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FICHA-TÉCNICA
Título: Folha de Linguística e Literatura
Endereço:
Departamento de Linguística e Literatura
Facudade de Letras e Ciências Sociais
Universidade Eduardo Mondlane
Campus Universitário Principal
Caixa Postal 257, Maputo, Moçambique
Fax: (258-21) 490890
E-mail: flcs@uem.mz
Website: www.flcs@uem.mz
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PÁGINA DE ESPECIALIDADE
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nas e de nos últimos tempos aparecerem mais materiais escri- ofones nas línguas Bantu. No ponto que se segue discutimos
tos, as línguas Bantu ainda carecem de estudos e registos. as posições desses autores. De salientar que ao longo de todo
Pen- samos também que um trabalho sobre propostas o trabalho apresentamos apenas os tons baixos dos ideofones,
metodológi- cas de compilação de um dicionário seria uma subentendo-se que onde não teremos os tons baixos estaremos
mais-valia para os que têm trabalhado na área da Lexicografia na presença de tons altos.
e por último, pensamos que o trabalho traz uma grande
contribuição para a Lexicografia da língua Changana, uma Segundo Ngunga (2004:195), “o termo ideofone foi
vez que se debruça sobre metodologia para a compilação de introdu- zido pela primeira vez por Doke (1968) no seu
um dicionário de ide- ofones, se considerarmos que, caso tal estudo sobre a língua Shona”. Este autor, refere ainda que “Os
projecto se concretize, esse dicionário será pioneiro nessa ideofones são definidos como a associação entre um
língua. determinado som, cor, estado, dor, intensidade, etc., a
consequente reacção ou cons- trução psíquica dos mesmos na
cabeça do indivíduo ”.
1.6. Problema Por sua vez, Sitoe (1996: 345) defende que
Os ideofones têm vindo a ser objecto de muitos estudos por “Semanticamen- te, os ideofones estão ligados a campos
parte de vários estudiosos, podemos citar exemplos de estu- específicos e diver- sos, tais como acções, sons, cores cheiros,
diosos como Doke (1935); Marivate (1981); Nkanbide posturas, atitudes, gestos, etc.” Este estudioso defende ainda
(1985); Sitoe (1996); Kimenyi [s.d]; Ngunga (2000 e 2004); que os ideofones se caracterizam pelo seu alto grau de
Langa ( 2004); Beck (2005); Matambirofa (2009); Nhampoca especificidade. Ngun- ga (2004:195) parece-nos comungar
(2009) etc.. Contudo, notamos que dentre vários estudos, não da mesma posição, pois sustenta que “os ideofones são
existem os que abordam com profundidade a questão do definidos como a associação entre um determinado som, cor,
significado dos ideofones ao nível de um dicionário bilingue, estado, dor, intensidade, etc. e a consequente reacção ou
ou seja, alis- tar os ideofones da língua Changana e apresentar construção psíquica dos mesmos na cabeça do indivíduo”.
em Português e de uma forma sistemática, o(s) seu(s) Embora haja diferenças de abordagens, na definição do
significado(s) múlti- plos, esgotando todas as suas nuances, ideofone, pensamos que todas as posições aqui apresentadas
segundo as normas le- xicográficas de compilação de um se assemelham e defendem que um ideofone é “o fenómeno
dicionário, com a excepção de Sitoe (1996) que apresenta, no através do qual alguns sons da linguagem humana podem, do
seu dicionário (mas geral), ideofones da língua Changana. E, ponto de vista semântico combinar a figura mental com os
tendo em conta que, seman- ticamente, “os ideofones estão sons da fala. (Langa, 2004:59), citando Baumbach (1988) e
ligados a campos específicos e diversos, tais como acções, Sitoe (1996). Sendo assim, concordamos com todas, contudo,
sons, cores cheiros, posturas, atitudes, gestos, etc.” Sitoe para o quadro teórico do nosso trabalho, baser-nos-emos,
(1996:345), ocorre-nos a seguinte questão como problema de principa- lamente, nas perspectivas de Langa (2004), Ngunga
investigação: Será possível esgotar as nuances de um (2004) e Sitoe (1996).
ideofone num dicionário bilingue?
2.2. Lexicografia
1.7. Hipóteses
Lexicografia é a técnica de redacção e feitura de
Partindo dos temas que nos propusemos a estudar e decor- dicionários. (Wikipédia). Já Doke (1935) Considera que
rente do problema de investigação apresentado, ocorrem-nos Lexicografia é o estudo do vocabulário de uma língua, de
as seguintes hipóteses: acordo com a sua for- ma e significado e é também o processo
1. É possível esgotar as nuances de um ideofone num dicio- ou o ofício de compila- ção de dicionários. Hartmann (1995),
nário bilingue. citado por Sitoe (1991), defende que a lexicografia apresenta
uma vertente teórica e outra prática. A Lexicografia como
2. Por causa das diferenças culturais entre as duas línguas,
teoria consiste em efectu- ar pesquisas sobre história, análise
nem sempre será possível esgotar as nuances dos ideofo-
crítica, tipologia, estrutura, uso ou finalidade de dicionários. E
nes.
a Lexicografia como prática diz respeito ao processo de
produção de dicionários.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Sobre ideofones 2.2.1. O Dicionário
Muitos estudiosos têm mostrado interesse em estudar os ide- Segundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa
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(2001), dicionário é um “conjunto de vocábulos de uma mesma posição é defendida por Sitoe (1991), citando Malkiel
língua ou dos termos próprios de uma ciência ou arte, (1967), ao apresentar as mesmas categorias para a caracteriza-
disposto por or- dem alfabética e com a respectiva ção de dicionários.
significação ou a sua versão noutra língua”. Também se pode
considerar o dicionário como um livro contendo palavras de
uma língua, dispostas em ordem alfabética, com os seus 2. 2. 4. Problemas de tradução da língua fonte (LF) para
respectivos significados. Doke (1935), Hartmann e James a língua alvo (LA)
(1998) definem dicionário como um tipo de obra de
Para Langa (1991), os factores de dificuldade na tradução
referência que contém os vocábulos de uma língua com os
não são apenas de carácter linguístico, mas haverá, também
seus respectivos significados. Wikipédia (pt.wikipedia.org/
uma importante intervenção de factores extra-linguísticos. E
wiki/Dicionario) a enciclopédia livre, define dicionário como
nós pensamos que um desses aspectos é o anisomorfismo das
sendo uma compilação de palavras ou dos termos próprios, ou
línguas, como por exemplo a diferenças existentes na organi-
ainda de vocábulos de uma língua, quase sempre dispostos
zação das línguas naturais, dentre as várias diferenças temos
por ordem alfabética. Por sua vez, o site Sua Pesquisa,
como exemplo, neste trabalho, o facto de a LA, não possuir a
defende que “dicionário é um livro que possui a explicação
categoria ideofone. Ora, “ sendo a língua um elemento chave
dos signi- ficados das palavras. As palavras são apresentadas
no relacionamento entre homens, onde não há um meio
em ordem alfabética”.
comum que permita a comunicação, a tradução deverá
Verificámos que dentre as definições aqui apresentadas, a intervir, como instrumento de mediação interlinguística, na
do Dicionário Universal da Língua Portuguesa (2001) e a da transmissão e tro- ca de informações”. (Langa, 1991:08). É
Wi- kipédia são mais abrangentes, uma vez que incluem o pois, a este processo que recorreremos no DICH para
aspecto dicionário de especialidade, por essa razão, na nossa transmitir informações sobre ideofones da LF para LA. E para
análise, para a definição de dicionários consideramos estas tal é necessário apresentar os diferentes tipos de tradução e
duas pers- pectivas. eleger a mais adequada ao nosso tipo de dicionário.
Os dicionários podem ser monolingues (quando se debru-
çam sobre uma língua apenas), bilingues (aqueles que envol- Tipos de tradução
vem duas línguas, cf. 3.2.2) trilingues (quando envolvem três
línguas) ou multilingues (quando envolvem mais de três lín- De acordo com Langa (1991) existe a tradução literal, esta,
guas). muitas vezes, resulta na incompreensibilidade do texto, pelo
facto de incidir na forma, deixando de ter em consideração as-
pectos de diferenças de organização entre a LF e LA, pois o
2.2.2. Dicionário bilingue e seus objectivos seu objectivo é fornecer o equivalente de cada palavra. Existe
tam- bém a tradução literal adaptada, que é aquela em que o
“Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou
tradutor deve recorrer a adaptações e nela o texto traduzido
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si-
conservará tanto quanto possível a forma da LF, privilegiando
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra
a intenção do autor e o significado. E por fim temos a
língua (língua alvo) ” Sitoe (1991). Segundo o mesmo autor,
tradução baseada no significado, esta é considerada a
um dicionário bilingue tem como principal objectivo ajudar
tradução mais comunicativa e adequada e “consiste em
os falantes que entendem uma língua (língua primeira) e não
transferir toda a mensagem para lín- gua alvo de modo que a
entendem a outra (língua segunda). Importa também, referir
tradução esteja num estilo tão natural quanto possível,
que existem várias categorias de dicionários e uma dessas ca-
adequado às estruturas gramaticais da LA” Wiesemann,
tegorias é o dicionário temático. O DICH será temático. A
citado por Langa (1991). Esta tradução permite, sempre que
este respeito os sites (http://www.portrasdasletras.com.br) e
necessário, fazer-se um arranjo às frases, palavras ou
(http:// pt.wikipedia.org/wiki/Dicion) avançam que um
explicações para transmitir o significado da LF para a LA.
dicionário te- mático é aquele que organiza ou reúne
vocabulário específico, de determinada ciência, arte ou Tendo em conta a natureza e os objectivos do DICH, é ao
actividade técnica. último tipo de tradução que recorreremos, pois, os dois pri-
meiros tipos além de serem pouco comunicativos, não nos
per- mitiriam fornecer os significados dos ideofones do
2.2.3. Sobre caracterização de dicionários Changana para o Português porque esta língua nem sequer
Quanto à caracterização de dicionários, Househoulder e Sa- possui ideofo- nes. Portanto, uma vez que a tradução baseada
porta (1967) postulam que os dicionários podem ser caracteri- no significado permite fazer-se um arranjo às frases, palavras
zados segundo a sua Extensão, Perspectiva e Apresentação. A ou explicações para transmitir o significado da LF para a LA,
temos mais pos-
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Hartmann e James (1998) avançam que Lexicografia é a ac- Pensamos, pois, que a dificuldade de tradução dos
tividade profissional e académica que opera com dicionários, ideofones não reside apenas na categoria gramatical, pois na
havendo duas áreas básicas: a Lexicografia como prática e a tradução os equivalentes nem sempre têm que coincidir na
Lexicografia como teoria. Na nossa análise enveredaremos categoria gra- matical por exemplo, verbos na L1 podem ser
pe- las perspectivas de Doke (1935) e Hartmann e James traduzidos por nomes na L2 e vice- versa. O ponto do
(1998), pois achamo-las completas, uma vez que abarcam a anisomorfismo mais pertinente no nosso trabalho tem mais a
Lexicogra- fia como prática e como teoria. ver com componen- tes sociais e culturais da “semântica” do
material a traduzir. A dificuldade de tradução será no traço
“vivacidade” que os ideofones emprestam ao discurso. Por
3. 2. Dicionário bilingue isso pensamos que para além de fornecer explicações dos
ideofones em Português, ire- mos apresentar mecanismos de
Um dicionário bilingue consiste numa lista de palavras ou
como traduzir ideofones, ou seja, como fazer com que um
expressões numa língua (língua fonte) para as quais, numa si-
falante que não é de Changana perceba o que em Changana é
tuação ideal, são fornecidos equivalentes exactos numa outra
expresso por ideofones a par- tir de exemplos e, às vezes
língua (língua alvo) Sitoe (1991).
recorrendo a estratégias como por exemplo o uso de glosas,
Zgusta (1971) refere que o propósito básico de um dicioná- para a inserção de comentários que reforcem a compreensão
rio bilingue é coordenar as unidades lexicais de uma língua dos ideofones. Vejamos, como exem- plo, o seguinte verbete:
com as de uma outra e que essas unidades lexicais devem ter
um significado equivalente. Este autor usa também, a ideia de
língua fonte (aquela em que são extraídas as unidades lexi- 1.
cais) e língua alvo (onde são fornecidos os equivalentes das
-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (por exemplo a cabe-
unidades lexicais da língua fonte. A ordem das entradas num
ça de alguém, com um instrumento contundente): Afike
dicionário bilingue é dada pela língua fonte. É na esteira de
akumu khèhlè nhloko hi bewula, Chegou e, pumba, deu-lhe
Sitoe (1991) e Zgusta (1971), que concebemos o conceito de
com o ma- chado na cabeça!
dicionário bilingue.
Neste exemplo usamos o hífen, em vez do prefixo ku-, pois
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é assim como aparecerão as entradas no DICH. Este exemplo va refere-se à forma como o compilador/lexicógrafo
mostra que na impossibilidade de traduzir o ideofone -khèhlè perspecti- va o seu trabalho e no tipo de abordagem que irá
para o Português podemos introduzir a interjeição pumba para adoptar; se a abordagem é diacrónica ou sincrónica e por fim,
facilitar a compreensão daquele. se o dicioná- rio será organizado por ordem alfabética, por
som, por temas, ou outras formas. Sitoe (1996) defende a
3.4. Apresentação, Extensão e Perspectiva mesma posição, ao avançar que:
Vários estudiosos de Lexicografia defendem que os A perspectiva baseia-se no modo como o compilador
dicioná- rios podem ser caracterizados segundo a sua encara o trabalho e no tipo de abordagem adoptada: se o
Extensão, Pers- pectiva e Apresentação, posição com a qual trabalho é diacrónico (cobrindo um vasto período) ou se
concordamos. A seguir, apresentamos aspectos relacionados é sincrónico (confinando-se a um determinado período);
com estas catego- rias de caracterização de dicionários. se o material no dicionário será organizado pela ordem
alfabética; por temas; por som (como nos dicionários de
rimas); por conceitos, ou ainda segundo outros meios e
3.4.1. Apresentação critérios
Esta categoria refere-se à concretização (em forma de di-
Na revisão bibliográfica efectuada, verificámos que as po-
cionário) dos objectivos e princípios pré-estabelecidos pelo(s)
sições de Househoulder e Saporta (1967) e Sitoe (1996) são
compilador(es) do dicionário, Sitoe (1991).
semelhantes e nós concordamos com elas, daí que na nossa
análise, enveredamos pelas perspectivas destes autores.
3.4.2. Extensão
Segundo Sitoe (1991), a extensão tem a ver com o tamanho 4. O Dicionário de Ideofones do Changana (DICH)
e o âmbito do dicionário: procura saber quantos verbetes o
dicio- nário apresenta; qual é o grau de cobertura do léxico O dicionário de Ideofones do Changana será um dicionário
analisado; quantas línguas foram envolvidas; e o grau de bilingue, onde iremos alistar os ideofones na língua Changana
concentração de informação nos verbetes. Já Househoulder e e apresentar as suas explicações em Português. Neste capítulo
Saporta (1967) defendem que a categoria Extensão refere-se abordamos questões relacionadas com os objectivos e o desti-
aos seguintes as- pectos: a) densidade/volume/número de natário do DICH.
entradas, b) número de línguas envolvidas e c) o grau de 4. 1. Objectivos do DICH
concentração de informa- ção nos dados lexicais. Tratando-se
O tratamento dos verbetes, em qualquer dicionário é deci-
da extensão de um dicioná- rio, temos a obrigação de nos
dido pelo compilador, tendo em conta o grupo alvo por ele
referirmos aos elementos chave que constituem esta
seleccionado Sitoe (1991), facto que faz com que a questão
categoria. É o caso de verbetes e vedetas ou entradas.
dos objectivos de um dicionário esteja estritamente ligada à
do des- tinatário do mesmo. O dicionário de que pretendemos
Verbete e Vedeta avançar dados para a sua compilação tem os seguintes
Verbete é toda a informação que se tem sobre a unidade le- objectivos:
xical descrita, (vedeta ou entrada), incluindo a própria 1. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se
unidade lexical. Um verbete, de uma forma geral, apresenta os exprimam na sua língua usando ideofones;
seguintes componentes: entrada ou vedeta, origem,
2. Fornecer aos falantes do Changana meios para que se ex-
informação gramati- cal, glosas ou rótulos, equivalentes e/ou
primam em Português, através de enunciados que na sua
definições, material ilustrativo, sub-entradas, remissões e
língua envolveriam ideofones;
referências, Sitoe (1991). A vedeta ou entrada é que encabeça
o verbete. As vedetas são as unidades lexicais ou gramaticais 3. Fornecer aos falantes de Português meios para “compre-
que constituem as entradas do dicionário e são apresentadas, enderem” o que em Changana é expresso por ideofones.
geralmente em bold e regis- tadas em ordem alfabética.
4. 2. Destinatário do DICH
Os destinatários do Dicionário de Ideofones do Changana
3.4.3. Perspectiva são:
De acordo com Househoulder e Saporta (1967), a perspecti- 1. Os falantes da língua Changana que queiram perceber
melhor o funcionamento dos ideofones na sua língua;
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5. Metodologias
5.1. Metodologia de recolha de dados
5.1.1. Pesquisa bibliográfica
Para a recolha de dados efectuamos uma pesquisa
bibliográ- fica, em que tivemos como obra-base o
Dicionário Changana
– Português, da autoria de Sitoe (1996), donde retiramos
todos os ideofones que o dicionário contém. Mas também
recorre- mos a este tipo de pesquisa na fase da revisão
bibliográfica e do enquadramento teórico.
6. Uma proposta metodológica para compilação de um 6.2. Identificação e descrição dos significados dos ide-
dicionário de ideofones do Changana ofones
Na fase da análise de dados apresentamos alguns passos Neste ponto, a partir das unidades lexicais alistadas no
metodológicos para a compilação de um dicionário de ideofo- ponto (6.1), procede-se à identificação do (s) significados dos
nes do Changana, com base nos aspectos já mencionados em ideofo- nes ainda na língua Changana, recorrendo aos
(5.2). diferentes con- textos em que foram usados pelos falantes e
onde for necessá- rio com a ajuda da análise componencial,
pois entendemos que sem conhecer melhor os significados
6.1. Alistamento das unidades lexicais dos ideofones na LF não podemos descrevê-los com rigor na
Este passo metodológico diz respeito à inventariação com- LA.
putorizada de todas as unidades lexicais e gramaticais Feita a identificação dos significados dos ideofones avança-
contidas no corpus, Sitoe (1991). São estas unidades que, no se para a sua descrição. Se se tratasse de um dicionário bilin-
dicionário, irão encabeçar os verbetes; são as vedetas ou gue geral, iríamos proceder à apresentação das vedetas, na LF
entradas. Neste ponto do nosso trabalho, alistamos vinte (20) e dos seus equivalentes, na LA. Mas sendo um dicionário de
ideofones, ape- nas para ilustrar como se procede na fase de ideofones e considerando que os ideofones pertencem a uma
alistamento de unidades lexicais, pois no fim do trabalho categoria que o Português (LA) não possui, não será possível
(Anexo 1) apresen- tamos uma amostra mais extensa. fornecer equivalentes imediatos dos ideofones dados em
Chan- gana, excepto em casos de alguns ideofones
onomatopaicos, razão que nos fez recorrer ao mecanismo de
-bòhlò explicações para fornecer os significados dos ideofones e ao
-bùtà uso de comentários nas glosas ou no material ilustrativo. E,
com efeito, explicare- mos assim o significado dos ideofones:
-bva
-chàchàchà
2.
-cìnaa
-chàchàchà id. de do ferver de coisas pouco espessas: mu-
-cwii
phungu wa n’wana wuri chàchàchà a papa da criança está a
-fà-fà-fà ferver [com a agitação e ruídos próprios de papas a fervem ao
lume].
-foo
-ma id. de apertar : bawude riyo ma o parafuso está bem
-gedègedè
apertado; de ficar bem (a roupa): nkhancu wuyomu ma o
-gwì vesti- do ficou-lhe a matar [como a uma modelo esbelta].
-làlàlàlà -tapsà id. de estar/ser flácido: pinewu la movha liyo tapsa o
-mbii pneu do carro está flácido [como por exemplo a roda do carro
com a câmara de ar arrebentada ou com pouco ar dentro
-mpsì câma- ra ou com pouco ar dentro].
-ngeyè A forma id. de é uma forma convencional de apresentar os
-ngòyò significados dos ideofones cf. Nkabinde (1985), Sitoe (1991
e 1996), Ngunga (2004), Miti (2006), Matambirofa (2009),
Nhampoca (2009), entre outros. E traduz-se em ideofone de...
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ou ideofone com o significado de.... mas também recorrere- cada unidade lexical, como sustenta Sitoe (1991), ao afirmar
mos a algumas expressões que irão auxiliar a transmitir um que a
significado o mais próximo possível do dos ideofones na LA,
não apenas o significado lexical, “linguístico”, mas também e
sobretudo o significado “sensorial”, dinâmico dos ideofones.
Para isso as glosas e os comentários desempenham um papel
crucial.
No exercício de identificação dos significados dos
ideofones em Changana verificamos que são muitas as vezes
que consta- tamos que apresentam vários significados.
Portanto, neste pro- cesso ocorre a polissemia, como podemos
ver nos exemplos que se seguem:
3.
-baà – este ideofone significa ser branco (a cor), mas não
só, significa também ser/estar limpo; ser/estar claro, evidente,
visível; estar vazio, portanto, o ideofone kubaà é polissémico,
pois apresenta vários significados.
Mas também ocorre a homonímia:
4.
-mpfi - este ideofone significa pegar de surpresa, mas signi-
fica também estar demasiado cheio (um local, um recipiente,
etc.).
6.
No Dicionário Changana – Português (Sitoe:1996) 7.
baà- 1. de ser branco. 2. de ser claramente visível, evidente. -bàhasàà id. de estarem dispersos, de estarem espalhados...
Mhàka yiyòbaà! O caso é bem evidente. 3. de estar completa- -bèbu (<-bebula) id. de erguer (uma criança), de carregar
mente vazio. Svìtolo svitèbaà! As lojas estão completamente (uma criança)...
vazias. [cf. -bàsà].
Nos exemplos acima, extraídos de dois verbetes, mostramos
como é que a vírgula é usada para separar sinónimos na expli-
No DICH cação dos significados dos ideofones em causa, onde temos,
para o caso do ideofone bàhasàà, o primeiro significado: de
-baa id.de (<-basa) de ser bem branco, branco branqui- estarem dispersos e o segundo: de estarem espalhados.
nho (branco como a neve):
Ponto e vírgula (;)
Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
bem branca, comprei uma O ponto e vírgula será usado para discriminar sentidos dis-
tintos de uma mesma entrada (polissemia):
blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o as-
sunto ou o problema): mhaka yiyo
baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como 8.
em uma noite de luar): handle -baa (<-basa) id.de ser bem branco, branco branquinho
kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completa- (branco como a neve):
mente vazio: svitolo kuyo baà as Nixave buluza ya kubasa yiku baa comprei uma blusa
lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou lim- bem branca, comprei uma
pinho ( como a roupa blusa branca branquinha; de ser bem evidente (o assunto
perfeitamente lavada): mpahla ya mina yiyo baà a mi- ou o problema): mhaka yiyo
nha roupa está bem limpa ou a baà o caso é bem evidente; de estar bem claro (como em
minha roupa está bem limpinha. uma noite de luar): handle
6.4.1 Símbolos usados para discriminação de sentidos kuyo baà lá fora está bem claro; de estar completamente
vazio: svitolo kuyo baà as
A demonstração das várias vertentes relacionadas com a
hierarquização dos sentidos dos ideofones, é feita através de lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou limpi-
alguns símbolos, que o próprio programa (Tshwanelex) que nho ( como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya
usamos para a elaboração do dicionário de ideofones já tem mina yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a
programados. Na apresentação dos sentidos partiremos do minha roupa está bem limpinha.
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11.
Dois pontos (:)
-cwee id. de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
Os dois pontos introduzem frases ou sintagmas ilustrativos, mapinewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
ou seja, sempre que se pretender dar um exemplo de ocorrên- pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
cia da unidade lexical que é vedeta, aparecerá, depois desta, o
-wàà (<-wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
símbolo dois pontos (:).
mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa. [como se
fos- se uma cheia ou como se a água escapasse de uma
conduta].
10.
-pshàndlà (< -pshandlasa/ka) id de cair no chão e ficar em-
-hlomè (< -hlomela) id. de espreitar (de uma forma fugaz):
papado (como p.e. uma papaia bem madura que cai no chão):
Mungoni ali hlome xipachini xa mamani wa yena o Mungoni
payipayi pshandla! a papaia caiu e empapou-se.
espreita fugazmente dentro da carteira de sua mãe.
-psirrr id de do tocar do apito (como p.e. para anunciar o
-jàtà (< -jatama) id. de atirar-se abaixo, de saltar de cima
fim de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku
para baixo: murhwali wa masaka ate jàtà hi le movheni o car-
psirr hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo
regador de sacos saltou do carro para baixo.
terá terminado.
-rhaxà id. de desdobrar (uma esteira, as pernas): holi rhaxà
Como se pode verificar nos exemplos em (49), sempre sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo rhaxà
temos o dois pontos a introduzir o material ilustrativo. milen- ge sentou-se dedobrando as pernas.
Nos exemplos em (50) os ideofones cwee, -wàà, -pshàndlà,
6.5. Organização dos verbetes -psirrr e -rhaxà constituem as vedetas ou entradas. A vedeta
juntamente com toda a informação que a acompanha consti-
Neste ponto mostramos como se apresenta um verbete, pri- tuem um verbete. A seguir o exemplo de um verbete:
meiro de uma forma geral, e em particular no dicionário de
ideofones no Changana. Um verbete, de uma forma geral,
apresenta os seguintes componentes: entrada ou vedeta, ori- 12.
gem, informação gramatical, glosas ou rótulos, equivalentes
-wàà (< -wawamuka) id. de cair em cascata, em catadupa:
e definições, material ilustrativo, sub-entradas e remissões e
mati moyendla hiku wàà a água cai em catadupa [como se
referências, Sitoe (1991).
fos- se uma cheia ou como se a água escapasse de uma
Os elementos enumerados no parágrafo anterior não são conduta].
comuns a todos os dicionários, nem a todos os verbetes, mas
existem os que são comuns a todos eles. Isto dependerá muito
da natureza do ideofone a ser descrito num determinado 6.5.2. Equivalentes e/ou Explicações
verbe- te. Para o DICH teremos os seguintes componentes: Este ponto consiste na coordenação dos sentidos na LF com
as da LA. Sitoe (1991).
O DICH sendo um dicionário só de ideofones, e uma vez
que
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já ficou claro que não é possível obter para todos os advirá de exemplos por nós produzidos (como falantes
ideofones, equivalentes imediatos, sendo isso possível para nativos do Changana) e também de extractos de textos
alguns, sobre- tudo aqueles que imitam sons (as recolhidos jun- to de falantes e em algumas vezes traremos
onomatopeias...), pelas ra- zões já expostas, chegados a esta alguns exemplos extraídos de Sitoe (1996).
fase a nossa tarefa consistirá em apresentar as entradas na LF
e fornecer as suas explicações na LA, recorrendo a estratégias No DICH todos os exemplos estarão em itálico e serão se-
para uma transmissão dinâmi- ca do sentido dos ideofones. guidos pela respectiva tradução em Português e sempre que
possível, por um comentário. Quanto ao tipo de material ilus-
trativo apresentaremos apenas sintagmas e frases, como ilus-
6.5.3. Glosas tram os exemplos em (14 e 15):
As glosas indicam o mais concisamente possível e numa
lin- guagem o mais simples possível as especificidades e as Sintagmas
esfe- ras de aplicação da entrada, Sitoe (1991). No DICH
teremos também glosas que desempenharão efectivamente a 14.
função já descrita por este autor, ou seja, a informação que -nkatlà id. de estar encaixado (firmemente): Nsimbi nkatla!
aparecerá nas glosas do nosso dicionário auxiliará o usuário a ferro firmemente encaixado [como por exemplo um parafuso
perceber me- lhor o significado da unidade lexical descrita, bem apertado].
bem como o seu contexto de uso e/ou a sua área de aplicação.
As glosas apa- recerão imediatamente depois da explicação, -rhotlò id. de estar bem fechado à chave (como p.e. uma
entre parênteses curvos, como podemos ver nos exemplos que por- ta) xipfalu rhotlò a porta está bem fechada à chave.
se seguem:
Os exemplos mostram os contextos em que se podem usar
13. os ideofones -nkatlà e -rhotlò inseridos em sintagmas.
PÁGINA DE ESPECIALIDADE
No exemplo (16) temos um extracto de um verbete e se -tsopè (<-tsopeta) id. de pestanejar, de piscar os olhos (cf.
ilus- tra como se podem apresentar os comentários e nesse copè).
exem- plo temos a expressão [como por exemplo um parafuso
bem apertado], que é um comentário para reforçar a
explicação do ideofone -nkatlà. Usam-se também para coordenar sinónimos ou mais unida-
des lexicais que estabelecem relações semânticas entre si,
des- de que a natureza e os objectivos do dicionário o exijam.
6.5.6. Remissões No DICH, por causa da existência de vários ideofones
sinónimos, destaca-se o cruzamento de referências entre
As remissões aparecem num dicionário para remeter as for- aqueles. Quanto à disposição, os sinónimos que se cruzam
mas complexas lexicalizadas, como por exemplo verbos ex- aparecem no fim do verbete, onde se encontra a abreviatura
tensos às suas formas canónicas, Sitoe (1991). No DICH os sn., que significa sinó- nimo, e por fim o ideofone sinónimo
ideofones extensos não aparecerão como sub-entradas das do que constitui a vedeta e sublinhado.
suas formas canónicas, mas sim serão registados em separado
e re- metidos àquelas. Um exemplo:
Exemplos:
17. 19.
-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, de se -hojo (<-hojomela) id de cair (para dentro de): mbuti yite
debater (como por exemplo uma pessoa ou um animal amar- hojo xikheleni o cabrito caiu na cova/buraco sn. -ngolo.
rado ou preso): muyivi lweyi abohiweke ali chukù o ladrão -psìripsà id de estar sujo (de qualquer coisa pegajosa): vat-
que foi amarado agita-se. songwana vayo psiripsa hi madaka as crianças estão sujas de
-chukùchukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, matope sn. -psìtlì.
de se debater (repetida e intensivamente): muyivi lweyi abo-
hiweke ali chukùchukù o ladrão que foi amarrado agita-se.
[como por exemplo um animal desesperado amarrado ou pre- 7. Conclusões
so].cf. chukù Chegamos ao fim do nosso trabalho, um estudo com o se-
-chukù-chukù (< -chukuvanya) id de se mexer, de se agitar, guinte título: Uma Proposta Metodológica para Compilação
de se debater (pausadamente, repetida e intensivamente): muyi- de um Dicionário de Ideofones no Changana. O trabalho ti-
vi lweyi abohiweke ali -chukù-chukù o ladrão que foi nha como objectivo apresentar propostas metodológicas para
amarrado agita-se. [como por exemplo um animal a compilação de um dicionário de ideofones no Changana e
desesperado amarrado ou preso].cf. -chukù no fim apresentar uma amostra do futuro dicionário de
ideofones do Changana. Feito o estudo, pensamos que
atingimos os nos- sos objectivos, pois avançamos algumas
6.5.7. Referências propostas de tradução de ideofones do Changana para o
Português e apresentamos no fim do nosso trabalho, uma
No capítulo das referências importa salientar que estas têm amostra do DICH.
a função de coordenar variantes lexicais livres, Sitoe (1991).
Essas variantes, em geral, localizam-se na posição final do Com o estudo concluímos que:
ver- bete, entre parênteses curvos ou rectos e em itálico, Não é possível esgotar as nuances de um ideofone em to-
precedidas da abreviatura cf. dos os casos, devido ao anisomorfismo entre as duas línguas
No dicionário esboçado por este trabalho essas variantes lo- de trabalho, mas a experiência mostrou que, embora não seja
calizar-se-ão no fim do verbete com o qual se relacionam, possível para todos os ideofones, para os ideofones onomato-
entre parêntesis curvos e precedidas da abreviatura cf., como paicos é e, também se pode recorrer a estratégias que
ilustra o exemplo que se segue: auxiliam no fornecimento dos significados dos ideofones na
LA, como é o caso de instrumentos como glosas, comentários
e outras expressões. Então, sendo assim, confirma-se a nossa
segunda hipótese que dizia que por causa das diferenças
culturais entre
15
PÁGINA DE ESPECIALIDADE
as duas línguas, nem sempre será possível esgotar as nuances Miti, L. (2006). Comparative Bantu Phonology and Morphol-
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16 N° 17 | Outubro, 2011
PÁGINA DE ESPECIALIDADE
-baà (<-basa) id. de ser bem branco, branco branquinho está presa na armadilha agita-se.
(branco como a neve): Nixave buluza ya kubasa yiku baà
comprei uma blusa bem branca, comprei uma blusa branca -copè (< copeta) id. de pestenejar, de piscar os olhos (como
branquinha; de ser bem evidente (o assunto ou o problema): p.e. quando temos a sensação de que algo está para penetrar
mhàka yiyò baà o caso é bem evidente; de estar bem claro nos nossos olhos): atè cope kuve xilavi se xingene tihlweni
(como em uma noite de luar): handle kuyo baà lá fora está pestenejou enquanto o cisco já havia lhe entrado no olho.
bem claro; de estar completamente vazio: svìtolo kuyo baà -cwee id.de chiar (como os pneus dum carro no asfalto):
as lojas estão às moscas; de ser/estar bem limpo ou mapenewu ya movha mali cwee ingi hi loko ulava kudiba os
limpinho (como a roupa perfeitamente lavada): mpahla ya pneus do carro chiam como se ele estivesse para capotar.
mina yiyo baà a minha roupa está bem limpa ou a minha
roupa está bem limpinha. -cwiì id. de chiar, guinchar (como o porco quando vai ser
degolado): khumba ritè cwii o porco guinchou.o porco deu cá
-bè¹ id. de estar num ponto alto em termos de qualidade uma chiadeira!
ou intensidade (como p. e. a roupa a uma modelo esbelta):
nkhancu wutèmu bè! o vestido fica-lhe a matar Dicionário -dadanànà id. de estar bem inchado (como p. e. depois de
Changana - Português (Sitoe, 1996:08). levar uma picada de vespa): rhama ra Sara riyo dadanànà a
bochecha da Sara até parece que vai rebentar de tão inchada.
-bè² id de produzir um som surdo: i nchini xingo bè o que é
que está a produzir um som surdo. -dlónyò (<-dlonyoka) id.de olhar com os olhos demasiada-
mente salientes (como quando censuramos alguém com os
-be id de ser bem teimoso, casmuro: wena hambi loko ubze- olhos): se akuni dlònyò e então fuzilou-me com os olhos em
liwa uyala uku bè tu mesmo que te repreendam continuas chispas.
casmurro..
-dlónyo (<-dlonyola) id.de ferir ou picar (no olho): se ukuni
-bì¹ id. de ser bem parecido com alguém: n’wana lweyi ayo- dlónyo hi litiho e meteste-me o dedo olho adentro
mu bì tàtanà wakwe esta criança é a cópia do pai.
-dokòdokò id. de cobiçar, desejar fortemente algum
-bì² id. de desaparecer completamente ou por longo tempo alimento apetecível, de ficar com água na boca: n’wana até
(como p. e. quando o sol desaparece no fim do dia): jàmbù dokòdokò loko avone xidonsani quando a criança viu o
nyamalalo bì o sol desapareceu completamente; de estar rebuçado cres- ceu-lhe água na boca.
completamente acabado: ntirho bì o emprego acabou!
dwa (<-dwaka) id.de vir à superfície de vez em quando ti-
-bvibvinini id. de estar bem despenteado, desmazelado rando apenas uma parte do corpo (como p. e. o hipopótamo
(cabelo humano): uya xikolweni ni misisi leyo yingayo bvib- ao nadar): mpfuvu leyi yihlambelaka yili dwà o hipopótamo
vinini!? vais à escola com o cabelo assim desmazelado!?; de que está a nadar vem à superfície de vez em quando.
estar desgrenhado (p.e. o pêlo de um animal): hayini voya ra
mbuti riku bvibvinini? Porque é que o cabrito tem o pêlo des- -fàhlàfàhlàfàhlà (<-fahlamela) id. de crepitar, do som dos
grenhado que nem uma velha escova de dentes? alimentos a fritar em óleo (como o peixe a fritar em óleo bem
quente): laha gozinyeni leli kotwala kufàhlàfàhlàfàhlà ntse-
-bvò.(< bvonga) id. de espetar com firmeza (p.e. uma injei- na! aqui nesta cozinha não se ouve nada que o crepitar do
ção na nádega): loko dokodela atexi bvò xin’wanana xa mina óleo com algo a fritar.
hi nayethi muzimbha wa mina wutlhele wudzividza quando o
médico espetou a agulha nádega adentro ao meu bebé estre- -foo¹ (<- foma) id. de arder (como quando se põe limão
meci toda. numa ferida aberta, ou os lábios devido ao piripiri: sovorhi
leli labava, minomo ya mina yo foo este piripiri pica tanto
-cambùcambù id. de caminhar pelado, como veio ao mundo que até tenho os lábios em chamas.
(o homem): wanuna lweyi ango cambùcambù ndleleni injhe
wativa? será que aquele homem que caminha todo pelado -foo² (<- foma) id. de chiar, de zumbir (como a água
está em juízo perfeito? prestes a ferver): mati se mali foo a água já está na fase do
ferve- não-ferve.
-chi id. de ser numeroso e destruitivo: tihomu tite chi
amasin’wini os bois arrasaram a machamba toda! -foo³(<- foma) id. de sentir dores causadas por um grande
esforço ou desgosto: tatana andzikwatisile mbilu ya mina yo
-chukù (<-chukuvanya) id. de se mexer, de se agitar, de foo o meu pai ofendeu-me tanto que até o coração me sangra.
se debater (como p.e. uma gazela presa numa armadilha):
mhunti leyi hi phasiweke lithakene yili chukù a gazela que -gàbà id. de ser largo (como p. e. as orelhas do elefante):
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ndlopfu yini tindleve taku gàbà o elefante tem orelhas largas; estava uma pedra!.
de estar/ser descaído (como os lábios ou as orelhas quando
são demasiadamente grandes): ani minomo yaku gàbà tem -khwa² id. de estar com muita sede (com a garganta a secar):
lábios demasiadamente grandes nkolo wa mina uyo khwa estou com a garganta seca de sede.
-gabì-gabì id. de beber atirando a água à boca com a mão -khwa³ id. de serem iguais como gémeos: lavaya vambirhi
em concha (como quando se bebe num rio): mufana ali vomaha hi ku khwa aqueles dois são tão parecidos como
gàbi- gàbi mati o rapaz bebe água usando a concha da mão. duas gotas de água; de assentar como uma luva: nkhancu
wuyomu khwa o vestido ficou-lhe a matar!
-gi (<-ginya) id. de agarrar de surpresa: mamana ateyi gi
huku a mamã pegou a galinha de surpresa. -khwekè (<-khwekela) id. de estar entalado (p.e. um pedaço
de carne entre os dentes): xinyamani xitè khwekè ka matinyo
-gùbù (<-gubuta) id. de sacudir alguma coisa: kokwana alili um pedaçinho de carne entalou-se nos dentes.
gùbù sangu la yena a avó sacode a sua esteira.
-khwipininì id. de ser curto (o vestuário): xikhipa lexi an-
-gwàdzàà id. de ajoelhar-se (rapidamente): nyanga yitè gayambala xo khwipininì a camisete que ele usou e muito
gwàdzàà kusuhi na mina o curandeiro ajoelhou-se perto de curta
mim.
-kòyò id.de estar bem carregado de frutos (diz-se das árvo-
-gwantla (<-gwatlanya) id. de estrondear (como a porta que res): mangi awuyo kòyò a mangueira estava bem carregada
se fecha com força): xipfalu xitèti gwantla hi mhaka ya moya de mangas.
a porta fechou-se com estrondo por causa do vento; de fechar
violentamente, de bater com a porta (como p.e. no meio de -mbii id. de jazer sem vida em grande quantidade (como p.e.
uma discussão): asuke na akwatile xipfalu ayoyendla hi kuxi as galinhas mortas numa capoeira por causa de uma epidemia
gwantla saiu zangando que até bateu com a porta. aviária: tihuku atiyo mbii xihahlwini um mar de galinhas ja-
zia sem vida na capoeira
-halakàhlà id de fazer um ruído (como p. e. o dos ossos divi-
natórios ao espalharem-se no chão: nyanga yitèti halakahla -mbuxù id.de deitar-se e formar uma massa no chão (como
ntihlolo o curandeiro lançou os ossos. p. e. o hipopòtamo deitado ou uma pessoa gorda deitada):
homu yiyo mbuxù o boi está deitado todo feito uma monta-
-hàtì-hàtì (<-hatima) id.de brilhar, de faiscar, de relampejar, nha.
de reluzir(como quando relampeja): ko hàtì-hàtì svikomba
lesvaku kutana mpfula os relâmpagos rasgam os céus; é sinal -mpfi¹ id de estar demasiadamente cheio (como p. e. num
de que está para chover. comício bastante concorrido): xikolweni kuyo mpfi hi vajon-
dzi a escola está prenhe de alunos.
-hònihòni (<-honisela) id.de adiar , de fazer delongas, fazer
ouvidos de mercador, não ligar conselhos: atè hònihòni vaza -mpfi² id. de pegar de surpresa (como p. e. a um fugitivo que
vamutekela hinkwasvu fez delongas até que lhe tiraram tudo. é apanhado despercebido): maphoyisa matemu mpfi os
polícias pegaram-no de surpresa.
-hònòò (<-honoka) id. de estar com os olhos arregalados, de
estar com os olhos esbugalhados: nimukume na ayo hònòò -mpfù id. de estar aglomerados: timbuti tiyo mpfù xib’aleni
encontrei-o com os olhos esbugalhados sn. dlònyò. os cabritos estão aglomerados no curral.
-karakàrà id. de subir bem rápido (p.e. para uma árvore): -mphaa id. de estar totalmente aberto, de estar escancarado
xipixi xitè karakàrà nsinyeni o gato subiu bem rápido para a (como p. e. uma porta): vatshike xipfalu xiyo mphaa deixa-
árvore. [como fazem os gatos e os macacos]. ram a porta escancarada.
-khèhlè (<-khehleka/za) id. de quebrar (p. e. a cabeça de al- -mphù (<-mphuma) id. de ser estar escuro, de se tornar escu-
guém, com um instrumento contundente):afike akumu khèhlè ro: wusiku liyo mphù é noite cerrada.
nhloko hi bewula chegou e pumba, deu-lhe com o machado -mpsom (<-mpsompsa) id. de beijar, de chupar, de sugar
na cabeça. produzindo um ruído: akangatele mati ka voko akuma mp-
-khìtsì id. de estar carregado de nuvens (como p. e. o céu som. colheu água na concha da mão e sugou ruidosamente.
um pouco antes da chuva):namuntlha kutana mpfula henhla -mpùlu id.de agitar a cauda (p.e. o cão quando vê o dono):
kuyo khìtsì hoje o céu está carregado de, sinal de que vai mbzana yili mpùlu o cão agita a cauda.
chover.
-mpùlu-mpùlu id. de agitar rapidamente a cauda (p.e. o cão
-khwa¹ id. de estar seco (p. e. o pão): pawa aliyo khwa o pão quando vê o dono ou quando se lhe dá de comer): mbza-
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PÁGINA DE ESPECIALIDADE
na yili mpùlu- mpùlu o cão agita a cauda. rapidamente. cf. pupulava a minha machamba.
Mpùlu.
-pompom - pompó (como p.e. a buzina de um
-nàmù (<-namuka) id. de descolar-se, de desprender-se, de automóvel):movha wute pompom o carro buzinou ou o carro
soltar-se (como p. e. a sola do sapato): xifambu xitè nàmù. fez pompó.
o sapato descolou-se.
-psàmbi (<-psàmbita) id. de deitar apenas um pouquinho:
-nchì (<-nchima) id.de estar bem sujo (a roupa): mpahla leyi mamana ate psàmbi svifurhana paneleni a mama deitou só
uyambaleke yiyo nchì a roupa que usaste está bem suja; (fig.) um pouquichinho de óleo na panela.
de ser demasiadamente escuro: mufana lwiya ani ntima
waku nchì. aquele rapaz é demasiadamente escuro. -pshandlà (<-pshandlaka/sa) id. de cair no chão e esbor-
rachar-se .(como p.e. uma papaia bem madura): payipayi
-nciì id. de ir-se embora, de dobrar uma esquina (desapare- pshandla! a papaia caiu e esborrachou-se.
cendo numa esquina ou numa curva): vajondzi vatè nciì os
estudantes dobraram a esquina. -psirrr id.do tocar do apito ( como p.e. para anunciar o fim
de uma partida de jogo de futebol):loko mphepho yiku psirrr
-ncikì id.de estar suspenso (como alguém que se suicidou hi lesvaku xjogo yihelile quando o apito tocar o jogo terá ter-
por meio de uma corda): vamukume na ayo ncikì encontra- minado.
ram-no suspenso na ponta da corda; de oscilar (como o
pên- dulo): xikalo lexi xihayekiweke nsinyeni xili ncikì a -psiyò (<-psiyota) id. de chamar por meio de um assobio:
balança que está pendurada na árvore oscila mufana avitane nthombhi ya yena aku psiyò o rapaz assobiou
para a sua namorada.
-ndangù id. de estar bem cheio (um recipiente, como p. e.
um saco bem cheio): saka riyo ndangù hi mpunga o saco -psuù (<-pshuka) id. de ser vermelho, de tornar-se vermelho
está compleatamente cheio de arroz; (fig.) de estar com o (como quando acende o sinal vermelho no semáforo ou como
estôma- go bem cheio (como se fosse um balão cheio):khwiri o pôr do sol): nkama lowu jambú ringo psuù quando o sol já
ndangù hi tifijawu! Comeu tanto feijão que tem a barriga que se ia pôr!
nem um balão cheio. -rhaxà id. de desdobrar/estender (uma esteira, as pernas):
-ngòyò id. de ser/estar claro, evidente, de ser/estar evidente: holi rhaxà sangu utshama desdobra a esteira e senta-te ayo
mhaka yiyo ngòyò o problema está claro/evidente. rhaxà milenge sentou-se de pernas estendidas.
-ngòyò² id de estar saliente (p.e. as costelas numa pessoa -sudù id. de estar caído ou deitado (de bebedeira, doença ou
magra).: hi kulala, timbambu ngòy. de tão magro até se po- dor profunda): tatana wa wena ayo sudù hi kudakwa o teu
dem ver as costelas. pai está caido de bebedeira.
-ngòyò³ id. de estar bem carregado de frutos (diz-se das ár- -svesvesve id. do soprar bem leve (como p. e. a brisa entran-
vores): mangi awuyo ngòyò a mangueira estava bem carrega- do pelas frestas): laha svimoyana svili svesvesve aqui bate
da de mangas. sn. kòyò. uma brisinha bem leve.
-nhabzà id de saltar, de pular (como faz o sapo): khutla lite -tàma-tàma (<-tamata) id. de andar de vagar (como faz uma
nhabzà lipela matini o sapo pulou para a água. criancinha quando aprende a andar ou um convalescente): ali
tàma-tàma ingi ova xin’wanani anda devagarinho como se
-ntli¹ id. de sufocar (p. e. apertando a garganta): aatèmu ntlì fosse uma criancinha.
hi minkolo estava a sufocar-lhe pelo pescoço.
-tèkiyàni (<-teka) id. de de levar bruscamente, de pegar
-ntli² id. de estar bem cheio (um lugar ou um recipiente): bruscamente: atèli tèkiyàni bukù ahuma pegou o livro com
ndzhava wuyo ntli hi mimangi o cesto está bem cheio de brusquidão e saíu.
mangas.
Triririm - triririm (como por exemplo o toque do telefone)
-pfoò id de fugir: mudlayi aali kola loko avone maphoyisa fone la wena lili triririm o teu telefone está a tocar.
ate pfoò o assassino estava aqui quando viu os polícias fugiu;
de desconversar ou não atinar com o assunto em discussão.: -vàyí-putsù-vàyí-putsù id. de apagar e acender (como faz
mamutwa aku pfoò! oiçam-no fugiu do assunto! um pirilampo).: magezi mali vàyì-putsù-vàyì-putsù kufana
ni xitimandzilwana. as luzes acendem e apagam como faz o
-pi id.de estar em grande número e invandir (em algum lu- pirilampo.
gar): tihomu tiyo pi, masin’wini ya mina uma manada de bois
-vàyìvàyì (<-vayitela) id. de cintilar, reluzir, resplandecer
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Moçambique, à semelhança de muitos países africanos, é Por isso, o argumento segundo o qual promover as línguas
um país multilingue e multicultural, onde, quer por razões nacionais, ao invés do Português, defendido na altura,
sócio- históricas e políticas, quer económicas, culturais e fomentaria simultaneamente a divisão, o tribalismo, o
religiosas, as línguas bantu coexistem, para além da língua regionalismo não deveria ser tomado a sério, pois a unidade
portuguesa, língua oficial, com línguas de origem europeia e linguística não implica necessariamente unidade nacional,
asiática (Firmino: 2000). nem a diversidade linguística resulta inevitavelmente em
divisão.
A Constituição da República de Moçambique, no seu artigo
quinto, ponto um, define a política linguística nos seguintes Mormente, como forma de corrigir o erro cometido
termos: “(i) Na República de Moçambique, a língua aquando da tomada da decisão de se considerar o Português
portuguesa é uma língua oficial, (ii) o estado valoriza as como língua de unidade nacional, ao invés do fomento das
línguas nacionais e promove o seu desenvolvimento e línguas nacionais, o Governo de Moçambique, no âmbito da
utilização crescente como línguas veiculares e na educação transformação curricular do ensino básico, decidiu introduzir
dos cidadãos.” (Lopes:1999), por seu turno o artigo nono da algumas línguas moçambicanas no ensino, tendo em conta
mesma constituição, preconiza a valorização das línguas três modalidades: (i) como meio de ensino; (ii) como recurso
moçambicanas como património cultural e identitário dos e (iii) como disciplinas curriculares (INDE: 2006).
cidadãos.
Hyltenstam e Stroud (1997:27), citados por Rego (2000), 1.2. Sobre as Línguas em Moçambique
destacam os seguintes argumentos como tendo sido os que mais
pesaram, na altura, a favor da escolha da língua portuguesa O papel mais ou menos visível que as línguas hoje
como língua oficial: “era a única língua de comunicação desempenham em Moçambique não deixa de ser reflexo do
mais alargada dentro de Moçambique e era também a língua seu passado histórico, embora algo esteja sendo feito em prol
da valorização das línguas nacionais de origem bantu.
1
Dados extraídos da Tese de Mestrado em Linguística, apresentada em Dezembro de 2009
21
PÁGINA DE ESPECIALIDADE
De uma situação em que pouca ou nenhuma importância se processo sistemático de comparação de uma vasta gama de
deu às realidades etnolinguísticas na fundação e línguas, isto é, investigar factos e explicá-los de acordo com
posteriormente na condução dos destinos do país, hoje pouco as suas semelhanças e diferenças.
ou nada mudou, porque verifica-se que o peso que se tem
dado às línguas nacionais na vida política, económica e social É a partir deste quadro que Hock (1991) considera o
do país continua insignificante. Moçambique optou por uma método comparativo como instrumento que facilita a
solução mais cómoda, que é a solução de continuidade, ou reconstituição das línguas para se chegar à sua possível
seja, tomar como língua oficial a língua portuguesa (Rego: realidade pré-histórica, assim como estabelecer a relação
2000), que, obviamente, estava solidamente enraizada na genealógica da língua.
educação, na administração e na vida corrente do país, Guamba (2002) aponta que o método comparativo é usado
permitindo que continuasse (a LP) com um papel bastante no âmbito da constituição de alguns aspectos da proto-língua,
saliente no panorama linguístico multilingue que é e é igualmente usado na determinação do relacionamento
Moçambique. entre línguas da mesma família a partir de formas cognatas.
Como se sabe, as línguas bantu, em Moçambique, são Crowley (1992) citado por Guamba (op.cit) refere que à
línguas maternas para a maioria das crianças e servem de base semelhança do método comparativo, o método lexicoestatístico
para a sua primeira socialização. Elas são de uso familiar, é uma técnica que nos permite determinar o grau de
intra-étnica, local ou regional, isto é, são usadas em situações semelhança entre duas ou mais línguas através da comparação
informais. Os dados obtidos no Recenseamento Geral da do respectivo léxico seleccionado do vocabulário básico.
População e Habitação de 1997 confirmam que, tal como já
tinha sido indicado pelo Recenseamento Geral de 1980, as Como podemos observar, este método é crucial para o
línguas bantu são faladas por cerca de 93.0% da população nosso estudo na medida em que nos permitirá, a partir da
moçambicana (Firmino: 2000), contrariamente à língua comparação do vocabulário das duas línguas em estudo, da
portuguesa, tida como oficial e de ensino, estimada em 6.0%. lista de frases e o inquérito sociolinguístico determinar o nível
das diferenças e/ou similaridades entre elas.
Cientificamente, está provado que as línguas maternas
desempenham um papel fundamental no processo de Ensino-
Aprendizagem na medida em que as crianças aprendem 3. Sobre o Método lexicoestatístico
melhor quando a alfabetização inicial é feita na sua língua
materna (INDE: 2006), o que, não acontecendo implica O Método Lexicoestatístico tem como objectivo primário
condenar à exclusão social, cultural, económica, uma classificar Dialectos, Línguas, Família de Línguas em árvores
grande camada da sociedade ou negar a sua tradição, a sua genealógicas.
história e a sua cultura. Segundo Simon (1990), “o método lexicoestatístico provém
do termo Estatística e envolve probabilidades, ou seja,
estimativas”.
2. Sobre o Método Comparativo
E Carroll (1973) afirma que o cômputo de frequência é a
Segundo Carroll (1973), a Linguística Comparativaconsidera- base de abordagem deste método, pois consiste na selecção de
se como possuindo uma metodologia rigorosa. Tal método é um número considerável do léxico de duas ou mais
o comparativo, que se ocupa em mostrar a evolução histórica Variedades relacionadas e, numa perspectiva comparativa,
das Variedades e, em alguns casos, em mostrar as origens apuram-se as semelhanças ou diferenças aos níveis lexical,
fonéticas comuns de grupos de Variedades. Isto significa que fonético, fonológico e morfológico. O léxico seleccionado
o método comparativo pode ser usado para comparar deve corresponder ao vocabulário básico. Para tal, devem-se
Variedades numa determinada época, para separá-las ou definir parâmetros como por exemplo, morfologia, semântica,
agrupá-las (estudo sincrónico) assim como para comparar etc. A leitura é feita a partir da percentagem associada a cada
Variedades ao longo do tempo (estudo diacrónico). Este nível em estudo, tendo em conta o parâmetro estabelecido.
método foi usado por Guthrie (1948) na classificação das
línguas bantu. Esta classificação consistiu no estabelecimento Por seu turno Gudschinsky (1964) aponta que o Método
do bantu Comum e no estabelecimento do Proto-Bantu. Um lexicoestatístico (ML) é uma técnica de análise que permite
outro investigador a usar este método foi Gleanson (1972). calcular o momento histórico em que ocorreu a separação
de duas ou mais línguas. Este aponta ainda que este método
De acordo com ele, os passos a seguir para este tipo de permite ao investigador decidir a ordem cronológica de
trabalho são: (i) estabelecimento do Vocabulário Básico diferenciação linguística.
(terminologias ligadas à cultura); (ii) estabelecimento de
pares cognatos (semelhantes na forma fonológica e com o Como podemos ver, à semelhança dos outros acima
mesmo sentido) e exclusão de empréstimos. mencionados, este método é também indispensável para uma
melhor elaboração e percepção do presente trabalho.
Crystal (1987) aponta que o método comparativo é o
22 N° 17 | Outubro, 2011
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Podemos verificar com base nas descrições acima, que o de Pebane. Destas 8 variantes, só na província de Nampula,
número das línguas moçambicanas é apresentado de forma são faladas 5, daí considerar-se a província em que não existe
divergente. Enquanto, por exemplo, Marinis (op.cit) outro grupo étnico (originário) que fale uma língua diferente
considera o Ronga como língua maioritária, Katupha (op.cit), salvo o Ekoti que, por ora, não se tem a certeza se é variante
considera de Macua ou é língua autónoma. Este facto está o aliado à sua
o Shi-tsonga que à partida não é sinónimo do Ronga como situação geográfica central no âmbito das outras províncias
sendo língua maioritária. em que também se fala o Macua e, por outro lado, à
Como podemos notar com base nas abordagens acima reconhecida inteligibilidade mútua entre os falantes das
apresentadas, a questão da situação linguística em Moçambique diversas variantes, o que leva a que se tome a variante falada
apresenta-se ainda bastante controversa e mesmo relativamente em Nampula como sendo a de referência para efeitos de
às listas até aqui apresentadas, alguns estudiosos do panorama padronização da escrita (cf. Afido et al 1989).
linguístico nacional, por exemplo, Liphola (1988) discorda Alberto (1961), baseando-se nos diferentes modos de
da existência quer de oito línguas, quer de quatro línguas falar, considerou, no final dos anos 50, que a área linguística
maioritárias. macua dividia-se em cinco subgrupos a saber: (i) subgrupo
Entretanto, Ngunga (1991), de forma cautelosa, diverge da macua do litoral, de Moma a Memba; (ii) subgrupo macua de
posição dos autores que apresentam listas contendo o número macuana, nos actuais distritos de Nampula, Meconta, Imala,
das línguas moçambicanas. Este, na sua forma de abordar Erati, Mogovolas, Mossuril, Memba, Nacala e Mogincual;
esta problemática, não avança o número exacto das línguas (iii) subgrupo macua metto, em Montepuez, Eráti, Mecufi,
existentes no país, limitando-se a fornecer uma lista longa Mocímboa da Praia e Quissanga ( aqui o autor inclui os
susceptível de constituir uma base de partida para a resolução chirimas de Ribaué e Malema); (iv) subgrupo macua do
do problema. Niassa, localizado nos distritos de Lichinga, Cuamba, Maúa,
Marrupa, Ribaué e Malema; (v) subgrupo macua-lomué, no
Alto- Molocué, Gurué, Ile, Lugela, Milange, Mocuba,
6. Sobre as línguas objecto de estudo Namacurra, Namarrói, Ribaué e Murrupula.
6.1. Emakhuwa
A variedade (P30, Guthrie 1967:71; 52/5/1, Doke 1945) 6.2. Elomwé
é falada no Centro e Norte de Moçambique assim como em
Elomwé é a língua falada maioritariamente na zona norte
algumas regiões da Tanzânia, Malawi e ainda em pequenas
da província da Zambézia e considera-se a variante falada
comunidades em Madagáscar e Ilhas Comores, abrangendo
em Alto Molocué como sendo a de referência (cf. Gardner
mais ou menos 8 milhões de falantes (Kisseberth 2004:547).
1997). Para além dos distritos do norte da Zambézia (Gurué,
Em Moçambique, de acordo com o Censo populacional
Gilé, Alto Molocué e Ile), é falado também na província de
(1997), a variedade Emakhuwa é falada por cerca de
Nampula, sobretudo parte dos distritos de Malema, Ribawé,
3.291.916 pessoas constituindo 27,8% da população.
Murrupula e Moma (Sitoe e Ngunga 2000:67) e abrange uma
Emakhuwa tem 8 variantes, incluindo o Elomwé, assim
população estimada em 1.3 milhões de falantes. Como atrás
distribuídas:
vimos, Alberto (1961) alarga as zonas onde esta língua é
Nampula- Emakhuwa, falada na cidade capital e seus falada, na província da Zambézia. Na classificação de Doke
arredores como Mecuburi, Muecate, Meconta, parte de (1945), o Elomwé pertence à Zona Oriental cujo código é
Murrupula, Mogovolas, parte de Ribáwe e Lalaua; Enahara, 50; Grupo Este - Central 52 (grupo makhuwa); código 5 e ao
falada nos distritos de Mossuril, Ilha de Moçambique, subgrupo de dialectos de Makhuwa, onde recebe o código 1b.
Nacala- Porto, Nacala-a-Velha e parte de Memba; Essaka, Ilustrando, teremos:
nos ditritos de Eráti, Nacarôa e parte de Memba; Esangagi,
parte de Angoche; Emarevoni, parte de Moma e Mogingual e
Elomwé, nos distritos de Malema, parte de Ribáwe parte de
Murrupula e de Moma.
Cabo Delgado- Emetto falado nos distritos de Montepuez,
Balama, Namuno, Pemba, Ancuabe, Quissanga, parte dos
distritos de Meluco, Macomia e Mocímboa da Praia; Essaka,
nos distritos de Chiúre e Mecúfi.
Niassa- Echirima falado em Metarica e Cuamba;
Emakhuwa falado em Mecanhelas, Cuamba, Maúa, Nipepe e
Metarica; Emetto em Marupa e Maúa.
Zambézia- Emakhuwa falado em Pebane; Elomwe em
Gurué, Gilé, Alto Molócue e Ile; Emarevoni falado numa parte
Grupo Línguas / Conjunto Dialectos
de línguas
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P(X&Y) nf= P±Mer ]P-Mer; P+Mer[ lexical situa-se no intervalo de 42,50 a 42,50.
É imperioso, também, calcular a fiabilidade do corpus. Esta De seguida, vamos determinar o nível de fiabilidade.
fiabilidade calcula-se para afirmar com máxima segurança Considerando que a margem de erro ao nível de fiabilidade
que um corpus recolhido num tempo longo apresenta uma de 68% corresponde ao valor do desvio padrão, então vamos
margem de erro menor e num tempo curto a margem de erro é calcular a margem de erro ao nível de fiabilidade de 90%.
maior. Para o efeito, deve-se escolher o nível de fiabilidade. Assim, entre Elomwé e Emakhuwa, temos:
Segundo Simon (1990:3.3.7.), os níveis de fiabilidade
Mer (Elo & Emak)90% = δ×k
dependem do tempo, dos informantes e situação do
levantamento dos dados: Deste modo, o autor avança com os = 0,0022×1,645
seguintes níveis de fiabilidade:
= 0,0036
= 0,004
Tabela 2.- Níveis de Fiabilidade
De acordo com este resultado, a margem de erro nível de
Nível de fiabilidade de 90% é igual a 0,004. Deste modo, a
Fiablidade percentagem de semelhança lexical ao nível de fiabilidade de
Fiabilidade
90% é representada da seguinte maneira:
O corpus é resultado de muitos anos de
trabalho de campo
0,30 P (Elo & Emak)90% = P Mer ] P- Mer ; P + Mer[
] 42,5 – 0,004 ; 42,5 + 0,004 [
O corpus é resultado de curto tempo
0,20
intenso de trabalho de campo ] 42,49 ; 42,50 [
Situação de levantamento média com Assim, podemos estar 90% confiantes de que o valor
0,10
bom informante percentual de semelhanças lexicais está no intervalo entre
42,49 e 42,50.
Situação de levantamento com
0,05
dificuldades na ilicitação bilingue Por isso, a leitura que podemos fazer, a partir destes
resultados, é que a diferença lexical entre Elomwé e
Levantamento com ilicitação
0,01 Emakhuwa é mínima, o que quer dizer que, em termos
monolingue
lexicais, a diferença não é tão grande. Contudo, há sim
algumas diferenças lexicais assinaláveis. A título de exemplo,
podemos destacar as palavras abaixo:
É importante ressalvar que a escolha do nível de fiabilidade
é feita de acordo com a situação em que o investigador
trabalhou. (2).
Terminados estes procedimentos, se o valor achado na Emolwé Emakhuwa Significado
tabela for menor ou igual ao valor mais alto entre os valores
Nahano Mwarusi ‘rapariga’
percentuais comparados, significa que os valores percentuais
comparados são suficientemente diferentes naquele nível de Mokwasha Nakhulu ‘velho’
fiabilidade, caso contrário não são. Mwiili erutthu ‘corpo’
Nrama nlaku ‘bochecha’
Desta maneira, vamos começar por calcular a margem de
erro associada aos valores percentuais entre o Elomwé e o Evaru etara ‘coxa’
Emakhuwa.
A margem de erro entre Elomwé e Emakhuwa é: 0,0022 As palavras representadas acima, dão-nos conta daquilo
que são as diferenças lexicais entre as variedades linguísticas
Assim, a percentagem será representada da seguinte
Elomwé e Emakhuwa respectivamente. Um falante de
maneira: Emakhuwa, por exemplo, não conhece a palavras nahano
P=P δ ]P- δ[;]P+ δ[ ‘rapariga’ e a palavra nrama ‘bocecha’, que em Emakhuwa,
tem um significado diferente (púbis) do da variedade em
]42,5 – 0,0022;42,5 + 0,0022[
estudo. O mesmo acontece com o falante de Elomwé. Este,
]42,498 ; 42,502[ por exemplo não conhece as palavras etara, nlaku. Estas
diferenças criam, de algum modo, obstrução na comunicação
]42,50 ; 42,50[
entre falantes destas variedades linguísticas.
Isto quer dizer que a verdadeira percentagem de diferença
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7.2. Semelhanças fonético-fonológico entre Elomwé evidentes, embora as diferenças se situem ligeiramente acima,
e Emakhuwa o mesmo podendo-se dizer em relação ao nível fonético-
Diz-se que palavras são fonético-fonologicamente fonológico. Este facto leva-nos a entender melhor os porquês
semelhantes quando apresentam a mesma forma e estrutura de alguns estudiosos considerarem a língua Elomwé variante
fonético-fonológica. Vejamos os exemplos que se seguem: da língua Emakhuwa, como é o caso de Guthrie (1967) e
outros. Para nós esta aproximação linguística não pode ser
(3). entendida como sendo o Elomwe, neste caso, uma variante
Elomwé Emakhuwa Significado mas sim línguas que, provavelmente, tenham tido a mesma
língua- mãe e que ao longo dos anos cada uma delas foi
nikhuva [ni-khuva] nikhuva [ni-khuva] ‘osso’
ganhando a sua própria autonomia, resultante de vários
mutekhu [mu-tekhu] mutekhu [mu-tekhu] ‘umbico’ factores, sociais, geográficos e políticos. Embora ao nível
n’tata [n-tata] n’tata [n-tata] ‘mão’ lexical as diferenças sejam mínimas, na prática comunicativa
nipele [ni-pεlε] nipele [ni-pεlε] ‘mama’ esta diferença tem criado alguns ruídos entre os falantes
nikutha [ni-kutha] nha [ni-kutha] ‘joelho’ destas duas línguas, algo que não deixa ninguém
surpreendido por se tratar de duas realidades linguísticas
diferentes.
As palavras acima indicam a semelhança fonético-fonológica
entre as variedades linguísticas em estudo. Da análise por
nós feita, a este nível, constatamos que, das 221 palavras, só BIBLIOGRAFIA
90 palavras (40,7) têm a mesma forma e estrutura fonético-
Afido, Pedro J. 1997. Contribuição para o Estudo do
fonológica.
Morfema do Presente do Indicativo no Emakhuwa.
Como não deixaria de ser, calculámos as margens de erro Dissertação para a Obtenção do Grau de Licenciatura.
e nível de fiabilidade e os resultados que obtivemos revelam Maputo: UEM.
que estas variedades linguísticas não são próximas ao nível
Afido, Pedro J. 1998. Zinisomihiya Osoma ni Olepa Emakhuwa
fonético-fonológico. A diferença situa-se acima de 50%, o
(Como ensinar a ler e a escrever Makuwa). Maputo:
que nos permite dizer que são minimamente distantes. Só
UEM.
para ilustrar, apresentamos abaixo alguns exemplos:
Batibo, H. M. 1997. Lexicostatistical Survey of Bantu
Languages of Botswana. South African Journal of
(4). African Languages. Pretória. 18 (1): 22-29.
Elomwé Emakhuwa Significado Batibo, H. M. 1998. Lexical Survey Of the Setswana Dialects
mweco [mwεt∫o] Mwetto [mwεto] ‘perna’ Spoken in Botswana. South African Journal of
mutchu Mutthu [muthu] ‘pessoa’ African Languages. Pretória. 19 (1):2-11.
[mut∫hu] Bleek, W. 1862. Comparative Grammar of South African
sese [sεsε] Sheshe [∫ε∫ε] ‘quatro’ Languages. Trubner& Co, 60, Paternoster Row.
mwisi [mwisε] Mwishe [mwi∫ε] ‘fumo’ London.
Os exemplos acima, mostram-nos que existe uma Canonici, N. 1975. Manual of Comparative Bantu Studies.
diferença sim ao nível fonético-fonológico entre Elomwé e Durban: Departament of Zulu Languages and
Emakhuwa. Em Elomwé, onde ocorrem os fonemas Literature.
pós-alveolares tt ‘mwetto’e tth ‘mutthu’, na variedade Carroll, J. K, e Trudgill, P. 1980. Dialectology. Cambrige:
Emakhuwa são realizados foneticamente como /t∫/ e /t∫h/, Cambrige University Press
sendo representados na ortografia por c ‘mweco’ e ch
‘mutchu’, respectivamente. O som [∫], que em Emakhuwa é Davis, Laurence M. 1990. Statistics in dialectology. Alabama:
representado pelo grafema sh ‘sheshe’, em Elomwé é University of Alabama
representado por um dos alofones do fone [s] e grafado como Dubois et al s/d. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cutrix.
s ‘sese’(cf. Ngunga e Sitoe 2000).
Ferreira, A. G. E Figueiredo, J. N. s/d. Gramática Elementar
de Língua Portuguesa. Lisboa: Porto Editora.
8. Conclusão Firmino, G.D. 1995. Revisiting the “Language question” in
O presente trabalho tinha como objectivo mostrar algumas Post-colonial Africa. The case of Portuguese and
semelhanças entre as línguas Elomwé e Emakhuwa. Como indigenous Language in Mozambique. University
podemos constatar, ao nível lexical as semelhanças são bem of Coimbra (1985), MA, University of California
Barkly.
27
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1
Pe Armando Ribeiro, C. M., 601 Provérbios Changanas, 2ªedição,
Lisboa,1989, pp. VI-VII. 3 Usamos a expressão no sentido em que a usam Carlos Reis e
2
Holman, C, Hugh e Harmon, William, A Handbook to Literature, Cris- tina Macário Lopes no seu Dicionário de Narratologia (Coimbra,
5ª Ed., New York, Macmillan Publishing Company, 1986, p. 401, apud Gil- Livraria Al- medina, 1987, pp. 344/345)
berto Matusse, op. cit. p. 114.
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cima. Procurar a agulha no palheiro. de artimanhas para enganar os outros. Nem tudo o que
45- Phongo ya cigwere - Cabrito sardento. Ovelha ronho- luz é oiro.
sa. 64- Timhangela tihanya ngu kutala – as galinhas do mato
46- Phongo kha yiveleki ha kubasani – A cabra não pare vivem pela união porque alertam-se quando o inimigo
onde há pessoas. (perigo)se aproxima; a união faz a força.
47- Phongo kha yiveleki ntlambini- Uma boa cabra não 65- Titshokoti tihanya ngu kupfana- As formigas vivem
pare no meio do rebanho. Usa-se para dizer que há pelo entendimento; A união faz a força.
assuntos confidenciais. 66- Ku engisa cisima cawutomi – A obediência é o poço da
48- Nicikhani nomaha tatinene kasi notikuva manzani – vida.
Pensei que estivesse a fazer o bem, mas cortei-me na 67- Kha kuna inthonvuni kopwata mafina – Não há nariz
mão. Quem faz bem mal a ver tem. sem ranho; O erro é humano.
49- Nyakwongomela tshera kha ambali madhowo- Quem
68- Ku hanya matlhari- Viver é uma guerra. A vida é difícil.
caça gafanhoto não usa peles. É preciso ter calma para
todas as situações. 69- Ku dhanwa ngu dhuswa (deve corresponder-se de ime-
diato a um chamamento).
50- Wa likungo mbwalihika- O avarento é ganancioso e in-
vejoso. Diz-se da pessoa que não gosta de dar o que é 70- Ku swela kuhanya una wona yimbwa ya ticheho –
seu aos outros, mas quer que os outros lhe dêm sempre. Quem muito viver verá cão com chifres. Quem muito
Gosta do alheio. viver verá coisas inéditas; nunca vistas.
51- Wo lava ku awe phongo diana m’zumbane, kani?- 71- Kukarala ka livilo ngu kuwa hanzila- O cansar-se de
que- res que eu faça a escolha por ti? À letra: queres quem corre é cair no caminho. É preciso perseverar;
que diga: cabra, coma este ou aquele tipo de erva? cor- rer e correr sempre, parar só em caso de
cair(queda).
52- Wa kudia sakwe khana liwondjo – O que come o que é
seu não tem ferida; isto é, o que come o que é seu não 72- Kutlhariha kapalwa ngu kudivala- a esperteza é
deve temer. Quem não deve não teme. vencida pela “calma”. No sentido de o calmo parecer
(néscio).
53- Wa mwana afela habanza – o homem deve ser deste-
mido. 73- Kufa ngu rwama – Morrer é dormir. É fácil morrer.
74- Kusasa ngu tinyela – Quem faz bem, mal a ver tem;
fazer bem é borrar-se.
54- Unga hinge khukhu ninyu manzani - Não persigas a 75- Kunyela mpakato- defecar sobre o cajado; morder a isca
galinha com sal na mão. Sê calmo. e sujar o anzol; não se mostrar agradecido depois de re-
ceber um favor.
55- Unga kungele ngume yinga kuluma – Não ponhas o es-
76- Kunyela ingalavani – defecar no barco, mostrar-se
corpião no regaço; Tenha cuidado com as tuas amiza-
ingra- to. Morder a isca e sujar no anzol.
des.
77- Kunya ha, una dula hani cibowa- Defecas aqui, onde
56- Unga lave kuziva ta m’thamba udinkwakwa- Não pro-
vais apanhar cogumelos. Diz-se de um ingrato.
cures saber o que não te diz respeito.
78- Kwora indilo wa cirengeleni – Aquecer-se com o lume
57- Unga lave kuziva ta intungwe udi phanzekelani- Não
que cabe num pequeno pedaço de panela de barro
procura saber coisas do quarto estando na sala.
(caco);Comer o pão que o diabo amassou.
58- Unga timahe mjhindo wo hiyela kule- não te faças pal-
79- Kwembelwa ngu tonwa- Ouvir dizer é perder.Veja com
meira que varre longe e deixa a sua base suja. os próprios olhos.
59- Tikhawu tosekana mahoko – Os macacos riem-se das 80- Ku tshukuruka kkweda uciambala nganju – ascender
olheiras dos outros. Não atires pedras ao telhado do vi- a olhos vistos. Diz-se de uma pessoa que passava
zinho se o teu também for de vidro. necessi- dade e de um momento para outro passou a
60- Tshokoti yaxula ndzofu- A formiga vence o elefante. uma grande abastança.
Nem sempre o que tem mais corpo é o mais forte. 81- Kuziwa kapala kutshura – Mais vale ser conhecido do
61- Tshenge yidawa nguliveleko – A bananeira é morta por que ser bonito.
causa dos filhos(bananas). 82- Kutshura ngu tilwela- Estar bem parecido (bonito) é
62- Cinyana ca cwemba kwadi khacivatelwi dipale- Não se uma luta.
caça o pássaro que canta bem. 83- Kusinya wurena- Dançar é zangar-se. De facto, nalgumas
63- Cinyana citheketisa mathevele (cihunza madwali)- vezes, é preciso tanto vigor para se sair bem na dança!
Pássaro que faz entoranar água às mulheres que voltam 84- Kupekana ngu maranga ovitwa- Baterem-se com abó-
da lagoa pelos malabarismos que faz, as mal avisadas baras maduras; desenvolver uma confinça recíproca.
distraem-se e zás, lá se vai a água. Diz-se de quem usa
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75. U nga xave msingo, a si nzi kuvelekwa mwanana. 87. Wutxhari kha wu heti dilembe.
Não compres o pano de trazer a filho às costas, antes dele A esperteza não termina o ano (sem ser descoberta)
nascer
Burla com dano não acaba o ano.
Não deites foguetes antes da festa
88. Wutomi kha wu xawi.
76. U nga time mndilo ngu mndilo
A vida não se compra.
Não apagues o fogo com o fogo
A vida é só uma.
Não deites lenha na fogueira
89. Maduka kha ma woni.
77. U nga thembe m’thu ngu kuwona khohe
A nuca não vê.
Não confies em alguém só por ver a cara
O ausente nem ouve nem sente
dele. A gente vê caras, não vê corações.
90. Didhowo va peta di txi nakana.
78. U nga dhane yimbwa, u d ni mgoba mnzani
Dobra-se a pele enquanto está verde.
Não chames um cão com um pau na mão.
De pequenino se torce o pepino
A quem hás-de rogar não hás-de assanhar.
91. Lifo kha.li na diso.
79. U nga kuletele txisima
A morte não tem
Não estragues a fonte.
olho. A morte não
Não sujes a água que hás-de beber.
escolhe.
80. U nga pe, sako sa ta ni nzila
92. kudhanwa ngu dhuswa.
Não roubes, o que é teu vem a caminho
Ser chamado equivale aser advertido.
O que é nosso à mão nos há-de vir ter.
Toda a vocação é uma responsabilização.
81. U na dya sa mnyuko.
93. kudya ngu kuengeta.
Comerás do teu suor.
A boa refeição pede repetição.
Aprender à própria
Encontro feliz pede repetição
custa
94. Mabihane a biha ni sakwe.
82. Vo veleka mmidi, kha va veleki mbilo.
O mau é mau com as suas coisas.
Dão à luz o corpo, não dão à luz o coração
Não digas mal de que precisas.
Nem sempre o filho sai ao pai.
95. Mame i mame.
83. Awú a zivako ngu wule a wotisako.
A mãe é mãe.
Sabe aquele que pergunta.
A mãe é sempre mãe
Se queres saber pergunta.
96.Mati ma di thekete kha.ma rolelwi.
84. Wurenawu xulwa ngu kumalala.
A água entornada não se pode
A ira aplaca-se com a paciência.
apanhar. A água vertida nem toda é
É com águaque se apaga o fogo.
recolhida.
85. Wusiko kha wu na ndena.
97. Mkolo kha wu na wusiwana.
A noite não tem herói.
A garganta não sente o dó
Há certas circunstâncias em que toda a virtude é pouca.
Para comer não há feriado
86. Wusiwana wa hombe, wona ngu mame a di endile.
98. Txisofu txa dayisa.
A verdadeira desgraça é a ausência da mãe.
A boca causa a morte.
Não há maior desgraça que não ter mãe.
Pela boca morre o peixe
99. U nga dye mbuva, u txi divala nzila.
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Não tomes o farnel, esquecendo-te do caminho. tografia diferente daquela que adoptamos, aliás, a que
Pensa no futuro. corresponde à pdronização da ortografia das línguas
moçambicanas.
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cinzas dessa mesma cobra”. O irmão mais novo foi e O narrador também mostra que o uso abusivo e desenfreado
encontrou a cobra e então cantou a mesma canção: dos recursos da Natureza traz consequências nefastas ao
Ndala, Ndala minga, próprio Homem e pode até levar à morte, ao relatar que após
a insistência da mulher, o homem voltou à cobra e acabou
Etc. morrendo, envenenado pela picada da mesma. O narrador
Pensando a cobra que era um outro homem que vinha à também ilustra que a cura dos problemas causados pela Natureza
procura de ovos, respondeu da mesma forma. Mas quando o está na própria Natureza, conforme ficou demonstrado pela
rapaz chegou ao pé da cobra atirou-lhe uma “azagaia”que lhe exigência de que o tratamento para a cura do marido morto
trespassou a cabeça, a cobra morreu e transportou-a, tendo fosse encontrada na cobra que o matou.
feito uma maca onde colocou o irmão.
O feiticeiro incinerou a cobra e com as cinzas fez umas
papas que deu a tomar ao morto, que logo vomitou e 3. Conclusão
despertou. Da análise feita ao conto oral “Os Desejos da Mulher
Os irmãos disseram à mulher: “Por tua causa, íamos perder Grávida”, pode-se inferir que o mesmo desempenha um papel
o nosso irmão. És uma mulher indigna de pertencer à nossa educativo de extrema importância no que concerne à relação
família. Vais ter o filho, que é nosso, por isso permanecerás que deve ser estabelecida entre o Homem e a Natureza, mais
entre nós até lá. Depois entregar-te-emos aos teus”. concretamente na necessidade de razoabilidade de exploração
pelo homem dos recursos proporcionados pela mãe Natureza.
Foi assim que foi repudiada a mulher grávida que tinha Infere-se também que a preocupação pelo uso equilibrado de
desejos esquisitos” (Rosário, 2001, pp.77-79) recursos é uma questão antiga e actual, embora na actualidade
Este conto é um exemplo típico do papel educativo seja mais evidente, derivada da cada vez mais crescente,
desempenhado pelos contos nas sociedades de cultura oral. desenfreada e inconsequente pressão do Homem sobre os
Apesar deste conto mostrar os costumes do povo do Vale do recursos existentes na Natureza.
Zambeze, a nossa análise cingir-se-á apenas na relação entre
o Homem e a Natureza, uma vez que a análise sobre os
costumes deste povo já foram objecto de reflexão por parte de
Rosário (2008). Referências Bibligráficas
Neste conto, o narrador procura mostrar a relação Homem/ Altuna, P.R.R. (1985). Cultura Tradicional Banto. Luanda:
Natureza indicando com clareza quais devem ser as atitudes Secretariado Arquidiocesano de Pastoral
do ser humano face à mesma. O narrador demonstra que o
Homem se serve da Natureza para se alimentar e sobreviver, Junod, H.(1996). Usos e Costumes dos Bantu. Tomo 2. Maputo:
ilustrado pelo facto do marido ir ao mato procurar ovos de Arquivo Histórico de Moçambique
animais selvagens para sacear os desejos da sua esposa Rosário, L. (2002). Contos Moçambicanos do Vale do
grávida. Todavia, este mesmo narrador revela-se conhecedor Zambeze. Maputo:
da importância do uso equilibrado dos recursos proporcionados
pela Natureza quando expressa, através do canto, o alerta que Rosário, L. (2008). A Narrativa africana de Expressão Oral.
a cobra deu ao homem ao dizer que atenderia o seu pedido e 2ª Edição. Maputo: Texto Editores
daria os ovos, mas o avisava para que não abusasse. Este
aviso é importante para o Homem, no sentido de que ninguém
deve fazer uso abusivo daquilo que existe na Natureza.
Essa consciência em manter uma relação equilibrada
quanto ao uso de recursos da Natureza também é manifestada
pelo marido quando, após oferecer os ovos da cobra à sua
esposa e esta continuar a insistir em querer mais, diz:
“Mulher, os ovos são seus filhos, não há mãe que deixe que
lhe comam os seus filhos sem reagir”.
Neste conto, o narrador evidencia que o homem abusa da
Natureza, por mero capricho, retirando os seus recursos,
mesmo quando não precisa deles, ao afirmar que o marido se
aproximou da cobra e retirou alguns ovos que levou à esposa
que os consumiu cozidos, crus, assados, mas insistiu ao
marido que voltasse à cobra e trouxesse mais ovos.
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ELISÃO
Nas línguas bantu, estes sons também se podem combinar, O encontro entre duas vogais pode resultar na elisão de uma
tal como as vogais. das vogais. Observemos os exemplos abaixo:
Da combinação entre os vários sons (vogais e consoantes) Exemplo (1)
podem resultar fenómenos variáveis de língua para língua.
Tais fenómenos podem ser explicados pela fonologia, a) manu (cl6) /ma-inu/ ‘dente’
através de regras fonológicas aplicadas na resolução dessas maso (cl6) /ma-iso/ ‘olhos’
combinações.
cala (cl7) /ci-ala/ ‘unha’
sala (cl8) /si-ala/ ‘unhas’
3. FONOLOGIA SEGMENTAL
b) –bhala -bhate /bha-it-l-e/ ‘escrever’
DA LÍNGUA COPI
-wona -wone /wo-il-n-e/ ‘ver’
1.1. Sistema Vocálico
O sistema vocálico da língua Copi apresenta cinco (5) vogais
fonémicas conforme ilustra a tabela a seguir: c) ndzilani < ndzlila + ini ‘na rua’
nyumbani < nyumba + ini ‘na casa’
Tabela 2: Vogais da língua Copi ndzumani < ndzuma + ini ‘na chuva’
thembweni < thembwe + ini ‘na machamba’
Anterior Central Recuada Em (a) temos exemplos de nomes em que o encontro
Fechadas/ i u entre as vogais do prefixo nominal e a do tema nominal é
Altas resolvido pela elisão de uma das vogais.
Semi-abertas/ e o Se repararmos há uma sequência do tipo [a+i] e [i+a], mas
Médias em ambas as sequências a vogal que prevalece é a vogal baixa
[a], podendo esta regra ser representada como:
Aberta/ Baixa a
i. [a+i → a] / [i+a →a]
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000)
Em (b), embora as palavras sejam de outra categoria
lexical, verbos, a elisão no radical verbal acontece como
Tal como foi apresentado anteriormente em relação às resultado de um processo de imbricação1 do sufixo que marca
vogais das línguas moçambicanas, estas foram reduzidas a o perfectivo
cinco, do Proto-bantu. -il-e.
Nesta língua, embora a penúltima sílaba da palavra seja Em (c) são apresentados exemplos de elisão da vogal [i] do
sempre longa, esta não é marcada na escrita, pois a duração sufixo locativo (-ini-).
vocálica, na língua Copi, não é fonémica. Esta regra pode ser formalizada como:
ii. V → ø ⁄_ V ou ainda V → ø ⁄ V _
1.1.1. Processos fonológicos envolvendo vogais [+alt; +ant] [-alt] [+alt;+ant] [-alt]
Tal como muitas línguas moçambicanas, a língua Copi não Isto significa que a vogal [i] quando se encontra com uma
é favorável à encontros de vogais. Por isso, quando a outra vogal média ou baixa, independentemente da posição
morfologia ou a sintaxe cria condições para que tal aconteça, em que se encontra é elidida.
a fonologia da língua encontra formas de resolver o problema,
desfazendo o encontro, utilizando diversos mecanismos de
acordo com a qualidade e a sequência das vogais envolvidas.
A seguir apresentamos de forma discriminada os processos
que envolvem vogais. 1
Cf. Ngunga 1998. Imbrication in Ciyao. In Maddieson, I. &Hin-
nebusch, T. J. (eds), Language History and Linguistic Description in Africa.
2: 167-176
42 N° 17 | Outubro, 2011
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SEMI-VOCALIZAÇÃO
INSERÇÃO Um outro processo que se aplica na resolução de hiatos é o
Outras vezes a língua recorre à inserção de uma glide como da semi-vocalização. Considerem-se os seguintes exemplos:
recurso para evitar o encontro entre duas vogais. A natureza Exemplo (3)
da glide depende da natureza das vogais em causa.
a) mwanana /mu-anana/ ‘criança’
Exemplo (2)
mwani /mu-ani/ ‘genro’
a) Kuyengisa /ku-engisa/ ‘ouvir’
Kuyengeta /ku-engeta/ ‘aumentar’
b) thombvwini /thombvu-ini/ ‘no nariz’
Kuyema /ku-ema/ ‘parar’
Kuyengetela /ku-engetela/ ‘aumentar’
c) cibhajyana /ci-bhaji-ana/ ‘vestidinho’
[u + e → uye]:
Como se pode ver nos exemplos em (a e b) a vogal [+alt;
+rec] sofreu uma semi-vocalização ao se encontrar com as
b) Kuyaneka /ku-aneka/ ‘estender’ vogais [+baix] e [+alt; +ant], tornando-se assim em [w]. Em
c) temos uma situação em que a vogal do tema nominal se
Kuyamukela /ku-amukela/ ‘receber’ encontra com a vogal do sufixo descontínuo que marca o
[u + a→ uya]: diminutivo e sofre, no entanto, uma semi-vocalização. Neste
caso, por se tratar de uma vogal [+alt; +ant], em posiçãio
primária, esta muda para [y].
c) Kuyimbelela /ku-imbelela/ ‘cantar’ Como se pode oobservar mais uma vez, a escolha da glide
[u + i → uyi] não é aleatória, só a vogal [+alt; +ant] é que passa para [y] e a
vogal [+alt; +rec] é que passa para [w].
Esta regra pode ser formalizada da seguinte como:
d) kuwola /ku-ola/ ‘recolher lixo’
iv. V→ G/ _ V
[u + o → uwo]
Segundo os dados acima analisados constatou-se que nesta
língua o encontro entre vogais pode ser resolvido através de
e) kuwuka /ku-uka/ ‘acordar’ processos como a inserção, a elisão e a semi-vocalização.
Cada um destes processos é condicionado pela natureza das
kuwulela /ku-ulela/ ‘entrar’ vogais.
[u + u → uwu]
1.2. Sistema Consonântico
Após uma análise do comportamento dos sons vocálicos,
Como podemos observar nos exemplos acima, passaremos, em seguida, a analisar o comportamento dos sons
independentemente da natureza da vogal, quando uma vogal consonânticos, procurando ver os processos fonológicos que
se encontra com a vogal alta, recuada [u] há inserção de uma os envolvem.
glide para resolver o hiato. A natureza da vogal só vai
influenciar na escolha da glide. Como ponto de partida apresentaremos o quadro das
consoantes da língua Copi.
Esta regra pode ser formalizada da seguinte forma:
A língua Copi apresenta as seguintes consoantes;
iii. V+V → VGV / V V
Se repararmos para a natureza da primeira vogal notaremos
que se trata de uma vogal [+alta; +rec] [u], que ao se Tabela 2: Consoantes da língua Copi
encontrar com qualquer outra vogal condiciona a inserção de
uma glide. Essa glide pode ser [w] quando as vogais de Modo \ Bilabial Labio- Alveolar Palatal Velar Glotal
encontro são [u, o] e [y] quando as vogais de encontro são [a, Ponto dental
e, i]. Oclusiva p bh t dh c j k
g
43
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nrumbu ‘barriga’
Nasal m n ny
ng’ nsuka ‘mosquito’
Fricativa f v, vh s z x h
sw zw
Africada ps bz pf bv ts dz b) ŋkondo ‘pé’
Implosiva b d ŋguwo ‘capulana’
Vibrante r
simples c) mbiya ‘loiça’
Aproxim- v y w Os exemplos acima mostram a assimilação do ponto de
ante articulação da consoante seguinte (do tema nominal) por parte
Aprox. l da nasal do prefixo nominal.
lateral
Em (a) a nasal tomou o traço [+alv] por causa da africada
Fonte: Sitoe & Ngunga (2000) alveolar [dz]; em b) a nasal toma o traço [+velar] por causa
das oclusivas velares [k; g] respectivamente, e em c) a nasal
toma o traço [bilabial] obviamente pelo traço da oclusiva
De salientar que as oclusivas [b] e [d] escrevem-se·h e dh, bilabial [b].
respectivamente para se distinguirem das implosivas [b] e [d],
que se escrevem b e d, respectivamente. Um outro processo que ocorre no encontro entre duas
consoantes é o da elisão, e este tal como nas vogais também
Exemplo (4) decorre do processo de imbricação. Este processo, tal como
nas vogais, acontece em palavras com a categoria de verbo. A
Kubhika ‘cozinhar’ elisão no radical verbal acontece como resultado do processo
de imbricação do sufixo que marca o perfectivo -il-e.
Kubika ‘apresentar queixa’
Exemplo (7)
(1) -dhan- -dhan-e /-dha-il-n-e/ ‘chamar’
Kudhaha ‘fumar’
-khur- -khur-e /-khu-il-r-e/ ‘saciar’
Kudola ‘furar’
-won- -won-e /-wo-il-n-e/ ‘ver’
PÁGINA DE ESPECIALIDADE
Para além dos processos acima referidos ocorre, ainda, Dos Santos, F. L.1941. Gramática da Língua Chope.
nesta língua o processo de modificação das consoantes por Impren- sa Nacional de Moçambique. Lourenço
palatalização e este processo é marcado pela glide y. Marques.
.
46 N° 17 | Outubro, 2011
Em foco: Em Foco:
Sociedade Bíblica de Moçambique Ualalapi de Ungulani Ba kha Khosa: Diálogos com a História
Valente Tseco Nataniel Ngomane
José Craveirinha e Eduardo White: apontando algumas O plural dos nomes da classe 9 em Shimakonde
nuances dos projectos literários.
Rosa Da Conceição Remy João Mitelela
Luís Cezerilo
Reflexões em torno da racionalização linguística nos países
africanos pós-coloniais
Pércida Langa
Nº 13 (Abril de 2009)
Página de especialidade: Em foco:
Análise contrastiva as formas de cumprimento entre The link between education and development
Português e Emakhuwa
Lurdes da Balbina Vidigal Rodrigues da Silva
Maurício Bernardo
Nº 14 (Outubro de 2009)
Página de especialidade:
Sobreviver…e depois? Uma nota sobre os sobreviventes da
noite de Ungulani Ba Ka Khossa
Gilberto Matusse
Em Foco:
Estudos sobre a timbila dos Vacopi (Vatxopi). Parte I
Valdemiro Jopela
Nº 15 (Abril de 2010)
Página de especialidade:
Morfofonologia da marca do passado na língua Copi
Nelsa João Nhantumbo