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Teorias do Texto

Unidade II
TEXTO ORAL E TEXTO ESCRITO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E PEDAGÓGICAS

5 A RELAÇÃO ORALIDADE/ESCRITA E SEUS DIFERENTES NÍVEIS DE


FORMALIDADE E VARIAÇÃO: UMA QUESTÃO LINGUÍSTICA, SOCIAL E
PEDAGÓGICA

Caro aluno, não é novidade o fato de que o ensino tradicional de língua em nossas escolas (seja
língua materna ou estrangeira) é, ainda, bastante questionável em muitos dos seus aspectos. Essa
constatação já é um consenso entre os educadores brasileiros, e tem-se identificado na formação do
professor uma das principais causas dessa situação. É claro que são vários os fatores que causam essa
crise, sendo a formação deficiente do professor de língua apenas uma das marcas visíveis do problema.
Um dos aspectos dessa deficiência é a falta de uma base teórica que lhe dê segurança para trabalhar
com o texto em sala de aula, fornecendo os procedimentos de leitura, interpretação e produção de
textos pertinentes e necessários.

Como você deve supor, o ensino tradicional não considera a noção de variação linguística, não leva
em conta a linguagem falada e trabalha com uma linguagem “estática”. Ele se torna ainda mais precário
no que se refere ao trabalho: com a linguagem oral e com os níveis de formalidade do discurso; com
a conceituação do que vem a ser o texto e seus critérios de textualidade; e com o processo de leitura e
produção escrita. Infelizmente, a realidade escolar mostra sérios problemas relacionados à aquisição da
linguagem escrita, envolvendo os processos de leitura e produção:

• O discurso oral é tomado apenas como “antimodelo”, ou seja, o que deve ser evitado na escrita,
deixando de ser explorado enquanto processo ativo na linguagem.
• Os níveis de formalidade textual são encarados apenas como dois parâmetros, que classificam a
linguagem como formal (escrita) ou informal (oral), deixando de conferir ao texto (oral ou escrito)
uma posição em uma “escala” de formalidade, atribuindo-lhe a propriedade de ser mais ou menos
formal de acordo com sua natureza.
• O texto, na maioria das vezes, é tido como um conjunto de palavras a serem decodificadas sem se
levar em conta elementos como autoria e sentido.
• O processo de escrita é considerado como cópia do padrão da escrita literária e acadêmica, sem
que se ensine como se dá esse processo nem quais as implicações da relação entre a passagem da
oralidade para a escrita e o exercício da produção textual escrita.

É urgente buscar soluções no sentido de se adotar uma postura mais séria e comprometida que
supere e redimensione as concepções tradicionais de ensino de língua, veiculadas convencionalmente
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nas escolas. Assim, justifica-se a ênfase na importância acerca da reflexão sobre um continuum na
relação fala/escrita e suas implicações na aquisição da linguagem escrita e nos processos de leitura e
produção, para uma aprendizagem mais proveitosa e adequada.

Outro ponto merecedor de destaque é que refletir sobre a relação oralidade/escrita inevitavelmente
traz à tona questões relacionadas à variação linguística, e, nesse sentido, é importante refletir sobre os
aspectos teóricos que dizem respeito às modalidades oral e escrita em relação aos diferentes níveis de
formalidade da linguagem e variação que compõem um continuum fala-escrita.

A elaboração textual está baseada em uma diversidade de gêneros textuais, que, se bem explorada,
a partir das diversas situações do dia a dia, nos diferentes níveis de formalidade, tanto no que se refere
a textos falados como textos escritos, propicia uma reflexão acerca da influência mútua entre as
modalidades oral e escrita, uma vez que tudo o que se fala pode se tornar escrito e vice-versa.

Vejam-se alguns exemplos desses diferentes gêneros textuais do dia a dia (falados e escritos):

Quadro 11

Diferentes gêneros textuais do dia a dia


Escritos Falados
Cartas: pessoais, de recomendação, de demissão etc. Novelas* (realização oral, elaboração escrita)
Memorandos, ofícios, circulares Comerciais* (realização oral, elaboração escrita)
Anúncios: publicitários, de emprego, de venda etc. Cinema* (realização oral, elaboração escrita)
Formulários (diversos) Peças teatrais* (realização oral, elaboração escrita)
E-mails, chats Telefonemas
Multas Aulas
Posts, coments de blogs Entrevistas de emprego
Notas fiscais Conferências, palestras, comunicações,
Listas de compra Discursos
Bulas de remédio, receitas médicas, exames médicos Conversas de bar, de elevador, de ponto de ônibus, de
namorados, de marido/mulher, de ex-marido e ex-mulher
etc.
Recibos Teleconferências
Contas domésticas Bate-papo em viva-voz via Skype, MSN etc.
Jornal impresso e eletrônico Programas de rádio e TV
Cheques Pregão na feira, na rua, na bolsa de valores
Placas, outdoors Fofocas
Recados de geladeira, de Orkut, de post-it etc. “Bronca” (reprimenda) dos pais, da professora, do guarda de
trânsito etc.
Etc.! Etc.!

A investigação linguística (sobretudo a textual), bem como a prática pedagógica, devem explorar
as variedades de linguagem, não só incorporando o estudo da oralidade a suas questões de análise e
investigação, mas concedendo-lhe uma consideração especial no que se refere à relação fala/escrita.

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Como bem coloca Marcuschi (1997), a variação linguística pode ser investigada tanto na oralidade
como na escrita. No entanto, é interessante enfocarmos a fala, já que esta é uma atividade muito
mais fundamental que a escrita na vida das pessoas. O homem é essencialmente um ser que fala.
Entretanto, como temos visto, a escola não considera esse lugar da fala e confere, no ambiente
acadêmico, uma posição inferior, desvalorizada, centralizando a atenção dos alunos nas atividades
de escrita.

Lembrete

Esse imaginário já está tão arraigado que é comum ouvir que a escola
está aí para ensinar a escrita e não a fala. A escola não pode ignorar a
fala porque a escrita está essencialmente ligada a ela e, como já foi dito, o
homem é essencialmente um ser que fala e não um ser que escreve.

Se se parar para pensar um pouco sobre a questão, o que é possível observar é que a atenção dada
à fala no ambiente escolar e nos manuais didáticos é também resquício dos pressupostos teóricos
linguísticos dos últimos séculos, que não mantinham uma preocupação com a fala “real”, ou autêntica,
e, portanto, desprezava a produção oral efetiva. Conforme Marcuschi, ”fenômenos como a prosódia e
até mesmo aspectos e efeitos expressivos de usos variados da língua e a própria variação socioletal não
estavam nos horizontes da linguística (op. cit., p. 40).

Saiba que só nos últimos anos é que a oralidade começou a ser investigada mais seriamente e passou-se
a refletir acerca da importância do estudo da fala e de suas variedades no ensino de língua.
Hoje, a preocupação com a oralidade vem se tornando cada vez mais aceita no contexto escolar.
Contudo, nem sempre essa preocupação volta-se para as questões principais que devem ser
abordadas.

O ensino de língua deve garantir que a oralidade assuma o seu papel e o seu lugar na sala
de aula, e, portanto, deve ter em vista que variedade textual é adequada para ser trabalhada,
considerando também a diversidade contextual. O principal objetivo em veicular um ensino baseado
nessas questões é o de evitar a criação de uma concepção “monolítica” restrita ao modelo de
escrita padrão.

Como já se disse, a variedade linguística tanto se faz observar na fala como na escrita, e o estudo
dessas variedades deve ser conduzido de maneira continuada em ambas as modalidades. De acordo com
Marcuschi, enxergar a língua por uma ótica “monolítica” leva a conceber um “dialeto de fala padrão”
fundamentado na escrita, sem ligações com as relações de “influências mútuas” entre fala e escrita. A
fala deve ter seu lugar bem-definido no ensino de língua.

Entenda que não se trata de ensinar a falar, mas de identificar a grandiosa riqueza e variabilidade
dos usos da língua, pois um aspecto central no estudo da oralidade é a variação. É de fundamental
importância ter em mente que a língua falada é variável:

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• de cultura para cultura;


• de sociedade para sociedade;
• de grupo para grupo;
• de situação para situação;
• de indivíduo para indivíduo; e
• a visão do dialeto padrão uniforme é uma visão teórica, que não tem constatação no
mundo real, não há um equivalente empírico para essa sistematização da língua(gem)
( idem, p. 41).

Assim, não podemos perder de vista, no ensino de língua materna, noções como:

• padrão;
• norma;
• jargão;
• dialeto;
• gênero;
• gíria;
• variante;
• sotaque;
• registro;
• estilo etc.

Outro aspecto que não devemos perder de vista é a análise dos níveis de formalidade (+/-
formal; +/- informal) e dos níveis de uso da língua e suas funções e valores sociais do mais ao
menos formal, tanto na escrita como na fala, sem que tal abordagem se prenda restritamente à
observação lexical.

Conforme Marcuschi (op. cit.), a análise dos textos orais pode revelar as relações mútuas e
diferenciadas que a fala mantém com a escrita, influenciando uma à outra nos diferentes processos de
aquisição da escrita.

O estudo da oralidade pode revelar a contribuição da fala na formação sócio-cultural e na preservação


de tradições orais que persistem mesmo em culturas decisivamente letradas. Além disso, viabiliza,
também, a investigação das diferenças e semelhanças nas atividades que relacionam fala e escrita,
facilitando a abordagem da diversidade de processos de contextualização inserida nas produções orais
e escritas.

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Saiba mais

Você pode ampliar sua visão acerca deste assunto, variação linguística,
observando e analisando alguns filmes como:

Domésticas – o filme, de Nando Olival / Fernando Meirelles, 2001.

Sinopse: “No meio da nossa sociedade existe um Brasil notado por


poucos. Um Brasil formado por pessoas que, apesar de morar dentro de
sua casa e fazer parte de seu dia a dia, é como se não estivesse lá. Cinco
das integrantes deste Brasil são mostradas em Domésticas – o filme: Cida,
Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se casar, a outra é casada,
mas sonha com um marido melhor. Uma sonha em ser artista de novela e
outra acredita que tem por missão na Terra servir a Deus e à sua patroa.
Todas têm sonhos distintos, mas vivem a mesma realidade: trabalhar como
empregada doméstica” (disponível em: <http://www.adorocinema.com/
filmes/domesticas/>).

Desmundo, de Alain Fresnot, 2003.

Sinopse: “Brasil, por volta de 1570. Chegam ao país algumas órfãs,


enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os
primeiros colonizadores. Uma delas, Oribela (Simone Spoladore), é uma
jovem sensível e religiosa que, após ofender de forma bem grosseira Afonso
Soares D’Aragão (Cacá Rosset), vê-se obrigada a casar com Francisco de
Albuquerque (Osmar Prado), que a leva para seu engenho de açúcar. Oribela
pede a Francisco que lhe dê algum tempo, para ela se acostumar com ele e
cumprir com suas “obrigações”, mas paciência é algo que seu marido não
tem e ele praticamente a violenta. Sentindo-se infeliz, ela tenta fugir, pois
quer pegar um navio e voltar a Portugal, mas acaba sendo recapturada
por Francisco. Como castigo, Oribela fica acorrentada em um pequeno
galpão. Deprimida por estar sozinha e ferida, pois seus pés ficaram muito
machucados, ela passa os dias chorando e só tem contato com uma índia,
que lhe leva comida e a ajuda na recuperação, envolvendo seus pés com
plantas medicinais. Quando ela sai do seu cativeiro continua determinada
a fugir, até que numa noite ela se disfarça de homem e segue para a vila,
pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um português que também
morava na região” (disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_
13080_desmundo.html>.

Considerar o estudo da fala e a ele se dedicar é, principalmente, criar uma oportunidade ímpar para
explicitar, conforme Marcuschi,
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aspectos relativos ao preconceito e à discriminação linguística, bem como, suas


formas de disseminação. Além disso, é uma atividade relevante para analisar
em que sentido a língua é um mecanismo de controle social e reprodução
de esquemas de dominação e poder implícitos em usos linguísticos na vida
diária, tendo em vista suas íntimas, complexas e comprovadas relações com
as estruturas sociais (MARCUSCHI, op. cit., p. 43).

Marcuschi (op. cit.) discute o papel e o lugar da oralidade no ensino de língua e ilustra sua
argumentação com uma criteriosa análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e de uma
gama considerável de livros didáticos de 1º e 2º graus. O autor afirma que, no século XXI, um dos
desafios para as obras didáticas será aprender a lidar com a variação linguística em seus mais
variados aspectos:

1. variação sociolinguística;
2. variação dialetal;
3. variação de registros e níveis de fala;
4. variação de gêneros textuais realizados na fala;
5. variação de estratégias organizacionais da interação verbal;
6. variação de estratégias comunicativas;
7. variação de estratégias e processos de compreensão na interação;
8. variação de situações sociocomunicativas;
9. variação de construções sintáticas;
10. variação de seleção lexical (idem, p. 76).

Aceitar esse desafio e respeitar o lugar da oralidade na aula de língua é comprometer-se com um
ensino sem discriminações linguísticas.

5.1 Diferenças e características da fala e da escrita: interferência mútua


entre elas

A fala e a escrita são duas modalidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema linguístico,
mas têm suas próprias peculiaridades. Isso não significa que devam ser encaradas de maneira dicotômica
(oposta, sendo uma superior e outra inferior).

Conforme sintetiza Koch (2007; 1997), vários estudiosos dessa área, como Marcuschi (1995/2007a),
Koch & Oesterreicher (1990), Halliday (1985) e Koch (1992), afirmam que “os diversos tipos de práticas
sociais de produção textual situam-se ao longo de um continuum tipológico, em cujas extremidades
estariam, de um lado, a escrita formal e, do outro, a conversação espontânea, coloquial” (KOCH, 2007,
p. 31).

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Quadro 12

Escrita Oralidade
formal informal

Marcuschi deixa bem clara a natureza desse continuum tipológico, mostrando que as diferenças
entre oralidade e escrita dão-se dentro de um continuum tipológico das práticas sociais de produção
de texto e não na relação dicotômica de dois polos opostos. Assim, o continuum tipológico distingue e
correlaciona os textos de cada modalidade quanto às estratégias de formulação textual que determinam
o continuum das características que diferenciam as variações das estruturas, seleções lexicais etc. Tanto
a fala como a escrita dão-se em um continuum de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao
longo de dois contínuos sobrepostos (MARCUSCHI, 2007a).

Para proceder à localização dos diversos tipos de texto no continuum, Koch (2007) relata a contribuição
de alguns importantes autores da linguística textual:

• Koch & Oesterreicher indicam o uso do critério medium e do critério proximidade/distância.


• Chafe considera o nível maior ou menor de envolvimento dos interlocutores.
• Halliday sugere que o texto escrito tem maior densidade lexical, e o falado, maior complexidade sintática.
• Koch sustenta que os textos escritos podem estar mais próximos do polo conversacional e
vice-versa. Há ainda os tipos mistos e intermediários.

Saiba mais

Você pode ampliar sua visão acerca deste assunto assitindo ao filme
Narradores de Javé, de Eliane Caffé, 2003 e analisando-o. Esse filme deixa
bastante explícitas as diferenças entre fala e escrita, evidenciando ainda a
importância e poder legitimador que tem a escrita (científica) para certos
funcionamentos sociais.

Sinopse: Somente uma ameaça à própria existência pode mudar a rotina


dos habitantes do pequeno vilarejo de Javé. É aí que eles deparam com o
anúncio de que a cidade pode desaparecer sob as águas de uma enorme
usina hidrelétrica. Em resposta à notícia devastadora, a comunidade adota
uma ousada estratégia: decide preparar um documento contando todos
os grandes acontecimentos heróicos de sua história, para que Javé possa
escapar da destruição. Como a maioria dos moradores são analfabetos, a
primeira tarefa é encontrar alguém que possa escrever as histórias. Dispoível
em: <http://www.adorocinema.com/filmes/narradores-de-jave>.

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Observe que, conforme Koch (2007; 1997), alguns autores (Chafe, Tannen, Halliday, Oesterreicher
etc.) a partir da década de 1960 consideraram a dicotomia entre as modalidades fala e escrita,
atribuindo a cada uma características particulares. Koch afirma que tais características refletiam uma
visão preconceituosa e centrada no modelo da escrita formal padrão. Com base em tal dicotomia fala x
escrita, categorizava-se (KOCH, 2007, p. 32):

Quadro 13

Fala Escrita
Contextualizada Descontextualizada
Implícita Explícita
Redundante Condensada
Não planejada Planejada
Predominância do modus pragmático Predominância do modus sintático
Fragmentada Não fragmentada
Incompleta Completa
Pouco elaborada Elaborada
Pouca densidade informacional Densidade informacional
Predominância de frases curtas, simples e Predominância de frases complexas e
coordenadas subordinadas
Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas
Poucas nominalizações Abundância em nominalizações
Menor densidade lexical Maior densidade lexical

Você deve compreender que, em linhas gerais, é possível considerar que essas características não são
exclusivas nem de uma nem de outra modalidade e que elas foram estabelecidas a partir dos parâmetros
da escrita por visão preconceituosa, que discriminava a fala.

Nesse sentido, é mister entender que a fala possui características próprias, particulares à sua
situação enunciativa, sua forma de organização e realização. Veja a seguir algumas das características
mais essenciais da natureza da fala (mencionadas por KOCH, op. cit., e por MARCURSCHI, op. cit.), que
merecem destaque e revelam-se originalmente particulares a ela.

• Devido à sua interacionalidade intrínseca, a fala é, a priori, “não planejável”. Ela precisa ser apenas
“localmente planejável”.
• Possui sua verbalização e seu planejamento concomitantes, pois esses processos emergem no
momento da interação – a fala é o seu próprio rascunho.
• Apresenta descontinuidades frequentes no fluxo discursivo: abandono de tópicos discursivos; retomadas
de tópicos discursivos, inserções abruptas de novos tópicos discursivos, truncamentos etc.
• Sintaxe característica/típica ligada, de certa forma, à sintaxe geral da língua. Um exemplo é a
topicalização: “Esse menino, eu não sei se tomou banho hoje”; “A violência, falta de segurança,
eu não me acostumo com esse ritmo de grandes metrópoles no Brasil”.

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• Fala é processo, portanto, é dinâmica: não é um produto pronto e acabado, pois está continuamente
se refazendo, indo e voltando nos tópicos de interesse dos interlocutores, definindo-se em razão
das necessidades, escolhas e pressões comunicativas da interação.

Veja que na atividade de “coprodução” discursiva, os interlocutores empenham-se juntos na produção


textual. Em função da interação imediata, há pressões de natureza pragmática que passam por cima das
exigências sintáticas: truncamentos, correções, inserções, repetições e parágrafos. Esses elementos têm
uma função importante, a função cognitivo-interacional (MARCUSCHI, 1986, apud KOCH, op. cit.).

O texto falado não é caótico, ele tem sim uma estrutura própria, que se pauta a partir de sua
produção. É nesse sentido que deve ser descrito, estudado e analisado. No processo de produção do
texto falado, os interlocutores estão in praesentia – num mesmo tempo e espaço físico (salvo exceções
como telefone, rádio e outras possibilidades de conversação oral à distância que a tecnologia oferece).

Agora que você já conhece as diferenças e características que perfilam as duas modalidades (falada
e escrita), vejam-se a seguir as principais interferências da oralidade na escrita, conforme aponta Koch
(1997).

I. Questão de referência: na oralidade, muitas vezes os referentes são recuperados no próprio


contexto (basta apontar, por exemplo), dispensando assim que os falantes precisem explicitá-los sempre.
Mas, na escrita, não é bem assim, pois por ser não presencial há a necessidade de explicitar sempre os
referentes, por meio das marcas linguísticas. O trecho a seguir revela a produção escrita de um sujeito
que ainda não consegue diferenciar bem os usos da situação oral dos usos da escrita.

Exemplo: “[...] certo dia um homem muito rico mudou-se, para perto da fazenda do pobrehomem.
Ese homen era mau e iguinorante. Assim que soube se sua existência, dia e noite não parava de atormentá-lo,
então ele disse [...]” (KOCH, op. cit., p. 35).

II. Repetições: no texto falado, a repetição é muito frequente, aliás ela é um dos seus mecanismos
de organização, desempenhando funções didáticas, sintáticas, argumentativas, enfáticas etc. O trecho a
seguir revela a interferência clara de um recurso da fala na escrita.

Exemplo: “[...] já estavam chegando no final da gruta andaram andaram-andaram chegaram no final
da gruta virão o bau-cheio de jóias moedas voutaram para casa e ficaram muito felizes” (idem, p. 36).

III. Uso de organizadores textuais: são tópicos continuadores da fala, por exemplo: e, aí, daí,
então, daí então etc. Os textos das crianças são ricos em organizadores textuais típicos da oralidade.

Exemplo: “era uma vês un castelo abandonado e um dia 2 mininos pobres que tinham passado por
lá. comesaram a reformar o castelo e o tempo foi pasando e a notícia se espahol e os mininos creseram
e finalmente o castelo ficol pronto os mininos foram entrando e lá dentro tinha 8 cuartos” (ibidem).

IV. Justaposição de enunciados sem marca de conexão explícita: é comum, nos textos,
enunciados justapostos, sem elementos explícitos de conexão, ligação ou transição. O sujeito que está
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Unidade II

adquirindo a modalidade escrita ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios dessa
modalidade e mistura à escrita o padrão oral.

Exemplo: “Entraram na gruta com lanterna [/] primeiro foi o leão muitos tigres e onças depois foi
milhares de cobras e serpente e la no teto é cheio de morcegos [/] já estavam chegando no final da gruta
[/] andaram andaram-andaram [/] chegaram no final da gruta [/] virão o bau-cheio de jóias moedas [/]
voutaram para casa e ficaram muito felizes” (ibidem).1

V. Discurso citado: o discurso citado é manifestado prioritariamente no estilo direto, é mais frequente
na oralidade; em geral, sem a presença de um verbo que introduza a fala do outro (fulano disse:, fulano
resmungou:, fulano gritou:). O sujeito ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios da
modalidade escrita e mistura a ela a estrutura mais típica da oral, que é a que ele conhece melhor.

Exemplo: “Dez oras depois o Lucas vil um navio pirata elegrito gente vamos nos conder um navio
pirata sea prosima vamologo ja sei vamos nos esconder na quela caverna certo elá atras sera
que é perigos ela fora rárá vamos ficaricos maos pirtas não acharão droga vam em bora viva
camos ricos e turma vou ta para casa. Fim” (idem, p. 37).

VI. Segmentação gráfica: também é comum que a segmentação gráfica, em textos de sujeitos
iniciantes na modalidade escrita, seja feita em função do que ele ouve. É curioso notar que a criança, por
vezes, tentando acertar a segmentação gráfica adequada, acaba dividindo no meio algumas palavras ou
juntando outras em uma só!

Exemplo: “sabiacomoaranjar, arainha, poriso, aguera, masantesdiso, convoce, masnã, elegrito,


vamologo” (ibidem).

VII. Grafia correspondente à palavra: ou sequência de palavras tal como pronunciadas oralmente,
isto é, reproduzindo o que a criança ouve.

Exemplo: “virão (= viram), vamos nos conder (= nos esconder), perigos (= perigoso), maos piratas
(= mas os) espahol (= espalhou), ficol, partil, vil (= ficou, partiu, viu)” (ibidem).

VIII. Correções feitas da forma como se fazem no texto oral: assim como na fala, o sujeito não
apaga ou risca a forma que considera inadequada, mas justapõe a esta a forma corrigida.

Exemplo: “Chegando lá a turma rezol rezolvrão to(mar) banho de cachoeira mas algen esquso o
maio [...]” (idem, p. 36).

Para finalizar este tópico, é importante ainda trazer algumas considerações sobre a organização da
coesão e da coerência na conversação. Já que na Unidade I a abordagem desses critérios de textualidade
foi longamente trabalhada, valendo conceitualmente tanto para a fala como para a escrita, mas sempre

1
A inserção de barras é nossa e serve para separar os enunciados a fim de evidenciar a justaposição sem conectividade
entre eles.
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Teorias do Texto

tomando como exemplos textos escritos para ilustrar seus múltiplos fatores, subtipos (enfim, seus
funcionamentos), aqui tomaremos como referência o texto falado, a conversação propriamente para
analisar o funcionamento destes critérios de textualidade.

Para essa discussão, apontamos a autora Leonor Fávero (2009) que traz um capítulo de seu livro
“Coesão e coerência textuais” sobre estas questões. Essa autora, na mesma linha de pensamento
de Koch, Marcuschi e outros autores citados nesta Unidade II, entende que a conversação deve ser
analisada com justiça aos seus aspectos que são particulares e essenciais.

Antes de entramos nas especificações dadas à construção da coesão e da coerência no texto falado,
é importante frisar alguns aspectos cruciais da natureza da fala, conforme essa autora. Fávero reitera
que a conversação “é uma atividade linguística, que pertence às práticas diárias de qualquer cidadão,
independente de seu nível sociocultural. Ela representa o intercurso verbal em que duas ou mais pessoas
se alternam, discorrendo livremente sobre questões propiciadas pela vida diária” (CASTILHO, 1986 apud
FÁVERO, 2009, p. 84).

Conforme retoma Fávero de Castilho, há dois tipos de conversação:

• a natural – com suas variedades informal, coloquial e formal;

• a artificial – desenvolvida em peças de teatro, filmes, novelas, romances etc.; estas seguem um
tipo de roteiro prévio.

Lembre-se de que tanto no texto oral como no escrito o sistema linguístico é o mesmo para a
construção sintática. Entretanto, as regras para a realização oral, bem como os meios utilizados são
distintos, o que acaba por revelar materialidades linguísticas totalmente diferentes.

Você também deve considerar que, assim como a escrita, a fala também deriva da mesma base
semântica, fazendo uso do mesmo repertório lexical, variando, inclusive, na escolha e organização do
vocabulário, e, nesse sentido, reafirmamos um fundamento linguístico já enfatizado: o de que fala e
escrita são variações funcionais do mesmo sistema linguístico.

Observação

É comum muitos autores repetirem o equívoco de que o texto falado


não é planejado. Mas devemos considerar que o planejamento do texto oral
é diferente do planejamento do texto escrito.

Fávero aponta quatro graus de planejamento da conversação (indo do texto falado não planejado ao
escrito planejado), defendidos por Ochs (1979 apud FÁVERO 2009):

• falado não planejado – prescinde de reflexões e preparação prévia: uma briga ou discussão, uma
conversa no elevador, dar uma informação na rua etc.;
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Unidade II

• falado planejado – é pensado e projetado antes de sua realização, mas está sujeito às pressões
da situação comunicativa em coprodução com o(s) interlocutor(es): uma aula, um discurso, uma
reunião de condomínio, uma conversa para romper um relacionamento etc.;
• escrito não planejado – elaborado em situações informais do dia a dia, caracterizadas pela
necessidade do uso da escrita, mas levando em conta situações sem preparação ou expectativa
prévia: um recado de geladeira, bilhetinhos trocados em sala de aula, a escrita/“conversa” dos
chats na internet etc.
• escrito planejado – é pensado e projetado antes de sua publicação: um livro, um artigo de jornal,
uma carta de demissão, uma solicitação formal a uma instituição pública etc.

Observação

Uma das marcas essenciais da organização da conversação é que ela é


fruto de uma criação coletiva e dialógica, pois os interlocutores produzem
o texto em cooperação. Aqui vale a máxima: “quando um não quer, dois
não ‘conversam’2”!

O fato de o planejamento da fala se dar localmente confere-lhe uma característica denominada


“fragmentação”, consequente de sua natureza espontânea, que se opõe a uma maior “integração”
da modalidade escrita, em função do maior tempo de que ela dispõe para ser produzida (Fávero,
op. cit., p. 86).

A rapidez com que o locutor constrói a fala tem consequências no controle


do fluxo da informação, conduzindo-o a descontinuidades nesse mesmo
fluxo, reveladas por fenômenos como repetições, paráfrases, inserções,
anacolutos, falsos começos e outros; desse modo ela vai revelando seus
processos de construção, ao contrário da escrita que busca escondê-los,
mostrando somente os resultados (ibidem).

Outra característica forte da fala apontada por Chafe (apud FÁVERO, op. cit., p. 86) é o “envolvimento”
interpessoal, que se opõe ao “afastamento”, típico da escrita.

Considere ainda que as “descontinuidades” da fala são, em sua maioria, técnicas linguísticas usadas
como estratégias controladoras do diálogo, que estão baseadas em regras conversacionais3 do tipo:

• não diga o óbvio, e sim concentre-se no que é importante;

• seja claro para não dispersar nem perder o interesse de seu interlocutor, bem como os objetivos
do diálogo;
2
O provérbio original é “quando um não quer, dois não brigam”.
3
Sobre a conceituação destas regras conversacionais, sugere-se a leitura de Logic and conversation, de H. Grice, 1975.

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Teorias do Texto

• não fale de forma irresponsável ou inconsequente, para não fugir ao que refere a sua opinião e
confundir o interlocutor.

Feitas as colocações anteriores, focalizemos, então, o funcionamento da coerência e da coesão na


conversação. Analisar esses critérios de textualidade no texto oral é trazer à tona uma discussão polêmica,
por se tratar de um fenômeno linguístico com poucas evidências empíricas estudadas até então.

Na conversação, a coesão não pode ser definida em termos estritamente


formais, pois o texto se produz dialogicamente, na concorrência de
dois ou mais agentes. A coerência não é uma unidade de sentido, e
sim uma dada possibilidade interpretativa resultante localmente. Dois
interlocutores se entendem não só porque são coerentes no que dizem,
mas principalmente porque sabem do que se trata em cada caso. E,
quando não sabem, manifestam seu desentendimento de modo a
integrá-lo como parte efetiva no próprio texto (MARCUSCHI, 1988 apud
FÁVERO, op. cit., p. 90).

Nessa perspectiva, a coerência se dá em função de os enunciados construídos na conversação se


mostrarem mutuamente relacionados, de modo ordenado e significativo, melhor caracterizada em
termos de “tópico discursivo”, considerando a sua centração, organicidade e delimitação. Ao lado
(ou dentro!) da organização do tópico discursivo, há frequentemente as “digressões”, ou partes que
não estão topicamente relacionadas com o que veio imediatamente antes, ou com o que vem logo
depois, mas que no todo da conversação é possível recuperar tentacularmente, e por isso fazem
sentido.

• Por outro lado, a coesão é uma relação linear4 entre as sentenças, não sendo necessariamente
condicional ou suficiente para a coerência. Ela não é um fator interdependente, mas um subproduto
da coerência. Seguem alguns exemplos da coesão na conversação5:

1. Coesão referencial – reiteração, repetição do mesmo item lexical por:

• autorrepetição: “... ele já ia à escola da manhã que eu comecei quando eu comecei trabalhar...
comecei a trabalhar há dois anos... e quer dizer então... ele já ia à escola de manhã”.
• heterorrepetição:

“L1 - nós somos: seis filhos.

L2 - e a do marido?

L1 - e a do marido... eram doze agora são onze...”.


4
Conforme foi enfaticamente destacado na Unidade I.
5
Os exemplos citados são retirados de Fávero (op. cit., p. 91ss), que usou como fonte o inquérito de número 360 do
arquivo do Projeto NURC-SP (sobre a linguagem falada culta na cidade de São Paulo).

63
Unidade II

2. Coesão recorrencial – paráfrase: “contexto: o tópico que se desenvolve é mercado de trabalho,


especificamente, a “procura de engenheiro”.

“L2 ... a grande maioria é engenheiro administradores economistas


L1... é que a gente está na:: na espera da tecnologia, né?...
L2 ... mas engenheiro o peso é muito grande...”

3. Coesão sequencial – por conexão: “contexto: o tópico que vem se desenvolvendo é o do


planejamento familiar”.

“L1 e:: nós havíamos programado Nove ou dez filhos... não é? ...
L2 a sua família é grande?
L1 nós somos:: seis filhos
L2 e a do marido?
L1 e a do marido... eram doze agora são onze...”.

5.2 Mais algumas considerações teóricas sobre o binômio oralidade e


escrita

Nesta sessão, você acompanhará algumas considerações a respeito de categorias teóricas e


perspectivas científicas em torno da relação oralidade e escrita. Mais especificamente, aspectos
relacionados à visão dicotômica sobre oralidade x escrita; às especificidades das categorias oralidade/
fala e letramento/escrita; ao binômio oralidade/escrita e prática sociais; à visão culturalista; à visão
variacionista; à interacional; à visão funcionalista da relação fala e escrita. Tais considerações são
apresentadas por Marcuschi (2007a).

I. Fala x escrita – a perspectiva das dicotomias: essa visão é da perspectiva dicotômica entre fala
x escrita, é considerada restrita, pois polariza essas duas modalidades da língua. Por outro lado, há quem
considere nessa perspectiva as relações fala x escrita dentro de um continuum. Aqui as análises são
voltadas para o código com permanência no fato linguístico. Essa teoria deu origem ao prescritivismo
gramatical e à norma linguística. De modo geral, as características próprias à fala e à escrita são descritas/
prescritas por essa visão da seguinte maneira:

• Fala = contextual, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada.


• Escrita = descontextualizada, explícita, condensada, planejada, precisa, normatizada.

Tal visão, baseada no perfil das condições empíricas de uso da língua, é uma visão formalista
distorcida do fenômeno textual. É uma visão “imanentista” que originou as Gramáticas Pedagógicas.
Ela remonta a separação “forma x conteúdo”, classifica a fala como pouco “complexa” e postula que a
escrita é fundada num conjunto de regras que regem a língua.

64
Teorias do Texto

II. Oralidade x letramento ou fala x escrita? – há que se observar algumas especificidades dessas
categorias teóricas, pois tais especificidades relacionam-se ao seu emprego em teoria e análise. O
binômio oralidade x letramento está voltado para analisar as diferenças entre duas “práticas sociais”;
enquanto que o binômio fala x escrita volta-se às diferenças entre duas modalidades de uso da língua.

Quadro 14

Oralidade: prática social apresentada sob várias Fala: forma de produção discursivo-textual oral
formas ou gêneros textuais em sua diversidade de que dispensa um aparato técnico, necessitando,
uso formal e contextual. apenas, dos recursos próprios ao ser humano.
Letramento: uso social da escrita que vai de uma Escrita: tecnologia de representação abstrata
apropriação mínima da escrita até uma utilização da fala e produção discursivo-textual com
científica dela. especificidades próprias.

III. Oralidade e escrita no contexto das práticas sociais: Marcuschi (2007a) situa o papel das
práticas sociais da escrita e da oralidade na civilização contemporânea. Ele considera a relação entre
“vida cotidiana” e os fenômenos da fala e escrita. O texto seria, então, uma prática social, e não um
artefato linguístico.

Compreenda que a escrita, enquanto prática social, tornar-se-ia indispensável. Em relação ao uso
da língua (fala e escrita), as práticas sociais têm o seu lugar, papel e grau de relevância de ambas as
modalidades na sociedade – eixo de um continuum sócio-histórico-tipológico e até morfológico.

Lembrete

Homem = naturalmente um “ser que fala”, e não um “ser que escreve”


– a escrita é derivada, e a fala é primária.

Fala = prática social do dia a dia.

Escrita = prática de um ambiente formal – escola (o que lhe confere


prestígio).

A escrita permeia hoje praticamente todas as práticas sociais das comunidades em que se insere sob
a forma de “letramento”. Os objetivos e a ênfase do uso da escrita variam de acordo com os contextos
em que se inserem: a “apropriação/distribuição” da escrita e da leitura (padrões de alfabetização); e os
“usos/papéis” da escrita e da leitura (processos de letramento). Mesmo as pessoas analfabetas também
estão sob a influência das estratégias da escrita em seu desempenho oral.

A escrita passou a ter um status bastante singular no contexto das atividades cognitivas em geral.
Devem-se distinguir, então:

• Letramento: processo de aprendizagem sócio-histórica da leitura e da escrita em contextos


informais e para usos utilitários.
65
Unidade II

• Alfabetização: domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.


• Escolarização: prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação do indivíduo,
sendo que a alfabetização é apenas uma das atribuições/atividades (MARCUSCHI, 2007a).

Você deve observar que são muitos os usos de oralidade e escrita em nossa sociedade, como você já
viu anteriormente. Também vimos que há diferentes meios de acesso e usos da linguagem na sociedade,
tanto em relação à fala quanto em relação à escrita. E esses diferentes usos possibilitados por meio de
diferentes mídias e tecnologias, além da própria voz e do código escrito, põem em contato/interação/
dialogismo diferentes subjetividades, em diferentes espaços sociais:

• homem/mulher;
• pai/filho;
• sogra/nora;
• patrão/empregado;
• professor/aluno;
• padre/fiel;
• fornecedor/consumidor;
• civil/militar;
• governante/povo;
• dentro/fora da escola;
• dentro/fora de casa;
• dentro/fora do trabalho;
• dentro/fora da igreja;
• dentro/fora do tribunal etc.

A escrita é uma fonte de preconceito, na medida em que se atribui o desenvolvimento à alfabetização.


A escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal, e não como um bem cultural (ibidem).

A história do uso da escrita e da alfabetização ocidental é descontínua e contraditória (relação


alfabetização/processo de industrialização). A alfabetização instituída dá-se de preferência sob o
controle do Estado, orientando-se por seus objetivos. Assim, a aquisição da escrita é um fenômeno
“ideológizavel”. A fala é contínua no dia a dia e a oralidade tem lugar em seus diferentes contextos e
usos sociais.

IV. Oralidade x escrita: a tendência fenomenológica de caráter culturalista: essa visão


é aculturalista e de perspectiva epistemológica. Ela observa as práticas sociais da oralidade x
escrita, faz análise cognitiva dos efeitos de organização e produção do conhecimento no aspecto
66
Teorias do Texto

psicossocioeconômico-cultural. Essa tendência é inadequada para o trato com os fatos da língua. Ela
confere ao domínio da escrita o avanço na capacidade cognitiva individual:

Quadro 15

X
Cultura oral Cultura escrita
Pensamento concreto Pensamento abstrato
Raciocínio indutivo Raciocínio dedutivo
Atividade artesanal Atividade tecnológica
Cultivo da tradição Inovação constante
Ritualismo Analitismo

Há três grandes problemas nessa tendência:

• etnocentrismo;
• supervalorização da escrita; e
• tratamento globalizante.

V. Fala x escrita – perspectiva variacionista: tal visão trata do papel da escrita a partir dos
processos educacionais e da variação na relação língua padrão e não padrão em contextos de ensino
formal. Modelos teóricos baseiam-se no “currículo bidialetal”. Não há dicotomias, verificam-se as
regularidades e variações:

Quadro 16

Língua padrão   Variedade não padrão


Língua culta   Língua coloquial
Norma padrão   Norma não padrão

Marcuschi (ibidem) afirma simpatizar com essa tendência, mas acredita serem necessárias maiores
reflexões. Para ele, fala e escrita não são dialetos, mas “modalidades” de uso de língua. Nesse sentido, o
aluno se tornaria “bimodal”.

VI. Oralidade x escrita – a perspectiva interacional: essa perspectiva trata das relações entre fala
e escrita, considerando o continuum textual. É a visão interacionista, cujos fundamentos baseiam-se
em:

• relação dialógica no uso;


• estratégias de linguagem;
• funções interacionistas;

67
Unidade II

• envolvimento e situacionalidade;
• formulaicidade.

Esse modelo percebe mais sistematicamente a língua enquanto fenômeno dinâmico e


estereotipado, centrando-se em atividades dialógicas que frisam os aspectos mais salientes da
fala. Porém tem um baixo potencial explicativo e descritivo dos fenômenos sintáticos e fonológicos
da língua (ibidem).

Considere que, nessa visão, as análises se prestam a observar a diversidade de formas textuais
produzidas monológica e dialogicamente. Além disso, nela trata-se de fenômenos de compreensão
na interação verbal e com o texto escrito, detectando especificidades na atividade de construção do
sentido. Essa perspectiva postula que não se deve polarizar ou dicotomizar a relação entre fala e escrita
e orienta-se por uma linha discursiva e interpretativa.

VII. Concepção e funcionamento da língua – consequente relação fala/escrita: o sucesso da


análise vai depender da concepção de língua que subjaz à teoria, bem como da noção de funcionamento
da língua, esta é fruto das condições de produção. A noção de sistema atém-se à concepção básica de
uma “estrutura virtual”. Fica desde já eliminada uma série de distinções geralmente feitas entre fala e
escrita, tais como a contextualização (na fala) x descontextualização (na escrita), implicitude (na fala) x
explicitude (na escrita) e assim por diante.

A língua (seja oral ou escrita) reflete a organização da sociedade, uma vez que se relaciona com as
“representações e as formações sociais”. Entretanto, a fala e a escrita representam formas de organização
da mente por meio das próprias representações mentais. Vale salientar, sobretudo, que, assim como
a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem propriedades
intrinsecamente privilegiadas. São modos de representação cognitiva e social que se revelam em
práticas socioculturais específicas. A oralidade e a escrita são ambas práticas sociais e não propriedades
de sociedades distintas.

5.3 Retomando alguns conceitos na análise do texto

Vamos recuperar alguns conceitos importantes! Conforme vem sendo exposto, ao longo dessa
discussão sobre as modalidades de texto oral e escrito, a oralidade tem sido fonte de muitos preconceitos
no universo pedagógico (e social), que tende a privilegiar a escrita ou optar por uma única variável
privilegiada socialmente, que se aproxima das normas da escrita: o padrão letrado. Isso acontece apesar
do trabalho de educadores e linguistas acerca da variação dialetal e da relação fala/escrita, que tem sido
veiculado ao longo das últimas décadas.

Convencionalmente, a orientação social e pedagógica (tradicionalista) para o ensino-aprendizagem


de língua (materna ou estrangeira) dá prioridade à reflexão metalinguística e ao ensino da nomenclatura
gramatical, resultando, assim, em um ensino-aprendizagem limitado quanto aos recursos que possibilitam
ao falante/autor e ao ouvinte/leitor desenvolver sua competência e desempenho linguístico-textual no
funcionamento escolar e social.

68
Teorias do Texto

Vários autores, como você acompanhou, acreditam que, para mudar essa concepção
didático-metodológica do ensino da língua, faz-se necessário refletir e buscar fundamentos em uma
concepção que privilegie o exercício da escrita enquanto uma contínua relação entre fala/escrita, que
viabiliza os processos de leitura, interpretação e produção textual.

Conforme você viu, durante muito tempo, a ciência da linguagem conviveu com perspectivas teóricas
limitadas e preconceituosas, que ou descartavam totalmente o estudo da fala ou tratavam a oralidade
e a escrita como dois polos opostos (sendo um superior – a escrita – e outro inferior – a fala), o que de
certa forma corroborou com a visão míope e equívoca veiculada social e pedagogicamente e que ainda
hoje lutamos para derrubar.

Observação

Atualmente, os teóricos da linguagem (e do texto) pensam a relação


fala/escrita como parte de um contínuo em que não se podem estabelecer
limites estanques. A linguagem tem níveis de formalidade que podem variar
de posição dentro de uma escala de formalidade entre os pontos (+) formal
e (-) formal.

Entenda que quanto mais formal a oralidade, mais próxima das normas da escrita ela vai estar; e, da
mesma forma, quanto mais informal for a escrita, mais ela vai se aproximar da oralidade. Assim, o que
se defende hoje é que as diferenças entre fala e escrita não estão em polos extremos, mas que estas são
modalidades de uma mesma língua, as quais se tornarão mais ou menos distintas ou próximas de acordo
com o grau de interação entre produtores/interlocutores e o propósito com que são produzidas.

É preciso compreender bem que a oralidade, que já faz parte de nossa vida, e a escrita, que devemos
aprender na escola, são sistemas diferentes, com características “físicas” (voz, imagem), “situacionais” e
“funcionais” que particularizam cada uma dessas modalidades e que possuem especificidades relativas
à sua estrutura gramatical, à sua organização discursiva e à sua tipologia textual. Mas ambas estão
sujeitas às normas sociais de uso de uma mesma língua, e, nesse sentido, é imprescindível considerar o
continuum da relação fala/escrita, contextualizando as práticas sociais e institucionais da linguagem.

Para visualizar melhor essas questões teóricas refletidas, observem-se, logo mais, alguns aspectos
analisados em um texto escrito (a música Saudosa maloca, de Adoniran Barbosa) com várias marcas de
oralidade. Antes, porém, de proceder à breve análise, é importante relembrar algumas questões sobre a
textualidade. Tomando o texto como unidade comunicativa básica, sendo este uma ocorrência linguística
(oral ou escrita, formal ou informal) de qualquer extensão, constituída de unidade sociocomunicativa,
semântica e formal.

O texto será bem-compreendido quando avaliado sob três aspectos:

1. O pragmático, que tem a ver com seu funcionamento enquanto atuação informacional e
comunicativa [intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade, informatividade.
69
Unidade II

2. O semântico-conceitual, de que depende sua coerência.

3. O formal, que diz respeito à sua coesão.

Você verá agora, a título de ilustração, mencionados superficialmente, alguns elementos do tipo
textual narrativo, que é o tipo que abrange o texto proposto para análise (a música Saudosa maloca),
procurando estabelecer a influência da estrutura narrativa no contínuo fala/escrita.

Conforme Gancho (1991), um texto narrativo é constituído basicamente por uma sequência de
fatos no tempo, considerando, portanto, a existência de uma relação de anterioridade e posterioridade
entre esses fatos. Esse gênero requer a apresentação de uma estrutura específica cujos componentes
basicamente são: enredo, personagens, tempo, espaço e foco narrativo.

Saudosa maloca

Se o sinhô não tá lembrado


Dá licença de contar
Ali onde agora está
Este adifício arto
Era uma casa veia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joça
Construimo nossa maloca
Mais um dia, nóis nem pode se alembrá
Veio os home com as ferramenta
E o dono mandô derrubá
Peguemos todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Apreciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía

Doía no coração
Mato Grosso quis gritar
Mas por cima eu falei
Os home tá co’a razão
Nóis arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou
Deus dá o frio conforme o cobertor
E hoje nóis pega as paia nas grama do jardim
E pra esquecer nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemo
70
Teorias do Texto

Os dias feliz da nossa vida


Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemo
Os dias feliz da nossa vida.

(BARBOSA, 1990).

Veja que a escolha do gênero musical e do tipo narrativo justifica-se em função da abordagem da
relação fala/escrita, já que, se por um lado o tipo narrativo é tão típico da oralidade quanto da escrita,
por outro, o gênero musical, apesar de sua realização oral, é originalmente um texto escrito.

O texto anterior (a música Saudosa maloca, de Adoniran Barbosa), embora seja escrito, traz importantes
marcas de oralidade. Tal texto foi planejado (poeticamente) para assemelhar-se, o mais próximo possível,
de uma determinada forma de oralidade que identifica uma certa classe social (economicamente
desfavorecida), com a intenção de sensibilizar o leitor/ouvinte a ponto de este imaginar e visualizar o
próprio personagem da narrativa.

Para isso, o autor utiliza recursos caracterizadores da modalidade falada que ele intenta imitar – a
própria estrutura narrativa que caracteriza o texto, a linguagem simples com as variantes próprias dessa
oralidade (“sinhô”, “alembrá”, “táuba”, “nóis pega as paia” etc.). É claro que por ser um texto escrito
(previamente elaborado), não dispõe de outros recursos caracterizadores da modalidade falada, como
os de cunho prosódico, paralinguístico, entonacional (hesitações, truncamentos, tomada de turno, entre
outros), mas o que interessa é que se trata de um texto escrito que (em uma escala de formalidade) se
posiciona em um ponto muito perto do texto oral/informal.

Fique atento para o seguinte: o texto pode ser considerado como literário e deve ser observado por
seu perfil artisticamente mimético, no que se refere à reprodução de um tipo de oralidade própria a uma
determinada classe social. É relevante ainda salientar que o autor escolhe uma estrutura que é própria
da modalidade de fala informal: a narrativa originada do diálogo. No caso do texto em estudo, não há
diálogo na estrutura geral da conversa. Há um ouvinte (“se o sinhô...”) e um falante (eu/nós – “eu, Mato
Grosso e o Joca”, “nóis nem pode”), há citações diretas e indiretas de personagens envolvidos no enredo
da narrativa.

Quanto à estrutura narrativa, temos um enredo (a demolição e a perda da casa), que se localiza em
um tempo (“foi aqui”, “mais um dia...”) e em um espaço (“ali”, “nesse adifício arto”, “uma casa veia”),
que tem personagens (“eu, Mato Grosso e o Joca”), e tem foco narrativo (“Se o sinhô num tá lembrado”/
“Dá licença de contá”). Ou seja, o texto preenche todos os elementos da estrutura narrativa informal,
trazendo também as etapas concernentes a esse tipo de texto: apresentação do problema, declaração
dos fatos desenvolvimento, tensão, clímax e resolução (GANCHO, 1991).

Considere ainda que o texto trata de um depoimento informal, que se subsidia da linguagem
estritamente oral e informal para expressar, da maneira mais verossímil possível, o drama das pessoas que
não têm um teto, um emprego, uma perspectiva digna de vida, não exercem sua cidadania e dependem
de um canto em uma praça ou em um jardim para se recolherem.
71
Unidade II

Com a intenção de sensibilizar e chamar a atenção do leitor para esses aspectos, o autor reproduz
o discurso deste personagem típico representante de um sério problema social, valendo-se do que há
de mais típico da variação socioletal em relevância. O texto oferece a oportunidade de refletir sobre os
processos de leitura, a interpretação e a produção como parte de um continuum entre fala e escrita; a
compreensão da relação continuada entre fala e escrita e dos níveis de formalidade.

6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO

Agora discorreremos mais aprofundadamente sobre a teoria linguística que se dedica exclusivamente
a tratar da linguagem oral, ou seja, da conversação. Vamos conversar, então?

Esta área tem um caráter interdisciplinar, na medida em que divide alguns pressupostos
teóricos com outras áreas (inclusive com a LT). Ela busca estabelecer relações com a exterioridade
da linguagem, problematizando a separação entre a materialidade da língua e seus contextos
de produção. Assim como a sociolinguística, a pragmática, a análise do discurso, a semiótica
discursiva e a própria linguística textual, esta área também mobiliza saberes de outras ciências
como a filosófica da linguagem, a antropologia, a história, a sociologia, a psicanálise e as ciências
cognitivas.

Foi na década de 1980 que foi lançado, no Brasil, o primeiro livro nessa área com o título Análise
da conversação, de Luiz Antônio Marcuschi (1986/2007b). Para esse autor, a conversação é o exercício
prático das potencialidades cognitivas do ser humano em suas relações interpessoais, tornando-se assim
um dos melhores testes para a organização e o funcionamento da cognição na complexa atividade da
comunicação humana.

A conversação é a primeira das formas de interação a que estamos expostos


e provavelmente a única da qual nunca abdicamos pela vida afora [...].
Conversação, aqui, trata das formas de interação verbal de nossa sociedade,
apesar de alguns estudiosos da área considerarem apenas as interações
verbais face a face em que há “simetria de direitos e espontaneidade na
realização do evento” (MARCUSCHI, op. cit., p. 14).

Como enfatiza Marcuschi (2007b), a análise da conversação (doravante AC) teve origem na
década de 1960 no campo dos estudos sociológicos ligados à etnometodologia a partir de trabalhos
referenciais como os de Harold Garfinkel, Harvey Sacs, Emanuel Schegloff e Gail Jeferson. A partir
dessa perspectiva, os estudiosos da AC têm procurado investigar os aspectos da organização do texto
conversacional.

Observação

Para a etnometodologia, os analistas têm de ser perceptivos aos


fenômenos interacionais, centrando-se nos detalhes estruturais do processo
interativo.
72
Teorias do Texto

Vejamos três níveis essenciais desse enfoque apontados por Hilgert (1989 apud MARCUSCHI,
2007b):

a. Macronível: nas fases conversacionais – abertura, fechamento e parte central e o tema central e
subtemas da conversação.
b. Nível médio: turno conversacional, tomada de turnos, sequência conversacional, atos de fala e
marcadores conversacionais.
c. Micronível: elementos internos do ato de fala, que constituem sua estrutura sintática, lexical,
fonológica e prosódica.

Não se esqueça de que a análise da conversação estabelece o texto como seu objeto de estudos, mas
essa área vai dedicar-se única e exclusivamente ao estudo do texto oral, natural e presencial (face to
face), ou seja, aquele texto produzido em situações espontâneas. Portanto, textos “artificiais”, como os
de novela, cinema ou ainda conversas telefônicas, não são objeto de interesse específico nesse campo
científico.

Em uma conversa, geralmente aborda-se um ou mais tópicos discursivos, algo sobre o que duas
pessoas (pelo menos) conversam. Esse tópico discursivo define-se como uma atividade que correlaciona
objetivos entre os interlocutores em que há um movimento dinâmico da estrutura conversacional, que
faz dele a base do texto oral. A organização tópica, como já foi anteriormente retomada de Fávero,
pauta-se em três propriedades: a centração, organicidade e delimitação.

Na análise da conversação, o tópico discursivo (aquilo sobre o que se fala) é o fio condutor da
conversação, e a unidade funcional da conversação é o turno (período de tempo que cada falante
ocupa).

Observação

A conversa espontânea é uma atividade coprodutiva sem “controle”


exato de como o interlocutor orienta sua intervenção, mas nem por
isso torna-se caótica. Os falantes negociam uma relação com o curso da
conversa, produzindo sentidos estrutural e funcionalmente.

Para sinalizar que compartilhamos cognitivamente da interação, recorremos, naturalmente, a


expressões do tipo: “isso me lembra”, “por falar em” etc., que podem marcar a passagem de um tópico
a outro. A estrutura tópica serve, assim, de fio condutor da organização linear do discurso. Conforme
Dionísio:

O conjunto de relevâncias em foco em dado momento vai, paulatinamente,


cedendo lugar a outros conjuntos de relevâncias, ligadas a aspectos antes
marginais do tópico em desenvolvimento ou a novos conjuntos que vão
sendo introduzidos a partir dos já existentes (2005, p. 72).
73
Unidade II

Lembre-se de que o planejamento na fala ocorre no momento da interação, pois a conversação


é localmente planejada. Considere ainda que em se estabelecendo uma gradação do informal
para o formal, observa-se uma variedade entre esses dois polos que se estabelecem dentro de um
continuum e que podem ser exemplificadas relacionando diferentes variedades entre fala e escrita,
escrita e escrita, e fala e fala, conforme já foi refletido a partir das contribuições de Marcuschi
nesse assunto.

Após esta apresentação da AC, acompanhe a seguir alguns dos pontos mais importantes dessa teoria
linguística.

I. Sobre o tratamento dos dados orais – primeiramente, deve-se considerar o sistema de


transcrição de texto oral: as conversações naturais que servem de corpus para a AC devem ser gravadas
ou filmadas para que o analista possa observar, transcrever e comprovar seus dados da maneira mais
fiel possível. O analista pode privilegiar os aspectos fundamentais para sua análise, mas a transcrição
deve ser legível. Em função do trabalho com textos orais, esta área possui normas de transcrição de
texto bastante específicas para atender a todas as situações. A AC analisa materiais empíricos, orais,
contextuais, incluindo realizações entonacionais e gestuais que possam colaborar com a construção do
sentido. Outro aspecto importante para caracterizar o perfil da análise da conversação é a importância
conferida também aos recursos não verbais utilizados na fala.

Os recursos não verbais são de grande relevância na transcrição e análise das conversações. Steinberg
(1988 apud DIONÍSIO, 2005, p. 77) sistematiza os recursos não verbais normalmente empregados nas
conversações:

1. Paralinguagem – pequenos sons emitidos pelo aparelho fonador que não constituem signos
linguísticos, mas interferem na significação: hm hm, shiiii, tsc tsc.

2. Cinésica – movimento do corpo, mãos, gestos na conversação.

3. Proxêmica – proximidade/distância entre os interlocutores.

4. Tacêsica – uso de toque durante a conversação.

5. Silêncio – ausência de conversação, mas que às vezes diz mais que mil palavras: falamos, portanto,
com a voz e com o corpo.

Vejamos um exemplo retirado de Dionísio (2005, p. 78):

203 M03 certas coisas... eu digo peraí... tinha uma bacia conforme essa aqui ((pega
204 numa bacia plástica que está próxima e mostra)) uma bacia... de loiça... eu
205 maiei aqui assim ((demarca na bacia o nível da água colocada na época)) eu
206 butei água...
74
Teorias do Texto

No segundo capítulo do livro Análise da conversação, Marcuschi (2007b) apresenta um sistema de


transcrição para textos falados, que sintetiza bem como deve ser o tratamento formal de transcrição da
fala e que inclusive serve de base às transcrições do Projeto NURC6. Segue o referido quadro adaptado:

Quadro 17

Ocorrências Sinais Exemplificação


1. Indicação dos falantes Os falantes devem ser indicados H28
em linha, com letras ou alguma M33
sigla convencional Doc.
Inf.
2. Pausas ... não... isso é besteira
3. Ênfase MAIÚSCULA ela comprou um OSSO
4. Alongamento de vogal : (pequeno) eu não tô querendo é dizer
:: (médio) que ... é: o eu fico até:: o: tempo
::: (grande) todo
5. Silabação - do-minadora
6. Interrogação ? ela é contra a mulher
machista... sabia?
7. Segmentos incompreensíveis () bora gente... tenho aula... ( ) daqui
(ininteligível)
ou ininteligíveis
8. Truncamento de palavras ou desvio sintático / eu pre/ pretendo comprar
9. Comentário do transcritor (( )) M.H. ... é ((rindo))
10. Citações “” “mai Jandira eu vô dize a
Anja agora que ela vai
apanhá a profissão de
madrinha agora mermo”
11. Superposição de vozes [ H28. é... existe... [você ( )do homem...
M33. [pera aí... você
Acha... pera aí... pera aí
12. Simultaneidade de vozes [[ M33. [[mas eu garanto que muita coisa
H28. [[eu acho eu acho é a autoridade
13. Ortografia tô, ta, vô, ahã, mhm

II. A organização da conversa – em uma conversa, os interlocutores devem falar um por vez.
Eles devem esperar um lugar relevante para a transição (LRT), ou seja, esperar por marcas na fala
do interlocutor como pausas, hesitações, entonações descendentes, marcadores etc. Os interlocutores
emitem sinais para marcar o fim de seu turno ou um convite à fala do outro e trocam o tempo todo os
papéis de falante e ouvinte, mas isso não impede que, em algumas situações, muitas pessoas falem ao
mesmo tempo e se entendem. Todos os falantes têm direito à fala. Conforme explica Marcuschi (2007b),
a noção de turno engloba dois sentidos:

1. distribuição de turno;

2. unidade construcional.

6
Projeto de Estudo Coordenado da Norma Urbana Linguística Culta.

75
Unidade II

Saiba que os turnos podem ser nucleares (centrais no desenvolvimento do tópico discursivo) e
inseridos (produções marginais ao tópico). A mudança de turno pode ocorrer por meio da passagem,
do assalto e da sustentação da fala. A passagem do turno pode ser requerida ou consentida pelo falante;
os assaltos são uma espécie de violação da regra “falar um de cada vez”, e o falante invade o turno do
outro sem solicitação ou consentimento (o interlocutor assaltado pode perder e em seguida retomar,
abandonar ou recuperar o comando da interação sobrepondo-se à fala do outro); e a sustentação
é uma tentativa do falante de garantir a posse do turno, recorrendo a marcadores conversacionais,
alongamentos, repetições e elevação da voz.

No caso das entrevistas formais, que apresentam uma estrutura básica de pergunta e resposta, em
geral, a elaboração do turno conversacional apresenta uma distinção nítida: os turnos de resposta tendem
a ser longos e, apesar de pausas, truncamentos, hesitações, alongamentos etc., não há tomada de turno.
A estrutura em pergunta e resposta compõe a unidade fundamental da organização conversacional e
pode variar na sua realização.

III. Dos marcadores conversacionais – como o texto oral é planejado e verbalizado ao mesmo
tempo, dos recursos mais característicos da fala natural são os marcadores conversacionais que podem
ser verbais, não verbais ou prosódicos: alguns marcam finalização de turno (“não é?”, “entendeu?”);
outros marcam participação (“uhrum”); e outros marcam convergência (“exato”, “sim”). Os marcadores
conversacionais são produzidos pelos falantes para dar tempo à organização do pensamento, sustentar o
turno, monitorar o ouvinte, corrigir-se, reorganizar e reorientar o discurso e pelos ouvintes para orientar
e monitorar o falante quanto à recepção com sinais de convergência, indagação e divergência.

Os marcadores (MCs) se apresentam divididos em quatro grupos:

1. MCs simples: um só item lexical – “mas”, “éh”, “aí”;


2. MCs compostos: sintagmas geralmente estereotipados – “sim, mas”, “bom mas aí”;
3. MCs oracionais: pequenas orações – “eu acho que”, “sim, mas me diga”;
4. MCs prosódicos: recursos prosódicos – entonação, pausa, hesitação, tom de voz.

IV. A construção da compreensão no texto falado – quando dois ou mais indivíduos conversam,
eles coordenam conteúdos e ações, contruindo um texto coerente. O sucesso da interação atrela-se
ao processo interacional estabelecido entre os participantes em um esforço coletivo pela construção
de sentidos. Conforme Marcuschi (op. cit.), a compreensão na interação verbal face a face, resulta
de um projeto conjunto de interlocutores em atividades cooperativas e coordenadas de coprodução
de sentido e não de uma simples interpretação semântica de enunciados postos. O analista deve
dar conta de como os participantes de uma interação resolvem suas estratégias e seus processos
de compreensão. Marcuschi apresenta algumas atividades de compreensão na interação verbal que
merecem destaque:

• Estratégia 1 – negociação: central para a produção de sentidos na interação verbal dada a sua
natureza conjunta.

76
Teorias do Texto

• Estratégia 2 – construção de um foco comum: na interação, a base da troca é a sintonia


referencial, o interesse comum e referentes partilhados.
• Estratégia 3 – demonstração de (des)interesse e (não)partilhamento: se não há esse partilhamento,
a interação não progride.
• Estratégia 4 – existência e diversidade de expectativas: os interlocutores criam expectativas
diversas em relação um ao outro, relacionadas ao contexto, às condições em que são produzidas,
conhecimento partilhado etc.
• Estratégia 5 – marcas de atenção: sinais enviados pelos interlocutores que demonstram se há
boa ou má sincronia na interação.

A análise da conversação no Brasil constitui-se em uma linha de pesquisa praticada sistematicamente


com uma produção editorial que abrange transcrições de materiais do corpus do Projeto de Estudo da
Norma Linguística Urbana Culta (NURC), análises de textos orais sobre diversos temas da AC, gramáticas
do português falado (com o corpus dos NURCs), além de teses e dissertações defendidas nos programas
de pós-graduação das universidades brasileiras.

Resumo

Nesta Unidade II, você refletiu sobre os gêneros textuais do dia a dia,
tanto falados como escritos:

• Fala (telefonemas, aulas, entrevistas de emprego, conferências,


palestras, comunicações, discursos, conversas de bar, de elevador, de
ponto de ônibus, de namorados, de marido/mulher, de ex-marido e
ex-mulher, teleconferências, bate-papo em viva-voz via Skype, MSN
etc., programas de rádio e TV, pregão na feira, na rua, na bolsa de
valores, fofocas, “bronca” (reprimenda) dos pais, da professora, do
guarda de trânsito etc.).
• Escrita (cartas: pessoais, de recomendação, de demissão etc.,
memorandos, ofícios, circulares, anúncios: publicitários, de emprego,
de venda etc., formulários, e-mails, chats, multas, posts, coments
de blogs, notas fiscais, listas de compra, bulas de remédio, receitas
médicas, exames médicos, recibos, contas domésticas, jornal impresso
e eletrônico, cheques, placas, outdoors, recados de geladeira, de Orkut,
de post-it etc.).

Você também observou que na linguagem existem vários níveis de


variação linguística e que a linguagem é variável em seus mais diversos
aspectos:

a. variação sociolinguística;
77
Unidade II

b. variação dialetal;
c. variação de registros e níveis de fala;
d. variação de gêneros textuais realizados na fala;
e. variação de estratégias organizacionais da interação verbal;
f. variação de estratégias comunicativas;
g. variação de estratégias e processos de compreensão na interação;
h. variação de situações sociocomunicativas;
i. variação de construções sintáticas;
j. variação de seleção lexical.

E viu também que a teoria da linguística textual elabora a definição de


um continuum tipológico entre os gêneros de fala e escrita pautados pelos
seus níveis maior ou menor de formalidade.

Sobre as características próprias da fala, é importante considerar:

• Devido à sua interacionalidade intrínseca, a fala é, a priori, “não


planejável”. Ela precisa ser apenas “localmente planejável”.
• Possui sua verbalização e seu planejamento concomitantes, pois
esses processos emergem no momento da interação – a fala é o seu
próprio rascunho.
• Apresenta descontinuidades frequentes no fluxo discursivo: abandono
de tópicos discursivos; retomadas de tópicos discursivos, inserções
abruptas de novos tópicos discursivos, truncamentos etc.
• Sintaxe característica/típica ligada, de certa forma, à sintaxe
geral da língua. Um exemplo é a topicalização: “Esse menino, eu
não sei se tomou banho hoje”; “A violência, falta de segurança,
eu não me acostumo com esse ritmo de grandes metrópoles no
Brasil”.
• Fala é processo, portanto, é dinâmica: não é um produto pronto e
acabado, pois está continuamente se refazendo, indo e voltando
nos tópicos de interesse dos interlocutores, definindo-se em
razão das necessidades, escolhas e pressões comunicativas da
interação.

Refletiu ainda mais formalizadamente sobre as particularidades e


característica que distinguem a fala da escrita e os funcionamentos de
uma que interferem na outra.
78
Teorias do Texto

Dando continuidade à discussão acerca do binômio oralidade x


escrita, você acompanhou a discussão sobre as perspectivas científicas
em torno da relação oralidade e escrita apresentadas por Marcuschi (op.
cit.).

1. Fala x escrita – a perspectiva das dicotomias.


2. Oralidade x letramento ou fala x escrita?
3. Oralidade e escrita no contexto das práticas sociais.
4. Oralidade x escrita: a tendência fenomenológica de caráter
culturalista.
5. Fala x escrita – perspectiva variacionista.
6. Oralidade x escrita – a perspectiva interacional.
7. Concepção e funcionamento da língua – consequente relação fala/
escrita.

Para fixar melhor os conceitos, você acompanhou uma análise das


principais categorias a partir da música Saudosa maloca, de Adoniran
Barbosa.

E, por fim, você acompanhou a apresentação das principais


características e categorias da análise da conversação: tratamento
dos dados orais; recursos não verbais da conversação; a organização
da conversa; os marcadores conversacionais; as estratégias de
negociação, construção, demonstração e diversidade de expectativas
na conversação.

Exercícios

QUESTÃO 1. Leia a letra da música a seguir e analise as afirmações subsequentes.

As mariposa

As mariposa quando chega o frio


Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansá

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
79
Unidade II

Que fica dando vorta em vorta de mim


Todas noite só pra me beijá

Tá muitu bom...
Mas num vai si acostumá, viu
dona mariposinha?

(BARBOSA, 1974).

I. Adoniran usa o nível de linguagem popular, que, além de caracterizar o personagem da música,
cria efeito de humor.
II. Se a letra da música fosse alterada de acordo com as regras da norma culta, o efeito de sentido
permaneceria o mesmo.
III. O compositor comete erros gramaticais com o intuito de desvalorizar a cultura popular, deixando
evidente que a população brasileira não tem bom nível de escolaridade.

Está correto o que se afirma somente em:

A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas:

I. Afirmativa correta.

Justificativa: o nível de linguagem popular explorado por Adoniran Barbosa em suas músicas é
essencial para a produção de efeito de humor e também para caracterizar os personagens.

II. Afirmativa incorreta.

Justificativa: se alterássemos a letra para o nível formal, toda a graça da obra se perderia.

III. Afirmativa incorreta.

Justificativa: as letras de Adoniran não têm como objetivo a desvalorização da linguagem popular.
Ele apenas reproduz em suas composições o modo de falar de um determinado grupo.
80
Teorias do Texto

QUESTÃO 2. (Provão 1999) Considere o texto abaixo.

A praia de frente pra casa da vó

Eu queria surfar. Então vamo nessa: a praia ideal que eu idealizo no caso particularizado de minha
pessoa, em primeiramente, seria de frente para a casa da vó, com vista para o meu quarto. Ia ter uma
plantaçãozinha de água de coco e, invés de chão ser de areia, eu botava uns gramadão presidente. Assim
eu, o Zé e os cara não fica grudando quando vai dar os rolê de Corcel ! Na minha praia dos meus sonhos,
ia rolar vááárias vós e uma pá de tia Anastácia fazendo umas merenda nervosa! Uns sorvetão sarado! Uns
mingauzão federal! Umas vitaminas servida! X-tudo! XCalabresa Cebola Frita! Xister Mc Tony’s e gemada
à vontade pros brother e pras neneca! Tudo de grátis! As mina, exclusive, ia idrolatar surfistas chamados
Peterson Ronaldo Foca (conhecidentemente como no caso da figura particularizada da minha pessoa,
por exemplo). Pra ganhar as deusa, o xaveco campeão seria... o meu: “E aís, Nina (feminina)? Qual teu
C.E.P.? Tua tia já teve catapora? E teu tio? E tua avó? Uhu!! Já ganhei!!” E se ela falasse: “Vai procurar a
tua turma!” , minha turma estaria bem do meu lado, pra eu não ficar procurando muito!

Exclusive, eu queria surfar, mas na praia ideal dos meus sonho (aquela que eu desacreditei, rachei
o bico e falei “nooossa!” ) Não haveriam tubarães. (Haveriam porque é vários tubarães!). A “Eu, o Zé e
os Cara, Paneleiros and Friends Association” ia encarregar o colocamento de placas aleatórias com os
dizeres: “Sai fora, tubarão! Cê num sabe quem cê é!” . E os bicho ia dar área rapidinho! Cê acha, jovem?!
Nóis num quer ficar que nem um colega meu, O Cachorrão, da Associação dos Surfistas de Pernambuco,
umas entidade sem pé nem cabeça! Então vamo nessa: na praia dos sonhos que eu falei “É o sooonho!”,
teria menos água salgada! (Menas porque água é feminina!) Eu ia conseguir ficar em pé na minha
triquilha tigrada, sair do back side, subir no lip, trabalhar a espuma, iiihaa!! Meus pés ia grudar na
parafina e eu ia ficar só lá: dropando os tubo e fazendo pose pras tiete, dando umas piscada de rabo de
olho e rasgando umas onda de 30 metros (tudo bem, vai! Um metro e meio...). Mesmo sem abrir a boca,
eu ia ser o centro das atençães e os repórter ia me focalizar com neon, luz estetoscópica robotizada e
uns show de raio lazer!! De 18 concorrentes, eu ia sagrar décimo sétimo, porque um esqueceu a prancha.
(Tamém, o cara marcou!) E as mina só lá: “Uhu!! Foca é animal!! Focaliza o Foca!! O cara é o própio galã
de Óliud!”

Exclusivamente, eu queria surfar, daí os carinha da República me pediram pra falar na revista, a vó
tirou um pelo de mim: “Cê nunca vai falar na revista, Peterson Ronaldo!” Daí eu falei: “Artigo?? Eu? É
comigo? Tá limpo!” . Eu já apareço no rádio! Por que eu não posso falar na revista?! Então vamo nessa
de novo: eu queria pensar, mas eu nem tô ligado nesses lance de utopia...Dormir na pia... Supermetropia!
Esses lance aí quem pensa é o Zé! Eu queria escrever! Em súmula: eu parei de pensar, agora eu só surfo!
Consequentemente, Peterson Foca.

Peterson Foca, personagem cult de “Sobrinhos do Ataíde”, programa que revolucionou o humorismo
do rádio brasileiro. O programa “Sobrinhos do Ataíde”, criação de Felipe Xavier, Marco Bianchi e Paulo
Bonfá, é veiculado pela rádio 89,1 FM de São Paulo, e em outras cidades do Brasil.

República, ano 1, nº 2.

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Unidade II

Com relação às formas vááárias, nooosa e sooonho, observa-se que:

I. Os autores do texto procuram suprir a falta de símbolos específicos, na escrita, para representar
fenômenos prosódicos como contornos entoacionais ascendentes acoplados ao alongamento
vocálico.
II. A repetição de vogais constitui uma tentativa, por parte dos autores, de representar, na escrita,
diferenças de pronúncia relativas à qualidade das vogais tônicas dessas palavras.
III. O uso de tais formas produz um efeito de intensificação semelhante ao obtido com o uso de
advérbios.

É correto o que se afirma apenas em:

A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.

Resolução desta questão na Plataforma.

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