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ISCTEM - CURSO DE FARMÁCIA AULAS LABORATORIAIS DE QUÍMICA

ORGÂNICA I
Regente: Prof. Doutor François Munyemana

I – Regras de segurança

Em todos laboratórios existem regras gerais de utilização que se devem complementar com
outras de carácter pessoal, de modo a evitar a possibilidade de ocorrência de acidentes. Entre os
riscos mais comuns, num laboratório químico, destacam-se os seguintes:

 Uso de substâncias tóxicas, corrosivas, inflamáveis, explosivas, …;


 Manuseamento de material de vidro
 Trabalho à temperaturas elevadas;
 Trabalho à pressões diferentes da atmosférica;
 Uso de fogo;
 Uso de electricidade.

1.1 – Regras gerais de segurança


a) Deve-se ter sempre presente que o laboratório é um lugar de trabalho sério;
b) Antes de se iniciar qualquer experiência, deve-se ter o cuidado de se fazer uma
preparação correcta, lendo os protocolos e anotando todas as precauções a tomar;
c) Verificar, periodicamente, o estado de conservação do equipamento eléctrico, das
condutas e das tubagens;
d) É estritamente proibido trabalhar em laboratório sem bata, devendo esta ser de material
que não apresente perigo quando exposto ao calor;
e) Usar, quando for necessário, protecção individual (avental, óculos, luvas, protectores
faciais e máscaras para gases);
f) Não é permitido comer, beber ou fumar em qualquer das áreas laboratoriais;
g) Todos acidentes devem ser imediatamente comunicados e objecto de relatório;
h) Todas as operações que envolvam a produção de gases ou vapores devem ser realizadas
dentro do nicho.

1.2 – Protecção pessoal


a) Usar sempre uma bata limpa e justa;
b) Usar calçado fechado (evitar sapatos abertos, sandálias, …);
c) Em situações de risco não se pode dispensar o uso de óculos de protecção;
d) Usar luvas apropriadas durante a manipulação de objectos quentes e de substâncias que
possam ser absorvidas pela pele (corrosivas, irritante, cancerígenas, tóxicas ou nocivas);
e) Antes de utilizar qualquer substância deve-se tomar conhecimento dos riscos que ela
comporta;

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f) Não pipetar com boca. Utilizar um pipetador (pompetes, macrocontroladores de pipetas);
g) Não comer, não beber, nem fumar no laboratório;
h) Nunca provar ou cheirar, directamente soluções nem produtos químicos;
i) Lavar com frequência as mãos durante e no fim do trabalho laboratorial;
j) Todas as feridas expostas devem estar devidamente protegidas;
k) Não é aconselhável usar os cabelos compridos e soltos;
l) Usar máscaras de protecção sempre que manusear produtos que libertem gases tóxicos;
m) Não manusear equipamento eléctrico com as mãos húmidas;
n) Nunca trabalhar sozinho no laboratório.

1.3 – Acidentes mais comuns em laboratório e primeiros socorros


Sendo o laboratório de química um local de risco controlado, o conhecimento e cumprimento de
normas de segurança de carácter geral pode, no entanto, não evitar a ocorrência de acidentes.

A maioria destes podem incluir-se na seguinte classificação:


 Golpes ligeiros;
 Salpicos e queimaduras químicas superficiais;
 Salpicos nos olhos;
 Inalação de substâncias tóxicas (gases, vapores ou pós);
 Ingestão de reagentes (sólidos ou líquidos);
 Queimaduras térmicas ou com fogo;
 Contactos com circuitos eléctricos expostos.

Convém conhecer os procedimentos a seguir nestas situações (tabela 1) não esquecendo que
todos os acidentes que venham a ocorrer e que resultem em incêndios, ferimentos ou prejuízos,
por menos graves que sejam, devem ser cuidadosamente investigados e objecto de relatório de
modo a contribuírem para a aprendizagem e prevenção futuras.

Existem alguns tratamentos-padrão a aplicar em cada tipo de acidente, sendo, no entanto,


essencial a máxima presença de espírito e rapidez de actuação, pelo que as pessoas vitimadas ou
os presentes devem imediatamente comunicar a ocorrência ao professor ou encarregado de
laboratório.
Sempre que necessário ou em caso de dúvida, deve-se transportar os acidentados para o Hospital
mais próximo.

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Tabela 1 – Acidentes: Modo de proceder
Acidente Procedimento
Fazer sangrar o golpe alguns segundos.
Golpes ligeiros Remover estilhaços. Lavar com água corrente.
Desinfectar e proteger com um penso.
Salpicos e Lavar abundantemente a área afectada com água corrente – o uso de
queimaduras sabão facilita a remoção.
químicas superficiais Remover o vestuário contaminado. É aconselhável a consulta médica.
Por ácidos – Lavar imediatamente o local com água em abundância.
Queimaduras Em seguida, lavar com solução de bicarbonato de sódio a 1% e ,
químicas graves novamente com água.
(causadas por ácidos, Por álcalis – Lavar a região atingida imediatamente com água. Tratar
álcalis, fenol, etc) com solução de ácido acético a 1% e, novamente com água.
Por fenol – Lavar com álcool absoluto e, depois com água e sabão.
Lavar com soro fisiológico ou água, de esguicho próprio (frasco
Salpicos químicos nos lavador), mantendo as pálpebras afastadas com a ajuda de dois dedos,
olhos de forma que o jacto de água seja preferencialmente dirigido na
tangencial ao globo ocular. Consultar um médico.
Afastar o acidentado do local contaminado, aliviando-lhe o vestuário
no pescoço e no peito.
Inalação de Se ocorrer inconsciência, deitá-lo de face virada para baixo,
substâncias tóxicas mantendo-o aquecido e eventualmente tentar a reanimação boca a boca
(excepção para contaminação por venenos). Transportar para o
Hospital.
Ingestão de reagentes Bochechar com água, sem ingerir, se a contaminação for apenas bucal.
(sólidos/líquidos) Caso tenha havido ingestão, beber água ou leite em abundância e
deslocar rapidamente para o Hospital mais próximo.
Queimaduras Não usar água!
térmicas ou com fogo Térmicas – Aplicar pomada própria ou linimento e proteger com gaze
esterilizada.
Fogo – Abafar as chamas, fazendo, eventualmente, rolar o acidentado
pelo chão.
Circuitos eléctricos Desligar a corrente/quadro de electricidade antes de socorrer o
acidentado.

Observação: Não retire corpos estranhos ou graxas das lesões. Não fure as bolhas
existentes. Não toque com as mãos a áreas atingida. Procure um médico.

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1.4 – Relatório do acidente

Conforme se disse, mesmo que um acidente pareça insignificante, deve-se elaborar um relatório,
que deve conter as seguintes informações:
 Identificação das pessoas envolvidas;
 Data, hora e local da ocorrência;
 Causas do acidente;
 Medidas tomadas;
 Natureza dos ferimentos, tipo de primeiros socorros e quem os ministrou;
 Se foi ou não chamada a ambulância;
 Se houve ou não incêndio e como foi extinto;
 Se foi ou não dado o alarme;
 Se foram ou não chamados os bombeiros;
 Tempo decorrido entre a chamada e actuação;
 Registo de danos materiais.

1.5 – Armazenamento de reagentes


Para armazenar os reagentes correctamente deve-se ter em conta os seguintes aspectos:
1) O armazenamento dos produtos químicos deve ficar localizado em áreas próprias;
2) Fazer um planeamento de armazenagem de reagentes usados no laboratório, dividindo-os,
por exemplo, nas seguintes categorias:

Reagentes inflamáveis Substâncias corrosivas


Reagentes tóxicos Reagentes sensíveis a água
Reagentes explosivos Gases comprimidos
Agentes oxidantes Substâncias radioactivas

3) Não armazenar nenhum produto no chão ou atrás das portas;


4) Não empilhar os reagentes;
5) Conhecer a simbologia nacional e internacional usada na rotulagem;
6) Não armazenar, conjuntamente, os reagentes incompatíveis (tabela 2);

Reagentes incompatíveis são aqueles que podem reagir:


 Violentamente;
 Com evolução do calor;
 Produzindo vapores tóxicos;
 Produzindo vapores inflamáveis.

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Tabela 2 – Classes de reagentes incompatíveis
Reagentes Incompatíveis com:
Ácidos Bases e metais reactivos
Ácidos oxidantes Ácidos orgânicos, Cianeto de sódio e Sulfureto
de ferro
Agentes oxidantes Agentes inflamáveis, combustíveis e redutores
Agentes tóxicos Agentes inflamáveis
Agentes halogenantes Carbono
Cloratos Compostos orgânicos
Halogéneos Fósforo
Nitratos Hidretos de metais
Percloratos Metais
Permanganatos Nitritos
Peróxido de halogéneo Silício

7) Armazenar todos os reagentes devidamente identificados;


8) Colocar os recipientes com ácidos concentrados em prateleiras baixas;
9) Situar os reagentes inflamáveis longe de qualquer fonte de ignição;
10) Armazenar os reagentes sensíveis à água em locais secos e desprovidos de pontos de
água;
11) Guardar as soluções de hidróxidos inorgânicos em recipientes de polietileno;
12) Armazenar os reagentes peroxidáveis (alteráveis pela luz e pelo ar) em local escuro, seco
e fresco e em recipientes escuros e à prova de ar;
13) Manter os reagentes explosivos segregados e nunca em recipientes de vidro.

1.6 – Destruição e despejo de resíduos


Os resíduos químicos de laboratório não devem ser despejados directamente no esgoto.

Todos os desperdícios devem ser devidamente acondicionados, identificados e eliminados.

Dependendo das características dos produtos, deverão ser feitos tratamentos prévios ao despejo
que poderão envolver operações tais como:
 Diluição;
 Neutralização;
 Combustão;
 Arrefecimento;
 Filtração.
Quando o resíduo for gasoso, o tratamento usando frascos lavadores é bastante eficiente.

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A eliminação dos resíduos, depois de devidamente tratados, poderá ser efectuada de diversas
maneiras, entre as quais:
 Recuperação;
 Enterro;
 Incineração (ao ar livre ou utilizando incineradores especiais);
 Lançamento no esgoto.

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II – Equipamentos básicos de laboratório

Material de vidro

Bureta
Ampola de Béquer Balão Balão de
decantação volumétrico Kjeldahl

Balão de fundo
redondo Erlenmeyer Excicador Frasco conta-
Condensador gotas

Kitassato Pipeta Proveta Tubo de ensaio Tubo capilar

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Vareta Vidro de relógio Frasco para
Tina Bastão de vidro reagentes

Balão de Funil Balão de fundo


destilação chato

Material de porcelana

Almofariz e pistilo Cadinho Cápsula Funil de Triângulo


Buchner

Outros materiais

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Bico de Búnsen Tripé Tela de amianto Suporte universal Pêra de borracha

Argola Escovilhões Espátula Furador de rolhas Garra

Suporte para tubo Pinças Esguicho


de ensaio

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Equipamentos rotineiros

Agitador Chapa eléctrica


Balança Banho-maria Centrífuga
magnético

Manta eléctrica Mufla Refractómetro


Estufa
de Abbe

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I. Relatório

Normas gerais para a elaboração do relatório


O relatório pretende traduzir a compreensão global de alunos sobre um determinado trabalho,
para isso, na sua elaboração, dever-se-á seguir o plano que se apresenta em 7 partes:

1 – Capa
Esta deve conter o nome da instituição, título do trabalho, nome do professor, nome dos autores e
a data de realização do trabalho.
Laboratório de Química Orgânica
Título do trabalho
Autor
Data

2 – Resumo:
Desta parte deve constar: Objectivo do trabalho; Método utilizado; Resultados obtidos.

3 – Introdução teórica
De forma concisa, devem apresentar-se os aspectos essenciais da teoria directamente
relacionados com as experiências realizadas.

4 – Parte experimental
Nesta secção, mencionam-se os pormenores da realização experimental, nomeadamente:
 Reagentes, indicando as respectivas marcas e graus de pureza;
 Técnica, indicar apenas fonte bibliográfica consultada;
 Resultados, apresentar na forma de tabelas de valores e de gráficos.

5 – Resultados e discussão
É uma das partes mais importantes do relatório. Nela se discutem os resultados obtidos, fazendo-
se a sua comparação com os dados já existentes. A interpretação dos resultados é
importantíssima. Podem fazer-se sugestões para o trabalho futuro.

6 – Conclusões
Reafirmar de maneira sintética a ideia principal, respondendo ao problema inicial (objectivo).
Relatar as principais contribuições proporcionadas pelo trabalho.

7 – Referências Bibliográficas

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É um conjunto de indicações que possibilitam a identificação de documentos, publicações, no
todo ou em parte, que foram utilizadas para a redacção do relatório. A literatura consultada deve
ser enumerada a fim de que ao longo do trabalho, se possa fazer uma referência fácil.

Ficha de Laboratório

A ficha de laboratório é o resumo da aula laboratorial, ou seja, é a preparação que cada estudante
deve fazer, usando o guião antes da aula laboratorial respectiva.

Objectivo da ficha de laboratório: O estudante vai a aula laboratorial sabendo o que vai fazer e
já tem uma ideia dos resultados que vai obter. Assim poderá comparar os resultados teóricos com
os obtidos (práticos) e facilmente chegar a uma conclusão.

Esta ficha deve conter:

 Título;

 Objectivos;

 Fundamentos teóricos;

 Reacções;

 Mecanismos:

 Cálculo do reagente limitante;

 Cálculo do rendimento teórico.

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II – Aulas laboratoriais

Aula laboratorial 1

Determinação das constantes físicas dos compostos orgânicos: Ponto de fusão, Ponto de
ebulição e Índice de refracção

Introdução
Os compostos orgânicos não são, em geral, suficientemente caracterizados pela sua composição
elementar e pelo seu peso molecular. Por esse motivo, é necessário, para os identificar conhecer
outras propriedades físicas. As constantes físicas mais utilizadas são:
1. Ponto de fusão (para sólidos);
2. Ponto de ebulição à pressão conhecida (para líquidos ou sólidos de baixo ponto de fusão);
3. A densidade a uma determinada temperatura (para líquidos);
4. O índice de refracção a uma determinada temperatura e para uma luz de comprimento de
onda específico (só para líquidos).

Outras constantes físicas são: Rotação óptica, Solubilidade em diferentes solventes, Espectros de
absorção, entre outras.

Todas estas propriedades podem ser utilizadas simultaneamente com critério de pureza dos
compostos.

I. Ponto de fusão
O ponto de fusão de uma substância é a temperatura a qual a substância sólida começa a
converter-se em líquido à pressão de 1 atmosfera, e se define geralmente como a temperatura a
que o líquido e o sólido podem coexistir em contacto um com o outro sob dita pressão. Os
compostos puros têm um ponto de fusão bem definido. A sua determinação exacta (até cerca de
0.01 ºC) só é possível através de traçados de diagramas de fusão.

Nos métodos habituais, mais simples que são descritos a seguir, observam-se em geral, intervalos
de fusão de alguns décimos a 1.0 ºC. Pequenas quantidades de impurezas fazem baixar
consideravelmente o ponto de fusão. Além disso, observa-se um maior intervalo de fusão (maior
que 1.0 ºC). Aproveita-se este facto para verificar se as duas amostras com o mesmo ponto de
fusão são idênticas. Para esse fim, misturam-se muito bem quantidades iguais das duas
substâncias e determina-se o ponto de fusão (ponto de fusão misto). Se for o mesmo que cada
uma das amostras separadamente, então trata-se da mesma substância. Se sofrer um

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abaixamento, trata-se de duas substâncias diferentes. Em compostos isomórficos, não se observa
depressão do ponto de fusão, mesmo quando sejam de estruturas químicas diferentes.
Muitas substâncias orgânicas decompõem-se ao mesmo tempo que fundem, o que geralmente se
revela por uma alteração da cor e desenvolvimento de gases. Finalmente, é preciso ter em conta a
relação que existe entre o ponto de fusão e a estrutura química dos compostos.
1. Os compostos com estruturas simétricas têm pontos de fusão mais elevados que os
compostos com estrutura menos simétrica;
2. Nos estereoisômeros, o composto trans tem normalmente o ponto de fusão mais elevado
que o composto cis. Por exemplo, o Ácido maleico (cis) p.f = 130 ºC; o Ácido fumárico
(trans) p.f = 287 ºC;
3. O ponto de fusão é tanto mais elevado quanto maior for o grau de associação do
composto. Assim, ésteres, que não podem formar ligações por pontes de hidrogénio, têm
um ponto de fusão muito mais baixo que os ácidos carboxílicos correspondentes.

Parte experimental
1. Introduz-se a substância bem pulverizada e bem seca num tubo capilar de cerca de 1mm
de diâmetro interior, fechado num dos extremos até formar uma camada de 2 a 4 mm.
Para este fim, mergulha-se o capilar na amostra da substância e bate-se o pó
cuidadosamente para o fundo do capilar ou deixa-se cair o tubo capilar através de um
tubo de vidro comprido colocado verticalmente sobre uma base dura.
2. O capilar que contém a amostra é fixado a um termómetro, por meio de um anel de
borracha com o diâmetro correspondente. A amostra deve ficar à altura do reservatório de
mercúrio do termómetro.

Variante 1
O termómetro é colocado num balão de fundo redondo e colo comprido com auxílio de uma
rolha com furo, deixando a escala visível. No balão, introduz-se o Ácido sulfúrico ou Parafina
líquida como meios transmissores de calor. Em seguida, aquece-se lentamente (4 a 6 ºC por min,
e quando próximo do p.f 1 a 2 ºC por min) até atingir a temperatura de fusão.
Variante 2
O aparelho de Thiele para a determinação do ponto de fusão é mais vantajoso, pois a transmissão
de calor é mais uniforme.
Variante 3
Quando as substâncias têm ponto de fusão superiores a 250 ºC, então deve empregar-se
aparelhos de bloco metálico para a determinação de seus pontos de fusão.

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II. Ponto de ebulição
O ponto de ebulição contrariamente ao ponto de fusão, depende fortemente da pressão. A sua
determinação exacta não é tão simples como o ponto de fusão. Geralmente, considera-se o ponto
de ebulição o intervalo de temperaturas observado na destilação de uma substância. Por
sobreaquecimento do vapor e por dimensionamento do aparelho podem aparecer desvios
consideráveis do verdadeiro valor de ponto de ebulição. Outra fonte de erro é a medição de
vácuo por meio do manómetro

Parte experimental
O método de Siwoloboff permite trabalhar com quantidades muito mais pequenas de substâncias.
Neste método, a amostra é colocada num tubo de ensaio de 6mm de diâmetro. Neste tubo,
coloca-se um tubo capilar, fechado numa das extremidades, a cerca de 1cm do extremo inferior.
Este conjunto é fixado ao termómetro do aparelho do ponto de fusão com um anel de borracha.
Ao aproximar-se do ponto de ebulição, observa-se de tempos em tempos a saída de bolhas de ar
pelo tubo capilar. Como a temperatura de ebulição considera-se ou a temperatura lida no
termómetro no momento em que começa a observar-se a saída regular de bolhas de ar, ou ao
deixar arrefecer, a temperatura a que o desenvolvimento de bolhas de vapor cessa subitamente,
começando líquido a subir imediatamente pelo interior do capilar.

Esquema do aparelho

III. Índice de refracção


Par identificar substâncias líquidas e para averiguar o seu grau de pureza, utiliza-se também o
índice de refracção. Quando uma luz monocromática atravessa a superfície de separação de dois
meios, tem-se:

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Onde C1 e C2 correspondem a velocidade da luz nos meios 1 e 2 respectivamente.

O índice de refracção depende fortemente da temperatura e varia com o comprimento de onda da


luz. Geralmente, dá-se o valor do índice de refracção correspondente à linha espectral da luz
amarela de sódio (linha D λ=589nm). A temperatura e o comprimento de onda ou a linha
espectral são anotados sob a forma de índices: η20D.

Determinam-se os índices de refracção por meio de refractómetros. O aparelho standard para


laboratórios de química orgânica é o Refractómetro de ABBE. Este aparelho utiliza como
princípio a determinação do ângulo limite de reflexão total e é construído de tal maneira que
utilizando luz policromática, obtém-se o índice de refracção correspondente à linha D de sódio.
Outra vantagem deste aparelho é a utilização de apenas uma gota da amostra; a precisão é de
0.0001. Para se atingir esta precisão, tem de se manter a temperatura constante, cerca de 0.2 ºC,
durante a medição, por meio de um termómetro.

Parte experimental
A determinação realiza-se colocando uma gota da amostra entre os dois prismas e fazendo a
leitura segundo as indicações do instrutor. No fim da leitura retira-se o líquido orgânico com um
pedaço de papel de filtro suave ou algodão e limpa-se a superfície dos prismas com um algodão
embebido em Acetona. Se se trabalhar a temperatura ambiente, poderá fazer-se a correcção
correspondente à temperatura, de modo a poder-se comparar o índice de refracção observado
com os valores indicados na literatura.

Para corrigir os valores, em função da temperatura pode usar-se a seguinte tabela:


Temperatura (ºC) Correcção Temperatura (ºC) Correcção
0 - 0.00016 60 + 0.00031
10 - 0.00008 70 + 0.00039
20 - 0.00000 80 + 0.00047
30 + 0.00008 90 + 0.00054
40 + 0.00016 100 + 0.00062
50 + 0.00023 - -

Após a correcção com a temperatura, comparar os dados obtidos com os valores indicados na
leitura e determinar o grau de pureza das substâncias orgânicas.
Determinação do índice de refração da Glicerina

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Calibrar o refractómetro por meio do álcool etílico ou água destilada. Colocar uma gota de
glicerina entre os dois prismas. Fechar o bloco do prisma, mover o parafuso nivelante até ao
limite nítido da parte escura. Ajustar o parafuso nivelante principal de modo a atingir a
coincidência do limite nítido da parte escura do campo visual com o centro da cruz no ocular.
Com ajuda do ocular complementar ler o índice de refração na escala.

Questionário
1. Diga três factores que tenham influência sobre a determinação dos pontos de ebulição e
fusão;
2. Defina o ponto de fusão misto. Qual a sua importância?
3. Qual a vantagem de trabalhar com o aparelho de Thiele sobre a variante 1?
4. Porquê se diz que o ponto de ebulição é menos fiável que o ponto de fusão?

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Aula laboratorial 2

Métodos de purificação dos compostos orgânicos

Introdução
A purificação é uma parte importante do trabalho de laboratório em Química orgânica, porque os
compostos orgânicos não se encontram puros na natureza e quando são obtidos no laboratório
também ficam impuros. Por isso, tanto no laboratório como na indústria, empregam-se
fundamentalmente três métodos para fazer a purificação de sólidos: Cristalização, Destilação e
Extracção. A Sublimação, usa-se ocasionalmente e outras técnicas especiais como a
Cromatografia em trabalhos muito especializados. A escolha destes métodos depende da
substância que se quer purificar e das impurezas que contêm.

a) Recristalização
O método de recristalização, consiste nas seguintes operações:
1. Satura-se o solvente adequado, à quente, com o produto a purificar;
2. Separam-se os constituintes insolúveis por filtração à quente;
3. Deixa-se arrefecer a solução, processo durante o qual a substância cristaliza de novo,
apresentando-se em geral, mais pura.

Como escolher o solvente?


A substância deve ser pouco solúvel no solvente frio e bem solúvel à quente enquanto as
impurezas devem ter uma solubilidade tão elevada quanto possível. Quando não se conhece a
quantidade nem a qualidade do solvente a aplicar, devem fazer-se experiências prévias em
pequenos tubos de ensaio, com quantidades mínimas. A escolha do solvente é regulada pela
antiquíssima regra, que é válida sobretudo em compostos constituídos por uma estrutura simples,
e que diz: “ uma substância é bem dissolvida por um solvente de constituição química
semelhante”.

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Por exemplo:
Classe de compostos Bem solúvel em solventes
“ Hidrófobos ”
Hidrocarbonetos Hidrocarbonetos, éteres, etc
Hidrocarbonetos halogenados Hidrocarbonetos halogenados
Éteres
Aminas
Ésteres Ésteres
Compostos nitrados
Nitrilos
Cetonas
Aldeídos
Fenóis Álcool, água
Álcoois
Ácidos carboxílicos
“ Hidrófilos ”
Sais Água

É claro que o solvente não deve alterar quimicamente a substância. As combinações de solventes
(por exemplo: água e álcool, água e dioxano, clorofórmio e éter de petróleo) também se aplicam
em recristalização. A composição mais apropriada deve ser determinada em experiências
práticas.

Técnica geral
Em primeiro lugar, aquece-se a substância com uma quantidade mínima do solvente, necessária
para dissolver a substância à quente até à ebulição. Através do refrigerante. Junta-se pouco a
pouco o solvente necessário até a dissolução completa. Quando se usam solventes inflamáveis,
devem extinguir-se todas as chamas que estejam próximas, enquanto se junta o solvente. Não se
deve empregar excesso de solvente porque a precipitação do sólido é difícil. Deve-se por hábito,
pesar o sólido e medir a quantidade de solvente para que se possa realizar e reproduzir
quantitativamente.

Quando necessário, junta-se carvão activado (1/20 a 1/50 do peso da substância) à solução, para
descorar. “Antes de juntar o carvão activado, deve-se deixar arrefecer um pouco a solução”,
visto poderem anular atrasos na ebulição o que provoca uma ebulição violenta ou mesmo
explosiva. O carvão activado liberta muito ar o que provoca uma efervescência.

Em seguida, leva-se à ebulição por momentos e filtra-se à quente. Tapa-se o recipiente e deixa-se
em repouso para arrefecer. Para obter maior quantidade de cristais arrefece-se o recipiente num
frigorífico ou com o auxílio de gelo ou uma mistura frigorífica.

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As substâncias orgânicas, têm tendência para formar soluções sobressaturadas. Juntando um
cristal de “vacinação” da mesma substância ou de uma substância isomórfica, pode muitas vezes
anular-se a sobressaturação. Friccionando com uma vareta de vidro nas paredes do recipiente
provoca-se a formação de germes, cuja existência é necessária para haver cristalização.

A velocidade de cristalização é, frequentemente, muito pequena, terminando-se a cristalização


duma solução arrefecida muitas vezes só passadas horas. Em casos particulares, podem formar-
se cristais, mesmo passadas semanas ou meses. Por essa razão, nunca se deve rejeitar,
prematuramente as águas-mãe.

Filtração à quente
a) Deve usar-se um filtro de pregas grande para obter uma filtração rápida;
b) Deve usar-se um funil de haste muito curto ou sem haste para evitar entupimentos por
precipitação dos cristais na haste;
c) O funil deve ser aquecido antes de iniciar-se a filtração numa chama pequena (ou um
jacto de vapor) colocando-o no balão em que se está a preparar a solução quente.

Filtração em funil de Buchner de uma solução quente


Esta não é muito fácil de realizar porque os poros do papel de filtro e a haste do funil podem
entupir-se pela evaporação rápida do solvente que se produz à pressão reduzida existente no
aparelho.

Técnica
a) Examina-se primeiro o funil de Buchner para verificar se está limpo;
b) Aquece-se previamente o funil fazendo passar várias porções de solvente em ebulição
com um filtro de tamanho adequado colocado no funil;
c) Tratando-se de soluções aquosas, pode-se fazer o aquecimento prévio do funil com um
jacto de vapor.

Adapta-se o funil quente ao kitassato e humedece-se o papel de filtro com um pequeno porão de
solvente quente. Aplica-se uma sucção moderada.

Como colocar o papel de filtro?


Deve escolher-se o papel de filtro para o funil de Buchner (ou cortá-lo) de modo que fique
horizontalmente sobre a placa perfurada e não dobre para cima. Humedece-se o papel com o
solvente e aplica-se sucção antes de iniciar a filtração. Deita-se então a suspensão de cristais
sobre o filtro de forma a obter-se uma camada de espessura uniforme. É conveniente usar uma
parte do filtrado para lavar os cristais aderentes às paredes do balão em que se fez a cristalização.

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Os cristais obtidos devem ser lavados do seguinte modo:
 Primeiro comprime-se muito bem os cristais sobre o filtro com uma rolha de vidro limpa
ou com uma espátula e aplica-se a trompa até ficarem tão secos quanto possível. Antes de
lavar os cristais, desliga-se o tubo de sucção e desfaz-se cuidadosamente o bolo cristalino
com a espátula.
 Junta-se o solvente novo frio em pequenas porções e amassa-se o material até formar uma
pasta. Aplica-se de novo a sucção e comprime-se firmemente o bolo como anteriormente
para remover o líquido de lavagem tão completamente quanto possível. A lavagem dos
cristais com duas ou três porções é mais eficaz do que uma lavagem com grande
quantidade de água. Interromper a sucção e desfazer o bolo, de forma que toda a massa
entre em contacto com o solvente fresco.
 Depois de se terem comprimido firmemente os cristais lavados e de se ter aplicado a
trompa até ficarem tão secos quanto possível, remove-se o bolo e espalha-se sobre uma
folha de papel de filtro grande para permitir a evaporação do solvente ainda aderente. A
parte final da secagem pode ser feita num excicador sobre um agente secante sólido
apropriado ou numa estufa de secagem com a temperatura regulada bem abaixo do ponto
de fusão da substância.

Parte experimental

Recristalização da Acetanilida
Num erlenmeyer de 50mL deita-se 1g de Acetanilida impura; dissolve-se na mínima quantidade
de água em ebulição. Ainda em ebulição, adicionam-se mais 3mL de água quente. A solução
quente, filtra-se para um erlenmeyer de 50mL através de um funil de haste curta e com papel de
filtro pregueado. O funil deve aquecer-se previamente em jacto de vapor. A solução obtida da
filtração deixa-se em repouso num banho de água fria durante 20minutos.

Os cristais obtidos pelo arrefecimento da solução, são filtrados por um funil de Buchner e
lavados com duas porções de 3 mL de água fria cada uma. Após cada lavagem, comprimem-se
os cristais com uma rolha de vidro limpa. Espalham-se os cristais sobre uma folha de papel de
filtro grande e comprimem-se com outra folha de papel de filtro, também grande. Os cristais são
colocados num vidro de relógio com um papel de filtro em cima e deixados num excicador até a
aula seguinte. Pesar e determinar o ponto de fusão.

b) Sublimação
A pressão de vapor dos sólidos eleva-se com a temperatura. Muitas vezes temos substâncias que
podem passar ao estado de vapor sem fundir, podendo condensar-se os vapores directamente, sob
forma dum sólido. Esta operação chama-se sublimação.

21
Ponto de sublimação é a temperatura a qual a pressão de vapor do sólido é igual a pressão
externa. A essa temperatura os cristais também se evaporam no seu interior, explodindo portanto,
e podem por vezes, sujar o sublimado. Por essa razão, executam-se geralmente as sublimações à
uma temperatura inferior ao ponto de sublimação, de tal maneira que a pressão de vapor é mais
pequena que a pressão exterior. O poder de separação de substâncias com pequenas diferenças de
pressão de vapor não é normalmente elevado. Um aparelho simples de sublimação é constituído
por uma cápsula de porcelana e um funil, que se coloca por cima dessa cápsula. O funil deve ter
um diâmetro um pouco mais pequeno que a cápsula. Na haste do funil, coloca-se um pouco de
algodão. Para que o sublimado não caia dentro da cápsula, cobre-se esta com um papel de filtro
circular, em que se abriram pequenos furos.

Outro aparelho muito empregado consiste em pôr a amostra num copo de precipitação e por cima
deste um balão de destilação de 25 mL pelo qual se faz passar água da boca até ao tubo lateral
(ver esquema). Entre a amostra e o balão é preciso pôr um papel de filtro para evitar que o
sublimado caia dentro do balão. A sublimação emprega-se quando se pretende quantidades
pequenas de substâncias muito puras.

Técnica
Pese 1g de Ácido benzóico e coloque no fundo do copo de precipitação. Monte o aparelho
descrito anteriormente. Aquecer pouco a pouco o fundo do balão com uma chama suave.
Recolher os cristais no papel de filtro. Determinar o ponto de fusão.

Questionário
1) Que métodos geralmente se empregam para purificar sólidos?
2) Em que circunstâncias se deve empregar a sublimação? Quais as vantagens e
inconvenientes?
3) Que propriedades deve ter um solvente para ser usado numa recristalização?
4) Indique as sucessivas fases de recristalização de um sólido e explique o objectivo de cada
operação.

22
c) Destilação
A destilação é o método mais importante para a purificação de líquidos. Pode usar-se para
separar líquidos voláteis de substâncias não voláteis e também para separar dois ou mais líquidos
voláteis cujos pontos de ebulição não sejam muito próximos. As substâncias cujos pontos de
ebulição diferem em 30 ºC ou mais podem separar-se com aparelhos simples de laboratório
(destilação simples) e as substâncias que diferem de menos de 30 ºC devem separar-se usando
colunas de fraccionamento (destilação fraccionada). Portanto, a destilação simples pode usar-se
nos seguintes casos:
1. Para separar líquidos voláteis de substâncias não voláteis;
2. Para separar misturas de dois ou mais líquidos cujos pontos de ebulição difiram de mais
de 30 ºC.

Consideremos dois líquidos: A de ponto de ebulição 60 ºC e B de ponto de ebulição 90 ºC cada


um em seu recipiente individual. Na superfície de cada líquido só há uma classe de moléculas e
sua tendência de escape, quer dizer, sua pressão de vapor é a característica dessa classe de
molécula. Mas quando os dois líquidos são misturados homogeneamente à superfície da mistura
estará formada por moléculas de A e de B e a tendência de A abandonar o líquido será diminuída
pela presença das moléculas de B e vice-versa.

Este é o princípio (lei) de Raoult e as soluções que a obedecem são chamadas soluções ideais.
A expressão matemática da lei de Raoult é:

Onde: - Pressão parcial de A na solução


- Pressão de vapor de A puro
- Pressão molar de A no líquido

Se a temperatura for constante, também será constante para uma fracção molar dada (NA).
Nota-se que se usa fracção molar e não peso em %, porque o facto significativo é o número de
moléculas e não o seu peso.

Uma expressão similar, nos dá a pressão de B:

Se chamamos PT a pressão total de vapor de uma solução de dois componentes A e B se


compreende que:

23
Onde: PT é a constante para uma dada temperatura T, isto quer dizer que quando T eleva-se, PT
também se eleva. Se a temperatura eleva-se até que PT se iguale a pressão atmosférica, o líquido
ferverá.

Então, compreende-se que:


A concentração do componente de menor ponto de ebulição A, no valor em equilíbrio com uma
mistura de A e B, é maior que a concentração de A na mistura líquida.

Isto quer dizer, que quando a mistura é aquecida e os vapores se condensam, o novo resultante
será mais rico no componente A que a mistura original.

Como a pressão de vapor é uma medida de tendência de escape na superfície, usa-se X para
indicar a fracção molar no vapor, portanto: “ A relação entre fracções molares no vapor é
proporcional às pressões de vapor de A e B no líquido”.

Se nesta expressão substituirmos os valores de PA e PB obtidos na lei de Raoult, teremos:

Se A é a substância de menor ponto de ebulição, para uma temperatura dada T, logo:

Esta expressão mostra que:


Quando A é a substância de menor ponto de ebulição, a relação molar entre A e B no vapor é
maior que a relação molar entre A e B no líquido. A tem menor ponto de ebulição é mais volátil.
Assim, o líquido que está a sair será cada vez mais rico em A (componente mais volátil) e o
líquido que fica no balão de destilação será cada vez mais rico em B que é o componente menos
volátil. No fim, A puro estará no balão colector e B puro ficará no balão de destilação.

Misturas azeotrópicas – Existe um número bastante grande de misturas de líquidos que não
obedecem à lei de Raoult, e entre elas se encontram as chamadas misturas azeotrópicas. Uma
mistura azeotrópica é aquela que destila a uma temperatura constante como se de um composto
puro se tratasse. O seu ponto de ebulição não está entre os dois constituintes, mas sim acima ou
abaixo destes valores. Sendo conhecidos por misturas azeotrópicas de maior ponto de ebulição e
de menor ponto de ebulição, respectivamente.

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Exemplos:
 Mistura azeotrópica de menor ponto de ebulição: EtOH/H2O (95.5-4.5%) ferve a
78.15 ºC;
 Mistura azeotrópica de maior ponto de ebulição: HCl/H2O (20.3-69.7%) ferve a 110 ºC.

Destilação simples

Parte experimental
Para fazer uma boa destilação simples, precisamos de ter em conta uma série de requisitos,
alguns dos quais estão relacionados com a montagem do aparelho.
1. Um balão de destilação munido de um condensador de água de Liebig e nunca de bolas;
2. O condensador deve estar ligeiramente inclinado para facilitar a saída do líquido;
3. O tamanho do balão deve ser tal que o líquido a destilar ocupe metade do balão ou 2/3 da
sua capacidade, de contrário pode passar ao colector sem destilar, por arraste mecânico;
4. O aparelho de destilação simples não pode estar totalmente fechado, devendo ter uma
abertura para evitar um aumento de pressão no interior do aparelho. Por isso, o balão de
recolha do destilado deve ficar aberto e ligado ao aparelho através de um alongador;
5. É preciso verificar se o aparelho de destilação está bem ajustado e que a estabilidade do
aparelho é boa;
6. A água do condensador deve fluir no sentido contrário dos vapores do composto que se
destila (arrefecimento em contra-corrente);
7. A temperatura do líquido determina-se através do termómetro colocado na montagem;
8. O aquecimento deve fazer-se usando banhos, mantas de aquecimento ou bicos de Búnsen
com rede de amianto. Para manter a ebulição estável, introduzem-se no balão pedaços de
porcelana ou de capilar;

9. Como escolher o condensador?


O tipo de condensador depende do ponto de ebulição do líquido:
 Para um líquido que ferva abaixo de 100 ºC, emprega-se um condensador de água;
 Para um líquido que ferva de 100 – 130 ºC cheio de água, mas fechado, quer dizer, sem
circulação de água;
 Para um líquido que ferva a temperaturas acima de 130 ºC, usa-se um condensador de ar.

10. Quando se destila uma substância que tem pouca quantidade de impurezas:

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a) A primeira porção de líquido que destila chama-se cabeça ou fracção de baixo ponto de
ebulição e contém as impurezas mais voláteis e um pouco de líquido que se deseja
purificar;
b) Depois destila-se a maior quantidade de líquido puro a uma mesma temperatura ou,
geralmente, com diferença de 2-3 ºC. Esta é a fracção principal;
c) Por último, pode destilar (ou deixar no balão) a fracção que tem as impurezas menos
voláteis e um pouco do líquido principal. Esta fracção, chama-se cauda ou fracção de
maior ponto de ebulição

Parte experimental
a) Para um balão de destilação meça (proveta) 100 mL de uma mistura de 50 mL de água e
50 mL de acetona, junte 2 a 3 pedaços de porcelana porosa;
b) Monte o aparelho da figura e certifique-se que todas as ligações estão bem ajustadas;
c) Abra, lentamente, a torneira de água de arrefecimento;
d) Aqueça o balão lentamente, de modo que a condensação seja em média de uma gota por
segundo. Este aspecto é muito importante para obter bons resultados;
e) Leia, no termómetro, a temperatura a que se forma a primeira gota do destilado. Repita as
leituras das temperaturas de 5 em 5 mL do destilado recolhido;
f) Quando tiver obtido cerca de 80 mL de destilado, interrompa o aquecimento.

Relatório

Traçar em papel milimétrico, o gráfico da destilação, temperatura versus volume do destilado.


Além disso deve discutir os seus resultados.

Questionário
1. Diga três aspectos que é preciso ter em conta para fazer uma boa destilação.

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2. Diga quando deve-se empregar um condensador de água, quando um com água, mas
fechado e quando um de ar.
3. Para separar a mistura de acetona e água, o método empregado é suficientemente eficaz?
Explique sua resposta.

Extracção e Oxidação da cafeína das folhas de chá

Parte 1 – Extracção da Cafeína das folhas de chá

Ferver a mistura de 5 g de folhas de chá com 125 mL de água num copo durante 15minutos,
usando o bico de Búnsen (fazer a montagem com tripé, triângulo, tela de amianto). Adicionar 20
mL de solução aquosa de Acetato de chumbo 10 % ao chá quente.

Agitar a mistura resultante com uma vareta de vidro e filtrar a mistura quente por sucção num
funil de Buchner. Transferir o filtrado num copo, concentrá-lo fervendo até um volume de
aproximadamente 25 mL, deixar arrefecer até 25 ºC, e adicionar 12 mL de Clorofórmio. Agitar a
solução resultante e filtrar por sucção, e separar as duas fases do filtrado numa ampola de
decantação de 50 mL.

Extrair a fase aquosa com 2 fracções adicionais de 12 mL de Clorofórmio. Filtrar os extractos


clorofórmicos (filtração por gravidade) e destilar o Clorofórmio do filtrado. Raspar o resíduo
seco do frasco com uma espátula. Pesar o produto bruto e determinar o ponto de fusão. (o
produto pode ser purificado por sublimação; o p.f. encontrado na literatura = 238 ºC)

Parte 2 – Oxidação da Cafeína

Colocar a solução de 1 g de Cafeína, 3 mL de água e 1.3 mL de HCl concentrado num tubo de


ensaio 25/150 mm. Aquecer a solução a 50-55 ºC num banho-maria e adicionar cuidadosamente
em pequenas porções 0.4 g de Clorato de potássio. Durante a adição, agitar a mistura de reacção
e determinar a temperatura da solução (com termómetro).

Quando aproximadamente a metade está já adicionada, o precipitado aparece na mistura de


reacção. Não adicionar mais clorato de potássio até que todo precipitado reaja e reforme a
solução. No fim da adição, continuar a aquecer a mistura da reacção a 50-55 ºC por mais outros
10 minutos. Deixar arrefecer a solução, diluir com 3 mL de solução saturada de Bissulfito de
potássio e arrefecer a mistura durante 10-15 min num banho de gelo. Separa-se os cristais.
Recristalizar o material bruto no mínimo de água quente (a ferver). Determinar o rendimento.

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Equações:

H3C C O
N C
KClO3
C8H10N4O2
HCl, H2O C C
Cafeina O N O

CH3
Dimetilaloxano

KHSO3

O
OH
H3C C
N C
SO2OK
C C
O N O

CH3
Produtos de adição de bissulfito
Cafeina

Aula Laboratorial 3

Solubilidade

Material e reagentes
 Éter etílico;  4 pipetas de 1 mL;
 Solução de NaHCO3 a 5%;  3 pipetas de 5 mL ou 10 mL;
 Solução de NaOH a 5%;  Pisseta;
 Solução de HCl a 5%;  Espátula.
 Ácido fosfórico 85%;
 Ácido sulfúrico concentrado;
 Estante com 10 tubos de ensaio;
 4 provetas de 10 mL;

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Procedimento
Colocar 0.2 mL de soluto, amostra 1, em tubo de ensaio limpo e seco. Adicionar 3 mL
de solvente na ordem indicada pelo esquema, começando com a água. Agitar
vigorosamente e verificar se foi solúvel pela formação de uma mistura homogénea no
primeiro caso e heterogénea no segundo. Se a amostra for solúvel neste solvente,
colocar uma nova quantidade de 0.2 mL do soluto, amostra 1, em um novo tubo de
ensaio e adicionar 3 mL de éter. Dependendo da solubilidade no éter, a amostra poderá
ser enquadrada no grupo I ou II.

Observação: Quando a amostra for sólida usar aproximadamente 0.1 g para 3.0 mL do
solvente. Proceder da mesma maneira com as demais amostras até determinar o grupo a
que pertencem. As amostras 1, 2, 3 e 4 não têm N e nem S. A amostra 5 tem N e S.

Grupo I – Compostos solúveis em água e éter


Compostos de baixa massa molar, geralmente compostos monofuncionais com cinco
átomos de carbono ou menos: álcoois, aldeídos, cetonas, ácidos, éteres, fenóis,
anidridos, aminas, nitrilos, fenóis polihidroxilados.

Grupo II – Compostos solúveis em água, mas insolúveis em éter


Compostos de massa molar moderada com até seis carbonos e dois ou mais grupos
polares: glicóis, álcoois polihidroxilados, ácidos hidroxilados, aldeídos e cetonas
polihidroxilados (açucares), algumas amidas, aminoácidos, compostos di e poliamino,
amino álcoois, ácidos sulfónicos, ácidos sulfínicos e sais.

Grupo IIIA – Compostos solúveis em solução de hidróxido de sódio a 5% e


bicarbonato de sódio a 5%.
Ácidos carboxílicos e sulfónicos, geralmente com 10 carbonos ou menos, tribromofenol
simétrico, 2,4-dinitrofenol e o ácido pícrico.
Grupo IIIB – Compostos solúveis em solução de NaOH a 5% e insolúveis em solução
de NaHCO3 a 5%.
Ácidos, fenóis, imidas, alguns nitroderivados primários e secundários, oximas,
maercaptanos e tiofenóis, ácidos sulfónicos e sulfínicos, sulfúricos e sulfonamidas,
algumas cetonas e 3-cetoésteres.

Grupo IV – Compostos insolúveis em água e solúveis em HCl a 5%


Aminas primárias, arilalcoilaminas e amidas alifáticas secundárias, aminas alifáticas e
algumas arilalcoilaminas terciárias, hidrazinas.

Grupo VA, VB e VI – Incluem compostos neutros que não apresentam enxofre e


nitrogénio.

Grupo VA – Compostos neutros, insolúveis em água, mas solúveis em ácido sulfúrico


concentrado e ácido fosfórico a 85%

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Álcoois, aldeídos, metilcetonas e ésteres que tem menos do que nove átomos de
carbono, lactonas e ésteres.

Grupo VB – Compostos neutros solúveis em H2SO4 concentrado e insolúveis em


H3PO4 a 85%.
Cetonas, ésteres, hidrocarbonetos insaturados.

Grupo VI – Compostos insolúveis em água e também em outros solventes chaves.


Hidrocarbonetos alifáticos saturados, hidrcarbonetos parafínicos cíclicos,
hidrocarbonetos aromáticos, derivados halogenados destes compostos e ésteres
diarílicos.

Grupo VII – Compostos insolúveis em água, em HCl a 5% e NaOH a 5%


Compostos neutros que contém enxofre e nitrogénio, halogénios podem também estar
presentes, nitrocompostos, amidas, nitrilas, aminas, nitroso, azo e hidrazo e outros
produtos intermediários de redução de nitroderivados, sulfonas, sulfonamidas de aminas
secundárias, sulfetos e outros compostos contendo enxofre.

Questionário
1. Qual o significado da expressão “ semelhante dissolve semelhantes ”?
2. Benzeno, anilina, querosene, não se dissolvem em água. Por outro lado, ácido
acético e etanol se dissolvem. Por quê?
3. Por que a anilina é insolúvel em água e solúvel em solução de HCl a 5%?
4. O ácido benzóico é solúvel tanto em solução aquosa de NaOH a 5% quanto em
NaHCO3 a 5%; o p-cresol por sua vez é solúvel apenas em NaOH a 5%;
enquanto que o ciclo-hexanol não é solúvel em NaOH, nem em NaHCO3. Como
se explicam estes factos?
5. Que se entende por calor de solução?

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Esquema para classificação do grupo de solubilidade

AMOSTRA

H2O*

Insolúvel Solúvel
NaOH* 5% Éter*

Solúvel Insolúvel Solúvel


Insolúvel
Grupo I
Grupo II
NaHCO3* a 5% HCl* 5%

Solúvel Insolúvel
Grupo IIIA Grupo IIIB

Solúvel Insolúvel
Grupo IV

Presença de N e S Ausência de N e S
Grupo VII
H2SO4* conc.

Solúvel Insolúvel
Grupo VI
H3PO4* 85%

Solúvel Insolúvel
Grupo VA Grupo VB

Atenção! Os solventes estão marcados com asteriscos no esquema. Os ácidos sulfúrico


e fosfórico são corrosivos, muito cuidado quando usá-los. Não os aspire meça-os com
proveta.

31
Aula laboratorial 4

Síntese do Metano, Etileno e do Etino. Ensaio dos hidrocarbonetos alifáticos

Introdução
Hidrocarbonetos são substâncias caracterizadas por baixa reactividade química. Todavia
o estado de saturação completa (alcanos) ou a presença de ligações múltiplas (alcenos e
alcinos) conforme propriedades singulares a cada uma das famílias químicas em que
estes compostos se subdividem. As reacções químicas que este trabalho incorpora visam
ilustrar os comportamentos gerais e especificidades dos hidrocarbonetos.

Parte experimental

Parte 1 – Alcanos

Experiência 1 – Síntese do Metano


Num tubo de ensaio, misturam-se uniformemente 0.6 g de Acetato de sódio anidro com
1.2 g de Cal sodada (NaOH + CaO) e faz-se a montagem da figura seguinte:

No tubo C deitar 5gotas de água uma KMnO4 (0.1N). Aquecer suavemente com um
bico de Búnsen o tubo A (contendo a mistura). Observe e anote os fenômenos
ocorridos. Repita a experiência e as observações com outro tubo de ensaio C contendo 5
gotas de Água de bromo. Depois de fazer borbulhar o gás nos dois tubos desprendido.
Prestar atenção que o Metano arde com chama não luminosa.

Escrever as equações correspondentes nos casos em que ocorre reacção.

Experiência 2 – Bromação dos alcanos (sob a acção da luz)


Em dois tubos de ensaio com 1 mL de um alcano (Hexano, Heptano ou Octano)
adicione 0.5 mL (10 gotas) de Bromo em tetracloreto de carbono e exponha o tubo de
ensaio à luz e conserve o outro tubo no escuro. Ao fim de 5-10 minutos observe e anote
os resultados. Escreva a equação da reacção. Qual o mecanismo da reacção?

32
Parte 2 – Alcenos

Experiência 3 – Síntese do Etileno


Deitar 8 gotas de Ácido sulfúrico concentrado no tubo de ensaio A (figura da
experiência 1), 4 gotas de Etanol e algumas aparas de Óxido de alumínio (Al2O3) como
catalisador. Monte o aparelho. Aqueça o tubo de ensaio A e faça borbulhar o gás
produzido nos tubos de ensaio com KMnO4 e Água de bromo. Depois destas operações
queimar o gás desprendido. Preste atenção que o etileno arde com chama luminosa.

Parte 3 – Alcinos

Experiência 4 – Síntese do Acetileno


Coloque 2 g de CaC2 (Carbeto de cálcio) num kitassato, tape com uma rolha com um
furo e monte o aparelho conforme a figura abaixo e adapte um funil se separação com 2-
3 mL de água.

Deixe cair gota a gota cerca de 2 mL de água pelo funil de separação e deixe borbulhar
o Acetileno assim produzido em tubos de ensaio com 2 mL das seguintes soluções:
 Br2/H2O
 Br2/CCl4
 KMnO4 diluído
 CuCl2 (solução amoniacal) ou
 AgNO3 (solução amoniacal).

Observar e escrever as equações correspondentes que ocorrem no kitassato e nos tubos


de ensaio. Explique

Observação: Os gases produzidos nesta prática são tóxicos e em alguns casos formam
misturas explosivas com o ar, portanto, devem tomar-se precauções no sentido de
diminuir o escape de gases no laboratório. É aconselhável trabalhar no nicho.

33
Aula laboratorial 5

Propriedades dos Hidrocarbonetos aromáticos

Parte 1
I. Propriedades do Benzeno
a) Acção da Água de bromo
Adicione 3 gotas de Água de bromo a 3 gotas de Benzeno contidas num tubo de ensaio
e agite-o vigorosamente. Explique as mudanças ocorridas.

b) Acção do KMnO4
Adicione uma gota de Benzeno a um tubo de ensaio contendo 5 gotas de água destilada,
uma gota de KMnO4 (0.1N) e uma gota de H2SO4 (2N) e agite-o. Registar o que
observar.

II. Oxidação dos homólogos do Benzeno


Adicione uma gota de Tolueno a um tubo de ensaio com 5 gotas de água, uma gota de
KMnO4 (0.1N) e uma gota de Ácido sulfúrico 2N e aqueça por meio de um bico de
Búnsen. Explique as mudanças ocorridas. Escreva a equação de reacção.

Parte 2
Síntese da p-bromoacetanilida
Dissolva em um erlenmeyer de 400 mL, 13.5 g de Acetanilida finamente pulverizada
em 45 mL de Ácido acético glacial. Dissolva em outro erlenmeyer menor 5.3 mL de
Bromo em 25 mL de Ácido acético glacial e transfira a solução para um funil de
separação armado sobre o erlenmeyer (a preparação deve ser conduzida no nicho).
Adicione a solução de Bromo, lentamente e com agitação constante, para assegurar a
mistura completa; deixe o erlenmeyer em água fria. Quando todo o Bromo tiver sido
adicionado, a solução apresentará uma cor alaranjada devido ao ligeiro excesso de
Bromo; uma parte do produto da reacção pode cristalizar.

Deixe a mistura de reacção em repouso por 30 minutos à temperatura ambiente, com


agitação ocasional. Derrame o produto da reacção em 400mL de água; lave o balão com
cerca de 100 mL de água. Agite bem a mistura e, caso esta apresente coloração,
adicione solução de Bissulfito de sódio a 10 %, suficiente para remover a cor alaranjada.
Filtre o precipitado cristalino com sucção em funil a vácuo (de Buchner). Lave
completamente com água fria e seque-o tanto quanto possível (escorrer bem).
Recristalize em Álcool metílico diluído ou Álcool etílico.

Tarefas práticas
1. Calcule o rendimento;
2. Determine o ponto de fusão;
Avalie a solubilidade em água à frio e à quente; em Etanol à frio e à quente; em
Benzeno.

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