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A ética e a liberdade: responsabilidade e intencionalidade

O homem necessita criar regras que lhe permitam (inter)agir. Estas servirão de base
para identificar o que é certo e o que é errado, o que é permitido e o que não é
permitido, dando previsibilidade à sua conduta.

Estes padrões culturais ou de conduta, socialmente criados, são vinculativos para os


membros do grupo. Só assim a sociedade pode desenvolver-se, num contexto de
ordem e estabilidade, que permite aos homens construir projetos de vida.

Para além de uma função de integração (assegurar a coordenação entre as


diferentes partes do sistema social), as normas têm como função básica
assegurar a estabilidade, garantindo que os valores subjacentes são conhecidos
dos indivíduos, para que estes se conformem e sejam motivados por eles.

Para além disso, ao proporcionar uma vida social ordenada e ao atribuir-lhe um papel
ou vários papéis nessa vida, as normas contribuem ainda para oferecer aos indivíduos
uma identidade socialmente reconhecida.

Existem aspetos da vida social que, pela sua importância, possuem vários
mecanismos de regulação que estabelecem as formas aceites de comportamento.

A regulação dos comportamentos pode resultar basicamente de uma intervenção


externa ou do próprio indivíduo. Quando uma entidade externa dita ao indivíduo a
forma como ele deve decidir ou agir, estamos perante uma hetero-regulação, ou seja,
o controlo dos comportamentos do indivíduo é imposto do exterior.

A regulação dos comportamentos passa, neste caso, pelo respeito das regras ditadas
pela autoridade e pela possibilidade de uma sanção em caso de incumprimento.

Quando a regulação dos comportamentos emerge sobretudo do indivíduo, que decide


por ele mesmo as suas escolhas e as suas ações, estamos perante uma auto-
regulação.

A autonomia individual é regulada essencialmente por normas vindas do interior do


próprio homem e que o expõem ao julgamento de terceiros. Nesta circunstância, o
indivíduo encontra a fonte da regulação dos seus comportamentos num sentido
construtivo e partilhado pelos membros do grupo ao qual ele pertence.

Tudo isto tem de ter repercussões na ética.

Assistimos nos dias de hoje a uma mudança radical do poder do Homem sobre os
seus semelhantes e sobre a Natureza.

A atuação política e a intervenção técnica concretizam uma alteração substancial no


modo de agir humano, um alargamento da sua esfera de ação.

Ora, as mudanças na natureza da ação resultaram num aumento do poder do Homem


sobre os outros homens e sobre o meio ambiente e, consequentemente, o Homem viu
ampliada· a sua responsabilidade.

Somos responsáveis não só pelos efeitos imediatos, mas também pelos efeitos
a longo prazo, do mesmo modo que somos responsáveis por aquilo que aqui
acontece, mas igualmente pelo que acontece no outro lado do planeta.

Estamos assim perante uma responsabilidade mais partilhada e mais exigente. Uma
responsabilidade globalizada.
A maioria das teorias éticas pressupõem que todos nós, enquanto agentes morais:
a) Temos liberdade de escolha das nossas acções. Liberdade implica não
apenas sabermos distinguir o bem do mal, o justo do injusto, mas sobretudo de
agir em função de valores que nós próprios escolhemos. Não há
comportamento moral sem certa liberdade.
b) Somos responsáveis pelas nossas decisões, e portanto pelas
consequências das mesmas. A responsabilidade implica, em sentido global,
sermos responsáveis por nós próprios, mas também pelas outras pessoas.

Na medida em que a minha ação e os valores que a guiam implicam o meu modo de
estar na vida e ver o mundo, devemos concluir que a ação humana possui uma
dimensão ética.

A ética deverá responder à pergunta como devo viver e, nesse sentido, cruza-se com
a política, enquanto esta tenta organizar da melhor maneira a vida da coletividade.
Na relação que cada um estabelece com os outros, na sua vida enquanto cidadão,
cada um confronta a sua consciência moral (a sua voz interior) com as regras e os
valores da sociedade.

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