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Boletim do Departamento de Linguística e Literatura | Publicação Bianual (Abril e Outubro) | N° 17 | Outubro 2011

Palavra do Editor Sumário


Caro leitor, Uma Proposta Metodológica
Ao apresentarmos esta edição, começamos por apresentar as nossas sinceras para Compilação de um
desculpas aos nossos fiéis leitores pelo atraso verificado na saída deste núme- Dicionário de Ideofones do
ro da folha, tal deveu-se a motivos alheios à nossa vontade.
Endereçamos uma especial saudação ao Departamento de Linguística e Changana
Literatura, no geral, pela graduação dos primeiros Doutorados em Linguística
Por Ezra Alberto Chambal Nhampoca
localmente formados, e ao colega Prof. Dr. Eliseu Mabasso, em particular,
pela recente obtenção do grau de Doutor. Parabéns e sucessos. A saudação Pág. 3
é extensiva à Profa. Dra. Samaria Tovela que, embora não sendo do DLL,
foi Graduada por este Departamento. A ela também, muitos parabéns e Algumas semelhanças
sucessos.
lexicais e fonético-
A graduação destes doutorados constitui uma mais valia, não só para o DLL
como também para a sociedade no geral, pois, ao ” formar profissionais ca- fonológicas entre Elomwé e
pazes de conceber e realizar estudos avançados em Linguística e capazes de Emakhuwa
intervir em domínios relacionados com Linguística, (alguns dos objectivos
do curso de Graduação em Linguística), o DLL presta um grande contributo Por Carlos Mucamisa
para a sociedade ao disponibilizar quadros de qualidade que possam con- Pág. 20
tribuir para uma maior e cada vez melhor compreensão de fenómenos sociais,
e não só, envolvendo questões linguísticas.
Para uma caracterização da
Sendo esta a última edição do ano, aproveitamos para, com bastante anteced-
ência, desejar a todos um bom final de ano que se avizinha e que estejamos Poesia Oral nas Timbila dos
juntos em 2011 para partilhar tudo de bom que se nos reserva no futuro, quer Vacopi e alguns aspectos do
na vida académica, quer na vida particular e, porque não, no espaço que a
folha reserva aos seus leitores.
contributo Português 1940-
Agradecemos desde já a todos os que contribuíram, com artigos, ideias e não 2005
só, para que a folha continuasse a ser uma realidade e renovamos o nosso
Por Valdemiro Jopela
apelo para que continuem a apoiar-nos de diferentes formas em 2011.
Pág. 28
Finalmente, convidamo-lo a deliciar-se com mais este número da folha…
Pércida Langa
Relação Homem e a
Natureza no Conto Oral
A Folha Linguística e Literatura é o Boletim de tipo newsletter produzido pelo “Os Desejos da Mulher
Departamento de Linguística e Literatura da Universidade Eduardo Mondlane, Grávida”
Maputo, Moçambique. O objectivo da Folha é difundir a informação e pontos
Por Lurdes Rodrigues da Silva
de vista sobre a problemática e actividades no domínio da Linguística e Litera-
tura e outras áreas afins e promover debates intelectuais no seio de académicos
Pág. 38
e entre estes e outros profissionais.
Fonologia Segmental
As opiniões expressas pelo editor e colaboradores são opiniões próprias e não
necessariamente opiniões do Departamento. Língua Copi
Toda a colaboração deve ser enviada ao Editor, pelo seguinte enderenço elec- Por Nelsa Nhantumbo
trónico: percida.langa@uem.mz em formato Microsoft Word. Pág. 40

Resumo de contribuições para


© Copyrirght: Departamento de Linguística e Literatura, UEM.
Qualquer item da presente Folha pode ser citado,reproduzido ou traduzido, a Folha Pág. 46
desde que seja indicada a fonte.
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FICHA-TÉCNICA
Título: Folha de Linguística e Literatura

Propriedade/Produção: Departamento de Linguística e Literatura,


Faculdade de Letras e Ciências Sociais
Universidade Eduardo Mondlane

Registo: 008/GABINFO – 1999

Conselho Editorial: Editora: Pércida Langa


Editora - Adjunta: Lurdes B. Vidigal
Revisão: Pércida Langa

Maquetização: Nelton Gemo

Endereço:
Departamento de Linguística e Literatura
Facudade de Letras e Ciências Sociais
Universidade Eduardo Mondlane
Campus Universitário Principal
Caixa Postal 257, Maputo, Moçambique
Fax: (258-21) 490890
E-mail: flcs@uem.mz
Website: www.flcs@uem.mz
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Uma Proposta Metodológica para


Compilação de um Dicionário de Ideofones do Changana
*Resumo da II parte da tese de Mestrado em Linguística

Por Ezra Alberto Chambal Nhampoca


ezra.nhampoca@uem.mz

1. Introdução Moçambique, com 11٪ de falantes, segundo o Instituto Nacio-


nal de Estatística (INE) (2000).
1.1. Apresentação do tema de pesquisa
Em Moçambique existem várias línguas Bantu e ultimamen-
te tem havido estudos interessantes sobre elas. Uma dessas lín- 1. 3. Objectivos
guas é o Changana. É sobre esta língua que o presente trabalho
O estudo tem como objectivos os seguintes:
se debruça. Trata-se de um estudo com o seguinte título: Uma
Proposta Metodológica para Compilação de um Dicionário de 1. Apresentar uma proposta metodológica para a compilação
Ideofones do Changana. O trabalho avança algumas propostas de um dicionário de ideofones do Changana, mostrando qual
metodológicas para a compilação de um dicionário de ideo- é a possibilidade de se esgotarem as nuances de um ideofone
fones do Changana e no fim apresenta uma amostra do futuro num dicionário bilingue.
pequeno dicionário de ideofones do Changana (DICH). 2. Apresentar, no fim, uma amostra do futuro dicionário de
ideofones do Changana.

1.2. O Changana em Moçambique


O Changana (S53) é uma língua Bantu. De acordo com Sitoe 1.4. Motivação e relevância
(1996) “O Changana pertence ao grupo Tswa-Ronga (S.50, na A nossa motivação surge, primeiro, da vontade de aprofundar
classificação de Guthrie: 1967-71). Doke (1967) designa este os nossos conhecimentos na área da Lexicologia/Lexicografia,
grupo pelo termo Tsonga. Fazem ainda parte deste grupo as uma vez que temos vindo a trabalhar nesta área. A prática diária,
línguas Tswa (S.51) e Ronga (S.54) ”. no exercício da leccionação, mostra que a existência de mais
materiais de referência nas áreas de Lexicologia e Lexicografia
das línguas Bantu, facilitaria, de um modo geral, o nosso traba-
De acordo com Sitoe e Ngunga (2000), com base no Cen-
lho e a consulta para os estudantes e outros que se interessam e
so Populacional de 1997, o Changana “é falado por cerca de
trabalham com estas línguas. Segundo, pelo facto de já termos
1.423.327 habitantes em Moçambique” e apresenta, as seguin-
notado que existem poucos dicionários de língua Changana,
tes variantes: 1) Xihlanganu, esta variante é falada a sudoeste
embora tenhamos alguns feitos por missionários (com proble-
de Moçambique, nos Montes Libombos, abrangendo parte dos
mas de ortografia e não só) e o dicionário Changana – Portu-
distritos de Namaacha, Moamba e Magude. 2) Xidzonga ou
guês da autoria de Sitoe (1996). Terceiro, pelo facto de termos
Xitsonga que é falada nos distrito de Magude, Bilene e parte
beneficiado de uma bolsa para um estágio em Lexicografia da
de Massingir. 3) Xin’walungu, variante falada no distrito de
língua Changana e termos, nesse âmbito, trabalhado com um
Massingir. 4) Xibila, falada no distrito de Limpopo e parte do
programa de confecção de dicionários, Tshwanelex, o que nos
distrito de Chibuto. 5) Xihlengwe que é falada nos distritos
incita na actividade de produção de dicionários.
de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala, Panda,
Morrumbene, Massinga, Vilanculo e Govuro. De salientar que,
segundo Sitoe (1996), devido a grandes e frequentes movimen- 1.5. Contribuição
tações das populações, torna-se cada vez mais difícil a loca-
lização precisa destas variantes. Para este trabalho tomamos Esperamos que o estudo contribua para o enriquecimento dos
como referência a variante Xidzonga, uma vez que os dados estudos linguísticos, em geral, e, em particular, para as línguas
foram recolhidos num local onde esta variante prevalece. O Bantu, sobretudo o Changana, pois apesar de se ter aprovado
Changana é a 2ª língua Bantu usada com mais frequência em um programa de revalorização das línguas Bantu moçambica-
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nas e de nos últimos tempos aparecerem mais materiais escri- ofones nas línguas Bantu. No ponto que se segue discutimos
tos, as línguas Bantu ainda carecem de estudos e registos. Pen- as posições desses autores. De salientar que ao longo de todo
samos também que um trabalho sobre propostas metodológi- o trabalho apresentamos apenas os tons baixos dos ideofones,
cas de compilação de um dicionário seria uma mais-valia para subentendo-se que onde não teremos os tons baixos estaremos
os que têm trabalhado na área da Lexicografia e por último, na presença de tons altos.
pensamos que o trabalho traz uma grande contribuição para
Segundo Ngunga (2004:195), “o termo ideofone foi introdu-
a Lexicografia da língua Changana, uma vez que se debruça
zido pela primeira vez por Doke (1968) no seu estudo sobre a
sobre metodologia para a compilação de um dicionário de ide-
língua Shona”. Este autor, refere ainda que “Os ideofones são
ofones, se considerarmos que, caso tal projecto se concretize,
definidos como a associação entre um determinado som, cor,
esse dicionário será pioneiro nessa língua.
estado, dor, intensidade, etc., a consequente reacção ou cons-
trução psíquica dos mesmos na cabeça do indivíduo ”.
1.6. Problema Por sua vez, Sitoe (1996: 345) defende que “Semanticamen-
te, os ideofones estão ligados a campos específicos e diver-
Os ideofones têm vindo a ser objecto de muitos estudos por
sos, tais como acções, sons, cores cheiros, posturas, atitudes,
parte de vários estudiosos, podemos citar exemplos de estu-
gestos, etc.” Este estudioso defende ainda que os ideofones
diosos como Doke (1935); Marivate (1981); Nkanbide (1985);
se caracterizam pelo seu alto grau de especificidade. Ngun-
Sitoe (1996); Kimenyi [s.d]; Ngunga (2000 e 2004); Langa (
ga (2004:195) parece-nos comungar da mesma posição, pois
2004); Beck (2005); Matambirofa (2009); Nhampoca (2009)
sustenta que “os ideofones são definidos como a associação
etc.. Contudo, notamos que dentre vários estudos, não existem
entre um determinado som, cor, estado, dor, intensidade, etc. e
os que abordam com profundidade a questão do significado
a consequente reacção ou construção psíquica dos mesmos na
dos ideofones ao nível de um dicionário bilingue, ou seja, alis-
cabeça do indivíduo”.
tar os ideofones da língua Changana e apresentar em Português
e de uma forma sistemática, o(s) seu(s) significado(s) múlti- Embora haja diferenças de abordagens, na definição do
plos, esgotando todas as suas nuances, segundo as normas le- ideofone, pensamos que todas as posições aqui apresentadas
xicográficas de compilação de um dicionário, com a excepção se assemelham e defendem que um ideofone é “o fenómeno
de Sitoe (1996) que apresenta, no seu dicionário (mas geral), através do qual alguns sons da linguagem humana podem, do
ideofones da língua Changana. E, tendo em conta que, seman- ponto de vista semântico combinar a figura mental com os sons
ticamente, “os ideofones estão ligados a campos específicos da fala. (Langa, 2004:59), citando Baumbach (1988) e Sitoe
e diversos, tais como acções, sons, cores cheiros, posturas, (1996). Sendo assim, concordamos com todas, contudo, para
atitudes, gestos, etc.” Sitoe (1996:345), ocorre-nos a seguinte o quadro teórico do nosso trabalho, baser-nos-emos, principa-
questão como problema de investigação: Será possível esgotar lamente, nas perspectivas de Langa (2004), Ngunga (2004) e
as nuances de um ideofone num dicionário bilingue? Sitoe (1996).

1.7. Hipóteses 2.2. Lexicografia


Partindo dos temas que nos propusemos a estudar e decor- Lexicografia é a técnica de redacção e feitura de dicionários.
rente do problema de investigação apresentado, ocorrem-nos (Wikipédia). Já Doke (1935) Considera que Lexicografia é o
as seguintes hipóteses: estudo do vocabulário de uma língua, de acordo com a sua for-
ma e significado e é também o processo ou o ofício de compila-
1. É possível esgotar as nuances de um ideofone num dicio-
ção de dicionários. Hartmann (1995), citado por Sitoe (1991),
nário bilingue.
defende que a lexicografia apresenta uma vertente teórica e
2. Por causa das diferenças culturais entre as duas línguas, outra prática. A Lexicografia como teoria consiste em efectu-
nem sempre será possível esgotar as nuances dos ideofo- ar pesquisas sobre história, análise crítica, tipologia, estrutura,
nes. uso ou finalidade de dicionários. E a Lexicografia como prática
diz respeito ao processo de produção de dicionários.

2. Revisão Bibliográfica
2.1. Sobre ideofones 2.2.1. O Dicionário

Muitos estudiosos têm mostrado interesse em estudar os ide- Segundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa
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(2001), dicionário é um “conjunto de vocábulos de uma língua mesma posição é defendida por Sitoe (1991), citando Malkiel
ou dos termos próprios de uma ciência ou arte, disposto por or- (1967), ao apresentar as mesmas categorias para a caracteriza-
dem alfabética e com a respectiva significação ou a sua versão ção de dicionários.
noutra língua”. Também se pode considerar o dicionário como
um livro contendo palavras de uma língua, dispostas em ordem
alfabética, com os seus respectivos significados. Doke (1935), 2. 2. 4. Problemas de tradução da língua fonte (LF) para
Hartmann e James (1998) definem dicionário como um tipo de a língua alvo (LA)
obra de referência que contém os vocábulos de uma língua com Para Langa (1991), os factores de dificuldade na tradução
os seus respectivos significados. Wikipédia (pt.wikipedia.org/ não são apenas de carácter linguístico, mas haverá, também
wiki/Dicionario) a enciclopédia livre, define dicionário como uma importante intervenção de factores extra-linguísticos. E
sendo uma compilação de palavras ou dos termos próprios, ou nós pensamos que um desses aspectos é o anisomorfismo das
ainda de vocábulos de uma língua, quase sempre dispostos por línguas, como por exemplo a diferenças existentes na organi-
ordem alfabética. Por sua vez, o site Sua Pesquisa, defende zação das línguas naturais, dentre as várias diferenças temos
que “dicionário é um livro que possui a explicação dos signi- como exemplo, neste trabalho, o facto de a LA, não possuir a
ficados das palavras. As palavras são apresentadas em ordem categoria ideofone. Ora, “ sendo a língua um elemento chave
alfabética”. no relacionamento entre homens, onde não há um meio comum
Verificámos que dentre as definições aqui apresentadas, a do que permita a comunicação, a tradução deverá intervir, como
Dicionário Universal da Língua Portuguesa (2001) e a da Wi- instrumento de mediação interlinguística, na transmissão e tro-
kipédia são mais abrangentes, uma vez que incluem o aspecto ca de informações”. (Langa, 1991:08). É pois, a este processo
dicionário de especialidade, por essa razão, na nossa análise, que recorreremos no DICH para transmitir informações sobre
para a definição de dicionários consideramos estas duas pers- ideofones da LF para LA. E para tal é necessário apresentar os
pectivas. diferentes tipos de tradução e eleger a mais adequada ao nosso
tipo de dicionário.
Os dicionários podem ser monolingues (quando se debru-
çam sobre uma língua apenas), bilingues (aqueles que envol-
vem duas línguas, cf. 3.2.2) trilingues (quando envolvem três Tipos de tradução
línguas) ou multilingues (quando envolvem mais de três lín- De acordo com Langa (1991) existe a tradução literal, esta,
guas). muitas vezes, resulta na incompreensibilidade do texto, pelo
facto de incidir na forma, deixando de ter em consideração as-
2.2.2. Dicionário bilingue e seus objectivos pectos de diferenças de organização entre a LF e LA, pois o seu
objectivo é fornecer o equivalente de cada palavra. Existe tam-
“Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou bém a tradução literal adaptada, que é aquela em que o tradutor
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si- deve recorrer a adaptações e nela o texto traduzido conservará
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra tanto quanto possível a forma da LF, privilegiando a intenção
língua (língua alvo) ” Sitoe (1991). Segundo o mesmo autor, do autor e o significado. E por fim temos a tradução baseada no
um dicionário bilingue tem como principal objectivo ajudar significado, esta é considerada a tradução mais comunicativa e
os falantes que entendem uma língua (língua primeira) e não adequada e “consiste em transferir toda a mensagem para lín-
entendem a outra (língua segunda). Importa também, referir gua alvo de modo que a tradução esteja num estilo tão natural
que existem várias categorias de dicionários e uma dessas ca- quanto possível, adequado às estruturas gramaticais da LA”
tegorias é o dicionário temático. O DICH será temático. A este Wiesemann, citado por Langa (1991). Esta tradução permite,
respeito os sites (http://www.portrasdasletras.com.br) e (http:// sempre que necessário, fazer-se um arranjo às frases, palavras
pt.wikipedia.org/wiki/Dicion) avançam que um dicionário te- ou explicações para transmitir o significado da LF para a LA.
mático é aquele que organiza ou reúne vocabulário específico,
de determinada ciência, arte ou actividade técnica. Tendo em conta a natureza e os objectivos do DICH, é ao
último tipo de tradução que recorreremos, pois, os dois pri-
meiros tipos além de serem pouco comunicativos, não nos per-
2.2.3. Sobre caracterização de dicionários mitiriam fornecer os significados dos ideofones do Changana
para o Português porque esta língua nem sequer possui ideofo-
Quanto à caracterização de dicionários, Househoulder e Sa-
nes. Portanto, uma vez que a tradução baseada no significado
porta (1967) postulam que os dicionários podem ser caracteri-
permite fazer-se um arranjo às frases, palavras ou explicações
zados segundo a sua Extensão, Perspectiva e Apresentação. A
para transmitir o significado da LF para a LA, temos mais pos-
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sibilidade de fornecer o significado dos ideofones na LA. Mas, 3. 3. Equivalência


apesar de recorrermos à tradução baseada no significado, esta-
Zgusta (1971) aborda de uma forma profunda a questão da
mos cientes das dificuldades existentes na tradução da LF para
elaboração/compilação de dicionários bilingues e apresenta
a LA, pelas razões já descritas. Basta imaginar que mesmo se
as dificuldades que existem neste domínio. Dentre várias, ele
se tratasse de um dicionário de uma categoria de palavras exis-
defende que a dificuldade fundamental no fornecimento de
tente nas duas línguas, ainda assim teríamos dificuldades, pois
equivalentes num dicionário é causada pelo anisomorfismo
o funcionamento dessa categoria seria naturalmente diferente
das línguas, como por exemplo a diferenças existentes na orga-
nas duas línguas. Tratando-se de um dicionário de ideofones,
nização das línguas naturais. Isto acontece porque, de acordo
haverá mais dificuldades, por essa razão, basear-nos-emos na
com Sitoe (2010), traduzir é pôr uma língua em confronto com
utilização de explicações para fornecer os significados dos ide-
outra, o lexicógrafo, no seu trabalho, irá servir-se do sistema
ofones. (cf. 6. 5. 2).
conceptual designado por língua em articulação com o sistema
conceptual que podemos designar por cultura, o que implica
que o lexicógrafo precisa de associar a maneira de falar de gru-
3. Enquadramento teórico
pos específicos aos respectivos factores culturais para chegar
Neste capítulo apresentamos os conceitos básicos com os ao significado pleno das mensagens veiculadas.
quais iremos trabalhar na análise de dados.
Concordamos com a posição destes autores. Basta conside-
rar que o nosso trabalho envolve duas línguas culturalmente
3.1. A Lexicografia distantes e que os ideofones pertencem a uma categoria que o
Português não possui. Isto lembra-nos que se deve ter em men-
Começando pelo conceito de Lexicografia: Como vimos
te que quando a distância linguística e a cultural entre a LF e
em (2.2), Lexicografia é a técnica de redacção e feitura de di-
a LA é pequena, o lexicógrafo irá encontrar poucos problemas
cionários. Doke (1935) considera que Lexicografia é o estudo
mas se as distâncias são maiores, sobretudo a cultural, mais
do vocabulário de uma língua, de acordo com a sua forma e
dificuldades irá enfrentar. Sitoe (2010).
significado. Lexicografia é também o processo ou o ofício de
compilação de dicionários. Pensamos, pois, que a dificuldade de tradução dos ideofones
não reside apenas na categoria gramatical, pois na tradução os
Hartmann e James (1998) avançam que Lexicografia é a ac-
equivalentes nem sempre têm que coincidir na categoria gra-
tividade profissional e académica que opera com dicionários,
matical por exemplo, verbos na L1 podem ser traduzidos por
havendo duas áreas básicas: a Lexicografia como prática e a
nomes na L2 e vice- versa. O ponto do anisomorfismo mais
Lexicografia como teoria. Na nossa análise enveredaremos pe-
pertinente no nosso trabalho tem mais a ver com componen-
las perspectivas de Doke (1935) e Hartmann e James (1998),
tes sociais e culturais da “semântica” do material a traduzir.
pois achamo-las completas, uma vez que abarcam a Lexicogra-
A dificuldade de tradução será no traço “vivacidade” que os
fia como prática e como teoria.
ideofones emprestam ao discurso. Por isso pensamos que para
além de fornecer explicações dos ideofones em Português, ire-
mos apresentar mecanismos de como traduzir ideofones, ou
3. 2. Dicionário bilingue
seja, como fazer com que um falante que não é de Changana
Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou perceba o que em Changana é expresso por ideofones a par-
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si- tir de exemplos e, às vezes recorrendo a estratégias como por
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra exemplo o uso de glosas, para a inserção de comentários que
língua (língua alvo) Sitoe (1991). reforcem a compreensão dos ideofones. Vejamos, como exem-
Zgusta (1971) refere que o propósito básico de um dicioná- plo, o seguinte verbete:
rio bilingue é coordenar as unidades lexicais de uma língua
com as de uma outra e que essas unidades lexicais devem ter
1.
um significado equivalente. Este autor usa também, a ideia de
língua fonte (aquela em que são extraídas as unidades lexi- -khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (por exemplo a cabe-
cais) e língua alvo (onde são fornecidos os equivalentes das ça de alguém, com um instrumento contundente): Afike akumu
unidades lexicais da língua fonte. A ordem das entradas num khèhlè nhloko hi bewula, Chegou e, pumba, deu-lhe com o ma-
dicionário bilingue é dada pela língua fonte. É na esteira de chado na cabeça!
Sitoe (1991) e Zgusta (1971), que concebemos o conceito de
Neste exemplo usamos o hífen, em vez do prefixo ku-, pois
dicionário bilingue.
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é assim como aparecerão as entradas no DICH. Este exemplo va refere-se à forma como o compilador/lexicógrafo perspecti-
mostra que na impossibilidade de traduzir o ideofone -khèhlè va o seu trabalho e no tipo de abordagem que irá adoptar; se a
para o Português podemos introduzir a interjeição pumba para abordagem é diacrónica ou sincrónica e por fim, se o dicioná-
facilitar a compreensão daquele. rio será organizado por ordem alfabética, por som, por temas,
ou outras formas. Sitoe (1996) defende a mesma posição, ao
avançar que:
3.4. Apresentação, Extensão e Perspectiva
A perspectiva baseia-se no modo como o compilador
Vários estudiosos de Lexicografia defendem que os dicioná-
encara o trabalho e no tipo de abordagem adoptada: se o
rios podem ser caracterizados segundo a sua Extensão, Pers-
trabalho é diacrónico (cobrindo um vasto período) ou se
pectiva e Apresentação, posição com a qual concordamos. A
é sincrónico (confinando-se a um determinado período);
seguir, apresentamos aspectos relacionados com estas catego-
se o material no dicionário será organizado pela ordem
rias de caracterização de dicionários.
alfabética; por temas; por som (como nos dicionários de
rimas); por conceitos, ou ainda segundo outros meios e
3.4.1. Apresentação critérios
Esta categoria refere-se à concretização (em forma de di- Na revisão bibliográfica efectuada, verificámos que as po-
cionário) dos objectivos e princípios pré-estabelecidos pelo(s) sições de Househoulder e Saporta (1967) e Sitoe (1996) são
compilador(es) do dicionário, Sitoe (1991). semelhantes e nós concordamos com elas, daí que na nossa
análise, enveredamos pelas perspectivas destes autores.

3.4.2. Extensão
Segundo Sitoe (1991), a extensão tem a ver com o tamanho e 4. O Dicionário de Ideofones do Changana (DICH)
o âmbito do dicionário: procura saber quantos verbetes o dicio- O dicionário de Ideofones do Changana será um dicionário
nário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico analisado; bilingue, onde iremos alistar os ideofones na língua Changana
quantas línguas foram envolvidas; e o grau de concentração de e apresentar as suas explicações em Português. Neste capítulo
informação nos verbetes. Já Househoulder e Saporta (1967) abordamos questões relacionadas com os objectivos e o desti-
defendem que a categoria Extensão refere-se aos seguintes as- natário do DICH.
pectos: a) densidade/volume/número de entradas, b) número
de línguas envolvidas e c) o grau de concentração de informa- 4. 1. Objectivos do DICH
ção nos dados lexicais. Tratando-se da extensão de um dicioná- O tratamento dos verbetes, em qualquer dicionário é deci-
rio, temos a obrigação de nos referirmos aos elementos chave dido pelo compilador, tendo em conta o grupo alvo por ele
que constituem esta categoria. É o caso de verbetes e vedetas seleccionado Sitoe (1991), facto que faz com que a questão dos
ou entradas. objectivos de um dicionário esteja estritamente ligada à do des-
tinatário do mesmo. O dicionário de que pretendemos avançar
dados para a sua compilação tem os seguintes objectivos:
Verbete e Vedeta
Verbete é toda a informação que se tem sobre a unidade le- 1. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se
xical descrita, (vedeta ou entrada), incluindo a própria unidade exprimam na sua língua usando ideofones;
lexical. Um verbete, de uma forma geral, apresenta os seguintes 2. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se ex-
componentes: entrada ou vedeta, origem, informação gramati- primam em Português, através de enunciados que na sua língua
cal, glosas ou rótulos, equivalentes e/ou definições, material envolveriam ideofones;
ilustrativo, sub-entradas, remissões e referências, Sitoe (1991).
A vedeta ou entrada é que encabeça o verbete. As vedetas são 3. Fornecer aos falantes de Português meios para “compre-
as unidades lexicais ou gramaticais que constituem as entradas enderem” o que em Changana é expresso por ideofones.
do dicionário e são apresentadas, geralmente em bold e regis- 4. 2. Destinatário do DICH
tadas em ordem alfabética.
Os destinatários do Dicionário de Ideofones do Changana
são:
3.4.3. Perspectiva 1. Os falantes da língua Changana que queiram perceber
De acordo com Househoulder e Saporta (1967), a perspecti- melhor o funcionamento dos ideofones na sua língua;
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2. Os falantes do Português que queiram perceber melhor o bom falante de Changana, sentiria que há nesta tradução algo
funcionamento dos ideofones no Changana; em falta, que a ideia que se tem na frase em Changana não é
completamente esgotada na LA.
3. Os estudiosos de línguas Bantu (falantes de qualquer lín-
gua natural), em geral e em particular os estudiosos de
língua Changana.
5. Metodologias
5.1. Metodologia de recolha de dados
4.3. Sua extensão
5.1.1. Pesquisa bibliográfica
Considerando que a extensão tem a ver com o tamanho e o
Para a recolha de dados efectuamos uma pesquisa bibliográ-
âmbito do dicionário, onde se procura saber quantos verbetes
fica, em que tivemos como obra-base o Dicionário Changana
o dicionário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico
– Português, da autoria de Sitoe (1996), donde retiramos todos
analisado; quantas línguas foram envolvidas; e o grau de con-
os ideofones que o dicionário contém. Mas também recorre-
centração de informação nos verbetes, podemos afirmar que
mos a este tipo de pesquisa na fase da revisão bibliográfica e
se pretende que o DICH tenha cerca de mil verbetes (será um
do enquadramento teórico.
pequeno dicionário). E neste trabalho, na amostra em anexo,
apresentamos cerca de noventa (90) verbetes.
Quanto ao grau de cobertura do léxico, concentramo-nos nos 5.1.2. Recolha de contos e histórias de vida
ideofones. O dicionário envolve duas línguas, Changana, (LF) Recolhemos contos changanas junto de falantes de Changa-
e Português, (LA), portanto, é bilingue. E tentamos, na medida na (na província de Gaza, no distrito de Chókwè, localidade de
do possível, apresentar todas as nuances de cada ideofone, ten- Lionde e Chókwè cidade), para extrairmos desses contos, ide-
do em conta os dados recolhidos, isto corresponde ao grau de ofones, uma vez que já notámos que estes textos, na tradição
concentração de informação nos verbetes. changana, são ricos em ideofones. Fizemos também a recolha
de histórias de vida junto de falantes de Changana, no mesmo
espaço geográfico donde extraimos dados (ideofones) para a
4.4. Sua perspectiva
nossa análise. E verificámos que as histórias de vida, também,
Tendo em conta que a perspectiva baseia-se no modo como na tradição changana são ricas em ideofones.
o compilador encara o trabalho e no tipo de abordagem adopta-
Há que frisar que para efectuar a recolha de contos e histó-
da, podemos afirmar que no DICH, para comodidade de apre-
rias de vida, com a ajuda dos informantes, criamos pequenos
sentação e para não sobrecarregar a secção da letra k, vamos
grupos, em que os falantes nativos do Changana apresentaram
representar o prefixo ku- por um hífen e assim os ideofones
contos e histórias de vida e registámo-los num gravador digital
serão alfabeticamente ordenados pela primeira sílaba do seu
para sua posterior transcrição. Para o caso dos contos, não dis-
radical. Os usuários do dicionário serão os falantes da língua
criminamos os informantes em termos etários, portanto, todo
Changana que queiram perceber melhor o funcionamento dos
o falante de Changana, desde que fosse nativo e presente no
ideofones na sua língua; os falantes do Português que traba-
momento da recolha, poderia apresentar o seu conto. Quanto às
lhem com a língua Changana; e queiram perceber o funciona-
histórias de vida seleccionamos informantes com idade igual
mento dos ideofones no Changana; os estudiosos de línguas
ou superior a 30 anos, por acreditar que possuem uma experi-
Bantu (falantes de qualquer língua natural), em geral, e em
ência sólida sobre a língua. Tivemos 9 informantes, dos quais
particular os estudiosos de língua Changana.
quatro (4) homens e cinco (5) mulheres.
No final do nosso trabalho apresentamos uma amostra do
DICH, onde exploramos os múltiplos significados de cada ide-
ofone, caso os tenha, tendo em conta o estabelecido na sua 5.2. Metodologia de análise de dados
extensão e perspectiva. Para o efeito, seleccionamos aqueles Depois de apresentar a teoria em volta da produção de dicio-
que achamos que a sua tradução da língua Changana para a nários, partimos para a análise de dados, com o objectivo de
Portuguesa constitui um desafio, tendo em consideração as apresentar uma proposta para a compilação de um dicionário,
dificuldades que o processo de tradução de uma língua para neste caso concreto, de ideofones em Changana. A metodolo-
outra impõe; por exemplo, como transmitir a ‘sensação’ de gia usada foi de acordo com os objectivos do dicionário que
“Andzhava wuyo ntli, hi mimange”? Diríamos, por exemplo, se pretende compilar e seguimos um modelo adaptado a partir
que o cesto está demasiadamente cheio de mangas, mas um do de Sitoe (1991), com os seguintes passos: 1- alistamento
9
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das unidades lexicais; 2- identificação dos vários significados -n´qwà


dos ideofones; 3- verificação dos sentidos das unidades lexi-
-phàphàphàphà
cais alistadas; 4- selecção, discriminação e hierarquização dos
sentidos; 5 – organização dos verbetes. Aqui importa realçar -tòtòlatòla
que para o passo (2) recorremos à análise componencial que -vìluvìluvìlu
nos auxiliou na análise semântica dos ideofones recolhidos e
isso ajudou-nos a chegar aos passos subsequentes. -zw

6. Uma proposta metodológica para compilação de um 6.2. Identificação e descrição dos significados dos ide-
dicionário de ideofones do Changana ofones

Na fase da análise de dados apresentamos alguns passos Neste ponto, a partir das unidades lexicais alistadas no ponto
metodológicos para a compilação de um dicionário de ideofo- (6.1), procede-se à identificação do (s) significados dos ideofo-
nes do Changana, com base nos aspectos já mencionados em nes ainda na língua Changana, recorrendo aos diferentes con-
(5.2). textos em que foram usados pelos falantes e onde for necessá-
rio com a ajuda da análise componencial, pois entendemos que
sem conhecer melhor os significados dos ideofones na LF não
6.1. Alistamento das unidades lexicais podemos descrevê-los com rigor na LA.

Este passo metodológico diz respeito à inventariação com- Feita a identificação dos significados dos ideofones avança-
putorizada de todas as unidades lexicais e gramaticais contidas se para a sua descrição. Se se tratasse de um dicionário bilin-
no corpus, Sitoe (1991). São estas unidades que, no dicionário, gue geral, iríamos proceder à apresentação das vedetas, na LF
irão encabeçar os verbetes; são as vedetas ou entradas. Neste e dos seus equivalentes, na LA. Mas sendo um dicionário de
ponto do nosso trabalho, alistamos vinte (20) ideofones, ape- ideofones e considerando que os ideofones pertencem a uma
nas para ilustrar como se procede na fase de alistamento de categoria que o Português (LA) não possui, não será possível
unidades lexicais, pois no fim do trabalho (Anexo 1) apresen- fornecer equivalentes imediatos dos ideofones dados em Chan-
tamos uma amostra mais extensa. gana, excepto em casos de alguns ideofones onomatopaicos,
razão que nos fez recorrer ao mecanismo de explicações para
fornecer os significados dos ideofones e ao uso de comentários
-bòhlò nas glosas ou no material ilustrativo. E, com efeito, explicare-
mos assim o significado dos ideofones:
-bùtà
-bva
2.
-chàchàchà
-chàchàchà id. de do ferver de coisas pouco espessas: mu-
-cìnaa
phungu wa n’wana wuri chàchàchà a papa da criança está a
-cwii ferver [com a agitação e ruídos próprios de papas a fervem ao
-fà-fà-fà lume].

-foo -ma id. de apertar : bawude riyo ma o parafuso está bem


apertado; de ficar bem (a roupa): nkhancu wuyomu ma o vesti-
-gedègedè do ficou-lhe a matar [como a uma modelo esbelta].
-gwì -tapsà id. de estar/ser flácido: pinewu la movha liyo tapsa o
-làlàlàlà pneu do carro está flácido [como por exemplo a roda do carro
com a câmara de ar arrebentada ou com pouco ar dentro câma-
-mbii ra ou com pouco ar dentro].
-mpsì A forma id. de é uma forma convencional de apresentar os
-ngeyè significados dos ideofones cf. Nkabinde (1985), Sitoe (1991
e 1996), Ngunga (2004), Miti (2006), Matambirofa (2009),
-ngòyò
Nhampoca (2009), entre outros. E traduz-se em ideofone de...
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ou ideofone com o significado de.... mas também recorrere- verificação dos sentidos junto aos falantes tem por fim assegu-
mos a algumas expressões que irão auxiliar a transmitir um rar a cobertura de todos os sentidos importantes de cada unida-
significado o mais próximo possível do dos ideofones na LA, de lexical. E para o caso do DICH, a verificação dos sentidos
não apenas o significado lexical, “linguístico”, mas também e junto dos falantes nativos ajudar-nos-á a incluir o maior núme-
sobretudo o significado “sensorial”, dinâmico dos ideofones. ro possível dos sentidos dos ideofones que porventura possam
Para isso as glosas e os comentários desempenham um papel ainda ter sido omitidos nos passos anteriores.
crucial.
Para o nosso DICH a verificação será feita junto de falantes
No exercício de identificação dos significados dos ideofones nativos da língua Changana, mas iremos também nos benefi-
em Changana verificamos que são muitas as vezes que consta- ciar da introspecção, uma vez que somos falantes nativos da
tamos que apresentam vários significados. Portanto, neste pro- língua.
cesso ocorre a polissemia, como podemos ver nos exemplos
que se seguem:
6.4. Selecção discriminação e hierarquização dos sen-
3.
tidos
-baà – este ideofone significa ser branco (a cor), mas não
Este passo tem por finalidade estabelecer o número mínimo
só, significa também ser/estar limpo; ser/estar claro, evidente,
de sentidos de uma unidade lexical polissémica. (Sitoe:1991).
visível; estar vazio, portanto, o ideofone kubaà é polissémico,
Estes sentidos devem ser reconhecidos como relevantes e dis-
pois apresenta vários significados.
tintos. Para tal, o compilador deve hierarquizá-los e sequenciá-
Mas também ocorre a homonímia: los.
4. Há vários critérios para a hierarquização dos sentidos num
dicionário, atendendo ao tipo e aos objectivos de cada dicioná-
-mpfi - este ideofone significa pegar de surpresa, mas signi-
rio. Dos vários critérios destacamos os seguintes:
fica também estar demasiado cheio (um local, um recipiente,
etc.). O critério histórico em que os sentidos são sequenciados
em ordem cronológica do seu surgimento. O critério estatísti-
co que considera o grau de frequência, na hierarquização dos
Os exemplos apresentados (3 e 4) mostram que a polisse- sentidos. Para o DICH não recorreremos exclusivamente à um
mia e a homonímia ocorrem no processo de identificação dos destes critérios, tendo em conta o que Sitoe (1991), afirma, nos
significados dos ideofones na LF. Para a identificação dos sig- seguintes termos:
nificados dos ideofones, onde ocorrem esses dois factores, é
Não há um único sistema lógico ou epistemológico
importante considerar o contexto em que o ideofone ocorre e
ao mesmo tempo eficaz e suficientemente detalhado
ter também, um bom conhecimento da língua.
para ser usado de modo inequívoco e exclusivo. Por
vezes será também a experiência, o meio cultural e a
6.3. Verificação dos sentidos das unidades lexicais alis- intuição do compilador que dará o cunho pessoal ao
tadas tratamento das entradas

Depois de se alistarem as unidades lexicais e as suas respecti- Tendo como base a citação acima, para a hierarquização dos
vas explicações ou significados chega-se à fase da verificação. sentidos no DICH, recorreremos aos critérios estatístico e/ou
Esta seguirá os seguintes passos, adaptados de Sitoe (1991): histórico ou ainda à nossa intuição e introspecção. E ainda usa-
remos alguns símbolos que nos auxiliarão na discriminação e
a) Confrontação com dicionários anteriores hierarquização de sentidos (cf. 6.4.1).
Para o DICH temos como base de confrontação o dicionário Passamos a apresentar alguns exemplos que demonstram
Changana – Português, de (Sitoe:1996). Mas os contextos em como é que uma mesma entrada pode ser apresentada de for-
que aparecem os ideofones recolhidos junto dos informantes mas diferentes, em dois dicionários diferentes, dependendo
foram também de grande validade. dos objectivos do seu compilador, no que respeita à hierarqui-
b) Verificação dos sentidos junto dos falantes nativos zação dos sentidos. Trata-se do ideofone -mpfi. Vejamos qual
é o tratamento que se dá a este ideofone em Sitoe (1996) e no
Esta verificação permite que o compilador de um dicionário DICH:
consiga recolher o maior número possível dos sentidos de cada
unidade lexical, como sustenta Sitoe (1991), ao afirmar que a
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5. mais geral ao mais rebuscado e/ou especializado.


No Dicionário Changana – Português Sitoe (1996) No DICH, usar-se-ão os seguintes símbolos: a vírgula (,), o
ponto e vírgula (;), os dois pontos (:) e números (algarismos
-mpfi – id de estar completamente cheio.
árabes).
No DICH
-mpfi¹ id. de estar demasiadamente cheio (como num comí- Vírgula (,)
cio bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajondzi na
escola está completamente cheio de alunos. De acordo com a programação do Tshwanelex, a vírgula se-
para sinónimos. Ou seja, de acordo com Sitoe (1991), “pala-
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugi- vras com identidade comum de significado e que se podem
tivo que é apanhado despercebido): maphoyisa matemu substituir umas pelas outras como equivalentes aceitáveis para
mpfi os polícias pegaram-no de surpresa. a entrada ou vedeta, embora por vezes possa haver contextos
Um outro exemplo: em que uma delas seja mais preferível que as outras”:

6. 7.
No Dicionário Changana – Português (Sitoe:1996) -bàhasàà id. de estarem dispersos, de estarem espalhados...

baà- 1. de ser branco. 2. de ser claramente visível, evidente. -bèbu (<-bebula) id. de erguer (uma criança), de carregar
Mhàka yiyòbaà! O caso é bem evidente. 3. de estar completa- (uma criança)...
mente vazio. Svìtolo svitèbaà! As lojas estão completamente Nos exemplos acima, extraídos de dois verbetes, mostramos
vazias. [cf. -bàsà]. como é que a vírgula é usada para separar sinónimos na expli-
cação dos significados dos ideofones em causa, onde temos,
para o caso do ideofone bàhasàà, o primeiro significado: de
No DICH estarem dispersos e o segundo: de estarem espalhados.
-baa id.de (<-basa) de ser bem branco, branco branqui- Ponto e vírgula (;)
nho (branco como a neve):
O ponto e vírgula será usado para discriminar sentidos dis-
Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa tintos de uma mesma entrada (polissemia):
bem branca, comprei uma
blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o as-
sunto ou o problema): mhaka yiyo 8.

baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como -baa (<-basa) id.de ser bem branco, branco branquinho
em uma noite de luar): handle (branco como a neve):

kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completa- Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
mente vazio: svitolo kuyo baà as bem branca, comprei uma

lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou lim- blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o assunto
pinho ( como a roupa ou o problema): mhaka yiyo

perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo baà a mi- baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como em
nha roupa está bem limpa ou a uma noite de luar): handle

minha roupa está bem limpinha. kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completamente
vazio: svitolo kuyo baà as
6.4.1 Símbolos usados para discriminação de sentidos
lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpi-
A demonstração das várias vertentes relacionadas com a nho ( como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya mina
hierarquização dos sentidos dos ideofones, é feita através de yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a
alguns símbolos, que o próprio programa (Tshwanelex) que
usamos para a elaboração do dicionário de ideofones já tem minha roupa está bem limpinha.
programados. Na apresentação dos sentidos partiremos do
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Algarismos arábes 1) Entrada ou Vedeta; 2) Derivação 3) Equivalentes e/ou Ex-


plicações; 3) Glosas; 4) Material ilustrativo; 5) comentários; 6)
Os Algarismos arábes serão usados para discriminar ideofo-
Remissões e 7) Referências.
nes homónimos:
6.5.1. Entradas ou Vedetas
9.
São os ideofones que constituem as entradas e são apresenta-
-mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como num comício
dos em bold e estarão registados em ordem alfabética. Para os
bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajondzi na escola
casos em que temos dígrafos e trígrafos, bem como diacríticos,
está completamente cheio de alunos.
seguiremos a ordem alfabética da primeira letra que compõe
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugiti- cada um deles, apesar de se reconhecer, de acordo com Sitoe
vo que é apanhado (1991), que constituem um único fonema. Vejamos os exem-
despercebido): maphoyisa matemu mpfi os polícias plos que se seguem:
pegaram-no de surpresa.

11.
Dois pontos (:) -cwee id. de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
Os dois pontos introduzem frases ou sintagmas ilustrativos, mapinewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
ou seja, sempre que se pretender dar um exemplo de ocorrên- pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
cia da unidade lexical que é vedeta, aparecerá, depois desta, o -wàà (<-wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
símbolo dois pontos (:). mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa. [como se fos-
se uma cheia ou como se a água escapasse de uma conduta].

10. -pshàndlà (< -pshandlasa/ka) id de cair no chão e ficar em-


papado (como p.e. uma papaia bem madura que cai no chão):
-hlomè (< -hlomela) id. de espreitar (de uma forma fugaz): payipayi pshandla! a papaia caiu e empapou-se.
Mungoni ali hlome xipachini xa mamani wa yena o Mungoni
espreita fugazmente dentro da carteira de sua mãe. -psirrr id de do tocar do apito (como p.e. para anunciar o
fim de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku
-jàtà (< -jatama) id. de atirar-se abaixo, de saltar de cima psirr hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo terá
para baixo: murhwali wa masaka ate jàtà hi le movheni o car- terminado.
regador de sacos saltou do carro para baixo.
-rhaxà id. de desdobrar (uma esteira, as pernas): holi rhaxà
sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo rhaxà milen-
Como se pode verificar nos exemplos em (49), sempre temos ge sentou-se dedobrando as pernas.
o dois pontos a introduzir o material ilustrativo. Nos exemplos em (50) os ideofones cwee, -wàà, -pshàndlà,
-psirrr e -rhaxà constituem as vedetas ou entradas. A vedeta
juntamente com toda a informação que a acompanha consti-
6.5. Organização dos verbetes tuem um verbete. A seguir o exemplo de um verbete:
Neste ponto mostramos como se apresenta um verbete, pri-
meiro de uma forma geral, e em particular no dicionário de
ideofones no Changana. Um verbete, de uma forma geral, 12.
apresenta os seguintes componentes: entrada ou vedeta, ori- -wàà (< -wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
gem, informação gramatical, glosas ou rótulos, equivalentes mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa [como se fos-
e definições, material ilustrativo, sub-entradas e remissões e se uma cheia ou como se a água escapasse de uma conduta].
referências, Sitoe (1991).
Os elementos enumerados no parágrafo anterior não são
comuns a todos os dicionários, nem a todos os verbetes, mas 6.5.2. Equivalentes e/ou Explicações
existem os que são comuns a todos eles. Isto dependerá muito Este ponto consiste na coordenação dos sentidos na LF com
da natureza do ideofone a ser descrito num determinado verbe- as da LA. Sitoe (1991).
te. Para o DICH teremos os seguintes componentes:
O DICH sendo um dicionário só de ideofones, e uma vez que
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já ficou claro que não é possível obter para todos os ideofones, advirá de exemplos por nós produzidos (como falantes nativos
equivalentes imediatos, sendo isso possível para alguns, sobre- do Changana) e também de extractos de textos recolhidos jun-
tudo aqueles que imitam sons (as onomatopeias...), pelas ra- to de falantes e em algumas vezes traremos alguns exemplos
zões já expostas, chegados a esta fase a nossa tarefa consistirá extraídos de Sitoe (1996).
em apresentar as entradas na LF e fornecer as suas explicações
No DICH todos os exemplos estarão em itálico e serão se-
na LA, recorrendo a estratégias para uma transmissão dinâmi-
guidos pela respectiva tradução em Português e sempre que
ca do sentido dos ideofones.
possível, por um comentário. Quanto ao tipo de material ilus-
trativo apresentaremos apenas sintagmas e frases, como ilus-
tram os exemplos em (14 e 15):
6.5.3. Glosas
As glosas indicam o mais concisamente possível e numa lin-
guagem o mais simples possível as especificidades e as esfe- Sintagmas
ras de aplicação da entrada, Sitoe (1991). No DICH teremos
14.
também glosas que desempenharão efectivamente a função já
descrita por este autor, ou seja, a informação que aparecerá nas -nkatlà id. de estar encaixado (firmemente): Nsimbi nkatla!
glosas do nosso dicionário auxiliará o usuário a perceber me- ferro firmemente encaixado [como por exemplo um parafuso
lhor o significado da unidade lexical descrita, bem como o seu bem apertado].
contexto de uso e/ou a sua área de aplicação. As glosas apa- -rhotlò id. de estar bem fechado à chave (como p.e. uma por-
recerão imediatamente depois da explicação, entre parênteses ta) xipfalu rhotlò a porta está bem fechada à chave.
curvos, como podemos ver nos exemplos que se seguem:

Os exemplos mostram os contextos em que se podem usar os


13. ideofones -nkatlà e -rhotlò inseridos em sintagmas.
-pee (< -pela/ta) id. de mergulhar (o sol e, por exemplo, algo
num líquido)…
Frases
-rhaxà id. de desdobrar (por exemplo, uma esteira, as pernas,
etc.)… 15.
-bìbìbì id. de dar pancadas (como as do coração): Mbilu ya
mina yo bìbìbì! o meu coração dá pancadas fortes! [como o
Em (13) temos dois exemplos de ocorrência de glosas. Na coração de alguém muito amedrontando]…
explicação do significado do ideofone pee temos, entre parên-
teses os sintagmas o sol e algo num líquido que constituem -dà id. de estar a descoberto: Mhaka yiyo dà! O problema
a glosa, dando a entender que, geralmente usa-se o referido está à vista!...
ideofone com o sentido de pôr-do-sol ou quando algo mergu-
lha num líquido. E o ideofone rhaxà apresenta como glosa os
sintagmas uma esteira e as pernas o que significa que o seu Os exemplos em (15) mostram os contextos em que se po-
significado é desdobrar, mas usado geralmente quando se des- dem usar os ideofones -bìbìbì e -dà inseridos em frases.
dobram uma esteira ou as pernas
6.5.4. Material ilustrativo 6.5.5. Comentários
O material ilustrativo refere-se a todos os tipos de exemplos No campo de comentários apresentamos informação que
que um dicionário apresenta e auxilia os usuários na percep- reforça a compreensão do significado dos ideofones, quando
ção da informação contida nos verbetes. Os dicionários podem para além da informação apresentada nas glosas, pretendemos
integrar exemplos vindos do levantamento de textos orais e reforçar a compreensão dos ideofones e para não sobrecarregar
escritos (citações) ou produzidos pelo lexicógrafo para casos o campo da glosa os comentários virão entre parêntesis rectos,
específicos a ilustrar. O material ilustrativo pode ser um sin- logo a seguir ao material ilustrativo, como por exemplo:
tagma, uma frase gramaticalmente completa, uma expressão
idiomática, um desenho ou uma fotografia.
16.
Para o nosso dicionário, grande parte do material ilustrativo
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-nkatlà id. de estar encaixado (firmemente) : Nsimbi nkatlà 18.


ferro firmemente encaixado. [como por exemplo um parafuso
-copè (<-copeta) id. (cf. tsopè).
bem apertado].
-tsopè (<-tsopeta) id. de pestanejar, de piscar os olhos (cf.
No exemplo (16) temos um extracto de um verbete e se ilus-
copè).
tra como se podem apresentar os comentários e nesse exem-
plo temos a expressão [como por exemplo um parafuso bem
apertado], que é um comentário para reforçar a explicação do Usam-se também para coordenar sinónimos ou mais unida-
ideofone -nkatlà. des lexicais que estabelecem relações semânticas entre si, des-
de que a natureza e os objectivos do dicionário o exijam. No
DICH, por causa da existência de vários ideofones sinónimos,
6.5.6. Remissões
destaca-se o cruzamento de referências entre aqueles. Quanto
As remissões aparecem num dicionário para remeter as for- à disposição, os sinónimos que se cruzam aparecem no fim do
mas complexas lexicalizadas, como por exemplo verbos ex- verbete, onde se encontra a abreviatura sn., que significa sinó-
tensos às suas formas canónicas, Sitoe (1991). No DICH os nimo, e por fim o ideofone sinónimo do que constitui a vedeta
ideofones extensos não aparecerão como sub-entradas das suas e sublinhado.
formas canónicas, mas sim serão registados em separado e re-
metidos àquelas. Um exemplo:
Exemplos:
19.
17.
-hojo (<-hojomela) id de cair (para dentro de): mbuti yite
-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, de se
hojo xikheleni o cabrito caiu na cova/buraco sn. -ngolo.
debater (como por exemplo uma pessoa ou um animal amar-
rado ou preso): muyivi lweyi abohiweke ali chukù o ladrão que -psìripsà id de estar sujo (de qualquer coisa pegajosa): vat-
foi amarado agita-se. songwana vayo psiripsa hi madaka as crianças estão sujas de
matope sn. -psìtlì.
-chukùchukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar,
de se debater (repetida e intensivamente): muyivi lweyi abo-
hiweke ali chukùchukù o ladrão que foi amarrado agita-se. 7. Conclusões
[como por exemplo um animal desesperado amarrado ou pre-
so].cf. chukù Chegamos ao fim do nosso trabalho, um estudo com o se-
guinte título: Uma Proposta Metodológica para Compilação
-chukù-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, de um Dicionário de Ideofones no Changana. O trabalho ti-
de se debater (pausadamente, repetida e intensivamente): muyi- nha como objectivo apresentar propostas metodológicas para a
vi lweyi abohiweke ali -chukù-chukù o ladrão que foi amarrado compilação de um dicionário de ideofones no Changana e no
agita-se. [como por exemplo um animal desesperado amarrado fim apresentar uma amostra do futuro dicionário de ideofones
ou preso].cf. -chukù do Changana. Feito o estudo, pensamos que atingimos os nos-
sos objectivos, pois avançamos algumas propostas de tradução
de ideofones do Changana para o Português e apresentamos no
6.5.7. Referências
fim do nosso trabalho, uma amostra do DICH.
No capítulo das referências importa salientar que estas têm
Com o estudo concluímos que:
a função de coordenar variantes lexicais livres, Sitoe (1991).
Essas variantes, em geral, localizam-se na posição final do ver- Não é possível esgotar as nuances de um ideofone em to-
bete, entre parênteses curvos ou rectos e em itálico, precedidas dos os casos, devido ao anisomorfismo entre as duas línguas
da abreviatura cf. de trabalho, mas a experiência mostrou que, embora não seja
possível para todos os ideofones, para os ideofones onomato-
No dicionário esboçado por este trabalho essas variantes lo-
paicos é e, também se pode recorrer a estratégias que auxiliam
calizar-se-ão no fim do verbete com o qual se relacionam, entre
no fornecimento dos significados dos ideofones na LA, como
parêntesis curvos e precedidas da abreviatura cf., como ilustra
é o caso de instrumentos como glosas, comentários e outras
o exemplo que se segue:
expressões. Então, sendo assim, confirma-se a nossa segunda
hipótese que dizia que por causa das diferenças culturais entre
15
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as duas línguas, nem sempre será possível esgotar as nuances Miti, L. (2006). Comparative Bantu Phonology and Morphol-
dos ideofones, mas para alguns isso é possível. ogy. Cape Town: CASAS.
Ngunga, A. (2000). Phonology and Morphology of the Ciyao
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Página de Especialidade

-baà (<-basa) id. de ser bem branco, branco branquinho está presa na armadilha agita-se.
(branco como a neve): Nixave buluza ya kubasa yiku baà
-copè (< copeta) id. de pestenejar, de piscar os olhos (como
comprei uma blusa bem branca, comprei uma blusa branca
p.e. quando temos a sensação de que algo está para penetrar
branquinha; de ser bem evidente (o assunto ou o problema):
nos nossos olhos): atè cope kuve xilavi se xingene tihlweni
mhàka yiyò baà o caso é bem evidente; de estar bem claro
pestenejou enquanto o cisco já havia lhe entrado no olho.
(como em uma noite de luar): handle kuyo baà lá fora está
bem claro; de estar completamente vazio: svìtolo kuyo baà -cwee id.de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
as lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpinho mapenewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
(como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
baà a minha roupa está bem limpa ou a minha roupa está -cwiì id. de chiar, guinchar (como o porco quando vai ser
bem limpinha. degolado): khumba ritè cwii o porco guinchou.o porco deu cá
-bè¹ id. de estar num ponto alto em termos de qualidade uma chiadeira!
ou intensidade (como p. e. a roupa a uma modelo esbelta): -dadanànà id. de estar bem inchado (como p. e. depois de
nkhancu wutèmu bè! o vestido fica-lhe a matar Dicionário levar uma picada de vespa): rhama ra Sara riyo dadanànà a
Changana - Português (Sitoe, 1996:08). bochecha da Sara até parece que vai rebentar de tão inchada.
-bè² id de produzir um som surdo: i nchini xingo bè o que é -dlónyò (<-dlonyoka) id.de olhar com os olhos demasiada-
que está a produzir um som surdo. mente salientes (como quando censuramos alguém com os
-be id de ser bem teimoso, casmuro: wena hambi loko ubze- olhos): se akuni dlònyò e então fuzilou-me com os olhos em
liwa uyala uku bè tu mesmo que te repreendam continuas chispas.
casmurro.. -dlónyo (<-dlonyola) id.de ferir ou picar (no olho): se ukuni
-bì¹ id. de ser bem parecido com alguém: n’wana lweyi ayo- dlónyo hi litiho e meteste-me o dedo olho adentro
mu bì tàtanà wakwe esta criança é a cópia do pai. -dokòdokò id. de cobiçar, desejar fortemente algum alimento
-bì² id. de desaparecer completamente ou por longo tempo apetecível, de ficar com água na boca: n’wana até dokòdokò
(como p. e. quando o sol desaparece no fim do dia): jàmbù loko avone xidonsani quando a criança viu o rebuçado cres-
nyamalalo bì o sol desapareceu completamente; de estar ceu-lhe água na boca.
completamente acabado: ntirho bì o emprego acabou! dwa (<-dwaka) id.de vir à superfície de vez em quando ti-
-bvibvinini id. de estar bem despenteado, desmazelado rando apenas uma parte do corpo (como p. e. o hipopótamo
(cabelo humano): uya xikolweni ni misisi leyo yingayo bvib- ao nadar): mpfuvu leyi yihlambelaka yili dwà o hipopótamo
vinini!? vais à escola com o cabelo assim desmazelado!?; de que está a nadar vem à superfície de vez em quando.
estar desgrenhado (p.e. o pêlo de um animal): hayini voya ra -fàhlàfàhlàfàhlà (<-fahlamela) id. de crepitar, do som dos
mbuti riku bvibvinini? Porque é que o cabrito tem o pêlo des- alimentos a fritar em óleo (como o peixe a fritar em óleo bem
grenhado que nem uma velha escova de dentes? quente): laha gozinyeni leli kotwala kufàhlàfàhlàfàhlà ntse-
-bvò.(< bvonga) id. de espetar com firmeza (p.e. uma injei- na! aqui nesta cozinha não se ouve nada que o crepitar do
ção na nádega): loko dokodela atexi bvò xin’wanana xa mina óleo com algo a fritar.
hi nayethi muzimbha wa mina wutlhele wudzividza quando o -foo¹ (<- foma) id. de arder (como quando se põe limão
médico espetou a agulha nádega adentro ao meu bebé estre- numa ferida aberta, ou os lábios devido ao piripiri: sovorhi
meci toda. leli labava, minomo ya mina yo foo este piripiri pica tanto
-cambùcambù id. de caminhar pelado, como veio ao mundo que até tenho os lábios em chamas.
(o homem): wanuna lweyi ango cambùcambù ndleleni injhe -foo² (<- foma) id. de chiar, de zumbir (como a água prestes
wativa? será que aquele homem que caminha todo pelado a ferver): mati se mali foo a água já está na fase do ferve-
está em juízo perfeito? não-ferve.
-chi id. de ser numeroso e destruitivo: tihomu tite chi -foo³(<- foma) id. de sentir dores causadas por um grande
amasin’wini os bois arrasaram a machamba toda! esforço ou desgosto: tatana andzikwatisile mbilu ya mina yo
-chukù (<-chukuvanya) id. de se mexer, de se agitar, de foo o meu pai ofendeu-me tanto que até o coração me sangra.
se debater (como p.e. uma gazela presa numa armadilha): -gàbà id. de ser largo (como p. e. as orelhas do elefante):
mhunti leyi hi phasiweke lithakene yili chukù a gazela que
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ndlopfu yini tindleve taku gàbà o elefante tem orelhas largas; estava uma pedra!.
de estar/ser descaído (como os lábios ou as orelhas quando
-khwa² id. de estar com muita sede (com a garganta a secar):
são demasiadamente grandes): ani minomo yaku gàbà tem
nkolo wa mina uyo khwa estou com a garganta seca de sede.
lábios demasiadamente grandes
-khwa³ id. de serem iguais como gémeos: lavaya vambirhi
-gabì-gabì id. de beber atirando a água à boca com a mão
vomaha hi ku khwa aqueles dois são tão parecidos como
em concha (como quando se bebe num rio): mufana ali gàbi-
duas gotas de água; de assentar como uma luva: nkhancu
gàbi mati o rapaz bebe água usando a concha da mão.
wuyomu khwa o vestido ficou-lhe a matar!
-gi (<-ginya) id. de agarrar de surpresa: mamana ateyi gi
-khwekè (<-khwekela) id. de estar entalado (p.e. um pedaço
huku a mamã pegou a galinha de surpresa.
de carne entre os dentes): xinyamani xitè khwekè ka matinyo
-gùbù (<-gubuta) id. de sacudir alguma coisa: kokwana alili um pedaçinho de carne entalou-se nos dentes.
gùbù sangu la yena a avó sacode a sua esteira.
-khwipininì id. de ser curto (o vestuário): xikhipa lexi an-
-gwàdzàà id. de ajoelhar-se (rapidamente): nyanga yitè gayambala xo khwipininì a camisete que ele usou e muito
gwàdzàà kusuhi na mina o curandeiro ajoelhou-se perto de curta
mim.
-kòyò id.de estar bem carregado de frutos (diz-se das árvo-
-gwantla (<-gwatlanya) id. de estrondear (como a porta que res): mangi awuyo kòyò a mangueira estava bem carregada
se fecha com força): xipfalu xitèti gwantla hi mhaka ya moya de mangas.
a porta fechou-se com estrondo por causa do vento; de fechar
-mbii id. de jazer sem vida em grande quantidade (como p.e.
violentamente, de bater com a porta (como p.e. no meio de
as galinhas mortas numa capoeira por causa de uma epidemia
uma discussão): asuke na akwatile xipfalu ayoyendla hi kuxi
aviária: tihuku atiyo mbii xihahlwini um mar de galinhas ja-
gwantla saiu zangando que até bateu com a porta.
zia sem vida na capoeira
-halakàhlà id de fazer um ruído (como p. e. o dos ossos divi-
-mbuxù id.de deitar-se e formar uma massa no chão (como
natórios ao espalharem-se no chão: nyanga yitèti halakahla
p. e. o hipopòtamo deitado ou uma pessoa gorda deitada):
ntihlolo o curandeiro lançou os ossos.
homu yiyo mbuxù o boi está deitado todo feito uma monta-
-hàtì-hàtì (<-hatima) id.de brilhar, de faiscar, de relampejar, nha.
de reluzir(como quando relampeja): ko hàtì-hàtì svikomba
-mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como p. e. num
lesvaku kutana mpfula os relâmpagos rasgam os céus; é sinal
comício bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajon-
de que está para chover.
dzi a escola está prenhe de alunos.
-hònihòni (<-honisela) id.de adiar , de fazer delongas, fazer
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugitivo que é
ouvidos de mercador, não ligar conselhos: atè hònihòni vaza
apanhado despercebido): maphoyisa matemu mpfi os polícias
vamutekela hinkwasvu fez delongas até que lhe tiraram tudo.
pegaram-no de surpresa.
-hònòò (<-honoka) id. de estar com os olhos arregalados, de
-mpfù id. de estar aglomerados: timbuti tiyo mpfù xib’aleni
estar com os olhos esbugalhados: nimukume na ayo hònòò
os cabritos estão aglomerados no curral.
encontrei-o com os olhos esbugalhados sn. dlònyò.
-mphaa id. de estar totalmente aberto, de estar escancarado
-karakàrà id. de subir bem rápido (p.e. para uma árvore):
(como p. e. uma porta): vatshike xipfalu xiyo mphaa deixa-
xipixi xitè karakàrà nsinyeni o gato subiu bem rápido para a
ram a porta escancarada.
árvore. [como fazem os gatos e os macacos].
-mphù (<-mphuma) id. de ser estar escuro, de se tornar escu-
-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (p. e. a cabeça de al-
ro: wusiku liyo mphù é noite cerrada.
guém, com um instrumento contundente):afike akumu khèhlè
nhloko hi bewula chegou e pumba, deu-lhe com o machado -mpsom (<-mpsompsa) id. de beijar, de chupar, de sugar
na cabeça. produzindo um ruído: akangatele mati ka voko akuma mp-
som. colheu água na concha da mão e sugou ruidosamente.
-khìtsì id. de estar carregado de nuvens (como p. e. o céu um
pouco antes da chuva):namuntlha kutana mpfula henhla kuyo -mpùlu id.de agitar a cauda (p.e. o cão quando vê o dono):
khìtsì hoje o céu está carregado de, sinal de que vai chover. mbzana yili mpùlu o cão agita a cauda.

-khwa¹ id. de estar seco (p. e. o pão): pawa aliyo khwa o pão -mpùlu-mpùlu id. de agitar rapidamente a cauda (p.e. o cão
quando vê o dono ou quando se lhe dá de comer): mbza-
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na yili mpùlu- mpùlu o cão agita a cauda. rapidamente. cf. pupulava a minha machamba.
Mpùlu.
-pompom - pompó (como p.e. a buzina de um
-nàmù (<-namuka) id. de descolar-se, de desprender-se, de automóvel):movha wute pompom o carro buzinou ou o carro
soltar-se (como p. e. a sola do sapato): xifambu xitè nàmù. o fez pompó.
sapato descolou-se.
-psàmbi (<-psàmbita) id. de deitar apenas um pouquinho:
-nchì (<-nchima) id.de estar bem sujo (a roupa): mpahla leyi mamana ate psàmbi svifurhana paneleni a mama deitou só
uyambaleke yiyo nchì a roupa que usaste está bem suja; (fig.) um pouquichinho de óleo na panela.
de ser demasiadamente escuro: mufana lwiya ani ntima waku
-pshandlà (<-pshandlaka/sa) id. de cair no chão e esbor-
nchì. aquele rapaz é demasiadamente escuro.
rachar-se .(como p.e. uma papaia bem madura): payipayi
-nciì id. de ir-se embora, de dobrar uma esquina (desapare- pshandla! a papaia caiu e esborrachou-se.
cendo numa esquina ou numa curva): vajondzi vatè nciì os
-psirrr id.do tocar do apito ( como p.e. para anunciar o fim
estudantes dobraram a esquina.
de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku psirrr
-ncikì id.de estar suspenso (como alguém que se suicidou hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo terá ter-
por meio de uma corda): vamukume na ayo ncikì encontra- minado.
ram-no suspenso na ponta da corda; de oscilar (como o pên-
-psiyò (<-psiyota) id. de chamar por meio de um assobio:
dulo): xikalo lexi xihayekiweke nsinyeni xili ncikì a balança
mufana avitane nthombhi ya yena aku psiyò o rapaz assobiou
que está pendurada na árvore oscila
para a sua namorada.
-ndangù id. de estar bem cheio (um recipiente, como p. e.
-psuù (<-pshuka) id. de ser vermelho, de tornar-se vermelho
um saco bem cheio): saka riyo ndangù hi mpunga o saco está
(como quando acende o sinal vermelho no semáforo ou como
compleatamente cheio de arroz; (fig.) de estar com o estôma-
o pôr do sol): nkama lowu jambú ringo psuù quando o sol já
go bem cheio (como se fosse um balão cheio):khwiri ndangù
se ia pôr!
hi tifijawu! Comeu tanto feijão que tem a barriga que nem
um balão cheio. -rhaxà id. de desdobrar/estender (uma esteira, as pernas):
holi rhaxà sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo
-ngòyò id. de ser/estar claro, evidente, de ser/estar evidente:
rhaxà milenge sentou-se de pernas estendidas.
mhaka yiyo ngòyò o problema está claro/evidente.
-sudù id. de estar caído ou deitado (de bebedeira, doença ou
-ngòyò² id de estar saliente (p.e. as costelas numa pessoa
dor profunda): tatana wa wena ayo sudù hi kudakwa o teu
magra).: hi kulala, timbambu ngòy. de tão magro até se po-
pai está caido de bebedeira.
dem ver as costelas.
-svesvesve id. do soprar bem leve (como p. e. a brisa entran-
-ngòyò³ id. de estar bem carregado de frutos (diz-se das ár-
do pelas frestas): laha svimoyana svili svesvesve aqui bate
vores): mangi awuyo ngòyò a mangueira estava bem carrega-
uma brisinha bem leve.
da de mangas. sn. kòyò.
-tàma-tàma (<-tamata) id. de andar de vagar (como faz uma
-nhabzà id de saltar, de pular (como faz o sapo): khutla lite
criancinha quando aprende a andar ou um convalescente): ali
nhabzà lipela matini o sapo pulou para a água.
tàma-tàma ingi ova xin’wanani anda devagarinho como se
-ntli¹ id. de sufocar (p. e. apertando a garganta): aatèmu ntlì fosse uma criancinha.
hi minkolo estava a sufocar-lhe pelo pescoço.
-tèkiyàni (<-teka) id. de de levar bruscamente, de pegar
-ntli² id. de estar bem cheio (um lugar ou um recipiente): bruscamente: atèli tèkiyàni bukù ahuma pegou o livro com
ndzhava wuyo ntli hi mimangi o cesto está bem cheio de brusquidão e saíu.
mangas.
Triririm - triririm (como por exemplo o toque do telefone)
-pfoò id de fugir: mudlayi aali kola loko avone maphoyisa fone la wena lili triririm o teu telefone está a tocar.
ate pfoò o assassino estava aqui quando viu os polícias fugiu;
-vàyí-putsù-vàyí-putsù id. de apagar e acender (como faz
de desconversar ou não atinar com o assunto em discussão.:
um pirilampo).: magezi mali vàyì-putsù-vàyì-putsù kufana
mamutwa aku pfoò! oiçam-no fugiu do assunto!
ni xitimandzilwana. as luzes acendem e apagam como faz o
-pi id.de estar em grande número e invandir (em algum lu- pirilampo.
gar): tihomu tiyo pi, masin’wini ya mina uma manada de bois
-vàyìvàyì (<-vayitela) id. de cintilar, reluzir, resplandecer
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Página de Especialidade

(como o brilho das estrelas em uma noite de céu limpo): se


tinyeleti ato vàyìvàyì e as estrelas cintilavam.
-vhìvhàà id. de anoitecer, escurecer.: afike na se lo vhìvhàà.
chegou no princípio da noite.
-wàà (< -wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa
(como se fosse uma cheia): mati moyendla hiku wàà a água
cai em catadupa.
-woò id. de qualquer coisa que se movimenta impetuosa-
mente e em massa (para ir dar a).: tihomu titè combeni woò. e
os bois saíram a correr e foram dar ao rio num grande tropel.
-xawù (<-xawula) id. de saborear um alimento apeititoso
com sabor um tanto forte e picante (como p. e. saborear um
bife bem gostoso com piripiri).
-xwàà id. de aparecer de repente ( como p. e. um grupo de
soldados que vão atacar): vamahehiku xwàà. apareceram de
repente.
-ya (<-yamasa) id. de esbofetear ou dar uma bofetada na
bochecha de alguém.: atèmu ya nsati wa yena. esbofeteou a
esposa.
-zweè id. de estar bem calado: n’wana aatè zweè. a crian-
ça estava bem calada; de estar em silêncio (alguém ou
algum lugar): kuyo zweè!. está tudo em silêncio!; de andar
desaparecido(como p. e. os que se exilam na África do Sul):
angatwali, ayo zweè. não dá notícias.
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Algumas semelhanças lexicais e


fonético-fonológicas entre Elomwé e Emakhuwa
Por Carlos Mucamisa
c.mucamisa@gmail.com

1.Introduçao usada para as comunicações externas ou internacionais; era a


única língua que poderia funcionar imediatamente em todos
O presente estudo tem como objectivo identificar algumas os domínios de uso oficial e era a única com disponibilidade
semelhanças lexicais e fonético-fonológicas entre as línguas prática e imediata, com uma tradição de escrita e com uma
Elomwe e Emakhuwa, faladas nas províncias da Zambézia e elite para desempenhar as funções letradas na administração,
Nampula, Cabo Delgado e Niassa respectivamente. A execução ciência e educação.”
deste estudo compreendeu três fases: Consulta bibliográfica;
trabalho de campo (entrevistas e preenchimento de fichas Esta decisão de se optar pela língua portuguesa como factor
de levantamento do vocabulário básico. A lista de palavras de unidade nacional e de combate contra o tribalismo e o
que constitui a base do vocabulário básico foi elaborada pelo regionalismo, data de 1962, quando da fundação da FRELIMO.
NELIMO e comporta 220 palavras entre nomes, pronomes, No entanto, Hyltenstam e Stroud (1997:45) defendem que
verbos, adjectivos, advérbios e numerais) e análise de dados. “se uma sociedade é inerentemente multilingue, o pluralismo
linguístico é um pré-requisito para um desenvolvimento
E porque o nosso trabalho é de carácter comparativo, isto harmonioso” e avançam mais afirmando que “sem o qual se
pelo facto de se tratar de duas linguas da mesma família bantu, condenaria à exclusão social, cultural, económica, uma grande
seleccionámos o Método Comparativo apoiado pelo Método camada da sociedade, exclusão que se poderia transformar num
Lexicostátistico que mais adiante iremos descrever. potencial foco de convulsões sociais, além de que seria negar
a sua tradição, a sua história, a sua cultura”, opinião também
defendida por Ngunga (2000).
1.1. Sobre a Política Linguística em Moçambique
Por isso, o argumento segundo o qual promover as línguas
Moçambique, à semelhança de muitos países africanos, é um
nacionais, ao invés do Português, defendido na altura,
país multilingue e multicultural, onde, quer por razões sócio-
fomentaria simultaneamente a divisão, o tribalismo, o
históricas e políticas, quer económicas, culturais e religiosas,
regionalismo não deveria ser tomado a sério, pois a unidade
as línguas bantu coexistem, para além da língua portuguesa,
linguística não implica necessariamente unidade nacional, nem
língua oficial, com línguas de origem europeia e asiática
a diversidade linguística resulta inevitavelmente em divisão.
(Firmino: 2000).
Mormente, como forma de corrigir o erro cometido aquando
A Constituição da República de Moçambique, no seu artigo
da tomada da decisão de se considerar o Português como língua
quinto, ponto um, define a política linguística nos seguintes
de unidade nacional, ao invés do fomento das línguas nacionais,
termos: “(i) Na República de Moçambique, a língua portuguesa
o Governo de Moçambique, no âmbito da transformação
é uma língua oficial, (ii) o estado valoriza as línguas nacionais
curricular do ensino básico, decidiu introduzir algumas línguas
e promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como
moçambicanas no ensino, tendo em conta três modalidades: (i)
línguas veiculares e na educação dos cidadãos.” (Lopes:1999),
como meio de ensino; (ii) como recurso e (iii) como disciplinas
por seu turno o artigo nono da mesma constituição, preconiza
curriculares (INDE: 2006).
a valorização das línguas moçambicanas como património
cultural e identitário dos cidadãos.
Hyltenstam e Stroud (1997:27), citados por Rego (2000), 1.2. Sobre as Línguas em Moçambique
destacam os seguintes argumentos como tendo sido os que mais O papel mais ou menos visível que as línguas hoje
pesaram, na altura, a favor da escolha da língua portuguesa desempenham em Moçambique não deixa de ser reflexo do
como língua oficial: “era a única língua de comunicação seu passado histórico, embora algo esteja sendo feito em prol
mais alargada dentro de Moçambique e era também a língua da valorização das línguas nacionais de origem bantu.

1
Dados extraídos da Tese de Mestrado em Linguística, apresentada em Dezembro de 2009
21
Página de Especialidade

De uma situação em que pouca ou nenhuma importância se processo sistemático de comparação de uma vasta gama de
deu às realidades etnolinguísticas na fundação e posteriormente línguas, isto é, investigar factos e explicá-los de acordo com as
na condução dos destinos do país, hoje pouco ou nada mudou, suas semelhanças e diferenças.
porque verifica-se que o peso que se tem dado às línguas
É a partir deste quadro que Hock (1991) considera o método
nacionais na vida política, económica e social do país continua
comparativo como instrumento que facilita a reconstituição das
insignificante. Moçambique optou por uma solução mais
línguas para se chegar à sua possível realidade pré-histórica,
cómoda, que é a solução de continuidade, ou seja, tomar
assim como estabelecer a relação genealógica da língua.
como língua oficial a língua portuguesa (Rego: 2000), que,
obviamente, estava solidamente enraizada na educação, na Guamba (2002) aponta que o método comparativo é usado
administração e na vida corrente do país, permitindo que no âmbito da constituição de alguns aspectos da proto-língua,
continuasse (a LP) com um papel bastante saliente no panorama e é igualmente usado na determinação do relacionamento entre
linguístico multilingue que é Moçambique. línguas da mesma família a partir de formas cognatas.
Como se sabe, as línguas bantu, em Moçambique, são línguas Crowley (1992) citado por Guamba (op.cit) refere que à
maternas para a maioria das crianças e servem de base para a semelhança do método comparativo, o método lexicoestatístico
sua primeira socialização. Elas são de uso familiar, intra-étnica, é uma técnica que nos permite determinar o grau de semelhança
local ou regional, isto é, são usadas em situações informais. entre duas ou mais línguas através da comparação do respectivo
Os dados obtidos no Recenseamento Geral da População léxico seleccionado do vocabulário básico.
e Habitação de 1997 confirmam que, tal como já tinha sido
Como podemos observar, este método é crucial para o nosso
indicado pelo Recenseamento Geral de 1980, as línguas bantu
estudo na medida em que nos permitirá, a partir da comparação
são faladas por cerca de 93.0% da população moçambicana
do vocabulário das duas línguas em estudo, da lista de frases e
(Firmino: 2000), contrariamente à língua portuguesa, tida
o inquérito sociolinguístico determinar o nível das diferenças
como oficial e de ensino, estimada em 6.0%.
e/ou similaridades entre elas.
Cientificamente, está provado que as línguas maternas
desempenham um papel fundamental no processo de Ensino-
Aprendizagem na medida em que as crianças aprendem melhor 3. Sobre o Método lexicoestatístico
quando a alfabetização inicial é feita na sua língua materna O Método Lexicoestatístico tem como objectivo primário
(INDE: 2006), o que, não acontecendo implica condenar à classificar Dialectos, Línguas, Família de Línguas em árvores
exclusão social, cultural, económica, uma grande camada genealógicas.
da sociedade ou negar a sua tradição, a sua história e a sua
cultura. Segundo Simon (1990), “o método lexicoestatístico provém
do termo Estatística e envolve probabilidades, ou seja,
estimativas”.
2. Sobre o Método Comparativo E Carroll (1973) afirma que o cômputo de frequência é a
Segundo Carroll (1973), a Linguística Comparativa considera- base de abordagem deste método, pois consiste na selecção de
se como possuindo uma metodologia rigorosa. Tal método é um número considerável do léxico de duas ou mais Variedades
o comparativo, que se ocupa em mostrar a evolução histórica relacionadas e, numa perspectiva comparativa, apuram-se
das Variedades e, em alguns casos, em mostrar as origens as semelhanças ou diferenças aos níveis lexical, fonético,
fonéticas comuns de grupos de Variedades. Isto significa que o fonológico e morfológico. O léxico seleccionado deve
método comparativo pode ser usado para comparar Variedades corresponder ao vocabulário básico. Para tal, devem-se definir
numa determinada época, para separá-las ou agrupá-las parâmetros como por exemplo, morfologia, semântica, etc. A
(estudo sincrónico) assim como para comparar Variedades ao leitura é feita a partir da percentagem associada a cada nível
longo do tempo (estudo diacrónico). Este método foi usado em estudo, tendo em conta o parâmetro estabelecido.
por Guthrie (1948) na classificação das línguas bantu. Esta Por seu turno Gudschinsky (1964) aponta que o Método
classificação consistiu no estabelecimento do bantu Comum e lexicoestatístico (ML) é uma técnica de análise que permite
no estabelecimento do Proto-Bantu. Um outro investigador a calcular o momento histórico em que ocorreu a separação
usar este método foi Gleanson (1972). de duas ou mais línguas. Este aponta ainda que este método
De acordo com ele, os passos a seguir para este tipo de permite ao investigador decidir a ordem cronológica de
trabalho são: (i) estabelecimento do Vocabulário Básico diferenciação linguística.
(terminologias ligadas à cultura); (ii) estabelecimento de pares Como podemos ver, à semelhança dos outros acima
cognatos (semelhantes na forma fonológica e com o mesmo mencionados, este método é também indispensável para uma
sentido) e exclusão de empréstimos. melhor elaboração e percepção do presente trabalho.
Crystal (1987) aponta que o método comparativo é o
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4. Sobre as Línguas Bantu divide-se em vários grupos de línguas estabelecidos conforme


critérios de proximidade linguístico e geográfico reflectindo
A preocupação pelo estudo das línguas vem de muito longe.
um certo grau de aproximação genealógica.
Contudo, destaca-se o século XIX como sendo o século do
nascimento de uma nova ciência, a da linguagem, na área das
ciências socias e humanas. Este seria o ponto de partida para 5. Sobre as línguas bantu moçambicanas
o surgimento da linguística, sobretudo a linguística moderna,
ciência que viria a consolidar-se com a publicação póstuma do Moçambique apresenta uma situação linguística bastante
trabalho de Ferdinand Saussure em 1916 “Cours de Linguistique complicada, facto que tem sido tomado como uma das grandes
Générale”. A linguística Comparativa foi a primeira forma preocupações dos analistas linguísticos nacionais. Para estes,
adoptada pela linguística moderna, esta “surge nos primórdios o grande problema que se levanta está relacionado com a
do romantismo europeu e participa no movimento histórico determinação do número exacto das línguas existentes no país.
do século XIX” (Manessy-Guitton, 1976:33) e faz o estudo É neste âmbito que têm surgido várias propostas com vista a
comparado das línguas aplicando alguns métodos como o uma categorização das línguas faladas em Moçambique.
Tipológico e o Genealógico. Guthrie (1967-71) na sua abordagem sobre a classificação
O método tipológico baseia-se em traços gerais, na análise da das línguas moçambicanas aponta que as línguas bantu de
estrutura das línguas. Este método, segundo Berten (1976:347) Moçambique distribuem-se por quatro zonas diferentes,
“não implica nem parentesco genético nem aproximação identificadas por letras maiúsculas, e são dispostas em
geográfica das línguas, mas também não os exclui.” A diferentes grupos, num total de oito a saber:
tipologia constitui um precioso instrumento de pesquisa no Zona G-G40: Swahili; Zona P-P20: Yao, e P30: Makhuwa-
estudo da história das línguas. O método tipológico é usual Lomwe; Zona N-N30: Nyanja, e N40: Nsenga-Sena; Zona
em Linguística Comparativa, embora o termo comparação S-S10: Shona, S50: Tsonga, e S60:Copi.
se reserve geralmente à investigação visando reconhecer
no mundo determinado número de famílias de línguas Á prior, com esta classificação de Gurtrie (op.cit) colocam-
consideradas aparentadas (Manessy-Guitton 1976). Por seu se algumas dúvidas como, por exemplo, o facto de o autor
turno, o método genealógico apoia-se em diferentes modelos não ter previsto na sua classificação a existência de mais de
que reflectem o processo histórico de fragmentação de uma nove línguas em cada um dos grupos linguísticos, bem como
proto-língua ancestral em línguas delas derivadas. Esses o facto de línguas do mesmo grupo linguístico não poderem
modelos são construídos com base em determinadas unidades ser mutuamente inteligíveis, por exemplo as línguas do grupo
classificatórias. P.20; exceptuando o grupo S50 (Changana, Ronga e Tshwa)
cuja classificação é considerada menos controversa dada a
Na classificação das línguas Bantu destaca-se o nome de existência de um maior grau de mútua inteligibilidade entre os
Bleeck (1951) como sendo o primeiro a usar o termo ‘Bantu’ seus falantes (Ngunga 2004).
para designar o grupo de línguas faladas na região Sul de
Africa, assim afirma Werner (1919). Depois de Bleeck (1862), Firmino (1995) na sua análise sobre esta classificação
nomes como os de Guthrie e Doke, segundo Miti (2006), deram aponta que a tipologia apresentada por Guthrie (1967-71)
uma grande contribuição para classificação das línguas Bantu. exclui algumas línguas bantu que hoje são também faladas em
Entretanto Guthrie (1967-1971) afirma que foi Meinhof (1895) Moçambique como é o caso de Kimwani, Shimakonde, Nsenga,
que sugeriu, pela primeira vez, a possibilidade de aplicação às Ngoni, Tonga, Zezure, Cimanyika, Karanga, Marendje, entre
línguas africanas dos métodos gerais que tinham sido aplicados outras.
ao estudo das línguas indo-europeias. Por outro lado Greenberg Marinis (1981), citado por Ngunga (1991), defende que em
(1955) realizou um estudo propondo uma classificação das Moçambique existem oito línguas das quais quatro maioritárias
línguas africanas com base no reconhecimento do senso e igual número de minoritárias. Tais línguas são: Makhuwa,
comum de que certas semelhanças entre línguas só podem ser Ronga, Nyanja-Sena e Shona (maioritárias); Makonde, Yao,
explicadas com base nas hipóteses de relação genética. É deste Copi, e Tonga (minoritárias).
modo que, em 1963, Greenberg apresenta uma classificação
que agrupa as línguas africanas em 4 grandes famílias (Afro- De acordo com Ngunga (op.cit) diversos autores que
asiática, Nilo-sahariana, Congo-Kordofaniana e Koisan). procuraram analisar a situação linguística em Moçambique não
apresentaram os critérios que pudessem determinar o carácter
Por seu turno, Doke (1945), de acordo com Cole (1961), maioritário ou minoritário de uma língua.
propôs uma classificação das línguas Bantu baseada em quatro
elementos (Zonas, Grupos, Língua ou conjunto de Dialectos e Katupha (1985), tomando em consideração os estudos
Dialectos). apresentados por Guthrie (1967/71) reconhece a existência de
oito grupos, embora nos seus estudos aponte para a existência
Guthrie (1967) classifica as línguas Bantu em 15 zonas de quatro línguas que considera maioritárias nomeadamente:
codificadas por letras maiúsculas. Internamente, cada zona Makhuwa, Shi-tsonga, Chi-nyanja e Chi-shona.
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Podemos verificar com base nas descrições acima, que o de Pebane. Destas 8 variantes, só na província de Nampula,
número das línguas moçambicanas é apresentado de forma são faladas 5, daí considerar-se a província em que não existe
divergente. Enquanto, por exemplo, Marinis (op.cit) considera outro grupo étnico (originário) que fale uma língua diferente
o Ronga como língua maioritária, Katupha (op.cit), considera salvo o Ekoti que, por ora, não se tem a certeza se é variante
o Shi-tsonga que à partida não é sinónimo do Ronga como de Macua ou é língua autónoma. Este facto está o aliado à sua
sendo língua maioritária. situação geográfica central no âmbito das outras províncias em
que também se fala o Macua e, por outro lado, à reconhecida
Como podemos notar com base nas abordagens acima
inteligibilidade mútua entre os falantes das diversas variantes,
apresentadas, a questão da situação linguística em Moçambique
o que leva a que se tome a variante falada em Nampula como
apresenta-se ainda bastante controversa e mesmo relativamente
sendo a de referência para efeitos de padronização da escrita
às listas até aqui apresentadas, alguns estudiosos do panorama
(cf. Afido et al 1989).
linguístico nacional, por exemplo, Liphola (1988) discorda
da existência quer de oito línguas, quer de quatro línguas Alberto (1961), baseando-se nos diferentes modos de
maioritárias. falar, considerou, no final dos anos 50, que a área linguística
macua dividia-se em cinco subgrupos a saber: (i) subgrupo
Entretanto, Ngunga (1991), de forma cautelosa, diverge da
macua do litoral, de Moma a Memba; (ii) subgrupo macua de
posição dos autores que apresentam listas contendo o número
macuana, nos actuais distritos de Nampula, Meconta, Imala,
das línguas moçambicanas. Este, na sua forma de abordar
Erati, Mogovolas, Mossuril, Memba, Nacala e Mogincual;
esta problemática, não avança o número exacto das línguas
(iii) subgrupo macua metto, em Montepuez, Eráti, Mecufi,
existentes no país, limitando-se a fornecer uma lista longa
Mocímboa da Praia e Quissanga ( aqui o autor inclui os
susceptível de constituir uma base de partida para a resolução
chirimas de Ribaué e Malema); (iv) subgrupo macua do Niassa,
do problema.
localizado nos distritos de Lichinga, Cuamba, Maúa, Marrupa,
Ribaué e Malema; (v) subgrupo macua-lomué, no Alto-
Molocué, Gurué, Ile, Lugela, Milange, Mocuba, Namacurra,
6. Sobre as línguas objecto de estudo
Namarrói, Ribaué e Murrupula.
6.1. Emakhuwa
A variedade (P30, Guthrie 1967:71; 52/5/1, Doke 1945)
6.2. Elomwé
é falada no Centro e Norte de Moçambique assim como em
algumas regiões da Tanzânia, Malawi e ainda em pequenas Elomwé é a língua falada maioritariamente na zona norte
comunidades em Madagáscar e Ilhas Comores, abrangendo da província da Zambézia e considera-se a variante falada
mais ou menos 8 milhões de falantes (Kisseberth 2004:547). em Alto Molocué como sendo a de referência (cf. Gardner
Em Moçambique, de acordo com o Censo populacional (1997), 1997). Para além dos distritos do norte da Zambézia (Gurué,
a variedade Emakhuwa é falada por cerca de 3.291.916 pessoas Gilé, Alto Molocué e Ile), é falado também na província de
constituindo 27,8% da população. Emakhuwa tem 8 variantes, Nampula, sobretudo parte dos distritos de Malema, Ribawé,
incluindo o Elomwé, assim distribuídas: Murrupula e Moma (Sitoe e Ngunga 2000:67) e abrange uma
população estimada em 1.3 milhões de falantes. Como atrás
Nampula- Emakhuwa, falada na cidade capital e seus
vimos, Alberto (1961) alarga as zonas onde esta língua é falada,
arredores como Mecuburi, Muecate, Meconta, parte de
na província da Zambézia. Na classificação de Doke (1945),
Murrupula, Mogovolas, parte de Ribáwe e Lalaua; Enahara,
o Elomwé pertence à Zona Oriental cujo código é 50; Grupo
falada nos distritos de Mossuril, Ilha de Moçambique, Nacala-
Este - Central 52 (grupo makhuwa); código 5 e ao subgrupo de
Porto, Nacala-a-Velha e parte de Memba; Essaka, nos ditritos
dialectos de Makhuwa, onde recebe o código 1b. Ilustrando,
de Eráti, Nacarôa e parte de Memba; Esangagi, parte de
teremos:
Angoche; Emarevoni, parte de Moma e Mogingual e Elomwé,
nos distritos de Malema, parte de Ribáwe parte de Murrupula Grupo Línguas / Conjunto Dialectos
e de Moma. de línguas
Cabo Delgado- Emetto falado nos distritos de Montepuez,
Balama, Namuno, Pemba, Ancuabe, Quissanga, parte dos 52/ 5 1: Makhuwa 52/ 5/ 1b
distritos de Meluco, Macomia e Mocímboa da Praia; Essaka, Lomwé
nos distritos de Chiúre e Mecúfi. Enquanto Guthrie (1967-71) faz a seguinte classificação:
Niassa- Echirima falado em Metarica e Cuamba; Emakhuwa Zona P:
falado em Mecanhelas, Cuamba, Maúa, Nipepe e Metarica;
Emetto em Marupa e Maúa. P. 30: Grupo Makhuwa- Lomwé: P. 32: Lomwé
Zambézia- Emakhuwa falado em Pebane; Elomwe em
Gurué, Gilé, Alto Molócue e Ile; Emarevoni falado numa parte
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Como podemos ver, para Doke (1945) Elomwé “é Tabela 1.


dialecto de Emakhuwa”, mas para Guthrie (1967-71) é uma
língua que eventualmente pode ter os seus dialectos como, Palavras cognatas %
por exemplo, demonstra Ngunga (2004:46) “Emarevoni,
Manyawa e Etakwani”. Neste pequeno grupo de variantes Elomwé e Emakhuwa 42,5
de Elomwé, podemos acrescentar ainda algumas faladas fora
de Moçambique, mais concretamente no Malawi, que são
“Emihavani, Emunyamwelo e Ekokholani” (Kisseberth in A tabela acima ilustra, em termos percentuais, as palavras
Nurse 2000:546). cognatas entre a língua Elomwé e a língua Emakhuwa.
Tendo em conta a divergência de posições aqui ilustrada, fruto Porém, Mocuba (2000) citando Simon (1990: 3.3.1-3.3.2)
de estudos levados a cabo por vários autores podemos concluir e Gudschinky (1994:619-621) refere que não é tão correcto
que a situação linguística de Moçambique carece ainda de sermos muito objectivos e categóricos nas percentagens de
algum tratamento e, em nosso entender, a falta de clarificação dados linguísticos. Estes autores aconselham que os valores
dos conceitos de grupos linguísticos, língua e dialecto, contribui calculados sejam apresentados em forma de intervalos. Desta
para a prevalência de situações deste género. feita, para o cálculo da margem de erro, usa-se a fórmula do
Para o presente estudo, nós vamos adoptar, quanto à desvio padrão, abaixo representada:
definição de língua, uma perspectiva puramente linguística,
isto é, consideramos língua como um conjunto de elementos c(1 − c)
estruturais usados para a comunicação numa dada comunidade δ =
e que tenha a mesma designação para tais falantes.
nt
Interpretando a fórmula apresentada temos:

7. Análise de dados  C = P ou PSL = valor gravitacional (valor à volta


7.1. Itens lexicais do qual se centram todos os valores possíveis dentro do
intervalo);
Parafraseando Canonici (1991), duas ou mais palavras são
lexicalmente semelhantes quando são cognatas, isto é, iguais  nt= número total de palavras comparadas.
na forma (mesma configuração e mesmo significado).
Com efeito, depois de compilarmos os nossos dados O valor do intervalo é obtido a partir da seguinte fórmula:
verificámos que ocorrem palavras, tanto no Elomwé quanto no
Emakhuwa, que têm a mesma forma e o mesmo significado, P= P±δ ⇒ ] P- δ ; P+ δ [
algumas destas palavras são: Mais ainda, para garantirmos a fiabilidade dos resultados,
(1). Simon (1990) e Gudschinky (1964) afirmam que devemos
calcular a margem de erro tendo em conta três níveis de
Elomwé Emakhuwa Significado fiabilidade (68%, 90% e 50%). Estes valores são fixos. A
muthiyana muthiyana ‘mulher’ margem de erro no nível de fiabilidade de 68% corresponde
ao desvio padrão. Quanto ao nosso trabalho, calculamos a
mwarusi mwarusi ‘rapariga’
margem de erro, tomando o nível de 90%, tendo se mostrado
mulopwana mulopwana ‘homem’ um nível de erro relativamente menor. A fórmula para calcular
mmiravo mmiravo ‘rapaz’ a margem de erro é:
mwaana mwaana ‘criança’ Mer (X&Y) nf (68%, 90% ou50%) = δ×k
Interpretando a fórmula acima temos:
As palavras acima representadas são cognatas, pois são iguais
na forma e no sentido. O outro aspecto não menos importante é  X= língua A
a pertença à mesma classe nominal (cl 1/2).  Y= língua B
Deste modo, depois de realizarmos a contagem de palavras  Nf= nível de fiabilidade
cognatas, constatámos que o Elomwé e o Emakhuwa
apresentam um número reduzido de semelhanças lexicais.  K (contante) = 1,645
Assim, entre estas duas variedades linguísticas, das 221
palavras comparadas, 94 são cognatas, correspondendo a uma
percentagem de 45,7%. Para uma melhor percepção ilustrámos Assim, o intervalo é calculado usando a seguinte fórmula:
com a seguinte tabela:
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P(X&Y) nf= P±Mer ⇒ ]P-Mer; P+Mer[ lexical situa-se no intervalo de 42,50 a 42,50.
É imperioso, também, calcular a fiabilidade do corpus. Esta De seguida, vamos determinar o nível de fiabilidade.
fiabilidade calcula-se para afirmar com máxima segurança que Considerando que a margem de erro ao nível de fiabilidade
um corpus recolhido num tempo longo apresenta uma margem de 68% corresponde ao valor do desvio padrão, então vamos
de erro menor e num tempo curto a margem de erro é maior. calcular a margem de erro ao nível de fiabilidade de 90%.
Para o efeito, deve-se escolher o nível de fiabilidade. Segundo Assim, entre Elomwé e Emakhuwa, temos:
Simon (1990:3.3.7.), os níveis de fiabilidade dependem do
Mer (Elo & Emak)90% = δ×k
tempo, dos informantes e situação do levantamento dos
dados: Deste modo, o autor avança com os seguintes níveis de = 0,0022×1,645
fiabilidade:
= 0,0036
= 0,004
Tabela 2.- Níveis de Fiabilidade
De acordo com este resultado, a margem de erro nível de
fiabilidade de 90% é igual a 0,004. Deste modo, a percentagem
Nível de
Fiablidade de semelhança lexical ao nível de fiabilidade de 90% é
Fiabilidade
representada da seguinte maneira:
O corpus é resultado de muitos anos de
trabalho de campo
0,30 P (Elo & Emak)90% = P ± Mer ⇒ ] P- Mer ; P + Mer[
] 42,5 – 0,004 ; 42,5 + 0,004 [
O corpus é resultado de curto tempo
0,20
intenso de trabalho de campo ] 42,49 ; 42,50 [
Situação de levantamento média com Assim, podemos estar 90% confiantes de que o valor
0,10 percentual de semelhanças lexicais está no intervalo entre
bom informante
42,49 e 42,50.
Situação de levantamento com
0,05 Por isso, a leitura que podemos fazer, a partir destes
dificuldades na ilicitação bilingue
resultados, é que a diferença lexical entre Elomwé e Emakhuwa
Levantamento com ilicitação é mínima, o que quer dizer que, em termos lexicais, a diferença
0,01
monolingue não é tão grande. Contudo, há sim algumas diferenças lexicais
assinaláveis. A título de exemplo, podemos destacar as palavras
abaixo:
É importante ressalvar que a escolha do nível de fiabilidade
é feita de acordo com a situação em que o investigador
trabalhou. (2).
Terminados estes procedimentos, se o valor achado na Emolwé Emakhuwa Significado
tabela for menor ou igual ao valor mais alto entre os valores Nahano Mwarusi ‘rapariga’
percentuais comparados, significa que os valores percentuais
Mokwasha Nakhulu ‘velho’
comparados são suficientemente diferentes naquele nível de
fiabilidade, caso contrário não são. Mwiili erutthu ‘corpo’
Desta maneira, vamos começar por calcular a margem de Nrama nlaku ‘bochecha’
erro associada aos valores percentuais entre o Elomwé e o Evaru etara ‘coxa’
Emakhuwa.
A margem de erro entre Elomwé e Emakhuwa é: 0,0022 As palavras representadas acima, dão-nos conta daquilo
Assim, a percentagem será representada da seguinte que são as diferenças lexicais entre as variedades linguísticas
maneira: Elomwé e Emakhuwa respectivamente. Um falante de
Emakhuwa, por exemplo, não conhece a palavras nahano
P=P ± δ ⇒ ]P- δ[;]P+ δ[ ‘rapariga’ e a palavra nrama ‘bocecha’, que em Emakhuwa,
]42,5 – 0,0022;42,5 + 0,0022[ tem um significado diferente (púbis) do da variedade em
estudo. O mesmo acontece com o falante de Elomwé. Este,
]42,498 ; 42,502[ por exemplo não conhece as palavras etara, nlaku. Estas
]42,50 ; 42,50[ diferenças criam, de algum modo, obstrução na comunicação
entre falantes destas variedades linguísticas.
Isto quer dizer que a verdadeira percentagem de diferença
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7.2. Semelhanças fonético-fonológico entre Elomwé e evidentes, embora as diferenças se situem ligeiramente acima,
Emakhuwa o mesmo podendo-se dizer em relação ao nível fonético-
fonológico. Este facto leva-nos a entender melhor os porquês
Diz-se que palavras são fonético-fonologicamente
de alguns estudiosos considerarem a língua Elomwé variante
semelhantes quando apresentam a mesma forma e estrutura
da língua Emakhuwa, como é o caso de Guthrie (1967) e
fonético-fonológica. Vejamos os exemplos que se seguem:
outros. Para nós esta aproximação linguística não pode ser
(3). entendida como sendo o Elomwe, neste caso, uma variante mas
sim línguas que, provavelmente, tenham tido a mesma língua-
Elomwé Emakhuwa Significado mãe e que ao longo dos anos cada uma delas foi ganhando a
nikhuva [ni-k uva]
h
nikhuva [ni-khuva] ‘osso’ sua própria autonomia, resultante de vários factores, sociais,
mutekhu [mu-tekhu] mutekhu [mu-tekhu] ‘umbico’ geográficos e políticos. Embora ao nível lexical as diferenças
n’tata [n-tata] n’tata [n-tata] ‘mão’ sejam mínimas, na prática comunicativa esta diferença tem
criado alguns ruídos entre os falantes destas duas línguas,
nipele [ni-pεlε] nipele [ni-pεlε] ‘mama’ algo que não deixa ninguém surpreendido por se tratar de duas
nikutha [ni-kut a] nha [ni-kutha]
h
‘joelho’ realidades linguísticas diferentes.

As palavras acima indicam a semelhança fonético-fonológica BIBLIOGRAFIA


entre as variedades linguísticas em estudo. Da análise por
nós feita, a este nível, constatamos que, das 221 palavras, só Afido, Pedro J. 1997. Contribuição para o Estudo do Morfema
90 palavras (40,7) têm a mesma forma e estrutura fonético- do Presente do Indicativo no Emakhuwa. Dissertação
fonológica. para a Obtenção do Grau de Licenciatura. Maputo:
UEM.
Como não deixaria de ser, calculámos as margens de erro
e nível de fiabilidade e os resultados que obtivemos revelam Afido, Pedro J. 1998. Zinisomihiya Osoma ni Olepa Emakhuwa
que estas variedades linguísticas não são próximas ao nível (Como ensinar a ler e a escrever Makuwa). Maputo:
fonético-fonológico. A diferença situa-se acima de 50%, o UEM.
que nos permite dizer que são minimamente distantes. Só para Batibo, H. M. 1997. Lexicostatistical Survey of Bantu
ilustrar, apresentamos abaixo alguns exemplos: Languages of Botswana. South African Journal of
African Languages. Pretória. 18 (1): 22-29.
(4). Batibo, H. M. 1998. Lexical Survey Of the Setswana Dialects
Spoken in Botswana. South African Journal of African
Elomwé Emakhuwa Significado Languages. Pretória. 19 (1):2-11.
mweco [mwεt∫o] Mwetto [mwεto] ‘perna’ Bleek, W. 1862. Comparative Grammar of South African
mutchu Mutthu [muthu] ‘pessoa’ Languages. Trubner& Co, 60, Paternoster Row.
[mut∫hu] London.
sese [sεsε] Sheshe [∫ε∫ε] ‘quatro’ Canonici, N. 1975. Manual of Comparative Bantu Studies.
mwisi [mwisε] Mwishe [mwi∫ε] ‘fumo’ Durban: Departament of Zulu Languages and
Literature.
Os exemplos acima, mostram-nos que existe uma diferença
sim ao nível fonético-fonológico entre Elomwé e Emakhuwa. Carroll, J. K, e Trudgill, P. 1980. Dialectology. Cambrige:
Em Elomwé, onde ocorrem os fonemas pós-alveolares Cambrige University Press
tt ‘mwetto’e tth ‘mutthu’, na variedade Emakhuwa são
Davis, Laurence M. 1990. Statistics in dialectology. Alabama:
realizados foneticamente como /t∫/ e /t∫h/, sendo representados
University of Alabama
na ortografia por c ‘mweco’ e ch ‘mutchu’, respectivamente.
O som [∫], que em Emakhuwa é representado pelo grafema sh Dubois et al s/d. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cutrix.
‘sheshe’, em Elomwé é representado por um dos alofones do
Ferreira, A. G. E Figueiredo, J. N. s/d. Gramática Elementar
fone [s] e grafado como s ‘sese’(cf. Ngunga e Sitoe 2000).
de Língua Portuguesa. Lisboa: Porto Editora.
Firmino, G.D. 1995. Revisiting the “Language question” in
8. Conclusão Post-colonial Africa. The case of Portuguese and
indigenous Language in Mozambique. University
O presente trabalho tinha como objectivo mostrar algumas
of Coimbra (1985), MA, University of California
semelhanças entre as línguas Elomwé e Emakhuwa. Como
Barkly.
podemos constatar, ao nível lexical as semelhanças são bem
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Garmadi, J. 1983. Introdução à Sociolinguística. Lisboa: Dom


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Gonçalves, P. e Chimbutane, F. s/d. Cadernos de Morfologia e
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Para uma caracterização da Poesia Oral nas Timbila dos


Vacopi e alguns aspectos do contributo Português 1940-2005
Por Valdemiro Jopela

O Modelo do Provérbio são e concisão que caracterizam o provérbio dependem, em


grande medida, do conjunto de recursos estilísticos de que se
Na continuação do trabalho que temos vindo a realizar na serve. A metáfora (quer a metáfora in presentia, quer a metá-
divulgação de artigos que possam interessar à Comunidade fora in absentia), a comparação, a hipérbole; figuras como a
Académica, na presente folha, iremos abordar os provérbios elipse, o paralelismo, o quiasmo, a interrogação retórica, bem
Chope. como outras formas de equilíbrio fónico entre as proposições
«Os provérbios são, talvez, o produto mais autêntico da lite- ou termos componentes são elementos largamente explorados
ratura africana. Nos contos, há sempre novos que vêm substi- na composição dos provérbios, o que os torna, quanto à forma,
tuir e fazer esquecer os antigos; os contos vão se modernizando diferentes do discurso ordinário. Esta componente estilística
e cada qual vai acrescentando da sua lavra, de modo a mudar- faz do provérbio uma forma muito importante para a literatura
lhes por vezes a estrutura primitiva, porque: ”quem conta um oral africana, pois o seu modelo e as suas técnicas são muitas
conto sempre lhe acrescenta um ponto”. Os provérbios não. vezes aproveitados em formas mais elaboradas e mais exten-
Podem aparecer alguns novos mas os antigos conservam sem- sas, como a canção e o conto.
pre o seu valor e prístina pureza. Mesmo porque “ditados ve- Por outro lado, uma vez que o provérbio exprime uma verda-
lhos são evangelhos”. de «absoluta», é um óptimo suporte para a narrativa, sobretudo
Os provérbios estilizam casos normais e anormais da vida; como «discurso abstracto»3, mas também para a lírica, cum-
são axiomas tirados da observação dos homens, dos animais e prindo a função de generalizar certas ideias e conceitos ou de
da natureza e, depois, aplicados a todos os casos idênticos com dar explicação para certas situações e atitudes. A este propósito,
a mesma força de verdade e oportunidade. Na sua concisão são será importante notar que os provérbios fazem frequentemente
a expressão mais fina da filosofia popular, um resumo das ati- alusão a fenómenos naturais e à vida animal, o que, pensamos,
tudes do homem perante a vida, um código de procedimento, se prende ao facto de nesses domínios imperar uma espécie de
um caminho traçado ao da existência»1. «perfeição», uma lógica imanente e funcional, diferente dos
comportamentos humanos, mais instáveis e arbitrários.
Quem tiver o prazer de conversar com um idoso africano
concordará com o ponto de vista do autor dos 601 Provérbios A presença do modelo do provérbio, ou do provérbio em si, é
changanas, pois os provérbios são, na verdade, o produto mais um fenómeno qiue ocorre, como se pode verificar pelos exem-
autêntico da literatura popular, ou da arte verbal popular. Há plos, em poemas de Venâncio Mbande, e de um compositor de
provérbios para todas as situações da vida e, “os mais velhos” Zavalense:
usam-nos com muita propriedade, em particular, quando se «Imani anga daya nzofu ngu cibhakela?» ( Orquestra de
trata de emitir juízo de opinião ou aconselhar quem precisa. Zavalene)
Nas suas discussões, nas banjas (reuniões ou conselhos) não
há orador que se preza que não faça uso das potencialidades (Quem matou um elefante com um soco?)
do provérbio para sintetizar o seu discurso ou de outrem, para
contestar ou corroborar com alguém. Enfim, são a expressão
mais fina e requintada da filosofia popular «Ucinenekela tshera unga ambale madhowo!»(Orquestra
de Venâncio)
Segundo Holman e Harmon, o provérbio é «A sentence or
phrase briefly and memorably expressing some recognized (Se caçares um gafanhoto não uses peles).
truth or shrewd observation about practical life».2 ����������
A compres-

Cinyana ca kwemba kwadi khacivatelwi dipale (Orques-

1
Pe Armando Ribeiro, C. M., 601 Provérbios Changanas, 2ªedição,
Lisboa,1989, pp. VI-VII. 3 ����������������������������������������������������������������
Usamos a expressão no sentido em que a usam Carlos Reis e Cris-
2
Holman, C, Hugh e Harmon, William, A Handbook to Literature, tina Macário Lopes no seu Dicionário de Narratologia (Coimbra, Livraria Al-
5ª Ed., New York, Macmillan Publishing Company, 1986, p. 401, apud Gil- medina, 1987, pp. 344/345)
berto Matusse, op. cit. p. 114.
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tra de Venâncio Mbande) A memória do sistema [literário], mais especificamente,


representa o mecanismo semiótico que possibilita o emis-
(Não se prepara uma flecha para um pássaro que canta
sor praticar a alusão literária, a intertextualidade a reutili-
bem).
zação num dado texto de elementos de forma da expressão
Para além de provérbios é frequente recorrer-se ao em- e da forma do conteúdo de outros textos anteriormente
prego de enigmas e máximas do quotidiano. produzidos, pois que, ao contrário do discurso normal,
porque é um “discurso de consumo”, o discurso poético é
um “discurso de reuso”»4.
«I tshimba yanya; ditshiku data».
Dirambu da ciwonga kha disotwi- athu vatinzambwa
(vem o dia em que…) kha hirandwi (nós, os andrajosos não somos amados);
M’tshikiriti m’devhadevha cihanya ngu matsanza – kokwa-
Como todos os idiomas, o cicopi, por vezes não se presta a ne wako angahya m’kolo ngu tigongo (teu/tua avó quei-
aceitar traduções, principalmente de textos fixos como é o caso mou a garganta com gergelim);
acima. Limitámo-nos a dar um significado próximo, sem uma Cikandjuana co khuyuka wuphembeyo – titshumbwana to
tradução global do enigma da língua de partida. «Vem o dia khaleka hakhaneho (são maminhas bem feitas nesse pei-
em que...»Para além do carácter generalizante da verdade ex- to);
pressa, há aqui a reprodução de uma das estruturas peculiares
Ucifula cijenje fula ngu mkono- Ti tikubihete teka yo wila
do provérbio bantu, em que o primeiro termo (ou proposição),
(se as coisas se afearam para ti, zarpa!).
que nega certo(s) atributo(s) a um dado objecto de referência,
contrasta com o segundo, onde se apresenta(m) o(s) atributo(s) Hara khwinyinyi- Tikubihete! (estás mal; as coisas se afe-
achado(s) verdadeiro(s). Encontramos a mesma estrutura re- aram para ti).
produzida nesta passagem de um provérbio actualizado por
Venâncio Mbande «Ucinenekela tshera unga ambale madho-
wo!»/ «Se (ao) caçares um gafanhoto, não uses peles». 11. 2. 1. Alguns provérbios em cicopi
O agrupamento de Mutulene, por exemplo, é o único que 1- Dianza dimwedo kha didayi thwala.- uma mão não mata
apresenta na sua actuação, uma pequena sessão de enigmas piolho. Emprega-se para apelar à união. A união faz a
logo depois da sua apresentação ao público. Este acto isolado, força.
aliás, foi a forma que estes músicos encontraram de preservar 2- Dizolo da sawuti – joelho de sal; fofoqueiro (a).Diz-se de
aquilo que corria o risco de desaparecer, visto que, na altura da uma pessoa intriguista.
guerra, não era possível realizar-se qualquer tipo de actividade
3- Diana sanfi ucidima simwane – Coma as coisas do defun-
cultural. Outras formas de diversão externas à cultura Copi,
to e produza outras.
nas noites, tinham relegado para o esquecimento ou desapare-
cimento das tradicionais sessões à volta da fogueira, dirigidas 4- Ditshiku da kufa khu hiyeli – No dia da morte não se
pelos mais velhos. Daí que a orquestra de Mutulene, formada varre. A morte é sempre uma surpresa.
maioritariamente pela família Missael, cujo membro sénior foi 5- Dianza tsula dianza wuya – Mão vai, mão volta. A mão
responsável da cultura numa direcção distrital, sentisse a ne- que dá espera receber. Uma mão lava outra as duas la-
cessidade de preservar os enigmas nas actuações do seu grupo vam a cara.
de timbila. Assim, a recolha e tradução que fizemos dos enig- 6- Mbiya ya muhi yiya ka muhi kulowi – O prato de quem
mas e provérbios chopes, que juntamos nos anexos finais para oferece vai a quem oferece também. Este provérbio é
consulta e complemento de estudo, justifica-se no uso a que similar ao anterior.
os bons poetas deles fazem, à semelhança dos bons escritores
7- Didhamba da pheho undindela kwako –A manta do frio
que resgatam e reusam máximas, provérbios, imagens, mitos
cada um puxa para o seu lado. Cada um vela pelos seus
da tradição ou memória literária, estabelecendo a alusão, re-
interesses. Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
ferencialidade e intertextualidade entre as suas obras e as dos
clássicos: 8- Dithamba va abana ngu tinyinzi – A massala divide-se
pelas sementes. Diz-se de alguma coisa diminuta mas
«A memória do sistema literário é constituída pelo “ban- que é necessário partilhar com todos.
co de dados” do sistema, ou seja, pelo conjunto de sig-
9- Mano ohiwa ni ako nawe- Esperteza dada e sua também.
nos, de normas e de convenções que, num dado momento
O mesmo que dizer que se deve ouvir os conselhos, mas
histórico, existem no âmbito do sistema, atinentes a todos
os códigos que discriminámos no respectivo policódigo.
A memória representa, em termos semióticos, a chamada
tradição literária (…)
4 V. Manuel de Aguiar e Silva, Op. Cit. pp. 258e 264.
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é preciso ponderar e agir. problemas passarão.


10- Ngu teka mano ako uciembela tshukwa – Ensinar a sua 27- Mbilu yanthu ditiko- O coração de alguém é um Mun-
esperteza à perdiz. Diz-se de quem ensina algo impor- do.
tante a alguém a quem não se deve confiar. 28-Msana maduka – Atrás está a nuca que não tem olhos.
11- Ngu teka mati ucithela ngwenya – Deitar água em cima Quer dizer não se pode saber o que acontece depois de
do crocodilo. Usa-se para referir uma situação em que se virarmos as costas.
pretende auxiliar a quem não precisa; esbanjar. 29- Manza mabhande – Um pouco forçado, este provér-
12- Ngu teka mati ucithela dipato- Deitar água em cima do bio pode equiparar-se a vão os anéis e ficam os dedos.
pato. A explicação do anterior provérbio é válido neste. Emprega-se mais para dizer que por mais que se passe
13- Mati citimwi ka dipato- É praticamente sinónimo dos por um revés, se tivermos as mãos iremos produzir mais
outros dois anteriores provérbios. bens.
14- Intinde wa tithwala utshotsha ngu ku mana wadi- A 30- Inkolo wa mahumba wotede ni nzala – quem se abstém
capulana com piolhos só se deita depois de termos outra. de comer (por zanga) dorme com fome.
Antes um na mão que dois a voar. 31- Mhoti yifela tinyawani – A gazela morre na machamba
15- Masinda matuma ngu kugoyana- As pulseiras tilintam de feijão. São ossos do ofício.
quando se tocam: A união faz a força. 32- Masizana wuxaka – A ajuda mútua é familiaridade. Uma
16- M’kondo kha wunholi mbavha- O ladrão não se mão lava a outra e as duas lavam a cara.
apanha(acusa) pela pegada. Diz-se que não se pode acu- 33- Manzani khakumili mwasi. O capim não cresce nas
sar ninguém sem prova evidente. O ladrão só se acusa se mãos. As mãos são produtivas.
for apanhado com a mão na massa. 34- Ndonga yosala insana ya panda – A paulada que vem
17- Inyoka wa matune wuzivelwa bawuloni- O macho da depois dói. A vingança é um prato que se serve frio. Diz-
cobra descobre-se na lareira; Pode se equiparar a não se de quem faz mal a outrém sem remorso, mas quando
contes os pintos antes de sairem. se lhe retribui não gosta. Não faça aos outros o que não
18- Masoni xwaya dikhuma, insana xwaya dikhuma – As- queres que te façam a ti.
perigir cinza a frente e atrás. Diz-se normalmente de 35- Ngu teka likotiana liveka m’pfoko – A águia deu um
quem ascende a um cargo elevado. Deve ser justo para cuco. Quem não sai aos seus degenera.
com os seus subordinados como com os seus superio- 36- Ngu wusa nyari usinamigomba - É acordar um búfalo
res. sem varapaus. Provocar um problema sem meios para o
19- Mwana khafi inkowo kuphamelwa – Não é o comer que resolver.
compra filho alheio. 37-Ngu wusa cinvunza usina migomba – É acordar o coelho
20- Mwanana ngu ngawe nyane – A criança é bem cuidada sem varapaus.
pelo dono. 38- Ngu sika nginya usina makhara – Compor uma dança
21-Masoni ka nyari vinza inkwinya – À frente do búfalo vigorosa sem saber dançar; propor a realização de uma
atira um pau. Emprega-se para aconselhar o suborno. Ao actividade sem conhecer as formas de executá-la
chefe é preciso dar qualquer coisa para que as coisas 39- Nya mona kuca akumbide – Quem vir o amanhecer está
andem bem. velho. Provérbio que se usa na despedida à noite quando
22- Masasane afela khwatini magohane afela mutini – O se vai dormir.
benfeitor morre no mato enquanto o malfeitor morre em 40- Nidi khani cani kha konwi- intraduzível – quem diz”o
casa. que disse eu?”vence sempre. Aplica-se para explicar que
23- Inti wumwewo ngulapha – É a continuidade da mesma normalmente quem chama atenção, acerta sempre.
casa. Provérbio empregue muitas vezes por familiares, 41- Intamo wa ngwenya ngu mati – A força do crocodilo
quando se despedem. À letra:é a mesma casa só que é está na água. Cada um é mais forte no seu meio.
extensa(grande, alargada).
42- Huluka dikonzo unga bela ngulani, idi cibhembe nida
24- Mwanana walaya wa hombe, wa hombe walaya mwa- faya – Rato, escapaste porque entraste no celeiro, se ti-
nana – Uma criança pode aconselhar um adulto, assim vesse sido na cabaça parti-la-ia; Zangam-se as comadres
como este pode aconselhar a criança. descobrem-se as verdades(forçado). Os bons modos não
25- M’nado ithwala- Um problema é como o piolho. Aparece me deixam dizer.
quando menos se espera. 43- Linyunzi valava nintheveleni – Procurar agulha no pa-
26- Mahungu kha masini – Os problemas não apodrecem. lheiro.
Diz-se quando alguém evade ou foge pensando que os 44- Phongo valava nicitimwi – Procura-se o cabrito até em
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cima. Procurar a agulha no palheiro. de artimanhas para enganar os outros. Nem tudo o que
45- Phongo ya cigwere - Cabrito sardento. Ovelha ronho- luz é oiro.
sa. 64- Timhangela tihanya ngu kutala – as galinhas do mato
46- Phongo kha yiveleki ha kubasani – A cabra não pare vivem pela união porque alertam-se quando o inimigo
onde há pessoas. (perigo)se aproxima; a união faz a força.
47- Phongo kha yiveleki ntlambini- Uma boa cabra não pare 65- Titshokoti tihanya ngu kupfana- As formigas vivem
no meio do rebanho. Usa-se para dizer que há assuntos pelo entendimento; A união faz a força.
confidenciais. 66- Ku engisa cisima cawutomi – A obediência é o poço da
48- Nicikhani nomaha tatinene kasi notikuva manzani – vida.
Pensei que estivesse a fazer o bem, mas cortei-me na 67- Kha kuna inthonvuni kopwata mafina – Não há nariz
mão. Quem faz bem mal a ver tem. sem ranho; O erro é humano.
49-Nyakwongomela tshera kha ambali madhowo- Quem 68- Ku hanya matlhari- Viver é uma guerra. A vida é difícil.
caça gafanhoto não usa peles. É preciso ter calma para 69- Ku dhanwa ngu dhuswa (deve corresponder-se de ime-
todas as situações. diato a um chamamento).
50-Wa likungo mbwalihika- O avarento é ganancioso e in- 70- Ku swela kuhanya una wona yimbwa ya ticheho –
vejoso. Diz-se da pessoa que não gosta de dar o que é Quem muito viver verá cão com chifres. Quem muito
seu aos outros, mas quer que os outros lhe dêm sempre. viver verá coisas inéditas; nunca vistas.
Gosta do alheio.
71- Kukarala ka livilo ngu kuwa hanzila- O cansar-se de
51- Wo lava ku awe phongo diana m’zumbane, kani?- que- quem corre é cair no caminho. É preciso perseverar; cor-
res que eu faça a escolha por ti? À letra: queres que diga: rer e correr sempre, parar só em caso de cair(queda).
cabra, coma este ou aquele tipo de erva?
72- Kutlhariha kapalwa ngu kudivala- a esperteza é vencida
52- Wa kudia sakwe khana liwondjo – O que come o que é pela “calma”. No sentido de o calmo parecer (néscio).
seu não tem ferida; isto é, o que come o que é seu não
73- Kufa ngu rwama – Morrer é dormir. É fácil morrer.
deve temer. Quem não deve não teme.
74- Kusasa ngu tinyela – Quem faz bem, mal a ver tem; fazer
53- Wa mwana afela habanza – o homem deve ser deste-
bem é borrar-se.
mido.
75- Kunyela mpakato- defecar sobre o cajado; morder a isca
54- Unga hinge khukhu ninyu manzani - Não persigas a
e sujar o anzol; não se mostrar agradecido depois de re-
galinha com sal na mão. Sê calmo.
ceber um favor.
55- Unga kungele ngume yinga kuluma – Não ponhas o es-
76- Kunyela ingalavani – defecar no barco, mostrar-se ingra-
corpião no regaço; Tenha cuidado com as tuas amiza-
to. Morder a isca e sujar no anzol.
des.
77- Kunya ha, una dula hani cibowa- Defecas aqui, onde
56- Unga lave kuziva ta m’thamba udinkwakwa- Não pro-
vais apanhar cogumelos. Diz-se de um ingrato.
cures saber o que não te diz respeito.
78- Kwora indilo wa cirengeleni – Aquecer-se com o lume
57- Unga lave kuziva ta intungwe udi phanzekelani- Não
que cabe num pequeno pedaço de panela de barro
procura saber coisas do quarto estando na sala.
(caco);Comer o pão que o diabo amassou.
58- Unga timahe mjhindo wo hiyela kule- não te faças pal-
79- Kwembelwa ngu tonwa- Ouvir dizer é perder.Veja com os
meira que varre longe e deixa a sua base suja.
próprios olhos.
59- Tikhawu tosekana mahoko – Os macacos riem-se das
80- Ku tshukuruka kkweda uciambala nganju – ascender a
olheiras dos outros. Não atires pedras ao telhado do vi-
olhos vistos. Diz-se de uma pessoa que passava necessi-
zinho se o teu também for de vidro.
dade e de um momento para outro passou a uma grande
60- Tshokoti yaxula ndzofu- A formiga vence o elefante. abastança.
Nem sempre o que tem mais corpo é o mais forte.
81- Kuziwa kapala kutshura – Mais vale ser conhecido do que
61- Tshenge yidawa nguliveleko – A bananeira é morta por ser bonito.
causa dos filhos(bananas).
82- Kutshura ngu tilwela- Estar bem parecido (bonito) é uma
62- Cinyana ca cwemba kwadi khacivatelwi dipale- Não se luta.
caça o pássaro que canta bem.
83- Kusinya wurena- Dançar é zangar-se. De facto, nalgumas
63- Cinyana citheketisa mathevele (cihunza madwali)- vezes, é preciso tanto vigor para se sair bem na dança!
Pássaro que faz entoranar água às mulheres que voltam
84- Kupekana ngu maranga ovitwa- Baterem-se com abó-
da lagoa pelos malabarismos que faz, as mal avisadas
baras maduras; desenvolver uma confinça recíproca.
distraem-se e zás, lá se vai a água. Diz-se de quem usa
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85- Ku thelwa mati nzeni – Deitar-se-lhe água no ouvido- peito.


Ser atraiçoado; acontecerem-lhe coisas desagradáveis. 103- Wukoma mwando watshatsheka – O poder é cacimba
86- Cizokoro cilombo ngu cakuya disoni cakuya indani desvanece com o aparecer do sol. As coisas boas são
ciyalala.- o que faz mal é o que entra no olho; o que vai efémeras. As coisa boas não enchem a colher.
para o estômago vai é dormir. O que não mata engorda. 104- Kumaha tatinene ngu tikuva manzani –Fazer bem é
87- Kuhya ngu lisani intsudi uciwuwona- Queimar com o cortar-se na mão. Quem faz bem , mal a ver tem.
calor vendo a sombra. Diz-se de alguém que experimen- 105- Cakuta walo cilonda – O que vem de borla é a ferida.
ta dificuldades com a possibilidade de saná-las. Tudo de bom precisa de trabalho, sacrifício. Não se pes-
88- Timhaka kha tikhukhulwi ngu mati – Os problemas não cam trutas em bagas enxutas.
são arrastados pela chuva. 106- Indilo worumisa khawuturi – Lume mandado acender
89- Mahungu kha masini – os problemas não apodrecem não arde. Coisas que se delegam não funcionam como se
90- Nyagotombwane wa ntondo kha ziwi mu awelako o dono presente estivesse.
kona- Não se sabe para que lado vai cair uma árvore 107- Makala khamatshumeli nyunduni.-As brasas não vol-
morta(seca)- Não desejes mal ao teu vizinho que o teu tam à forja. Usa-se frequentemente quando se pretende
vem a caminho. devolver algo (comida, bebida, dinheiro), então os pre-
91- Tindova tahamnsana tiziwa ngu mnlovi wa tona. As ta- sentes dizem: As brasas não voltam à forja, que se dê
tuagens nas costas são conhecidas de quem as faz. aos presentes.
92- Vacikhona kapata, khavekhona xolela.- Se te mandam 108- Seka cilima udimndani – Ria-se do aleijado estando no
pegar, não é para espreitar. A curiosidade matou o gato. ventre (materno). Aplica-se a pessoas que fazem pouco
de aleijados ou de outros infortunados. Adverte-se pois,
93- - As coisas boas não enchem a colher. As coisas boas são
que se tenha muito cuidado, porque, pode-se, a qualquer
efémeras.
momento, ficar-se aleijado ou infortunado.
94- Ku hena cigwere ngu kutshuvela- Dar campo à sarna
109- Invunza wupwati ticheho ngu kurumisa- O coelho fi-
por coçá-la; habituar mal a alguém; dar mimos a mais.
cou sem chifres por gostar de mandar.
95- Cikuluveta cabaya tshulu- A rapidez fura ao lado (falha).
110- Nyafa kwadi ngwanzwa- O que morre sem
A pressa é inimiga da perfeição.
defeito(aleijão) é bem aventurado.
96- Kosisa dithamba una wona ngumhwa – Onde se escon-
111- Ingana a ola makose kha oli m’noha- O amigo limpa
deu uma massala, verás um carreiro(pequeno caminho).
somente o vômito e não sangue.
97- Cikhavhi cawulombe cikambwa cicingaci tshamba – O
112- Kuveleka wukosi, kwambala mavala- Ter filhos é rique-
favo de mel deita-se quando ainda estiver doce. Usa-se
za, vestir é colorir-se; fantasia.
para dizer que mesmo as coisas boas podem se deixar
para outra ocasião. Emprega-se também este: Hambi ti- 113- Nzofu khayiwi ngu limbhavhu limwelo – O elefante
khawu tamaleka; isto é, Até os macacos deixam-nas (as não cai sobre uma costela somente. Não há um sem
maçarocas). dois.
98- Kufuya intonga wila nzeve – Se viveres com um Tonga, 114- Cilonda cipanda kanyane wacona- a ferida dói ao seu
corta-lhe uma orelha. Usa-se para mostrar a falta de con- dono; Cada um sabe onde lhe aperta o sapato.
fiança por alguém que se mostra ingrato. 115- Ndonga yo sala msana ya panda- a última paulada é do-
99- Wumanwi nkhonje ngu wulu. O galo foi apanhado lorosa; a vingança é um prato que se serve frio.
(pelos parasitas próprios de galinhas) - diz-se de quem
amarrota o colarinho numa discussão e não tem como
11. 2. 2. Outros provérbios1
se defender, não tem argumentos e é obrigado a calar-se
cabisbaixo. 1. Txisondwana njindemba:
100- To womba vakoma tinzolo – O chefe tem sempre ra- Kuha vakwanu veka.
zão. O pintainho é frango em potência:
101- Wusiwana wona ngu mako kwenda - Tornámo-nos
pobres quando a nossa mãe “viaja” (morre). Quem tem Dar aos outros é guardar.
mãe tem tudo quem não tem mãe não tem nada. 2. Phongo kha yi velekeli hagari ka mtxhambi.
102- Tshumbu ya mama hambi yidi ninrumbi hamama- A A cabra não pare no meio do rebanho.
mama da nossa mãe mesmo que tenha ferida mamámo-
la. Os nossos pais, a nossa Pátria por piores defeitos que Há segredos que se não devem divulgar.
possam ter, são sempre nossos e merecem o nosso res- 3. Khukhu yi hanya ngu kuhalakasa.
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A galinha vive esgaravatando. 15. Kutsura ku palwa ngu kuziwa.


O homem deve viver do seu trabalho. Mais vale ser conhecido do que ser bonito.
4. Kuenda kha ku na divemba. Mais vale ter graça do que ser engraçado.
A viagem não tem prazo. 16. Ku ti wona hi nga ku ti ziva.
Sabe-se a hora da partida, não se sabe a de chegada. Ver não é saber.
5. Kuambala I mavala, kuveleka I wukoma. Vai muito do ver ao saber.
Vestir-se é só cores, ter filhos é riqueza. 17.kusakana ku dhana kudila.
De nada vale a beleza sem a virtude. A brincadeira traz o choro.
6. Dyana sako so tsamba, na dya sangu so biha. Não há alegria sem tristeza.
Come as tua coisas com gosto, eu comerei as minhas sem 18. Awule a tumelako mnandu wakwe kha sungwi.
gosto.
Quem confessa a culpa não é preso.
Mais vale o pouco honrado que o muito roubado.
Pecado confessado, pecado perdoado.
7. Ndena yi zivaneka ngu timbirimbi.
19. Awú a ku zivisako, ngu dona dixaka
O heroi conhece-se pelas cicatrizes.
Que avisa é parente.
8. Mwani kwathu, hambi ku di bihile, kha hi ku divali.
Conselho de.amigo, aviso do céu.
A nossa casa, por má que seja, nunca se esquece.
20. U na si mana ngako tikhukhu ti txi mila makwasa.
O passarinho não esquece o seu ninho, ainda que peque-
Terás, quando as galinhas tiverem dentes.
nino.
Nunca vais ter.
9. Homu va yi ñola ngu titxheho, m’thu va m’ñola ngu
txisofu. 21. Mbiya kha yi veleki mwanana.
O boi agarra-se pelos chifres, o homem agarra-se pela O prato não gera filho.
boca. O dar de comer a uma criança não nos torna pais da
Ao boi pelo corno, ao homem pela boca. criança.
10. Kutsimbila ka wonisa tatingi. 22.Mawelo hi nga mathelo.
O viajar mostra muitas coisas. Tirar não é deitar, subtrair não é multiplicar.
Quem muito anda muito aprende. É preciso saber poupar.
11. Dikhombo da m’thu kha di sekwi. 23. tshenge yi dawa ngu kuveleca.
Não devemos rir-nos da desgraça duma pessoa. A bananeira more por ter dodo o cacho.
Não te rias da desgraça alheia. Quem tem filhos tem cadilhos.
12. Ku kumba mmidi, mbilu kha yi kumbi. 24. Lwango la nyumba li ziwa ngu nyamne.
Envelhece o corpo, o coração não envelhece. O tecto da casa conhece-o o dono.
Serás em velho o que tiveres sido em moço. Cada um sabe da sua vida.
13. Ku walo thonvu yo pwata mafina. 25. Malwati a hombe ma kotwa ngu mrende wa hombe.
Não há nariz sem ranho. Uma doença grande cura-se com remédio grande.
Ninguém é perfeito. Para grandes males grandes remédios.
14. Kukombela kha ka biha, to biha ngu kupa. 26. Kuwombawomba ku palwa ngu kumalala.
Pedir não é vergonha, vergonha é roubar. É melhor calar do que falar.
Ser pobre não é vergonha, vergonha é roubar. Mais vale calar que muito falar.
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27. Kuengisa i thomba ya vanana. Come, mas lembre-te de pagar o imposto.


Ouvir é a herança dos filhos. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
A obediência é o tesouro dos filhos. 40. Txuma hi nga txilo, txa hombe ngu lirando.
28. Nzambwa va kuwula msokoni. A riqueza não é nada, o principal é o amor.
A sujidade lava-se atrás da casa. De nada vale a riqueza sem a bondade.
A roupa suja não se lava na praça. 41. Mati ma tsimbila ngu milonga.
29. Mndonga wu thithwa i di ngadi wudotho. A água corre pelos baixos.
Endireita-se a árvore enquanto é pequena. Os favores seguem caminhos conhecidos.
De pequenino se torce o pipino. 42. Txamba txi tekela linene.
30. Silo si huma muwa ko kwela. A concha do mexilhão vem do mar.
Para comer é preciso desbravar o mato. Tal pai, tal filho; Tai mãe, tal filha.
O que tem valor custa adquirir. 43. Msana ku wuyelela dibhenba.
31. Kuswela kuhanya u na ti wona. É próprio do insensato andar para frente e para trás.
Se viveres muito , hás-de ver muitas coisas. É próprio do insensato repetir a mesma asneira.
Quanto mais vivemos, mais aprendemos. 44. Mhuti yi sakanisa mwanana.
32. Nyume ni dikonzo kha si lavani. A gazela ensina a cria a brincar.
O amendoim e o rato não estão bem frente a frente. O exemplo dos pais é a melhor escola dos filhos.
Estopas ao pé do lume não estão seguras. 45. Madya-sakwe kha na lionje.
33. Tava kha va yi kweli ngu kututuma. Quem come à sua custa não tem culpa.
Uma montanha não se sobe a correr. Quem come do que produz é honrado.
Mais vale jeito do que força. 46. Sixaniso si gondisa m’thu kuhanya.
34. Dipswi da mkoma kha di tsumeleli msana. O sofrimento ensina uma pessoa a viver.
Palavra de rei nào volta atrás. A necessidade aguça o engenho.
El-rei errou, mas faça-se o que ele mandou. 47. Nyamnova kha wuyi.
35. Wusuke kha wu na wahombe. O dia de ontem não volta mais.
A bebida não tem rei. Basta o dia o seu próprio mal(Mat.6, 34).
Entre bêbados, são iguais o rei e o criado. 48. dyana u txi ti siyela.
36. Didhowo va txhuka há banza. Come e deixa o resto para amanhã.
A pele prepara-se na reunião dos velhos. É preciso saber poupar
Uma questão resolve-se em tribunal. 49 .M’bhikiwa khadi kha fi ngu nzala.
37. Dyana sa m’fi, u txi dima simwane. O cozinheiro não morre a fome.
Come o que o defunto deixou, cultiva o teu campo. Quem trabalha não morre a fome.
Não confies só no que o defunto deixou. 50. Mwanana wu anga dhawuka i di txindaka-milayo a na
fa i di txindaka- milayo.
38. Jokota, ni na ku lweta.
Criança mal criada desde a infância morrerá malcriada.
Come, que eu defender-te- ei.
A educação começa desde a infância
Não te fies em promessas.
51. Mbilo ya m’thu linene.
39. Dyana, u txi alakanya resa.
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O coração humano é um mar. 63. Limhika kha li pandise, ku pandisa txisofu.


O coração humano é insondável A vara não magoa, magoa a boca.
52. Phande yo purwa kha yi aki nyumba. Mais ferem as palavras do que balas.
Uma estaca carcomida nãoconstrói palhota. 64.Mloyi a ziwa ngu mloyi kulowe
A má crítica nunca é construtiva. Um bruxo é apanhado por outro.
53. Awú a resako kha thave. Para um esperto, outro esperto.
Quem paga o imposto não tem medo. 65. Phande ya kuwoma kha yi thithwi
Quem não deve não teme. Uma estaca seca não se endireita
54. M’thu wo malala i mnyoka Burro velho não toma andadura
Homem calado é cobra. 66. Litiho limwelo kha li dayi ndaya
Guarda-te do cão que não ladra e do homem que não fala Um só dedo não mata piolho
55.I mgogoloti ngu lapha, ngu kula walo i mnanda A união faz a força
Os homens não se medem aos palmos 67. A walo wo ti seka a pune
A altura não significa ser mais velho. Uma asneira não mete graça a quem a diz
56. Mrende wa pheho ngu mndilo. Ninguém se ri de si mesmo.
O remédio para o frio é o fogo. 68. Ati i ku to tshambakha ti sweli kupinda
Quem tem frio que se aqueça O que é saboroso acaba depressa
57. Awule a gombonyisako ngu wule a ku masoni, ani wa O que é bom é sempre pouco.
msana wo londetela tsena.
69. Diso kha di ti woni
Andar torto anda o da frente, o de trás segue-o simples-
O olho não se vê a si mesmo
mente.
Ninguém vê os seus próprios defeitos
Os maus exemplos arrastam.
70. “Ni na thuma mangwana” mbukara
58. Nzala kha yi wulele mtini ka mkoma, kodhwa lifo la
wulela. Deixar trabalho para o dia seguinte é preguiça
A fome não entra em casa do rei, mas a morte entra. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
Também os ricos morrem. 71. U nga seke wo kumba, nguko mangwana ngawe
59. Thomba ya m’thu ngu mawoko akwe. Não faças pouco dum velho, pois amanhã tu o serás
Os braços são o tesouro do homem Hoje sou eu, amanhã serás tu.
O trabalho é a riqueza do homem. 72. U nga sole so hiwa
60.Thomba ya tata dyana a di ngadi a txi hanya. Não desprezes coisas dadas
A herança paterna come-a enquanto o pai vive. Coisas dadas são estimadas.
A melhor herança são os bons conselhos. 73. U nga hinge khukhu ni inyu manzani
61. U nga worelane mndilo ni dikhamba. Não corras atrás da galinha já com o sal na mão
Não te aqueças ao lume do ladrão Não deites foguetes antes da festa
Não te faças amigo do ladrão.. 74.U nga thave txinditxe, txipapanana usa txi wona
62. Mnenge wumwewo kha wu sinyi to nyawula. Não temas o boato, antes de constatar a realidade do peri-
go
Uma perna só não dança coisas bonitas.
Não fujas, antes de saber donde vem o perigo
Um só remo não leva o barco ao mar.
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75. U nga xave msingo, a si nzi kuvelekwa mwanana. 87. Wutxhari kha wu heti dilembe.
Não compres o pano de trazer a filho às costas, antes dele A esperteza não termina o ano (sem ser descoberta)
nascer
Burla com dano não acaba o ano.
Não deites foguetes antes da festa
88. Wutomi kha wu xawi.
76. U nga time mndilo ngu mndilo
A vida não se compra.
Não apagues o fogo com o fogo
A vida é só uma.
Não deites lenha na fogueira
89. Maduka kha ma woni.
77. U nga thembe m’thu ngu kuwona khohe
A nuca não vê.
Não confies em alguém só por ver a cara dele.
O ausente nem ouve nem sente
A gente vê caras, não vê corações.
90. Didhowo va peta di txi nakana.
78. U nga dhane yimbwa, u d ni mgoba mnzani
Dobra-se a pele enquanto está verde.
Não chames um cão com um pau na mão.
De pequenino se torce o pepino
A quem hás-de rogar não hás-de assanhar.
91. Lifo kha.li na diso.
79. U nga kuletele txisima
A morte não tem olho.
Não estragues a fonte.
A morte não escolhe.
Não sujes a água que hás-de beber.
92. kudhanwa ngu dhuswa.
80. U nga pe, sako sa ta ni nzila
Ser chamado equivale aser advertido.
Não roubes, o que é teu vem a caminho
Toda a vocação é uma responsabilização.
O que é nosso à mão nos há-de vir ter.
93. kudya ngu kuengeta.
81. U na dya sa mnyuko.
A boa refeição pede repetição.
Comerás do teu suor.
Encontro feliz pede repetição
Aprender à própria custa
94. Mabihane a biha ni sakwe.
82. Vo veleka mmidi, kha va veleki mbilo.
O mau é mau com as suas coisas.
Dão à luz o corpo, não dão à luz o coração
Não digas mal de que precisas.
Nem sempre o filho sai ao pai.
95. Mame i mame.
83. Awú a zivako ngu wule a wotisako.
A mãe é mãe.
Sabe aquele que pergunta.
A mãe é sempre mãe
Se queres saber pergunta.
96.Mati ma di thekete kha.ma rolelwi.
84. Wurenawu xulwa ngu kumalala.
A água entornada não se pode apanhar.
A ira aplaca-se com a paciência.
A água vertida nem toda é recolhida.
É com águaque se apaga o fogo.
97. Mkolo kha wu na wusiwana.
85. Wusiko kha wu na ndena.
A garganta não sente o dó
A noite não tem herói.
Para comer não há feriado
Há certas circunstâncias em que toda a virtude é pouca.
98. Txisofu txa dayisa.
86. Wusiwana wa hombe, wona ngu mame a di endile.
A boca causa a morte.
A verdadeira desgraça é a ausência da mãe.
Pela boca morre o peixe
Não há maior desgraça que não ter mãe.
99. U nga dye mbuva, u txi divala nzila.
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Não tomes o farnel, esquecendo-te do caminho. tografia diferente daquela que adoptamos, aliás, a que
corresponde à pdronização da ortografia das línguas
Pensa no futuro.
moçambicanas.

100. Txuma i mwando.


A riqueza é orvalho.
(Footnotes)
A riqueza passa depressa.
1 ���������������������������������������������������
P. Luís Feliciano dos Santos OFM e P. António Fon-
101. Male i m’nyu. seca Maheme SSS, A B C das Escolas Comunitárias, Portu-
guês-Txitxopi e Txitxopi-Português, Maputo, 2003, pp.58-71.
O dinheiro é sal.
Dinheiro, água o deu, água o levou
102. Msikati wo mbi lowolwa kha aki mwaya.
Mulher não lobolada não cuida do lar.
Mulher não lobolada não se sente responsável
103. Nyumba yi tshura ngu kutshulelwai.
A casa é bonita por ser coberta.
A mulher é bonita pelo vestuário que usa.
104. wukara i mame wa wusiwana.
A preguiça é a mãe da pobreza.
A preguiça é a mãe de todos os vícios
105. wuxaka wu xakela mmidi.
O ser familiar leva a abuso de confiança.
Um familiar pode abusar mais do que um de longe.
106. Mwanana kha na nyamne
Uma criança não tem dono.
Uma criança merece ajuda de todos.
107. Kuwonana ngu kuengeta.

Um encontro feliz pede repetição.


Os provérbios recolhidos pelos padres António da Fonseca tico que o cria ou adopta e usa. Assim se explica que a letra “i”, por exemplo,
para o português soa mesmo “ï”, ao passo que para o inglês soa “ai”. Da
Maheme e Feliciano dos Santos5 obedecem a uma or-
mesma maneira, as letras r, j e z, que em português tem um valor fonético
suave, para o txitxopi convencionamos dar-lhes um valor fonético forte e não
precisamos de usar os dígrafos rh, dj e dz.
d) Em conclusão, afirmamos categoricamente: devemos respeitar a au-
5 tonomia das nossas línguas moçambicanas e buscar a unidade do povo
«Eis a Nossa Opção ortográfica Txopi moçambicano na pluriformidade e não na uniformidade. Assim, se o
Alguns pressupostos. Nelimo reconhece ao Changana o direito de escrever Xichangana com o x e
a) O povo moçambicano é um povo bilingue. Temos a nossa língua materna ao Maconde o de escrever Shimaconde com sh, não devia nunca pretender,
e a língua portuguesa que adoptamos por razões historicamente óbvias. De- contra tudo e contra todos, impor-nos o uso do c, em vez do tx. A razão da
vemos criar símbolos gráficos que evitem ambiguidade de escrita e de leitura nossa opção por tx e não por c fundamenta-se, primeiro, na nossa tradição
para os falantes das duas línguas. de 50 anos de uso daquele símbolo e, segundo, no facto de que, por causa da
b) Existem dois métodos de escrita das línguas ”bantu” internacionalmente nossa lusofonia, se aceitássemos o c, isto nos levaria a homografia obscena,
aceites: o método analítico ou disjuntivo e o método sintético ou conjuntivo. quando, por exemplo, quiséssemos escrever o pronome txona em nossa
Achamos que se deve reconhecer a cada uma das línguas moçambicanas o língua. “Que potest capere capiat!”» P. Luís Feliciano dos Santos OFM e P.
direito de opção nesta matéria. António Fonseca Maheme SSS, A B C das Escolas Comunitárias, Português-
c) Todo o símbolo gráfico é fruto duma convenção racional do grupo linguís- Txitxopi e Txitxopi-Português, Maputo, 2003, pp.73-74.
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Relação Homem e a Natureza no Conto Oral


“Os Desejos da Mulher Grávida”
Por Lurdes Rodrigues da Silva

1. Introdução encontrou uma cobra. Lembrou-se que as cobras eram animais


que punham ovos, como as aves. Então, ele cantou:
A oralidade, como é sabido, é o principal veículo de
transmissão de conhecimentos nas sociedades ágrafas. É através Ndala, Ndala amiga,
da palavra que se organiza o conhecimento e a compreensão de Fui enviado, Ndala minga,
valores sócio-culturais, religiosos, normas e comportamentos
das referidas sociedades. Sendo a palavra o principal veículo Minha Esposa, Ndala minga,
de transmissão de conhecimentos e valores, existe toda uma Com os teus ovos, Ndala minga,
literatura por ela produzida e que está presente em todas as
esferas destas sociedades, relatando e descrevendo os aspectos Seus desejos, Ndala minga,
essenciais da vida destas mesmas comunidades (Altuna, 1989). Quer matar, Ndala minga.
Dentre esta vasta literatura oral podemos destacar: o conto, os
provérbios, as adivinhas, as poesias e os cantos (Junod, 1995). A cobra respondeu de dentro da toca:
Neste âmbito, procuraremos, no presente trabalho, reafirmar a Ouvi bem, Ndala minga,
importância desta literatura demonstrando o papel que o conto
oral desempenha na relação entre o Homem e a Natureza. Para O teu pedido, Ndala minga,
tal será apresentado e analisado um conto moçambicano do Vem, chega-te, Ndala minga,
Vale do Zambeze colectado pelo autor Lourenço do Rosário
intitulado “Os Desejos da Mulher Grávida”. Escolhe, Ndala minga,
Falta não fazem, Ndala minga,
Não abuses, Ndala minga,
2. O Conto e Sua Análise
São muitos, Ndala minga
Os Desejos da Mulher Grávida
São filhos também, Ndala minga.
“Havia, numa povoação, lá para os lados de Mutarara,
uma mulher grávida. Como todas as mulheres grávidas, ela O homem aproximou-se, a cobra afastou-se, e ele tirou
atormentava o marido com desejos que elas costumam ter alguns ovos e ele levou-os à mulher. Esta saboreou-os cozidos,
durante esse estado. O marido procurava e encontrava tudo o crus, assados. Gostou e disse: “Ó marido, vai outra vez à cobra
que a mulher pedia. Trazia e dava‑lhe. Mas ela nunca parava e traz mais”. O homem disse: “ Mulher, os ovos são seus filhos,
de pedir. não há mãe que deixe que lhe comam os filhos sem reagir”.
Mas a mulher insistiu. O homem foi. Quando chegou, cantou
Um dia, a mulher chamou o marido e disse-lhe: ”Ó marido,
a mesma canção:
hoje quero ovos”. O homem foi à capoeira e trouxe de lá os ovos
de aves de capoeira. Quando ela viu os ovos, começou a gritar Ndala, Ndala minga,
e a chorar: “Para que me serve ter um marido como tu? Peço-te Etc.
ovos e vais buscá-los à capoeira do quintal. Esses também os
poderia ir buscar. Quero ovos de animais do mato”. A cobra disse que sim, mas quando o homem se aproximou
para tirar alguns ovos, ela picou-o. O homem ficou envenenado
O homem foi ao mato e apanhou ovos de perdizes, de e morreu ali mesmo, deitado ao lado da cobra.
galinhas do mato, de patas bravas e todas as aves que
habitam as lagoas. Trouxe-os e deu-os à mulher. Esta olhou A mulher, em casa, esperou, esperou, esperou, pelo marido
com desprezo e recomeçou os lamentos: “Quando a criança e pelos ovos. Passaram-se duas semanas. Ela foi ter com os
nascer, vai ter vergonha de um pai como tu. Não tens coragem irmãos do marido: “O meu marido desapareceu, deixando-me
de enfrentar os bichos do mato. Pensei que tinha casado com neste estado”. Os irmãos perguntaram: “Ele não disse para onde
um homem. Afinal, és igual a uma mulher”. O homem, cada ia?”. Ela respondeu: “À procura de ovos”. Os irmãos disseram
vez mais desolado, embrenhou-se na floresta, à procura de um logo: “O nosso irmão está morto”. E foram ao feiticeiro. Este
animal que pusesse ovos. Procurou, procurou, procurou. E disse: “Se foi a cobra Ndala, só posso ressuscitá-lo com as
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Página de Especialidade

cinzas dessa mesma cobra”. O irmão mais novo foi e encontrou O narrador também mostra que o uso abusivo e desenfreado
a cobra e então cantou a mesma canção: dos recursos da Natureza traz consequências nefastas ao
próprio Homem e pode até levar à morte, ao relatar que após
Ndala, Ndala minga,
a insistência da mulher, o homem voltou à cobra e acabou
Etc. morrendo, envenenado pela picada da mesma. O narrador
também ilustra que a cura dos problemas causados pela Natureza
Pensando a cobra que era um outro homem que vinha à
está na própria Natureza, conforme ficou demonstrado pela
procura de ovos, respondeu da mesma forma. Mas quando o
exigência de que o tratamento para a cura do marido morto
rapaz chegou ao pé da cobra atirou-lhe uma “azagaia”que lhe
fosse encontrada na cobra que o matou.
trespassou a cabeça, a cobra morreu e transportou-a, tendo
feito uma maca onde colocou o irmão.
O feiticeiro incinerou a cobra e com as cinzas fez umas papas 3. Conclusão
que deu a tomar ao morto, que logo vomitou e despertou.
Da análise feita ao conto oral “Os Desejos da Mulher
Os irmãos disseram à mulher: “Por tua causa, íamos perder Grávida”, pode-se inferir que o mesmo desempenha um papel
o nosso irmão. És uma mulher indigna de pertencer à nossa educativo de extrema importância no que concerne à relação
família. Vais ter o filho, que é nosso, por isso permanecerás que deve ser estabelecida entre o Homem e a Natureza, mais
entre nós até lá. Depois entregar-te-emos aos teus”. concretamente na necessidade de razoabilidade de exploração
Foi assim que foi repudiada a mulher grávida que tinha pelo homem dos recursos proporcionados pela mãe Natureza.
desejos esquisitos” (Rosário, 2001, pp.77-79) Infere-se também que a preocupação pelo uso equilibrado de
recursos é uma questão antiga e actual, embora na actualidade
Este conto é um exemplo típico do papel educativo seja mais evidente, derivada da cada vez mais crescente,
desempenhado pelos contos nas sociedades de cultura oral. desenfreada e inconsequente pressão do Homem sobre os
Apesar deste conto mostrar os costumes do povo do Vale do recursos existentes na Natureza.
Zambeze, a nossa análise cingir-se-á apenas na relação entre o
Homem e a Natureza, uma vez que a análise sobre os costumes
deste povo já foram objecto de reflexão por parte de Rosário
(2008).
Referências Bibligráficas
Neste conto, o narrador procura mostrar a relação Homem/
Natureza indicando com clareza quais devem ser as atitudes Altuna, P.R.R. (1985). Cultura Tradicional Banto. Luanda:
do ser humano face à mesma. O narrador demonstra que o Secretariado Arquidiocesano de Pastoral
Homem se serve da Natureza para se alimentar e sobreviver, Junod, H.(1996). Usos e Costumes dos Bantu. Tomo 2. Maputo:
ilustrado pelo facto do marido ir ao mato procurar ovos de Arquivo Histórico de Moçambique
animais selvagens para sacear os desejos da sua esposa
grávida. Todavia, este mesmo narrador revela-se conhecedor Rosário, L. (2002). Contos Moçambicanos do Vale do
da importância do uso equilibrado dos recursos proporcionados Zambeze. Maputo:
pela Natureza quando expressa, através do canto, o alerta que Rosário, L. (2008). A Narrativa africana de Expressão Oral.
a cobra deu ao homem ao dizer que atenderia o seu pedido e 2ª Edição. Maputo: Texto Editores
daria os ovos, mas o avisava para que não abusasse. Este aviso
é importante para o Homem, no sentido de que ninguém deve
fazer uso abusivo daquilo que existe na Natureza.
Essa consciência em manter uma relação equilibrada quanto
ao uso de recursos da Natureza também é manifestada pelo
marido quando, após oferecer os ovos da cobra à sua esposa e
esta continuar a insistir em querer mais, diz: “Mulher, os ovos
são seus filhos, não há mãe que deixe que lhe comam os seus
filhos sem reagir”.
Neste conto, o narrador evidencia que o homem abusa da
Natureza, por mero capricho, retirando os seus recursos,
mesmo quando não precisa deles, ao afirmar que o marido se
aproximou da cobra e retirou alguns ovos que levou à esposa
que os consumiu cozidos, crus, assados, mas insistiu ao marido
que voltasse à cobra e trouxesse mais ovos.
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Fonologia Segmental da Língua Copi


Por Nelsa Nhantumbo

1. INTRODUÇÃO O objecto de estudo da fonologia é o fonema, este que permi-


te distinguir palavras de diferentes significados.
O estudo da fonologia constitui uma base de compreensão
da gramática estrutural e funcional de uma língua, como mos- É importante realçar que a fonologia estuda a função dos
tram os trabalhos de Liphola (2001), Meinhof (1932), Ngunga sons tanto segmentais assim como suprassegmentais.
(1997, 2000, 2002), entre outros que procuraram abordar a es- A fonologia suprassegmental é a que se preocupa com os
trutura e funcionamento de línguas bantu em termos fonoló- aspectos que afectam mais do que um segmento, tais como a
gicos. sílaba, o acento, o tom; enquanto a fonologia segmental vai-se
A presente comunicação tem como objectivo descrever a fo- preocupar com o estudo dos sons vocálicos e sons consonân-
nologia segmental da língua Copi (S63 na clasificação de Gu- ticos.
thrie 1967/71), discutindo concretamente as regras fonológicas Para o presente trabalho incidiremos na fonologia segmen-
que envolvem consoantes e vogais. tal, isto é, no estudo das vogais e consoantes da língua Copi,
Para a presente comunicação foram tomados como base os incluindo as regras que regem a sua combinação na formação
seguintes métodos de trabalho: método de entrevista que con- de unidades maiores (morfemas, palavras ou mesmo frases).
siste em o investigador apresentar uma lista de palavras e/ou Sendo então as vogais e as consoantes os elementos fun-
frases na língua em questão ao informante e posterior trans- damentais da fonologia segmental é, deste modo, importante
crição; método filológico que consiste na pesquisa de dados apresentar de uma forma clara as suas definições.
bibliográficos de trabalhos relacionados com o tema, anterior-
mente escritos; e o método de introspecção que consiste em Assim, as vogais são definidas, segundo Ngunga (2006)
recorrer ao conhecimento próprio do investigador. como sons produzidos sem nenhuma obstrução da corrente do
ar em todo o seu percurso. Na produção deste tipo de sons a
De referir que a teoria usada para explicar os processos foi propagação do ar pulmonar egressivo é feita através das cordas
a de fonologia e morfologia lexical. Esta teoria assume que vocais dentro da laringe por meio da extensão vocal (Clark &
as regras fonológicas são aplicadas a diferentes níveis na gra- Yallop 1990).
mática e o número de níveis pode variar de língua para língua
(Ngunga 2000). Em bantu, considera-se que a língua ancestral (Proto-bantu)
apresentava no seu sistema vocálico 7 vogais das quais, actu-
Geralmente existem regras que se aplicam a nível lexical (a almente, em muitas línguas do mesmo grupo o sistema é de 5
nível da palavra) e regras que se aplicam a nível pós-lexical (a vogais.
nível do sintagma ou da frase) e para a presente comunicação
interessa-nos apenas o nívle lexical. O encontro entre essas vogais (hiato) é, algumas vezes, ina-
ceitável em algumas línguas e quando tal acontece é à fonolo-
Em termos organizativos o mesmo encontra-se disposto em: gia que se recorre, pois só esta pode explicar e resolver o hiato.
1 Introdução, onde são apresentados aspectos gerais, os objec- Para além das vogais, viu-se que a nível segmental a fonologia
tivos do trabalho, a metodologia usada no trabalho e o quadro apresenta-nos as consoantes que são definidas como sons pro-
teórico a ser usado; 2 Revisão da literatura; 3 Fonologia Seg- duzidos com obstáculo à passagem do ar na cavidade bucal.
mental da língua; 4 Conclusões e, por último, as referências Em geral, “as consoantes mostram uma maior constrição da
bibliográficas. extensão vocálica e menor proeminência do que as vogais”
(Clark & yallop 1991).
De acordo com Meeussen (1967), o proto-bantu apresenta
um sistema consonântico relativamente simples como ilustra
2. REVISÃO DA LITERATURA o exemplo a seguir:
Um dos conceitos importantes neste trabalho, como foi refe-
rido na subsecção anterior, é o da fonologia que é definida por
Hyman (1975), Ngunga (2002, 2004), Katamba (1989) como p t c k
o estudo dos sistema de som, sua estrutura, as regras que re- b d j g
gem a sua combinação no sistema, bem como a sua função na
comunicação m n 
41
Página de Especialidade

ELISÃO
Nas línguas bantu, estes sons também se podem combinar, O encontro entre duas vogais pode resultar na elisão de uma
tal como as vogais. das vogais. Observemos os exemplos abaixo:
Da combinação entre os vários sons (vogais e consoantes) Exemplo (1)
podem resultar fenómenos variáveis de língua para língua.
a) manu (cl6) /ma-inu/ ‘dente’
Tais fenómenos podem ser explicados pela fonologia,
através de regras fonológicas aplicadas na resolução dessas maso (cl6) /ma-iso/ ‘olhos’
combinações. cala (cl7) /ci-ala/ ‘unha’
sala (cl8) /si-ala/ ‘unhas’

3. FONOLOGIA SEGMENTAL DA b) –bhala -bhate /bha-it-l-e/ ‘escrever’


LÍNGUA COPI
-wona -wone /wo-il-n-e/ ‘ver’
1.1.Sistema Vocálico
O sistema vocálico da língua Copi apresenta cinco (5) vogais
fonémicas conforme ilustra a tabela a seguir: c) ndzilani < ndzlila + ini ‘na rua’
nyumbani < nyumba + ini ‘na casa’

Tabela 2: Vogais da língua Copi ndzumani < ndzuma + ini ‘na chuva’
thembweni < thembwe + ini ‘na machamba’
Anterior Central Recuada
Em (a) temos exemplos de nomes em que o encontro entre
Fechadas/ i u as vogais do prefixo nominal e a do tema nominal é resolvido
Altas pela elisão de uma das vogais.
Semi-abertas/ e o Se repararmos há uma sequência do tipo [a+i] e [i+a], mas
Médias em ambas as sequências a vogal que prevalece é a vogal baixa
Aberta/ Baixa [a], podendo esta regra ser representada como:
a
i. [a+i → a] / [i+a →a]
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000)
Em (b), embora as palavras sejam de outra categoria lexical,
verbos, a elisão no radical verbal acontece como resultado de
Tal como foi apresentado anteriormente em relação às vogais um processo de imbricação1 do sufixo que marca o perfectivo
das línguas moçambicanas, estas foram reduzidas a cinco, do -il-e.
Proto-bantu. Em (c) são apresentados exemplos de elisão da vogal [i] do
Nesta língua, embora a penúltima sílaba da palavra seja sufixo locativo (-ini-).
sempre longa, esta não é marcada na escrita, pois a duração Esta regra pode ser formalizada como:
vocálica, na língua Copi, não é fonémica.
ii. V →  ⁄_ V ou ainda V → O ⁄ V _
[+alt; +ant] [-alt] [+alt;+ant] [-alt]
1.1.1. Processos fonológicos envolvendo vogais
Isto significa que a vogal [i] quando se encontra com uma
Tal como muitas línguas moçambicanas, a língua Copi não é outra vogal média ou baixa, independentemente da posição em
favorável à encontros de vogais. Por isso, quando a morfologia que se encontra é elidida.
ou a sintaxe cria condições para que tal aconteça, a fonologia
da língua encontra formas de resolver o problema, desfazendo
o encontro, utilizando diversos mecanismos de acordo com a
qualidade e a sequência das vogais envolvidas.
A seguir apresentamos de forma discriminada os processos
que envolvem vogais. 1
Cf. Ngunga 1998. Imbrication in Ciyao. In Maddieson, I. &Hin-
nebusch, T. J. (eds), Language History and Linguistic Description in Africa.
2: 167-176
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Página de Especialidade

SEMI-VOCALIZAÇÃO
INSERÇÃO Um outro processo que se aplica na resolução de hiatos é o
Outras vezes a língua recorre à inserção de uma glide como da semi-vocalização. Considerem-se os seguintes exemplos:
recurso para evitar o encontro entre duas vogais. A natureza da Exemplo (3)
glide depende da natureza das vogais em causa.
a) mwanana /mu-anana/ ‘criança’
Exemplo (2)
mwani /mu-ani/ ‘genro’
a) Kuyengisa /ku-engisa/ ‘ouvir’
Kuyengeta /ku-engeta/ ‘aumentar’
b) thombvwini /thombvu-ini/ ‘no nariz’
Kuyema /ku-ema/ ‘parar’
Kuyengetela /ku-engetela/ ‘aumentar’
c) cibhajyana /ci-bhaji-ana/ ‘vestidinho’
[u + e → uye]:
Como se pode ver nos exemplos em (a e b) a vogal [+alt;
+rec] sofreu uma semi-vocalização ao se encontrar com as
b) Kuyaneka /ku-aneka/ ‘estender’ vogais [+baix] e [+alt; +ant], tornando-se assim em [w]. Em
c) temos uma situação em que a vogal do tema nominal se
Kuyamukela /ku-amukela/ ‘receber’ encontra com a vogal do sufixo descontínuo que marca o
[u + a→ uya]: diminutivo e sofre, no entanto, uma semi-vocalização. Neste
caso, por se tratar de uma vogal [+alt; +ant], em posiçãio
primária, esta muda para [y].
c) Kuyimbelela /ku-imbelela/ ‘cantar’ Como se pode oobservar mais uma vez, a escolha da glide
[u + i → uyi] não é aleatória, só a vogal [+alt; +ant] é que passa para [y] e a
vogal [+alt; +rec] é que passa para [w].
Esta regra pode ser formalizada da seguinte como:
d) kuwola /ku-ola/ ‘recolher lixo’
iv. V→ G/ _ V
[u + o → uwo]
Segundo os dados acima analisados constatou-se que nesta
língua o encontro entre vogais pode ser resolvido através de
e) kuwuka /ku-uka/ ‘acordar’ processos como a inserção, a elisão e a semi-vocalização. Cada
um destes processos é condicionado pela natureza das vogais.
kuwulela /ku-ulela/ ‘entrar’
[u + u → uwu]
1.2. Sistema Consonântico
Após uma análise do comportamento dos sons vocálicos,
Como podemos observar nos exemplos acima, passaremos, em seguida, a analisar o comportamento dos sons
independentemente da natureza da vogal, quando uma vogal se consonânticos, procurando ver os processos fonológicos que
encontra com a vogal alta, recuada [u] há inserção de uma glide os envolvem.
para resolver o hiato. A natureza da vogal só vai influenciar na
escolha da glide. Como ponto de partida apresentaremos o quadro das
consoantes da língua Copi.
Esta regra pode ser formalizada da seguinte forma:
A língua Copi apresenta as seguintes consoantes;
iii. V+V → VGV / V V
Se repararmos para a natureza da primeira vogal notaremos
que se trata de uma vogal [+alta; +rec] [u], que ao se encontrar Tabela 2: Consoantes da língua Copi
com qualquer outra vogal condiciona a inserção de uma glide. Modo \ Bilabial Labio- Alveolar Palatal Velar Glotal
Essa glide pode ser [w] quando as vogais de encontro são [u, o]
Ponto dental
e [y] quando as vogais de encontro são [a, e, i].
Oclusiva p bh t dh c j k
g
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Nasal m n ny nrumbu ‘barriga’


ng’ nsuka ‘mosquito’
Fricativa f v, vh s z x h
sw zw
Africada ps bz pf bv ts dz b) Nkondo ‘pé’
Implosiva b d
Nguwo ‘capulana’
Vibrante r
simples c) mbiya ‘loiça’
Aproxim- v y w Os exemplos acima mostram a assimilação do ponto de
ante articulação da consoante seguinte (do tema nominal) por parte
Aprox. l da nasal do prefixo nominal.
lateral
Em (a) a nasal tomou o traço [+alv] por causa da africada
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000) alveolar [dz]; em b) a nasal toma o traço [+velar] por causa das
oclusivas velares [k; g] respectivamente, e em c) a nasal toma o
traço [bilabial] obviamente pelo traço da oclusiva bilabial [b].
De salientar que as oclusivas [b] e [d] escrevem-se·h e dh,
respectivamente para se distinguirem das implosivas [] e [], Um outro processo que ocorre no encontro entre duas
que se escrevem b e d, respectivamente. consoantes é o da elisão, e este tal como nas vogais também
decorre do processo de imbricação. Este processo, tal como
Exemplo (4) nas vogais, acontece em palavras com a categoria de verbo. A
Kubhika ‘cozinhar’ elisão no radical verbal acontece como resultado do processo
de imbricação do sufixo que marca o perfectivo -il-e.
Kubika ‘apresentar queixa’
Exemplo (7)
(1) -dhan- -dhan-e /-dha-il-n-e/ ‘chamar’
Kudhaha ‘fumar’
-khur- -khur-e /-khu-il-r-e/ ‘saciar’
Kudola ‘furar’
-won- -won-e /-wo-il-n-e/ ‘ver’

O mesmo se dá com a fricativa lábio-dental [v] que se escreve


vh para se distinguir da aproximante [V]. (2) -bhala -bhat-e /-bha-it-l-e/ ‘escrever’

Exemplo (5) -fenengela -fenenget-e /-fenenge-it-l-e/ ‘cobrir’

kuveka ‘pôr’ -pfala -pfate /-pfa-it-l-e/ ‘fechar’

Kuvhuna ‘ajudar’ -duketa -duket-e /-duke-it-t-e/ ‘experimentar’

Em seguida passamos a analisar os processos que envolvem -gubhuta -gubhut-e /-gubhu-it-t-e/ ‘sacudir’
as consoantes. -xota -xot-e /-xo-it-t-e/ ‘caçar’
Em (1) os exemplos mostram a formação do passado com o
1.2.1. Processos fonológicos envolvendo consoantes morfema –il-e e em (2) ilustram-se exemplos de verbos cuja
formação do passado é como morfema –it-e, mas em ambos
Tal como nas vogais, nas consoantes há também alterações os caso há uma imbricação e consequentemente uma elisão.
que provocam a ocorrência de alguns processos. Este processo pode ser ilustrado da seguinte forma:
A pré-nasalização, na língua Copi é marcada obviamente por –CVC-
uma nasal antes da consoante, mas tal nasal depende do ponto
de articulação da consoante seguinte, ou seja, da consoante a i. -CV-it-C- infixação -it- morfologia
ser nasalizada. Esta pré – nasalização respeita a uma certa regra ii. -CV-it- elisão (C) fonologia
que é a de assimilação. Vejam-se os seguintes exemplos:
iii. –CVt- elisão -i- (v+v) fonologia
Exemplo (6)
iv. –CVt-e sufixação -e morfologia
a) ndzala ‘fome’
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É importante referir ainda que nesta língua as consoantes 4. CONCLUSÕES


simples podem sofrer modificações e tais verificam-se através
O presente trabalho tinha por objectivo estudar a língua
dos processos que abaixo se apresentam:
Copi, concretamente uma das partes da gramática da língua, a
A labialização é um processo que, segundo Ngunga (2002), fonologia. Dentro do estudo fonológico desta língua procuramos
se verifica quando na produção das consoantes há um ligeiro abordar questões ligadas aos segmentos fonológicos,
arredondamento dos lábios. Ainda segundo o mesmo autor só nomeadamente as consoantes e vogais, analisando os processo
se labializam as consoantes não-labiais. fonológicos que se operam no interior desses segmentos, à
medida que eles se vão combinando.

Exemplo(8) O primeiro capítulo foi reservado à introdução; o segundo


foi reservado à revisão da literatura onde foram apresentadas
kokwani ‘avó’ abordagens anteriores sobre o tema em questão; o terceiro
dirigwi ‘pedra’ capítulo foi de análise dos dados por nós recolhidos, sobre as
alterações vocálicas e consonânticas que se operam na língua
kunwa ‘beber’ Copi e chegámos à conclusão que nesta língua tanto as vogais
Regra: [α –lab]→ [α +lab] /_[+lab/vel] onde α simboliza assim como as consoantes, são susceptíveis de modificações
o som alvo de labialização. No caso concreto trata-se dos sons sempre que a morfologia ou a sintaxe da língua criarem
[k, g e n] como ilustram os exemplos acima. condições. Tais condições estão ligadas à natureza das vogais
que se encontram, à natureza das consoantes que também se
vão encontrar.
Quando as consoantes são labiais, estas são velarizadas. As consoantes são modificadas através das regras de
Vejam-se os seguintes exemplos: palatalização, pré-nasalização, labialização, velarização e
Exemplo (8) verifica-se ainda o processo fonológico de assimilação do
ponto de articulação. E as vogais podem sofrer elisão, semi-
yimbwa ‘cão’ vocalização ou ainda se pode inserir uma glide entre duas
ndzambwa ‘lixo’ vogais.
kupwata ‘faltar/ ser preciso’
Regra: REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[+lab] → [+lab; +vel] / _ [+vel] Clark, J. & Yallop, C. (1990). An Introduction to Phonetics
and Phonology. Basil: Blackwell.
Para além dos processos acima referidos ocorre, ainda,
nesta língua o processo de modificação das consoantes por Dos Santos, F. L.1941. Gramática da Língua Chope. Impren-
palatalização e este processo é marcado pela glide y. sa Nacional de Moçambique. Lourenço Marques.
Exemplo (10) Firmino, G. 2002. A Questão Linguística na África Pós-colo-
nial. O caso do Português e das línguas autócto-
yiphya ‘algo novo’ nes em Moçambique. Promédia. Maputo.
libhyasu ‘vara’ Hyman, L. M. 1975. Phonology: Theory and Analysis. Holt,
Esta regra pode ser ilustrada como: Rinehart and Winston. New York.
[+lab] → [+lab; +pal] / _ [+pal] Katamba, F. 1989. An Introduction to Phonology. Longman.
London.
De acordo com os dados recolhidos só foi possível constatar
a regra de assimilação do ponto de articulação, como resultado Liphola, M. M. 2001. Aspects of Phonology and Morphology
do encontro de duas consoantes na fronteira entre morfemas, of Shimakonde.
mas no interior do mesmo léxico constatou-se que as consoantes Ohio State University. LTP
sofrem modificações como palatalização, labialização e
velarização. Meinhof, C. 1932. Introduction to the Phonology of the Bantu
Languages. (traduzido por N.J. van Warmelo) Ber-
Cada um desses processos é aplicado tendo em conta a lin: Verlag von Dietrich Reiner.
fonologia da palavra para que se evitem erros a nível do
léxico. Ngunga, A. 1997. A Lexical Phonology and Morphology of
the Ciyao Verb Stem. UMI Berkeley.
Ngunga, A. 2000. Phonology and Morphology of the Ciyao
45
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

Verb. CSLI Publications. Leland Stanford Uni-


versity. California. USA.
Ngunga, A.2002. Elementos da Gramática da Língua Yao.
Imprensa Universitária-UEM. Maputo
Ngunga, A. 2004. Introdução à Linguística Bantu. Imprensa
Universitária-
UEM. Maputo
Ngunga, A. 2006. Apontamentos de Fonética. (Manuscrito).
UEM Maputo
Sitoe, B. & Ngunga, A. (orgs.) 2000. Relatório do II Semi-
nário sobre a Padronização da Ortografia de
Línguas Moçambicanas. Universidade Eduardo
Mondlane. Maputo.

.
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46

Resumo de contribuições para a Folha


Páginas de especialidade e páginas em foco constantes de Nº 5 (Abril, 2003)
edições anteriores: Página de especialidade:
Passivas em Changana: uma abordagem no âmbito da teoria
Nº1 (Fevereiro 1997) de mapeamento lexical
Em foco: Feliciano Chimbutane
Em direcção à pós-graduação
O Império português responde por escrito ou estamos numa
Armando Jorge Lopes nice: sobre a situação luso-africana na perspectiva dos estudos
pós-colonialismo.
Ingemai Larsen
Nº2 (Agosto, 1997)
Passado-presente e passado-perdido: transitar entre a
Página de especialidade: oralidade e a escrita
Sobre o enfraquecimento da morfologia flexional verbal no
Ria Lemaire
Português de Moçambique.
Avelino Jeque
Em foco:
Reforçando a linguística e literatura. Parabéns Henrique!
Armando Jorge Lopes
Nº 3 (Junho, 1999)
Página de especialidade:
Dualismo na percepção da realidade: Utopia ou Alquimia? Nº 6 (Outubro, 2003)
Armando Jorge Lopes Página de especialidade:
Restrições na combinação e ordem das extensões verbais em Variação e variedades: o caso do Português
Ciyao Maria Helena Mateus
Armindo Ngunga
Cassamo e a oralização da escrita.
Herculano Thumbo
Em foco:
1ºs jornadas de Linguística na UEM: 10 anos de Linguística- O encanto da poesia no canto de Agostinho neto
1986-1996. Maria Aparecida Santilli
Armando Jorge Lopes.
Evidência linguística em processos criminais: a linguística
forense como um novo desafio para a l9inguística moderna.
Nº 4 (Outubro, 2002) Eliseu Mabasso
Página de especialidade:
Normas de cortesia e eufemismos sociais como factores de Em foco:
preservação da tradição Tsonga. Linguística da Paz: uma experiência brasileira.
Henrique Nhaombe Francisco Gomes de Matos

A Disciplina de literaturas africanas de expressão portuguesa


uma história em curso.
Ana Mafalda leite Nº7 (Abril, 2004)
Página de especialidade:
Em foco: Niketche, uma história de poligamia de Paulina Chiziane: a
Os novos cursos de linguística e literatura, línguas e tradução moçambicanidade revisitada.
e interpretação. Almiro Lobo
Gilberto Matusse
47

O papel que o CALL poderá desempenhar no ensino de Em foco


línguas em Moçambique. Actividade editorial no Departamento de Linguística e
Márcia dos Santos Literatura
Henrique Nhaombe
O ensino interdisciplinar de língua portuguesa em sala de
aula.
Joelma Saltosque dos Santos Abertura dos cursos de Mestrado e de Doutoramento em
Linguística a partir de Fevereiro de 2006
Em foco: Henrique Nhaombe
A SIL e a investigação linguística nos últimos anos.
Janet Hartahn
Nº 10 (Abril e Outubro de 2007)
Página de especialidade:
Nº 8 (Outubro de 2004) Redução Vocálica numa Língua Tipicamente Tonal
Página de especialidade: Marcelino Liphola
Como explicar os significados extra-linguísticos (ou
culturais)? Esboço para uma Análise da Equivalência no Léxico de Usos
Edouard Kitoko Nsiku Julieta Langa

Deveres Comunicativos através de rimas. As Lágrimas do Veterano de Yávànha Ahóna


Francisco Gomes de Matos Abudo Machude

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Sociedade Bíblica de Moçambique Ualalapi de Ungulani Ba kha Khosa: Diálogos com a História
Valente Tseco Nataniel Ngomane

Nº 9 (Abril e Outubro de 2006) Nº 11 (Abril de 2008)

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Chinua Achebe e a Interpelação da História Alguns Aspectos Correntes Da Educação Bilingue
Fátima Mendonça Lurdes da B.Vidigal Rodrigues da Silva

Uso Idiomático da Linguagem em Rádio


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Dogs’ Languages or People’s Languages? The Returning Of
Perfil Linguístico da República Democrática do Congo Bantu Languages To Primary Schools In Mozambique
Edouard Kitoko Nsiku Edouard Kitoko Nsiku

Os Empréstimos Lexicais do Português no Emarevoni e


os Critérios da sua Integração nas Classes Nominais do
Emarevoni. Nº 12 (Outubro de 2008)
Pércida Langa Página de especialidade:
A expressão de movimento com verbos causativos em
Variação Linguística do Português oral de Maputo- o caso dos
Changana
complementos oracionais seleccionados pelo verbo dizer
Bento Sitoe
Manuel Guissemo
Construções relativas directas e indirectas no Changana
Ezra Chambal
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48

José Craveirinha e Eduardo White: apontando algumas O plural dos nomes da classe 9 em Shimakonde
nuances dos projectos literários. Rosa Da Conceição Remy João Mitelela
Luís Cezerilo
Reflexões em torno da racionalização linguística nos países
africanos pós-coloniais
Pércida Langa
Nº 13 (Abril de 2009)
Página de especialidade: Em foco:
Análise contrastiva as formas de cumprimento entre Português The link between education and development
e Emakhuwa Lurdes da Balbina Vidigal Rodrigues da Silva
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em Moçambique
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estratégico
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Valdemiro Jopela
Nº 15 (Abril de 2010)
Página de especialidade:
Morfofonologia da marca do passado na língua Copi
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