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3.

CRIMINOLOGIA MIDIÁTICA: O FENÔMENO DA ESPETACULARIZAÇÃO E


SEUS REFLEXOS NO CORPO SOCIAL

No mundo globalizado, o discurso da criminologia midiática desempenha um


papel significativo na forma como percebemos e compreendemos a criminalidade.
Dentre as características marcantes desse discurso, estão: a ênfase nas
consequências emocionais, a estereotipação e o sensacionalismo. Além disso, a
utilização de imagens, especialmente associadas à televisão, que possuem um
poder singular ao impactar a esfera emocional das pessoas. (ZAFFARONI, 2013 p.
193-204).

A criminologia midiática contemporânea se aproveita do alcance e da influência


dos meios de comunicação para moldar a percepção do público em relação ao
crime e aos criminosos. Através de imagens poderosas e muitas vezes
sensacionalistas, a televisão e outros meios midiáticos são capazes de despertar
emoções intensas, como medo, raiva e indignação, ao apresentar histórias e casos
criminais. (ZAFFARONI, 2013, p. 197).

Tal área de estudo analisa como os meios de comunicação, como a televisão, o


cinema, os jornais e a internet, representam, constroem e influenciam a percepção
pública sobre o crime, os criminosos e o sistema de justiça criminal. Diante disso, a
criminologia midiática examina como a mídia retrata casos criminais, investigando,
então, como essas representações podem moldar a opinião social, influenciar
atitudes e afetar políticas públicas e o funcionamento do sistema de justiça criminal.

“Para muitos, a ação midiática é responsável mesmo pela implementação de


novas racionalidades e formas de pensamento, com influência na própria
produção de sentido e percepção moral, promovendo, assim, alterações
profundas de caráter ético, estético e ideológico” (DUARTE, 2004, p. 25).

No caso aqui apresentado, a cobertura midiática foi marcada por um


sensacionalismo intenso, com a exibição ao vivo de negociações e imagens
perturbadoras. A mídia frequentemente retratou Eloá como uma figura frágil e
inocente, ou seja, como uma vítima-herói, enquanto Lindemberg era pintado como
um vilão cruel. Essa construção de narrativas e estereótipos pode afetar a
percepção pública sobre o caso, influenciando a opinião das pessoas sobre os
envolvidos. (ZAFFARONI, 2013, p. 208-209).

3.1 Espetacularização

Torna-se necessário analisar também a espetacularização como fenômeno


frequentemente observado na mídia, especialmente quando se trata da cobertura de
eventos criminais. Essas práticas estão relacionadas à forma como os meios de
comunicação apresentam as notícias de maneira dramática, exagerada e
sensacionalista, com o objetivo de atrair a atenção do público e gerar audiência.

“O governo do espetáculo, que no presente momento detém todos


os meios para falsificar o conjunto da produção tanto quanto da
percepção, é o senhor absoluto das lembranças, assim como é
senhor incontrolado dos projetos que modelam o mais longínquo
futuro. Ele reina sozinho por toda parte e executa seus juízos
sumários (DEBORD, 1997, p. 174)”.

De acordo com Debord (1997), a sociedade moderna é dominada por uma


lógica espetacular, na qual as relações sociais são mediadas e dominadas por
imagens e representações. Ele argumenta que a cultura contemporânea
transformou-se em uma mercadoria espetacular, em que a realidade é substituída
por representações e a vida cotidiana é permeada por uma constante
espetacularização. A sociedade do espetáculo é marcada pela alienação, em que as
pessoas vivem através das imagens e espetáculos, ao invés de viverem
experiências autênticas.

O caso da Eloá exemplifica alguns aspectos da sociedade do espetáculo. A


mídia desempenhou um papel fundamental na cobertura do evento, transformando-
o em um verdadeiro espetáculo midiático. A tragédia foi transmitida ao vivo pela
televisão, gerando grande audiência e sensacionalismo. O drama humano foi
transformado em um espetáculo para consumo público, com imagens e narrativas
que reforçaram a lógica espetacular da sociedade contemporânea.

A análise do caso da Eloá à luz da Sociedade do Espetáculo de Debord nos


permite refletir sobre como a cultura contemporânea e a mídia influenciam e
moldam nossa percepção da realidade, transformando eventos reais em
espetáculos, nos quais as emoções e a tragédia são exploradas para obter
audiência e lucro. Isso levanta questões sobre a ética da mídia, a banalização do
sofrimento humano e o impacto da espetacularização em nossa sociedade.

Nesse sentido, devemos estar cientes de como as imagens e emoções são


usadas para moldar nossa percepção e buscar uma compreensão mais ampla e
contextualizada dos problemas relacionados à criminalidade, levando em
consideração diferentes perspectivas e fontes de informação. Portanto, ao examinar
as consequências dessa intensa cobertura, a criminologia midiática analisa
diferentes aspectos, como o impacto nas percepções do público, o aumento do
medo do crime e a influência nas atitudes em relação à justiça e à segurança, sendo
essencial adotar uma postura crítica ao consumir determinado conteúdo.

REFERÊNCIAS:
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A questão criminal. Rio de Janeiro: Editora Revan,
2013.

DUARTE, Eliza Bastos. Hermenêutica Jurídica: Uma Análise de Temas


Emergentes. Canoas: Ulbra, 2004.

DEBORD, GUY (1997). A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto.

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