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Deborah Moreira Lordelo – 93066 EIN331 – Maria de Lourdes

Desenvolvimento Físico e Motor na Primeira Infância


O desenvolvimento de crianças na primeira infância começa a ser influenciado logo
em seu nascimento, ou seja, no parto e na forma como o mesmo é realizado. Historicamente,
o parto percorreu uma trajetória difícil de falta de tecnologias, conhecimentos, muitas mortes
por falta desses saberes, até o momento em que essas tecnologias se tornaram exacerbadas e o
momento da mulher de parir foi ficando para segundo plano, uma vez que os processos
médicos eram mais valorizados e pensados do que os processos da mulher e do bebê em si.
Atualmente, existe um forte movimento a favor do parto humanizado, para que a
mulher se sinta confortável, seja ativa e passe por esse momento da melhor maneira possível,
sem intervenções médicas desnecessárias, porém com acompanhamento dos mesmos para que
tudo ocorra de forma saudável e segura tanto para a mãe quanto para o bebê. No parto
vaginal, ocorrem três etapas, a primeira sendo de contrações uterinas frequentes e dilatação da
cérvix, a segunda de contrações ainda mais fortes e saída completa do bebê pelo canal
vaginal, e a terceira etapa de saída da placenta e do restante do cordão umbilical. Já no parto
cesariano, ocorre uma cirurgia na qual o abdômen é cortado para a retirada do bebê do útero.
A escolha do parto deve privilegiar a saúde e segurança da mãe e do bebê, respeitando
sempre as escolhas da mulher acerca e as suas necessidades como, por exemplo, o uso de
medicamentos para sedação por anestesia local que não ofereçam riscos ao bebê ou ainda o
acompanhamento por doulas. Após o nascimento, no período neonatal, o bebê depende
completamente de cuidados de seus responsáveis, mas seus sistemas corporais devem
funcionar individualmente, ou seja, o bebê não mais depende do oxigênio transmitido pelo
cordão umbilical, passando a respirar por conta própria. Se essa respiração não acontecer,
pode haver anóxia (falta de oxigênio que pode causar dano cerebral irreversível).
Algumas complicações podem ocorrer no parto devido a alguns fatores como traumas
no nascimento, pós-maturação, baixo peso natal e natimorto, podendo causar desvantagens no
desenvolvimento desses bebês. Porém, essas desvantagens podem ser superadas se houverem
condições favoráveis e um ambiente satisfatório. Fatores de proteção como poucos eventos
estressantes, bastante cuidado e afeto, qualidades individuais e circunstâncias promissoras
podem gerar uma recuperação satisfatória para essas crianças, assim como o oposto pode
acarretar em um desenvolvimento cognitivo precário.
Para verificar a saúde do bebê e sua vitalidade, medidas como a escala de Apgar,
escala de Brazelton, Avaliação do Comportamento Neonatal e Triagem Neonatal para
Condições Clínicas são feitas, algumas delas até mesmo logo após o nascimento. Os bebês
possuem estados de alerta, determinados por ciclos de atividade e de sono, e este pode ser
tanto ativo quanto tranquilo (irregular e regular respectivamente), que vão se regulando ao
longo da vida à medida que a criança não necessita tanto do sono para seu desenvolvimento.
Assim como o crescimento físico, o desenvolvimento físico, motor e sensorial
ocorrem a partir do princípio cefalocaudal e próximo-distal e, portanto, os bebês aprendem a
utilizar por último as partes inferiores de seu corpo e desenvolvem capacidades para utilizar
as partes mais próximas do centro do corpo antes das extremidades. Para que esse crescimento
e o consequente desenvolvimento ocorram, o bebê precisa se nutrir adequadamente, por meio
da amamentação pelo peito da mãe e também pela mamadeira (em casos de impossibilidade
do peito) por no mínimo até os seis meses de idade.
Sugar o peito é um reflexo do bebê, e esse reflexo ocorre graças ao sistema nervoso
central (cérebro e medula espinhal). O cérebro vai crescendo em surtos localizados
caracterizados por marcos no desenvolvimento cognitivo em diversas idades (mais frequentes
na infância), surtos esses que precedem períodos de estabilidade. Ele é dividido em dois
hemisférios (esquerdo e direito), unidos pelo corpo caloso, que possuem tendências e
especificações chamadas de lateralização.
No cérebro existem neurônios, que enviam e recebem estímulos por meio dos axônios
e dendritos através de sinapses, e é por meio dessas células que o cérebro tem a possibilidade
de crescer. Há ainda um processo de morte celular, no qual os neurônios não utilizados vão
morrendo para que o sistema nervoso funcione de maneira eficiente, porém, novos neurônios
podem se formar ao longo da vida. Existem também no cérebro as células gliais, que
protegem os neurônios por meio da mielinização, o que faz com que os sinais sejam
transmitidos mais rapidamente e permite o desaparecimento de reflexos desnecessários,
possibilitando que atos voluntários se estabeleçam.
O cérebro humano é extremamente plástico durante toda a vida e especialmente no
período sensível da infância, ou seja, a experiência tem a capacidade de modelá-lo e, por isso,
ele se torna mais vulnerável, sendo necessária uma quantidade alta de estimulação para que o
mesmo consiga superar danos que eventos precários possam causar. Parte dessas estimulações
pode ser feita por meio dos sentidos, que se desenvolvem rapidamente no início da vida.
O bebê sente dor desde que nasce e tem capacidade de sentir o tato facilmente,
considerando que se acredita que este é o primeiro sentido a se desenvolver. O olfato e o
paladar são sentidos que também são bem desenvolvidos, começando ainda na gestação. O
bebê prefere sabores doces e rejeita os amargos por um mecanismo de sobrevivência, assim
como prefere o odor do peito da mãe por esse mesmo motivo. A audição também começa a
ser desenvolvida na gestação e se desenvolve de maneira rápida, sendo essencial para o
desenvolvimento da linguagem. Já a visão não é tão bem desenvolvida ao nascer, pois o bebê
ainda apresenta nessa fase uma imaturidade em suas estruturas visuais, o que pode possibilitar
o vínculo com os pais, uma vez que é necessário que haja proximidade para que ele enxergue.
A visão periférica também não é vasta ao nascer, mas ao longo do crescimento o sentido da
visão vai se desenvolvendo rapidamente.
Indispensável para o desenvolvimento dos bebês também é a capacidade motora. Por
meio do amadurecimento do cérebro, dos reflexos e dos sentidos ele consegue desenvolver
habilidades motoras finas e grossas, que com o tempo passam a ser coordenadas em sistemas
de ação, a partir também dos princípios cefalocaudais e próximo-distais. Os controles da
cabeça, da mão e da locomoção fazem parte do desenvolvimento motor que vai aumentando
de qualidade ao longo da vida se o bebê puder ter experiências significativas, um ambiente
favorável, referências sociais e a motivação necessários.
Os bebês também desenvolvem percepções como a profundidade (capacidade de
perceber as coisas de maneira tridimensional) e a percepção tátil (capacidade de perceber
características próprias de objetos) por meio do desenvolvimento motor e da experiência que
deve ser permitida para que eles ajam e interajam com o ambiente, tornando-os mais
perceptivos e ativos na construção do conhecimento. O desenvolvimento motor segue ritmos
diferentes na diferentes culturas, e essas peculiaridades devem ser respeitadas.
É necessário compreender como ocorre o desenvolvimento físico e motor na primeira
infância como professor, para que experiências e mediações sejam proporcionadas
adequadamente às crianças, respeitando e entendendo os momentos e os processos pelos quais
a mesma passa, permitindo-a construir conhecimentos sobre o mundo que a cerca e sobre elas
mesmas. É possível observar, ao entender melhor o desenvolvimento da criança, o quanto o
professor deve propiciar situações através de métodos e materiais significativos que permitam
que a criança explore, procure, se locomova e experiencie coisas necessárias ao seu
desenvolvimento pleno.

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