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Boletim do Departamento de Linguística e Literatura | Publicação Bianual (Abril e Outubro) | N° 17 | Outubro 2011

Palavra do Editor Sumário


Caro leitor, Uma Proposta Metodológica
Ao apresentarmos esta edição, começamos por apresentar as nossas sinceras para Compilação de um Dicionário de
desculpas aos nossos fiéis leitores pelo atraso verificado na saída deste Por Ezra Alberto Chambal Nhampoca
núme- ro da folha, tal deveu-se a motivos alheios à nossa vontade.
Endereçamos uma especial saudação ao Departamento de Linguística e
Literatura, no geral, pela graduação dos primeiros Doutorados em Algumas semelhanças lexicais e fonétic
Linguística localmente formados, e ao colega Prof. Dr. Eliseu Mabasso, em
particular, pela recente obtenção do grau de Doutor. Parabéns e sucessos. A
saudação é extensiva à Profa. Dra. Samaria Tovela que, embora não sendo
do DLL, foi Graduada por este Departamento. A ela também, muitos
parabéns e sucessos.
A graduação destes doutorados constitui uma mais valia, não só para o DLL
como também para a sociedade no geral, pois, ao ” formar profissionais ca-
pazes de conceber e realizar estudos avançados em Linguística e capazes de
intervir em domínios relacionados com Linguística, (alguns dos objectivos
do curso de Graduação em Linguística), o DLL presta um grande contributo Por Carlos Mucamisa
para a sociedade ao disponibilizar quadros de qualidade que possam con- Pág. 20
tribuir para uma maior e cada vez melhor compreensão de fenómenos
sociais, e não só, envolvendo questões linguísticas.
Sendo esta a última edição do ano, aproveitamos para, com bastante Para uma caracterização da
anteced- ência, desejar a todos um bom final de ano que se avizinha e que Poesia Oral nas Timbila dos Vacopi e a
estejamos juntos em 2011 para partilhar tudo de bom que se nos reserva no
2005
futuro, quer na vida académica, quer na vida particular e, porque não, no Por Valdemiro Jopela
espaço que a folha reserva aos seus leitores. Pág. 28
Agradecemos desde já a todos os que contribuíram, com artigos, ideias e
não só, para que a folha continuasse a ser uma realidade e renovamos o Relação Homem e a Natureza no Conto
nosso apelo para que continuem a apoiar-nos de diferentes formas em 2011. Por Lurdes Rodrigues da Silva
Finalmente, convidamo-lo a deliciar-se com mais este número da folha… Pág. 38
Pércida Langa Fonologia Segmental Língua Copi
Por Nelsa Nhantumbo
Pág. 40
Resumo de contribuições para
A Folha Linguística e Literatura é o Boletim de tipo newsletter produzido pelo
Departamento de Linguística e Literatura da Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique. O objectivo da Folha é difundir a
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© Copyrirght: Departamento de Linguística e Literatura, UEM.


Qualquer item da presente Folha pode ser citado,reproduzido ou traduzido, desde que seja indicada a fonte.
a Folha Pág. 46
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FICHA-TÉCNICA
Título: Folha de Linguística e Literatura

Propriedade/Produção: Departamento de Linguística e Literatura,


Faculdade de Letras e Ciências Sociais
Universidade Eduardo Mondlane

Registo: 008/GABINFO – 1999

Conselho Editorial: Editora: Pércida Langa


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PÁGINA DE ESPECIALIDADE

Uma Proposta Metodológica para


Compilação de um Dicionário de Ideofones do Changana
*Resumo da II parte da tese de Mestrado em Linguística

Por Ezra Alberto Chambal Nhampoca


ezra.nhampoca@uem.mz

1. Introdução Moçambique, com 11٪ de falantes, segundo o Instituto Nacio-


1.1. Apresentação do tema de pesquisa nal de Estatística (INE) (2000).
Em Moçambique existem várias línguas Bantu e
ultimamen- te tem havido estudos interessantes sobre elas. 1. 3. Objectivos
Uma dessas lín- guas é o Changana. É sobre esta língua que o
presente trabalho se debruça. Trata-se de um estudo com o O estudo tem como objectivos os seguintes:
seguinte título: Uma Proposta Metodológica para 1. Apresentar uma proposta metodológica para a
Compilação de um Dicionário de Ideofones do Changana. O compilação de um dicionário de ideofones do Changana,
trabalho avança algumas propostas metodológicas para a mostrando qual é a possibilidade de se esgotarem as nuances
compilação de um dicionário de ideo- fones do Changana e de um ideofone num dicionário bilingue.
no fim apresenta uma amostra do futuro pequeno dicionário
de ideofones do Changana (DICH). 2. Apresentar, no fim, uma amostra do futuro dicionário de
ideofones do Changana.

1.2. O Changana em Moçambique


1.4. Motivação e relevância
O Changana (S53) é uma língua Bantu. De acordo com
Sitoe (1996) “O Changana pertence ao grupo Tswa-Ronga A nossa motivação surge, primeiro, da vontade de aprofundar
(S.50, na classificação de Guthrie: 1967-71). Doke (1967) os nossos conhecimentos na área da
designa este grupo pelo termo Tsonga. Fazem ainda parte Lexicologia/Lexicografia, uma vez que temos vindo a trabalhar
deste grupo as línguas Tswa (S.51) e Ronga (S.54) ”. nesta área. A prática diária, no exercício da leccionação, mostra
que a existência de mais materiais de referência nas áreas de
Lexicologia e Lexicografia das línguas Bantu, facilitaria, de
De acordo com Sitoe e Ngunga (2000), com base no Cen- um modo geral, o nosso traba- lho e a consulta para os
so Populacional de 1997, o Changana “é falado por cerca de estudantes e outros que se interessam e trabalham com estas
1.423.327 habitantes em Moçambique” e apresenta, as línguas. Segundo, pelo facto de já termos notado que existem
seguin- tes variantes: 1) Xihlanganu, esta variante é falada a poucos dicionários de língua Changana, embora tenhamos
sudoeste de Moçambique, nos Montes Libombos, abrangendo alguns feitos por missionários (com proble- mas de ortografia
parte dos distritos de Namaacha, Moamba e Magude. 2) e não só) e o dicionário Changana – Portu- guês da autoria de
Xidzonga ou Xitsonga que é falada nos distrito de Magude, Sitoe (1996). Terceiro, pelo facto de termos beneficiado de
Bilene e parte de Massingir. 3) Xin’walungu, variante falada uma bolsa para um estágio em Lexicografia da língua
no distrito de Massingir. 4) Xibila, falada no distrito de Changana e termos, nesse âmbito, trabalhado com um
Limpopo e parte do distrito de Chibuto. 5) Xihlengwe que é programa de confecção de dicionários, Tshwanelex, o que nos
falada nos distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, incita na actividade de produção de dicionários.
Chicualacuala, Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculo e
Govuro. De salientar que, segundo Sitoe (1996), devido a
grandes e frequentes movimen- tações das populações, torna- 1.5. Contribuição
se cada vez mais difícil a loca- lização precisa destas Esperamos que o estudo contribua para o enriquecimento
variantes. Para este trabalho tomamos como referência a dos estudos linguísticos, em geral, e, em particular, para as
variante Xidzonga, uma vez que os dados foram recolhidos línguas Bantu, sobretudo o Changana, pois apesar de se ter
num local onde esta variante prevalece. O Changana é a 2ª aprovado um programa de revalorização das línguas Bantu
língua Bantu usada com mais frequência em moçambica-
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nas e de nos últimos tempos aparecerem mais materiais escri- ofones nas línguas Bantu. No ponto que se segue discutimos
tos, as línguas Bantu ainda carecem de estudos e registos. as posições desses autores. De salientar que ao longo de todo
Pen- samos também que um trabalho sobre propostas o trabalho apresentamos apenas os tons baixos dos ideofones,
metodológi- cas de compilação de um dicionário seria uma subentendo-se que onde não teremos os tons baixos estaremos
mais-valia para os que têm trabalhado na área da Lexicografia na presença de tons altos.
e por último, pensamos que o trabalho traz uma grande
contribuição para a Lexicografia da língua Changana, uma Segundo Ngunga (2004:195), “o termo ideofone foi
vez que se debruça sobre metodologia para a compilação de introdu- zido pela primeira vez por Doke (1968) no seu
um dicionário de ide- ofones, se considerarmos que, caso tal estudo sobre a língua Shona”. Este autor, refere ainda que “Os
projecto se concretize, esse dicionário será pioneiro nessa ideofones são definidos como a associação entre um
língua. determinado som, cor, estado, dor, intensidade, etc., a
consequente reacção ou cons- trução psíquica dos mesmos na
cabeça do indivíduo ”.
1.6. Problema Por sua vez, Sitoe (1996: 345) defende que
Os ideofones têm vindo a ser objecto de muitos estudos por “Semanticamen- te, os ideofones estão ligados a campos
parte de vários estudiosos, podemos citar exemplos de estu- específicos e diver- sos, tais como acções, sons, cores cheiros,
diosos como Doke (1935); Marivate (1981); Nkanbide posturas, atitudes, gestos, etc.” Este estudioso defende ainda
(1985); Sitoe (1996); Kimenyi [s.d]; Ngunga (2000 e 2004); que os ideofones se caracterizam pelo seu alto grau de
Langa ( 2004); Beck (2005); Matambirofa (2009); Nhampoca especificidade. Ngun- ga (2004:195) parece-nos comungar
(2009) etc.. Contudo, notamos que dentre vários estudos, não da mesma posição, pois sustenta que “os ideofones são
existem os que abordam com profundidade a questão do definidos como a associação entre um determinado som, cor,
significado dos ideofones ao nível de um dicionário bilingue, estado, dor, intensidade, etc. e a consequente reacção ou
ou seja, alis- tar os ideofones da língua Changana e apresentar construção psíquica dos mesmos na cabeça do indivíduo”.
em Português e de uma forma sistemática, o(s) seu(s) Embora haja diferenças de abordagens, na definição do
significado(s) múlti- plos, esgotando todas as suas nuances, ideofone, pensamos que todas as posições aqui apresentadas
segundo as normas le- xicográficas de compilação de um se assemelham e defendem que um ideofone é “o fenómeno
dicionário, com a excepção de Sitoe (1996) que apresenta, no através do qual alguns sons da linguagem humana podem, do
seu dicionário (mas geral), ideofones da língua Changana. E, ponto de vista semântico combinar a figura mental com os
tendo em conta que, seman- ticamente, “os ideofones estão sons da fala. (Langa, 2004:59), citando Baumbach (1988) e
ligados a campos específicos e diversos, tais como acções, Sitoe (1996). Sendo assim, concordamos com todas, contudo,
sons, cores cheiros, posturas, atitudes, gestos, etc.” Sitoe para o quadro teórico do nosso trabalho, baser-nos-emos,
(1996:345), ocorre-nos a seguinte questão como problema de principa- lamente, nas perspectivas de Langa (2004), Ngunga
investigação: Será possível esgotar as nuances de um (2004) e Sitoe (1996).
ideofone num dicionário bilingue?

2.2. Lexicografia
1.7. Hipóteses
Lexicografia é a técnica de redacção e feitura de
Partindo dos temas que nos propusemos a estudar e decor- dicionários. (Wikipédia). Já Doke (1935) Considera que
rente do problema de investigação apresentado, ocorrem-nos Lexicografia é o estudo do vocabulário de uma língua, de
as seguintes hipóteses: acordo com a sua for- ma e significado e é também o processo
1. É possível esgotar as nuances de um ideofone num dicio- ou o ofício de compila- ção de dicionários. Hartmann (1995),
nário bilingue. citado por Sitoe (1991), defende que a lexicografia apresenta
uma vertente teórica e outra prática. A Lexicografia como
2. Por causa das diferenças culturais entre as duas línguas,
teoria consiste em efectu- ar pesquisas sobre história, análise
nem sempre será possível esgotar as nuances dos ideofo-
crítica, tipologia, estrutura, uso ou finalidade de dicionários. E
nes.
a Lexicografia como prática diz respeito ao processo de
produção de dicionários.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Sobre ideofones 2.2.1. O Dicionário
Muitos estudiosos têm mostrado interesse em estudar os ide- Segundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa
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(2001), dicionário é um “conjunto de vocábulos de uma mesma posição é defendida por Sitoe (1991), citando Malkiel
língua ou dos termos próprios de uma ciência ou arte, (1967), ao apresentar as mesmas categorias para a caracteriza-
disposto por or- dem alfabética e com a respectiva ção de dicionários.
significação ou a sua versão noutra língua”. Também se pode
considerar o dicionário como um livro contendo palavras de
uma língua, dispostas em ordem alfabética, com os seus 2. 2. 4. Problemas de tradução da língua fonte (LF) para
respectivos significados. Doke (1935), Hartmann e James a língua alvo (LA)
(1998) definem dicionário como um tipo de obra de
Para Langa (1991), os factores de dificuldade na tradução
referência que contém os vocábulos de uma língua com os
não são apenas de carácter linguístico, mas haverá, também
seus respectivos significados. Wikipédia (pt.wikipedia.org/
uma importante intervenção de factores extra-linguísticos. E
wiki/Dicionario) a enciclopédia livre, define dicionário como
nós pensamos que um desses aspectos é o anisomorfismo das
sendo uma compilação de palavras ou dos termos próprios, ou
línguas, como por exemplo a diferenças existentes na organi-
ainda de vocábulos de uma língua, quase sempre dispostos
zação das línguas naturais, dentre as várias diferenças temos
por ordem alfabética. Por sua vez, o site Sua Pesquisa,
como exemplo, neste trabalho, o facto de a LA, não possuir a
defende que “dicionário é um livro que possui a explicação
categoria ideofone. Ora, “ sendo a língua um elemento chave
dos signi- ficados das palavras. As palavras são apresentadas
no relacionamento entre homens, onde não há um meio
em ordem alfabética”.
comum que permita a comunicação, a tradução deverá
Verificámos que dentre as definições aqui apresentadas, a intervir, como instrumento de mediação interlinguística, na
do Dicionário Universal da Língua Portuguesa (2001) e a da transmissão e tro- ca de informações”. (Langa, 1991:08). É
Wi- kipédia são mais abrangentes, uma vez que incluem o pois, a este processo que recorreremos no DICH para
aspecto dicionário de especialidade, por essa razão, na nossa transmitir informações sobre ideofones da LF para LA. E para
análise, para a definição de dicionários consideramos estas tal é necessário apresentar os diferentes tipos de tradução e
duas pers- pectivas. eleger a mais adequada ao nosso tipo de dicionário.
Os dicionários podem ser monolingues (quando se debru-
çam sobre uma língua apenas), bilingues (aqueles que envol- Tipos de tradução
vem duas línguas, cf. 3.2.2) trilingues (quando envolvem três
línguas) ou multilingues (quando envolvem mais de três lín- De acordo com Langa (1991) existe a tradução literal, esta,
guas). muitas vezes, resulta na incompreensibilidade do texto, pelo
facto de incidir na forma, deixando de ter em consideração as-
pectos de diferenças de organização entre a LF e LA, pois o
2.2.2. Dicionário bilingue e seus objectivos seu objectivo é fornecer o equivalente de cada palavra. Existe
tam- bém a tradução literal adaptada, que é aquela em que o
“Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou
tradutor deve recorrer a adaptações e nela o texto traduzido
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si-
conservará tanto quanto possível a forma da LF, privilegiando
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra
a intenção do autor e o significado. E por fim temos a
língua (língua alvo) ” Sitoe (1991). Segundo o mesmo autor,
tradução baseada no significado, esta é considerada a
um dicionário bilingue tem como principal objectivo ajudar
tradução mais comunicativa e adequada e “consiste em
os falantes que entendem uma língua (língua primeira) e não
transferir toda a mensagem para lín- gua alvo de modo que a
entendem a outra (língua segunda). Importa também, referir
tradução esteja num estilo tão natural quanto possível,
que existem várias categorias de dicionários e uma dessas ca-
adequado às estruturas gramaticais da LA” Wiesemann,
tegorias é o dicionário temático. O DICH será temático. A
citado por Langa (1991). Esta tradução permite, sempre que
este respeito os sites (http://www.portrasdasletras.com.br) e
necessário, fazer-se um arranjo às frases, palavras ou
(http:// pt.wikipedia.org/wiki/Dicion) avançam que um
explicações para transmitir o significado da LF para a LA.
dicionário te- mático é aquele que organiza ou reúne
vocabulário específico, de determinada ciência, arte ou Tendo em conta a natureza e os objectivos do DICH, é ao
actividade técnica. último tipo de tradução que recorreremos, pois, os dois pri-
meiros tipos além de serem pouco comunicativos, não nos
per- mitiriam fornecer os significados dos ideofones do
2.2.3. Sobre caracterização de dicionários Changana para o Português porque esta língua nem sequer
Quanto à caracterização de dicionários, Househoulder e Sa- possui ideofo- nes. Portanto, uma vez que a tradução baseada
porta (1967) postulam que os dicionários podem ser caracteri- no significado permite fazer-se um arranjo às frases, palavras
zados segundo a sua Extensão, Perspectiva e Apresentação. A ou explicações para transmitir o significado da LF para a LA,
temos mais pos-
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sibilidade de fornecer o significado dos ideofones na LA. 3. 3. Equivalência


Mas, apesar de recorrermos à tradução baseada no
significado, esta- mos cientes das dificuldades existentes na Zgusta (1971) aborda de uma forma profunda a questão da
tradução da LF para a LA, pelas razões já descritas. Basta elaboração/compilação de dicionários bilingues e apresenta
imaginar que mesmo se se tratasse de um dicionário de uma as dificuldades que existem neste domínio. Dentre várias, ele
categoria de palavras exis- tente nas duas línguas, ainda assim defende que a dificuldade fundamental no fornecimento de
teríamos dificuldades, pois o funcionamento dessa categoria equivalentes num dicionário é causada pelo anisomorfismo
seria naturalmente diferente nas duas línguas. Tratando-se de das línguas, como por exemplo a diferenças existentes na
um dicionário de ideofones, haverá mais dificuldades, por orga- nização das línguas naturais. Isto acontece porque, de
essa razão, basear-nos-emos na utilização de explicações para acordo com Sitoe (2010), traduzir é pôr uma língua em
fornecer os significados dos ide- ofones. (cf. 6. 5. 2). confronto com outra, o lexicógrafo, no seu trabalho, irá
servir-se do sistema conceptual designado por língua em
articulação com o sistema conceptual que podemos designar
3. Enquadramento teórico por cultura, o que implica que o lexicógrafo precisa de
associar a maneira de falar de gru- pos específicos aos
Neste capítulo apresentamos os conceitos básicos com os
respectivos factores culturais para chegar ao significado pleno
quais iremos trabalhar na análise de dados.
das mensagens veiculadas.
Concordamos com a posição destes autores. Basta conside-
3.1. A Lexicografia rar que o nosso trabalho envolve duas línguas culturalmente
Começando pelo conceito de Lexicografia: Como vimos distantes e que os ideofones pertencem a uma categoria que o
em (2.2), Lexicografia é a técnica de redacção e feitura de di- Português não possui. Isto lembra-nos que se deve ter em
cionários. Doke (1935) considera que Lexicografia é o estudo men- te que quando a distância linguística e a cultural entre a
do vocabulário de uma língua, de acordo com a sua forma e LF e a LA é pequena, o lexicógrafo irá encontrar poucos
significado. Lexicografia é também o processo ou o ofício de problemas mas se as distâncias são maiores, sobretudo a
compilação de dicionários. cultural, mais dificuldades irá enfrentar. Sitoe (2010).

Hartmann e James (1998) avançam que Lexicografia é a ac- Pensamos, pois, que a dificuldade de tradução dos
tividade profissional e académica que opera com dicionários, ideofones não reside apenas na categoria gramatical, pois na
havendo duas áreas básicas: a Lexicografia como prática e a tradução os equivalentes nem sempre têm que coincidir na
Lexicografia como teoria. Na nossa análise enveredaremos categoria gra- matical por exemplo, verbos na L1 podem ser
pe- las perspectivas de Doke (1935) e Hartmann e James traduzidos por nomes na L2 e vice- versa. O ponto do
(1998), pois achamo-las completas, uma vez que abarcam a anisomorfismo mais pertinente no nosso trabalho tem mais a
Lexicogra- fia como prática e como teoria. ver com componen- tes sociais e culturais da “semântica” do
material a traduzir. A dificuldade de tradução será no traço
“vivacidade” que os ideofones emprestam ao discurso. Por
3. 2. Dicionário bilingue isso pensamos que para além de fornecer explicações dos
ideofones em Português, ire- mos apresentar mecanismos de
Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou
como traduzir ideofones, ou seja, como fazer com que um
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si-
falante que não é de Changana perceba o que em Changana é
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra
expresso por ideofones a par- tir de exemplos e, às vezes
língua (língua alvo) Sitoe (1991).
recorrendo a estratégias como por exemplo o uso de glosas,
Zgusta (1971) refere que o propósito básico de um dicioná- para a inserção de comentários que reforcem a compreensão
rio bilingue é coordenar as unidades lexicais de uma língua dos ideofones. Vejamos, como exem- plo, o seguinte verbete:
com as de uma outra e que essas unidades lexicais devem ter
um significado equivalente. Este autor usa também, a ideia de
língua fonte (aquela em que são extraídas as unidades lexi- 1.
cais) e língua alvo (onde são fornecidos os equivalentes das
-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (por exemplo a cabe-
unidades lexicais da língua fonte. A ordem das entradas num
ça de alguém, com um instrumento contundente): Afike
dicionário bilingue é dada pela língua fonte. É na esteira de
akumu khèhlè nhloko hi bewula, Chegou e, pumba, deu-lhe
Sitoe (1991) e Zgusta (1971), que concebemos o conceito de
com o ma- chado na cabeça!
dicionário bilingue.
Neste exemplo usamos o hífen, em vez do prefixo ku-, pois
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é assim como aparecerão as entradas no DICH. Este exemplo va refere-se à forma como o compilador/lexicógrafo
mostra que na impossibilidade de traduzir o ideofone -khèhlè perspecti- va o seu trabalho e no tipo de abordagem que irá
para o Português podemos introduzir a interjeição pumba para adoptar; se a abordagem é diacrónica ou sincrónica e por fim,
facilitar a compreensão daquele. se o dicioná- rio será organizado por ordem alfabética, por
som, por temas, ou outras formas. Sitoe (1996) defende a
3.4. Apresentação, Extensão e Perspectiva mesma posição, ao avançar que:
Vários estudiosos de Lexicografia defendem que os A perspectiva baseia-se no modo como o compilador
dicioná- rios podem ser caracterizados segundo a sua encara o trabalho e no tipo de abordagem adoptada: se o
Extensão, Pers- pectiva e Apresentação, posição com a qual trabalho é diacrónico (cobrindo um vasto período) ou se
concordamos. A seguir, apresentamos aspectos relacionados é sincrónico (confinando-se a um determinado período);
com estas catego- rias de caracterização de dicionários. se o material no dicionário será organizado pela ordem
alfabética; por temas; por som (como nos dicionários de
rimas); por conceitos, ou ainda segundo outros meios e
3.4.1. Apresentação critérios
Esta categoria refere-se à concretização (em forma de di-
Na revisão bibliográfica efectuada, verificámos que as po-
cionário) dos objectivos e princípios pré-estabelecidos pelo(s)
sições de Househoulder e Saporta (1967) e Sitoe (1996) são
compilador(es) do dicionário, Sitoe (1991).
semelhantes e nós concordamos com elas, daí que na nossa
análise, enveredamos pelas perspectivas destes autores.
3.4.2. Extensão
Segundo Sitoe (1991), a extensão tem a ver com o tamanho 4. O Dicionário de Ideofones do Changana (DICH)
e o âmbito do dicionário: procura saber quantos verbetes o
dicio- nário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico O dicionário de Ideofones do Changana será um dicionário
analisado; quantas línguas foram envolvidas; e o grau de bilingue, onde iremos alistar os ideofones na língua Changana
concentração de informação nos verbetes. Já Househoulder e e apresentar as suas explicações em Português. Neste capítulo
Saporta (1967) defendem que a categoria Extensão refere-se abordamos questões relacionadas com os objectivos e o desti-
aos seguintes as- pectos: a) densidade/volume/número de natário do DICH.
entradas, b) número de línguas envolvidas e c) o grau de 4. 1. Objectivos do DICH
concentração de informa- ção nos dados lexicais. Tratando-se
O tratamento dos verbetes, em qualquer dicionário é deci-
da extensão de um dicioná- rio, temos a obrigação de nos
dido pelo compilador, tendo em conta o grupo alvo por ele
referirmos aos elementos chave que constituem esta
seleccionado Sitoe (1991), facto que faz com que a questão
categoria. É o caso de verbetes e vedetas ou entradas.
dos objectivos de um dicionário esteja estritamente ligada à
do des- tinatário do mesmo. O dicionário de que pretendemos
Verbete e Vedeta avançar dados para a sua compilação tem os seguintes
Verbete é toda a informação que se tem sobre a unidade le- objectivos:
xical descrita, (vedeta ou entrada), incluindo a própria 1. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se
unidade lexical. Um verbete, de uma forma geral, apresenta os exprimam na sua língua usando ideofones;
seguintes componentes: entrada ou vedeta, origem,
2. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se ex-
informação gramati- cal, glosas ou rótulos, equivalentes e/ou
primam em Português, através de enunciados que na sua
definições, material ilustrativo, sub-entradas, remissões e
língua envolveriam ideofones;
referências, Sitoe (1991). A vedeta ou entrada é que encabeça
o verbete. As vedetas são as unidades lexicais ou gramaticais 3. Fornecer aos falantes de Português meios para “compre-
que constituem as entradas do dicionário e são apresentadas, enderem” o que em Changana é expresso por ideofones.
geralmente em bold e regis- tadas em ordem alfabética.
4. 2. Destinatário do DICH
Os destinatários do Dicionário de Ideofones do Changana
3.4.3. Perspectiva são:
De acordo com Househoulder e Saporta (1967), a perspecti- 1. Os falantes da língua Changana que queiram perceber
melhor o funcionamento dos ideofones na sua língua;
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2. Os falantes do Português que queiram perceber melhor o mangas, mas um


funcionamento dos ideofones no Changana;
3. Os estudiosos de línguas Bantu (falantes de qualquer lín-
gua natural), em geral e em particular os estudiosos de
língua Changana.

4.3. Sua extensão


Considerando que a extensão tem a ver com o tamanho e o
âmbito do dicionário, onde se procura saber quantos verbetes
o dicionário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico
analisado; quantas línguas foram envolvidas; e o grau de con-
centração de informação nos verbetes, podemos afirmar que
se pretende que o DICH tenha cerca de mil verbetes (será um
pequeno dicionário). E neste trabalho, na amostra em anexo,
apresentamos cerca de noventa (90) verbetes.
Quanto ao grau de cobertura do léxico, concentramo-nos
nos ideofones. O dicionário envolve duas línguas, Changana,
(LF) e Português, (LA), portanto, é bilingue. E tentamos, na
medida do possível, apresentar todas as nuances de cada
ideofone, ten- do em conta os dados recolhidos, isto
corresponde ao grau de concentração de informação nos
verbetes.

4.4. Sua perspectiva


Tendo em conta que a perspectiva baseia-se no modo como
o compilador encara o trabalho e no tipo de abordagem
adopta- da, podemos afirmar que no DICH, para comodidade
de apre- sentação e para não sobrecarregar a secção da letra k,
vamos representar o prefixo ku- por um hífen e assim os
ideofones serão alfabeticamente ordenados pela primeira
sílaba do seu radical. Os usuários do dicionário serão os
falantes da língua Changana que queiram perceber melhor o
funcionamento dos ideofones na sua língua; os falantes do
Português que traba- lhem com a língua Changana; e queiram
perceber o funciona- mento dos ideofones no Changana; os
estudiosos de línguas Bantu (falantes de qualquer língua
natural), em geral, e em particular os estudiosos de língua
Changana.
No final do nosso trabalho apresentamos uma amostra do
DICH, onde exploramos os múltiplos significados de cada
ide- ofone, caso os tenha, tendo em conta o estabelecido na
sua extensão e perspectiva. Para o efeito, seleccionamos
aqueles que achamos que a sua tradução da língua Changana
para a Portuguesa constitui um desafio, tendo em
consideração as dificuldades que o processo de tradução de
uma língua para outra impõe; por exemplo, como transmitir a
‘sensação’ de “Andzhava wuyo ntli, hi mimange”? Diríamos,
por exemplo, que o cesto está demasiadamente cheio de
bom falante de Changana, sentiria que há nesta tradução
algo em falta, que a ideia que se tem na frase em Changana
não é completamente esgotada na LA.

5. Metodologias
5.1. Metodologia de recolha de dados
5.1.1. Pesquisa bibliográfica
Para a recolha de dados efectuamos uma pesquisa
bibliográ- fica, em que tivemos como obra-base o
Dicionário Changana
– Português, da autoria de Sitoe (1996), donde retiramos
todos os ideofones que o dicionário contém. Mas também
recorre- mos a este tipo de pesquisa na fase da revisão
bibliográfica e do enquadramento teórico.

5.1.2. Recolha de contos e histórias de vida


Recolhemos contos changanas junto de falantes de
Changa- na (na província de Gaza, no distrito de Chókwè,
localidade de Lionde e Chókwè cidade), para extrairmos
desses contos, ide- ofones, uma vez que já notámos que
estes textos, na tradição changana, são ricos em ideofones.
Fizemos também a recolha de histórias de vida junto de
falantes de Changana, no mesmo espaço geográfico donde
extraimos dados (ideofones) para a nossa análise. E
verificámos que as histórias de vida, também, na tradição
changana são ricas em ideofones.
Há que frisar que para efectuar a recolha de contos e
histó- rias de vida, com a ajuda dos informantes, criamos
pequenos grupos, em que os falantes nativos do Changana
apresentaram contos e histórias de vida e registámo-los num
gravador digital para sua posterior transcrição. Para o caso
dos contos, não dis- criminamos os informantes em termos
etários, portanto, todo o falante de Changana, desde que
fosse nativo e presente no momento da recolha, poderia
apresentar o seu conto. Quanto às histórias de vida
seleccionamos informantes com idade igual ou superior a 30
anos, por acreditar que possuem uma experi- ência sólida
sobre a língua. Tivemos 9 informantes, dos quais quatro (4)
homens e cinco (5) mulheres.

5.2. Metodologia de análise de dados


Depois de apresentar a teoria em volta da produção de
dicio- nários, partimos para a análise de dados, com o
objectivo de apresentar uma proposta para a compilação de
um dicionário, neste caso concreto, de ideofones em
Changana. A metodolo- gia usada foi de acordo com os
objectivos do dicionário que se pretende compilar e
seguimos um modelo adaptado a partir do de Sitoe (1991),
com os seguintes passos: 1- alistamento
9
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

das unidades lexicais; 2- identificação dos vários significados -n´qwà


dos ideofones; 3- verificação dos sentidos das unidades lexi-
cais alistadas; 4- selecção, discriminação e hierarquização dos -phàphàphàphà
sentidos; 5 – organização dos verbetes. Aqui importa realçar -tòtòlatòla
que para o passo (2) recorremos à análise componencial que
nos auxiliou na análise semântica dos ideofones recolhidos e -vìluvìluvìlu
isso ajudou-nos a chegar aos passos subsequentes. -zw

6. Uma proposta metodológica para compilação de um 6.2. Identificação e descrição dos significados dos ide-
dicionário de ideofones do Changana ofones
Na fase da análise de dados apresentamos alguns passos Neste ponto, a partir das unidades lexicais alistadas no
metodológicos para a compilação de um dicionário de ideofo- ponto (6.1), procede-se à identificação do (s) significados dos
nes do Changana, com base nos aspectos já mencionados em ideofo- nes ainda na língua Changana, recorrendo aos
(5.2). diferentes con- textos em que foram usados pelos falantes e
onde for necessá- rio com a ajuda da análise componencial,
pois entendemos que sem conhecer melhor os significados
6.1. Alistamento das unidades lexicais dos ideofones na LF não podemos descrevê-los com rigor na
Este passo metodológico diz respeito à inventariação com- LA.
putorizada de todas as unidades lexicais e gramaticais Feita a identificação dos significados dos ideofones avança-
contidas no corpus, Sitoe (1991). São estas unidades que, no se para a sua descrição. Se se tratasse de um dicionário bilin-
dicionário, irão encabeçar os verbetes; são as vedetas ou gue geral, iríamos proceder à apresentação das vedetas, na LF
entradas. Neste ponto do nosso trabalho, alistamos vinte (20) e dos seus equivalentes, na LA. Mas sendo um dicionário de
ideofones, ape- nas para ilustrar como se procede na fase de ideofones e considerando que os ideofones pertencem a uma
alistamento de unidades lexicais, pois no fim do trabalho categoria que o Português (LA) não possui, não será possível
(Anexo 1) apresen- tamos uma amostra mais extensa. fornecer equivalentes imediatos dos ideofones dados em
Chan- gana, excepto em casos de alguns ideofones
onomatopaicos, razão que nos fez recorrer ao mecanismo de
-bòhlò explicações para fornecer os significados dos ideofones e ao
-bùtà uso de comentários nas glosas ou no material ilustrativo. E,
com efeito, explicare- mos assim o significado dos ideofones:
-bva
-chàchàchà
2.
-cìnaa
-chàchàchà id. de do ferver de coisas pouco espessas: mu-
-cwii
phungu wa n’wana wuri chàchàchà a papa da criança está a
-fà-fà-fà ferver [com a agitação e ruídos próprios de papas a fervem ao
lume].
-foo
-ma id. de apertar : bawude riyo ma o parafuso está bem
-gedègedè
apertado; de ficar bem (a roupa): nkhancu wuyomu ma o
-gwì vesti- do ficou-lhe a matar [como a uma modelo esbelta].
-làlàlàlà -tapsà id. de estar/ser flácido: pinewu la movha liyo tapsa o
-mbii pneu do carro está flácido [como por exemplo a roda do carro
com a câmara de ar arrebentada ou com pouco ar dentro
-mpsì câma- ra ou com pouco ar dentro].
-ngeyè A forma id. de é uma forma convencional de apresentar os
-ngòyò significados dos ideofones cf. Nkabinde (1985), Sitoe (1991
e 1996), Ngunga (2004), Miti (2006), Matambirofa (2009),
Nhampoca (2009), entre outros. E traduz-se em ideofone de...
10 N° 17 | Outubro, 2011

PÁGINA DE ESPECIALIDADE

ou ideofone com o significado de.... mas também recorrere- cada unidade lexical, como sustenta Sitoe (1991), ao afirmar
mos a algumas expressões que irão auxiliar a transmitir um que a
significado o mais próximo possível do dos ideofones na LA,
não apenas o significado lexical, “linguístico”, mas também e
sobretudo o significado “sensorial”, dinâmico dos ideofones.
Para isso as glosas e os comentários desempenham um papel
crucial.
No exercício de identificação dos significados dos
ideofones em Changana verificamos que são muitas as vezes
que consta- tamos que apresentam vários significados.
Portanto, neste pro- cesso ocorre a polissemia, como podemos
ver nos exemplos que se seguem:
3.
-baà – este ideofone significa ser branco (a cor), mas não
só, significa também ser/estar limpo; ser/estar claro, evidente,
visível; estar vazio, portanto, o ideofone kubaà é polissémico,
pois apresenta vários significados.
Mas também ocorre a homonímia:
4.
-mpfi - este ideofone significa pegar de surpresa, mas signi-
fica também estar demasiado cheio (um local, um recipiente,
etc.).

Os exemplos apresentados (3 e 4) mostram que a polisse-


mia e a homonímia ocorrem no processo de identificação dos
significados dos ideofones na LF. Para a identificação dos
sig- nificados dos ideofones, onde ocorrem esses dois
factores, é importante considerar o contexto em que o
ideofone ocorre e ter também, um bom conhecimento da
língua.

6.3. Verificação dos sentidos das unidades lexicais alis-


tadas
Depois de se alistarem as unidades lexicais e as suas
respecti- vas explicações ou significados chega-se à fase da
verificação. Esta seguirá os seguintes passos, adaptados de
Sitoe (1991):
a) Confrontação com dicionários anteriores
Para o DICH temos como base de confrontação o
dicionário Changana – Português, de (Sitoe:1996). Mas os
contextos em que aparecem os ideofones recolhidos junto dos
informantes foram também de grande validade.
b) Verificação dos sentidos junto dos falantes nativos
Esta verificação permite que o compilador de um dicionário
consiga recolher o maior número possível dos sentidos de
verificação dos sentidos junto aos falantes tem por fim
assegu- rar a cobertura de todos os sentidos importantes de
cada unida- de lexical. E para o caso do DICH, a verificação
dos sentidos junto dos falantes nativos ajudar-nos-á a incluir
o maior núme- ro possível dos sentidos dos ideofones que
porventura possam ainda ter sido omitidos nos passos
anteriores.
Para o nosso DICH a verificação será feita junto de
falantes nativos da língua Changana, mas iremos também
nos benefi- ciar da introspecção, uma vez que somos
falantes nativos da língua.

6.4. Selecção discriminação e hierarquização dos


sen- tidos
Este passo tem por finalidade estabelecer o número
mínimo de sentidos de uma unidade lexical polissémica.
(Sitoe:1991). Estes sentidos devem ser reconhecidos como
relevantes e dis- tintos. Para tal, o compilador deve
hierarquizá-los e sequenciá- los.
Há vários critérios para a hierarquização dos sentidos num
dicionário, atendendo ao tipo e aos objectivos de cada
dicioná- rio. Dos vários critérios destacamos os seguintes:
O critério histórico em que os sentidos são sequenciados
em ordem cronológica do seu surgimento. O critério
estatísti- co que considera o grau de frequência, na
hierarquização dos sentidos. Para o DICH não recorreremos
exclusivamente à um destes critérios, tendo em conta o que
Sitoe (1991), afirma, nos seguintes termos:
Não há um único sistema lógico ou
epistemológico ao mesmo tempo eficaz e
suficientemente detalhado para ser usado de modo
inequívoco e exclusivo. Por vezes será também a
experiência, o meio cultural e a intuição do
compilador que dará o cunho pessoal ao tratamento
das entradas
Tendo como base a citação acima, para a hierarquização
dos sentidos no DICH, recorreremos aos critérios estatístico
e/ou histórico ou ainda à nossa intuição e introspecção. E
ainda usa- remos alguns símbolos que nos auxiliarão na
discriminação e hierarquização de sentidos (cf. 6.4.1).
Passamos a apresentar alguns exemplos que demonstram
como é que uma mesma entrada pode ser apresentada de
for- mas diferentes, em dois dicionários diferentes,
dependendo dos objectivos do seu compilador, no que
respeita à hierarqui- zação dos sentidos. Trata-se do
ideofone -mpfi. Vejamos qual é o tratamento que se dá a
este ideofone em Sitoe (1996) e no DICH:
11
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

5. mais geral ao mais rebuscado e/ou especializado.


No Dicionário Changana – Português Sitoe (1996) No DICH, usar-se-ão os seguintes símbolos: a vírgula (,), o
-mpfi – id de estar completamente cheio. ponto e vírgula (;), os dois pontos (:) e números (algarismos
árabes).
No DICH
-mpfi¹ id. de estar demasiadamente cheio (como num comí-
cio bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajondzi na Vírgula (,)
escola está completamente cheio de alunos. De acordo com a programação do Tshwanelex, a vírgula se-
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugi- para sinónimos. Ou seja, de acordo com Sitoe (1991), “pala-
tivo que é apanhado despercebido): maphoyisa matemu vras com identidade comum de significado e que se podem
mpfi os polícias pegaram-no de surpresa. substituir umas pelas outras como equivalentes aceitáveis
para a entrada ou vedeta, embora por vezes possa haver
Um outro exemplo: contextos em que uma delas seja mais preferível que as
outras”:

6.
No Dicionário Changana – Português (Sitoe:1996) 7.

baà- 1. de ser branco. 2. de ser claramente visível, evidente. -bàhasàà id. de estarem dispersos, de estarem espalhados...
Mhàka yiyòbaà! O caso é bem evidente. 3. de estar completa- -bèbu (<-bebula) id. de erguer (uma criança), de carregar
mente vazio. Svìtolo svitèbaà! As lojas estão completamente (uma criança)...
vazias. [cf. -bàsà].
Nos exemplos acima, extraídos de dois verbetes, mostramos
como é que a vírgula é usada para separar sinónimos na expli-
No DICH cação dos significados dos ideofones em causa, onde temos,
para o caso do ideofone bàhasàà, o primeiro significado: de
-baa id.de (<-basa) de ser bem branco, branco branqui- estarem dispersos e o segundo: de estarem espalhados.
nho (branco como a neve):
Ponto e vírgula (;)
Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
bem branca, comprei uma O ponto e vírgula será usado para discriminar sentidos dis-
tintos de uma mesma entrada (polissemia):
blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o as-
sunto ou o problema): mhaka yiyo
baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como 8.
em uma noite de luar): handle -baa (<-basa) id.de ser bem branco, branco branquinho
kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completa- (branco como a neve):
mente vazio: svitolo kuyo baà as Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou lim- bem branca, comprei uma
pinho ( como a roupa blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o assunto
perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo baà a mi- ou o problema): mhaka yiyo
nha roupa está bem limpa ou a baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como em
minha roupa está bem limpinha. uma noite de luar): handle

6.4.1 Símbolos usados para discriminação de sentidos kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completamente
vazio: svitolo kuyo baà as
A demonstração das várias vertentes relacionadas com a
hierarquização dos sentidos dos ideofones, é feita através de lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpi-
alguns símbolos, que o próprio programa (Tshwanelex) que nho ( como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya
usamos para a elaboração do dicionário de ideofones já tem mina yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a
programados. Na apresentação dos sentidos partiremos do minha roupa está bem limpinha.
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Algarismos arábes 1) Entrada ou Vedeta; 2) Derivação 3) Equivalentes e/ou


Os Algarismos arábes serão usados para discriminar ideofo- Ex- plicações; 3) Glosas; 4) Material ilustrativo; 5)
nes homónimos: comentários; 6) Remissões e 7) Referências.
9. 6.5.1. Entradas ou Vedetas
-mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como num São os ideofones que constituem as entradas e são
comício bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajondzi apresenta- dos em bold e estarão registados em ordem
na escola está completamente cheio de alunos. alfabética. Para os casos em que temos dígrafos e trígrafos,
bem como diacríticos, seguiremos a ordem alfabética da
-mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um
primeira letra que compõe cada um deles, apesar de se
fugiti- vo que é apanhado
reconhecer, de acordo com Sitoe (1991), que constituem um
despercebido): maphoyisa matemu mpfi os polícias único fonema. Vejamos os exem- plos que se seguem:
pegaram-no de surpresa.

11.
Dois pontos (:)
-cwee id. de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
Os dois pontos introduzem frases ou sintagmas ilustrativos, mapinewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
ou seja, sempre que se pretender dar um exemplo de ocorrên- pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
cia da unidade lexical que é vedeta, aparecerá, depois desta, o
-wàà (<-wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
símbolo dois pontos (:).
mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa. [como se
fos- se uma cheia ou como se a água escapasse de uma
conduta].
10.
-pshàndlà (< -pshandlasa/ka) id de cair no chão e ficar em-
-hlomè (< -hlomela) id. de espreitar (de uma forma fugaz):
papado (como p.e. uma papaia bem madura que cai no chão):
Mungoni ali hlome xipachini xa mamani wa yena o Mungoni
payipayi pshandla! a papaia caiu e empapou-se.
espreita fugazmente dentro da carteira de sua mãe.
-psirrr id de do tocar do apito (como p.e. para anunciar o
-jàtà (< -jatama) id. de atirar-se abaixo, de saltar de cima
fim de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku
para baixo: murhwali wa masaka ate jàtà hi le movheni o car-
psirr hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo
regador de sacos saltou do carro para baixo.
terá terminado.
-rhaxà id. de desdobrar (uma esteira, as pernas): holi rhaxà
Como se pode verificar nos exemplos em (49), sempre sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo rhaxà
temos o dois pontos a introduzir o material ilustrativo. milen- ge sentou-se dedobrando as pernas.
Nos exemplos em (50) os ideofones cwee, -wàà, -pshàndlà,
6.5. Organização dos verbetes -psirrr e -rhaxà constituem as vedetas ou entradas. A vedeta
juntamente com toda a informação que a acompanha consti-
Neste ponto mostramos como se apresenta um verbete, pri- tuem um verbete. A seguir o exemplo de um verbete:
meiro de uma forma geral, e em particular no dicionário de
ideofones no Changana. Um verbete, de uma forma geral,
apresenta os seguintes componentes: entrada ou vedeta, ori- 12.
gem, informação gramatical, glosas ou rótulos, equivalentes
-wàà (< -wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
e definições, material ilustrativo, sub-entradas e remissões e
mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa [como se
referências, Sitoe (1991).
fos- se uma cheia ou como se a água escapasse de uma
Os elementos enumerados no parágrafo anterior não são conduta].
comuns a todos os dicionários, nem a todos os verbetes, mas
existem os que são comuns a todos eles. Isto dependerá muito
da natureza do ideofone a ser descrito num determinado 6.5.2. Equivalentes e/ou Explicações
verbe- te. Para o DICH teremos os seguintes componentes: Este ponto consiste na coordenação dos sentidos na LF com
as da LA. Sitoe (1991).
O DICH sendo um dicionário só de ideofones, e uma vez
que
13
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

já ficou claro que não é possível obter para todos os advirá de exemplos por nós produzidos (como falantes
ideofones, equivalentes imediatos, sendo isso possível para nativos do Changana) e também de extractos de textos
alguns, sobre- tudo aqueles que imitam sons (as recolhidos jun- to de falantes e em algumas vezes traremos
onomatopeias...), pelas ra- zões já expostas, chegados a esta alguns exemplos extraídos de Sitoe (1996).
fase a nossa tarefa consistirá em apresentar as entradas na LF
e fornecer as suas explicações na LA, recorrendo a estratégias No DICH todos os exemplos estarão em itálico e serão se-
para uma transmissão dinâmi- ca do sentido dos ideofones. guidos pela respectiva tradução em Português e sempre que
possível, por um comentário. Quanto ao tipo de material ilus-
trativo apresentaremos apenas sintagmas e frases, como ilus-
6.5.3. Glosas tram os exemplos em (14 e 15):
As glosas indicam o mais concisamente possível e numa
lin- guagem o mais simples possível as especificidades e as Sintagmas
esfe- ras de aplicação da entrada, Sitoe (1991). No DICH
teremos também glosas que desempenharão efectivamente a 14.
função já descrita por este autor, ou seja, a informação que -nkatlà id. de estar encaixado (firmemente): Nsimbi nkatla!
aparecerá nas glosas do nosso dicionário auxiliará o usuário a ferro firmemente encaixado [como por exemplo um parafuso
perceber me- lhor o significado da unidade lexical descrita, bem apertado].
bem como o seu contexto de uso e/ou a sua área de aplicação.
As glosas apa- recerão imediatamente depois da explicação, -rhotlò id. de estar bem fechado à chave (como p.e. uma
entre parênteses curvos, como podemos ver nos exemplos que por- ta) xipfalu rhotlò a porta está bem fechada à chave.
se seguem:
Os exemplos mostram os contextos em que se podem usar
13. os ideofones -nkatlà e -rhotlò inseridos em sintagmas.

-pee (< -pela/ta) id. de mergulhar (o sol e, por exemplo,


algo num líquido)… Frases
-rhaxà id. de desdobrar (por exemplo, uma esteira, as 15.
pernas, etc.)…
-bìbìbì id. de dar pancadas (como as do coração): Mbilu ya
mina yo bìbìbì! o meu coração dá pancadas fortes! [como o
Em (13) temos dois exemplos de ocorrência de glosas. Na coração de alguém muito amedrontando]…
explicação do significado do ideofone pee temos, entre parên- -dà id. de estar a descoberto: Mhaka yiyo dà! O problema
teses os sintagmas o sol e algo num líquido que constituem está à vista!...
a glosa, dando a entender que, geralmente usa-se o referido
ideofone com o sentido de pôr-do-sol ou quando algo mergu-
lha num líquido. E o ideofone rhaxà apresenta como glosa os Os exemplos em (15) mostram os contextos em que se po-
sintagmas uma esteira e as pernas o que significa que o seu dem usar os ideofones -bìbìbì e -dà inseridos em frases.
significado é desdobrar, mas usado geralmente quando se
des- dobram uma esteira ou as pernas
6.5.5. Comentários
6.5.4. Material ilustrativo
No campo de comentários apresentamos informação que
O material ilustrativo refere-se a todos os tipos de exemplos reforça a compreensão do significado dos ideofones, quando
que um dicionário apresenta e auxilia os usuários na percep- para além da informação apresentada nas glosas, pretendemos
ção da informação contida nos verbetes. Os dicionários reforçar a compreensão dos ideofones e para não
podem integrar exemplos vindos do levantamento de textos sobrecarregar o campo da glosa os comentários virão entre
orais e escritos (citações) ou produzidos pelo lexicógrafo para parêntesis rectos, logo a seguir ao material ilustrativo, como
casos específicos a ilustrar. O material ilustrativo pode ser um por exemplo:
sin- tagma, uma frase gramaticalmente completa, uma
expressão idiomática, um desenho ou uma fotografia.
Para o nosso dicionário, grande parte do material ilustrativo 16.
14 N° 17 | Outubro, 2011

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-nkatlà id. de estar encaixado (firmemente) : Nsimbi nkatlà 18.


ferro firmemente encaixado. [como por exemplo um parafuso
bem apertado]. -copè (<-copeta) id. (cf. tsopè).

No exemplo (16) temos um extracto de um verbete e se -tsopè (<-tsopeta) id. de pestanejar, de piscar os olhos (cf.
ilus- tra como se podem apresentar os comentários e nesse copè).
exem- plo temos a expressão [como por exemplo um parafuso
bem apertado], que é um comentário para reforçar a
explicação do ideofone -nkatlà. Usam-se também para coordenar sinónimos ou mais unida-
des lexicais que estabelecem relações semânticas entre si,
des- de que a natureza e os objectivos do dicionário o exijam.
6.5.6. Remissões No DICH, por causa da existência de vários ideofones
sinónimos, destaca-se o cruzamento de referências entre
As remissões aparecem num dicionário para remeter as for- aqueles. Quanto à disposição, os sinónimos que se cruzam
mas complexas lexicalizadas, como por exemplo verbos ex- aparecem no fim do verbete, onde se encontra a abreviatura
tensos às suas formas canónicas, Sitoe (1991). No DICH os sn., que significa sinó- nimo, e por fim o ideofone sinónimo
ideofones extensos não aparecerão como sub-entradas das do que constitui a vedeta e sublinhado.
suas formas canónicas, mas sim serão registados em separado
e re- metidos àquelas. Um exemplo:
Exemplos:

17. 19.

-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, de se -hojo (<-hojomela) id de cair (para dentro de): mbuti yite
debater (como por exemplo uma pessoa ou um animal amar- hojo xikheleni o cabrito caiu na cova/buraco sn. -ngolo.
rado ou preso): muyivi lweyi abohiweke ali chukù o ladrão -psìripsà id de estar sujo (de qualquer coisa pegajosa): vat-
que foi amarado agita-se. songwana vayo psiripsa hi madaka as crianças estão sujas de
-chukùchukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, matope sn. -psìtlì.
de se debater (repetida e intensivamente): muyivi lweyi abo-
hiweke ali chukùchukù o ladrão que foi amarrado agita-se.
[como por exemplo um animal desesperado amarrado ou pre- 7. Conclusões
so].cf. chukù Chegamos ao fim do nosso trabalho, um estudo com o se-
-chukù-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, guinte título: Uma Proposta Metodológica para Compilação
de se debater (pausadamente, repetida e intensivamente): muyi- de um Dicionário de Ideofones no Changana. O trabalho ti-
vi lweyi abohiweke ali -chukù-chukù o ladrão que foi nha como objectivo apresentar propostas metodológicas para
amarrado agita-se. [como por exemplo um animal a compilação de um dicionário de ideofones no Changana e
desesperado amarrado ou preso].cf. -chukù no fim apresentar uma amostra do futuro dicionário de
ideofones do Changana. Feito o estudo, pensamos que
atingimos os nos- sos objectivos, pois avançamos algumas
6.5.7. Referências propostas de tradução de ideofones do Changana para o
Português e apresentamos no fim do nosso trabalho, uma
No capítulo das referências importa salientar que estas têm amostra do DICH.
a função de coordenar variantes lexicais livres, Sitoe (1991).
Essas variantes, em geral, localizam-se na posição final do Com o estudo concluímos que:
ver- bete, entre parênteses curvos ou rectos e em itálico, Não é possível esgotar as nuances de um ideofone em to-
precedidas da abreviatura cf. dos os casos, devido ao anisomorfismo entre as duas línguas
No dicionário esboçado por este trabalho essas variantes lo- de trabalho, mas a experiência mostrou que, embora não seja
calizar-se-ão no fim do verbete com o qual se relacionam, possível para todos os ideofones, para os ideofones onomato-
entre parêntesis curvos e precedidas da abreviatura cf., como paicos é e, também se pode recorrer a estratégias que
ilustra o exemplo que se segue: auxiliam no fornecimento dos significados dos ideofones na
LA, como é o caso de instrumentos como glosas, comentários
e outras expressões. Então, sendo assim, confirma-se a nossa
segunda hipótese que dizia que por causa das diferenças
culturais entre
15
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

as duas línguas, nem sempre será possível esgotar as nuances Miti, L. (2006). Comparative Bantu Phonology and Morphol-
dos ideofones, mas para alguns isso é possível. ogy. Cape Town: CASAS.
Ngunga, A. (2000). Phonology and Morphology of the Ciyao
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16 N° 17 | Outubro, 2011

PÁGINA DE ESPECIALIDADE

-baà (<-basa) id. de ser bem branco, branco branquinho está presa na armadilha agita-se.
(branco como a neve): Nixave buluza ya kubasa yiku baà
comprei uma blusa bem branca, comprei uma blusa branca -copè (< copeta) id. de pestenejar, de piscar os olhos (como
branquinha; de ser bem evidente (o assunto ou o problema): p.e. quando temos a sensação de que algo está para penetrar
mhàka yiyò baà o caso é bem evidente; de estar bem claro nos nossos olhos): atè cope kuve xilavi se xingene tihlweni
(como em uma noite de luar): handle kuyo baà lá fora está pestenejou enquanto o cisco já havia lhe entrado no olho.
bem claro; de estar completamente vazio: svìtolo kuyo baà -cwee id.de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
as lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou mapenewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
limpinho (como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
mina yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a minha
roupa está bem limpinha. -cwiì id. de chiar, guinchar (como o porco quando vai ser
degolado): khumba ritè cwii o porco guinchou.o porco deu cá
-bè¹ id. de estar num ponto alto em termos de qualidade uma chiadeira!
ou intensidade (como p. e. a roupa a uma modelo esbelta):
nkhancu wutèmu bè! o vestido fica-lhe a matar Dicionário -dadanànà id. de estar bem inchado (como p. e. depois de
Changana - Português (Sitoe, 1996:08). levar uma picada de vespa): rhama ra Sara riyo dadanànà a
bochecha da Sara até parece que vai rebentar de tão inchada.
-bè² id de produzir um som surdo: i nchini xingo bè o que é
que está a produzir um som surdo. -dlónyò (<-dlonyoka) id.de olhar com os olhos demasiada-
mente salientes (como quando censuramos alguém com os
-be id de ser bem teimoso, casmuro: wena hambi loko ubze- olhos): se akuni dlònyò e então fuzilou-me com os olhos em
liwa uyala uku bè tu mesmo que te repreendam continuas chispas.
casmurro..
-dlónyo (<-dlonyola) id.de ferir ou picar (no olho): se ukuni
-bì¹ id. de ser bem parecido com alguém: n’wana lweyi ayo- dlónyo hi litiho e meteste-me o dedo olho adentro
mu bì tàtanà wakwe esta criança é a cópia do pai.
-dokòdokò id. de cobiçar, desejar fortemente algum
-bì² id. de desaparecer completamente ou por longo tempo alimento apetecível, de ficar com água na boca: n’wana até
(como p. e. quando o sol desaparece no fim do dia): jàmbù dokòdokò loko avone xidonsani quando a criança viu o
nyamalalo bì o sol desapareceu completamente; de estar rebuçado cres- ceu-lhe água na boca.
completamente acabado: ntirho bì o emprego acabou!
dwa (<-dwaka) id.de vir à superfície de vez em quando ti-
-bvibvinini id. de estar bem despenteado, desmazelado rando apenas uma parte do corpo (como p. e. o hipopótamo
(cabelo humano): uya xikolweni ni misisi leyo yingayo bvib- ao nadar): mpfuvu leyi yihlambelaka yili dwà o hipopótamo
vinini!? vais à escola com o cabelo assim desmazelado!?; de que está a nadar vem à superfície de vez em quando.
estar desgrenhado (p.e. o pêlo de um animal): hayini voya ra
mbuti riku bvibvinini? Porque é que o cabrito tem o pêlo des- -fàhlàfàhlàfàhlà (<-fahlamela) id. de crepitar, do som dos
grenhado que nem uma velha escova de dentes? alimentos a fritar em óleo (como o peixe a fritar em óleo bem
quente): laha gozinyeni leli kotwala kufàhlàfàhlàfàhlà ntse-
-bvò.(< bvonga) id. de espetar com firmeza (p.e. uma injei- na! aqui nesta cozinha não se ouve nada que o crepitar do
ção na nádega): loko dokodela atexi bvò xin’wanana xa mina óleo com algo a fritar.
hi nayethi muzimbha wa mina wutlhele wudzividza quando o
médico espetou a agulha nádega adentro ao meu bebé estre- -foo¹ (<- foma) id. de arder (como quando se põe limão
meci toda. numa ferida aberta, ou os lábios devido ao piripiri: sovorhi
leli labava, minomo ya mina yo foo este piripiri pica tanto
-cambùcambù id. de caminhar pelado, como veio ao mundo que até tenho os lábios em chamas.
(o homem): wanuna lweyi ango cambùcambù ndleleni injhe
wativa? será que aquele homem que caminha todo pelado -foo² (<- foma) id. de chiar, de zumbir (como a água
está em juízo perfeito? prestes a ferver): mati se mali foo a água já está na fase do
ferve- não-ferve.
-chi id. de ser numeroso e destruitivo: tihomu tite chi
amasin’wini os bois arrasaram a machamba toda! -foo³(<- foma) id. de sentir dores causadas por um grande
esforço ou desgosto: tatana andzikwatisile mbilu ya mina yo
-chukù (<-chukuvanya) id. de se mexer, de se agitar, de foo o meu pai ofendeu-me tanto que até o coração me sangra.
se debater (como p.e. uma gazela presa numa armadilha):
mhunti leyi hi phasiweke lithakene yili chukù a gazela que -gàbà id. de ser largo (como p. e. as orelhas do elefante):
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PÁGINA DE ESPECIALIDADE

ndlopfu yini tindleve taku gàbà o elefante tem orelhas largas; estava uma pedra!.
de estar/ser descaído (como os lábios ou as orelhas quando
são demasiadamente grandes): ani minomo yaku gàbà tem -khwa² id. de estar com muita sede (com a garganta a secar):
lábios demasiadamente grandes nkolo wa mina uyo khwa estou com a garganta seca de sede.

-gabì-gabì id. de beber atirando a água à boca com a mão -khwa³ id. de serem iguais como gémeos: lavaya vambirhi
em concha (como quando se bebe num rio): mufana ali vomaha hi ku khwa aqueles dois são tão parecidos como
gàbi- gàbi mati o rapaz bebe água usando a concha da mão. duas gotas de água; de assentar como uma luva: nkhancu
wuyomu khwa o vestido ficou-lhe a matar!
-gi (<-ginya) id. de agarrar de surpresa: mamana ateyi gi
huku a mamã pegou a galinha de surpresa. -khwekè (<-khwekela) id. de estar entalado (p.e. um pedaço
de carne entre os dentes): xinyamani xitè khwekè ka matinyo
-gùbù (<-gubuta) id. de sacudir alguma coisa: kokwana alili um pedaçinho de carne entalou-se nos dentes.
gùbù sangu la yena a avó sacode a sua esteira.
-khwipininì id. de ser curto (o vestuário): xikhipa lexi an-
-gwàdzàà id. de ajoelhar-se (rapidamente): nyanga yitè gayambala xo khwipininì a camisete que ele usou e muito
gwàdzàà kusuhi na mina o curandeiro ajoelhou-se perto de curta
mim.
-kòyò id.de estar bem carregado de frutos (diz-se das árvo-
-gwantla (<-gwatlanya) id. de estrondear (como a porta que res): mangi awuyo kòyò a mangueira estava bem carregada
se fecha com força): xipfalu xitèti gwantla hi mhaka ya moya de mangas.
a porta fechou-se com estrondo por causa do vento; de fechar
violentamente, de bater com a porta (como p.e. no meio de -mbii id. de jazer sem vida em grande quantidade (como p.e.
uma discussão): asuke na akwatile xipfalu ayoyendla hi kuxi as galinhas mortas numa capoeira por causa de uma epidemia
gwantla saiu zangando que até bateu com a porta. aviária: tihuku atiyo mbii xihahlwini um mar de galinhas ja-
zia sem vida na capoeira
-halakàhlà id de fazer um ruído (como p. e. o dos ossos divi-
natórios ao espalharem-se no chão: nyanga yitèti halakahla -mbuxù id.de deitar-se e formar uma massa no chão (como
ntihlolo o curandeiro lançou os ossos. p. e. o hipopòtamo deitado ou uma pessoa gorda deitada):
homu yiyo mbuxù o boi está deitado todo feito uma monta-
-hàtì-hàtì (<-hatima) id.de brilhar, de faiscar, de relampejar, nha.
de reluzir(como quando relampeja): ko hàtì-hàtì svikomba
lesvaku kutana mpfula os relâmpagos rasgam os céus; é sinal -mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como p. e. num
de que está para chover. comício bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajon-
dzi a escola está prenhe de alunos.
-hònihòni (<-honisela) id.de adiar , de fazer delongas, fazer
ouvidos de mercador, não ligar conselhos: atè hònihòni vaza -mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugitivo que
vamutekela hinkwasvu fez delongas até que lhe tiraram tudo. é apanhado despercebido): maphoyisa matemu mpfi os
polícias pegaram-no de surpresa.
-hònòò (<-honoka) id. de estar com os olhos arregalados, de
estar com os olhos esbugalhados: nimukume na ayo hònòò -mpfù id. de estar aglomerados: timbuti tiyo mpfù xib’aleni
encontrei-o com os olhos esbugalhados sn. dlònyò. os cabritos estão aglomerados no curral.

-karakàrà id. de subir bem rápido (p.e. para uma árvore): -mphaa id. de estar totalmente aberto, de estar escancarado
xipixi xitè karakàrà nsinyeni o gato subiu bem rápido para a (como p. e. uma porta): vatshike xipfalu xiyo mphaa deixa-
árvore. [como fazem os gatos e os macacos]. ram a porta escancarada.

-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (p. e. a cabeça de al- -mphù (<-mphuma) id. de ser estar escuro, de se tornar escu-
guém, com um instrumento contundente):afike akumu khèhlè ro: wusiku liyo mphù é noite cerrada.
nhloko hi bewula chegou e pumba, deu-lhe com o machado -mpsom (<-mpsompsa) id. de beijar, de chupar, de sugar
na cabeça. produzindo um ruído: akangatele mati ka voko akuma mp-
-khìtsì id. de estar carregado de nuvens (como p. e. o céu som. colheu água na concha da mão e sugou ruidosamente.
um pouco antes da chuva):namuntlha kutana mpfula henhla -mpùlu id.de agitar a cauda (p.e. o cão quando vê o dono):
kuyo khìtsì hoje o céu está carregado de, sinal de que vai mbzana yili mpùlu o cão agita a cauda.
chover.
-mpùlu-mpùlu id. de agitar rapidamente a cauda (p.e. o cão
-khwa¹ id. de estar seco (p. e. o pão): pawa aliyo khwa o pão quando vê o dono ou quando se lhe dá de comer): mbza-
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na yili mpùlu- mpùlu o cão agita a cauda. rapidamente. cf. pupulava a minha machamba.
Mpùlu.
-pompom - pompó (como p.e. a buzina de um
-nàmù (<-namuka) id. de descolar-se, de desprender-se, de automóvel):movha wute pompom o carro buzinou ou o carro
soltar-se (como p. e. a sola do sapato): xifambu xitè nàmù. fez pompó.
o sapato descolou-se.
-psàmbi (<-psàmbita) id. de deitar apenas um pouquinho:
-nchì (<-nchima) id.de estar bem sujo (a roupa): mpahla leyi mamana ate psàmbi svifurhana paneleni a mama deitou só
uyambaleke yiyo nchì a roupa que usaste está bem suja; (fig.) um pouquichinho de óleo na panela.
de ser demasiadamente escuro: mufana lwiya ani ntima
waku nchì. aquele rapaz é demasiadamente escuro. -pshandlà (<-pshandlaka/sa) id. de cair no chão e esbor-
rachar-se .(como p.e. uma papaia bem madura): payipayi
-nciì id. de ir-se embora, de dobrar uma esquina (desapare- pshandla! a papaia caiu e esborrachou-se.
cendo numa esquina ou numa curva): vajondzi vatè nciì os
estudantes dobraram a esquina. -psirrr id.do tocar do apito ( como p.e. para anunciar o fim
de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku psirrr
-ncikì id.de estar suspenso (como alguém que se suicidou hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo terá ter-
por meio de uma corda): vamukume na ayo ncikì encontra- minado.
ram-no suspenso na ponta da corda; de oscilar (como o
pên- dulo): xikalo lexi xihayekiweke nsinyeni xili ncikì a -psiyò (<-psiyota) id. de chamar por meio de um assobio:
balança que está pendurada na árvore oscila mufana avitane nthombhi ya yena aku psiyò o rapaz assobiou
para a sua namorada.
-ndangù id. de estar bem cheio (um recipiente, como p. e.
um saco bem cheio): saka riyo ndangù hi mpunga o saco -psuù (<-pshuka) id. de ser vermelho, de tornar-se vermelho
está compleatamente cheio de arroz; (fig.) de estar com o (como quando acende o sinal vermelho no semáforo ou como
estôma- go bem cheio (como se fosse um balão cheio):khwiri o pôr do sol): nkama lowu jambú ringo psuù quando o sol já
ndangù hi tifijawu! Comeu tanto feijão que tem a barriga que se ia pôr!
nem um balão cheio. -rhaxà id. de desdobrar/estender (uma esteira, as pernas):
-ngòyò id. de ser/estar claro, evidente, de ser/estar evidente: holi rhaxà sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo
mhaka yiyo ngòyò o problema está claro/evidente. rhaxà milenge sentou-se de pernas estendidas.

-ngòyò² id de estar saliente (p.e. as costelas numa pessoa -sudù id. de estar caído ou deitado (de bebedeira, doença ou
magra).: hi kulala, timbambu ngòy. de tão magro até se po- dor profunda): tatana wa wena ayo sudù hi kudakwa o teu
dem ver as costelas. pai está caido de bebedeira.

-ngòyò³ id. de estar bem carregado de frutos (diz-se das ár- -svesvesve id. do soprar bem leve (como p. e. a brisa entran-
vores): mangi awuyo ngòyò a mangueira estava bem carrega- do pelas frestas): laha svimoyana svili svesvesve aqui bate
da de mangas. sn. kòyò. uma brisinha bem leve.

-nhabzà id de saltar, de pular (como faz o sapo): khutla lite -tàma-tàma (<-tamata) id. de andar de vagar (como faz uma
nhabzà lipela matini o sapo pulou para a água. criancinha quando aprende a andar ou um convalescente): ali
tàma-tàma ingi ova xin’wanani anda devagarinho como se
-ntli¹ id. de sufocar (p. e. apertando a garganta): aatèmu ntlì fosse uma criancinha.
hi minkolo estava a sufocar-lhe pelo pescoço.
-tèkiyàni (<-teka) id. de de levar bruscamente, de pegar
-ntli² id. de estar bem cheio (um lugar ou um recipiente): bruscamente: atèli tèkiyàni bukù ahuma pegou o livro com
ndzhava wuyo ntli hi mimangi o cesto está bem cheio de brusquidão e saíu.
mangas.
Triririm - triririm (como por exemplo o toque do telefone)
-pfoò id de fugir: mudlayi aali kola loko avone maphoyisa fone la wena lili triririm o teu telefone está a tocar.
ate pfoò o assassino estava aqui quando viu os polícias fugiu;
de desconversar ou não atinar com o assunto em discussão.: -vàyí-putsù-vàyí-putsù id. de apagar e acender (como faz
mamutwa aku pfoò! oiçam-no fugiu do assunto! um pirilampo).: magezi mali vàyì-putsù-vàyì-putsù kufana
ni xitimandzilwana. as luzes acendem e apagam como faz o
-pi id.de estar em grande número e invandir (em algum lu- pirilampo.
gar): tihomu tiyo pi, masin’wini ya mina uma manada de bois
-vàyìvàyì (<-vayitela) id. de cintilar, reluzir, resplandecer
19
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(como o brilho das estrelas em uma noite de céu limpo): se


tinyeleti ato vàyìvàyì e as estrelas cintilavam.
-vhìvhàà id. de anoitecer, escurecer.: afike na se lo vhìvhàà.
chegou no princípio da noite.
-wàà (< -wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa
(como se fosse uma cheia): mati moyendla hiku wàà a água
cai em catadupa.
-woò id. de qualquer coisa que se movimenta impetuosa-
mente e em massa (para ir dar a).: tihomu titè combeni woò. e
os bois saíram a correr e foram dar ao rio num grande tropel.
-xawù (<-xawula) id. de saborear um alimento apeititoso
com sabor um tanto forte e picante (como p. e. saborear um
bife bem gostoso com piripiri).
-xwàà id. de aparecer de repente ( como p. e. um grupo de
soldados que vão atacar): vamahehiku xwàà. apareceram de
repente.
-ya (<-yamasa) id. de esbofetear ou dar uma bofetada na
bochecha de alguém.: atèmu ya nsati wa yena. esbofeteou a
esposa.
-zweè id. de estar bem calado: n’wana aatè zweè. a crian-
ça estava bem calada; de estar em silêncio (alguém ou
algum lugar): kuyo zweè!. está tudo em silêncio!; de andar
desaparecido(como p. e. os que se exilam na África do Sul):
angatwali, ayo zweè. não dá notícias.
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Algumas semelhanças lexicais e


fonético-fonológicas entre Elomwé e Emakhuwa
Por Carlos Mucamisa
c.mucamisa@gmail.com

1. Introduçao usada para as comunicações externas ou internacionais; era a


O presente estudo tem como objectivo identificar algumas única língua que poderia funcionar imediatamente em todos
semelhanças lexicais e fonético-fonológicas entre as línguas os domínios de uso oficial e era a única com disponibilidade
Elomwe e Emakhuwa, faladas nas províncias da Zambézia e prática e imediata, com uma tradição de escrita e com uma
Nampula, Cabo Delgado e Niassa respectivamente. A execução elite para desempenhar as funções letradas na administração,
deste estudo compreendeu três fases: Consulta bibliográfica; ciência e educação.”
trabalho de campo (entrevistas e preenchimento de fichas Esta decisão de se optar pela língua portuguesa como factor
de levantamento do vocabulário básico. A lista de palavras de unidade nacional e de combate contra o tribalismo e o
que constitui a base do vocabulário básico foi elaborada pelo regionalismo, data de 1962, quando da fundação da
NELIMO e comporta 220 palavras entre nomes, pronomes, FRELIMO. No entanto, Hyltenstam e Stroud (1997:45)
verbos, adjectivos, advérbios e numerais) e análise de dados. defendem que “se uma sociedade é inerentemente
E porque o nosso trabalho é de carácter comparativo, isto multilingue, o pluralismo linguístico é um pré-requisito para
pelo facto de se tratar de duas linguas da mesma família um desenvolvimento harmonioso” e avançam mais afirmando
bantu, seleccionámos o Método Comparativo apoiado pelo que “sem o qual se condenaria à exclusão social, cultural,
Método Lexicostátistico que mais adiante iremos descrever. económica, uma grande camada da sociedade, exclusão que se
poderia transformar num potencial foco de convulsões sociais,
além de que seria negar a sua tradição, a sua história, a sua
1.1. Sobre a Política Linguística em Moçambique cultura”, opinião também defendida por Ngunga (2000).

Moçambique, à semelhança de muitos países africanos, é Por isso, o argumento segundo o qual promover as línguas
um país multilingue e multicultural, onde, quer por razões nacionais, ao invés do Português, defendido na altura,
sócio- históricas e políticas, quer económicas, culturais e fomentaria simultaneamente a divisão, o tribalismo, o
religiosas, as línguas bantu coexistem, para além da língua regionalismo não deveria ser tomado a sério, pois a unidade
portuguesa, língua oficial, com línguas de origem europeia e linguística não implica necessariamente unidade nacional,
asiática (Firmino: 2000). nem a diversidade linguística resulta inevitavelmente em
divisão.
A Constituição da República de Moçambique, no seu artigo
quinto, ponto um, define a política linguística nos seguintes Mormente, como forma de corrigir o erro cometido
termos: “(i) Na República de Moçambique, a língua aquando da tomada da decisão de se considerar o Português
portuguesa é uma língua oficial, (ii) o estado valoriza as como língua de unidade nacional, ao invés do fomento das
línguas nacionais e promove o seu desenvolvimento e línguas nacionais, o Governo de Moçambique, no âmbito da
utilização crescente como línguas veiculares e na educação transformação curricular do ensino básico, decidiu introduzir
dos cidadãos.” (Lopes:1999), por seu turno o artigo nono da algumas línguas moçambicanas no ensino, tendo em conta
mesma constituição, preconiza a valorização das línguas três modalidades: (i) como meio de ensino; (ii) como recurso
moçambicanas como património cultural e identitário dos e (iii) como disciplinas curriculares (INDE: 2006).
cidadãos.
Hyltenstam e Stroud (1997:27), citados por Rego (2000), 1.2. Sobre as Línguas em Moçambique
destacam os seguintes argumentos como tendo sido os que mais
pesaram, na altura, a favor da escolha da língua portuguesa O papel mais ou menos visível que as línguas hoje
como língua oficial: “era a única língua de comunicação desempenham em Moçambique não deixa de ser reflexo do
mais alargada dentro de Moçambique e era também a língua seu passado histórico, embora algo esteja sendo feito em prol
da valorização das línguas nacionais de origem bantu.

1
Dados extraídos da Tese de Mestrado em Linguística, apresentada em Dezembro de 2009
21
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

De uma situação em que pouca ou nenhuma importância se processo sistemático de comparação de uma vasta gama de
deu às realidades etnolinguísticas na fundação e línguas, isto é, investigar factos e explicá-los de acordo com
posteriormente na condução dos destinos do país, hoje pouco as suas semelhanças e diferenças.
ou nada mudou, porque verifica-se que o peso que se tem
dado às línguas nacionais na vida política, económica e social É a partir deste quadro que Hock (1991) considera o
do país continua insignificante. Moçambique optou por uma método comparativo como instrumento que facilita a
solução mais cómoda, que é a solução de continuidade, ou reconstituição das línguas para se chegar à sua possível
seja, tomar como língua oficial a língua portuguesa (Rego: realidade pré-histórica, assim como estabelecer a relação
2000), que, obviamente, estava solidamente enraizada na genealógica da língua.
educação, na administração e na vida corrente do país, Guamba (2002) aponta que o método comparativo é usado
permitindo que continuasse (a LP) com um papel bastante no âmbito da constituição de alguns aspectos da proto-língua,
saliente no panorama linguístico multilingue que é e é igualmente usado na determinação do relacionamento
Moçambique. entre línguas da mesma família a partir de formas cognatas.
Como se sabe, as línguas bantu, em Moçambique, são Crowley (1992) citado por Guamba (op.cit) refere que à
línguas maternas para a maioria das crianças e servem de base semelhança do método comparativo, o método lexicoestatístico
para a sua primeira socialização. Elas são de uso familiar, é uma técnica que nos permite determinar o grau de
intra-étnica, local ou regional, isto é, são usadas em situações semelhança entre duas ou mais línguas através da comparação
informais. Os dados obtidos no Recenseamento Geral da do respectivo léxico seleccionado do vocabulário básico.
População e Habitação de 1997 confirmam que, tal como já
tinha sido indicado pelo Recenseamento Geral de 1980, as Como podemos observar, este método é crucial para o
línguas bantu são faladas por cerca de 93.0% da população nosso estudo na medida em que nos permitirá, a partir da
moçambicana (Firmino: 2000), contrariamente à língua comparação do vocabulário das duas línguas em estudo, da
portuguesa, tida como oficial e de ensino, estimada em 6.0%. lista de frases e o inquérito sociolinguístico determinar o nível
das diferenças e/ou similaridades entre elas.
Cientificamente, está provado que as línguas maternas
desempenham um papel fundamental no processo de Ensino-
Aprendizagem na medida em que as crianças aprendem 3. Sobre o Método lexicoestatístico
melhor quando a alfabetização inicial é feita na sua língua
materna (INDE: 2006), o que, não acontecendo implica O Método Lexicoestatístico tem como objectivo primário
condenar à exclusão social, cultural, económica, uma classificar Dialectos, Línguas, Família de Línguas em árvores
grande camada da sociedade ou negar a sua tradição, a sua genealógicas.
história e a sua cultura. Segundo Simon (1990), “o método lexicoestatístico provém
do termo Estatística e envolve probabilidades, ou seja,
estimativas”.
2. Sobre o Método Comparativo
E Carroll (1973) afirma que o cômputo de frequência é a
Segundo Carroll (1973), a Linguística Comparativaconsidera- base de abordagem deste método, pois consiste na selecção de
se como possuindo uma metodologia rigorosa. Tal método é um número considerável do léxico de duas ou mais
o comparativo, que se ocupa em mostrar a evolução histórica Variedades relacionadas e, numa perspectiva comparativa,
das Variedades e, em alguns casos, em mostrar as origens apuram-se as semelhanças ou diferenças aos níveis lexical,
fonéticas comuns de grupos de Variedades. Isto significa que fonético, fonológico e morfológico. O léxico seleccionado
o método comparativo pode ser usado para comparar deve corresponder ao vocabulário básico. Para tal, devem-se
Variedades numa determinada época, para separá-las ou definir parâmetros como por exemplo, morfologia, semântica,
agrupá-las (estudo sincrónico) assim como para comparar etc. A leitura é feita a partir da percentagem associada a cada
Variedades ao longo do tempo (estudo diacrónico). Este nível em estudo, tendo em conta o parâmetro estabelecido.
método foi usado por Guthrie (1948) na classificação das
línguas bantu. Esta classificação consistiu no estabelecimento Por seu turno Gudschinsky (1964) aponta que o Método
do bantu Comum e no estabelecimento do Proto-Bantu. Um lexicoestatístico (ML) é uma técnica de análise que permite
outro investigador a usar este método foi Gleanson (1972). calcular o momento histórico em que ocorreu a separação
de duas ou mais línguas. Este aponta ainda que este método
De acordo com ele, os passos a seguir para este tipo de permite ao investigador decidir a ordem cronológica de
trabalho são: (i) estabelecimento do Vocabulário Básico diferenciação linguística.
(terminologias ligadas à cultura); (ii) estabelecimento de
pares cognatos (semelhantes na forma fonológica e com o Como podemos ver, à semelhança dos outros acima
mesmo sentido) e exclusão de empréstimos. mencionados, este método é também indispensável para uma
melhor elaboração e percepção do presente trabalho.
Crystal (1987) aponta que o método comparativo é o
22 N° 17 | Outubro, 2011

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4. Sobre as Línguas Bantu divide-se em vários grupos de línguas estabelecidos conforme


A preocupação pelo estudo das línguas vem de muito longe. critérios de proximidade linguístico e geográfico reflectindo
Contudo, destaca-se o século XIX como sendo o século do um certo grau de aproximação genealógica.
nascimento de uma nova ciência, a da linguagem, na área das
ciências socias e humanas. Este seria o ponto de partida para
o surgimento da linguística, sobretudo a linguística moderna, 5. Sobre as línguas bantu moçambicanas
ciência que viria a consolidar-se com a publicação póstuma Moçambique apresenta uma situação linguística bastante
do trabalho de Ferdinand Saussure em 1916 “Cours de complicada, facto que tem sido tomado como uma das
Linguistique Générale”. A linguística Comparativa foi a grandes preocupações dos analistas linguísticos nacionais.
primeira forma adoptada pela linguística moderna, esta “surge Para estes, o grande problema que se levanta está relacionado
nos primórdios do romantismo europeu e participa no com a determinação do número exacto das línguas existentes
movimento histórico do século XIX” (Manessy-Guitton, no país. É neste âmbito que têm surgido várias propostas com
1976:33) e faz o estudo comparado das línguas aplicando vista a uma categorização das línguas faladas em
alguns métodos como o Tipológico e o Genealógico. Moçambique.
O método tipológico baseia-se em traços gerais, na análise Guthrie (1967-71) na sua abordagem sobre a classificação
da estrutura das línguas. Este método, segundo Berten das línguas moçambicanas aponta que as línguas bantu de
(1976:347) “não implica nem parentesco genético nem Moçambique distribuem-se por quatro zonas diferentes,
aproximação geográfica das línguas, mas também não os identificadas por letras maiúsculas, e são dispostas em
exclui.” A tipologia constitui um precioso instrumento de diferentes grupos, num total de oito a saber:
pesquisa no estudo da história das línguas. O método
tipológico é usual em Linguística Comparativa, embora o Zona G-G40: Swahili; Zona P-P20: Yao, e P30: Makhuwa-
termo comparação se reserve geralmente à investigação Lomwe; Zona N-N30: Nyanja, e N40: Nsenga-Sena; Zona
visando reconhecer no mundo determinado número de S-S10: Shona, S50: Tsonga, e S60:Copi.
famílias de línguas consideradas aparentadas (Manessy- Á prior, com esta classificação de Gurtrie (op.cit) colocam-
Guitton 1976). Por seu turno, o método genealógico apoia-se se algumas dúvidas como, por exemplo, o facto de o autor
em diferentes modelos que reflectem o processo histórico de não ter previsto na sua classificação a existência de mais de
fragmentação de uma proto-língua ancestral em línguas delas nove línguas em cada um dos grupos linguísticos, bem como
derivadas. Esses modelos são construídos com base em o facto de línguas do mesmo grupo linguístico não poderem
determinadas unidades classificatórias. ser mutuamente inteligíveis, por exemplo as línguas do grupo
Na classificação das línguas Bantu destaca-se o nome de P.20; exceptuando o grupo S50 (Changana, Ronga e Tshwa)
Bleeck (1951) como sendo o primeiro a usar o termo ‘Bantu’ cuja classificação é considerada menos controversa dada a
para designar o grupo de línguas faladas na região Sul de existência de um maior grau de mútua inteligibilidade entre
Africa, assim afirma Werner (1919). Depois de Bleeck os seus falantes (Ngunga 2004).
(1862), nomes como os de Guthrie e Doke, segundo Miti Firmino (1995) na sua análise sobre esta classificação
(2006), deram uma grande contribuição para classificação das aponta que a tipologia apresentada por Guthrie (1967-71)
línguas Bantu. Entretanto Guthrie (1967-1971) afirma que foi exclui algumas línguas bantu que hoje são também faladas em
Meinhof (1895) que sugeriu, pela primeira vez, a Moçambique como é o caso de Kimwani, Shimakonde, Nsenga,
possibilidade de aplicação às línguas africanas dos métodos Ngoni, Tonga, Zezure, Cimanyika, Karanga, Marendje, entre
gerais que tinham sido aplicados ao estudo das línguas indo- outras.
europeias. Por outro lado Greenberg (1955) realizou um
estudo propondo uma classificação das línguas africanas com Marinis (1981), citado por Ngunga (1991), defende que em
base no reconhecimento do senso comum de que certas Moçambique existem oito línguas das quais quatro maioritárias
semelhanças entre línguas só podem ser explicadas com base e igual número de minoritárias. Tais línguas são: Makhuwa,
nas hipóteses de relação genética. É deste modo que, em Ronga, Nyanja-Sena e Shona (maioritárias); Makonde, Yao,
1963, Greenberg apresenta uma classificação que agrupa as Copi, e Tonga (minoritárias).
línguas africanas em 4 grandes famílias (Afro- asiática, Nilo- De acordo com Ngunga (op.cit) diversos autores que
sahariana, Congo-Kordofaniana e Koisan). procuraram analisar a situação linguística em Moçambique
Por seu turno, Doke (1945), de acordo com Cole (1961), não apresentaram os critérios que pudessem determinar o
propôs uma classificação das línguas Bantu baseada em carácter maioritário ou minoritário de uma língua.
quatro elementos (Zonas, Grupos, Língua ou conjunto de Katupha (1985), tomando em consideração os estudos
Dialectos e Dialectos). apresentados por Guthrie (1967/71) reconhece a existência de
Guthrie (1967) classifica as línguas Bantu em 15 zonas oito grupos, embora nos seus estudos aponte para a existência
codificadas por letras maiúsculas. Internamente, cada zona de quatro línguas que considera maioritárias nomeadamente:
Makhuwa, Shi-tsonga, Chi-nyanja e Chi-shona.
23
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Podemos verificar com base nas descrições acima, que o de Pebane. Destas 8 variantes, só na província de Nampula,
número das línguas moçambicanas é apresentado de forma são faladas 5, daí considerar-se a província em que não existe
divergente. Enquanto, por exemplo, Marinis (op.cit) outro grupo étnico (originário) que fale uma língua diferente
considera o Ronga como língua maioritária, Katupha (op.cit), salvo o Ekoti que, por ora, não se tem a certeza se é variante
considera de Macua ou é língua autónoma. Este facto está o aliado à sua
o Shi-tsonga que à partida não é sinónimo do Ronga como situação geográfica central no âmbito das outras províncias
sendo língua maioritária. em que também se fala o Macua e, por outro lado, à
Como podemos notar com base nas abordagens acima reconhecida inteligibilidade mútua entre os falantes das
apresentadas, a questão da situação linguística em Moçambique diversas variantes, o que leva a que se tome a variante falada
apresenta-se ainda bastante controversa e mesmo relativamente em Nampula como sendo a de referência para efeitos de
às listas até aqui apresentadas, alguns estudiosos do panorama padronização da escrita (cf. Afido et al 1989).
linguístico nacional, por exemplo, Liphola (1988) discorda Alberto (1961), baseando-se nos diferentes modos de
da existência quer de oito línguas, quer de quatro línguas falar, considerou, no final dos anos 50, que a área linguística
maioritárias. macua dividia-se em cinco subgrupos a saber: (i) subgrupo
Entretanto, Ngunga (1991), de forma cautelosa, diverge da macua do litoral, de Moma a Memba; (ii) subgrupo macua de
posição dos autores que apresentam listas contendo o número macuana, nos actuais distritos de Nampula, Meconta, Imala,
das línguas moçambicanas. Este, na sua forma de abordar Erati, Mogovolas, Mossuril, Memba, Nacala e Mogincual;
esta problemática, não avança o número exacto das línguas (iii) subgrupo macua metto, em Montepuez, Eráti, Mecufi,
existentes no país, limitando-se a fornecer uma lista longa Mocímboa da Praia e Quissanga ( aqui o autor inclui os
susceptível de constituir uma base de partida para a resolução chirimas de Ribaué e Malema); (iv) subgrupo macua do
do problema. Niassa, localizado nos distritos de Lichinga, Cuamba, Maúa,
Marrupa, Ribaué e Malema; (v) subgrupo macua-lomué, no
Alto- Molocué, Gurué, Ile, Lugela, Milange, Mocuba,
6. Sobre as línguas objecto de estudo Namacurra, Namarrói, Ribaué e Murrupula.
6.1. Emakhuwa
A variedade (P30, Guthrie 1967:71; 52/5/1, Doke 1945) 6.2. Elomwé
é falada no Centro e Norte de Moçambique assim como em
Elomwé é a língua falada maioritariamente na zona norte
algumas regiões da Tanzânia, Malawi e ainda em pequenas
da província da Zambézia e considera-se a variante falada
comunidades em Madagáscar e Ilhas Comores, abrangendo
em Alto Molocué como sendo a de referência (cf. Gardner
mais ou menos 8 milhões de falantes (Kisseberth 2004:547).
1997). Para além dos distritos do norte da Zambézia (Gurué,
Em Moçambique, de acordo com o Censo populacional
Gilé, Alto Molocué e Ile), é falado também na província de
(1997), a variedade Emakhuwa é falada por cerca de
Nampula, sobretudo parte dos distritos de Malema, Ribawé,
3.291.916 pessoas constituindo 27,8% da população.
Murrupula e Moma (Sitoe e Ngunga 2000:67) e abrange uma
Emakhuwa tem 8 variantes, incluindo o Elomwé, assim
população estimada em 1.3 milhões de falantes. Como atrás
distribuídas:
vimos, Alberto (1961) alarga as zonas onde esta língua é
Nampula- Emakhuwa, falada na cidade capital e seus falada, na província da Zambézia. Na classificação de Doke
arredores como Mecuburi, Muecate, Meconta, parte de (1945), o Elomwé pertence à Zona Oriental cujo código é
Murrupula, Mogovolas, parte de Ribáwe e Lalaua; Enahara, 50; Grupo Este - Central 52 (grupo makhuwa); código 5 e ao
falada nos distritos de Mossuril, Ilha de Moçambique, subgrupo de dialectos de Makhuwa, onde recebe o código 1b.
Nacala- Porto, Nacala-a-Velha e parte de Memba; Essaka, Ilustrando, teremos:
nos ditritos de Eráti, Nacarôa e parte de Memba; Esangagi,
parte de Angoche; Emarevoni, parte de Moma e Mogingual e
Elomwé, nos distritos de Malema, parte de Ribáwe parte de
Murrupula e de Moma.
Cabo Delgado- Emetto falado nos distritos de Montepuez,
Balama, Namuno, Pemba, Ancuabe, Quissanga, parte dos
distritos de Meluco, Macomia e Mocímboa da Praia; Essaka,
nos distritos de Chiúre e Mecúfi.
Niassa- Echirima falado em Metarica e Cuamba;
Emakhuwa falado em Mecanhelas, Cuamba, Maúa, Nipepe e
Metarica; Emetto em Marupa e Maúa.
Zambézia- Emakhuwa falado em Pebane; Elomwe em
Gurué, Gilé, Alto Molócue e Ile; Emarevoni falado numa parte
Grupo Línguas / Conjunto Dialectos
de línguas

52/ 5 1: Makhuwa 52/ 5/ 1b


Lomwé
Enquanto Guthrie (1967-71) faz a seguinte classificação:
Zona P:
P. 30: Grupo Makhuwa- Lomwé: P. 32: Lomwé
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Como podemos ver, para Doke (1945) Elomwé “é Tabela 1.


dialecto de Emakhuwa”, mas para Guthrie (1967-71) é uma
língua que eventualmente pode ter os seus dialectos como,
Palavras cognatas %
por exemplo, demonstra Ngunga (2004:46) “Emarevoni,
Manyawa e Etakwani”. Neste pequeno grupo de variantes Elomwé e Emakhuwa 42,5
de Elomwé, podemos acrescentar ainda algumas faladas fora
de Moçambique, mais concretamente no Malawi, que são
“Emihavani, Emunyamwelo e Ekokholani” (Kisseberth in
Nurse 2000:546). A tabela acima ilustra, em termos percentuais, as palavras
cognatas entre a língua Elomwé e a língua Emakhuwa.
Tendo em conta a divergência de posições aqui ilustrada, fruto
Porém, Mocuba (2000) citando Simon (1990: 3.3.1-3.3.2)
de estudos levados a cabo por vários autores podemos
e Gudschinky (1994:619-621) refere que não é tão correcto
concluir que a situação linguística de Moçambique carece
sermos muito objectivos e categóricos nas percentagens de
ainda de algum tratamento e, em nosso entender, a falta de
dados linguísticos. Estes autores aconselham que os valores
clarificação dos conceitos de grupos linguísticos, língua e
calculados sejam apresentados em forma de intervalos. Desta
dialecto, contribui para a prevalência de situações deste
feita, para o cálculo da margem de erro, usa-se a fórmula do
género.
desvio padrão, abaixo representada:
Para o presente estudo, nós vamos adoptar, quanto à
definição de língua, uma perspectiva puramente linguística,
isto é, consideramos língua como um conjunto de elementos c(1  c)
estruturais usados para a comunicação numa dada comunidade δ =
e que tenha a mesma designação para tais falantes. nt
Interpretando a fórmula apresentada temos:

7. Análise de dados  C = P ou PSL = valor gravitacional (valor à volta


7.1. Itens lexicais do qual se centram todos os valores possíveis dentro do
intervalo);
Parafraseando Canonici (1991), duas ou mais palavras são
lexicalmente semelhantes quando são cognatas, isto é, iguais  nt= número total de palavras comparadas.
na forma (mesma configuração e mesmo significado).
Com efeito, depois de compilarmos os nossos dados
O valor do intervalo é obtido a partir da seguinte fórmula:
verificámos que ocorrem palavras, tanto no Elomwé quanto
no Emakhuwa, que têm a mesma forma e o mesmo P= P±δ  ] P- δ ; P+ δ [
significado, algumas destas palavras são:
Mais ainda, para garantirmos a fiabilidade dos resultados,
(1). Simon (1990) e Gudschinky (1964) afirmam que devemos
calcular a margem de erro tendo em conta três níveis de
Elomwé Emakhuwa Significado fiabilidade (68%, 90% e 50%). Estes valores são fixos. A
muthiyana muthiyana ‘mulher’ margem de erro no nível de fiabilidade de 68% corresponde
mwarusi mwarusi ‘rapariga’ ao desvio padrão. Quanto ao nosso trabalho, calculamos a
margem de erro, tomando o nível de 90%, tendo se mostrado
mulopwana mulopwana ‘homem’
um nível de erro relativamente menor. A fórmula para
mmiravo mmiravo ‘rapaz’ calcular a margem de erro é:
mwaana mwaana ‘criança’
Mer (X&Y) nf (68%, 90% ou50%) = δ×k
Interpretando a fórmula acima temos:
As palavras acima representadas são cognatas, pois são iguais
na forma e no sentido. O outro aspecto não menos importante  X= língua A
é a pertença à mesma classe nominal (cl 1/2).
 Y= língua B
Deste modo, depois de realizarmos a contagem de palavras
 Nf= nível de fiabilidade
cognatas, constatámos que o Elomwé e o Emakhuwa
apresentam um número reduzido de semelhanças lexicais.  K (contante) = 1,645
Assim, entre estas duas variedades linguísticas, das 221
palavras comparadas, 94 são cognatas, correspondendo a uma
percentagem de 45,7%. Para uma melhor percepção Assim, o intervalo é calculado usando a seguinte fórmula:
ilustrámos com a seguinte tabela:
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P(X&Y) nf= P±Mer  ]P-Mer; P+Mer[ lexical situa-se no intervalo de 42,50 a 42,50.
É imperioso, também, calcular a fiabilidade do corpus. Esta De seguida, vamos determinar o nível de fiabilidade.
fiabilidade calcula-se para afirmar com máxima segurança Considerando que a margem de erro ao nível de fiabilidade
que um corpus recolhido num tempo longo apresenta uma de 68% corresponde ao valor do desvio padrão, então vamos
margem de erro menor e num tempo curto a margem de erro é calcular a margem de erro ao nível de fiabilidade de 90%.
maior. Para o efeito, deve-se escolher o nível de fiabilidade. Assim, entre Elomwé e Emakhuwa, temos:
Segundo Simon (1990:3.3.7.), os níveis de fiabilidade
Mer (Elo & Emak)90% = δ×k
dependem do tempo, dos informantes e situação do
levantamento dos dados: Deste modo, o autor avança com os = 0,0022×1,645
seguintes níveis de fiabilidade:
= 0,0036
= 0,004
Tabela 2.- Níveis de Fiabilidade
De acordo com este resultado, a margem de erro nível de
Nível de fiabilidade de 90% é igual a 0,004. Deste modo, a
Fiablidade percentagem de semelhança lexical ao nível de fiabilidade de
Fiabilidade
90% é representada da seguinte maneira:
O corpus é resultado de muitos anos de
trabalho de campo
0,30 P (Elo & Emak)90% = P  Mer  ] P- Mer ; P + Mer[
] 42,5 – 0,004 ; 42,5 + 0,004 [
O corpus é resultado de curto tempo
0,20
intenso de trabalho de campo ] 42,49 ; 42,50 [
Situação de levantamento média com Assim, podemos estar 90% confiantes de que o valor
0,10
bom informante percentual de semelhanças lexicais está no intervalo entre
42,49 e 42,50.
Situação de levantamento com
0,05
dificuldades na ilicitação bilingue Por isso, a leitura que podemos fazer, a partir destes
resultados, é que a diferença lexical entre Elomwé e
Levantamento com ilicitação
0,01 Emakhuwa é mínima, o que quer dizer que, em termos
monolingue
lexicais, a diferença não é tão grande. Contudo, há sim
algumas diferenças lexicais assinaláveis. A título de exemplo,
podemos destacar as palavras abaixo:
É importante ressalvar que a escolha do nível de fiabilidade
é feita de acordo com a situação em que o investigador
trabalhou. (2).
Terminados estes procedimentos, se o valor achado na Emolwé Emakhuwa Significado
tabela for menor ou igual ao valor mais alto entre os valores
Nahano Mwarusi ‘rapariga’
percentuais comparados, significa que os valores percentuais
comparados são suficientemente diferentes naquele nível de Mokwasha Nakhulu ‘velho’
fiabilidade, caso contrário não são. Mwiili erutthu ‘corpo’
Nrama nlaku ‘bochecha’
Desta maneira, vamos começar por calcular a margem de
erro associada aos valores percentuais entre o Elomwé e o Evaru etara ‘coxa’
Emakhuwa.
A margem de erro entre Elomwé e Emakhuwa é: 0,0022 As palavras representadas acima, dão-nos conta daquilo
que são as diferenças lexicais entre as variedades linguísticas
Assim, a percentagem será representada da seguinte
Elomwé e Emakhuwa respectivamente. Um falante de
maneira: Emakhuwa, por exemplo, não conhece a palavras nahano
P=P  δ  ]P- δ[;]P+ δ[ ‘rapariga’ e a palavra nrama ‘bocecha’, que em Emakhuwa,
tem um significado diferente (púbis) do da variedade em
]42,5 – 0,0022;42,5 + 0,0022[
estudo. O mesmo acontece com o falante de Elomwé. Este,
]42,498 ; 42,502[ por exemplo não conhece as palavras etara, nlaku. Estas
diferenças criam, de algum modo, obstrução na comunicação
]42,50 ; 42,50[
entre falantes destas variedades linguísticas.
Isto quer dizer que a verdadeira percentagem de diferença
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7.2. Semelhanças fonético-fonológico entre Elomwé evidentes, embora as diferenças se situem ligeiramente acima,
e Emakhuwa o mesmo podendo-se dizer em relação ao nível fonético-
Diz-se que palavras são fonético-fonologicamente fonológico. Este facto leva-nos a entender melhor os porquês
semelhantes quando apresentam a mesma forma e estrutura de alguns estudiosos considerarem a língua Elomwé variante
fonético-fonológica. Vejamos os exemplos que se seguem: da língua Emakhuwa, como é o caso de Guthrie (1967) e
outros. Para nós esta aproximação linguística não pode ser
(3). entendida como sendo o Elomwe, neste caso, uma variante
Elomwé Emakhuwa Significado mas sim línguas que, provavelmente, tenham tido a mesma
língua- mãe e que ao longo dos anos cada uma delas foi
nikhuva [ni-khuva] nikhuva [ni-khuva] ‘osso’
ganhando a sua própria autonomia, resultante de vários
mutekhu [mu-tekhu] mutekhu [mu-tekhu] ‘umbico’ factores, sociais, geográficos e políticos. Embora ao nível
n’tata [n-tata] n’tata [n-tata] ‘mão’ lexical as diferenças sejam mínimas, na prática comunicativa
nipele [ni-pεlε] nipele [ni-pεlε] ‘mama’ esta diferença tem criado alguns ruídos entre os falantes
nikutha [ni-kutha] nha [ni-kutha] ‘joelho’ destas duas línguas, algo que não deixa ninguém
surpreendido por se tratar de duas realidades linguísticas
diferentes.
As palavras acima indicam a semelhança fonético-fonológica
entre as variedades linguísticas em estudo. Da análise por
nós feita, a este nível, constatamos que, das 221 palavras, só BIBLIOGRAFIA
90 palavras (40,7) têm a mesma forma e estrutura fonético-
Afido, Pedro J. 1997. Contribuição para o Estudo do
fonológica.
Morfema do Presente do Indicativo no Emakhuwa.
Como não deixaria de ser, calculámos as margens de erro Dissertação para a Obtenção do Grau de Licenciatura.
e nível de fiabilidade e os resultados que obtivemos revelam Maputo: UEM.
que estas variedades linguísticas não são próximas ao nível
Afido, Pedro J. 1998. Zinisomihiya Osoma ni Olepa Emakhuwa
fonético-fonológico. A diferença situa-se acima de 50%, o
(Como ensinar a ler e a escrever Makuwa). Maputo:
que nos permite dizer que são minimamente distantes. Só
UEM.
para ilustrar, apresentamos abaixo alguns exemplos:
Batibo, H. M. 1997. Lexicostatistical Survey of Bantu
Languages of Botswana. South African Journal of
(4). African Languages. Pretória. 18 (1): 22-29.
Elomwé Emakhuwa Significado Batibo, H. M. 1998. Lexical Survey Of the Setswana Dialects
mweco [mwεt∫o] Mwetto [mwεto] ‘perna’ Spoken in Botswana. South African Journal of
mutchu Mutthu [muthu] ‘pessoa’ African Languages. Pretória. 19 (1):2-11.
[mut∫hu] Bleek, W. 1862. Comparative Grammar of South African
sese [sεsε] Sheshe [∫ε∫ε] ‘quatro’ Languages. Trubner& Co, 60, Paternoster Row.
mwisi [mwisε] Mwishe [mwi∫ε] ‘fumo’ London.

Os exemplos acima, mostram-nos que existe uma Canonici, N. 1975. Manual of Comparative Bantu Studies.
diferença sim ao nível fonético-fonológico entre Elomwé e Durban: Departament of Zulu Languages and
Emakhuwa. Em Elomwé, onde ocorrem os fonemas Literature.
pós-alveolares tt ‘mwetto’e tth ‘mutthu’, na variedade Carroll, J. K, e Trudgill, P. 1980. Dialectology. Cambrige:
Emakhuwa são realizados foneticamente como /t∫/ e /t∫h/, Cambrige University Press
sendo representados na ortografia por c ‘mweco’ e ch
‘mutchu’, respectivamente. O som [∫], que em Emakhuwa é Davis, Laurence M. 1990. Statistics in dialectology. Alabama:
representado pelo grafema sh ‘sheshe’, em Elomwé é University of Alabama
representado por um dos alofones do fone [s] e grafado como Dubois et al s/d. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cutrix.
s ‘sese’(cf. Ngunga e Sitoe 2000).
Ferreira, A. G. E Figueiredo, J. N. s/d. Gramática Elementar
de Língua Portuguesa. Lisboa: Porto Editora.
8. Conclusão Firmino, G.D. 1995. Revisiting the “Language question” in
O presente trabalho tinha como objectivo mostrar algumas Post-colonial Africa. The case of Portuguese and
semelhanças entre as línguas Elomwé e Emakhuwa. Como indigenous Language in Mozambique. University
podemos constatar, ao nível lexical as semelhanças são bem of Coimbra (1985), MA, University of California
Barkly.
27
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

Garmadi, J. 1983. Introdução à Sociolinguística. Lisboa:


Dom Quixote.
Gonçalves, P. e Chimbutane, F. s/d. Cadernos de Morfologia
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Gudshinky, Sarah C. 1964. The ABC of Lexicostatistics
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28 N° 17 | Outubro, 2011

PÁGINA DE ESPECIALIDADE

Para uma caracterização da Poesia Oral nas Timbila dos


Vacopi e alguns aspectos do contributo Português 1940-2005
Por Valdemiro Jopela

O Modelo do Provérbio são e concisão que caracterizam o provérbio dependem, em


Na continuação do trabalho que temos vindo a realizar na grande medida, do conjunto de recursos estilísticos de que se
divulgação de artigos que possam interessar à Comunidade serve. A metáfora (quer a metáfora in presentia, quer a metá-
Académica, na presente folha, iremos abordar os provérbios fora in absentia), a comparação, a hipérbole; figuras como a
Chope. elipse, o paralelismo, o quiasmo, a interrogação retórica, bem
como outras formas de equilíbrio fónico entre as proposições
«Os provérbios são, talvez, o produto mais autêntico da ou termos componentes são elementos largamente explorados
lite- ratura africana. Nos contos, há sempre novos que vêm na composição dos provérbios, o que os torna, quanto à
substi- tuir e fazer esquecer os antigos; os contos vão se forma, diferentes do discurso ordinário. Esta componente
modernizando e cada qual vai acrescentando da sua lavra, de estilística faz do provérbio uma forma muito importante para
modo a mudar- lhes por vezes a estrutura primitiva, porque: a literatura oral africana, pois o seu modelo e as suas técnicas
”quem conta um conto sempre lhe acrescenta um ponto”. Os são muitas vezes aproveitados em formas mais elaboradas e
provérbios não. Podem aparecer alguns novos mas os antigos mais exten- sas, como a canção e o conto.
conservam sem- pre o seu valor e prístina pureza. Mesmo
porque “ditados ve- lhos são evangelhos”. Por outro lado, uma vez que o provérbio exprime uma
verda- de «absoluta», é um óptimo suporte para a narrativa,
Os provérbios estilizam casos normais e anormais da vida; sobretudo como «discurso abstracto»3, mas também para a
são axiomas tirados da observação dos homens, dos animais e lírica, cum- prindo a função de generalizar certas ideias e
da natureza e, depois, aplicados a todos os casos idênticos conceitos ou de dar explicação para certas situações e atitudes.
com a mesma força de verdade e oportunidade. Na sua A este propósito, será importante notar que os provérbios
concisão são a expressão mais fina da filosofia popular, um fazem frequentemente alusão a fenómenos naturais e à vida
resumo das ati- tudes do homem perante a vida, um código de animal, o que, pensamos, se prende ao facto de nesses
procedimento, um caminho traçado ao da existência»1. domínios imperar uma espécie de
Quem tiver o prazer de conversar com um idoso africano «perfeição», uma lógica imanente e funcional, diferente dos
concordará com o ponto de vista do autor dos 601 Provérbios comportamentos humanos, mais instáveis e arbitrários.
changanas, pois os provérbios são, na verdade, o produto A presença do modelo do provérbio, ou do provérbio em si,
mais autêntico da literatura popular, ou da arte verbal popular. é um fenómeno qiue ocorre, como se pode verificar pelos
Há provérbios para todas as situações da vida e, “os mais exem- plos, em poemas de Venâncio Mbande, e de um
velhos” usam-nos com muita propriedade, em particular, compositor de Zavalense:
quando se trata de emitir juízo de opinião ou aconselhar quem
precisa. Nas suas discussões, nas banjas (reuniões ou «Imani anga daya nzofu ngu cibhakela?» ( Orquestra de
conselhos) não há orador que se preza que não faça uso das Zavalene)
potencialidades do provérbio para sintetizar o seu discurso ou (Quem matou um elefante com um soco?)
de outrem, para contestar ou corroborar com alguém. Enfim,
são a expressão mais fina e requintada da filosofia popular
Segundo Holman e Harmon, o provérbio é «A sentence or «Ucinenekela tshera unga ambale
phrase briefly and memorably expressing some recognized madhowo!»(Orquestra de Venâncio)
truth or shrewd observation about practical life».2 A compres- (Se caçares um gafanhoto não uses peles).

Cinyana ca kwemba kwadi khacivatelwi dipale (Orques-

1
Pe Armando Ribeiro, C. M., 601 Provérbios Changanas, 2ªedição,
Lisboa,1989, pp. VI-VII. 3 Usamos a expressão no sentido em que a usam Carlos Reis e
2
Holman, C, Hugh e Harmon, William, A Handbook to Literature, Cris- tina Macário Lopes no seu Dicionário de Narratologia (Coimbra,
5ª Ed., New York, Macmillan Publishing Company, 1986, p. 401, apud Gil- Livraria Al- medina, 1987, pp. 344/345)
berto Matusse, op. cit. p. 114.
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tra de Venâncio Mbande) A memória do sistema [literário], mais especificamente,


(Não se prepara uma flecha para um pássaro que canta representa o mecanismo semiótico que possibilita o emis-
bem). sor praticar a alusão literária, a intertextualidade a reutili-
zação num dado texto de elementos de forma da
Para além de provérbios é frequente recorrer-se ao em- expressão e da forma do conteúdo de outros textos
prego de enigmas e máximas do quotidiano. anteriormente produzidos, pois que, ao contrário do
discurso normal, porque é um “discurso de consumo”, o
discurso poético é um “discurso de reuso”»4.
«I tshimba yanya; ditshiku data».
Dirambu da ciwonga kha disotwi- athu vatinzambwa
(vem o dia em que…)
kha hirandwi (nós, os andrajosos não somos amados);
M’tshikiriti m’devhadevha cihanya ngu matsanza –
Como todos os idiomas, o cicopi, por vezes não se presta a kokwa- ne wako angahya m’kolo ngu tigongo (teu/tua avó
aceitar traduções, principalmente de textos fixos como é o quei- mou a garganta com gergelim);
caso acima. Limitámo-nos a dar um significado próximo, sem
Cikandjuana co khuyuka wuphembeyo – titshumbwana to
uma tradução global do enigma da língua de partida. «Vem o
khaleka hakhaneho (são maminhas bem feitas nesse pei-
dia em que...»Para além do carácter generalizante da verdade
to);
ex- pressa, há aqui a reprodução de uma das estruturas
peculiares do provérbio bantu, em que o primeiro termo (ou Ucifula cijenje fula ngu mkono- Ti tikubihete teka yo wila
proposição), que nega certo(s) atributo(s) a um dado objecto (se as coisas se afearam para ti, zarpa!).
de referência, contrasta com o segundo, onde se apresenta(m)
Hara khwinyinyi- Tikubihete! (estás mal; as coisas se afe-
o(s) atributo(s) achado(s) verdadeiro(s). Encontramos a
aram para ti).
mesma estrutura re- produzida nesta passagem de um
provérbio actualizado por Venâncio Mbande «Ucinenekela
tshera unga ambale madho- wo!»/ «Se (ao) caçares um
gafanhoto, não uses peles». 11. 2. 1. Alguns provérbios em cicopi
1- Dianza dimwedo kha didayi thwala.- uma mão não mata
O agrupamento de Mutulene, por exemplo, é o único que piolho. Emprega-se para apelar à união. A união faz a
apresenta na sua actuação, uma pequena sessão de enigmas força.
logo depois da sua apresentação ao público. Este acto isolado,
aliás, foi a forma que estes músicos encontraram de preservar 2- Dizolo da sawuti – joelho de sal; fofoqueiro (a).Diz-se de
aquilo que corria o risco de desaparecer, visto que, na altura uma pessoa intriguista.
da guerra, não era possível realizar-se qualquer tipo de 3- Diana sanfi ucidima simwane – Coma as coisas do
actividade cultural. Outras formas de diversão externas à defun- to e produza outras.
cultura Copi, nas noites, tinham relegado para o esquecimento 4- Ditshiku da kufa khu hiyeli – No dia da morte não se
ou desapare- cimento das tradicionais sessões à volta da varre. A morte é sempre uma surpresa.
fogueira, dirigidas pelos mais velhos. Daí que a orquestra de 5- Dianza tsula dianza wuya – Mão vai, mão volta. A mão
Mutulene, formada maioritariamente pela família Missael, que dá espera receber. Uma mão lava outra as duas la-
cujo membro sénior foi responsável da cultura numa direcção vam a cara.
distrital, sentisse a ne- cessidade de preservar os enigmas nas
actuações do seu grupo de timbila. Assim, a recolha e 6- Mbiya ya muhi yiya ka muhi kulowi – O prato de quem
tradução que fizemos dos enig- mas e provérbios chopes, que oferece vai a quem oferece também. Este provérbio é
juntamos nos anexos finais para consulta e complemento de similar ao anterior.
estudo, justifica-se no uso a que os bons poetas deles fazem, 7- Didhamba da pheho undindela kwako –A manta do frio
à semelhança dos bons escritores que resgatam e reusam cada um puxa para o seu lado. Cada um vela pelos seus
máximas, provérbios, imagens, mitos da tradição ou memória interesses. Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
literária, estabelecendo a alusão, re- ferencialidade e 8- Dithamba va abana ngu tinyinzi – A massala divide-se
intertextualidade entre as suas obras e as dos clássicos: pelas sementes. Diz-se de alguma coisa diminuta mas
«A memória do sistema literário é constituída pelo “ban- que é necessário partilhar com todos.
co de dados” do sistema, ou seja, pelo conjunto de sig- 9- Mano ohiwa ni ako nawe- Esperteza dada e sua também.
nos, de normas e de convenções que, num dado momento O mesmo que dizer que se deve ouvir os conselhos,
histórico, existem no âmbito do sistema, atinentes a todos mas
os códigos que discriminámos no respectivo policódigo.
A memória representa, em termos semióticos, a chamada
tradição literária (…)
4 V. Manuel de Aguiar e Silva, Op. Cit. pp. 258e 264.
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é preciso ponderar e agir. problemas passarão.


10- Ngu teka mano ako uciembela tshukwa – Ensinar a 27- Mbilu yanthu ditiko- O coração de alguém é um Mun-
sua esperteza à perdiz. Diz-se de quem ensina algo do.
impor- tante a alguém a quem não se deve confiar.
28- Msana maduka – Atrás está a nuca que não tem olhos.
11- Ngu teka mati ucithela ngwenya – Deitar água em cima Quer dizer não se pode saber o que acontece depois de
do crocodilo. Usa-se para referir uma situação em que virarmos as costas.
se pretende auxiliar a quem não precisa; esbanjar.
29- Manza mabhande – Um pouco forçado, este provér-
12- Ngu teka mati ucithela dipato- Deitar água em cima do bio pode equiparar-se a vão os anéis e ficam os dedos.
pato. A explicação do anterior provérbio é válido neste. Emprega-se mais para dizer que por mais que se passe
13- Mati citimwi ka dipato- É praticamente sinónimo dos por um revés, se tivermos as mãos iremos produzir
outros dois anteriores provérbios. mais bens.
14- Intinde wa tithwala utshotsha ngu ku mana wadi- A 30- Inkolo wa mahumba wotede ni nzala – quem se
capulana com piolhos só se deita depois de termos abstém de comer (por zanga) dorme com fome.
outra. Antes um na mão que dois a voar. 31- Mhoti yifela tinyawani – A gazela morre na machamba
15- Masinda matuma ngu kugoyana- As pulseiras tilintam de feijão. São ossos do ofício.
quando se tocam: A união faz a força. 32- Masizana wuxaka – A ajuda mútua é familiaridade.
16- M’kondo kha wunholi mbavha- O ladrão não se Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.
apanha(acusa) pela pegada. Diz-se que não se pode 33- Manzani khakumili mwasi. O capim não cresce nas
acu- sar ninguém sem prova evidente. O ladrão só se mãos. As mãos são produtivas.
acusa se for apanhado com a mão na massa.
34- Ndonga yosala insana ya panda – A paulada que vem
17- Inyoka wa matune wuzivelwa bawuloni- O macho da depois dói. A vingança é um prato que se serve frio.
cobra descobre-se na lareira; Pode se equiparar a não Diz- se de quem faz mal a outrém sem remorso, mas
contes os pintos antes de sairem. quando se lhe retribui não gosta. Não faça aos outros o
18- Masoni xwaya dikhuma, insana xwaya dikhuma – As- que não queres que te façam a ti.
perigir cinza a frente e atrás. Diz-se normalmente de 35- Ngu teka likotiana liveka m’pfoko – A águia deu um
quem ascende a um cargo elevado. Deve ser justo para cuco. Quem não sai aos seus degenera.
com os seus subordinados como com os seus superio-
res. 36- Ngu wusa nyari usinamigomba - É acordar um búfalo
sem varapaus. Provocar um problema sem meios para o
19- Mwana khafi inkowo kuphamelwa – Não é o comer resolver.
que compra filho alheio.
37- Ngu wusa cinvunza usina migomba – É acordar o
20- Mwanana ngu ngawe nyane – A criança é bem cuidada coelho sem varapaus.
pelo dono.
38- Ngu sika nginya usina makhara – Compor uma dança
21- Masoni ka nyari vinza inkwinya – À frente do búfalo vigorosa sem saber dançar; propor a realização de uma
atira um pau. Emprega-se para aconselhar o suborno. actividade sem conhecer as formas de executá-la
Ao chefe é preciso dar qualquer coisa para que as
coisas andem bem. 39- Nya mona kuca akumbide – Quem vir o amanhecer
está velho. Provérbio que se usa na despedida à noite
22- Masasane afela khwatini magohane afela mutini – O quando se vai dormir.
benfeitor morre no mato enquanto o malfeitor morre
em casa. 40- Nidi khani cani kha konwi- intraduzível – quem diz”o
que disse eu?”vence sempre. Aplica-se para explicar
23- Inti wumwewo ngulapha – É a continuidade da mesma que normalmente quem chama atenção, acerta sempre.
casa. Provérbio empregue muitas vezes por familiares,
quando se despedem. À letra:é a mesma casa só que é 41- Intamo wa ngwenya ngu mati – A força do crocodilo
extensa(grande, alargada). está na água. Cada um é mais forte no seu meio.
24- Mwanana walaya wa hombe, wa hombe walaya mwa- 42- Huluka dikonzo unga bela ngulani, idi cibhembe nida
nana – Uma criança pode aconselhar um adulto, assim faya – Rato, escapaste porque entraste no celeiro, se ti-
como este pode aconselhar a criança. vesse sido na cabaça parti-la-ia; Zangam-se as
comadres descobrem-se as verdades(forçado). Os bons
25- M’nado ithwala- Um problema é como o piolho. modos não me deixam dizer.
Aparece quando menos se espera.
43- Linyunzi valava nintheveleni – Procurar agulha no pa-
26- Mahungu kha masini – Os problemas não apodrecem. lheiro.
Diz-se quando alguém evade ou foge pensando que os
44- Phongo valava nicitimwi – Procura-se o cabrito até em
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cima. Procurar a agulha no palheiro. de artimanhas para enganar os outros. Nem tudo o que
45- Phongo ya cigwere - Cabrito sardento. Ovelha ronho- luz é oiro.
sa. 64- Timhangela tihanya ngu kutala – as galinhas do mato
46- Phongo kha yiveleki ha kubasani – A cabra não pare vivem pela união porque alertam-se quando o inimigo
onde há pessoas. (perigo)se aproxima; a união faz a força.
47- Phongo kha yiveleki ntlambini- Uma boa cabra não 65- Titshokoti tihanya ngu kupfana- As formigas vivem
pare no meio do rebanho. Usa-se para dizer que há pelo entendimento; A união faz a força.
assuntos confidenciais. 66- Ku engisa cisima cawutomi – A obediência é o poço da
48- Nicikhani nomaha tatinene kasi notikuva manzani – vida.
Pensei que estivesse a fazer o bem, mas cortei-me na 67- Kha kuna inthonvuni kopwata mafina – Não há nariz
mão. Quem faz bem mal a ver tem. sem ranho; O erro é humano.
49- Nyakwongomela tshera kha ambali madhowo- Quem
68- Ku hanya matlhari- Viver é uma guerra. A vida é difícil.
caça gafanhoto não usa peles. É preciso ter calma para
todas as situações. 69- Ku dhanwa ngu dhuswa (deve corresponder-se de ime-
diato a um chamamento).
50- Wa likungo mbwalihika- O avarento é ganancioso e in-
vejoso. Diz-se da pessoa que não gosta de dar o que é 70- Ku swela kuhanya una wona yimbwa ya ticheho –
seu aos outros, mas quer que os outros lhe dêm sempre. Quem muito viver verá cão com chifres. Quem muito
Gosta do alheio. viver verá coisas inéditas; nunca vistas.
51- Wo lava ku awe phongo diana m’zumbane, kani?- 71- Kukarala ka livilo ngu kuwa hanzila- O cansar-se de
que- res que eu faça a escolha por ti? À letra: queres quem corre é cair no caminho. É preciso perseverar;
que diga: cabra, coma este ou aquele tipo de erva? cor- rer e correr sempre, parar só em caso de
cair(queda).
52- Wa kudia sakwe khana liwondjo – O que come o que é
seu não tem ferida; isto é, o que come o que é seu não 72- Kutlhariha kapalwa ngu kudivala- a esperteza é
deve temer. Quem não deve não teme. vencida pela “calma”. No sentido de o calmo parecer
(néscio).
53- Wa mwana afela habanza – o homem deve ser deste-
mido. 73- Kufa ngu rwama – Morrer é dormir. É fácil morrer.
74- Kusasa ngu tinyela – Quem faz bem, mal a ver tem;
fazer bem é borrar-se.
54- Unga hinge khukhu ninyu manzani - Não persigas a 75- Kunyela mpakato- defecar sobre o cajado; morder a isca
galinha com sal na mão. Sê calmo. e sujar o anzol; não se mostrar agradecido depois de re-
ceber um favor.
55- Unga kungele ngume yinga kuluma – Não ponhas o es-
76- Kunyela ingalavani – defecar no barco, mostrar-se
corpião no regaço; Tenha cuidado com as tuas amiza-
ingra- to. Morder a isca e sujar no anzol.
des.
77- Kunya ha, una dula hani cibowa- Defecas aqui, onde
56- Unga lave kuziva ta m’thamba udinkwakwa- Não pro-
vais apanhar cogumelos. Diz-se de um ingrato.
cures saber o que não te diz respeito.
78- Kwora indilo wa cirengeleni – Aquecer-se com o lume
57- Unga lave kuziva ta intungwe udi phanzekelani- Não
que cabe num pequeno pedaço de panela de barro
procura saber coisas do quarto estando na sala.
(caco);Comer o pão que o diabo amassou.
58- Unga timahe mjhindo wo hiyela kule- não te faças pal-
79- Kwembelwa ngu tonwa- Ouvir dizer é perder.Veja com
meira que varre longe e deixa a sua base suja. os próprios olhos.
59- Tikhawu tosekana mahoko – Os macacos riem-se das 80- Ku tshukuruka kkweda uciambala nganju – ascender
olheiras dos outros. Não atires pedras ao telhado do vi- a olhos vistos. Diz-se de uma pessoa que passava
zinho se o teu também for de vidro. necessi- dade e de um momento para outro passou a
60- Tshokoti yaxula ndzofu- A formiga vence o elefante. uma grande abastança.
Nem sempre o que tem mais corpo é o mais forte. 81- Kuziwa kapala kutshura – Mais vale ser conhecido do
61- Tshenge yidawa nguliveleko – A bananeira é morta por que ser bonito.
causa dos filhos(bananas). 82- Kutshura ngu tilwela- Estar bem parecido (bonito) é
62- Cinyana ca cwemba kwadi khacivatelwi dipale- Não se uma luta.
caça o pássaro que canta bem. 83- Kusinya wurena- Dançar é zangar-se. De facto, nalgumas
63- Cinyana citheketisa mathevele (cihunza madwali)- vezes, é preciso tanto vigor para se sair bem na dança!
Pássaro que faz entoranar água às mulheres que voltam 84- Kupekana ngu maranga ovitwa- Baterem-se com abó-
da lagoa pelos malabarismos que faz, as mal avisadas baras maduras; desenvolver uma confinça recíproca.
distraem-se e zás, lá se vai a água. Diz-se de quem usa
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85- Ku thelwa mati nzeni – Deitar-se-lhe água no ouvido- peito.


Ser atraiçoado; acontecerem-lhe coisas desagradáveis.
103- Wukoma mwando watshatsheka – O poder é
86- Cizokoro cilombo ngu cakuya disoni cakuya indani cacimba desvanece com o aparecer do sol. As coisas
ciyalala.- o que faz mal é o que entra no olho; o que boas são efémeras. As coisa boas não enchem a colher.
vai para o estômago vai é dormir. O que não mata
engorda. 104- Kumaha tatinene ngu tikuva manzani –Fazer bem é
cortar-se na mão. Quem faz bem , mal a ver tem.
87- Kuhya ngu lisani intsudi uciwuwona- Queimar com o
calor vendo a sombra. Diz-se de alguém que 105- Cakuta walo cilonda – O que vem de borla é a ferida.
experimen- ta dificuldades com a possibilidade de Tudo de bom precisa de trabalho, sacrifício. Não se
saná-las. pes- cam trutas em bagas enxutas.
88- Timhaka kha tikhukhulwi ngu mati – Os problemas 106- Indilo worumisa khawuturi – Lume mandado acender
não são arrastados pela chuva. não arde. Coisas que se delegam não funcionam como
se o dono presente estivesse.
89- Mahungu kha masini – os problemas não apodrecem
107- Makala khamatshumeli nyunduni.-As brasas não
90- Nyagotombwane wa ntondo kha ziwi mu awelako vol- tam à forja. Usa-se frequentemente quando se
kona- Não se sabe para que lado vai cair uma árvore pretende devolver algo (comida, bebida, dinheiro),
morta(seca)- Não desejes mal ao teu vizinho que o teu então os pre- sentes dizem: As brasas não voltam à
vem a caminho. forja, que se dê aos presentes.
91- Tindova tahamnsana tiziwa ngu mnlovi wa tona. As 108- Seka cilima udimndani – Ria-se do aleijado estando
ta- tuagens nas costas são conhecidas de quem as faz. no ventre (materno). Aplica-se a pessoas que fazem
92- Vacikhona kapata, khavekhona xolela.- Se te mandam pouco de aleijados ou de outros infortunados. Adverte-
pegar, não é para espreitar. A curiosidade matou o gato. se pois, que se tenha muito cuidado, porque, pode-se, a
93- - As coisas boas não enchem a colher. As coisas boas qualquer momento, ficar-se aleijado ou infortunado.
são efémeras. 109- Invunza wupwati ticheho ngu kurumisa- O coelho
94- Ku hena cigwere ngu kutshuvela- Dar campo à sarna fi- cou sem chifres por gostar de mandar.
por coçá-la; habituar mal a alguém; dar mimos a mais. 110- Nyafa kwadi ngwanzwa- O que morre sem
95- Cikuluveta cabaya tshulu- A rapidez fura ao lado defeito(aleijão) é bem aventurado.
(falha).
A pressa é inimiga da perfeição.
96- Kosisa dithamba una wona ngumhwa – Onde se escon-
111- Ingana a ola makose kha oli m’noha- O amigo limpa
deu uma massala, verás um carreiro(pequeno caminho).
somente o vômito e não sangue.
97- Cikhavhi cawulombe cikambwa cicingaci tshamba – O
112- Kuveleka wukosi, kwambala mavala- Ter filhos é
favo de mel deita-se quando ainda estiver doce. Usa-se
rique- za, vestir é colorir-se; fantasia.
para dizer que mesmo as coisas boas podem se deixar
para outra ocasião. Emprega-se também este: Hambi ti- 113- Nzofu khayiwi ngu limbhavhu limwelo – O elefante
khawu tamaleka; isto é, Até os macacos deixam-nas (as não cai sobre uma costela somente. Não há um sem
maçarocas). dois.
98- Kufuya intonga wila nzeve – Se viveres com um Tonga, 114- Cilonda cipanda kanyane wacona- a ferida dói ao seu
corta-lhe uma orelha. Usa-se para mostrar a falta de dono; Cada um sabe onde lhe aperta o sapato.
con-
fiança por alguém que se mostra ingrato. 115- Ndonga yo sala msana ya panda- a última paulada é do-
99- Wumanwi nkhonje ngu wulu. O galo foi apanhado lorosa; a vingança é um prato que se serve frio.
(pelos parasitas próprios de galinhas) - diz-se de quem
amarrota o colarinho numa discussão e não tem como defeitos que possam ter, são sempre nossos e merecem o
se defender, não tem argumentos e é obrigado a calar- nosso res-
se cabisbaixo.
100- To womba vakoma tinzolo – O chefe tem sempre ra-
zão.
101- Wusiwana wona ngu mako kwenda - Tornámo-nos
pobres quando a nossa mãe “viaja” (morre). Quem tem
mãe tem tudo quem não tem mãe não tem nada.
102- Tshumbu ya mama hambi yidi ninrumbi hamama-
A mama da nossa mãe mesmo que tenha ferida
mamámo- la. Os nossos pais, a nossa Pátria por piores
11. 2. 2. Outros provérbios1
1. Txisondwana
njindemba: Kuha
vakwanu veka.
O pintainho é frango em potência:
Dar aos outros é guardar.
2. Phongo kha yi velekeli hagari ka mtxhambi.
A cabra não pare no meio do rebanho.
Há segredos que se não devem divulgar.
3. Khukhu yi hanya ngu kuhalakasa.
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A galinha vive esgaravatando. 15. Kutsura ku palwa ngu kuziwa.


O homem deve viver do seu trabalho. Mais vale ser conhecido do que ser bonito.
4. Kuenda kha ku na divemba. Mais vale ter graça do que ser engraçado.
A viagem não tem prazo. 16. Ku ti wona hi nga ku ti ziva.
Sabe-se a hora da partida, não se sabe a de chegada. Ver não é saber.
5. Kuambala I mavala, kuveleka I wukoma. Vai muito do ver ao saber.
Vestir-se é só cores, ter filhos é riqueza. 17.kusakana ku dhana kudila.
De nada vale a beleza sem a virtude. A brincadeira traz o choro.
6. Dyana sako so tsamba, na dya sangu so biha. Não há alegria sem tristeza.
Come as tua coisas com gosto, eu comerei as minhas sem 18. Awule a tumelako mnandu wakwe kha sungwi.
gosto.
Quem confessa a culpa não é preso.
Mais vale o pouco honrado que o muito roubado.
Pecado confessado, pecado perdoado.
7. Ndena yi zivaneka ngu timbirimbi.
19. Awú a ku zivisako, ngu dona dixaka
O heroi conhece-se pelas cicatrizes.
Que avisa é parente.
8. Mwani kwathu, hambi ku di bihile, kha hi ku divali.
Conselho de.amigo, aviso do céu.
A nossa casa, por má que seja, nunca se esquece.
20. U na si mana ngako tikhukhu ti txi mila makwasa.
O passarinho não esquece o seu ninho, ainda que peque-
nino. Terás, quando as galinhas tiverem dentes.
9. Homu va yi ñola ngu titxheho, m’thu va m’ñola ngu Nunca vais ter.
txisofu. 21. Mbiya kha yi veleki mwanana.
O boi agarra-se pelos chifres, o homem agarra-se pela O prato não gera filho.
boca.
O dar de comer a uma criança não nos torna pais da
Ao boi pelo corno, ao homem pela boca. criança.
10. Kutsimbila ka wonisa tatingi. 22.Mawelo hi nga mathelo.
O viajar mostra muitas coisas. Tirar não é deitar, subtrair não é multiplicar.
Quem muito anda muito É preciso saber poupar.
aprende. 23. tshenge yi dawa ngu kuveleca.
11. Dikhombo da m’thu kha di sekwi.
A bananeira more por ter dodo o cacho.
Não devemos rir-nos da desgraça duma pessoa.
Quem tem filhos tem cadilhos.
Não te rias da desgraça alheia.
24. Lwango la nyumba li ziwa ngu nyamne.
12. Ku kumba mmidi, mbilu kha yi kumbi.
O tecto da casa conhece-o o dono.
Envelhece o corpo, o coração não envelhece.
Cada um sabe da sua vida.
Serás em velho o que tiveres sido em moço.
25. Malwati a hombe ma kotwa ngu mrende wa hombe.
13. Ku walo thonvu yo pwata mafina.
Uma doença grande cura-se com remédio grande.
Não há nariz sem ranho.
Para grandes males grandes remédios.
Ninguém é perfeito.
26. Kuwombawomba ku palwa ngu kumalala.
14. Kukombela kha ka biha, to biha ngu kupa.
É melhor calar do que falar.
Pedir não é vergonha, vergonha é roubar.
Mais vale calar que muito falar.
Ser pobre não é vergonha, vergonha é roubar.
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27. Kuengisa i thomba ya vanana. Come, mas lembre-te de pagar o imposto.


Ouvir é a herança dos filhos. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
A obediência é o tesouro dos filhos. 40. Txuma hi nga txilo, txa hombe ngu lirando.
28. Nzambwa va kuwula msokoni. A riqueza não é nada, o principal é o amor.
A sujidade lava-se atrás da casa. De nada vale a riqueza sem a bondade.
A roupa suja não se lava na praça. 41. Mati ma tsimbila ngu milonga.
29. Mndonga wu thithwa i di ngadi A água corre pelos baixos.
wudotho. Endireita-se a árvore enquanto é Os favores seguem caminhos conhecidos.
pequena. De pequenino se torce o pipino. 42. Txamba txi tekela linene.
30. Silo si huma muwa ko kwela.
A concha do mexilhão vem do mar.
Para comer é preciso desbravar o mato.
Tal pai, tal filho; Tai mãe, tal filha.
O que tem valor custa adquirir.
43. Msana ku wuyelela dibhenba.
31. Kuswela kuhanya u na ti wona.
É próprio do insensato andar para frente e para trás.
Se viveres muito , hás-de ver muitas coisas.
É próprio do insensato repetir a mesma asneira.
Quanto mais vivemos, mais aprendemos.
44. Mhuti yi sakanisa mwanana.
32. Nyume ni dikonzo kha si lavani.
A gazela ensina a cria a brincar.
O amendoim e o rato não estão bem frente a frente.
O exemplo dos pais é a melhor escola dos filhos.
Estopas ao pé do lume não estão seguras.
45. Madya-sakwe kha na lionje.
33. Tava kha va yi kweli ngu
Quem come à sua custa não tem culpa.
kututuma. Uma montanha não se
Quem come do que produz é honrado.
sobe a correr. Mais vale jeito do que
46. Sixaniso si gondisa m’thu kuhanya.
força.
O sofrimento ensina uma pessoa a viver.
34. Dipswi da mkoma kha di tsumeleli msana.
A necessidade aguça o engenho.
Palavra de rei nào volta atrás.
47. Nyamnova kha wuyi.
El-rei errou, mas faça-se o que ele mandou.
O dia de ontem não volta mais.
35. Wusuke kha wu na wahombe.
Basta o dia o seu próprio mal(Mat.6, 34).
A bebida não tem rei.
48. dyana u txi ti siyela.
Entre bêbados, são iguais o rei e o criado.
Come e deixa o resto para amanhã.
36. Didhowo va txhuka há banza.
É preciso saber poupar
A pele prepara-se na reunião dos velhos.
49 .M’bhikiwa khadi kha fi ngu nzala.
Uma questão resolve-se em tribunal.
O cozinheiro não morre a fome.
37. Dyana sa m’fi, u txi dima simwane.
Quem trabalha não morre a fome.
Come o que o defunto deixou, cultiva o teu campo.
50. Mwanana wu anga dhawuka i di txindaka-milayo a na
Não confies só no que o defunto deixou. fa i di txindaka- milayo.
38. Jokota, ni na ku lweta. Criança mal criada desde a infância morrerá malcriada.
Come, que eu defender-te- A educação começa desde a infância
ei. Não te fies em promessas. 51. Mbilo ya m’thu linene.
39. Dyana, u txi alakanya resa.
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O coração humano é um mar. 63. Limhika kha li pandise, ku pandisa txisofu.


O coração humano é insondável A vara não magoa, magoa a boca.
52. Phande yo purwa kha yi aki nyumba. Mais ferem as palavras do que balas.
Uma estaca carcomida nãoconstrói palhota. 64. Mloyi a ziwa ngu mloyi kulowe
A má crítica nunca é construtiva. Um bruxo é apanhado por outro.
53. Awú a resako kha thave. Para um esperto, outro esperto.
Quem paga o imposto não tem medo. 65. Phande ya kuwoma kha yi thithwi
Quem não deve não teme. Uma estaca seca não se endireita
54. M’thu wo malala i mnyoka Burro velho não toma andadura
Homem calado é cobra. 66. Litiho limwelo kha li dayi ndaya
Guarda-te do cão que não ladra e do homem que não fala Um só dedo não mata piolho
55.I mgogoloti ngu lapha, ngu kula walo i mnanda A união faz a força
Os homens não se medem aos palmos 67. A walo wo ti seka a pune
A altura não significa ser mais velho. Uma asneira não mete graça a quem a diz
56. Mrende wa pheho ngu Ninguém se ri de si mesmo.
mndilo. O remédio para o frio é 68. Ati i ku to tshambakha ti sweli kupinda
o fogo. Quem tem frio que se O que é saboroso acaba depressa
aqueça O que é bom é sempre pouco.
57. Awule a gombonyisako ngu wule a ku masoni, ani wa 69. Diso kha di ti woni
msana wo londetela tsena.
O olho não se vê a si mesmo
Andar torto anda o da frente, o de trás segue-o simples-
mente. Ninguém vê os seus próprios defeitos
Os maus exemplos arrastam. 70. “Ni na thuma mangwana” mbukara
58. Nzala kha yi wulele mtini ka mkoma, kodhwa lifo la Deixar trabalho para o dia seguinte é preguiça
wulela. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
A fome não entra em casa do rei, mas a morte entra.
71. U nga seke wo kumba, nguko mangwana ngawe
Também os ricos morrem.
Não faças pouco dum velho, pois amanhã tu o serás
59. Thomba ya m’thu ngu mawoko akwe. Hoje sou eu, amanhã serás tu.
Os braços são o tesouro do homem 72. U nga sole so hiwa
O trabalho é a riqueza do homem. Não desprezes coisas dadas
60. Thomba ya tata dyana a di ngadi a txi hanya.
Coisas dadas são estimadas.
A herança paterna come-a enquanto o pai vive. 73. U nga hinge khukhu ni inyu manzani
A melhor herança são os bons conselhos. Não corras atrás da galinha já com o sal na mão
61. U nga worelane mndilo ni dikhamba.
Não deites foguetes antes da festa
Não te aqueças ao lume do ladrão
74.U nga thave txinditxe, txipapanana usa txi wona
Não te faças amigo do ladrão..
Não temas o boato, antes de constatar a realidade do peri-
62. Mnenge wumwewo kha wu sinyi to nyawula. go
Uma perna só não dança coisas bonitas. Não fujas, antes de saber donde vem o perigo
Um só remo não leva o barco ao mar.
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75. U nga xave msingo, a si nzi kuvelekwa mwanana. 87. Wutxhari kha wu heti dilembe.
Não compres o pano de trazer a filho às costas, antes dele A esperteza não termina o ano (sem ser descoberta)
nascer
Burla com dano não acaba o ano.
Não deites foguetes antes da festa
88. Wutomi kha wu xawi.
76. U nga time mndilo ngu mndilo
A vida não se compra.
Não apagues o fogo com o fogo
A vida é só uma.
Não deites lenha na fogueira
89. Maduka kha ma woni.
77. U nga thembe m’thu ngu kuwona khohe
A nuca não vê.
Não confies em alguém só por ver a cara
O ausente nem ouve nem sente
dele. A gente vê caras, não vê corações.
90. Didhowo va peta di txi nakana.
78. U nga dhane yimbwa, u d ni mgoba mnzani
Dobra-se a pele enquanto está verde.
Não chames um cão com um pau na mão.
De pequenino se torce o pepino
A quem hás-de rogar não hás-de assanhar.
91. Lifo kha.li na diso.
79. U nga kuletele txisima
A morte não tem
Não estragues a fonte.
olho. A morte não
Não sujes a água que hás-de beber.
escolhe.
80. U nga pe, sako sa ta ni nzila
92. kudhanwa ngu dhuswa.
Não roubes, o que é teu vem a caminho
Ser chamado equivale aser advertido.
O que é nosso à mão nos há-de vir ter.
Toda a vocação é uma responsabilização.
81. U na dya sa mnyuko.
93. kudya ngu kuengeta.
Comerás do teu suor.
A boa refeição pede repetição.
Aprender à própria
Encontro feliz pede repetição
custa
94. Mabihane a biha ni sakwe.
82. Vo veleka mmidi, kha va veleki mbilo.
O mau é mau com as suas coisas.
Dão à luz o corpo, não dão à luz o coração
Não digas mal de que precisas.
Nem sempre o filho sai ao pai.
95. Mame i mame.
83. Awú a zivako ngu wule a wotisako.
A mãe é mãe.
Sabe aquele que pergunta.
A mãe é sempre mãe
Se queres saber pergunta.
96.Mati ma di thekete kha.ma rolelwi.
84. Wurenawu xulwa ngu kumalala.
A água entornada não se pode
A ira aplaca-se com a paciência.
apanhar. A água vertida nem toda é
É com águaque se apaga o fogo.
recolhida.
85. Wusiko kha wu na ndena.
97. Mkolo kha wu na wusiwana.
A noite não tem herói.
A garganta não sente o dó
Há certas circunstâncias em que toda a virtude é pouca.
Para comer não há feriado
86. Wusiwana wa hombe, wona ngu mame a di endile.
98. Txisofu txa dayisa.
A verdadeira desgraça é a ausência da mãe.
A boca causa a morte.
Não há maior desgraça que não ter mãe.
Pela boca morre o peixe
99. U nga dye mbuva, u txi divala nzila.
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Não tomes o farnel, esquecendo-te do caminho. tografia diferente daquela que adoptamos, aliás, a que
Pensa no futuro. corresponde à pdronização da ortografia das línguas
moçambicanas.

100. Txuma i mwando.


A riqueza é orvalho.
(Footnotes)
A riqueza passa depressa.
1 P. Luís Feliciano dos Santos OFM e P. António
101. Male i m’nyu. Fon- seca Maheme SSS, A B C das Escolas Comunitárias,
O dinheiro é sal. Portu- guês-Txitxopi e Txitxopi-Português, Maputo, 2003,
pp.58-71.
Dinheiro, água o deu, água o levou
102. Msikati wo mbi lowolwa kha aki mwaya.
Mulher não lobolada não cuida do lar.
Mulher não lobolada não se sente
responsável
103. Nyumba yi tshura ngu kutshulelwai.
A casa é bonita por ser coberta.
A mulher é bonita pelo vestuário que usa.
104. wukara i mame wa wusiwana.
A preguiça é a mãe da pobreza.
A preguiça é a mãe de todos os vícios
105. wuxaka wu xakela mmidi.
O ser familiar leva a abuso de confiança.
Um familiar pode abusar mais do que um de longe.
106. Mwanana kha na nyamne
Uma criança não tem dono.
Uma criança merece ajuda de todos.
107. Kuwonana ngu kuengeta.

Um encontro feliz pede repetição.


tico que o cria ou adopta e usa. Assim se explica que a letra “i”, por exemplo,
Os provérbios recolhidos pelos padres António da Fonseca para o português soa mesmo “ï”, ao passo que para o inglês soa “ai”. Da
Maheme e Feliciano dos Santos5 obedecem a uma or- mesma maneira, as letras r, j e z, que em português tem um valor fonético
suave, para o txitxopi convencionamos dar-lhes um valor fonético forte e não
precisamos de usar os dígrafos rh, dj e dz.
d) Em conclusão, afirmamos categoricamente: devemos respeitar a au-
5 tonomia das nossas línguas moçambicanas e buscar a unidade do povo
«Eis a Nossa Opção ortográfica Txopi moçambicano na pluriformidade e não na uniformidade. Assim, se o
Alguns pressupostos. Nelimo reconhece ao Changana o direito de escrever Xichangana com o x e
a) O povo moçambicano é um povo bilingue. Temos a nossa língua materna ao Maconde o de escrever Shimaconde com sh, não devia nunca pretender,
e a língua portuguesa que adoptamos por razões historicamente óbvias. De- contra tudo e contra todos, impor-nos o uso do c, em vez do tx. A razão da
vemos criar símbolos gráficos que evitem ambiguidade de escrita e de nossa opção por tx e não por c fundamenta-se, primeiro, na nossa tradição
leitura para os falantes das duas línguas. de 50 anos de uso daquele símbolo e, segundo, no facto de que, por causa da
b) Existem dois métodos de escrita das línguas ”bantu” internacionalmente nossa lusofonia, se aceitássemos o c, isto nos levaria a homografia obscena,
aceites: o método analítico ou disjuntivo e o método sintético ou conjuntivo. quando, por exemplo, quiséssemos escrever o pronome txona em nossa
Achamos que se deve reconhecer a cada uma das línguas moçambicanas o língua. “Que potest capere capiat!”» P. Luís Feliciano dos Santos OFM e P.
direito de opção nesta matéria. António Fonseca Maheme SSS, A B C das Escolas Comunitárias, Português-
c) Todo o símbolo gráfico é fruto duma convenção racional do grupo linguís- Txitxopi e Txitxopi-Português, Maputo, 2003, pp.73-74.
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Relação Homem e a Natureza no Conto Oral


“Os Desejos da Mulher Grávida”
Por Lurdes Rodrigues da Silva

1. Introdução procurou, procurou. E


A oralidade, como é sabido, é o principal veículo de
transmissão de conhecimentos nas sociedades ágrafas. É através
da palavra que se organiza o conhecimento e a compreensão
de valores sócio-culturais, religiosos, normas e
comportamentos das referidas sociedades. Sendo a palavra o
principal veículo de transmissão de conhecimentos e valores,
existe toda uma literatura por ela produzida e que está
presente em todas as esferas destas sociedades, relatando e
descrevendo os aspectos essenciais da vida destas mesmas
comunidades (Altuna, 1989). Dentre esta vasta literatura oral
podemos destacar: o conto, os provérbios, as adivinhas, as
poesias e os cantos (Junod, 1995). Neste âmbito,
procuraremos, no presente trabalho, reafirmar a importância
desta literatura demonstrando o papel que o conto oral
desempenha na relação entre o Homem e a Natureza. Para tal
será apresentado e analisado um conto moçambicano do Vale
do Zambeze colectado pelo autor Lourenço do Rosário
intitulado “Os Desejos da Mulher Grávida”.

2. O Conto e Sua Análise


Os Desejos da Mulher Grávida
“Havia, numa povoação, lá para os lados de Mutarara,
uma mulher grávida. Como todas as mulheres grávidas, ela
atormentava o marido com desejos que elas costumam ter
durante esse estado. O marido procurava e encontrava tudo o
que a mulher pedia. Trazia e dava-lhe. Mas ela nunca parava
de pedir.
Um dia, a mulher chamou o marido e disse-lhe: ”Ó marido,
hoje quero ovos”. O homem foi à capoeira e trouxe de lá os ovos
de aves de capoeira. Quando ela viu os ovos, começou a
gritar e a chorar: “Para que me serve ter um marido como tu?
Peço-te ovos e vais buscá-los à capoeira do quintal. Esses
também os poderia ir buscar. Quero ovos de animais do
mato”.
O homem foi ao mato e apanhou ovos de perdizes, de
galinhas do mato, de patas bravas e todas as aves que
habitam as lagoas. Trouxe-os e deu-os à mulher. Esta olhou
com desprezo e recomeçou os lamentos: “Quando a criança
nascer, vai ter vergonha de um pai como tu. Não tens
coragem de enfrentar os bichos do mato. Pensei que tinha
casado com um homem. Afinal, és igual a uma mulher”. O
homem, cada vez mais desolado, embrenhou-se na floresta, à
procura de um animal que pusesse ovos. Procurou,
encontrou uma cobra. Lembrou-se que as cobras eram animais
que punham ovos, como as aves. Então, ele cantou:
Ndala, Ndala amiga,
Fui enviado, Ndala minga,
Minha Esposa, Ndala minga,
Com os teus ovos, Ndala
minga, Seus desejos, Ndala
minga, Quer matar, Ndala
minga.
A cobra respondeu de dentro da toca:
Ouvi bem, Ndala minga,
O teu pedido, Ndala minga,
Vem, chega-te, Ndala minga,
Escolhe, Ndala minga,
Falta não fazem, Ndala minga,
Não abuses, Ndala minga,
São muitos, Ndala minga
São filhos também, Ndala minga.
O homem aproximou-se, a cobra afastou-se, e ele tirou
alguns ovos e ele levou-os à mulher. Esta saboreou-os
cozidos, crus, assados. Gostou e disse: “Ó marido, vai outra
vez à cobra e traz mais”. O homem disse: “ Mulher, os ovos
são seus filhos, não há mãe que deixe que lhe comam os
filhos sem reagir”. Mas a mulher insistiu. O homem foi.
Quando chegou, cantou a mesma canção:
Ndala, Ndala minga,
Etc.
A cobra disse que sim, mas quando o homem se
aproximou para tirar alguns ovos, ela picou-o. O homem
ficou envenenado e morreu ali mesmo, deitado ao lado da
cobra.
A mulher, em casa, esperou, esperou, esperou, pelo
marido e pelos ovos. Passaram-se duas semanas. Ela foi ter
com os irmãos do marido: “O meu marido desapareceu,
deixando-me neste estado”. Os irmãos perguntaram: “Ele
não disse para onde ia?”. Ela respondeu: “À procura de
ovos”. Os irmãos disseram logo: “O nosso irmão está
morto”. E foram ao feiticeiro. Este disse: “Se foi a cobra
Ndala, só posso ressuscitá-lo com as
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cinzas dessa mesma cobra”. O irmão mais novo foi e O narrador também mostra que o uso abusivo e desenfreado
encontrou a cobra e então cantou a mesma canção: dos recursos da Natureza traz consequências nefastas ao
Ndala, Ndala minga, próprio Homem e pode até levar à morte, ao relatar que após
a insistência da mulher, o homem voltou à cobra e acabou
Etc. morrendo, envenenado pela picada da mesma. O narrador
Pensando a cobra que era um outro homem que vinha à também ilustra que a cura dos problemas causados pela Natureza
procura de ovos, respondeu da mesma forma. Mas quando o está na própria Natureza, conforme ficou demonstrado pela
rapaz chegou ao pé da cobra atirou-lhe uma “azagaia”que lhe exigência de que o tratamento para a cura do marido morto
trespassou a cabeça, a cobra morreu e transportou-a, tendo fosse encontrada na cobra que o matou.
feito uma maca onde colocou o irmão.
O feiticeiro incinerou a cobra e com as cinzas fez umas
papas que deu a tomar ao morto, que logo vomitou e 3. Conclusão
despertou. Da análise feita ao conto oral “Os Desejos da Mulher
Os irmãos disseram à mulher: “Por tua causa, íamos perder Grávida”, pode-se inferir que o mesmo desempenha um papel
o nosso irmão. És uma mulher indigna de pertencer à nossa educativo de extrema importância no que concerne à relação
família. Vais ter o filho, que é nosso, por isso permanecerás que deve ser estabelecida entre o Homem e a Natureza, mais
entre nós até lá. Depois entregar-te-emos aos teus”. concretamente na necessidade de razoabilidade de exploração
pelo homem dos recursos proporcionados pela mãe Natureza.
Foi assim que foi repudiada a mulher grávida que tinha Infere-se também que a preocupação pelo uso equilibrado de
desejos esquisitos” (Rosário, 2001, pp.77-79) recursos é uma questão antiga e actual, embora na actualidade
Este conto é um exemplo típico do papel educativo seja mais evidente, derivada da cada vez mais crescente,
desempenhado pelos contos nas sociedades de cultura oral. desenfreada e inconsequente pressão do Homem sobre os
Apesar deste conto mostrar os costumes do povo do Vale do recursos existentes na Natureza.
Zambeze, a nossa análise cingir-se-á apenas na relação entre
o Homem e a Natureza, uma vez que a análise sobre os
costumes deste povo já foram objecto de reflexão por parte de
Rosário (2008). Referências Bibligráficas
Neste conto, o narrador procura mostrar a relação Homem/ Altuna, P.R.R. (1985). Cultura Tradicional Banto. Luanda:
Natureza indicando com clareza quais devem ser as atitudes Secretariado Arquidiocesano de Pastoral
do ser humano face à mesma. O narrador demonstra que o
Homem se serve da Natureza para se alimentar e sobreviver, Junod, H.(1996). Usos e Costumes dos Bantu. Tomo 2. Maputo:
ilustrado pelo facto do marido ir ao mato procurar ovos de Arquivo Histórico de Moçambique
animais selvagens para sacear os desejos da sua esposa Rosário, L. (2002). Contos Moçambicanos do Vale do
grávida. Todavia, este mesmo narrador revela-se conhecedor Zambeze. Maputo:
da importância do uso equilibrado dos recursos proporcionados
pela Natureza quando expressa, através do canto, o alerta que Rosário, L. (2008). A Narrativa africana de Expressão Oral.
a cobra deu ao homem ao dizer que atenderia o seu pedido e 2ª Edição. Maputo: Texto Editores
daria os ovos, mas o avisava para que não abusasse. Este
aviso é importante para o Homem, no sentido de que ninguém
deve fazer uso abusivo daquilo que existe na Natureza.
Essa consciência em manter uma relação equilibrada
quanto ao uso de recursos da Natureza também é manifestada
pelo marido quando, após oferecer os ovos da cobra à sua
esposa e esta continuar a insistir em querer mais, diz:
“Mulher, os ovos são seus filhos, não há mãe que deixe que
lhe comam os seus filhos sem reagir”.
Neste conto, o narrador evidencia que o homem abusa da
Natureza, por mero capricho, retirando os seus recursos,
mesmo quando não precisa deles, ao afirmar que o marido se
aproximou da cobra e retirou alguns ovos que levou à esposa
que os consumiu cozidos, crus, assados, mas insistiu ao
marido que voltasse à cobra e trouxesse mais ovos.
40 N° 17 | Outubro, 2011

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Fonologia Segmental da Língua Copi


Por Nelsa Nhantumbo

1. INTRODUÇÃO O objecto de estudo da fonologia é o fonema, este que


O estudo da fonologia constitui uma base de compreensão permi- te distinguir palavras de diferentes significados.
da gramática estrutural e funcional de uma língua, como mos- É importante realçar que a fonologia estuda a função dos
tram os trabalhos de Liphola (2001), Meinhof (1932), Ngunga sons tanto segmentais assim como suprassegmentais.
(1997, 2000, 2002), entre outros que procuraram abordar a es-
trutura e funcionamento de línguas bantu em termos fonoló- A fonologia suprassegmental é a que se preocupa com os
gicos. aspectos que afectam mais do que um segmento, tais como a
sílaba, o acento, o tom; enquanto a fonologia segmental vai-se
A presente comunicação tem como objectivo descrever a preocupar com o estudo dos sons vocálicos e sons consonân-
fo- nologia segmental da língua Copi (S63 na clasificação de ticos.
Gu- thrie 1967/71), discutindo concretamente as regras
fonológicas que envolvem consoantes e vogais. Para o presente trabalho incidiremos na fonologia segmen-
tal, isto é, no estudo das vogais e consoantes da língua Copi,
Para a presente comunicação foram tomados como base os incluindo as regras que regem a sua combinação na formação
seguintes métodos de trabalho: método de entrevista que con- de unidades maiores (morfemas, palavras ou mesmo frases).
siste em o investigador apresentar uma lista de palavras e/ou
frases na língua em questão ao informante e posterior trans- Sendo então as vogais e as consoantes os elementos fun-
crição; método filológico que consiste na pesquisa de dados damentais da fonologia segmental é, deste modo, importante
bibliográficos de trabalhos relacionados com o tema, anterior- apresentar de uma forma clara as suas definições.
mente escritos; e o método de introspecção que consiste em Assim, as vogais são definidas, segundo Ngunga (2006)
recorrer ao conhecimento próprio do investigador. como sons produzidos sem nenhuma obstrução da corrente do
De referir que a teoria usada para explicar os processos foi ar em todo o seu percurso. Na produção deste tipo de sons a
a de fonologia e morfologia lexical. Esta teoria assume que propagação do ar pulmonar egressivo é feita através das
as regras fonológicas são aplicadas a diferentes níveis na gra- cordas vocais dentro da laringe por meio da extensão vocal
mática e o número de níveis pode variar de língua para língua (Clark & Yallop 1990).
(Ngunga 2000). Em bantu, considera-se que a língua ancestral (Proto-bantu)
Geralmente existem regras que se aplicam a nível lexical (a apresentava no seu sistema vocálico 7 vogais das quais, actu-
nível da palavra) e regras que se aplicam a nível pós-lexical (a almente, em muitas línguas do mesmo grupo o sistema é de 5
nível do sintagma ou da frase) e para a presente comunicação vogais.
interessa-nos apenas o nívle lexical. O encontro entre essas vogais (hiato) é, algumas vezes, ina-
Em termos organizativos o mesmo encontra-se disposto ceitável em algumas línguas e quando tal acontece é à fonolo-
em: 1 Introdução, onde são apresentados aspectos gerais, os gia que se recorre, pois só esta pode explicar e resolver o
objec- tivos do trabalho, a metodologia usada no trabalho e o hiato. Para além das vogais, viu-se que a nível segmental a
quadro teórico a ser usado; 2 Revisão da literatura; 3 fonologia apresenta-nos as consoantes que são definidas
Fonologia Seg- mental da língua; 4 Conclusões e, por último, como sons pro- duzidos com obstáculo à passagem do ar na
as referências bibliográficas. cavidade bucal. Em geral, “as consoantes mostram uma maior
constrição da extensão vocálica e menor proeminência do que
as vogais” (Clark & yallop 1991).
De acordo com Meeussen (1967), o proto-bantu apresenta
2. REVISÃO DA LITERATURA um sistema consonântico relativamente simples como ilustra
o exemplo a seguir:
Um dos conceitos importantes neste trabalho, como foi
refe- rido na subsecção anterior, é o da fonologia que é
definida por Hyman (1975), Ngunga (2002, 2004), Katamba p t c k
(1989) como o estudo dos sistema de som, sua estrutura, as
regras que re- gem a sua combinação no sistema, bem como a b d j g
sua função na comunicação m n ц
41
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

ELISÃO
Nas línguas bantu, estes sons também se podem combinar, O encontro entre duas vogais pode resultar na elisão de uma
tal como as vogais. das vogais. Observemos os exemplos abaixo:
Da combinação entre os vários sons (vogais e consoantes) Exemplo (1)
podem resultar fenómenos variáveis de língua para língua.
Tais fenómenos podem ser explicados pela fonologia, a) manu (cl6) /ma-inu/ ‘dente’
através de regras fonológicas aplicadas na resolução dessas maso (cl6) /ma-iso/ ‘olhos’
combinações.
cala (cl7) /ci-ala/ ‘unha’
sala (cl8) /si-ala/ ‘unhas’

3. FONOLOGIA SEGMENTAL
b) –bhala -bhate /bha-it-l-e/ ‘escrever’
DA LÍNGUA COPI
-wona -wone /wo-il-n-e/ ‘ver’
1.1. Sistema Vocálico
O sistema vocálico da língua Copi apresenta cinco (5) vogais
fonémicas conforme ilustra a tabela a seguir: c) ndzilani < ndzlila + ini ‘na rua’
nyumbani < nyumba + ini ‘na casa’
Tabela 2: Vogais da língua Copi ndzumani < ndzuma + ini ‘na chuva’
thembweni < thembwe + ini ‘na machamba’
Anterior Central Recuada Em (a) temos exemplos de nomes em que o encontro
Fechadas/ i u entre as vogais do prefixo nominal e a do tema nominal é
Altas resolvido pela elisão de uma das vogais.
Semi-abertas/ e o Se repararmos há uma sequência do tipo [a+i] e [i+a], mas
Médias em ambas as sequências a vogal que prevalece é a vogal baixa
[a], podendo esta regra ser representada como:
Aberta/ Baixa a
i. [a+i → a] / [i+a →a]
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000)
Em (b), embora as palavras sejam de outra categoria
lexical, verbos, a elisão no radical verbal acontece como
Tal como foi apresentado anteriormente em relação às resultado de um processo de imbricação1 do sufixo que marca
vogais das línguas moçambicanas, estas foram reduzidas a o perfectivo
cinco, do Proto-bantu. -il-e.

Nesta língua, embora a penúltima sílaba da palavra seja Em (c) são apresentados exemplos de elisão da vogal [i] do
sempre longa, esta não é marcada na escrita, pois a duração sufixo locativo (-ini-).
vocálica, na língua Copi, não é fonémica. Esta regra pode ser formalizada como:
ii. V → ø ⁄_ V ou ainda V → ø ⁄ V _
1.1.1. Processos fonológicos envolvendo vogais [+alt; +ant] [-alt] [+alt;+ant] [-alt]
Tal como muitas línguas moçambicanas, a língua Copi não Isto significa que a vogal [i] quando se encontra com uma
é favorável à encontros de vogais. Por isso, quando a outra vogal média ou baixa, independentemente da posição
morfologia ou a sintaxe cria condições para que tal aconteça, em que se encontra é elidida.
a fonologia da língua encontra formas de resolver o problema,
desfazendo o encontro, utilizando diversos mecanismos de
acordo com a qualidade e a sequência das vogais envolvidas.
A seguir apresentamos de forma discriminada os processos
que envolvem vogais. 1
Cf. Ngunga 1998. Imbrication in Ciyao. In Maddieson, I. &Hin-
nebusch, T. J. (eds), Language History and Linguistic Description in Africa.
2: 167-176
42 N° 17 | Outubro, 2011

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SEMI-VOCALIZAÇÃO
INSERÇÃO Um outro processo que se aplica na resolução de hiatos é o
Outras vezes a língua recorre à inserção de uma glide como da semi-vocalização. Considerem-se os seguintes exemplos:
recurso para evitar o encontro entre duas vogais. A natureza Exemplo (3)
da glide depende da natureza das vogais em causa.
a) mwanana /mu-anana/ ‘criança’
Exemplo (2)
mwani /mu-ani/ ‘genro’
a) Kuyengisa /ku-engisa/ ‘ouvir’
Kuyengeta /ku-engeta/ ‘aumentar’
b) thombvwini /thombvu-ini/ ‘no nariz’
Kuyema /ku-ema/ ‘parar’
Kuyengetela /ku-engetela/ ‘aumentar’
c) cibhajyana /ci-bhaji-ana/ ‘vestidinho’
[u + e → uye]:
Como se pode ver nos exemplos em (a e b) a vogal [+alt;
+rec] sofreu uma semi-vocalização ao se encontrar com as
b) Kuyaneka /ku-aneka/ ‘estender’ vogais [+baix] e [+alt; +ant], tornando-se assim em [w]. Em
c) temos uma situação em que a vogal do tema nominal se
Kuyamukela /ku-amukela/ ‘receber’ encontra com a vogal do sufixo descontínuo que marca o
[u + a→ uya]: diminutivo e sofre, no entanto, uma semi-vocalização. Neste
caso, por se tratar de uma vogal [+alt; +ant], em posiçãio
primária, esta muda para [y].
c) Kuyimbelela /ku-imbelela/ ‘cantar’ Como se pode oobservar mais uma vez, a escolha da glide
[u + i → uyi] não é aleatória, só a vogal [+alt; +ant] é que passa para [y] e a
vogal [+alt; +rec] é que passa para [w].
Esta regra pode ser formalizada da seguinte como:
d) kuwola /ku-ola/ ‘recolher lixo’
iv. V→ G/ _ V
[u + o → uwo]
Segundo os dados acima analisados constatou-se que nesta
língua o encontro entre vogais pode ser resolvido através de
e) kuwuka /ku-uka/ ‘acordar’ processos como a inserção, a elisão e a semi-vocalização.
Cada um destes processos é condicionado pela natureza das
kuwulela /ku-ulela/ ‘entrar’ vogais.
[u + u → uwu]
1.2. Sistema Consonântico
Após uma análise do comportamento dos sons vocálicos,
Como podemos observar nos exemplos acima, passaremos, em seguida, a analisar o comportamento dos sons
independentemente da natureza da vogal, quando uma vogal consonânticos, procurando ver os processos fonológicos que
se encontra com a vogal alta, recuada [u] há inserção de uma os envolvem.
glide para resolver o hiato. A natureza da vogal só vai
influenciar na escolha da glide. Como ponto de partida apresentaremos o quadro das
consoantes da língua Copi.
Esta regra pode ser formalizada da seguinte forma:
A língua Copi apresenta as seguintes consoantes;
iii. V+V → VGV / V V
Se repararmos para a natureza da primeira vogal notaremos
que se trata de uma vogal [+alta; +rec] [u], que ao se Tabela 2: Consoantes da língua Copi
encontrar com qualquer outra vogal condiciona a inserção de
uma glide. Essa glide pode ser [w] quando as vogais de Modo \ Bilabial Labio- Alveolar Palatal Velar Glotal
encontro são [u, o] e [y] quando as vogais de encontro são [a, Ponto dental
e, i]. Oclusiva p bh t dh c j k
g
43
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nrumbu ‘barriga’
Nasal m n ny
ng’ nsuka ‘mosquito’
Fricativa f v, vh s z x h
sw zw
Africada ps bz pf bv ts dz b) ŋkondo ‘pé’
Implosiva b d ŋguwo ‘capulana’
Vibrante r
simples c) mbiya ‘loiça’
Aproxim- v y w Os exemplos acima mostram a assimilação do ponto de
ante articulação da consoante seguinte (do tema nominal) por parte
Aprox. l da nasal do prefixo nominal.
lateral
Em (a) a nasal tomou o traço [+alv] por causa da africada
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000) alveolar [dz]; em b) a nasal toma o traço [+velar] por causa
das oclusivas velares [k; g] respectivamente, e em c) a nasal
toma o traço [bilabial] obviamente pelo traço da oclusiva
De salientar que as oclusivas [b] e [d] escrevem-se·h e dh, bilabial [b].
respectivamente para se distinguirem das implosivas [b] e [d],
que se escrevem b e d, respectivamente. Um outro processo que ocorre no encontro entre duas
consoantes é o da elisão, e este tal como nas vogais também
Exemplo (4) decorre do processo de imbricação. Este processo, tal como
nas vogais, acontece em palavras com a categoria de verbo. A
Kubhika ‘cozinhar’ elisão no radical verbal acontece como resultado do processo
de imbricação do sufixo que marca o perfectivo -il-e.
Kubika ‘apresentar queixa’
Exemplo (7)
(1) -dhan- -dhan-e /-dha-il-n-e/ ‘chamar’
Kudhaha ‘fumar’
-khur- -khur-e /-khu-il-r-e/ ‘saciar’
Kudola ‘furar’
-won- -won-e /-wo-il-n-e/ ‘ver’

O mesmo se dá com a fricativa lábio-dental [v] que se


escreve (2) -bhala -bhat-e /-bha-it-l-e/ ‘escrever’
vh para se distinguir da aproximante [u]. -fenengela -fenenget-e /-fenenge-it-l-e/ ‘cobrir’
Exemplo (5)
-pfala -pfate /-pfa-it-l-e/ ‘fechar’
kuveka ‘pôr’
-duketa -duket-e /-duke-it-t-e/ ‘experimentar’
Kuvhuna ‘ajudar’ -gubhuta -gubhut-e /-gubhu-it-t-e/ ‘sacudir’
Em seguida passamos a analisar os processos que envolvem -xota -xot-e /-xo-it-t-e/ ‘caçar’
as consoantes.
Em (1) os exemplos mostram a formação do passado com o
morfema –il-e e em (2) ilustram-se exemplos de verbos cuja
1.2.1. Processos fonológicos envolvendo consoantes formação do passado é como morfema –it-e, mas em ambos
os caso há uma imbricação e consequentemente uma elisão.
Tal como nas vogais, nas consoantes há também alterações
Este processo pode ser ilustrado da seguinte forma:
que provocam a ocorrência de alguns processos.
–CVC-
A pré-nasalização, na língua Copi é marcada obviamente
por uma nasal antes da consoante, mas tal nasal depende do i. -CV-it-C- infixação -it- morfologia
ponto de articulação da consoante seguinte, ou seja, da
consoante a ser nasalizada. Esta pré – nasalização respeita a
uma certa regra que é a de assimilação. Vejam-se os
seguintes exemplos:
Exemplo (6)
a) ndzala ‘fome’
ii. -CV-it- elisão (C) fonologia
iii. –CVt- elisão -i- (v+v) fonologia
iv. –CVt-e sufixação -e morfologia
44 N° 17 | Outubro, 2011

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É importante referir ainda que nesta língua as consoantes


simples podem sofrer modificações e tais verificam-se através
4. CONCLUSÕES
dos processos que abaixo se apresentam: O presente trabalho tinha por objectivo estudar a língua
Copi, concretamente uma das partes da gramática da língua, a
A labialização é um processo que, segundo Ngunga
fonologia. Dentro do estudo fonológico desta língua procuramos
(2002), se verifica quando na produção das consoantes há um
abordar questões ligadas aos segmentos fonológicos,
ligeiro arredondamento dos lábios. Ainda segundo o mesmo
nomeadamente as consoantes e vogais, analisando os
autor só se labializam as consoantes não-labiais.
processo fonológicos que se operam no interior desses
segmentos, à medida que eles se vão combinando.
Exemplo(8) O primeiro capítulo foi reservado à introdução; o segundo
foi reservado à revisão da literatura onde foram apresentadas
kokwani ‘avó’
abordagens anteriores sobre o tema em questão; o terceiro
dirigwi ‘pedra’ capítulo foi de análise dos dados por nós recolhidos, sobre as
alterações vocálicas e consonânticas que se operam na língua
kunwa ‘beber’
Copi e chegámos à conclusão que nesta língua tanto as vogais
Regra: [α –lab]→ [α +lab] /_[+lab/vel] onde α simboliza assim como as consoantes, são susceptíveis de modificações
o som alvo de labialização. No caso concreto trata-se dos sons sempre que a morfologia ou a sintaxe da língua criarem
[k, g e n] como ilustram os exemplos acima. condições. Tais condições estão ligadas à natureza das vogais
que se encontram, à natureza das consoantes que também se
vão encontrar.
Quando as consoantes são labiais, estas são velarizadas.
Vejam-se os seguintes exemplos: As consoantes são modificadas através das regras de
palatalização, pré-nasalização, labialização, velarização e
Exemplo (8) verifica-se ainda o processo fonológico de assimilação do
yimbwa ‘cão’ ponto de articulação. E as vogais podem sofrer elisão, semi-
vocalização ou ainda se pode inserir uma glide entre duas
ndzambwa ‘lixo’ vogais.
kupwata ‘faltar/ ser
preciso’ REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Regra: Clark, J. & Yallop, C. (1990). An Introduction to Phonetics
[+lab] → [+lab; +vel] / _ [+vel] and Phonology. Basil: Blackwell.

Para além dos processos acima referidos ocorre, ainda, Dos Santos, F. L.1941. Gramática da Língua Chope.
nesta língua o processo de modificação das consoantes por Impren- sa Nacional de Moçambique. Lourenço
palatalização e este processo é marcado pela glide y. Marques.

Exemplo (10) Firmino, G. 2002. A Questão Linguística na África Pós-colo-


nial. O caso do Português e das línguas autócto-
yiphya ‘algo novo’ nes em Moçambique. Promédia. Maputo.
libhyasu ‘vara’ Hyman, L. M. 1975. Phonology: Theory and Analysis. Holt,
Esta regra pode ser ilustrada como: Rinehart and Winston. New York.

[+lab] → [+lab; +pal] / _ [+pal] Katamba, F. 1989. An Introduction to Phonology. Longman.


London.
De acordo com os dados recolhidos só foi possível
constatar a regra de assimilação do ponto de articulação, Liphola, M. M. 2001. Aspects of Phonology and
como resultado do encontro de duas consoantes na fronteira Morphology of Shimakonde.
entre morfemas, mas no interior do mesmo léxico constatou-se Ohio State University. LTP
que as consoantes sofrem modificações como palatalização,
labialização e velarização. Meinhof, C. 1932. Introduction to the Phonology of the
Bantu Languages. (traduzido por N.J. van
Cada um desses processos é aplicado tendo em conta a Warmelo) Ber- lin: Verlag von Dietrich Reiner.
fonologia da palavra para que se evitem erros a nível do
léxico. Ngunga, A. 1997. A Lexical Phonology and Morphology of
the Ciyao Verb Stem. UMI Berkeley.
Ngunga, A. 2000. Phonology and Morphology of the Ciyao
45
PÁGINA DE ESPECIALIDADE

Verb. CSLI Publications. Leland Stanford Uni-


versity. California. USA.
Ngunga, A.2002. Elementos da Gramática da Língua Yao.
Imprensa Universitária-UEM. Maputo
Ngunga, A. 2004. Introdução à Linguística Bantu. Imprensa
Universitária-
UEM. Maputo
Ngunga, A. 2006. Apontamentos de Fonética. (Manuscrito).
UEM Maputo
Sitoe, B. & Ngunga, A. (orgs.) 2000. Relatório do II Semi-
nário sobre a Padronização da Ortografia de
Línguas Moçambicanas. Universidade Eduardo
Mondlane. Maputo.

.
46 N° 17 | Outubro, 2011

Resumo de contribuições para a Folha


Páginas de especialidade e páginas em foco constantes de
edições anteriores: Nº 5 (Abril, 2003)
Página de especialidade:
Nº1 (Fevereiro 1997) Passivas em Changana: uma abordagem no âmbito da teoria
de mapeamento lexical
Em foco:
Feliciano Chimbutane
Em direcção à pós-graduação
Armando Jorge Lopes O Império português responde por escrito ou estamos numa
nice: sobre a situação luso-africana na perspectiva dos estudos
pós-colonialismo.
Ingemai Larsen
Nº2 (Agosto, 1997)
Página de especialidade: Passado-presente e passado-perdido: transitar entre a
Sobre o enfraquecimento da morfologia flexional verbal no oralidade e a escrita
Português de Moçambique. Ria Lemaire
Avelino Jeque
Em foco:
Reforçando a linguística e literatura. Parabéns Henrique!
Nº 3 (Junho, 1999) Armando Jorge Lopes
Página de especialidade:
Dualismo na percepção da realidade: Utopia ou Alquimia?
Armando Jorge Lopes Nº 6 (Outubro, 2003)
Página de especialidade:
Restrições na combinação e ordem das extensões verbais em
Ciyao Variação e variedades: o caso do Português
Armindo Ngunga Maria Helena Mateus

Cassamo e a oralização da escrita.


Em foco: Herculano Thumbo
1ºs jornadas de Linguística na UEM: 10 anos de
Linguística- 1986-1996. O encanto da poesia no canto de Agostinho neto
Armando Jorge Lopes. Maria Aparecida Santilli

Evidência linguística em processos criminais: a linguística


forense como um novo desafio para a l9inguística moderna.
Nº 4 (Outubro, 2002) Eliseu Mabasso
Página de especialidade:
Normas de cortesia e eufemismos sociais como factores de Em foco:
preservação da tradição Tsonga.
Linguística da Paz: uma experiência brasileira.
Henrique Nhaombe Francisco Gomes de Matos
A Disciplina de literaturas africanas de expressão portuguesa
uma história em curso.
Ana Mafalda leite
Nº7 (Abril, 2004)
Página de especialidade:
Em foco:
Niketche, uma história de poligamia de Paulina Chiziane: a
Os novos cursos de linguística e literatura, línguas e tradução
moçambicanidade revisitada.
e interpretação.
Gilberto Matusse Almiro Lobo
47

O papel que o CALL poderá desempenhar no ensino de Em foco


línguas em Moçambique.
Actividade editorial no Departamento de Linguística e
Márcia dos Santos Literatura
O ensino interdisciplinar de língua portuguesa em sala de Henrique Nhaombe
aula.
Joelma Saltosque dos Santos
Abertura dos cursos de Mestrado e de Doutoramento em
Linguística a partir de Fevereiro de 2006
Em foco: Henrique Nhaombe
A SIL e a investigação linguística nos últimos anos.
Janet Hartahn
Nº 10 (Abril e Outubro de 2007)
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Nº 8 (Outubro de 2004)
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culturais)? Esboço para uma Análise da Equivalência no Léxico de Usos
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os Critérios da sua Integração nas Classes Nominais do
Emarevoni.
Nº 12 (Outubro de 2008)
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Página de especialidade:
Variação Linguística do Português oral de Maputo- o caso dos A expressão de movimento com verbos causativos em
complementos oracionais seleccionados pelo verbo dizer Changana
Manuel Guissemo Bento Sitoe

Construções relativas directas e indirectas no Changana


Ezra Chambal
48 N° 17 | Outubro, 2011

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nuances dos projectos literários.
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Reflexões em torno da racionalização linguística nos países
africanos pós-coloniais
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