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RESUMO: O trabalho tem por objetivo desenvolver uma análise sobre a convergência e a disputa de p oderes
(institucionais, sociais e individuais) a partir da categoria espetáculo político–midiático. Pretende-se demonstrar
o processo constitutivo desse tipo de espetáculo que emerge na co ntemporaneidade, a partir das transformações e
das novas configurações dos poderes políticos, econômicos e midiáticos e as novas sociabilidades. Es sa
combinação ocorre em novos territórios e na apropriação de acontecimentos e comportamentos. Como tal, gera
produtos e processos que borram as fronteiras das esferas pública e privada, atribuindo novos sentidos aos
acontecimentos políticos. O espetáculo político-midiático é o lugar privilegiado de produção e consumo de
imagem institucional. Assim, tanto no processo de fabricação do espetáculo quando da partição dos resultados da
ocorrência desse espetáculo é possível identificar os p oderes institucionais (políticos, econômicos, jurídicos), os
poderes individuais e sociais e suas respectivas paixões, e ntendidas como o dispositivo de construção e
compreensão teórica do espetáculo e como as marcas imanentes do funcionamento da comunicação midi ática.
PALAVRAS-CHAVE: Espetáculo político-midiático, Midiatização, Comunicação Política
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Professora do Curso de Comunicação Social e PPGCOM/ UFRGS (maria.weber@ufrgs.br)
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Categoria desenvolvida em: WEBER, Maria Helena. Consumo de Paixões e Poderes Nacionais : Permanência e hibridação em espetáculos
político-midiáticos. Rio de Janeiro: UFRJ/ CFCH/ Escola de Comunicação, 1999. 384 p. (tese de doutorado) sob orientação de Prof.Dr.
Antônio Fausto Neto.
Weber, M.H. - O ESPETÁCULO POLÍTICO -MIDIÁTICO E A PARTIÇÃO DE PODERES (texto para debate/ proibida reprodução )
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tem gerado espaços singulares de comunicação e mídias próprias. Apoiado mas longe de poder
ser transformado em bandeira governamental, a espeta cularidade e as dimensões universais do
FSM o colocam em oposição a importantes teorias que colocam o espetáculo como uma
alcunha que tira do campo social, a sua força, especialmente, Debord (A sociedade do
espetáculo), Debray (O estado sedutor) e Schwartzenberg (O estado espetáculo).
Ao esquematizar o espetáculo político-midiático, pretende-se ressaltar que a
transformação de fatos e acontecimentos políticos em espetáculos depende de interesses
recíprocos oriundos do campo da política e do campo midiátic o. Não apenas a reciprocidade
na confluência de interesses político -ideológicos, mas aquela reciprocidade que promove,
ocupa espaço, vende jornais e revistas, aumenta audiências, que contrapõe versões e acirra as
opiniões. A categoria espetáculo político -midiático pressupõe a participação das instituições e
sujeitos da política (partidos, Poderes Executivo e Legislativo), da mídia (jornalistas,
produtores de comunicação ), espaços nobres de circulação de informações e opiniões
(programas, colunas, púlpitos ) e, especialmente, a participação da sociedade, de modo
organizado ou espontâneo. Inúmeros são os exemplos do povo na rua associado a
organizações políticas e às mídias : Diretas Já, Impeachment de Collor, Morte de Ayrton
Senna, eleições, celebração na pos se de presidentes, mais recentemente, do presidente Lula e,
atualmente, a Crise Aérea Brasileira, dentre outros. A existência desse tipo de espetáculo é
sempre conveniente: de uma estrondosa Comissão Parlamentar de Inquérito (as CPIs) à s
tragédias como, recentemente, o acidente da empresa TAM, no Aeroporto de Congonhas, em
São Paulo, sempre há repercussão e divisão de lucros simbólicos, na disputa de versões.
Se a evolução do espetáculo político se dá pela absorção e utilização das linguagens da
propaganda e da expressão teatral, a Modernidade nos ofereceu o caminho para o
deslocamento do espetáculo da rua para os meios de comunicação midiática. O espetáculo
político-midiático é construído, portanto, a partir de qualquer acontecimento capaz de
estabelecer algum nível de convergência entre o campo da política, o sistema de comunicação
midiática e a sociedade. Cria-se assim uma interdependência e repercussões , simbolicamente
benéficas.
Esse texto apresenta um pouco da cartografia dessas quest ões ao apontar os modos de
apropriação de um acontecimento no âmbito dos poderes político e midiático desde que tenha
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Ver Weber, M.H. A Comunicação do Fórum Social Mundial .In: Revista Contemporânea
Weber, M.H. - O ESPETÁCULO POLÍTICO -MIDIÁTICO E A PARTIÇÃO DE PODERES (texto para debate/ proibida reprodução )
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potência para ser submetido aos processos de fabricação do espetáculo. Por último, o modo de
divisão de benefícios entendido como a partição das imagens físicas e conceituais entre
instituições e sujeitos do campo político e as organizações midiáticas que se empenharam na
produção e veiculação do espetáculo.
que serão utilizados pelas empresas de pesquisas de op inião, pelas mídias e pelos sujeitos
candidatos à imagem.
.Equilibrando o medo e a esperança, os suje itos apaixonados participam , como entende
Sennet (1989, p.61) do "teatro do mundo” onde "circulam os retratos das pessoas em sua vida
quotidiana” e o "homem como criatura de máscaras ". São estes papéis públicos que ao serem
"investidos de sentimento" adquirem poder. A crença na persona do ator e nas convenções é
transformada num expressivo instrumento da vida pública, onde o cidadão pode expor suas
paixões e compartilhá-las com os poderes constituídos. Na esfera pública, como no teatro a
temática e os rituais de encenação estabelecem a divisão das platéias devido aos códigos de
representação,
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