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João Piccioni
Chief Investment Officer
joao.piccioni@empiricus.com.br
Marcos Neves
Head Produtos e Distribuição
joao.piccioni@empiricus.com.br
Mariana Ferreira
Relacionamento com
Investidores
mariana.ferreira@empiricus.com
Sumário
Fortune favors the bold....................................................................................... 2
VISA: A ação mais valiosa do setor financeiro global....................................................... 4
A Inteligência Artificial e os "Retornos Crescentes de Escala"........................................ 7
A gestão do fundo................................................................................................................14
Big Techs..........................................................................................................................17
Amazon - 15%........................................................................................................... 17
Apple - 5%.................................................................................................................. 19
Meta - 11%................................................................................................................. 21
Microsoft - 12%.......................................................................................................... 23
Netflix - 3%................................................................................................................. 24
Inteligência Artificial..........................................................................................................26
ASML Holdings NV - 3%............................................................................................ 26
Nvidia - 4%................................................................................................................. 27
AMD - 3%................................................................................................................... 28
Software........................................................................................................................... 30
Salesforce - 13%........................................................................................................ 30
Oracle - 2%................................................................................................................ 31
Cybersecurity................................................................................................................... 32
Crowdstrike - 1%........................................................................................................ 32
Biotech............................................................................................................................. 34
Vertex Pharmaceuticals - 2%..................................................................................... 34
AbbVie - 2%................................................................................................................35
Eli Lilly - 2%................................................................................................................ 36
Ásia.................................................................................................................................. 37
BYD - 2%....................................................................................................................37
Nintendo - 2%.............................................................................................................38
Brasil................................................................................................................................ 39
Mercado Livre - 2%.................................................................................................... 39
Considerações finais e expectativas................................................................................. 46
Disclaimer............................................................................................................................. 47
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Carta do Gestor
Gráfico 1 – Desempenho dos ETFs QQQ (Nasdaq) e SPY (S&P500) nos últimos dez anos.
Fonte: Koyfin, Empiricus Gestão
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Carta do Gestor
Tabela 1 – Evolução dos preços e dos lucros dos ETFs QQQ e SPY nos últimos 10 anos. Fonte: Koyfin,
Empiricus Gestão
Quando comparadas ao grupo das M7, as mid e large caps do setor de tecnologia
apresentarão avanços mais expressivos dos lucros, seja pelo crescimento mais
acelerado provocado pela maior utilização dos seus produtos, seja pelo incremento
de receitas proporcionado por um número maior de fusões e aquisições. Isso deve
fazer com que, ao longo dos próximos anos, algumas dessas empresas se aproximem
do posto de megacaps, aquele cujo valor de mercado ultrapassa a marca dos US$ 1
trilhão. Será neste segmento que iremos encontrar verdadeiras multibaggers ao
longo dos próximos anos.
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Carta do Gestor
Seria natural que a reação imediata do leitor ao se deparar com esse subtítulo seria
imaginar que a história a ser contada fosse de algum dos grandes bancos
americanos. Errado, pelo menos em parte.
Atualmente, a maior empresa do setor financeiro global se chama Visa (NYSE: V).
Este é um dos casos nos quais a criatura se tornou bem maior que o criador em todos
os aspectos. Nomeada oficialmente como Visa em 1976, a companhia fundada por
Dee Hock nasceu como um braço do Bank of America (BofA) em 1958, com o nome
de BankAmericard. Mais do que uma simples empresa transacional, a Visa foi uma
das responsáveis por interligar os sistemas financeiros globais e mudar o cenário
competitivo do setor.
Rapidamente a estratégia ganhou fôlego. Em apenas dois anos, mais de 200 bancos
se tornaram “franqueados” do BofA e haviam mais de 6 milhões de americanos com
seus cartões de crédito na mão. A rede montada pelo banco inspirava confiança aos
usuários e estabelecimentos, ao promover uma marca única (BankAmericard), cujas
cores já remetiam o que seria o logo da Visa ali na frente (azul, branco e dourado).
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Carta do Gestor
Aqui temos o primeiro ponto ligado à tecnologia. Não da forma digital, como hoje
estamos acostumados, mas sim sob a ótica dos serviços. A criação do modelo de
negócio foi impulsionada pelo “efeito rede”, no qual os benefícios dos seus usuários
são retroalimentados à medida que o seu volume aumenta. Era claro tanto para os
estabelecimentos quanto para os bancos que a unificação da marca sob um único
guarda-chuva gerava ganhos de escala e forneciam maior segurança na
operacionalização do produto.
Mas havia ainda alguns problemas: além das taxas de franquia pelo uso da rede da
BankAmericard, os bancos possuíam um custo de transação elevado, à medida que
cada um deles era responsável por toda a dinâmica de transferência de recursos
entre os estabelecimentos, bancos e clientes das compras realizadas por meio dos
seus cartões emitidos (vale lembrar que os sistemas transacionais à época eram
feitos a base do papel e correios). Ou seja, tal dinâmica gerou uma insatisfação
generalizada e promoveu uma conferência entre os idealizadores do BankAmericard
e os franqueados. Foi aí que a figura de Dee Hock surgiu.
Apesar do uso mais difundido do cartão de crédito na década de 1970, ainda existiam
alguns pontos de atenção. O primeiro deles estava ligado à latência para a
aprovação das operações. O segundo, estava ligado ao volume de fraudes, que era
extremamente elevado. Para resolver o primeiro problema, Dee Hock e seu time
desenvolveram uma rede computadorizada denominada BASE (I e II), cujos objetivos
eram aumentar a velocidade da transação e eliminar a utilização do papel. Com isso,
acabou atacando também a parte do segundo problema, reduzindo custos e perdas
para milhares de bancos ao redor do mundo. De acordo com Paul Chutkow, autor do
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Carta do Gestor
livro Visa: The Power of an Idea (2001), em 1984 o sistema BASE II havia processado
mais de um bilhão de transações que totalizaram US$ 53 bilhões.
Certamente, a Visa seria uma das companhias aptas a fazer parte da carteira do
Tech Select. O seu modelo de negócio detém diferenciais competitivos claros,
fundamentados nos avanços da tecnologia. Entre eles, podemos citar: (1) as
economias de rede, que aumentam à medida que o número de usuários e
estabelecimentos avança; (2) superioridade operacional, baseada no
desenvolvimento de tecnologia proprietária, que permitiu o estabelecimento de uma
posição de dominância e a dificuldade de replicação pelos concorrentes; e, por fim,
(3) escalabilidade, proveniente da estrutura de geração de caixa baseada no avanço
das operações dos seus clientes. Mais do que gostar do caso de investimento, vejo a
história da Visa como algo que deve ser perseguido pelas companhias de forma
geral.
Agora vou passar brevemente sobre o segmento de IA, que vem chamando atenção
dos investidores globais.
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
Quando olhamos para a IA, logo pensamos nas GPUs da Nvidia e no fluxo de
informações que percorrem os servidores. Mas para que ela se torne fluida e possa
ser plenamente aproveitada pelos seus usuários, diversas frentes de investimentos
precisam andar em conjunto. Em parte, é o que temos visto acontecer e o que tem
elevado o ânimo dos investidores.
Toda essa cadeia tem recebido investimentos vultosos. As Big Techs lideraram a fila
em 2023. Amazon, Microsoft e Alphabet investiram mais de US$ 100 bilhões nos seus
segmentos de nuvem. No ano passado, a Microsoft fechou o acordo para levar mais
uma parte da Open AI — criadora do ChatGPT — por US$ 10 bilhões. Porém, apenas
uma pequena parte desses recursos foi investida de fato. A maior parte do valor foi
“paga” por meio dos serviços de processamento na nuvem (Azure). A parceria abriu
um espaço interessantíssimo para a empresa liderada por Satya Nadella, dado os
avanços promovidos no seu sistema de busca, o Bing, além das ferramentas de
Copilot que farão parte das assinaturas do Office.
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Carta do Gestor
O bom desempenho da Nvidia e os discursos afiados de Jensen e dos CEOs das Big
Techs, foram responsáveis por provocar a euforia dos investidores. A verdade é que
em todos esses anos nos quais estou no mercado, nunca houve tamanho alinhamento
corporativo em relação a um único tema no mundo da tecnologia. Nenhuma das
tecnologias recentes que reverberaram recentemente — blockchain, bitcoin,
metaverso, 5G, cloud computing, entre outras — tiveram tamanha aceitação quanto
a IA generativa. É bem verdade que sem os avanços dessas tecnologias, a IA teria
maiores limitações. Mas é inegável que a visão de futuro para a inteligência artificial
é bastante positiva e, por isso, as empresas têm direcionado seus esforços para essa
tecnologia.
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Carta do Gestor
poderiam deixar de ter posições humanas, enquanto outras posições poderiam gerar
ganhos expressivos de produtividade, gerando impactos econômicos na ordem dos
US$ 7 trilhões. São diversas as áreas que usufruirão das ferramentas de IA
generativa. Os Bancos, a indústria de tecnologia, os setores de marketing e vendas,
operações com clientes, são exemplos que ganharão com o uso mais intensivo do
ChatGPT e seus derivados.
Definições da IA
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
É diante deste panorama favorável para o setor de tecnologia que vamos buscar as
teses de investimento para o Tech Select. As Big Techs parecem ainda deter uma
vantagem competitiva importante (caixa, confiança da rede e acesso ao usuário
final) para surfar os primeiros passos dessa onda. Tomando emprestado o termo
designado por Brad Gerstner, CIO da Altimeter, estamos diante de um ciclo de
negócios no qual os retornos, ou as vantagens, crescem conforme se aumenta a
escala ("Increasing advantages of scale"). Mas outras companhias já despontam com
seus serviços para o B2B e merecem atenção. Os movimentos que fizemos no fundo
recentemente visam justamente capturar novas oportunidades e equilibrar as
apostas naquelas empresas que vejo como vencedoras. Vamos agora a gestão e
alocação da carteira.
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Carta do Gestor
A gestão do fundo
Os últimos três meses foram bastante positivos para as ações presentes no Tech
Select FIA. O cenário macroeconômico, por ora, tem se desenhado conforme
esperado. O pulso de liquidez gerado pelo Federal Reserve no final do ano passado
ganhou fôlego no mês de janeiro e empurrou para cima as Bolsas americanas. Sob
esse alicerce macroeconômico, as ações ligadas ao setor de tecnologia avançaram
bastante.
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Carta do Gestor
Gráficos 1 e 2 – Performance do Tech Select em 12 meses e desde a lançamento da sua primeira carta
(últimos 3 meses)
Até o fechamento desta carta, dez empresas haviam divulgado seus resultados do
quarto trimestre de 2023 (ano calendário). Entre elas, estão as Big Techs, Netflix e
AMD, ASML, Nintendo, Eli Lilly e Vertex. Todas superaram as expectativas de
mercado. Os destaques, sem sombra de dúvidas, vieram da Netflix, Amazon e Meta
— vou entrar em mais detalhes à frente —, enquanto Alphabet e Apple frustraram.
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
Big Techs
É uma avaliação bem feita dos direcionamentos estratégicos que pode gerar
diferenciais de retorno nesse segmento. Neste sentido, tenho clara preferência pelas
ações da Amazon, Microsoft e Meta, em detrimento das ações da Alphabet e Apple.
Vamos às breves ponderações que justificam essa visão.
Amazon - 15%
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
Apple - 5%
A gigante de Cupertino não tem folga. Apesar dos números trimestrais melhores que
o esperado, no conference call, Tim Cook e sua turma foram bastante questionados
sobre o desempenho da empresa. Apesar das vendas de iPhones terem
surpreendido, a desaceleração das vendas em outras linhas ficou evidente. O
desempenho da empresa no mercado chinês foi ruim e mostra que a situação por lá
não é das mais animadoras. E os comentários bastante superficiais sobre os produtos
de IA que ainda deverão ser lançados pela companhia, não foram capazes de
revigorar o ânimo dos investidores.
Nem mesmo o lançamento do Apple Vision Pro trouxe confiança, apesar do bom
volume de vendas iniciais (cerca de 200 mil unidades por US$ 3.500 cada). A leitura é
que a empresa está ficando muito para trás frente aos concorrentes, que se
lançaram nas iniciativas da IA generativa com muito mais velocidade. Apesar de
gostar do caso e enxergar claramente os diferenciais competitivos da empresa, não
a vejo mais com capacidade de surpreender. Um pequeno desvio de trajetória na
entrega da sua iniciativa de IA — atrasos, baixa velocidade de aceitação por parte
dos usuários ou um produto aquém do esperado — deve fazer com que os
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Carta do Gestor
investidores punam as ações da empresa ao longo do ano (ela deve subir menos e ser
preterida frente às outras Big Techs).
Por outro lado, já vimos Tim Cook virar o jogo algumas vezes. A Apple tem um
balanço forte o suficiente para dar cabo a outras iniciativas, como por exemplo,
aquisições, ou ainda, ampliar os esforços de venda dos seus aparelhos celulares e dos
seus serviços. Além disso, um eventual sucesso na implementação da sua IA pode
transformar a forma pela qual as pessoas interagem com o iPhone e,
consequentemente, capturar alguns mercados que hoje são dominados pelas outras
big techs.
Gráfico 4 - Receita trimestral da Apple: valor em bilhões de USD e Var. YoY (%). Fonte: Koyfin
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Carta do Gestor
Alphabet - 2%
Alphabet (Google) era a minha ação favorita até a divulgação dos resultados do
3T23. De forma geral, sua administração conseguiu reverter o mau desempenho de
2022, provocado parcialmente pelas regras de privacidade da Apple, e vem
mostrando um desempenho relativamente robusto das suas linhas de serviços, que
contemplam as linhas do Google Search, YouTube Ads, Network, assinaturas e
vendas de aparelhos. Na primeira carta do Tech Select, inclusive, tinha ficado com a
impressão de que a reação dos mercados aos números do 3T23 havia sido muito
exagerada, o que de fato se provou verdade. As ações conseguiram se recuperar e
fizeram novas máximas, até a divulgação do último resultado trimestral (4T23).
Pela primeira vez na história, o segmento do Google Search tem sido questionado: se
os modelos de inteligência artificial desenvolvidos pela Meta e pela Apple
caminharem para se tornarem mecanismos de busca, a perda com receitas diretas
(licenciamento do Google Search) e indiretas (redução de receitas de advertising)
pode provocar o mesmo comportamento sofrido pela Meta em 2022. Dado o
potencial de valorização atual das ações no médio prazo, não vejo uma assimetria
favorável para manter o peso elevado nas suas ações e, por isso, decidimos pela
redução para 2% da carteira.
Meta - 11%
A Meta foi o grande destaque deste 4T23. Mark Zuckerberg cumpriu à risca a sua
promessa. Em carta enviada para os acionistas, o fundador havia dito que 2023 seria
o ano da eficiência, no qual a empresa voltaria a chamar a apresentar forte
lucratividade e crescer. O resultado do 4T23 o coroou: a receita da Meta atingiu a
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Carta do Gestor
Gráfico 5 - Receita trimestral da Meta: valor em bilhões de USD e Var. YoY (%) / Geração de caixa FCO
(abaixo em cinza). Fonte: Koyfin
Os ajustes nas operações abriram a torneira da geração de caixa. Nos últimos doze
meses, a Meta gerou mais de US$ 71 bilhões de dólares de caixa e abriu espaço para
Zuckerberg retornar capital para os seus acionistas. No mesmo dia da divulgação dos
resultados, a empresa anunciou recompras de ações de US$ 50 bilhões e o dividendo
trimestral de US$ 0,50 por ação. O dividendo é pequeno, mas reduz o estímulo para
que a diretoria da empresa venda as ações detidas em seu pacote de remuneração.
As boas notícias fizeram com que as ações disparassem mais de 20% no pregão
seguinte a divulgação dos números e colocaram de vez a companhia de volta para o
clube do US$ 1 trilhão.
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Carta do Gestor
Sob a ótica de gestão, tivemos um acerto importante ao elevar o peso das ações no
começo de novembro (2% para 8%), e acredito que possamos repetir a dose ao elevar
a posição para os 11%. Estamos fazendo essa atualização aos poucos, aguardando
uma janela de oportunidade, dado que as ações avançaram bastante de lá para cá
(+57%). Apesar da forte alta, o valuation da companhia não é demandante, dados os
excelentes prognósticos de geração de caixa.
Microsoft - 12%
A empresa mais valiosa do mundo fez por merecer este título. A Microsoft liderada
por Satya Nadella é uma companhia muito diferente daquela vista no início da
década passada. Além de exímio comunicador, Nadella soube guiar a gigante entre
as novidades do mercado e direcionar a estratégia da empresa para os serviços de
nuvem. A mudança de rota fez com que os produtos da Microsoft passassem a
funcionar dentro das plataformas rivais e abriu espaço para parcerias com seus
próprios competidores. O atual foco nos serviços de inteligência artificial abriu uma
nova frente de receitas recorrentes e deve ajudar a companhia a prover serviços
cada vez mais completos aos seus clientes.
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Carta do Gestor
Diante desses aspectos, mantenho uma visão positiva para a companhia. Os vetores
de crescimento parecem resilientes o suficiente para justificar uma posição mais
elevada nas ações. Apesar dos eventuais questionamentos, os produtos da Microsoft
são bons o suficiente para sustentarem sua liderança dentro do mundo corporativo.
Tal medida abre espaço para novas formas de monetização ao longo dos próximos
anos, reforçando o caráter compounder das suas ações. É um caso que nos traz
bastante conforto para os próximos meses.
Netflix - 3%
Ainda não vejo sentido em alocar a Netflix no segmento das Big Techs. Pensando
bem, talvez tenhamos que criar um novo macro segmento, que seria denominado de
“Varejo Tech” para encaixá-la mais fidedignamente com o que ela é. Enquanto não
conduzo essa alteração (vou deixar mais à frente), fico feliz pela manutenção das
ações da empresa fundada por Reed Hastings na carteira do Tech Select.
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Carta do Gestor
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Carta do Gestor
Inteligência Artificial
Da mesma forma que as ações do Netflix deveriam estar em uma caixa denominada
“Varejo Tech”, as ações presentes neste macro segmento deveriam ser alocadas em
uma caixa mais bem definida, como por exemplo, “Infraestrutura de IA” ou
“semicondutores”. Tal como o primeiro caso, vou deixar para pensar nessa mudança
ao longo deste próximo trimestre.
ASML Holdings NV - 3%
Atualmente, a gigante holandesa vale US$ 345 bilhões e vende cerca de US$ 30
bilhões ao ano. Apesar de relativamente cara, negocia por 43 vezes seus lucros
projetados, guarda um diferencial competitivo difícil de ser replicado e que justifica
seu prêmio. Atualmente, a vejo como um dos negócios mais resilientes dentro do
portfólio, pelo horizonte de longo prazo do seu modelo de negócio (ninguém toma
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Carta do Gestor
Nvidia - 4%
Certamente, esse foi o caso que mais surpreendeu os investidores ao longo de 2023.
As ações da Nvidia subiram mais de 200% ao longo dos últimos 12 meses, retratando
a mudança de patamar das suas vendas e lucratividade, e também colocando-a
como uma das grandes vencedoras da corrida pela IA. Além das iniciativas ligadas
ao mundo do hardware — a companhia se mantém na vanguarda tecnológica com
suas últimas GPUs —, a linguagem de programação CUDA continua atraindo os
usuários e deve ser uma nova vertente a impulsionar seus negócios.
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Carta do Gestor
continua bastante elevado. As teleconferências dos resultados das Big Techs deram o
combustível necessário para que os investidores voltassem para as suas pranchetas.
E ao que tudo indica, existe uma boa chance de sermos surpreendidos à frente. Aos
preços atuais, manteremos nossa posição nas ações em 4%. Mas de olho nas
novidades que podem aparecer no horizonte.
Gráfico 7 - Nvidia: Evolução do preço da ação e o seu Free Cash Flow . Fonte: Koyfin
AMD - 3%
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Carta do Gestor
De volta ao presente, a AMD vem entregando bons resultados corporativos. Não tão
empolgantes quanto os de Nvidia, mas suficientes para justificar os bons retornos das
ações. E com um playbook parecido com a do concorrente maior, deve conseguir
galgar espaço no segmento de nuvem, por meio das vendas das suas GPUs recém
lançadas. No último conference call, a CEO da companhia estimou que as vendas da
empresa relacionadas à IA devem atingir a marca dos US$ 3,5 bilhões. Entretanto,
todo o mercado já tem mais de US$ 5 bilhões em mente. As surpresas, se
confirmadas, puxarão as ações da empresa mais para cima.
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Carta do Gestor
Software
Salesforce - 13%
A Salesforce é um dos casos que mais deve se aproveitar do avanço das ferramentas
de Inteligência Artificial. Líder absoluta do seu mercado de atuação, a companhia
chamou atenção nos resultados do 3T24 após emplacar fortes ganhos operacionais
em praticamente todas as linhas de produto.
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Carta do Gestor
Oracle - 2%
Por ora, me parece que essa história demorará um pouco mais de tempo para
maturar. Vamos acompanhar de perto os resultados que serão divulgados em março.
Uma eventual frustração pode deflagrar uma mudança na visão sobre a empresa.
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Carta do Gestor
Cybersecurity
Até aqui, só contamos o lado positivo da inteligência artificial. Seu uso, entretanto,
também pode ser encarado como perigoso, especialmente no que tange a segurança
cibernética. Os malwares mais sofisticados, por exemplo, utilizam os mecanismos de
IA para ajustar em tempo real seus códigos ou mudar o seu comportamento para
evitar a detecção. Para detectar esses tipos de ataque, as companhias têm aplicado
a ferramenta às suas tecnologias, para tornar as linhas de defesa mais preditivas,
por meio da análise de padrões e comportamentos na rede, além de acelerar a
resposta de atendimento a eventuais ameaças.
Crowdstrike - 1%
As ações da Crowdstrike andaram com força após a divulgação dos seus últimos
resultados trimestrais. O vetor de crescimento da companhia continua apontando
para cima (+30%) e a receita líquida no último trimestre alcançou a marca dos US$
786 milhões. As assinaturas anuais superaram a marca dos US$ 3 bilhões, reforçando
o sentimento positivo para o restante do ano. Esse é um negócio que deve continuar
crescendo a uma taxa elevada, sem muitos sobressaltos, dada a característica do
produto descorrelacionado de efeitos sazonais. O efeito da escalabilidade ficará
bastante evidente ao longo dos próximos trimestres. Paulatinamente, a companhia
vem melhorando a geração de caixa e as margens operacionais. Apesar do valuation
elevado, não o vejo como impeditivo.
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Carta do Gestor
Gráfico 9 - CRWD: Preço da Ação e Evolução do Fluxo de caixa operacional. Fonte: Koyfin
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Carta do Gestor
Biotech
O setor de Biotecnologia tem sido um dos destaques do ano. A Eli Lilly em conjunto
com a Novo Nordisk têm chamado a atenção, impulsionadas pelas notícias ligadas
aos produtos voltados para tratamento de diabetes e emagrecimento (Mounjaro e
Zepbound, no caso da Lily, e o Ozempic e Wegovy, no caso da Novo). As ações da
primeira avançam mais de 20% no ano, enquanto a segunda sobe 14%. Em termos de
valor de mercado, as líderes globais e pioneiras no tratamento da diabetes — suas
histórias no segmento remetem a quase um século —, superaram a marca dos US$
500 bilhões ao longo de 2023, devido ao alto potencial de retorno proveniente da
massificação do uso dos medicamentos para emagrecimento.
Vertex Pharmaceuticals - 2%
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Carta do Gestor
empresa conta com cerca de US$ 13,8 bilhões em caixa, suficientes para a empresa
continuar com suas pesquisas. As projeções para 2024 indicam crescimento, devido
especialmente ao início da comercialização do CASGEVY. Algumas estimativas
apontam para um mercado potencial de US$ 75 bilhões para a linha, provenientes
das estimativas de 35 mil pacientes e um preço estimado de US$ 2,2 milhões por
tratamento. Atualmente, o valor de mercado da Vertex supera os US$ 109 bilhões.
AbbVie - 2%
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Carta do Gestor
Eli Lilly - 2%
Certamente, o avanço desses medicamentos será crucial para a empresa. Para isso,
a Lilly apresentou projetos de expansão da capacidade produtiva, além das
iniciativas para aprová-los em outras jurisdições. O desenvolvimento de outras
frentes de tratamento, como o Alzheimer, por exemplo, continua avançando.
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Carta do Gestor
Ásia
BYD - 2%
A BYD tem demonstrado forte crescimento ao longo dos últimos anos. A montadora
chinesa possui hoje uma posição dominante no mercado chinês, com 36% do
mercado, e vem expandindo fortemente suas operações em outras regiões.
Atualmente, seus veículos estão disponíveis para vendas em 54 países. Os planos de
expansão continuam a todo vapor e, de acordo com seu plano estratégico, a
empresa deve abrir 50 revendas no México e fábricas aqui no Brasil.
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Carta do Gestor
Nintendo - 2%
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Carta do Gestor
Brasil
Mercado Livre - 2%
Todos eles acabaram por ampliar sua oferta de serviços. Neste sentido, tanto a
Magazine Luiza (MGLU3) e Mercado Livre (MELI34) saíram na frente e montaram
estruturas para atender o lado financeiro dos usuários da sua plataforma (clientes
finais e sellers) e, também, para melhorar o nível de serviço sob a ótica de logística.
Rapidamente, ambas se destacaram, e as demais companhias do setor começaram
a ter dificuldade para acompanhar o avanço da dupla. Entretanto, o biênio 2021-22
trouxe surpresas.
A primeira delas veio da ressaca do final do ano de 2021. Sem fôlego, as famílias
restringiram fortemente o orçamento e acabaram por reduzir o consumo de bens de
consumo. Os duráveis foram bastante afetados, machucando principalmente as
operações de 1P e as empresas que possuíam lojas próprias. A dinâmica da retomada
para cima da Selic também machucou as empresas nacionais, que passaram a se
financiar por meio de taxas bem mais elevadas. A restrição do crédito às pessoas
físicas, provocada pelo aumento da inadimplência e pelo aumento do custo, também
40
Carta do Gestor
Mas antes de entrar em mais detalhes sobre os números da empresa, vamos olhá-la
sobre a ótica das sete forças de Helmer – veja o Diário de Bordo do dia 07.11.2023
(link aqui).
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Carta do Gestor
1. Economias de escala: O Mercado Livre tem uma grande escala de operações, com
forte presença em três países relevantes da América Latina (Brasil, México e
Argentina). Essa escala permite à empresa diluir seus custos fixos por um número
maior de transações, reduzindo seu custo por transação. Isto permitiu um avanço
considerável do nível de serviço, e criou uma barreira de entrada significativa para
possíveis concorrentes — com exceção da Amazon, cujo caixa é “infinito”, as demais
entrantes precisaram retrair suas operações para sobreviver no mercado brasileiro.
2. Economias de rede: O Mercado Livre tem uma grande e crescente rede de clientes
e sellers. O efeito de rede cria um ciclo virtuoso em que mais clientes atraem mais
vendedores para a plataforma, que por sua vez, atraem mais compradores.
Abandonar essa rede significa abrir mão de uma excelente plataforma e deixar de
alcançar o público consumidor.
4. Marca: O Mercado Livre tem uma marca forte na América Latina, associada à
confiança e confiabilidade. O poder da marca é algo que requer tempo para ser
construído e que retroalimenta o impulso do negócio.
6. Poder de processo: O Mercado Livre tem um forte poder de processo devido à sua
experiência em gerenciar uma grande e crescente rede de compradores e
vendedores. Essa vantagem de processo permite que a empresa forneça uma
melhor experiência do usuário e reduza custos operacionais. Um exemplo claro, diz
respeito ao avanço da estrutura logística, um dos principais alicerces do bom serviço
prestado.
42
Carta do Gestor
7. Ativos intangíveis: O Mercado Livre tem vários ativos intangíveis, incluindo sua
reputação, marca e efeito de rede. Esses ativos intangíveis podem ser uma barreira
significativa à entrada para possíveis concorrentes.
43
Carta do Gestor
A estruturação da logística foi um dos pilares que colocou o Mercado Livre na posição
de liderança do setor. Os números mostram claramente que esta foi uma decisão
bastante acertada. Ao longo do 3T23, foram mais de 350 milhões de produtos
enviados (27% na comparação ano contra ano), sendo que 54% dos envios ocorreram
no prazo de até um dia. Na América Latina, 80% dos pedidos foram entregues em até
48 horas. A evolução dessa linha nos últimos trimestres é invejável — veja o gráfico a
seguir.
Gráfico 11 - Desempenho da Logística do Mercado Livre ao longo dos últimos trimestres. Fonte: MELI
Nas linhas do balanço, há bastante robustez. A companhia contava com US$ 5,4
bilhões em seu caixa e um caixa líquido de US$ 244 milhões. Nos últimos 12 meses, a
companhia registrou um Ebitda de US$ 2,44 bilhões e um Lucro líquido na casa dos
US$ 987 milhões. Vale mencionar a facilidade pela qual a companhia consegue
captar recursos no mercado secundário norte-americano, o que lhe dá poder de
fogo caso seja necessário.
44
Carta do Gestor
Por fim, vale mencionar uma das respostas obtidas na reunião com o management
sobre competição: “a única empresa que nos traz preocupação é a Amazon”. De fato,
a gigante americana vem avançando suas operações tanto no Brasil quanto no
México, e é a única capaz de competir de igual para igual, pelo menos sob a ótica da
capacidade de financiamento e do avanço da base de sellers. Com a deterioração
das operações da Americanas, a Amazon abocanhou uma boa fatia do 3P e
conseguiu se firmar no país. A abertura dos dados pela empresa liderada por Andy
Jassy é pequena, mas a pesquisa de campo mostra que houve avanços significativos
e nos próximos anos, muito provavelmente, a empresa se tornará a segunda do setor.
O único “porém” ligado ao investimento nas ações do Mercado Livre (MELI34) diz
respeito ao seu valuation. Negociada por mais de 53 vezes seus lucros projetados
para 2024, não dá para dizer que se trata de uma companhia barata. Entretanto,
parece que o lado qualitativo nestes casos de crescimento são mais relevantes na
escolha dos investidores. E minha impressão é que dificilmente este prêmio frente aos
pares deixará de existir…
45
Carta do Gestor
46
Carta do Gestor
Aqui na carteira do Tech Select, vamos procurar antever esses passos evolutivos e
alocar os recursos para se obter retornos fora da média. A revolução do mundo da
tecnologia só está começando. Como sempre.
Forte abraço,
47
Carta do Gestor
Disclaimer
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