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Universidade licungo

Faculdade de letra e humanidade

Curso de português

Américo Mário Américo

Fátima Viano Mandava

Fernando da paz

Fortunato Jorge João vicente

Ivone gore

Variação das consoantes do português de Moçambique

Beira

2022
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Américo Mário Américo

Fátima Viano Mandava

Fernando da paz

Fortunato Jorge João vicente

Ivone gore

Variação das consoantes do português de Moçambique

Trabalho de fonética e fonologia


de português 1 para questões
avaliativas a ser apresentado no
departamento de língua e
comunicação.

Docente : MA. Pascoal Guiloviça

Beira

2022
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0.0 Introdução
A língua portuguesa é considerada a língua oficial em Moçambique e, a maioria dos
moçambicanos têm na como língua segunda. No processo de comunicação é notável a
algumas variações motivadas pela interferência das línguas bantu nacionais, por parte dos
falantes dependendo da região do pais. É na vertente variação consonântica do português que
o trabalho irá debruçar, com a intenção de compreender os processos que interferem na língua
portuguesa, nas três regiões do pais, identificar os aspectos fonéticos peculiares que ocorrem
dentro das variações, sobretudo em relação as consoantes oclusivas orais, líquidas laterais e
vibrantes.

De salientar que, para efectivação deste trabalho recorrermos à consultas bibliográficas.


Esperamos que este material seja um subsídio importante para o esclarecimento de fenómenos
linguísticos que ocorrem na comunicação oral dos falantes do português em Moçambique.
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CONTEXTO HISTORICO DO PORTUGUES DE MOCAMBIQUE

A língua portuguesa foi herdada pelos moçambicanos no acto da colonização portuguesa.


Mas, naquele momento, eram poucos os moçambicanos nativos que podiam falar esta língua,
visto que o número de analfabetos era elevado. Depois da independência, o Estado
Moçambicano adopta-a como língua oficial e incrementa-se o número de falantes porque o
número de pessoas a frequentar a escola também sobe, por exemplo, de acordo com os dados
estatísticos do Censo Populacional Moçambicano de 2017, a taxa de analfabetismo baixou de
50.4% em 2007 para 39% (INE, 2019). Outrossim, o fluxo populacional do campo para a
cidade e vice-versa, faz com que a língua portuguesa seja a única a ser usada para as
transacções comerciais, profissionais, religiosas, políticas e culturais. Veja-se também que
nem todos esses falantes, utilizavam o português corrente, por não serem escolarizados.
Portanto, consciente de que em interacções verbais em língua portuguesa, entre vários grupos
sociais de comunidades linguísticas diferentes, como por exemplo, na conversa entre amigos
na rua, vizinhos no bairro, colegas de escola, grupos de whatsap, colegas de trabalho,
pescadores, vendedores dos mercados, entre outros, há desvio da norma da língua portuguesa.
Moçambique, sendo um país multilingue, de acordo com os dados do Instituto Nacional de
Estatística, publicados pelo Ministério da Educação (2010), avançado por TIMBANE (2012,
p.2); conta com vinte e uma Línguas Bantu (LB) e uma língua europeia - o Português, que é
oficial, segundo a Constituição da República do país e falado por 10.7% dos moçambicanos.
Todavia, não se pretendem excluir os espaços ocupados pelo inglês e francês em
Moçambique, fruto das políticas linguísticas adoptadas pelos governos moçambicanos, depois
da independência.

De acordo com o mesmo autor, a língua portuguesa não é falada pela maioria da população,
pois maior parte dela (cerca de 85.2%) fala as LB. Uma vez que uma língua nunca é estática,
o português encontra-se, neste caso em constante desenvolvimento. Logo, neste percurso
evolutivo da língua portuguesa, entram em jogo factores de vária ordem: uns inerentes a
própria língua, os chamados factores internos e outros factores inerentes às comunidades de
fala, que provêm do seu contacto com as outras línguas. Deste modo, de acordo com a
localização, género, a língua materna, nível de escolaridade, profissão, faixa etária, a língua
portuguesa sofre ora mudança, variação ora alternância linguística.

1.1 Variação Linguística

É verdade que a língua é um fenómeno social, isto é, ela é criação do homem enquanto um ser
social, que necessita de comunicar com outro que lhe é semelhante. Embora os signos
linguísticos e as estruturas linguísticas de base das línguas criadas por uma determinada
comunidade de língua sejam comuns, nem todos os membros das famílias falam da mesma
maneira. Para elucidar mais o que se disse anteriormente, COELHO (2010, p. 27),
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Segundo Maria Xavier & Maria Mateus (s/d: 392) variação é o” fenómeno pelo qual uma
determinada língua nunca é, numa dada época, lugar e grupo social, igual ao que era numa
outra época, num outro lugar e num outro grupo social”.

seguindo a visão de LABOV, escreve:

1111. Como se vê, para a língua garantir a sua sobrevivência, recorre ao fenómeno variação
nas diversas áreas que a compõe, como por exemplo, léxico, fonologia, morfo-fonologia,
morfossintáctica, semântica, entre outras áreas. A visão variacionista da língua, de Labov é
uma crítica à linguística pura de Saussure, que não admite a influência dos factores externos
da língua para a sua evolução.
Para Labov, o estudo de uma língua não pode cingir-se apenas aos aspectos internos inerentes
a própria língua, mas também à análise dos factores externos que influenciam a ocorrência de
variação linguística que concorrem para a emergência de uma variante de língua. Todavia,
admite-se que as características particulares que marcam esta variante devem apresentar uma
estabilidade ao longo de um período razoável de tempo e sustentada pela comunidade de fala
ou linguística. De acordo com a citação em análise, os factores que podem determinar a
diferenciação de variantes linguísticas são os de ordem geográfica e social. Entretanto,

TARALLO e LABOV citados por BORSTEL (2014, p. 4), admitem também que a variação
e/ou mudança linguística ocorre por factores propriamente linguísticos.

É por esse motivo que COELHO (2010, p.25) diz que “a variação é algo ligado à língua, por
isso não compromete o seu sistema linguístico nem a possibilidade de comunicação entre os
falantes, mas sim constitui uma riqueza em termos de significado social, e têm o poder de
comunicar a nossos interlocutores mais do que o significado representacional pelo qual
disputam”. Assim, apesar de diversidades na forma de uso de certa língua, este factor não
ditará que esta seja melhor ou pior que a outra, mas sim, continuará exercendo seu papel na
sociedade.

O português, no caso específico de Moçambique, não está alheio às situações descritas nos
parágrafos acima. Ele está também sujeito a variações que, de acordo com TIMBANE (s.d),
p.3), «é sempre potencialmente um impulsionador de mudança. Como a mudança é gradual, é
necessário passar primeiro por um período de transição em que há variação, para em seguida
ocorrer a mudança». Segundo o mesmo autor, a mudança e a variação estão estreitamente
relacionadas, por isso, é muito difícil estudar uma sem estudar a outra.

De acordo com a pretensão do presente estudo, interessa, pois destacar as definições de


BORSTEL (2014, p.5), segundo as quais, variações linguísticas são «maneiras de dizer as
coisas, mas de forma diferente» e a de TIMBANE (S/A, p.3), que descreve a variação
linguística «como a forma que uma determinada comunidade linguística se diferencia de
outra, sistemática e coerentemente, tendo em conta os contextos sociais».

Concluindo, atinente à variação linguística, é preciso sublinhar o seguinte:

em primeiro lugar, a ideia de que um conjunto de características lexicais ou gramáticas


adquire o estatuto de variante linguística pelo simples facto de subsistir numa comunidade
linguística, como é caso de (moçambicanos). Em segundo lugar, que todas as variantes têm
idêntico interesse e dignidade enquanto objecto de estudo, uma vez que todas elas são
sistemas organizados por uma gramática. Assim, tanto é uma variante do português com
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interesse científico, por exemplo, aquela que sistematicamente se flexiona às formas da


segunda pessoa do singular do pretérito perfeito simples por analogia do presente do
indicativo; ou aquela variante, tão frequente em muitas regiões do país e grupos populacionais
(PERES & MÓIA, 1995, p. 35).

2. Consoante
Consoante é uma das grandes categorias usadas para classificação dos sons da fala.
Articulatoriamente, é um som produzido com uma obstrução ou estreitamente do tacto vocal
em que a passagem do ar é completamente bloqueada ou tão restringida que se verifica uma
fricaҫão audível. Do ponto de vista fonológico, as consoantes são unidades que funcionam nas
margens das sílabas. MARIA XAVIER & MARIA MATEUS (s/d: 91).

2.1 Consoantes oclusivas


Consoantes oclusivas caracterizam-se por dois momentos fundamentais: o momento de
silêncio que corresponde a oclusão (isto é, ao momento em que os articuladores interrompem
completamente a passagem do fluxo de ar) e o momento da explosão, que se deve ao
afastamento rápido dos articuladores, o que permite a libertação, sob pressão, do ar
acumulado atrás do ponto de oclusão. MIRA MATEUS e tal(2005: 128).

Exemplo:

[p, b, t, d, k, g]

2.3 Consoantes liquidas laterais e vibrantes


É uma consoante que combina uma oclusão e uma abertura da cavidade oral de um modo
simultâneo. Caracteriza-se por um grau de sonoridade próximo das vogais e o seu aspecto
acústico apresenta características vocálicas, como uma estrutura de formantes acentuada.

Exemplo

[l, λ, r e R]

2.4 Consoante vibrantes


Consoante produzida através de batimentos rápidos de um dos órgãos articuladores contra
outro. Em português esses batimentos podem ser produzidos pela ponta da língua contra os
alvéolos ([r] apical), como na palavra “caro”, ou pela úvula ([R] velar), como na palavra
“carro”.
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3. Variação consonântica do Português em Moçambique


Variação consonântica do PM é a produção de sons consonânticos que variam de região para
região, ou de grupo social para outro.

Português falado no território moçambicano é caracterizado pela influência crescente que vem
sofrendo de várias línguas, alterando muitas vezes a norma adoptada. Olhando no ponto da
interferência bantu que o PM sofre é de salientar que um dos principais factores dessa
variação é por Moçambique ser um país multilingue.

O falante que tem a língua bantu como a sua língua de maior uso quotidiano, tende a carregar
traços desta para a língua portuguesa, e por não ter um contacto regular com falantes modelos
do português, isso acaba anulando a possibilidade do falante criar a diferença entre o seu
português (PM) do português padrão.

4. Interferência de línguas Moçambicanas no Português


Segundo Leonarda Minezes (s/d: 8) “o tipo de interferência negativa mais comum quando
uma pessoa aprende uma língua não materna é o fonético, sobretudo aquele que se relaciona
com a produção de sons quando alguém tenta pronunciar palavras isoladas”.

5. Interferências Fonéticas
Os efeitos dos erros de carácter fonético na comunicação podem ser diversos, como se pode
ver:

5.1 Zona Sul

5.1.1 Xichangana
1. Inserção de nasal: Õ→[nas]

Convinte [kõvĩtɨ] ‘convite’

Enkonomiya [ẽkonoma] ‘economia’

Enzagero [ẽzaʒeRu] ‘exagero’

Enzame [ẽzamɨ] ‘exame’

Enzixte [ẽziʃtɨ] ‘existe’


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Os dados em (1) ilustram a inserção de uma nasal em posição entre uma vogal e uma
consoante em certas palavras. Esta interferência não tem nenhuma relação directa particular
com algo que acontece na língua, mas é comum em quase todos os falantes da língua
changana, língua predominante em duas das três províncias do sul do país, Gaza e Maputo. É
uma das características mais marcantes do Português falado por locutores falantes de
Changana como língua materna. Contudo, apesar de constituir um forte ruído para o ouvinte,
este “erro” geralmente não afecta a comunicação, pois as formas lexicais daí resultantes não
coincidem com nenhumas outras existentes na língua portuguesa. Mas o mesmo não se pode
dizer de outros tipos de interferências que resultam das dificuldades de o falante produzir o
som lateral palatal, como se pode ver em (2).

2a. Fricativização do som líquido palatal: [-cor, +alt] [-alt]

Fahla [ᴗfaλa] ‘falha’


Muhleri [muᴗλeri] ‘mulher’
Trabahlo [trabaλu] ‘trabalho’

2b. Alveolarização do som líquido palatal: [-cor, +alt] [+cor]

Fala [fala] ‘falha’

Muleri [muleri] ‘mulher’

Trabalo [trabalo] ‘trabalho’

Não existindo o som líquido palatal [x] no repertório fonético da língua changana, da primeira
tentativa de produção deste som acaba produzindo um som semelhante, mas que não existe na
língua alvo, o som lateral fricativo palatal [λ] no lugar do lateral palatal [x] (2a). O falante
socorre-se do som lateral alveolar [l] existente também na língua materna para o lugar dos
“estranhos” [x] e [λ]. Inexplicavelmente, a primeira solução (2a) é mais frequente em pessoas
de nível de escolaridade elementar-médio e a solução (2b) é “preferida” por pessoas com nível
de escolaridade mais alto, com bom domínio da língua portuguesa.

5.1.2 Gitonga
Desnasalização das vogais: [+nas]→Õ
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a) Sikweta [siᴗkweta] ‘cinquenta’ Konosko [konoʃko] ‘connosco’


Pito [pito] ‘pinto’

b) Kotas [kota]1 ‘contas’

Kasari [kasari] ‘cansar’

Pote [pote] ‘ponte’

Os exemplos acima ilustram casos de desnasalização de vogais, o que em bantu significa


elisão da nasal em posição pré-consonântica. Este caso é oposto ao que se viu em Changana
onde os falantes têm a tendência de inserir a nasal em posição pré-consonântica ou
simplesmente a nasalizar a vogal que precede uma consoante. Nestes exemplos, a
desnasalização da vogal (ou elisão da nasal) pode resultar em palavras não existentes na
língua, como em (a), ou em palavras existentes. Nos exemplos em (b), o assunto é um pouco
mais sério. O ouvinte precisaria de pedir ao emissor para repetir o enunciado ou precisaria de
reler o enunciado ele próprio para se esclarecer o significado da palavra que o contexto não
ajuda a esclarecer. Portanto, está-se diante de casos em que as palavras produzidas com a
desnasalização das vogais existem na língua alvo, mas não têm os respectivos significados
nos contextos em que ocorrem.

5.2 Zona centro

5.2.1 Cindau
Cindau é falado nas províncias de Sofala, Manica e na zona setentrional da província de
Inhambane. Também é falado na República do Zimbabwe.

Metátese dos sons líquido ou lateralização do som vibrante?:

[ -lat]→[+lat]/ _$[ +lat]≈[ +lat] →[-lat]/ _$[ -lat] ou [+ant, -lat] →[+lat]?

a) plobrema [ploᴗbrema] ‘problema’

b) excralecimentu [eʃcraleciᴗmentu] ‘esclarecimento’

c) exprikari [eʃpriᴗkari] ‘explicar’

d) ereyitu [eᴗrejitu] ‘eleito


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e) Flerimu [fleᴗrimo] ‘Frelimo’

Este caso é um verdadeiro teste para a análise, pois aqui se está diante de uma situação em que
os falantes parecem estar a produzir intencionalmente o contrário do que se deveriam. Por
exemplo, em (a) o som vibrante alveolar [r] da primeira sílaba e o lateral alveolar [l] da
segunda trocam as posições. Em (b) o fenómeno repete-se, mas no sentido oposto. O [l] da
segunda sílaba e o [r] da terceira também trocam as posições. Estes dois casos se poderiam
chamar de metátese como está proposto acima. Mas em (c) reporta-se uma situação de
deslateralização de [l] que se articula como vibrante. Em (d) acontece, por um lado, de novo a
metátese ilustrada em (a) e (b), mas por outro lado, o contrário do que acontece em (c). Isto é,
enquanto em (c) o [l] é articulado como [r] na primeira sílaba, em (d) o [r] da primeira sílaba é
produzido (e percebido) como [l].

Estes dados mostram uma alternância das consoantes líquidas nos mesmos contexto sugerindo
que nesta língua [l] e [r] não são dois sons fonémicos, isto é, não são contrastivos. Portanto,
não são usados para distinguir palavras de sentidos diferentes. São, sim, variações alofónicas
(em distribuição livre) do mesmo fonema, o que é um problema para o aprendente de língua
Portuguesa como língua segunda, onde os dois sons são contrastivos
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5.3 Zona Norte

5.3.1 Cimakhuwa
A língua makhuwa coexiste, não só com a língua portuguesa, como também com outras
línguas em quatro províncias de Moçambique, a saber, Cabo Delgado, Nampula, Niassa e
Zambézia. Makhuwa: Desvozeamento dos sons consonânticos: [+voz, -sil] →[-voz]

a) Coku [ᴗcoku] ‘jogo’ Kasa [ᴗkasa] ‘caça’


Kasa [ᴗkasa] ‘casa’

Kasa [ᴗkasa] ‘Gaza ’

Teto [ᴗtetu] ‘dedo’ Tuwaci


[ᴗtuwaci] ‘duas’
b) Kalinya [kaᴗliya] ‘galinha’

Patata [paᴗtata] ‘batata’

Peturu [ᴗpeturu] ‘Pedro’

Como ilustram os exemplos acima, o não vozeamento de consoantes é a característica fonética


fundamental do Português falado pelos falantes de Makhuwa como L1. Sabendo-se que
Português é uma língua em que o traço voz (das consoantes) é contrastivo, a transferência
negativa da função deste traço de Makhuwa para a língua alvo pode trazer consequências
negativas à comunicação, como se pode observar em (a). Mas, como se observou no caso dos
exemplos em (2), a ambiguidade semântica é mais aceitável do que o som estranho ao sistema
da língua alvo. Provavelmente por isso os makhuwas pensem que, pelo contexto, qualquer
falante há-de sempre perceber que eles não “chocam” a bola embora digam [ᴗnoʃ coᴗkamoʃ a
ᴗpola].

Tal como nos exemplos analisados da língua changana, o fenómeno de transferência do traço
[-voz] de Makhuwa para o Português pode acompanhar um Makkuwa desde os primeiros dias
da escolarização na língua alvo até ao doutoramento. E não tem nada a ver com a competência
linguística, pois pode-se ultrapassar a nível da escrita, mas continuar a fazer-se presente na
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oralidade. A título de exemplo, uma vez um sujeito fazendo doutoramento em Linguística


escreveu para um amigo uma carta que continha a seguinte passagem:

“Recebi as tuas duas (não me perguntes qual destas duas palavras é pronome possessivo e
qual delas é numeral cardinal porque quando eu pronuncio, as duas são iguais!) cartas…”

Esta passagem ilustra o facto de que o seu autor sabia que entre as palavras “duas” e “tuas”,
uma era numeral e outra era pronome possessivo, mas oralmente, o mais provável seria que
ambas fossem pronunciadas como [tuwaʃ]. Portanto, um makhuwa pode ter toda a
competência linguística em Português, e continuar a não ser capaz de articular, na sua
performance oral, aquilo que para falantes de algumas outras línguas como o Português pode
ser óbvio.

5.3.2 Ciyawu
Ciyawu, é uma língua falada nas províncias moçambicanas de Niassa e Cabo Delgado, e em
algumas regiões de Malawi, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Yao: Desvibração do som
líquido: [+ant, -lat] →[+lat]

a) Lapaaci [laᴗpa:ci] ‘rapaz’

Laatu [ᴗla:tu] ‘rato’

Leemu [ᴗle:mu] ‘remo’

Liiyu [ᴗli:ju] ‘rio’ Oosa


[ᴗlo:sa] ‘Rosa’
b) Luuwa [ᴗlu:wa] ‘rua’ Kaalo [ᴗka:lo] ‘calo’
Kaalo [ᴗka:lo] ‘caro’

Kaalo [ᴗka:lo] ‘carro’

Kaalo [ᴗla:lu] ‘ralo’

Laalo [ᴗla:lu] ‘raro’

Em termos fonéticos, o som vibrante constitui o “carrasco” dos yaawos aprendendo a língua
portuguesa. Tal como em Makhuwa, há situações em que a solução encontrada para resolver a
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dificuldade de articular o som vibrante, seja simples ou múltiplo, resulta na criação de dois
tipos de sequências de sons. Por um lado, podem produzir-se sequências de sons que não
existem na língua, tal como em (a), para cuja interpretação o ouvinte precisa de se socorrer da
sua criatividade superior a de Chomsky (1965). Por outro lado podem ser produzidas
sequências de sons que coincidem com sequências interpretáveis como palavras (b).

Diferente dos casos estudados acima, Changana e Makhuwa, e provavelmente de outros por
serem estudados, o assunto da vibrante para os yaawos é solúvel através de exercícios
práticos. Aparentemente, todo o yaawo, depois de uma quarta classe o mais tardar já não
produz o [l] no lugar de [r]. Em parte, isto deve-se ao facto de nesta língua existir o som [r]
usado em ideofones e não em palavras de outras categorias gramaticais.

5.3.3 Cimakonde
A língua makonde falada na província de Cabo Delgado e nalgumas zonas da região sul da
Tanzânia, que é classificada no mesmo grupo que a língua yawu, tem algumas semelhanças
fonéticas com esta. Uma destas semelhanças é o caso da ausência das vibrantes, o que obriga
os falantes a, se socorrerem da lateral alveolar sempre que as palavras da língua-alvo
contenham em algum momento o som vibrante.

a)Desvibração do som líquido: [+ant, -lat] →[+lat]

Maliya [malᴗi:ya] ‘Maria’ Malukuci


[maᴗlukuci] ‘Marcos’ kalabina [kalaᴗbina]
‘carabina (sp. espingarda)’
tilu [ti:lu] ‘tiro’

b) Palatalização do som alveolar som fricativo não vozeado: [+cor, -alt] →[-cor]
shawude [ʃaᴗwude] ‘saúde’ shigaro [ʃiᴗga:lo] ‘cigarro’ sholidado [ʃoliᴗdadu]
‘soldado’ mashimu [ᴗmaʃimu] ‘máximo’
Em (a) são apresentados exemplos que ilustram a inexistência de som vibrante alveolar em
Makonde, tal como acontece com o Yaawo. Os exemplos em (b) mostram que apesar de um
pouco semelhante, o Makonde também é diferente de Yaawo. Ao contrário de Yaawo que,
entre outros, partilha com o Português o som [s], o Makonde parece não possuir este som,
pelo menos em algumas variantes do Planalto que constitui o seu habitat natural principal.
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Isto faz com que os aprendentes da língua portuguesa se socorram do som fricativo palatal
não vozeado [ʃ] para resolver as dificuldade de articulação de [s].
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Conclusão
Após a análise das fontes que posteriormente serão apresentadas em bibliografias, ficou claro
que a variação consonântica é mudança das consoantes a nível fonético, este fenómeno
causado por interferência das línguas bantu, ocorrem nas três regiões do pais, pois a falta das
consoantes orais, liquidas laterais e vibrantes no seu alfabeto, o falante socorre-se dos sons
mais próximos a estes para permitir a comunicação.

Muitas vezes este recurso é feito por inserção, desnasalização, laterizaҫão, desvozeamento,
desvibraҫão, palatização.
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Referência bibliográfica

https://www.google.com

MATEUS, Maria Helena Mira, ISABEL, Fale, FREITAS, Maria João. Fonética e Fonologia
do Português. Lisboa. 2005.

MINEZES, leonarda. Descosturando a língua: o caso da mudança e das interferências


linguísticas no Português de Moçambique. Maputo. s/d.

NGUNGA, Armindo. Empréstimos nominais de português em bantu: o caso da língua yao. In:
GALVES, C. ; GARMES, H.; RIBEIRO, F. R. (Org.). África-Brasil: caminhos da língua
portuguesa. S. Paulo: Editora da Unicamp, 2009. P. 185-209.

NGUNGA, Armindo. Introdução à Linguística Bantu. Maputo: Imprensa Universitária. 2004.

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