíntese dos taninos hidrolisáveis (Adaptado de Simões et
al., 2007).
33

Os taninos condensados ou proantocianidinas são polímeros de flavan-3-ol e/ou flavan-3,4-


diol (leucocianidinas), produtos do metabolismo do chiquimato e via do acetato (conforme visto em
Flavonóides). Os dihidriflavonóis são reduzidos a leucoantocianidinas, que por sua vez originam as
catequinas, que sofrem redução no C4. As proantocianidinas (taninos condensados) provavelmente
são originadas por uma reação de condensação entre leucoantocianidinas e catequinas (Figura 30).

OH
OH
HO O
H HO O
H

OH O OH dihidrokaempferol
OH O (dihidroflavonóis)
narigenina
(flavanonas)

OH OH

HO O HO O
OH OH
4
OH OH
leucocianidina OH O
OH OH dihidroquercetina
(flavandiois; leucoantocianidinas)
(dihidroflavonóis)

OH

HO O
OH
4
OH (+)-catequina
OH (catequinas)

Figura 30. Esquema simplificado da biossíntese dos taninos condensados (Adaptado de Dewick,
2011).

3.8 Alcaloides

A biossíntese dos alcaloides inclui sempre pelo menos um aminoácido, a esses aminoácidos
são também incorporadas outras unidades provenientes de piruvato, malonato ou mevalonato.
34

Assim, com precursores de origem biossintética tão distintas, é fácil entender a complexidade e
diversidade estrutural dessa classe de metabólitos, sendo hoje conhecidos mais de 5 000 alcaloides.
Os alcaloides são classificados de acordo com o aminoácido que fornece, tanto o átomo de
nitrogênio, quanto a parte fundamental do esqueleto da molécula. Os aminoácidos alifáticos ornitina
e lisina dão origem aos alcaloides como núcleos pirrolizidínicos, tropânicos, pirrolidínicos,
piperidínicos, quinolizidínicos e indolizidínicos e o ácido aspártico dá origem aos alcaloides
piridínicos (Figura 31). Os aminoácidos aromáticos histidina, triptofano, tirosina e fenilalanina
originam os alcaloides com núcleos indólicos, isoquinolínicos e o ácido antranílico origina os
alcaloides quinolínicos, quinazolínicos, benzoxazínicos (Figura 32).

CO2H N
NH2
Pirrolizidínicos
NH2

L-Ornitina
H N

Tropânicos

N
Pirrolidínicos CO2H

HH2
Ácido Aspártico
CO2H
HO2C CO2H
NH2 HO2C
O
ácido glutâmico ácido alfa-cetoglutárico

N
Piridínicos
H2N H2N CO2H

Lisina

N
N
H Indolizidínicos

Piperidínicos N

Quinolizidinicos
35

Figura 31. Esquema simplificado da biossíntese dos alcaloides derivados da lisina e ornitina,
aminoácidos alifáticos (Adaptado de Simões et al., 2007).
CO2H CO2H
NH2

CO2H N
OH Ácido Antranílico quinolínicos

ácido corísmico
N

quinazolínicos
CO2H
HO2C CO2H
O
O NH2
N
N
H
OH benzoxazínicos
L-Triptofano
Ácido prefênico

N
CO2H CO2H
indólicos
NH2 NH2

CO2H
L-Fenilalanina L-Tirosina
N N
NH2 N
N
Histidina imidazólicos

isoquinolínicos

Figura 32. Esquema simplificado da biossíntese dos alcaloides derivados da fenilalanina, tirosina
(aminoácidos aromáticos) e ácido antranílico (Adaptado de Simões et al., 2007).
36

Referências

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39

CAPÍTULO 2

PREPARO E EXTRAÇÃO DE DROGAS VEGETAIS

Lúcia Helena Almeida Gratão


Guilherme Nobre Lima do Nascimento

1. Introdução

A procura por compostos bioativos se inicia por estudos prévios de etnofarmacologia, a fim
de direcionar a procura por espécies de plantas já utilizadas pela população com finalidade
terapêutica. Outra forma de busca está na abordagem quimiotaxonômica ou filogenética, com foco
em espécies de famílias e gêneros de plantas em que já foram identificados a presença de classes de
compostos com atividades biológicas. Em ambos os casos há a tentativa de se reduzir tempo e
gastos com as pesquisas.
Os estudos com plantas medicinais e fitoterapia envolvem uma série de conhecimentos tais
como a química, botânica, toxicologia, farmacologia entre outros, logo é necessário a todos os
estudantes interessados nesta área ter uma abordagem multidisciplinar.
A produção de um medicamento fitoterápico ou a testagem da segurança e formas de uso de
plantas in natura seguem em geral etapas de estudos já conhecidas, entre elas: i) coleta e
classificação botânica; ii) preparo, que envolve a sanitização, secagem, moagem e armazenamento;
iii) extração; iv) análise fitoquímica; v) testes biológicos entre outros (Fig. 1).

Figura 1. Fluxograma de um estudo com plantas medicinais.


40

2. Coleta, preparo e identificação botânica

A coleta e preparo inicial do material vegetal requer alguns cuidados, entre eles:
i) Local da coleta – locais diferentes apresentam solo, clima, oferta de água e umidade, todos
fatores que influenciam no metabolismo da planta, consequentemente leva a síntese de
compostos diferentes. É importante registrar a localização da coleta com o auxílio de um
GPS;
ii) Data e horário das coletas – as plantas podem modificar seu metabolismo pelas diferentes
épocas do ano e até mesmo durante o dia;
iii) Parte da planta desejada – coletar exatamente a parte da planta de interesse;
iv) Acondicionamento e identificação em sacos plásticos para transporte;
v) Pesagem do material úmido;
vi) Sanitização;
vii) Secagem em estufa a 40°C – o tempo necessário vai depender da parte da planta coletada;
viii) Pesagem do material seco;
ix) Moagem;
x) Pesagem do material triturado;
xi) Armazenamento – em recipientes esterilizados, e sob o abrigo da luz e umidade.
41

Os itens ii ao iii podem ser obtidos através de estudos etnofarmacológicos. Além disto, cinco
amostras da espécie devem ser coletadas para confecção de exsicatas e depósito em herbário para a
correta identificação, além de uma destas ficar em posse do pesquisador para arquivo.

3. Extração

A extração refere-se a separação, mediante uso de solventes, dos metabólitos do material


vegetal (MV). A etapa de moagem é imperativa para favorecer a extração, uma vez que é necessário
aumentar a superfície de contato entre o MV e o solvente extrator, portanto quanto mais denso a
parte da planta coletada, menor deverá ser a granulometria.
Outro fator é a escolha do solvente. Em geral os compostos bioativos são solúveis em
soluções hidroalcoolicas (etanol ou metanol) a 80%, sendo este o solvente de preferência para obter
o extrato bruto. Os demais solventes são listados na tabela abaixo com os diferentes compostos que
extraem (Tab. 1).

Tabela 1. Solventes mais utilizados em processos extrativos, e as principais substâncias extraídas.


Solvente Substâncias extraídas
Éter de petróleo Lipídeos, ceras, pigmentos,
furanocumarinas
Hexano

Diclorometano Óleos voláteis, glicosídeos


cardiotônicos, bases livres de
Clorofórmio alcalóides
Acetato de etila Flavonóides, cumarinas livres
Etanol, metanol heterosídeos em geral
Água acidificada Alcalóides
Água alcalinizada Saponinas

A escolha do solvente deve levar em consideração sua toxicidade, logo uma vez utilizado
solvente tóxico, como o metanol, o mesmo tem que ser completamente eliminado do extrato.
No processo de extração podemos utilizar o aumento da temperatura para facilitar a
solubilidade, porém muitos compostos passam a ser degradados ou mesmo volatilizados neste
processo.
42

3.1. Maceração

Consiste em manter o material vegetal em contato com a solução extratora, em


temperatura ambiente, em ambiente fechado, por longos períodos de tempo, variando de 2 até 14
dias (processo estático), onde se estabelece ao final um equilíbrio entre a solvente e o interior das
células, ponto de saturação. É escolhido por não necessitar de aumento de temperatura, porém
depende de um solvente não volátil a esta temperatura.
Variações na técnica de maceração, visam aumentar a extração da droga e diminuir o tempo
do processo: i) digestão: envolve o aumento da temperatura para em torno de 40 a 60°C; ii)
maceração dinâmica: feita sobre agitação constante; iii) remaceração: quando o mesmo MV entra
em contato repetidas vezes com um solvente renovado.
Este método apresenta como desvantagem a lentidão do processo, e a possibilidade de
contaminação da amostra quando utilizadas misturas com altas concentrações de água.

3.2. Percolação

Consiste em passar o líquido extrator pelo MV, com o uso de aparelho conhecido como
percolador, recipiente cônico ou cilíndrico. Este processo leva ao esgotamento da droga, e obtém-se
extratos mais concentrados e ricos em metabólitos.
Para se iniciar o processo de percolação, é necessário umidificar/intumescer o MV, para
então leva-lo ao percolador. O empacotamento do material intumescido no percolador é um ponto
crítico, caso não se apresente homogênea ou muito compacta, dificulta o processo. Outro parâmetro
a ser observado é a altura do enchimento que deve estar em uma proporção de 5:1 em relação ao
diâmetro do percolador. Por último, a velocidade de fluxo depende da granulometria do MV.
Partículas inferiores a 1 mm, podem gerar compactações excessivas, portanto se faz necessário
fluxo menor. Para partículas entre 1 e 3 mm, as velocidades variam entre 0,5 a 5 mL/min/Kg.
Uma das desvantagens nesta técnica é o uso excessivo de solventes para gerar o
esgotamento do MV estudado.

3.3. Extração sob refluxo e em aparelho de Soxhlet

A técnica de extração sob refluxo consiste em extrair o MV sob aumento de temperatura, e o


recipiente de extração deverá ser acoplado a um condensador para que o solvente evaporado seja
recapturado novamente para o recipiente.
43

A extração com aparelho de Sxohlet força a passagem do solvente diversas vezes pelo MV,
sob aumento de temperatura. Em ambos os casos são necessários os cuidados já mencionados para o
aumento de temperaturas, porém apresenta como vantagem o menor uso de solventes.

3.4. Demais técnicas

Infusão: extração pela permanência do MV em água fervente, em recipiente fechado por


determinado período de tempo. Indicado para partes da planta menos rígidas.
Decocção: esta técnica consiste na permanência do MV em contato com água em ebulição
por determinado período de tempo. Indicado para partes com características rígidas.
Turbolização: a redução no tamanho das partículas ocorre em presença do solvente, com isto
forçando a saída dos metabólitos das células para o líquido extrator. Esta técnica diminui o tempo
de extração de horas ou dias, para minutos.
Ultrasons: utiliza correntes de alta frequência para romper as estruturas celulares e expor
seus metabólitos.

4. Formas de uso popular das plantas medicinais e especialidades farmacêuticas

A população utiliza as plantas medicinais de diferentes formas dentre as quais temos:


i) Chá;
ii) Alcoolatura ou alcoolato;
iii) Banhos;
iv) Nebulização;
v) Xarope.
Estas variadas formas de uso de plantas variam de acordo com a planta, com a finalidade e
principalmente pelas comunidades na qual estes conhecimentos estão inseridos. Uma das
finalidades dos estudos etnofarmacológicos está na identificação deste uso.
Vale ressaltar que normalmente o termo chá, incorpora duas formas de preparo, a decocção
e a infusão, e as vezes até mesmo a percolação, portanto ao fazer um estudo de identificação deste
uso pela população, é necessário detectar também o que os termos, como chá e banho, representam.
Quanto as formas de apresentação farmacêuticas podemos destacar:
i) Cápsulas;
ii) Comprimidos:
iii) Solução (forma líquida que apresenta a droga vegetal dissolvida);
iv) Xarope (contém pelo menos 45% (p/p) de sacarose);
44

v) Elixir (preparações hidroalcoolicas com porcentagem entre 20 a 50% de etanol);


vi) Espíritos (preparações hidroalcoolicas, normalmente a 5ª%, em que são dissolvidos
compostos aromáticos);
vii) Extrato sexo (preparações sólidas, obtidas pela evaporação do solvente utilizado na
preparação).
Estas preparações são realizadas em indústrias ou em farmácias magistrais tendo como base
as resoluções estabelecidas pela Anvisa, a planta e a finalidade terapêutica desejada.
Em todas as apresentações é imperativo o controle de qualidade da matéria prima utilizada
para garantir o teor de compostos ativos presentes a fim de garantir o melhor resultado para o
paciente.
45

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46

CAPÍTULO 3

ALCALOIDES

Ila Raquel Mello Cardoso


Taisa Tavares dos Santos
Renata Junqueira Pereira

Definições

Alcaloides (termo linguisticamente derivado da palavra árabe alquali, denominação vulgar


da planta da qual a soda foi originalmente obtida), são compostos nitrogenados,
farmacologicamente ativos, sendo encontrados predominantemente nas angiospermas. Na sua
grande maioria, possuem caráter alcalino.
São substâncias orgânicas, de origem natural, cíclicas, contendo um nitrogênio em um
estado de oxidação negativo e cuja distribuição é limitada entre os organismos vivos.
Os alcaloides contendo um átomo de nitrogênio em um anel heterocíclico são chamados de
alcalóides verdadeiros e são classificados de acordo com o sistema anelar presente na molécula. As
substâncias com o átomo de nitrogênio, não pertencente a um sistema heterocíclico, são
denominadas de protoalcaloides. Compostos nitrogenados, com e sem anéis heterocíclicos, que não
são derivados de aminoácidos, são chamados de pseudoalcaloides.
Tem sido observado que muitas plantas que produzem alcalóides são evitadas por animais
ou insetos em sua dieta, isso certamente devido à sua toxicidade ou ao fato de que a maioria dos
alcaloides possui gosto amargo. Os alcaloides parecem atuar de forma análoga a hormônios
reguladores de crescimento, muito provavelmente inibidores de germinação, devido ao seu poder
citotóxico. Os alcaloides também possuem um comprovado papel na defesa contra a invasão de
microorganismos e vírus no vegetal produtor, além disso, oferecem proteção contra a radiação
ultravioleta, devido a presença de compostos com núcleos aromáticos, altamente absorventes dessa
radiação.
A biossíntese dos alcaloides vem sendo extensivamente estudada, contudo as rotas
metabólicas não foram ainda completamente delineadas, em termos bioquímicos, pois muitas das
enzimas envolvidas nas diversas etapas não foram ainda isoladas e caracterizadas.
47

Métodos de extração e obtenção

Devido à presença do átomo de nitrogênio, contendo um par de elétrons não compartilhados,


os alcaloides são substâncias com caráter básico e possuem propriedades químicas que se
assemelham àquelas da amônia.
Como os alcaloides apresentam grande heterogeneidade química, não podem ser
identificados em extratos vegetais com apenas um único critério cromatográfico. Usualmente os
métodos de detecção são precedidos de uma extração e consistem de reações de precipitação com
reativos específicos. Os alcaloides, semelhantemente a outras aminas, formam sais complexos com
compostos de mercúrio, ouro, platina e outros metais. Esses sais são usualmente obtidos na forma
de precipitados e muitos deles podem ser utilizados para caracterização microcristalográfica. A
maioria dos alcaloides precipita em soluções neutras ou levemente ácidas.
Para a extração do alcaloide trigonelina, presente no café, foi utilizado metanol 70% a 60ºC
e quantificação por cromatografia líquida de alta eficiência (AGUIAR et al., 2005).
Silva et al. (2007), utilizaram o método usual ácido base para obter os extratos alcaloídicos
de três espécies vegetais da família Annonaceae: Duguetia furfuracea, D. glabriuscula e Unonopsis
lindmanii.
A caracterização preliminar dos alcaloides pode ser realizada através de cromatografia em
camada delgada, utilizando-se gel de sílica ou óxido de alumínio como suporte (Simões et al.,
2007). Silva et al. (2007), confeccionaram placas cromatográficas em camada delgada e
preparativa, de sílica-gel impregnada com ácido acético, cítrico e oxálico. Observaram que as placas
impregnadas com ácido oxálico mostraram-se mais satisfatórias na separação dos alcaloides
oxaporfínicos.
Com a utilização de placas cromatográficas preparativas de sílica-gel e impregnadas com
ácido oxálico, foi possível separar misturas de dois ou mais alcaloides oxaporfínicos, como
liriodenina e lisicamina, da espécie Unonopsis lindimani; e lanuginosina, oxobuxifolina e O-
metilmoscatolina, de Duguetia glabriúscula (Silva et al., 2007).

Fontes vegetais

Os alcaloides podem ser encontrados em todas as partes de um vegetal, contudo em um ou


mais órgãos haverá um acúmulo preferencial dessas substâncias. Esse acúmulo ocorre
principalmente em quatro tipos de tecidos ou células: tecidos com crescimento ativo; células
epidérmicas e hipodérmicas; bainhas vasculares e vasos lactíferos.
48

Silva et al. (2007), conseguiram realizar a separação dos seguintes alcaloides: lisicamina e
liriodenina, das cascas do caule de U. lindimanii; lanuginosina, oxobuxifolina e O-
metilmoscatolina, foram obtidas das cascas do caule de D. glabriúscula; aterospermidina foi
separada dos ramos aéreos de D. furfuracea.
Com relação à sua localização intracelular, são sintetizados no retículo endoplasmástico,
concentrando-se, em seguida, nos vacúolos e, dessa maneira, não aparecem em células jovens antes
de ocorrer a formação dessas estruturas. O local de estoque dos alcaloides é diferente daquele no
qual esses são sintetizados, por serem potencialmente perigosos a saúde do próprio vegetal
produtor.
Foram isolados das cascas do caule de Ocotea duckei, três alcaloides benzilisoquinolínicos:
reticulina, coclaurina e N-acetilnorjuzifina. Essas substâncias foram isoladas por métodos
cromatográficos e identificadas por espectroscopia (DIAS et al., 2003).
Da árvore Xylopia langsdorffiana foram identificados quatro alcaloides: coritenchina,
xylopinina, discretamina e xylopina (SILVA et al., 2007).
Foram encontrados no gênero Ocotea, 54 alcaloides aporfinoides, sendo 39 aporfínicos, 4
oxoaporfínicos, 5 6a,7-diidroaporfínicos, 1 dideidroaporfínico, 1 C-3-O-aporfínico, 1 C-4-O-
aporfínico, 2 fenantrenos e 1 pró-aporfínico, distribuídos em 17 diferentes espécies do gênero. Além
disso, foram isolados e identificados alguns alcaloides aporfinoides não usuais, dentre os quais
podemos citar a variabilina, a ococriptina e a N-óxido dicentrina (ZANIN; LORDELLO, 2007).

Efeitos no organismo produtor

Devido a seu amargor e toxicidade, atuam como repelentes de herbívoros. Alguns, como os
alcaloides pirrolizidínicos, são utilizados por determinado grupo de borboletas para defesa contra
predadores como as aranhas, outros, são utilizados para síntese de feromônios, necessários ao
acasalamento e provém das plantas que servem de alimentos às lagartas.

Efeitos no organismo humano

Algumas espécies são tóxicas para o homem, como por exemplo, a beladona, que serve de
alimento para coelhos, os quais possuem sistema enzimático passível de hidrolizar a atropina,
tornando esse produto desprovido de toxicidade.
A presença de alcaloides pode ser assinalada em ampla gama de atividades biológicas,
como, emetina (amebicida e emético), atropina, hiosciamina e escopolamina (anticolinérgicos),
49

reserpina e protoveratrina A (antihipertensivos), quinina (antimalárico), vincristina (antitumoral),


codeína e noscapina (antitussígenos), morfina (hipnoanalgésico).
Diversos alcaloides são utilizados atualmente em terapêutica, na forma pura ou em
associação, e também na forma de derivados. Outros são utilizados como matéria prima para a
síntese de fármacos.

ALCALOIDES INDÓLICOS

Essa classe de compostos pode ser subdividida em dois grupos: um grupo maior, com
alcaloides conhecidos como indólicos monoterpênicos, e outro, com os demais alcaloides indólicos.

Caracterização química do metabólito

Os alcaloides indólicos podem ser classificados de acordo com as características de seu


esqueleto. O sistema indólico é derivado do aminoácido L-triptofano, que é descarboxilado pela
enzima triptofano descarboxilase, formando triptamina.
Os alcaloides indólicos monoterpênicos são, quase sempre, produtos de condensação da
triptamina com o secoiridoide secologanina, que é formado a partir do monoterpeno pirofosfato de
geranila.

Métodos de extração e obtenção

Os alcaloides são compostos básicos, geralmente solúveis em soluções aquosas ácidas e


insolúveis em soluções básicas. Pode-se obter uma fração contendo alcaloides, por uma simples
extração ácido-base. Para sua detecção podem ser utilizados os reagentes normalmente utilizados
para a detecção de alcaloides, por exemplo, reagente de Dragendorff e reagente de Mayer.
Para extração de alcaloides indólicos podem ser utilizados os métodos normalmente
aplicados para outros alcaloides. Geralmente o material seco é extraído com solventes orgânicos ou
com água acidificada. Quando a extração é feita com solventes orgânicos imiscíveis em água, como
o éter e o clorofórmio, o material é alcalinizado antes de ser extraído.
HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT (2010) utilizaram o método de maceração contínua
das serragens das cascas para extração do extrato alcaloídico da planta Aspidosperma vargasii.
O método mais frequentemente utilizado é a extração do material seco com solventes
orgânicos miscíveis em água, como o etanol ou o metanol.
50

Vários métodos podem ser aplicados para a purificação dos alcaloides. O método utilizado
com maior freqüência para a purificação, é a cromatografia em coluna de gel de sílica (SIMÕES et
al., 2007). Em Cromatografia em Camada Delgada, as substâncias são evidenciadas pelo uso de
radiação ultravioleta, sob comprimentos de onda entre 254 e 366 nm, e pela impregnação das placas
em cubas de vidro saturadas por vapores de iodo, anisaldeído e reagente de Dragendorff (para
revelação de compostos nitrogenados) (HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT, 2010).

Fontes vegetais

A maioria dos alcaloides indólicos é encontrada em três famílias da ordem Gentianales:


Loganiaceae, Apocynaceae e Rubiaceae.
Nas plantas do gênero Aspidosperma existem mais de 100 alcaloides indólicos, e tais plantas
são caracterizadas pela incidência de uma grande quantidade e diversidade estrutural desses
alcaloides (PEREIRA et al., 2007).
Das espécies Aspidosperma desmanthum e A. vargasii foram isolados e identificados os
alcaloides aspidoscarpina, da primeira e elipticina e N-metiltetra-hidroelipticina, da segunda espécie
(HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT, 2010).

Efeitos no organismo humano

Muitos alcaloides indólicos atuam como agonistas ou antagonistas parciais nos receptores α-
adrenérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos e dopaminérgicos. As diferentes atividades, dos vários
compostos, se devem, aparentemente, às diferenças de atividade frente aos vários receptores e à
maneira pela qual cada um interage com os diferentes receptores.
Vários alcaloides, como a psilocibina, o LSD, a dimetiltriptamina e os derivados do
harmano, possuem uma marcante atividade alucinógena.
Foi observada também atividade antitumoral de alcaloides indólicos, como a elipticina (de
Ochrosia sp., Apocynaceae) e olivacina (isolada de várias espécies dos gêneros Aspidosperma e
Tabernaemontana) (SIMÕES et al., 2007). Além disso, as espécies Aspidosperma apresentam um
amplo espectro de atividades biológicas reconhecidas tais como antitumoral, antiplasmódica,
antimicrobiana e antibacteriana (HENRIQUE; NUNOMURA; POHLIT, 2010). Alguns alcaloides
atuam especialmente no sistema cardiovascular, como os do esporão de centeio: ioimbina, reserpina
e ajmalicina.
51

Os alcaloides diméricos de Catharanthus, vincristina e vimblastina, são usados na terapia de


várias doenças neoplásicas. Esses alcaloides causam parada da divisão celular durante a metáfase,
devido a sua ligação específica com a tubulina, inibindo a sua polimerização (SIMÕES et al., 2007).

ALCALOIDES TROPÂNICOS

Caracterização química do metabólito

Entre os alcaloides tropânicos destacam-se a atropina, a escolapolamina e a hiosciamina. Por


meio da esterificação do grupo hidroxila com ácidos aromáticos, originam-se os alcaloides
tropânicos, com estrutura bicíclica (Tropano 8-metil-8 azabiciclo 3,2,1 octano) e presentes em
espécies das famílias Solanacea (Midriáticas) (tipo atropina) e Erythroxylaceae (tipo cocaína). Na
biossíntese do tropano há intermediários responsáveis pela iniciação da biossíntese da hiosciamina e
da cocaína.
Os alcaloides tropânicos derivados do tropanol são agentes anticolinérgicos, com ação
inibidora de acetilcolina, ação depressora das secreções salivares e brônquicas, dilatadora da pupila,
estimuladora da frequencia cardíaca e capaz também de aliviar os sintomas da rinite aguda e coriza.
Já existem quarenta alcaloides tropânicos identificados, muitos delesmderivados da
pirrolidina (higrina, cuscoigrina, atropina).

Métodos de extração e obtenção

Para a caracterização física e química dos alcaloides tropânicos utilizam-se as extrações por
solventes polares (ácidos diluídos) e solventes apolares (solventes orgânicos em meio alcalino),
extração sólido-líquido (Soxhlet) e/ou cromatografia em camada delgada. Sendo que a extração em
meio aquoso ácido esgota a matéria-prima com solução hidroalcoólica ácida e a alcalinização
ocorre com a solução de amônia, carbonatos, hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio. Já na
extração em solvente orgânico, em meio alcalino, ocorre a alcalinização da solução aquosa com
solvente orgânico apolar.

Fontes vegetais

Os alcaloides extraídos das espécies estudadas da família Solonacea são conhecidos como:
higrina, tropina, cuscoigrina e nicotina; podendo ser encontrados em raízes e brotos, acumulados
52

nos vacúolos. Também são observadas misturas de alcaloides tropânicos em sementes e folhas (Ex.:
Hyoscyamus niger L. – hiosciamina e escopolamina). Nas folhas da coca encontram-se alcaloides
derivados da ecgonina (cocaína), derivados de tropina (tropacocaína e valerina) e derivados da
higrina (higrolina e cuscoigrina).

Beladona (Atropa belladonna L.): pertence à família Solanacea, e apresenta alcaloides tropânicos
em suas folhas e flores. Foi utilizada por mulheres na Itália, para dilatar a pupila como forma de
embelezamento. Em suas folhas encontram-se pequenas quantidades de nicotina e piridina, a taxa
de toxicidade depende a concentração de alcaloides tropânicos. Os extratos de beladona - planta da
sombra da noite - já eram utilizados para envenenamento, desde o Império Romano e na Idade
Média.

Coca: a cocaína foi sintetizada em 1857, pelo alemão Albert Niemmam, que publicou a sua
descoberta de 1860. A coca é encontrada nas folhas secas de Erythroxylon coca Lam e
comercializada na forma de chá e vinhos. A absorção da cocaína por todas as membranas e
mucosas, bloqueia a condução dos impulsos nervosos.

Estramônio (Datura stramonium L.): possui alcaloides tropânicos em suas folhas e flores. Pertence
à família Solanacea, no Brasil é conhecida como figueira-do-inferno e erva-do-diabo, alguns povos
utilizavam suas folhas e flores secas na forma de cigarro.

Meimendro (Hyoscyamus niger L.): pertence à família Solonacea, e possui alcaloides tropânicos em
suas folhas e flores. No Brasil é conhecida como meimendro-negro e erva-dos-cavalos.

Trombeteira (Datura suaveolens Willd.): pertence à família Solonacea, e possui alcaloides


tropânicos em suas folhas e flores, sendo também conhecida como saia-branca e rainha-da-noite.

Efeitos no organismo humano

Há confirmação de intoxicações graves em crianças, por meio da ingestão de sementes ou


frutos com alcaloides tropânicos. No Brasil os acidentes ocorrem com espécies dos gêneros Datura
e Brugmansia (plantas tóxicas).
Os alcaloides tropânicos das plantas do gênero Datura (estramônio e trombeteira) já eram
utilizado na medicina europeia, empregados como drogas alucinógenas (folclore e bruxaria),
53

aplicados para envenenamento e/ou para matar. Das espécies estudadas são obtidas a hiosciamina, a
escopolamina e a apoatropina, com tais efeitos.

ALCALOIDES PIRROLIZIDÍNICOS

Por meio da junção do ácido nécico e necina originam-se os alcaloides pirrolizidínicos


(monoéster ou diésteres de 1-hidroximetilpirrolizinas), a toxicidade desses alcaloides é determinada
pelo ácido alifático (ácido nécico).

Caracterização química do metabólito

Os alcaloides pirrolizidínicos são classificados como saturados ou insaturados, de acordo


com a natureza da necina e dos monoesteres e diesteres abertos e cíclicos. O calor pode promover a
decomposição dos alcaloides pirrolizidínicos, causando alteração nos componentes da mistura de
alcaloides no material vegetal.

Métodos de extração e obtenção

Para a caracterização física e química dos alcaloides pirrolizidínicos utiliza-se a extração,


com etanol ou metanol, por maceração contínua de Soxhlet ou com mistura de metanol-
clorofórmio. Os métodos analíticos são de espectroscopia infravermelha, ressonância magnética
nuclear e espectrometria de massas.

Fontes vegetais

Os alcaloides pirrolizidínicos são metabólitos secundários característicos do gênero Senecio.


Entre os alcaloides pirrolizidínicos foram identificados 350 alcaloides, encontrados nas plantas da
família Asteraceae, Boraginace, Fabaceae e Leguminosae, podendo ser encontrados nas sementes,
folhas e flores.

Ayapana (Iapana): alcaloides presentes em folhas. Utilizada na medicina popular com propriedades
tônicas, estimulantes, digestivas, antidiarreicas entre outras.
54

Borraja (Borragem): alcaloides presente em flores e folhas. Na América do Norte realiza-se a


extração do óleo das sementes e comercializa-se em forma de verdura enlatada e condimentos. Na
medicina popular tem propriedades diuréticas e antiflamatórias.

Cinoglosa (lingua-de-cão): alcaloides presentes nas raízes. Utiliza-se na medicina popular com
propriedade antidiarreica, expectorante e refrescante.

Consuelda (Erva-do-cardeal): alcaloides presentes em folhas (sabor amargo) e raízes. Utilizado na


medicina popular com aplicação externa para fraturas e hematomas. Algumas pessoas consomem
alimentos como saladas, sopas, pães e bebidas ricos em alcaloides pirrolizidínicos. Há registros de
casos de intoxicações.

Maria-Mole (Malmequer-amarelo): alcaloides presentes em raízes e folhas secas. Utilizada na


medicina popular com propriedade de curar ferimentos. Há registro de envenenamento humano, por
meio de consumo acidental de plantas contaminantes de produtos derivados de trigo. No Brasil há
casos de toxicidade em bovinos.

Te milagro: alcaloides presentes em folhas secas e raízes. Na medicina popular se faz uso externo
para tratamentos de queimadura e infecções superficiais da pele.

Tusilago (unha-de-asno): alcaloides presentes em raízes, folhas secas e flores. Utilizado na


medicina popular com propriedades expectorante e antidiarreica
.
Efeitos no organismo humano

Há registros de envenenamento de humanos ao consumirem de plantas ricas em alcaloides


pirrolizidínicos. Também foram diagnosticadas intoxicações relacionadas com alguns alimentos
como cereais, leite bovino e mel de abelhas.
A toxicidade dos alcaloides pirrolizidínicos se manifesta principalmente por efeitos
hepatotóxicos, citotóxicos, mutagênese, carcinogênese e teratogênese. Tais efeitos se devem à
elevada reatividade, como agentes de alquilação, dos constituintes químicos do tecido, tais como
proteínas e ácidos nucleicos.
55

ALCALOIDES ESTEROIDAIS

Os alcaloides esteroidais são derivados do acetato e do isopentenilpirofostato e podem ser


identificados em vegetais, fungos e bactérias. São compostos tóxicos, com ação de bloqueio dos
canais de sódio, despolarização da membrana de neurônios e células musculares.

Caracterização química do metabólito

Os alcaloides esteroidais são classificados em Aminopregnanos, Piperilpregnanos e


Alcaloides com esqueleto anormal.

Fontes vegetais

Doce-Amarga (Solanum dulcamara L.): planta com característica anticolinérgica, devido ao


princípio ativo da Solanina e Dulcamarina.

Veratro: pertence à família Melantiacea. Encontram-se nas raízes dos vegetais as substâncias
Sabadinina e Veratridina.

ALCALOIDES EM PRODUTOS ALIMENTÍCIOS

Segundo Santos et al. (2011), o farelo de cacau apresenta vários alcaloides, compostos
tóxicos (teobromina e cafeína), que estimulam o sistema nervoso dos animais. Em seu estudo, tal
pesquisador analisou o processo fermentativo do farelo de cacau, como forma de reduzir a taxa
desses alcaloides, por meio da aplicação do fungo Aspergillus niger. Houve uma redução de
alcaloides na amostra, de acordo o tempo de fermentação do farelo de cacau. Em 24h de
fermentação, houve uma redução de 13,67% no teor de teobromina, já em 96h esse teor se reduziu
em 35,55%. Para cafeína foi encontrada uma redução mínima de 56,86% (24h) e máxima de
62,76% (96h). Podendo-se concluir que a fermentação utilizando o fungo Aspergillus niger é uma
alternativa para a remoção de compostos tóxicos do farelo de cacau.
Dentre os efeitos negativos da cafeína para o organismo humano destacam-se: a excitação
do sistema nervoso central, a ação estimulatória sobre os sistemas muscular, circulatório e cardíaco.
Um consumo elevado de cafeína pode afetar os rins, fígado e sistema nervoso. A trigonelina possui
uma baixa toxicidade, quando comparada à cafeína.
56

Dentre as plantas brasileiras já identificadas, a espécie conhecida como pau-pereira


(Geissospermum vellosii), teve extraído de suas cascas, um alcaloide, a pereirinha, utilizado como
fármaco contra febres de malária. O norte-americano Henry Rapoport (1918-2002), isolou outros
alcaloides do extrato da casca dessa árvore tais como: flavopereirina (1958), geissosquizina,
apogeissosquizina e geissosquizolina (1960), velosimina, velosiminol e geissolosimina (1962), e
geissovelina (1973) (ALMEIDA et al., 2007).
O pau-pereira é vendido atualmente pela internet, por alto preço, e indicado (embora sem
confirmação científica) para a prevenção e o tratamento de cânceres e hepatite.
57

Referências

AGUIAR, A. T. E.; FAZUOLI, L. C.; SALVA, T. J. G.; FAVARIN, J. L. Diversidade química de


cafeeiros na espécie coffea canephora. Bragantia, v. 64, n. 4, p. 577-582, 2005.

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isolado no Brasil. Ciência Hoje, v. 40, n. 240, 2007.

COSTA, A. F. Farmacognosia. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v. 2, 1978.

DIAS, C. S.; SILVA, I. G.; CUNHA, E. V. L.; SILVA, M. S.; BRAZ-FILHO, R.; BARBOSA-
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(Lauraceae). Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 13, p. 62-63, 2003.

GILMAN, A. G.; GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 8.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan S.A., 1980.

HENRIQUE, M. C.; NUNOMURA, S. M.; POHLIT, A. M. Alcaloides Indólicos de Cascas de


Aspidosperma vargasii E A. Desmanthum. Química Nova, v. 33, n. 2, p. 284-287, 2010.

PEREIRA, M. M.; JÁCOME, R. L. R. P.; ALCÂNTARA, A. F. C., ROSEMEIRE, B. A.;


RASLAN, D. S. Alcalóides indólicos isolados de espécies do gênero aspidosperma (apocynaceae).
Química Nova, v. 30, n. 4, p. 970-983, 2007.

SANTOS, C. X.; AMORIM, G. M.; LACERDA, E. C. Q.; SANTOS, M. F.; SIMIONATO, J. I.;
FRANCO, M. Redução de alcaloides e perfil de ácidos graxos de farelo de cacau submetido
à fermentação em estado sólido por aspergillus niger. Revista Higiene Alimentar, v. 25, ns.
194/195, 2011.

SILVA, D. B.; MATOS, M. F. C.; NAKASHITA, S. T.; MISU, C. K.; YOSHIDA, N. C.;
CAROLLO, C. A.; FABRI, J. R.; MIGLIO, H. S.; SIQUEIRA, J. M. Isolamento E Avaliação Da
Atividade Citotóxica De Alguns Alcalóides Oxaporfínicos Obtidos De Annonaceae. Química
Nova, v. 30, n. 8, p. 1809-1812, 2007.
58

SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Porto Alegre, RS: UFRGS,


2007. 1102 p.
59

CAPÍTULO 4

ANTRAQUINONAS

Elisângela Luiza Vieira Lopes Bassani dos Santos


Renata Junqueira Pereira

Dentre as quinonas naturais, as antraquinonas constituem um grupo numeroso e de maior


interesse terapêutico. Desde a antiguidade, plantas que contêm quinonas têm sido utilizadas por
suas atividades biológicas ou como corantes naturais. Com coloração púrpuro-avermelhada, a
alizarina é uma antraquinona da família Rubiaceae, utilizada como matéria-prima para a síntese de
outros corantes, além de indicador em testes de identificação de metais como o alumínio, mercúrio,
zircônio e zinco (COSTA, 2002; SIMÕES et al., 2007).
De um modo geral, as quinonas são substâncias amplamente pesquisadas por possuírem
atividades biológicas diversas, como antiprotozoária (leishmanicida e tripanocida), antineoplásica,
anti-inflamatória, antifúngica e inibidora da enzima transcriptase reversa do vírus HIV-1 (ALVES
et al., 2008; SALUSTIANO et al., 2010).
As antraquinonas estão distribuídas largamente no reino vegetal e animal, desde as plantas
superiores até bactérias, fungos, líquens, equinodermas (ouriço-do-mar) e insetos. Algumas
antraquinonas de origem animal são amplamente estudadas, o corante Carmim de Cochonilha (CI
75470) é um corante natural, extraído das fêmeas da cochonilha (Dactylopius coccus). Essa
substância é utilizada como corante, desde os tempos dos Incas até os dias de hoje, pela indústria
alimentícia e cosmética (BRUNETON, 2001; SPELLMEIER; STÜLP, 2009).
Entre os principais vegetais que contêm antraquinonas estão o Sene (Cassia senna L.), a
Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana DC.), o Ruibarbo (Rheum palmatum L.) e a Babosa (Aloe
vera (L.) Burm.f.), todos apresentam ação laxante e são amplamente empregados pela indústria
farmacêutica, no Brasil e em outros países (SIMÕES et al., 2007; SANTOS; SILVA; FILHO,
2008).

Caracterização Química do Metabólito

As quinonas, obtidas de angiospermas, são sintetizadas através de várias rotas metabólicas,


tanto pela via do ácido chiquímico e via do acetato (síntese mista) como também totalmente pela via
do acetato. As antraquinonas desse grupo pertencem principalmente às famílias Rubiaceae,
60

Liliaceae, Caesalpiniaceae, Rhammaceae, Polygonaceae, Verbenaceae e Asphodelaceae


(BRUNETON, 2001; COSTA, 2002).
As unidades quinoides (o- e p-quinonas ou 1,2- e 1,4- dicetonas cíclicas conjugadas) são
frequentemente encontradas em substâncias de origem biológica. De acordo com a disposição dos
dois grupos carbonílicos (orto e para), acrescidos do sufixo quinona, dá-se a nomenclatura das
quinonas. Existem três grupos principais de quinonas: benzoquinonas, naftoquinonas e
antraquinonas (SIMÕES et al., 2007).
As antraquinonas apresentam outras denominações, como antranóides, derivados
antracênicos ou derivados hidroxiantracênicos, são geralmente compostos cristalinos de cor amarela
ou avermelhada, algumas vezes observados in situ, como no ruibarbo e na cáscara-sagrada. Esses
são derivados do antraceno (C14H10), um hidrocarboneto policíclico aromático (HAP), formados a
partir da oxidação de fenóis. Sua principal característica é a presença de dois grupos carboxílicos,
que formam um sistema conjugado com pelo menos duas duplas ligações entre carbonos (COSTA,
2002; JACQUES, 2010).
As antronas e antranóis são os primeiros derivados antranóides que se formam nas plantas,
possuem função oxigenada apenas no carbono 9, e a maioria ocorre na natureza na forma de
glicosídeos. A estrutura quinoide proporciona alta reatividade química, tornando as quinonas
agentes oxidantes fortes (AGUIAR et al., 2007; SIMÕES et al., 2007).
As antraquinonas, propriamente ditas, são mais estáveis e são geralmente formadas a partir
das antronas livres, por auto-oxidação ou pela ação de suas próprias enzimas (peroxidases ou
oxidases). Os derivados antracênicos, contidos nas drogas vegetais secas, apresentam-se geralmente
em um estado mais oxidado que os da planta fresca. São geralmente solúveis em água quente ou
álcool diluído (COSTA, 2002).
O glicosídeo antraquinônico é formado a partir da conjugação de uma aglicona a uma
molécula de açúcar, após a formação do núcleo fundamental da antraquinona. Os glicosídeos
antraquinônicos podem apresentar-se como O-glicosídeos ou como C-glicosídeos, dependendo do
local da ligação dos resíduos sacarídicos (COSTA, 2002; SIMÕES et al., 2007).

Métodos de extração e obtenção

Solventes apolares, como clorofórmio e acetona, são bastante utilizados para a extração de
quinonas. Através da maceração e/ou percolação esses compostos podem ser obtidos do material
vegetal, uma vez que, na sua maioria, são substâncias quimicamente estáveis. Entretanto, quando
objetiva-se o isolamento das formas reduzidas das antraquinonas, esse requer cuidados
61

diferenciados, como por exemplo, a extração em meio anaeróbico, a fim de evitar o processo de
oxidação (SIMÕES et al., 2007).
A destilação por arraste de vapor de água é um método empregado para a obtenção das p-
benzoquinonas e 1,4-naftoquinonas, por elas serem sublimáveis. Outras técnicas bastante utilizadas
para isolamento e purificação de quinonas são a cromatografia em colunas de alumínio e
adsorventes sólidos (gel de sílica ou resina) e a cromatografia em camada delgada (CCD). O
isolamento das antraquinonas do Rheum palmatum L. (Ruibarbo) pode ser realizado através da
cromatografia em contracorrente e eletroforese capilar (BRUNETON, 2001; COSTA, 2002).
As reações cromáticas são importantes alternativas para a identificação e localização das
quinonas em tecidos vegetais. Quando o acetato de níquel interage com as hidroxibenzoquinonas
pode-se observar a formação de uma coloração azulada, com as hidroxinaftoquinonas, violeta e
rósea com as hidroxiantraquinonas (COSTA, 2002).
O reagente de Bornträger é considerado padrão para caracterização de hidroxiantraquinonas
em meio ácido, permitindo, inclusive, diferenciá-las quanto à alteração da coloração obtida pela
reação química (SIMÕES et al., 2007).

Fontes vegetais

De acordo com Simões et al. (2007) e Bruneton (2001) as quinonas encontram-se com
frequência na natureza, em estado livre ou combinadas com ésteres e heterosídeos e as principais
fontes vegetais estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Principais fontes vegetais de quinonas

DROGA NOME PRINCIPAIS PARTES


VEGETAL CIENTÍFICO CONTITUINTES UTILIZADAS

SENE Senna alexandrina Diantronas-8-8’- Frutos e


Mill.; Cassia senna diglicosídeos Folíolos
L.; Cassia (senosídeos A-F)
angustifolia Vahl

CÁSCARA Rhamnus purshiana Derivados Cascas dos


SAGRADA DC.; Fragula hidroxiantracênicos e caules
purshiana (DC) cascarosídeos

RUIBARBO Rheum palmatum L.; Derivados Rizomas


Rheum officinale antracênicos
Baill.; (glicosídeos de
62

frângula-emodina,
reína, aloe-emodina,
crisofanol e fisciona)

BABOSA Aloe ferox Mill; Aloe Derivados Látex


africana Mill; Aloe antracênicos (aloínas, dessecado das
spicata L.; Aloe vera aloinosídeo) folhas
(L.) Burm.f.

IPÊ ROXO Talebuia heptaphylla Lapachol, α- Casca dos


(Vell.) Toledo; lapachona, ß- caules
Tabebuia avellanedae lapachona; lawsona
Lorentz ex Griseb

HENA Lawsonia inermis L.; Lawsona Folhas


Lawsonia inermis
forma alba Lam.

Efeitos no organismo produtor

Prioritariamente, as quinonas exercem efeitos protetores contra diversos insetos, inclusive os


fitófagos, fungos e outros organismos patogênicos. A atividade alelopática, caracterizada pela
inibição direta ou indireta da germinação de outras espécies competidoras localizadas nas
imediações, está presente em plantas como a Juglas regia L. (Nogueira), produtora de
naftoquinonas como lausona, plumbagina e juglona (LIMA et al.; 2011).

Efeitos no organismo humano

Entre as atividades biológicas identificadas a ação laxativa é a principal responsável pela


utilização terapêutica da maioria dos vegetais que contêm heterosídeos antraquinônicos, apesar de
muitas plantas terem sua utilização limitada pelos efeitos colaterais e reações adversas provocadas
(SIMÕES et al., 2007).
As geninas são produzidas pela microbiota intestinal, no cólon, após hidrólise enzimática
dos glicosídeos antraquinônicos. Tais substâncias promovem um efeito laxante, que é dose-
dependente, e que acontece através da estimulação direta do peristaltismo, pelo aumento da
produção de mediadores químicos, como a histamina, pela redução da reabsorção de água e
eletrólitos, devido à inibição da bomba Na+/K+ ATPase, fluidificando as fezes, além da
estimulação da secreção de muco em consequência da ação irritante na mucosa intestinal
(BRUNETON, 2001).
63

Muito já se estudou sobre os heterosídeos antraquinônicos (aloínas A e B), presentes na Aloe


vera (babosa), quanto às suas propriedades farmacológicas relacionadas ao tratamento da psoríase,
artrite reumatoide, hipertensão artéria sistêmica e vários tipos de neoplasias. Berti et al. (2007)
realizaram um estudo, utilizando extrato do parênquima clorofiliano da Aloe vera L., em células de
melanoma de camundongos da linhagem B16-F10 e obtiveram um efeito duas ou três vezes maior
que a aloína padrão, para a indução de morte celular total, quando foram utilizadas concentrações
superiores a 10 µg/mL⁻¹ do extrato.
De acordo com Haiek e Tillett (2010) o sene (Senna alexandrina Mill.) pode causar intensa
dermatite de contato, além de irritações gástricas e no cólon, cólicas abdominais e vômitos. O uso
prolongado da planta pode levar a perda significativa de eletrólitos, principalmente do potássio que,
consequentemente, pode resultar na diminuição da motilidade intestinal, fraqueza muscular,
hiperaldosteronismo, entre outros efeitos.
Apesar de diversos estudos revelarem um potencial efeito antileishmania e antitripanossoma,
ainda não foi possível produzir fármacos derivados de heterosídeos antraquinônicos, em função da
toxicidade ligada ao consumo desses metabólitos (HAIEK; TILLETT, 2010).
64

Referências

AGUIAR, A.; FERRAZ, A.; CONTRERAS, D.; RODRIGUEZ, J. Mecanismo e aplicações da


reação de Fenton assistida por compostos fenólicos redutores de ferro. Química Nova, v. 30, n. 3,
2007.

ALVES, G. M. C.; ROLIM, L. A.; ROLIM NETO, P. J.; LEITE, A. C. L.; BRONDANI, D. J.
Purificação e Caracterização da β-Lapachona e Estudo de Estabilidade dos Cristais em Diferentes
Condições de Armazenamento. Química Nova, v. 31, n. 2, p. 413-416. 2008.

BERTI, F. V.; PÉRTILE, R. A. N.; SIQUEIRA JUNIOR, J. M; VALLE, R. M. R. do; DIAS, P. F.;
PORTO, L. M. Estudo in vitro do efeito antitumoral da aloína em cultura de células de melanoma.
Exacta, v. 5, n. 1, p. 169-176, jan/jun. 2007.

BRUNETON, J. Farmacognosia. Fitoquímica. Plantas Medicinais. 2. ed. Zaragoza: Editorial


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COSTA, A. F. Farmacognosia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v.1. 2002.

JACQUES, R. J. S.; SILVA, K. J.; BENTO, F. M.; CAMARGO, F. A. O. Biorremediação de um


solo contaminado com antraceno sob diferentes condições físicas e químicas. Ciência Rural, Santa
Maria, v. 40, n. 2, p. 310-317, fev. 2010.

HAIEK, G.; TILLETT, S. El Palo de arco, el Sen, el Yagrumo y la Zarzaparrilla. Revista Facultad
de Farmacia Universidad Central de Venezuela, v. 73, n. 2, 2010.

LIMA, C. P.; CUNICO, M. M.; MIGUEL, O. G.; MIGUEL, M. D. Efeito dos extratos de duas
plantas medicinais do gênero Bidens sobre o crescimento de plântulas de Lactuca sativa L. Revista
de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, Araraquara, v. 32, n. 1, 2011.

OLIVEIRA, F.; AKISUE, G. Fundamentos de Farmacobotânica. 2. ed. São Paulo, SP: Atheneu,
2000.
65

SALUSTIANO, E. J. S.; NETTO, C. D.; FERNANDES, R. F.; DA SILVA, A. J. M.; BACELAR,


T. S.; CASTRO, C. P.; BUARQUE, C. D.; MAIA, R. C.; RUMJANEK, V. M.; COSTA, P. R. R.
Comparison of the cytotoxic effect of lapachol, α-lapachone and pentacyclic 1,4-naphthoquinones
on human leukemic cells. Investigation of New Drugs, v. 28, p. 139-144, 2010.

SANTOS, R. N.; SILVA, M. G. V.; FILHO, R. B. Constituintes químicos do caule de Senna


reticulata Willd. (leguminoseae). Química Nova, São Paulo, vol. 31, n. 8, p. 1979-1981, 2008.

SPELLMEIER, J. G.; STÜLP, S.; Avaliação da degradação e toxicidade dos corantes alimentícios
eritrosina e carmim de cochonilha através de processo fotoquímico. Acta Ambiental Catarinense,
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SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Porto Alegre, RS: UFRGS,


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VEGA, A. G.; AMPUERO, N. C.; DÍAZ, L. N.; LEMUS, R. M. El Aloe Vera (Aloe barbadensis
Miller) como componente de alimentos funcionales. Revista Chilena de
Nutrição. v.32 n.3 Santiago. 2005.

XAVIER, L. F. W.; MOREIRA, I. M. N. S.; HIGARASHI, M. M.; MOREIRA, J. C.; FERREIRA,


L. F. V.; OLIVEIRA, A. S. Fotodegradação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em placas
de sílica impregnadas com dióxido de titânio. Química Nova, São Paulo, v. 28, n. 3, Junho 2005.

HAIEK, G.; TILLETT, S. El Palo de arco, el Sen, el Yagrumo y la Zarzaparrilla. Revista Facultad
de Farmacia Universidad Central de Venezuela, v. 73, n. 2, 2010.
66

CAPÍTULO 5

COMPOSTOS FENÓLICOS

Gabriela Eustáquio Lacerda


Mayara Batista Valadares
Lúcia Helena Almeida Gratão
Susane Rayanne Uchôa de Oliveira
Guilherme Nobre Lima do Nascimento

Os compostos fenólicos estão presentes na constituição de inúmeros alimentos, in natura ou


industrializados, e plantas com atividades terapêuticas, sendo conhecidos mais de 8000 moléculas
desses compostos. Podem ser responsáveis pela pigmentação, odor e sabor de vários vegetais ou
estarem relacionados ao processo defensivo do organismo vegetal, ou seja, produtos do
metabolismo secundário. Essa classe de compostos abrange os flavonoides, ligninas, taninos e
polímeros vegetais e fazem parte da estrutura de proteínas, alcaloides e terpenoides, sendo que
muitos são constituintes dos óleos voláteis.
Esses compostos são amplamente explorados pela indústria alimentícia, empregados como
flavorizantes, corantes e para evitar a oxidação lipídica, que pode alterar significativamente o tempo
de prateleira do produto industrializado. Na ecologia química agem como pesticidas, inseticidas e
fungicidas; na indústria farmacêutica são apontados por sua atividade antibacteriana, antiviral,
imunomodulação, expectorante, hipocolesterolêmico, analgésico e antioxidante, tendo resultados
promissores no retardo de doenças causadas por reações oxidativas.

Caracterização química dos compostos fenólicos

Os ácidos fenólicos apresentam em sua estrutura pelo menos um anel aromático e ao menos
um hidrogênio substituído por um grupo hidroxila, o que gera uma ampla diversidade de compostos
com diferentes variações estruturais, pela alteração de posição dos substituintes (hidroxilas ou
metoxilas) em seu esqueleto aromático comum.
Um dos tipos de classificação desses compostos está relacionada com a ocorrência destes no
reino vegetal (Tabela 1).
67

Tabela 1. Classificação por ocorrência no reino vegetal.

CLASSIFICAÇÃO CARACTERISTICAS
Derivados dos ácidos benzóicos e de ácidos
Compostos fenólicos amplamente
cinâmicos, cumarinas, flavonóides, taninos
distribuídos
e ligninas
São em menor número, são exemplos os
Compostos fenólicos de distribuição fenóis simples, pirocatecol, hidroquinona,
restrita resorcinol e aldeídos derivados dos ácidos
benzóicos.

Os compostos fenólicos também podem ser classificados de acordo com o tipo do esqueleto
principal (Tabela 2), onde C6 identifica o anel benzênico e Cn, o número de carbonos presente na
cadeia substituinte.

Tabela 2. Classificação dos compostos fenólicos de acordo com o tipo de esqueleto.


COMPOSTO FENÓLICO ESQUELETO BÁSICO
Fenóis simples, benzoquinonas C6
Ácidos Fenólicos C6-C1
Acetofenonas, ácidos fenilacéticos C6-C2
Fenilpropanóides, fenilpropenos,
C6-C3
cumarinas, isocumarinas e cromonas
Naftoquinonas C6-C4
Xantonas C6-C1-C6
Estilbenos, antraquinonas C6-C2-C6
Flavonóides, isoflavonas C6-C3-C6
Lignanas (C6-C3)2
Diflavonóides (C6-C3-C6)2
Melaninas vegetais (C6)n
Ligninas (C6-C3)n
Taninos hidrolisáveis (C6-C1)n
Taninos condensados (C6-C3-C6)n
Fonte: SIMÕES et al., 2002.
68

A presença dos átomos de hidrogênio dos grupos hidroxila em diferentes posições nos anéis,
duplas ligações na função oxo (-C=O) e as duplas ligações dos anéis benzênicos as diferentes
moléculas, conferem as diferenças de ação e potência em atividade antioxidante. Esta habilidade em
doar hidrogênio ou elétrons e a formação de radicais estáveis, atuam principalmente na oxidação de
lipídios.

Métodos de extração e obtenção

Os compostos fenólicos são biossintetizados por duas rotas metabólicas: pela via do ácido
chiquímico a partir dos carboidratos, ou pela via do acetato-polimalato que inicia com acetil-
coenzima A e malonil-coenzima A. Não estão presentes na natureza no estado livre e sim sob a
forma de esteres ou de heterosídeos, portanto, solúveis em água e em solventes orgânicos polares.
Possuem características ácidas o que facilita o isolamento pelo uso de soluções fracamente básicas,
além de ser quimicamente reativo, o que exige cautela no processo de extração e isolamento, logo é
necessário evitar extremos de pH e concentrar os extratos em temperaturas baixas (Tabela 3).

Tabela 3. Métodos de extração de compostos fenólicos com suas respectivas soluções extratoras.

SOLUÇÃO EXTRATORA MÉTODO


Extração com Soxleht seguido por purificação
em coluna cromatográfica de sílica e carvão
ativado ou Soxleht com posterior purificação
Etanol
por partição com éter de petróleo e acetona
seguida por precipitação com acetato de
chumbo
Agitador orbital, recuperação do extrato por
Etanol-água (80/20) e metanol-água
filtração a vácuo e evaporação do solvente em
(50/50); Etanol
rotaevaporador
Maceração com agitação magnética, partição
Metanol com hexano e clarificação com hidróxido de
bário e sulfato de zinco
Maceração com agitação magnética
Éter etílico
recuperação do extrato por filtração a vácuo e
69

evaporação do solvente em rotaevaporador


Água e solução aquosa Na2SO3 a
Reator de vidro com agitação mecânica
2,5%
Fonte: SILVA et al., 2010.

A presença de compostos fenólicos pode ser determinada pelo método de Folin-Ciocalteu ou


do azul da Prússia modificado, baseados em reações de oxi-redução entre os compostos e íons
metálicos. Em ambas as técnicas se fazem necessário uma curva padrão obtida com ácido gálico.

FLAVONOIDES

Caracterização química

Os flavonoides são metabólitos secundários, pertencentes ao grupo mais comum e


amplamente distribuído de compostos fenólicos de plantas. A sua estrutura básica é constituída por
dois anéis aromáticos (anéis A e B) (Figura 1A) ligados através de três átomos de carbono que
habitualmente formam um heterociclo oxigenado (anel C) (Figura 1A). As variações no anel
heterocíclico C dão origem a diferentes classes: flavonas, flavonóis, flavanonas, antocianidinas,
catequinas e isoflavonas, conforme Figura 1B.

Figura 1. Estrutura básica dos principais Flavonoides.


70

Fonte: Adaptado de Cemark et al. (2001) e Março et al. (2008).

Uma das principais classes de estudo dos flavonoides são os flavonóis e as antocianidinas.
As antocianidinas têm como estrutura base o cátion flavílico (2-fenilbenzopirilium), também
chamado de íon flavilium, representado na Figura 2.

Figura 2. Estrutura básica do cátion flavílico.

Fonte: Guimarães et al. (2012).

Vale ressaltar que os pigmentos, em sua maioria, expressados na forma de antocianinas são
estruturas derivadas de antocianidinas. As antocianidinas não possuem grupos glicosídeos, sendo,
portanto agliconas, possuindo ligantes hidroxilas nas posições 3, 5 e 7, porém nas antocianinas,
normalmente uma ou mais destas hidroxilas são glicosadas, sendo a ligação do açúcar responsável
pelo aumento da sua solubilidade e estabilidade, quando comparados com a classe das
antocianidinas.
71

As antocianinas (do grego Anthos significa a flor, e Kyanos significa azul) são os pigmentos
vegetais mais importantes visíveis ao olho humano, têm diversas funções dentro de plantas, que vão
desde de proteção e defesa, ajuda no crescimento, desenvolvimento e reprodução. Porém, além de
seus benefícios para as plantas, as antocianinas possuem propriedades antioxidantes e habilidades
removedoras de radicais que foram correlacionados com a prevenção de doenças em seres humanos,
por exemplo, as antocianinas podem afetar a função endotelial e seu consumo na dieta está
associada a efeitos neuroprotetores, especialmente a diminuição do risco de doença de Parkinson.

Fontes vegetais

Os teores de flavonoides nos alimentos são pré-determinados geneticamente, mas podem


sofrer interferências de sazonalidade, clima, composição do solo, maturação dos frutos além de
processamento e estocagem.
Com exceção das catequinas, os flavonoides são encontrados nas plantas na forma
glicosilada, normalmente ligados à molécula a partir de oxigênio, os o-glicosídeos.
Os compostos fenólicos foram detectados nos chás preto e verde e também a erva mate em
que foram isolados compostos como a quercetina, sendo os dois primeiros fontes de miricetina e
kaempferol e o último de kaempferol. Os chás de camomila, boldo e morango também são boas
fontes de flavonoides, apesar de menos ricas que os chás verde e preto.
Com relação às frutas, foram constatadas altas concentrações de quercetina em acerola,
pitanga e maçã. A acerola apresenta os maiores teores de kaempferol, além de antocianinas e a
pitanga as maiores concentrações de miricetina. Huber e colaboradores (2008) avaliaram as fontes
de flavonoides em hortaliças, e verificaram que as principais fontes são cebola, couve e rúcula com
altos teores de quercetina, rúcula e couve que possuem teores de kaempferol e a salsa com grande
quantidade de apigenina.

Efeitos no organismo produtor

Ecologicamente, os flavonoides são os responsáveis pela pigmentação das flores e


consequente atração de pássaros e insetos polinizadores. Além disso, os compostos fenólicos
presente em plantas relacionam-se com a proteção e lhe conferem alta resistência a microrganismos
e pragas, podendo influenciar no valor nutricional e a qualidade sensorial, conferindo cor, textura,
amargor e adstringência. E também apresentam algumas funções de controles de pragas em
lavouras, como é o caso da Anticarsia gemmatalis, uma praga da soja, que tem seu crescimento
afetado negativamente com o uso desses compostos.
72

Efeitos no organismo humano

Diversos estudos avaliaram o efeito benéfico dos flavonoides no organismo humano. A eles
são atribuídas ações anti-inflamatória, antiviral, antibacteriana, antialérgica, vasodilatadora,
neuroprotetora além da prevenção de doenças crônicas tais como o câncer e doenças
cardiovasculares.
Os flavonoides tornaram-se potenciais fármacos naturas devido à capacidade de modificar a
biossíntese de eicosanoides, que causam a resposta anti-prostanóide e anti-inflamatória, além de
proteger o colesterol-LDL da oxidação prevenindo assim a formação de placas ateroscleróticas.
Também possui efeito antitrombótico - ação de prevenção à agregação plaquetária e efeitos anti-
hipertensivo e anti-isquêmico por promover o relaxamento do músculo liso.

TANINOS HIDROLISÁVEIS

Caracterização química

Os taninos hidrolisáveis estão presentes nas famílias Choripetalae das dicotiledôneas,


dicotiledôneas herbáceas e lenhosas. Estes são constituídos por ligações ésteres de ácidos gálicos e
ácidos elágicos glicosilados, passíveis de sofrerem hidrólise por ácidos ou enzimas, formados a
partir do chiquimato, onde os grupos hidroxila do açúcar são esterificados com os ácidos fenólicos.
Os taninos elágicos são muito mais frequentes que os gálicos, e é provável que o sistema bifenílico
do ácido hexaidroxidifenílico seja resultante da ligação oxidativa entre dois ácidos gálicos. Taninos
hidrolisáveis possuem um grupo poliol central (em sua maioria, é β-d-glicose, mas também o ácido
quínico, outros fenóis e outros glicósidos); e hidroxilas esterificadas pelo ácido gálico (parte
fenólica) (Figura 1).
73

Figura 3. Estrutura básicas dos taninos hidrolisáveis.

Fontes vegetais

Estes tipos de taninos são encontrados nas folhas e súber (tecido vegetal) de várias espécies
de plantas. As principais plantas que contêm taninos são: goiabeira (folhas de Psidium guajava L.
Myrtaceae); nó-de-galha (formações nodosas resultantes da decomposição de ovos do
inseto Adleria gallaetinctoria na gema foliar do carvalho Quercus infectoria G. Olivier, Fagaceae);
barbatimão (cascas de caule Stryphnodendron barbatimam Mart., Fabaceae); ratânia (raízes
de Krameria triandra Ruiz & Pav., Krameriaceae); hamamelis (folhas de Hamamelis virginiana L.,
Hamamelidaceae), e espinheira-santa (folhas de Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, Celastraceae).
Os taninos também podem ser encontrados nas uvas, sendo notável sua presença em alguns vinhos.

Efeitos no organismo produtor

Os vegetais defendem-se dos herbívoros por vários meios, seja por estruturas convencionais
como pêlos urticantes e espinhos ou ainda por defesas químicas. Compostos fenólicos em vegetais,
principalmente taninos, têm a função de inibir os herbívoros, pois em altas concentrações em frutos,
sementes, folhas ou demais tecidos torna-os impalatáveis, sendo defensores das plantas contra o
ataque de herbívoros, principalmente quando os frutos não estão maduros o suficiente e, ainda,
combinado a algumas proteínas, estes tecidos resistem fortemente à putrefação.

Efeito no organismo humano


74

As aplicações de drogas com taninos estão relacionadas, principalmente, com suas


propriedades adstringentes. Por via interna eles exercem efeito anti-séptico e antidiarréico; por via
externa impermeabilizam as camadas expostas da pele e mucosas, protegendo as camadas
subjacentes.
Diversos estudos sobre os taninos evidenciaram uma importante ação antibacteriana e
antifúngica, ação sobre protozoários, na reparação de tecidos, regulação enzimática e proteica, entre
outros. Estes efeitos dependem da dose, tipo de tanino ingerido e período de ingestão. Uma série de
bactérias são sensíveis aos taninos, dentre as quais estão os Staphylococcus aureus, Streptococcus
pneumonia, Bacillus anthracis e Shigella dysenteriae e, em pequenas concentrações (0,5 g/L), o
fungo Fomes annosus teve seu crescimento inibido.
Têm sido atribuídas aos taninos algumas atividades fisiológicas humanas, como por
exemplo a estimulação das células fagocíticas, ação tumoral, e atividades antiinfectivas. Ou seja, os
taninos parecem ter duplo efeito, por um lado, beneficiam a saúde devido a seu efeito
quimiopreventivo contra carcinogênese ou atividades antimicrobianas, por outro lado, estão
envolvidos possivelmente na formação de cânceres, hepatotoxicidade ou efeitos antinutrientes. Os
taninos são considerados como antinutrientes por que podem diminuir a digestabilidade da proteína,
carboidratos e minerais, além disso, também podem reduzir a atividade de enzimas digestivas.
Em processos de cura de feridas, inflamações e queimaduras, os taninos auxiliam formando
uma camada protetora sobre tecidos lesionados, permitindo que, logo abaixo dessa camada, o
processo de reparação tecidual ocorra naturalmente. Em patologias estomacais, o mecanismo de
ação é bem semelhante, com a formação de uma camada de tanino-proteína complexados que
envolvem a mucosa estomacal.
Ademais, os taninos são hemostáticos e, como precipitam alcalóides, podem servir de
antídoto em casos de intoxicações ou em casos de envenenamento por plantas alcaloídicas.

TANINOS CONDENSADOS

Caracterização química

Dentre os flavonoides já identificados, temos os taninos condensados, grupo que abrange


vários compostos polifenólicos. Possuem como unidade fundamental de estrutura flavan-3-ol
(Figura. 4). Também são conhecidos por taninos catéquicos ou através do termo proantocianidina,
devido a originarem pigmentos antocianidínicos, compostos vermelhos insolúveis conhecidos por
flobafenos, após quebra oxidativa em meio alcoólico ácido.
75

Figura 4. Estrutura básica dos taninos condensados (flavan -3-ol).

Fonte: Queiroz, Morais e Nascimento, 2002 (adaptado).

As proantocianidinas ou taninos condensados são classificados em dois tipos de acordo com


a forma de ligação entre suas unidades estruturais. O tipo - A, a ligação entre ocorre com o C2 e C4
de uma unidade com o oxigênio em C7 e posições C6 ou C8 da outra unidade. E as proantocianidinas
do tipo – B, caracterizados por ligações simples entre as unidades geralmente entre o C4 da extensão
com o C8 ou C6 da outra unidade, conforme figura 2.

Figura 2. Proantocianidinas diméricas tipo A e tipo B.

Fonte: Khanbabaee e Ree (2001).


76

Fontes vegetais

Os taninos condensados e os flavonóides que lhes dão origem são conhecidos por sua larga
distribuição em espécies angiospermas e gimnospermas, tais como eucalipto (Eucalyptus spp),
pinheiro (Pinus pinaster), cascas de pau-de-balsa (Ochroma pyramidalis), aroeirinha (Schinus
terebinthifolius), angico, (Peltophorum dubium), chá verde (Camellia sinensis), abacate (Persea
americana), nozes (Areca catechu), mirtilos (Vaccinium myrtillus), semente de uva (Vitis vinifera),
canela, amoras, maçã , peras, nectarinas, banana (Musa paradisíaca), sorgo, ervilha (Pisum
sativum), feijão (família Fabaceae), castanha de caju, entre outras. Localizam-se em quantidades
maiores nas sementes, folhas, frutos e casca.

Efeitos no organismo produtor

A presença de taninos na planta é imperativo como mecanismo de defesa contra o ataque de


herbívoros, principalmente por sua característica adstringente, que diminui a palatabilidade,
identificada ao mastigar fruto e folhas, diminuindo o crescimento e sobrevivência dos predadores.
Inibi o crescimento de sementes de outras plantas e diminui também a proliferação de bactérias.
Apresenta uma capacidade de se complexar juntamente com proteínas, formando complexos
insolúveis, tornando-o resistente a putrefação, este fato é o responsável pelo uso de taninos na
curtição de couros desde a antiguidade.
A mesma característica adstringente, em quantidades menores de taninos condensados,
proporciona o chamado ―corpo da fruta‖ que é uma característica sensorial marcante no alimento,
por exemplo, frutas, hortaliças e condimentos. Conferindo boa propriedade terapêutica e agregando
valor nutricional.

Efeitos no organismo humano

Por apresentar características próprias como atividade antioxidante, complexação com


proteínas e íons metálicos, os taninos apresentam aplicação farmacológica como antiflamatórios,
antidiarréico, antídotos principalmente nas intoxicações por metais pesados, antioxidantes e
sequestradores de radicais livres.
Devido sua característica adstringente pode irritar a pele e mucosas, causando hemólise, se
utilizado em altas doses, porém em pequenas doses, podem proteger tais partes tornando-as
impermeáveis, atuando como cicatrizantes e antissépticos. Como ação nutricional, pode atuar
complexando-se com proteínas o que evita a excessiva degradação e consequentemente melhorando
77

a absorção de aminoácidos com melhor aproveitamento da dieta. O efeito contrário é ocasionado


com uso de altos teores de alimentos com taninos condensados, que leva o organismo a diminuir a
capacidade de absorção de nutrientes, entre eles o ferro.
78

Referências

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82

CAPÍTULO 6

CROMONAS E XANTONAS

Eder Alencar Resende


Renata Junqueira Pereira

CROMONAS

As cromonas ão uma classe de compostos secundários, caracterizados pelo esqueleto (4H-1-


benzopiran-4-onas, 4H-croman-4-onas). Estão na classe dos compostos heterociclicos oxigenados
que têm atraído muito interesse devido à sua reatividade e a atividade biológica de ocorrência
natural (SOSNOVSKIKH et al., 2012). As cromonas são compostos heterocíclicos que se
encontram amplamente distribuídos no reino vegetal. As cromonas encontradas na natureza são do
tipo 2-fenilcromona, também denominadas por flavonas, embora também exista um número
considerável de 3-fenilcromonas, as quais são designadas por isoflavonas, flavonas e todas são
flavonoides (FIGUEIREDO, 2008).
As cromonas são consideradas de distribuição relativamente limitada nas espécies de
plantas superiores, tendo sido confirmadas nas seguintes famílias: Ranunculaceae, Umbelliferae,
Leguminosae e Cneoraceae, com base nos dados relatados até o presente (KURODA et al., 2009).

Caracterização química do metabólito

As cromonas constituem uma importante classe de compostos heterociclos oxigenados,


que têm atraído muito interesse devido à sua reatividade e a atividade biológica. Muitos derivados
de cromonas naturais e sintéticas apresentam vários tipos de atividades biológicas tais como:
antialérgica, antiviral, cardioprotetora, neuroléptica, hepatoprotetora, cardioprotetora,
antiinflamatória e anti-tumoral. São ainda utilizados como intermediários sintéticos para preparação
de substâncias farmacologicamente ativas, produtos e novos sistemas heterociclicos (BERNINI et
al., 2004). Esses compostos possuem dois fortes centros eletrofílicos (nos átomos de carbono C-2 e
C-4 do sistema) e as suas reações, predominantemente com dinucleófilos, se iniciam com o ataque
do C-2 (adição 1,4) e são acompanhadas por abertura do anel pirona, para formar o intermediário
capaz de sofrer ciclizações intermoleculares (SOSNOVSKIKH et al., 2012).
83

Métodos de extração e obtenção

Podem ser extraídas por meio de cromatografia em camada delgada, segundo descrito por
Wagner & Bladt (1996).

Fontes vegetais

Yan et al. (2011), estudando o arbusto Harrisonia perforata (Blanco) Merr., única espécie
de Harrisonia cultivada na China, isolou das folhas e ramos, duas cromonas: o umtatin e o
greveichromenol.
O Aloe Ferox (A. candelabro, A. Berger) pertencente à familia Xanthorrhoeacea,
conhecido como aloés ou capa aloés, tem sido usado, desde a antiguidade, na medicina, como
laxante. Possui sabor amargo, com propriedades tônicas, antioxidante, antinflamatória,
antimicrobiana, cicatrizante da pele, atividade contra malária, atividade anti-helmíntica,
propriedades laxativas e propriedades anti-cancerígenas. Numerosas classes de compostos, tais
como cromonas, antraquinonas, antrona-C-glicósideos e compostos fenólicos, tem sido isoladas de
Aloe ferox. Embora os preparados à base de Aloe ferox sejam considerados seguros, alguns efeitos
adversos tais como hipersensibilidades foram relatados (CHEN et al., 2012).
Outra fonte de cromonas é a Halenia elliptica D. Don (Gentianaceae), distribuída em todo
o Platô tibetano e em todo o oeste da China. Ela tem sido utilizada durante séculos na medicina
tradicional e na medicina tibetana mongol para curar hepatite. O extrato aquosos das porções aéreas
dessa planta apresentaram potente atividade anti-HBV in vitro. Essa descoberta levou a
caracterização dos constituintes presentes em tais extratos, sendo isoladas seis cromonas, derivadas
de ácido 1-6 halico e três 2-metilcromonas (SUN et al., 2012).
A espécie Harri Sonia perforata (branco) Merr. é amplamente distribuída no sudeste da
Ásia e sudeste da China. Sua raiz tem sido utilizada na medicina popular, no sul da China, para a
prevenção e tratamento da malária. Foram isoladas cinco cromonas e dois limonóides a partir dessa
planta (TANAKA et al., 1995).
Pancratium Viz maritimum (Amaryllidaceae) é uma espécie de planta ornamental,
cultivada no Egito, de cujo extrato etanólico foram isoladas quatro cromonas e duas flavonas (ALI
et al., 1996).
A planta Aloe marlothii, comum em Moçambique, é bastante conhecida pela sua alta
atividade purgativa, podendo causar graves complicações na gestação, razão pela qual não é
administrada a mulheres grávidas, na medicina tradicional. Quando cortadas, as folhas liberam um
líquido amarelo, de consistência leitosa e sabor amargo, que é usado como purgativo,
84

antimicrobiano, analgésico e no tratamento da gonorreia e da sífilis. As cromonas identificadas na


Aloe marlothii foram: 2’-O-Tigloilaloesina, 7-O-Metilaloeresina A, Aloeresina A, Aloeresina D,
Aloesina (Aloeresina B), Aloesol 15, Aloesona 16 (TCHAMBULE, 2011).
Segundo Gupta & Singh (1991), espécies do gênero Senna alata são ricas em flavonoides,
antraquinonas e polissacarídeos (RODRIGUEZ, SOUZA FILHO e FERREIRA, 2009). Também já
foram relatados para esse gênero esteroides, alcaloides piperidínicos, isoquinolinas, cromonas,
lactonas, estilbenos e triterpenos (ALEMAYEHU; ABEGAZ, 1996; ALEMAYEHU et al., 1998;
VALENCIA et al., 2000).
Puhl et al. (2011), pesquisando a família das Piperaceae, espécie Piper gaudichaudianum,
encontraram cromonas com atividade antifúngica e antibacteriana.
As cromonas presentes na Aloe vera são compostos bioativos, com propriedades
antiinflamatórias e antibióticas, presentes no gel incolor contido no interior das folhas frescas.
Algumas cromonas presentes no látex são a aloesin e a aloeresin A (VEGA et al., 2005).

Efeitos no organismo produtor

As cromonas podem desempenhar nos organismos produtores, funções tais como: proteção
contra radiação ultravioleta; proteção contra insetos, vírus e bactérias; atração de polinizadores;
controle hormonal; ação aleloquímica e repulsão de herbívoros.

Efeitos no organismo humano

As cromonas são utilizadas no combate a asma, sendo que sua ação foi descoberta através
do uso medicinal da espécie Amni visnaga (Umbelliferae), no Egito e países do sudeste do
Mediterrâneo, no tratamento de problemas respiratórios.
Esses efeitos no trato respiratório se devem à sua propriedade antiinflamatória e
capacidade de diminuir a obstrução brônquica, uma vez que estabilizam os mastócitos, inibindo a
liberação de histamina, leucotrienos e reduzem a ativação de eosinófilos. Entretanto, não possuem
tempo de ação prolongado como os corticosteróides e, praticamente, não são absorvidas pelo
organismo, além de causarem tosse e sensação de queimação após a administração (CORREA et
al., 2008).
A literatura não dispõe de dados suficientes sobre a segurança do Aloe Ferox, necessitando
ainda de mais estudos. Entretanto, há vários relatos de hipersensibilidades e danos colaterias em
pacientes que fizeram a ingestão de preparados à base dessa planta (disfunções hepática e renal,
85

dispneia, náuseas, vômitos, cólicas, fadiga muscular e cardiotoxidade, acompanhada de


angioedema) (CHEN et al., 2012).
A planta Chinesa Eriosema tuberosun foi investigada quanto à atividade antifúngica, foram
isolados vários compostos bioativos como: flavanonas, isoflavonas e cromonas que possuem
atividade antifúngica contra Cladosporium cucumerinum e Candida albicans (MA et al., 1996).
A planta Senna alata possui também propriedades terapêuticas, devendo, porém, ser
administrada com cuidado, pois pode ser tóxica aos rins e, ainda, considerada abortiva (LORENZI,
2000). Em países como: Cuba, Camarões, Brasil e Índia, suas folhas, cascas, flores e raízes podem
ser utilizadas na medicina popular, por suas propriedades anti-herpética, febrífuga, antianêmica,
antiblenorrágica, antinefrítica, antídota, antimicótica, diurética, parasiticida, laxante e contra
doenças de pele (BARRESE PÉREZ & HERNÁNDEZ JIMÉNEZ, 2002; AWAL et al., 2004;
BARRESE PÉREZ et al., 2005; PIEME et al., 2006).
Às cromonas e polissacarídeos da Aloe vera tem sido atribuídas muitas atividades
biológicas, incluindo antiviral, antibacteriana, protecção contra a radiação ultravioleta,
antiinflamatória, imunoestimulante (NI et al., 2004), antitumoral, além da capacidade de ativar os
macrófagos e células T (CHOW et al., 2005).

XANTONAS

Xantonas são compostos polifenólicos naturais, com um esqueleto de três anéis simples,
sendo encontradas, principalmente, nas famílias Gentianaceae, Moraceae, Guttiferae, Polygalaceae
e Leguminosae e também em fungos e líquens. As xantonas possuem milhares de derivados,
principalmente substituídos por hidroxilo, metoxilo ou prenilo. Essa classe de metabólitos possui
notáveis atividades biológicas e medicinais, dentre elas antibacteriana, antiviral, antioxidante, anti-
inflamatória, anti-hipertensiva, antitrombótica, anticancerígena, citotóxica, coagulante e inibidora
da atividade da enzima monoamino-oxidase (MAO) (WANG; SANDERSON; ZHANG, 2011).
Devido à sua grande atividade farmacológica, estudiosos estão isolando e sintetizando derivados de
xantonas, afim de desenvolverem novas drogas (YANG et al., 2012).
Xantonas e derivados de xantonas demonstraram efeitos benéficos sobre doenças
cardiovasculares. Xantonas isoladas de Gentiana kochiana (Gentianaceae), tais como a
gentiacauleina e gentiakochianina, apresentaram efeito vasodilatador sobre a aorta de ratos.
Algumas xantonas isoladas de Halenia elliptica podem ser seus constituintes majoritários, com
atividades hepato-protetoras e antioxidante (WANG et al., 2009).
86

Métodos de extração e obtenção

A detecção qualitativa de xantonas pode ser realizada pela identificação de presença, de


acordo com a metodologia descrita por Matos (1997). Tal metodologia consiste em medir a massa
de 2 g do material moído em um béquer, acrescentar 15 mL de etanol 70% e aquecer por 30
minutos. Em seguida é realizada a filtração do extrato obtido, em um béquer e evapora-se o solvente
até secura (60ºC). Após os procedimentos anteriores, devem ser dissolvidos alguns miligramas do
extrato seco obtido, em 20 ml de água. Dessa solução transferem-se 3ml para 3 tubos de ensaio e
procede-se a acidulação de um dos tubos, a pH 3; os dois restantes, devem ser alcalinizados a pH
8,5 e 11. Os resultados obtidos são comparados com os dados da Tabela 1, para detecção da
presença de compostos pertencentes às diferentes classes de flavonoides.

Tabela 1. Dados para a determinação de flavonoides, por classes.


Constituintes Coloração em meio
pH 3,0 pH 8,5 pH 11
Flavononas, flavonóis e xantonas - - Amarela
Chalconas e auronas Vermelho - Vermelho púrpura
Flavononóis - - Vermelho-laranja

As xantonas podem ser identificadas por cromatografia líquida de alta eficiência (SANTOS
et al., 2003).

Fontes vegetais

Tavares et al. (2001) identificaram, nos extratos orgânicos do caule de Tovomita brasiliensis
Walp., dicromenoxantonas com importantes atividades biológicas. As xantonas são de ocorrência
freqüente em espécies de Guttiferae e em um reduzido número de famílias botânicas.
As xantonas são a principal classe de metabólitos secundários encontrada no pericarpo dos
frutos do mangostão (Garcinia mangostana Linn.) (WANG; SANDERSON; ZHANG, 2011).
Da espécie Hypericum brasiliense foram isoladas ainda as xantonas 1,5-diidroxixantona, 5-
hidróxi-1-metoxixantona e 6-deóxijacareubina; um derivado γ-pirônico (hiperbrasilona) (ROCHA
et al., 1995).
A espécie Hypericum perforatum, conhecida como erva-de são-joão, apresentou xantonas
em extratos etanólicos de suas flores (ALVES, 2001).
87

Oliveira et al. (2009) relataram que doze tipos de flavonoides e xantonas foram
identificados em polpas, cascas e caroço de mangas.

Efeitos no organismo produtor

As xantonas estão presentes nos vegetais, na forma livre ou ligadas a açúcares e são
essenciais para o crescimento e reprodução das mesmas. Como ocorre normalmente para os
metabólitos secundários, em alguns vegetais, as xantonas são produzidas constantemente e, em
outros, podem vir a serem produzidas em condições de estresse do vegetal, como infecções,
ferimentos e exposição à radiação ultravioleta.
Dentre as funções das xantonas no organismo produtor, destaca-se, principalmente a
proteção conferida contra a radiação ultravioleta; a atração de polinizadores e repulsão de insetos
(interação planta-animal); e atividade antimicrobiana.

Efeitos no organismo humano

Ensaios farmacológicos com xantonas naturais mostraram diferentes atividades, como


antiinflamatória, antileucêmica, antitumoral, anti-hepatotóxica, antiulcerogênica, antiviral (herpes),
antifúngica, estimulante do miocárdio e do sistema nervoso central, hipertensora, antimicrobiana,
analgésica, bactericida e imunossupressora (BENNET; LEE, 1989; TAVARES et al., 2001).
O mangostão (Garcinia mangostana Linn.), é uma árvore tropical do Sudeste Asiático.
Produtos à base de mangostão são muito populares, devido à aceitação positiva do seu sabor e aos
seus benefícios funcionais ao homem. O pericarpo de seu fruto tem sido amplamente utilizado no
Sudeste Asiático, durante séculos, para tratar infecções da pele e feridas. Tem sido relatada a
citotoxicidade do mangostão contra uma variedade de células cancerígenas: câncer de mama, câncer
colo retal, câncer hepático, leucemia e câncer de pulmão (WANG; SANDERSON; ZHANG, 2011).
As xantonas possuem ainda ação inibitória da enzima monoamino-oxidase (MAO),
demonstrando atividade inibitória potente, seletiva e reversível dessa enzima (GNERRE et al.,
2001).
Xantonas isoladas da espécie Hypericum perforatum, conhecida como erva-de são-joão,
inibem especificamente a enzima MAO A, inibindo a degradação dos neurotransmissores
serotonina e noradrenalina, sem apresentar os efeitos colaterais da inibição da MAO B, que inibe a
degradação de dopamina. Assim, tem apresentado promissores efeitos no tratamento de estados
depressivos. Porém, seu uso terapêutico está limitado, uma vez que ainda se desconhece a
toxicidade desses compostos.
88

Diversos trabalhos têm apresentado as xantonas como potenciais substâncias para o


tratamento do câncer (LIN et al., 1996). Algumas xantonas (naturais e sintéticas) apresentaram,
ainda, ação antimicrobiana e ação antifúngica (ROCHA et al., 1994).
89

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93

CAPÍTULO 7

CUMARINAS E SAPONINAS
Eder Alencar Resende
Renata Junqueira Pereira

CUMARINAS

As cumarinas são lactonas derivadas do ácido orto-hidrocinâmico, estando presentes em


diferentes partes das plantas. É um composto heterosídeo, encontrado em diversas formas. A sua
ocorrência é observada em diferentes famílias como: Angiospermae, Apiaceae, Asteraceae,
Fabiaceae, Moraceae, Oleraceae, Rosaceae, Rubiacea, Rutaceae, Solanaceae, Thymeleaceae,
Umbelliferae. Podem ser encontradas também em fungos e bactérias (FERRO, 2006).
O isolamento do composto cumarina foi relatado na literatura, pela primeira vez, por
Vogel, em Munique, no ano de 1820. A nomenclatura da palavra cumarina provém de uma planta
do Caribe, conhecida como 'coumarou', que botanicamente é a Coumarouna odorata Aubl. No ano
de 1868, a cumarina foi conhecida por ter a fórmula molecular C9H6O2, na primeira síntese de
perfume vegetal (FERRO, 2006; SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000; CHERNG;
CHIANG; CHIANG, 2008; LEITE, 2008; SMYTH; RAMACHANDRAN; SMYTH, 2009).
Atualmente, aproximadamente 1300 cumarinas já foram isoladas e são derivadas do
metabolismo da fenilalanina (ácido chiquímico), tendo como precursora básica a umbeliferona. As
gramíneas e umbelíferas são particularmente ricas em cumarinas, que podem ser encontradas tanto
nas folhas e raízes, como nos frutos e sementes. As cumarinas podem apresentar odor que
caracterizam a planta, como ocorre no caso da Mikania glomerata Spreng, conhecida como guaco
(FERRO, 2006).
Apesar da predominância de cumarinas simples no reino vegetal, outras subclasses de
cumarinas são encontradas de forma bastante diversificada: metoxicumarinas, furanocumarinas
lineares, furanocumarinas angulares, piranocumarinas lineares, piranocumarinas angulares,
cumarinas diméricas e cumarinas triméricas (LEITE, 2008; FERRO, 2006).
Várias drogas vegetais contendo cumarinas, especialmente furanocumarinas, são utilizadas
no tratamento de doenças da pele como psoríase, dermatoses e vitiligo. Cabe ressaltar que os
compostos cumarínicos possuem efeito anticoagulante, podendo ter interação com outros
medicamentos (LEITE, 2008).
Muitos estudos têm sido realizados com espécies da família Rutaceae, devido à sua
distribuição limitada, biogênese razoavelmente definida, além da diversidade de micromoléculas já
94

descritas. Tal família é muito bem caracterizada pela variedade de alcaloides e cumarinas que
apresenta, com potencial atividade microbiológica (SILVA et al., 2010).
Dentre as espécies de Rutaceae, duas destacam-se: Zanthoxylum stelligerum Turcz. e
Spiranthera odoratissima A. St Hil., empregadas na medicina popular contra distúrbios
inflamatórios ou infecções (OLIVEIRA et al., 2010).
Às cumarinas são atribuídas uma grande variedade de atividades biológicas, como:
antimicrobiana, antiviral, anti-inflamatória, antiespasmódica, estrogênica, antitumoral,
hepatoprotetora, antialérgica, anti-HIV (in vitro), antifúngica, anti-asmática, antioxidante,
antidiabética, antidepressiva, atividade fotossensibilizante dérmica, vasodilatadora, anti-helmíntica,
analgésica, sedativa, hipnótica e broncodilatadora. Em plantas cítricas, as cumarinas são
responsáveis pelo efeito fotossensibilizante (MACHADO et al., 2001; LOGHKIN; SCKANYAN,
2006; ANAND; SINGH; SINGH, 2012; SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000).

Caracterização química do metabólito

As cumarinas são lactonas com estrutura de base 1,2-benzopirona, que tem odor herbáceo,
doce de flores como a cereja. As cumarinas são biossintetizadas a partir do ácido chiquímico, com o
intermediário ácido cinâmico. A adição de um anel de furanocumarina resulta no psoraleno (linear)
e na angelicina (angular) (CLARK, 1995; SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000; YANG
et al., 2009).
As cumarinas são heterosídeos que apresentam a seguinte estrutura (C6-C3) (9C) (LEITE,
2009), ocorrendo naturalmente em seu estado livre ou como glicosídeos e muitas são compostos
fenólicos (ELDIN; DUNFORD, 2001).
A cumarina (1,2-benzopirona, 2H-1-benzopiran-2-ona, ou cis-o-lactona do ácido
cumarínico), no estado sólido, é um pó branco cristalino (peso molecular 146,15g/mol). O
composto consiste em um anel aromático, fundido com um anel de lactona condensado. A cumarina
é um pó solúvel em etanol, clorofórmio, éter dietílico e óleos, e é ligeiramente solúvel em água.
Pode ser sintetizada artificialmente a partir de salicilaldeído, embora a cumarina de alta qualidade
ainda seja obtida por isolamento do feijão tonka (LAKE, 1999).

Métodos de extração e obtenção

A extração das cumarinas pode ser realizada tanto em material seco, como fresco, por
solventes de diferentes polaridades. Em função dos tipos de estruturas, algumas são pouco solúveis
95

em solventes não polares e podem, frequentemente, cristalizar pelo arrefecimento ou concentração


de solvente.
Para a verificação qualitativa das principais classes de substâncias químicas presentes em
extratos de plantas, podem ser utilizados: difenilboriloxietilamina/polietilenoglicol, aplicado sobre
cromatoplaca, eluída no sistema polar ácido, para a detecção de cumarinas (azul-verde) e
flavonoides (amarelo, laranja), sobre luz ultravioleta, de comprimento de onda de 365 nm ou
hidróxido de potássio, aplicado sobre cromatoplaca, eluída no sistema polar ácido, para a detecção
de antraquinonas (vermelho-amarelo) e cumarinas (azul-verde), sobre luz ultravioleta, a 365 nm
(WAGNER; BLADT, 1996; GIANVECHIO et al., 2006; MACIEL et al., 2006).
As cumarinas podem ser determinadas por métodos espectroscópicos, sobre luz ultravioleta,
sendo possível diferenciar as cumarinas simples, que têm forte absorção entre 240-250 nm; ao passo
que cumarinas complexas podem ser quantificadas em 274 e 311 nm, devido ao benzeno e anéis α-
pirona, respectivamente. O desenvolvimento de fluorescência azulada, forte, bem visível, na
mancha alcalinizada, indica a presença de cumarinas (OLIVEIRA et al., 2010; MATOS, 1997).

Fontes vegetais

A cumarina foi isolada pela primeira vez, a partir de feijões tonka, e é encontrada em
níveis elevados em alguns óleos essenciais, particularmente no óleo da casca de canela (7000 ppm),
óleo de folha de cássia (até 87.300 ppm) e óleo de lavanda. A cumarina é encontrada também em
frutas (como o mirtilo e amora silvestre), chá verde e outros alimentos, tais como a chicória (LAKE,
1999).
O aipo (Apium graveolens L.), o coentro (Coriandrum sativum L.), a cenoura (Daucus
carota L.), a erva-doce (Foeniculum vulgare Mil.) e a salsa (Petroselinum crispum Nyman Ex A.W.
Hill) são vegetais e especiarias, pertencentes à família Umbelliferae, que contêm cumarinas
(bergapteno, isopimpinellina, xanthotoxina). As cumarinas possuem capacidade de inibir a
multiplicação de bactérias, fungos e vírus (CHERNG; CHIANG; CHIANG, 2008).
Há relatos de presença de cumarinas em muitas plantas, incluindo o trevo doce (Melilotus
alba), o feijão tonka (Coumarouna odourata), lavanda (Lavandula officinalis) e a canela
(Cinnamonum verum), além de ter sido detectada sua presença também em chás (Pouchong e
Longjing), embora as quantidades de cumarinas, em alguns casos, sejam mínimas (YANG et al.,
2009).
As cumarinas estão presentes nos óleos essenciais de plantas utilizadas como condimentos
e ingredientes alimentares. Foi relatada a ocorrência de cumarinas nas seguintes plantas:
Anthoxanthum odoratum (erva doce vernal), Asperula odorata (woodruff doce), Cinnamomum
96

aromaticum (casca de cássia), Dipterix odorata (cumaru), Eupatorium triplinerve (branco


snakeroot), Hierochloe odorata (santo grama), Melilotus coerulea (trevo doce), M. officinalis
(Meliloto comum), Melittis Melissophyllum (bálsamo falso), Primula elatior (oxlip) e Trilisa
odoratissima (língua de veado) (SPROLL et al., 2008).
As furanocumarinas estão presentes em plantas como: Amni majus (amni), Angelica
archangelica (angélica) e Citrus bergamota (bergamota). Da espécie Zanthoxylum stelligerum
Turcz. foi isolada uma furanocumarina, a imperatorina (SILVA, et al., 2010).
As furanocumarinas ocorrem no gênero Umbelliferae, enquanto as furanocumarinas
angulares estão presentes principalmente nos gêneros Heracleum, Pastinaca e Pimpinella, estando
quase ausentes nos gêneros Angelica, Peucedanum, Prangos e Seseli. Por outro lado, as
furanocumarinas lineares estão presentes nos gêneros Prangos, Angélica e Peucedanum. Uma das
furanocumarinas típicas lineares é byakangelicin, isolada a partir da Angélica. Geralmente as
dihidroxicumarinas ocorrem com furanocumarinas Nodakenetina (do tipo linear) de Angelica
decursiva e archangelicina (do tipo angular) de Angelica kieskei. Isopimpinellina e xanthotoxina são
as furanocumarinas metoxiladas mais conhecidas (SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI,
2000).
A cumarina dimérica (dicumarol) é extraída da dissecação de Melilotus officinalis (trevo de
cheiro).
Piranocumarinas e dihidropiranocumarinas (samisidina e visnadina) possuem ação sobre
cólicas renais e afecções urinárias diversas – Amni visnaga (paliteira). A piranocumarina angular
seselina, que foi isolada pela primeira vez a partir de Seseli indicum e, mais tarde, a partir de
Foeniculum vulgare, ocorre também em Apium graveolens, A. leptophyllum, Carum
roxburghianum e Pimpinella heyeana. As piranocumarinas lineares geralmente não ocorrem na
família Umbelliferae.
As dihidroxicumarinas ocorrem em angelica como uma mistura complexa, algumas
dihidroxicumarinas típicas são a decursina (do tipo linear) de Angelica decursiva e a visnadina (tipo
angular) da Ammi visnaga.
A família Rutaceae é composta por cerca de 150 gêneros, com mais de 1600 espécies. Os
bergaptenos (piranocumarinas) de ocorrência mais comum são a: fiiranocoumarina, xantiletina. A
maior incidência da piranocumarina seselina é observada na família Rutaceae (SARDARI;
NISHIBE; DANESHTALABI, 2000).
A esculetina e a fraxina estão presentes na Aescullus hipocastanum, conhecida como
castanha da índia.
97

As cumarinas simples como a esculetina, a fraxina e o isofraxinol também podem ocorrer


nas famílias Apocynaceae, Araliaceae e Oleaceae (SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI,
2000).
O ostrol (7-metoxi-8-cumarina), presente na Angelica pubescens, e espécies da família
Rutaceae, como Spiranthera odoratissima (A. St Hil.), é empregado na medicina popular para tratar
distúrbios inflamatórios ou infecções (SILVA, et al., 2010).
A escopoletina, com ação antiespasmódica está presente no Viburnum spp., e os
calanolídeos, com ação anti-HIV, estão presentes no Calophyllum lanigerum.
Segundo Eldin e Dunford (2001), tanto a angélica, como aipo, são pertencentes à família
Umbelliferae, que é descrita na literatura como rica em cumarinas. As frutas do Apium graveolens
(aipo) contêm grande quantidade de cumarinas e furanocumarinas, usadas no tratamento de artrite
reumatóide, sendo prescritas na forma de tintura. A Angelica archangelica também contém
quantidades apreciáveis de furanocumarinas e seus glicosídeos.

Efeitos no organismo produtor

A via biossintética dos fenilpropanoides controla a síntese de lignina, pigmentos de flores,


moléculas de sinalização e uma variedade de compostos envolvidos na defesa da planta contra
patógenos, como as cumarinas (SARDARI; NISHIBE; DANESHTALABI, 2000).
As cumarinas possuem efeitos biológicos nas células vegetais, podendo ser consideradas
ferramentas de defesa das plantas contra os patógenos. A presença de cumarinas sobre a superfície
da planta e o fato de sua atividade antifúngica aumentar durante exposição à luz ultravioleta, faz
com que protejam o vegetal de ataques por microrganismos (SARDARI; NISHIBE;
DANESHTALABI, 2000).
Segundo Sampaio et al. (2012), testando o potencial herbicida das furanocumarinas
(psoraleno, bergapteno, chalepensina e chalepina), os resultados alcançados sugerem que as
cumarinas bergapteno e chalepina possuem as características de inibidores da fotossíntese.

Efeitos no organismo humano

Segundo Sardari, Nishibe e Daneshtalabi (2000), as furanocumarinas têm sido utilizadas na


medicina popular, há tempos, para o tratamento de leucodermia (vitiligo), sendo aplicado um
cataplasma da planta conhecida como Psoralea corylifolia. Também os antigos egípcios usavam
Ammi majus para o tratamento de vitiligo.
98

As furanocumarinas (bergaptenos), fotossensibilizantes, podem provocar lesões dérmicas,


quando em associação com raios ultravioleta, ou ação terapêutica, nos casos de vitiligo e psoríase.
Nova, Arruda e Oliveira (2012) descreveram o psoraleno e o bergapteno como
responsáveis pelos efeitos fotossensibilizantes provocados pelo óleo essencial extraído da casca de
frutas cítricas.
Algumas furanocumarinas, especialmente o psoraleno e o bergapteno, estão sendo
utilizadas como fotodinamizadores em bronzeadores, ou seja, aumentam o bronzeamento induzido
pela radiação ultravioleta; porém, tal utilização não é isenta de riscos, podendo ocorrer dermatites
(NOVA et al., 2012).
Algumas plantas ricas em furanocumarinas que podem provocar fotossensibilização com
risco de queimaduras leves ou graves são: Amni majus, ou amni; Angelica archangelica, ou
angélica; Brosmun gaudichaudii Trec., ou mamica de cadela (RIZZINI; MORS, 1976); Citrus
bergamota, ou bergamota; Ruta graveolens L., ou arruda (FERRO, 2006).
A esculetina e fraxina possuem ação antioxidante potente, vasoconstritora e vasoprotetora,
presente na Aescullus hipocastanum (castanha da índia).
A escaparona (6,7-dimetoxicumarina) possui atividade imunossupressora, relaxante
vascular, hipolipdêmica e hipotensora e é encontrada na Artemisia scoporia (SARDARI; NISHIBE;
DANESHTALABI, 2000).
Algumas cumarinas podem provocar quadros hemorrágicos, que dependem da dose e da
sensibilidade de cada organismo. A Justicia pectoralis Jacq., o chambá, contém derivados
cumarínicos e, se dessecadas incorretamente e contaminadas com fungos, podem provocar quadros
hemorrágicos, pela transformação das cumarinas em dicumarol. Foram relatados efeitos
hemorrágicos de: Leonotis nepetaefolia R. Br., ou cordão de frade; Medicago sativa L., ou alfafa,
que possui cumarinas, trifoliol, medicagol; Melilotus officinalis, ou trevo de cheiro; Mykania
glomerata Sprengel, ou guaco.
A espécie Hypericum spp, ou hipérico, tem sido utilizada para tratar perturbações
psicossomáticas, depressão, ansiedade e/ou agitação nervosa. O extrato de Hypericum pode levar a
um quadro de fotossensibilização e até reações fototóxicas, sendo causada pelas hipericinas, que são
absorvidas dessas preparações e alcançam altas concentrações na corrente sanguínea (SHULZ;
HANSEL; TYLER, 2002).
Algumas cumarinas tem sido submetidas a ensaios clínicos para o tratamento de linfedema,
tratamento do câncer de mama e tratamento de carcinoma do pulmão e rim, tendo sido utilizadas
isoladamente ou em combinação com a cimetidina, como tratamento antineoplásico (LAKE, 1999).
As cumarinas tem uma grande aplicação industrial, devido principalmente à sua forte
fragrância. São utilizadas como fixadores e agentes melhoradores para perfumes, sendo também
99

adicionadas aos sabonetes de higiene, detergentes, pastas de dente, produtos que contém tabaco e
algumas bebidas alcoólicas. Podem ainda ser utilizadas em artigos de borracha, materiais plásticos,
tintas e sprays, para neutralizar odores desagradáveis. Por causa de algumas das suas propriedades
bioquímicas, as cumarinas são utilizadas como coadjuvantes em medicamentos, pois possuem a
capacidade de ativar macrófagos, além das propriedades imunomodulatórias.
Segundo Lake (1999), devido às inúmeras finalidades com que as cumarinas podem ser
empregadas, os indivíduos estão expostos a doses terapêuticas de cumarina, que variam de 8 a 7000
mg/dia, por períodos de duas semanas a dois anos.
Ao se compararem a toxidade e carcinogenicidade das cumarinas presentes nas dietas,
cosméticos e outros produtos, esse mesmo autor constatou que a exposição está dentro de margens
aceitáveis, e não representa risco à saúde humana. Os estudos mostraram ainda que a cumarina não
é um agente genotóxico, e, apesar dos achados de hepatotoxidade em ratos, camundongos e
cachorros, tal efeito não foi observado em babuínos e humanos (LAKE, 1999).

SAPONINAS

As saponinas são compostos ativos, amplamente distribuídos na natureza, ocorrendo


principalmente no reino vegetal. Para Ustundag, Balsevich e Mazza (2007), são glicosídeos
presentes em alguns organismos marinhos, como a estrela do mar e o pepino do mar. Suas
propriedades anfifílicas e tensoativas distinguem esses compostos de outros glicosídeos naturais. O
termo saponina deriva da palavra latina sapo, que significa ―sabão‖, devido ao fato desses produtos
naturais formarem espuma abundante e estável, quando em solução aquosa (SHULZ; HANSEL;
TYLER, 2002; LEITE, 2008; VINCKEN et al., 2007).
Segundo Augustin et al. (2011), as saponinas possuem essa natureza anfifílica, devido à
ligação da sapogenina lipofílica aos açucares hidrofílicos, das cadeias laterais. Possuem ampla
aplicação em bebidas e produtos de confeitaria, bem como em produtos cosméticos e produtos
farmacêuticos (VINCKEN et al., 2007).
As saponinas possuem, além de suas propriedades surfactantes, a de alterar a
permeabilidade de todas as membranas biológicas. Em concentrações mais altas no sangue ou nos
tecidos, têm um efeito geralmente tóxico nas células. Devido à sua natureza polar, são pouco
absorvidas pelo trato gastrointestinal, não produzindo efeito sistêmicos quando administradas
oralmente (SHULZ; HANSEL; TYLER, 2002).
100

Apresentam propriedade de emulsificar óleos e produzem hemólise. Quimicamente,


constituem um grupo heterogêneo, sendo classificadas em glicosídeos saponosídicos do tipo
esteroide e do tipo triterpênico (LEITE, 2008).
A ocorrência de saponinas triterpênicas é rara entre espécies monocotiledôneas, mas
abundante em algumas famílias de angiospermas dicotiledôneas. Já as saponinas esteroidais são de
ocorrência mais restrita na natureza, sendo encontradas em algumas famílias de angiospermas
monocotiledôneas, especialmente Dioscoreaceae, Agavaceae e Liliaceae.
As saponinas triterpênicas têm atraído o interesse de cientistas médicos por causa de sua
propriedades farmacológicas, tais como: anti-HIV, anti-diabética, anti-inflamatória, antimicrobiana,
hemolítica, hepatoprotetora, gastroprotetora, hipolipidemiante; inseticida; moluscicida (VINCKEN
et al., 2007), anti-aterosclerótica e antioxidante, atuando em várias fases do desenvolvimento de
tumores (DINI; CARLO; DINI, 2009).

Caracterização química do metabólito

As saponinas são glicosídeos de esteroides ou de terpenos policíclicos. Possuem uma


estrutura de caráter anfifílico: parte da estrutura com característica lipofílica (triterpeno ou
esteróide) e outra hidrofílica (açúcares). Essa característica determina a propriedade de redução da
tensão superficial da água e suas ações detergentes e emulsificante (SCHENKEL; GOSMANN;
ATHAYDE, 2007).
Possuem estrutura esteroidal ou triterpênica e, em algumas plantas, propriedades
hemolíticas. As saponinas são estruturalmente bastante diversas, compreendendo dois grupos, os
glicosídeos triterpênicos e os glicosídeos esteroidais, consistindo, assim, de uma aglicona apolar
acoplada com uma unidade de monossacarídeo (LIMA, 2006).
Em alguns casos, na planta fresca, o grupo hidroxila, na posição C-26 das saponinas
esteroidais, participa da ligação glicosídica, estabelecendo uma estrutura de aglicona pentacíclica,
referida como um esqueleto furostano (C27). No entanto, quando ocorre a perda dessa unida de
açúcar ligada ao C-26, a aglicona da saponina esteroidal resultante, passa a ter uma estrutura com
seis anéis, chamada de esqueleto espirostano. Quanto às saponinas triterpênicas, elas apresentam
uma genina triterpênica, com um esqueleto C30, geralmente formando uma estrutura pentacíclica
(LEITE, 2008; ELDIN; DUNFORD, 2001; VINCKEN et al., 2007).
Outra classificação para as saponinas esteroidais triterpênicas diz respeito ao número de
cadeias de açúcares ligados à genina. Assim, saponinas monodesmosídicas possuem uma cadeia de
açúcares; bidesmosídicas tem duas, e as tridesmosídicas apresentam três cadeias. Essa diferenciação
101

entre o número de cadeia de açúcares ligada à genina pode repercutir na atividade biológica da
saponina (LEITE, 2008).

Métodos de extração e obtenção

As saponinas são extraídas por solventes como: água, etanol, metanol, clorofórmio e
butanol (SIMÕES et al., 2007).
Para identificação da presença de saponinas em extratos, pode-se utilizar a metodologia em
que se pesam 10 mg do extrato etanólico e adiciona-se 2 ml de etanol para dissolver,
adicionando-se, em seguida, 5ml de água fervente. Após o resfriamento, agita-se vigorosamente a
mistura e deixa repousar por 20 minutos. A formação de espuma é indicativa da presença de
saponinas (OLIVEIRA et al., 2010).
Pode-se ainda utilizar a Reação de Liebermann, que consiste de reação colorimétrica com
anidrido acético em meio sulfúrico. Outros métodos incluem a cromatografia de troca iônica ou
extração seletiva; métodos cromatográficos, utilizando resinas sintéticas, gel de sílica ou géis de
exclusão molecular; complexação com colesterol; diálise (SIMÕES et al., 2007).

Fontes vegetais

Tabela 1- Algumas fontes vegetais de saponinas.

Fonte Vegetal Nome comum Partes utilizadas Componente


Químico
Aesculus Castanha da Índia Sementes Aescina –
hippocastanum L. triterpenóides

Asparagus officinalis Esparragueira Raiz e rizomas Sarsapogenina

Dioscorea spp --- Raiz e rizomas Diosgenina

Polygala senega Polygala Raiz e rizomas Senegosídeo

Saponaria officinalis Saponária Folhas e raiz Gipsogenina


102

Trigonella foenum- Feno grego Sementes Diosgenina


graecum
Chenopodium quinoa Quinoa Sementes Sapogeninas
Willd. triterpênicas

Glycyrrhiza glabra L. Alcaçuz Raíz e rizomas Saponinas


triterpênicas
(glicirrizina)

Panax ginseng C. A. Ginseng Rizomas e raízes Saponinas


Mey. dessecadas triterpênicas
(Ginsenosídeos,
panaxosídeos)

Centella asiática (L.) Centela Raiz Asiaticosídeo


Urb.
Calendula officinalis Calêndula Folhas ou Saponinas
L. inflorescências triterpênicas

Equisetum arvensis L. Cavalinha Talos Equisetonina

Hedera helix L. Hera terrestre Folhas Glicosídeo triterpênico


(hederasaponina)

Quillaja saponária Quilaia Flores e casca do caule Mais de 50 saponinas


Molina

Efeitos no organismo produtor

A capacidade de sintetizar saponinas é bastante difundida entre plantas pertencentes à


divisão das Magnoliophyta, abrangendo tanto dicotiledôneas e monocotiledôneas. A maioria dos
produtores de saponinas são espécies pertencentes às dicotiledôneas (AUGUSTIN et al., 2011).
103

A distribuição das saponinas varia grandemente nos órgãos da planta e tecidos, durante seu
desenvolvimento e fatores ambientais, como a disponibilidade de nutrientes e água e a irradiação de
luz ou seus efeitos combinados, afetam a produção de saponinas (AUGUSTIN et al., 2011).
No vegetal produtor, podem ser encontradas nos tecidos vulneráveis aos ataques fúngico,
bacteriano ou ao ataque de insetos (WINA; MUETZEL; BECKER, 2005), atuando como
substâncias protetoras (PIZARRO, 1999). A atividade protetora está associada a interação com os
compostos esteróis da membrana dos vegetais (FRANCIS et al., 2002).
O papel biológico das saponinas ainda não foi completamente compreendido nas plantas,
sabe-se que são parte da composição dos sistemas de defesa devido à atividade antimicrobiana,
fungicida, alelopática, inseticida e moluscicida (AUGUSTIN et al., 2011).

Efeitos no organismo humano

De acordo com Ferro (2006), os vegetais ricos em saponinas podem agravar processos de
má-absorção, doença celíaca, deficiências das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), além de
irritações do trato digestivo.
A espécie Aesculus hippocastanum L., vulgarmente conhecida por castanha da Índia, não
deve ser usada por crianças com até 7 anos de idade, nas quais é mais frequente a
hipersensibilidade. Altas doses podem provocar vômitos, sede excessiva, eritema facial, distúrbios
visuais, alteração de consciência, urticária, espasmos musculares e hipersensibilidade. Podem ainda
ocorrer sangramentos e equimoses devido à atividade antitrombótica da aesculina
(hidroxicumarina). As sementes da Aesculus hippocastanum podem conter até 13% de aescina, em
que a parte açúcar compreende duas moléculas de glicose, ácido glicurômico e ácido tíglico
(ELDIN; DUNFORD, 2001).
A Calendula officinalis L., vulgarmente conhecida como calêndula, não deve ser utilizada
durante a gestação, pois pode ser abortiva em doses elevadas, sendo também contra indicada na
lactação (FETROW; AVILA, 2000). Em alguns casos, pode provocar náuseas, vômitos e diarreia,
quando em uso interno prolongado e/ou doses mais elevadas.
A Glyxyrriza glabra L., o alcaçuz, em doses elevadas, por longo tempo, pode elevar a
pressão arterial, provocando crises hipertensivas, pois aumenta a perda de potássio e a retenção de
sódio no organismo.
A Hedera helix L., ou hera terrestre, deve ser evitada durante a gravidez e a lactação, por
falta de estudos clínicos comprovando a sua segurança (FETROW; AVILA, 2000). Crianças
menores de 12 anos e hipertireoidianos não devem usá-la. Doses mais elevadas podem provocar:
diarréia, vômito (por irritação na mucosa) e alterações neurológicas (delírios, convulsões, alterações
104

meníngeas). Superdosagens podem provocar hemólise e seu uso externo pode levar a dermatite
reacional.
A Hydrocotyle asiática L., de nome comum centela asiática, quando usada em doses
habituais não provoca nenhum efeito colateral. Já a superdosagem pode provocar náuseas, vômitos,
hipotensão arterial, depressão do sistema nervoso central, sonolência, sedação, cefaleias, e
fotossensibilização. Não é recomendado o seu uso na gravidez. Seu uso deve ser evitado em casos
de hipercolesterolemia familiar grave, pois pode aumentar os níveis de colesterol no início do
tratamento.
A Ilex paraguaiensis A. St. Hillari, conhecida vulgarmente por erva-mate, pode provocar
insônia, ansiedade, palpitação, arritimias, irritação da mucosa digestiva, úlcera gástrica e gastrite,
anemias. Sua ingestão pode aumentar o risco de câncer de esôfago, boca, laringe, faringe (PINTOS
et al., 1994) e bexiga (DE STEFANI et al., 1991). A metilxantina, em doses elevadas, podem
provocar intoxicação hepática.
A Medicago sativa L., ou alfafa, demonstrou toxicidade, sendo responsável por induzir
síndrome semelhante ao lúpus eritematoso sistêmico em animais de laboratório, reversível com
suspensão do produto. Quando a planta é ingerida fresca, pode ocasionar problemas hemorrágicos
graves.
O Panax Ginseng C. A. Mey., ou ginseng, não deve ser utilizado por grávidas e lactantes,
bem como por hipertensos graves. Pode provocar insônia em doses maiores ou em pessoas mais
sensíveis, especialmente se tomada à noite. Seu uso prolongado pode provocar mastalgia,
ginecomastia, galactorréia e metrorragias.
A Chenopodium quinoa Willd., vulgarmente conhecida como quinoa, é um alimento bem
conhecido da comunidade Andina, como uma fonte alternativa de alimento em outras regiões. A
semente contém proteína de alta qualidade e é particularmente rica em aminoácidos essenciais, com
valor nutricional maior do que cereais como o milho, a aveia, o trigo e o arroz. A semente de quinoa
é utilizada na formulação de ração ou na alimentação humana. No entanto, a principal desvantagem
tem sido relacionada ao amargor dessa semente, devido a presença de saponinas, que exercem
atividade antimicrobiana, toxicidade em camarões, reduz o colesterol sanguíneo e atuam como
adjuvantes imunológicos.
105

Tabela 2 - Efeitos na saúde humana de algumas espécies.

Nome Botânico Nome Comum Efeito na saúde


humana
Medicago sativa L. Alfafa Complexação com
Panax ginseng C. A. Mey. Ginseng colesterol, reduzindo a
Ilex paraguaiensis A. St. Hilarie Erva mate colesterolemia
Calêndula officinalis L. Calêndula
Aesculus hippocastanum L. Castanha da índia Atividade
Glycyrriza glabra L. Alcaçuz antiinflamatória
Hydrocotyle asiática L. Centelha asiática
Calendula officinalis L. Calêndula Atividade antiviral in
Gymnema sylvestris Swartz Gimena vitro
Grindelia robusta L. Grindélia Expectorante
Primula veris L. Prímula
Hedera helix L. Hera terrestre
Cephaelis ipecacuanha Ipeca
Polygala senega Polígula
Saponaria officinalis Saponária
Equisetum arvensis L. Cavalinha Diurético
Smilax spp. Salsaparrilha
Glycyrrhiza glaba L. Alcaçuz Efeitos hormonais
Dioscorea spp.
Trigonella foenum graecum Feno grego
Smilax spp. Salsaparrilha Desintoxicante
Asparagus officinalis Esparragueira
Aesculus hippocastanum L. Castanha da índia Antiexudativo e
antiedêmico
106

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110

CAPÍTULO 8

ESTEROIS VEGETAIS

Julio Cezar D’Ávila Pereira Paixão Costa


Renata Junqueira Pereira

Esterois são componentes essenciais às membranas das células e podem ser sintetizados
tanto por vegetais, quanto por animais. Fitoesterois e esterois vegetais são conhecidos por
reduzirem os níveis séricos de colesterol LDL e colesterol total. Os fitoesterois estão dispostos em
quatro anéis condensados, um grupo hidroxila ligado a um anel, distinguindo-se dos esteróis
produzidos pelo organismo humano apenas pela cadeia lateral e as posições dos anéis. O efeito da
polaridade interfere na interação micela-colesterol, produzindo um mecanismo de competição na
absorção do colesterol.

Caracterização química do metabólito

Os fitoesterois são componentes naturais das células vegetais, presentes em sua porção
insaponificável, e exercem diversas funções biológicas análogas às do colesterol nas células dos
mamíferos (ROCHA, 2008). Devido a isso, são utilizados no tratamento e prevenção de doenças
cardiovasculares. Sua estrutura é composta por cadeias carbônicas cíclicas, de alto peso molecular,
derivadas do ciclopentanofenantreno (RODRIGUES et al., 2004; LOTTENBERG et al., 2002).
Em 1922, descobriu-se em abóboras, o β-sitosterol, sendo essa a primeira descrição química
do composto. Os fitoesterois são semelhantes ao colesterol, por possuírem um núcleo tetracíclico,
diferenciando-se pela natureza da sua cadeia lateral na posição C24 (RODRIGUES et al., 2004;
OETTERER; D’ARCE; SPOTO, 2006), por disso, possuem uma larga utilização na indústria de
alimentos.
São compostos com 28 ou 29 carbonos, diferindo do colesterol (27 carbonos) pela presença
de um radical metila ou etila adicional na cadeia carbônica (Figras 1 e 2). Os fitosteróis são
semelhantes aos fitostanóis, dos quais diferem pela presença de insaturações. Sua grande
similaridade com o colesterol parece ser responsável pela excreção fecal do colesterol dietético e
conseqüente redução do colesterol sérico (MOREAU; WHITAKER; HICKS, 2002).
111

Figura 1- Estrutura do colesterol

Figura 2 - Estrutura de esteróis vegetais

Nas plantas, podem apresentar-se como esteróis livres, esterificados (ligados a ácidos
graxos), ligados a carboidratos (ELLEGARD; NORMEN; ANDERSSON, 2007) ou como ácidos
fenólicos (NORMÉN et al., 2007). Os seus derivados saturados são os estanois e são menos
abundantes nos alimentos (ORTEGA; LOPES-SOBALER, 2006). O termo fitoesterois é, muitas
vezes, utilizado para as duas formas (ORTEGA; LOPES-SOBALER, 2006).
112

Método de extração e obtenção

Os esteróis, devido a sua natureza lipossolúvel, devem ser isolados, inicialmente, por meio
de extração com solventes orgânicos, os quais geralmente são apolares. Os métodos indicados para
tal extração são o de Bligh & Dyer (1959), que concentra a amostra pela homogeneização e
posterior retirada da fase aquosa, seguida de subseqüente submissão da fase orgânica a evaporação;
e também o método de Soxleth, que se baseia na extração a quente dos lipídios, por meio de refluxo
com solvente orgânico (éter de petróleo ou hexano). Como os esterois pertencem ao grupo dos
compostos insaponificáveis dos lipídios, se faz necessária a saponificação desse extrato, afim de se
separar a parte insaponificável, contendo os esterois, da parte saponificável contendo, em sua
maioria, ácidos graxos. Tal método se procede, geralmente, com extração utilizando-se hidróxido de
potássio em metanol, sendo o extrato final submetido a um recipiente de ultra-som. A parte superior
contem os insaponificáveis (esterois) e parte inferior, contem os saponifcáveis (ácidos graxos).

Fontes vegetais

São conhecidos mais de 40 tipos de fitoesterois, dos quais o β-sitosterol, o campesterol e o


estigmasterol são os mais comumente encontrados e os mais abundantes na natureza (PIIRONEN et
al., 2000), porém poucos são encontrados em quantidades significantivas em alimentos (ROCHA,
2008). Tais compostos ocorrem naturalmente nos produtos de origem vegetal, como as frutas, os
hortícolas e os óleos vegetais. As frutas e os hortícolas apresentam, geralmente, concentrações mais
baixas, enquanto as gorduras os apresentam em concentrações mais elevadas. No que diz respeito às
gorduras, o óleo de milho é o mais rico em esterois vegetais (912-978mg/100g de peso edível). No
grupo dos cereais e derivados, a farinha integral é a que apresenta teores mais elevados desses
compostos (70-99mg/100g de peso edível). O brócolis é o legume com maior teor de esteróis
vegetais (44mg/100g de peso edível), enquanto o tomate e o pepino são pobres nesses compostos (5
e 6 mg/100g de peso edível, respectivamente) (MEDEIROS, 2009).
Em geral, óleos vegetais e produtos derivados desses óleos são considerados as fontes
naturais mais ricas em esterois, seguidos pelos cereais, produtos à base de cereais e castanhas
(PIIRONEN et al., 2000).

Efeitos no organismo produtor

Os esteróis vegetais desempenham, nas plantas, funções semelhantes às do colesterol nos


animais, regulando a fluidez da membrana celular e sua permeabilidade a água. Além disso, podem
113

atuar como hormônios vegetais ou serem seus precursores (BRUFAU; CANELA; RAFECAS,
2008).

Efeitos no organismo humano

A digestão dos esteróis vegetais inicia-se na boca, degradados em moléculas de gordura


menores. No estômago, enzimas digestivas continuam decompondo e seguem para o intestino
delgado. Uma vez no duodeno, são emulsionadas pela bile e sucos pancreáticos. As micelas são
absorvidas por difusão, através da borda em escova da superfície das células intestinais. Acredita-se
que este é o caminho para a absorção dos fitosterois nas micelas. Outro meio seria que os mesmos
transportadores do colesterol (NPC1L1, ABC1, ABCG5 e ABCG8) os carregassem para dentro das
células intestinais. No interior do enterócito, os fitosterois deveriam ser esterificados pela acetil-
coenzima A, mas apresentam baixa afinidade por ela e apenas pequena parte deles são saturados.
Assim, apenas 20% do campesterol e 7% do β-sitosterol, provenientes da alimentação são
absorvidos (TALATI et al., 2010). Dessa forma, são encontrados em baixas concentrações no
sangue humano (MEDEIROS, 2009).
Observam-se também diferenças na absorção entre esteróis e estanois vegetais, sendo os
esterios 10 a 30 vezes mais absorvidos que os estanois. Assim, um consumo de fitoestanois parece
inibir, não apenas o colesterol, mas também os compostos esteróis (TALATI et al., 2010).
A utilização de fitoesterois para a redução do LDL colesterol no sangue humano tem sido
frequente. Porém, o mecanismo de ação dos fitoesterois ainda não foi completamente elucidado.
Sabe-se que o principal efeito parece ser a redução da absorção do colesterol dietético, causada
pelos fitoesterois. Essa redução é devida a competição entre compostos de estruturas semelhantes
(colesterol dietético, fitoesterois e colesterol biliar) pela solubilização nas micelas. Sendo os
fitoesterois mais lipofílicos, eles possuem maior afinidade pelas micelas e são preferencialmente
solubilizados, sendo o colesterol, não incorporado às micelas, eliminado nas fezes (EUSSEN et al.,
2010).
A ingestão diária média de esteróis vegetais, na dieta ocidental, é de cerca de 200-400
mg/dia, ligeiramente inferior à ingestão de colesterol, que varia entre 250 e 500 mg/dia . Apesar dos
valores médios de ingestão diária não serem muito diferentes, as concentrações plasmáticas de
esterois vegetais são cerca de 500 a 20000 vezes menores que as do colesterol. Isso de deve às
diferentes taxas de absorção, pois enquanto cerca de 55 a 60% do colesterol ingerido é absorvido,
apenas 2 a 5% dos esterois vegetais o são (MEDEIROS, 2009).
114

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116

CAPÍTULO 9

GLICOSÍDEOS CARDIOTÔNICOS

Milene Aparecida Andrade

As plantas medicinais têm sido uma rica fonte para obtenção de moléculas para serem
exploradas terapeuticamente. Muitas substâncias isoladas de plantas continuam sendo fontes de
medicamentos como, por exemplo, os glicosídeos cardiotônicos.
Glicosídeos cardiotônicos, também conhecidos como glicosídeos cardioativos; heterosídeos
cardiativos/cardiotônicos, são definidos como compostos que contêm um ou mais resíduos de
açúcar ligados, e que, dependendo da dose, são extremamente tóxicos para humanos ou podem
atuar como drogas de fortalecimento do coração enfraquecido, melhorando o funcionamento do
mesmo. Ressaltando que a dosagem deve ser controlada cuidadosamente, uma vez que a dose
terapêutica é muito próxima da dose tóxica.
A utilização de drogas vegetais contendo glicosídeos cardioativos data de antes da era
Cristã. As plantas eram empregadas como diurético, tônico cardíaco e emético. Além disso, eram
utilizados como veneno, principalmente por causa dos seus efeitos tóxicos.
Esses compostos constituem uma classe muito homogênea estrutural e farmacologicamente
e são produzidos como metabólitos secundários. A estrutura química dos glicosídeos cardiotônicos
é constituída por resíduos de açúcar (ou glicona), núcleo esteroide e anel lactônico. Quimicamente,
as agliconas (ou geninas) desse grupo caracterizam-se pelo núcleo fundamental do
ciclopentanoperidrofenantreno e são divididas em dois grupos, um com compostos de cadeia de
vinte e três carbonos, os cardenolídeos (anel lactônico pentagonal insaturado em α, β); e outro com
compostos de cadeia de vinte e quatro carbonos, os bufadienolídeos (anel lactônico hexagonal di-
insaturado em α, β e γ, δ), sendo que os glicosídeos do grupo dos cardenolídeos são os mais
importantes na medicina e os bufadienolídeos são menos abundantes na natureza e também são
encontrados no reino animal.
Os glicosídeos cardioativos possuem sabor amargo e sua solubilidade em água é diretamente
proporcional ao número de hidroxilas. São solúveis em álcool e possuem solubilidade intermediaria
em solventes orgânicos apolares. A hidrossolubilidade e, consequentemente o tempo de ação, são
proporcionais ao número de hidroxilas presentes no anel esteroidal.
Atualmente esses glicosídeos são usados pela medicina, principalmente para o tratamento da
insuficiência cardíaca. Porém intoxicações podem ocorrer depois do consumo de chás preparados
com partes de plantas ou depois do consumo de flores, folhas ou sementes de plantas, que contêm
117

glicosídeos cardiotônicos. Os primeiros sintomas de intoxicação são os gastrintestinais, que incluem


náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia e anorexia, seguidos dos sintomas neurológicos, que
envolvem vertigem, dor de cabeça, tontura, fadiga, debilidade e alucinações, sendo que, overdoses
levam à parada cardíaca e à morte.

Métodos de extração e obtenção

Os glicosídeos cardiotônicos primários devem ser extraídos a partir de plantas frescas, ou


daquelas submetidas a algum processo que vise a inativação de enzimas, para que ocorra a
preservação das moléculas de açúcar que os compõem. O processo de secagem permite que os
glicosídeos cardiotônicos secundários sejam extraídos, devido a remoção da molécula de açúcar
terminal.
As soluções empregadas para essa extração devem ser hidroalcoólicas, como etanol 50% ou
70%, e o procedimento deve ser realizado a quente. Posteriormente, macromoléculas presentes no
extrato devem ser precipitadas com acetato de chumbo e, após a filtração, é necessário realizar a
partição como solventes de média polaridade, como por exemplo o clorofórmio, sendo que a fase de
interesse é a fase orgânica (do solvente). Dependendo do grau de hidroxilação, alguns glicosídeos
podem ser extraídos direto da solução hidroalcoólica.
Para se obter apenas a aglicona desses compostos, é necessário realizar a acidificação da
solução hidroalcoólica com ácido sulfúrico, para que ocorra a hidrólise; essa hidrólise também pode
ser enzimática.

Caracterização química do metabólito

Na fase orgânica (extrato clorofórmico), obtida no processo de extração, são realizadas


reações de caracterização baseadas em colorimetria, que são específicas para cada grupo funcional
que compõem a molécula do glicosídeo cardiotônico. De acordo com a sua natureza química, são
eles: o núcleo esteroide, o anel lactônico e a parte do açúcar.
Para caracterização desses compostos, utilizam-se reações que evidenciam isoladamente
partes da molécula do glicosídeo como: reações de caracterização dos esteroides, do núcleo
ciclopentanoperidrofenantreno (Libermann-Burchard), reações relacionadas com o anel lactônico
pentacíclico (Kedde, Legal, Baljet e Raymond-Marthoud) ou com desoxiaçúcares (Keller-Kiliani e
Pesez).
A presença de açúcares do tipo desoxi-açúcares (açúcar sem oxigênio) é revelada pelo
surgimento de um anel vermelho-pardo e fração acética esverdeada, após a reação do extrato
118

clorofórmico com ácido acético glacial, cloreto de ferro II e ácido sulfúrico concentrado (Reação de
Keller-Killiani). Para a determinação específica de 2,6-didesoxi-hexose, emprega-se a secura do
extrato clorofórmico, seguida da solubilização do resíduo em ácido acético e finalmente adição do
reativo de xantidrol (reação de Pesez). O surgimento da coloração vermelha, após o aquecimento,
indica reação positiva, ou seja, esse tipo de açúcar está presente.
O principal teste analítico para detecção de esteroides em extratos de plantas é a prova de
Liebermann-Burchard, que consiste no tratamento da amostra com anidrido acético, em presença de
ácido acético e algumas gotas de ácido sulfúrico, ocorrendo a desidratação, seguida de oxidação do
sistema de anéis do ciclopentanoperidrofenantreno, formando um esteroide aromático que é
evidenciado pelo aparecimento de uma coloração azul-esverdeada.
As agliconas cardenolídicas (anel lactônico pentagonal insaturado em α, β), em meio
alcalino (hidróxido de sódio ou de potássio), na presença da solução metanólica de ácido 3,5-
dinitrobenzóico (reação de Kedde), tornam a solução vermelho-violeta e, na presença da solução
etanólica de ácido pícrico (reação de Baljet), a coloração apresentada é alaranjada. Na presença de
m-dinitrobenzeno, heterosídeos e agliconas cardenolídicas a coloração apresentada é laranja (reação
de Raymond-Marthoud). Pelo surgimento da coloração avermelhada, após a adição do
nitroprussiato de sódio (reação de Legal), é possível inferir a presença de agliconas e glicosídeos
cardenolídicos (devido a presença do anel pentagonal insaturado em α, β) e, para os glicosídeos
bufanodienolídeos, esse ensaio é negativo. Em meio ácido desidratante, os glicosídeos
cardiotônicos se convertem em substâncias fluorescentes, sendo que a intensidade varia de acordo
com o tipo de aglicona.
Análises envolvendo cromatografia em camada delgada (CCD) também são úteis para
identificação da presença desses compostos no extrato. Nesses casos, o suporte empregado é a sílica
gel G e a fase móvel é acetato de etila: metanol: água, nas proporções 75:10:7,5 V/V/V, e a
revelação é realizada com ácido trifluoacético em etanol (96%), solução de cloramina T e
observação com luz ultravioleta. O surgimento de bandas fluorescentes (azuis e amarelas) indica a
presença de glicosídeos cardiotônicos. Outro sistema cromatográfico que pode ser utilizado é a
sílica gel 60F como suporte, acetato de etila: metanol: água (81:11:8 V/V/V) como a fase móvel, e a
revelação é realizada com o Reativo de Kedde (solução metanólica de ácido 3,5-dinitrobenzóico) a
presença de glicosídeos cardiotônicos e inferida com o surgimento de bandas na coloração de azul a
vermelho-violeta.
A determinação quantitativa de geninas do tipo cardenolídeas pode ser realizada por
fotocolorimetria, utilizando o princípio das reações de Kedde e Baljet, no comprimento de onda de
540 nm. Também são utilizadas análises cromatográficas, empregando-se a Cromatografia Líquida
de Alta Eficiência (CLAE), em fase reversa, com fase móvel de acetonitrila: água (25: 75 V/V) e
119

com detector de arranjo de diodos (220 nm); a densitometria direta (225 nm), usando CCD em fase
reversa; e determinação enzimática, baseada na inibição da atividade da Na+, K+ ATPase.

Fontes vegetais

Não há fontes alimentares para a obtenção de glicosídeos cardiotônicos, logo são extraídos
de plantas medicinais, sendo que sua ocorrência está restrita as Angiospermas, tanto em
monocotiledôneas como em dicotiledôneas. Os glicosídeos cardiotônicos classificados como
cardenolídeos são mais comuns nas plantas, pertencentes as famílias Apocynaceae (Strophanthus),
Liliaceae (Convallaria) e Scrophulariaceae (Digitalis). Os bufadienolídeos são encontrados apenas
em alguns membros das famílias Liliaceae (Urginea) e Ranunculaceae (Helleborus), sendo que
todos os órgãos dos vegetais podem contém glicosídos cardiativos.
Alguns organismos não pertencentes ao Reino Vegetal sintetizam esses compostos, como é
o caso dos sapos do gênero Bufo (família Bufonidae) e de alguns besouros (Crysolina spp.), que os
sintetizam a partir de fitoesteróis e, outros, são capazes de acumular em seus corpos os glicosídeos
cardiotônicos ingeridos a partir de sua matriz alimentar, como é o caso das borboletas monarca
(Danaus plexippus) e suas larvas, que se alimentam de serralha comum (Asclepias syriaca;
Asclepiadaceae) e acumulam uma variedade de glicosídeos cardiotônicos cardenolídeos,
biossíntetizados por esse vegetal.

Efeitos no organismo produtor

Os metabólitos secundários são conhecidos por desempenharem um papel importante na


adaptação do organismo produtor aos ambientes em que estão inseridos e, no caso das plantas,
também garantindo-lhes vantagens que compensem a falta de motilidade, uma vez que elas não
podem escapar das pressões ambientais, sendo suas únicas armas, as estruturas físicas e a
composição química. Assim, como a maioria dos metabólitos secundários, a biossíntese e/ou
acúmulo dos glicosídeos cardiotônicos representa uma maneira do organismo produtor se defender
do ataque de predadores, atuando como venenos e toxinas e contra o ataque de herbívoros
vertebrados, esse papel é desempenhado, também, pelo gosto amargo característico dessa classe de
compostos.

Efeitos no organismo humano


120

Os efeitos dos glicosídeos cardiotônicos sobre o coração foram descobertos como resultado
da aplicação de Digitalis no tratamento de edemas, onde se observou indiretamente, seu efeito sobre
o coração, melhorando o suprimento sanguíneo aos rins e eliminando o excesso de fluido.
A ação farmacológica desses compostos é observada quando o princípio ativo está sob a
forma de glicosídeo; a atividade inata reside nas agliconas (geninas), mas os açúcares conferem
maior solubilidade e aumentam o poder de fixação dos glicosídeos ao músculo cardíaco.
Os glicosídeos cardíacos exercem sua atividade, agindo sobre a contratilidade,
condutibilidade e automaticidade. Em relação à contratibilidade, esses compostos exercem uma
ação inotrópica positiva (aumento da força de contração do miocárdio), levando a distúrbios de
ritmo, incluindo bloqueios, extrasístoles, taquicardia e fibrilações atriais ou ventriculares. A ação
inotrópica positiva é desencadeada pela ligação específica dos glicosídeos cardíacos a um
determinado sítio da bomba sódio-potássio da célula miocárdica. Essa ligação provoca a paralisação
da bomba, levando a um aumento dos níveis intracelulares de Na+. Esse aumento modula a
atividade de um carreador da membrana, envolvido nas trocas de Ca++ por Na+, promovendo
considerável elevação dos níveis intracelulares de Ca++ por influxo ou pela mobilização dos
reservatórios sarcoplasmáticos. O Ca++ nas proximidades das miofibrilas interage com a troponina,
a qual conduz a uma alteração conformacional na tropomiosina, possibilitando a formação do
complexo actina-miosina, induzindo a contração miocárdica ATP-dependente. Os efeitos
ocasionados pela ação desses compostos, além do aumento da força de contração miocárdica (efeito
inotrópico positivo), são o aumento do débito cardíaco (esvaziamento completo do coração),
diminuição do tamanho do coração, diminuição da pressão venosa, diminuição da frequência
cardíaca, aumento da diurese (efeito indireto - hemodinâmico) e alívio do edema. Alguns dos
efeitos colaterais incluem náusea, salivação, dores de cabeça, extrasístoles, arritmias e efeito
sinérgico à toxidade do cálcio.
Por superdosagem, esses compostos são muito tóxicos, o que torna necessário rigoroso
controle da posologia dos princípios ativos. Com todos os glicosídeos, o nível terapêutico parece ser
de aproximadamente 50 a 60% da dose tóxica. No caso dos glicosídeos cardioativos, sua absorção
pelo organismo é cumulativa, de modo que, embora possa ocorrer de forma aguda, a intoxicação é
mais frequentemente crônica. Os sinais e sintomas de intoxicação são observados mais
frequentemente nos idosos, em função do uso crônico por parte desses indivíduos. Os efeitos
secundários mais comuns à intoxicação por digitálicos são ritmo cardíaco anormal, que produz
tontura, palpitação, falta de ar, sudorese ou síncope; alucinações, confusão e alterações mentais;
cansaço e fadiga; visão borrada, dupla, percepção de auréolas amarelas, verdes ou brancas; perda de
apetite, náuseas e vômitos. Cerca de 20% dos pacientes desenvolvem sinais ou sintomas de
intoxicação por glicosídeos cardioativos.
121

A utilização concomitante dos glicosídeos cardioativos com β-bloqueadores pode causar


bradicardia excessiva e, a associação com diuréticos depletores de potássio, pode desencadear
desequilíbrio hidroeletrolítico (hipopotassemia), culminando em alterações do ritmo cardíaco.

Drogas Cardiôtonicas Clássicas

As drogas cardiotônicas mais importantes são: estrofanto: sementes de Strophanthus kombe


Oliver, S. hispidus DC. e S. gratus (Wall et Hook) Baill., Apocynaceae; espirradeira: folhas de
Nerium oleander L., Apocynaceae; convalária: rizomas e raízes dessecadas de Convallaria majalis
L., Asparagaceae; cila: bulbos de Urginea maritima (L.) Baker, Asparagaceae e dedaleira (Digitalis
purpurea L.).

Digitalis
Dedaleira, Digitalis purpurea, é uma planta pertencente à família das Scrophulariaceae e é
uma planta bianual, provavelmente nativa do centro e do sul da Europa. Outra planta de grande
importância, pertencente ao mesmo genêro, é a dedaleira grega, Digitalis lanata.
As folhas dessas espécies contém grande número de glicosídeos cardiotônicos, dos quais os
mais importantes, do ponto de vista medicinal, são a digitoxina, a digoxina, a gitoxina e a
gitaloxina. E ambas das espécies são empregadas no tratamento de insuficiência cardíaca
congestiva e fibrilação atrial, sendo a digoxina, o digitálico mais utilizado na terapêutica.
Em geral, nas folhas de D. purpurea, contém no mínimo 0,3% de glicosídeos cardioativos, e
o composto principal é a digitoxina e, as folhas de D. lanata contém de 1 a 1,4% de uma mistura
dos principais glicosídeos cardioativos já citados anteriormente.
A digitoxina era comercializada na forma de solução oral a 0,1%, porém, devido à relação
risco-benefício, foi suspensa pelo fabricante. Ela é comercializada na forma de comprimidos de
0,25mg, elixir pediátrico 0,05mg/mL e solução injetável 0,5mg. Pode ser utilizada por pacientes
com insuficiência renal, pois é eliminada em sua maior parte pelo sistema enterro-biliar.
O deslanosídeo, também é extraído das espécies do gênero Digitalis, é indicado em
emergências nas quais o indivíduo apresenta arritmia severa ou fibrilação atrial.

Estrofanto

Essa droga é obtida de sementes maduras, secas, de Strophanthus kombe ou S. gratus,


plantas pertencentes a família botânica Apocynaceae e são oriundas da África Oriental (S. kombe) e
África Ocidental (S. gratus), que são vinhas altas da África equatorial.
122

As sementes de S. kombe contêm 5-10% cardenolídeos, uma mistura conhecida de


estrofantosídeos. O principal glicosídeo é o K-estrofantosídeo, droga com uso restrito atualmente,
apesar de ter sido anteriormente utilizada, na medicina popular, como estimulante cardíaco. De 3 a
7% da composição química de S. gratus são glicosídeos cardioativos, sendo que o principal deles é
a estrofantina G, também conhecida como ouabaína.
A ouabaína é potente e age rapidamente, assim é utilizada para o tratamento de emergência
em casos de insuficiência cardíaca aguda. É muito polar com a eliminação renal rápida e deve ser
administrada intravenosamente.

Espirradeira

A espirradeira (Nerium oleander L) é um arbusto da família dos Apocynaceae e é originária


da Região Mediterrânea. Atualmente é muito cultivada para fins ornamentais, em países tropicais e
subtropicais, sendo considerada tóxica, podendo causar danos em potencial, quando ingerida pelo
homem ou animal. Suas folhas apresentam uma mistura de glicosídeos cardioativos, na qual se
destaca a olenadrina, substância que já foi utilizada como cardiotônico.

Convalária

As raízes secas e rizomas do lírio do vale, Convallaria majalis L. (Liliaceae/


Convallariaceae) contêm glicosídeos cardioativos (0,2-0,3%) e são usadas, em alguns países da
Europa, no lugar dos glicosídeos digitálicos. Os efeitos são semelhantes, mas esse medicamento é
acumulado. Essa planta é ornamental e amplamente cultivada, especialmente por suas pequenas
flores brancas e perfumadas, porém são consideradas potencialmente tóxicas. O principal glicosídeo
(40-50%) é a convalatoxina (monoglicosídeo composto por ramnose e estrofantidina).

Cila

A Urginea marítima, também conhecida por cebola-marítima, é uma planta bulbosa, de


hábito perene e pertencente à família das Asphodelaceae. Essa planta possui propriedades
expectorantes e eméticas.
É uma planta que possui em sua composição química, aproximadamente 4% de
bufandienolídeos, sendo que o principal glicosídeo é a cilarina A. Por hidrólise enzimática da
cilarina A é produzida a proscilaridina A, que é um cardioativo ativo por via oral e de eliminação
rápida.
123

Referências

BUSH, I. E.; TAYLOR, D. A. H. The paper-chromatographic examination of the cardiac aglycones


of Strophanthus seeds. Biochemistry Journal, v. 52, n. 4, p. 643–648, 1952.

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treatment of congestive heart failure. Kirk–Othmer Encyclopedia of Chemical Technology, 4th edn,
v. 5, New York: Wiley, p. 251–257, 1993.

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55, p. 235–282.

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UFSC/UFRGS, 2007. 1104 p.

TAIZ L; ZEIGER E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. Artmed, 2004. 720 p.

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Desaturation, and Rearrangment of Cholesterol in Acid. Lipids, v. 42, p. 87–96, 2007.
124

CAPÍTULO 10

LIGNINAS E LIGNANAS
Karina Nascimento de Almeida
Renata Junqueira Pereira

A palavra lignina vem do latim lignum, que significa madeira. Trata-se de um dos principais
componentes dos tecidos de gimnospermas e angiospermas, ocorrendo em vegetais e tecidos
vasculares. A lignina tem um importante papel no transporte de água, nutrientes e metabólitos,
sendo responsável pela resistência mecânica de vegetais, além de proteger os tecidos contra o
ataque de micro-organismos. É uma substância amorfa, de natureza aromática e muito complexa e
faz parte da parede celular e da lamela média dos vegetais. Vegetais primitivos como fungos, algas
e líquens não são lignificados (FENGEL; WEGENER, 1984 apud SALIBA et al., 2001).
As ligninas são macromoléculas, polímeros de unidades C6.C3, de constituição difícil de ser
estabelecida, não somente pela complexidade de sua formação (baseada em unidades
fenilpropanóides interligadas por diferentes tipos de ligações), mas também porque sofre
modificações estruturais durante o processo de isolamento das paredes celulares (MORAIS, 1987;
MORAIS, 1992; SALIBA et al., 2001).
As lignanas, neolignanas e seus análogos, também chamados de lignóides, são
micromoléculas mais simples, produtos do metabolismo secundário e responsáveis por várias
atividades biológicas interessantes (SIMÕES et al., 2007). Os lignóides possuem esqueleto formado
exclusivamente, ou adicionalmente a outros grupos, pelo grupo fenilpropânico (C6.C3)n, sendo n
restrito a poucas unidades, 1 a 3. Na natureza sua presença se limita a plantas vasculares, que
possuem o tecido enriquecido por ligninas (GOTTLIEB; YOSHIDA, 1984).

Caracterização Química do Metabólito

A biossíntese, tanto dos lignóides como das ligninas, envolvem os metabólitos primários
finais da via metabólica do chiquimato: ácidos cinâmicos, originando álcoois cinamílicos, que
resultam em propenilfenóis + alilfenóis. A maioria dos lignóides pertence aos grupos das lignanas,
derivadas pela condensação oxidativa de álcoois cinamílicos entre si ou com ácidos cinâmicos; e
das neolignanas, derivadas pela condensação oxidativa de alilfenóis e de propenilfenóis, entre si ou
cruzadas (GOTTLIEB; YOSHIDA, 1984). A principal característica que distingue esses dois
grupos é a presença do oxigênio, no carbono 7 da cadeira lateral C3, nas lignanas e ausência deles,
nas neolignanas (TEIXEIRA, 2007).
125

Para um melhor entendimento dos lignóides é importante o conhecimento das formações


estruturais, bem como as características dos esqueletos lignânicos mais representativos e suas
designações, denominados de diarilbutanos (8.8), diarilbutanolídeo (8.8, 9.0.9) quando apresentam
um grupo lactona, ariltetralina (8.8, 6.7), ariltetralina (8.8, 9.0.9, 6.7), dibenzocicloctano (2.2, 8.8),
dibenzocicloctano (2.2, 8.8, 9.0.9), tetrahidrofurano (7.0.7, 8.8), furofurano (7.0.7, 8.8, 9.0.9 e 7.0.9,
8.8, 9.0.7), benzofurano (7.0.2, 8.1 e 7.0.4, 8.3), futoenona (8.1, 7.9, 6.0.8), dihidrodieugenol (3.3),
diarilciclobutano (7.7, 8.8), ariloxiarilpropano (8.0.4), benzodioxano (7.0.3, 8.0.4) e bicicloctano
(8.1, 7.5) (FREUDENBERG; WEINGES, 1961 apud TEIXEIRA, 2007).

Métodos de Extração e Obtenção

As lignanas são sólidos incolores, com ponto de fusão que varia entre 60 a 300ºC e, por
apresentarem o carbono gama oxigenado (carboxila ou hidroxila livre), são de polaridade
intermediária. As lignanas glicolisadas, oligolignoides e os heterolignoides são extraídos com
álcoois como metanol, etanol e butanol. A existência de hidroxila fenólica na molécula de algumas
lignanas confere-lhes solubilidade em soluções aquosas diluídas dos hidróxidos alcalinos. A
utilização dessa solução concentrada faz com que os derivados butanóicos dissolvam-se no
reagente, mas em consequência da abertura do anel lactônico e formação de sais alcalinos pelos
seus carboxilatos, tornam-se solúveis em água.
As neoligninas são solúveis em solventes apolares, tais como éter de petróleo e análogos,
principalmente se a porção do anel aromático estiver metoxilada. As neolignanas geralmente se
apresentam como óleos de alta viscosidade (TEIXEIRA, 2007).

Fontes Vegetais

Os precursores dos lignoides estão presentes nas películas que recobrem os cereais e no
processo de refinamento tais películas são removidas. São encontrados nos grãos integrais, legumes,
vegetais e sementes, principalmente no linho (CLAPAUCH, 2002). A semente de linhaça contém
uma concentração de enterolignanas, Secoisolariciresinol e Matairesinol, onde, a forma glicosídica
e seus glicosídeos são hidrolisados pelas bactérias no cólon, originando lignanas bioativas, a
Enterodiol e Enterolactona (ADLERCREUTZ; WILTOD, 1997; CASSANI, 2009).
Tais enterolignanas ou lignanas são encontradas em maior quantidade no grão completo da
semente de linhaça (PRASAD, 2005). As lignanas são absorvidas no intestino delgado e conjugadas
no fígado, sendo excretadas pela urina e bile e podendo sofrer circulação enterohepática, o que,
possivelmente, promove sua reabsorção (BLOEDON; SZAPARY, 2004).
126

O complexo lignana da semente de linhaça é constituído por Seicoisolariciresinol


Diglucosídeo (SDG) (34 a 38%), Ácido Diglucosídeo Cinâmico (ADC) (15 a 21%), e Ácido
Hidroximeltilglutárico (HMGA) (9,6 a 11%). SDG é um antioxidante, ADC e HMGA apresentam
atividade hipolipidêmica (PRASAD, 2005).
A semente de linhaça é a principal fonte de SDG (0,2 a 5,3 g/ 100 g). A Tabela 1 apresenta
valores esperados de lignanas (SDG) em alimentos, tais como, algumas frutas, vegetais, nozes e
grãos, bem como, alimentos rotineiramente consumidos pela população, como o arroz e feijão
(BLOEDON; SZAPARY, 2004).
Por cerca de duas décadas, apenas Seicoisolariciresinol e Matairesinol eram conhecidos
como sendo precursores de enterolignanas, mas, recentemente, tem sido mostrado que Pinoresinol e
Lariciresinol, são eficientemente convertidos em Enterolignanas (MILDER et al., 2007).

Tabela 1 - Principais fontes de Seicoisolariciresinol Diglucosídeo (SDG) (mg/g de alimento)


Fonte Alimentar SDG (mg/g)
Semente de linhaça 0,2-3,7
Morango 0,016
Semente de girassol 0,006
Cenoura 0,005
Arroz branco 0,003-0,006
Brócolis 0,004
Nozes 0,003
Farelo de Trigo 0,001
Soja 0,00013-0,0027
Fonte: BLOEDON; SZAPARY, 2004.

Efeitos no Organismo Produtor

O elevado número de lignanas e neolignanas, distribuídas no reino vegetal, leva à suposição de


que as propriedades biológicas dessas substâncias sejam essenciais ao desenvolvimento do próprio
vegetal e ao controle deste sobre a vida circunjacente. Por isso não é de se admirar que também
essas substâncias possam ser aproveitadas diretamente pelo homem ou servirem de modelo para a
síntese de fármacos.
127

Os lignoides são indicadores do processo evolutivo em angiospermas e desempenham um


papel na adaptação ecológica. Há evidencias de que esse grupo de substâncias esteja envolvido em
interações de plantas com fungos, insetos ou com outras plantas, e também em aplicações
farmacológicas. Sabe-se que as neolignanas se acumulam em madeiras, como resposta a ferimentos
mecânicos ou ao ataque de microrganismos e que exibem propriedades de defesa contra insetos,
como o efeito anti-alimentar (BARROS, 2008).

Efeitos no Organismo Humano

As lignanas, presentes na linhaça, agem diretamente sobre os receptores hormonais,


desempenhando atividade reguladora do estrogênio. Dietas ricas em semente de linhaça podem
diminuir o risco de câncer de mama e outros cânceres hormônio-dependentes, displasias mamárias
(alterações benignas da mama) e síndrome da tensão pré-menstrual (FERRO, 2006).
As enterolignanas possuem várias atividades biológicas que podem reduzir o risco de câncer
e doenças cardiovasculares (MILDER et al., 2007). Algumas outras atividades biológicas e funções
farmacológicas comprovadas são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Lignóides e suas funções farmacológicas

Principio Planta Ação


Magnoshinina Magnolia salicifolia Ação antiinflamatória
maxim.

Otobaina Schizandra chinensis Ação antifúngica


C. Koch

Esquizanterina D Schizandra chinensis Ação anti-hepatotóxica


C. Koch

Surinamensina Virola surinamensis Inibição da penetração das


Warb. cercarias do S. mansoni

Honoquinol Magnolia officinalis R Ação relaxante muscular


&W

Podofilotoxina Podophyllum Antineoplásica


hexandrum Royle

Langambina Ocotea duckei Sleum. Anticonvulsivante, e


antialérgica
128

Arctigenina Ipomoea cairica Sweet Anti-HIV

Esteganacina Steganotaenia Antileucêmica


araliácea Hochst.

Cubebina Piper cupeba L. Anti-séptico urinário

Silibina Silybum marianum Hepatoprotetor


Gaertn.

Fonte: FERRO, 2006.


129

Referências

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Talauma ovata A. St. Hil (Magnoliaceae). 2008. 102p. Dissertação (Mestrado em Química) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

BLOEDON, L. T., SZAPARY, P. O. Flaxseed and Cardiovascular Risk. Nutrition Reviews, v. 62,
n. 1, p. 18-27, 2004.

CASSANI, R. S. L. Linhaça e lignanas: efeito do consumo sobre indicadores nutricionais e


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Paulo, Ribeirão Preto, 2009.

CLAPAUCH, R. et al. Fitoestrogênios: Posicionamento do Departamento de Endocrinologia


Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Arquivos Brasileiros
de Endocrinologia & Metabologia, v. 46, n. 6, p. 679-695, 2002.

FENGEL, D.; WEGENER, G. Wood, chemistry, ultrastructure, reactions. New York: Waster &
Grugter, 1984. 613 p.

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FREUDENBERG, K.; WEINGES, K. Sistematik und Nomenklatur der lignane. Tetraedron, v. 15,
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GOTTILEB, O. R.; YOSHIDA M. Lignóides com Atenção Especial à Química das Neolignanas.
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Warb.: Neolignanas e Atividade Antifúngica. 2007. 158p. Tese (Doutorado em Química) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
131

CAPÍTULO 11

TERPENOIDES, FENILPROPANOIDES E ÓLEOS VOLÁTEIS

Eskálath Morganna Silva Ferreira


Renata Junqueira Pereira

Terpenoides e fenilpronoides são compostos que fazem parte do metabolismo secundário


das plantas e são responsáveis, em sua grande maioria, pela formação dos óleos voláteis,
substâncias que conferem características aromáticas às plantas, muito utilizadas na indústria
cosmética, farmacêutica e indústria de alimentos.
A denominação óleos voláteis é devida à sua alta volatilização, quando em contato com o ar,
à temperatura ambiente, sendo conhecidos também como óleos essenciais ou óleos etéreos, devido a
uma combinação de diversas e complexas frações de compostos químicos de baixo peso molecular,
especialmente (terpenos/fenilpropanoides) e vários derivados oxigenados (alcoóis, aldeídos,
cetonas, ácidos, óxidos, fenóis, lactonas, éteres e ésteres). Essa variedade estrutural metabólica de
voláteis, presentes nos óleos essenciais, é determinante para o aroma e flavor desses produtos
(LEITE, 2008).

Terpenoides

Constituem o maior grupo dentre os compostos secundários que ocorrem nos vegetais, são
conhecidos e utilizados desde as mais remotas épocas, para uma grande variedade de propósitos.
Segundo Dewick (2002) já foram descritos cerca de 35.000 substâncias terpênicas.
Nas plantas, apresentam-se como compostos essenciais ao funcionamento da fotossíntese, ao
transporte de açúcares através das membranas celulares nos processos metabólicos e como
hormônios reguladores do crescimento. Possuem ainda a função de atrair polinizadores, além de
possuir propriedades de repelirem insetos, através dos componentes do aroma e dos pigmentos de
flores (FERRO, 2006).
Podem ocorrer livres nos tecidos vegetais, sem se combinarem. No entanto, podem ocorrer
na forma combinada com glicosídeo, ésteres e ácidos orgânicos e, em alguns casos, associados a
proteínas. As principais características farmacológicas dos terpenos estão relacionadas ao emprego
como antisséptico, antiflamatório e antipirético (LIMA, 2006).
Os terpenos são formados por unidades isopropênicas, também conhecidas por isoprenos.
Sua classificação é designada de acordo com o número de unidades isoprênicas (C5) incorporadas a
132

sua estrutura, formando uma grande variedade de compostos, estruturalmente diferentes (SIMÕES
et al., 2007). As unidades isoprênicas são bioquimicamente ativas, identificadas como ésteres
pirofosfatos de isopentila (IPP) e pirofosfato de dimetila (DMAPP). São biossintetizados, a partir de
metabólitos primários, por duas rotas diferentes: a rota metabólica do mevalonato e a rota
metabólica do desoxixilulose fosfato, sendo a última provavelmente a mais utilizada pelos vegetais
(TAIZ; ZEIGER, 2004).
O ácido mevalônico, que é formado pela combinação de três moléculas de acetil-CoA e a
desoxixilulose fosfato, derivada da combinação dos intermediários glicolíticos piruvato e
gliceraldeido-3-fosfato, são responsáveis pela biossíntese, que origina todos os outros terpenos
(LEITE, 2008).

Tabela 1: Subclasses de metabólitos secundários formados a partir de unidades isoprênicas.

Número de unidades Número de carbonos da Nome da subclasse


isoprênicas cadeia principal
1 5 Isopreno
2 10 Monoterpenos
3 15 Sesquiterpenos
4 20 Diterpenos
5 25 Sesterpenos
6 30 Triterpenos
8 40 Tetraterpenos
N N Polisoprenos

A partir da junção de unidades isopropênicas (C5), os monoterpenos (C10), sequiterpenos


(C15) e diterpenos (C20), são montados pela adição de uma molécula C5 de cada vez, enquanto os
triterpenos (C30) são o resultado da junção de duas moléculas C15 e os tetraterpenos (C40), de duas
moléculas C20.
133

Figura 1: Formação de terpernos a partir de unidades isoprênicas.

O isopreno é a menor unidade dos terpenos, apresentando-se como um produto volátil,


liberado de tecidos fotossinteticamente ativos (CROTEAU; KUTCHAN; LEWIS, 2000). Os
monoterpenos (C10) são compostos por duas unidades de isopreno, possuem baixo peso molecular e,
devido a isso, costumam ser voláteis e serem os principais constituintes dos óleos voláteis. Cerca
de 90% dos óleos voláteis são constituídos por compostos terpênicos (SIMÕES et al., 2007).
O primeiro monoterpeno isolado foi a ―turpentina‖ (C10 H16), na década de 1850, na
Alemanha. Até a atualidade são conhecidos mais de 1000 monoterpenos naturais e alguns têm sido
empregados nas industriais de perfumes e fragrâncias, na produção de especiarias, na culinária e na
indústria de alimentos e condimentos (OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003).
Os monoterpenos podem ocorrer em pelos glandulares, células parenquimáticas
diferenciadas e em canais oleíferos. Eles podem estar estocados em flores, como na canela, na
madeira, como no sândalo ou no pau-rosa e em frutos, como na erva-doce (PERES, 2004).
Os sesquiterpenoides (C15) são encontrados nos óleos essenciais e em hormônios vegetais,
constituindo a maior classe de terpenoides (OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003). Além disso,
inúmeros sesquiterpenoides atuam como fitoalexinas, compostos antibióticos, produzidos por
plantas, em resposta ao ataque microbiano e a herbívoros oportunistas (CROTEAU; KUTCHAN;
LEWIS, 2000).
Os diterpenoides (C20) compreendem um grande grupo de compostos não voláteis,
possuindo uma vasta gama de atividades diferentes, que incluem os hormônios, ácidos resínicos e
agentes anticancerígenos (ROBBERS et al., 1997; CROTEAU; KUTCHAN; LEWIS, 2000;
OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003). Alguns diterpênicos são de grande interesse para a
indústria alimentícia e farmacêutica como o esteviosídeo, encontrado nas folhas de Stevia
rebaudiana. Esse glicosídeo possui sabor 300 vezes mais doce que a sacarose e pode acumular-se
134

em 10% das folhas secas da planta (TOTTÉ et al., 2000). O paclitaxel, conhecido por taxol,
substância extraída a partir da casca de Taxus brevifolia, apresenta atividade antitumoral,
principalmente em neoplasias ginecológicas (LONG; CROTEAU, 2005).
Um dos principais papéis desempenhado pelos diterpenos é como hormônios vegetais,
responsáveis pela germinação de sementes e alongamento caulinar de muitas espécies de plantas
(PERES, 2004).
Os triterpenoides (C30) formam os componentes das resinas, látex, ceras e cutículas de
plantas. Entre os triterpenos está uma importante classe de substâncias, os esteroides, os quais são
componentes dos lipídios da membrana e percussores de hormônios esteroides em mamíferos,
plantas e insetos. Outra classe importante de triterpenos são as saponinas, principalmente
reconhecidas pela formação de espuma em certos extratos vegetais. Essas substâncias são
semelhantes ao sabão, porque possuem uma parte solúvel (glicose) e outra lipossolúvel (triterpeno).
Nas plantas, as saponinas desempenham um importante papel na defesa contra insetos e
microrganismos (PERES, 2004).
Exemplos de tetraterpenoides (C40) são os carotenoides, pigmentos responsáveis pela
coloração amarela, laranja, vermelha e purpura dos vegetais, apresentando função essencial na
fotossíntese e, especialmente, na pigmentação de flores e frutos. Os politerpenoides são aqueles
com mais de oito unidades de isoprenos, ou seja, com mais de 40 carbonos na sua estrutura, como
os longos polímeros encontrados na borracha (ROBBERS et al., 1997; CROTEAU; KUTCHAN;
LEWIS, 2000; OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003).
Os terpenos podem ser obtidos de diversas formas, onde os monoterpenos (até C15) são
obtidos geralmente por destilação do material fresco ou seco, enquanto os compostos maiores
(acima C20) podem ser isolados por extração com solvente e separados e purificados por
cristalização, destilação e cromatografia (FERRO, 2006).
Em geral, os terpenoides são os constituintes predominantes dos óleos essenciais das
plantas, mas muitos dos óleos essenciais também podem ser compostos de outros produtos
químicos, os fenilpropanoides.

Fenilpropanoides

Os fenilpropanoides são substâncias naturais, amplamente distribuídas nos vegetais e


constituídas por um anel aromático, unido a uma cadeia de três carbonos, sendo derivados
biossinteticamente do ácido chiquímico (SIMÕES et al., 2007).
O acido chiquímico é formado por dois metabólitos da glicose: o fosfoenolpiruvato e a
eritrose-4-fosfato. Através da junção do ácido chiquímico e de uma molécula de fosfoenolpiruvato,
135

ocorre a formação do ácido corísmico (PERES, 2004). O ácido corísmico é responsável por gerar
aminoácidos aromáticos, como a fenilalanina, a tirosina e o triptofano, que são precursores de
vários alcaloides. Esses aminoácidos sofrem ação enzimática, dando origem ao ácido cinâmico ou
ao ácido p- cumárico, também chamado de p-hidroxicinâmico (LORENZO; GONZALEZ;
ROSSINI, 2002).
A partir do ácido cinâmico ou do ácido cumárico são formados compostos fenólicos
simples, denominados fenilpropanoides. Esses compostos costumam ser voláteis, sendo
considerados, em conjunto com os monoterpenos, óleos essenciais (PERES, 2004).
Os principais fenilpropanoides conhecidos são: eugenol, metil-eugenol, miristicina,
elimincina, chavicol, dilapiol, anetol, estragnol, apiol (SANGWAN et al., 2001).

Óleos Voláteis

Segundo a Resolução- RDC nº 2, de 15 de janeiro de 2007, óleos essenciais são produtos


voláteis de origem vegetal, obtidos por um processo físico (destilação por arraste com vapor de
água, destilação a pressão reduzida ou outro método adequado).
Conforme a International Standard Orgnization (ISO), descrito por Simões e Spitzer (2007),
os óleos essenciais são misturas complexas de substancias voláteis, lipofílicas, geralmente
odoríferas e líquidas.
A designação de ―óleo‖ se dá, por serem, na sua grande maioria, líquidos de aparência
oleosa à temperatura ambiente. Sua principal característica é a volatilidade, diferenciando-os dos
óleos fixos, sendo por isso também chamados de essências.
São solúveis em solventes apolares, como éteres, recebendo, por isso também, a
denominação de óleos etéreos. Apresentam baixa solubilidade em água, mas o suficiente para
aromatizar as soluções aquosas denominadas de hidrolatos.
Entre as suas principais características, destaca-se o sabor acre (ácido) e picante. Geralmente
são incolores, quando extraídos recentemente ou ligeiramente amarelados. Poucos apresentam
coloração, exceto o exemplo do óleo volátil de camomila.
São pouco estáveis, principalmente na presença de ar, luz, calor, umidade e metais. A
constituição dos óleos essenciais varia desde hidrocarbonetos terpênicos, álcoois simples e
terpênicos, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, éteres, óxidos, peróxidos, furanos, ácidos orgânicos,
lactonas e compostos com enxofre. Na mistura, tais compostos estão presentes em diferentes
concentrações, normalmente variando de acordo com as características de cada planta.
Óleos essenciais são extraídos de diferentes partes de uma mesma planta e, apesar de
apresentarem cor e aspecto semelhantes, podem apresentar composição química, características
136

físico-químicas e odores diferentes (ROBBERS; SPEEDIE; TYLER, 1997). Embora extraído do


mesmo órgão de uma espécie vegetal, a composição química de um óleo essencial pode variar
significativamente. As espécies apresentam épocas específicas em que contêm maior quantidade de
óleos voláteis no seu tecido, podendo essa variação ocorrer, tanto no período de um dia, como em
épocas do ano (REIS; MARIOT, STEENBOCK, 2007), estágio de desenvolvimento, condições
climáticas e de solo (SIMÕES et al., 2007).
Diversas funções biológicas das plantas são atribuídas aos óleos voláteis, tais como a atração
de polinizadores, a defesa contra ataque de predadores, a proteção contra perda de água e aumento
de temperatura e a inibição de germinação. Os óleos essenciais são também considerados como
desperdício fisiológico ou produtos de desintoxicação, desempenhando função de adaptação do
organismo ao meio (SIMÕES et al., 2007; FABROWSKI, 2007).

Métodos de Obtenção dos Óleos Voláteis

Os principais métodos de extração aplicados na extração de óleos voláteis são enfloração


(enfleurage), arraste por vapor d’água, extração com solventes orgânicos, prensagem a frio,
extração por CO2 supercrítico.
O método de enfloração (enfleurage) é o mais utilizado pelas indústrias de perfumes, para
extração de plantas com baixa quantidade de óleo, porém com alto valor comercial como, por
exemplo, o óleo de pétalas de flores (rosas, laranjeiras). As pétalas são colocadas em recipientes
contendo gordura, durante um determinado tempo, até obter-se saturação da gordura com relação
aos óleos. Em seguida, a gordura é extraída pela utilização de álcool, e o óleo volátil é obtido pela
destilação à baixa temperatura, separando os óleos essenciais do solvente.
Outro método utilizado é a destilação por arraste por vapor de d’água, sendo o método mais
comum de extração de óleos voláteis e aplicado para extração de óleos voláteis de plantas frescas.
Devido ao fato dos óleos apresentarem tensão de vapor mais elevada que a água, esses produtos são
arrastados pelo vapor d’água, formando a chamada água floral ou hidrolato. Emprega-se para este
tipo de extração, quando em pequena escala, o aparelho de Clevenger.
Para realização de extração com solventes orgânicos, são geralmente utilizados solventes
apolares como: éter, éter de petróleo, diclorometano. Esses solventes podem extrair outros
compostos lipofílicos, além dos óleos voláteis. Além de deixarem resíduos no final do processo.
A extração dos óleos voláteis de frutos é geralmente realizada pelo método de prensagem a
frio. Os frutos são prensados e a camada que contém o óleo é separada por meio de decantação,
centrifugação ou destilação fracionada, isolando, assim, o óleo puro.
137

A extração com CO2 supercrítico realiza a recuperação de vários tipos de aromas naturais e
não somente dos óleos voláteis. É, na atualidade, o método de escolha para extração industrial
desses produtos, devido ao fato de não deixar nenhum resíduo de solvente no produto final,
obtendo-se assim, um óleo essencial mais puro, cujo processo extrativo é rápido e eficiente (LEITE,
2008; SIMÕES et al., 2007).
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