Sua preocupação principal era com a construção social dos significados que ordenam a
experiência humana, rejeitando a tradição estruturalista que buscava alcançar os
"universais" da cultura humana. A etnografia, inscrita num saber necessariamente local, possibilita - e exige - a comparação com outras experiências particulares, dessa forma enriquecendo a compreensão. A interpretação, nessa perspectiva, é o resultado sempre inacabado de uma dialética contínua entre o menor dos detalhes e a mais global das estruturas. A cultura se situa como um sistema simbólico: sistemas entrelaçados de signos interpretáveis, padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas e expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida. A perspectiva iluminista do homem era, que ele constituía uma só peça com a natureza, com sua uniformidade geral, conforme os pensamentos de Bacon e Newton, concebendo a natureza humana organizada, invariante e simples, uma natureza imutável. O conceito de cultura surge ao se depararem que o que queriam retirar do homem, esses disfarces, na verdade são inseparáveis dele, é o que ele é, onde está, no que acredita. Declínio da perspectiva uniforme do homem, não existe homens não modificados pela cultura. Traçar a linha do que é natural, universal e constante no homem é falsificar a situação humana. Abandonar essa visão uniforme do homem é também compreender que a humanidade é tão variada em sua essência como em sua expressão. A Antropologia tem realizado a tentativa de encontrar um caminho para um conceito mais viável de homem, onde a cultura e a variabilidade cultural sejam mais levadas em conta. As tentativas de localizar o homem, caíram em uma única estratégia intelectual, a “estratificação”. As relações entre os fatores: biológico, psicológico, social e cultural na vida humana. O homem, visto como um animal hierarquicamente estratificado, um depósito evolutivo, cuja definição em cada nível, tinha um lugar designado e incontestável. Meu ponto de vista, que deve ser claro e, espero, logo se tornará ainda mais claro não é que não existam generalizações que possam ser feitas sobre o homem como homem, além da que ele é um animal muito variado, ou de que o estudo da cultura nada tem a contribuir para a descoberta de tais generalizações. E para consegui-lo com bom resultado precisamos substituir a concepção “estratigráfica” das relações entre os vários aspectos da existência humana por uma sintética (sucinta), isto é, qual os fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais possam ser tratados como variáveis dentro dos sistemas unitários de análise. Também não é o caso de impor um único conjunto de categorias sobre a área como um todo. É uma questão de integrar diferentes tipos de teorias e conceitos de tal forma que se possa formular proposições significativas incorporando descobertas que hoje estão separadas em áreas estanques de estudo. Para esta visão integradora do homem, Geertz propõe duas ideias: a) cultura como conjunto de mecanismos de controle; b) a necessidade deste controle para ordenar seus comportamentos. Padrões culturais são sistemas organizados de símbolos significantes. A cultura, a totalidade acumulada de tais padrões, não é apenas um ornamento da existência humana, mas uma condição essencial para ela — a principal base de sua especificidade. Os homens sem cultura seriam monstruosidades incontroláveis, com poucos instintos úteis, sem sentimentos reconhecíveis e nenhum intelecto, somos incapazes de organizar nossa existência sem cultura. Três desses avanços são de importância relevante: (1) o descartar de uma perspectiva sequencial das relações entre a evolução física e o desenvolvimento cultural do homem em favor de uma superposição ou uma perspectiva interativa; (2) a descoberta de que a maior parte das mudanças biológicas que produziram o homem moderno, a partir de seus progenitores mais imediatos ocorreu no sistema nervoso central, e especialmente no cérebro; (3) a compreensão de que o homem é, em termos físicos, um animal incompleto, inacabado; o que o distingue mais graficamente dos não homens menos sua simples habilidade de aprender (não importa quão grande seja ele) do que quanto e que espécie particular de coisas ele tem que aprender antes de poder funcionar. Evolução do homo sapiens, a cultura, em vez de ser acrescentada, por assim dizer, a um animal acabado ou virtualmente acabado, foi um ingrediente, e um ingrediente essencial, na produção desse mesmo animal. Entre o padrão cultural, o corpo e o cérebro foi criado um sistema de realimentação (feedback) positiva, no qual cada um modelava o progresso do outro, um sistema no qual a interação entre o uso crescente das ferramentas, a mudança da anatomia da mão e a representação expandida do polegar no córtex é apenas um dos exemplos mais gráficos. Submetendo-se ao governo de programas simbolicamente mediados para a produção de artefatos, organizando a vida social ou expressando emoções, o homem determinou, embora inconscientemente, os estágios culminantes do seu próprio destino biológico. Literalmente, embora inadvertidamente, ele próprio se criou. Como nosso sistema nervoso central — e principalmente a maldição e glória que o coroam, o neocórtex — cresceu, em sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos significantes. O conceito de cultura tem impacto sobre o conceito de homem quando visto como um conjunto de mecanismos simbólicos para o controle do comportamento, ela fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que realmente eles se tornam, um por um. Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção de padrões culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção ás nossas vidas. Assim como a cultura nos modelou como espécie única — e sem dúvida ainda nos está modelando — assim também ela nos modela como indivíduos separados. É isso o que temos realmente em comum — nem ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido.