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Departamento de Linguística e Literatura
Facudade de Letras e Ciências Sociais
Universidade Eduardo Mondlane
Campus Universitário Principal
Caixa Postal 257, Maputo, Moçambique
Fax: (258-21) 490890
E-mail: flcs@uem.mz
Website: www.flcs@uem.mz
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nas e de nos últimos tempos aparecerem mais materiais escri- ofones nas línguas Bantu. No ponto que se segue discutimos
tos, as línguas Bantu ainda carecem de estudos e registos. Pen- as posições desses autores. De salientar que ao longo de todo
samos também que um trabalho sobre propostas metodológi- o trabalho apresentamos apenas os tons baixos dos ideofones,
cas de compilação de um dicionário seria uma mais-valia para subentendo-se que onde não teremos os tons baixos estaremos
os que têm trabalhado na área da Lexicografia e por último, na presença de tons altos.
pensamos que o trabalho traz uma grande contribuição para
Segundo Ngunga (2004:195), “o termo ideofone foi introdu-
a Lexicografia da língua Changana, uma vez que se debruça
zido pela primeira vez por Doke (1968) no seu estudo sobre a
sobre metodologia para a compilação de um dicionário de ide-
língua Shona”. Este autor, refere ainda que “Os ideofones são
ofones, se considerarmos que, caso tal projecto se concretize,
definidos como a associação entre um determinado som, cor,
esse dicionário será pioneiro nessa língua.
estado, dor, intensidade, etc., a consequente reacção ou cons-
trução psíquica dos mesmos na cabeça do indivíduo ”.
1.6. Problema Por sua vez, Sitoe (1996: 345) defende que “Semanticamen-
te, os ideofones estão ligados a campos específicos e diver-
Os ideofones têm vindo a ser objecto de muitos estudos por
sos, tais como acções, sons, cores cheiros, posturas, atitudes,
parte de vários estudiosos, podemos citar exemplos de estu-
gestos, etc.” Este estudioso defende ainda que os ideofones
diosos como Doke (1935); Marivate (1981); Nkanbide (1985);
se caracterizam pelo seu alto grau de especificidade. Ngun-
Sitoe (1996); Kimenyi [s.d]; Ngunga (2000 e 2004); Langa (
ga (2004:195) parece-nos comungar da mesma posição, pois
2004); Beck (2005); Matambirofa (2009); Nhampoca (2009)
sustenta que “os ideofones são definidos como a associação
etc.. Contudo, notamos que dentre vários estudos, não existem
entre um determinado som, cor, estado, dor, intensidade, etc. e
os que abordam com profundidade a questão do significado
a consequente reacção ou construção psíquica dos mesmos na
dos ideofones ao nível de um dicionário bilingue, ou seja, alis-
cabeça do indivíduo”.
tar os ideofones da língua Changana e apresentar em Português
e de uma forma sistemática, o(s) seu(s) significado(s) múlti- Embora haja diferenças de abordagens, na definição do
plos, esgotando todas as suas nuances, segundo as normas le- ideofone, pensamos que todas as posições aqui apresentadas
xicográficas de compilação de um dicionário, com a excepção se assemelham e defendem que um ideofone é “o fenómeno
de Sitoe (1996) que apresenta, no seu dicionário (mas geral), através do qual alguns sons da linguagem humana podem, do
ideofones da língua Changana. E, tendo em conta que, seman- ponto de vista semântico combinar a figura mental com os sons
ticamente, “os ideofones estão ligados a campos específicos da fala. (Langa, 2004:59), citando Baumbach (1988) e Sitoe
e diversos, tais como acções, sons, cores cheiros, posturas, (1996). Sendo assim, concordamos com todas, contudo, para
atitudes, gestos, etc.” Sitoe (1996:345), ocorre-nos a seguinte o quadro teórico do nosso trabalho, baser-nos-emos, principa-
questão como problema de investigação: Será possível esgotar lamente, nas perspectivas de Langa (2004), Ngunga (2004) e
as nuances de um ideofone num dicionário bilingue? Sitoe (1996).
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Sobre ideofones 2.2.1. O Dicionário
Muitos estudiosos têm mostrado interesse em estudar os ide- Segundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa
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(2001), dicionário é um “conjunto de vocábulos de uma língua mesma posição é defendida por Sitoe (1991), citando Malkiel
ou dos termos próprios de uma ciência ou arte, disposto por or- (1967), ao apresentar as mesmas categorias para a caracteriza-
dem alfabética e com a respectiva significação ou a sua versão ção de dicionários.
noutra língua”. Também se pode considerar o dicionário como
um livro contendo palavras de uma língua, dispostas em ordem
alfabética, com os seus respectivos significados. Doke (1935), 2. 2. 4. Problemas de tradução da língua fonte (LF) para
Hartmann e James (1998) definem dicionário como um tipo de a língua alvo (LA)
obra de referência que contém os vocábulos de uma língua com Para Langa (1991), os factores de dificuldade na tradução
os seus respectivos significados. Wikipédia (pt.wikipedia.org/ não são apenas de carácter linguístico, mas haverá, também
wiki/Dicionario) a enciclopédia livre, define dicionário como uma importante intervenção de factores extra-linguísticos. E
sendo uma compilação de palavras ou dos termos próprios, ou nós pensamos que um desses aspectos é o anisomorfismo das
ainda de vocábulos de uma língua, quase sempre dispostos por línguas, como por exemplo a diferenças existentes na organi-
ordem alfabética. Por sua vez, o site Sua Pesquisa, defende zação das línguas naturais, dentre as várias diferenças temos
que “dicionário é um livro que possui a explicação dos signi- como exemplo, neste trabalho, o facto de a LA, não possuir a
ficados das palavras. As palavras são apresentadas em ordem categoria ideofone. Ora, “ sendo a língua um elemento chave
alfabética”. no relacionamento entre homens, onde não há um meio comum
Verificámos que dentre as definições aqui apresentadas, a do que permita a comunicação, a tradução deverá intervir, como
Dicionário Universal da Língua Portuguesa (2001) e a da Wi- instrumento de mediação interlinguística, na transmissão e tro-
kipédia são mais abrangentes, uma vez que incluem o aspecto ca de informações”. (Langa, 1991:08). É pois, a este processo
dicionário de especialidade, por essa razão, na nossa análise, que recorreremos no DICH para transmitir informações sobre
para a definição de dicionários consideramos estas duas pers- ideofones da LF para LA. E para tal é necessário apresentar os
pectivas. diferentes tipos de tradução e eleger a mais adequada ao nosso
tipo de dicionário.
Os dicionários podem ser monolingues (quando se debru-
çam sobre uma língua apenas), bilingues (aqueles que envol-
vem duas línguas, cf. 3.2.2) trilingues (quando envolvem três Tipos de tradução
línguas) ou multilingues (quando envolvem mais de três lín- De acordo com Langa (1991) existe a tradução literal, esta,
guas). muitas vezes, resulta na incompreensibilidade do texto, pelo
facto de incidir na forma, deixando de ter em consideração as-
2.2.2. Dicionário bilingue e seus objectivos pectos de diferenças de organização entre a LF e LA, pois o seu
objectivo é fornecer o equivalente de cada palavra. Existe tam-
“Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou bém a tradução literal adaptada, que é aquela em que o tradutor
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si- deve recorrer a adaptações e nela o texto traduzido conservará
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra tanto quanto possível a forma da LF, privilegiando a intenção
língua (língua alvo) ” Sitoe (1991). Segundo o mesmo autor, do autor e o significado. E por fim temos a tradução baseada no
um dicionário bilingue tem como principal objectivo ajudar significado, esta é considerada a tradução mais comunicativa e
os falantes que entendem uma língua (língua primeira) e não adequada e “consiste em transferir toda a mensagem para lín-
entendem a outra (língua segunda). Importa também, referir gua alvo de modo que a tradução esteja num estilo tão natural
que existem várias categorias de dicionários e uma dessas ca- quanto possível, adequado às estruturas gramaticais da LA”
tegorias é o dicionário temático. O DICH será temático. A este Wiesemann, citado por Langa (1991). Esta tradução permite,
respeito os sites (http://www.portrasdasletras.com.br) e (http:// sempre que necessário, fazer-se um arranjo às frases, palavras
pt.wikipedia.org/wiki/Dicion) avançam que um dicionário te- ou explicações para transmitir o significado da LF para a LA.
mático é aquele que organiza ou reúne vocabulário específico,
de determinada ciência, arte ou actividade técnica. Tendo em conta a natureza e os objectivos do DICH, é ao
último tipo de tradução que recorreremos, pois, os dois pri-
meiros tipos além de serem pouco comunicativos, não nos per-
2.2.3. Sobre caracterização de dicionários mitiriam fornecer os significados dos ideofones do Changana
para o Português porque esta língua nem sequer possui ideofo-
Quanto à caracterização de dicionários, Househoulder e Sa-
nes. Portanto, uma vez que a tradução baseada no significado
porta (1967) postulam que os dicionários podem ser caracteri-
permite fazer-se um arranjo às frases, palavras ou explicações
zados segundo a sua Extensão, Perspectiva e Apresentação. A
para transmitir o significado da LF para a LA, temos mais pos-
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é assim como aparecerão as entradas no DICH. Este exemplo va refere-se à forma como o compilador/lexicógrafo perspecti-
mostra que na impossibilidade de traduzir o ideofone -khèhlè va o seu trabalho e no tipo de abordagem que irá adoptar; se a
para o Português podemos introduzir a interjeição pumba para abordagem é diacrónica ou sincrónica e por fim, se o dicioná-
facilitar a compreensão daquele. rio será organizado por ordem alfabética, por som, por temas,
ou outras formas. Sitoe (1996) defende a mesma posição, ao
avançar que:
3.4. Apresentação, Extensão e Perspectiva
A perspectiva baseia-se no modo como o compilador
Vários estudiosos de Lexicografia defendem que os dicioná-
encara o trabalho e no tipo de abordagem adoptada: se o
rios podem ser caracterizados segundo a sua Extensão, Pers-
trabalho é diacrónico (cobrindo um vasto período) ou se
pectiva e Apresentação, posição com a qual concordamos. A
é sincrónico (confinando-se a um determinado período);
seguir, apresentamos aspectos relacionados com estas catego-
se o material no dicionário será organizado pela ordem
rias de caracterização de dicionários.
alfabética; por temas; por som (como nos dicionários de
rimas); por conceitos, ou ainda segundo outros meios e
3.4.1. Apresentação critérios
Esta categoria refere-se à concretização (em forma de di- Na revisão bibliográfica efectuada, verificámos que as po-
cionário) dos objectivos e princípios pré-estabelecidos pelo(s) sições de Househoulder e Saporta (1967) e Sitoe (1996) são
compilador(es) do dicionário, Sitoe (1991). semelhantes e nós concordamos com elas, daí que na nossa
análise, enveredamos pelas perspectivas destes autores.
3.4.2. Extensão
Segundo Sitoe (1991), a extensão tem a ver com o tamanho e 4. O Dicionário de Ideofones do Changana (DICH)
o âmbito do dicionário: procura saber quantos verbetes o dicio- O dicionário de Ideofones do Changana será um dicionário
nário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico analisado; bilingue, onde iremos alistar os ideofones na língua Changana
quantas línguas foram envolvidas; e o grau de concentração de e apresentar as suas explicações em Português. Neste capítulo
informação nos verbetes. Já Househoulder e Saporta (1967) abordamos questões relacionadas com os objectivos e o desti-
defendem que a categoria Extensão refere-se aos seguintes as- natário do DICH.
pectos: a) densidade/volume/número de entradas, b) número
de línguas envolvidas e c) o grau de concentração de informa- 4. 1. Objectivos do DICH
ção nos dados lexicais. Tratando-se da extensão de um dicioná- O tratamento dos verbetes, em qualquer dicionário é deci-
rio, temos a obrigação de nos referirmos aos elementos chave dido pelo compilador, tendo em conta o grupo alvo por ele
que constituem esta categoria. É o caso de verbetes e vedetas seleccionado Sitoe (1991), facto que faz com que a questão dos
ou entradas. objectivos de um dicionário esteja estritamente ligada à do des-
tinatário do mesmo. O dicionário de que pretendemos avançar
dados para a sua compilação tem os seguintes objectivos:
Verbete e Vedeta
Verbete é toda a informação que se tem sobre a unidade le- 1. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se
xical descrita, (vedeta ou entrada), incluindo a própria unidade exprimam na sua língua usando ideofones;
lexical. Um verbete, de uma forma geral, apresenta os seguintes 2. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se ex-
componentes: entrada ou vedeta, origem, informação gramati- primam em Português, através de enunciados que na sua língua
cal, glosas ou rótulos, equivalentes e/ou definições, material envolveriam ideofones;
ilustrativo, sub-entradas, remissões e referências, Sitoe (1991).
A vedeta ou entrada é que encabeça o verbete. As vedetas são 3. Fornecer aos falantes de Português meios para “compre-
as unidades lexicais ou gramaticais que constituem as entradas enderem” o que em Changana é expresso por ideofones.
do dicionário e são apresentadas, geralmente em bold e regis- 4. 2. Destinatário do DICH
tadas em ordem alfabética.
Os destinatários do Dicionário de Ideofones do Changana
são:
3.4.3. Perspectiva 1. Os falantes da língua Changana que queiram perceber
De acordo com Househoulder e Saporta (1967), a perspecti- melhor o funcionamento dos ideofones na sua língua;
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2. Os falantes do Português que queiram perceber melhor o bom falante de Changana, sentiria que há nesta tradução algo
funcionamento dos ideofones no Changana; em falta, que a ideia que se tem na frase em Changana não é
completamente esgotada na LA.
3. Os estudiosos de línguas Bantu (falantes de qualquer lín-
gua natural), em geral e em particular os estudiosos de
língua Changana.
5. Metodologias
5.1. Metodologia de recolha de dados
4.3. Sua extensão
5.1.1. Pesquisa bibliográfica
Considerando que a extensão tem a ver com o tamanho e o
Para a recolha de dados efectuamos uma pesquisa bibliográ-
âmbito do dicionário, onde se procura saber quantos verbetes
fica, em que tivemos como obra-base o Dicionário Changana
o dicionário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico
– Português, da autoria de Sitoe (1996), donde retiramos todos
analisado; quantas línguas foram envolvidas; e o grau de con-
os ideofones que o dicionário contém. Mas também recorre-
centração de informação nos verbetes, podemos afirmar que
mos a este tipo de pesquisa na fase da revisão bibliográfica e
se pretende que o DICH tenha cerca de mil verbetes (será um
do enquadramento teórico.
pequeno dicionário). E neste trabalho, na amostra em anexo,
apresentamos cerca de noventa (90) verbetes.
Quanto ao grau de cobertura do léxico, concentramo-nos nos 5.1.2. Recolha de contos e histórias de vida
ideofones. O dicionário envolve duas línguas, Changana, (LF) Recolhemos contos changanas junto de falantes de Changa-
e Português, (LA), portanto, é bilingue. E tentamos, na medida na (na província de Gaza, no distrito de Chókwè, localidade de
do possível, apresentar todas as nuances de cada ideofone, ten- Lionde e Chókwè cidade), para extrairmos desses contos, ide-
do em conta os dados recolhidos, isto corresponde ao grau de ofones, uma vez que já notámos que estes textos, na tradição
concentração de informação nos verbetes. changana, são ricos em ideofones. Fizemos também a recolha
de histórias de vida junto de falantes de Changana, no mesmo
espaço geográfico donde extraimos dados (ideofones) para a
4.4. Sua perspectiva
nossa análise. E verificámos que as histórias de vida, também,
Tendo em conta que a perspectiva baseia-se no modo como na tradição changana são ricas em ideofones.
o compilador encara o trabalho e no tipo de abordagem adopta-
Há que frisar que para efectuar a recolha de contos e histó-
da, podemos afirmar que no DICH, para comodidade de apre-
rias de vida, com a ajuda dos informantes, criamos pequenos
sentação e para não sobrecarregar a secção da letra k, vamos
grupos, em que os falantes nativos do Changana apresentaram
representar o prefixo ku- por um hífen e assim os ideofones
contos e histórias de vida e registámo-los num gravador digital
serão alfabeticamente ordenados pela primeira sílaba do seu
para sua posterior transcrição. Para o caso dos contos, não dis-
radical. Os usuários do dicionário serão os falantes da língua
criminamos os informantes em termos etários, portanto, todo
Changana que queiram perceber melhor o funcionamento dos
o falante de Changana, desde que fosse nativo e presente no
ideofones na sua língua; os falantes do Português que traba-
momento da recolha, poderia apresentar o seu conto. Quanto às
lhem com a língua Changana; e queiram perceber o funciona-
histórias de vida seleccionamos informantes com idade igual
mento dos ideofones no Changana; os estudiosos de línguas
ou superior a 30 anos, por acreditar que possuem uma experi-
Bantu (falantes de qualquer língua natural), em geral, e em
ência sólida sobre a língua. Tivemos 9 informantes, dos quais
particular os estudiosos de língua Changana.
quatro (4) homens e cinco (5) mulheres.
No final do nosso trabalho apresentamos uma amostra do
DICH, onde exploramos os múltiplos significados de cada ide-
ofone, caso os tenha, tendo em conta o estabelecido na sua 5.2. Metodologia de análise de dados
extensão e perspectiva. Para o efeito, seleccionamos aqueles Depois de apresentar a teoria em volta da produção de dicio-
que achamos que a sua tradução da língua Changana para a nários, partimos para a análise de dados, com o objectivo de
Portuguesa constitui um desafio, tendo em consideração as apresentar uma proposta para a compilação de um dicionário,
dificuldades que o processo de tradução de uma língua para neste caso concreto, de ideofones em Changana. A metodolo-
outra impõe; por exemplo, como transmitir a ‘sensação’ de gia usada foi de acordo com os objectivos do dicionário que
“Andzhava wuyo ntli, hi mimange”? Diríamos, por exemplo, se pretende compilar e seguimos um modelo adaptado a partir
que o cesto está demasiadamente cheio de mangas, mas um do de Sitoe (1991), com os seguintes passos: 1- alistamento
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6. Uma proposta metodológica para compilação de um 6.2. Identificação e descrição dos significados dos ide-
dicionário de ideofones do Changana ofones
Na fase da análise de dados apresentamos alguns passos Neste ponto, a partir das unidades lexicais alistadas no ponto
metodológicos para a compilação de um dicionário de ideofo- (6.1), procede-se à identificação do (s) significados dos ideofo-
nes do Changana, com base nos aspectos já mencionados em nes ainda na língua Changana, recorrendo aos diferentes con-
(5.2). textos em que foram usados pelos falantes e onde for necessá-
rio com a ajuda da análise componencial, pois entendemos que
sem conhecer melhor os significados dos ideofones na LF não
6.1. Alistamento das unidades lexicais podemos descrevê-los com rigor na LA.
Este passo metodológico diz respeito à inventariação com- Feita a identificação dos significados dos ideofones avança-
putorizada de todas as unidades lexicais e gramaticais contidas se para a sua descrição. Se se tratasse de um dicionário bilin-
no corpus, Sitoe (1991). São estas unidades que, no dicionário, gue geral, iríamos proceder à apresentação das vedetas, na LF
irão encabeçar os verbetes; são as vedetas ou entradas. Neste e dos seus equivalentes, na LA. Mas sendo um dicionário de
ponto do nosso trabalho, alistamos vinte (20) ideofones, ape- ideofones e considerando que os ideofones pertencem a uma
nas para ilustrar como se procede na fase de alistamento de categoria que o Português (LA) não possui, não será possível
unidades lexicais, pois no fim do trabalho (Anexo 1) apresen- fornecer equivalentes imediatos dos ideofones dados em Chan-
tamos uma amostra mais extensa. gana, excepto em casos de alguns ideofones onomatopaicos,
razão que nos fez recorrer ao mecanismo de explicações para
fornecer os significados dos ideofones e ao uso de comentários
-bòhlò nas glosas ou no material ilustrativo. E, com efeito, explicare-
mos assim o significado dos ideofones:
-bùtà
-bva
2.
-chàchàchà
-chàchàchà id. de do ferver de coisas pouco espessas: mu-
-cìnaa
phungu wa n’wana wuri chàchàchà a papa da criança está a
-cwii ferver [com a agitação e ruídos próprios de papas a fervem ao
-fà-fà-fà lume].
ou ideofone com o significado de.... mas também recorrere- verificação dos sentidos junto aos falantes tem por fim assegu-
mos a algumas expressões que irão auxiliar a transmitir um rar a cobertura de todos os sentidos importantes de cada unida-
significado o mais próximo possível do dos ideofones na LA, de lexical. E para o caso do DICH, a verificação dos sentidos
não apenas o significado lexical, “linguístico”, mas também e junto dos falantes nativos ajudar-nos-á a incluir o maior núme-
sobretudo o significado “sensorial”, dinâmico dos ideofones. ro possível dos sentidos dos ideofones que porventura possam
Para isso as glosas e os comentários desempenham um papel ainda ter sido omitidos nos passos anteriores.
crucial.
Para o nosso DICH a verificação será feita junto de falantes
No exercício de identificação dos significados dos ideofones nativos da língua Changana, mas iremos também nos benefi-
em Changana verificamos que são muitas as vezes que consta- ciar da introspecção, uma vez que somos falantes nativos da
tamos que apresentam vários significados. Portanto, neste pro- língua.
cesso ocorre a polissemia, como podemos ver nos exemplos
que se seguem:
6.4. Selecção discriminação e hierarquização dos sen-
3.
tidos
-baà – este ideofone significa ser branco (a cor), mas não
Este passo tem por finalidade estabelecer o número mínimo
só, significa também ser/estar limpo; ser/estar claro, evidente,
de sentidos de uma unidade lexical polissémica. (Sitoe:1991).
visível; estar vazio, portanto, o ideofone kubaà é polissémico,
Estes sentidos devem ser reconhecidos como relevantes e dis-
pois apresenta vários significados.
tintos. Para tal, o compilador deve hierarquizá-los e sequenciá-
Mas também ocorre a homonímia: los.
4. Há vários critérios para a hierarquização dos sentidos num
dicionário, atendendo ao tipo e aos objectivos de cada dicioná-
-mpfi - este ideofone significa pegar de surpresa, mas signi-
rio. Dos vários critérios destacamos os seguintes:
fica também estar demasiado cheio (um local, um recipiente,
etc.). O critério histórico em que os sentidos são sequenciados
em ordem cronológica do seu surgimento. O critério estatísti-
co que considera o grau de frequência, na hierarquização dos
Os exemplos apresentados (3 e 4) mostram que a polisse- sentidos. Para o DICH não recorreremos exclusivamente à um
mia e a homonímia ocorrem no processo de identificação dos destes critérios, tendo em conta o que Sitoe (1991), afirma, nos
significados dos ideofones na LF. Para a identificação dos sig- seguintes termos:
nificados dos ideofones, onde ocorrem esses dois factores, é
Não há um único sistema lógico ou epistemológico
importante considerar o contexto em que o ideofone ocorre e
ao mesmo tempo eficaz e suficientemente detalhado
ter também, um bom conhecimento da língua.
para ser usado de modo inequívoco e exclusivo. Por
vezes será também a experiência, o meio cultural e a
6.3. Verificação dos sentidos das unidades lexicais alis- intuição do compilador que dará o cunho pessoal ao
tadas tratamento das entradas
Depois de se alistarem as unidades lexicais e as suas respecti- Tendo como base a citação acima, para a hierarquização dos
vas explicações ou significados chega-se à fase da verificação. sentidos no DICH, recorreremos aos critérios estatístico e/ou
Esta seguirá os seguintes passos, adaptados de Sitoe (1991): histórico ou ainda à nossa intuição e introspecção. E ainda usa-
remos alguns símbolos que nos auxiliarão na discriminação e
a) Confrontação com dicionários anteriores hierarquização de sentidos (cf. 6.4.1).
Para o DICH temos como base de confrontação o dicionário Passamos a apresentar alguns exemplos que demonstram
Changana – Português, de (Sitoe:1996). Mas os contextos em como é que uma mesma entrada pode ser apresentada de for-
que aparecem os ideofones recolhidos junto dos informantes mas diferentes, em dois dicionários diferentes, dependendo
foram também de grande validade. dos objectivos do seu compilador, no que respeita à hierarqui-
b) Verificação dos sentidos junto dos falantes nativos zação dos sentidos. Trata-se do ideofone -mpfi. Vejamos qual
é o tratamento que se dá a este ideofone em Sitoe (1996) e no
Esta verificação permite que o compilador de um dicionário DICH:
consiga recolher o maior número possível dos sentidos de cada
unidade lexical, como sustenta Sitoe (1991), ao afirmar que a
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6. 7.
No Dicionário Changana – Português (Sitoe:1996) -bàhasàà id. de estarem dispersos, de estarem espalhados...
baà- 1. de ser branco. 2. de ser claramente visível, evidente. -bèbu (<-bebula) id. de erguer (uma criança), de carregar
Mhàka yiyòbaà! O caso é bem evidente. 3. de estar completa- (uma criança)...
mente vazio. Svìtolo svitèbaà! As lojas estão completamente Nos exemplos acima, extraídos de dois verbetes, mostramos
vazias. [cf. -bàsà]. como é que a vírgula é usada para separar sinónimos na expli-
cação dos significados dos ideofones em causa, onde temos,
para o caso do ideofone bàhasàà, o primeiro significado: de
No DICH estarem dispersos e o segundo: de estarem espalhados.
-baa id.de (<-basa) de ser bem branco, branco branqui- Ponto e vírgula (;)
nho (branco como a neve):
O ponto e vírgula será usado para discriminar sentidos dis-
Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa tintos de uma mesma entrada (polissemia):
bem branca, comprei uma
blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o as-
sunto ou o problema): mhaka yiyo 8.
baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como -baa (<-basa) id.de ser bem branco, branco branquinho
em uma noite de luar): handle (branco como a neve):
kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completa- Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
mente vazio: svitolo kuyo baà as bem branca, comprei uma
lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou lim- blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o assunto
pinho ( como a roupa ou o problema): mhaka yiyo
perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo baà a mi- baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como em
nha roupa está bem limpa ou a uma noite de luar): handle
minha roupa está bem limpinha. kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completamente
vazio: svitolo kuyo baà as
6.4.1 Símbolos usados para discriminação de sentidos
lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpi-
A demonstração das várias vertentes relacionadas com a nho ( como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya mina
hierarquização dos sentidos dos ideofones, é feita através de yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a
alguns símbolos, que o próprio programa (Tshwanelex) que
usamos para a elaboração do dicionário de ideofones já tem minha roupa está bem limpinha.
programados. Na apresentação dos sentidos partiremos do
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11.
Dois pontos (:) -cwee id. de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
Os dois pontos introduzem frases ou sintagmas ilustrativos, mapinewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
ou seja, sempre que se pretender dar um exemplo de ocorrên- pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
cia da unidade lexical que é vedeta, aparecerá, depois desta, o -wàà (<-wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
símbolo dois pontos (:). mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa. [como se fos-
se uma cheia ou como se a água escapasse de uma conduta].
já ficou claro que não é possível obter para todos os ideofones, advirá de exemplos por nós produzidos (como falantes nativos
equivalentes imediatos, sendo isso possível para alguns, sobre- do Changana) e também de extractos de textos recolhidos jun-
tudo aqueles que imitam sons (as onomatopeias...), pelas ra- to de falantes e em algumas vezes traremos alguns exemplos
zões já expostas, chegados a esta fase a nossa tarefa consistirá extraídos de Sitoe (1996).
em apresentar as entradas na LF e fornecer as suas explicações
No DICH todos os exemplos estarão em itálico e serão se-
na LA, recorrendo a estratégias para uma transmissão dinâmi-
guidos pela respectiva tradução em Português e sempre que
ca do sentido dos ideofones.
possível, por um comentário. Quanto ao tipo de material ilus-
trativo apresentaremos apenas sintagmas e frases, como ilus-
tram os exemplos em (14 e 15):
6.5.3. Glosas
As glosas indicam o mais concisamente possível e numa lin-
guagem o mais simples possível as especificidades e as esfe- Sintagmas
ras de aplicação da entrada, Sitoe (1991). No DICH teremos
14.
também glosas que desempenharão efectivamente a função já
descrita por este autor, ou seja, a informação que aparecerá nas -nkatlà id. de estar encaixado (firmemente): Nsimbi nkatla!
glosas do nosso dicionário auxiliará o usuário a perceber me- ferro firmemente encaixado [como por exemplo um parafuso
lhor o significado da unidade lexical descrita, bem como o seu bem apertado].
contexto de uso e/ou a sua área de aplicação. As glosas apa- -rhotlò id. de estar bem fechado à chave (como p.e. uma por-
recerão imediatamente depois da explicação, entre parênteses ta) xipfalu rhotlò a porta está bem fechada à chave.
curvos, como podemos ver nos exemplos que se seguem:
as duas línguas, nem sempre será possível esgotar as nuances Miti, L. (2006). Comparative Bantu Phonology and Morphol-
dos ideofones, mas para alguns isso é possível. ogy. Cape Town: CASAS.
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-baà (<-basa) id. de ser bem branco, branco branquinho está presa na armadilha agita-se.
(branco como a neve): Nixave buluza ya kubasa yiku baà
-copè (< copeta) id. de pestenejar, de piscar os olhos (como
comprei uma blusa bem branca, comprei uma blusa branca
p.e. quando temos a sensação de que algo está para penetrar
branquinha; de ser bem evidente (o assunto ou o problema):
nos nossos olhos): atè cope kuve xilavi se xingene tihlweni
mhàka yiyò baà o caso é bem evidente; de estar bem claro
pestenejou enquanto o cisco já havia lhe entrado no olho.
(como em uma noite de luar): handle kuyo baà lá fora está
bem claro; de estar completamente vazio: svìtolo kuyo baà -cwee id.de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
as lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpinho mapenewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
(como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
baà a minha roupa está bem limpa ou a minha roupa está -cwiì id. de chiar, guinchar (como o porco quando vai ser
bem limpinha. degolado): khumba ritè cwii o porco guinchou.o porco deu cá
-bè¹ id. de estar num ponto alto em termos de qualidade uma chiadeira!
ou intensidade (como p. e. a roupa a uma modelo esbelta): -dadanànà id. de estar bem inchado (como p. e. depois de
nkhancu wutèmu bè! o vestido fica-lhe a matar Dicionário levar uma picada de vespa): rhama ra Sara riyo dadanànà a
Changana - Português (Sitoe, 1996:08). bochecha da Sara até parece que vai rebentar de tão inchada.
-bè² id de produzir um som surdo: i nchini xingo bè o que é -dlónyò (<-dlonyoka) id.de olhar com os olhos demasiada-
que está a produzir um som surdo. mente salientes (como quando censuramos alguém com os
-be id de ser bem teimoso, casmuro: wena hambi loko ubze- olhos): se akuni dlònyò e então fuzilou-me com os olhos em
liwa uyala uku bè tu mesmo que te repreendam continuas chispas.
casmurro.. -dlónyo (<-dlonyola) id.de ferir ou picar (no olho): se ukuni
-bì¹ id. de ser bem parecido com alguém: n’wana lweyi ayo- dlónyo hi litiho e meteste-me o dedo olho adentro
mu bì tàtanà wakwe esta criança é a cópia do pai. -dokòdokò id. de cobiçar, desejar fortemente algum alimento
-bì² id. de desaparecer completamente ou por longo tempo apetecível, de ficar com água na boca: n’wana até dokòdokò
(como p. e. quando o sol desaparece no fim do dia): jàmbù loko avone xidonsani quando a criança viu o rebuçado cres-
nyamalalo bì o sol desapareceu completamente; de estar ceu-lhe água na boca.
completamente acabado: ntirho bì o emprego acabou! dwa (<-dwaka) id.de vir à superfície de vez em quando ti-
-bvibvinini id. de estar bem despenteado, desmazelado rando apenas uma parte do corpo (como p. e. o hipopótamo
(cabelo humano): uya xikolweni ni misisi leyo yingayo bvib- ao nadar): mpfuvu leyi yihlambelaka yili dwà o hipopótamo
vinini!? vais à escola com o cabelo assim desmazelado!?; de que está a nadar vem à superfície de vez em quando.
estar desgrenhado (p.e. o pêlo de um animal): hayini voya ra -fàhlàfàhlàfàhlà (<-fahlamela) id. de crepitar, do som dos
mbuti riku bvibvinini? Porque é que o cabrito tem o pêlo des- alimentos a fritar em óleo (como o peixe a fritar em óleo bem
grenhado que nem uma velha escova de dentes? quente): laha gozinyeni leli kotwala kufàhlàfàhlàfàhlà ntse-
-bvò.(< bvonga) id. de espetar com firmeza (p.e. uma injei- na! aqui nesta cozinha não se ouve nada que o crepitar do
ção na nádega): loko dokodela atexi bvò xin’wanana xa mina óleo com algo a fritar.
hi nayethi muzimbha wa mina wutlhele wudzividza quando o -foo¹ (<- foma) id. de arder (como quando se põe limão
médico espetou a agulha nádega adentro ao meu bebé estre- numa ferida aberta, ou os lábios devido ao piripiri: sovorhi
meci toda. leli labava, minomo ya mina yo foo este piripiri pica tanto
-cambùcambù id. de caminhar pelado, como veio ao mundo que até tenho os lábios em chamas.
(o homem): wanuna lweyi ango cambùcambù ndleleni injhe -foo² (<- foma) id. de chiar, de zumbir (como a água prestes
wativa? será que aquele homem que caminha todo pelado a ferver): mati se mali foo a água já está na fase do ferve-
está em juízo perfeito? não-ferve.
-chi id. de ser numeroso e destruitivo: tihomu tite chi -foo³(<- foma) id. de sentir dores causadas por um grande
amasin’wini os bois arrasaram a machamba toda! esforço ou desgosto: tatana andzikwatisile mbilu ya mina yo
-chukù (<-chukuvanya) id. de se mexer, de se agitar, de foo o meu pai ofendeu-me tanto que até o coração me sangra.
se debater (como p.e. uma gazela presa numa armadilha): -gàbà id. de ser largo (como p. e. as orelhas do elefante):
mhunti leyi hi phasiweke lithakene yili chukù a gazela que
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ndlopfu yini tindleve taku gàbà o elefante tem orelhas largas; estava uma pedra!.
de estar/ser descaído (como os lábios ou as orelhas quando
-khwa² id. de estar com muita sede (com a garganta a secar):
são demasiadamente grandes): ani minomo yaku gàbà tem
nkolo wa mina uyo khwa estou com a garganta seca de sede.
lábios demasiadamente grandes
-khwa³ id. de serem iguais como gémeos: lavaya vambirhi
-gabì-gabì id. de beber atirando a água à boca com a mão
vomaha hi ku khwa aqueles dois são tão parecidos como
em concha (como quando se bebe num rio): mufana ali gàbi-
duas gotas de água; de assentar como uma luva: nkhancu
gàbi mati o rapaz bebe água usando a concha da mão.
wuyomu khwa o vestido ficou-lhe a matar!
-gi (<-ginya) id. de agarrar de surpresa: mamana ateyi gi
-khwekè (<-khwekela) id. de estar entalado (p.e. um pedaço
huku a mamã pegou a galinha de surpresa.
de carne entre os dentes): xinyamani xitè khwekè ka matinyo
-gùbù (<-gubuta) id. de sacudir alguma coisa: kokwana alili um pedaçinho de carne entalou-se nos dentes.
gùbù sangu la yena a avó sacode a sua esteira.
-khwipininì id. de ser curto (o vestuário): xikhipa lexi an-
-gwàdzàà id. de ajoelhar-se (rapidamente): nyanga yitè gayambala xo khwipininì a camisete que ele usou e muito
gwàdzàà kusuhi na mina o curandeiro ajoelhou-se perto de curta
mim.
-kòyò id.de estar bem carregado de frutos (diz-se das árvo-
-gwantla (<-gwatlanya) id. de estrondear (como a porta que res): mangi awuyo kòyò a mangueira estava bem carregada
se fecha com força): xipfalu xitèti gwantla hi mhaka ya moya de mangas.
a porta fechou-se com estrondo por causa do vento; de fechar
-mbii id. de jazer sem vida em grande quantidade (como p.e.
violentamente, de bater com a porta (como p.e. no meio de
as galinhas mortas numa capoeira por causa de uma epidemia
uma discussão): asuke na akwatile xipfalu ayoyendla hi kuxi
aviária: tihuku atiyo mbii xihahlwini um mar de galinhas ja-
gwantla saiu zangando que até bateu com a porta.
zia sem vida na capoeira
-halakàhlà id de fazer um ruído (como p. e. o dos ossos divi-
-mbuxù id.de deitar-se e formar uma massa no chão (como
natórios ao espalharem-se no chão: nyanga yitèti halakahla
p. e. o hipopòtamo deitado ou uma pessoa gorda deitada):
ntihlolo o curandeiro lançou os ossos.
homu yiyo mbuxù o boi está deitado todo feito uma monta-
-hàtì-hàtì (<-hatima) id.de brilhar, de faiscar, de relampejar, nha.
de reluzir(como quando relampeja): ko hàtì-hàtì svikomba
-mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como p. e. num
lesvaku kutana mpfula os relâmpagos rasgam os céus; é sinal
comício bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajon-
de que está para chover.
dzi a escola está prenhe de alunos.
-hònihòni (<-honisela) id.de adiar , de fazer delongas, fazer
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugitivo que é
ouvidos de mercador, não ligar conselhos: atè hònihòni vaza
apanhado despercebido): maphoyisa matemu mpfi os polícias
vamutekela hinkwasvu fez delongas até que lhe tiraram tudo.
pegaram-no de surpresa.
-hònòò (<-honoka) id. de estar com os olhos arregalados, de
-mpfù id. de estar aglomerados: timbuti tiyo mpfù xib’aleni
estar com os olhos esbugalhados: nimukume na ayo hònòò
os cabritos estão aglomerados no curral.
encontrei-o com os olhos esbugalhados sn. dlònyò.
-mphaa id. de estar totalmente aberto, de estar escancarado
-karakàrà id. de subir bem rápido (p.e. para uma árvore):
(como p. e. uma porta): vatshike xipfalu xiyo mphaa deixa-
xipixi xitè karakàrà nsinyeni o gato subiu bem rápido para a
ram a porta escancarada.
árvore. [como fazem os gatos e os macacos].
-mphù (<-mphuma) id. de ser estar escuro, de se tornar escu-
-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (p. e. a cabeça de al-
ro: wusiku liyo mphù é noite cerrada.
guém, com um instrumento contundente):afike akumu khèhlè
nhloko hi bewula chegou e pumba, deu-lhe com o machado -mpsom (<-mpsompsa) id. de beijar, de chupar, de sugar
na cabeça. produzindo um ruído: akangatele mati ka voko akuma mp-
som. colheu água na concha da mão e sugou ruidosamente.
-khìtsì id. de estar carregado de nuvens (como p. e. o céu um
pouco antes da chuva):namuntlha kutana mpfula henhla kuyo -mpùlu id.de agitar a cauda (p.e. o cão quando vê o dono):
khìtsì hoje o céu está carregado de, sinal de que vai chover. mbzana yili mpùlu o cão agita a cauda.
-khwa¹ id. de estar seco (p. e. o pão): pawa aliyo khwa o pão -mpùlu-mpùlu id. de agitar rapidamente a cauda (p.e. o cão
quando vê o dono ou quando se lhe dá de comer): mbza-
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na yili mpùlu- mpùlu o cão agita a cauda. rapidamente. cf. pupulava a minha machamba.
Mpùlu.
-pompom - pompó (como p.e. a buzina de um
-nàmù (<-namuka) id. de descolar-se, de desprender-se, de automóvel):movha wute pompom o carro buzinou ou o carro
soltar-se (como p. e. a sola do sapato): xifambu xitè nàmù. o fez pompó.
sapato descolou-se.
-psàmbi (<-psàmbita) id. de deitar apenas um pouquinho:
-nchì (<-nchima) id.de estar bem sujo (a roupa): mpahla leyi mamana ate psàmbi svifurhana paneleni a mama deitou só
uyambaleke yiyo nchì a roupa que usaste está bem suja; (fig.) um pouquichinho de óleo na panela.
de ser demasiadamente escuro: mufana lwiya ani ntima waku
-pshandlà (<-pshandlaka/sa) id. de cair no chão e esbor-
nchì. aquele rapaz é demasiadamente escuro.
rachar-se .(como p.e. uma papaia bem madura): payipayi
-nciì id. de ir-se embora, de dobrar uma esquina (desapare- pshandla! a papaia caiu e esborrachou-se.
cendo numa esquina ou numa curva): vajondzi vatè nciì os
-psirrr id.do tocar do apito ( como p.e. para anunciar o fim
estudantes dobraram a esquina.
de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku psirrr
-ncikì id.de estar suspenso (como alguém que se suicidou hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo terá ter-
por meio de uma corda): vamukume na ayo ncikì encontra- minado.
ram-no suspenso na ponta da corda; de oscilar (como o pên-
-psiyò (<-psiyota) id. de chamar por meio de um assobio:
dulo): xikalo lexi xihayekiweke nsinyeni xili ncikì a balança
mufana avitane nthombhi ya yena aku psiyò o rapaz assobiou
que está pendurada na árvore oscila
para a sua namorada.
-ndangù id. de estar bem cheio (um recipiente, como p. e.
-psuù (<-pshuka) id. de ser vermelho, de tornar-se vermelho
um saco bem cheio): saka riyo ndangù hi mpunga o saco está
(como quando acende o sinal vermelho no semáforo ou como
compleatamente cheio de arroz; (fig.) de estar com o estôma-
o pôr do sol): nkama lowu jambú ringo psuù quando o sol já
go bem cheio (como se fosse um balão cheio):khwiri ndangù
se ia pôr!
hi tifijawu! Comeu tanto feijão que tem a barriga que nem
um balão cheio. -rhaxà id. de desdobrar/estender (uma esteira, as pernas):
holi rhaxà sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo
-ngòyò id. de ser/estar claro, evidente, de ser/estar evidente:
rhaxà milenge sentou-se de pernas estendidas.
mhaka yiyo ngòyò o problema está claro/evidente.
-sudù id. de estar caído ou deitado (de bebedeira, doença ou
-ngòyò² id de estar saliente (p.e. as costelas numa pessoa
dor profunda): tatana wa wena ayo sudù hi kudakwa o teu
magra).: hi kulala, timbambu ngòy. de tão magro até se po-
pai está caido de bebedeira.
dem ver as costelas.
-svesvesve id. do soprar bem leve (como p. e. a brisa entran-
-ngòyò³ id. de estar bem carregado de frutos (diz-se das ár-
do pelas frestas): laha svimoyana svili svesvesve aqui bate
vores): mangi awuyo ngòyò a mangueira estava bem carrega-
uma brisinha bem leve.
da de mangas. sn. kòyò.
-tàma-tàma (<-tamata) id. de andar de vagar (como faz uma
-nhabzà id de saltar, de pular (como faz o sapo): khutla lite
criancinha quando aprende a andar ou um convalescente): ali
nhabzà lipela matini o sapo pulou para a água.
tàma-tàma ingi ova xin’wanani anda devagarinho como se
-ntli¹ id. de sufocar (p. e. apertando a garganta): aatèmu ntlì fosse uma criancinha.
hi minkolo estava a sufocar-lhe pelo pescoço.
-tèkiyàni (<-teka) id. de de levar bruscamente, de pegar
-ntli² id. de estar bem cheio (um lugar ou um recipiente): bruscamente: atèli tèkiyàni bukù ahuma pegou o livro com
ndzhava wuyo ntli hi mimangi o cesto está bem cheio de brusquidão e saíu.
mangas.
Triririm - triririm (como por exemplo o toque do telefone)
-pfoò id de fugir: mudlayi aali kola loko avone maphoyisa fone la wena lili triririm o teu telefone está a tocar.
ate pfoò o assassino estava aqui quando viu os polícias fugiu;
-vàyí-putsù-vàyí-putsù id. de apagar e acender (como faz
de desconversar ou não atinar com o assunto em discussão.:
um pirilampo).: magezi mali vàyì-putsù-vàyì-putsù kufana
mamutwa aku pfoò! oiçam-no fugiu do assunto!
ni xitimandzilwana. as luzes acendem e apagam como faz o
-pi id.de estar em grande número e invandir (em algum lu- pirilampo.
gar): tihomu tiyo pi, masin’wini ya mina uma manada de bois
-vàyìvàyì (<-vayitela) id. de cintilar, reluzir, resplandecer
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Dados extraídos da Tese de Mestrado em Linguística, apresentada em Dezembro de 2009
21
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De uma situação em que pouca ou nenhuma importância se processo sistemático de comparação de uma vasta gama de
deu às realidades etnolinguísticas na fundação e posteriormente línguas, isto é, investigar factos e explicá-los de acordo com as
na condução dos destinos do país, hoje pouco ou nada mudou, suas semelhanças e diferenças.
porque verifica-se que o peso que se tem dado às línguas
É a partir deste quadro que Hock (1991) considera o método
nacionais na vida política, económica e social do país continua
comparativo como instrumento que facilita a reconstituição das
insignificante. Moçambique optou por uma solução mais
línguas para se chegar à sua possível realidade pré-histórica,
cómoda, que é a solução de continuidade, ou seja, tomar
assim como estabelecer a relação genealógica da língua.
como língua oficial a língua portuguesa (Rego: 2000), que,
obviamente, estava solidamente enraizada na educação, na Guamba (2002) aponta que o método comparativo é usado
administração e na vida corrente do país, permitindo que no âmbito da constituição de alguns aspectos da proto-língua,
continuasse (a LP) com um papel bastante saliente no panorama e é igualmente usado na determinação do relacionamento entre
linguístico multilingue que é Moçambique. línguas da mesma família a partir de formas cognatas.
Como se sabe, as línguas bantu, em Moçambique, são línguas Crowley (1992) citado por Guamba (op.cit) refere que à
maternas para a maioria das crianças e servem de base para a semelhança do método comparativo, o método lexicoestatístico
sua primeira socialização. Elas são de uso familiar, intra-étnica, é uma técnica que nos permite determinar o grau de semelhança
local ou regional, isto é, são usadas em situações informais. entre duas ou mais línguas através da comparação do respectivo
Os dados obtidos no Recenseamento Geral da População léxico seleccionado do vocabulário básico.
e Habitação de 1997 confirmam que, tal como já tinha sido
Como podemos observar, este método é crucial para o nosso
indicado pelo Recenseamento Geral de 1980, as línguas bantu
estudo na medida em que nos permitirá, a partir da comparação
são faladas por cerca de 93.0% da população moçambicana
do vocabulário das duas línguas em estudo, da lista de frases e
(Firmino: 2000), contrariamente à língua portuguesa, tida
o inquérito sociolinguístico determinar o nível das diferenças
como oficial e de ensino, estimada em 6.0%.
e/ou similaridades entre elas.
Cientificamente, está provado que as línguas maternas
desempenham um papel fundamental no processo de Ensino-
Aprendizagem na medida em que as crianças aprendem melhor 3. Sobre o Método lexicoestatístico
quando a alfabetização inicial é feita na sua língua materna O Método Lexicoestatístico tem como objectivo primário
(INDE: 2006), o que, não acontecendo implica condenar à classificar Dialectos, Línguas, Família de Línguas em árvores
exclusão social, cultural, económica, uma grande camada genealógicas.
da sociedade ou negar a sua tradição, a sua história e a sua
cultura. Segundo Simon (1990), “o método lexicoestatístico provém
do termo Estatística e envolve probabilidades, ou seja,
estimativas”.
2. Sobre o Método Comparativo E Carroll (1973) afirma que o cômputo de frequência é a
Segundo Carroll (1973), a Linguística Comparativa considera- base de abordagem deste método, pois consiste na selecção de
se como possuindo uma metodologia rigorosa. Tal método é um número considerável do léxico de duas ou mais Variedades
o comparativo, que se ocupa em mostrar a evolução histórica relacionadas e, numa perspectiva comparativa, apuram-se
das Variedades e, em alguns casos, em mostrar as origens as semelhanças ou diferenças aos níveis lexical, fonético,
fonéticas comuns de grupos de Variedades. Isto significa que o fonológico e morfológico. O léxico seleccionado deve
método comparativo pode ser usado para comparar Variedades corresponder ao vocabulário básico. Para tal, devem-se definir
numa determinada época, para separá-las ou agrupá-las parâmetros como por exemplo, morfologia, semântica, etc. A
(estudo sincrónico) assim como para comparar Variedades ao leitura é feita a partir da percentagem associada a cada nível
longo do tempo (estudo diacrónico). Este método foi usado em estudo, tendo em conta o parâmetro estabelecido.
por Guthrie (1948) na classificação das línguas bantu. Esta Por seu turno Gudschinsky (1964) aponta que o Método
classificação consistiu no estabelecimento do bantu Comum e lexicoestatístico (ML) é uma técnica de análise que permite
no estabelecimento do Proto-Bantu. Um outro investigador a calcular o momento histórico em que ocorreu a separação
usar este método foi Gleanson (1972). de duas ou mais línguas. Este aponta ainda que este método
De acordo com ele, os passos a seguir para este tipo de permite ao investigador decidir a ordem cronológica de
trabalho são: (i) estabelecimento do Vocabulário Básico diferenciação linguística.
(terminologias ligadas à cultura); (ii) estabelecimento de pares Como podemos ver, à semelhança dos outros acima
cognatos (semelhantes na forma fonológica e com o mesmo mencionados, este método é também indispensável para uma
sentido) e exclusão de empréstimos. melhor elaboração e percepção do presente trabalho.
Crystal (1987) aponta que o método comparativo é o
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Podemos verificar com base nas descrições acima, que o de Pebane. Destas 8 variantes, só na província de Nampula,
número das línguas moçambicanas é apresentado de forma são faladas 5, daí considerar-se a província em que não existe
divergente. Enquanto, por exemplo, Marinis (op.cit) considera outro grupo étnico (originário) que fale uma língua diferente
o Ronga como língua maioritária, Katupha (op.cit), considera salvo o Ekoti que, por ora, não se tem a certeza se é variante
o Shi-tsonga que à partida não é sinónimo do Ronga como de Macua ou é língua autónoma. Este facto está o aliado à sua
sendo língua maioritária. situação geográfica central no âmbito das outras províncias em
que também se fala o Macua e, por outro lado, à reconhecida
Como podemos notar com base nas abordagens acima
inteligibilidade mútua entre os falantes das diversas variantes,
apresentadas, a questão da situação linguística em Moçambique
o que leva a que se tome a variante falada em Nampula como
apresenta-se ainda bastante controversa e mesmo relativamente
sendo a de referência para efeitos de padronização da escrita
às listas até aqui apresentadas, alguns estudiosos do panorama
(cf. Afido et al 1989).
linguístico nacional, por exemplo, Liphola (1988) discorda
da existência quer de oito línguas, quer de quatro línguas Alberto (1961), baseando-se nos diferentes modos de
maioritárias. falar, considerou, no final dos anos 50, que a área linguística
macua dividia-se em cinco subgrupos a saber: (i) subgrupo
Entretanto, Ngunga (1991), de forma cautelosa, diverge da
macua do litoral, de Moma a Memba; (ii) subgrupo macua de
posição dos autores que apresentam listas contendo o número
macuana, nos actuais distritos de Nampula, Meconta, Imala,
das línguas moçambicanas. Este, na sua forma de abordar
Erati, Mogovolas, Mossuril, Memba, Nacala e Mogincual;
esta problemática, não avança o número exacto das línguas
(iii) subgrupo macua metto, em Montepuez, Eráti, Mecufi,
existentes no país, limitando-se a fornecer uma lista longa
Mocímboa da Praia e Quissanga ( aqui o autor inclui os
susceptível de constituir uma base de partida para a resolução
chirimas de Ribaué e Malema); (iv) subgrupo macua do Niassa,
do problema.
localizado nos distritos de Lichinga, Cuamba, Maúa, Marrupa,
Ribaué e Malema; (v) subgrupo macua-lomué, no Alto-
Molocué, Gurué, Ile, Lugela, Milange, Mocuba, Namacurra,
6. Sobre as línguas objecto de estudo
Namarrói, Ribaué e Murrupula.
6.1. Emakhuwa
A variedade (P30, Guthrie 1967:71; 52/5/1, Doke 1945)
6.2. Elomwé
é falada no Centro e Norte de Moçambique assim como em
algumas regiões da Tanzânia, Malawi e ainda em pequenas Elomwé é a língua falada maioritariamente na zona norte
comunidades em Madagáscar e Ilhas Comores, abrangendo da província da Zambézia e considera-se a variante falada
mais ou menos 8 milhões de falantes (Kisseberth 2004:547). em Alto Molocué como sendo a de referência (cf. Gardner
Em Moçambique, de acordo com o Censo populacional (1997), 1997). Para além dos distritos do norte da Zambézia (Gurué,
a variedade Emakhuwa é falada por cerca de 3.291.916 pessoas Gilé, Alto Molocué e Ile), é falado também na província de
constituindo 27,8% da população. Emakhuwa tem 8 variantes, Nampula, sobretudo parte dos distritos de Malema, Ribawé,
incluindo o Elomwé, assim distribuídas: Murrupula e Moma (Sitoe e Ngunga 2000:67) e abrange uma
população estimada em 1.3 milhões de falantes. Como atrás
Nampula- Emakhuwa, falada na cidade capital e seus
vimos, Alberto (1961) alarga as zonas onde esta língua é falada,
arredores como Mecuburi, Muecate, Meconta, parte de
na província da Zambézia. Na classificação de Doke (1945),
Murrupula, Mogovolas, parte de Ribáwe e Lalaua; Enahara,
o Elomwé pertence à Zona Oriental cujo código é 50; Grupo
falada nos distritos de Mossuril, Ilha de Moçambique, Nacala-
Este - Central 52 (grupo makhuwa); código 5 e ao subgrupo de
Porto, Nacala-a-Velha e parte de Memba; Essaka, nos ditritos
dialectos de Makhuwa, onde recebe o código 1b. Ilustrando,
de Eráti, Nacarôa e parte de Memba; Esangagi, parte de
teremos:
Angoche; Emarevoni, parte de Moma e Mogingual e Elomwé,
nos distritos de Malema, parte de Ribáwe parte de Murrupula Grupo Línguas / Conjunto Dialectos
e de Moma. de línguas
Cabo Delgado- Emetto falado nos distritos de Montepuez,
Balama, Namuno, Pemba, Ancuabe, Quissanga, parte dos 52/ 5 1: Makhuwa 52/ 5/ 1b
distritos de Meluco, Macomia e Mocímboa da Praia; Essaka, Lomwé
nos distritos de Chiúre e Mecúfi. Enquanto Guthrie (1967-71) faz a seguinte classificação:
Niassa- Echirima falado em Metarica e Cuamba; Emakhuwa Zona P:
falado em Mecanhelas, Cuamba, Maúa, Nipepe e Metarica;
Emetto em Marupa e Maúa. P. 30: Grupo Makhuwa- Lomwé: P. 32: Lomwé
Zambézia- Emakhuwa falado em Pebane; Elomwe em
Gurué, Gilé, Alto Molócue e Ile; Emarevoni falado numa parte
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P(X&Y) nf= P±Mer ⇒ ]P-Mer; P+Mer[ lexical situa-se no intervalo de 42,50 a 42,50.
É imperioso, também, calcular a fiabilidade do corpus. Esta De seguida, vamos determinar o nível de fiabilidade.
fiabilidade calcula-se para afirmar com máxima segurança que Considerando que a margem de erro ao nível de fiabilidade
um corpus recolhido num tempo longo apresenta uma margem de 68% corresponde ao valor do desvio padrão, então vamos
de erro menor e num tempo curto a margem de erro é maior. calcular a margem de erro ao nível de fiabilidade de 90%.
Para o efeito, deve-se escolher o nível de fiabilidade. Segundo Assim, entre Elomwé e Emakhuwa, temos:
Simon (1990:3.3.7.), os níveis de fiabilidade dependem do
Mer (Elo & Emak)90% = δ×k
tempo, dos informantes e situação do levantamento dos
dados: Deste modo, o autor avança com os seguintes níveis de = 0,0022×1,645
fiabilidade:
= 0,0036
= 0,004
Tabela 2.- Níveis de Fiabilidade
De acordo com este resultado, a margem de erro nível de
fiabilidade de 90% é igual a 0,004. Deste modo, a percentagem
Nível de
Fiablidade de semelhança lexical ao nível de fiabilidade de 90% é
Fiabilidade
representada da seguinte maneira:
O corpus é resultado de muitos anos de
trabalho de campo
0,30 P (Elo & Emak)90% = P ± Mer ⇒ ] P- Mer ; P + Mer[
] 42,5 – 0,004 ; 42,5 + 0,004 [
O corpus é resultado de curto tempo
0,20
intenso de trabalho de campo ] 42,49 ; 42,50 [
Situação de levantamento média com Assim, podemos estar 90% confiantes de que o valor
0,10 percentual de semelhanças lexicais está no intervalo entre
bom informante
42,49 e 42,50.
Situação de levantamento com
0,05 Por isso, a leitura que podemos fazer, a partir destes
dificuldades na ilicitação bilingue
resultados, é que a diferença lexical entre Elomwé e Emakhuwa
Levantamento com ilicitação é mínima, o que quer dizer que, em termos lexicais, a diferença
0,01
monolingue não é tão grande. Contudo, há sim algumas diferenças lexicais
assinaláveis. A título de exemplo, podemos destacar as palavras
abaixo:
É importante ressalvar que a escolha do nível de fiabilidade
é feita de acordo com a situação em que o investigador
trabalhou. (2).
Terminados estes procedimentos, se o valor achado na Emolwé Emakhuwa Significado
tabela for menor ou igual ao valor mais alto entre os valores Nahano Mwarusi ‘rapariga’
percentuais comparados, significa que os valores percentuais
Mokwasha Nakhulu ‘velho’
comparados são suficientemente diferentes naquele nível de
fiabilidade, caso contrário não são. Mwiili erutthu ‘corpo’
Desta maneira, vamos começar por calcular a margem de Nrama nlaku ‘bochecha’
erro associada aos valores percentuais entre o Elomwé e o Evaru etara ‘coxa’
Emakhuwa.
A margem de erro entre Elomwé e Emakhuwa é: 0,0022 As palavras representadas acima, dão-nos conta daquilo
Assim, a percentagem será representada da seguinte que são as diferenças lexicais entre as variedades linguísticas
maneira: Elomwé e Emakhuwa respectivamente. Um falante de
Emakhuwa, por exemplo, não conhece a palavras nahano
P=P ± δ ⇒ ]P- δ[;]P+ δ[ ‘rapariga’ e a palavra nrama ‘bocecha’, que em Emakhuwa,
]42,5 – 0,0022;42,5 + 0,0022[ tem um significado diferente (púbis) do da variedade em
estudo. O mesmo acontece com o falante de Elomwé. Este,
]42,498 ; 42,502[ por exemplo não conhece as palavras etara, nlaku. Estas
]42,50 ; 42,50[ diferenças criam, de algum modo, obstrução na comunicação
entre falantes destas variedades linguísticas.
Isto quer dizer que a verdadeira percentagem de diferença
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7.2. Semelhanças fonético-fonológico entre Elomwé e evidentes, embora as diferenças se situem ligeiramente acima,
Emakhuwa o mesmo podendo-se dizer em relação ao nível fonético-
fonológico. Este facto leva-nos a entender melhor os porquês
Diz-se que palavras são fonético-fonologicamente
de alguns estudiosos considerarem a língua Elomwé variante
semelhantes quando apresentam a mesma forma e estrutura
da língua Emakhuwa, como é o caso de Guthrie (1967) e
fonético-fonológica. Vejamos os exemplos que se seguem:
outros. Para nós esta aproximação linguística não pode ser
(3). entendida como sendo o Elomwe, neste caso, uma variante mas
sim línguas que, provavelmente, tenham tido a mesma língua-
Elomwé Emakhuwa Significado mãe e que ao longo dos anos cada uma delas foi ganhando a
nikhuva [ni-k uva]
h
nikhuva [ni-khuva] ‘osso’ sua própria autonomia, resultante de vários factores, sociais,
mutekhu [mu-tekhu] mutekhu [mu-tekhu] ‘umbico’ geográficos e políticos. Embora ao nível lexical as diferenças
n’tata [n-tata] n’tata [n-tata] ‘mão’ sejam mínimas, na prática comunicativa esta diferença tem
criado alguns ruídos entre os falantes destas duas línguas,
nipele [ni-pεlε] nipele [ni-pεlε] ‘mama’ algo que não deixa ninguém surpreendido por se tratar de duas
nikutha [ni-kut a] nha [ni-kutha]
h
‘joelho’ realidades linguísticas diferentes.
1
Pe Armando Ribeiro, C. M., 601 Provérbios Changanas, 2ªedição,
Lisboa,1989, pp. VI-VII. 3 ����������������������������������������������������������������
Usamos a expressão no sentido em que a usam Carlos Reis e Cris-
2
Holman, C, Hugh e Harmon, William, A Handbook to Literature, tina Macário Lopes no seu Dicionário de Narratologia (Coimbra, Livraria Al-
5ª Ed., New York, Macmillan Publishing Company, 1986, p. 401, apud Gil- medina, 1987, pp. 344/345)
berto Matusse, op. cit. p. 114.
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cima. Procurar a agulha no palheiro. de artimanhas para enganar os outros. Nem tudo o que
45- Phongo ya cigwere - Cabrito sardento. Ovelha ronho- luz é oiro.
sa. 64- Timhangela tihanya ngu kutala – as galinhas do mato
46- Phongo kha yiveleki ha kubasani – A cabra não pare vivem pela união porque alertam-se quando o inimigo
onde há pessoas. (perigo)se aproxima; a união faz a força.
47- Phongo kha yiveleki ntlambini- Uma boa cabra não pare 65- Titshokoti tihanya ngu kupfana- As formigas vivem
no meio do rebanho. Usa-se para dizer que há assuntos pelo entendimento; A união faz a força.
confidenciais. 66- Ku engisa cisima cawutomi – A obediência é o poço da
48- Nicikhani nomaha tatinene kasi notikuva manzani – vida.
Pensei que estivesse a fazer o bem, mas cortei-me na 67- Kha kuna inthonvuni kopwata mafina – Não há nariz
mão. Quem faz bem mal a ver tem. sem ranho; O erro é humano.
49-Nyakwongomela tshera kha ambali madhowo- Quem 68- Ku hanya matlhari- Viver é uma guerra. A vida é difícil.
caça gafanhoto não usa peles. É preciso ter calma para 69- Ku dhanwa ngu dhuswa (deve corresponder-se de ime-
todas as situações. diato a um chamamento).
50-Wa likungo mbwalihika- O avarento é ganancioso e in- 70- Ku swela kuhanya una wona yimbwa ya ticheho –
vejoso. Diz-se da pessoa que não gosta de dar o que é Quem muito viver verá cão com chifres. Quem muito
seu aos outros, mas quer que os outros lhe dêm sempre. viver verá coisas inéditas; nunca vistas.
Gosta do alheio.
71- Kukarala ka livilo ngu kuwa hanzila- O cansar-se de
51- Wo lava ku awe phongo diana m’zumbane, kani?- que- quem corre é cair no caminho. É preciso perseverar; cor-
res que eu faça a escolha por ti? À letra: queres que diga: rer e correr sempre, parar só em caso de cair(queda).
cabra, coma este ou aquele tipo de erva?
72- Kutlhariha kapalwa ngu kudivala- a esperteza é vencida
52- Wa kudia sakwe khana liwondjo – O que come o que é pela “calma”. No sentido de o calmo parecer (néscio).
seu não tem ferida; isto é, o que come o que é seu não
73- Kufa ngu rwama – Morrer é dormir. É fácil morrer.
deve temer. Quem não deve não teme.
74- Kusasa ngu tinyela – Quem faz bem, mal a ver tem; fazer
53- Wa mwana afela habanza – o homem deve ser deste-
bem é borrar-se.
mido.
75- Kunyela mpakato- defecar sobre o cajado; morder a isca
54- Unga hinge khukhu ninyu manzani - Não persigas a
e sujar o anzol; não se mostrar agradecido depois de re-
galinha com sal na mão. Sê calmo.
ceber um favor.
55- Unga kungele ngume yinga kuluma – Não ponhas o es-
76- Kunyela ingalavani – defecar no barco, mostrar-se ingra-
corpião no regaço; Tenha cuidado com as tuas amiza-
to. Morder a isca e sujar no anzol.
des.
77- Kunya ha, una dula hani cibowa- Defecas aqui, onde
56- Unga lave kuziva ta m’thamba udinkwakwa- Não pro-
vais apanhar cogumelos. Diz-se de um ingrato.
cures saber o que não te diz respeito.
78- Kwora indilo wa cirengeleni – Aquecer-se com o lume
57- Unga lave kuziva ta intungwe udi phanzekelani- Não
que cabe num pequeno pedaço de panela de barro
procura saber coisas do quarto estando na sala.
(caco);Comer o pão que o diabo amassou.
58- Unga timahe mjhindo wo hiyela kule- não te faças pal-
79- Kwembelwa ngu tonwa- Ouvir dizer é perder.Veja com os
meira que varre longe e deixa a sua base suja.
próprios olhos.
59- Tikhawu tosekana mahoko – Os macacos riem-se das
80- Ku tshukuruka kkweda uciambala nganju – ascender a
olheiras dos outros. Não atires pedras ao telhado do vi-
olhos vistos. Diz-se de uma pessoa que passava necessi-
zinho se o teu também for de vidro.
dade e de um momento para outro passou a uma grande
60- Tshokoti yaxula ndzofu- A formiga vence o elefante. abastança.
Nem sempre o que tem mais corpo é o mais forte.
81- Kuziwa kapala kutshura – Mais vale ser conhecido do que
61- Tshenge yidawa nguliveleko – A bananeira é morta por ser bonito.
causa dos filhos(bananas).
82- Kutshura ngu tilwela- Estar bem parecido (bonito) é uma
62- Cinyana ca cwemba kwadi khacivatelwi dipale- Não se luta.
caça o pássaro que canta bem.
83- Kusinya wurena- Dançar é zangar-se. De facto, nalgumas
63- Cinyana citheketisa mathevele (cihunza madwali)- vezes, é preciso tanto vigor para se sair bem na dança!
Pássaro que faz entoranar água às mulheres que voltam
84- Kupekana ngu maranga ovitwa- Baterem-se com abó-
da lagoa pelos malabarismos que faz, as mal avisadas
baras maduras; desenvolver uma confinça recíproca.
distraem-se e zás, lá se vai a água. Diz-se de quem usa
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75. U nga xave msingo, a si nzi kuvelekwa mwanana. 87. Wutxhari kha wu heti dilembe.
Não compres o pano de trazer a filho às costas, antes dele A esperteza não termina o ano (sem ser descoberta)
nascer
Burla com dano não acaba o ano.
Não deites foguetes antes da festa
88. Wutomi kha wu xawi.
76. U nga time mndilo ngu mndilo
A vida não se compra.
Não apagues o fogo com o fogo
A vida é só uma.
Não deites lenha na fogueira
89. Maduka kha ma woni.
77. U nga thembe m’thu ngu kuwona khohe
A nuca não vê.
Não confies em alguém só por ver a cara dele.
O ausente nem ouve nem sente
A gente vê caras, não vê corações.
90. Didhowo va peta di txi nakana.
78. U nga dhane yimbwa, u d ni mgoba mnzani
Dobra-se a pele enquanto está verde.
Não chames um cão com um pau na mão.
De pequenino se torce o pepino
A quem hás-de rogar não hás-de assanhar.
91. Lifo kha.li na diso.
79. U nga kuletele txisima
A morte não tem olho.
Não estragues a fonte.
A morte não escolhe.
Não sujes a água que hás-de beber.
92. kudhanwa ngu dhuswa.
80. U nga pe, sako sa ta ni nzila
Ser chamado equivale aser advertido.
Não roubes, o que é teu vem a caminho
Toda a vocação é uma responsabilização.
O que é nosso à mão nos há-de vir ter.
93. kudya ngu kuengeta.
81. U na dya sa mnyuko.
A boa refeição pede repetição.
Comerás do teu suor.
Encontro feliz pede repetição
Aprender à própria custa
94. Mabihane a biha ni sakwe.
82. Vo veleka mmidi, kha va veleki mbilo.
O mau é mau com as suas coisas.
Dão à luz o corpo, não dão à luz o coração
Não digas mal de que precisas.
Nem sempre o filho sai ao pai.
95. Mame i mame.
83. Awú a zivako ngu wule a wotisako.
A mãe é mãe.
Sabe aquele que pergunta.
A mãe é sempre mãe
Se queres saber pergunta.
96.Mati ma di thekete kha.ma rolelwi.
84. Wurenawu xulwa ngu kumalala.
A água entornada não se pode apanhar.
A ira aplaca-se com a paciência.
A água vertida nem toda é recolhida.
É com águaque se apaga o fogo.
97. Mkolo kha wu na wusiwana.
85. Wusiko kha wu na ndena.
A garganta não sente o dó
A noite não tem herói.
Para comer não há feriado
Há certas circunstâncias em que toda a virtude é pouca.
98. Txisofu txa dayisa.
86. Wusiwana wa hombe, wona ngu mame a di endile.
A boca causa a morte.
A verdadeira desgraça é a ausência da mãe.
Pela boca morre o peixe
Não há maior desgraça que não ter mãe.
99. U nga dye mbuva, u txi divala nzila.
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Não tomes o farnel, esquecendo-te do caminho. tografia diferente daquela que adoptamos, aliás, a que
corresponde à pdronização da ortografia das línguas
Pensa no futuro.
moçambicanas.
cinzas dessa mesma cobra”. O irmão mais novo foi e encontrou O narrador também mostra que o uso abusivo e desenfreado
a cobra e então cantou a mesma canção: dos recursos da Natureza traz consequências nefastas ao
próprio Homem e pode até levar à morte, ao relatar que após
Ndala, Ndala minga,
a insistência da mulher, o homem voltou à cobra e acabou
Etc. morrendo, envenenado pela picada da mesma. O narrador
também ilustra que a cura dos problemas causados pela Natureza
Pensando a cobra que era um outro homem que vinha à
está na própria Natureza, conforme ficou demonstrado pela
procura de ovos, respondeu da mesma forma. Mas quando o
exigência de que o tratamento para a cura do marido morto
rapaz chegou ao pé da cobra atirou-lhe uma “azagaia”que lhe
fosse encontrada na cobra que o matou.
trespassou a cabeça, a cobra morreu e transportou-a, tendo
feito uma maca onde colocou o irmão.
O feiticeiro incinerou a cobra e com as cinzas fez umas papas 3. Conclusão
que deu a tomar ao morto, que logo vomitou e despertou.
Da análise feita ao conto oral “Os Desejos da Mulher
Os irmãos disseram à mulher: “Por tua causa, íamos perder Grávida”, pode-se inferir que o mesmo desempenha um papel
o nosso irmão. És uma mulher indigna de pertencer à nossa educativo de extrema importância no que concerne à relação
família. Vais ter o filho, que é nosso, por isso permanecerás que deve ser estabelecida entre o Homem e a Natureza, mais
entre nós até lá. Depois entregar-te-emos aos teus”. concretamente na necessidade de razoabilidade de exploração
Foi assim que foi repudiada a mulher grávida que tinha pelo homem dos recursos proporcionados pela mãe Natureza.
desejos esquisitos” (Rosário, 2001, pp.77-79) Infere-se também que a preocupação pelo uso equilibrado de
recursos é uma questão antiga e actual, embora na actualidade
Este conto é um exemplo típico do papel educativo seja mais evidente, derivada da cada vez mais crescente,
desempenhado pelos contos nas sociedades de cultura oral. desenfreada e inconsequente pressão do Homem sobre os
Apesar deste conto mostrar os costumes do povo do Vale do recursos existentes na Natureza.
Zambeze, a nossa análise cingir-se-á apenas na relação entre o
Homem e a Natureza, uma vez que a análise sobre os costumes
deste povo já foram objecto de reflexão por parte de Rosário
(2008).
Referências Bibligráficas
Neste conto, o narrador procura mostrar a relação Homem/
Natureza indicando com clareza quais devem ser as atitudes Altuna, P.R.R. (1985). Cultura Tradicional Banto. Luanda:
do ser humano face à mesma. O narrador demonstra que o Secretariado Arquidiocesano de Pastoral
Homem se serve da Natureza para se alimentar e sobreviver, Junod, H.(1996). Usos e Costumes dos Bantu. Tomo 2. Maputo:
ilustrado pelo facto do marido ir ao mato procurar ovos de Arquivo Histórico de Moçambique
animais selvagens para sacear os desejos da sua esposa
grávida. Todavia, este mesmo narrador revela-se conhecedor Rosário, L. (2002). Contos Moçambicanos do Vale do
da importância do uso equilibrado dos recursos proporcionados Zambeze. Maputo:
pela Natureza quando expressa, através do canto, o alerta que Rosário, L. (2008). A Narrativa africana de Expressão Oral.
a cobra deu ao homem ao dizer que atenderia o seu pedido e 2ª Edição. Maputo: Texto Editores
daria os ovos, mas o avisava para que não abusasse. Este aviso
é importante para o Homem, no sentido de que ninguém deve
fazer uso abusivo daquilo que existe na Natureza.
Essa consciência em manter uma relação equilibrada quanto
ao uso de recursos da Natureza também é manifestada pelo
marido quando, após oferecer os ovos da cobra à sua esposa e
esta continuar a insistir em querer mais, diz: “Mulher, os ovos
são seus filhos, não há mãe que deixe que lhe comam os seus
filhos sem reagir”.
Neste conto, o narrador evidencia que o homem abusa da
Natureza, por mero capricho, retirando os seus recursos,
mesmo quando não precisa deles, ao afirmar que o marido se
aproximou da cobra e retirou alguns ovos que levou à esposa
que os consumiu cozidos, crus, assados, mas insistiu ao marido
que voltasse à cobra e trouxesse mais ovos.
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ELISÃO
Nas línguas bantu, estes sons também se podem combinar, O encontro entre duas vogais pode resultar na elisão de uma
tal como as vogais. das vogais. Observemos os exemplos abaixo:
Da combinação entre os vários sons (vogais e consoantes) Exemplo (1)
podem resultar fenómenos variáveis de língua para língua.
a) manu (cl6) /ma-inu/ ‘dente’
Tais fenómenos podem ser explicados pela fonologia,
através de regras fonológicas aplicadas na resolução dessas maso (cl6) /ma-iso/ ‘olhos’
combinações. cala (cl7) /ci-ala/ ‘unha’
sala (cl8) /si-ala/ ‘unhas’
Tabela 2: Vogais da língua Copi ndzumani < ndzuma + ini ‘na chuva’
thembweni < thembwe + ini ‘na machamba’
Anterior Central Recuada
Em (a) temos exemplos de nomes em que o encontro entre
Fechadas/ i u as vogais do prefixo nominal e a do tema nominal é resolvido
Altas pela elisão de uma das vogais.
Semi-abertas/ e o Se repararmos há uma sequência do tipo [a+i] e [i+a], mas
Médias em ambas as sequências a vogal que prevalece é a vogal baixa
Aberta/ Baixa [a], podendo esta regra ser representada como:
a
i. [a+i → a] / [i+a →a]
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000)
Em (b), embora as palavras sejam de outra categoria lexical,
verbos, a elisão no radical verbal acontece como resultado de
Tal como foi apresentado anteriormente em relação às vogais um processo de imbricação1 do sufixo que marca o perfectivo
das línguas moçambicanas, estas foram reduzidas a cinco, do -il-e.
Proto-bantu. Em (c) são apresentados exemplos de elisão da vogal [i] do
Nesta língua, embora a penúltima sílaba da palavra seja sufixo locativo (-ini-).
sempre longa, esta não é marcada na escrita, pois a duração Esta regra pode ser formalizada como:
vocálica, na língua Copi, não é fonémica.
ii. V → ⁄_ V ou ainda V → O ⁄ V _
[+alt; +ant] [-alt] [+alt;+ant] [-alt]
1.1.1. Processos fonológicos envolvendo vogais
Isto significa que a vogal [i] quando se encontra com uma
Tal como muitas línguas moçambicanas, a língua Copi não é outra vogal média ou baixa, independentemente da posição em
favorável à encontros de vogais. Por isso, quando a morfologia que se encontra é elidida.
ou a sintaxe cria condições para que tal aconteça, a fonologia
da língua encontra formas de resolver o problema, desfazendo
o encontro, utilizando diversos mecanismos de acordo com a
qualidade e a sequência das vogais envolvidas.
A seguir apresentamos de forma discriminada os processos
que envolvem vogais. 1
Cf. Ngunga 1998. Imbrication in Ciyao. In Maddieson, I. &Hin-
nebusch, T. J. (eds), Language History and Linguistic Description in Africa.
2: 167-176
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SEMI-VOCALIZAÇÃO
INSERÇÃO Um outro processo que se aplica na resolução de hiatos é o
Outras vezes a língua recorre à inserção de uma glide como da semi-vocalização. Considerem-se os seguintes exemplos:
recurso para evitar o encontro entre duas vogais. A natureza da Exemplo (3)
glide depende da natureza das vogais em causa.
a) mwanana /mu-anana/ ‘criança’
Exemplo (2)
mwani /mu-ani/ ‘genro’
a) Kuyengisa /ku-engisa/ ‘ouvir’
Kuyengeta /ku-engeta/ ‘aumentar’
b) thombvwini /thombvu-ini/ ‘no nariz’
Kuyema /ku-ema/ ‘parar’
Kuyengetela /ku-engetela/ ‘aumentar’
c) cibhajyana /ci-bhaji-ana/ ‘vestidinho’
[u + e → uye]:
Como se pode ver nos exemplos em (a e b) a vogal [+alt;
+rec] sofreu uma semi-vocalização ao se encontrar com as
b) Kuyaneka /ku-aneka/ ‘estender’ vogais [+baix] e [+alt; +ant], tornando-se assim em [w]. Em
c) temos uma situação em que a vogal do tema nominal se
Kuyamukela /ku-amukela/ ‘receber’ encontra com a vogal do sufixo descontínuo que marca o
[u + a→ uya]: diminutivo e sofre, no entanto, uma semi-vocalização. Neste
caso, por se tratar de uma vogal [+alt; +ant], em posiçãio
primária, esta muda para [y].
c) Kuyimbelela /ku-imbelela/ ‘cantar’ Como se pode oobservar mais uma vez, a escolha da glide
[u + i → uyi] não é aleatória, só a vogal [+alt; +ant] é que passa para [y] e a
vogal [+alt; +rec] é que passa para [w].
Esta regra pode ser formalizada da seguinte como:
d) kuwola /ku-ola/ ‘recolher lixo’
iv. V→ G/ _ V
[u + o → uwo]
Segundo os dados acima analisados constatou-se que nesta
língua o encontro entre vogais pode ser resolvido através de
e) kuwuka /ku-uka/ ‘acordar’ processos como a inserção, a elisão e a semi-vocalização. Cada
um destes processos é condicionado pela natureza das vogais.
kuwulela /ku-ulela/ ‘entrar’
[u + u → uwu]
1.2. Sistema Consonântico
Após uma análise do comportamento dos sons vocálicos,
Como podemos observar nos exemplos acima, passaremos, em seguida, a analisar o comportamento dos sons
independentemente da natureza da vogal, quando uma vogal se consonânticos, procurando ver os processos fonológicos que
encontra com a vogal alta, recuada [u] há inserção de uma glide os envolvem.
para resolver o hiato. A natureza da vogal só vai influenciar na
escolha da glide. Como ponto de partida apresentaremos o quadro das
consoantes da língua Copi.
Esta regra pode ser formalizada da seguinte forma:
A língua Copi apresenta as seguintes consoantes;
iii. V+V → VGV / V V
Se repararmos para a natureza da primeira vogal notaremos
que se trata de uma vogal [+alta; +rec] [u], que ao se encontrar Tabela 2: Consoantes da língua Copi
com qualquer outra vogal condiciona a inserção de uma glide. Modo \ Bilabial Labio- Alveolar Palatal Velar Glotal
Essa glide pode ser [w] quando as vogais de encontro são [u, o]
Ponto dental
e [y] quando as vogais de encontro são [a, e, i].
Oclusiva p bh t dh c j k
g
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Página de Especialidade
Em seguida passamos a analisar os processos que envolvem -gubhuta -gubhut-e /-gubhu-it-t-e/ ‘sacudir’
as consoantes. -xota -xot-e /-xo-it-t-e/ ‘caçar’
Em (1) os exemplos mostram a formação do passado com o
1.2.1. Processos fonológicos envolvendo consoantes morfema –il-e e em (2) ilustram-se exemplos de verbos cuja
formação do passado é como morfema –it-e, mas em ambos
Tal como nas vogais, nas consoantes há também alterações os caso há uma imbricação e consequentemente uma elisão.
que provocam a ocorrência de alguns processos. Este processo pode ser ilustrado da seguinte forma:
A pré-nasalização, na língua Copi é marcada obviamente por –CVC-
uma nasal antes da consoante, mas tal nasal depende do ponto
de articulação da consoante seguinte, ou seja, da consoante a i. -CV-it-C- infixação -it- morfologia
ser nasalizada. Esta pré – nasalização respeita a uma certa regra ii. -CV-it- elisão (C) fonologia
que é a de assimilação. Vejam-se os seguintes exemplos:
iii. –CVt- elisão -i- (v+v) fonologia
Exemplo (6)
iv. –CVt-e sufixação -e morfologia
a) ndzala ‘fome’
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