EDIÇÃO ESPECIAL • TEMAS DE PSICOLOGIA • NOVEMBRO 2023

PSIQUE E PRÁXIS
A SUA REVISTA DIGITAL DE PSICOLOGIA JUNGUIANA

Jung e a Psicoterapia:
Diálogos e Práticas na
Abordagem Analítica
Psicólogas Junguianas As conquistas de Uma forma de estar
falam sobre segurança através da sempre atualizada

O COTIANO CLÍNICO SUPERVISÃO CLUBE PRÁXIS

INSTITUTO PRÁXIS ANALÍTICA

O Instituto Práxis Analítica, fundado no dia 31 de maio de 2022, é um centro
comprometido com o desenvolvimento profissional dos Psicólogos na
abordagem da Psicologia Junguiana. Nosso foco principal é oferecer um espaço
exclusivo para psicólogos que utilizam essa abordagem teórica na sua prática
clínica, oferecendo cursos de desenvolvimento e aprimoramento clínico que
enriquecem suas práticas e os mantêm atualizados na aplicação da Psicologia
Junguiana.

Com uma experiência profissional de 17 anos na abordagem da Psicologia

Junguiana, Marisa Gaspar é diretora geral e psicóloga responsável pelo
Instituto Práxis Analítica. Em sua trajetória profissional é reconhecida como
membro Analista Junguiana Didata da AJB/IJRJ/IAAP e se destaca como
supervisora, psicóloga clínica atuante, criadora de cursos no Instituto Práxis
Analítica, além de exercer funções como professora e palestrante.

O compromisso do Instituto Práxis Analítica ultrapassa a prática clínica;

representa uma oportunidade de crescimento e aprimoramento para os
Psicólogos, mantendo um padrão de excelência e respeito aos princípios éticos
mais elevados na psicologia. Seu projeto principal, além dos cursos de
aperfeiçoamento, tem sido o acompanhamento e o desenvolvimento
profissional de Psicólogos Junguianos através do Programa de Supervisão
Clínica.

Além disso, o Instituto mantém o comprometimento com a Atenção Psicológica

e tem a missão de levar a Psicoterapia Junguiana, as pessoas que nos buscam,
por meio do atendimento psicológico online, garantindo qualidade, ética e
segurança em todos os serviços oferecidos.

Conheça o Instituto Práxis Analítica no site www.praxisanalitica.com

Marisa Gaspar
Diretora/ Psicóloga responsável
 ÍNDICE
MARISA GASPAR
A MENINA SENSÍVEL QUE TORNOU-SE
DIRETORA FUNDADORA DO INSTITUTO
PRÁXIS ANALÍTICA / PÁG 04

Seu caminho para

a excelência:
Supervisão Práxis
Premium para
Psicólogas
Junguianas
por Marisa Gaspar / pág 17

ARTIGOS
09 QUANDO A ALMA ANSEIA POR
PROFUNDIDADE

11 O CAMPO TRANSFERENCIAL NA CLÍNICA

JUNGUINANA

13 TEMPO PARA ALMA

15 CONFIANÇA E COMPETÊNCIA

19 TERAPIA COM UM SEM-TETO:

LIÇÕES E DESAFIOS

21 DA COMUNICAÇÃO AO INCONSCIENTE

23 ALÉM DAS PALAVRAS

Clube Práxis: A Psicologia
27 DO TRAUMA PRECOCE À
AUTOACEITAÇÃO
Junguiana na prática
por Marisa Gaspar/ pág 25
29 SUPERVISÃO E SUPERAÇÃO | VIVIANE
OLIVEIRA

31 DECISÕES CORAJOSAS | STELLA

CARVALHO

PSIQUE E PRÁXIS | Novembro 2023

MARISA GASPAR
A menina sensível que tornou-se diretora
fundadora do Instituto Práxis Analítica
Quando eu era criança os adultos me rotulavam como uma menina tímida,
mas o que eles não sabiam é que, na verdade, eu era uma menina
observadora, atenta e sensível a tudo que acontecia ao meu redor.

Desde muito cedo eu

conseguia captar os
sentimentos das pessoas e
perceber o clima do
ambiente sem esforço, mas
naquela época eu evitava
compartilhar essa
informação para não ser
mal compreendida.

À medida que comecei

minha jornada escolar,
minhas habilidades
matemáticas foram logo
percebidas e destacadas
pelos professores, e assim
permaneci apresentando
destaque nessa área até o
fim do ensino médio. E é
claro, com tantas
habilidades assim cursei a
faculdade de matemática.
Após a formatura, entrei
Marisa Gaspar
Psicóloga e Analista Junguiana pela AJB/IAAP imediatamente no mercado
CRP 05/33597
@marisagasparpsi - www.praxisanalitica.com de trabalho, conquistando

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 04

uma posição como professora de
matemática concursada pela
Prefeitura do RJ. Sim, quero que você
saiba, sou uma professora de
matemática.
Mas o que aconteceu com aquela
menina sensível? Essa sensibilidade
sempre me acompanhou, e continua a
me acompanhar até hoje, e influenciou
cada passo na direção de uma carreira
que me completaria. Após anos de
trabalho alcancei a estabilidade
financeira e profissional como
professora, tomei então a decisão de
me tornar uma psicóloga. Cursei cinco
anos de Psicologia com a certeza de
que estava no caminho certo. Descobri
que eu sempre apresentei um
interesse profundo em compreender
as pessoas, seus sentimentos e
comportamentos, especialmente seus
relacionamentos. Com essa motivação,
embarquei em uma nova jornada,
mergulhando profundamente no
fascinante universo da alma.
Descobri que eu sempre
apresentei um interesse
profundo em compreender as
pessoas, seus sentimentos e
comportamentos, especialmente
seus relacionamentos.
EDIÇÃO 01
Durante a graduação, tive a
oportunidade de me familiarizar com
a psicologia junguiana e meu estágio
supervisionado foi realizado dentro
dessa abordagem. Sei que muitos
psicólogos que escolheram a
abordagem junguiana não tiveram
esse privilégio. Então, devido a esta
experiência desde o início da minha
carreira, decidi seguir a abordagem
junguiana na minha clínica. Logo
após concluir minha graduação em
julho/2006, comecei a atender
pacientes em meu próprio
consultório. Contudo, ainda
mantendo minha posição como
professora, usei meu salário para
alugar uma sala. O início foi difícil,
com poucos pacientes e despesas a
serem cobertas. Depois de três
meses nessa condição, o primeiro de
muitos pacientes chegou ao meu
consultório. No entanto fiquei com
apenas um paciente por muito
tempo, a jornada ainda estava
apenas começando.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS -5
Em 2007, iniciei minha pós-graduação
em Psicologia Junguiana, pois estava
ansiosa por aprofundar meus
conhecimentos e atender mais
pacientes, meu sonho era ter a agenda
lotada. Em 2009 eu terminei a pós-
graduação e colecionava vários livros
lidos, já tinha escrito diversos
trabalhos, mas ainda não conseguia
integrar plenamente a teoria com a
prática clínica. Investi em supervisão
desde o primeiro dia de prática
profissional, mantive minha própria
análise em andamento, mas a
confiança na prática clínica ainda era
um desafio. Eu me sentia insegura e
frequentemente enfrentava casos
complexos que me deixavam sem
saber por onde começar.
Em 2011, percebi a necessidade de
aprimorar meus conhecimentos e
decidir iniciar a formação de analistas
junguianos. Finalmente, eu acreditei
que seria capaz de integrar teoria e
prática clínica de forma eficaz. Estudei
incansavelmente, me dediquei e, em
2014, concluí os quatro anos de
seminários obrigatórios. Agora,
restavam-me três anos para finalizar a
apresentação de um caso clínico
complexo, quase como uma
dissertação de mestrado, e depois
escrever a monografia, que era o
equivalente a outra dissertação. Ufa!
EDIÇÃO 01
Mas algo começou a acontecer
comigo e que era perceptível
externamente, pois internamente já
havia acontecido e eu não tinha
percebido.
No entanto, a vida me surpreendeu
e, após uma doença súbita, fiquei
impedida de continuar meus estudos
por três anos, lutando para recuperar
minha saúde e estabilidade.
Retornei com força total em 2019.
Conclui a defesa de caso clínico no
mês de novembro deste mesmo ano
e agora só faltava finalizar com a
monografia. Mas algo começou a
acontecer comigo e que era
perceptível externamente, pois
internamente já havia acontecido e
eu não tinha percebido. Comecei a
levar para o meu supervisor um
determinado caso clínico que atendi
por 11 anos. Havia chegado à
conclusão, que a partir daquele caso
tão longo, eu havia descoberto o
funcionamento da dinâmica psíquica
do narcisismo. Em meus estudos
cheguei a conclusão de que a
dinâmica narcísica era uma
consequência direta do trauma
precoce e eu queria escrever sobre
isso. No primeiro momento meu
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 06
supervisor me apresentou uma
negativa sobre esse meu pensamento
e me sugeriu falar de outro tema. Mas
aquilo não fazia sentido, e
inconformada busquei o maior
analista junguiano no conhecimento
do trauma, Donald Kalsched e ele me
respondeu afirmando que sim, que eu
estava certa. Ali tudo mudou!

Hoje, como diretora fundadora do

Fiz a minha monografia que recebeu o
Instituto Práxis Analítica, estou
título de “O trauma precoce e a sua
comprometida em compartilhar meu
importância para a psicopatologia
conhecimento e experiência com outros
junguiana”. Concluí com louvor em
profissionais, capacitando-os a fazer a
agosto de 2020, em plena pandemia.
diferença na vida de inúmeras pessoas
Ao terminar fiquei pensando sobre a
que buscam ajuda para superar suas
importância do trabalho com relação a
dores e traumas.
compreensão e o tratamento das
sequelas do trauma precoce. Foi aí que trabalho clínico na abordagem
comecei a pensar, como vou fazer para junguiana e minha jornada tem sido
atender mais pacientes que vivem marcada por desafios, superações e
estas sequelas traumáticas? Pensei uma paixão inabalável pela
muito e cheguei à conclusão de que o compreensão da mente humana.
ideal seria preparar as psicólogas Hoje, como diretora fundadora do
Junguianas para compreenderem o Instituto Práxis Analítica, estou
funcionamento da dinâmica psíquica comprometida em compartilhar
tanto no seu padrão saudável quanto meu conhecimento e experiência
no seu padrão de adoecimento. Assim com outros profissionais,
elas poderiam cuidar melhor dos capacitando-os a fazer a diferença
pacientes. A lógica era, quanto mais na vida de inúmeras pessoas que
psicólogas preparadas, mais pacientes buscam ajuda para superar suas
beneficiados. Foi assim que surgiu o dores e traumas. A minha jornada
Programa de Supervisão, mas essa é continua, e estou ansiosacom o que
outra história, uma história que está o futuro me reserva, enquanto
apenas começando. continuo a trilhar o caminho da
psicologia junguiana e da cura das
Atualmente tenho 17 anos de almas.
EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 07
QUANDO A ALMA
ANSEIA POR
PROFUNDIDADE
Conflitos nas abordagens
terapêuticas

Eu já era desde criança muito

filosófica, lembro-me que ficava
sentada debaixo da mesa da
cozinha aos seis anos questionando
o sentido da vida! Ali, nascia uma
psi! Observar e analisar era algo
inato! Aline Koller
Psicóloga Junguiana
Planejei os caminhos de minha CRP: 06/119154
formação, passo a passo, na @alinekollerpsi
alinekollerpsicologa.com.br
adolescência já conhecia o tal do
Jung e me encantei com sua visão! parecia muito eficiente nas
Na faculdade tive somente uma compulsões, porém sentia falta de
apresentação do que foram suas mais profundidade na alma
ideias, mas a dependência química humana! Afinal, se não trabalhamos
já era uma área familiar e acabei me na profundidade as compulsões são
aprofundando na terapia cognitiva transferidas para outras áreas.
comportamental como ferramenta,
inclusive participando de um Não tem jeito, chega um momento
capítulo do livro organizado por em que as abordagens entre elas
Neide Zanelatto e Ronaldo conflitam! Eu acreditava que
Laranjeira sobre O tratamento da poderia usar a TCC como
dependência química e as terapias ferramenta e Jung como base
cognitivos comportamentais e teórica, mas a Marisa me mostrou
ainda graduava meu último ano de que para um processo terapêutico
formação com a criação de um ter um resultado mais preciso, era
grupo Terapêutico para mães de necessário escolher um caminho
dependentes químicos. somente.

Confesso que trabalhar com a TCC Minha alma sentia falta de organizar
EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 09
clinicamente o processo
analítico, que é de fato muito
complexo! Me aprofundar no
nosso bom e sábio velhinho
Jung não era o suficiente, era
necessário técnica e a
planejamento! Marisa me
ensinou a definitivamente usar
Jung na prática! Fiz a formação
logo após a faculdade me
especializando na psicoterapia
Junguiana e nunca mais larguei
esse vasto Universo, porém o
que ninguém ensina em
especializações é de fato essa
prática clínica que a Marisa
ensina de forma muito didática
e extremamente cuidadosa!
Ao trabalhar na supervisão com
a Marisa, percebi que ainda
possuía alguns vícios de
pensamentos cognitivos
comportamentais e isso foi difícil
de abandonar, pois tinha minha
mente bem aberta para as
abordagens da psicologia, mas
quando escolhemos realizar um
protocolo de tratamento a
seguir, precisamos escolher qual
ciência seguir do começo, meio
e fim do mesmo.
Marisa me ensinou sair de cima
do muro e abraçar Jung em sua
Totalidade! Na verdade, ela me
fez ver que o que faltava era
orientação de como seguir entre
a teoria vasta e complexa de
EDIÇÃO 01
Jung, com a alma subjetiva de cada
paciente, num passo a passo a seguir,
de forma simples e prática.
A gratidão é imensa por isso e por toda
Luz que oferece com seus
conhecimentos e carinho!
Todas as abordagens são maravilhosas,
e cada um se identificará com uma ou
outra, haverá conflitos, pois isso faz
parte da nossa trajetória profissional,
mas escolher um caminho é
imprescindível para o nosso processo
como profissional e melhor qualidade
no tratamento do paciente.
Não caminhamos sozinhos, precisamos
sempre manter nosso processo em dia,
pois como dizia nosso bom velhinho: Só
caminhamos com nosso paciente até
onde caminhamos na nossa própria
jornada! Mas uma boa supervisão é
imprescindível para o nosso caminhar
profissional!
Ter esse lugar de acolhimento e trocas,
deixa nosso coração mais tranquilo e
quentinho…
Aprender sempre, como uma eterna
criança em sua curiosidade e trocar
conhecimentos e angústias em grupo
bem direcionado é realmente muito
valioso!
Hoje sigo mais confiante e realizada
profissionalmente, com a certeza que
ofereço o melhor aos meus pacientes!
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 10

Ainda na Faculdade de Psicologia, eu
me via às voltas com os conceitos de
transferência e contratransferência.
Por mais que estudasse, ficava só na
teoria.
Ouvíamos falar que para Jung a
transferência não era tão importante,
porque era um fenômeno que
acontecia o tempo todo nas relações.
Diante disso, entendi que não
precisaria desse conhecimento para
ser psicóloga junguiana. Doce ilusão.
“Quando comecei o Programa de
Supervisão do Instituto Práxis
Analítica, percebi meu engano.”
Quando comecei o Programa de
Supervisão do Instituto Práxis
Analítica, percebi meu engano. Aquele
EDIÇÃO 01
O CAMPO
TRANSFERENCIAL
NA CLÍNICA
JUNGUIANA
Onde as almas se
encontram
por Gina Petraglia
Psicóloga Junguiana
CRP: 06/140311 | @petragliagina
conceito que tinha deixado de lado
por não conseguir compreender
tornou-se fundamental. Senti que
precisava juntar a prática à teoria
dentro de mim mesma. Tentava me
observar naquele fenômeno –
transferência. Como se dava? Qual o
movimento dos pacientes para
comigo? O que eles falavam? O que
eles calavam? Como eu poderia
saber/sentir se aquilo era uma
transferência? Ao mesmo tempo
intensifiquei os estudos, pois
necessitava da teoria para me
embasar. Ainda com a sensação de
fragilidade nesse conhecimento,
lentamente comecei a detectar as
transferências até mesmo no olhar
de certos pacientes, e fui me
tornando mais ou menos segura.
Aí veio o outro lado – a
contratransferência. Se eu não tinha
domínio sobre o que era a
transferência, acho que posso dizer
que tinha até medo de pensar sobre
a contratransferência. Afinal, são
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 11
tantas coisas que precisamos nos
dedicar durante o atendimento que
manter uma observação de mim
mesma parecia demasiado.
Ao entrar em contato com outros
termos como participation mystique,
inconsciente somático, vaso alquímico, o
campo transferencial começou a se abrir
pra mim. Fui unindo esses conceitos a
como me percebia durante as sessões.
Com o exercício que fazemos na
supervisão de observação do nosso
corpo, passei a me conhecer mais e a
perceber que alguma coisa que eu não
sabia explicar acontecia ali naquele
campo. Eu sabia identificar se era no
corpo, se era um sentimento, um
sintoma, um mal-estar vago. Porém, fui
pega de surpresa em um atendimento
com um fenômeno que não sei dar
nome.
“Fazia um atendimento online e só
via o rosto da minha paciente.”
Fazia um atendimento online e só via o
rosto da minha paciente. Uma imagem
se instalou à frente da tela do meu
celular e começou a se alternar com o
rosto dela. Parecia que tinha vida
própria, pois ficava tentando se justapor
ao rosto da paciente, como que numa
tentativa de se encaixar. A imagem era
do rosto de Vênus na famosa obra de
Botticelli denominada Nascimento de
Vênus. A partir daí obtive informações
para aprofundar e discutir em
supervisão, que ajudaram muito a
EDIÇÃO 01
ampliar a minha compreensão do
caso.
Analogamente, o mesmo fenômeno
se deu em mais um atendimento, em
que vi os olhos da boneca Emília do
Sítio do Pica-Pau Amarelo, adquirindo
também uma oportunidade de
compreensão do mundo interno de
outra paciente.
Não sei se é contratransferência, nem
sei provocar isso intencionalmente.
Isso simplesmente acontece no
campo psíquico. Essas imagens
foram captadas como fotografias,
através da auto-observação do que eu
chamei de um “lugar entre”, a partir
de um estado de atenção flutuante.
Embora Jung não tenha enfatizado a
transferência assim como na
Psicanálise, ele entendeu, sem
sombra de dúvidas, o lugar onde as
psiques se encontram.
Este é um exemplo de como vem se
dando o encontro da teoria com a
prática clínica junguiana na minha
jornada profissional.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 12
 TEMPO PARA
ALMA
O papel da análise
na vida da mulher
Na minha prática clínica na
abordagem analítica junguiana ao
longo desses anos, tenho ouvido
queixas das mulheres com diversas
demandas que são muitas vezes
impostas pelo coletivo. Questões
que são comentadas e vivenciadas
em diversos ambientes e lugares.

São temas comuns a todos os

indivíduos na fase adulta, no
entanto, alguns deles ao se tratar do
feminino tem um peso maior. Peso
Andrea Reinert Dantas de Souza
Psicóloga Junguiana
este imposto pela própria mulher e
CRP 12/10148 | @andrea_reinert
muitas vezes pelo social.

Quem nunca ouviu uma mulher que aumentam a angústia e a carga

comentando que está de dieta, ou desse universo feminino.
precisa perder uns quilos, e não está
satisfeita com sua imagem corporal, Outras questões que envolvem o
pois precisa estudar, trocar de feminino referem-se às práticas
emprego, ganhar mais, cuidar dos domésticas e cuidados com os
filhos, da saúde, cuidar dos pais, filhos, com o seguinte discurso: “Isso
etc..... É questionada também se é tarefa da mulher”.
está sozinha ou se tem
relacionamento, se o Ao longo da história, ouvimos sobre
relacionamento é bom, se tem filhos as mudanças e conquistas sociais e
ou quer ter.… são inúmeras as culturais que aconteceram na vida
exigências que a sociedade cobra e da mulher após a sua entrada no

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 13

mundo corporativo. Muitas mulheres
relatam que essas mudanças
trouxeram outras exigências que
acabaram causando uma sobrecarga
de trabalho. Isso acontece na maioria
dos casos, porque elas incorporaram
e acumularam outras funções na sua
rotina.
Com o tempo, percebo que essas
demandas causam culpa e prejuízos
difíceis de ser interiorizados e
vivenciados sem angústias e que tal processo de superação dure a
sofrimento.
Todas essas questões prejudicam o
desenvolvimento da mulher e as
experiências vividas ativam, muitas
vezes, um medo do feminino. O
medo de viver, as crises de pessoas
adultas frequentemente estão
relacionadas com a falta de sentido,
medo de estar desperdiçando a vida
e que não viveram e o que tem que
ser vivido.
Conforme Erich Neumann no seu
livro, O medo do feminino (2000), um
analista junguiano nos traz
contribuições importantes. Ele nos
diz que:
“Esse desenvolvimento do medo do
feminino tem início na relação
primal mãe/filha. O sentimento
básico de segurança é experienciado
nesta fase.”
EDIÇÃO 01
“Nos estágios de desenvolvimento o
indivíduo tem que superar o medo a
cada transição de uma fase para
outra. O medo somente desaparece
quando o ego chega no estágio da
conquista do medo, no qual o senso
de segurança do ser humano reside
em existir não somente como ego,
mas de uma maneira misteriosa e
numinosa”.
Levando isso em consideração, penso
vida toda, o que Jung chamou de
processo de individuação. É a
tentativa de equilíbrio diante as
exigências dos mundos externo e
interno que, constantemente
precisam ser recalibrados e
ressignificados.
Sendo assim, como nos diz Verena
Kast: “A alma precisa de tempo”.
Tempo para respirar, para viver e
desfrutar das nossas experiências,
sendo elas negativas ou positivas.
Neste caminho de autoconhecimento,
estar num processo de análise
contribui muito para o processo de
individuação.
Por fim, quando essas mulheres
chegam ao nosso consultório
necessitam de uma escuta acolhedora
e diferenciada para que permitam um
novo caminho de vida.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 14
 Confiança e
Competência
A Revolução na Prática
Clínica de Anna Martins

Anna Martins é uma psicóloga que

trilhou um caminho de crescimento e
desenvolvimento na área da
psicologia, especificamente na
abordagem Junguiana. Sua jornada
começou na faculdade, onde realizou
o SPA em uma abordagem Anna Martins
psicodinâmica integrativa, embora Psicóloga Junguiana
tenha sido uma prática eficaz de curta CRP: 05/51806
duração. No entanto, sua verdadeira albmpsicologa@gmail.com
paixão por Jung e sua abordagem
psicológica surgiu durante o mestrado Com o objetivo de aprimorar sua prática
em Psicologia Social, quando ela clínica e sua compreensão da
começou a explorar a profunda psicodinâmica dos pacientes, Anna
conexão entre os aspectos clínico- decidiu participar de um programa de
individuais e os aspectos sociais da supervisão continuada na prática clínica,
psicologia das massas, tal qual em busca de orientação e
explorado e discutido por Jung em sua desenvolvimento profissional. Ela
obra. também almejava expandir sua clínica,
cobrar honorários mais justos e atender
A partir desse momento, Anna se um número maior de pacientes.
dedicou ao estudo da Psicologia
Analítica de Jung, atualizando a Anna, no entanto, encontrou desafios
riqueza e a complexidade do em sua jornada. A falta de segurança em
pensamento junguiano. Ela decidiu sua capacidade e em seu repertório era
aprofundar seus conhecimentos e se uma barreira que a impedia de se sentir
matriculou em uma formação em confiante em sua prática clínica e de
Psicologia Analítica pelo Instituto alcançar seu pleno potencial
Dédalus em 2021. No entanto, Anna se profissional. Apesar desses obstáculos,
via como uma iniciante nesse vasto ela estava comprometida em superá-los
campo e ansiava por mais e se tornar uma psicóloga mais segura e
conhecimento e segurança. habilidosa.

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 15

Anna conheceu a psicóloga Marisa
Gaspar, uma supervisora ​experiente
que acreditava em seu potencial. Sob
a orientação de Marisa, Anna começou
a evoluir significativamente em sua
prática clínica. Ela aprendeu a
aprimorar sua escuta clínica, a lidar
com o silêncio nas sessões e a usar
técnicas verbais para ajudar no
desenvolvimento da psique de seus
pacientes. Além disso, ela passou a
compreender de forma mais
substancial as implicações do trauma
na vida de seus pacientes, oferecendo
um atendimento de maior qualidade.
EDIÇÃO 01
O programa de supervisão
contínua e a orientação de Marisa
proporcionou a Anna a confiança e
as ferramentas necessárias para se
tornar uma psicóloga de sucesso
na abordagem Junguiana. Com
seu compromisso de investir
responsavelmente em sua prática
clínica e sua disposição de
contribuir com sua experiência em
psicologia social, Anna se tornou
uma parte valiosa da comunidade
de psicólogos que participam do
programa de supervisão.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 16
Se você é uma psicóloga junguiana que
busca aprimorar sua prática clínica com
conceitos mais profundos, o Programa de
Supervisão Práxis Premium é uma
resposta para suas necessidades. Este
programa exclusivo tem uma duração de 6
meses, oferecendo 6 supervisões
individuais e 12 supervisões em grupo
totalizando de 30 horas de supervisão,
combinadas com mais 12 horas de
estudos temáticos para um
aprofundamento teórico significativo.
Nossos encontros são realizados ao vivo,
proporcionando um ambiente interativo
onde você pode compartilhar suas
experiências e aprender de forma
colaborativa com outras Psicólogas
Junguianas sob a orientação da Psicóloga
Marisa Gaspar que tem muita experiência
tanto em atendimentos clínicos quanto em
supervisionar psicólogas. Além disso, você
terá disponível a avaliação do QUATI para
conhecer o seu tipo psicológico e para que
possamos adaptar nossa supervisão de
acordo com suas necessidades individuais
de aprendizado.
EDIÇÃO 01
Para enriquecer seu conhecimento e prática
clínica, disponibilizamos uma ampla bibliografia
digital atualizada. Além disso, você terá acesso
a uma série de cursos na plataforma Práxis
Analítica para o seu aceleramento do
desenvolvimento do seu manejo clínico,
abrangendo temas como Imersão, Método
Escuta, Mapa Mental, Técnicas Verbais
Especiais, Bússola Clínica, Abismo Secreto do
Trauma, O Desenvolvimento da Psique, A
Fenomenologia Narcísica, O Borderline,
Sonhos – O Espelho da Alma e todos os
workshops relacionados ao trauma.
Em cada sessão de supervisão, oferecemos
treinamentos práticos para aprimorar suas
habilidades, incluindo Escuta Clínica, Mapa
Mental, Técnica Verbal, Identificação da
Dinâmica Psíquica, Transferência Somática e
como identificar o melhor tratamento para o
seu paciente.
No Programa de Supervisão Práxis Premium,
você receberá acompanhamento individual
e em grupo para enfrentar desafios no
manejo clínico, aproveitando a vasta
experiência da Psicóloga Marisa Gaspar.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 17
 Além disso, há oportunidades adicionais, como
participar do Projeto Psicólogas em Ascensão,
disponibilizar sua agenda online para atrair
pacientes e participar de Simpósios do Instituto
Práxis Analítica.

Nossa flexibilidade de horários permite que

você escolha entre várias opções, incluindo
segundas-feiras das 10h - 12h ou das 15h - 17h
ou 18h - 20h, e ainda temos a opção de sextas-
feiras das 8h - 10h. As equipes de supervisão
formadas têm a capacidade máxima de seis
psicólogas para que possamos atender, com
atenção e dedicação, as necessidades de cada
uma das Psis.

Neste programa a Psicóloga

Marisa Gaspar vai pegar na sua O investimento em seu crescimento profissional
mão e te acompanhar durante toda é um dos melhores passos que você pode dar.
a sua trajetória. O Programa de Supervisão Práxis Premium tem
um valor pode ser pago a vista ou em um parcelamento de até 12x, tudo para que você possa
aproveitar a oportunidade de realmente se desenvolver no atendimento clínico.

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Junguiano. Junte-se a nós nesta jornada de exploração dos mistérios da psique e eleve sua
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EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 18
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UM CASO CLINICO

TERAPIA COM
UM SEM-TETO:
LIÇÕES E
DESAFIOS
Entro no meu consultório e
penso: “Sou psicóloga
formada.” Toca o interfone.
Um cliente está subindo.
Foi encaminhado para
atendimento social.
Pensamentos se atropelam
na minha cabeça. Como
será a sessão? Qual o visual Ingrid Solomon
do paciente? Psicóloga Junguiana
CRP - 06/132897
@ingrid_solomon
Entra um homem de meia-
idade, vestido de short e S. informa que vive num albergue e
havaianas, aspecto sujo. tem como meta sair de lá em três
Sendo a entrevista inicial meses. Queixa-se de não ter amigos e
digo que preciso conhecê- estar desempregado. Uma forte
lo. Faço indagações que contratransferência se apodera de
aprendi no estágio de mim, sinto uma certa repulsa pelo seu
Psicologia clínica. aspecto físico e pela sua situação de
Com a experiência atual, sem teto. Formulo internamente a
não agiria desta maneira. intenção de tirá-lo deste lugar.
Deixaria que falasse
livremente sobre a sua vida. Trabalhamos durante cerca de um ano
Percebi através da e meio.
supervisão que as
perguntas feitas eram pura Segui a abordagem junguiana,
curiosidade da minha parte pedindo que apresentasse sonhos que
e só causavam resistência foram analisados, elaborados e
ou mentiras da parte do interpretados mais por mim do que
entrevistado. pelo paciente. Entendi mais tarde os

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 19

erros que eu cometi. Estava
focando na minha meta
pessoal e não naquela de S.
Percebi aos poucos que ele
melhorava a maneira de se
vestir. Precisava ser visto e
obter aprovação. Começaram a
aparecer as transferências
arcaicas, a especular e a
idealística. Falava sem parar,
controlava a sessão. Dizia: “Hoje
vamos falar sobre o que me
fizeram no albergue.”
As atitudes de S. apareciam
diametralmente opostas de
maneira compensatória nos
seus sonhos. Tinha narrativas
de ataques de raiva e falta de
controle emocional. Era
expulso com frequência dos
albergues.
Após um ano de terapia achou
um trabalho numa oficina de
automóveis. Foi mandado
embora antes de completar
um mês. Sucederam-se vários
empregos. Dizia que era
maltratado, desvalorizado, e
era obrigado a fazer serviços
humilhantes. Considerava-se
muito mais inteligente e
superior a todos os chefes e
colegas. Tinha uma persona
EDIÇÃO 01
disfuncional e um ego fragilizado. Foi
revelando aos poucos as experiências
traumáticas que tivera na infância. S.
achara uma solução para sobreviver.
Cortou relações com os membros da sua
família. Este comportamento repetiu
com todos os relacionamentos femininos
que teve ao longo da sua vida.
Hoje saberia o que fazer para
movimentar a energia psíquica de S.
Utilizaria como tratamento as técnicas
verbais. Ao ouvir a narrativa ininterrupta
do cliente, acharia uma brecha repetiria
uma palavra com interesse e entonação.
Esta técnica “Eco” possibilita as vezes
uma maior abertura para o inconsciente
do paciente. Para S. todas as pessoas
agiam como se quisessem atacá-lo. O seu
ego indiferenciado se identificava com
tudo ou nada. Faria indagações sobre as
diferenças e igualdades entre ele e os
outros. O trabalho de progressão e
regressão, viagem pelo tempo e espaço,
ativação das funções do ego.
S. foi um dos meus primeiros clientes.
Reconheço que não foi um sucesso, mas
possibilitou um grande ensinamento e
compreensão do verdadeiro significado
da psicoterapia profunda. Interrompeu as
sessões que eram presenciais quando
começou a pandemia e não tive mais
notícias.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 20
HISTÓRIA

DA COMUNICAÇÃO
AO INCONSCIENTE
A TRANSFORMAÇÃO
PROFISSIONAL DE
MARCELA PAVAN

A jornada da psicóloga Marcela na

prática clínica junguiana é uma
história de crescimento e sucesso
profissional. Sua primeira graduação
foi em Comunicação Social pela UFES,
mais tarde se especializou em
Marketing pela FGV. Durante 10 anos
trabalhou com comunicação e
marketing em grandes agências e
empresas do Espírito Santo. Depois de
algum tempo sentiu que ali não
estava a sua verdadeira vocação e
Marcela Pavan
iniciou a sua jornada acadêmica em Psicóloga Junguiana
Psicologia. @psi.marcelapavan

Durante a faculdade, apresentou

interesse em estudar a abordagem Puc-Rio e iniciou os atendimentos
junguiana, participando de grupos de clínicos. Com os seus conhecimentos em
estudo e cursos introdutórios fora da comunicação montou um Blog e
grade curricular. Esse começou a receber os seus primeiros
comprometimento com o clientes.
aprendizado além das obrigações
acadêmicas já indicava sua busca por Marcela não parou por aí. Em 2014,
conhecimento e aprimoramento. continuou seus estudos na área de
Psicologia Analítica, desenvolveu uma
Logo após formada, Marcela deixou a pós-graduação no IJEP (Instituto
sua cidade natal, Vitória – E.S, e veio Junguiano de Ensino e Pesquisa), onde
para o Rio de Janeiro em 2011, logo no teve a oportunidade de aprofundar seus
primeiro ano começou a conhecimentos e receber supervisão para
especialização em família e casal na seus atendimentos clínicos.

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 21

Ela não se contentou apenas com seu sentisse mais segura e confiante em
diploma, mas também declarou um sua prática clínica junguiana,
compromisso contínuo com a refletindo os resultados positivos que
aprendizagem. Marcela manteve seu ela alcançou durante o programa de
envolvimento com grupos de estudo supervisão com a psicóloga Marisa
e, mais recentemente, está concluindo Gaspar.
uma especialização em terapia
familiar, onde integra a abordagem
junguiana com a sistêmica.

Marcela atende atualmente um

número significativo de pacientes
interessados no atendimento
individual ou de Casal. Sua dedicação
ao estudo e prática trouxe como
resultado um aumento na
complexidade dos casos que ela
atende, aumentando sua confiança
crescente em lidar com desafios
clínicos.

A participação de Marcela no
programa de supervisão da psicóloga
Marisa Gaspar, que começou em julho
de 2022, provou ser um divisor de
águas em sua carreira. Ela se destacou
nas supervisões individuais e em
grupo, contribuindo com observações
perspicazes e demonstrando um forte
desejo de aprender. Sua participação
ativa e comprometida foi destacada
como uma profissional que estava
pronta para enfrentar casos mais
desafiadores.
Marcela apresentou um simpósio no
Instituto Práxis Analítica,
compartilhando o desenvolvimento
de um caso clínico com sucesso. Tudo
isso contribuiu para que Marcela se
Em resumo, a jornada de Marcela é
um exemplo inspirador de como o
comprometimento com a
aprendizagem contínua, a supervisão
eficaz e o desejo de enfrentar desafios
podem levar a um crescimento
notável na prática clínica junguiana.
Ela se tornou uma psicóloga
experiente e confiante, capaz de
abordar casos complexos e contribuir
de forma significativa para o campo
da psicologia junguiana.

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 22

 Corpo & Psique

ALÉM DAS
PALAVRAS
A COMPREENSÃO
DO CORPO NA
TERAPIA
JUNGUIANA
por Simone Ribeiro
Psicóloga Junguiana
CRP: 06/48015-3
@psicosimonerbr

“Percebi então que,

muitas vezes, embora
a alma grite, não
consegue ser ouvida.”
No trabalho com abordagem Junguiana,
sempre me chamou a atenção a
importância de prestar atenção à todas as
formas de expressão do paciente, não
somente as verbais, até porque minha
prática inicial foi em Hospitais, onde o
corpo fala muito, mas nem sempre é
levado em conta nas suas emoções, já que
o foco é no tratamento de doenças físicas,
que podem ser mensuradas. Existe um
corpo que precisa ser reparado.
Percebi então que, muitas vezes, embora a
alma grite, não consegue ser ouvida.
Muito embora a causa das doenças
orgânicas possa não ser resultado de
uma intensa e crônica desregulação
emocional, sabemos a influência do
estresse no sistema imunológico, que
fica relegado à segundo plano quando
os níveis de adrenalina e cortisol estão
constantemente altos em decorrência
da luta para lidar com ameaças à vida.
Enquanto no Hospital o corpo é
atendido, nos Consultórios de
Psicologia, a psique é atendida.
Percebi uma cisão que precisaria ser
reparada, afinal, a meta do trabalho
junguiano é a integração, a
completude.

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 23

Portanto, atendendo essa demanda de “Continuei estudando
conhecimento da relação mente-corpo no várias formas de
surgimento de doenças físicas e mentais, iniciei abordar o corpo em
estudos em Cinesiologia, ou integração psicofísica, terapia e hoje, percebo
curso oferecido no Instituto Sedes Sapientiae, com a riqueza que
práticas corporais fundamentadas na teoria de Carl trouxeram à minha
Gustav Jung. vida e aos meus
atendimentos...”
Logo notei o quanto essas técnicas
experimentadas repercutiam em mim, havia algo Então, quando Marisa Gaspar
de imponderável no alcance desses trabalhos, não propôs que, antes de ouvir relatos
se tratava de mero relaxamento e alívio de tensões. clínicos na supervisão, fizéssemos
uma respiração, a fim de
Continuei estudando várias formas de abordar o possibilitar o rebaixamento da
corpo em terapia e hoje, percebo a riqueza que consciência e perceber nosso
@thalitarosaa

trouxeram à minha vida e aos meus atendimentos, estado no momento, me

na medida em que consigo equilibrar minhas
tensões e reconhecer meus estados diversos, o
que me permite iniciar atendimentos com menos
interferências das projeções inconscientes na
relação com o paciente.
A transferência, no Dicionário Junguiano, dirigido
por Paolo Francesco Pieri, define-se por:
O fenômeno da → projeção dos conteúdos
psíquicos de natureza complexa (→ COMPLEXO) ou
arquetípica (→ ARQUÉTIPO).
Todavia, uma vez que a projeção
fundamentalmente explicada como o efeito da
verificação de uma indistinção entre dois diferentes
sujeitos (→ PARTICIPAÇÃO MÍSTICA),
transferência também se refere ao motivo do
assim chamado “contágio” entre aqueles processos
psíquicos diferentes que se tornam ativos na
relação analítica.
identifiquei bastante.
O rebaixamento da consciência
para Jung é um processo
psicológico que consiste na
diminuição da atividade do ego,
permitindo que outras partes da
psique, como o inconsciente
pessoal e coletivo se manifestem.
Para que seja fator de ampliação e
não de dissociação, é necessário
haver boa relação entre ego e
conteúdos inconscientes,
é preservando o equilíbrio da
consciência.
a Dessa forma, conseguimos tanto
identificar nossos conteúdos antes
de iniciar escuta do paciente e
captar algo mais além do verbal
explícito.

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 24

 UM CLUBE PARA CHAMAR DE SEU
Psicóloga
A PSICOLOGIA
JUNGUIANA EM PRÁTICA
O Clube Práxis é uma comunidade
dedicada a fornecer uma experiência
enriquecedora para psicólogas junguianas
interessadas em aprofundar seus
conhecimentos na abordagem de Carl
Gustav Jung. Este clube é um ambiente
único que combina aprendizado teórico e
prático, fornecendo uma plataforma de
conexão e aprimoramento profissional.
Uma das características distintivas do
Clube Práxis é uma divisão em diferentes
Clubes e atividades que visam atender a
diversas necessidades e interesses das
psicólogas junguianas. O "Clube Teoria e
Prática Clínica" é um dos principais
componentes deste clube. Neste grupo, o
foco está na exploração aprofundada dos
conceitos fundamentais da psicologia
junguiana. Os membros participam de
sessões de aprendizado e discussão, nas
quais são envolvidos temas como
EDIÇÃO 01
arquétipos, individuação, interpretação de
sonhos e outros aspectos centrais da
abordagem de Jung. Essas discussões
aprofundadas ajudaram os participantes a
ampliarem seu entendimento teórico.
Além disso, o Clube Práxis oferece o "Clube
Conexão Teoria e Prática Clínica", que se
concentra em aplicar os princípios da
psicologia junguiana à prática clínica. Este
Clube oferece palestras e convidados especiais
que oferecem uma oportunidade valiosa para
os membros adquirirem uma compreensão
mais profunda das aplicações práticas da
abordagem de Jung em contextos
terapêuticos. Isso não apenas enriquece o
conhecimento teórico, mas também aprimora
as habilidades clínicas.
Uma comunidade dedicada a fornecer
uma experiência enriquecedora para
psicólogas junguianas.
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 25
Para complementar o aprendizado
teórico, o Clube Práxis também
oferece um "Grupo de Leitura"
dedicado à leitura de obras-chave
da psicologia junguiana. Os
membros têm a oportunidade de
ler e discutir textos clássicos e
contemporâneos, compartilhando
suas percepções e insights. Isso
promove um ambiente de
aprendizagem colaborativo e
incentiva a troca de ideias entre as
psicólogas junguianas.

O Clube Práxis é uma

comunidade vibrante que
oferece um ambiente de apoio e
crescimento para profissionais
que unem um interesse comum
na psicologia junguiana. Além
das atividades específicas dos
grupos mencionados, o clube
também pode organizar eventos, workshops e recursos adicionais para enriquecer a
experiência de seus membros.

Ao participar do Clube Práxis, as psicólogas junguianas podem esperar aprofundar seus

conhecimentos teóricos, aprimorar suas habilidades clínicas, estabelecer conexões
específicas com outros profissionais e expandir sua compreensão da psicologia junguiana.
Este é um espaço dedicado para o desenvolvimento profissional e pessoal, permitindo que as
psicólogas junguianas se envolvam em uma jornada contínua de aprendizado e crescimento
em sua prática clínica e teórica.

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EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 26

AUTOACEITAÇÃO

Do trauma
precoce à
Autoaceitação
A História do
Patinho Feio
por Soyani Carvalho
Psicóloga Junguiana
CRP:05/14.621 | @psi.soyanicarvalho

“É a partir da nossa infância

que desenvolvemos a
segurança, a autoestima, a
autoconfiança, a autonomia
e a coragem.“

O conto se refere à história do Passou por várias situações que só

nascimento de um cisne numa família reforçaram seus complexos, sua
de patos que com a aparência tristeza e sua baixa autoestima.
diferente dos seus irmãos é rejeitado e Durante muito tempo, sentiu-se sem
menosprezado pela família e pelos lugar no mundo, sem ser visto, amado
outros animais, a princípio a mãe não e aceito.
o rejeita, acreditando que seu filho
pode se tornar belo, mas acaba se Certo dia, estava nadando no lago,
rendendo aos comentários alheios o quando avistou dois daqueles pássaros
rejeitando também devido a sua lindos que havia visto no outono. Ficou
diferença. Desolado, se sentindo triste extasiado! Com coragem, decidiu se
e rejeitado, foi embora em busca de se aproximar.
sentir aceito, pertencente a algum
grupo, enfrentando seus medos, suas Voou na direção deles e ao sobrevoar a
sombras, na busca de encontrar a sua água, percebeu o seu reflexo que era
própria identidade. igual àqueles pássaros que ele havia

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 27

admirado. Encantado com o que avistou, pôr fim ao trauma que dificulta o
percebeu ser um deles: um cisne lindo! processo de individuação.

A experiência agora de se reconhecer e se Quando um paciente chega ao nosso

admirar como realmente é foi um consultório com essa temática de
momento de libertação para abandono, rejeição, baixa autoestima,
autoaceitação e o encontro com o ser insegurança, ele está nos sinalizando
lindo que era, integrando a sua que viveu um trauma e seu
verdadeira identidade. desenvolvimento psíquico foi
interrompido, seu ego não se
Quando nascemos a primeira busca que desenvolveu.Podemos utilizar vários
fazemos é pelo rosto da nossa mãe, como recursos verbais e não verbais como a
essa psique irá se desenvolver se ele não arteterapia.
foi visto por essa mãe? O indivíduo que
não é assistido pela sua mãe ou por O processo terapêutico ocorrerá
alguém que a substitua traz grandes através da ressonância empática, um
feridas emocionais. A relação primal espelhamento onde o paciente se
positiva é muito importante para o bom reconhecerá sentindo-se aceito e
desenvolvimento do ego. Precisamos do real. A transferência somática
olhar, do acolhimento, e de um reflexo também é outro recurso utilizado por
para nos reconhecermos. nós Psicólogos Junguianos onde há o
rebaixamento da nossa consciência
É a partir da nossa infância que para fazermos um vínculo entre a
desenvolvemos a segurança, a nossa psique e a psique do paciente,
autoestima, a autoconfiança, a autonomia tendo acesso às suas emoções e
e a coragem. A infância é um período dores. São vários recursos utilizados
importante para um bom na Psicologia Junguiana propiciando
desenvolvimento emocional e psíquico. o ego a se desenvolver dando início
ao processo de individuação.
Esse conto nos retrata alguns conceitos
da Psicologia Junguiana como o
complexo materno negativo, ou seja, falta
de acolhimento, sensação de solidão.
Assim como a sombra, aquilo que temos
dificuldade de vermos em nós mesmos, e

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 28

CASE DE SUCESSO

SUPERVISÃO E
SUPERAÇÃO
Como Viviane
Fortaleceu sua
Prática Psicológica

Em 2013, Viviane deu o primeiro

passo na direção de uma carreira
de sucesso, graduando-se em
Psicologia. No entanto, a sua
jornada não parou por aí. Com um
desejo constante de aprendizado e
aprimoramento, ela decidiu se
aprofundar na psicologia junguiana
e se inscrever em uma pós-
Viviane Oliveira
graduação no IJEP/SP em 2014.
Psicóloga Junguiana
Infelizmente, questões financeiras a
CRP: 06/120879
impediram de concluir o programa
naquela época.
Com o início de sua jornada solo,
Mas Viviane não desistiu. Ela Viviane atende um número de 11 a
ingressou na prática clínica e, ao 15 pacientes por semana, com
longo dos últimos sete anos, sessões de valores variados de
acumulou experiência, atendendo R$80,00 a R$120,00. O seu
principalmente com planos de compromisso em oferecer um
saúde e, a partir de 2021, atendendo atendimento de qualidade e
exclusivamente no particular. acessível a uma ampla gama de
Durante esse tempo, ela trabalhou pessoas é notável.
incansavelmente para aprimorar
suas habilidades e construir uma No entanto, o verdadeiro destaque
confiança sólida. da história de Viviane é a sua

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 29

busca constante de crescimento
pessoal e profissional. Ela percebeu
que sua maior necessidade era sentir-
se mais segura em sua prática clínica,
e foi aí que o programa de supervisão
entrou em cena. Viviane tomou a
decisão de se candidatar a esse
programa com a renomada psicóloga
Marisa Gaspar, confiante de que isso
seria um acontecimento para sua
evolução.
Sua candidatura reflete não apenas
sua busca por aprimoramento, mas
também sua disposição de
compartilhar suas experiências com
seus colegas participantes. Viviane
declara disposta a contribuir com sua
abertura para reflexões e RECEBA O LIVRO DIGITAL
compromisso profundo com a ética
profissional.
próprio desenvolvimento psicológico,
gerando reflexões em sua própria
análise pessoal, ampliando o horizonte
a ser conquistado. Além de ter
chegado na compreensão do gap que
estava entre a teoria e a sua atuação
prática.
O sucesso da Psicóloga Viviane é uma
inspiração para todos que buscam
crescimento e excelência em suas
carreiras. Sua história nos lembra que,
com determinação,
autoconhecimento e aprendizagem
contínua, é possível superar
obstáculos e alcançar o sucesso
pessoal e profissional.
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ONÍRICOS” GRATUITAMENTE
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no programa de supervisão a quatro
meses atrás, já está gerando
resultados na sua vida profissional, a
segurança desejada está sendo
fortalecida ao ponto de poder ter
tranquilidade em reajustar o valor de
sua sessão dentro dos parâmetros
legais e justos da profissão, e ainda
assim manter um valor que é
acessível aos novos pacientes
ingressantes.

No programa de supervisão Viviane

pode identificar alguns pontos para o

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 30

TRANSIÇÃO
DECISÕES
CORAJOSAS
Stella Carvalho
e Sua Transição
do Corporativo
para a Clínica
“A oportunidade de
participar do Programa de
Supervisão, sob a orientação
da renomada Psicóloga
Marisa Gaspar, surgiu como
uma vitória em sua carreira.”
Stella é uma psicóloga
dedicada e determinada que
passou por uma jornada de
crescimento profissional ao
longo dos anos. Formada há
mais de uma década, ela
iniciou sua carreira no campo
de Recursos Humanos, e
tinha incertezas sobre um
dia atuar como psicóloga
clínica.
Em outubro de 2021, após
uma década de atuação no
mundo corporativo, Stella
EDIÇÃO 01
Stella Carvalho
Psicóloga Junguiana
@stellapsi_carvalho
CRP: 06/114035
tomou uma decisão de sair da área
corporativa para tentar a clínica. No
início de 2022, ela deu início aos
atendimentos especializando-se no
nicho do luto. Sua formação específica
em perdas e luto, bem como seus
cursos sobre prevenção ao suicídio,
tornou uma profissional altamente
capacitada para lidar com as
complexidades emocionais que
envolvem essas áreas. E Stella se
conectou com a paixão e certeza que
deseja continuar na psicologia clínica.
No início de sua jornada, Stella aceitou o
desafio de aplicar seus conhecimentos
teóricos na prática. No entanto, na
elaboração de prontuários ela observou
REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 31
a importância de aprimorar seus pacientes, como Stella observou, foi
conhecimentos teóricos e práticos. marcado por uma baixa autoestima
Investiu em mentorias, cursos e e um estado indiferenciado. Ela
participou de grupos de estudo para continuou a trabalhar com eles para
fortalecer suas habilidades clínicas. fortalecer sua relação consigo
mesma.
A oportunidade de participar do
Programa de Supervisão, sob a No que diz respeito às características
orientação da renomada Psicóloga narcísicas, Stella observou que
Marisa Gaspar, surgiu como uma muitos de seus pacientes
vitória em sua carreira. Stella expressavam sentimentos de inveja,
acreditava que esse programa era raiva e frustração, ao mesmo tempo
fundamental para ajudá-la a superar em que desejavam ser vistos e
suas barreiras e a aprimorar seus admirados. Ela reconheceu o desafio
conhecimentos na abordagem de ajudá-los a lidar com essas
Junguiana. contradições e a buscar um maior
equilíbrio emocional.
Ao longo de sua jornada no
programa, Stella demonstrou um No final, a história de Stella é de uma
crescimento notável. Ela conseguiu psicóloga determinada e
identificar as dinâmicas psíquicas de comprometida com seu
seus pacientes e trabalhar com crescimento profissional. Sua
temas como a necessidade de participação no Programa de
perfeição, insegurança, Supervisão permitiu-lhe crescer e
desenvolvimento do ego, identidade evoluir como terapeuta,
fragilizada e relacionamentos proporcionando um atendimento
conflituosos com a mãe. mais eficaz e compassivo aos seus
pacientes. Stella continuou sua
Stella avaliou que o desenvolvimento busca por aprimoramento
do ego de seus pacientes estava profissional e, à medida que sua
progredindo, à medida que eles se prática clínica se fortalecesse, ela
tornavam mais conscientes de suas também buscava precificar suas
questões, enfrentavam seus desafios sessões de maneira justa,
se responsabilizavam por suas acompanhando o valor de seu
decisões. No entanto, ela notou que trabalho. Essa história destaca a
muitos dos seus pacientes ainda importância do aprendizado
lidavam com egos fragilizados e falta contínuo e da busca por excelência
de confiança em si mesmos. em psicologia clínica.

O funcionamento do “Self” de seus

EDIÇÃO 01 REVISTA PSIQUE E PRÁXIS 32
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