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Introdução

Os valores englobam as ideias que definem o que é bom ou mau, certo ou errado
de acordo com a sociedade em que estamos inseridos. Estes são comuns a um
determinado grupo ou sociedade, consubstanciando-se em normas, isto é, num
conjunto de regras de conduta. Tanto os valores como as normas não possuem um
caráter universal e variam no tempo e no espaço. É através do processo de socialização
que as normas são interiorizadas e aceites pelos indivíduos, na medida em que o seu
incumprimento pode originar uma reprovação social. São os valores que estabelecem
as normas de comportamento a seguir pelos indivíduos, garantindo a convivência e a
ordem na vida social, evitando, desta forma, conflitos. Estas sociedades em que se
verifica o estabelecimento de normas e procedimentos comuns, são sociedades
institucionalizadas englobando um conjunto de instituições sociais que se baseiam na
cultura dessa sociedade e apresentam uma certa permanência ao longo do tempo. Estas
instituições asseguram, como tal, a reprodução social, no entanto, também estão
sujeitas a alterações sociais, ocorrendo uma mudança social.





















4.1 Valores, normas e comportamentos sociais
O quotidiano dos indivíduos é moldado por normas baseadas em valores éticos,
morais, religiosos, económicos, políticos e técnicos, entre outros, aceites pela sociedade
onde estão inseridos. Estes valores representam os ideais de um grupo, legitimando as
regras e orientando os comportamentos sociais, determinando o que é certo ou errado,
permitido ou proibido.
Os valores são fundamentais para definir as normas de comportamento que
orientam a convivência e a vida em sociedade. Sem eles, os conflitos entre os indivíduos
e grupos com comportamentos diferentes seriam frequentes, tornando desta forma, a
vida social muito mais ou complexa.
A vida em grupo exige, assim, a elaboração de normas que são externas ao
indivíduo, isto é, independentes da sua vontade, mas que lhe são impostas, indicando-
lhe a forma de como deve agir para ser reconhecido como membro do grupo.
Para manter a harmonia na vida social e garantir a continuidade do grupo, é
essencial que cada indivíduo reconheça que as suas ações individuais devem estar em
conformidade com as normas estabelecidas pela sociedade.
Podemos, deste modo, concluir que as normas, resultado dos valores aceites pela
coletividade, corporizam modelos que cada membro deve seguir, expressando
comportamentos padronizados.
A participação em cerimónias religiosas é o comportamento padrão para expressar a
espiritualidade e fé em diversas culturas.


















4.2 Papel da socialização nos processos de inclusão
social e exclusão social
Conforme discutido anteriormente, as normas traduzem os valores aceites pela
coletividade e fornecem modelos comportamentais que cada um dos seus membros
deve seguir.
Esses modelos ou padrões de comportamento que o indivíduo assume para se
identificar com os traços culturais do grupo ao qual pertence, são aprendidos e
incorporados por meio do processo de socialização. A socialização desempenha um
papel fundamental na inclusão social de cada indivíduo no coletivo de que faz parte,
promovendo simultaneamente a colaboração e a solidariedade entre os membros. Este
apoio mútuo é essencial para a sobrevivência do grupo e para a coesão social em geral,
assegurando que cada indivíduo seja plenamente integrado e não sujeito a qualquer tipo
de discriminação.
As regras sociais são respeitadas e cumpridas pois refletem os valores do grupo.
Estes valores partilhados dão origem a sentimentos de solidariedade e unidade entre as
pessoas, promovendo assim a coesão social.
Todavia, nem todos os membros agem de acordo com os padrões comportamentais
estabelecidos pelo grupo. A multiplicidade e diversidade de comportamentos que se
desviam das normas é um exemplo disso. Quando o afastamento ocorre numa
comunidade onde o cumprimento das normas sociais é valorizado, os indivíduos que as
desafiam podem ser sujeitos a penalizações e exclusão social, sendo vistos como
diferentes e fora do padrão estabelecido. Esta situação pode ser exemplificada por um
grupo de amigos que pratica um determinado desporto. Se eventualmente um dos
integrantes desrespeitar as regras e agir de forma agressiva para com os seus colegas de
equipa, o mesmo poderá estar sujeito a ser excluído/expulso desse grupo.















4.3 Ordem social, desvio social e controlo social
Ordem social
O ser humano vive e realiza-se em conjunto e, portanto, é um ser social. Para que
essa vida em coletividade seja possível, é necessária a aceitação por parte dos indivíduos
das normas regentes na sociedade e a adoção de comportamentos que se adequem a
essas diretrizes, de forma que as suas ações sejam as mais corretas para cada situação.
A adaptação dos sujeitos ao meio social realiza-se através da partilha de valores,
regras e modelos de conduta, o que permite que se sintam como parte da sociedade,
assegurando a ordem social. Desta formam a integração resultante faz deles seres
plenos de direitos e deveres, que têm consciência do que a sociedade espera deles e do
que podem esperar da sociedade. Por exemplo, é comum a maioria dos cidadãos
trabalhar e receber o salário, pagar os impostos e usufruir do sistema de saúde e cumprir
as regras de código de estrada.
Portanto, a ordem social resume se ao facto de a vida quotidiana ser pautada pela
existência e pelo cumprimento das normas sociais
Vale referir que o fundamento da ordem social vai além da sujeição ao Estado ou da
conciliação de interesses individuais. De facto, como já referido, a ordem social baseia
se na partilha de normas e valores adquiridos através da socialização. Estes princípios
são o alicerce para uma vida em comunidade tranquila, facilitando o entendimento
entre os indivíduos e fortificar as relações sociais.

Conformidade com o social


De forma a evitarem comportamentos de rejeição por parte do grupo, os indivíduos
tendem a adotar determinados comportamentos e atitudes que se adequam aos
padrões aceites pela comunidade. Assim, o sentimento de pertença e identidade
origina uma uniformização das condutas sociais, onde os indivíduos aceitam os valores,
as normas e os comportamentos da coletividade. Este fenómeno espelha a
conformidade social, onde a procura por aceitação e reflexão influencia admissão de
comportamentos estabelecidos pelo grupo.
No entanto, esta uniformização e adoção de comportamentos e valores sociais,
demandam em qualquer sociedade, uma margem de liberdade da parte do individuo.
Este pode escolher adotar rigorosamente os modelos preestabelecidos ou praticar
autonomia na definição dos seus comportamentos
Todavia, e necessário reconhecer que a liberdade de escolha está diretamente
conectada ao contexto social em que o individuo está inserido. Em comunidades mais
tradicionais, observa-se uma maior pressão para a conformidade com as normas,
exigindo-se ao individuo uma adesão mais estrita. Pelo contrário, nas sociedades mais
urbanizadas, existe uma maior tolerância perante os desvios ou desobediências, aliando
à exigência de conformidade um maior ou menor grau e autonomia. Por exemplo, na
Himba, uma sociedade tradicional, a gastronomia baseia-se essencialmente em
alimentos locais tradicionais, como leite, carne e produtos agrícolas, produtos
profundamente enraizados nas práticas culturais e rituais específicos. Aqui, a
conformidade com as práticas alimentares é bastante elevada, ocorrendo uma forte
pressão para com os indivíduos e pouca margem para variações pessoais de consumo.
Em sentido inverso, a comunidade de Nova York, que se trata de um meio urbano, existe
uma grande diversidade de hábitos alimentares, conjugando numa sociedade várias
gastronomias e opções de alimentos. Neste cenário, os indivíduos têm a liberdade e a
autonomia de realizar escolhas consoantes os seus gostos e preferências.

Desvio Social
A liberdade que o sujeito tem na escolha dos seus comportamentos pode, em
alguns casos, originar em desvios sociais. Muitas vezes, as normas estabelecidas pelas
sociedades não são aceites de forma pacífica, o que pode resultar em atitudes
desviantes.
Na maioria das vezes, os comportamentos desviantes surgem como resposta às normas
impostas pela sociedade. Assim, é possível afirmar que são as próprias comunidades que
definem o que é considerado desvio social. Indivíduos que apresentam este tipo de
atitudes poderão ser percecionados como diferentes aos olhos da coletividade,
podendo ser excluídos da vida em grupo. Um exemplo que ilustra esta situação é a
conceção do vestuário em diferentes comunidades.
Numa sociedade conservadora, indumentárias consideradas mais reveladoras,
podem ser consideradas desviantes. Em contraste, em sociedades liberais, não existe
qualquer constrangimento, sendo estas perfeitamente aceitáveis. Isto demonstra que
os comportamentos desviantes são, em certa parte, relativos à sociedade em que os
indivíduos se inserem e às normas por ela estabelecidas.
Em termos sociológicos, desvio social não se refere apenas à não conformidade
com o social, mas também à contestação em relação aos modelos socialmente aceites
e aos valores fundamentais do grupo. Esta contestação não deriva da inadaptação do
individuo, antes de uma expressão de não aceitação. Desta forma, o comportamento
desviante trata-se de uma confrontação dos indivíduos em relação ao modelo cultural
predominante.
Dentro dos vários comportamentos desviantes, podemos distinguir dois tipos:
aqueles que são punidos por lei e aqueles em que apenas existe uma sanção social.
Desvios sociais punidos por lei ocorrem quando um sujeito viola uma lei ou regra
estabelecidos pela sociedade. Por exemplo, crimes por assassinato, consumo de drogas
e roubo e tudo aquilo que é abrangido pela lei. As sanções aplicadas nesses casos
geralmente envolvem multas ou prisão. Já os comportamentos desviantes que apenas
estão sujeitos a punições sociais referem-se a atitudes e considerados inadequados e
inaceitáveis aos olhos da sociedade. Exemplos deste tipo são a falta de etiqueta social e
afastamento das normas religiosas e culturais. Embora não representem um crime que
exija uma punição legal, estes comportamentos podem levar à exclusão social e
discriminação.
É importante salientar que, em relação aos comportamentos punidos por lei, a
sanção apenas acontece quando o comportamento em questão é alvo de denuncia ou
acusação. Desta forma, nem todos os crimes que acontecem nas sociedades são
punidos. Os policias, por exemplo, não multam todos os condutores que cometam
infrações e o estado não consegue fiscalizar a todos dos cidadãos que, de uma forma ou
de outra, não cumprem as suas obrigações.
Controlo social
Como referido anteriormente, para que a vida em conjunto seja possível, é
essencial que a vida quotidiana seja regida por um conjunto de normas e regras que, por
sua vez, devem ser aceites pelos integrantes da sociedade. Esta aceitação cria a base
para a estabilidade e a formação de uma ordem social. De forma a evitar
comportamentos que possam desafiar as regras estabelecidas e que coloquem em risco
a ordem social, a sociedade implementa uma série de mecanismos que exercem um
controlo social sobre os indivíduos. Desta maneira, os sujeitos são desencorajados a
adotar atitudes contrárias ao modo de vida e de conduta da sociedade.
Dentro desses mecanismos, destacam se três principais: A socialização, a pressão
social e as sanções.
• Controlo social através da socialização
Através da socialização, os indivíduos interiorizam valores, normas, atitudes e
comportamentos da sociedade em que se encontram inseridos. Este processo ocorre
principalmente através da interação social, e exerce um papel indispensável na
manutenção da ordem social e na coesão do grupo.
A socialização desde muito cedo se faz presente na vida de cada cidadão. Embora à
nascença ninguém seja já um ser cultural, à medida que se contacta com o ambiente
grupal exterior vão imitando e repetindo atitudes e comportamentos que descobrem
nos outros, inicialmente na família e mais tarde na escola ou com outros agentes sociais.
Este processo é essencial para que os indivíduos se encaixem no que é socialmente
aceite, agilizando a sua integração no meio social e prevenindo comportamentos
desviantes.
Para além disso, este processo fortalece os laços sociais e contribui para evitar
conflitos e divergências generalizadas nos padrões de comportamento. Tal é possível
pois é responsável por fazer com que os membros da sociedade compartilhem valores
e ideias comuns, criando uma consciência coletiva fortificada.
Portanto, a socialização consiste num processo bastante complexo e indispensável
aos indivíduos e comunidades. Para além de servir como instrumento de coesão social,
também exerce o papel de instrumento de controlo social, ao influenciar e manipular a
perceção das pessoas e a maneira como pensam e agem em conformidade com os
padrões vigentes no meio social, sendo indispensável para manter a ordem social e para
evitar atitudes que possam não corresponder com o que a sociedade espera.
• Controlo social por pressão social
Assim, como referido no parâmetro da conformidade social, os indivíduos tendem
a adotar comportamentos e atitudes que vão ao encontro daquilo que é padronizado
na sociedade, sob pena de não serem aceites nos grupos que desejam pertencer e para
evitar situações de rejeição. Assim, uma pessoa que deseja inserir-se numa
comunidade, passará a aderir as maneiras que a caracterizam.
O controlo social por pressão social diz respeito à interferência que a sociedade
efetua sobre os sujeitos para conformarem-se às normas, valores e expectativas
predominantes.
No mundo dos jovens, a pressão social está profundamente intrínseca e
desempenha uma função primordial nesta fase da adolescência. Um adolescente que
decida não abraçar hábitos alcoólicos ou tabágicos, ou simplesmente não desejam
experimentar, sofrem muitas vezes uma coação por partes dos amigos para se juntarem
a eles nas festas.
De forma a não ser excluído ou rejeitado, o indivíduo tende a ceder á pressão, acabando
por ir de encontro aos seus próprios princípios. No caso de não cumprir aquilo que é
pedido pelo grupo, poderá ser ridicularizado e gozado, ou de forma mais profunda, ser
ostracizado, isto é, excluído do grupo.

• Controlo social por pressão social


Assim como referido no parâmetro da conformidade social, os indivíduos tendem a
adotar comportamentos e atitudes que vão ao encontro daquilo que é padronizado na
sociedade, sob pena de não serem aceites nos grupos que desejam pertencer e para
evitar situações de rejeição. Assim, uma pessoa que deseja inserir-se numa
comunidade, passará a aderir as maneiras que a caracterizam.
O controlo social por pressão social diz respeito à interferência que a sociedade efetua
sobre os sujeitos para conformarem-se às normas, valores e expectativas
predominantes.
No mundo dos jovens, a pressão social está profundamente intrínseca e desempenha
uma função primordial nesta fase da adolescência. Um adolescente que decida não
abraçar hábitos alcoólicos ou tabágicos, ou simplesmente não desejam experimentar,
sofrem muitas vezes uma coação por partes dos amigos pra se juntarem a eles nas
festas. De forma a não ser excluído ou rejeitado, o indivíduo tende a ceder á pressão,
acabando por ir de encontro aos seus próprios princípios. No caso de não cumprir aquilo
que é pedido pelo grupo, poderá ser ridicularizado e gozado, ou de forma mais profunda,
ser ostracizado, isto é, excluído do grupo.


• Controlo social através de sanções
De forma a moldar o comportamento do indivíduo, a sociedade apresenta uma
série de penalidades e recompensas, que visam encorajar comportamentos desejados e
desencorajar os indesejados. Assim, alguém que contribui de forma negativa para a
ordem social, através, por exemplo, de um crime de roubo, poderá enfrentar punições,
enquanto que boas ações e atitudes positivas podem ser incentivados através de
recompensas, como prémios ou aumentos salários no ambiente de trabalho. Desta
forma, o controlo social através de sanções tem como objetivo manter a ordem social e
incentivar a contribuição positiva para o bem-estar coletivo.
Dentro da vasta ganha de sanções, podemos distingui las mediante a sua finalidade
e quanto à forma como estão organizadas.
→ Quanto à finalidade:
Como referido anteriormente, as sanções podem ser positivas ou negativas,
consoante os tipos de comportamento.
As sanções positivas são aplicadas como forma de recompensa para aqueles que
aceitam as normas e valores da sociedade, adotando atitudes regidas por esses aspetos.
Por exemplo, os certificados e prémios são atribuídos para reconhecer publicamente as
realizações e contribuições de alguém. Por outro lado, as sanções negativas têm como
finalidade reprimir os indivíduos cujos comportamentos não se adequam aquilo que é
aceite e que vão de encontro às normas e valores do meio social. São exemplos destas
sanções as advertências e repreensões, que representam avisos mediante o não
cumprimento ou violação de regras.
→ Quanto à forma como são organizadas:
Dentro da forma como são organizadas, distinguem se dois tipos: as sanções
formais e as sanções informais.
Relativamente às formas, estas dizem respeito àquelas que são aplicadas por
determinados agentes e instituições. As penas judiciais aplicadas pelos tribunais ou as
sanções disciplinares exercidas pelas entidades empregadoras são representativas
destas sanções.
Já as sanções informais, são aquelas caracterizadas por serem mais espontâneas e
menos severas, mas que mesmo assim influenciam muito os modelos comportamentais.
As sanções utilizadas pelos pais na educação dos filhos, como o corte na mesada ou a
atribuição de um presente perante boas notas escolares, constituem exemplos de
punições informais.

























4.4 Instituições e ação social
Instituições Sociais
As sociedades onde estão estabelecidas normas socialmente aceites e nas quais
existe desenvolvimento de processos comuns, essenciais à satisfação de necessidades
básicas, são sociedades institucionalizadas, isto é, sociedades onde os grupos e os
indivíduos desenvolvem a sua atividade e prosseguem os seus fins segundo as normas e
costumes vigentes. Assim, as instituições sociais são o conjunto de procedimentos
instituídos pela sociedade, baseados na cultura da sociedade e que apresentam uma
certa permanência no tempo, pelo que são organizações da sociedade que existem para
que haja a organização e a coesão social, ou seja, para que se estabeleçam relações de
interdependência, cooperação e solidariedade entre os seus membros. São elas que
passam as regras e normas da sociedade para os indivíduos e os forma enquanto
cidadãos pertencentes a determinado grupo social.
Correspondem a um conjunto de práticas e relações sociais relativamente
estabilizados que englobam sistemas normativos e simbólicos próprios e que funcionam
de forma autónoma. Promovem o conformismo relativamente às regras instituídas, as
instituições podem ativar um conjunto de mecanismos- punições e recompensas.
As instituições sociais apresentam um conjunto de características próprias:
✓ uma finalidade: satisfação das necessidades sociais;
✓ uma certa duração de tempo, na medida em que os modelos de comportamento
que lhe estão associados perduram no tempo;
✓ uma estrutura e organização próprias.

Temos como exemplo, uma empresa que possui uma função, produção de bens e
serviços, uma estrutura (diretores, gestores, funcionários, etc.) e uma organização
própria.
Estas instituições correspondem a um conjunto de maneiras de agir comuns,
necessárias ao desenvolvimento da vida social, e impõem-se aos indivíduos sob a forma
de comportamentos padronizados, previsíveis e rotineiros.
Nas sociedades democráticas, os cidadãos têm a oportunidade de exercer o direito
de voto nas eleições que existem, dando a conhecer a sua vontade relativamente à
governação do país; os trabalhadores, através das greves, podem lutar pelos seus
direitos e interesses. Estes dois instrumentos (voto e greve) são formas instituídas pela
sociedade que permitem os eleitores exercerem a sua vontade e os trabalhadores
defenderem os seus direitos. Da mesma forma, as empresas são as formas instituídas
pela sociedade para produzir os bens e serviços necessários à satisfação das suas
necessidades e o namoro é a forma socialmente aceite de duas pessoas se conhecerem
melhor antes de constituírem família. Estas formas de atuação estabelecidas pela
sociedade, que apresentam uma certa permanência ao longo do tempo (permanecendo
enquanto são necessárias) e se baseiam na cultura dessa sociedade, constituem
instituições sociais.
Alguns exemplos de instituições sociais básicas nas sociedades modernas são a
família, o casamento, a escola, a religião, o governo ou os meios de comunicação, sendo
todas estas, formas de atuação estabelecidas pela sociedade.
A família, que corresponde ao grupo de pessoas ligadas por parentesco em que os
adultos têm o dever de cuidar das crianças, assenta num conjunto de valores comuns
(amor entre cônjuges, amor aos filhos, partilha de bens), num conjunto de
procedimentos comuns (namoro, casamento, cuidar dos filhos) e numa rede de papéis
sociais (noivos, cônjuges, pais…) que, no seu conjunto, formam o sistema de relações
sociais onde se insere a vida de família. Todas estas características como valores e
procedimentos comuns e uma rede de papéis sociais fazem com que a família seja
considerada uma instituição social, uma vez que correspondem a um conjunto de
comportamentos padronizados, previsíveis e rotineiros.
A escola constitui outro exemplo de instituição social, sendo a sua principal função
desenvolver as competências dos alunos, de modo a preparar os indivíduos para o
desempenho de papéis profissionais. Nas sociedades modernas desenvolvidas, dotadas
de um nível tecnológico elevado, esses papéis profissionais requerem uma instrução que
vai muito além das aptidões sociais de ler, escrever ou calcular, já que exigem uma
formação especializada e de nível superior, pelo que a educação básica não chega para
cumprir esses papéis. Outra das suas funções é transmitir a cultura da sociedade de
geração em geração, contribuindo para a preservação dessa cultura ao longo do tempo.
Assim, a escola por integrar um de maneiras de agir comuns, necessárias ao
desenvolvimento do indivíduo, é considerada uma instituição social.
Os meios de comunicação social, como a imprensa, o rádio, o cinema, a televisão ou
a internet, fornecem informação e proporcionam entretenimento, influenciando o
comportamento e as atitudes das suas vastas audiências, isto é, são agentes
modeladores de condutas sociais em virtude do seu papel de divulgador de maneiras de
pensar, sentir e agir da sociedade. Dado isso, os meios de comunicação são outros dos
exemplos de instituição social.
As instituições sociais, enquanto sistemas de relações sociais, possuem
determinados elementos que as caracterizam e as distinguem entre si.
Um deles são as necessidades sociais específicas, uma vez que é por existirem
necessidades na base das instituições sociais que estas se constituíram. Um dos
exemplos dessas necessidades, no caso das famílias, é a necessidade de procriação e, no
caso das escolas, a necessidade de formação e desenvolvimento de competências nas
crianças e jovens. Outro elemento que caracteriza as instituições sociais são os valores
sociais comuns, como os valores éticos, morais, religiosos, políticos e outros, que são
socialmente aceites e são partilhados com os membros que integram a sociedade,
indicando os comportamentos a seguir nos seios de cada instituição. Também os
procedimentos comuns caracterizam este tipo de instituições e distinguem-nas, pois,
cada instituição possui uma forma de dar resposta às suas necessidades específicas
através de determinados procedimentos. A escola, por exemplo, responde às
necessidades de formação dos jovens através de aulas, trabalhos práticos ou teóricos ou
através do esclarecimento de dúvidas. Assim, identificando as maneiras de solucionar as
necessidades de uma instituição, saberemos de que instituição se trata, visto que cada
uma adota um conjunto de procedimentos próprios na resposta às necessidades que as
distinguem. Por outro lado, temos o elemento a que correspondem às normas e sanções
sociais, uma vez que qualquer coletividade necessita de normas e sanções sociais para
funcionar corretamente, sem grandes desvios dos modelos concebidos, isto é, sem fugir
aos procedimentos, normas e comportamentos estabelecidos e adotados pela
sociedade. Ao conhecer as normas e as respetivas sanções, podemos identificar as
instituições, pois cada instituição tem um conjunto de normas e sanções próprias, e
integrar-nos nelas melhor, ou seja, seguindo as normas que as caracterizam e os
comportamentos socialmente aceites. A instituição escolar é identificada através de
normas como ser assíduo, realizar os trabalhos propostos pelo professor ou respeitar o
regulamento interno. Os papéis sociais fazem também parte de cada instituição, já que
cada uma tem papéis bem definidos, sem os quais não seria possível atingir os objetivos
para que a instituição foi criada. Por exemplo, na instituição escolar, os professores,
alunos, direção e funcionários têm os seus papéis bem definidos, pelo que cada um deles
deve desempenhá-los, de modo que a escola atinja os objetivos para que foi criada.
Desta forma, podemos identificar as instituições pelo conjunto de papéis que lhe são
próprios que as distinguem. Também as relações sociais são um exemplo de elementos
caracterizadores das instituições sociais, já que são a essência da própria instituição. Em
sociologia o que interessa são as relações que os indivíduos estabelecem e não os
indivíduos que estabelecem as relações. São as interações que permitem que se
alcancem os objetivos definidos pelas instituições. Por exemplo, a instituição escolar
consegue funcionar e alcançar os objetivos para que foi criada devido às interações
criadas entre os diferentes intervenientes no desempenho dos seus papéis sociais. Desta
forma, as instituições sociais são definidas como sistemas de relações sociais que
implicam normas de funcionamento. Por fim, os símbolos culturais são, também, outro
elemento institucional tendo por função lembrar aos membros das instituições os seus
papéis. Assim, a bandeira nacional exalta os sentimentos patrióticos, a aliança recorda o
casamento, a farda simboliza uma missão ou trabalho.
Assim, as instituições são conjuntos de valores, crenças, normas, posições e papéis
referentes a campos específicos de atividade e de necessidades humanas. As normas e
os valores compreendidos por cada instituição orientam e regulamentam a satisfação
das necessidades humanas, ou seja, as instituições estabelecem o modo socialmente
aceite de satisfazer determinadas necessidades e realizar certas atividades.
É possível encontrar exemplos destes elementos nas instituições sociais a nível das
sociedades ocidentais. A instituição família tem como valores principais o amor, a
solidariedade e o companheirismo. Apresenta procedimentos comuns, isto é, a que
todas obedecem, como a afeição, a lealdade e o respeito e é marcada por alguns
símbolos como a casa, o nome de família ou as fotos de família. Esta instituição é a
primeira com a qual o indivíduo tem contato. É uma instituição de socialização primária
que vai propiciar à criança as primeiras normas básicas de convívio social e de
socialização existentes. A criança aprende no convívio familiar as primeiras noções de
coesão social, como amor, fraternidade e amizade. Também é nessa instituição que os
indivíduos aprendem o valor da coesão social como forma de unir os membros de uma
sociedade e assim garantir a sobrevivência do corpo social. Já a escola apresenta valores
comuns entre todas, como o esforço, a igualdade de oportunidades e a democratização
da sociedade. Contém procedimentos comuns como estudar, ser responsável, o gosto
pelo conhecimento e frequentar as aulas. Além disso, possui certos símbolos próprios
como as salas de aula, a biblioteca, o ginásio, o lema escolar, as cores da escola, a farda,
o emblema, entre outros. Por outro lado, o governo tem como valores principais, a
democracia, os direitos humanos, o estado de direito a justiça e a segurança. Abarca um
conjunto de procedimentos comuns como a lealdade, a subordinação e a cooperação.
Por fim, engloba também um conjunto de símbolos como o parlamento, os ministérios,
o palácio presidencial/real, a bandeira, a moeda, o hino e as cores da nação. Outro
exemplo corresponde à igreja que apresenta valores como o amor a Deus, o amor ao
próximo, a caridade e a fraternidade. Contém símbolos como a cruz, os santos, os
cânticos religiosos e o tipo de vestuário e apresenta procedimentos comuns como o
culto, a reverência, a lealdade e a generosidade. Todos estes elementos são comuns às
instituições a que estão associados, e, neste caso, a nível das sociedades ocidentais.
Todos estes valores, procedimentos, interações e símbolos que estão presentes nas
instituições, levam o indivíduo a adotar comportamentos que estejam em conformidade
com os valores e modelos estabelecidos pela sociedade em que se insere, contribuindo,
deste modo, para a manutenção da ordem social. Exemplo disso são as normas de
trânsito, que são aceites pelos indivíduos, adotando comportamentos de acordo com
estas regras, de modo a garantir a ordem social.
Antes destas normas, valores socialmente aceites serem estabelecidos, existe uma
grande variedade de opiniões e vontades expressas pelos diferentes indivíduos e grupos,
muitas vezes entrando em conflito, uma vez que o estabelecimento de normas, por um
lado, exige um consenso social, e por outro, poderão entrar em conflito com valores e
normas já existentes, que terão de ser reformulados e/ou revogados e substituídos pelas
novas decisões.
Os consensos, as mudanças, o estabelecimento de novas normas e de novos
comportamentos que irão permanecer ao longo do tempo, impondo-se a todos os
“atores sociais”, ou seja, aos indivíduos no exercício dos seus papéis sociais, irão surgir
do debate e da reflexão em torno de novas ideias por parte dos indivíduos, grupos e
organizações.

Ação Social
A ação social é um conjunto de maneiras de agir instituídas, aceites pela
generalidade dos indivíduos, que têm por objetivo satisfazer determinadas
necessidades básicas da vida social. Neste sentido, a ação social irá reproduzir os valores,
os modelos de comportamento e a cultura, nos seus aspetos materiais e imateriais, que,
no seu conjunto, sustentam o funcionamento da sociedade, uma vez que estes
interagem dialeticamente, estando articulado e formando um conjunto com sentido que
dá origem à cultura. A ação social constitui, deste modo, um processo de reprodução
social que corresponde a um processo em que a sociedade replica a sua própria
estrutura, mantendo os seus valores, normas e comportamentos. Desta forma, através
da ação social, irá existir uma reprodução de valores, dos modelos e da cultura que irá
levar à reprodução social.
Por outro lado, a ação social, por compreender formas de resolver problemas do
quotidiano, vai-se adaptando, através de processos evolutivos ou mais radicais, às
alterações produzidas na sociedade na sociedade (económicas, políticas, demográficas,
etc.) dando origem a novas formas de pensar, de agir e de proceder. O aparecimento
destas novas formas de ação social constitui um processo de mudança social. Neste
sentido, a ação social implica uma adaptação às alterações sociais conduzindo a novas
formas de ação social o que leva à mudança social.





4.5. Reprodução e mudança social
Reprodução social
A reprodução social, que consiste no fenómeno sociológico de imobilidade social
intergeracional, ou seja, no processo por meio do qual a sociedade replica a sua própria
estrutura, mantendo a ordem social, através da aceitação de valores, normas e
processos sociais, é assegurada pelas instituições sociais; visto que, estas, por serem
estruturas relativamente permanentes que incluem comportamentos padronizados e
previsíveis, mediante a socialização, a reprovação social ou a aplicação de sanções,
contribuem para a aceitação e, consequente, manutenção da ordem social.
Neste sentido, uma vez que a coação física, apesar de constante na história das
sociedades por intervenção da polícia, do exército, da instituição judicial e das prisões,
não impossibilita totalmente o desvio às normas socialmente aceites, a sociedade
recorre a outros métodos mais eficazes para preservar a ordem social, conservando a
sua estrutura, os quais se integram na socialização. De facto, por meio deste processo
duradouro e dinâmico, as instituições sociais, tal como referido, como a família, a escola,
a igreja e os meios de comunicação social, contribuem para a reprodução social, pois
transmitem os valores e as normas sociais, o que impele os indivíduos a aceitar e exercer
os papéis sociais que lhe foram atribuídos, ou seja, leva-os a cumprir os comportamentos
que a sociedade espera deles consoante as suas funções e cargos que ocupam,
permitindo a sua integração na sociedade através dessa homogeneização da conduta,
sendo este, portanto, o processo mais eficaz para garantir a manutenção da ordem e da
estrutura da sociedade.
Como tal, é possível verificar o contributo fundamental das instituições para a
permanência da estrutura social, analisando as suas funções:
- Por um lado, a Instituição Família destaca-se, num plano sexual e reprodutivo, pela
regulamentação do comportamento sexual e pela procriação biológica, num plano
económico, pela segurança económica dos seus constituintes (que consomem, mas
também produzem), num plano social, pela socialização, sobretudo na primária (
infância e adolescência), transmitindo à criança as ideias, os valores e conceitos
fundamentais da sociedade, e ainda pelo proteção dos mais frágeis ( crianças, idosos,
doentes, …). Por conseguinte, os indivíduos aprendem a adaptar-se ao seu meio social,
o que propicia a reprodução social.
- Por outro, a Instituição Escola é fundamental não só para a preparação do indivíduo
para a vida ativa, já que ministra os conhecimentos e desenvolve as competências
necessárias à transformação dos jovens em seres “úteis” à sociedade, mas também para
os integrar na sociedade, por meio do processo de socialização, transmitindo e
construindo valores, normas, hábitos e atitudes e familiarizando os educandos com os
papéis sociais que irão desempenhar, bem como para incentivar a iniciativa e a
criatividade, contribuindo para a mudança. Realmente, a Escola, além de conteúdos
formais, através da imposição da disciplina e da hierarquia e regulamentação a ela
associada, veicula, por exemplo, a cooperação, o respeito e a aceitação da autoridade
dos professores, ensinando às crianças a aceitar e se conformarem com o seu papel e
lugar na sociedade, promovendo, assim, a aceitação da ordem social.
- Já a instituição Igreja leva os seus membros a aceitarem e basearem a sua existência
e objetivos nos valores e crenças que propaga e, simultaneamente, condena e aconselha
a mudança de comportamento de quem se desvia desses valores (como a honestidade,
a caridade, a fidelidade e o amor ao próximo). Como tal, conduz os indivíduos a
determinados comportamentos, colaborando para a conservação da estrutura social.
- De modo similar, a Instituição Meios de Comunicação Social veicula informações e
valores, oferece modelos de papéis e expõe estilos de vida, moldando as formas de agir,
sentir e pensar, ou seja, as opiniões e atitudes e, por isso, os modelos de conduta dos
indivíduos; assim, suporta também a preservação da ordem social.
Desta forma, é possível constatar que, efetivamente, as instituições sociais difundem os
valores dominantes de uma sociedade e do seu dado contexto ideológico-cultural,
concorrendo, portanto, para ensinar o papel social que cada indivíduo deve
desempenhar, de modo a se integrar, ser “útil”, permitindo a manutenção da estrutura
social.
Por consequência, podemos depreender que um eficiente processo de socialização
é vital à aceitação das normas, dos valores e, por conseguinte, dos modelos culturais
vigentes em um grupo, sendo, portanto, indispensável à reprodução social. Isto verifica-
se, dado que este processo, através das instituições sociais, permite a interiorização
gradual e espontânea desses códigos de conduta, de forma quase acrítica, isto é, sem
que os indivíduos os problematizem ou os discutam, sendo reconhecidos como membros
dessa comunidade, com os mesmos direitos e deveres que os restantes.
Ademais, este papel fundamental da socialização para a reprodução social,
associado à aprendizagem do modelo de funcionamento da sociedade, é ainda
complementado pelo seu estatuto enquanto controlo social, na medida em que impede
ou obstaculiza que as pessoas se afastem da norma, ou seja, que atuem
diferentemente ao esperado. Com efeito, conduzindo à adaptação do indivíduo aos
padrões de conduta socialmente aceites, este processo autorregula o seu
comportamento, mesmo que este não esteja consciente disso, afastando-o de
comportamentos desviantes, já que o leva a agir em conformidade com os quadros em
que foram socializados, de modo a não serem considerados marginais e a evitar os
estigmas sociais adjacentes a esta conotação.

Mudança social
Como percebido anteriormente, as instituições sociais promovem a reprodução social,
visto que apresentam padrões comportamentais relativamente permanentes de referência para
os membros da sociedade. Todavia, estes procedimentos instituídos pela sociedade estão
sujeitos também à mudança social, ou seja, ao conjunto das transformações que se sucedem
no sistema social e cultural de uma determinada sociedade, pois são afetados pelas alterações
sociais que uma sociedade ultrapassa, tendo de se adaptar, sejam elas de natureza económica,
religiosa, política, cultural ou outra.

De facto, cada sociedade identifica-se por um conjunto de valores, normas e


costumes que ajustam os comportamentos dos seus cidadãos e de realizações técnicas
e artísticas que estes criam, ou seja, caracteriza-se pela sua própria cultura, a qual,
apesar de ser aceite por todos, por ser reconhecida e institucionalizada, se altera ao
longo do tempo, até porque cada geração contribui para a sua transformação por meio
do encontro de novas normas e valores e da invenção de novas formas de
relacionamento ou de concretizações técnicas. Tal se observa quando percebemos que
não existem valores, regras ou costumes que se têm mantido inalterados; isto evidencia-
se quando analisamos a evolução das realidades familiar e laboral dos países ocidentais
nas últimas décadas. Na família, enquanto que no passado predominavam agregados
familiares compostos por um homem e uma mulher casados, com vários filhos, no
presente, há uma pluralidade e diversidade de formas de agregados familiares, sejam
eles formados como eram anteriormente, ou, por exemplo, por casais homossexuais ou
famílias monoparentais; além disso, existe menor probabilidade das pessoas se casarem,
sendo que, as que o fazem, efetuam-no numa idade mais avançada, sendo, contudo, o
índice de divórcios superior; por outro lado, já não há a ideia de que a mulher deve ser
“dona de casa”, tomando conta dos filhos, e o homem, o “chefe de família” que se foca
profissionalmente para auferir rendimento. No trabalho, em contraste com a dedicação
a um trabalho que se preservava a vida toda, atualmente, o indivíduo tem de se adaptar
constantemente ao mercado de trabalho e às suas inovações, o que implica mudança de
emprego várias vezes ao longo da sua carreira e a aquisição de novos conhecimentos e
aptidões, aplicando-os a diversos contextos do trabalho; este de cada vez mais é
efetuado à distância através de tecnologias de informação, assumindo maior
flexibilidade, em oposição aos horários fixo estipulados no outrora.
Como tal, o sistema social e cultural não é fechado, não se permanecendo imóbil,
antes se vai transformando em cada lugar e ao longo do tempo, visto que a cultura,
sendo um fenómeno participado que concretiza as formas de expressão e realização de
um grupo, não é a somente adquirida por herança por estes indivíduos, mas os mesmos
também a influenciam e a modelam ao idealizar novos valores, criar novas normas e
construir novas ideias de inventos tecnológicos, realizações artísticas e novos hábitos.
Isto significa que os modelos sociais e culturais vão se alterando, dado que cada geração
herda essa cultura, mas também lhe acrescenta, produzindo cultura.
Neste sentido, esses novos valores, novas normas, novas formas de relacionamento
e novas tecnologias realizam uma mudança social, já que concretizam uma
transformação da estrutura ou do funcionamento da organização social.

• Características da mudança social
Considerado o referido e consoante a visão de Guy Rocher, na sua obra “Sociologia
geral”, podemos definir determinadas características da mudança social,
nomeadamente:
- É um fenómeno coletivo, o que significa que afeta ou implica a alteração do modo
e das condições de vida de um conjunto substancial de indivíduos; o mesmo traduz que
a mudança dos valores de um único indivíduo ou somente de um grupo reduzido de
pessoas, não corresponde a uma mudança social; exemplificando, se apenas uma família
abandonar uma visão xenofóbica ou adotar uma nova doutrina religiosa, não há
mudança social, dado a microescala dessa alteração.
- Corresponde a uma mudança estrutural (da estrutura), não a uma adaptação
funcional das estruturas existentes, pelo que possibilita a observação de alterações
profundas na forma de organização social e a sua comparação com as prévias
organizações. Tal se comprova, visto que só no sentido da diferença estrutural e não de
adaptação é que se pode comparar, por exemplo, o regime capitalista com o regime
feudal, ou o regime democrático português atual com o regime do Estado novo, bem
como a sociedade portuguesa pré e após a abolição da escravatura ou a integração da
mulher no mercado de trabalho;
- Identifica-se no tempo, permitindo detetar ou descrever as alterações estruturais
com base num ponto de referência. Por conseguinte, surge como a diferença observável
entre dois estados da realidade social. Exemplos evidentes da inscrição da mudança
social num tempo, são o antes e o depois de revoluções como a dos cravos (25 de abril),
a revolução Russa (1917) e a Revolução Francesa (1789) e da Queda do Muro de Berlim
e do colapso da União Soviética em 1989, ou por exemplo, da integração económica,
como a adesão de Portugal à União Europeia/CEE (1986);
- Não é efémera, ou seja, é duradoura, dado que um evento passageiro, mesmo
provocando grande pressão e desorganização social, não geral mudança social, pois os
seus impactes desvanecem progressivamente com a adaptação funcional ao sistema
cultural existente, ou seja, não há uma mudança, mas somente uma adaptação
funcional estrutural temporária. Tal se comprova quando analisamos a mudança social
associada à interculturalidade ou à globalização, que não provocaram alterações
passageiras, mas sim, modificações duradouras nas formas de interação e nos modos de
vida de múltiplos grupos.
Concluindo, a mudança social caracteriza-se por qualquer tipo de modificação nas
instituições sociais básicas, permitindo medir, através da comparação, essas alterações
e perceber, portanto, o que permanece constante. Consequentemente, o estudo deste
processo foi denominado de o estudo da dinâmica (mudança) e da estática
(estabilidade) pelo sociólogo do século XIX Auguste Comte e a mudança social pode ser
definida como “toda a transformação observável no tempo, que afeta, duma maneira
que não seja provisória ou efémera, a estrutura ou funcionamento da organização social
de uma dada coletividade e modifica o curso da sua história" (Rocher).

• Resistência à mudança
Não obstante, o aparecimento de novas formas de agir, sentir e pensar associados
à mudança social, não se sucede sem, durante um certo tempo, movimentos de
resistência. Esta resistência à mudança funda-se em fatores como a defesa da tradição
e dos valores e os custos sociais.
Por seu lado, a cultura que orienta a vida de uma comunidade é preservada pelo
conservadorismo, que exerce uma forte oposição à alteração das normas, valores e
costumes promovidos pelas inovações, sobretudo quando estas colidem com os padrões
culturais existentes. De facto, uma inovação que embata com a cultura e a tradição de
uma comunidade dificilmente é aceite pela mesma; tal explica a demorada
universalização dos direitos das mulheres, que vai de encontro com os valores machistas
de várias comunidades que vêm a figura feminina como inferior. Opostamente,
mudanças compatíveis com a cultura de uma sociedade ou até complementares à
mesma são facilmente aceites; a título de exemplo, surge a aceitação do mundo digital,
das redes sociais e da sua influência, que não implicou a renúncia de traços culturais nem
o desenvolvimento de padrões comportamentais que colidam com os previamente
estabelecidos.
Além disso, estas inovações podem abarcar dificuldades e desvantagens para as
sociedades (custos sociais), o que enfatiza a resistência das mesmas à mudança; isto
verificou-se, por exemplo, com a mecanização, a automação e a informação, que, por
colocarem em risco a segurança e a estabilidade de múltiplos emprego da classe
operária, não formam imediatamente bem recebidos, levando trabalhadores ingleses,
no século XIX, a destruir as máquinas que os iriam substituir; outro exemplo, é a
demorada aceitação e mudança para as energias renováveis e a continuidade do
investimento nas fontes tradicionais de energia, apesar dos seus efeitos nocivos para o
ambiente, devido aos custos técnicos relativos às energias renováveis que exigem
dispendiosos encargos. Neste sentido, também a demonstrabilidade das inovações afeta
a sua aceitação, já que se a sociedade conseguir perceber a utilidade e as vantagens das
mesmas aceitá-las-á mais prontamente, exemplificando, uma invenção técnica
revolucionante ao nível da saúde, como a criação da penicilina, que através de testes
experimentais em laboratórios se demonstrou extremamente vantajosa, foi facilmente
aceite; em oposição, uma inovação como o capitalismo, que, como não pode ser
facilmente experimentado em laboratórios, exige que a sociedade o adote para conhecer
o seu funcionamento e os seus impactes, encontrará maior resistências, em função,
exatamente, desse desconhecimento dos seus atributos.
Desta forma, a mudança é mais facilmente aceite se as suas vantagens e a sua
utilidade forem facilmente comprovadas, ou seja, se forem claras e evidentes, visto que
se hesita face ao desconhecido, o que explica a oposição à adoção de novos modelos
políticos, económicos ou sociais.

Agentes de mudança
• Elites
A aceitação e a velocidade da mudança são também influenciadas pela ação de
determinados indivíduos e grupos. Por vezes, a mudança é mais facilmente aceite com
base nas pessoas que a apoiam ou promovem, mesmo que não tenham autoridade
institucional. De facto, o estatuto de uma figura de destaque confere aos indivíduos uma
influência significativa, tornando-os capazes de persuadir os outros a aceitar as suas
ideias ou propostas. Assim, podemos observar que certos indivíduos, devido à sua
influência na vida social, têm a capacidade de superar resistências à mudança,
influenciando os comportamentos de outros e, dessa forma, forjar a sua história - as
elites. Existem diversas elites que atuam em diferentes áreas sociais, entre as quais as
elites económicas, onde estão inseridos os CEOs de grandes empresas, tais como Elon
Musk e Jeff Bezos, as elites políticas que incluem líderes governamentais, tal como
Barack Obama.
Em todas as épocas e sociedades, surgem elites que, com o tempo, tendem a ser
substituídas por outras quando ocorrem mudanças. Uma vez que as alterações
propostas pela mudança são estabelecidas, as antigas elites, que se tornam pouco
representativas da nova realidade, são substituídas pelas novas elites. Desta forma, as
elites desempenham um papel dinâmico nas transformações sociais resultantes dos
processos de mudança.

• Movimentos sociais
Os movimentos sociais, entendidos como agrupamentos de pessoas que pretendem
alcançar determinados objetivos através da ação coletiva, funcionam como
«organizações» com alguma estruturação. Estes movimentos visam atingir, defender e
promover determinados objetivos. Ao agirem como grupos de pressão perante os órgãos
de poder, mobilizam grandes massas populacionais, possuem uma força reivindicativa e
promovem ações coletivas, desempenhando assim um papel significativo enquanto
agentes de mudança social. Um exemplo representativo é o movimento dos Direitos Civis
nos EUA, liderado por Martin Luther King Jr., que tinha como principais objetivos acabar
com o preconceito racial e promover a equidade social. Este movimento reuniu uma
quantidade (considerável) de pessoas (entre 200 a 300 mil) em inúmeros protestos,
manifestações e marchas, pressionando as autoridades a adotar novas leis/normas que
assegurassem a igualdade dos direitos humanos, independentemente (sem ter em
consideração) da origem étnica.

Reprodução social VS Mudança social


O contraste entre a reprodução social e a mudança social evidencia-se quando
comparamos as sociedades tradicionais com as sociedades modernas.
Por um lado, nas sociedades tradicionais, caracterizadas pela falta de abertura e de
dinamismo, os modelos culturais vigentes são pouco permeáveis à mudança. Desde
cedo, cada indivíduo aprende o que é socialmente esperado dele, visto que os papéis e
estatutos sociais estão instituídos à partida em função da hierarquia e de fatores
culturais, ocupando cada indivíduo uma posição previamente determinada: filho de
realeza tem logo um estatuto privilegiado e, de modo oposto, mas similar, filho de um
trabalhador agrícola já tem um estatuto atribuído à nascença, esperando-se que siga as
pisadas do pai. Desta forma, dificilmente há uma alteração da forma de afetação de
estatutos aos indivíduos, pelo que existe uma manutenção da ordem social através da
réplica da sua estrutura social, ou seja, assegura-se a reprodução social.
Por outro, nas sociedades modernas, como são abertas, permitem ao indivíduo
modificar o seu papel e adquirir um estatuto social diferente, uma vez que há maior
mobilidade social, possibilitando-lhes facilmente alterar padrões do grupo e descobrir
novas normas, valores e formas de relacionamento. Assim, através da educação, da
iniciativa, e do esforço, as pessoas podem adquirir estatutos mais elevados do que
aqueles com que nasceram (sobretudo consoante um sistema de igualdade de
oportunidades, comum nestas sociedades) e simultaneamente criar novos padrões de
conduta e produzir novas realizações técnicas. Neste sentido, há processos de aquisição
de estatutos e uma modificação na forma de afetação desses que traduzem uma maior
possibilidade de alteração da estrutura social, associando-se, por conseguinte, à
mudança social.










Conclusão
Bibliografia
RODRIGUES, Ana; PAIS, Maria; GÓIS, Maria; CABRITO, Belmiro (2023). Sociologia 12º
ano,
1ºEdição: Texto Editores.
Giddens.A (2014). Sociologia. Fundação Calouste Gulbenkian.
Infopédia (s.d). Reprodução social. https://www.infopedia.pt/artigos/$reproducao-
social. (Consultado a 23/02/2021)
Sociologia em Ação (s.d). Instituições sociais e processos sociais.
https://sites.google.com/site/sociologiaemaccao/5-instituicoes-sociais. (Consultado a
25/02/2024)
Ana Silva Martins (2006). Mudança Social. https://ha2sem3.blogs.sapo.pt/1211.htm.
(Consultado a 1/03/2024)
https://sociologia12ano.blogs.sapo.pt/instituicoes-sociais-3279
(consultado a 28/02/2024)
https://pt.slideshare.net/turma12c/elementos-das-instituies-sociais
(consultado a 23/02/2024)
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/instituicoes-sociais.htm
(consultado a 23/02/2024)

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