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CURSO DE LICENCIATURA

ESPECÍFICA EM LÍNGUA
PORTUGUESA

DISCIPLINA: Português Instrumental

CARGA HORÁRIA: 60 horas

PROFESSORA: Joelma Soares

Janeiro /
2009

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CURSO DE LICENCIATURA ESPECÍFICA EM LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL


CARGA HORÁRIA: 60 H/A CRÉDITOS: 04

EMENTA: Leitura, análise e produção textual. Gêneros textuais: teoria e prática de leitura e produção de diferentes
gêneros textuais, com ênfase na estruturação argumentativa do discurso e nas estruturas lingüístico-textuais que compõem
os diferentes gêneros.

OBJETIVO GERAL:
1) Gerais:
Desenvolver habilidades no desenvolvimento da proficiência leitora e de produção de textos, possibilitando aos
educandos adquirir a competência de operar criativamente as relações da linguagem (oral, escrita), em situações formais e
informais, favorecendo a expressão e a integração sócio-cultural.

2) Específicos:
2.1: Compreender e produzir textos orais e escritos que circulam socialmente em diversas situações
comunicativas.
2.2: Introduzir os aspectos cognitivos da compreensão da leitura de textos.
2.3: Compreender as diferentes linguagens presentes nos textos orais e escritos.
2.4: Compreender e identificar os aspectos fundamentais à elaboração dos mais variados gêneros.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
UNIDADE I
- Etimologia da palavra “TEXTO”;
- Linguagem, Língua e Fala;
- Elementos da comunicação;
- Funções da Linguagem;
- Funções gerais da leitura;
- Os níveis de compreensão leitora: literal, inferencial e crítica;

UNIDADE II
- Variação de Nível ou Registro;
- Tipos de texto: (Narração, Descrição e Dissertação);
- Organização e reestruturação textual;
- Gêneros que circulam socialmente;
- Como elaborar: Seminário e Pesquisa bibliográfica;
- Redação Técnica: (Requerimento, Ofício, Memorando, Ata, Currículo, Memorial e Procuração).

UNIDADE III
- Coesão e Coerência;
- Pontuação;
- Concordância e Regência
- Ortografia;

METODOLOGIA
- Participação efetiva e discussão dos textos.
- Exposição dialogada pelo professor dos aspectos teóricos relativos aos conteúdos propostos.
- Produção de textos orais e escritos, individual, em dupla e em grupo.
- Apresentação através de painéis, cartazes, transparências ou outros recursos pertinentes às discussões dos textos.

AVALIAÇÃO
- Participação efetiva nos trabalhos apresentados, seja em grupos ou individualmente.
- Pontualidade e assiduidade.
- Avaliação escrita de conhecimentos teórico-práticos.
- Produção textual
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ALLIENDE, FELIPE & CONDEMARÍN, MABEL, LEITURA, TEORIA, AVALIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO, ED. ARTES
MÉDICAS. PORTO ALEGRE. RG. 1987.

GERALDI, JOÃO WANDERLEY (COORD). O TEXTO NA SALA DE AULA. ED. ÁTICA. SÃO PAULO – SP. 1997.

KLEIMAN, ÂNGELA, TEXTO & LEITOR - ASPECTOS COGNITIVOS DA LEITURA. ED. PONTES. CAMPINAS – SP. 2000.

KOCH, INGEDORE VILLAÇA & TRAVAGLIA, LUIZ CARLOS. A COERÊNCIA TEXTUAL. ED. CONTEXTO. SÃO PAULO – SP.
1999.

PLATÃO & FIORIN. LIÇÕES DE TEXTOS: LEITURA E REDAÇÃO. ED. ÁTICA. SÃO PAULO – SP. 2000

SILVEIRA, DILETA & LÚBIA, SCLIAR. PORTUGUÊS INSTRUMENTAL, ED. SAGRA. PORTO ALEGRE. 1999.

SILVA, EZEQUIEL. O ATO DE LER. ED. CORTEZ. SÃO PAULO- SP. 1981.
TASCA, MARIA (ORG). DESENVOLVENDO A LÍNGUA FALADA E ESCRITA. PORTO ALEGRE. SAGRA. 1990.

TUFANO, DOUGLAS. ESTUDOS DA LÍNGUA PORTUGUESA E GRAMÁTICA. ED. MODERNA. SÃO PAULO – SP. 1996.

VIANA, ANTONIO CARLOS (COORD). ROTEIRO DE REDAÇÃO – LENDO E ARGUMENTANDO. ED. SCIPIONE. SÃO PAULO –
SP. 1988.

O LÁPIS

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:


Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando.
Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre
uma pessoa em paz com o mundo.

Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus
passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à vontade.

Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o
lápis sofra um pouco, mas, no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser
uma pessoa melhor.

Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que
corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da
justiça.

Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas é o grafite que está
dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.

Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na
vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação.

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UNIDADE I

1. ETIMOLOGIA DA PALAVRA TEXTO

A palavra texto provém do latim que significa tecido, entrelaçamento. Há uma razão etimológica para nunca
esquecermos que o texto resulta da ação de tecer, de entrelaçar um todo inter-relacionado. Daí podermos falar em textura
ou tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade.
A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles não
apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir quando este aluno tem
necessidade de se expressar formalmente a se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta última situação ele
deve claro que há diferenças marcantes entre falar e escrever.
Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escrito não ser satisfatório não
significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não domina os
recursos específicos da modalidade escrita.
A escrita tem normas próprias, tais regras de ortografia que, evidentemente, não é marcada na fala, de
pontuação, de concordância, e de uso de tempos verbais. Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos
da norma culta não garante o sucesso de um texto escrito. Não basta, também, saber que escrever é diferente de falar. É
necessário preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido como um ato de linguagem que representa uma
interação entre o produtor do texto e o seu receptor; além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a
finalidade para qual o texto foi produzido.
Para que esse discurso seja bem-sucedido deve constituir um todo significativo e não fragmentos isolados e
justapostos. No interior de um texto devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos
significativos que confiram coesão ao discurso. Considera-se coeso o texto em que partes referem-se mutuamente, só
fazendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras.

2. COMO ESCREVER BEM

O ato da escrita requer um exercício constante de aperfeiçoamento, por isso é necessário sempre a reescritura do
texto. Há também algumas noções importantes a serem observadas. Verifique:
1. A clareza da idéias é obtida com uso de palavras essenciais e simples, o que torna o texto mais conciso e
natural. Use também, se for possível, palavras curtas. Lembre-se, portanto, de que a concisão constitui um dos princípios
determinantes para escrever bem.
2. A expressividade depende da escolha de palavras específicas, de maior precisão. O emprego do substantivo
concreto de impõe ao abstrato; o específico e genérico. Os verbos de ação, na voz direta, devem ter preferência na
produção de um texto, como também os objetivos e os advérbios que acrescentem informações.
3. A simplicidade deve ser uma característica marcante em qualquer texto, pois o emissor escrever para
diversos tipos de interlocutores que precisam entender a mensagem.
4. A ordem direta constitui a norma essencial de quem escreve, porque ela encaminha mais facilmente o leitor
à compreensão do texto. Portanto, seja objetivo e redija sem rodeios.
5. A originalidade prevalece quando se evitam formas e frases desgastadas, assim como o emprego excessivo
da voz passiva (será feito, será revisto). Escreva com criatividade, escolhendo palavras conhecidas, sem rebuscamento, sem
pedantismo vocabular e sem falsa erudição. Assim será possível produzir frases, objetivas e bem estruturadas.
6. A escolha das palavras deve seguir um critério rigoroso. Evite termos técnicos, modismo, lugares-comuns ou
chavões, preciosismo e formas desgastadas pelo o uso freqüente. Use uma linguagem elegante, criativa, e observe as
estruturas e a pontuação em seu texto.
Entretanto, somente esses critérios não asseguram a criação de um bom texto. É necessário adequar a
linguagem, variando-a de acordo com o interlocutor. Deve-se observar a finalidade do texto e a intenção comunicativa para
que a produção textual atinja de forma satisfatória os diversos interlocutores, tendo em vista as variantes lingüísticas e
textuais.
Quando à correção gramatical, nem sempre textos gramaticamente perfeitos representam bons textos. Há certas
situações de comunicação em que se usa a variedade padrão da linguagem, mas existem casos em que a fala do
personagem exige o uso de uma expressão popular, nem sempre correta segundo a gramática normativa.
Alguns julgam que ler muito torna-nos capazes de escrever bem, mas esse fato não é totalmente verdadeiro.
Sem dúvida, a leitura amplia o conhecimento e a capacidade vocabular, enriquece a experiência humana, mas não
representa a fórmula ideal para a produção de bons textos.
Para isso, é preciso não apenas ler, mas saber interpretar grande variedade de gêneros textuais, assimilando seus
recursos de produção e os efeitos significativos. Somente percebendo as estratégias de criação textuais, teremos meio para
criar novos textos, através de um estilo pessoal. Os estudos textuais favorecem uma aquisição mais rápida na arte de
escrever, pois, hoje se valoriza mais o processo, os recursos de criação do texto, do que o resultado ou produto da escrita.
Em resumo, escrever bem é produzir formas de comunicação adequadas, adaptando a linguagem às variações
exigidas pelas circunstâncias sociais.

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3. LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA

A linguagem é uma das faculdades essenciais que distingue o homem dos animais e está relacionada à nossa
capacidade de pensar no abstrato. A linguagem é a capacidade que o homem tem de se comunicar e de interagir através de
um sistema de signos verbais e não-verbais. Esses signos podem ser visuais, pictóricos, sonoros, gestuais e lingüísticos.
O processo da humanidade só é possível porque o homem pode transmitir e comunicar a seus semelhantes, de
geração a geração, suas descobertas, seus conhecimentos, suas idéias, suas experiências.
Ao tratar da linguagem, Sapir (1921) diz: a linguagem é um método humano e não-instintivo de comunicar
idéias, emoções e desejos por meio de um sistema de símbolos produzidos voluntariamente (p.12).
A linguagem possui um conjunto de características, quais sejam:
 Instituição e criação humana: todos os órgãos do aparelho fonador são órgãos emprestados. A
primeira função desses órgãos não é a fonação: os pulmões, a boca, o palato, os dentes, os lábios, a
língua, utilizados pela fonação servem para outras funções do corpo humano, que não a fonação. O
homem adaptou esses órgãos para a fala.
 Produto da vida em sociedade: falamos porque ouvimos outros falarem. A aprendizagem da língua
se dá no meio onde nascemos e vivemos. Se estivermos isolados não aprenderemos a falar.
 Instrumento de comunicação: a principal função da linguagem é a comunicação de idéias,
pensamentos, sentimentos.
 Duplamente articulada: a possibilidade de analisarmos um texto em unidades menores e podermos
recompor textos de uma única letra é própria da linguagem humana. Não podemos decompor um
grito ou urro de animal, mas podemos dividir a frase em unidades menores e depois reconstruí-la.
Este é o princípio da dupla articulação:
1° Articulação: é a divisão das frases em signos: A menina é bonita: a /menina / é / bonita.
2° Articulação: é a divisão dos signos em fonemas (ou letras): menina: menina – m/ e / n / i / n / a.
 Simbolizada: apenas o homem tem capacidade de simbolização e representação. Os animais
não podem dar nomes a objetos, sentimentos e pensamentos.
 Evolutiva: a língua se modifica para se adaptar aos seus falantes. Evolui funcionando.
 Adquirida: a linguagem é adquirida. Aprendemos porque nos ensinam e porque ouvimos os
outros falarem. Ela é, portanto, adquirida por aprendizagem e por imitação.
 Linear: a linguagem humana é linear, só falamos ou escrevemos linearmente, ou seja, numa
cadeia linear, uma palavra após a outra. Se olharmos uma pintura, por exemplo, podemos ver o
todo, sem divisões, sem que tenhamos de olhar uma casa, depois uma árvore, mas vemos todo o
quadro, com todos os seus elementos constitutivos.

4. CONCEITOS GERAIS SOBRE A NATUREZA DAS LÍNGUAS

Cada língua corresponde a uma análise particular dos dados da experiência humana:
 Para o indo-europeu a distinção importante é animado x inanimado.
 Para nós ocidentais a distinção importante é masculino x feminino.
 Os esquimós têm dezenas de palavras para gelo.
 Nós temos apenas uma só palavra para gelo.
 Os esquimós têm apenas uma única palavra para plantas.
 Nós temos dezenas de palavras para plantas.
 Os franceses distinguem entre fleuve (rio que deságua no mar) e riviere (rio que deságua noutro rio).
 Nós usamos uma só palavra para rio se ele deságua no mar ou noutro rio.
 Os franceses usam uma só palavra – bois – para bosque, madeira em geral, madeira de construção, lenha de
queimar.
 Nós usamos bosque, floresta, mata, tábua, lenha, ripa.

Cada língua tem a melhor articulação para si mesma, tem seus sons próprios, com organização especifica. A
língua portuguesa tem seus próprios sons, que são combinados de forma diferente dos sons de outras línguas. O inglês tem
o som / th /, que distingue signos, é, assim, um fonema: thing / sing (coisa / canto ou cantar) nós não temos esse fonema. O
alemão permite a combinatória dos fonemas / p / e / f / , como em pferd, cavalo, a língua portuguesa não permite essa
combinatória.
Cada língua é a melhor para o grupo que a fala, numa determinada etapa lingüística. A língua serve aos
interesses particulares de seus falantes, transformando-se e adaptando-se segundo as necessidades de seus usuários.
Os indígenas que não conhecem o objeto computador, não precisam da palavra computador. Isso não os faz
ignorantes ou primitivos, apenas naquela etapa de sua cultura a não-existência do objeto faz com que sua língua não tenha
a palavra que represente aquele objeto.

A partir desses princípios, podemos ver que não há línguas pobres ou ricas, feias ou bonitas,
fáceis ou difíceis. É pertinente a citação de Malmberg, (1979) quando diz: uma língua não é si
mesma nem mas clara, nem mais lógica, nem mais abstrata que outra. Toda língua permite –
desde que seu vocabulário seja suficientemente grande – a expressão dos pensamentos mais
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claros e mais confusos, mais lógicos e mais estúpidos, mais abstratos e mais concretos (p.
156).

4.1. Conceituação de língua e fala

A comunicação humana pressupõe a existência de três fatores importantes:


• Um emissor: que inicia o processo de comunicação.
• Um receptor: que recebe e interpreta a comunicação.
• Uma mensagem: que é o conteúdo da comunicação. O assunto a ser comunicado.

4.1.1 Língua
Para que a comunicação possa existir é necessário que o emissor e o receptor utilizem um código para emitir
sua mensagem. Esse código, conhecido por ambos os elementos participantes da comunicação é a Língua.
Definindo Língua diz Martinet (1968): “uma língua é um instrumento de comunicação através do qual a
experiência humana se analisa de modo diferente em cada comunidade” (p. 28-29).
Língua é a manifestação da linguagem num grupo social determinado. A Língua é uma formalização da
linguagem. É também chamada de Linguagem Verbal porque usa a palavra ou o signo lingüístico.
Ao definir a Língua diz Saussure (1971):

A língua é ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de


convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade
nos indivíduos (p. 17).

Cada nação, cada povo tem sua própria língua. Assim o português, o inglês, o francês, o russo são línguas ou
sistemas lingüísticos. Ao tratar de Língua, Saussure diz que ela é: “um acervo lingüístico; uma instituição social; uma
realidade sistemática e funcional” (op. cit, p. 16).
Vejamos cada um desses aspectos da Língua:
• Como acervo lingüístico, a língua é “o conjunto de hábitos lingüísticos que permitem a uma pessoa
compreender e fazer-se compreender”. A língua, enquanto acervo, guarda consigo toda a experiência histórica acumulada
por um povo durante a sua existência.
• Como instituição social, a língua é, “ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”
(idem, p. 17).
• A Língua como realidade sistemática e funcional, é, antes de tudo, “um sistema de signos distintos
correspondentes a idéias distintas” (ibidem, p.18).

É um código, um sistema homogêneo de signos que exprime idéias. A língua para ele é um elemento de coesão
e organização social, mas para que essa língua seja conhecida é necessário que ele se realize em atos de fala, concretos, que
podem ser analisados em seus diferentes aspectos. A dicotomia língua x fala é uma das mais importantes propostas por
Saussure.
Para ele a fala é multifacetada e heterogênea.
[...] a fala é um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir:
1. as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento
pessoal;
2. o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações (idem, p.28).
Para Saussure a fala é a realização concreta da língua. É a língua em ação. Língua e fala são interdependentes,
no seu dizer:
[...] esses dois objetos estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente: a língua é necessária para que a
fala seja inteligível e produza todos os efeitos; mas esta, a fala, é necessária para que a língua se estabeleça (ibidem, p.28).
A língua como sistema pressupõe que todas as unidades lingüísticas, fonemas, morfemas, funcionem em relação
a todas as unidades do sistema, sem levar em conta outras características fonéticas, léxicas ou morfossintáticas. A fala, por
ser individual, heterogênea e variável não pode ser considerada um sistema. É, para lê um não-sistema.
A partir das idéias de Saussure, acrescidas posteriormente por outros estudiosos, pode-se traçar um quadro
comparativo entre Língua e fala.

Língua Fala
Social Individual
Homogênea Heterogênea
Sistemática Assistemática
Abstrata Concreta
Constante Variável
Duradoura Momentânea
Conservadora Inovadora
Ideal Real
Permanente Ocasional
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Sistema Realização
Essencial Acidental
Psíquica Psicofísica
Instituição Práxis (ação)
Adotada pela comunidade Surge no individuo
Potencialidade Realidade
Unidade Diversidade
Forma Substância
Produto Produção
Individuo subordinado Individuo “senhor”
Necessária para inteligibilidade e execução da fala Necessária para que língua se estabeleça
Competência Desempenho

4.2 Modalidades da Língua

As línguas podem ser realizadas de dois modos, modalidades ou códigos diferentes: a língua falada e a língua
escrita. Ambas têm o mesmo valor, não há superioridade de uma sobre a outra, mas tem objetivos, métodos e técnicas
diferentes.
• Língua falada: é a realização concreta da linguagem, é natural, transmitida e aprendida por imitação, esta
ligada as características individuais de seus falantes. Pode ser de língua-padrão ou não-padrão, dependendo dos objetivos,
do nível sociocultural de seus falantes e, especialmente, do contexto lingüístico e extralingüístico onde ocorra a
comunicação. Geralmente, a língua falada não segue tão rigidamente as normas gramaticais da gramática prescritiva. Uma
entrevista de um intelectual ou de um professor é de língua falada, mas certamente seguira as normas gramaticais da
gramática prescritiva, enquanto o mesmo falante, ao conversar com seus amigos, informalmente, ou com um subordinado,
não estará tão preocupado com as normas da gramática. Assim, não é o fato de ser língua falada que fará a diferença, mas a
formalidade ou informalidade da comunicação, ou seja, o contexto é que determinara o tipo de nível registro que ele usará.
• Língua escrita: é a modalidade que esta ligada diretamente a escolaridade do falante. É necessário que ele
seja ao menos alfabetizado para ler e escrever as mensagens. Pode, também, ser língua-padrão ou não-padrão. É aprendida
e é uma representação da língua falada. Não há, contudo, uma relação obrigatória direta entre a formalidade ou
informalidade da comunicação por ser ela escrita. Um professor ou intelectual ao preparar uma conferência ou um texto
cientifico, certamente usará a língua-padrão, com todas as normas da gramática prescritiva, o que não ocorrerá se ele deixar
um bilhete para uma servidora domestica. Mesmo ambos sendo textos escritos, por terem objetivos diferentes, terão nível
ou registro diferente.
O texto “O Gigolô das Palavras”, de Veríssimo é um bom exemplo sobre Linguagem, Língua e Gramática.

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão,
designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e
usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da
pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava
diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco
antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não
pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada
exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as
outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não
necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E
quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a
ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a
necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas
fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo.
Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia
definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua
mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática
na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês,
a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na
matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional.
Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão.
Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo
dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que
outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar
com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o
mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que
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se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um
marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas
em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma
conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
(Veríssimo, L. F. O Gigolô das Palavras. Porto Alegre. L & PM.182, p. 10).

4.3. Linguagem Verbal e não-verbal

Outros sistemas de linguagem, que não são linguagem verbal, podem, também, ser utilizados para a
comunicação:
 Sistemas sonoros: Sinos da Igreja; Sirene de polícia e dos bombeiros; Campainha do telefone.
 Sistemas Luminosos
 Sinal de Trânsito: Passe; Atenção; Pare;
 Sistemas de Sinais: Proibido Fumar; Permitido Parar; Aeroporto.
 Sistema Gestual: A linguagem dos surdos-mudos; O gesto para indicar “tudo bem”, com o polegar levantando; O
gesto para indicar “tudo mal”, com o polegar abaixado.

Esses sistemas são linguagem de signos, só não são linguagem verbal ou língua. Porém todos esses outros
sistemas de signos precisam do signo lingüístico, da língua, para interpreta-los. Assim, o sinal luminoso de trânsito
significa:
Verde = passe
Amarelo = atenção
Vermelho = pare

É importante lembrar
• A lingüística é o estudo cientifico da linguagem humana.
• A linguagem é uma das faculdades essenciais que distingue o homem dos animais.
• A linguagem representa duas fases interdependentes: A língua e a fala.
• Língua é a manifestação da linguagem num grupo social determinado.
• Fala é a realização concreta da língua.
• O Signo Lingüístico é uma entidade psíquica, um todo composto de dois aspectos diferentes, mas
indissociáveis: o Significado e o Significante. É, também, Arbitrário-Imotivado e Linear.
Para entender a importância do signo vejamos um extrato do texto de Luis Fernando Veríssimo sobre a
comunicação e o valor do signo, com significado e significante.

4.4 Comunicação

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer.
Imagine-se entrando numa loja par comprar um... um... como é mesmo o nome?
“Posso ajuda-lo, cavalheiro?”
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...”.
“Pois não?”
“Um ... como é esmo o nome?”
“Sim?”
“Pomba! Um... um... que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É a coisa simples, conhecidíssima”.
“Sim senhor”.
“O senhor vai dar risada quando souber”.
“Sim senhor.”
“Olha, é pontuada, certo?”
“O que cavalheiro?”
“Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na
outra tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta só que é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie
de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende,
fica fechado. É assim pontuda que fecha. Entende?”
“Infelizmente, cavalheiro...”
“Ora você sabe do que eu estou falando”
“Estou me esforçando, mas...”.
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontuda na ponta, certo?
“Se o senhor diz, cavalheiro.”
“Como se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um
detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”
“Sim senhor. Pontudo numa ponta” (...)
(Veríssimo, Luís Fernando. Para gostar de ler. Volume7. 1997)

Para que haja comunicação é necessária a existência de três elementos básicos:


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Um emissor: Que inicia um processo de comunicação. Exerce uma serie de atividades que lhe permitem fazer
funcionar desde o cérebro até a emissão física da mensagem:
Atividade cerebral
• Escolha do assunto que vai falar.
• Seleção do significado do que vai falar.
• Escolha da forma lingüística a ser utilizada.
• Instrução aos órgãos da fala, através de impulsos nervosos.

Atividade motora / fisiológica


• Funcionamento dos órgãos da fala (pulmões, brônquios, traquéia, laringe, faringe, palato duro, língua, dentes, lábios,
alvéolos, cavidade nasal).

Atividade física
• Movimento das ondas sonoras (ondas com freqüência, amplitude, duração).
• Um receptor: Que recebe e interpreta a comunicação. Exerce uma serie de atividades e funções que lhe permitem ouvir e
entender a mensagem:
Atividade motora/fisiológica
• Recepção da onda sonora pelo aparelho auditivo

Atividade cerebral
• Reconhecimento do som
• Comparação do som com o modelo de sua língua
• Percepção-entendimento do que foi falado
• Uma mensagem: que é o conteúdo da comunicação. O assunto a ser comunicado.

A comunicação oral é uma cadeia de ações que liga o cérebro do emissor ao do receptor. A comunicação pode
ser feita de forma oral, mas também escrita. No caso da comunicação escrita o emissor é o escritor (o que escreve a
mensagem), e o receptor é o leitor (que lê a mensagem).
Aposição de emissor e de receptor é trocada a cada momento da comunicação entre duas pessoas. Quando João
fala, ele é emissor, e Maria que ouve é a receptora. No momento seguinte, se Maria responde a João, ela passa a ser
emissora e João o receptor.
Durante a comunicação o emissor e o receptor exercem funções que estão ligadas as suas emoções, ao assunto
tratado, as características do receptor, as circunstancias do momento da comunicação, as intenções de ambos, e assim por
diante. Cada um desses elementos vai definir uma das funções da linguagem.

EXERCÍCIO 1

A SERPENTE
(COATL)

“Seu bom humor e espontaneidade a fazem popular entre os amigos. Está


sempre alegre, é divertida e adora ouvir o que eles têm para contar. Faz
qualquer sacrifício em nome da amizade e conquista as pessoas ao se tornar
confidentes dela. O trabalho não é prioridade na sua vida. Você não se
deixa escravizar pela carreira, mas alcança o sucesso profissional mesmo
assim. Embora não deixe transparecer, tem problemas como todo mundo e
nem sempre consegue resolvê-los.
 Para ser feliz: decida impasses com mais rapidez. Sua hesitação
Horóscopo
pode emperrar projetos.
ASTECA
Revista Cláudia, ed. 441, out,2002

1. Indique o emissor, o destinatário, o código e o canal nessa matéria.


2. A partir das relações de concordância, podemos definir o sexo do público alvo dessa matéria. Que palavras nos permitem
isso.
3. O horóscopo asteca, ao contrário do horóscopo zodiacal, tem seus signos relacionados à data de nascimento completa
(dia, mês e ano). Para que o público encontre seu signo, a revista Cláudia apresenta uma relação que vai de 1° de janeiro de
1962 a 31 de dezembro de 1977 e uma nota de rodapé (se você nasceu antes de 1962 ou depois de 1977, acesse o nosso
site). A partir dessas informações, defina o destinatário com mais precisão.
Para compreender um texto, o leitor precisa dominar o código, que não se resume em decodificar as palavras. É preciso
compreendê-las no contexto e também ler o que não está escrito, mas subtendido. Pensando nisso, responda a questão
seguinte.
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4.Comente o emprego da palavra Coatl no texto. Que tipo de conclusões você pode tirar?
EXERCÍCIO 2
Descrever, narrar e dissertar são três habilidades que fazem parte do amplo e multifacetado processo de aprendizado e
vivência de uma língua. Veja o que ocorre nos quadrinhos abaixo e responda às questões em seguida.

VENDO O TEXTO - EXERCÍCIO


1. O que está fazendo o personagem que se encontra na cabine telefônica? A quem ele dirige sua mensagem?
2. A julgar pela atitude das pessoas que estão na fila, o que podemos concluir sobre a duração da conversa telefônica?
Por quê?
3. Caracterize com poucas palavras cada um dos personagens envolvidos na seqüência apresentada. Não se esqueça do
pintor.
4. A seqüência de quadros nos mostra um ato de comunicação. Aponte cada um dos seis elementos que o formam.
5. A julgar pela tela produzida, o que podemos dizer sobre a eficiência da mensagem enviada? Por quê?
6. O texto de Quino é composto por três momentos. Comente o impacto causado pelo terceiro momento em relação aos
dois anteriores.
7. Desenho e pintura conseguem reproduzir exatamente a realidade? Mesmo que esse fosse seu objetivo, você acha que
isso seria possível? Por quê?

EXERCÍCIO 3
O TEXTO ESCRITO
A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles não
apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir quando este aluno tem
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necessidade de se expressar formalmente e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta ultima situação ele
deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e escrever.
Na linguagem oral o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O conhecimento da situação facilita a
produção oral. Nela o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de pedir esclarecimentos,
ou até de mudar o curso da conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamente lingüísticos,
como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita a falta destes elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo
texto, que se deve organizar de forma a garantir a sua inteligibilidade.
Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escrito não ser satisfatório não
significa que seu produto tenha dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana e sim que ele não domina os
recursos específicos da modalidade escrita.
A escrita tem normas próprias, tais com regras de ortografia – que, evidentemente, não é marcada na fala - , de
concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta
não garante o sucesso de um texto escrito. Não basta,também, saber que escrever é diferente de falar. É necessário
preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido aqui como um ato de linguagem que representa uma interação
entre o produtor do texto e o seu receptor; além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para a
qual o texto foi produzido.
Para que esse discurso seja bem-sucedido deve constituir um todo significativo e não fragmentos isolados
justapostos. No interior de um texto devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos
significativos que confiram coesão ao discurso. Considera-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só
fazendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras.
(URIGAN,Regina H. de Almeida et al. A dissertação
No vestibular.In : A magia da mudança: vestibular
Unicamp – língua e literatura.Campinas: Ed. Da
Unicamp,1987.p. 13-4)

LENDO O TEXTO
1. O primeiro parágrafo nos fala da capacidade de expressão dos alunos. Qual o contraste apontado?
2. Quais as diferenças entre o falar e o escrever levantadas no segundo parágrafo?
3. Um texto escrito mal formulado não apresenta necessariamente falta de domínio da linguagem cotidiana.Justifique
essa afirmação com base no terceiro parágrafo e nas discussões que já tivemos sobre o assunto
4. Releia o quarto parágrafo e responda:
a) O que é um discurso?
b) Quando você fala ou escreve, produz discursos? Comente.
c) Por que o simples conhecimento das normas próprias da escrita não garante o sucesso de um texto?
5. Qual a importância da figura do receptor para a composição de um texto?Comente.
6. Finalidades diversas resultam em textos diferentes? Explique.
7. Leia atentamente o último parágrafo e responda:
a) O que o texto não deve ser?
b) O que é um texto coeso?
8. Releia atentamente o texto. Selecione em cada parágrafo uma frase principal para elaborar um esquema. A seguir,
comente o percurso seguido pelos autores para expor suas idéias.

5. FUNÇÕES DA LINGUAGEM

5.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM SEGUNDO JAKOBSON

Ao tratar das funções da linguagem, Jakobson (1969) propõe seis funções, ligadas ao que ele chama de fatores
da comunicação. Assim, ele propõe o seguinte esquema:

FUNÇÃO REFERENCIAL
(Contexto)

FUNÇÃO EMOTIVA FUNÇÃO POÉTICA FUNÇÃO CONATIVA

FUNÇÃO FÁTICA
(Contato)

FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

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a) Função Emotiva ou Expressiva: A função emotiva ou expressiva esta ligada ao emissor ou remetente, a sua forma de
comunicar, a sua afetividade, a sua personalidade. Os pronomes utilizados são, quase sempre, os de primeira pessoa (eu,
nós, a gente). Assim, nas frases seguintes pode haver muitas interpretações, dependendo do modo como são pronunciadas:
 Maria, venha cá. (com entonação suave, carinhosa)
 Maria venha cá! (com voz firme e imperativa)
 Mariiiiiia venha cáááááááá... (com voz irritada, aos berros)
A função predominante, nesses casos, é a emotiva. A mensagem pode ser a mesma, mas o modo como foi
enviada é que vai dar o sentido maior ao que está sendo dito.
O extrato do texto de Rubem Braga, Galeria Cruzeiro, mostra muito bem como o autor usou a função emotiva
para descrever aspectos da vida de seu personagem, que poderiam ser os de sua própria vida. Vejamos:

Então, no fim da tarde, quando eu vinha pela avenida, depois de andar por tantas e tão estreitas pequenas ruas
atulhadas de bondes e caminhões com homens comerciais, me senti tão cansado no fim da tarde quente, e tão desanimado
de minha vida e de meus negócios em eterno atraso, e tão vazio de amor que resolvi esquecer tudo, tomei um quarto no
Hotel Avenida.
Tomei um quarto no Hotel Avenida em cima da Galeria Cruzeiro; mas a medida que a galeria recuava no
tempo (os bondes ainda passava lá por baixo, eu podia ouvir seu ruído de meu quarto) eu avançava na idade, completara
na véspera 54 anos e não estava muito bem de saúde. A luz de meu quarto era fraca e amarela, eu estava com minha
roupa feita no alfaiate Lima, em Itaúna, calçava, botinas amarelas e escrevera minha profissão no livro do hotel:
lavrador.
Tinha na mão algumas pequenas notas e as contava, faziam um total de 26 mil réis com mais alguns níqueis 27
mil e duzentos. Pus esse dinheiro em cima da mesa, e o completava e pensava assim: ao fim de 43 anos de trabalho na
lavoura porquanto aos 11anos já pegava no cabo da enxada, eis o que reta um homem trabalhador. Isto uma propriedade
hipotecada, a mulher doente, uma filha solteirona que dá faniquitos, um filho casado que mora longe e nunca se lembra de
escrever, outro filho na penitenciária de Ouro Preto com um resto de seis anos de pena, e uma conta de hotel por pagar.
Sem falar neste relógio (quanto vale?), neste canivete preto, neste fumo de rolo e nesta vergonha na cara. (...)
(BRAGA, Rubem. Galeria Cruzeiro. In: Moraes, L.M. Conheça o escritor Rubem Braga, Rio
de Janeiro: Record, 1979, p.41-42).

b) Função Apelativa ou Conotativa: está ligada ao receptor ou destinatário. O emissor, a completa-la, deseja obter, do
receptor a adesão, a aceitação ou ao cumprimento de uma ordem. A forma verbal utilizada nesse caso é o vocaivo e o
imperativo. Como nas frases seguintes:
 Pode entrar!
 Coma tudo, José!
 Sente-se aqui!
A propaganda de uma marca e cerveja sem álcool é um bom exemplo de função apelativa em que as vantagens
do produto são anunciadas para comprar o produto e não um outro.
Entenda por que (...) 0,0% não tem álcool e as outras cervejas sem álcool têm.
(...) é a única porque seu processo de fabricação é diferente: ela é produzida como uma cerveja comum e,
depois de pronta, o álcool é retirado. Já as outras interrompem a fermentação dos ingredientes o que não garante que o
álcool seja totalmente eliminado e ainda prejudica o sabor, (...) tem 0,0% de álcool. É uma marca que garante que ela
seja uma cerveja gostosa de verdade: (...)
(Revista Veja, 3 de Agosto de 2005, p. 18)

c) Função Representativa ou Referencial: está ligada ao referente.


Diz respeito ao contexto ou situação, seja lingüístico ou extralingüístico, rela ou irreal. É a função utilizada nas
notícias e informações, como por exemplo, nas frases:
 O expediente da manhã é das 8hs às 12hs.
 O ônibus carregado de passageiros caiu no abismo de 30 metros.
 Para aprender as funções da linguagem vocês devem ler o texto da professora.

Notícia de jornal, informativa, descritiva.


Encontrados explosivos no presídio Sílvio Porto.

Agentes penitenciários encontraram ontem uma grande quantidade de explosivos e detonadores em celas do
pavilhão 20 do presídio Sílvio Porto, em João Pessoa. Foram encontrados onze explosivos de plástico, tipo C-4, usados
por organizações terroristas, envolvidos em preservativos; onze espoletas de nitrato de prata (mais poderosos do que a
pólvora) e oito metros de fio. De acordo com as informações da Polícia, o objetivo era aproveitar o feriado de aniversário
da cidade para explodir uma das guaritas do presídio Sílvio Porto e promover uma fulga em massa.
(Jornal Correio da Paraíba. João Pessoa, 4/08/2005, p.A-8)

d) Função Poética: está ligada à própria mensagem. Diz respeito às formas como à mensagem. Diz respeito às formas
como a mensagem é estruturada, à harmonia frasal, às pausas, ao ritmo, à sonoridade, que vão dar à mensagem sua

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característica peculiar. os anúncios e propagandas comerciais usam bastante da função poética na linguagem. A poesia usa,
também, essencialmente a função poética da linguagem.
 Tomou Doril, a dor sumiu.
 Vem pra caixa você também, vem
 O bom do Brasil é ser brasileiro.
Vejamos essa função na poesia de Carlos Drummond de Andrade

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.


não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Andrade, C. D. de Mãos Dadas, In: MORAES, L.M. conheça o escritor brasileiro
Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: Record, 1977, p.29.)

e) Função Fática: está ligada ao contato, que pode se físico ou psicológico. Tem a função básica de estabelecer o contato,
“estar ligado” na comunicação. Não há, neste caso, uma interação de comunicar algo ou algum fato, mas apenas
estabelecer ou romper o contato como, por exemplo:
 Alô, está me ouvindo?
 Passe em casa pra tomar um cafezinho!
 Oi tudo bem?
A música de Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”, é um bom exemplo de função fática da linguagem. Vejamos:

Sinal Fechado

Olá, como vai ? Quem sabe ?


Eu vou indo e você, tudo bem ? Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto
Tudo bem eu vou indo correndo tempo...)
Pegar meu lugar no futuro, e você ? Tanta coisa que eu tinha a dizer
Tudo bem, eu vou indo em busca Mas eu sumi na poeira das ruas
De um sono tranquilo, quem sabe ... Eu também tenho algo a dizer
Quanto tempo... pois é... Mas me foge a lembrança
Quanto tempo... Por favor, telefone, eu preciso
Me perdoe a pressa Beber alguma coisa, rapidamente
É a alma dos nossos negócios Pra semana
Oh! Não tem de quê O sinal ...
Eu também só ando a cem Eu espero você
Quando é que você telefona ? Vai abrir...
Precisamos nos ver por aí Por favor, não esqueça,
Pra semana, prometo talvez nos vejamos Adeus...

f) Função Metalingüística: esta ligada ao código. Por ela, usa-se a língua para explicar a própria língua. As definições e
explicações que se dão, por exemplo, nos dicionários ou em debates, quando se pede ou se dá o significado do que está
dizendo:
 O que é H²O?
 Geolinguísitca é o estudo das variantes fonéticas, léxicas e morfossintáticas dos falares regionais,
colocadas em mapas, também chamadas cartas lingüísticas.
 O que quer dizer com isso? O que eu quero dizer é que a lingüística é a ciência que estuda a linguagem
humana.

O texto teórico explica um conceito lingüístico. Nele há a predominância da função metalingüística da


linguagem.
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Bidialectualismo. Capacidade de uso de dois dialetos de uma mesma língua por um indivíduo ou por uma
comunidade. Uma das situações de bidialectualismo é a alternância de variedades: informal e formal.
(XAVIER, M. F.; MATEUS, M. H. (Orgs.) Dicionário de termos lingüísticos. V.1, Lisboa: Cosmo, s.d.
p.63).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

As funções da linguagem não são exclusivas, ou seja: nem uma mensagem pode ser vista como apenas emotiva,
apelativa, referencial, poética, representativa ou metalingüística. Elas são independentes, misturam-se e influenciam-se
umas as outras.
Contudo, cada tipo de comunicação há predominância de um tipo de função, que é utilizada com objetivos para
motivar, manipular, mudar pensamentos, mudar idéias e convencer pessoas.
Nesse caso, as palavras, mais que atitudes, têm um poder muito grande, quando usadas para determinados fins
(comerciais, políticos ou religiosos).
Nesse contexto, é importante a definição de manipulação. Manipulação é o uso simultâneo de diferentes
funções de língua com o objetivo de manipular ou enganar o receptor, para obter seu apoio ou adesão.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM E SUA ADEQUAÇÃO AOS TEXTOS

ELEMENTO
FUNÇÕES DA QUE FICA FINALIDADE EXPRESSÃO
TEXTOS
LINGUAGEM EM OU CONTEÚDO LINGÜÍSTICA
EVIDÊNCIA

Linguagem Documentos
Mensagem
referencial; e relatórios;
objetiva:
REFERENCIAL Referente Significação Linguagens
fatos, idéias
unívoca, não- científica e
e ações
polissêmica jornalística

Linguagem
Cartas
Mensagem conotativa;
pessoais;
subjetiva: Interjeições,
Diários;
EXPRESSIVA Emissor sentimentos adjetivos
Linguagens
e emoções valorativos;
familiar e
de quem fala Entonação
literária
expressiva

Mensagem Linguagem
que influencia Imperativos; publicitária;
o ouvinte com Vocativos; Linguagens
APELATIVA Receptor
o objetivo de formas de propaganda
provocar uma afetivas política e
resposta religiosa

Mensagem Linguagens
Linguagem
que atrai a literária,
conotativa e
Forma atenção pela coloquial e
POÉTICA plurissignificativa;
de mensagem forma de familiar;
Recursos
expressão, Linguagem
literários
pela estética publicitária

Informação
Frases feitas;
mínima.
Palavras e
Sua intenção Linguagem
FÁTICA Canal expressões de
é estabelecer ou manter coloquial
apoio;
a
Redundâncias
comunicação

Informação
para
Linguagem Tratados
METALIGUÍSTICA Código esclarecer ou
referencial lingüísticos
explicar a
linguagem

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EXERCÍCIO 4
1. Leia ou cante o texto seguinte: Tente outra vez

Veja! Há uma voz que canta


Não diga que a canção Uma voz que dança
Está perdida Uma voz que gira
Tenha em fé em Deus (Gira!)
Tenha fé na vida Bailando no ar
Tente outra vez!... Uh! Uh! Uh!...

Beba! (Beba!) Queira! (Queira!)


Pois a água viva Basta ser sincero
Ainda tá na fonte E desejar profundo
(Tente outra vez!) Você será capaz
Você tem dois pés De sacudir o mundo
Para cruzar a ponte Vai!
Nada acabou! Tente outra vez!
Não! Não! Não!... Humrum!...

Oh! Oh! Oh! Oh! Tente! (Tente!)


Tente! E não diga
Levante sua mão sedenta Que a vitória está perdida
E recomece a andar Se é de batalhas
Não pense Que se vive a vida
Que a cabeça agüenta Han!
Se você parar Tente outra vez!...
Não! Não! Não!
Não! Não! Não!... Raul Seixas, Paulo Coelho; Marcelo Motta

Agora Responda:
1. A letra da música nos transmite um conselho. O que o eu lírico insiste em nos dizer?
2. A que “canção perdida” se faz referência no texto?
3. Interprete o sentido conotativo destes versos:
a) “(...) a água viva ainda está na fonte”.
b) “Você tem dois pés para cruzar a ponte”.
c) “Você será capaz de sacudir o mundo”.
d) “(...) não diga que a vitória está perdida”.
4. Observa-se no texto uma mensagem de esperança e otimismo. Por que há um apelo insistente para que se tente alcançar
vitória mais uma vez?
5. Qual é a função de linguagem predominante no texto? Justifique sua resposta.
6. Que mensagem há na última estrofe?

EXERCÍCIO 5

1. Leia os textos apresentados a seguir e explique as funções da linguagem que ocorrem em cada um eles. Justifique suas
respostas.

Texto 1
Tarde fria,, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a
tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de novo, e penso em ti devagar, bem devagar,
com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
Rubem Braga, 200 crônicas escolhidas, Rio de Janeiro, Record, 1978

Texto 2
Em fevereiro de 1997, o escocês lan Wilmut anunciou a primeira clonagem de um animal adulto, uma ovelha.
Clonar significa fazer cópia, artificialmente de um ser vivo.
Adaptado de Superinteressante, abr. 1997.

Texto 3
15
Cala, ouve o silêncio
Ouve o silêncio que nos fala tristemente
Desse amor que não podemos ter
Não fala, fala baixinho
Diz bem de leve um segredo
Um verso de esperança em nosso amor...
Não, oh, meu amor!
Canta a beleza de viver!
Saúda o sol e a alegria de amar
Em nossa grande solidão.
Vinicius de Moraes. Poesisa completa e prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986.

Texto 4

Os mamíferos herbívoros, isto é mamíferos que se alimentam de ervas e vegetais, precisam andar muito para
achar comida, mas, quando a acham, podem pegá-la com facilidade. Para os mamíferos carnívoros, isto é, mamíferos que
se alimentam de carne, encontrar alimento é mais arriscado e existe treino, esforço e paciência. Por isso, as brincadeiras de
pequenos carnívoros como o cão e o gato se assemelham tanto ao comportamento dos adultos quando caçam. Mas para
evitar ferimentos acidentais, é importante que ao brincar, o bichinho transmita a sensação de brincadeira; caso contrário,
pode ser levado a sério pelos outros e aí começa uma briga.
Enciclopédia Globo, Rio de Janeiro, 1990.

6 LEITURA

6.1. O que é Leitura? O que é ler?


É um tipo de conhecimento? Conhecimento prévio e/ou construído no grupo? Relaciona-se com a experiência
de cada um? É o resgate de uma experiência vivida? Ou é o desejo de uma experiência por viver? Como leitura e
experiência podem se articular? Contando histórias e resignificando-as? Pode ser fragmentada ou global essa leitura? Pode
acontecer por diferentes formas de ver, expressar-se? Precisa ou não do outro? Qual é o papel desse outro na leitura?
Influenciar? Ser influenciado? Os dois? Leitura e mudança e pontos de vista... Por que essa relação? A leitura nos ajuda a
fazer relações? Ou é nas relações que ela se constitui? O que a leitura tem a ver com a visão de mundo, afinal? E com a
nossa história pessoal e social? Ler pode ser construir uma determinada história? Mas e, o conhecimento, o que tem a ver
com essa história?
Na verdade, a leitura pode estar relacionada a todas estas questões, como tudo o que não podemos de imediato
imaginar. A leitura é o próprio ato de ver, na sua concretude ou representado por meio da escrita, do som, da arte, dos
cheiros. A leitura é uma experiência cotidiana e pessoal representativa para cada pessoa. Minha leitura é só minha, incapaz
de ser a do outro... A convergência total neste ponto inexiste, e é aí que se encontra o grande encanto da leitura, recheada
de tantos outros, mas tão única para um só.
Por meio da leitura e de nossa visão de mundo, conseguimos o domínio da palavra. Por meio da palavra,
trocamos idéias e conhecimentos, sendo possível entender o mundo que nos cerca. Com o domínio da palavra nós nos
transformamos e, ao nos transformar, nos é permitido construir um mundo melhor. Através de nossas histórias, é possível
resgatar lembranças... Resgatando lembranças, voltamos no tempo. Ao voltarmos no tempo, entendemos as raízes que
fazem parte da nossa cultura, essa cultura que nos foi dada como base para nossa formação de cidadãos críticos e
conscientes dos nossos atos...
Nossas leituras nos fazem pensar sobre as verdades pessoais. Como se constroem? De que maneira sobrevivem?
E até mesmo podemos pensar se existe a possibilidade de transformá-las. Percebemos a fragmentação como obstáculo
considerável no processo de leitura. Somos seres integrados, capazes de relacionar idéias e isso nos torna capazes de operar
transformações. Assim como é impossível separar corpo e mente, torna-se evidente a incoerência na segmentação do
conhecimento. Nossa experiência nos permite avançar no conhecimento e, assim, amplia nossa visão de mundo. Nada está
estático, nada é absoluto: as verdades se constroem e se reconstroem ao longo da vida. A verdade está dentro dos olhos de
quem a vê, no coração de quem a sente e na mente que reflete sobre ela. Assim, tudo é uma coisa só.
Ler é estar conectado com a leitura do outro, é receber e enviar informações, é logar na realidade do outro, é
entender que sem o outro o seu ponto de vista é só um ponto de vista.
Por tudo isso, é fundamental que o educador tenha sensibilidade para perceber as dificuldades dos educandos e
intervenha de maneira satisfatória, levando-os à construção da leitura. Afinal, a vida é uma aventura e deve ser vivida
intensamente. Apesar dos pesares.
Célia Ribeiro, Valéria Coutinho, Paola Fávero, Jéferson Barbosa e Priscila Soares

6.2 A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA

É ponto aceito sem contestação que a leitura do texto escrito constitui uma das conquistas da humanidade. Pela
leitura, o ser humano não só absorve o conhecimento, como pode transformá-lo em um processo de aperfeiçoamento
contínuo. A aprendizagem da leitura possibilita a emancipação da criança e a assimilação dos valores da sociedade.
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Como diz Silva (1985, p.22-23), “a leitura, se levada a efeito crítica e reflexivamente, levanta-se como um
trabalho de combate à alienação (não-racionalidade), capaz de facilitar ao gênero humano a realização de sua plenitude
(liberdade)”. Dessa forma, a leitura se caracteriza como sendo uma atividade de questionamento, conscientização e
libertação. O Autor questiona se a sociedade permite a presença desses leitores críticos e transformadores; vê a leitura
como causadora de bem-estar do povo; e coloca a questão da circulação do livro que não se processa democraticamente
para toda a população.
No seu primeiro momento de assentamento, o modelo burguês de integração da criança na privacidade e no
afeto familiar estende-se também à classe proletária, não com tanta intensidade e com outros objetivos: diminui o custo,
social do Estado, que até então mantinha institutos de caridade para cuidar do menor abandonado.Essa criança, criada a
partir de agora no seio de uma família pobre, mas unida, contribuirá para sua manutenção, uma vez que trabalhará
precocemente. A criança burguesa é separada socialmente; recebe seu próprio espaço de atuação – a escola - isolando-se do
mundo dos adultos. A criança proletária, por outro lado, muito embora estando inserida no contexto escolar, tem acesso às
ruas e sua formação é mesclada, consistindo em uma educação formal e informal.
Dessa forma, a leitura, decorrente da necessidade da burguesia de expandir o conhecimento, socializou a
informação, não mais se restringindo a uma classe privilegiada – a aristocracia. O ensino obrigatório à criança pobre
serviu, também, para sanar, em parte, um grave problema social; o desemprego do adulto, até então preterido em favor de
uma mão de obra barata e lucrativa.
A sociedade burguesa transformou a leitura em prática social, mas, paradoxalmente, observa-se que o corte
social se faz, sobretudo, pela leitura. Em decorrência do ideal da igualdade proclamado pela burguesia, cria-se um espaço
de escola democrática. Contudo, a educação oferecida direciona-se à classe mais favorecida. O contexto social vigente
prepara a criança burguesa para assumir funções de direção e a criança proletária para desempenhar seu papel de
comandada. A não acessibilidade ao livro e à leitura a todas as classes sociais é uma falha no processo de socialização do
indivíduo, pois a capacidade de interpretar o código escrito e de usufruir a beleza das palavras é essencial à dignidade
humana em uma sociedade que privilegia a escritura e que se afasta da oralidade. A iniciação estética proporcionada pelo
livro leva o indivíduo à insatisfação com o cotidiano e faz nascer nele o desejo de mudança de uma vida medíocre para
uma vida plena.
Se até o século XIX a leitura foi privilégio de uma minoria, no século XX e no atual já não se pode dizer o
mesmo. Apesar de mal compartilhada, reconhece-se que é um direito de todos. O analfabeto não sabe ler e nem escrever,
mas o iletrado funcional é incapaz de ler e escrever o mínimo necessário à vida profissional. Em que pese o nível de
desenvolvimento dos países, os iletrados funcionais atingem a casa dos milhões só nos Estados Unidos e França, conforme
estudo de Morais (198-). O Autor demonstra como o desenvolvimento econômico exige que todos saibam ler e o façam
com facilidade. Isto é exigido não só no trabalho, como também nos afazeres cotidianos. Aumenta vertiginosamente a
demanda social da leitura, uma vez que a sociedade está passando por rápidas transformações e a informação se multiplica
assustadoramente. A mão-de-obra necessita cada vez mais de especialização, o que implica em mais leituras e leituras mais
consistentes. O desemprego aumenta na mesma proporção em que aumenta a riqueza porque já não é necessário tanto
trabalho para produzir os bens. A automatização substitui o trabalho braçal e aumenta o nível de exigência em termos de
capacidade de leitura. Daí ser alarmante o número de crianças de lares de baixa renda que não dominam a leitura e saem da
escola sem estar de fato alfabetizadas. Essas crianças chegam à idade adulta com dupla desvantagem: a de serem pobres e
iletradas. Essa disparidade social e cultural aumenta a distância das oportunidades de trabalho e constitui um sério
problema ao desenvolvimento de qualquer país.
Em que pese a escolaridade obrigatória no ensino fundamental, pode-se dizer que a alfabetização insere o
indivíduo no mundo da escrita e da leitura textual mas não garante sua plena atuação em virtude de outros fatores: recursos
financeiros para adquirir o livro, tempo para freqüentar bibliotecas e a falta de um projeto social que desperte a consciência
crítica por meio da leitura.
Silva (1985, p.24) afirma que “com raras exceções em pontos isolados do processo histórico brasileiro, não
houve a preocupação em se desenvolver uma política ‘honesta’ que promovesse o homem brasileiro em toda a sua
plenitude”. Assim sendo, os bens culturais, no Brasil, têm uma distribuição injusta, restringindo-se às elites. As classes
trabalhadoras encontram-se em desvantagem para produzir e expressar suas idéias porque não tiveram o direito de ser
leitoras.
Vale lembrar que o destino da leitura está ligado às instituições especializadas – escola, biblioteca – e à
sociedade como um todo. Leitura, conhecimento e cultura estão interligados. Perrotti (1990, p. 75) alerta sobre a urgência
de apresentar a leitura como “atividade natural e reconhecida pelo e no grupo social” para conferir à infância identidade
sócio-cultural.

6.2.1 Conhecimento prévio e compreensão da leitura

Vários estudos mostram que a diferença entre bons e maus leitores não resulta de diferentes capacidades de
processamento da informação, mas de diferenças na qualidade e organização dos conhecimentos prévios e nos processos
cognitivos e meta-cognitivos postos em jogo durante a leitura. Da análise das diferenças entre os dois tipos de leitores,
sintetizadas no quadro 1, podemos concluir que os conhecimentos do leitor e a forma como estes estão organizados têm
uma importância fundamental para a compreensão da leitura. Podemos ainda rever aquelas velhas crenças que nos dizem
que os leitores são bons ou maus devido às suas capacidades ou aptidões cognitivas. Com efeito, a investigação mostra que
esta não é a norma. Indivíduos com capacidades idênticas podem ler de modo qualitativamente diferente, consoante aquilo
que já sabem de antemão e o modo como sabem.

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Bons leitores Maus leitores
Classificam e organizam com eficácia os
Possuem quadros de representação do texto demasiado
diferentes tipos de problemas que lhes são colocados
gerais, o que lhes dificulta a percepção da especificidade dos
pelo texto; percebem que estes problemas têm
diferentes detalhes do texto.
diferentes níveis de abstração.
Optam por critérios mais estáveis e Selecionam traços de superfície do texto, muitas vezes
coerentes de seleção dos detalhes pertinentes. apenas aqueles que são explicitamente apresentados no texto.
Muitas vezes consideram como relevantes e pertinentes
Alcançam um nível de compreensão mais
aspectos que efetivamente não o são, confundindo, por exemplo,
aprofundado e específico, relativamente ao domínio
conteúdos de um dado domínio com outros que não são específicos
conceptual de que trata o texto.
do domínio conceptual em questão.
Dominam com maior qualidade e em
Dominam de uma forma inexata e em menor quantidade
maior quantidade os conceitos específicos de uma
conceitos específicos de uma dada área de conhecimento.
dada área de conhecimento.
Estabelecem relações adequadas (de Mostram dificuldade em estabelecer relações adequadas
ordem, dependência, causalidade...) entre conceitos entre conceitos, confundindo as suas ligações de ordem,
específicos de um dado domínio. dependência, causalidade...

Quadro 1
6.2.1.1 Diferenças no conhecimento prévio entre bons e maus leitores
A maior capacidade de compreensão dos especialistas na leitura deriva do acesso a um corpo de conhecimentos
relevantes e facilmente ativados, os quais permitem um tratamento mais aprofundado e pertinente do enunciado. Quanto
mais pertinentes e melhor organizados forem os conhecimentos prévios do leitor, tanto os conhecimentos gerais como
aqueles que se referem ao domínio de conteúdo concreto abordado pelo texto, melhor será o seu desempenho na leitura e
interpretação, melhor será a assimilação/aprendizagem dos conteúdos e melhor será, por conseguinte, a eficácia dos
processos cognitivos em tarefas idênticas posteriores.
Apesar de tudo, a relação entre os conhecimentos prévios do leitor e a compreensão não é linear. O
conhecimento pode existir mas não ser ativado durante a leitura, pode estar fragmentado e por isso ser aplicado com
incorreções, pode ser incompatível com a informação presente no texto que está a ser lido e por isso poderá levar o leitor a
desvalorizar ou a deturpar o que lê. Além disso, há que valorizar também o papel de outro fator destacado pela investigação
como sendo distintivo entre leitores: as estratégias cognitivas.
6.3 As estratégias de compreensão da leitura
O leitor é um agente ativo, capaz de construir e reconstruir o significado do texto à medida que o lê, através da
integração das novas informações com os conhecimentos prévios a elas relacionados, do ajustamento das suas expectativas
e da aplicação de estratégias flexíveis que regulam a compreensão do texto através dum controlo consciente do ato de
leitura. Estas estratégias são o segundo grande fator em que se diferenciam os bons e maus leitores. A literatura tem
salientado as seguintes: determinar as idéias principais do texto; sumariar a informação contida no texto; efetuar inferências
sobre o texto; gerar questões sobre os conteúdos do texto; por fim, monitorar a compreensão (estratégia habitualmente
designada por meta-cognição).

6.3.1 Reconhecer e determinar as idéias principais


A capacidade de separar os aspectos essenciais dos detalhes é um dos fatores que diferenciam os leitores na sua
eficácia e está muito associado à compreensão do texto e à sua recordação posterior. Aquilo que o leitor considera mais
importante assume maior relevo no ato de leitura e por isso é mais facilmente memorizado. Como já referimos, os leitores
mais eficazes têm maior capacidade de destrinçar e selecionar os elementos importantes do texto e por isso aquilo que
guardam na memória resulta de um trabalho seletivo em que o «trigo» já está separado do «joio». Por isso, os elementos
mais importantes ficam menos sujeitos ao esquecimento. Os bons leitores procuram avaliar o texto a partir de várias
frentes, incluindo o seu conhecimento sobre o autor (tendências, intenções, objetivos...) e usam o seu conhecimento da
estrutura do texto para identificar e organizar a informação.
Durante a leitura, estes leitores envolvem-se ativamente num trabalho de pesquisa, durante o qual refletem
acerca das idéias encontradas no texto e da sua importância relativa. Esta pesquisa faz com que a leitura seja uma atividade
seletiva. Estes leitores não se restringem a seguir o percurso linear do texto. Lêem e relêem algumas passagens, dão saltos
para trás, a fim de comparar algumas passagens com outras já lidas anteriormente e de clarificar idéias. Certos trechos
considerados importantes, contraditórios ou pouco claros são mantidos presentes na memória de trabalho, de modo a
clarificá-los à medida que novas passagens, com eles relacionadas, vão sendo lidas.
No final da leitura, os bons leitores têm consciência de até que ponto conseguiram obter um quadro de
representação coeso sobre o texto, ou seja, até que ponto compreenderam as suas idéias principais e, caso verifiquem que
não compreenderam, ou que existem lacunas, empenham-se de novo na leitura do texto para clarificar o seu significado.
Por fim, os bons leitores são mais capazes de determinar as ideias importantes do texto, não apenas em função
das intenções do autor, mas igualmente em função dos seus próprios objetivos de leitura, tendo o discernimento para
perceber quais as partes do texto que se relacionam com esses objetivos.

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A identificação das ideias principais é também influenciada por elementos próprios do texto, como o tipo de
vocabulário usado pelo autor, a quantidade de pormenores de apoio às ideias principais ou a presença de tópicos
específicos sobre essas idéias. Há aqui uma pista interessante do ponto de vista educativo, quanto à redação de textos
didáticos, de modo a evitar alguns erros usuais. É frequente, por exemplo, vermos textos de manuais escolares dirigidos a
crianças redigidos com vocabulário demasiado complexo, pouco frequente na linguagem de uso corrente ou pouco
compatível com o nível de desenvolvimento e capacidade de abstração linguística dos seus destinatários.

6.3.2 Sumariar a informação


Trata-se de uma atividade mais geral que a anterior. A sumariação implica que o leitor sintetize grandes
unidades de texto, condensando as ideias principais e recriando um novo texto coeso e coerente com o original. A função
desta estratégia é clarificar as ideias principais do texto e as suas interações.
A sumariação implica o recurso a operações cognitivas como: selecionar umas informações e anular outras;
condensar algumas informações e substituí-las por conceitos mais gerais e inclusivos; integrar as informações selecionadas
numa representação coerente, compreensível e resumida do texto original. Ora, estas operações estão altamente
relacionadas com o nível de desenvolvimento do leitor. Os estudos mostram que embora quase todas as crianças consigam
sintetizar a estrutura principal de narrativas simples, as mais novas têm desempenhos fracos na sumariação de texto
complexos sobre as mesmas narrativas.
A sumariação relaciona também a estrutura do texto com o conhecimento prévio: os textos bem estruturados e
que descrevem acontecimentos familiares ao leitor têm maiores probabilidades de serem compreendidos, sintetizados e
memorizados.
O treino da sumariação é uma atividade eficaz, pois permite ao aluno reconhecer a estrutura do texto,
favorecendo a memorização de passagens importantes, uma melhor compreensão das relações de subordinação entre ideias
e melhor capacidade de detectar as palavras-chave do texto.

6.3.3 Efetuar inferências sobre o texto


Muitos autores defendem que esta estratégia é o centro vital da compreensão. Ela está presente na leitura de
quaisquer textos, dos mais simples aos mais complexos, tanto em adultos como em crianças. A inferência permite chegar a
uma compreensão mais aprofundada do que a mera compreensão literal do texto. Compreender um texto implica inferir
sobre o que se lê (título, tema, objetivos, enquadramento do texto...), a partir daquilo que se sabe. A inferência permite dar
coerência ao que se lê, extrair novas informações a partir do que está escrito evocar informações que devem ser
adicionadas ao texto e completá-lo.
Ao ler num jornal um artigo de opinião, fazemos inferências acerca das razões pelas quais o autor escreveu o
artigo, porque o publicou naquele jornal e não noutro, porque defendeu certos argumentos, porque evocou uns fatos e
deixou outros omissos... Fazemos tais inferências a partir de conhecimentos e crenças que entendemos serem relevantes (p.
ex., aquilo que sabemos acerca do autor, do jornal e do tema abordado).
Estes conhecimentos são filtrados pelos valores, opiniões e emoções: ao ler podemos sentir-nos irritados,
revoltados, divertidos, comovidos, apaziguados,... Sabe-se que os bons leitores avaliam e respondem afetivamente àquilo
que lêem, de um modo tanto mais intenso quanto maior o seu interesse sobre o assunto. Ou seja, fazem uma leitura
emocionalmente ativa na qual não se limitam a memorizar automaticamente a informação, mas antes a interpelam a partir
de uma posição crítica.

6.3.4 Gerar questões sobre o texto


Trata-se de um procedimento relacionado com a inferência e que, como noutras estratégias, também distingue
os leitores mais e menos proficientes. Os resultados da investigação mostram que a capacidade de colocar questões
pertinentes sobre os conteúdos do texto permite ao leitor aprofundar a compreensão sobre esses conteúdos. Na sua maioria,
estes estudos salientaram as seguintes implicações para o ensino da leitura:
Treinar os alunos a responderem questões sobre o texto permite-lhes compreender informações sobre histórias
a serem apresentadas posteriormente, já sem necessidade de recorrer a questões auxiliares como as que foram utilizadas
num treino inicial.
Se os alunos forem ajudados a produzir as suas próprias questões isso os ajudará a melhorar a compreensão do
texto.

6.3.5 Monitorar a compreensão (meta-cognição)


A meta-cognição é a capacidade de estar consciente dos próprios processos de pensamento: é o pensar sobre o
pensar, a auto-avaliação que nos permite dizer «estou a compreender». Durante a leitura, a meta-cognição inclui duas
componentes distintas:
Estar consciente da qualidade e do grau de compreensão – esta componente implica que o leitor seja capaz de
detectar incongruências no texto e de se implicar ativamente na resolução deste problema. Os leitores mais novos, tal como
os menos proficientes, têm mais dificuldade em detectar e resolver estas incongruências. Contudo, na maioria dos casos, as
incongruências são detectadas quando o conhecimento prévio é insuficiente para se compreender o que se lê («Não
percebo. Isto é novo, está relacionado com quê?») ou quando contradiz aquilo que se lê («Isto vai contra o que eu sei
acerca deste assunto!»).
Saber o que fazer e como fazer quando se descobrem falhas na compreensão – este é um aspecto capital no
desenvolvimento da mestria na leitura e uma das diferenças mais acentuadas entre leitores de baixo e de alto nível de
mestria.
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Seguindo a síntese apresentada podemos dizer que os bons leitores são mais capazes de: gerir a energia e o
tempo que gastam para resolver problemas de leitura; utilizar os recursos disponíveis (por exemplo, repetir a leitura de uma
passagem anterior para compreender melhor outra que se segue); e adaptar as estratégias que utilizam, de um modo
flexível, às diferentes circunstâncias.
Em contrapartida, e de acordo com Garner (1988), verifica-se que os leitores mais novos ou inexperientes têm
pouca consciência da necessidade de encontrar sentido para o texto; encaram a leitura mais como um processo de
decomposição do que de atribuição ou procura de significado; têm dificuldade em identificar os momentos em que não
estão a perceber o texto; e têm dificuldade em encontrar estratégias compensatórias (tal como reler o texto, estudar com
mais detalhe os segmentos difíceis ou sumariar) quando não compreendem o que lêem.
Estas diferenças meta-cognitivas entre leitores dão-nos um indicativo sobre algumas sugestões práticas para o
ensino da leitura, que se podem traduzir numa idéia básica: se o aluno aprender a conversar consigo próprio acerca do que
leu e compreendeu e se, adicionalmente, lhe forem dadas instruções sobre como agir quando verifica que não compreende,
ele poderá tornar-se mais consciente do seu estilo de leitura, da sua eficácia e das alternativas para melhorar a
compreensão.

7. Aplicações ao ensino: uma síntese


A perspectiva que acabamos de apresentar permite-nos identificar alguns princípios orientadores para o ensino
destas competências:
Os alunos são agentes ativos da sua aprendizagem, são capazes de construir significado e de auto-regular os
ensinamentos adquiridos na escola. Os professores, por seu lado, são agentes mediadores desta aprendizagem, mais do que
os transmissores de saber estático: eles podem apoiar o aluno, tanto na construção dos significados quanto no
desenvolvimento de estratégias que facilitem a leitura e a sua compreensão.
A leitura é um processo de especialização gradual. O seu objetivo é a construção de significado,
independentemente da idade e da capacidade do leitor. O que varia entre os diferentes leitores é o grau de sofisticação na
capacidade de leitura e a maior ou menor necessidade de apoio por parte do professor.
Tal como o bom leitor tem em mente uma idéia acerca da forma como construir o significado do texto, o
professor também tem alguma idéia acerca de como apoiar o aluno nesse trabalho. O professor pode alterar as suas ações,
consoante os objetivos, exigências dos textos e tarefas de leitura, respostas dos alunos e contingências situacionais do
ensino.
A leitura e o ensino da leitura são atividades interativas, envolvendo o professor, o aluno e os colegas. As suas
interações contínuas em sala de aula interferem com a construção de significado do texto.
A estrutura do texto é um elemento essencial. Um discurso conexo, coerente e bem estruturado é mais fácil de
ser compreendido e de ser recordado do que um conjunto de frases desconexas ou mal estruturadas. Por outro lado, o texto
é tanto mais compreensível quanto mais congruente for com os conhecimentos e expectativas do leitor. Por esta razão, os
conteúdos a transmitir devem ser integrados em textos (e contextos) interessantes e significativos para o aluno.
Os elementos do texto vistos como mais importantes são melhor recordados. Para que o aluno identifique as
ideias principais com facilidade, o professor pode orientá-lo, ensinando fórmulas de apoio à leitura, como: sublinhados,
tomar notas, fazer esquemas e sumários, organizar mapas de conceitos ou relacionar as ideias do texto com ideias afins.
As estratégias de leitura são adaptáveis e intencionais, podendo ser aperfeiçoadas em função do leitor, dos
textos e dos contextos. A inferência é uma das estratégias que mais determina o grau de compreensão da leitura. Para
desenvolver esta competência, o professor pode ensinar que ler não é apenas pronunciar bem as palavras, é também
detectar o seu valor semântico (Anderson, 1980). Ensinar o aluno a fazer perguntas pertinentes acerca de textos difíceis é
outra estratégia que poderá ser desenvolvida com a ajuda do professor e que aumentará a competência inferencial.
Quanto melhores forem as capacidades meta-cognitivas e a auto-regulação, melhor será a capacidade do aluno
para avaliar as suas produções, identificar estratégias de leitura úteis e saber quando deixam de o ser. O professor pode
informar o aluno sobre como e quando utilizar estas estratégias, viabilizando a sua transferência a situações novas. O treino
meta-cognitivo poderá ajudar o aluno a examinar os seus processos internos de compreensão durante a leitura.

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EXERCÍCIO 5
Malandragem
Cássia Eller

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha pois sou criança


esperando o ônibus da escola sozinha e não conheço a verdade
cansada com minhas meias três quartos eu sou poeta e não aprendi a amar
rezando baixo pelos cantos eu sou poeta e não aprendi a amar
por ser uma menina má
quem sabe o príncipe virou um chato Eu ando nas ruas
que vive dando no meu saco eu troco cheque
quem sabe a vida é não sonhar mudo uma planta de lugar
Eu só peço a deus Dirijo meu carro
um pouco de malandragem tomo o meu pileque
pois sou criança e ainda tenho tempo pra cantar
e não conheço a verdade pra cantar
eu sou poeta e não aprendi a amar Eu só peço a deus
eu sou poeta e não aprendi a amar um pouco de malandragem
Bobeira é não viver a realidade pois sou criança
e eu ainda tenho uma tarde inteira e não conheço a verdade
e eu ando nas ruas eu sou poeta e não aprendi a amar
eu troco cheque eu sou poeta e não aprendi a amar
mudo uma planta de lugar Eu só peço a deus
Dirijo meu carro um pouco de malandragem
tomo o meu pileque pois sou criança
e ainda tenho tempo pra cantar e não conheço a verdade
pra cantar eu sou poeta e não aprendi a amar
Eu só peço a deus eu sou poeta e não aprendi a amar.
um pouco de malandragem

1. Qual o desejo do eu lírico?


2. Comente: “Eu sou poeta e não aprendi a amar”.
3. Por que o eu lírico pode a deus um pouco de malandragem?
4. Transcreva uma passagem da música que crítica os ideais religiosos.
5. Qual o tipo feminino definido pela música?
6. Que tipo de amor a música critíca?
7. Por que a música diz: “Bobeira é não viver a realidade”?
8. Transcreva a passagem em que o amor não é mais idealizado, sonhado.
9. Que tipo de sociedade é mostrado na música?

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EXERCÍCIO 6
A letra da música trancrita abaixo deve servir como referência para você responder às questões de 1 à 4.

Domingo no Parque

O rei da brincadeira O sorvete e a rosa


Ê, José! Ô, José!
O rei da confusão A rosa e o sorvete
Ê, João! Ô, José!
Um trabalhava na feira Oi girando na mente
Ê, José! Ô, José!
Outro na construção Do José brincalhão
Ê, João!... Ô, José!...

A semana passada Juliana girando


No fim da semana Oi girando!
João resolveu não brigar Oi, na roda gigante
No domingo de tarde Oi, girando!
Saiu apressado Oi, na roda gigante
E não foi prá Ribeira jogar Oi, girando!
Capoeira! O amigo João (João)...
Não foi prá lá
Pra Ribeira, foi namorar... O sorvete é morango
É vermelho!
O José como sempre Oi, girando e a rosa
No fim da semana É vermelha!
Guardou a barraca e sumiu Oi girando, girando
Foi fazer no domingo É vermelha!
Um passeio no parque Oi, girando, girando...
Lá perto da Boca do Rio...
Olha a faca! (Olha a faca!)
Foi no parque Olha o sangue na mão
Que ele avistou Ê, José!
Juliana Juliana no chão
Foi que ele viu Ê, José!
Foi que ele viu Juliana na roda com João Outro corpo caído
Uma rosa e um sorvete na mão Ê, José!
Juliana seu sonho, uma ilusão Seu amigo João
Juliana e o amigo João... Ê, José!...

O espinho da rosa feriu Zé Amanhã não tem feira


(Feriu Zé!) (Feriu Zé!) Ê, José!
E o sorvete gelou seu coração Não tem mais construção
O sorvete e a rosa Ê, João!
Ô, José! Não tem mais brincadeira
A rosa e o sorvete Ê, José!
Ô, José! Não tem mais confusão
Foi dançando no peito Ê, João!...
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!... Gilberto Gil

1. Qual é a história contada pela letra da música?


2. O que é possível inferir com relação à morte de João e Juliana? Justifique.
3. Qual é a importância do sorvete e da rosa para a construção das inferências acerca do texto?
4. É possível inferir que José matou Juliana e João porque foi traído?

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UNIDADE II

1. Variação de Nível ou Registro


A variação de nivel ou registro, também chamada de diafásica ou diafática está ligada a diferentes situações ou
contexto linguísiticos e extralinguísitcos que envolvem o ato de fala. Os contextos linguísticos podem ser fonético-
fonológico, léxico, morforssintatico ou semântico. Os contextos extralinguísticos são os sociais ou situacionais, formais ou
informais, que marcam os níveis ou registros de fala, e que envolvem o emissor, com todas as caracterísiticas, o receptor,
também com suas características, o assunto, o tipo de comunicação e as relações entre emissor e receptor.
A variedade social, que se relaciona com o contexto ou situação extra linguistica, recebe o nome de nivel ou
registro. Esse tipo variante depende:
• Das circunstâncias em que ocorre o ato de fala: registro formal e informal, coloquial, familiar.
• Das relações que unem o falante e o ouvinte no momento do dialogo: familiar, profissional.
• Da intimidade entre os falantes: familiar, entre amigos, entre casais.
• Do tema que esta sendo discutido: linguagem e grupos especiais ou tematicos.
• Das condições fisicas e psicologicas do falante: estado de espirito: triste, alegre, preocupado.

Segundo Preti (1982):


As variações quanto ao uso da linguagem pelo mesmo falante em função das variações de
situação, podem ser de duas especies: nivel de fala ou registro formal empregado em situações
de formalidade, com predominancia da linguagem culta, comportamento mais tenso, mais
refletido, incidência de vocabulario tecnico e nivel de fala ou registro coloquial, para
situações familiares, dialogos informais, onde ocorre maior intimidade entre os falantes, com
predominancia de estruturas e vocabulario da linguagem popular, gíria e expressões obscenas
ou de natureza afetiva. (p.35-35)

A esse tipo de variação de nivel ou registro de fala, alguns autores chamam de variante ou variedade estilistica,
tendo-se neste caso, o estilo formal e o estilo informal ou coloquial.
Dos dialetos sociais o que mais facilmente se identificam são o dialeto culto (padrão, de maior prestigio e mais
formal) e o popular (sub-padrão, de menor prestigio e mais informal).
Dino Preti (1982) dá alguns aspectos distintivos dos dialetos culto e popular, quanto a morfossintaxe:

Dialeto Culto
• Indicação das marcas de gênero, numero e pessoa.
• Uso de todas as pessoas gramaticais do verbo, com exerção, talvez da segunda pessoa do plural relegada a linguagem dos
decursos e sermões.
• Emprego de todos os modos e tempos verbais.
• Correlação verbal entre tempos e modos.
• Maior utilização da passiva.
• Largo emprego de preposições nas regências.
• Organização gramatical cuidada da frase.
• Variedade de construções de frases.
• Coordenação e subordinação; riqueza de construção sintática.

Dialeto Popular
• Economia nas marcas de gênero número e pessoa.
• Redução de pessoas gramaticais do verbo. Mistura da segunda pessoa com a terceira no singular uso intenso da expressão
a gente no lugar de eu e nós.
• Redução dos tempos da conjugação verbal e de certas pessoas, como por exemplo a perda quase total do futuro, do
presente, e do pretérito, do mais que perfeito no indicativo; do presente do subjuntivo do infinitivo pessoal.
• Falta de correlação verbal entre os tempos.
• Redução do processo subordinativo em beneficio da frase simples e de coordenação.
• Maior emprego da voz ativa em lugar da passiva.
• Predominio das regências diretas nos verbos.
• Simplificação gramatical da frase, empego de “bordões” do tipo “então”, “ai”.
• Emprego dos pronomes pessoais retos como objetos.

Diz ele, ainda, que dialeto social culto, em razão destas caracteristicas prende-se mais as regras gramaticais,
normativas, veiculadas pela escola, aos exemplos da lingua escrita, literaria, muito mais conservadora, ao passo que o
dialeto social popular é mais aberto as transformações da linguagem oral do povo.
O dialeto social não-padrão, tambem chamada de linguagem popular tem caracteristicas mais de lingua falada,
não segue as regras gramaticais a risca, é a linguagem coloquial, familiar informal, de pessoas escolarizadas.
Bem significativo ou esclarecedor é o quadro apresentado por Bagno (2001), com as diferenças entre o
português não-padrão e o português padrão.

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Português não padrão Português padrão
Natural Artificial
Transmitido Adquirido
Apreendido Apreendido
Funcional Redundante
Inovador Conservador
Tradição oral Tradição escrita
Estigmatização Prestigiado
Marginal Oficial
Tendências livres Tendências refreadas
Falado pelas classes dominadas Falado pelas classes dominantes

É importante lembrar:
 Variantes linguisticas são formas diferentes de se falar a mesma coisa numa mesma situação.
 Variavel linguistica é um conjuto de variantes.
 A língua pode variar do lugar de nascimento, à idade, ao sexo, a escolaridade, à profissão ou ao grupo socio-
cultural é, também chamada de diastrática.
 A variação de nível ou registro é chamada de diafática ou diafásica.

O texto de Machado de Assis é um bom exemplo de linguagem culta, ou de norma culta ou padrão.

18 de Setembro

Venho da gente Aguiar, e não me quero ir deitar sem escrever primeiro o que lá se passou. Cheguei cedo,
estavam sós os dois velhos e receberam-me familiarmente.
— Venha o terceiro velho, disse Aguiar, venha fazer companhia aos dois que aqui ficaram abandonados.
Esta palavra, que podia ser de queixa, foi dita rindo, e percebi pelo tom que era alegre. Foi-me dita quase à
porta da sala, onde ele foi ter comigo, ficando ela em uma das duas cadeiras de balanço, unidas e trocadas, em forma de
conversadeira, onde costumavam passar as horas solitárias. Respondi que trazia a minha velhice para somar às duas e
formar com elas uma só e verde mocidade, das que já não há na Terra. Sobre este tema gasto e vulgar disseram também
algo de riso, e tais foram os primeiros minutos.
— Talvez não nos encontrasse, se eu não estivesse doente de um joelho, disse D. Carmo.
— Doente?
— Dói-me um pouco este joelho, e o lugar é melindroso para andar. Tristão foi sozinho à casa do
desembargador, aonde vão hoje alguns amigos do foro. Aguiar também queria ir, mas Tristão disse-lhe que era melhor
ficar; ele se incumbiria de dar lá todas as desculpas, e foi sozinho.
— Quis que eu ficasse fazendo companhia à madrinha, explicou Aguiar. Se eu teimo em ir ele era capaz de ficar
para a não deixar sozinha.
(ASSIS, Machado, Memorial de Aires. São Paulo: Ática 1976, P. 73-74)

Um bom exemplo da linguagem popular, no registro de língua não padrão é o conto popular abaixo:

A Onça e a Raposa

Era uma vez uma onça que ia passano com um saco de carne nas costas, ela viu a raposa que tava ali solta. A
onça disse:
- Camarada raposa quer ir morar comigo? Olhe o saco de carne que eu levo aqui!
A raposa respondeu:
- Eu vou comadre!
Saíram de cabeça a fora: Andaram, andaram, andaram. Chegaram num pé de cuité.
A onça falou:
- Olhe camarada raposa: Quando eu chegar lá na minha morada, você volta e tira essas cuité aqui, par nóis leva
pra comer com a carne.
Ta certo comadre raposa, vamos simbora.
(Moraes, Severino J. de, A onça e a Raposa. In: ARAGÃO M.S.S. de. et. Al. O conto popular na Paraíba: um estudo
lingüístico gramatical. João Pessoa: UFPB, 1972, p. 34-37)

24
EXERCÍCIO 7

O texto de humor que segue foi veiculado na Internet ano de 2003. Leia-o e responda às questões propostas.

Assaltante Nordestino
- Ei bichim... Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem faça muganga... Arrebola o dinheiro de
mato e não faça pantim se nãoenfio a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora! Perdão, meu Padim Ciço, mas é que eu
to com uma fome da moléstia...

Assaltante Mineiro
- Ô sô, prestenção... Isso é um assarto, uai... levanta os braços e fica quetim quesse trem n minha mão ta cheio
de bala... Mio passa logo os trocados que eu num to bão hoje. Vai andando, uai! Ta esperando o quê, uai!

Assaltante Gaúcho
- O, Guri, ficas atento... Bah, isso é um assalto... Levantas os braços e te aquietas, tchê. Passa as pilas pra cá! E
te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.

Assaltante Carioca
- Seguinte, bichim... Tu te deu mal. Isso é um assalto. Passa a grana e levanta os braços, rapa... Não fica de
bobeira que eu atiro bem pra... Vai andando e, se olhar pra trás, vira presunto...

Assaltante Baiano
- Ô, meu rei... (longa pausa). Isso é um assalto... (longa pausa). Levanta os braços, mas não se avexe não...
(longa pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho...
(longa pausa). Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta, meu irmãozinho
(longa pausa). Vou deixar teus documentos na encruzilhada...

Assaltante Paulista
- Orra meu... Isso é um assalto, meu... Alevanta os braços, meu... Passa a grana logo, meu... Mais rápido, meu, que eu ainda
preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Corinthians, meu... Pó, se manda, meu...

1. O texto retrata várias cenas de assalto, cada uma delas situada em um Estado ou região diferente do país. A fala do
assaltante tem sempre o mesmo conteúdo, enquanto o uso da linguagem e o modo como o assalto é conduzido mudam de
uma para outra. Identifique, em cada uma das cenas, palavras ou expressões próprias do:
a) Nordestino: d) Carioca:
b) Mineiro:: e) Baiano:
c) Gaúcho f) Paulista:

2. Além da linguagem, o texto também revela comportamentos ou hábitos que supostamente caracterizam o povo de
diferentes Estados ou regiões. O que caracteriza por exemplo:
a) O Nordestino? b) O baiano? c) O Paulista?

3. Leia o trecho de uma carta de amor escrita pelo poeta Olavo Bilac:

Excelentíssima Senhora. Creio que esta carta não poderá absolutamente surpreende-la. Deve ser esperada.
Porque V. Excia. Compreendeu com certeza que, depois de tanta súplica desprezada sem piedade, eu não podia continuar a
sofrer o seu desprezo. Dizem que V. Excia. Me ama. Dizem, porque da boca de V. Excia. Nunca me foi dado ouvir essa
declaração. Como, porém, se compreende que, amando-me V. Excia., nunca tivesse para mim a menor palavras afetuosa, o
mais insignificante carinho, o mais simples olhar comovido? Inúmeras vezes lhe pedi humildemente uma palavra de
consolo. Nunca a obtive, porque V. Excia. ou me respondia com uma ironia cruel. Não posso compreendê-la: perdi toda a
esperança de ser amado. Separemo-nos (...)

a) Caracterize a variedade lingüística e o grau de formalismo empregados pelo autor do texto.

2. TIPOS DE TEXTOS
2.1 Texto Narrativo
Narrar é contar um ou mais fatos que ocorreram com determinadas personagens, em local e tempo definidos.
Por outras palavras, é contar uma história, que pode ser real ou imaginária.
Quando vai redigir uma história, a primeira decisão que deve tomar é se você vai ou não fazer parte da narrativa. Tanto é
possível contar uma história que ocorreu com outras pessoas como narrar fatos acontecidos consigo. Essa decisão
determinará o tipo de narrador a ser utilizado na sua composição. Este pode ser, basicamente, de dois tipos:

25
a) Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da ação, ou seja, que se inclui na narrativa. Trata-se do narrador-
personagem. 1. Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da ação, ou seja, que se inclui na narrativa. Trata-se do
narrador-personagem.
Andava pela rua quando de repente tropecei num pacote embrulhado em jornais. Agarrei-o vagarosamente,
abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.

b)Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não participa da acção, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então o narrador-
observador. 2. Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não participa da acção, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então
o narrador-observador.
João andava pela rua quando de repente tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Agarrou-o
vagarosamente, abriu-o e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.

OBSERVAÇÃO:
Em textos que apresentam o narrador de 1.ª pessoa, ele não precisa ser necessariamente a personagem principal;
pode ser somente alguém que, estando no local dos acontecimentos, os presenciou.
Estava parado na paragem do autocarro, quando vi, a meu lado, um rapaz que caminhava lentamente pela rua.
Ele tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Observei que ele o agarrou com todo o cuidado, abriu-o e viu, surpreso,
que lá havia uma grande quantia em dinheiro.

2.1.1. Elementos da Narração

Depois de escolher o tipo de narrador que vai utilizar, é necessário ainda conhecer os elementos básicos de
qualquer narração.
Todo o texto narrativo conta um FATO que se passa em determinado TEMPO e LUGAR. A narração só existe
na medida em que há ação; esta ação é praticada pelos PERSONAGENS.
Um fato, em geral, acontece por uma determinada CAUSA e desenrola-se envolvendo certas circunstâncias que
o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o MODO como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o
fato ocorreu. Um acontecimento pode provocar CONSEQUÊNCIAS, as quais devem ser observadas.
Assim, os elementos básicos do texto narrativo são:

a) FATO (o que se vai narrar);


b) TEMPO (quando o fato ocorreu);
c) LUGAR (onde o fato se deu);
d) PERSONAGENS (quem participou do ocorrido ou o observou);
e) CAUSA (motivo que determinou a ocorrência);
f) MODO (como se deu o fato);
g) CONSEQUÊNCIAS.

Uma vez conhecidos esses elementos, resta saber como organizá-los para elaborar uma narração. Dependendo
do fato a ser narrado, há inúmeras formas de dispô-los. Todavia, apresentaremos um esquema de narração que pode ser
utilizado para contar qualquer fato. Ele propõe-se situar os elementos da narração em diferentes parágrafos, de modo a
orientá-lo sobre como organizar adequadamente a sua composição.

Esquema de narração

1º Parágrafo: Explicar que fato será narrado. Determinar o tempo e o lugar INTRODUÇÃO
2º Parágrafo: Causa do fato e apresentação das personagens. DESENVOLVIMENTO
3º Parágrafo: Modo como tudo aconteceu (detalhadamente).
4º Parágrafo: Consequências do fato. CONCLUSÃO

OBSERVAÇÕES:
1. É bom lembrar que, embora o elemento Personagens tenha sido citado somente no 2º parágrafo (onde são
apresentados com mais detalhes), eles aparecem no decorrer de toda a narração, uma vez que são os desencadeadores da
seqüência narrativa.
2. O elemento Causa pode ou não existir na sua narração. Há fatos que decorrem de causa específica (por
exemplo, um atropelamento pode ter como causa o descuido de um peão ao atravessar a rua sem olhar). Existe, em
contrapartida, um número ilimitado de fatos dos quais não precisamos explicar as causas, por serem evidentes (por
exemplo, uma viagem de férias, um assalto a um banco, etc.).
3. três elementos mencionados na Introdução, ou seja, fato, tempo e lugar, não precisam necessariamente
aparecer nesta ordem. Podemos especificar, no início, o tempo e o local, para depois enunciar o fato que será narrado.
Utilizando esse recurso, pode narrar qualquer fato, desde os incidentes que são noticiados nos jornais com o
título de ocorrências policiais (assaltos, atropelamentos, raptos, incêndios, colisões e outros) até fatos corriqueiros, como

26
viagens de férias, festas de adeptos de futebol, comemorações de aniversário, quedas e acontecimentos inesperados ou fora
do comum, bem como quaisquer outros.
É importante ressaltar que o esquema apresentado é apenas uma sugestão de como se pode organizar uma
narração. Temos inteira liberdade para nos basearmos nele ou não. Mostra-se apenas uma das várias possibilidades
existentes de se estruturarem textos narrativos. Caso se deseje, poderá inverter-se a ordem de todos os elementos e fazer
qualquer outra modificação que se ache conveniente, sem prejuízo do entendimento do que se quer transmitir. O
fundamental é conseguir-se contar uma história de modo satisfatório.

2.1.2. Tipos de Narração


a) Narração objetiva
Observe-se agora um exemplo de narração sobre um incêndio, criado com o auxílio do esquema estudado.
Lembre-se de que, antes de começar a escrever, é preciso escolher o tipo de narrador. Optamos pelo narrador de 3ª pessoa.

O incêndio
Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, num apartamento de propriedade do Sr. António Pedro.
No local habitavam o proprietário, a sua esposa e os seus dois filhos. Todos eles, na hora em que o fogo
começou, tinham saído de casa e estavam a jantar num restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi
um curto circuito ocorrido no sistema elétrico do velho apartamento.
O fogo começou num dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante,
conhecido da família, avistou-o e imediatamente foi chamar o Sr. António. Ele, rapidamente, ligou para os Bombeiros.
Embora não tivessem demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e a sala ao
lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o fato de aquele
incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos.
Vamos observar as características desta narração. O narrador está na 3ª pessoa, pois não toma parte na
história; não é nem membro da família, nem o porteiro do restaurante, nem um dos bombeiros e muito menos alguém que
passava pela rua na qual se situava o prédio. Outra característica que deve ser destacada é o fato de a história ter sido
narrada com objetividade: o narrador limitou-se a contar os fatos sem deixar que os seus sentimentos, as suas emoções
transparecessem no decorrer da narrativa.
Este tipo de composição denomina-se narração objetiva. É o que costuma aparecer nas "ocorrências policiais"
dos jornais, nas quais os redatores apenas dão conta dos fatos, sem se deixar envolver emocionalmente com o que estão a
noticiar. Este tipo de narração apresenta um cunho impessoal e direto.

b) Narração Subjetiva
Existe também um outro tipo de composição chamado narração subjetiva. Nela os fatos são apresentados levando-se em
conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. Nota-se claramente a posição sensível e emocional do narrador ao
relatar os acontecimentos. O fato não é narrado de modo frio e impessoal, pelo contrário, são ressaltados os efeitos
psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nas personagens. É, portanto, o oposto da narração objetiva.
Daremos agora um exemplo de narração subjetiva, elaborada também com o auxílio do esquema de narração. Escolhemos
o narrador de 1.ª pessoa. Esta escolha é perfeitamente justificável, visto que, participando da ação, ele envolve-se
emocionalmente com maior facilidade na história. Isso não significa, porém, que uma narração subjetiva requeira sempre
um narrador em 1.ª pessoa.

Com a fúria de um vendaval


Numa certa manhã acordei entediada. Estava nas minhas férias escolares do mês de Agosto. Não pudera
viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre.
Não tinha nada para fazer, e isso estava a matar-me de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre
não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em
direção daquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me
aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
O homem, dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam,
mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que gorda (monstruosa), erguia os seus enormes braços e, com os
punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a assustar-me, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o
próprio homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia gritando empolgando-se com a sua raiva crescente e ficando cada
vez mais vermelha, como os tomates, ou até mais.
De repente, no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates
podres que estavam no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachou-se no asfalto, para o divertimento do pequeno público
que, assim como eu, assistiu àquela cena incomum.

OBSERVAÇÃO:
A narração pode ter a extensão que convier. Pode aumentá-la ou diminuí-la, suprimindo detalhes menos importantes.
Lembre-se: quando um determinado parágrafo ficar muito extenso, pode dividi-lo em dois. Destacamos, mais uma vez, que
o esquema dado é uma orientação geral e não precisa ser necessariamente seguido; ele pode sofrer variações referentes ao
número de parágrafos ou à ordem de disposição dos elementos narrativos.

2.1.3 O discurso do narrador


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Comparando os dois modelos de narração apresentados, poderá perceber a diferença entre narrador em 1ª e 3ª
pessoas, a maneira como se elabora uma narração utilizando o esquema estudado, a existência da narração objetiva em
oposição à narração subjetiva e alguns outros aspectos.
É importante também que observe um outro fato sobre o qual ainda não fizemos qualquer comentário. Lendo as
narrações O incêndio e Com a fúria de um vendaval, notará com facilidade que o narrador contou cada uma das histórias
com as suas próprias palavras. Ele não introduziu diálogos na redação registando a fala dos 23 personagens. Essas duas
narrações foram elaboradas sem que o narrador introduzisse o discurso direto, isto é, o diálogo entre as personagens.
Não se esqueça também de que o esquema de narração não precisa ser seguido à risca. Se julgar importante
fazer qualquer alteração, nada o impede de fazê-la, desde que a sua composição não perca as características de organização
e clareza indispensáveis a todas as narrações.

2.2 Texto Descritivo


A descrição é um texto, literário ou não, em que predominam verbos de estado e adjetivos que caracterizam
pessoas, ambientes e objetos. É muito raro encontrarmos um texto exclusivamente descritivo. Quase sempre a descrição
vem mesclada a outras modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando um cenário, um ambiente ou paisagem,
dentro de um romance, conto, crônica ou novela.
Assim, a descrição pura geralmente aparece como parte de um relatório técnico, como no caso da descrição de
peças de máquinas, órgãos do corpo humano, funcionamento de determinados aparelhos (descrição de processo).
Dessa maneira, na prática, seja literária ou técnico-científica, a descrição é sempre um fragmento, é um
parágrafo dentro de uma narração, é parte de um relatório, de uma pesquisa, de dissertações em geral.
Mas o estudante precisa aprender a descrever; a prática escolar assim o exige. Geralmente pede-se u texto
menor que a narração ou a dissertação. Um texto descritivo com aproximadamente 15 linhas costuma conter todos os
aspectos caracterizados que permitam ao leitor visualizar o ser ou objetivo descrito. Para tanto, o observador deve explorar
as sensações gustativas, olfativas, auditivas, visuais, táteis e impressões subjetivas.
O que se descreve
Podemos descrever o que vemos (aquilo que está próxima), o que imaginamos (aquilo que conhecemos mas não
está próximo no momento da descrição) ou o que nossa imaginação cria, qualquer entid ade inventada: um ser extraterreno,
uma mulher que você nunca viu, uma futurista, um aparelho inovador etc.

Como se descreve
De acordo com os objetivos de quem escreve, a descrição pode privilegiar diferentes aspectos:
• pormenorização – corresponde a uma persistência na caracterização de detalhes;
• dinamização – é a captação dos movimentos de objetivos e seres;
• impressão – são os filtros da subjetividade, da atividade psicológica, interpretando os elementos observados.

2.2.1 A organização da descrição


No processo de composição de uma redação descritiva, o emissor seleciona os elementos organiza para levar o
receptor a formar ou conhecer a imagem do objetivo descrito, isto é, a concebê-lo sensorial ou perceptualmente.
A descrição é fundamentalmente espacial. Eventualmente pode aparecer um índice temporal, porém sua função
é meramente circunstancial, serve apenas para precisar o registro descritivo.
Observe como Vinícius de Morais descreve a casa materna, priorizando o espaço, mas situando-a num tempo
subjetivo que só existe nas impressões interiorizadas da lembrança do observador:

A casa materna

Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e
trinco se oculta num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com
suas plantas, tinhorões a samambaias que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.
É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta de
almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas.
O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o
mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos
maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem
mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as
mãos maternas careciam sonhar.
A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo que tudo era
belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta de cujo teto à noite pende uma luz
morta, com negras aberturas para quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro da juventude com
o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele
a forma suprema de beleza: o verso.
Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa
materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo
há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas espadas,
untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta – pois não há lugar mais ´propício do que a casa materna para
uma boa ceia noturna . E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância
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que vem de longe. Em cima ficaram guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao
qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna
repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.
A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo
como se marca ainda na velha poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical.
Ausente para sempre da casa, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas
se faziam mais lentas e mãos filiais mais unidas em torno da grande mesa, onde já vibram também vozes infantis.
(Vinícius de Morais)

2.2.2 Elementos predominantes na descrição


a) Frases nominais (sem verbo) ou orações em que predominam verbos de estado ou condição.

Sol já meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um borralho de quente. A caatinga, um mundo perdido.
Tudo, tudo parado: parado e morto. (Mário Palmério)

Efetivamente a rua era aquela; e o velho palácio estava na minha frente. Era um palácio de trezentos anos, cor
de barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho de sua alta porta, aos ornatos das colunas e ao lançamento
da escada do vestíbulo. (Cecília Meireles)

b) Frases enumerativas: seqüência de nomes, geralmente sem verbo.

“A cama de ferro; a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro.
Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro, papéis, uma caneta. Quadros na parede.” (Érico Veríssimo)

c) Adjetivação: caracterizadores qualificando nomes.

A pele da cabocla era desse moreno enxuto e parelho das chinesas. Tinha uns olhos graúdos, lustrosos e negros
como os cabelos lisos, e um sorriso suave e limpo a animar-lhe o rosto oval de feições delicadas. (Érico Veríssimo)

d) Figuras de linguagem: recursos expressivos, geralmente em linguagem conotativa? A mais usadas na descrição são a
metáfora, a compara;’ao, a prosopopéia, a onomatopéia e a sinestesia.

O rio era aquele cantador de viola, em cuja alma se refletia o batuque das estrelas nuas, perdidas no vácuo
milenarmente frio do espaço...Depois ele ia cantando isso de perau em perau, de cachoeira em cachoeira... (Bernardo
Elis)

e)Sensações: uso dos cinco sentidos, ou seja, das percepções visuais, auditivas, gustativas, olfativas e táteis.

Os sons se sacodem, berram...Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes...Dentro dos sons e das cores,
movem-se os cheiros, cheiro de negro...Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais...Tatos, sons, cores,
cheiros se fundem em gostos de gengibre... (Graça Aranha)

2.3. Tipos de Descrição


a) Descrição Convencional
Leia o texto abaixo e observe a técnica descritiva explorada pelo autor, para descrever convencionalmente um
canário.

A praça, o templo. Lugar de encontro. Os homens reunidos para a discussão, para o divertimento, para as
rezas. Perguntas e perguntas, respostas, respostas, diálogos com Deus, passeatas, sermões, discursos, procissões, bandas
de música, circos, mafuás, andores carregados, mastros e bandeiras, carrosséis, barracas, badalar de sinos, girândolas e
fogos de artifício lançados para o alto, ampliando, na direção das torres, o espaço horizontal da praça. Joana, descalça,
vestida de branco, os cabelos ouro esvoaçado, traz sobre o peito a imagem emoldurada de São Sebastião. Por cima dos
ombros, encobrindo-lhe braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com
figuras de centauro. As setas grossas, no tronco do santo, parecem atravessa-lo, cravar-se firmes em Joana. Por trás,
numa fila torta, cantando em altas vozes, com velas acesas, muitas mulheres. A noite de dezembro não caiu de todo,
alguma luz diurna resta no ar. Posso ver que os olhos de Joana são azuis e grandes; e que seu rosto, embora desfigurado,
pois ela ainda está convalescente, difere de todos que encontrei, firme e delicado a um tempo. Adaga de cristal. (...) Meio
cega, ausente das coisas, febril, as pernas mortas. (Osman Lins)

Nesta descrição, impressões líricas compõem a imagem mística de uma mulher enferma. A linguagem moderna
de Osman Lins alterna a concisão das frases nominais com a sinuosidade das frases verbais.
As frases nominais, telegráficas, abrem o texto, formando, num único parágrafo, uma seqüência de
enumerações, onde estão justapostos elementos de natureza diversa: o humano X o divino, o concreto X o abstrato. O
segundo parágrafo estende-se entre breves frases nominais e frases de maior complexidade: “Por cima dos ombros,
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encobrindo-lhe braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de
centauro.”
As impressões do autor, através da adjetivação, registram fartamente os aspectos visuais:”os olhos de Joana são
azuis e grandes.” As sensações auditivas aparecem num flagrante: “cantando em altas vozes.”
O subjetivismo está não apenas na manifestação do autor, em 1ª pessoa, mas também nas captações pessoais,
únicas, metafóricas: “As setas grossas, no tronco do santo, parecem atravessá-la, cavar-se firmes em Joana”; “firme e
delicado a um tempo. Adaga de cristal.”
Há, ainda, fragmentos de descrição estática (“Joana descalça, vestida de branco (...) traz sobre o peito a imagem
de São Sebastião.” E dinâmica (“ os cabelos de ouro esvoaçando”; “cantando em altas vozes”).
Assim, o texto compõe o retrato de um cenário e das pessoas que o animam, entre objetos, cores e movimentos
liricamente caracterizados.

b) Descrição original
Veja como, aos olhos de um observador sensível, até uma prosaica cena ganha impressões inesperadas.
O esmagamento das gotas
Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechada e cinza, aqui contra a sacada, com
gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um através do outro. Agora aparece a gotinha no
alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e
balouça, já vai cair, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes
enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que se prende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada,
nada, uma viscosidade no mármore. (Júlio Cortázar)

Júlio Cortazar transforma em testemunho descritivo a experiência de observar a chuva e particularizá-la na gota
pendente da janela. A tímida e indefinida impressão inicial (“Eu não sei, olhe, é terrível como chove”) dá lugar a uma
dinâmica caracterização que atribui movimento e vida a uma gota de chuva, através da concentração de imagens visuais e
onomatopéias (plaf, zup), personificando sua resistência e aniquilamento: “fica tremelicando (...), vai crescendo e balouça,
(...). Está segura com todas as unhas, não quer cair (...) ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga”; “se
prende majestosa”.

2.3 Texto Dissertativo


Dissertar é um ato praticado pelas pessoas todos os dias. Elas procuram justificativas para a elevação dos
preços, para o aumento da violência nas cidades, para a repressão dos pais. É mundial a preocupação com a bomba
atômica, a AIDS, a solidão, a poluição. Muitas vezes, em casos de divergência de opiniões, cada um defende seus pontos
de vista em relação ao futebol, ao cinema, à música.
A vida cotidiana traz constantemente a necessidade de exposição de idéias pessoais, opiniões e pontos de vista.
Em alguns casos, é preciso persuadir os outros a adotarem ou aceitarem uma forma de pensar diferente. Em todas essas
situações e em muitas outras, utiliza-se a linguagem para dissertar, ou seja, organizam-se palavras, frases, textos, a fim de,
por meio da apresentação de idéias, dados e conceitos, chegar-se a conclusões.
Em suma, dissertação implica discussão de idéias, argumentação, organização do pensamento, defesa de pontos
de vista, descoberta de soluções. É, entretanto, necessário conhecimento do assunto que se vai abordar, aliado a uma
tomada de posição diante desse assunto.

2.3.1 Argumentação
A base de uma dissertação é a fundamentação de seu ponto de vista, sua opinião sobre o assunto. Para tanto,
deve-se atentar para as relações de causa-conseqüência e pontos favoráveis e desfavoráveis, muito usadas nesse processo.
Algumas expressões indicadoras de causa e conseqüência
 causa : por causa de, graças a, em virtude de, em vista de, devido a, por motivo de
 conseqüência : conseqüentemente, em decorrência, como resultado, efeito de
Algumas expressões que podem ser usadas para abordar temas com divergência de opiniões: em contrapartida,
se por um lado... / por outro... , xxx é um fenômeno ambíguo, enquanto uns afirmam... / outros dizem que...

Exemplo de argumentação para a tese de que as abelhas são insetos extraordinários:


 porque tem instinto muito apurado
 porque são organizadas em repúblicas disciplinadas
 porque fornecem ao homem cera e mel
 apesar de seus ferrões e de sua força quando constituem um enxame

Observação
Mesmo quando se destacam características positivas, é bom utilizar ponto negativo. Neste caso, destaca-se que a
importância dos pontos positivos minimizam a negatividade do outro argumento.

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2.3.2. Partes de uma dissertação
a) Introdução
Constitui o parágrafo inicial do texto e deve ter, em média, 5 linhas. É composta por uma sinopse do assunto a
ser tratado no texto. Não se pode, entretanto, começar as explicações antes do tempo. Todas as idéias devem ser
apresentadas de forma sintética, pois é no desenvolvimento que serão detalhadas.
A construção da introdução pode ser feita de várias maneiras:
 constatação do problema
Ex.: O aumento progressivo dos índices de violência nos grandes centros urbanos está promovendo uma
mobilização político-social.
 delimitação do assunto
Ex.: A cidade do Rio de Janeiro, um dos núcleos urbanos mais atrativos turisticamente no Brasil, aparece nos
meios de comunicação também como foco de violência urbana.
 definição do tema
Ex.: Como um dos mais problemáticos fenômenos sociais, a violência está mobilizando não só o governo
brasileiro, mas também toda a população num esforço para sua erradicação.

Na construção da introdução, a utilização de um dos métodos apresentados não seria suficiente. Deve-se, num
segundo período, lançar as idéias a serem explicitadas no desenvolvimento. Para tanto pode-se levantar 3 argumentos,
causas e conseqüências, prós e contras. Lembre-se de que as explicações e respectivas fundamentações de cada uma dessas
idéias cabem somente ao desenvolvimento.

Observe alguns exemplos:


 A televisão - Se por um lado esse popular veículo de comunicação pode influenciar o espectador, também se
constitui num excelente divulgador de informações com potencial até mesmo pedagógico.
(as três idéias: manipulador de opiniões, divulgador de informações e instrumento educacional.)
 Escassez de energia elétrica - Destacam-se como fatores preponderantes para esse processo o aumento
populacional e a má distribuição de energia que podem acarretar novo racionamento.
(as três idéias: crescimento da população e da demanda de energia, problemas com distribuição da energia gerada
no Brasil e a conseqüência do racionamento do uso de energia)
 A juventude e a violência - Pode-se associar esse crescimento da violência com o número de jovens envolvidos
com drogas e sem orientações familiares, o que gera preconceito em relação a praticantes de esportes de luta e
“funkeiros”

b) Desenvolvimento
Esta segunda parte de uma redação, também chamada de argumentação, representa o corpo do texto. Aqui serão
desenvolvidas as idéias propostas na introdução. É o momento em que se defende o ponto de vista acerca do tema
proposto. Deve-se atentar para não deixar de abordar nenhum item proposto na introdução.
Pode estar dividido em 2 ou 3 parágrafos e corresponde a umas 20 linhas, aproximadamente.
A abordagem depende da técnica definida na introdução: 3 argumentos, causas e conseqüências ou prós e
contras. O conceito de argumento é importante, pois ele é a base da dissertação. Causa, conseqüência, pró, contra são todos
tipos de argumentos; logo pode-se apresentar 3 causas, por exemplo, num texto.
A reflexão sobre o tema proposto não pode ser superficial, para aprofundar essa abordagem buscam-se sempre
os porquês. De modo prático o procedimento é:
Levantar os argumentos referentes ao tema proposto.
Fazer a pergunta por quê? a cada um deles, relacionando-o diretamente ao tema e à sociedade brasileira atual.
A distribuição da argumentação em parágrafos depende, também, da técnica adotada:
 3 argumentos - um parágrafo explica cada um dos argumentos
 causas e conseqüências - podem estar distribuídas em 2 ou 3 parágrafos. Ou agrupam-se causas e conseqüências,
constituindo 2 parágrafos; ou associa-se uma causa a uma conseqüência e com cada grupo constroem-se 2 ou 3
parágrafos.
 prós e contras - são as mesmas opções da técnica de causas e conseqüências, substituídas por prós e contras
 abordagem histórica - compara-se o antes e o hoje, elucidando os motivos e conseqüências dessas
transformações. Cuidado com dados como datas, nomes etc. de que não se tenha certeza.
 abordagem comparativa - usam-se duas idéias centrais para serem relacionadas no decorrer do texto. A relação
destacada pode ser de identificação, de comparação ou as duas ao mesmo tempo.
É muito importante manter uma abordagem mais ampla, mostrar os dois lados da questão. O texto
esquematizado previamente reflete organização e técnica, valorizando bastante a redação. Logo, um texto equilibrado tem
mais chances de receber melhores conceitos dos avaliadores, por demonstrar que o candidato se empenhou para construí-
lo.
Recurso adicional - para elucidar uma idéia e demonstrar atualização, pode-se apresentar de forma bastante
objetiva e breve um exemplo relacionado ao assunto.

c) Conclusão
Representa o fecho do texto e vai gerar a impressão final do avaliador. Deve conter, assim como a introdução,
em torno de 5 linhas.
31
Pode-se fazer uma reafirmação do tema e dar-lhe um fecho ou apresentar possíveis soluções para o problema
apresentado.
Apesar de ser um parecer pessoal, jamais se inclua.
Evite começar com palavras e expressões como: concluindo, para finalizar, conclui-se que, enfim...

Evitar numa dissertação


Após o título de uma redação não coloque ponto.
Ao terminar o texto, não coloque qualquer coisa escrita ou riscos de qualquer natureza. Detalhe: não precisa
autografar no final também, e ainda assim será uma obra-prima.
Prefira usar palavras de língua portuguesa a estrangeirismos.
Não use chavões, provérbios, ditos populares ou frases feitas.
Não use questionamentos em seu texto, sobretudo em sua conclusão.
Jamais usar a primeira pessoa do singular, a menos que haja solicitação do tema (Ex.: O que você acha sobre o
aborto - ainda assim, pode-se usar a 3ª pessoa)
Evite usar palavras como “coisa” e “algo”, por terem sentido vago. Prefira: elemento, fator, tópico, índice, item
etc.
Repetir muitas vezes as mesmas palavras empobrece o texto. Lance mão de sinônimos e expressões que
representem a idéia em questão.
Só cite exemplos de domínio público, sem narrar seu desenrolar. Faça somente uma breve menção.
A emoção não pode perpassar nem mesmo num adjetivo empregado no texto. Atenção à imparcialidade.
Evite o uso de etc. e jamais abrevie palavras
Não analisar assuntos polêmicos sob apenas um dos lados da questão.

Exemplo de texto dissertativo

A posição social da mulher de hoje

Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das sociedades de hoje já
começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre homens e mulheres. Não há diferença de caráter
intelectual ou de qualquer outro tipo que permita considerar aqueles superiores a estas.
Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em inúmeras atividades. Até nas
áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes, inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas
indústrias, predominam no magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que passa,
estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando mais espaços.
Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo prisma quantitativo. Convém
observar o progressivo crescimento da participação feminina em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na
sociedade brasileira e mundial.
Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram essa revolução de costumes.
A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por completo, sobretudo no mercado de trabalho. Tomando-se por base
o crescimento qualitativo da representatividade feminina, é uma questão de tempo a conquista da real equiparação entre os
seres humanos, sem distinções de sexo.

FRASES QUE PODEMOS INICIAR UMA REDAÇÃO

- É realmente possível que...


- É certo que...
- Por causa...
I
- Os recentes acontecimentos...
N Fato: - Em recente estudo sobre ... afirma que ...
T
- É verdade
R
- O (a) ...
O
- É inegável ...
D
- É consenso geral ...
U
- ... é ...
Ç Definição: - É certo que ...
à Problema: - Pode-se aceitar ...
O
- Segundo a opinião geral ...
- Pode-se aceitar que ...
- Discute-se insistentemente sobre ...
- A questão do ... vem provocando ...

32
- É preciso lembrar em primeiro lugar ...
D considerar inicialmente
E Análise observar
S analisar
E
M - Analisa-se a questão ...
V - Trata-se inicialmente...
O - Com efeito ...
L
V - Não se pode esquecer...
I Continuação - Nota-se, por outro lado, que ...
M da Análise - Observa-se também ...
E - Insista-se no fato de que ...
N - Por último ...
T - Além disso ...
O - Acrescenta-se ...
- Talvez ...
- Paralelamente ...

C - Portanto ...
O - Assim ...
N - Finalmente ...
C - Resumindo ...
L - Em suma ...
U - Nesse sentido ...
S - Dessa forma ...
à - Definitivamente
O

EXERCÍCIOS 8
1. Numere os parágrafos abaixo, identificando o tipo de redação apresentada:
( 1 ) Descrição ( 2 ) Narração ( 3 ) Dissertação

( ) " Acreditamos firmemente que só o esforço conjunto de toda a nação brasileira conseguirá vencer as fortes pressões
econômicas desencadeadas pelas medidas referentes ao congelamento dos preços dos alimentos e de outros produtos
básicos. Os decretos, por si só, não são capazes de alterar a realidade se não tiverem o respaldo da opinião pública dos
cidadãos conscientes. "
( ) " Nas proximidades do pequeno vilarejo, existe uma chácara de beleza incalculável. Ao centro avista-se um lago de
águas cristalinas. Através delas, vemos a dança rodopiante dos pequenos peixes. Em volta deste lago pairam, imponentes,
árvores seculares que parecem testemunhas vivas de tantas histórias que se sucedem pelas gerações. A relva, brilhando ao
sol, estende-se por todo aquele local, imprimindo à paisagem um clima de tranqüilidade e aconchego. "

( ) " As crianças sabiam que a presença daquele cachorro vira-lata em seu apartamento seria alvo da mais rigorosa censura
da mãe. Não tinha qualquer cabimento: um apartamento tão pequeno que mal acolhia Álvaro, Alberto e Anita, além de seus
pais, ainda tinha de ser abrigo a um cãozinho! Os meninos esconderam o animal em um armário próximo ao corredor e
ficaram sentados na sala à espera dos acontecimentos. No fim da tarde, a mãe chegou do trabalho. Não tardou em descobrir
o intruso e a expulsá-lo, sob os olhares aflitos de seus filhos. "

EXERCÍCIO 9

I - Leia atentamente o texto abaixo:


“A SINA DE ALFO

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Alfo era um ratinho muito prestativo que trabalhava para o Rei Leão. Era alegre, brincalhão , amigo com o qual
o rei podia contar vinte e quatro horas por dia.
Mas com o passar do tempo, Alfo foi ficando triste, pois vivia praticamente preso às suas obrigações de
ajudante-de-ordens, conselheiro, ombudsman, mão direita, mensageiro, e não tinha tempo para mais nada. Por causa de
sua índole alegre e expansiva, o ratinho gostava de viver livremente. Por isso, ultimamente, o seu emprego o desgostava
muito; sentia-se escravo do dever.
O ratinho Alfo tornava-se cada vez mais sério, mais taciturno; nem as mais engraçadas piadas do papagaio o
faziam rir. Os bichos viviam fazendo-lhe graça para tentar descontraí-lo e sugeriam com preocupação:
- Alfo, ria ! Rir faz bem !
- Alfo, ria ! Você está envelhecendo .
Mas quê ! Alfo foi ficando cada vez mais calado, até que um dia resolveu falar com o Rei.
- Senhor , não agüento mais o peso das obrigações. Sou um ratinho sagitariano, quero viajar, ser livre e o
excesso de dever está me matando. Nem rir mais eu rio ! Todos vivem me pedindo : - Alfo, ria ! Você está muito triste ! -
porque percebem que estou ficando cada vez mais descontente !
- E o que você sugere, meu fiel amigo ?
- Que o senhor me libere de serví-lo . Continuarei sendo seu melhor amigo, se quiser, seu conselheiro, mas
quero ser livre. Quero dormir de madrugada, acordar com o sol no meu focinho, quero visitar novas florestas , mas
trabalhando assim como trabalho, não posso fazer nada disso !
- É, meu caro ratinho, você tem razão.
- Sabe, majestade, se eu continuar trabalhando tanto, sem ter tempo para mim , vou me tornar amargo . Por
favor, liberte-me de minhas obrigações.
-Quem sou eu para ir contra a personalidade de alguém ? Prefiro-o como um amigo alegre a um fiel servidor
triste. De hoje em diante, você está livre, Alfo.
Alfo ria sem parar. Estava realmente feliz e poderia fazer tudo aquilo que quisesse.
E foi a partir dessa história, a história do ratinho Alfo que queria a libertação do pesado jugo do trabalho, que
nasceu a palavra alforria.”

Identifique:
1- o enredo :
a- introdução - de ...................... a ........................
b- a complicação - de .................... a ...........................
c- o clímax - de ............................ a ...........................
d- o desfecho - de......................... a ............................
2- o tempo
3- o espaço
4- os personagens
5- o narrador e tipo de foco narrativo

II - Mudança de foco narrativo:


a) Passar os textos abaixo para a terceira pessoa.
1- Eu morava numa casa pequena, com um grande quintal e um enorme pomar. Apanhava laranja no pé, vivia em
cima da goiabeira, comia fruta-do-conde apanhada na hora, saboreava pitanga, amora, jambo, caju e brincava,
brincava muito à sombra das árvores. Um de meus passatempos preferidos era brincar de casinha. Pegava as bonecas,
panelinhas, roupinhas e até uma pequena mobília feita na Industrial e ficava horas trocando minhas "filhinhas" e
fazendo comidinha num fogão improvisado , feito com dois tijolos. De vez em quando , eu pegava todas as minhas
bonecas , colocava-as sentadas em frente a uma lousa e ensinava a elas o beabá; acho que foi nesse tempo que eu
escolhi minha profissão.

2-Nos fundos da minha casa havia um riozinho . Meu pai costumava improvisar um barco feito com uma bóia de
câmara de ar com uma bacia de alumínio dentro , no qual me colocava junto com meus amigos para passear pelas
águas mansas do riacho. De vez em quando, fazíamos piquenique no areião e ficávamos horas nos divertindo à beira
do Jaú, ouvindo o barulho das águas limpas correndo na cachoeira.

3-Duas épocas do ano eram ansiosamente esperadas por mim: o mês de junho e o de dezembro. Em junho, havia uma
grande festa junina na chácara do Seu Ferrari, um bondoso professor da Industrial, amigo de minha família. Fazia muito
frio e eu com minha família e meus amigos ficávamos em volta de uma grande fogueira, bebendo quentão, comendo
churrasco , doces típicos e soltando balão. Quantos balões ! Como eu gostava de balões ! O céu ficava iluminado tantos
eles eram. Às vezes demoravam a subir, ficavam balançando ; de repente tomavam fôlego e subiam devagarinho . E
sumiam na noite estrelada. Lembro-me que várias vezes, a festa coincidiu com o aniversário da Industrial ; meu
pai e seus colegas saíam no começo da noite para fazer a tradicional serenata que terminava ali, em volta da fogueira.

4- Em dezembro, havia o Natal. O tão esperado Natal, o Natal do vestido novo, do sapato debaixo da árvore, dos
pedidos, muitas vezes não atendidos, e do Papai-Noel. Meses antes, minha mãe plantava um pinheirinho que
depois era todo enfeitado com bolas coloridas e um pisca-pisca. Eu acreditava em Papai-Noel ( e em cegonha também )
e essa é uma das melhores lembranças que guardo da minha infância. Algumas vezes ele mesmo veio trazer o meu
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presente. Eu me lembro que na noite do dia 24, eu não queria ir dormir. Queria esperar o velhinho. Mas o sono vinha e eu
acabava dormindo sentada no sofá. - Acorde, o Papai-Noel chegou! - Você pediu uma boneca com cabelo para pentear,
não é ? Está aqui! (Anos mais tarde fiquei sabendo que ele era um funcionário da Loja Renascença).

b) Passar os textos abaixo para a primeira pessoa:


1-Era sua primeira viagem internacional. Tirou o passaporte, juntou dólar por dólar, estudou roteiros , pesquisou agências
e decidiu: Bariloche . Não parava de pensar como seria bom viajar num grande Boeing bebericando um whiskinho
e desembarcar em outro país, com alguém lhe esperando com seu nome numa tabuleta. Era demais para um simples
mortal como ele. Mas... e a língua ? Ele conhecia meia dúzia de palavras em castelhano, como iria se virar ? Segundo já
ouvira diversas vezes, não haveria problema, pois afinal português e castelhano são tão parecidos... Ele era muito
esperto e com um pouco de paciência seria fácil se fazer entender.

2-A viagem foi maravilhosa, tudo saiu como ele havia sonhado. O vôo valeu mais que várias aulas de Geografia e ele
achou Bariloche era muito mais bonito do que as fotos das revistas; as paisagens, a cidade, as confeitarias... A noite se
arrumou, colocou o seu blaser de lã, suas luvas de antílope e foi exatamente aí que aconteceu o inesperado.

3- Como ele não estava com muita fome, resolveu entrar numa das confeitarias que achou simpática e pediu um
lanche. O garçon, solícito lhe deu o cardápio. Ele , sem olhá-lo - afinal não ia entender nada mesmo - disse
pausadamente :
- Amigo, eu só quero um lanche ! Quero apenas um " perro caliente " .
- Como, señor ?
- Eu quero um " perro caliente " .

4- O garçon balançou a cabeça negativamente ;não entendera nada do que ele tentava dizer. Mas ele insistiu:
- Um " perro caliente" !
E encolhendo seus braços, dobrou suas mãos para baixo em posição de cachorrinho equilibrista e começou a latir:
- Au, au ! " Um perro caliente "! Au, au! Perro, perro !

III - Leia a notícia abaixo e transforme-a em um relato em que a sua imaginação vai interferir. Use elementos descritivos
para caracteerizar os personagens.
Ontem, por volta das 23 horas, num bar defronte à Rodoviária, Janete de Tal, 25 anos, atacou João Trabuco,
29 anos, desferindo-lhe sombrinhadas na cabeça.

EXERCÌCIO 10

TEXTO 1: Atrás do espesso céu

Disse adeus aos pais e, montada no camelo, partiu com a longa caravana na qual seguiam seus bens e as grandes
arcas do dote. Atravessaram desertos e montanhas. Chegando afinal à terra do futuro esposo, eis que ele saiu de casa e veio
andando ao seu encontro.
"Este é aquele com quem viverás para sempre", disse o chefe da caravana à mulher. Então ela pegou a ponta do
espesso véu que trazia enrolado na cabeça, e com ele cobriu o rosto, sem que nem se vissem os olhos.Assim permaneceria
dali em diante. Para que jamais soubesse o que havia escolhido, aquele que a escolhera sem conhecê-la.
(Maria Colasanti. Contos de amor rasgados. Rio de janeiro: Rocco, 1986. P. 47.)

TEXTO 2

35
Texto 3: Adotei uma criança com o vírus HIV

Conheci a Carolina quando ela tinha 3 anos. Meu marido Marcos e eu tínhamos decidido trabalhar como
voluntários, na Casa de Apoio Infantil Oásis (Caio), em Santos (SP), que abriga crianças portadoras do vírus HIV. Era
nossa primeira visita. Logo que nos viu, Carolina correu para o Marcos e disse: "Esse é o meu pai". Ficamos surpresos e
emocionados.
Com o tempo, ela foi se revelando uma criança doce e carinhosa. Não saia do nosso lado. Era frágil, mas mostrava
uma enorme vontade de viver. Por ter o vírus e por ser a mais velha do orfanato, tinha poucas chances de ser adotada.
Aos poucos, nosso envolvimento com ela, foi crescendo. Um dia, conseguimos autorização do orfanato para levá-
la para passar o final de semana conosco. Fomos à praia, ao clube, a todos os lugares aonde tinha vontade de ir. Depois
houve outros finais de semana, cada vez mais felizes para todos nós. Mas às segundas-feiras eu sempre vivia o mesmo
drama: deixava Carolina no orfanato arrasada. Ela se despedia chorando, magoada, com medo de que eu nunca mais
voltasse. Carolina sabia bem o que era abandono. Nasceu na Praia Grande e foi deixada no orfanato pela avó, depois que
sua mãe morreu com AIDS. Não havia registro do pai.
Um dia, na casa de amigos, Carolina me chamou de mãe pela primeira vez. Comecei a chorar. Descobri que não
poderia mais viver sem ela. Começamos a pensar seriamente na possibilidade de adotá-la. Chegamos a fazer um curso
sobre como cuidar de portadores de HIV em casa, mas nos achávamos muito jovens. Logo depois engravidei.
Eu tinha 23 anos. O Marcos, 25, e estávamos dando um passo enorme. Mas não conseguíamos lidar com a idéia de
ter um filho e abandonar a Carolina, então decidimos adotá-la.
[...]
(Cláudia, out. 1999)

TEXTO 4 - Distorção

O salário não poderia ter nome melhor. Palavra que deriva do latim, da Roma antiga, época em que se pagavam
com sal alguns serviços. É por causa dele que tantos sofrem desde que nos tornamos uma República. A conversa é sempre
a mesma: um aumento no salário (renda) elevará os preços (inflação) no médio ou longo prazo. Será? Economicamente,
não há dúvida de que tal fato tende a ser verdadeiro, mas, se houver concorrência, também haverá pressão nos preços para
baixo. Num primeiro momento, há uma tendência ao aumento, mas o preço cai depois. Acho que os problemas continuam
sendo os mesmos: baixo nível, competitividade, desvios fraudulentos de recursos públicos e "informalidade proposital" de
alguns empregadores, que não pagam os benefícios.
[...]
Não venham ex-ministros e presidentes de órgãos públicos dizer que aumento de salário gera inflação, e ficar por
isso. Vamos procurar mostrar a verdade, vivemos num país onde o poder está acima da lei, portanto, sempre que alguém
aparece com uma solução boa, até mesmo, óbvia; surgem pessoas distorcendo a essência.
Agostinho Cavalcanti da Costa Jr., São Paulo
(O Estado de S. Paulo, 24/2/2000)
TEXTO 5 - Guerra do tráfico causa mais 5 mortes em favela

Cinco pessoas foram mortas ontem, numa chacina que deixou também seis feridos, na Favela do Paraguai, na Vila
Prudente, na zona leste da capital. Os assassinos fugiram e a polícia suspeita que a causa do crime seja a guerra pelo
controle do tráfico de drogas, o mesmo motivo de duas outras chacinas ocorridas em favelas da região no ano passado.
Houve mais de 30 tiros de pistola 45 e 38, e escopeta calibre 12, por volta das 14 horas. O litoral paulista teve mais uma
chacina ontem: três pessoas assassinadas em Mongaguá.
(O Estado de S. Paulo, 26/2/2000

TEXTO 6 - Como tirar manchas de piso de ardósia?

R: Em ardósias enceradas, as manchas podem ser causadas por produtos de limpeza que reagem ao contato com a cera,
segundo Rudesindo Ferio, da Pedras Faro. Para limpá-las, retire totalmente a cera com removedor, até que a pedra volte ao
natural. Depois, aplique uma cera especial para ardósia. Produtos usados na detetização também costumam manchar as
pedras. Nesse caso, elas deverão ser polidas por empresas especializadas. Para prevenir manchas, a empresa colocadora,
deverá limpar o piso dos resíduos de cimento e aplicar uma camada de resina sintética especial para isso, que garante
proteção por cinco anos.
Cláudia, jun. 1997.)

TEXTO 7
Por que quando cai espuma de xampu no chão molhado, a água ao redor dela se afasta e não mistura?

36
Resultado do coquetel de água com detergente, a espuma torna-se uma nova substância e, quando escorre para o
chão, se estranha com a água pura. Guardadas as proporções, se pode dizer que é como jogar uma pedra num meio líquido.
Ambos vão se repelir. Só que no caso da água e da espuma, há como fazer a fusão. Basta que se agitem as duas juntas.
"No boxe, elas ficam separadas porque a película do líquido é muito fina e só uma parte das bolhas entra em contato com
ela", diz o químico Atílio Vanin, da Universidade de São Paulo. Mas basta esfregar o pé no chão para que tudo vire uma
coisa só.
Superinteressante, dez. 1999

RESPONDA
 O texto 1 é narrativo. Isto é, um texto que narra uma história.
a) Qual é o fato principal narrado nesse texto?
b) Levante hipóteses: considerando os fatos narrados, onde e quando aconteceu? Justifique sua resposta.
 Apesar de ser diferente na linguagem, é possível afirmar que o texto 5 é narrativo. Estabeleça diferenças entre os
textos 1 e 5 quanto à linguagem e quanto à finalidade com que foram escritos.
 Entre os textos lidos, há outros que também são narrativos? Justifique sua resposta.
 Leia os textos 6 e 7. Qual deles instrui, isto é, indica como devemos proceder para obter determinado resultado?
 Indique entre os itens a seguir aquele que caracteriza o texto 4 e aquele que caracteriza o texto 7.
a) expressa claramente a opinião de uma pessoa sobre um fato do momento.
b) informa sobre as propriedades químicas do xampu e suas reações em contato com a água.
 Como síntese desta atividade, indique qual ou quais dos textos lidos:
a) narra(m) um fato real/ relata(m) experiências vividas;
b) narra(m) uma história de ficção;
c) apresenta(m) argumentos para persuadir o interlocutor sobre um ponto de vista;
d) instrui(em) como proceder para obter determinado resultado;
e) transmite(m) conhecimento científico.

3. GÊNEROS TEXTUAIS

Os textos são produzidos em situações e contextos diferentes e que cada um deles cumpre uma finalidade
específica. Se o objetivo do locutor é, por exemplo, instruir seu interlocutor, ele indica passo a passo o que deve ser feito
para se obter um bom resultado. Se é expressar sua opinião e defender seu ponto de vista sobre determinado assunto, ele
produz um texto que se organiza em torno de argumentos. Se é contar fatos reais ou fictícios, ele pode optar por produzir
um texto que apresente em sua estrutura os fatos, as pessoas ou personagens envolvidas, o momento e o lugar em que os
fatos ocorreram. Se é transmitir conhecimentos, o locutor deve construir um texto que exponha os saberes de forma
eficiente.
Assim, quando interagimos com outras pessoas por meio da linguagem, seja a linguagem oral, seja na
linguagem escrita, produzimos certos tipos de texto que, com poucas variações, se repetem no conteúdo, no tipo de
linguagem e na estrutura. Esses tipos de textos constituem os chamados gêneros textuais e foram historicamente criados
pelo ser humano a fim de atender a determinas necessidades de interação verbal. De acordo com o momento histórico,
pode nascer um gênero novo, podem desaparecer gêneros de pouco uso ou, ainda um gênero pode sofrer mudanças até
transformar-se num novo gênero.
Numa situação de interação verbal, a escolha do gênero textual é feita de acordo com os diferentes elementos
que participam do contexto, tais como: quem está produzindo o texto, para quem, com que finalidade, em que momento
histórico, etc.
Os gêneros textuais geralmente estão ligados a esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica
são comuns gêneros como verbete de dicionários ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência.

3.1 Diferença entre Tipos de Textos e Gêneros Textuais

Muito se tem falado sobre a diferença entre "tipos textuais" e "gêneros textuais". Alguns teóricos denominam
dissertação, narração e descrição como "modos de organização textual", diferenciando-os das nomenclaturas específicas
que são consideradas "gêneros textuais".
A fim de simplificar o entendimento de diversos estudos em torno desse assunto, foi criado o quadro abaixo,
pautando-se no estudo de Luiz Antônio Marcushi.

Tipos textuais Gêneros textuais

Designam uma seqüência definida pela São os textos materializados encontrados em


natureza lingüística de sua composição. São nosso cotidiano. Esses apresentam
observados aspectos lexicais, sintáticos, características sócio-comunicativas
tempos verbais, relações lógicas. definidas por seu estilo, função, composição,
conteúdo e canal.

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Narração Carta pessoal, comercial, bilhete
Descrição Diário pessoal, agenda, anotações
Argumentação Romance, Resenha, Blog, E-mail
Injunção Bate-papo (Chat), Orkut, Vídeo-conferência
Exposição Second Life (Realidade virtual), Fórum
Aula expositiva, virtual , Reunião de
condomínio, debate, Entrevista, Lista de
compras, Piada, Sermão, Cardápio,
Horóscopo
Instruções de uso, Inquérito policial,
Telefonema etc.

4. Como Elaboração um Seminários


O Seminário constitui uma das técnicas mais eficientes de aprendizagem, quando convenientemente elaborado e
apresentado. É preciso ressaltar que Seminário não se limita à elaboração do resumo de um texto e sua apresentação oral,
quase sempre improvisada e monótona, diante de uma classe desatenta, alheia ao conteúdo da exposição.
Para que o Seminário surta os efeitos desejados, que inclui o treinamento do trabalho em grupo, quando essa
modalidade é adotada, torna-se indispensável o conhecimento da sua natureza e finalidades, bem como das técnicas de
elaboração e apresentação.

Seminário: Conceito e Finalidades


Antes de mais nada, faz-se necessário apontar o conceito de seminário
“Seminário é uma técnica de estudo que inclui pesquisa, discussão e debate. (...)”
(LAKATOS, 1992:29).

Deduz-se, portanto, que a pesquisa, especialmente a bibliográfica, é o primeiro passo, requisito indispensável na
elaboração do Seminário, A pesquisa leva à discussão do material pesquisado, mas, para que os objetivos sejam
alcançados, não se pode dispensar o debate.
Embora o Seminário possa ter uma finalidade específica, suas finalidades gerais são:
a) aprofundar o estudo a respeito de determinado assunto;
b) desenvolver a capacidade de pesquisa, de análise sistemática dos fatos, através do raciocínio, da reflexão, preparando o
aluno para a elaboração clara e objetiva dos trabalhos científicos.

Objetivos do Seminário
De certa forma, os objetivos do Seminário confundem-se ou complementam suas finalidades.
Dentre os vários autores que tratam do assunto, NÉRICI (1986:263-264) é o que de maneira mais abrangente aponta os
objetivos do Seminário:
a) ensinar pesquisando;
b) revelar tendências e aptidões para a pesquisa;
c) levar a dominar a metodologia científica de uma disciplina;
d) conferir espírito científico;
e) ensinar a utilização de instrumentos lógicos de trabalho intelectual;
f) ensinar a coletar material para análise e interpretação, colocando a objetividade acima da subjetividade;
g) introduzir, no estudo, interpretação e crítica de trabalhos mais avançados;
h) ensinar a trabalhar em grupo e desenvolver o sentimento de comunidade intelectual entre os educandos e entre estes e os
professores;
i) ensinar a sistematizar fatos observados e a refletir sobre eles;
j) levar a assumir atitude de honestidade e exatidão nos trabalhos efetuados;
l) dominar a metodologia científica geral.

Modalidades de Seminários
Há diversas modalidades de Seminário:
a) clássico - tipo de Seminário elaborado e apresentado individualmente, que percorre as mesmas etapas do Seminário
clássico em grupo. Esta modalidade é a mais usada nos cursos de pós-graduação;
b) clássico em grupo - escolhido o tema, o grupo se reúne, escolhe o coordenador, o secretário e o relator e passa a
executar o plano do seminário, cujas etapas serão especificadas mais adiante. Este é o tipo de Seminário mais utilizado nos
cursos de graduação;
c) em grupo - nesta modalidade, formam-se tantos grupos quantos forem os subtítulos do tema. Após uma reunião geral,
em que todos os alunos tomam conhecimento global do assunto a ser pesquisado, um plano geral do Seminário é
estabelecido. Em seguida, cada grupo cuidará da elaboração e apresentação de um tópico. O professor assume a função de
coordenador dos grupos, orientando os trabalhos de pesquisa e a preparação da exposição oral de cada grupo.

Temas
38
A escolha dos temas para seminário deverá recair sobre um tópico de uma disciplina do curso, sobre assunto da
atualidade e de interesse da classe ou de cultura geral.
Os assuntos sobre os quais não se encontra bibliografia acessível, os temas muito abstratos ou controversos e os
que não apresentam caráter científico devem ser evitados.

Roteiro para a Elaboração dos Seminários


A elaboração de um Seminário compreende várias etapas, que devem ser cuidadosamente
planejadas e executadas. Assim sendo, tornam-se indispensáveis várias reuniões, para que cada membro do grupo participe
da definição do plano geral e assuma a responsabilidade da parte que lhe cabe na consecução deste plano.
O número de reuniões depende da complexidade do tema e da profundidade e extensão de seu enfoque.
Contudo, de modo geral, para a elaboração de um Seminário bastam quatro reuniões de grupo.

Primeira Reunião
O primeiro assunto a ser tratado na primeira reunião é a constituição do grupo. O grupo, com cinco ou seis
componentes, no máximo, constitui-se, basicamente, de: coordenador - encarregado de coordenar os trabalhos, definindo as
etapas da pesquisa, atribuindo tarefas aos demais membros do grupo e verificando o cumprimento delas; secretário - cabe
ao secretário do grupo anotar todas as sugestões de trabalho, a pauta das reuniões e as tarefas atribuídas a cada
componente; relator - é o membro do grupo encarregado de avaliar e comentar o andamento dos trabalhos, a suficiência do
material coletado, bem como o desempenho das tarefas propostas; demais membros - são os outros componentes do grupo.
Definição do tema e delimitação do assunto. Se o tema não foi sugerido pelo professor, o grupo todo participa
de sua escolha e delimitação. Cada componente do grupo apresenta sua sugestão, que será analisada e discutida por todos.
A decisão final deverá refletir um consenso de todas as opiniões. Plano de pesquisa. O plano global de pesquisa
compreende: pesquisa bibliográfica; entrevistas com técnicos e especialistas no assunto; relatos de observações e
experiências; plano geral para a coleta de dados.
Distribuição de tarefas a serem executadas, segundo o plano geral para a coleta de dados. O secretário anota
tudo e marca-se uma segunda reunião, levando-se em conta o espaço mínimo de tempo para que todos os membros possam
cumprir suas tarefas.

Segunda Reunião
Os assuntos a serem tratados na segunda reunião são os seguintes:
1. apresentação das tarefas executadas ao coordenador;
2. avaliação do material coletado (é suficiente, quantitativa e qualitativamente?);
3. análise dos dados levantados e distribuição de tarefas (quem vai fichar o quê?);
4. planejamento para a reunião seguinte (prevendo-se o tempo suficiente para a execução das tarefas).

Terceira Reunião
1. Apresentação dos fichamentos, para interpretação e discussão dos dados levantados;
2. Verbalização: cada membro fará a exposição oral do material coletado, para que todos fiquem a par do conteúdo de toda
a pesquisa bibliográfica. Em seguida, os dados serão confrontados, discutidos os pontos de vista, expostos os argumentos
que levarão às conclusões;
3. O assunto será ordenado em partes (introdução, desenvolvimento e conclusão), dividido em tópicos, com títulos e
subtítulos;
4. Elaboração de um Roteiro do seminário, que servirá como esquema para a redação e para a apresentação.

Quarta Reunião
1. Redação do trabalho e das fichas-guia para a apresentação oral. Se for solicitada a apresentação escrita, faz-se a redação
prévia das partes e depois a dação final, conforme as normas já especificadas.
As fichas-guia para apresentação oral contêm um esquema com os tópicos te serão abordados e não devem
apresentar frases redigidas, uma vez que sua função é apenas servir de lembrete, de guia para a exposição oral.
2. Organização do material de ilustração. Confecção de cartazes, transparências e outros recursos didáticos que serão
utilizados; folhetos e publicações que, eventualmente, serão distribuídos na classe.
3. Revisão crítica do conteúdo; verificação do material de ilustração e do roteiro que será distribuído, contendo um
cabeçalho, sumário do trabalho, nomes dos componentes do grupo e data da apresentação.
4. Critérios para a apresentação oral. A exposição oral deverá ser “ensaiada” e cronometrada, para que o seminário seja
bem apresentado e não ultrapasse o tempo disponível.
Um membro apenas ou todos os membros do grupo podem participar da exposição oral. No caso de todos os
membros participarem da exposição, cada um “ensaiará” sua parte, tendo o cuidado de não quebrar o encadeamento dos
tópicos do Sumário.
Referências à “parte de fulano” devem ser evitadas; cada componente continuará a exposição do ponto em que
seu antecedente terminou, como se fosse mesma pessoa, para que a apresentação e a linha de raciocínio do trabalho não
sofram solução de continuidade.
Após a apresentação, todos os membros devem participar do debate, respondendo a questões levantadas e
alimentando a discussão do assunto.

39
Normas para a Apresentação Oral
Quanto à apresentação oral, compreende os seguintes aspectos: requisitos referentes ao conteúdo, à parte
expositiva e técnicas para a elaboração das ilustrações.
Requisitos para a exposição oral:

1. Aspectos do conteúdo:
a) domínio do assunto (por todos os componentes do grupo);
b) clareza nos conceitos expostos;
c) seleção qualitativa e quantitativa do material coletado;
d) adequação da extensão do relato ao tempo disponível;
e) encadeamento das partes (seqüência discursiva).

2. Aspectos exteriores:
a. autocontrole;
b. boa dicção (entonação, timbre, altura);
c. vocabulário simples e adequado;
d. postura correta;
e. empatia com a classe.

O material de ilustração mais comumente empregado constitui-se de cartazes, retroprojeções e projeções de


slides.
Os cartazes podem ser confeccionados em cartolina, papel-cartão ou até mesmo em papel de embrulho. Para
fixá-los usa-se fita crepe ou um “varal” de fio resistente, no qual eles são fixados com pregadores de roupa. Nesse
particular, vale a criatividade dos componentes do grupo.
Os dizeres ou legendas dos cartazes devem ser escritos com caneta hidrocor preta ou de outra cor, desde que
estabeleça contraste suficiente com a cor do papel utilizado.
Um requisito indispensável para o conteúdo dos cartazes é a correção gramatical, principalmente no que diz
respeito à ortografia e separação de sílabas.
O tamanho das letras e símbolos deverá permitir a leitura do que foi escrito até pelos alunos sentados na última
fila de carteiras, no rondo da sala.
Quando se trata de imagens ou desenhos, os critérios de tamanho e inteligibilidade da ilustração devem ser
igualmente observados. Evite-se a apresentação de vários desenhos pequenos acumulados na mesma folha.
Verifique-se antes da apresentação a possibilidade de fixar os cartazes ou o “varal” e o material necessário: fita
crepe, percevejos, pregadores etc.
O uso do retroprojetor implica a obediência a algumas normas, tanto em seu manuseio como na preparação das
transparências.
Para as transparências serão utilizados tipos de letra que proporcionam leitura fácil e desenhos com boa
visibilidade, cuidando-se da disposição estética do conteúdo.

As informações do texto deverão ser concisas, isto é, apresenta-se apenas o que identifica o assunto, sem a
preocupação de preencher toda a folha. O espaço utilizado em uma página não deverá exceder 19 X 23 cm, de preferência
com moldura, para dar destaque ao texto.
Os desenhos devem ser bem feitos, proporcionais ao tamanho da página e facilmente decodificáveis.

Técnicas de uso do retroprojetor:


a) o controle liga-desliga deve ser acionado a cada intervalo de exposição; não se deixa a lâmpada acesa sem a
transparência;
b) uma folha de papel deve recobrir o texto, que vai sendo apresentado de acordo com o desenvolvimento da exposição;
c) para indicações, usa-se um bastão, uma vareta ou caneta, apontando no projetor, para evitar sombras ou oclusão do que
foi projetado;
d) anotações que acompanham a exposição devem ser feitas por cima de um filme, com caneta à base d'água, para não
danificar o conteúdo da transparência.
Antes da apresentação verifica-se a existência e o funcionamento de tomadas elétricas no local da apresentação; testa-se o
aparelho, que deve ser solicitado com antecedência, conforme as normas da Faculdade.
No caso dos slides, além da verificação do funcionamento das tomadas elétricas e do aparelho projetor, verifica-se a
ordem e a posição das cartelas.

Avaliação do Seminário
Todos os alunos recebem um roteiro do seminário, através do qual acompanharão a exposição oral, para no final
participarem do debate, fazendo perguntas, apresentando sugestões, promovendo a discussão do assunto.
Além da participação no debate, cada grupo deverá se reunir e fazer uma avaliação do seminário, de acordo com
o roteiro sugerido pelo professor.

ANDRADE, M. M. A elaboração de seminários. In: Introdução à metodologia do trabalho


científico: elaboração de trabalhos na graduação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.
40
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliográfica é o passo inicial na construção efetiva de um protocolo de investigação, quer dizer,
após a escolha de um assunto é necessário fazer uma revisão bibliográfica do tema apontado. Essa pesquisa auxilia na
escolha de um método mais apropriado, assim como num conhecimento das variáveis e na autenticidade da pesquisa.
Ressaltada a importância da pesquisa bibliográfica na edificação de um projeto de pesquisa, fica claro a
pertinência de um trabalho voltado para esse primeiro passo. Assim como as demais etapas do processo investigativo
possuem critérios, a pesquisa bibliográfica também os possui.

5. Redação Técnica
Este ponto tratará de textos formais: requerimento, ofício, memorando, ata, currículo e memorial. Em muitas
ocasiões, sobretudo ao lidar com instituições oficiais e/ou comerciais, é importante conhecer procedimentos e ter alguns
modelos em que se basear.
Além disso, se você estiver trabalhando ou engajado em alguma entidade pública, ONG ou movimento
estudantil, poderá ser muito útil ter desenvoltura nesse tipo de redação técnica. Os documentos estudados a seguir são
empregados com freqüência em comunicações oficiais dos mais diferentes órgãos.
Confira, então como redigir esses textos, quando são usados a linguagem empregada (que é formal, sem o uso
de gírias ou expressões coloquiais, e apresenta alguns pronomes de tratamento mais cerimonioso).

a) Requerimento
É um pedido feito por pessoa física ou jurídica de algo a que tem direito; dirige-se a uma autoridade.
Também conhecido como petição, o requerimento consiste na solicitação de algo de direito a uma autoridade.
Deve ser feito em papel ofício e escrito à mão, à máquina ou por computador.
Esse documento é composto de invocação ou vocativo (cargo da pessoa a quem se destina o requerimento);
dados pessoais do requerente (sua identidade deve ser estar completa – nome, estado civil, nacionalidade, endereço,
número do RG e CPF); motivo do pedido ( caso seja necessário, pode ser fundamentado com a citação de documentos
anexados); fecho (que segue um padrão: Pede Deferimento); data; assinatura.
Vejamos um modelo de requerimento e verifique como é composto:

Ilmo. Sr. Superintendente da Educação Básica

Maria João Cunha, secretária de Departamento Pessoal da Universidade Católica, casada., brasileira, residente
na Rua: Campos Sales, 23, apt.101 – Edifício Panamá, nesta cidade, portadora do RG n° 245790433 e CPF n° 345.678.945
-00, vem requere de V. Sa. Uma bolsa de estudo par ao Curso de Enfermagem, tendo em vista sua aprovação no último
vestibular dessa entidade.
Nestes Termos
Pede Deferimento
Rio de Janeiro 02 de janeiro de 2009.

__________________________________
Maria João Cunha

b) Ofício
É uma correspondência oficial emitida por órgão público, que pode ser destinada a outro órgão público ou a um
particular.
O ofício é um documento emitido por órgão público cujo assunto é bem variado: cumprimento, decisões,
convites e determinações…
Com linguagem simples e forma, em geral é feito em duas vias, em papel-ofício e sem rasuras. Os parágrafos
podem ser enumerados, exceto o primeiro e o último.
Normalmente, o ofício apresenta um timbre do órgão que expede o documento. O timbre é importante porque
identifica o emissor (nome da repartição expedidora e endereço completo).
O número representa a seqüência em que os ofícios vão sendo emitidos separado por barra dos dois últimos
algarismos do ano em curso – e, em seguida, vem o índice (sigla que informa que setor está expedindo o ofício). Além
dessas siglas de uso interno da repartição, fazem parte do ofício: vocativo (invocação do destinatário); texto (corpo do
ofício, que pode ser redigido na 1ª. Pessoa do singular ou no plural; fecho; assinatura; e endereçamento, que se localiza na
margem esquerda, no final da folha.
Vejamos um modelo de ofício:

TIMBRE
Secretaria de Educação do Município de Maracanaú
Ofício n° 02/09 Maracanaú, 02 de janeiro de 2009.

Excelentíssimo Senhor Governador:


41
A Secretaria de Educação desta cidade, vem realizando vários cursos de aperfeiçoamento para os professores da
rede pública. Como desejamos dar continuidade a esse trabalho, solicitamos a V. Exa. Uma verba especial, durante este
ano, pois não dispomos de recursos suficientes.
Contamos com a compreensão de V. Exa. E, desde já demonstramos nossa consideração e apreço pelo empenho
e interesse demonstrados a esta solicitação.
Atenciosamente,

______________________________
João de Sousa
Secretário de Educação de Maracanaú

A.S. Exa.
Sr. Governador João Leite
Gabinete do Governador
Fortaleza - Ce

c) Memorando
É uma correspondência breve, interna ou externa utilizada tanto pelo serviço público como pela iniciativa
privada, para abordar assunto rotineiros.
Quanto a estrutura do memorando pode apresentar: número (que é opcional, mas recomendável); local; data
(que pode ser abreviada); destinatário; remetente; assunto; vocativo; texto (que deve ser conciso e objetivo); fecho;
assinatura; aviso de cópias, anexos, iniciais do redator e digitador.
O local é omitido na correspondência interna; o vocativo, o fecho e o aviso de cópias, anexos, iniciais do redator
e digitador podem ser omitidos.
Veja um modelo de memorando utilizado no âmbito interno de uma empresa:

TIMBRE
Rocha S. A.

Em 02 de Janeiro de 2009.

Memo n° 01/09

Para: Gerente Comercial


De: Gerente Financeiro
Assunto: Indaiá Veículos – Limite de Crédito

Informo que a empresa Indaiá Veículos Ltda. Teve seu crédito reduzido para R$ 185.000,00, devido à situação
financeira precária por que passa esse concessionário revelada em seu último balancete.
Abraços,

_____________________
Gerente de Vendas

Anexo: Balancete

d) Ata
É um documento que registra resumidamente e com clareza as ocorrências, deliberações, resoluções e decisões
de reuniões ou assembléias.
Deve ser redigida de maneira que não seja possível qualquer modificação posterior.
Para que isso deve ser escrita:
- sem parágrafos ou alíneas (ocupando todo o espaço da página);
- sem abreviaturas de palavras ou expressões;
- números por extenso;
- sem emendas ou rasuras;
- sem uso de corretivo (tipo erro-ex);
- com emprego do verbo no tempo pretérito perfeito do indicativo (Exemplo: verbo falar: falou, falaram; verbo
discutir: discutiu, discutiram; verbo comentar: comentou, comentaram).
- com verbo de elocução para registrar as diferentes opiniões. Quem redige a Ata não põe os participantes da
reunião a falar diretamente, mas faz-se intérprete delas, transmitindo ao leitor o que elas (as pessoas) disseram. (Exemplo:
Em vez de "Inicialmente, eu Manuel de Araújo, presidente do Centro, determino a sra. vice-presidente, que apresente o
calendário que fizemos para que os presentes o conheçam." Deve ser redigida assim: "Inicialmente o sr. Manuel de Araújo
42
solicitou à vice-presidente, sra. Maria de Souza, que apresentasse o calendário elaborado para que os presentes tivessem
seu conhecimento.)"
Se o relator (secretário) cometer um erro, deve empregar a partícula retificativa digo, como neste exemplo:
"Aos dez dias do mês de dezembro, digo, de janeiro, de dois mil e quatro...".
Quando se constatar erro ou omissão depois de lavrada a ata, usa-se em tempo. Exemplo: "Em tempo: Onde se
lê senhor janeiro, leia-se fevereiro".

Vejamos um modelo de ata:

Ata da reunião extraordinária para aprovação de despesa imprevista, realizada pela diretoria colegiada e conselho fiscal da
Empresa X em nove de março de dois mil e oito, no gabinete da Direção-Geral da empresa, em seu edifício-sede situado
em Marília - São Paulo. A reunião foi presidida pelo Diretor-Financeiro, José Luz da Rocha, secretariada por Antônio
Meira e contou com a presença do Diretor de Recursos Humanos, Marcelo Firmino, do Diretor de Operações, Afonso
Quezada, e de todos os integrantes do Conselho Fiscal da empresa, à exceção do Sr. Rogério Meira, cuja ausência foi
previamente justificada. Inicialmente foi lida e aprovada a ata da reunião anterior, à exceção da seguinte ressalva: onde
constou ‘vinte mil unidades de matéria-prima’, leia-se ‘trinta mil unidades de matéria-prima’. Em seguida o Diretor-
Financeiro solicitou ao Diretor de Operações que apresentasse suas estimativas de necessidade de realização de serviço
extraordinário nas unidades fabris do estado do Paraná para o próximo trimestre, sendo atendido na forma de uma
apresentação audiovisual que definiu os motivos para a realização de sete mil e duzentas horas extras por um total de mil e
duzentos funcionários no período. Os aspectos relacionados à legislação trabalhista foram integralmente aprovados pelo
Diretor de Recursos Humanos, e colocou-se em votação aberta junto ao conselho fiscal a disponibilização dos recursos
para pagamento desta despesa não incluída no Plano Plurianual da Empresa X, resultando em aprovação unânime e
imediata autorização de desembolso concedida ao Diretor-Financeiro. O Conselheiro Aníbal Pinheiro propôs a
recomendação de que uma metodologia para estimativa de realização de serviço extraordinário seja incorporada a futuros
planos plurianuais, tendo a moção sido aprovada por todos os presentes, e imediatamente incluída na pauta da próxima
reunião ordinária da Diretoria Financeira. Nada mais havendo a tratar, foi lavrada por mim, Antônio Meira, a presente ata,
assinada por todos os presentes acima nominados e referenciados.

e) Currículo
É o histórico profissional de uma pessoa, suas principais atividades e habilidades. Seu objetivo é apresentar o
perfil de um candidato a um emprego, bolsa de estudo ou vagas em geral.
Seu nome vem da expressão latina curriculum vitae (que significa “percurso de vida”, geralmente utilizada no
título).
No currículo são relacionados as principais atividades profissionais, cursos e habilidades de uma pessoa. Sua
linguagem deve ser objetiva, clara e concisa. Apresentam-se os dados em ordem cronológica decrescente, da experiência
mais recente às mais antigas. A correção gramatical e a boa organização dos dados são fundamentais.
Evita-se elaborar currículos extensos, com muitos detalhes. É importante dar prioridade aos fatos mais
relevantes na carreira do candidato.
Há também o currículo em forma de carta, em que o candidato conta sua experiência profissional. Não se
tratando desse tipo, pode-se anexar uma carta de apresentação.

f) Memorial
É um documento utilizado na área jurídica, acadêmica e no trato com autoridades públicas, para ampliar dados a
fim de recorda-los e explica-los.
Memorial vem do latim memoriale, “aquilo que faz lembrar”. Seu principal objetivo e lembrar os fatos,
enumerando-os e explicando-os.
Os tipos mais usuais de memorial são:
 Memorial Reivindicatório: é semelhante ao abaixo assinado, mas visa lembrar a alguma autoridade uma
solicitação já feita.
 Memorial Descritivo: é anexado a projetos arquitetônicos, com finalidade de listar e descrever os
materiais e acabamentos de uma construção.
 Memorial Jurídico: é a sustentação que uma das partes faz numa ação judicial, especialmente no fim do
processo.
 Memorial Acadêmico: é o documento que, assim como o currículo, conta o histórico acadêmico-
profissional de uma pessoa. No entanto, diferencia-se por trazer comentários sobre a trajetória de vida acadêmica da
pessoa, sendo, por isso, mais extenso.
O memorial acadêmico serve como referencia pessoal dos candidatos a cursos de pós-graduação e bolsas de
estudo, bem como certos cargos, sobretudo de pesquisador ou professor universitário. Em algumas faculdades, ele é
exigido já no final da graduação, concomitantemente ou em substituição ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nesse
caso, serve para que o aluno relembre e avalie seu aprendizado durante a graduação. Ele deve listar as atividades que
desenvolveu (seminários, fichamentos, provas, etc.) e comenta-las, relatando em que medida contribuíram para sua
formação e como foi seu desempenho nelas.
A estrutura do memorial é semelhante à das dissertações e teses, mas a divisão do texto depende do critério do
autor.

43
Há memoriais acadêmicos que contêm não só as habilidades pessoais e profissionais do candidato, mas também
textos que representam valiosas obras literárias.

g) Procuração
É um documento pelo qual uma pessoa dá a outra, poderes para agir em seu nome, representando-a de pleno
direito nos termos do documento.
Pode ser um instrumento particular (escrita de próprio punho ou digitada, com firma reconhecida) ou por
instrumento público (lavrada por tabelião em cartório).
Quem concede a Procuração é denominado mandante, constituinte ou outorgante. Para quem é passada a
procuração denomina-se mandatário, procurador ou outorgante.
Lavra-se a procuração em papel ofício. Inicia-se com identificação e qualificação completa do outorgante e
depois do outorgado. Em seguida vem a especificação dos poderes definido a finalidade e prazo de validade da produção.
A localidade, a data e a assinatura ficam abaixo do texto.
A procuração apresenta a seguinte estrutura:

- Modelo –
PROCURAÇÃO

Por este instrumento particular de procuração, (nome do outorgante), (identificação do outorgante), residente e
domiciliado em (endereço) nomeia e constitui seu fiel procurador (nome do outorgado), (identificação do outorgado),
residente e domiciliado em (endereço), para fim especial de (objetivo da procuração), podendo o outorgado assinar todos
os atos que se tornem necessários para um bom e fiel cumprimento do presente mandato assim como estabelecer.

(Loca e data)

(Assinatura do outorgante)

UNIDADE III

1. Coesão e Coerência

1.1 Coesão
Uma das propriedades que distingue um texto de um amontoado de palavras ou frases é o relacionamento
existente entre si. De que trata, então, a coesão textual? Da ligação, da relação, da conexão entre as palavras de um texto,
através de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes.

1.1.1 Diversos tipos de Coesão


a) Coesão Referencial: ocorre quando um elemento da seqüência textual se remete a outro elemento do mesmo texto
substituindo-o:
Ex: Encontrei meu irmão na esquina, mas não falei com ele. (anáfora)
Ele estava lá, na esquina, o meu irmão.” (catáfora)

- Substituição de um elemento por outros


As formas pronominais
a) Pronomes pessoais de terceira pessoa: O aluno saiu mas ele e sua mãe voltaram logo a seguir.
b) Pronomes substantivos indefinidos: João e Pedro estiveram lá, mas nenhum falou nada.
c) Pronomes substantivos possessivos: Renato comprou um jornal mas leu o meu.
d) Pronomes substantivos demonstrativos: Ela viu a blusa vermelha mas comprou esta.
e) Pronomes Interrogativos: João, Pedro e Paulo falaram, mas qual disse a verdade?
f) Pronomes substantivos relativos: O livro que trouxe é menos interessante.
g) Pronomes Adverbiais: Foi à Europa e lá foi feliz.

As formas verbais
Neste caso, os verbos fazer e ser são empregados em referência a todo o predicado e não apenas ao verbo:
Ex: O cantor apresentou dois números mas o mímico não fez o mesmo.
Ele trouxe todos os livros mas é porque precisava.

As formas adverbiais
Ex: Saiu duas vezes e o outro, nunca.

As formas numerais
Ex: João e Maria saíram, mas os dois voltaram logo.
Comprou vários presentes; o primeiro, uma bicicleta.
Fiz dez exercícios e meu primo fez o dobro.
44
Havia dez laranjas e comeu um terço delas.

- Reinteração de elementos do texto


As repetições do mesmo termo
a) De forma idêntica: Comprou a casa mas a casa não tinha porta.
b) Com um novo determinante: Comprou a casa mas essa casa lhe trouxe problemas.
c) De forma abreviada: Fernando Henrique Cardoso não governa bem e por isso FHC é malvisto.
d) De forma ampliada: Lula foi candidato e Luis Inácio Lula da Silva foi também muito perseguido.

Os sinônimos ou quase sinônimos


a) Hipônimo: Comprou flores e deu as rosas para a mulher.
b) Hiperônimos: Vinha um ônibus, mas o pedestre não viu o veículo.
c) Nomes genéricos: Trouxe cadernos, livros e outras coisas.
d) Termos simbólicos: Inácio tinha dúvidas se iria para a Igreja, mas o apelo da cruz foi forte.

Expressões nominais definidas


Pelé foi a Paris onde o maior jogador do século foi premiado.

b) Coesão Recorrencial
Caracteriza-se pela repetição de algum tipo de elemento anterior que não funciona, a exemplo do caso da coesão
referencial, como uma alusão ao mesmo referente, mas como uma “recordação” de um mesmo padrão. Ela pode aparecer
de várias formas.

a) A recorrência de termos: Rosa falava, falava, falava...


b) O paralelismo, que consiste na recorrência da mesma estrutura sintática: Pão no forno, água na garrafa e fruta na
geladeira não alimentam.
c) A paráfrase, que se refere à recorrência de conteúdos semânticos, marcada por expressões introdutórias como isto é, ou
seja, quer dizer, digo, ou melhor, em outras palavras. Ele não compareceu, ou seja, sumiu.
d) Recursos fonológicos, ou sons, caso da rima: Os males do Brasil são a corrupção, a educação e o Fernandão!

Dentro desse tipo de coesão estão os casos de elipse: “O grande objetivo da vida não é o conhecimento, mas (...)
a ação”, em que se omite a estrutura “o grande objetivo da vida é”.

c) Coesão seqüencial
Esse tipo de mecanismo de coesão se refere ao desenvolvimento textual propriamente dito, ora por
procedimentos de manutenção temática, com o emprego de termos pertencentes ao mesmo campo semântico, ora por meio
de processos de progressão temática.
A progressão temática pode realizar-se por meio da satisfação de compromissos textuais anteriores ou por meio
de novos acréscimos ao texto. Ao primeiro tipo pertencem os seguintes casos:
a) Condicionalidade: Se chover, eu não irei.
b) Causalidade: Todos foram de roupa de praia porque estava fazendo sol.
c) Implicação lógica: Só há um meio de fazer isso: trabalhando.

Os acréscimos ao texto podem ser feitos de vários modo:


a) Explicação ou Justificativa: Todos chegaram na hora marcada, pois o trânsito estava bom.
b) Conjunção: Cheguei na hora marcada. E comigo vieram meus primos.

1.2. Coerência
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não encontra sentido
lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, tomada em sentido lato, que
permite a esse falante reconhecer de imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se com a
competência textual para possibilitar certas operações simples ou complexas da escrita literária ou não literária: um
resumo, uma paráfrase, uma dissertação a partir de um tema dado, um comentário a um texto literário, etc.

1.2.1 Fatores de Coerência


a) Conhecimento Linguítico
O conhecimento das estrutura gramaticais e do significado das palavras. Na verdade, esse conhecimento é
necessário, mas pode não ser sufuciente, para que um texto seja coerente. Na época da didadura militar por exemplo, eram
comuns as pichações de dizeres como: “Fora gorilas!”. Ora, mesmo sabendo como se estrutura essa frase e o significado
dos seus vocábulos, o entendimento da pichação vai além disso, precisando também de certo conheicmento do mundo –
que nos diz, nesse caso, que gorilas era um termo negativo aplicado aos militares, os quais, naquele momento, governavam
o país.

b) Conhecimento de Mundo

45
O conhecimento prévio de mundo nos permite ler o texto, relacionar seus elementos por meio de inferência, dar
continuidade de sentido aos segmentos textuais , etc. Correspondente à soma de todos os nossos conhecimentos adquiridos
à medida que vivemos e que são armazenados em blocos, denominados modelos cogniticos. Estes podem ser de diferentes
tipos:
a) Os frames, que se referem aos conhecimentos armazenados dentro de um certo bloco conceitual: assim, o frame “a sala
de aula” pode conter giz, quadro-negro, professor, livros, cadernos, alunos, mas não contém bananas, macacos ou
espingardas;
b) Os esquemas, que são conhecimentos que se organizam dentro de uma certa sequência temporal ou casual, como as
ações que fizemos ao tomar banho, ao vestirmos nossas roupas, etc.
c) Os planos, que se referem aos procedimentos a serem tomados para atingirmos nossos objetivos. Por exemplo:
conhecimento de como devemos proceder para obtermos uma vitória no tribunal;
d) Os esquemas textuais, que se ligam a regularidades textuais conforme o tipo de organização discursiva. Assim, um texto
narrativo apresenta certas regularidades, que acabam por montar a sua “gramática”, do mesmo modo que os textos
descritivos ou dissertativos.

c) Conhecimento Compartilhado
Como emissor e receptor possuem obrigatoriamente conhecimentos de quantidade e qualidade diferentes, é necessário que
um texto, para ser coerente , se fundamente numa base sólida de conhecimentos comuns entre dois. Quando o
conhecimento não é partilhado, o texto necessita de muitas explicações, as quais se tornam redundantes, em caso contrário.
Assim para que um texto seja adequado é necessário um perfeito equilíbrio entre informações novas e informações
conhecidas.

d) As Inferências
Referem-se aos conhecimentos que não estão expressos, mas que podem se deduz a partir do que é dito.

e) Os Fatores de Contextualização
São todos aqueles que relacionam o texto a uma situação comunicativa determinada. Por exemplo, se lermos na capa de um
livro que ali são agrupados contos de fadas, não vamos achar incoeentes uma série de dados que são absurdos no mundo
real.

f) Situacionalidade
Refere-se aoconjunto de elementos situacionais que servem para dar coerência ao texto: os participantes do ato
comunicativo – quem são, qual a sua relação hierárquica, onde estão etc., o momento de enunciação, o local etc.

g) A informatividade
Diz respeito à quantidade de informações presentes num texto e que está intimamente relacionada à presunção do emissor
sobre o receptor. Se sou um jornalista responsável por uma coluna especializada em crítica cinematografica, por exemplo, é
natural que considere meus leitores de certo modo informados sobre os temas que abordo, o que pode fazer com que
alguns, menos preparados nesse campo de conhecimento, venham a não compreender perfeitamente o que digo. Caso
contrário, posso chegar a “ofender” meus leitores, dando-lhes informações óbvias, o que tornaria o texto redundante, e por
isso mesmo, pouco coerente.

h) A Focalização
Refere-se ao mode de ver específico de determinado conhecimento. Assim, se um pintor vai a um jogo de futebol,
certamente vai ver praticamente o espetáculo – os movimentos dos jogadores, as cores, a luz, etc., ao passo que um locutor
o observará sob o ponto de vista esportivo.

i) A Intertextualidade
Prende-se ao conhecimento prévio de outros textos, tanto no que diz respeito à forma, quanto ao conteúdo. Na forma, pode
aparecer como citações, paráfrases ou paródias; no caso do conteúdo, a intertextualidade é uma constante já que todos os
textos dialogam uns com os outros.

j) A Intencionalidade e a Aceitabilidade
A incencionalidade está ligada, por parte do emissor, a todos os meios de que ele lança mão no sentido de atingir seus
objetivos; já a aceitabilidade, no caso do receptor, está ligada a sua capacidade de atribuir coerência ao texto.

k) A Consistência e a Relevância
A consistência se prende ao fato de que todos os dados textuais devem estar relacionado de forma consistente entre si, de
modo a não haver contrdição possível; já a relevância se liga ao fato de que os enunciados devem estar ligados ao mesmo
tema.

EXERCÍCIO 11

1. Assinale a opção que não estabelece uma continuidade coerente e gramaticalmente correta para o texto.
46
a) Nesta parte do mundo, imensas parcelas da população não têm minimamente garantida sua sobrevivência material.
Como, pois, reivindicar direitos fundamentais se a estrutura da sociedade não permite o desenvolvimento da consciência
em sua razão plena?
b) Por conseguinte, a questão dos Direitos tem significado político, enquanto realização histórica de uma sociedade de
plena superação das desigualdades, como organização social da liberdade.
c) Assim, pois, a opressão substitui a liberdade. A percepção da complexidade da realidade latino-americana remete
diretamente a uma compreensão da questão do homem ao substituí-lo pela questão da tecnologia.
d) Na América Latina, por isso, a luta pelos direitos humanos engloba e unifica em um mesmo momento histórico, atual, a
reivindicação dos direitos pessoais.
e) Não nos esqueçamos que a construção do autoritarismo, que marcou profundamente nossas estruturas sociais,
configurou o sistema político imprescindível para a manutenção e reprodução dessa dependência

2. Em casa um dos textos a seguir a primeira ocorrência de um vocábulo foi destacada. Identifique como se repete esse
mesmo elemento no decorrer do texto.
a) Um amigo na vida é muito. Dois é demais. Três é impossível. A amizade necessita de certo paralelismo de vida, uma
comunhão de pensamento, uma emulação de fins. (Adams)
b) Não há mais do que uma história: a história do homem. Todas as histórias nacionais não são mais do que capítulos
dessa história maior. (Tagore)
c) Há um tipo de ignorante, fruto dos tempos atuais, que defendem sua ignorância com racionalidade: são ignorantes
sistemáticos. (Prevost)
d) Um livro é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera; esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração
que chora... (Provérbio Indiano)
e) As loucuras das quais um homem mais se lamenta em sua vida são aquelas que não cometeu quando teve oportunidade.

3. Identifique as catáforas dos textos abaixo:


a) A pior enfermidade da alma é o frio.
b) Isso é o que mais incomoda os homens honestos: o ciúme.
c) A força mais poderosa de todas é um coração inocente.
d) O mais misterioso e solitário dos ofícios humanos, a criação intelectual.
e) Eles sempre fazem bem as coisas, os super-heróis.
f) Tudo custa muito caro: as frutas, os legumes e os cereais.
g) Nada me chamou a atenção: nem a paisagem, nem o clima, nem o preço do hotel.

4. Todos os textos abaixo apresentam passagens de intertextualidade explícita. Indique as origens dessa intertextualidade.
a) Minha terra tem palmeira / Onde gorjeia o mar / Os passarinhos daqui / Não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade)
b) Devagar se vai ao longe, mas quando se chega lá, não se encontra mais ninguém. (Millor Fernandes)
c) Dinheiro não traz felicidade. Quem disse o ditado pensou em reais, porque o euro traz. (Millor Fernandes)
d) Este país deve progredir cinqüenta anos em cinco; não podemos ficar deitados eternamente em berço esplêndido.
(Discurso de Juscelino Kubitschek)

5. Indique duas inferências deduzidas de cada uma das seguintes manchetes.


a) As chuvas de janeiro prometem ser violentas.
b) Mais uma tentativa de fuga de presos em São Paulo.
c) O governo pretende arrecadar mais este ano em impostos.
d) Os pilares da ponte Rio-Niterói estão sofrendo corrosão.

6. Em cada conjunto de frases a seguir, a idéia principal aparece no número 1. As frases que a seguem estão ou não
relacionadas com essa idéia principal. Indique com um X aquelas que não têm relação de sentido com a idéia principal.
a) A cada dia que passa se torna mais difícil o trânsito de São Paulo.
( ) Os noticiários trágicos dos telejornais sobre o aumento de mortes decorrentes de acidentes são a prova cabal dessa
triste realidade.
( ) Certamente essas páginas de noticiário trágico são as que contam com um maior número de leitores.
( ) Uma prova disso é o sucesso chamado “imprensa marrom”.
( ) A cada dia aumenta o número de veículos em circulação.
( ) Os pedestres, por seu lado, atravessam as ruas sem qualquer cuidado e, principalmente, fora das faixas reservadas.
( ) A causa principal dos desastres é a falta de obediência ao novo código Nacional de Trânsito.

b) Um dos problemas do urbanismo moderno é o dos “espaços verdes” ou “pulmões” da cidade.


( ) Esses “pulmões” atenuam o perigo que representa para a nossa saúde o ar poluído das grandes cidades.
( ) O Rio de Janeiro conta com alguns “espaços verdes”: a Floresta da Tijuca, o Jardim Botânico, o Horto Florestal...
( ) Na Quinta da Boa Vista está o Jardim Zoológico, onde há grande variedade de animais.
( ) Nas praças há muitos bancos para que os transeuntes descansem.
( ) Graças a esses espaços as crianças podem respirar um ar menos poluído.
( ) Nas grandes metrópoles procura-se que cada bairro possua o seu próprio o seu próprio “espaço verde”.

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7. Substitua as locuções destacadas por um único vocábulo de sentido equivalente e de menor extensão.
a) A história é a ciência da infelicidade dos seres humanos.
b) As almas das mulheres são imprescindíveis.
c) A guerra está por um fio no Oriente Médio.
d) O estudante era um rapaz de bons modos.
e) O trabalho de todo dia traz monotonia.
f) Onde há casamento sem amor, vai haver amor sem casamento.
g) Os tratados entre Portugal e Estados Unidos perdem a validade.
h) A vegetação da região Norte é de grande exuberância.
i) A guerra deixou o Iraque de pernas para o ar.
j) A surpresa deixou-o sem qualquer reação.

EXERCÍCIO 12

Objetivo: Perceber a coerência de um texto a partir do sequenciamento lógico de suas frases.


1. Você sabe, por acaso, o que fazer quando se perde um amor? As frases abaixo, embaralhadas, foram a simpatia “PARA
TER DE VOLTA UM GRANDE AMOR”, criada pelo humorista famoso Jô Saoares.

Procure ordená-los. Tente descobrir os segredos para se reconquistar a pessoa amada. Para isto, utilize os parênteses,
numerando a seqüência das frases escolhidas por você, por você, depois é só conferir o resultado.

( ) Balance a cabeça pra se certificar que elas estão bem firmes.


( ) Cuspa nele e saia correndo.
( ) Encoste o cano da pistola carregada em uma das orelhas, tomando cuidado para não estragar a cenoura.
( ) Na noite desse mesmo dia, vá até a casa do seu chefe ou professor e diga-lhe que ele é ladrão corrupto e imbecil.
( ) Pegue duas cenouras de bom tamanho e introduza-a nos orifícios de suas orelhas.
( ) Uma hora depois, escreva o nome da pessoa amada na sola do seu pé esquerdo e compre uma pistola automática.
( ) Esta simpática é tiro e queda.
( ) Aperte o gatilho.

2. Alguma vez você já se incomodou com aquela gordurinha na cintura, formando uma dobra quando do uso de calça
apertada? Já deixou de ir a um encontro importante pelo fato de não conseguir, de repente, lembrar-se do cinema, praia
onde marcará esse encontro?

Abaixo, as frases de suas simpatias, do mesmo humorista, estão embaralhadas. Coloque (A) nos parênteses que você julgue
ser a frase correspondente a simpatia “PARA AFINAR A CINTURA” e (B) nos parênteses que a frase correspondente a
simpatia “PARA CURAR A FALTA DE MOMÓRIA”.

( ) Amarre-as uma nas outras com todo cuidado para não machucar as coitadinhas.
( ) Pegue um punhado de minhocas frescas, no bom sentido.
( ) Numa tarde de sexta-feira, vá até uma avenida bem movimentada e tire as calças.
( ) Em seguida pegue o cinto de minhocas, bata no liquidificador com salsa, cebolinha e pimentão a gosto, misture duas
colheres de iorgute sabor de minhoca e tome tudo numa noite de lua cheia.
( ) Some esses números com aplaca do primeiro carro que atropelar você e subtraia o resultado da placa do caminhão que
passar por cima do que sobrou.
( ) Depois com o cordão de minhocas resultante, meça sua cintura.
( ) Se você sobreviver nunca mais vai querer comer hambúrgueres ou carne moída.
( ) Sente-se sobre a faixa de pedestre com o farol aberto pros carros e procure se lembrar do número do RG da sua avó
materna.
( ) Várias pessoas já fizeram esta simpatia com sucesso.
( ) OBSERVAÇÃO: Não vale usar maquininha de calcular senão a simpatia não da certo.
( ) Uma delas até trabalha aqui na revista.
( ) Com isso, vai emagrecer a afinar a cintura.

2. PONTUAÇÃO
Os sinais de pontuação servem para marcar pausas (a vírgula, o ponto-e-vírgula, o ponto) ou a melodia da frase
(o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, etc.). Geralmente, estão ligados à organização sintática dos termos na
frase, eles são regidos por regras.

a) Vírgula

48
Ela marca uma pausa de curta duração e serve para separar os termos de uma oração ou orações de um período.
A ordem normal dos termos na frase é: sujeito, verbo, complemento. Quando temos uma frase nessa ordem, não separamos
seus termos imediatos. Assim, não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo e seu complemento.
Quando, na ordem direta, houver um termo com vários núcleos a vírgula será utilizada para separá-los.
Na fala de Madonna, a vírgula está separando vários núcleos do predicado na segunda oração.
Ex.: " A obscenidade existe e está bem diante de nossas caras. É o racismo, a discriminação sexual, o ódio, a
ignorância, a miséria. Tem coisa mais obscena do que a guerra?"

Utilizamos a vírgula quando a ordem direta é rompida. Isso ocorre basicamente em dois casos:
- quando intercalamos alguma palavra ou expressão entre os termos imediatos, quebrando a seqüência natural da frase. Ex:
Os filhos, muitas vezes, mostraram suas razões para seus pais com muita sabedoria.
"O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e
deslustrar a patente".
- quando algum termo (sobretudo o complemento) vier deslocado de seu lugar natural na frase. Ex.:
Para os pais, os filhos mostraram suas razões com muita sabedoria.
Com muita sabedoria, os filhos mostraram suas razões para os pais.

b) Ponto-E-Vírgula
O ponto-e-vírgula marca uma pausa maior que a vírgula, porém menor que a do ponto. Por ser intermediário
entre a vírgula e o ponto, fica difícil sistematizar seu emprego. Entretanto, há algumas normas para sua utilização.
- Usamos ponto-e-vírgula para separar orações coordenadas que já apresentem vírgula em seu interior;
- Nunca use ponto-e-vírgula dentro de uma oração. Lembre-se ele só pode separar uma oração de outra.

Ex: Com razão, aquelas pessoas reivindicavam seus direitos; os insensíveis burocratas, porém, em tempo algum, deram
atenção a elas.
"Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte, para ver a alma." Bernard Shaw

- o ponto-e-vírgula também é utilizado para separar vários incisos de um artigo de lei ou itens de uma lista.
Ex: [...] Considerando:
a) a alta taxa de juros;
b) a carência de mão-de-obra;
c) o alto valor de matéria-prima; [...]

c) Dois Pontos
Os dois-pontos marcam uma sensível suspensão da melodia da frase. São utilizados quando se vai iniciar uma
seqüência que explica, identifica, discrimina ou desenvolve uma idéia anterior, ou quando se quer dar início à fala ou
citação de outrem.
Observe: (Percebeu? Vamos iniciar uma seqüência de exemplos, daí os dois pontos)
Ex: Descobri a grande razão da minha vida: você
Já dizia o poeta: "Deus dá o frio conforme o cobertor".
"Por descargo de consciência, do que não carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro:
- "São Jorge, Santo Onofre, São José!"

d) Aspas
As aspas devem ser utilizadas para isolar citação textual colhida a outrem, falas ou pensamentos de personagens
em textos narrativos, ou palavras ou expressões que não pertençam à língua culta (gírias, estrangeirismos, neologismos,
etc)
Ex: O rapaz ficou "grilado" com o resultado da prova.
Morava em um "flat" onde havia "playground".

e) Travessão
O travessão serve para indicar que alguém fala de viva voz (discurso direto). Seu emprego é constante em textos
narrativos em que personagens dialogam. Leia o texto abaixo:
-Salve!
- Como é que vai?
- Amigo, há quanto tempo...
- Um ano, ou mais.

Podem se usar dois travessões para substituir duas vírgulas que separam termos intercalados, sobretudo quando
se quer dar-lhes ênfase.
Ex: Pelé - o maior jogador de futebol de todos os tempos - hoje é um bem-sucedido empresário.

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f) Reticências
As reticências marcam uma interrupção da seqüência lógica do enunciado, com a conseqüente suspensão da
melodia da frase. São utilizadas para permitir que o leitor complemente o pensamento que ficou suspenso.
Nas dissertações objetivas, evite reticências.
Ex: Eu não vou dizer mais nada. Você já deve ter percebido que...
"Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem - era sexta-feira..."

g) Parênteses
Os parênteses servem para isolar explicações, indicações ou comentários acessórios. No caso de citações é
referências bibliográficas, o nome do autor e as informações referentes à fonte também aparecem isolados por parênteses.
Ex: "Aborrecido, aporrinhado, recorri a um bacharel (trezentos mil-réis, fora despesas miúdas com automóveis, gorjetas,
etc.) e embarquei vinte e quatro horas depois..." Graciliano Ramos
"Ela (a rainha) é a representação viva da mágoa..." Lima Barreto.

h) O ponto
É usado para marcar o término das orações declarativas. O ponto usado para marcar o final do texto é conhecido
como ponto final.
Ex: Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, Pero Vaz de Caminha escreveu uma carta ao rei D. Manuel na
qual informava sobre o descobrimento.

i) Exclamação
É usado no final dos enunciados exclamativos, que denotam espanto, surpresa, admiração.
Ex: Atenção!, Alô!, Bom dia!.

j) Interrogação
É usado ao final dos enunciados interrogativos.

Ex: - Tudo bem com você?


- Tudo. E você?
- Tudo bem!

l) Recursos alternativos para pontuação:


Parágrafo ( § )
Chave ( { } )
Colchete ( [ ] )
Barra ( / )

2.1 Quadro de Resumo

50
Sinal Utilização

usa-se no final do período, indicando que o sentido está completo e nas


Ponto (.)
abreviaturas (Dr., Exa., Sr.); marca uma pausa absoluta

marca uma pequena pausa. É usada para separar: o aposto; o vocativo; o


atributo; os elementos de um sintagma não ligados pelas conjunções e, ou,
Vírgula (,) nem; as coordenadas assindéticas não ligadas por conjunções; as orações
relativas; as orações intercaladas; as orações subordinadas e as adversativas
introduzidas por mas, contudo, todavia e porém.

sinal intermédio entre o ponto e a vírgula que indica que a frase não está
finalizada. Usa-se: em frases constituídas por várias orações, algumas das
Ponto e vírgula (;) quais já contêm uma ou mais vírgulas; para separar frases subordinadas
dependentes de uma subordinante; como substituição da vírgula na
separação da oração coordenada adversativa da oração principal.

marcam uma pausa e anunciam: uma citação; uma fala; uma enumeração;
Dois pontos (:)
um esclarecimento; uma síntese

Ponto de interrogação (?) usa-se no final de uma frase interrogativa direita e indica uma pergunta

usa-se no final de qualquer frase que exprime sentimentos, emoções, dor,


Ponto de exclamação (!)
ironia e surpresa

marcam uma interrupção na frase indicando que o sentido da oração ficou


Reticências (...)
incompleto

usam-se para delimitar citações; para referir títulos de obras; para realçar
Aspas ("...")
uma palavra ou expressão

Parênteses (...) marcam uma observação ou informação acessória intercalada no texto

Constitui cada uma das secções de frases de um escrito; começa por letra
Parágrafo (§)
maiúscula, um pouco além do ponto em que começam as outras linhas.

marca o início e o fim das falas, no diálogo para distinguir cada um dos
Travessão (-) interlocutores; as orações intercaladas; as sínteses no final de um texto.
Substitui os parênteses.

EXERCÍCIO 13

1. Reescreva as orações, pontuando adequadamente e fazendo pequenas modificações, quando necessário:


a) Maria Rita menina pobre do interior chegou a São Paulo assustada
b) O encanador sorriu e disse se a senhora quiser eu posso trocar também a torneira dona
c) Quando tudo vai mal nós devemos parar e pensar onde é que estamos errando desta maneira podemos começar a
melhorar isto é a progredir.
d) Socorro alguém me ajude
e) Ao voltar para casa encontrei um ambiente assustador móveis revirados roupas jogadas pelo chão lâmpadas quebradas e
torneiras abertas
f) De MPB eu gosto mas de música sertaneja
g) Não critique seu filho homem de Deus dê o apoio que ele necessita e tudo terminará bem se você não apoiá-lo quem irá
fazê-lo
h) Os nossos sonhos não são inatingíveis a nossa vontade deve torná-los realidade
i) O computador que é uma invenção deste século torna a nossa vida cada dia mais fácil
j) Eu venderei todas as minhas terras mesmo que antes disso a lavoura se recupere
l) Naquele instante quando ninguém mais esperava de longe avistamos uma figura estranha que se aproximava quando
chegou bem perto ele perguntou o que fazem aqui neste fim-de-mundo e nós respondemos graças a Deus o senhor apareceu
estamos perdidos nesta mata há dias
m) Quando lhe disserem para desistir persista quando conseguir a vitória divida com seus amigos a sua alegria
n) Quanta burocracia levei dois meses para tirar um documento de identidade
o) Você tem duas opções desiste da carreira ou do casamento
51
p) O presidente pode se tiver interesse colocar na cadeia os corruptos ou seja aqueles que só fazem mal ao país

3. ORTOFRAFIA
A ortografia é a parte da língua responsável pela grafia correta das palavras. Essa grafia baseia-se no padrão culto
da língua.

Emprego do h
O h é uma letra que se mantém em algumas palavras em decorrência da etimologia ou da tradição escrito do
nosso idioma. Algumas regras, quanto ao seu emprego devem ser observadas:
a) Emprega-se o h quando a etimologia ou a tradição escrita do nosso idioma assim determina.
Ex: homem, higiene, honra, hoje, herói.
b) Emprega-se o h no final de algumas interjeições.
Ex: Oh! Ah!
No interior dos vocábulos não se usa h, exceto:
- nos vocábulos compostos em que o segundo elemento com h se une por hífen ao primeiro.
Ex: super-homem, pré-história.
- quando ele faz parte dos dígrafos ch, lh, nh.
Ex: Passarinho, palha, chuva.

Emprego do s
Emprega-se a letra s:
- nos sufixos -ês, -esa e –isa, usados na formação de palavras que indicam nacionalidade, profissão, estado social, títulos
honoríficos.
Ex: Chinês, chinesa, burguês, burguesa, poetisa.
- nos sufixos –oso e –osa (qua significa “cheio de”), usados na formação de adjetivos.
Ex: delicioso, gelatinosa.
- depois de ditongos.
Ex: coisa, maisena, Neusa.
- nas formas dos verbos pôr e querer e seus compostos.
Ex: puser, repusesse, quis, quisemos.
- nas palavras derivadas de uma primitiva grafada com s.
Ex: análise: analisar, analisado
Ex: pesquisa: pesquisar, pesquisado.

Emprego do z
Emprega-se a letra z nos seguintes casos:
- nos sufixos -ez e -eza, usados para formar substantivos abstratos derivados de adjetivos.
Ex: rigidez (rígido), riqueza (rico).
- nas palavras derivadas de uma primitiva grafada com z.
Ex: cruz: cruzeiro, cruzada.
Ex: deslize: deslizar, deslizante.

Emprego dos sufixos –ar e –izar.


Emprega-se o sufixo –ar nos verbos derivados de palavras cujo radical contém –s, caso contrário, emprega-se –izar.
Ex: análise – analisar, eterno – eternizar

Emprego das letras e e i.


Algumas formas dos verbos terminados em –oar e –uar grafam-se com e.
Ex: perdoem (perdoar), continue (continuar).
Algumas formas dos verbos terminados em –air, -oer e –uir grafam-se com i.
Ex: atrai (atrair), dói (doer), possui (possuir).

Emprego do x e ch.
Emprega-se a letra x nos seguintes casos:
- depois de ditongo: caixa, peixe, trouxa.
- depois de sílaba inicial en-: enxurrada, enxaqueca (exceções: encher, encharcar, enchumaçar e seus derivados).
- depois de me- inicial: mexer, mexilhão (exceção: mecha e seus derivados).
- palavras de origem indígena e africana: xavante, xangô.

Emprego do g ou j
Emprega-se a letra g
- nas terminações –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio: prestígio, refúgio.

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- nas terminações –agem, -igem, -ugem: garagem, ferrugem.

Emprega-se a letra j em palavras de origem indígena e africana: pajé, canjica, jirau.

Emprego de s, c, ç, sc, ss.


- verbos grafados com ced originam substantivos e adjetivos grafados com cess.
Ex: ceder – cessão, conceder – concessão, retroceder - retrocesso.
Exceção: exceder - exceção.
- nos verbos grafados com nd originam substantivos e adjetivos grafados com ns.
Ex: ascender – ascensão, expandir – expansão, pretender – pretensão.
- verbos grafados com ter originam substantivos grafados com tenção.
Ex: deter – detenção, conter – contenção.

3.1 Palavras Variantes


São formas duplas ou múltiplas, equivalentes. Não ferirá a língua culta aquele que usar uma ou outra. No
entanto, o bom senso recomenda a estrutura mais corrente, evitando, dessa forma, que “os menos avisados” achem que uma
gafe esteja sendo cometida. As principais, conforme pesquisas feitas em fontes diversas, estão abaixo relacionadas.
Conheçam algumas delas:

abdome e abdômen degelar e desgelar lisonjear e lisonjar taberna e taverna


afeminado e efeminado demonstrar e demostrar louça e loiça taramela e tramela
aluguel e aluguer dependurar e pendurar louro e loiro televisar e televisionar
aritmética e arimética desenxavido e desenxabido maltrapilho e maltrapido terremoto e terramoto
arrebitar e rebitar maquiagem e maquilagem tesoura e tesoira
arremedar e remedar elucubração e lucubração marimbondo e maribondo tesouro e tesoiro
assoalho e soalho empanturrar e empaturrar melancólico e merencório toicinho e toucinho
assobiar e assoviar enfarte e infarto menosprezo e menospreço transvestir e travestir
assoprar e soprar engambelar e engabelar mobiliar, mobilhar e mobilar treinar e trenar
azaléa e azaléia enlambuzar e lambuzar neblina e nebrina tríade e tríada
bêbado e bêbedo entoação e entonação nenê, neném e nenen trilhão e trilião
bilhão e bilião entretenimento e parêntese e parêntesis várzea, várgea, vargem
bílis e bile entretimento percentagem e porcentagem e varge
biscoito e biscouto enumerar e numerar peroba e perova pitoresco, volibol e voleibol
bravo e brabo espuma e escuma pinturesco e pintoresco
cãibra e câimbra estalar e estralar plancha e prancha
carnegão e carnição este e leste pólen e polem
carroçaria e carroceria exorcizar e exorcismar presépio e presepe
catorze e quatorze flauta e frauta quadriênio e quatriênio
catucar e cutucar flecha e frecha radioatividade e radiatividade
chipanzé e chimpanzé fleuma e flegma rastro e rasto registro e
clina e crina flocos e frocos registo
cociente e quociente gengibirra e jinjibirra relampear, relampejar,
cota e quota geringonça e gerigonça relampadejar, relampaguear,
cotidiano e quotidiano gorila e gorilha relampadar e relampar
cotizar e quotizar hem? e hein? remoinho e redemoinho
covarde e cobarde hemorróidas e hemorróides ridiculizar e ridicularizar
cuspe e cuspo salobra e salobre
degelar e desgelar impingem e impigem seção e secção
demonstrar e demostrar imundícia, imundície e selvageria e selvajaria
dependurar e pendurar imundice sobressalente e sobresselente
desenxavido e desenxabido intrincado e intricado surripiar e surrupiar
lantejoula e lentejoula
3.2. Parônimos
São palavras que apresentam significados diferentes embora sejam parecidas na grafia ou na pronúncia.
“Estória” é a grafia antiga de “história” e essas palavras possuem significados diferentes. Quando dizemos que
alguém nos contou uma estória, nos referimos a uma exposição romanceada de fatos imaginários, narrativas, contos ou
fábulas; já quando dizemos que fizemos prova de história, nos referimos a dados históricos, que se baseiam em documentos
ou testemunhas.
Ambas as palavras constam no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de
Letras. Porém, atualmente, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, é recomendável usar a grafia
“história” para denominar ambos os sentidos.
Outros exemplos:
Flagrante (evidente) / fragrante (perfumado)

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Mandado (ordem judicial) / mandato (procuração)
Inflação (alta dos preços) / infração (violação)
Eminente (elevado) / iminente (prestes a ocorrer)
Arrear (pôr arreios) / arriar (descer, cair)
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, mas significados diferentes.
Acender (pôr fogo) / ascender (subir)
Estrato (camada) / extrato (o que se extrai de)
Bucho (estômago) / buxo (arbusto)
Espiar (observar) / expiar (reparar falta mediante cumprimento de pena)
Tachar (atribuir defeito a) / taxar (fixar taxa)

3.3. Homônimas
São aquelas que possuem grafia ou pronúncia igual. Exemplos: seção (divisão), cessão (ato de ceder), sessão
(reunião, assembléia).

EXERCÍCIOS 14

Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses:


1. Em tempos de crise, é necessário.......................a despensa de alimentos. (sortir - surtir)
2. Os direitos de cidadania do rapaz foram....... ..................pelo governo. (caçados - cassados)
3. O..........................dos senadores é de oito anos. (mandado- mandato)
4. A Marechal Rondon estava coberta pela...............................(cerração - serração)
5. César não teve..........................de justiça. (censo - senso)
6. Todos os....................................haviam sido ocupados. (acentos - assentos)
7. Devemos uma......................quantia ao banco. (vultosa - vultuosa)
8. A próxima..............................começará atrasada. (seção - sessão)
9. ..................................-.se, mas havia hostilidade entre eles. (cumprimentaram - comprimentaram)
10. Na........................das avenidas, houve uma colisão. (intersecção - intercessão)
11. O.....................................no final do dia estava insuportável. (tráfego - tráfico)
12. O marido entrou vagarosamente e passou......... .............................(despercebido - desapercebido)
13. Não costume .......................................as leis. (infligir - infringir)
14. Após o bombardeio, o navio atingido............ .................. (emergiu- imergiu)
15. Vários....................................japoneses chega-ram a São Paulo nas primeiras décadas do século. (emigrantes -
imigrantes)
16. Não há.......................................de raças naquele país. (discriminação - descriminação)
17. Após anos de luta, consegui a ........................... (dispensa - despensa)
18. A chegada do....................................... diplo-mata era........................ ( eminente - iminente).
19. O corpo..................................... era formado por doutores. (docente- discente)
20. Houve alguns.......................................no Congresso. (acidentes - incidentes)
21. Fomos...................................pelos anfitriões. (destratados - distratados)
22. A..................................... dos direitos da emis-sora foi uma das tarefas do governo. (seção - cessão)
23. Ali, na...................................... de eletrodomésticos, há uma grande liquidação. (seção - cessão)
24. É um senhor......................................(distinto - destinto)
25. Dei o .......................................mate ao geren-te, por causa do................ sem fundos. (cheque - xeque)
26. A nuvem de gafanhotos ..................................a plantação. (infestou - enfestou)
27. Quando Joana toca piano é mais um.............que um.................. (conserto - concerto)
28. Todos eles.............................o prazer da bela melodia. (fruem - fluem)
29. Estava muito..................para.................quanto custava aquele aparelho. (apreçar - apressar)
30. Nas festas de São João é comum ............balões e vê-los.............. (ascender - acender)
31. As pessoas foram recolhidas a suas..........(celas - selas)
32. Segui a...............................médica, mas não obtive resultados. (proscrição - prescrição)
33. Alguns modelos.................................serão vendidos. (recreados - recriados)
34. A bandeira de São Paulo tem...................pretas. (listas - listras)
35. Para passar, precisava ..............................mais das lições. ( apreender -aprender)
36. O réu..............................suas culpas. (expiará - espiará)
37. Encontrei uma carteira com .........................de cem dólares. (cédulas - sédulas)
38. Iremos à..............para lermos deliciosa....... ................medieval. (xácara - chácara)
39. Na hora da................................., os mexicanos dormem. (cesta-sesta)
40. Percebe-se que ele ainda é meio...................., pois não tem prática de comércio. (incipiente - insi-piente)

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EXERCÍCIO 15

1. Entre as opções abaixo, somente uma completa corretamente as lacunas apresentadas a seguir. Assinale-a: Na cidade
carente, os .......... resolveram .......... seus direitos, fazendo um .......... assustador.
a) mendingos; reivindicar; rebuliço b) mindigos; reinvidicar, rebuliço
c) mindigos; reivindicar, reboliço d) mendigos; reivindicar, rebuliço
e) mendigos; reivindicar, reboliço

2. Assinale a opção em que todas as palavras se completam adequadamente com a letra entre parênteses:
a) en.....aguar / pi.....e / mi.....to (x) b) exce.....ão / Suí.....a / ma.....arico (ç)
c) mon.....e / su.....estão / re.....eitar (g) d) búss.....la / eng.....lir / ch.....visco (u)
e) .....mpecilho / pr.....vilégio / s.....lvícola (i)

3. Foram insuficientes as ....... apresentadas, ....... de se esclarecerem os ...... .


a) escusas - a fim - mal-entendidos b) excusas - afim - mal-entendidos
c) excusas - a fim - malentendidos d) excusas - afim - malentendidos
e) escusas - afim - mal-entendidos

4. Este meu amigo .......... vai ..........-se para ter direito ao título de eleitor.
a) extrangeiro - naturalizar d) estrangeiro - naturalizar
b) estrangeiro – naturalisar e) estranjeiro - naturalisar
c) extranjeiro - naturalizar

5. Assinale a alternativa em que todas as palavras estão corretamente grafadas:


a) quiseram, essência, impecílio b) pretencioso, aspectos, sossego
c) assessores, exceção, incansável d) excessivo, expontâneo, obseção
e) obsecado, reinvidicação, repercussão

6. A alternativa cujas palavras se escrevem respectivamente com -são e -ção, como "expansão" e "sensação", é:
a) inven..... / coer..... d) disten..... / inser.....
b) absten..... / asser..... e) preten..... / conver.....
c) dimen..... / conver.....

7. Das palavras abaixo relacionadas, uma não se escreve com h inicial. Assinale-a:
a) hélice b) halo c) haltere d) herva e) herdade

8. Só não se completa com z:


a) repre( )ar b) pra( )o c) bali( )a d) abali( )ado e) despre( )ar

9. Completam-se com g os vocábulos abaixo, menos:


a) here( )e b) an( )élico c) fuli( )em d) berin( )ela e) ti( )ela

10. Alternativa correta:


a) estemporanêo b) escomungado c) esterminado d) espontâneo e) espansivo

11. Grafia certa:


a) civilisar b) humanisar c) padronisar d) paralisar e) concretisar

12. Abastecer:
a) deduzir b) abater c) prover d) derrubar e) deprimir

13. O orador ratificou o que afirmara.


a) negou b) corrigiu c) frisou d) confirmou e) enfatizou

14. "A ............... de uma guerra nuclear provoca uma grande .............. na humanidade e a deixa ............... quanto ao
futuro."
a) espectativa - tensão - exitante b) espectativa - tenção - hesitante
c) expectativa - tensão - hesitante d) expectativa - tenção - hezitante
e) espectativa - tenção - exitante

15. Assinale a alternativa correspondente à grafia correta dos vocábulos:


1. desli...e 2. vi...inho 3. atravé... 4. empre...a
55
a) z - z - s - s b) z - s - z - z c) s - z - s - s d) s - s - z – s e) z - z - s - z

16. Pronunciam-se corretamente, com o e e abertos (ó / é), como "povos" e "servo" , as seguintes palavras:
a) inodoros / indefeso d) gostos / destro
b) fornos / obsoleto e) globos / coeso
c) caroços / adrede

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