Você está na página 1de 59

Universidade Agostinho Neto

Faculdade de Letras

Departamento de Língua e Literatura em Língua Portuguesa

Análise Morfo – Semântico de Alguns Léxicos Informais dos


Falantes no Município de Viana, Estudo de Caso “Bairro Capalanga”

Trabalho de Fim de Curso de Licenciatura, Apresentado Para a Obtenção do


Grau de Licenciado em Língua e Literatura em Língua Portuguesa

Por

Fernando Vota
e
Joaquim Numa

Tutor: Prof. Mestre Romualdo Dias dos Santos

Luanda, 2015
Análise Morfo – Semântico de Alguns Léxicos Informais dos
Falantes no Município de Viana, Estudo de Caso “Bairro Capalanga”

Trabalho de Fim de Curso de Licenciatura, Apresentado Para a Obtenção do


Grau de Licenciado em Língua e Literatura em Língua Portuguesa

Por

Fernando Vota
e
Joaquim Numa

Tutor: Prof. Mestre Romualdo Dias dos Santos

Luanda, 2015
ÍNDICE

DEDICATÓRIAS ………………………………..…………….…………………. i
AGRADECIMENTOS ………………………………………..……….……………………...ii
RESUMO ……………………………………………………….………….…………………iii
ABSTRACT …………………………………………………….…...……….……………… iv
RÉSUMÉ …..……………………………………………………….……....…… …………. v

0. INTRODUÇÃO……………………………………………………………….. 1
0.1. Justificativa…………………………………………………………………………….. 2
0.2. Problemática……… ……………………………………………………………………
3
0.3. Objectivos ……………………………………………………………………………... 3
0.3.1. Gerais ………………………………………………………………………………...
3
0.3.2. Específicos …………………………………………………………………………..
3
0.4. Hipóteses ……………………………………………………………………………….
4
0.5. Delimitação……….………………………….………………………………………… 5
0.6. Metodologia …………………………………………………………………………… 5
0.7. Estrutura do Trabalho …………………………………………………………………. 5
I. ARGUMENTAÇÃO TEÓRICA
I.1. Noção de léxicos e exemplos…………………………………………………………….
6
I.2. Noção de Morfologia e exemplos ……………………………………………………….
7
I.2.1. Classe dos substantivos ………………………………………………………………
7
I.2.2. Classe dos adjectivos ………………………………………...………………………
8
I.2.3. Classe dos determinantes……………………………………………..………………
9
I.2.4. Classe dos pronomes……………………………………………………..………….. 9
I.2.5. Classe dos numerais ………………………………………………………………….
9
I.2.6. Classe dos verbos ………………………………………………………………….. 10
I.2.7. Classe dos advérbios ………………………………………………………………..
10
I.2.8. Classe das preposições………………………………………………………………
11
I.2.9. Classe das conjunções ………………………………………………………………
11
I.2.10. Classe das interjeições ……………………………………...………………………
12
I.3. Noção de semântica e exemplos………………………………………………………..
13
I.3.1. Denotação e Conotação………………………..…………………………………… 14

II. CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO CAPALANGA


II.1. História do Bairro Capalanga ………………………………………………………….
15
II.2. Situação Geográfica……...…………………………………………………………….
15
II.2.1. Limites………………………………………………………………………………
16
II.2.2. Clima ………………………………………………………………………………. 16
II.2.3. Demografia …………………………………………………………………………
16
II.3. Divisão Administrativa…………………………………………………………………
16
II.4. Situação linguística do Capalanga…………………...…………………………………
17

III. ANÁLISE MORFO-SEMÂNTICO DE ALGUNS LÉXICOS UTILIZADOS PELOS


FALANTES DO CAPALANGA.
3 .1. Colheita do corpus ……………………………………………………………………..
18
3.2. Informantes
……………………………………………………………………………..22
3.3. Origem dos léxicos ……………………………………………………………………..
26
3.3.1. Escritura oficial…………………………………………………………....………….
27
3.3.2. Estudo morfológico………………………………………………………………….. 28
3.4. Significados…………………………………………..…………………………………32
3.4.1. Junção de alguns léxicos em função do campo semântico ………….………………..
33
3.5. Contextualização dos léxicos usados pelos falantes do Capalanga……………………..
34

IV – CONCLUSÕES……………………………………………..…………………………37
V - SUGESTÕES……………………………………………………………..……………38
VI – BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………………39
VII – ANEXOS ……………………………………………………………………………..
40

DEDICATÓRIA
Em primeiro lugar a Deus, pelo facto de nos ter concedido a óptima disposição e saúde que
nos possibilitaram a frequentar as aulas no período após laboral em dias úteis. Às nossas
esposas Cristina Augusto Oatanha e Domingas Pedro Carlos Sardinha Numa, que sempre se
preocuparam em confecionar refeições em tempo oportuno, ao longo do período de formação.
Aos nossos filhos Miguel Carlos Sardinha Numa, Fernando do Nascimento Vota, Laura dos
Anjos Oatanha Vota e Joana Carla Sardinha Numa, pela perseverança que tiveram de se
manterem acordados até que estivéssemos de volta a casa, vindos da Faculdade, ficando
privados do nosso afecto e da assistência por algumas horas.

AGRADECIMENTOS
A todos os estudantes do 5º ano de Língua e Literatura em Língua Portuguesa, sala nº 3
do Pólo Universitário do Kapolo, da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto,
destacando-se em particular o colega e amigo Carlos Gonçalves Jacinto Baptista, também
conhecido por “JÙ”, pela paciência que teve de nos apoiar com o seu meio de transporte de
serviço para Faculdade e para casa, durante o período de formação. Aos nossos Professores,
pela singeleza e a forma sensata na transmissão de conhecimentos.
Ao Professor Romualdo Dias dos Santos pela orientação incansável.

ABSTRACT

A actual situação social e linguística do Bairro Capalanga, levou-nos a fazer uma


breve análise morfológica e semântica de alguns léxicos utilizados pelos seus falantes.
O destino deste trabalho, justifica-se essencialmente em localizar a forma como
determinados falantes usam os léxicos informais, como surgiram e quais os significados
atribuídos aos mesmos, avançando o benévolo empregue de palavras sem que haja destrinça
dos seus usuários.
A existência de mais de uma língua neste Bairro, tem como resultado o
plurilinguismo. As diversas línguas usadas entre os moradores do Bairro Capalanga, em
certos acontecimentos, têm dificultado o sistema de comunicação entre os mesmos. Surge
deste modo, a necessidade de se criar novas palavras de fácil compreensão, que podem ser
utilizadas sem no entanto cumprir as regras gramaticais, possibilitando deste modo a
comunicação.
A utilização dos léxicos informais, tem igualmente a ver com as línguas familiar e
popular, em uso neste Bairro.

Palavras – chave: léxicos comunicação morfologia semântica plurilinguismo.

RESUME
The current social and linguistic situation of Capalanga Quarter, led us to make a
brief morphological analysis and semantic some lexicons used by its speakers.
The target of this work is justified primarily in locating certain how speakers use
informal lexicons, and what emerged as the meaning attributed to them, advancing the
benevolent words employed without distinction of its members.
The existence of more than one language in this district, results multilingualism.
The different languages used among residents of Capalanga district of certain events, have
hampered the communication system between them. Thus arises the need to create new
words easy to understand, that can be used without however meet the grammatical rules
thereby enabling communication.
The use of informal lexicons, it also has to do with the familiar and popular
languages in use in this district, for a limited time.
Key - words: lexical, morphological, language, speakers and semantics.

RÉSUMÉ
La situation sociale et linguistique actuel de Capalanga trimestre, nous a conduit à
faire une brève analyse morphologique et sémantiques des lexiques utilisés par ses haut-
parleurs.
L'objectif de ce travail est justifiée principalement à localiser certaine comment les
locuteurs utilisent lexiques informels, et ce qui est apparu comme le sens qui leur est
attribué, en avançant les mots bienveillants employés sans distinction de ses membres.
L'existence de plus d'une langue dans ce quartier, les résultats multilinguisme. Les
différentes langues utilisées parmi les résidents du district de Capalanga de certains
événements, ont entravé le système de communication entre eux. Ainsi naît la nécessité de
créer de nouveaux mots faciles à comprendre, qui peut être utilisé sans toutefois respecter les
règles grammaticales permettant ainsi la communication.
L'utilisation de lexiques informelles, il a aussi à voir avec les langues familières
et populaires en usage dans ce quartier, pour un temps limité.
Mots - clés: lexicaux, morphologiques, la langue, haut-parleurs et de la
sémantique.

INTRODUÇÃO
O assunto que iremos tratar neste estudo abrange uma parte de moradores do Bairro
Capalanga. O uso constante do português informal pode influenciar negativamente o
desenvolvimento das capacidades, hábitos e habilidades linguísticas do indivíduo. Por um
lado, pode causar preguiça mental relativamente ao conhecimento do português formal e por
outro das normas gramaticais. O indivíduo vai aprendendo novas palavras que por sua vez vão
enriquecendo o seu vocabulário e desenvolvendo as suas capacidades linguísticas e de
comunicação.
O nosso trabalho tende mostrar como os falantes do português do Capalanga,
empregam certos léxicos, a sua origem e significados que os mesmos atribuem.

Presentemente e em função da pluralidade de falantes, a Língua Portuguesa com o


seu carácter dinâmico, está sujeita a diversas alterações e evoluções tanto a nível semântico
como morfológico. Os falantes do Capalanga na sua maioria são plurilingues, facto que
influencia bastante no sistema de comunicação. As diversas línguas usadas nesta comunidade,
em alguns casos têm dificultado a compreensão entre os mesmos, por surgir a necessidade de
se criar novos léxicos a partir dos que já existem na Língua Portuguesa, nas línguas
estrangeiras e regionais.
A criação desses léxicos é feita de um lado acrescentando-se prefixos e sufixos e de
outro eliminando-os, que em algumas palavras altera o seu significado original. Para os
falantes dessa comunidade, um dos objectivos da criação dos léxicos é a facilidade na
comunicação e na compreensão entre a diversidade humana no bairro.
O nosso tema, visa justamente alertar as pessoas para uma meditação consciente,
sobre a escolha do léxico informal a usar e a ter em conta quando, onde, como e com quem
usá-lo. Deste modo, dividimos o nosso trabalho em três (03) capítulos a conceber logo a
seguir:
Na introdução, mencionamos a justificativa, a problemática e os objectivos que
desejámos obter para a efectiva realização desse trabalho. Formulamos também algumas
hipóteses que podem levar a esses falantes, a criarem esses léxicos, bem como indicamos a
delimitação do tema em análise.
No primeiro capítulo, referimo-nos sobre a argumentação teórica, por outras
palavras, definimos alguns termos chave tais como: Morfologia, semântica e léxico, para
melhor compreensão do tema em abordagem.
No segundo capítulo, mostramos algumas características sobre o bairro Capalanga,
no que tange a data da sua fundação, a sua posição geográfica, a divisão administrativa e a
situação linguística.
No terceiro capítulo, efectuamos uma análise morfológica e semântica de alguns
léxicos, a origem das palavras, a escrita oficial, sua aplicação em frases usadas pelos falantes
do bairro, de acordo ao seu campo semântico. E finalmente apresentamos as conclusões e a
bibliografia das três obras consultadas.
Os resultados desse trabalho devem ser vistos com atenção, por se tratar de uma
busca não acabada nesta área da ciência. Entretanto, todas as censuras, sugestões e
recomendações a serem feitas, serão bem-vindas para o seu aperfeiçoamento no futuro.

0.1. Justificativa.
A razão da escolha do tema, baseia-se fundamentalmente sobre o elevado
índice de moradores utentes desses léxicos, tendo em conta que se tem registado um aumento
considerável a cada dia que passa e se dilata por quase todo o Bairro Capalanga e, em quase
todas as faixas etárias e géneros.
Existem muitos residentes neste Bairro fora do sistema de ensino por diversas
razões. Esta situação faz com que não haja o domínio da Língua Portuguesa como factor
essencial, para a inserção e integração sociocultural do indivíduo na sociedade. Razão pela
qual certos falantes procuram formar outras palavras de modo a facilitar a comunicação entre
eles, sem ter em atenção a norma padronizada que se cumpre em actos oficiais. Dai a
preferência do tema

0.2. Problemática.
A situação linguística do bairro Capalanga é plurilingue. A maior parte dos seus
falantes sem distinção da faixa etária, género e classe social, vêem a necessidade de no seu
discurso usarem o português informal de modo a facilitar a comunicação, atendendo o facto
de que são palavras usadas no quotidiano pelos mesmos, nos espaços onde se praticam
desportos, compra e venda de mercadorias, lazer, dentro de táxis em circulação, etc.

O uso constante desses léxicos, por um lado é resultado do baixo nível de escolaridade de
alguns munícipes, o que faz com que haja pouco conhecimento no que diz respeito a
aplicação das normas e regras gramaticais, motivo suficiente para o notável fraco domínio da
Língua Portuguesa, surgindo a necessidade de formarem outros léxicos que facilitassem o
diálogo e a compreensão entre os membros desta comunidade, que acaba por ser resultado da
convivência com os utentes dos léxicos, servindo de um modo geral para o enriquecimento do
seu vocabulário e permitir a comunicação e poderem compreender os significados dos léxicos,
dando-lhes a possibilidade de se inserirem no meio ambiente que os rodeia.

Constatamos igualmente, que o uso dos léxicos está a se expandir em todas as


faixas etárias sobretudo a camada juvenil, pelo facto de maior parte da juventude ter menos
preocupação de recorrer as normas gramaticais e aplica-las enquanto conversam. Julgamos
convenientes que se busquem formas da população deste Bairro, em participar na
implementação de políticas linguísticas para que haja mudança no que diz respeito à criação e
utilização de certos léxicos. Enquanto não houver rigor no cumprimento das normas e regras
gramaticais, a situação se vai agudizando dia pós dia e incluem as demais comunidades
linguísticas. Destarte, achamos necessário para este ponto, as seguintes perguntas:

1ª – Quais são os factores que estão na base da criação dos léxicos do Capalanga?
2ª – Qual é a origem desses léxicos?

0.3. Objectivos.

0.3.1. Geral.
Saber a origem, natureza e significados dos léxicos e mostrar o contributo desses léxicos
para a evolução da Língua Portuguesa.

0.3.2. Específicos.
Identificar os léxicos informais nos falantes do Capalanga.
Analisar a utilização dos léxicos sua escrita oficial sem que se discrimine os seus usuários.
.

0.4.Hipótese.
A formação dos léxicos utilizados no bairro do Capalanga, não surge
ocasionalmente. Existem factores de ordem social, psicológica e financeira que contribuem
para que esses falantes, formem outras palavras para o diálogo e para o entendimento entre si.
Destarte, apresentamos as seguintes hipóteses:

H1; A criação dos léxicos vai facilitar o diálogo, possibilitando deste modo a
comunicação entre os residentes.

H2; O baixo nível de escolaridade e o analfabetismo, são algumas das causas do uso
inadequado desses léxicos, que efectivamente permitem que não haja interacção
entre o indivíduo e os manuais didáticos, contribuindo para que os mesmos não
tenham conhecimentos das normas gramaticais e do uso correcto de certas palavras.

H3; Os léxicos originam de palavras já existentes na Língua Portuguesa, nas línguas


estrangeiras e nacionais. Os mesmos são resultados da criação e imaginação destes
falantes.
H4; O enquadramento morfológico e semântico das palavras, depende
essencialmente de quem as usa, pois algumas mantêm a sua classe gramatical e o seu
sentido de origem, bem como outras são alteradas na sua totalidade.

H5;: O uso dessas palavras, depende especialmente das atitudes psicológicas e


linguísticas de cada indivíduo e da evolução que cada um deles recebe do meio
familiar.

0.5.Delimitação
Delimitamos esta análise no estudo morfológico e semântico de alguns léxicos
detectados no bairro do Capalanga.
Esta investigação foi efectuada em locais com elevados focos de concentração de
usuários desses léxicos, que a seguir se indicam: bares, barbearias, botequins, mercados,
salões de beleza, paragens de táxis e transportes públicos.
Essa delimitação, deve-se ao facto de ser um assunto actual que de um modo geral,
tem afectado a sociedade de forma directa ou indirectamente.
0.6. Metodologia.
A nossa pesquisa baseou-se em recolha de dados através da técnica de aplicação de
um inquérito em alguns munícipes do bairro Capalanga, com idade a partir dos 15 a 30 anos
numa amostra de 104 vocábulos bem como o recurso à pesquisa bibliográfica documental
relacionadas com o tema em analise

I. – ARGUMENTAÇÃO TEÓRICA.

1.1. Lexicologia e Léxicos.


A Lexicologia, é um ramo da linguística que tem por objectivo o estudo científico
do acervo de palavras de um determinado idioma sob diversos aspectos.
O léxico é o conjunto de palavras pertencentes a uma determinada língua. Ou seja,
todo o universo de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm a sua disposição
para expressar, oralmente ou por escrito.
O vocabulário léxico é de origem Grega, Lexis que significa palavra. Ele define
como sendo o conjunto de palavras ordenadas (Faraco,1987:89).
Na óptica de Marcos Bagno (2007:18), o léxico é a parte da língua que
primeiramente configura a realidade linguística e arquiva o saber linguístico de uma
comunidade. Para ele, o léxico é o componente da língua que mais facilmente retrata as
variações linguísticas, tem como função nomear e designar factos, processos, objectos,
pessoas, etc.
A característica básica do léxico é a sua facilidade de mudança de sentido, já que o
mesmo se encontra em constante evolução. Alguns léxicos se tornam arcaicos, uns são
incorporados, outros mudam o seu sentido. O usuário da língua utiliza o léxico para a
formação do seu vocabulário, para sua própria expressão no momento da fala e para a
realização do processo comunicativo.

O léxico de uma língua é composto de palavras semânticas agrupadas em classes


gramaticais. Quando essas palavras forem materializadas em um texto oral ou escrito, elas são
chamadas de vocabulário. Todo o conjunto ilimitado e aberto das unidades significativas e
todos os signos linguísticos por meio dos quais o homem não só se expressa, se comunica,
mas também cria novos conhecimentos, ou assimila conhecimentos que os outros homens
criaram não só na sua civilização, mas também em outras são denominados léxicos (Bagno,
2007:18).
Exemplo:
pai, mãe, esposo, carro, casa, telemóvel, linguística, criança, país, amor, caderno,
professor, alimento, vestuário, calçados, habitação, calções, saúde, ambiente, natal, igreja,
festa, pão, viver, casar, morrer, nascer, namorar, conduzir, estudar, trabalhar, conduzir, pintar,
encantar, deitar, conhecer, contar, cadeira amigo, filme, coisa, cidade, animal, edifício, posto,
medicamento, fardamento, tecido, comuna, aldeia, bairro, avião, bicicleta, motorizada, planta,
flor, impressora, máquina, imagem, fotografia, livro, esferográfica, toalha, sabonete, mesa,
cerveja, vinho, sabão, sumo, limão, manga, gasosa, brinquedos, porta, janela, comboio,
dormir, levantar, comer, maçar, carregamento, valores, roupa, relógio, rua, quintal, campo,
vela, fruta, hortícola, cama, televisor, rádio, serviço, comunicação, administração, cobertor,
lençol, transporte, escola, universidade, aniversário, baptismo, arca, frigobar, bagagem,
viagem, etc.

1.2. Morfologia
Morfologia é a parte da Gramatica que estuda as palavras na sua formação e flexão,
1
dentro das classes gramaticais a que pertencem.
Em rigor etimológico, morfologia significa estudo das formas, expressão que
aplicada à linguagem denota as unidades (morfemas, lexemas e palavras) que são em si
mesmas, portadoras de2 sentido.
Uma vez que a morfologia significa estudo das formas, podemos afirmar que
quando falamos, em forma estamos a tratar de tudo o que apresenta uma ordem de partes
devidamente organizadas ou estruturadas, o termo morfologia foi introduzido na linguistica
no século XIX por empréstimo das ciências naturais, que serviam então de modelo à
investigação das línguas.
Nas classes de palavras, temos as variáveis (substantivos, adjectivos, determinantes,
pronomes, numerais e verbos) e as invariáveis (adverbios preposições, conjunções e
3
interjeições).

1.2.1 Classe dos substantivos.


Os nomes ou substantivos que são aquelas palavras com que designamos os seres
4
em geral.
Exemplo: Carvalho, médica, Brazil, Laura, Loja, carro, vila, rapariga, casaco, mesa, cama.
Dentro desta classe, encontramos algumas subclasses como: os nomes próprios que
individualizam as coisas, animais ou pessoas, distinguindo-os dos outros seres da sua espécie.
A caracteristica principal desta subclasse, é que eles são escritos sempre com a letra
maiuscula inicial.
Exemplos:
A Juliana comprou uma arca.
Malanje é uma zona agrícola.
Aos nomes comuns referem-se aos seres em geral, ou seja, não individualizam os
seres.
Exemplo:
O meu desejo é frequentar a Universidade Agostinho Neto.
O atleta caiu e fracturou a perna.
Os nomes concretos designam pessoas, animais ou coisas pertecentes ao mundo
fisico.
Exemplo:
O Lopes Canda ofereceu-me um pneu de bicicleta.
A Cristina comeu os mambos.
Os nomes abstractos designam acções, qualidades ou estados. Exemplo:
O 1estado de do
Gramatica futebol 11moderno,
Português de Novembro
José Pintoée um empreendimento
Maria Lopes, p.112 de grande valor.
2 Fundamentos de Linguística Geral, Jesus António colado, p.35
3 Gramatica Os nomes colectivos
do Português moderno José designam
Pinto e Mariaum conjunto
Lopes, p. 113 de seres vivos ou de coisas da mesma
4 Gramatica do Português Actual, José Moura, p. 19
espécie. Exemplo
A manada de elefante destruiu uma lavra inteira.
1.1.1. Classe dos adjectivos.
Segundo Edite Estrela, Maria Leitão e Maria Soares (2003:72), os adjectivos são
palavras que particularizam os atributos de nomes. Os mesmos variam em: género, número e
grau.
Género:
Quando apresentam uma forma para o masculino e a outra para o feminino. Os adjectivos que
têm essa característica são chamados adjectivos biformes.
Exemplo:
A Luísa é alta. / O Xavier é alto
O Magalhães é lindo. / A Júlia é linda
Quando apresentam uma única forma tanto para o masculino e para o feminino, são chamados
adjectivos uniformes.
Exemplo:
O Baptista é estudante. / A Cristina é estudante.
Número:
O adjetivo concorda em número com o nome que o caracteriza, quando o mesmo caracteriza
vários nomes do singular, toma a forma do plural.
Exemplo:
A mulher Angolana é linda. / As mulheres Angolanas são lindas.
A Isabel e o Job são atenciosos.
Grau:
5
Os graus dos adjectivos são três:
1º - Normal: indica a simples atribuição da característica.
Exemplo: A Domingas é bonita.
2º - Comparativo: estabelece a comparação entre dois seres quanto à característica expressa
pelo adjetivo. Nele encontramos o grau comparativo de superioridade (O Leão é mais forte do
que o Tigre), de inferioridade (O Tigre é menos forte do que o Leão.) e de igualdade (O Cão é
tão forte como o Gato).
3º - Superlativo: indica o grau mais elevado da característica expressa pelo adjetivo. Neste
grau encontramos duas formas:
__________________________________________
- Absoluto: exprime um elevado grau da característica sem estabelecer relação. O absoluto
5 Saber escrever- Saber falar, Edite Estrela, Maria Soares e Maria Leitão, p. 73
sintético é formado com a junção do sufixo-íssimo ao grau normal do adjectivo.
Exemplo: A Cristina é lindíssima.
O absoluto analítico é formado pela junção do advérbio muito ao grau normal do adjectivo.
Exemplo: A Cristina é muita linda.
- Relativo: exprime a característica de um ser ou de um objecto no grau mais ou menos
elevado, em relação a todos os outros seres ou objectos de determinado conjunto. No grau
superlativo relativo encontramos o de superioridade e o de inferioridade.
1.1.2. Classe dos determinantes.
Os determinantes são palavras que antecedem os nomes e que de certa forma
6
indicam o número, o grau e a quantidade.
Nesta classe encontramos: os artigos definidos, que são empregues para designar
seres conhecidos (o, a, os, as ) e os indefinidos para os seres que não são conhecidos (um,
uma, uns, umas).
Exemplo: A Lina recebeu de oferta o livro do mestre Tamoda.
A Lina recebeu de oferta um livro.
Os possessivos, exprimem a ideia de posse e normalmente são antecedidos por um
artigo definido. (meu, teu, seu, minha, tua, sua, nosso, nossa, vosso, vossa).
Exemplo: Ofereci à Teresa a minha caixa de esferográficas.
O nosso carro trabalha muito bem.
Os demonstrativos servem para indicar um indivíduo ou uma coisa no tempo e no
espaço, (este, esse, aquele, esta, essa, aquela, o mesmo, a mesma, o outro).
Exemplo: Este mês, vou decidir a minha relação com aquela jovem.
Esta casa, é bastante enorme para esse casal.
Vou vender a outra bicicleta.
Os indefinidos, exprimem uma ideia de indefinição, referindo-se de modo impreciso
às pessoas ou às coisas (algum, nenhum, alguma, nenhuma, todo, qualquer, tantas).
Exemplo: Todos os jovens da rua 11, não têm qualquer sentimento de amor ao próximo.
A minha cunhada, não dá nenhuma ideia.
Não vejo motivo de tanta polícia na rua.
Os interrogativos são comuns em frases interrogativas (qual? Quanto? quê?).
Exemplo: Que tipo de comida preparou? 8

O João trouxe quantas garrafas de vinho?


Qual é a empresa que preferes?
__________________________________________
1.1.3. Classe dos pronomes
6 Gramatica do Português moderno, José Pinto e Maria Lopes, p. 135
Os pronomes são palavras que substituem um nome, adjectivo, grupo ou frase. Tal
como as outras classes, os pronomes também dividem-se em várias classes a mencionar:
Pessoais, demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos e relativos. ( ESTRELA
SOARES e LEITÃO, 2003, p.87).

1.1.4. Classe dos numerais.


Os numerais são quantificadores que indicam uma quantidade de coisas ou seres.
Nele encontramos os cardinais e os ordinais. (ESTRELA SOARES e LEITÃO, 2003, p.93).
Exemplo: A Graciete é a primeira filha da Cristina.
O Malgache comprou mais um carro.

1.1.5. Classe dos verbos.


Os verbos são palavras que exprimem acção, qualidades ou estados, situando-se no
tempo. Eles podem variar em número (singular e plural), pessoa (1ª a que fala, 2ª a quem se

7
fala e 3ª de quem se fala), modo indicativo, conjuntivo, imperativo e infinitivo), tempo
(actual, pretérito e vindouro), aspecto e voz (activa e passiva).
Exemplo: escrever, dançar, trabalhar, andar, brincar, beber, comer, casar, dormir, jogar etc.

1.1.6. Classe dos advérbios.


Os advérbios são palavras invariáveis que servem para especificar o sentido dos
8
verbos, dos adjectivos e de advérbios. Eles são classificados da seguinte forma:
- Advérbio de lugar (abaixo, acima, dentro, ali, cá, fora etc.).
Exemplo: A lata de atum encontra-se dentro do armário.
Os alunos abaixo designados, foram expulsos.
O estudante acima referido, é filho do Director.
A mercadoria da loja que fica ali próximo da cidadela, foi encontrada fora do
estabelecimento.
- Advérbio de tempo (amanhã, hoje, ontem, logo, agora etc.).
Exemplo: Depois de amanhã, estarei com ela no gelado rabugento.
Alina hoje me vai sentir.
Os dois filhos do vizinho foram ontem detidos pela Polícia.
A Júlia e o Simão, logo estarão na festa dos Kiezos.
Agora estou de saída.
________________________________________________
- Advérbio de modo (bem, como, melhor, mal, pior, depressa, etc.)
7 Saber escrever- Saber falar-eEdite Estrela, Maria
Exemplo: O Malgache a Cristina, estãoSoares
bemeda
Maria Leitão, p.74
vida.
8 Gramatica Prática da Língua Portuguesa, Maria Fonseca e Maria Marçalo, p.62
Para evitar chatices é melhor não comprares a motorizada.
Devido o comportamento negativo dos filhos, o Senhor Xavier termina mal o
curso.
Se eu liguei para Alina contar connosco no almoço, como é que diz que já não há.
O Cardoso anda depressa.
Se os jovens gritam, a Vanuza é pior.
- Advérbio de quantidade (muito, pouco, menos, mais, demasiado, tec.).
Exemplo: A jovem que atende sopa naquela casa, fala muito e trabalha pouco.
O Palucho, tem menos idade do que a prima.
A Luísa é mais alta do que Baptista.
- Advérbio de afirmação (realmente, certamente, evidentemente, já, sim, etc.).
Exemplo: Realmente o arroz está no fim.
A Cristina já adquiriu outra garrafa de gás.
Estamos certos de que teremos uma sentada com os pais da Celina.
A Laura comeu a fruta? Sim pai, comi.
- Advérbio de negação (não, jamais, nunca, etc.).
Exemplo: Garcia, nunca mais entra nesta casa.
Não quero ter problemas com a mulher dele.
Diga-lhe que jamais o meu filho será noivo dela.
- Advérbio de inclusão (mesmo, também, inclusivamente, etc.).
Exemplo: O Joaquim Leão, também dá aulas nos Bombeiros.
Foi ele mesmo que contou a história.
O miúdo não tem juízo, porque inclusivamente o professor, chamou-lhe atenção.
- Advérbio de exclusão (apenas, senão, exclusivamente, unicamente, etc.).
Exemplo: A escala milimétrica é exclusivamente destinada a fotografia clássica.
A empresa fornecedora, entregou-nos apenas quatro unidades de cada.
O Malgache, é único filho da velha Suzana.
Já não vejo motivo de discussão, senão pedir desculpas.
- Advérbio de dúvida (talvez, provavelmente, possivelmente, etc.).
Exemplo: Os finalistas do ano passado provavelmente recebem os seus diplomas a manhã.
Aló Joana possivelmente estaremos juntos depois de amanhã.
Vamos enviar-lhe esta mensagem talvez mude rapidamente de ideia.
1.1.7. Classe das preposições.
Na óptica de José Pinto e Maria Lopes (2011:166), as preposições são palavras
invariáveis que estabelecem uma relação entre elementos da frase (a, até, com, em, de, desde,
para, após, conforme, durante, perante, sobre, etc.). As preposições a, de, em e por podem
aparecer contraídas com o artigo definido e com alguns determinantes e pronomes tais como:
a+a=à
a + a = ao
de + o = do
em + o = no
em + esta = nesta
de + ela = dela
Existem muitas locuções prepositivas, das quais citaremos algumas das principais
como: abaixo de, acerca de, acima, ao lado de, dentro de, depois de, em vez de, por baixo de,
por causa de, junto de, longe de, etc.
1.1.8. Classe das conjunções.
Elas são palavras invariáveis que servem para relacionar orações ou elementos
semelhantes da mesma oração. Existem dois tipos de conjunções segundo José Pinto e Maria
Lopes (2011:169).
1.1.8.1. Conjunções coordenativas.
As conjunções coordenativas ligam orações da mesma natureza ou palavras que na
oração desempenham funções iguais.
Exemplo: Ou entras ou sais.
Nela encontramos:
As conjunções copulativas (e, nem, também) e as locuções: não só….mas também,
não só…como também, tanto…como.
As conjunções adversativas são: mas, porém, todavia, contudo, entretanto. As
locuções: no entanto, ainda assim, não obstante, apesar disso.
Conjunções disjuntivas: ou, as locuções são: ou…ou, já…já, ora…ora, nem…nem,
quer…quer, seja…seja.
As conjunções conclusivas: são: logo, pois, portanto e as locuções são: por
conseguinte, por consequência.
As conjunções explicativas são: pois, porquanto, que.
1.1.8.2. Conjunções subordinativas.
As conjunções subordinativas unem duas orações, estabelecendo uma relação de
dependência entre elas, isto é a subordinativa completa o sentido da subordinante.
Exemplo: Embora faça frio, vou andar.
Conjunções causais: porque, pois, porquanto. Locuções: pois…que, por isso que, já
que, visto que, uma vez que.
Conjunções comparativas: como, segundo, conforme. Locuções: assim como…assim
também, bem… como, tanto…quanto, tanto…como, etc.
Conjunções concessivas: embora, conquanto. Locuções: ainda que, mesmo que, nem
que, bem que etc.
Conjunções condicionais: se, caso. Locuções: a não ser que, dado que, sem que, uma
vez que, etc.
Conjunções consecutivas: que. Locuções: de forma que, de maneira que, de modo
que, etc.
Conjunções finais: que (=para que). Locuções: para que, a fim de que.
Conjunções integrantes: que, se
Conjunções temporais: quando, enquanto, apenas, mal. Locuções: antes que, depois
que, até que, cada vez que, desde que, logo que, etc.
1.1.9. Classe das interjeições.
As interjeições são palavras invariáveis com que exprimimos as nossas emoções,
elas traduzem de modo vivo e expressivo emoções, sentimentos súbitos e espontâneos. São
frequentes nas frases exclamativas e normalmente são acompanhadas de ponto de
exclamação, as mesmas classificam-se segundo o sentimento que exprimem. (PINTO e
LOPES, 2011, p.171)
De alegria: ah! Oh!
De animação: avante! coragem! vamos!
De aplauso: bravo! Viva!
De desejo: oh! oxalá!
De dor: ai! oi! ui!
Exemplo: Ah! que bela moradia adquiriste.
Conotação é o uso da palavra com um significado diferente do original, criado pelo
contexto. A conotação de uma palavra consiste nos valores afectivos e culturais que são
acrescentados ao significado de base. Ela é própria da linguagem expressiva, afectiva, que
leva-nos para um mundo de sugestões e predomina nos textos literários. A conotação cujo
9
sentido é semântico está relacionada com a polissemia.
Como exemplo temos as palavras coração e cabeça.
Cabeça: parte superior do corpo humano- sentido lateral.
Denotação:

- A Cristina amarrou um lenço na cabeça.


- A cabeça do Jesus é pequena.
Conotação:
- A Catarina é a cabeça da família.
- A cabeça do repolho está sendo vendida a bom preço.
- O Fundangueiro sabia de cabeça todos os nomes dos membros da sua Igreja.
Coração: órgão central da circulação sanguínea- sentido lateral.
Denotação:
- O Joel tem o coração dilatado.
- A Igreja Católica está localizada no coração da cidade.
A teoria dos campos semânticos foi proposta por alguns linguistas Alemães e Suiços
durante as décadas de 20 e 30, nomeadamente: Ipsen (1924), Jolles (1934), Porzig (1934) e
10
Trier (1934).

O campo semantico é constituido por um conjunto de palavras relacionadas com


uma determinada área da realidade.

______________________
9 Ibidem, p.214
10 Semantico de John Lyons, p.204

DADOS ESPECÍFICOS SOBRE O BAIRRO CAPALANGA.

2.1. História do Bairro de Capalanga


Na década dos anos 80, a zona onde hoje é o Bairro Capalanga, era uma zona
povoada por animais selvagens e existia vários campos agrícolas dos pequenos camponeses,
que eram povos que residiam nos arredores da vila de Viana, Província de Luanda. Durante
este período, chegou nesta zona um cidadão de nacionalidade Angolana, que atendia por
nome de “Epalanga”, que se instalou com a sua família e trabalhava na zona Industrial de
Viana como Guarda. Enquanto as noites guarnecia as instalações, no período diurno
frequentava a zona agrícola fazendo lavras, onde em meados do ano 1985 foi picado por uma
cobra venenosa, não resistindo ao veneno acabou por falecer. O bairro começa a proliferar-se
espontaneamente nessa altura e em homenagem a este homem, o Bairro passou a designar-se
“Capalanga”, tendo sido eleito o primeiro Coordenador o Senhor Pascoal, que actualmente já
não faz parte ao mundo dos vivos, tendo como Secretário o Senhor Albino Suingue, residente
algures em Luanda.

No final do ano 1988, o Bairro Capalanga expandiu-se mais ainda com a instalação
da Ex-Unidade nº 2 de Força de Segurança designada “ Onças da Montanha”, comandada
11
pelo General Kundy Paihama, das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola FAPLA.

2.2. Situação Geográfica

O Bairro Capalanga é considerado o mais populoso do Município de Viana


Em função da sua proximidade com a cidade de Luanda e de factores migratórios
dos povos do interior de Angola, devido a intensa guerra após as eleições de 1992, Viana
passou a ser zona de maior concentração populacional e na década dos anos 2000, os
primeiros povos oriundos das Províncias do Kwanza Norte, Malanje, Bié e Huambo, fixaram
as suas residências de caracter provisório (construção de adobe), nesta área que atende por
nome de “Bairro Capalanga”, objecto de estudo da nossa pesquisa.

2.2. Situação Geográfica


___________________________________________
O Comissão
11 Secretaria da Bairro Capalanga é considerado
de Moradores o mais
do Bairro Capalanga populoso do Município de Viana, com
2
uma extensão territorial de 149.333 km de superfície.

2.2.1. Limites
O espaço territorial do Bairro Capalanga, tem os seguintes limites geográficos:
A Norte faz fronteira com o Município de Cacuaco.
A Sul com a Estrada Nacional 230.
A Este com a Via Expresso Kabolombo – Cacuaco.
A Oeste com o Bairro Caop B/Viana.

2.2.2. Clima
O Bairro do Capalanga encontra-se numa região semi árida, de clima tropical quente
e húmido que compreende duas estações, sendo uma chuvosa de cinco meses e outra seca. A
primeira é de escassa precipitação que varia entre os 350 mm e os 450 mm nos meses de
Novembro e Abril, a sua distribuição é muito irregular com oscilações acentuadas.
A estação seca ou de cacimbo é muito prolongada, correspondendo ao período fresco
do ano entre os meses de Junho, Julho e Agosto.

2.2.3. Demografia

Segundo os dados preliminares do Censo Populacional 2014, este Bairro conta com
7,5% do total da população do Município de Viana, correspondente a 124.785 habitantes entre
idade reprodutiva e não reprodutiva, sendo as crianças e mulheres o maior número dessa
população, distribuída pelas etnias Cokwe, Kicongo, Kimbunbo, Kwanyama e Umbundo. Os
moradores do Bairro Capalanga, maioritariamente são provenientes das Províncias do interior
do País, nomeadamente Benguela, Bié, Cunene, Huambo, Huíla, Kwanza Sul, Malanje e
Uíge, que se deslocaram das suas áreas de origem para este bairro, a procura de condições de
segurança devido a guerra do período de 1992 à 2002.

2.3. Divisão Administrativa


Administrativamente o Bairro Capalanga encontra-se subdividido em 18 Sectores,
12
271 Quarterões, 35 Ruas e 18 Travessas.
_______________________________________________________

12 Secretaria da Comissão de Moradores do Bairro Capalanga

2.4. Situação Linguística do Capalanga

Este bairro tem um caracter plurilingue, visto que nele encontramos moradores de
diversas origens e etnias. Dentre as diferentes línguas nacionais, as línguas estrangeiras e o
português formal encontramos também o calão, que é uma das características informais da
linguagem que é muito usado principalmente pela camada juvenil, por ter uma grande
vantagem de não ter regras. Observamos que as línguas nacionais mais faladas neste bairro
são: Cokwe, Kicongo, Kimbunbo, Kwanyama, Ngangela e Umbundo.

Uma outra situação que surge actualmente é o estilo de linguagem informal


denominado catroa. Nesse estilo as palavras são ditas de forma contrária a sua forma original,
ou seja, ela é lida da direita para a esquerda.
Ana Guimarães, no seu livro denominado “Ensaio sobre os falares Luandenses”
(2004:105), diz que esse tipo de linguagem também pode ser chamado de “guêsportu” uma
vez que o mesmo consiste em inverter a formação original das palavras, sejam do português
formal ou do calão. A catroa ou guêsportu surgiu com o objectivo de se poder falar a vontade,
sem que as pessoas entendessem o que está a ser dito.

Para os moradores do Bairro Capalanga, esse estilo informal também é uma forma de
marcar a diferença, é considerado como uma linguagem específica para os seus falantes.
Como exemplo temos as seguintes frases:
Iva rapa saca.- Vai para casa;
Ume lhofi. – Meu filho;
Ut iva a iapra. – Tu vai a praia;
Ue bobe nhovi. – Eu bebo vinho;
A talu ragoa remoc. – A luta agora comer;
Orque rias de saca. – Quero sair de casa;
Somva remoc. – Vamos comer;
Laca a cabo asu iafe. – Cala a boca sua feia.
Cevo lafa taimu lam. – Voce fala mal;
Alho mada abo. – Olha dama boa;
Amblepro me saca. – Problema em casa;
As palavras de uma só silaba, não são invertidas, temos o caso das seguintes palavras: Ana e
é.
ANÁLISE MORFO-SEMÂNTICO DE ALGUNS LÉXICOS DETECTADOS NOS
FALANTES DO BAIRRO CAPALANGA – VIANA.

3.1 Recolha do corpus

Ambi
Apartucho
Apromado
Avilo
Bandessar
Bassula
Bazar
Beleira
Bilingueiro
Bilo
Biscato
Biscoitinha
Bizno
Biolo
Birruba
Biruta
Boiado
Bondar
Bocaile
Boledo
Boiola
Bongó
Buelo
Bufunfa
Buluzento
Breda
Brogolhó
Brogodjó
Broxó
Bringela
Cachen
Cachucho
Canjonjar
Careta
Carripande
Cobele
Chalé
Chavalo
Chimbeko
Croquis
Duche
Estrilho
Fobado
Fonar
Futafuta
Garinhela
Garfar
Gueime
Gramo
Japão
Jampar
Jabá
Kabako
Kaenche
Kambuta
Kangar
Kanguirima
Kanuco
Kassumbular
Katukutuko
Kibeure
Kota
Kubele
Kubico
Kuiar
Lalau
Lombucho
Manga
Mangope
Maike
Maka
Malike
Mamoite
Mbaia
Mbanji
Mbauar
Nena
Ngapetela
Paiado
Papoite
Papucho
Paxe
Pepa
Pinar
Polyangue
Pongue
Piroka
Puto
Purum
Puguenta
Salo
Steid
Site
Tambi
Tapanel
Tekebafo
Tiroza
Titaricho
Tombé
Tugueta
Tutela
Trabuco
Trumunar
Quarentinha
Repolho
3.2 Informantes

Nome: Adão Joaquim de Lima


Idade: 47 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Kwanza Norte
Residência: Estalagem
Habilitações Literárias: 5º ano Contabilidade
Língua Falada: Português, Espanhol, Inglês e Kimbundu

Nome: Anabela Cristóvão Adão da Silva


Idade: 42 anos
Profissão: Funcionária Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Adriano Candau


Idade: 54 anos
Profissão: Mecânico
Naturalidade: Lunda Norte
Residência: Km 30
Habilitações Literárias: 10ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: André Lopes


Idade: 47 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Malanje
Residência: Viana
Habilitações Literárias: 4º Ano Comunicação Social

Nome: André Francisco Gaspar


Idade: 60 anos
Profissão: Mecânico
Naturalidade: Malanje
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua falada: Português e Kimbundu

Nome: António Simão Matari


Idade: 38 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Malanje
Residência: Caop B
Habilitações Literárias: 4º Ano Comunicação Social
Língua Falada: Português, Inglês e Kicongo

Nome: António Elísio Mussuele


Idade: 53 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Moxico
Residência; Estalagem
Habilitações Literárias: 3º Ano Direito
Língua Falada: Português, Inglês, Espanhol, Umbundo

Nome: Basílio Daniel da Cruz


Idade: 48 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Benguela
Residência: Viana
Habilitações Literárias: 4º Ano Psicologia Clínica
Língua Falada: Português, Inglês e Umbundo

Nome: Bernardo Albino


Idade: 50 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Lunda Norte
Residência: Km 30
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Bernardo Cabaibai


Idade: 46 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Lunda Norte
Residência: Viana
Habilitações Literárias: 11ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Branca Mateus Gaspar


Idade: 48 anos
Profissão: Funcionária Pública
Naturalidade: Malanje
Residência: Boa-fé
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Bragança de Jesus André


Idade: 32 anos
Profissão: Estudante
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 2º Ano Jornalismo
Língua Falada: Português, Inglês e Kimbundu

Nome: Carlos Gonçalves Jacinto Baptista


Idade: 48 anos
Profissão: Linguista
Naturalidade: Benguela
Habilitações Literárias: Licenciado
Língua Falada: Português, Inglês e Umbundo

Nome: Carolina Candau


Idade: 32 anos
Profissão: Zungueira
Naturalidade: Uíge
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 10ª Classe
Língua Falada: Português e Kicongo

Nome: Daniel Ferreira dos Santos


Idade: 43 anos
Profissão: Engenheiro Construção Civil
Naturalidade: Luanda
Residência: Viana
Habilitações: Licenciado
Língua Falada: Português, Franceis, Inglês e Kimbundu

Nome: Domingos Chilembe Josias


Idade: 34 anos
Profissão: Electricista Auto
Naturalidade: Benguela
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 2º Ano Contabilidade
Língua Falada: Português e Umbundo

Nome: Eduardo Bernardo Pereira


Idade: 37 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Estalagem
Habilitações Literárias: 4º Ano Engenharia Informática
Língua Falada: Português, Inglês e Kicongo
Nome: Francisco Alexandre
Idade; 45 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português, Kimbundu e Cokwe

Nome: Francisco da Conceição Cardoso


Idade: 43 anos
Profissão: Electricista
Naturalidade: Kwanza Norte
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Jerson Guimarães Manuel


Idade: 33 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 4º Ano Psicologia
Língua Falada: Português

Nome: João Quissanga da Costa


Idade: 38 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Kwanza Norte
Residência: Estalagem
Habilitações Literárias: Licenciado
Língua Falada: Português, Inglês e Kimbundu
Nome: Job António Bernardo
Idade: 54 anos
Profissão: Enfermeiro
Naturalidade: Malanje
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 1º Ano Ciências de Saúde
Língua Falada: Português, Inglês e Kimbundu

Nome: José Francisco Beinete


Idade: 42 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 1º Ano Direito
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Júlia Maria da Conceição Sebastião


Idade: 42 anos
Profissão: Professora
Naturalidade: Malanje
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 1º Ano ISCD
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Juliana Lando Mena


Idade: 34 anos
Profissão: Estudante
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kicongo
Nome: Kranklin Basilho Paulo
Idade: 30 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 4º Ano Relações Internacionais
Língua Falada: Português e Kicongo

Nome: Marcos António Francisco


Idade: 41 anos
Profissão: Historiador
Naturalidade: Malanje
Residência: Viana
Habilitações Literárias: Licenciado
Língua Falada: Português, Inglês e Kimbundu

Nome: Marcolino Joaquim Pedro


Idade: 23 anos
Profissão: Estudante
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 12ª Classe
Língua Falada: Português e Kimbundu

Nome: Marinho Lourenço da Silva


Idade: 48 anos
Profissão: Jurista
Naturalidade: Luanda
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: Licenciado
Língua Falada: Português, Inglês e Kimbundu

Nome: Pedro David Sassonde


Idade: 35 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Malanje
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 4º Ano Psicologia
Língua Falada: Português e Kicongo

Nome: Rodrigues Simão


Idade: 47 anos
Profissão: Funcionário Público
Naturalidade: Uíge
Residência: Capalanga
Habilitações Literárias: 10ª Classe
Língua Falada: Português e Kicongo

3.3. Origem dos léxicos

Os léxicos do Bairro Capalanga, não têm uma única origem, visto que a maior parte
desses são originários de outras palavras existentes nas diversas línguas nacionais, nas línguas
estrangeiras, bem como na língua portuguesa. Outros léxicos surgem da criação e imaginação
dos residentes deste bairro, assim como existem léxicos de origem desconhecida.

Na língua Kimbundu originam algumas palavras como: kassule, kambuta, kota,


kuenda, maka, tambi etc.

Na língua Portuguesa surgem palavras como: ambi, apromado, avilo, bilingueiro,


buda, estrilho, enchidor, fonar, garfar, kubico, lambu, mamoite, papoite, ralado, salo,
malaique, dama, apartucho, lambido e outras do mesmo étimo.

É fruto da imaginação desses moradores os seguintes léxicos: Kangar, Kubele,


Biolo, Brogolhó, Brogodjó, Buluzento, Calache, Cachen, Duche, Futafuta, Gramo, Jampar,
Papucho, Titaricho, Trabuco, Tugueta, Pongue.

Na língua Inglesa originaram as palavras: Brada, breda, bizno e mike.


Para a criação desses léxicos, em alguns casos são acrescentados sufixos e prefixos,
como é o caso das palavras: enchidor, mamoite, papoite, ralado, salo, malaique, bilingueiro.
Em outros casos eliminam-se os sufixos e prefixos exemplo: ambi (ambicioso), kota (dikota),
fonar (telefonar), ndengue (kandengue), mor (amor), stou (estou).

3.3.1. Escrita oficial

Apresentamos a escrita oficial apenas de alguns léxicos, pelo facto de certos léxicos
não diferirem muito da escrita oficial.

Ambicioso
Apartamento
Apromado
Avilo
Bandeçar
Bassula
Bazar
Beleira
Bilingueiro
Bilo
Biscato
Biscoitinha
Bizno
Biolo
Birruba
Biruta
Boiado
Bondar
Bocaile
Boledo
Boiola
Bongó
Buelo
Bufunfa
Buluzento
Breda
Brogolhó
Brogodjó
Broxó
Bringela
Cachen
Cachucho
Canjonjar
Careta
Carripande
Cobele
Chalé
Chavalo
Chimbeko
Croquis
Duche
Estrilho
Fobado
Fonar
Futafuta
Garinhela
Garfar
Gueime
Gramo
Japão
Jampar
Jabá
Kabako
Kaenche
Kambuta
Kangar
Kanguirima
Kanuco
Kassumbular
Katukutuko
Kibeure
Kota
Kubele
Kubico
Kuiar
Lalau
Lombucho
Manga
Mangope
Maike
Maka
Malike
Mamoite
Mbaia
Mbanji
Mbauar
Nena
Ngapetela
Paiado
Papoite
Papucho
Paxe
Pepa
Pinar
Polyangue
Pongue
Piroka
Piteu
Puto
Purum
Pugueta
Salo
Steid
Site
Tambi
Tapanel
Tekebafo
Tiroza
Titaricho
Tombé
Tugueta
Tutela
Trabuco
Trumunar
Quarentinha
Repolho
3.3.2. Análise morfológica (Natureza)
3.3.2.1. Substantivos

Avilo: masculino – singular


Apartucho: masculino – singular
Bassula: feminino – singular
Beleira: feminino – singular
Biolo: feminino/masculino – singular
Boiola: masculino – singular
Bufunfa: feminino – singular
Broxó: feminino/masculino – singular
Bocaile: feminino – singular
Bizno: masculino – singular
Breda: masculino – singular
Cachucho: masculino – singular
Careta: feminino – singular
Cobele: masculino – singular
Chalé: masculino – singular
Chimbeco: feminino/masculino – singular
Dikota: masculino - singular
Duche: masculino – singular
Katukutuko: masculino – singular
Kanuko: masculino – singular
Kanuka: feminino – singular
Kota: masculino – singular
Kubico: feminino – singular
Kubele: masculino – singular
Maka: masculino – singular
Makota: feminino/masculino – plural
Mamoite: feminino – singular
Mbanji: feminino – singular
3.3.2.2. Adjectivos

Ambi: biforme
Apromado: biforme
Bardeado: biforme
Buluzento: biforme
Bilingueiro: biforme
Fobado: biforme
Kaenche: uniforme
Kambuta: uniforme
Lombucho: biforme
Paiado: biforme
Pongue: uniforme

3.3.2.3. Verbos

Bandeçar
Bazar
Bondar
Canjonjar
Cassumbular
Fonar
Garfar
Jampar
Kambar
Kangar
Kubar
Kungar
Kuiar
Kurtir
Mbauar
Pinar
Queimar
Xiranga
Tiroza
Trumunar

3.4 Significados

Termos
Significados
Ambi--------------------------------------------------------------------------------ambicioso, orgulhoso
Apartucho-------------------------------------------------------------------------- apartamento,
moradia
Apromado------------------------------------------------------------------------- vestir bem,
organizado
Avilo--------------------------------------------------------------------------------- amigo, companheiro
Bassula------------------------------------------------------------------------------------------------ queda
Baza----------------------------------------------------------------------------------------------vai, vamos
Bazar----------------------------------------------------------------------------------------------- andar, ir
Bilingueiro--------------------------------------------------------------------------- aldrabão, mentiroso
Bilo-------------------------------------------------------------------------------------------------------
luta
Biolo------------------------------------------------------------------------------------------------ negócio
Bocaile------------------------------------------------------------------------------------------- bairro,
rua
Boledo--------------------------------------------------------------------------------------------fofoqueiro
Bringela----------------------------------------------------------------------------------------------menina
Brogolhó-------------------------------------------------------------------------------------------------
pão
Carripande------------------------------------------------------------------------------veículo
automóvel
Cobele-------------------------------------------------------------------------------------cobrador de táxi
Chalé------------------------------------------------------------------------------------------- quarto, casa
Chimbeko------------------------------------------------------------------------------------------- casebre
Duche------------------------------------------------------------------------------------------------- banho
Fonar-----------------------------------------------------------------------------------------------telefonar
Futafuta-------------------------------------------------------------------------------------------- dinheiro
Garfar------------------------------------------------------------------------------------ comer, alimentar
Jabá------------------------------------------------------------------------------------------------- dinheiro
Kanuco---------------------------------------------------------------------------------------------- criança
Kambar-----------------------------------------------------------------------------------------------
dormir
Kangar----------------------------------------------------------------------------conseguir ter namorada
Kassumbular--------------------------------------------------------------------------receber algo a
força
Kubar-------------------------------------------------------------------------------------------------
morrer
Lalau----------------------------------------------------------------------------- disparo de arma de
fogo
Maike------------------------------------------------------------------------------------namorada,
mulher
Maka---------------------------------------------------------------------------------- problema, confusão
Malaike--------------------------------------------------------------------------------------- inimigo,
mau
Mamoite---------------------------------------------------------------------------------------- mama,
mãe
Mbanji---------------------------------------------------------------------------------------------------casa
Mbauar----------------------------------------------------------------bater, agredir fisicamente outrem
Nena------------------------------------------------------------------------------------------------------
não
Ngapetela--------------------------------------------------------------------------- feiticeiro, curandeiro
Papoite---------------------------------------------------------------------------------------------pai, papá
Paxe--------------------------------------------------------------------------------------passageiro de táxi
Pepa--------------------------------------------------------------------------------------------------verdade
Pinar----------------------------------------------------------------------------------assaltar, roubar, tirar
Piteu--------------------------------------------------------------------------------------------------comida
Polyangue--------------------------------------------------------------------------------------------polícia
Pugueta---------------------------------------------------------------------------------------------rapariga
Repolho-----------------------------------------------------------------------------------dama, namorada
Salo---------------------------------------------------------------------------emprego, serviço, trabalho
Site----------------------------------------------------------------------------------------------------cidade
Steid-------------------------------------------------------------------------casa onde se consome droga
Tambi-----------------------------------------------------------------------festa sem organização, óbito
Tapanel---------------------------------------------------------------------------------------------bofetada
Tekebafo---------------------------------------------------------------------------------------tomar
banho
Tioto---------------------------------------------------------------------------------irmão da mãe/pai, tio
Tiroza-------------------------------------------------------------------------sair de um ponto para
outro
Tombé-------------------------------------------------------------------------------abuso, estiga,
imsulto
Trabuco--------------------------------------------------------------------------------------cigarro, droga
Trumunar-----------------------------------------------------------------------------------------------jogar
Tugueta---------------------------------------------------------------------------------------------Portugal
Uscota------------------------------------------------------------------------------------------------Polícia
Vaizer------------------------------------------------------------------------------------------------pustura
3.4.1. Agrupamento de alguns léxicos de acordo ao seu campo semântico.
Campo semântico é o campo constituído por um conjunto de palavras relacionadas
com uma determinada área da veracidade.

Campo Léxicos
Alimentação Breda, brogolhó, garfar, piteu, papucho,
Amizade Avilo, brada, broxó, kamba, kanuco, kota, ndengue, puto
Comércio Biolo, biscato, bizno, dicomba, payar, zungar, yula.
Desporto Trumunar.
Habitação Apartucho, Kabako, kubico, chalé, chimbeko, mbanji.
Moda Apromado(a), grifado(a), xike
Namoro Dama, bringela, kangar, maike, mbiri, pugueta, repolho
Parentesco Mamoite, ndengue, papoite, tioto
3.5.Contextualização dos léxicos detectados nos falantes do Capalanga

1 – Mô avilo tá bwé xike, vais bazar aonde? – Desvio à norma.


Meu amigo estás bem vestido, para onde vais? – Norma padrão.
2 – Vô bazar no kubico da Mamoite da minha maike.
Vou à casa da mãe da minha namorada.
3 – O Cobele do ruca do mô avilo, é bwé ambi.
O cobrador do carro do meu amigo, é muito ambicioso.
4 – Vô te lançar taponel kanuco.
Vou dar-te bofetada miúda.
5 – O mô carripande tem estrilho no motor.
O motor do meu carro tem problema.
6 – O buluzento do Kapata, papa bwé breda sem nada.
O Kapata é burro, porque come muito pão simples.
7 – Xé ndengue! nô se bate atoa, a pugueta Inês takabaikoka.
Atenção miúdo! não te metas com a menina Inês, ela está concebida.
8 – O Kingonde toma jabaculé e compra um trabuco.
O Kingonde recebe dinheiro e adquire um cigarro.
9 – O biolo que fiz para o mô carripande deu estrilho.
O negócio que fiz para o meu carro, trouxe problema.
10 – A mbiri do Rafael é bwé balazo.
A namorada do Rafael é muita bonita.
11 – O mô ndengue de 12 anito é bwé barra no salo.
O meu irmão de 12 anos de idade, é muito inteligente no serviço.
12 – Vamo bazar deste Mbanji tipo vão bilar.
Vamos sair desta casa, porque vão lutar.
13 – O prof da língua nacional kimbundu é polyangue.
O professor da língua nacional kimbundu é polícia.
14 – O puto Ngola bazou para tugueta.
O miúdo Ngola, foi para Portugal.
15 – Na minha Bocaile vai passar tambi bwé rijo no sábado.
Na minha rua haverá uma festa grande no sábado.
16 – O kota Kingoma, apanhou lalau da kinama no tambi de sábado
O mais velho Kingoma, apanhou tiro da perna na festa de sábado.
17 – O ndengue Kizua e a bringela Mafuta, caíram no kubico daquele bilingueiro.
O miúdo Kizua e a menina Mafuta, foram para a casa daquele aldrabão.
18 – O mô papucho de todos os dias de manhã é a magoga.
A minha comida de todos os dias é o pão com frango.
19 – Xé wi! vamos fonar para o number da mbowa Josefa da bocaile de baixo para cair no
nosso apartucho.
Olha meu! vamos telefonar para o número da moça Josefa, que vive na rua de baixo, para ir
ao nosso apartamento.
20 – O estou bwé fobado não papei nada desde ontem.
Estou com muita fome, porque não comi nada desde o dia de ontem.
21 – O Panina da bocaile 11 é bwé boledo.
O homossexual que vive na rua 11, é pouco inteligente.
22 – O kota André é ngapetela.
O velho André é feiticeiro.
23 - Hoje vou garfar no kubico da minha mike.
Hoje vou almoçar em casa da minha namorada.
24 – O João Kibeto pinou uma kota no bocaile e agora está lambido com os polyangue.
O João Kibeto, assaltou uma senhora na rua, agora está a fugir os Polícias.
25 – O Quituxe é boelo os putos da bocaile 17 lhe kassumbularam o katukutuco do nhado.
O Quituxe é burro porque os miúdos da rua 17, lhe receberam o carro do cunhado.
26 – A ndengue Joana ontem recebeu tapanel do Cristo.
A miúda Joana, ontem apanhou uma bofetada da mão do Cristo.
27 – No domingo de manhã vou trumunar na cidadela, quando chegar no mô chalé vou dar
um tekebafo e depois vou bazar no tambi do kota da minha mbwa.
Domingo de manhã ou jogar futebol na cidadela desportiva, quando eu chagar em minha
casa, vou tomar banho e em seguida vou à festa do irmão da minha mulher.
28 – O Cardoso Pinto, toma mega sem manguitar e está a ficar bwé kaenche.
O Cardoso Pinto, bebe comprimidos sem fazer exercícios físicos e está a engordar muito.
29 – O Carlos cruzou ontem do tugueta.
O Carlos, chegou ontem de Portugal.
30 – A kota Inês tem vaizer de bom repolho.
A senhora Inês, tem pustura de uma boa dama.
31 – Xé Eduardo! Tiroza.
Atenção Eduardo, vamos sair daqui.
CONCLUSÕES

O sistema lexical de uma língua, traduz a experiencia cultural da sociedade através


do tempo, as palavras que a língua possui devem ser consideradas como o património
vocabular e cultural de uma comunidade linguística através da sua história. Esses léxicos
podem ser transmitidos de geração para geração, carregando consigo diversos significados
que podem causar impacto dentro da sociedade em que os mesmos são inseridos. O
significado de uma palavra é um atributo não apenas da linguagem, mas de todos os sinais e
sistemas de símbolos. Cada palavra possui diversos significados dependendo da frase onde a
mesma se encontra inserida.

Dentro do vocabulário de uma língua existem palavras que por várias razões caiem
em desuso (arcaísmo), bem como o surgimento de novas palavras que contribuem para o
enriquecimento da língua (neologismo). O mesmo pode acontecer com o significado, existe
uma evolução semântica que consiste na alteração do sentido das palavras, devido ao decorrer
dos anos e das várias regiões onde se usam essas palavras.

Ao fazermos o estudo morfológico e semântico dos léxicos informais usados pelos


moradores do Bairro Capalanga, afecto ao Município de Viana Província de Luanda,
constatámos que esses léxicos são na sua maioria usados pela camada juvenil e adolescentes,
muitos deles com um nível de escolaridade baixo. A razão do uso dessas palavras prende-se
pelo facto de os utentes falarem livremente sem necessariamente cumprirem as regras
gramaticais, para os utentes do português informal. O maior objectivo é tornar a comunicação
mais fácil e compreensiva.
Quando nos comunicamos, há momentos em que usamos expressões mais
coloquiais. Este tipo de linguagem não tem nada de errado, tudo depende do público-alvo.
Temos de nos consciencializar que o facto de a linguagem ser informal, não significa que
podemos cometer erros, mas que, devemos procurar aprender muito mais.

O meio social, o baixo nível de escolaridade, a falta de leitura, o fraco conhecimento


das normas e regras gramaticais e o analfabetismo, são alguns factores que podem influenciar
no uso constante dos léxicos informais. Porém, é importante que haja respeito pelas línguas
faladas por cada um de nós, bem como o resgate de valores culturais e das línguas regionais.
Que não se marginalizem os que fazem uso do português informal.

SUGESTÕES

Que não se marginalizem os utentes do português informal, pois a língua é dinâmica e está
sujeita a inclusão de novas palavras.

Que não se limitem apenas no uso do português informal, mas que se procure através desses
léxicos criar novos que possam contribuir para a evolução da língua portuguesa.

Procure-se também enriquecer mais o vocabulário, aprendendo outras palavras, criando um


espírito de investigação.

Que se cultive em cada jovem, o hábito de leitura e da escrita.

Que se valorize mais as nossas línguas nacionais.

Que se use os léxicos informais em locais apropriados e com pessoas adequadas.

Que não se tenha o português informal como o único recurso expressivo.

Que se tenha muita atenção no uso dos léxicos informais quando estiverem diante de um
superior hierárquico.
BIBLIOGRAFIA

ALVES, Antónia, Maria e MIGUEL, Helena Maria, Convergências, Manual Universitária de


Português.
BENVENISTE, Émile, Problemas de Linguística Geral, Edição da Universidade de São
Paulo 1976.
CAMPOS, Maria, Henriqueta Costa e XAVIER, Maria, Francisca, Sintaxe e Semântica do
Português, Universidade Aberta, Lisboa 1991.
COLLADO, António Jesus, Fundamentos de Linguística Geral, Editorial Gredos, Edições 70,
Madrid 1980.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições
João Sá de Sá, 15ª Edição, Lisboa 1984.
Dicionário de Língua Portuguesa, Porto Editora, 2011.
ESTRELA, Edite e SOARES, Maria Almira, Saber Escrever, Saber Falar, Publicações Dom
Quixote, Portugal 2003.
FONSECA, Maria do Céu e MARÇALO, Maria João, Gramática Prática da Língua
Portuguesa, Edição Universidade de Évora, Portugal, 2010.
FRADA, João José Cúcio, Guia Prático para Elaboração e Apresentação de Trabalhos
Científicos, 12ª edição Cosmos, 2003.
GUIMARÃES, Ana Cunha, Ensaio Sobre os Falares Luandenses, Edições Chá de Caxinde,
Luanda 2004.
HENRI FAVROD, Charles, A Linguística, Editor Original Hachette, Paris 1979.
KUKANDA, Vatomene, Notas de Semântica, 2012.
LOPES, Ana Cristina Macário e RIO TORTO, Graça, Semântica, Editorial Caninho, Lisboa
2007.
LOYONS, John, Semântica I, Editorial Presença, Lisboa 1977.
MAHMOUDIAM, Mortéza, A Linguística Hoje, Paris 1982.
MIGUEL, Maria Helena e ALVES, Maria Antónia, Convergência, 2ª edição 2008.
MOURA, José de Almeida, Gramática do Português Actual, Lisboa 2012.
PALMER, F.R. A Semântica, Edições 70, Lisboa 1976.
PINTO, José Manuel de Castro e Lopes, Maria do Céu Vieira, Gramática do Português
Moderno, Plátano Editora 12ª edição, Fevereiro 2011.
ROBINS, R.H. Linguística Geral, Editora Globo, São Paulo 1964.
SASSURE, Ferdinand, Curso de Linguística Geral, Publicações Dom Quixote, Lisboa 1986.
SANTOS, Paulo, Zepovito, Edição Australivros, Luanda 2010.
SOUSA, Maria José e BAPTISTA, Cristina Sales, Como fazer Investigação, Dissertações,
Teses e Relatórios, Edições de Ciências Sociais e Política Contemporânea, Lisboa 2011.
SWERTS, Mário Sérgio Oliveira, Manual para Elaboração de Trabalhos Científicos, alfenas
MG 2006.
ULLMAM, Stephen, Semântica uma Introdução à Ciência do significado, Edições da
Fundação Colouste Gulbenkian, 5ª edição 1962.
ANEXOS
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE LETRAS

Com este inquérito, procedemos a busca efectiva de dados que ajudarão à elaboração
de um trabalho sobre o tema “Análise morfo-semântico de alguns léxicos encontrados no
Bairro Capalanga”.

Com a defesa deste trabalho, pretendemos obter o grau de licenciado em Língua e


Literatura Portuguesa, pela Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, pelo que,
Ficamos gratos pela sua colaboração.

Vota Fernando e Numa Joaquim


INQUÉRITO

Assinale com uma cruz (+) no espaço que achar conveniente a sua resposta.

1. Sexo: Masculino Feminino


2. Idade:___________
3. Data de nascimento_____/_________/______
4. Naturalidade___________________________
a) Província___________________ b) Município_______________________
c) Distrito____________________ d) Bairro__________________________
e) Trabalha?__________________ f) Morada actual____________________
5. Formação académica, quando?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

6. Área de especialização?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

7. Sem formação académica? Sim Não


a) Porquê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

8. Língua que fala:


a) Português formal b) Português informal
c) Kimbundo d) Umbundo
e) Calão f) Regionalismo

9. A onde e com quem usa o português informal?


a) Em casa
b) No bairro
c) Na rua
d) Com os amigos
e) Com os colegas de escola
f) Com os colegas no serviço

10. De onde provém os léxicos informais?


a) Da rua
b) De casa
c) Da escola
d)Do serviço
e) Outros lugares
f) Das línguas estrangeiras
g) Das línguas nacionais

11. Concorda com a utilização dos léxicos informais?


a) Sim Não

12. Os léxicos informais podem contribuir para a Língua Portuguesa:


a) Para a sua evolução
b) Para a sua restrição
c) Para o seu dinamismo
d) Para o seu desenvolvimento
e) Para aumentar o léxico português
f) Para tornar a comunicação mais eficiente
g) Para o enriquecimento do vocabulário português
h) Para facilitar o diálogo

13. Assinale com V (verdadeira) ou F (falsa) as afirmações que se seguem:

1. Os léxicos informais só são usados pelos marginais

2. Esses léxicos são desvios à norma gramatical

3. Os estudantes e as pessoas formadas não devem usar esses léxicos

4. Quem usa o português informal, são aquelas pessoas que não sabem ler nem escrever

5. Os léxicos informais não contribuem para o enriquecimento da Língua Portuguesa

6. Esses léxicos só devem ser usados na conveniência entre amigos

7. O uso dessas palavras, é incorrecto porque na sua maioria não obedecem as regras
gramaticais

8. A criação dessas palavras, varia consoante o meio

9. Os significados desses léxicos não correspondem com o significado da palavra de origem

10. A criação desses léxicos tem sido benéfica para os que usam, porque facilita a
comunicação

11. Esses léxicos trazem muitas vantagens, porque possibilita os indivíduos comunicarem-se
sem cumprir as regras gramaticais

12. Não há interdição para o uso dessas palavras. Toda e qualquer pessoa pode usar
Tabela 1: Apresentação da amostra dos falantes do português informal por sexo.

Sexo Frequência Percentagem


Feminino 45 45%
Masculino 55 55%
Total 100 100%

Tabela 2: Apresentação da amostra dos falantes por faixa etária.

Idade Frequência Percentagem


14 – 25 Anos 42 42%
26 – 35 Anos 30 30%
36 – 50 Anos 20 20%
51 – 65 Anos 08 8%
Total 100 100%

Tabela 3: Apresentação da amostra dos falantes por nível académico.

Nível de escolaridade Frequência Percentagem


Ensino de base 40 40%
Ensino médio 32 32%
Ensino Superior 22 22%
Analfabeto 06 6%
Total 100 100%

Tabela 4: Apresentação da amostra dos falantes por grupo social.


Sexo Frequência Percentagem
Funcionário público 26 26%
Sector privado 16 16%
Desempregado 25 25%
Doméstico 20 20%
Estudante 13 13%
Total 100 100%

Você também pode gostar