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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO (IAU-USP)


PROGRAMA UNIFICADO DE BOLSAS DE ESTUDO PARA APOIO E FORMAÇÃO
DE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO (PUB-USP)

Kamille Benati do Carmo


Matheus de Souza Oliveira da Veiga

A INFLUÊNCIA DE PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS NA


(RE)ESTRUTURAÇÃO URBANA DE CIDADES: ESTUDO COMPARADO ENTRE
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E BUENOS AIRES

Orientador: Prof. Dr. Marcel Fantin

São Carlos

2022
Kamille Benati do Carmo
Matheus de Souza Oliveira da Veiga

A INFLUÊNCIA DE PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS NA


(RE)ESTRUTURAÇÃO URBANA DE CIDADES: ESTUDO COMPARADO ENTRE
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E BUENOS AIRES

Relatório final PUB de Pesquisa de


iniciação científica do Instituto de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, sob orientação do
Prof. Dr. Marcel Fantin

São Carlos

2022

1
RESUMO

A presente pesquisa visa investigar, a partir de uma análise global, no primeiro


momento, e local, em seguida, como são constituídas as cidades de São José dos Campos,
São Paulo - BR e de Buenos Aires, Argentina, frente ao processo de globalização e da
emergência de uma nova forma de capitalismo, a partir da década de 1970. Desse modo, o
vigente trabalho envolve a investigação do Parque Tecnológico de São José dos Campos e
do Distrito Tecnológico Parque Patrícios, em Buenos Aires, com base em um processo
multiescalar que contempla referências bibliográficas dos acontecimentos globais e
internacionais, além de cartografias, notícias, dados dos municípios que indiquem a
concretização do ideário e discurso do ecossistemas de inovação. Além disso, soma-se às
metodologias anteriormente citadas, transcrição de entrevistas e visita técnica a um dos
estudos de caso (São José dos Campos - SP). O principal foco dessa iniciação científica,
desenvolvida pelos dois bolsistas, é chegar à compreensão de como esse atual processo
atua e requalifica a forma com que as cidades são construídas, em uma urbanização
pautada e direcionada por princípios inovadores de intervenções urbanas e de medidas que
visam a construção de Cidades Inteligentes.

2
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 4
1. PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS: CONTEXTUALIZAÇÃO E ORIGEM 4
1.1 Revolução industrial, Divisão Internacional do Trabalho espaço geográfico 4
1.2 Emergência do Neoliberalismo 5
1.3 Sociedade e era da informação 6
1.4 Espaço geográfico: cidade e empresa na era da informação 7
1.5 Classe criativa, cidade e sociedade da informação 9
1.6 A DESTRUIÇÃO CRIATIVA: DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO A APLICAÇÃO
NAS CIDADES 10
1.7 PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS: PRODUTOS E AGENTES DO
ESPAÇO URBANO NA ERA INFORMACIONAL 11
2. A CIDADE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS COMO ESTUDO DE CASO 14
2.1 CIDADE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS: CONTEXTUALIZAÇÃO, POLÍTICAS
PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL 14
2.2 O PARQUE TECNOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 22
2.3 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E A CONSTRUÇÃO DE UMA IMAGEM
EMPREENDEDORA 25
2.4 PQTEC: A RELAÇÃO COM A CIDADE E QUESTÕES DE FUNCIONAMENTO
ATUAIS 35
3. BUENOS AIRES A O DISTRITO TECNOLÓGICO PARQUE PATRICIOS COMO
ESTUDO DE CASO 36
3.1 A ÁREA SUL DE BUENOS AIRES: DISTRITO TECNOLÓGICO PARQUE
PATRICIOS 36
3.2 RENOVAÇÃO DA ÁREA SUL DA CIDADE AUTÔNOMA DE BUENOS AIRES E
GESTÃO MACRI: TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO SOBRE POLÍTICAS DE
MATRIZ NEOLIBREAL 43
3.3 DISTRITOS ECONÔMICOS: CATALISADORES NO PROCESSO DE
REESTRUTURAÇÃO DA ÁREA SUL, O DISTRITO TECNOLÓGICO PARQUE
PATRICIOS 45
3.4 PARQUE PATRICIOS: ESPACIALIDADE URBANA MOLDADA PELO DISTRITO
TECNOLÓGICO EM TEMPOS ATUAIS 48
COMPARATIVO ENTRE O PARQUE TECNOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E O

3
DISTRITO TECNOLÓGICO DE PARQUE PATRICIOS 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS 52
ANEXOS 54
BIBLIOGRAFIA 87

4
INTRODUÇÃO
O meio técnico-científico-informacional representa para Santos (1996) a atual etapa
na qual se encontra o sistema capitalista de produção e transformação do espaço
geográfico, relacionado com a Revolução Científica Informacional que se manifestou de
forma mais intensa a partir dos anos 1970. Esse momento marca a união da técnica e da
ciência orientada pelo mercado que, com os avanços tecnológicos, se expande
indefinidamente, consolidando a globalização no contexto de uma economia baseada no
conhecimento.
Figlioli et. al (2010, p. 290) ponderam que esta etapa demanda uma busca constante
por inovação. Entre os habitats de estímulo à inovação com diversas iniciativas pelo mundo
estão os chamados parques e distritos tecnológicos e de inovação. Essencialmente, são
espaços territoriais e institucionais favoráveis à localização de empresas de tecnologia.
Representam assim empreendimentos imobiliários planejados e com uma organização
gestora institucionalizada que coordena os interesses dos diversos participantes do
empreendimento – universidades, empresas, meio empresarial, entre outros; realiza a
gestão imobiliária; promove a inovação por meio de mecanismos de transferência de
conhecimento e articula o oferecimento de serviços tecnológicos de interesse de empresas.
Considerando o diálogo dentro de uma perspectiva comparativa e relacional entre
Argentina e Brasil, o presente projeto de pesquisa se propõe a analisar tendências regionais
de reestruturação do território e da economia urbana vinculados às dinâmicas específicas
de implantação e configuração de parques e distritos tecnológicos. Para tanto, serão objeto
dessa pesquisa o Distrito Tecnológico Parque Patrícios de Buenos Aires – CABA – AR
(maior distrito tecnológico da Argentina) e o Parque Tecnológico de São José dos Campos –
SP – BR.

1. PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS: CONTEXTUALIZAÇÃO E


ORIGEM

1.1 Revolução industrial, Divisão Internacional do Trabalho espaço geográfico

Com a Primeira Revolução Industrial, no final do século XVIII na Inglaterra, os


processos de produção passaram por diversas transformações que foram evidenciadas por
meio da substituição da energia humana pela força motriz não humana (inicialmente, o
vapor). Tais modificações se intensificaram com o intenso processo de inovação tecnológica
que se sucedeu. No século XIX, durante o período em que se conhece como Segunda
Revolução Industrial, essas informações foram expressas pelo uso intensivo das novas

5
tecnologias desenvolvidas para o uso das máquinas e com o advento da eletricidade, além
dos avanços dos meios de transporte e de comunicação.
Nesse sentido, com o referido processo de industrialização e a ampliação do
mercado mundial, a divisão social do trabalho alcançou níveis globais de forma que
determinadas regiões passaram a assumir uma posição própria nos processos de
acumulação. Com efeito, países periféricos e emergentes, como o Brasil e a Argentina, se
especializaram na produção de produtos agrícolas e passaram a consumir os produtos
industrializados do Norte Global. Essas condições resultaram em uma divisão internacional
do trabalho hierarquizada e desigual.
Na obra “ A Natureza do Espaço", buscando estudar o espaço geográfico e suas
dinâmicas, Santos (1996) classifica o atual meio geográfico da sociedade hodierna como
“Técnico científico informacional”, a última das classificações por ele criadas, que narram a
forma que o ser humano interage com o espaço à sua volta. Este período que se inicia
durante a década de 70 é marcado pela a união entre técnica, ciência e mercado (SANTOS,
1996), a ascensão da ciência e tecnologia na esfera econômica global - no que
posteriormente se ramifica em termos como “economia do conhecimento”, economia criativa
(HOWKINS, 2001) e “destruição criativa” (SCHUMPETER,1939) -, não alterou apenas o
modelo de produção fabril, mas o ambiente de trabalho, viabilizando o surgimento de uma
classe criativa e a modificação dos vínculos empregatícios, além da remodelação dos
espaços empresariais e urbanos.

1.2 Emergência do Neoliberalismo

Após a crise de 1970, que minou as bases econômicas dos Estados ao redor do
mundo, o neoliberalismo passou a ser visto como uma via de solução para os problemas
enfrentados pelos países por diversos fatores. Essa conjuntura contribuiu para a
disseminação dessa corrente de pensamento, podendo ser citado entre eles a abertura
econômica chinesa em 1978, com o país posteriormente sendo contemplado com altas
taxas de crescimento. No mesmo período também acontecia a mudança da presidência do
FED, com o combate à inflação sendo a prioridade das novas políticas monetárias, medidas
que em 1980 seriam apoiadas pelo presidente Ronald Reagan. E na Grã-Bretanha Thatcher
adotava medidas para o controle da estagnação inflacionária e restrição dos poderes
sindicais (HARVEY, 2005).
Para além desses acontecimentos nacionais, a comunidade global objetivava
assegurar a paz e a estabilidade, dessa maneira a reestruturação dos Estados após a 2°
Guerra também era pensada de modo a evitar a repetição de um novo conflito armado ou
algo que ameaçasse a hegemonia capitalista, como a grande depressão em 1929

6
(HARVEY, 2005). Seria então estabelecido um caminho no qual se combinaria o Estado, o
mercado e instituições democráticas, sendo construído nesses moldes uma nova ordem
mundial, com a fundação de órgãos internacionais como a ONU, o FMI, o Banco Mundial,
etc. (HARVEY, 2005).
Para Harvey (2005) a razão pela qual o neoliberalismo promove as tecnologias da
informação é porque através delas se torna possível a maximização do mercado, bem como
o enquadramento das ações humanas. Para tal feito é preciso que essas tecnologias
possuam grande capacidade de armazenamento, processamento e análise em uma
massiva base de dados globais.

1.3 Sociedade e era da informação

Tal reestruturação não é apenas um simples mecanismo de adaptação, mas um


processo politicamente determinado por atores hegemônicos (governos e organizações), o
que torna possível a concretização da realidade a qual nos deparamos foi uma
convergência entre momentos de mudança social e tecnológica, anunciando um novo modo
de desenvolvimento. Esse novo modo de desenvolvimento é oriundo da interação das
descobertas tecnológicas e integração dessas descobertas nos processos produtivos e de
gestão (CASTELLS, 1995).
O que torna o momento singular é que a informação é a matéria prima, mas também
o produto, diferindo-se do que foram as duas revoluções industriais, com os impactos mais
profundos sendo associados ao processo de gestão, na forma de produzir e distribuir,
baseados sobre uma nova fonte de energia. Com a imersão das sociedades em uma
vastidão tecnológica cada vez maior, hábitos, comportamento e cotidiano subordinaram-se
aos artifícios dessa nova era (CASTELLS, 1995).
A flexibilização dos processos diminuiu distâncias e aproximou as empresas da
sociedade, agora atentas às demandas, também às permitindo descentralizar sua
produção, tendo a disposição redes de comunicação instantâneas e constantes, o que
contribui para economias mais internacionalizadas que ascendem sobre uma nova
infraestrutura mundial, condicionada pela tecnologia da informação e suas inovações, entre
elas a robotização e digitalização em ampla escala. Além disso, sobre a nova estruturação
das relações de trabalho, a hierarquização tornou-se cada vez mais evidente, havendo
grande separação entre trabalhos intelectuais e vinculados à tomadas de decisão, para
postos de serviço manuais, candidatos à automação (CASTELLS, 1995).

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Há, dessa forma, um processo de requalificação, o funcionário não apenas precisa
aprender a executar novos programas recentemente criados ou atualizados, como também
precisa ser polivalente. Além disso, o arranjo é conveniente à administração, assim surgindo
postos de trabalhos temporários, home office e flexibilidade de horários.
Desse modo, com mudanças permeando todas as esferas da sociedade, o mesmo
ocorreria em relação à gestão das cidades, alterando sua agenda e forma de gerir seus
espaços. Sob o mesmo pensamento que se perpetuou pelas nações, funções antes do
corpo estatal passaram a ser delegadas ao setor privado, concomitante a promoção de um
pseudo associativismo entre governo e empresas através de parcerias público-privadas.
Para sustentar essa nova lógica é essencial a desregulamentação de leis - de natureza
ambiental, trabalhista ou urbanísticas-, que possuam o potencial de comprometer essa
associação (HARVEY, 1996). Essa lógica aplicada às cidades muda a equação cidade,
política e trabalho para a cidade, empresariamento e gestão.
O problema em questão é o tipo de foco que esses agentes possuem (privado e
público), bem como a concepção empresarial e especulativa dessa parceria público-privada
- há a exposição de risco à vieses de mercado, em hipótese de prejuízo, quem irá arcar com
isso será o Estado. Entretanto ainda há vantagem para ambas as partes, visto que com isso
há uma diminuição substancial nos custos de operação (no caso de privatizações) e
grandes retornos oriundos do setor empresarial. Harvey (1996) complementa em sua
análise que o empresariamento volta sua atenção muito mais para economias locais do que
de território.
Associa-se a isso o planejamento estratégico: enquanto o empresariamento cria e
promove um ambiente favorável aos negócios, o planejamento estratégico auxilia no
traçado dos objetivos, definindo as diretrizes do desenvolvimento urbano com o predomínio
dos interesses empresariais sobre as necessidades da comunidade.

1.4 Espaço geográfico: cidade e empresa na era da informação

Nesse contexto, o espaço geográfico é um fator extremamente relevante, tanto da


perspectiva da cidade quanto da empresa, a difusão da tecnologia e expansão da
capacidade de serviços de telecomunicação reduzem significativamente barreiras que
seriam impostas por problemas de natureza geográfica, como a distância. A possibilidade
de internacionalização das atividades e os avanços do campo científico informacional
requalificou os espaços, agora submissos à lógica global de fluxos mais densos, tecnizados,
artificiais e de paisagem cada vez mais cientificizada (SANTOS, 1996). Tal requalificação,
além de favorecer um processo de especialização produtiva, também age de modo incisivo
na questão de espaço nacional e economia internacional.

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A produção de determinados produtos em certas regiões se torna mais vantajosa do
que nas demais, com possibilidades mais amplas de sucesso se dando em territórios com
maior instrumentalização. Em um comparativo entre duas regiões, por exemplo, a região
melhor equipada com infraestrutura e aparatos científicos oferecerá uma melhor relação
investimento x produto (SANTOS, 1996). Essa é uma questão central explorada pelos
governos na concepção e implantação de parques e distritos tecnológicos e de inovação.
Essa lógica congrega um conjunto de conceitos e fatores locacionais. Em primeiro
lugar, parte-se da premissa da necessidade dos municípios terem um papel ativo no
desenvolvimento econômico, considerando suas vantagens competitivas, a serem
dinamizadas por investimento público em projetos de renovação urbana e, no caso da
presente pesquisa na constituição de clusters tecnológicos focados na dinamização dos
negócios e na atração de empresas. A ideia é que esses projetos urbanos criem as
condições adequadas de mobilidade, moradia e trabalho para a manutenção e fixação de
empresas e do público criativo na cidade. Para isso, é preciso concentrar investimentos
públicos em infraestrutura em áreas específicas da cidade. Nesse sentido, se antes a
perspectiva dos investimentos públicos previa um olhar global sobre a cidade, agora se
direciona investimentos públicos para o desenvolvimento de projetos empresariais e de
desenvolvimento econômico.
Esse é o caso de dois clusters tecnológicos no cone sul latino americano, sendo eles
o Distrito Tecnológico Parque Patricios, na cidade de Buenos Aires e do Parque Tecnológico
de São José dos Campos, respectivamente os maiores de cada país.
Nessa perspectiva, para criação do Distrito Tecnológico Parque Patricios, o governo
da cidade de Buenos Aires transferiu seu corpo administrativo para a área sul, com o
objetivo de acelerar o processo de revitalização do local, catalisando o processo de atração
de empresas que viriam a se instalar posteriormente com a implementação do Distrito. Além
disso, as governanças locais efetuaram investimentos substanciais em capitais fixos
permitindo a criação da Linha H do metrô (Subte), linhas de ônibus (Metrobus sur) e a
melhoria da infraestrutura urbana local como iluminação, calçadas, praças e parques,
conectividade e segurança.
O mesmo foi feito no município de São José dos Campos. A cidade, que ao abraçar
esse novo modo de produção, além de incentivar a instalação de instituições vinculadas à
esfera tecnológica, já contava com a presença de atores importantes como o CTA, INPE,
Embraer e o título de pólo aeroespacial, condicionando o território da cidade como propício
para a atividade de empresas do ramo. O município investiu dinheiro em empreendimentos
emblemáticos, entre eles a Linha Verde e o Parque Tecnológico, o que, consequentemente,
contribuiu para ampliar a vitrine tecnológica da cidade para o país.

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1.5 Classe criativa, cidade e sociedade da informação

Com essa ampla gama de mudanças técnicas e sociais é imprescindível


compreender, de um modo mais sólido, quem são indivíduos que trabalham nesses novos
ambientes, colocados como peças chave para o sucesso das cidades e empresas. Não é
apenas diferente a forma de trabalhar, mas também o estilo de vida, demandando novas
necessidades.
Há um grande abismo de diferença entre o hoje e o que era a sociedade em 1950.
Florida (2002) trata dessas discrepâncias ao desenvolver o conceito da “classe criativa”,
detalhando as diferenças entre as sociedades de 1900 a 1950 e de 1950 com os dias
atuais. De 1900 a 1950 as mudanças são estruturais, ciência e tecnologia permitiram a
humanidade desenvolver sua infraestrutura principalmente nas cidades, com as
engenharias permitindo que os edifícios, tornando-se cada vez mais leves, atingissem
alturas extraordinárias. Além dos novos veículos e transporte de massa, transformando o
estilo de vida de milhões nos grandes centros urbanos.
Em contrapartida, as disparidades entre 1950 e a atualidade seriam de natureza
comportamental e cultural. As diferenças seriam significativas especialmente dentro do
ambiente de trabalho, com tempo flexível, o abandono dos ternos e gravatas para o
despojado, informalidade das relações interpessoais e o uso de ambientes dinâmicos, com
espaços de descanso e coworking, além da desvinculação da ideia inicial do que eram os
escritórios no início. Todavia, a disparidade também se mostra presente no estilo de vida
cotidiano, com a difusão de novos esportes como ciclismo e academia, além da maior
pluralidade étnica nas cidades (FLORIDA, 2002)
As razões da mudança entre os tempos atuais e o passado é um produto que vai
muito além das transformações dos parâmetros econômicos e políticos, se relacionando
diretamente com o comportamento social. Desse modo, a força motriz dessa mudança é a
ascensão da criatividade humana na vida em sociedade e economia como um fator central.
A criatividade não pode ser comprada ou vendida e surge de todos, por conta desse fato
que os ambientes de trabalho passaram a ser tão plurais em questões étnicas e de gênero.
Fora isso, as empresas aderem a um mercado de disputa de cérebros, refletindo no
contínuo e sistemático investimento em infraestruturas de suporte para que indivíduos criem
ideias e produtos, isso justifica os gastos com pesquisas e o surgimento de empresas de
alta tecnologia e de investimentos de alto risco (FLORIDA, 2002).
Nos Estados Unidos integram a classe criativa 42 milhões de pessoas
economicamente ativas (RANA, PEDIGO 2014), formada por indivíduos das ciências, das
engenharias, arquitetura e design, da educação, das artes plásticas, da música e do
entretenimento, além de profissionais que trabalham com o mercado financeiro, leis e saúde

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(FLORIDA, 2002). Florida (2002) ainda complementa que o trabalho dessa classe envolve a
resolução de problemas complexos, demandando alta capacidade de julgamento e que
exigem alto grau de instrução, esses sujeitos portanto são remunerados para criar. Assim é
delineada uma diferença entre a classe criativa para as outras (operárias e de serviço) que
são pagas para executar atividades de acordo com um plano já estabelecido.
Essa grande competitividade por cérebros exige que as empresas saibam, com uma
certeza cada vez maior, onde instalar e concentrar seus serviços, devendo priorizar áreas
com grande “potencial criativo” - áreas onde indivíduos da classe criativa se concentram.
Tendo de pensar onde se instalar, entra em debate a questão do espaço geográfico,
erroneamente destacado como um aspecto que perdeu sua importância com a difusão da
internet e outros serviços de telecomunicação na era da informação. Algo que não é
verdade, dado que as empresas de alta tecnologia tendem a se concentrar ao redor de
determinadas localidades (FLORIDA, 2002).
Pelo o que foi discorrido anteriormente é logo entendido que a Classe Criativa
passa a ser objeto de atenção das cidades por serem um grupo comumente caracterizado
pelo alto poder aquisitivo - contribuindo para o crescimento econômico local -, e que muito
agrega com as questões da cidade a partir de seu alto capital intelectual e seu
compartilhamento (KATZ, 2014).

1.6 A DESTRUIÇÃO CRIATIVA: DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO A APLICAÇÃO


NAS CIDADES

Esta nova forma de pensar a cidade, através da modificação de seus espaços -


buscando constantemente se projetar ao mercado da forma mais atraente possível,
almejando serem hospedeiras de grandes corporações e empresas vinculadas à esfera
tecnológica -, as coloca em um processo de destruição criativa, impactando o ambiente
urbano de formas diversas.
Nesse contexto, as cidades agem como provedoras de infraestrutura e serviços para
esses agentes, visando a criação de um ambiente de negócios. Todavia, a execução de
políticas e projetos urbanos que seguem esse viés, além de possuírem caráter altamente
especulativo e favorecerem desproporcionalmente os agentes sociais urbanos, se tipificam
como investimentos expensivos se sustentando sobre a incerta e potencialmente baixa
expectativa de retorno. O abraço ao monumentalismo e investimentos inovadores, como
descreve Harvey (1996), são rapidamente copiados por outros lugares.
É assim perceptível uma verdadeira padronização dos centros urbanos, que pode
ser compreendida como material e imaterial. A forma material é o que se diz a respeito da
arquitetura padronizada dos edifícios, localizados em centros financeiros - no que antes

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eram bairros tradicionais - e também a padronização dos ambientes dedicados às
atividades de lazer - perpetuam-se os shoppings, estádios, portos e disneyworlds-.
Enquanto a forma material trata-se da homogeneização da forma de gestão das cidades
que ocorre de inúmeras maneiras, entre elas as políticas urbanas que promovem o
crescimento econômico - criação de zonas econômicas especiais, incentivos fiscais e a
promoção de megaeventos e turismo em massa - e a privatização de serviços de área
pública (HARVEY, 1996).
É desse modo que, se digladiando, as cidades refuncionalizam seus ambientes
gerando distorções em diferentes espectros enquanto seguidoras de um eixo constante e
destrutivo de inovações culturais e políticas. É sob esse modelo que está inserido o
empresário inovador, não apenas o responsável pelo surgimento dos novos produtos no
mercado, mas o principal agente da inovação e destruição criativa, força propulsora do
capitalismo (Schumpeter, 1939)
No processo de desenvolvimento econômico a destruição criativa se dá pela
substituição constante de modelos antigos. É integrada à teoria de Schumpeter a teoria dos
ciclos de Kondratieff, ondas de inovação que surgem e desaparecem com um comprimento
cada vez menor desde o início da era do vapor, apontando que com a aproximação dos
tempos atuais, o desenvolvimento tecnológico tem contribuído para ondas de comprimento
cada vez menores, ou seja, a transformação se inicia e se torna ultrapassada cada vez mais
rápido.
No âmbito das cidades, esse conceito é utilizado para se referir a destruição de
tecidos urbanos pouco lucrativos por novas estruturas mais adequadas à ampliação da
lucratividade empresarial.

1.7 PARQUES E DISTRITOS TECNOLÓGICOS: PRODUTOS E AGENTES DO


ESPAÇO URBANO NA ERA INFORMACIONAL

Com a emergência da era da informação, num contexto de um mundo globalizado,


nascem os parques e distritos tecnológicos, se projetando como um componente essencial
para o êxito econômico municipal ou regional, especialmente após exemplos nos Estados
Unidos com a consolidação do Vale do Silício (Califórnia). Esses espaços se disseminam
pelo mundo sobre o conceito da Tripla Hélice, desenvolvido por Henry Etzkowitz e Loet
Leydesdorff. A teoria diz respeito à união de três atores distintos mas imprescindíveis para
a inovação e crescimento econômico: universidades, indústrias e governo.
As universidades são os centros de produção científica e possuem um papel de
transferidor tecnológico para as indústrias e empresas. Seguindo essa lógica, a indústria,
responsável pela produção de bens e serviços, passa a funcionar como um elo entre ciência

12
e mercado, injetando neste as tecnologias e inovações desenvolvidas pelas instituições de
ensino superior. Com o objetivo de facilitar esse tipo de vínculo entre universidades e
indústrias são promovidos e regulamentados programas e políticas pelo governo, que, além
disso, atua como financiador de projetos desenvolvidos por ambas as partes, também
agindo para promover um ambiente atrativo e favorável ao mercado.
Desse modo, a partir de 1950 colaborações desse tipo passaram a criar clusters de
tecnologia nos Estados Unidos, começa a se desenvolver o Stanford Research Park -
conhecido hoje como Vale do Silício -, e posteriormente o modelo passa a ser replicado em
outras regiões do país com os corredores de inovação em Washington, Filadélfia e fora de
Boston. Todos esses espaços, conhecidos como parques tecnológicos, possuem
características típicas, entre elas a distância, campi isolados, acessíveis geralmente apenas
por carro e de pouca ênfase na qualidade de vida e integração com o trabalho. (KATZ;
WAGNER, 2004).
Nesse sentido, se desenvolveu um tipo de classificação histórico geográfica para os
parques, sendo ela:

Tabela 1: Modelos e características dos parques tecnológicos

Modelo Características

Californiano explora o setor de alta tecnologia existindo forte vínculo


com universidades, valorização da capacidade de atração
para a região e da capacidade de criar novas empresas
(através de spin-offs, laboratórios e departamentos de
universidades). O surgimento desse tipo de parque se dá
de modo espontâneo em projetos autofinanciados e auto
suficientes, retornando investimento aos seus
promotores.

Britânico Mínima presença de atividades industriais e instalados


nos campi universitários com maior centralidade em
atividades de desenvolvimento, pesquisa, laboratórios de
empresas, etc. Incubadoras nesse modelo são elementos
imprescindíveis

Norte Europeu (ou Modelo apontado como bem sucedido em regiões de


Escandinavo) elevado desenvolvimento econômico, cultura empresarial
e de livre concorrência já consolidadas. É conjugado de
modo equilibrado características chaves para o êxito de
outros modelos existentes sendo: (I) áreas de pequena e
média extensão; (II) promoção de projetos com a
participação de universidades, organizações públicas e
iniciativa privada; (III) oferta reduzida de área,
enfatizando o oferecimento de edifícios (venda, aluguel
ou leasing) (IV) especialização das equipes de gestão

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Mediterrâneo Geralmente promovidos por entidades públicas, utilizados
como instrumentos de desenvolvimento regional, estando
relacionados à ocupação de áreas extensivas.

MARCELINO S. 2021, apud Características dos modelos de Parques Tecnológicos -


(classificação histórico-geográfica de Sanz, 1998 apud ZOUAIN, 2003)

Ainda que esses modelos fossem replicados em escala global, começaram a surgir,
de maneira modesta, clusters de tecnologia nos centros das cidades, era o que viria a ser
chamado de distritos de tecnologia. Dentre os fatores ignitores que colaboraram com a
propagação desse novo modelo está a localização, conexão com o meio urbano e a
possibilidade de renovar áreas urbanas.
Os distritos tecnológicos se localizam na malha urbana da cidade, em regiões
densas, o que os tornou extremamente atrativos e opostos, em alguns sentidos, ao que são
os parques. Os distritos de tecnologia fomentam a revitalização urbana e integração entre
comércio, habitação, serviços e espaços públicos, além de promoverem o crescimento
empresarial de modo mais efetivo (KATZ; WAGNER, 2004). Katz e Wagner (2004) ainda
conceituam a forma que esses núcleos de tecnologia (parques e distritos) se formam.
Sendo de 3 formas distintas:

● Anchor plus
Geralmente encontrado nos centros de grandes cidades em regiões de uso misto,
com núcleos centrados ao redor de instituições âncoras, como, por exemplo, a Kendall
Square Cambridge que se desenvolveu em torno do MIT. Além da instituição, o local possui
uma ampla base de empresas relacionadas que se envolvem em spin-offs e na esfera da
inovação.
● Re-imagined urban areas
Caracterizado pela revitalização de orlas históricas, com armazéns e indústrias.
Esses locais são reconfigurados com a instalação de instituições de pesquisa avançada e a
instalação de empresas. O distrito de inovação 22@ em Barcelona surgiu dessa forma, e as
ações que levaram ao seu sucesso passaram a ser replicadas ao redor do mundo. Além
dele, o Distrito Tecnológico Parque Patricios, em Buenos Aires, surge da mesma forma.
● Urbanized science park
encontrados em áreas suburbanas e isoladas que passam por um processo de
adensamento com a chegada de novos serviços e atividades. Destaca-se como exemplo
desse modelo o North Carolina Research Triangle Park e também o novo empreendimento

14
da Cidade Tecnológica, empreendimento promovido pelo Parque Tecnológico de São José
dos Campos.
Posteriormente, a ideia de parques tecnológicos também chega no Brasil e passa a
germinar em locais marcados por grandes índices de industrialização, como o município de
São José dos Campos que em 2009, que ano de início das operações do PqTec foi
reconhecido como APL em consequência da especialização industrial da cidade no campo
aeroespacial. No estudo de caso da Argentina, esse ambiente de inovação se conforma de
maneira distinta, surgindo como um distrito tecnológico a partir do ano de 2007, sobre o
objetivo de valorizar a região do Parque Patricios.

2. A CIDADE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS COMO ESTUDO DE CASO

2.1 Cidade de São José dos Campos: contextualização, políticas públicas e


desenvolvimento regional

A fim de compreender os processos históricos que fizeram com que a cidade de São
José dos Campos abrigasse um dos maiores Parques Tecnológicos do país e assumisse o
status de polo tecnológico, além de entender as transformações urbanas ao decorrer dos
últimos anos, resultantes de sua reestruturação produtiva, o presente trabalho tem como
objetivo investigar e discutir tais mudanças para analisar, por fim, como se dá o
funcionamento do Parque Tecnológico hodiernamente e quais são as implicações de sua
atuação no entorno e na cidade em sua totalidade. Desta análise, procura-se compreender
também as ações públicas que permitiram as transformações referidas, provocando a
alteração de uma cidade sanatorial para uma cidade com enfoque no desenvolvimento
tecnológico.
Inicialmente, é necessário ressaltar que São José, no início do século XX, abrigou
diversos sanatórios de tuberculose e, concomitantemente, iniciou seu processo de
industrialização. Nesse sentido, no período supracitado, a cidade recebeu planos higienistas
de manutenção da malha urbana que visavam modificar a circulação de ar no perímetro
urbano. Tais alterações foram feitas por meio da criação de grandes avenidas e com a
fundação de espaços mais livres para permitir maior insolação.
De acordo com, Zanetti; et al. (2010) a cidade era composta por núcleos urbanos
dispersos, interligados por vias, que se articulavam junto ao núcleo central, e , também
nesse mesmo período, surgiram serviços direcionados à indivíduos que migraram para a
cidade buscando a cura da tuberculose (SILVA, 2020). Nesse momento, iniciou-se a
disseminação de informações de que os ares da cidade detinha a capacidade de curar os
tuberculosos (SILVA, 2020, apud LESSA, 2001). Todavia, a fase sanatorial só se tornaria

15
perceptível com a instalação do sanatório Vicentina Aranha (1924), e a posterior instalação
de outros sanatórios e clínicas como a Ruy Dória (1935), o Sanatório Maria Imaculada
(1936), Sanatório Ezra (1941), entre outros (SILVA, 2020, apud CHUSTER, 2010).
Desse modo, por volta dos anos 1920, o município de São José dos Campos
começou a receber as primeiras indústrias e estabeleceu sua economia no setor industrial -
processo que aconteceu em três etapas, segundo o Pró Memória de São José dos Campos.
A primeira, datada entre 1920 e 1940, está ligada ao processo nacional de industrialização:
é nesse momento que começam a chegar empresas de cerâmica e tecelagem, por
exemplo. Durante a segunda etapa, entre os anos que sucederam 1950, a cidade passa por
uma modernização e uma significativa mudança em sua infraestrutura, que se beneficiaria
com a inauguração da Via Dutra, as linhas de transmissão da Light, o INPE e a Embraer e
receberia o ITA. Foi nesse período também que se estabeleceram outras indústrias como
reflexo da política de industrialização como a Johnson (1954), Ericsson (1954), Alpargatas
(1954), Kanebo (1956), General Motors (1959) e Kodak (1972) (OSWALDO e GOMES,
2010).
Nessa perspectiva, é de entendimento geral que alguns fatores foram de extrema
contribuição para que o espaço do município se tornasse mais atrativo no sentido de
“chamar” novas empresas para se implantarem na cidade. A sua localização geográfica no
Vale do Rio Paraíba e a criação da Rodovia Presidente Dutra, por exemplo, foram fatores
motivadores para a chegada de novas entidades, pois coloca São José entre as cidades de
Rio de Janeiro e de São Paulo - capitais de grande valor para as atividades industriais.
Nesse mesmo período era fundado o Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA), antes Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) construído em 1946
após os esforços de um dos primeiros engenheiros aeronáuticos formados pelo curso de
especialização em engenharia aeronáutica, criado pelo Ministério do Exército em 1939. O
Tenente-coronel Casimiro Montenegro Filho em sua segunda ida aos Estados Unidos, foi
até o MIT - Massachusetts Institute of Technology, na procura do professor Richard Smith,
que o auxiliou na implantação de um centro de pesquisas aeronáuticas no Brasil (RESGATE
MEMÓRIA, 2002). Em 1961, por incentivo do governo federal, é fundado o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o que, juntamente ao CTA e posteriormente, à
fundação da EMBRAER, permite a abertura de um caminho tendendo à consolidação do
setor tecnológico e aeroespacial.

Tabela 2: Compilação e resumo do histórico de expansão urbana de São José dos Campos em
décadas (1920 - 2007)

1920 ● Composição determinada por um núcleo central e outros ao

16
redor - Santana, Eugênio de Melo e outro à sudeste

● surgimento de pequenos serviços prestados à tuberculosos

● Sanatório Vicentina Aranha (1924)

1930 ● Rhodia (final dos anos 30)

1940
● Expansão do núcleo central por processo de adensamento
das áreas intermediárias à linha férrea e a estrada velha São
Paulo - Rio de Janeiro

● Implantação do CTA (sul da estrada velha São Paulo - Rio de


Janeiro)

1950
● Inauguração da Via Dutra

● Linhas de transmissão da Light

● Crescimento do núcleo central e interligação ao bairro de


Santana

● Ampliação da infraestrutura norte em direção ao sul

● Pequenos fragmentos de espaço urbanizado à sudeste nas


margens da Via Dutra (já implantada)

● Inauguração da Johnson (1954)

● Inauguração da Ericsson (1954)

● Inauguração da Alpargatas (1954)

● Inauguração da Kanebo (1956)

● Inauguração da General Motors (1959)

1960
● Adensamento da região sul e sudeste, incluindo áreas
próximas ao que seria a Kodak e também o crescimento em

17
pequenas porções de espaço urbanizado à leste do CTA

● Instalação do INPE (1961)

● Adensamento urbano ao longo da via Dutra (direção


centro-nordeste)

1970
● Verticalização da região central

● Adensamento da região sul

● Crescimento urbano ao redor do INPE e próximos à Embraer


e outros núcleos dispersos à sudeste

● Ocupação de áreas à oeste do centro

● Kodak (1972)

● Embraer

1980
● Início das operações da Revap

● Crescimento e expansão das regiões sul, leste e próximos à


Revap

● Adensamento do bairro Eugênio de Melo ao longo da Via


Dutra

● Avanço das ocupações à oeste, implantação dos conjuntos


urbanos Esplanada do Sol, Aquarius e Urbanova

● Crescimento da região norte do outro lado do rio Paraíba do


Sul

2000 -
● Avanço do crescimento nas regiões sul e sudeste
2007
● Instalação de novas indústrias nas extremidades oeste e leste

Fonte: Elaborado pelo autor com dados baseados no estudo: “Fase sanatorial de São José dos
Campos: um estudo sobre as pensões e sanatórios”, SILVA F. M, 2020; e no livro: “Crescimento

18
Urbano e Industrialização em São José dos Campos” - Volume V COSTA F. M. S, MELLO F. L, et al.
2010. Ambas as fontes retiradas do Pró Memória de São José dos Campos

Seguindo essa perspectiva, no terceiro período destacado, a partir dos anos 1970,
dado a criação da empresa EMBRAER, o município muda seu perfil ao setor industrial e às
instituições de ensino com enfoque em alta tecnologia e produção de conhecimento
científico, e com um novo direcionamento aos setores automobilístico e aeronáutico. É
também nesse momento que São José dos Campos sofreu os duros impactos da crise da
década de 70, da abertura comercial do país na década de 90 e a instabilidade financeira
nacional se agravando próximo à virada do milênio com a crise asiática e com muitas
empresas instaladas no município fechando, transferindo suas filiais ou então trocando de
ramo. Foi durante esse período de crescimento desacelerado que o município passou a
instituir políticas de fomento ao empreendedorismo.

Tabela 2: Instalação de indústrias no município de São José dos Campos

ANO N° DE INDÚSTRIAS

1940 45

1950 65

1960 72

1970 284

1975 368

1980 351

1985 454

1996 865

1997 912

1998 918

1999 967

2000 988

19
2001 1075

2002 1161

2003 1171

“Crescimento Urbano e Industrialização em São José dos Campos” - Volume V COSTA F. M. S,


MELLO F. L, et al. 2010. p. 95, apud SDDI (supervisão de Documentação e Disseminação de
informações) /IBGE. Censo industrial - 1940 - 1985 / Cadastro Central de empresas - 1985 - 2003.
Elaboração: SOUZA M. A. A.

Desse modo, é possível observar a busca por uma nova estratégia de


desenvolvimento econômico urbano focada na economia do conhecimento na transição
dos antigos modelos de produção fordista e taylorista para a nova era de economia do
conhecimento, global e informatizada, por meio da análise da história do município de São
José dos Campos e Buenos Aires. A cidade do Cone Leste paulista que passou por ciclos
de atividade econômica bem delineados e desde o início do milênio até os dias de hoje se
destaca economicamente, um reflexo, em especial, ao fomento à industrialização,
empreendedorismo e também à esfera tecnológica. Seguindo essa perspectiva, o período
citado anteriormente é responsável pela reestruturação de São José que, a partir de então,
tem como alvo se tornar uma cidade modelo no setor de tecnologia e inovação. Dessa
forma, o notável esforço da prefeitura joseense em promover políticas de incentivos fiscais e
econômicos à atração de empresas somado à flexibilização de leis a fim de instituir uma
imagem atrativa da cidade foram também elementos favoráveis à reestruturação de São
José.
Nesse viés, a cidade inicia um processo de direcionamento interno das atividades
econômicas, com o intuito de neutralizar a evasão de empresas para outros municípios (as
quais, em reação ao momento de crise buscavam a diminuição de custos na produção), e a
prefeitura, por sua vez, atua com incentivos ao empreendedorismo à empresas de pequeno
e médio porte.
O aparecimento do cenário empreendedor somado às transformações econômicas e
à reestruturação produtiva da cidade devem-se ao contexto da emergência do
neoliberalismo e da globalização tendo como elemento de política municipal o chamado
empresariamento urbano (HARVEY, 1996) que consiste em uma aliança público-privada
com o fito de promover o desenvolvimento econômico por meio da construção especulativa
territorial. De acordo com BOTELHO,

O modo de produção capitalista passou, nas últimas décadas do


século XX, por um processo de reestruturação econômica-produtiva e

20
financeira. Surgiram, então, novas estratégias de produção e reprodução do
valor em todas as escalas e níveis econômicos por parte dos agentes
interessados frente à crise do capitalismo dos anos 70. O conjunto de
mudanças observadas na atividade econômica do modo de produção
capitalista contemporâneo faz parte da resposta tradicional encontrada pelo
capital para sair da crise através do rebaixamento do valor correspondente
à força de trabalho e do uso intensivo de novas tecnologias e estratégias
de acumulação (revolucionando os meios de produção). E a resposta à
crise geral do capitalismo teve seu correspondente nas políticas urbanas e
no próprio urbanismo a partir da década de 1980 (HALL, 1996; HARVEY,
1996).

Nesse sentido, no ano de 1889, por meio da lei municipal n° 3623/89, que confere o
Programa de incentivos à capacitação tecnológica de empresas brasileiras de tecnologia
inovadora, São José começa a redirecionar os orçamentos públicos para o incremento do
desenvolvimento da tecnologia na cidade e, no ano seguinte, essa perspectiva volta-se,
então, à viabilizações que permitiram a implantação do Parque Tecnológico. Mais tarde, em
1992, a prefeitura de São José dos Campos sanciona e promulga lei municipal n° 4256/92
que dispõe o apoio às iniciativas de instalação de um pólo científico-tecnológico, do qual
seria parte, logo em seguida, incubadoras de empresas e de projetos que nucleariam
empresas de base. Tais políticas são responsáveis por adiantar as modificações
socioeconômicas do município frente à crise do período em relação ao Plano Diretor de
1995 (Lei 121/95), em que as condutas não só incentivam a manutenção do parque
industrial existente, como também demonstram a importância da viabilização para a
implantação de pequenas e microempresas e o fomento ao desenvolvimento de tecnologia
de ponta.
Assim, a partir do final de 1997, o município passou a implementar os “PPAs”
(Planos Plurianuais de Desenvolvimento, os quais configuram-se como leis que definem as
diretrizes e os objetivos estratégicos do governo com metas e recursos destinados a
determinadas áreas de interesse e atuação), cada PPA tratava-se de um pacote de metas
que seriam executadas dentro de 3 anos, com mais PPAs sendo lançados ao longo dos
anos até os dias atuais. Logo de início, no PPA de 1998 à 2001 foram estabelecidos alguns
objetivos, hoje vistos como imprescindíveis, alguns deles sendo:
● criação da “sala do empreendedor” em parceria com o SEBRAE, para o atendimento
do empresário na formalização da pessoa jurídica, fornecendo recursos e
orientações procedimentais e cursos preparatórios para a profissionalização da
empresa;

21
● ampliação dos recursos públicos destinados ao empreendedorismo, com a criação
do Banco do empreendedor Joseense (BEJ), concedendo empréstimos a
empreendedores formais e informais;
● Criação da primeira incubadora do município, em parceria com a UNIVAP.
Ademais, no mesmo ano é promulgada a lei de zoneamento - Lei complementar n°
165/97 - a qual maleabiliza as diretrizes urbanísticas de São José, com o fito de
permitir a instalação de mais empreendimentos na cidade, colocando, assim, as
áreas de uso misto como aproximadamente 80% do território urbano.

À vista disso, como consequência, chegam diversas empresas das áreas de


telecomunicação e de serviços, e, por fim, tem-se o aumento de investimentos em
empreendimentos imobiliários.
Dessa maneira, a partir de 2001 eram aprovadas cada vez mais metas voltadas para
a esfera da tecnologia e desenvolvimento empresarial, com a construção de mais
incubadoras e laboratórios. Dentre as metas foi aprovada pela administração municipal:

● Criação da 2° incubadora tecnológica (2002) “Incubadora Tecnológica Revap”, em


parceria com a Petrobrás
● Incentivo fiscal às empresas de tecnologia (prestadoras de serviço aos setores
aeroespacial, automotivo, telecom, TI, desenvolvimento de softwares e treinamento
empresarial) e às microempresas exportadoras instituição de alíquota mínima de 2%
do imposto sobre serviços (ISSQN) (Lei Complementar 256/2003)
● Doação de terras para a instalação de universidades públicas (Lei Complementar
256/2003), além da adoção de ações de infraestrutura para dar suporte às empresas
e a criação de condomínios e loteamentos com infraestrutura e baixo custo (Lei
Complementar 256/2003)
● Criação da 3° incubadora (2004) em parceria com a Incubaero, pelo programa de
empreendimentos da FCMF, ainda compreendendo um Laboratório de
Desenvolvimento (LABTEC) e o CECOMPI
● Criação da 4° incubadora, nomeada “Incubadora de Negócios de São José dos
Campos” através de um investimento realizado pelo município junto ao CECOMPI e
regulamentada pela Lei Ordinária 6.605/2004, voltada a empreendimentos de
viabilidade técnica potencial de mercado em fase anterior à constituição da empresa.

No ano de 2005 se iniciam os estudos para a implantação do PqTec, o


empreendimento seria executado com a utilização do edifício da antiga Solectron - empresa
global de produtos eletrônicos fechada em 2002 -, os esforços são feitos tanto pelas
entidades administrativas do parque quanto pela prefeitura ao permitir o uso do prédio e

22
terreno da antiga fábrica. Desse modo, como resultado do desenvolvimento local
direcionado para o setor tecnológico a partir da década de 50 e alicerçado em referências
de parques e distritos tecnológicos e de inovação globais, em 2006 o PqTec de São José
dos Campos foi instituído pelo decreto n° 12.367/06, e passou a operar em 2009.

2.2 O parque tecnológico de São José dos Campos

O “Programa Parque Tecnológico de São José dos Campos”, instituído pelo decreto
n° 12.367/06, tinha como objetivo a contribuição de maneira significativa com o
desenvolvimento industrial na cidade São José dos Campos e, por meio deste, o Parque
pôde ser implantado efetivamente, consolidando o ímpeto por uma cidade inovadora e com
premissas relacionadas ao campo da tecnologia que começou a se ter a partir da metade
do século passado.
Operante a partir de 2009, o PqTec, em parceria com a prefeitura de São José dos
Campos, passou a agir como um catalisador para as empresas da área da tecnologia da
informação que buscam inovar, e também como uma instituição parceira do município nas
novas políticas de desenvolvimento urbano, dentre as quais pode-se citar a instalação de
câmeras inteligentes pela cidade, a aquisição de veículos elétricos para a polícia militar, civil
e municipal, além da criação da Linha Verde e da proposta de uma Cidade Tecnológica,
tópicos que serão melhor discutidos posteriormente.
Localizado na zona leste de SJC, o projeto do PqTec abrange uma área de 25
milhões de metros quadrados, e, na ordenação do uso do solo da cidade, é denominada
Zona Especial do Parque Tecnológico (ZEPTEC). A maior parte da ZEPTEC refere-se ao
gerenciamento de diversos proprietários e os projetos de ocupação dependem da
aprovação da Prefeitura e da entidade gestora. Nessa linha, é de extrema importância
salientar que o primeiro projeto imobiliário privado na ZEPTEC será o conjunto de
loteamentos denominado “Cidade Tecnológica”, em que serão abrigadas empresas de base
tecnológica, e lotes destinados ao uso de serviços e, majoritariamente, residencial - o que
demonstra, juntamente a outras iniciativas, o esforço contínuo em transformar a cidade de
São José dos Campos em uma vitrine de tecnologia, assunto que será discutido mais
adiante.
Essa região estende-se às margens da Rodovia Presidente Dutra, na altura do
quilômetro 138, sentido São Paulo-Rio de Janeiro, até a Rodovia Governador Carvalho
Pinto, e divide-se em três partes: o núcleo do Parque Tecnológico, a área da Prefeitura e a
área privada.

23
Figura 1: imagem esquemática de elaboração própria; núcleo do PqTec

Fonte: mapa de elaboração própria através de imagens de satélite acessadas pelo Google Earth.

LEGENDA:
1 Centro empresarial 2
2 Centro empresarial 1
3 Centro empresarial 3
4 Centro empresarial 4
5 Administração do parque, Secretaria Municipal de Inovação e Desenvolvimento, Centro de Eventos
e restaurantes

O núcleo do Parque Tecnológico é composto por cinco regiões principais: os centros


empresariais 1, 2, 3 e 4 e o centro administrativo (região em que também estão alocados a
Secretaria Municipal de Inovação e Desenvolvimento, o Centro de Eventos e alguns
restaurantes). Os centros empresariais 1 e 2 são ocupados por pequenas e médias
empresas residentes e por laboratórios multiusuários. No centro empresarial 3, por outro
lado, estão unidades de grandes empresas, a Incubadora, os Centros de Desenvolvimento
tecnológico, a sede do curso de Engenharia Ambiental da UNESP, algumas instituições de
ciência e tecnologia e entidades da sociedade civil. No centro empresarial 4, encontra-se
instalado o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)
e possui espaços destinados à implantação de novas empresas.
A área da prefeitura ocupa o entorno do núcleo do PqTec e é gerida pela Urbam
(Empresa Urbanizadora Municipal) e é designada a instituições privadas e públicas com
atividades de alguma importância para o desenvolvimento do Parque. Além disso, existem,
atualmente, 5 universidades associadas ao PqTec, 3 delas, inclusive, alocadas no entorno:
a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Faculdade de Tecnologia (Fatec), as
quais possuem ligações diretas com o Parque e com as empresas, com o encaminhamento

24
de alunos da graduação para estagiarem nessas instituições, por exemplo - relatado por
Álvaro Luiz, vice diretor acadêmico do ICT, Unifesp, em entrevista feita ao grupo de
pesquisa em março de 2023 - o que demonstra a efetiva aliança entre empresas e as
universidades, união defendida por Etzkowitz, referido anteriormente neste trabalho.
É imperioso destacar também que, entre os anos de 2006 e 2009, o Parque
Tecnológico contava com uma gestão provisória da Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Prefeitura Municipal de São José dos Campos. No
entanto, em 2009, passou a ser coordenado pela Associação Parque Tecnológico de São
José dos Campos (APTSJC) , selecionada por meio de uma chamada pública da Prefeitura.
Assim, em maio de 2009, teve início o Contrato de Gestão nº 20.528/09, estabelecido entre
a APTSJC e a Prefeitura com o fito de promover, fomentar e gerenciar projetos de interesse
público do município, no parque tecnológico.
Nessa perspectiva, após 10 anos de implantação, em 2016, o Parque Tecnológico já
era considerado o maior complexo de inovação e empreendedorismo do Brasil, e, segundo
dados liberados pela APTSJC (Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos),
ao final do mesmo ano, o PqTec contava com 295 empresas e instituições entre elas, 36
empresas configuradas no Programa de Incubadoras, oito empresas de grande porte ou
empresas-âncora, cinco instituições de ensino e pesquisa, entre outras.
No biênio de 2017-2018, de acordo com dados fornecidos pela APTJSC, o parque
presenciou um marcante crescimento: em 2016 compunham o PqTec 70 instituições, ao
final de 2018, por outro lado, esse número havia subido para 145, demonstrando um
acelerado fortalecimento. Além dos elevados marcadores citados anteriormente, no mesmo
intervalo houve um aumento no número de vagas de emprego, visto que, em 2017,
constataram-se 1.195 postos de trabalho e, ao final de 2018, essa quantidade passou para
1.941, expressando um incremento de 62%.
Quatro anos mais tarde, ao final de 2022, o relatório de atividades da APTJSC
expõe que o número de empresas e instituições associadas ao PqTec era superior a 350,
como mostrado no gráfico abaixo (precisamente, no ano mencionado, esse valor referia-se
a 356 instituições, sendo 217 empresas associadas aos APLs (Arranjos Produtivos Locais,
também chamados de clusters), 84 empresas residentes, 51 startups e 4 centros
empresariais). É possível observar, assim, que de 2009, quando o Parque Tecnológico
começou a operar efetivamente, em que o número de instituições associadas era de apenas
5, até 2022 (o qual trata-se do relatório de atividades mais recente até o momento de
execução deste trabalho), o crescimento em número de empresas, nesses 13 anos de
atividade, representa um percentual de 7.120% (segundo dados levantados a partir dos
relatórios anuais do PqTec pela APTJSC).

25
Gráfico 1: número de empresas/instituições por ano instaladas no PqTec

Gráfico X: número de instituições/empresas por ano; compilado de informações extraídas dos


relatórios anuais da APTSJC

2.3 São José dos Campos e a construção de uma imagem empreendedora

Neste ponto do estudo, faz-se necessário analisar, também, as estratégias


imagéticas e simbólicas adotadas a fim de exibir o ideário ora de “paraíso clímatico” para o
momento sanatorial, ora de uma São José dos Campos como pólo industrial e, por fim, o de
cidade empreendedora, tecnológica e inovadora (MACHADO, Pedro H. F., 2019). Em vista
disso, é possível observar diversas iniciativas realizadas pela prefeitura municipal e pelos
meios midiáticos (com ênfase, neste trabalho, no Jornal ValeParaibano e na Folha de São
Paulo) para revelar o ímpeto da cidade de São José dos Campos, com destaque nas
propostas iniciadas a partir dos anos 90 cuja conjuntura representava o início de um período
em que seria criada e exposta a ideia de desenvolvimento (tecnológico e aeroespacial, por
exemplo) e de empreendedorismo.
Como dito anteriormente no presente relatório, a cidade de São José dos Campos
passou, na primeira metade do século XX, por um momento em que era evidenciada a sua
“vocação senatorial” (MACHADO, Pedro H. F., 2019). Dessa maneira,

Podemos perceber que a instituição oficial de Estância Sanitária não foi


uma resposta à condição “natural” decorrente do clima aprazível de São
José dos Campos. A tuberculose era, para São José dos Campos, o centro
da vida urbana. E esta questão, que era também sanitária, fortaleceu o
poder público, agente fundamental no ordenamento do espaço urbano,
influenciando as relações sociais, econômicas e, em última análise, a

26
própria constituição do espaço. A informação, nessa época, circulava em
publicações leigas. Artigos e matérias de jornal eram uma via para as
autoridades públicas divulgarem a importância do controle da tuberculose,
estratégia européia e americana amplamente adotada no país (...)
(ZANETTI et al, 2010, p. 65,66)

A partir das afirmações expostas, então, em uma breve análise, percebe-se que, já
naquele momento, havia uma preocupação em estabelecer uma imagem da cidade em que
sua vocação sanatorial estivesse cuidadosamente destacada.

Figura 2: Capa da edição de maio de 1933: São José dos Campos: o clima maravilhoso para o
tratamento da tuberculose pulmonar

Fonte: Boletim médico, 1936 (extraído de MACHADO, 2019, p.117)

É imperioso destacar, assim, que no período posterior, na referida fase da “vocação


industrial” (MACHADO, Pedro H. F., 2019), as estratégias de imagem se mantinham como
ferramenta de extrema importância para alcançar a representação de cidade desejada. Por
volta dos anos 1950, instalaram-se na cidade as primeiras fábricas produtoras de
cerâmicas, indústrias têxteis, e, no geral, de bens não duráveis (MACHADO, Pedro H. F.,
2019).
Identifica-se, assim, uma perseverante busca pela consumação da representação
de cidade industrial que pode ser comprovada não apenas com as propagandas em placas,
outdoors e rádios (MACHADO, 2019) admitidas, também, nas manifestações
governamentais, como também na elaboração de um primeiro Plano Diretor, o qual, embora
não tivesse sido efetivamente executado, permitiu a criação de diretrizes que originaram leis

27
mais específicas de ordenamento urbano da cidade de São José dos Campos.
No segundo plano desenvolvido (Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
(PDDI) de 1968-1969), por outro lado, começou-se a estabelecer diretrizes orientadoras do
polo tecnológico aeroespacial. Nesse plano foi estabelecida uma nova proposta de lei de
Parcelamento do Solo que propunha as exigências para a implantação de novos
loteamentos, contendo diretrizes urbanísticas, obras de infra-estrutura, normas para
aprovação entre outras. Ademais, teve-se a elaboração da Lei de Zoneamento que
incentivou a construção de edifícios para habitações coletivas e comerciais e também
conjuntos habitacionais em série (horizontais e geminados). O Zoneamento foi o
mecanismo utilizado, a priori, para garantir a reserva de espaços para as grandes indústrias
e, em segundo plano, para disciplinar os demais usos do solo urbano.
Observa-se, entretanto, a falta de uma política efetiva para a habitação popular, o
que exprime, de antemão, uma lacuna no processo de desenvolvimento da cidade de São
José que demonstra certa desimportância com as populações menos favorecidas
economicamente. Dessa forma, resumidamente, é possível afirmar, com base na análise,
que o segundo PDDI foi pensado intencionando o desenvolvimento econômico, a
industrialização e a modernização da cidade, a fim de estabelecer as características
desejadas para o ambiente industrial.
Outrossim, ao ex-prefeito da cidade, Sérgio Sobral de Oliveira (1970-1975), é
atribuído o papel de “modernizar a cidade” e a sua preocupação com a industrialização de
São José dos Campos pode ser confirmada com a placa fixada por ele, a qual continha,
estrategicamente, informações sobre a cidade

Figura 3: placa afixada pelo ex-prefeito Sobral

Extraído de MACHADO, 2019, abud: AMARAL, 2008, p.156

28
Nesse sentido, concomitantemente a esse período, observa-se o aparecimento da
engrenagem como símbolo, vista, por exemplo, na bandeira da cidade adotada em 1960.

Figura 4: Bandeira de São José dos Campos

Fonte: PMSJC (extraído de MACHADO, 2019, p. 126)

Ademais, quando a vocação da cidade se altera (MACHADO, Pedro H. F., 2019),


agora com ênfase no período empreendedor do final do século XX, o que se pretendia,
naquele momento, era, de certa forma, apagar as marcas da fase sanatorial e industrial,-
tanto simbolicamente, com a substituição dos símbolos dos períodos referidos, como
fisicamente, com a expulsão das casas que recebiam doentes e com a desabilitação de
fábricas e indústrias -, deixadas pelo momento anterior, a fim de demonstrar completa
desvinculação com as características desses outros momentos e de desenhar as novas
simbologias da cidade que representassem a inovação e o ímpeto empreendedor que se
desejava.
Elabora-se, nesse sentido, uma imagem de cidade com padrões elevados de
qualidade de vida e com inovadoras soluções para as atividades urbanas, as quais
delinearam a intenção de ser modelo não somente para o restante do país como também
internacionalmente. O corpo administrativo de São José buscou consolidar a cidade como
pólo tecnológico-industrial-aeroespacial (MACHADO, 2019, apud SOUZA & COSTA, 2010
p.99), e, para isso, vê-se a implementação de um novo capital simbólico em torno dessa
predisposição. Nesse viés, cabe citar David Harvey o qual defende que

Luta-se para acumular marcas distintivas e capital simbólico distintivo em


um mundo altamente competitivo. Mas isso traz em seu rastro todas as
questões locais de memória coletiva de quem e a estética de quem devem
ser priorizadas (...) (MACHADO, 2019, p.122, apud HARVEY, 2014, p.197)

Na edição de 1997 do Jornal ValeParaibano, ano em que Emanuel Fernandes


assumiu a prefeitura da cidade de São José dos Campos, o termo

29
“empreendedor/empreendedorismo” aparecia com significativa frequência nos jornais deste
ano (MACHADO, 2019). O emprego desses termos pelo corpo administrativo da cidade -
como estímulo à população, para que o interesse nesses campos de atuação fossem
criados - permitiram a associação de características positivas ao nome da cidade, e,
também, catalisaram a competitividade entre as cidades próximas (MACHADO, 2019).
Nesse sentido, é indispensável destacar que a concretização da construção do
Parque Tecnológico representa um novo posicionamento em relação aos habitantes e ao
meio urbano, de forma que, no ano de 2006, o ideário inovador da cidade que se pretendia
é moldado por uma nova identidade territorial e imagética que reestruturam os processos
dos períodos anteriores. É nessa perspectiva que o processo de reestruturação produtiva se
expande também para a reestruturação urbana, com a remodelação da cidade segundo os
interesses daquele momento. É também neste ambiente globalizado que o conceito de “city
marketing” é implementado, o qual segundo SÁNCHEZ, 2010

Nesse contexto, não basta renovar as cidades, é preciso vendê-las


e, ao fazê-lo, vende-se a imagem da cidade renovada.
“Colocar as cidades no mapa do mundo” passou a ser uma meta
recorrente dos governos locais, um objetivo ordenador das “ações
estratégicas” que concentram na cidade-mercadoria a possibilidade de
“transcender as crises” produzidas pela reestruturação econômica e de
construir um futuro de progresso e recuperação econômica sintonizado com
as exigências da nova ordem mundial, de modo a viabilizar o crescimento
econômico em novos parâmetros. (SÁNCHEZ, 2010, p. 50,51)

O emprego desse termo no como moldador das dinâmicas das cidades globalizadas,
observado também em Buenos Aires - especificamente, no Distrito Tecnológico Parque
Patricios - e em outras cidades do mundo, é uma consequência do movimento que se tem
no início do século XX que se refere à mercantilização, primeiramente, dos espaços
(SÁNCHEZ, 2010), ambos conceitos atrelados à tendência de acumulação capitalista.
Nesse viés, compreende-se com notável importância que

A análise da tríade inovação em marketing -financeirização-mercadificação


das cidades pode ajudar muito a compreender as transformações urbanas
deste início de século XXI, visto que o marketing territorial – ou o city
branding – já é parte efetiva das transformações urbanas. Grandes projetos
urbanos têm alicerçado parte de suas estratégias na construção imagética,
bem como na divulgação dessa imagem, fazendo da
cidade-vitrine/cidade-espetáculo um modelo a ser vendido e replicado. Isso
significa, portanto, que o city branding é cada vez mais mobilizado na

30
reprodução do espaço urbano. (MONTANARI, F. B., 2022 apud
Marscarenhas, 2014)

A partir dessas questões, é apropriado destacar que as tendências da construção de


uma nova imagem para a cidade de São José, como dito anteriormente, eliminou ou
requalificou os símbolos de períodos anteriores bem como propôs alterações de significativo
impacto aos elementos que, de alguma forma, poderiam “embaçar” a vitrine da cidade que
se desejava. Assim, tem-se como exemplo a própria figura ilustrativa do Parque
Tecnológico, que é conformado pelo logotipo de uma engrenagem se dissolvendo em
conhecimento (representando o rompimento com a fase industrial fordista e o início de um
período margeado pela inovação, e, de certo modo, hierarquizando esses dois momentos)
com o slogan “inovação sem limites” (no borders for innovation).

Figura 5: logo do PqTecSJC

Fonte: PqTecSJC

Desse modo, entende-se também que o Parque Tecnológico assume papel


fundamental na construção imagética da cidade, atuando como um agente reestruturador
na representação de São José dos Campos. Essa construção de identidade é trabalhada,
da mesma forma, com os próprios habitantes a fim de dificultar a fuga de cérebros,
principalmente, dos alunos que se formam nas universidades ali presentes.
É nesse contexto que, em 2019, se inicia a construção do Arco da Inovação.
Pensado pelo engenheiro Catão Francisco Ribeiro, considerado “pai das pontes estaiadas”,
o projeto propõe a criação de uma obra com caráter monumental, inovadora e com grandes
proporções, com a criação de dois viadutos que ligam as avenidas Jorge Zarur e Cassiano
Ricardo. Entende-se, assim, que a obra funciona como a materialização da imagem de
cidade inovadora assumindo a função de cartão postal da cidade - e, em suma, um novo
elemento que se criou para configurar a vitrine da cidade.

31
Figura 6: Fotografia do Arco da Inovação de São José dos Campos

Fonte: Prefeitura São José dos Campos

Outros elementos significativos para a consolidação de tal imagem, que cabem ser
devidamente citados, são o projeto da Linha Verde, a implantação da ideia de Cidade
Inteligente e o 5D, bem como o processo de desfavelização da cidade.
Em 2012, por meio Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), na Lei n°
12.587, são estabelecidas diretrizes para os planos municipais de mobilidade urbana. Em
sequência, no ano de 2014, com o projeto BRT SJC - que não foi efetivamente
implementado-, elaborado pelo IPPLAN (o Instituto de Pesquisa, Administração e
Planejamento), no mandato de Eduardo Cury (PSDB), são levantadas algumas questões
que posteriormente foram utilizadas para a elaboração do projeto da Linha Verde. No
mesmo ano o IPPLAN transparece o projeto de linhas e Veículos Leves sobre Trilhos (VLT)
na alteração de modais para transporte público no projeto da linha de transmissão de
energia da CTEEP (chamado, também, de “linhão”). O projeto previa a extensão da linha
por 94km em 8 linhas que favoreceriam todas as regiões da cidade. O então prefeito
Eduardo Cury envia a proposta para a aprovação do Ministério das Cidades mas não
recebe permissão imediata.
Desse modo, no ano de 2019, por meio da lei complementar n°620/19 é instituído o
projeto da Linha Verde. O referido projeto planeja a criação de um corredor para interligar as
regiões sul e leste da cidade - as mais populosas -, passando pelo centro e previa uma
única linha de Veículos Leves sobre Pneus (VLP). Desse modo, a cidade torna-se pioneira
em ter um corredor sustentável de ônibus elétricos, mas, por outro lado, essa posição trazia
consigo um elevado custo (segundo a BYD - produtora chinesa de ônibus elétricos
associada à criação da Linha Verde - o modelo de ônibus elétrico representa três vezes o
valor de um ônibus convencional a diesel.

32
Embora haja a afirmação de que sua criação baseou-se em premissas de
mobilidade e de sustentabilidade, o projeto da Linha Verde não estava diretamente previsto
no Plano Diretor de 2018 (lei complementar n° 612/18) e na Lei de Zoneamento de 2019 (lei
complementar n°623/19). Assim, para que pudesse ser implementado de fato, o trajeto da
Linha Verde foi analisado juntamente às outras três leis de zoneamento municipal.

Figura 7: trajeto da Linha Verde, 2019

Fonte:Prefeitura Municipal de São José dos Campos

Outro objeto a ser analisado como instrumento imagético é o projeto da Cidade


Tecnológica. Primeiramente, é cabível destacar que foi criada uma Zona Especial do Parque
Tecnológico no Plano Diretor e no zoneamento municipal com 25 milhões de m2. Essa
região não só é responsável por dinamizar o mercado especulativo da terra, como também
protege o parque - funcionando como uma barreira ou um entrave fortificado - da área
periférica onde se destinou grande parte das famílias removidas das áreas centrais pelo
programa de desfavelização no município. Essa zona especial já possui três empresas e é
destinada à indústria 4.0 e empreendimentos imobiliários associados ao PqTec. Entende-se
que o projeto mais renomado e conhecido é o da Cidade Tecnológica, o qual possui um
zoneamento próprio e infraestrutura de ponta em tecnologia da informação. Fato curioso é
que, em alguns sites de apresentação do projeto e venda de loteamentos, observa-se com
certa frequência frases como “o projeto foi desenvolvido para empresas e pessoas
inovadoras”, e colocações semelhantes, o que nos mostra a efetiva construção de uma
ideia não só de cidade, mas de quem deve habitar esses espaços.

33
Figura 8: Projeto da Cidade Tecnológica

Fonte: Loteamento Cidade Tecnológica

Fonte: EXTO incorporação e construção

2.4 PqTEC: a relação com a cidade e questões de funcionamento atuais

Entende-se como uma temática sujeita à análise as questões que se mostram


relacionadas ao estudo de caso brasileiro referentes à modificação das dinâmicas da cidade
num contexto hodierno. Compreende-se, a partir dessas colocações, que a figura do parque
tecnológico, além de ser um ambiente onde há o desenvolvimento de tecnologia e inovação,
também se coloca como articuladora com o meio urbano ao seu redor. No Parque

34
Tecnológico em questão, essa relação é perceptível com a execução do projeto da linha
verde e na nova forma de qualificação do espaço no qual o Parque se localiza, criando as
ZPTECs.
Em primeiro lugar, cabe colocar a criação da Zona Especial do Parque Tecnológico
(ZEPTEC) como uma barreira topológica que tornam invisível as ocupações que se dão em
torno dessa área, com o objetivo de “conservar” e “proteger” a ZEPTEC para o projeto de
distrito de inovação do Brasil.
A partir desse ponto, cabe demonstrar a criação da zona em questão. No ano de
2007, é definido o perímetro especial de influência do PqTec SJC e cria-se uma Zona
Especial do Parque Tecnológico (ZEPTEC) com normas específicas para a ocupação, o que
efetiva a região como de interesse para a realização de requalificações urbanísticas para a
instalação predominante de empresas baseadas em conhecimento e inovação tecnológica.
Posteriormente, a partir da lei de zoneamento de 2010, que demonstrava rigidez em seus
parâmetros, o perímetro foi classificado como Zona de Qualificação. Essa nomeação
demonstra que existe o reconhecimento de sua localização estratégica para o crescimento
urbano e para o desenvolvimento do município, além de instituir que sua ocupação deve ser
mediante a um plano de ocupação específico para configurar as novas centralidades. Além
disso, dispõe que essa zona é configurada por glebas sem infraestrutura que devem ser
consolidadas em integração ao restante da cidade. Em complementação, às zonas em seu
entorno, predominantemente de núcleos informais e irregulares na época, foram
classificadas como zonas de uso diversificado, com o intuito de incluir usos de apoio ao
perímetro do PqTec, além de ZEIS, no sentido de regularizar e qualificar legalmente as suas
imediações. (COSTA, S. F. R.; 2021).
Por outro lado, tem-se o discutível projeto da Linha Verde como um segundo
elemento a ser analisado para além das discussões teóricas que se propõe. Embora a
Linha Verde tenha se alicerçado sobre justificativas como sustentabilidade e a promoção de
transporte rápido de massa, é interessante perceber a localização de alguns pontos de
embarque da Linha, instalados em “vazios urbanos". Essa constatação observada durante a
visita de campo (Corredor Bidirecional da Linha Verde, sob a linha de transmissão de
energia) induz a algumas reflexões em relação a isso: a escolha dos locais para a
instalação dos pontos de embarque em vazios urbanos para o incentivo do desenvolvimento
da atividade imobiliária se sobrepõe à questão da mobilidade? Ainda que estivesse entre os
objetivos da linha a criação de novas centralidades, tal incentivo com a ausência de
acessibilidade facilitada é um desestimulante significativo para a adesão de usuários, não
sendo possível atingir maior potencial de certos trechos da linha.
Na mesma perspectiva, o projeto promove, em contraste com a premissa do
desenvolvimento e da inovação, processos de segregação do público mais pobre e

35
intensifica as desigualdades sociais. Essa constatação reflete uma inflexibilidade territorial
em que, cada vez mais, os projetos de desenvolvimento econômico e territorial locais
supervalorizam as terras urbanas e constroem entraves e barreiras topográficas e
topológicas ao acesso dos citadinos menos abastados. Mesmo que a linha de ônibus ligue
as regiões mais populosas da cidade, como dito anteriormente, o processo de desocupação
da comunidade do Pinheirinho é simbólico da exclusividade desse projeto a uma fração
restrita da população local, a uma construção especulativa dos lugares através da
potencialização de empreendimentos imobiliários e econômicos (COSTA, S. F. R.; 2021).
O projeto da linha verde foi apresentado em 2018, e implementado em 2022 (fase II)
trata-se da criação de um corredor que visa a integração das áreas sul, central e leste (onde
se localiza o Parque Tecnológico) em uma frota de ônibus VLPs 100% elétricos. A linha se
estende alternando entre o uso de faixas segregadas e integradas ao sistema de vias
urbanas, até o momento foi feita apenas a conclusão do trecho que conecta as regiões leste
e sul. Além disso, é previsto no plano o aterramento da linha de energia da “Companhia
Paulista de Transmissão de Energia Elétrica” localizada em um terreno de 20 km de
extensão, com a Linha Verde, espera-se a criação de uma nova centralidade no local que
atraia investimentos imobiliários.
Nesse sentido, depreende-se que, embora haja um constante e incessante propósito
de colocar a cidade como um exemplo de inovação, tecnologia e desenvolvimento, essas
iniciativas contemplam apenas uma parte da população e solidificam o discurso de Harvey.
O autor defende a ideia de que a localização da oferta de bens públicos representa forte
exclusão social, uma vez que esses bens não são distribuídos igualmente, ou ainda,
justamente. Ou seja, os bens que deveriam ser públicos, e atingir a toda população, são
utilizados, muitas vezes, para intensificar as distâncias entre os mais ricos e os mais
pobres. (HARVEY, 2012)

3. BUENOS AIRES A O DISTRITO TECNOLÓGICO PARQUE PATRICIOS


COMO ESTUDO DE CASO

3.1 A área sul de Buenos Aires: Distrito Tecnológico Parque Patricios

A área sul da Cidade Autônoma de Buenos Aires é composta pelas comunas 4, 9, 8


e ao longo da história desempenhou um papel central no desenvolvimento urbano local,
visto que era ali, em algumas localidades da área sul onde vivia a aristocracia da cidade.
Buenos Aires concentrava, e ainda concentra, parte significativa da população argentina,
que ultrapassa em 1940 mais de 2 milhões de habitantes (COGGIOLA, 1997).
A cidade portuária, projetada sob uma malha quadriculada, foi fundada duas vezes,

36
a 1° sendo em 1536 por Pedro de Mendonça e depois, definitivamente, por Juan de Garay
em 1580. Durante o que hoje se compreende como área sul, era a região mais importante
da cidade de Buenos Aires (na época, Nossa senhora Santa Maria do Bom Ar), sendo
habitada pela aristocracia e famílias nobres, além disso, era onde se localizava o Porto de
Buenos Aires, por onde escoava quantidade significativas de mercadorias produzidas no
país (COGGIOLA, 1997).
Entretanto, em um processo histórico contínuo, a cidade passou por uma grande
mudança em sua dinâmica urbana, uma série de eventos contribuiu para que a região sul
perdesse sua importância. Entre eles a expansão do porto da cidade para a área norte a
partir de 1887, em uma sequência de obras que se estenderiam até 1919 (foram
executadas obras de canalização na foz do Riachuelo e a construção de novas docas e
berços de atracação ao norte), feito que seria vital para a economia argentina com o
crescimento expressivo das exportações a partir de 1843 (SCHMIT, ROSAL, 1995, apud
WENTZEL, 1988). Dessa forma, com o desenvolvimento das atividades portuárias (Novo
Porto de Buenos Aires) na região norte, Porto Madero, já antigo e que não supria
plenamente as exigências de importação e exportação, perdeu sua relevância e junto a ele,
a área sul.
Somada a isso, no mesmo período, a cidade era acometida por surtos de febre
amarela, mais especificamente no ano de 1871 com a morte de 13.614 pessoas (segundo a
Associação Médica de Buenos Aires). Parte da população e o governo atribuíram as causas
do surto à muitas coisas, entre elas a condição de vida dos pobres que viviam em cortiços
superlotados (conventillos), que também faziam a utilização de fossas para o despejo de
esgoto, e a poluição do Riachuelo, amplamente utilizado pelos saladeros (estabelecimento
fabril para a produção de charque) para o despejo de dejetos industriais, comumente
sangue, gordura e carne (POLIKOWSKI et.al)
A confluência desses acontecimentos provocou um êxodo, fazendo com que famílias
de estrato social mais elevado buscassem melhores condições sanitárias nas regiões norte
e oeste da cidade. Além disso, com a industrialização e crescente a área sul, que
gradualmente se desvalorizou, tornava-se o local ideal para a instalação de habitações
operárias e de famílias subprevilegiadas. Assim, é válido destacar que mesmo após os
surtos de febre amarela o governo tenha realizado investimentos para a ampliação da rede
de água e esgoto em 1874, através da Comissão de Água Corrente, Esgoto e
Pavimentação, ainda, em 1880, apenas 1/4 da população portenha possuia acesso à água
potável (POLIKOWSKI et.al). Foi sob essas condições que a região passou a se expandir e
em grande velocidade, especialmente pelo significativo volume de imigrantes que o país
recebeu a partir de 1880. Em seu livro, Blas Matamoro descreve tal realidade.

37
O porto moderno desloca o bairro rico do sul ao norte da cidade.
Pontos antes orilleros (dos bairros baixos) e depreciáveis, como Retiro e
Recoleta, passam a ser ocupados por propriedades aristocráticas e
palacios afrancesados. O bairro alto (San Telmo), antigo centro residencial
da classe alta, fica bloqueado como quase todo o sul da cidade -
empobrece e envelhece de inanição. O novíssimo porto atrai a imigração,
que vem de longe e fica enraizada na cidade, por falta de um destino
próprio. A esta população, recente e instável, somam-se os militares sem
ocupação, que recém fizeram a guerra da Tríplice Aliança e lutaram pela
nação contra os últimos caudillos (Peñaloza, López Jordán, os Varela).
Migrantes e imigrantes se juntam nas orillas (zona baixa) da grande cidade,
que passa a ser a Capital Federal. O porto aumenta o seu volume de
trabalho com as crescentes exportações de produtos agrícolas. A classe
que os produz se enriquece rapidamente e se encerra em seus bairros
exclusivos, vivendo em seus castelos a ilusão de uma nobreza inexistente.
Ao redor dessa urbe luxuosa se estende o subúrbio: Boca, Corrales Viejos,
Baixo Belgrano, Palermo. A sua população é em grande parte masculina:
soldados sem ocupação, mutilados de guerra e mendigos, imigrantes
gringos solitários. Uma grande indústria se vislumbra: o prostíbulo, o local
de reunião dos homens solitários que não têm onde se reunir. O prostíbulo
portenho, o quilombo, organizado como uma grande empresa por europeus
a partir da década de 70, requer a sua música, que toma emprestada dos
antigos pequenos locais de diversão orillera. (Matamoro, Blas. Historia del
Tango.Buenos Aires: CEAL, 1971, pp. 5-6.)

No documento “Cuaderno Parque Patricios: de los corrales a tecnología (AMIEVA et


al., 2017)” elaborado pela prefeitura da Cidade de Buenos Aires, conta em detalhes a
história do bairro que surge de uma região na qual se localizavam os matadouros da cidade,
que passaram a se instalar no bairro a partir de 1860 visto que o local possuía terrenos
menos povoados - o governo tinha como objetivo a modernização do mercado e
modernização das áreas urbanas mais centrais. Junto a esses estabelecimentos chegam
também seus trabalhadores, com o avançar do tempo, a região passou a ser conhecida
como “Corrales del Sud” ou “Corrales Viejos”
A região era conhecida pela sua degradação, e em 1869 gradualmente passa a ser
chamada de “La Quema”, já que, naquela época, hospedava um lixão, onde se fazia a
queima de todos os rejeitos urbanos produzidos pela cidade que chegavam ao local através
de uma linha de trem nomeada como “trem do lixo”. Nessa realidade, não apenas a
população local, mas comunidades das redondezas se desenvolveram subsistindo do lixo
enquanto alvejadas pelos olhares obtusos de uma população e aristocracia abastadas e
inconformadas com tamanha insalubridade e repugnância (AMIEVA et al., 2017).
Paralelamente, sob as circunstâncias acima mencionadas, próximo ao bairro, uma
comunidade que seria conhecida como “barrio de las ranas” passou a se desenvolver.
Atribuiu-se aos habitantes locais o apelido de “cirujas”, o que se poderia traduzir como

38
indivíduo sem trabalho que mendiga e vasculha o lixo em busca de itens para vender ou
consumir. A definição de fato era verdadeira, dada as condições vividas pelos sujeitos, em
terrenos que se alagavam às margens do Riachuelo e se enchiam de rãs (daí se originando
o nome) eram construídas suas habitações improvisadas de lata, zinco e outros materiais
recolhidos do lixo (AMIEVA et al., 2017). Os moradores vivam em circunstâncias
lamentáveis, um relatório apresentado pela Comissão de Estudos do Lixo ao prefeito da
cidade em 1899 descreve a situação:
O lixo é levado para o lixão e ali é espalhado e mexido no chão
para extrair os materiais que têm algum valor (...) e depois são amontoados
nos chamados "montes de cremação” que, pelo que ele sabe, nunca
acabam por ser totalmente queimados. A propriedade aparece descrita
como tendo montanhas muito altas de até dez ou doze metros de altura de
lixo empilhado. No segundo relatório elaborado para a Prefeitura em 1899,
o local é descrito como um "opróbrio para uma cidade civilizada" e é
relatado como animais e pessoas ali conviviam com dejetos de toda
espécie. Do lixo doméstico ao lixo hospitalar e até restos humanos de
autópsias e dissecações, “até cadáveres fetais”: fumaça, odores
pestilentos, febre tifóide, tétano, moscas, mosquitos e roedores é quem
convive com os raneros. AMIEVA, Juan Manuel et al. Parque Patricios: De
los corrales a la tecnología. Buenos Aires: Dirección General Patrimonio,
Museos y Casco Histórico Bolívar, 2017. pp 37

O Barrio de las ranas era afastado e visto como desconectado à cidade,


características que alimentaram uma percepção, para o restante da população portenha - e
até para os que viviam nos bairros do sul -, que se tratava de um lugar de aura misteriosa e
medonha, um refúgio para assassinos, ladrões, prostitutas, etc. Fontes indicam que o bairro
se localizava no que hoje são os bairros de Cachi e Zavaleta, com população estimada de
algumas centenas ou milhares - que variou durante sua existência. O declínio do bairro se
dá por volta de 1911 com a expansão da malha ferroviária de Buenos Aires para o sudeste,
sendo transferidas dali cerca de mil famílias para galpões adjacentes (AMIEVA et al., 2017).
Mesmo que não pareça, o local agregou à cultura argentina o que futuramente seria
cunhado como uma das danças mais simbólicas do país, o Tango. Certamente produto
cultural daquele lugar onde, assim como outras metrópoles da América Latina, se marcava
por uma grande troca cultural entre seus povos imigrantes.
Outro marco na história de Parque Patricios foi o Cemitério do Sul, construído antes
em terras que faziam parte da fazenda de Carlos Escalada, que haviam sido compradas por
José Antonio de Escalada. O processo de aquisição e determinação de um local a compra -
que teve sua demora atribuída a entraves financeiros, sanitários e de diálogo na esfera do
poder público - se deu pela necessidade de atender o alto número de indivíduos vitimados
pela febre amarela que assolou a cidade. Os enterros passaram a ser realizados a partir de

39
17 de dezembro de 1867, feitos às pressas para evitar a maior sobrecarga no sistema
funerário da cidade (AMIEVA et al., 2017).
Melhorias só foram feitas anos depois, durante a época se encontrava em condições
precárias, sendo relatado a destruição de uma parte do cemitério por uma grande manada
de animais, oriundos de propriedades rurais circundantes. Em 1889 o Conselho Deliberativo
tornou o imóvel passeio público, posteriormente, em 1892 foi decretado como “Parque
Municipal de Rivadavia”. O 3° artigo indicava que os restos mortais deveriam ser exumados
e transferidos para o Cemitério Ocidental (nem todos os corpos foram retirados, restando
alguns sob o solo) e, posteriormente, após o prazo, deveriam ser removidas as cruzes e
ornamentos funerários. No ano seguinte, foram construídos canteiros, caminhos, bancos e
demolidos alguns vestígios do que ainda restava (AMIEVA et al., 2017).
No ano de 1928 o parque recebe o nome de “Dr. Francisco Ameghino” (Portaria n°
2.703), é possível encontrar, em seu centro, uma estátua em homenagem aos que foram
vitimados pela doença, não há um número exato de pessoas que foram enterradas no local,
mas fontes apontam 18.600.

Figura 9: estátua em memórias da vítimas da febre amarela

Fonte: Wikipedia.

O bairro só viria a ser conhecido pelo atual nome com da transferência dos
matadouros para o bairro de Mataderos (1901) e depois com a inauguração do zoológico
“Parque del Sud”, em 1921, projetado em 1902 por Carlos Thays (daí o bairro passou a se
chamar Parque Patricios). É interessante perceber que a época era marcada por um forte

40
ideário de progresso e civilização, positivismo em definição. Em uma cidade em expansão,
como Buenos Aires a “remodelação” do bairro, com a realocação dos matadouros e
chegada do parque, é vital para o desassociar da matança e vergonha, o que não se alinha
com a lógica de desenvolvimento da época (AMIEVA et al., 2017). É certo que, com o
avanço da tecnologia e adoção de medidas sanitárias pela cidade, houveram melhoras,
mas prezar para que estas sejam acessíveis de maneira universal é de igual importância,
algo que não é ignorado apenas pela cidade portenha, mas por outras pelo mundo (grandes
capitais ou não), como São José dos Campos.

Fig. 10: Projeto do parque del Sud de Carlos Thays

Fonte: Barriada.

Dessa maneira, pode-se dizer que, de certa forma, todos esses fatos históricos são
moldadores de uma trajetória histórica de expressiva veemência para a compreensão do
Distrito Tecnológico Parque Patrícios (principal elemento neste trabalho) bem como para
compreender a reestruturação urbana que se deu a partir desse conjunto de eventos
citados. Ainda assim, nos tempos atuais, mesmo com o papel ativo do Estado,
implementando políticas que objetivem inverter essa realidade, as consequências do
desleixo dado à região ainda são nítidas. Abaixo alguns dados que clarificam as
dificuldades locais.

Gráfico 2: emprego e desemprego por áreas da Cidade Autônoma de Buenos Aires

41
Gráfico X: elaborado com base em dados retirados Centro de Estudios Metropolitanos, por meio do
informe de coyuntura N°15/FEBRERO 2021 “Mercado de Trabajo: Situación del empleo en la Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, 4° trimestre 2020.

Tratando-se da comuna 4, área do estudo de caso, além de sofrer diretamente com


os problemas da região, o local possui 2,5 pontos percentuais superiores à média da cidade
(CIPEC, 2013) nos índices de analfabetismo, também tendo o maior número de roubos
sendo 165,76 por 10.000 habitantes, segundo o Relatório de Estatísticas Criminais
(GCABA, 2020)
O bairro se prolonga em sentido leste-oeste, área superficial de 3,7 Km2,
caracterizando-se por uma região de baixa verticalização, amplo uso residencial e alto
potencial construtivo, com uma população de 37.791 habitantes (GCABA). Além disso, é
cortado transversalmente (sentido leste-oeste) pela Avenida Caseros, canalizado
substancialmente o fluxo de veículos que transitam pela região, também sendo incorporado
ao sistema de transporte metropolitano da cidade em 2007 através da estação Caseros,
Parque Patricios (2011) e Hospitales (2015), todas parte da linha amarela (H). A região
também é atendida pelo sistema de transporte rodoviário Metrobus, que combina ônibus
urbanos articulados e tradicionais.

42
Figura 11: Mapa do Distrito Tecnológico Parque Patricios

Fonte: Governo de Buenos Aires.

3.2 Renovação da área sul da Cidade Autônoma de Buenos Aires e gestão


Macri: transformação do espaço sobre políticas de matriz neoliberal

A renovação da região sul da Cidade Autônoma de Buenos Aires é uma questão


debatida desde 1970 - ano marcado pelo surgimento de políticas e projetos urbanos
objetivando a resolução da questão -, e surge sob a justificativa de a igualar à região norte.
Observa-se uma desigualdade relativa se comparadas as duas partes, o sul tem sua
paisagem marcada pela presença de galpões em desuso, estabelecimentos industriais,
além de resquícios de linhas de trem e rodovias que agem como barreiras urbanas.
A partir dos anos 70 a cidade de BA, em um processo de sedimentação, recebe
planos e projetos urbanos. Entretanto, somente na gestão Macri, é que são criados os seis
distritos (5 localizados na área sul) de especialização. Objetivando equiparar a região sul ao
norte o governo investindo na região, nessas novas zonas será estimulado a instalação de
empresas através de incentivos fiscais.

43
Figura 12: Vista aérea da Cidade Autônoma de Buenos Aires e seus distritos econômicos.

Fonte: mapa de elaboração própria através de imagens de satélite acessadas pelo Google Earth.

Sob essa perspectiva, a gestão de Mauricio Macri (2015 - 2019) resultou em


mudanças expressivas nas decisões tomadas pelas frentes administrativas da cidade de
Buenos Aires, destacando-se mais precisamente as mudanças na esfera de habitação e
utilização do espaço urbano. Sob a mesma estratégia, foram adotadas posturas políticas
distintas para os conflitos urbanos enfrentados pela cidade.
A tomada de decisão era feita por órgãos distintos para o atendimento e resolução
de questões específicas de cada bairro. Nos que possuíam quantidade significativa de
terrenos abandonados - aqui se enquadrando os que compõem a comuna 4 - foram
promovidas políticas voltadas à requalificação urbana desses espaços. Enquanto em La
Boca houve uma tentativa de atrair o turismo para região, bem como sua valorização,
através de políticas de melhoria de infraestrutura local - com destaque para a implantação
da Usina da Arte (também o Teatro San Martin) no que antes foi a antiga companhia elétrica
Ítalo-Argentina -, em Barracas era feito o esforço para a construção do distrito
governamental, juntamente à incentivos à transferência de escritórios para a região. Ao fim,
no Parque Patricios e Pompeya a administração municipal buscava tornar a área de um
distrito de tecnologia (mais especificamente no Parque Patricios), com ofertas de isenção
tributária (isenção do pagamento de imposto distrital por 10 anos), concessão de linhas de
crédito especiais, além de também melhorar a infraestrutura pública local (CRAVINO E
PALOMBI, 2015).

44
Como hospedeiro de um projeto que visa o transformar em um distrito de tecnologia,
o Parque Patricios recebeu um grande número investimentos em sua infraestrutura, com a
abertura de uma estação de metrô - linha H, que se estende por 8 km e possui 12 estações
pela cidade -, e linhas de ônibus da rede Metrobus, sistema que combina ônibus urbanos
tradicionais com articulados em faixas exclusivas, além da instalação de novos mobiliários
urbanos (190 bancos, 108 postes de iluminação, 156 lixeiras, 3 playgrounds), 1 quadra
esportiva e um circuito aeróbico para idosos.

3.3 Distritos econômicos: catalisadores no processo de reestruturação da área


sul, o Distrito Tecnológico Parque Patricios

A comuna 4, composta pelos bairros de La Boca, Barracas, Parque Patricios, e


Nueva Pompeya foi o local de instalação de alguns dos distritos de especialização, sendo o
mais conhecido, e no local instalado, o Distrito Tecnológico, localizado no Parque Patricios
(também envolvendo parte de Nueva Pompeya). O distrito foi criado através da lei 2.972 de
“Promoção de empresas de tecnologia da informação e comunicação na Cidade Autônoma
de Buenos Aires” no ano de 2008, visando a criação de uma centro de inovação e
conhecimento, contemplando as seguintes atividades:

1. Produtos de software
2. Software personalizado ou incorporado
3. Portais web
4. Plataformas ou aplicações informáticas (web ou mobile) destinadas à utilização de
terceiros

Além disso, para as empresas instaladas é concedida a isenção de alguns tributos entre
eles:

1. Isenção de imposto de renda bruto até 31 de janeiro de 2024


- decorrido o prazo, tanto para empresas já inscritas quanto para novas,
redução de 75% no recolhimento do imposto de renda bruto por até 5 anos e
redução de 50% nos 5 anos subsequentes
2. Sob determinadas condições isenção do imposto de selo
3. Isenção sobre taxa retributiva de imposto predial para serviços de iluminação,
varredura e limpeza, manutenção e conservação dos ralos até 31 de janeiro de 2029
4. Isenção sobre direitos de delineamento e construção, capacidade construtiva
transferível (CCT), capacidade construtiva aplicável (CCA) e taxa de serviço e
verificação de obras até 31 de janeiro de 2029

45
Os benefícios se aplicam para projetos de uso misto com ao menos 50% de suas atividades
sendo voltadas às que o distrito contempla. Por outro lado, também são promovidos
incentivos como o financiamento de até 50% na obtenção do certificado de qualidade
através de um programa de subsídios não reembolsáveis, fora a concessão de linhas de
crédito preferências.
Também se beneficiam instituições de ensino, o Distrito é área preferencial para a
implementação de projetos-piloto para o ensino da língua inglesa e informática nos
diferentes níveis de modalidade, e estabelecimento de novas escolas de ensino técnico -
para escolas sob gestão do Estado sendo elaborado um programa de inovação curricular
baseando-se nas necessidades do Distrito Tecnológico.
De qualquer modo, é válido salientar que, no ano de 2021, a lei foi modificada, estendendo
os benefícios descritos acima até 31/01/2035 (modificação feita pela lei 6.392 de 8 de
janeiro de 2021).
A partir da promulgação da lei que delimitava a área como especial e voltada para o
desenvolvimento de empresas do espectro tecnológico e científico na cidade, a região foi
contemplada com um aumento substancial na instalação de empresas do ramo. Além disso,
também há o melhoramento da infraestrutura pública, como já mencionado anteriormente.

Gráfico 3: número de empresas/instituições por ano instaladas no Distrito Tecnológico

Gráfico 3: Informações compiladas dos jornais Clarín, Pressreader, La Nación, Diario popular, Quiero
a mi pais e Iprofessional: Iprofessional.

Com o objetivo de estimular a instalação de novas empresas a prefeitura da cidade


mudou o seu corpo administrativo para a região, se instalando no “Ciudad Casa de
Gobierno” projetado pela Foster and Partners. O edifício é moderno, amigável ao ambiente

46
e seu design se relaciona muito bem com o entorno, um ícone para uma nova era de
desenvolvimento e tecnologia. Assim como em São José dos Campos, com o Arco da
Inovação, aqui também está presente o monumentalismo e a criação de um cartão postal
para a cidade.
É inegável que a determinação do bairro como distrito econômico trouxe benefícios
a população local, principalmente na infraestrutura pública e serviços urbanos como o
transporte e maior segurança, contudo ainda é preciso lançar um olhar mais detalhista
sobre a situação e analisar de que maneira os diferentes estratos sociais se relacionam com
as mudanças promovidas e como a administração municipal se articula para possibilitar
esse ecossistema de inovação.

Figura 13: Ciudad Casa de Gobierno, projetado pela Foster and Partners.

Fonte: wikiarquitectura.

3.4 Parque Patricios: espacialidade urbana moldada pelo Distrito


Tecnológico em tempos atuais

Nessa perspectiva, vale o destaque para uma questão que ainda se desenvolve na
rua Santa Cruz 140, onde se encontra o edifício que foi sede da antiga companhia têxtil
SELSA, operante na década de 1990, mas que foi abandonado e passou a ser ocupado a
partir de 2002. Atualmente o prédio é habitado por 102 famílias que temem ser despejadas,
as mesmas estão envolvidas em um processo judicial de desocupação que tramita na
justiça desde 2010 contra o empresário que comprou o prédio com as famílias já o
habitando.
O entrave permite que sejam refletidas questões como a democratização do espaço
e as obrigações da cidade em possibilitar a aqueles de estrato social mais baixo,

47
alternativas viáveis e dignas de moradia. O acesso à moradia é uma questão que
acompanha a cidade de Buenos Aires há bastante tempo, que se acelerou após a
industrialização das regiões urbanas do país em um processo de substituição de suas
importações.
A cidade enfrentou dificuldades com a promoção de programas de moradias, que se
intensificaram durante o regime militar em 1976 diminuindo os investimentos para o
programa e adotando uma política para a erradicação compulsória das habitações
irregulares (conhecidas como “villas”), ditada por Osvaldo Cacciatore, interventor da capital
através da “Ordenanza 33.652”. Até os anos 60 o número de pessoas que habitavam as
villas era de 200 mil pessoas, enquanto em 1983 o número de habitantes era de 12.593
(SUÁREZ, MITCHEL, LÉPORE; 2014)
De acordo com o Recenseamento Nacional da População, Domicílio e Habitação as
villas mais habitadas encontram-se na região sul, entre elas a Villa 21-24 localizada na
Comuna 4. Ironicamente, a tentativa do governo em solucionar o problema expulsando os
indivíduos de volta para seus locais de origem não foi efetivo, já que o mesmo faz com que
o país mergulhe em crise em 1998, dobrando o número de assentamentos precários de 21
para 42 entre 2001 e 2010 (DADAMIA;2019).
Paralelo a isso é de grande relevância a discussão sobre a democratização do
espaço, assim como brevemente mencionado por RANA e PEDIGO no relatório “The
Consumer Redefined: The Creative Class” - trazendo uma análise da classe criativa. O
clustering construído, promove grandes mudanças locais (o que é positivo), entretanto,
pessoas de menor poder aquisitivo que ali vivem são empurradas para regiões periféricas
devido a rápida valorização do mercado imobiliário em virtude da localização de empresas
de tecnologia e da intensa renovação urbana com a substituição de moradias unifamiliares
e antigas plantas empresariais desativadas por edifícios corporativos o que tem contribuído
para a elevação do custo de vida da região. Em Parque Patricios, após a determinação do
bairro como distrito econômico dedicado à tecnologia e inovação, houve significativo
crescimento no metro quadrado do bairro saindo de US$ 596,00 em 2007 para
US$1.337,00 m2 em 2023 (Dados extraídos respectivamente de CELIS, Fernando Álvarez
et al. Parque Patricios. Buenos Aires: Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires, 2008 &
Mudafy CABA)
Moradores locais, em um estudo de percepção, acreditam que as empresas ali
instaladas possuem maior vantagem em relação à eles (ALCALDE, 2021). Embora existam
iniciativas tímidas de inclusão da população - em destaque o programa de capacitação e
bolsa para os jovens de Zavaleta (BADENI,2021) - é preciso maior aplicação de capital para
maximização do aproveitamento dos jovens cérebros locais. Análogo a isso, é essencial

48
que o poder público aja com eficiência e agilidade para que espaços inovadores não se
convertam em barreiras.
Todavia é um cenário que não parece se desenvolver, o que, em hipótese, justifica a
percepção da população do bairro (Parque Patricios) de desvantagem em relação às
empresas, ainda mais quando presenciam em 2019 o Governo da Cidade Autônoma de
Buenos Aires inaugurar um pátio gastronômico em um lugar no qual se prometia uma
escola desde 2015 (ROSENDE, 2019).
Em relação a forma que o espaço se molda, outro aspecto interessante entra em
debate, o zelo com o patrimônio e história local. A remodelação do espaço é algo que
sempre se fez presente ao longo do desenvolvimento humano, mais especificamente nas
cidades, nesse sentido, analisar este aspecto não apenas em Parque Patricios, mas na
área sul da cidade é imprescindível. Quando não levado em consideração a conservação da
memória, tais espaços - dotados de crescente atividade imobiliária -, encontram-se sujeitos
a um apagamento quase que sistematico de sua história.
Edifício icônico da história do bairro, o Cárcere de Caseros (ou Complexo
Penitenciário n°1) foi construído em 1870 como um centro de correcional de menores.
Durante a ditadura argentina (1976 - 1983) o edifício foi transformado em prisão, se
somando ao complexo uma torre H de 22 andares em 1979. A prisão foi muito utilizada para
a detenção de opositores políticos e sujeitos considerados inimigos do regime - comunistas,
sindicalistas, jornalistas e estudantes (NARVAEZ, 2021).

Figura 14: fotografia do atual cárcere de Caseros

Fonte: fotografia tirada pelo orientador (2022).

49
Após o encerramento do presídio em 2001, no local, onde se localizava a torre, foi
construído o “Archivo General de la Nación” (iniciado em 2016 e concluído em 2019)
destinado a preservar o patrimônio histórico da cidade (GOMEZ, 2020). A estrutura sul do
presídio tem planos para receber um retrofit, será o local do novo prédio do Ministério da
Economia (que deveria ser concluído em 2022, mas o projeto foi interrompido com a troca
de governo), alguns elementos como fachada externa e torreões serão conservados, mas a
parte interna será remodelada, comportando uma estrutura de 7 pavimentos em uma área
coberta aproximada de 40.000 m2 (SANGUINETTI, 2020).

Figura 15: Projeto do cárcere de Caseros após a instalação do novo edifício

Fonte: site de notícias La Nación.

O governo da cidade objetiva, com a instalação do novo prédio, acelerar


investimentos e valorização para a região. Antes de ser selecionada como hospedeiro do
projeto Caseros estava abandonada, vandalizada e com alta vegetação rasteira
(SANGUINETTI, 2020). É um episódio de perda significativa, mas certamente não será o
último.

COMPARATIVO ENTRE O PARQUE TECNOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DOS


CAMPOS E O DISTRITO TECNOLÓGICO DE PARQUE PATRICIOS

Em comparação, é interessante observar como as duas localidades de estudo


compartilham de características comuns: a venda da cidade como produto e o apagamento

50
da memória nos locais onde se ocorrem as mudanças - em São José com a perda de seu
patrimônio industrial e no Distrito Tecnológico o retrofit ou substituição dos edifícios
históricos do bairro. Há, além disso, a necessidade de expor o progresso, seja por meio da
promoção de slogans ou monumentalismo, orientando a construção de um novo tipo de
pensamento favorável a todas as mudanças implementadas.
É certo que a ventilação de discursos em prol dessa lógica, do modo qual se
constitui e opera, contribui para a construção de distorções de entendimento por parte da
população local. Caso o objetivo do governo seja a revitalização da área somado à atração
de empresas, seduzidas por isenções fiscais e infraestrutura barata, não significa que os
empregos gerados pela instalação de tais corporações seja necessariamente para os
habitantes da região - o benefício é, em tese, universal, mas não será deleitado por sujeitos
de qualificação insuficiente -, o potencial desses espaços se tornarem barreiras e serem
responsáveis por um processo gentrificador existe.
Nessa lógica comparativa, percebe-se em São José dos Campos significativos
entraves enfrentados por estudantes e funcionários para acessar o Parque Tecnológico,
ainda não contemplado pela Linha Verde - elemento de reverberação territorial, que
qualifica o ambiente, assim como as estações da Linha Amarela no Parque Patricios. O
atendimento atual do sistema de transporte é insuficiente, além do tempo de chegada ao
destino dada a distância, se acrescenta os congestionamentos na Rodovia Presidente
Dutra, eixo de circulação vital para a cidade e região
São José dos Campos, assim como o Parque Patricios na área sul de Buenos Aires,
são localidades que historicamente hospedaram obras governamentais e instalações
impopulares - cemitérios, conjuntos habitacionais ocupações irregulares e fábricas -, e
pouco atendidas pelo serviço público e rejeitadas pelo mercado imobiliário formal, seu novo
ganho de centralidade estabelece conflito entre seus usos pré-existentes e os novos
atualmente pretendidos. No recente cenário, de infraestrutura oferecida pelo estado e
parcerias público privadas as cidades então buscam assumir a inovação e a tecnologia de
forma a se manterem competitivas em relação às demais.
O espaço então se requalifica, em São José, na Zona Leste, região, que
historicamente contou com grandes ocupações irregulares e informais, recebe grande
quantidade de regularizações fundiárias e de ZEIS, além de mais investimentos por conta
da expansão do Parque. Há no município um core de empresas diversificadas (de
tecnologia espacial, microeletrônica e de telecomunicação) e que, com o Parque como
articulador, tornam a cidade um campo de experimentação, com a implementação de
serviços inovadores e inteligentes, a prestigiando como Smartcity. O mesmo ocorre no
Parque Patricios, com a exceção de que no Distrito as empresas se caracterizam por uma
tipo de terciário avançado, não agregando em inovação e desenvolvimento material. De

51
qualquer forma, em ambos os casos é importante salientar que a ideia de parque ou distrito
de inovação é diferente do que se tem em outros países (hemisfério norte), existindo um
grande intercâmbio entre tecnologia desenvolvida e indústria, como ocorre nos parques
tecnológicos chineses e norte americanos, por exemplo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É interessante observar como no âmbito dos objetos de estudo, a evolução do meio


técnico científico informacional e o novo papel das cidades como indutoras do
desenvolvimento econômico contribuem para o estabelecimento de uma lógica de
concentração dos investimentos públicos em projetos de dinamização econômica que
desconsideram um olhar integral da cidade. A canalização de recursos para qualificação
urbana e mobilidade para atender pontos específicos da cidade contribuem para consolidar
lógicas de expulsão e processos de gentrificação.
Ao mesmo tempo, a definição de uma base produtiva que exige alta qualificação da
mão de obra, gera poucas oportunidades para a população local, sendo que não há
incentivos para que esses grupos sejam incluídos no âmbito dessa nova lógica produtiva.
Além disso, percebe-se uma racionalidade de inserção por baixo na divisão
internacional do trabalho, quando se fala dos estudos de caso, no caso argentino se
estabelece uma lógica chamada “sojaware” que é a exportação de linhas de código como
se fosse commodities, com pouco espaço para inovação tecnológica pela própria
característica do distrito, com pouca complementaridade entre as empresas, sendo que a
maioria atuam no mesmo ramo que são concorrentes. No estudo de caso brasileiro, a lógica
que se estabelece é de consultoria e softlanding para empresas de tecnologia estrangeira, o
que também dificulta a construção de lógicas de inovação.
Portanto, repensar Parques e Distritos Tecnológicos e de Inovação, significa trazer
um olhar inclusivo de forma a permitir o desenvolvimento da população local, uma relação
mais harmônica entre as atividades produtivas e a memória dos bairros e localidades, mas
sobretudo não reforçar as lógicas perversas do processo de urbanização latinoamericano.

ANEXOS

Linha do tempo: linha do tempo.xlsx

1 - ENTREVISTA COM CESAR MELLO


2 - ENTREVISTA COM CARLOS PIROVANO

1 - ENTREVISTA COM CESAR MELLO

52
Sofia Fortunato (Entrevistadora 1) - Então eu começar fazendo a 1° pergunta

César Mello (entrevistado) - Só fazendo um alerta, eu vou ter que sair as 10:30,
depois a gente marca uma nova oportunidade mas 10:30 eu tenho que sair para uma
reunião.

Sofia Fortunato (Entrevistadora 1): Perfeito. É… segundo o site da Innovact, os


primeiros passos da sua empresa datam de 1997, quando você assumiu o desenvolvimento
de uma fazenda às margens da rodovia Presidente Dutra. Naquele momento você viu um
processo de modernização do parque industrial joseense com o fortalecimento dos
investimentos em tecnologia? Você poderia falar um pouco mais desse recorte histórico? A
sua visão de mundo na época, e também de como foi o processo de atração da Solectron e
da Parker para São José dos Campos. A ideia de transformar esse setor da Zona Leste em
um Hub de inovação já existia desde os anos 90? E uma última pergunta, a concepção do
parque tecnológico já estava presente antes mesmo da chegada da Solectron? Ou surgiu
após o fechamento da empresa

César Mello (entrevistado): Então vamos lá. Não, o Parque Tecnológico não estava
presente naquele momento, e a ação em São José dos Campos foi por oportunidade e
acidente. Eu tenho um escritório imobiliário no bairro de higienópolis tradicional há muitos
anos na cidade de São Paulo, e dentro das minhas relações econômicas no bairro uma
família confiou essa fazenda e que eu desenvolvesse a fazenda. Naquela ocasião havia
muita resistência, porque eu não conhecia nem São José dos Campos, né, mas havia uma
pressão forte da fazenda que havia uma relação de extrema confiança que até hoje
perdura, até hoje eu sou o procurador dele aqui em São José dos Campos né, e com isso
fui pra São José dos Campos entender a fazenda.

Então, a escolha da zona Leste que naquela ocasião era considerada a fronteira
com maior dificuldade e menos atração da cidade foi consequência de acidente dessa
oportunidade que eu recebi. então duas situações:

1 - Não Escolhi São José dos Campos

2 - E a Zona Leste também foi uma consequência

A zona Leste, na ocasião, era tratada como o “patinho feio” da cidade. A 1° incursão
em São josé dos Campos, o que eu ouvia no mercado era “pô você tá no lugar errado, as
pessoas não querem saber da Zona Leste”, primeiro, a pista São Paulo - Rio, ela era
discriminada, ela era desvalorizada, a pista boa era a pista, naquela ocasião, Rio - São
Paulo, Zona leste pior ainda, você tá no pior Cenário. Mas ok, vim conhecer São José dos
Campos, e não foi em razão de São José dos Campos que eu lastreei a minha razão de
percepção, também foram os sites, eu não sabia o que eu estava fazendo, mas havia a
percepção de que eu poderia desenvolver um pólo empresarial já contemplando um uso
diversificado, em razão de um… Eu era jovem na ocasião, ainda sou né, tinha 28 anos, 27
anos, então eu percebi que havia um novo momento no Brasil, então havia uma condição
da privatização da EMBRAER

53
Eu assumi a fazenda em 95, em 94 a EMBRAER foi privatizada. Em 92 houve a
privatização das telecomunicações no Brasil, e aí nós começamos a assistir… eu já tinha
uma ação econômica intensa em São Paulo né, São Paulo é uma cidade né, eu sou
paulista, tenho relações com empresas tenho negócio em São Paulo, mas São Paulo é uma
cidade fascinante, você é bombardeado constantemente com uma capacidade de
conhecimento econômico incrível, então para um garoto de 27 anos ficou claro que nós
vivíamos um momento no brasil, excepcional e que estava atraindo uma atração urbana
voltada a empresas de manufatura tecnológica, e com isso eu contratei, naquela ocasião, o
professor José Raimundo, ele foi professor da FAU e fazia o “curso de cidades” da FAAP,
né, meu escritório era na Praça Vilaboim, nós conhecíamos o professor… Nossa, esqueci o
nome, também faz muito tempo. Bom, contratei este urbanista para que ele me desse
suporte, me ensinasse o que deveria ser feito, ele veio comigo para São José dos Campos,
nós nos reunimos com a secretaria de planejamento, na ocasião… São José tem uma coisa
interessante, você tem uma gestão pública muito capaz, então eu sou testemunha, sou
apolítico, eu trabalho… eu já estou na 5° gestão trabalhada na concepção urbana deste
território, venho subsidiando o município no desenvolvimento na compreensão e na
implantação e, em todo esse percurso, é uma cidade atípica em relação ao Brasil, uma
formação interessante.

Quando eu fui enfrentar a aprovação do loteamento cidade tecnológica no


Graprohab, quando nós entramos no Graprohab, Graprohab falou assim, bom se vem de
São josé dos Campos, nós já temos 51% resolvido, é o único município que a gente
considera essa eficiência, vamos falar assim. Porque que eu estou falando isso, porque eu
fui também ajudado pela equipe da prefeitura, encontrei pessoas capazes e que me
ajudaram e que me subsidiaram com conhecimento para que pudesse ser desenvolvido ali
na região, então professor Raimundo e a equipe da prefeitura, fizeram primeiro o master
plan, esse master plan já contemplava a uma visão em uso múltiplo, mas olhando uma
ocupação industrial colocando uma ação residencial empresarial e lazer, no mesmo
território, era uma área de 2 milhões de metros quadrados né.

Naquele momento o município de São José dos Campos criou a sua recente
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, essa secretaria tinha como função exatamente
capturar aqueles empreendedores, aquele proprietários de terra, que estavam dispostos a
produzir um novo desenvolvimento para o plano econômico da cidade, de novo, gestão
eficiente né. então, era uma equipe bacana, forte, com o secretário, na ocasião, [inaudível]
Paula Santos e [inaudível] Chagas, hoje professor da Fatec, um cara que tem uma visão
muito grande.

Eu levei esse projeto master plan para o município, com isso eles começaram a
trabalhar a ocupação desse processo. E não demorou muito, questão de 10 meses, a
Solectron ela veio para para absorver uma parte do plano, uma gleba de terras, 188 mil
metros quadrados. E o que que a Solectron faz, ela é uma empresa de manufatura de
eletrônicos, então ali ela confirma a minha visão que eu já tinha um ano antes quando eu
investi nesse projeto, né, de que era a tendência de ocupação urbana das terras.

Então com a vinda da Solectron, nós começamos a desenvolver um projeto de


implantação remanescente, já tinha o master plan, mas estaria ancorando a operação
restante. Eu fui cobrado naquela ocasião, né, bom você vai fazer outro empreendimento?
né, e tinham vários nomes bonitinhos, o urbanista gosta de dar “Business Park”, “Parque

54
Industrial”, nomes bonitinhos pra isso. Não tinha como uma única âncora, eu falei não
adianta trabalharmos com uma âncora só, nós não vamos fechar um shopping center só
com um “Pão de Açúcar” eu preciso de [inaudível] juntos, senão não vamos fechar o
negócio.

Então nós começamos aí a trabalhar, capturar uma uma 2° âncora para a região, aí
veio a Parker Hannifin, a Parker Hannifin merece toda a atenção, nós estamos falando de
um dos maiores conglomerados americanos industriais, com mais de 550 fábricas
espalhadas pelo mundo. A Parker é um caso interessante porque ela se estrutura de uma
forma de desenvolvimento tecnológico em cima de um impulso da 2° Guerra mundial e se
torna um gigante, então tudo o que se movimenta no mundo têm Parker Hannifin. Então a
Parker vem, de novo confirmando essa tendência de ocupação urbana de manufatura e de
tecnologia.

Com a entrada da Parker, iria viabilizar, buscar os investidores para viabilizar o


restante da ocupação das terras. Naquele momento a Solectron sai precocemente, ela sai
em apenas 4 anos de operação, né, chegou a ter 900 funcionários. Ela sai por que? Porque
ela assume naqueles movimento globais, ela assume a manufatura da HP global, quando
ela assume todas as fábricas da HP, como estratégia no Brasil ela destina sua operação,
concentra, em Indaiatuba e ela deixa lá em São José é… boa parte da produção dela lá era
Ericsson que era nossa vizinha de frente, então ela montava os celulares da ericsson.
Quando ela vai pra Indaiatuba ela vaga aquele prédio, né, aí surge o Sistema Paulista, aí eu
desanimei, voltei, aí falei agora meu principal âncora… perdemos nosso principal âncora. O
que me pareceu no primeiro momento como grande obstáculo, foi excepcional verdade,
veio o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, esse é de 2004, 2002, coisa de 2002,
2004 né. O sistema Paulista de parques Tecnológicos que seleciona as primeiras 5 cidades,
né, que vão receber um parque tecnológico.

Esse projeto foi capitaneado pelo município de São José dos Campos né, e eles
viram aí uma grande oportunidade da fábrica da Parker estar vaga. Então eles tinham aí um
núcleo pronto, as terras que comportassem a acomodação de que é um parque tecnológico
que envolve… o que que é um parque tecnológico? Um projeto imobiliário, pra colocar…
Vamos colocar… a triple helix, não é nada mais do que um espaço físico, essa que é a
diferença. Como um dos vários ambientes de inovação o parque tecnológico é um ambiente
urbano, desenvolvido para a ocupação que promova, para o que nós conhecemos aí, a
triple helix, né, e a partir daí vai longe o conceito de que que é parque, a gente pode
aprofundar, senão vou acabar me perdendo acabar não contando a história que você me
perguntou.

Então com isso o município viu a oportunidade, adquire a Solectron e adquire parte
do meu projeto, né. Com isso eu fui entender o que era parque tecnológico, naquela
ocasião, e isso foi de 2006 pra 2007, não tinha referência no Brasil, eu não não conseguia
compreender o que era parque tecnológico olhando para Brasil, América Latina, não haviam
referências para aquilo que eu tava enxergando, veja, eu sou aquele bicho, eu sou caboclo,
aquele cara que vai lá para ver o urbano a terra, vai na raça… Eu não enxergava isso, no
Brasil não existia. Então com isso eu mergulhei com o que se apresenta mundo afora e
comecei a desenvolver um conceito do que seria uma ocupação urbana que desse
condições para não só a consolidação, fortalecimento e expansão de um parque
tecnológico.

55
Isso exigiu também uma incursão, um dos grandes desafios que tive no processo,
grandes conquistas, minha maravilhosa esposa, eu acabei seduzindo ela pelo assunto.
Patrícia, excelente, vale vocês lerem a tese dela da Fundação Getúlio Vargas. Então a
Patrícia com isso ela mergulha pelo meu assunto, em áreas diferentes, ela é acadêmica e
eu sou um triple helix, na minha mesa sempre tem governo, academia e empresa, sempre
estou trabalhando com os três. É isso que é a Innovact, ela dá a mãozinha dos três e ela dá
um nózinho nos três.

Então a Patrícia, com a oportunidade da Patrícia, nós buscamos estruturar que ela
fizesse o mestrado dela na Fundação Getúlio Vargas, analisando a constituição jurídica de
que é parque tecnológico olhando São José dos campos, e ela fez o doutorado dela, aliás a
Patrícia é formada em direito e relações internacionais, e ela é um case né porque ela é
formada em direito e fez econometria no doutorado dela. Provou-se que poderia fazer
econometria e criou um abalo lá dentro da FGV porque eles acham que todos têm
capacidade de aprender econometria e direito e outras coisas só quem vem de humanas.
Então a Patrícia fez o doutorado dela na faculdade de economia né, na Cepesp, Centro de
Política Pública da FGV, também olhando o Parque Tecnológico, e aí deu um olhar único,
especial é, o resultado hoje é muito em razão do que minha esposa trouxe para o
desenvolvimento que estamos fazendo. E isso nos deu oportunidade para nós irmos para
fora do país, conhecemos, em primeiro momento os Estados Unidos, passamos por 10
estados americanos, nós fomos vivendo levei o nosso filho de 3 anos.

A minha experiência é a calçada, eu sento num café, meu bloquinho de anotações,


cruzo os braços e fico, é uma coisa meio “fulano de 42 anos de braços cruzados dois
meninos conversando com ele. O de braço cruzado é investidor, o café na frente é
[inaudível]”. Então assim, eu tenho o olhar de cidade, eu tenho um olhar de comunidade, eu
tenho um olhar de ambiente, a Patrícia tem um lado acadêmico, uma coisa mais densa né.

Então nós rodamos 10 estados americanos, vivendo um pouquinho de cada estado,


nosso principal ponto, onde ele fez um pouquinho do Sanduíche dela foi no Wisconsin, na
cidade de Madison, é incrível, um caso interessantíssimo, uma cidade que vive da
academia, um 3° parque tecnológico em patente nos Estados Unidos né, foi uma graduação
intensa em Madison. Mas viver, vivi um pouquinho em Palo Alto, fui até para o Novo México
que é o Sandia Park, que é um parque na área de defesa, ou seja, eu conheci
profundamente o ambiente americano. E também fomos pra Alemanha, aproveitando o
sanduíche dela em doutorado em Colônia né, e aí conhecemos bastante o ambiente
europeu de parques tecnológicos, sistemas de inovação, parques tecnológicos na
Alemanha, na europa, é uma coisa bem diferente do que olha na América e o que está
sendo constituído no Brasil.

Agora eu me perdi a tua pergunta foi? Eu vou contando a história, aí eu vou


respondendo algumas [inaudível] da tua pergunta.

Então, Zona Leste, essa é a razão, a evolução do processo de ocupação da Cidade


Tecnológica foi da ocupação de um olhar do que é necessário fazer frente ao parque, e era
também necessário que o parque se consolidasse. eu como espectador privilegiado aqui
presente do Parque Tecnológico, hoje eu sou coordenador do comitê estratégico do parque
que está montando a estratégia dos próximos 10 anos. Nós propusemos, para você ter
ideia, a refundação do parque agora, o momento exige porque a covid nos coloca no

56
epicentro dessa reação. Esses ambientes de informação na escala de parque tecnológico
eles têm uma obrigação de criar as respostas que nós estamos impondo neste momento.

Então os parques são os ambientes que melhor representam o centro do objetivo


imobiliário, essa transformação que a sociedade tem em cima do ativo do conhecimento,
onde quem detém o conhecimento detém a capacidade de geopolítica, econômica, de
desenvolvimento de uma sociedade. O principal ativo de 30 anos, 40 anos pra cá é o
conhecimento, é uma coisa recente, então o conhecimento em relação ao urbanismo ele
têm uma nova concepção espacial né e não só no aspecto urbano, mas no aspecto de
sociedade, como a sociedade se compõe como é que ela produz isso. A cidade atrás da
fábrica automotiva, hoje a fábrica automotiva vai atrás da universidade, e a base do Parque
Tecnológico, de um ambiente de conhecimento é algo da cidade, e aí meus caros nós
temos um desafio incrível. Hoje mesmo eu tenho uma reunião com o Anderson, diretor do
ITA, mas eu estou toda a semana com ele, a cobrança que faço com eles e faço de vocês
acadêmicos, vocês estão na linha de frente dessa nova composição social e econômica, a
academia ela é a locomotiva. Antes era o mercado, a academia hoje é o mercado, a
academia hoje é produto, sai produto da sala de vocês.

Então no Brasil, especialmente no Brasil, essa barreira é densa, então você vai lá
fora e vê que a academia é empreendedora, a academia ela é arejada, ela é permeável.
Vocês ainda estão em uma condição de elite acadêmica onde vocês têm esse acesso, mas
o restante vocês sabem como é que é… Uma caixinha fechada e aonde eu sou muito crítico
nisso e eu estou constantemente com os reitores, com os acadêmicos do meu lado né, e
eles ouvem com muita atenção, estão trabalhando né. Já quebrei muita perna de
acadêmico aqui pra reagir de forma diferente, e eles começaram a tocar… Quem tem que
conduzir esse processo são é a academia, ela vai dar a regra dela… regra não… ela vai dar
a composição dessa sociedade quando ela tá se formando né, vocês produzem
conhecimento o resto é [inaudível].

Acho que falei demais, vamos lá, próxima

Natália Tamanaka (entrevistadora 2): Cesar pegando o gancho aí que a gente está
falando do Parque Tecnológico é, pra além dessa consultoria né do primeiro momento do
professor da FAU, depois vocês tiveram algum serviço de consultoria para estruturar o
Parque Tecnológico, propriamente dito? Ou também se você… você disse que também
viajaram por diversos estados americanos e também Alemanha, teve algum parque
tecnológico que foi assim… mais referência pra constituição do parque de São José?

Cesar Melo (entrevistado): É, vamos lá. Sim, eu acho que é um processo natural
que não se constrói sozinho, eu tenho por essência buscar apoio e colaboração de pessoas
que sabem muito, mais muito mais do que eu né, então essa já é uma reação pessoal
minha, ir atrás realmente de capacidades de colaboração de você ficar lá, imperadores do
conhecimento e achar que você sabe tudo… não você está perdendo de todo tipo.

Então sim, eu tive é, de novo, sempre com o apoio da gestão pública durante esses
últimos vinte e poucos anos tá, pessoas capazes né, nós sabemos que se trata de um
município que infelizmente não é a regra do país, mas isso eu sou testemunha que faz a
diferença. Então assim, sei que subsidiado Secretaria de Transportes, Secretaria de
Planejamento, Secretaria de Governo, sei que sou subsidiado por pessoas capazes, umas

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mais umas menos, mas sempre pessoas expostas a estarem bem limitados tá, não é mais
capaz… limitados. e eu tive sim algumas consultorias com a P3urb, é uma empresa de
estruturação, que no caso específico, da cidade tecnológica, os meus parceiros estratégicos
é a P3urb né, que é composta pelo Ricardo Pereira Leite que vale a pena vocês verem o
trabalho deles, porque não aparece muita coisa, mas é porque é uma estratégia deles de
não aparecer mesmo.

Mas então tem o pessoal da P3urb que foi fundamental para a realização da cidade
tecnológica. Agora todo o conceito… ah e a FGMF, então o Lourenço, especialmente o
Lourenço Gimenes e o Rodrigo e o Fernando sempre ajudando, mas na linha de frente da
FGMF o Lourenço, eu poderia destacar a figura do Lourenço tá, foi aquele que pegou o
projeto. É que assim, eu procurava um um… apesar de ser a FGMF não tem histórico de
urbanismo, esse é o único loteamento deles, eles até brincam “você é o maior projeto
nosso” [risadas] né, mas eu queria o que? Uma turma da onde vocês estão, novos, fora da
caixa . Então quando eu conheci a GMF há 8 anos atrás, os contratei pra fazer uma cidade
tecnológica, para eles foi uma surpresa né, mas eu queria alguém sem vício nenhum e que
tivesse, sabe era sair do zero. Se eu pego aquela empresa que é especialista em fazer
loteamento, que é “deixa comigo que eu sei o que tem que ser feito”. De novo, eu tinha
consciência que nesse caso eu tinha que buscar alguém fora da caixinha e que ia construir
seu conhecimento durante o processo.

E foi muito feliz, a FGMF fez um excelente trabalho, fez um traçado urbano, uma
distribuição urbana que me subsidiou no sentido de eu mudar o zoneamento dessas terras
na Câmara Municipal de São José dos Campos, que também foi um caso único assim né.
Eu fui lá, mobilizei a Câmara para entender a necessidade, a responsabilidade da Câmara
de que eles tinham que viabilizar um zoneamento, que o Parque era aquele momento o
Parque já estava se consolidando né, então eles tinham que olhar pra aquela área de uma
maneira muito pontual né, e recebi o apoio da câmara naquela ocasião, e foi mudaram o
zoneamento, o Lourenço estava naquele momento junto comigo me subsidiando,
trabalhando nessa percepção né, e na composição do que é essa área tecnológica.

Então a FGMF, a P3urb, a Exto Engenharia, que quem é de São Paulo está mais
próximo da marca. A Exto Engenharia é mais a construtora mesmo, eles não tiveram uma
ação de desenvolvimento. Mas o conceito, o conceito veio de mim, foi sendo construído,
não foi a P3urb e nem a FGMF que colocou o conceito, o conceito foi colocado por mim né,
e eles foram desenvolvendo aquilo que eu fui provocando né, e é natural, cada um foi
somando durante o processo

Marcel Fantin (entrevistador 3): E é interessante né Cesar porque o Brasil entrou


tarde nessa discussão né, e a gente vê que até a própria arquitetura e urbanismo tem uma,
por exemplo, eu percebi que a gente tem pessoas especializadas nesse sentido de
empreendimento para o país né

Cesar Melo (entrevistado): É a Innovact se candidata a ocupar um espaço


inexistente no país, a Innovact ela se espelha em duas empresas que é o Xfort e a…
depois eu posso passar para vocês, foi dois grandes empreendedores americanos. Estados
Unidos têm quatro grandes empreendedores que fazem distritos de inovação que trabalham
com mercado para empresas de tecnologia. E eu estive pessoalmente com os diretores né,
estive com o Alex [inaudível], que foi o secretário de planejamento de Nova Iorque, um cara

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que fez a Cidade Google, é um cara que tá muito na… tive com ele, ele acessou do senado
americano para ambientes de inovação, então o Alex foi um cara que, você me perguntou
Natalia, outra pessoa que me subsidiou bastante foi o alex. Ele tinha uma visão bem clara
do que ele estava fazendo em Brooklyn, então ele foi o precursor no Brooklyn, hoje
Manhattan, por exemplo, o Brooklyn tem mais atenção e mais valorização que Manhattan.
Por que? Porque eles desenvolveram ali um pólo, botaram as universidades, colocaram as
empresas de tecnologia eles desenvolveram um retrofit naquelas quadras industriais de
armazéns né, então o Alex, a empresa dele foi a empresa precursora desse processo, e eu
tive uma relação excelente e numa estadia nos Estados Unidos ele colaborou bastante.

Em Baltimore eu estive com o pessoal do Westford, que hoje é onde tá o complexo


de tecnologia John Hopkins, que é aquele, hoje em referência em covid, global né, então ali
eles têm uma ação de parque tecnológico em Baltimore. Também foi um pessoal que me
ajudou bastante, então a Innovact ela se espelha em uma ação econômica inexistente, que
não existe nenhum ator no Brasil que faça essa ação. Tem um ator institucional que possa
se assemelhar a isso que é a CERTI, em Santa Catarina, esse pessoal da CERTI, mas eles
são públicos, mas eles trazem o empreendedor, eles trazem… ou seja eles trazem a triple
helix pra trabalhar do lado deles. Eu sou o 1° ator privado sim, desbravando e colocando no
mercado um produto inexistente, nós somos de fato 1° distrito de inovação, 1° produto
desenvolvido para o desenvolvimento desse ecossistema de conhecimento que vai ai da
indústria a vida né, hoje com a covid se acentua esse processo, vida, lazer, senão eu não
seguro vocês aqui no Brasil, mais do que nunca agora.

Então há um vácuo, há uma inexistência no mercado, outros atores virão, tem que
vir. O que existe é uma ação pública, nesse sentido, tem a CERTI, tem lá o pessoal do
Porto Digital, parece que é uma semi imobiliária, eles tem também [risadas], eles focam
muito, esse foi um dos pilares do sucesso deles, então eles trouxeram o empreendedor ali,
o dese…

Uma coisa curiosa vamos lá, vou contar um caso pra vocês, eu morava lá, morava
não, passei um mês lá em Palo Alto e eu fui a casa do professor Henry Etzkowitz né, que é
o pai do triple helix. E eu já estava um tempo nos Estados Unidos e eu provoquei o
professor o professor Henry, eu falei assim “olha eu estou vendo empreendedor imobiliário
desenvolvedor, não só muito presente, mas numa ação fundamental, numa ação que se
não tiver o desenvolvedor junto, desenvolvendo esse modelo de implantação que são
parques tecnológicos, o insucesso tá marcado”. O professor Henry falou assim “eu estou
pensando em colocar uma 4° hélice”, ele brincando comigo, colocar o desenvolvedor
imobiliário é fundamental ele falou “tem que tá ali junto, tem que desenvolver no
nascimento”.

Então você tem o parque lá em Brasília, o BIOTIC, que está saindo. São 20 anos
trabalhando desenvolvedor [inaudível], se você for ver onde está o gargalo deles, eles
ficaram 18 anos negociando desenvolvedor urbano. Então nós perdemos uma década e
meia em Brasília pra trazer esse ator que eu estava ali na raça, ali na ignorância palpando
no escuro.

Então a Innovact sim, ela abre o mercado, e eu não êxito em fazer esse depoimento,
de que o meu objetivo é de que eu possa colaborar para que esse meu conceito se espalhe
pelo nosso país e possa criar, incentivar outros grupos a fazerem, ou mesmo eu colaborar

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com outros grupos. Mas não se enganem, esse é um tipo de mercado que num país como o
Brasil tem espaço para desenvolver de dois a quatro hubs, acabou, não tem espaço para
mais que isso. Por isso que ele inibe o empreendedor, não adianta você querer criar
ambientes nessa escala de inovação, o Brasil em parques tecnológicos é uma grande piada
quando se fala em mapeamento de governo, nós temos 380 parques vocês sabiam disso?
Você vai lá na Anprotec, você vai lá no MCTI tem lá 380, 180, 90 em implantação… Nós
temos 5 parques no Brasil, se tiver.

Marcel Fantin (entrevistador 3): É o de São Carlos onde a gente está, ele é bem
pouco desenvolvido.

Cesar Melo (entrevistado): Não é parque Marcel.

Marcel Fantin (entrevistador 3): É não é parque, é.

Cesar Melo (entrevistado): Eu converso muito com o Eduardo Gurgel, lá de


Campinas, o Eduardo tira o barato dele, e ele é o diretor do Parque Tecnológico da
Unicamp, ele fala “você sabia que a gente tem cinco parques cesar? A gente está na frente
de vocês”, aí ele ri né. Aí eu falo assim “é Eduardo?" ele fala assim “cara eu não tenho
nenhum”. Agora eles estão com um projeto pra fazer na Argentina né, que é sensacional, é
incrível né, e merece toda a atenção, todo apoio, e eu venho conversando com o Eduardo
nos últimos quatro anos, bastante né, e o pessoal da Unicamp, pessoal do Inova Campinas
né, eles estão de olho com o que está acontecendo com a gente, então assim, não tem,
parque tecnológico é outra coisa.

É, rapidamente, só pra terminar a Natália, Centennial é um campus em Raleigh,


Carolina do Norte, referência. É, São Francisco Mission Bay, porque eu estou falando de
cidade tecnológica tá. Em Heidelberg, Alemanha é, nossa me fugiu… Skylabs em
Heidelberg, Adlershof, em Berlin. Esses quatro, que nós estamos falando de territórios
urbanos, que ancorados em academia de base de produção de tecnologia industrial né,
com laboratórios, com um ecossistema já econômico e social desenvolvido em volta, foram
planejamentos urbanos e dedicados aquilo, eu não estou colocando aí dezenas de distritos
de inovação como a Rua Pinheiros, o Largo da Batata que afloram de forma natural. Então
você tem aí uma outra composição do que é um centro de inovação, que são os grandes
centros urbanos que eles se transformam naquela conversa do conhecimento com base
fundamental no desenvolvimento de uma nação de uma economia, então isso daí aflora na
Rua Pinheiros, aflora nos grandes centros né.

Então você pega, por exemplo, Porto Digital, Porto Digital ele é um… nós estamos
falando da recuperação de uma área muito degradada, muito diferente do que é, esses
casos que eu te citei e alguns que estão em bom caminho no Brasil. Joinville, Grupo Perini,
presta atenção nessa turma, nós de São José estamos em uma escala muito na frente, mas
porque é São José, São José é spin off do MIT há 3 gerações. Os caras estão com o MIT
desde a época de 50, então vem um fulano lá de Pirapora do Bom Jesus e “vamos fazer lá
um parque tecnológico”, fala aí “calma, você tem uma indústria global? A tua cidade
representa uma indústria de tecnologia global, ela representa? Automotivo, energia,
petróleo, aeroespacial? Então dá pra fazer o parque. Se não têm uma indústria, se aquela
cidade, aquela região, não representa uma indústria de constrição global que produz
tecnologia, esquece, não vai sair parque tecnológico nenhum. Conversa "

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Então você tem uma academia tecnológica de ponta empreendedora também, você
tem uma comunidade, uma sociedade desenvolvida em cima de tecnologia e negócios?,
então assim, existem alguns requisitos e condições necessárias para fazer um parque em
uma cidade tá. Então só voltando, Brasil, voltando a vários cases aí, então você tem
Joinville tá. Porque eu tiro os parques e considero parque? Vai, Tecnopuc, o pessoal lá de
São Leopoldo, aí você tem Itaipu, você tem Joinville vindo com uma composição que vai ter
sucesso, porque é um grupo privado, que o pessoal lá de Brasília vem montando há 20
anos. É um grupo privado, com força que constrói academia, constrói um campus
acadêmico dentro do negócio dele, porque estava perdendo a atratividade.

A resposta do Grupo Perini de Joinville é clara, se eu não coloco conhecimento


dentro do meu negócio, não adianta ter 600 mil metros quadrados de galpões alugados
para indústrias. Eu tenho que colocar agora a universidade dentro do meu complexo, então
é muito interessante aquilo ali, então eles exatamente fazem esse caminho.

Aí no Estado de São Paulo você tem, eu já descarto Curitiba, chega São Paulo você
tem São José dos Campos, Ribeirão Preto indo para um bom caminho, Ribeirão Preto tá
indo por um bom caminho, depois você tem, por favor o termo não é pejorativo, uma coisa
mais marginal Piracicaba, São Carlos, sabe, que não é parque tecnológico,são arranjos
urbanos. O Paschoal aí de São Carlos, o pessoal aí do Danha, não é isso? o que que ele
faz? Ele coloca o parque tecnológico segregado da cidade pra complementar os campos
de golfe dele, não é pra complementar a matriz econômica da cidade. Então parque
tecnológico é outra coisa, parque tecnológico é isso, é cidade, aquilo que vocês estão
vendo, é campus universitário, núcleo estratégico com capacidade laboratorial, centros
empresariais, é a cidade né. Então porque São Carlos não vai? Porque São Carlos inteira é
um distrito de inovação, a cidade já funciona com seus sistemas, é uma cidade resolvida
com qualidade urbana excelente.

Então você vai criar um novo sistema urbano? dá pra criar claro, mas é uma outra
visão. Quem tem que ancorar isso e não pode ser… é academia, tem que pegar academia,
construir um campus, construir uma base de produção, eu digo assim, laboratórios,
manufatura tecnológica, pega uma empresa de equipamentos ópticos e constrói ao lado
desse campus e faz um ambiente urbano que é um parque tecnológico. Fulano vai lá,
levanta um muro faz um monte de lote bonito uma portaria bonita, tenta enfiar uma
incubadora, uma fundação, uma associação e fala aqui é um parque tecnológico, não vai
funcionar, não vai funcionar

Marcel Fantin (entrevistador 3): E aí tem um problema de mobilidade também né,


porque se é um lugar super distante, porque se é pro aluno chegar. Os parques de São
Carlos ficam num local que é inacessível assim, né, que a gente nem consegue… pra ser
sincero eu nem sei o que eles fazem lá.

Cesar Melo (entrevistado): E o 2° parque de São Carlos é um prédio, não é um


parque é um prédio.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Aham.

Não estou desmerecendo, pelo contrário, são ambientes de inovação esses, não
são parques tecnológicos. Então aí voltando [inaudível - liga do fundão ], mas é petróleo e
refém de um ator acadêmico, apesar que a cidade de Porto Alegre, vocês urbanistas, e

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[inaudível] mergulhem nisso, tá lá uma turma fazendo coisa séria e boa. O município de
Porto Alegre junto com a Tecnopuc né, eles estão transformando a cidade, então eu acho
que os melhores cases do Brasil estão na cidade de Porto Alegre, com gestão pública pra
isso.

Aí, andando pelo Brasil, já falei de Itaipú, aí você pula pro Porto Digital e acabou.
São esses ambientes de inovação em escala de parques tecnológicos, você viu que eu não
citei Sapiens né, nós temos um bonito projeto urbano em sapiens, nós não temos um
parque tecnológico ali. Eles têm uma empresa de tecnologia, eles pretendem fazer um
autódromo, esse é o foco deles, então o Sapiens trás uma empresas de tecnologia, traz
incubadora. Tem que trazer academia, porque ali já é uma potência incrível, é um corredor
tecnológico da Federal de Santa Catarina até Canasvieiras. Então você não consegue
concentrar, você cria um projeto urbano, que é o Estado, eles regrediram ali no Sapiens, ele
volta pra mão do Estado cara a gestão do Sapiens de 3 meses pra cá, infelizmente,
infelizmente vocês vão ver o Sapiens regredindo ao invés de avançando.

Então assim, denovo, opinião pessoa dá um puta quebra pau isso né [risadas], dá
uma briga que você não faz ideia, mas como eu não represento nada e ninguém eu posso
falar e tá tudo bem. Mas é isso, vamos lá.

Marcel Fantin (entrevistador 3): E tem uma questão interessante também né, essa
circulação de ideias, entre a prefeitura, você e o próprio, a gente conversou com Elso
também, com próprio Parque Tecnológico, algo dessa circulação de ideias né. Você por
exemplo foi muito ativo naquele Nexus Living né, que é uma…

Cesar Melo (entrevistado): Humanização.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Humanização. O Elso também sugeriu, por


exemplo, que o Parque Tecnológico a frente fosse mais dedicado às atividades industriais.
Porque é de certa forma como São José se mostra pro mundo né, tendo toda uma
discussão. E você também discutiu muito a questão da mobilidade né, do projeto da Toyota.
Porque como tá na Zona Leste, tem uma dificuldade de se chegar até o local de mobilidade
mesmo, que agora, de certa forma, começa a ser debatido e tal. Você poderia ter um pouco
como abordar sobre essa circulação de ideias, que realmente é assim essa troca
importante?

Cesar Melo (entrevistado): Isso é a essência do Parque Tecnológico, porque o café


do Parque Tecnológico é mais importante do que o laboratório que esteja lá dentro? Porque
é ali que você pode capturar o verdadeiro valor que um parque pode oferecer. Essa
diversidade de ideias né, esse conflito necessário para desenvolver criação, se não há
conflito de ideias você não cria, eu produzo perguntas eu busco respostas complexas, eu
crio condições que nós não sabemos ainda pra que que tem que ser criado. O parque
Tecnológico é provocado é constituído para que ali se conquiste, a gente pode falar, esse
debate, ele só é produzido com diversidade social econômica e acadêmica. Nós temos lá
seis campos universitários, quinze atores acadêmicos, fora isso trabalhamos junto com
empresas da âncora global, a startup, pequenas, médias e grandes empresas. Aonde é
que eles produzem? O parque de São José ainda tem, nós estamos trabalhando forte essa
miopia de que você coloca ali, mas não adianta, se eu não coloco… o Nexus Living vem
pra exatamente colaborar e corrigir essa rota.

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Hoje eles têm plena consciência, então o Nexus Living é um ambiente onde produz
as ideias, se eu colocar engenheiro junto com engenheiro aeronáutico vai sair o mesmo de
sempre, se eu coloco um urbanista, um engenheiro químico, um engenheiro aeronáutico um
advogado, uma arquiteta e um saxofonista no meio, você não faz ideia de como vai produzir
criatividade. Então através do ambiente é, humano, né e eles perceberam, foi um boom que
eu implantei isso, infelizmente durou 10 meses veio a covid né, começou em junho de 2019,
aí veio a covid, e deu um impacto incrível.

Agora você imagina só, você imagina você chamar o cara que…

Quem conhece a vila Butantã aí na Marginal Pinheiros, na frente do Shopping El


Dorado

Marcel Fantin (entrevistador 3): Eu conheço

Cesar Melo (entrevistado): Eu chamei o Otávio, o Luís, os idealizadores e donos


da VIla Butantã pra fazer uma inspeção no Parque Tecnológico. Você acha que isso vai sair
da cabeça de um engenheiro aeronáutico do ITA? Eu fico tirando barato deles. Vocês são
ótimos para fazer asa de avião e foguete, se eu der um sofá você não sabe o de colocar o
sofá, ele fala “É verdade eu chamo minha esposa pra ver onde eu coloco o sofá na casa”.

Cesar Melo (entrevistado): Agora se eu te der ti produzir um avião supersônico


você sabe fazer, aí ele falou “isso”. Eu falei, então deixa que o sofá tem um efeito tão
importante quanto o avião. Então eu tive que quebrar essa barreira lá, e não é fácil quando
se trata do pessoal dos 20 anos. É uma turma assim “nós sabemos como a humanidade
precisa do nosso avião”, pronto, mais nada, precisa comer não, precisa fazer avião. Então
assim cara, você sai daquela caixinha fechada, aí na hora que quebrou é maravilhoso ver o
efeito, é maravilhoso você ver aquela turma correndo atrás do cafezinho sabe, a hora do
café ficou mais importante que a hora do laboratório, que a ferramenta custa 10 bilhões.

Tem um laboratório dentro da Embraer que o pessoal gastou 100 bilhões, numa área
de 120 metros quadrados, de equipamentos de software. Aonde que esse engenheiro
aeronáutico que é disputado globalmente eu vou reter o cara? Com café. Se não tiver café,
não tiver a praça para os meninos e meninas paquerarem, ó, eles voam, cai fora. Vai lá pra
Londres, vai pra Nova Iorque, vai pra Seattle, Singapura, nós estamos disputando nossos
cérebros como mundo, velho.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Você sabe que conversando com nossos colegas
argentinos, tem uma pesquisa interessante deles que eles mostram a mobilidade assim,
que os profissionais de TI eles ficam pouco no mesmo lugar, na Argentina eles migram pra
um ponto de… é difícil você mantê-los

Cesar Melo (entrevistado): É eu estou fazendo um post que está saindo hoje, que
é a fuga de cérebros e os ambientes de inovação para segurar essa fuga de cérebros né.
Porque agora nós temos um fato interessante novo, você pode trabalhar lá em Londres e
manter o teu corpo aqui, isso se acentuou barbaramente, então assim, eu não preciso mais
me mudar lá para Lisboa, pra Madrid, ou pra Berlim pra trabalhar lá, eu posso manter meu
corpinho aqui do lado da praia e cérebro lá em Berlim, diariamente. Então eu só vou manter
o meu corpinho aqui, brasileiro, porque eu não abro mão do samba da cerveja do sol e do
verde se eu estiver em um lugar que faz sentido pra mim. Como eu estou na comunidade

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que desenvolve conhecimento as minhas exigências sociais e econômicas, os grupos
sociais que eu exijo estar presente são bem diferentes do que a maciça maioria, em
especial no nosso país. Então aí vem o papel dos desenvolvimentos em inovação em
escala dos parques tecnológicos, são habitats de vida e produção. Então estou escrevendo
isso, estou postando isso hoje, não é novidade né, é um apanhado, o Sabóia fez um artigo
sobre isso há pouco tempo.

Nós temos que criar condições de vida mais do que nunca, para que a gente possa
reter vocês aqui, mesmo produzindo lá. Eu tenho uma coisa que é um problema e passa a
ser oportunidade também, de novo, ok, eu vou ter eu vou ter minha experiência lá em
Berlim, quero ter, mas no fundo eu sou brasileiro. Então se eu tenho oportunidade de estar
em um ambiente que faz sentido continuar, que eu vou continuar me alimentando de
conhecimento, eu vou me manter aqui. Então os ambientes de inovação em razão deste
momento de covid, eles passam a ter um protagonismo central, primeiro, só me desloco
para o lugar que me faz sentido, então eu moro em São Carlos, eu ia todo dia ali, lá, cá,
acolá. Agora não, eu só saio de casa para ir ao lugar certo para encontrar as pessoas
certas para que eu possa produzir, então eu vou lá no parque tecnológico, no campus
universitário de São Carlos, porque ali faz sentido, eu não vou mais no bar do zé, do mané ,
na casa da maria, porque ferrou, a lógica social está em transformação, então você começa
a criar locais de referência, locais que vale a pena ir, que vale apena estar e viver. Os
parques saem na frente, no mundo todo, desse processo que deve se transformar cada vez
mais, somando isso que eu coloquei, corpinho ficar aqui e aquela empresa que exigia que
eu fosse morar em berlim, fala “não, você trabalha pra mim que você falou que é do TI né?
Você trabalha pra mim, mas pode ficar aí no Brasil se quiser” e o cara fala “ah então não
vou abrir mão aqui porque eu estou junto do parque tecnológico, de um ambiente de
inovação, estou falando minha língua, estou indo pra praia. Enquanto vocês trabalham de
gorro eu trabalho de regata, então eu vou continuar aqui e vou ficar aqui”.

Então isso vai ser interessante, nós vamos assistir como é que isso vai se configurar
né, vai ser bastante interessante, então eu aposto nisso, que os parques tecnológicos
serem o espaço urbano de vida que contempla todo esse arranjo de produção, academia,
mas essencialmente os parques migram para o aspecto vida, né então eu aposto isso hoje,
minha percepção ela vai mais para o lado vida do que de fato produção, óbvio não abre
mão dos pilares que é universidade e os sistemas econômicos, não abre mão. Mas as
pessoas mais, o que? Cara um lugar legal, que eu possa estar do lado da minha cidade a
pé, do lado da fábrica de drones e ao mesmo tempo eu estou vivendo num lugar com o
meio ambiente, com parques, lazer, cerveja e tudo mais, é isso.

Marcel Fantin (entrevistador 3): O cesar se você me permitir uma última pergunta,
né…

Cesar Melo (entrevistado): Claro, claro…

Marcel Fantin (entrevistador 3): O que é interessante que a gente observou


também da Cidade Tecnológica em específico, que você colocou um pouco sobre
referências internacionais dos parques. Nessas tours que você fez, você tem alguma
referência se alguns projetos primeiro influíram no sentido de pensar a cidade tecnológica, e
a outra é que o que a gente observa das cidades tecnológicas dos distritos que a gente
observa é uma arquitetura global, e acho que até a própria maquete da cidade tecnológica

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ela segue esse padrão arquitetônico. E vocês tomaram algum cuidado durante esse
processo de manter um determinado padrão arquitetônico? Falando de edifícios, falando
dessa questões associadas também à cidade tecnológica.

Cesar Melo (entrevistado): Bom eu passei pra, acho que a Natalia que estava aí
né, alguns cases tá, na Alemanha e nos Estados Unidos que respondem a sua 1° pergunta,
eles influenciaram sim no olhar da cidade tecnológica, 2 esse tipo de ambiente você tem
que evitar o máximo possível de criar regras, você não pode engessar esse ambiente, a
minha visão, quanto mais regra você criar, mais postura você criar, mais ineficiente ele será
para o fim que ele está sendo desenvolvido. Não beleza, então quer dizer que eu posso
construir uma reciclagem de lixo do lado de um prédio de alta tecnologia? Como é que você
regula isso? Duas situações. Uma, em São José nós temos um plano diretor e um
zoneamento dedicado à ocupação desse território. Dois, nós institucionalizamos a inovação,
nós registramos junto com o empreendimento uma associação, bom, resumindo, a
associação dos donos dos lotes da Cidade Tecnológica enquadrada dentro do marco atual
do MCTI como distrito de inovação, é o 1° empreendimento privado no Brasil que está
enquadrado juridicamente como um território de desenvolvimento ciência e tecnologia de
forma que as agências comunicadores e mesmo as posturas municipais olham para aquele
território e falam “esse território ele está determinado como território para desenvolvimento
de ciência e tecnologia”. Nós vamos pegar o estatuto, você vai comprar um lote no
Alphaville e você tem lá a regra de uso, Alphaville vai além, tantos metros de altura, recuo x.
Não. Isso que vai fazer é o município e como é que o município faz isso? Por isso que é
importante não engessar, o município têm seu plano diretor e o seu zoneamento, e no caso
da cidade tecnológica lá tem um perímetro, esse é o perímetro especial do Parque
Tecnológico, que é um perímetro de 15 milhões de metros quadrados, hoje mais ou menos,
que ele passa, ele não tem uma marca.

De novo, ele é desenvolvido em consonância com o Parque Tecnológico, ou seja, é


o único território da cidade que tem que passar pela Secretaria de Desenvolvimento
Econômico pra ser aprovada qualquer ocupação desses lotes, então você tem que ter o
carimbo do desenvolvimento econômico que está dentro do Parque Tecnológico que faz a
gestão de desenvolvimento de ciência e tecnologia dentro da cidade, é uma maneira de
você regulamentar isso. E a outra maneira é que quem compra o lote, ele compra um título
de um clube, uns 166 lotes, que é inovador, que está enquadrado como distrito de inovação
Cidade Tecnológica, e vinculado, tem como objetivo a ciência e tecnologia… é um parque
tecnológico privado, a Cidade Tecnológica ela é um parque tecnológico privado, nasceu um
parque tecnológico privado. É muito provável que a Cidade Tecnológica nos próximos 20
anos seja o maior parque tecnológico do país, indiscutivelmente, porque ela é privada.

Então esse grupo, você tem lá o Instituto da [inaudível], da Bosch, da Fundação


Getúlio Vargas, da Unicamp, da… ou seja da Embraer, eles vão formar essa cidade. E vai
ter lá, o “fundo de investimento que faz estudo de [inaudível]” que representa lá mil
estudantes, o outro “condomínio empresarial” que representa 80 empresas de tecnologia, o
outro datacenter. Nós estamos falando de ocupação que estamos compondo. Grandes
empresas de datacenter que vão se instalar lá, eles formam essa associação, então eles
vão determinar as regras e os usos, de como será a cidade tecnológica. Então quem é que
vai ditar qual é a arquitetura, qual é o recuo. De novo, município eficiente, que já cria uma
postura de ocupação urbana eficiente somado à um crivo diferenciado do território do
Parque Tecnológico que é regido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, no caso

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de ocupação urbana, somado a associação da própria Cidade Tecnológica que têm um fim
específico de desenvolvimento de ciência e tecnologia. Então essas pessoas que vão falar
quantos metros vai ser o seu prédio

Marcel Fantin (entrevistador 3): Na base dessas demandas existentes né

Cesar Melo (entrevistado): Você entendeu. Se eu não faço isso, eu não estou
criando futuro, e tô falando como vai.. [inaudível]

Marcel Fantin (entrevistador 3): Vai produzindo

Cesar Melo (entrevistado): Então eu preciso que o Marcel venha com o grupo dele
e fale ó “nós aqui da academia entendemos que você tem que fazer assim”, ai o cara da
Phaser fala “não, mas eu entendo que você tem que fazer assim” aí o cara “eu dei 100
milhões em laboratório" ai o outro fala assim “não, mas eu estou fazendo um prédio com
400 estudantes, tem fazer assado”. Eu tenho a esperança que isso seja um caldo que vai
produzir um contexto de ocupação social e econômica e urbana, inovador.

E é interessante pensar que é um novo circuito econômico assim pra cidade né, a
cidade sai de um fordismo né, e tem uma transformação.

Cesar Melo (entrevistado): Isso

Marcel Fantin (entrevistador 3): E como você vê São José como um todo assim,
essa…

Cesar Melo (entrevistado): São José ela deve com sucesso desse, desse… São 2
milhões em metros quadrados já consolidados colocados com campos universitários e
agora urbano…

Marcel Fantin (entrevistador 3): [inaudível], da cidade também como um todo né

Cesar Melo (entrevistado): É na verdade assim, o Parque Tecnológico e a cidade


tecnológica ela é macrorregional e setorial tá? É uma coisa que sempre incomoda um
pouco os empresários daqui, porque eu sempre fico falando pra eles “eu não fiz o projeto
pra vocês, eu fiz um projeto global”, aí você sabe né cidade de interior, você mora aí “como
assim não é pra nós?” aí eu “não é pra vocês é pro mundo” ”mas como assim?” não é pra
vocês é pro mundo, esse lote ele é global, ele não tá dedicado a você, tanto que todos
aqueles que estão entrando na cidade tecnológica são globais, não tem uma empresa que
não esteja entrando lá que não tenha ação global, que seja local.

Então assim, de novo, ele é um mercado inexistente no brasil, né você abre uma
fronteira de mercado pra compor um território urbano com alcance global. Então isso nós
estamos muito convictos disso, o município também né, o município começou esses últimos
2 meses uma campanha grande falando de que, é, eles são a cidade. Mas como é que eu
vejo São José, São José vai assumir um protagonismo de uma cidade da ciência no Brasil
porque ela é a única que se preparou nessa escala onde estamos, não é só em razão da
Cidade Tecnológica, Cidade Tecnológica é resultado disso, é resultado do tal spin off do
MIT. Então São José dos Campos ela têm uma configuração, uma condição que ela vai
explodir em relação ao hemisfério sul, ela realmente se consolidará como uma porta global,
nós estamos falando, vocês estudam isso profundamente, estamos falando do momento

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das cidades não é mais o estado não é mais o país, são as cidades. Então São josé vai
assumir o protagonismo não há dúvida e é fundamental que isso seja disseminado e pelo
país, pra outros cases, mas São josé vai atropelar por causa dessa condição que ela
conquistou, ela se arrumou no aspecto urbano, ela se arrumou no aspecto econômico,
porque o Parque Tecnológico teve essa função nos últimos 12 anos, de diversificar sua
base econômica e não ficar refém do aeroespacial.

Então hoje nós somos bastante fortes em energia, TI, petróleo, ciências da vida.
Então pra resumir, pra onde São José vai chegar? Você pega a tecnologia como uma
pirâmide, a ponta dessa pirâmide, vamos falar que o microondas está aqui embaixo tá, o
carro tá aqui no meio da pirâmide, e cada vez mais o carro tá indo pro ponto da pirâmide
porque cada vez mais o carro está com sistemas embarcados aeronáuticos tá, então o
carro tá subindo a pirâmide de tecnologia. Então essa pontinha aqui da pirâmide, da
tecnologia, é tudo o que você manda para fora do espaço, da terra, não existe nada em
tecnologia que seja mais complexo que o que vá para fora do espaço. Esse
desenvolvimento tecnológico nessa pontinha ele reverbera para todos os setores
econômicos, daí ele produz o microondas pra poder esquentar comida na espaçonave, ele
produz o celular pra poder se comunicar no porta avião, então defesa.Então você tem o
aeroespacial, a “máxima tecnologia”, o nome é esse, que reverbera em todos os setores
econômicos, essa máxima tecnologia, 84% do mercado do hemisfério sul, hemisfério sul, se
não me falha a memória, está em uma cidade chamada São José dos Campos.

Então você tem essa máxima tecnologia vida com subsídio de governo, com ação
geopolítica global, ou seja, nosso vizinho é o Akaer que faz o F-X2, o caça. Então quando
você quebra isso [topo da pirâmide], reverbera em todo o setor, isso está acontecendo e o
parque é o instrumento.

Marcel Fantin (entrevistador 3): [inaudível] é o desenvolvimento mesmo né

Cesar Melo (entrevistado): Então assim, na hora que você pega esse aeroespacial
ele vai fazer setor clínico, então você tem uma duas empresas aí em São Carlos que são do
setor de defesa aeroespacial, mas todo o processo, passa Santa Maria São Carlos, entra
por São José e vai até Santa Maria, entra por São José e vai até São Carlos, a empresa
que está em São Carlos volta pra São José, volta o que eu digo é o sistema né. Ele não sai
direto, o sistema de tecnologia, no caso do sistema de tecnologia aeroespacial ele entra e
sai por São José, seja o que for.

O pessoal da Embraer fala assim “Gavião Peixoto é um pedaço de asfalto pra lançar
avião”, tudo entra e sai por são josé nada entra por Gavião Peixoto, toda a rede, tudo, todas
as decisões.

Os nossos professores da engenharia aeronáutica também

Isso, o cara vai lá, bate lata lá em São Bernardo, fica lá batendo lata em São
Bernardo, 60 neguinho batendo lata lá em São Bernardo, monta a asa do avião em São
Bernardo, só que toda a engenharia, toda a inteligência, toda a rede de negócios entra por
São José e sai por São José. Então assim que é São José dos Campos e o Parque
Tecnológico é o instrumento para capitalizar essa capacidade econômica científica que o
aeroespacial oferece no mundo todo. Nós dominamos o mercado dessa máxima tecnologia
e não utilizamos ele porque não temos instrumento e ainda há uma resistência, nós

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estamos falando de um setor que é extremamente fechado e subsidiado, aí o cara fala
assim “ah não vou ficar esperando aqui pra você me encomendar o míssil”, um torpedo para
submarino dentro do parque né, depende de dinheiro público, agora o cara acordou, ele
começa a fazer máscara, começa a fazer respirador, começa a fazer remedinho, começa a
fazer componente pra carro, é óbvio é capitalismo né. Então o parque ele vem e foi criado
para quebrar essa barreira, e quebrou, então é um processo que se consolida.

Hoje o nosso projeto principal é agronegócio, ciência da vida, pra falar em área
espacial nossa lá, área espacial tudo bem, é consequência já. A gente pega um carregador
espacial e diz “o que que você tem pra agro?” “O que que você tem para ciências da vida?”,
“poxa nunca pensei, o que que eu tenho a ver com soja?”, um ano depois o cara
desenvolvendo coisas incríveis. Então é isso senhores.

Marcel Fantin (entrevistador 3): A gente queria agradecer muito mesmo a, a gente
tá até conversando ontem né, que a gente leu os relatos pelo site, tudo né, e a gente falou
“é um personagem muito interessante” né, porque em geral quando você vê as pessoas
ficam muito em uma zona de conforto dos empreendimentos assim, seja qual for, inclusive
em empreendimentos imobiliários. Quando a gente viu os relatos a gente falou “que
personagem interessante” uma pessoa culta né, [inaudível]

Cesar Melo (entrevistado): uma pessoa de mata

Marcel Fantin (entrevistador 3): [inaudível], muito agradável né. A gente queria
agradecer muito você

Cesar Melo (entrevistado): Imagina, prazer, meu pessoal de marketing, de lá da


Innovact tem a cara comercial. Mas é isso vamo lá, tamo aqui na luta e está sendo bastante
divertido.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Tá bom.

Cesar Melo (entrevistado): Tá bom. obrigado gente.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Muito obrigado viu Cesar, um abraço viu.

Cesar Melo (entrevistado): De nada, um abraço. Depois me coloquem a par dos


resultados de vocês, nós temos interesse.

Marcel Fantin (entrevistador 3): Sim, a gente vai comunicar sim, pode deixar.

Cesar Melo (entrevistado): tá bom.

Sofia Fortunato (Entrevistadora 1): Muito obrigada Cesar.

Giovana Marchesin: Obrigada.

Cesar Melo (entrevistado): Obrigado Sara, obrigado Giovana, obrigado Sofia.

Sara Marcelino: Obrigada.

[Cesar Melo sai da videochamada]

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Marcel Fantin (entrevistador 3): Gente incrível não, bem legal né? Que
personagem assim né, que essa coisa da profissão também da pessoa ter é, é o que move,
você vê que a pessoa fala com paixão da coisa né. Eu gosto disso, eu gosto desses
personagem.Tem um livro que fala do cara que fundou o ITA, assim você fica lembrando
que são esses personagens que ele fala da dificuldade dessas coisas. Eu contei pra vocês,
acho que é o Montenegro né, tem o Fernando Moraes, tem a biografia desses caras.

E é interessante de ver essa coisa porque o Montenegro, as dificuldades de trazer o


computador para o Brasil e as artimanhas que o cara utiliza pra conseguir resolver o
problema, que a burocracia praticamente impede. Você vê esse cara superconectado vendo
essas coisas, muito interessante. E abre um campo de trabalho interessante também né pra
gente pensar, discutir e debater né, você viu como está explodindo ele fala “olha isso vai…”
ele fala primeiro dessa escala da tecnologia que como a gente falou só podia estar em São
José né, só podia acontecer em São José mesmo. E de como alguns parques [inaudível] e
como isso vai determinar muitas novas formas urbanas por aí né, é só o começo. Mas é,
nossa ele falou tudo a gente nem precisou perguntar muito sobre essas consultorias tudo
isso, a gente já entendeu toda a rede de como isso funciona.

Sofia Fortunato (Entrevistadora 1): é eu ia falar isso.

Marcel Fantin (entrevistador 3): você ia falar, e aí o que você achou Sofia?

Sofia Fortunato (Entrevistadora 1): Eu ia falar isso, que a gente nem precisou
fazer muitas perguntas né, ele já foi encaminhando tudo-

[fim da transmissão].

2 - ENTREVISTA COM CARLOS PIROVANO:

Marcel: Primeiramente Carlos, gostaria de agradecer muito por viver e compartilhar


seus conhecimentos comigo, então muito obrigado, primeiramente.

Pirovano: Não, eu que agradeço, eu adoro isso, então não tem problema, adoro
falar do Distrito, tenho muito orgulho…é motivo de orgulho para mim porque é, na minha
opinião, o Governo de Mauricio Macri, seus 8 anos, tem algumas conquistas importantes e
a conquista do distrito tecnológico para mim é muito muito importante, porque foi o lá, não
só o movimento de todo o Governo da cidade, ao sul, que é a parte mais atrasada da
cidade.

Mas a recuperação de um bairro, hoje Parque Patricios, esse é o bairro que mais
cresceu nos últimos 10 anos e as pessoas que vêm morar aqui, que o descobrem, que o
acham lindo. Se eu te contasse como era quando nós começamos (risos).

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[inaudível] - aparentemente, Marcel comenta sobre a época da queima do lixo e
como agora o bairro mudou e muitos estão contentes com isso. Pirovano vai falar sobre a
época da queima do lixo

Pirovano: A época da queima foi o princípio do século, para o início do século 20,
onde está agora o campo de furacões. Foi o incêndio de Buenos Aires, que foi o que
fizeram em todas as cidades. Também não foi algo tão estranho, depois disso passou a ser
em Soldati

Marcel: Que é mais abaixo?

Pirovano: Isso mais ao sul, mais além. Esse lugar se industrializou muito, mas
muito, isso o que você vê ali é a fábrica da Rigolleau, que eu acho que no Brasil é Rigolo.

Marcel: Rigolo?

Pirovano: Rigolleau, que é louça, pratos, vasos. Rigolleau escreve.

Marcel: Rigolleau

Pirovano: Com “r”, sim. De vasos, de pratos, vasos e louça

Pirovano: Aí, você tem o moinho morixe, tem a fábrica fernet branca aqui também,
tem a Papelaria Massuh. É, uh, originalmente na década de 1950, o mercado central de
aves e ovos estava lá. Eles criaram uma área, na época, em que as cidades eram
industriais, era uma área muito poderosa, e ainda gerou uma área residencial muito bacana
que fica do outro lado do terreno, que na verdade é muito boa.

E na década de 70 e início dos anos 80, o prefeito, que era um militar, um brigadeiro,
da aviação militar, chamado Cacciatori (Osvaldo Cacciatori), mudou o código de
planejamento urbano e proibiu as indústrias com fumaça, e todas as indústrias em geral. E
aqui se estabeleceu uma zona residencial, em um lugar cheio de lotes enormes. Entretanto,
com pouquíssima capacidade construtiva por conta do FOT

Marcel: Como?

Pirovano: Do FOT, FOT é o número de metros quadrados que você pode construir.
O potencial construtivo, entende?

E tinha um potencial construtivo de 1 a 2, ou seja, tinha um lote de 800 m2 e se


construía 1200 m2. Para a cidade isso foi muito pouco atraente. E o que aconteceu? Ao
invés da área se residencializar, ela se encheu de depósitos, coisa que também aconteceu
com Nova York, no MIT,aconteceu em muitos lugares, imagino que San Pablo
provavelmente, também aconteceu em Barcelona, no que depois viria a ser o distrito
tecnológico de Barcelona.

Marcel: Que é o 22@?

Pirovano: É o @23. Que era o distrito 23, originalmente. Isso aconteceu com muitas
cidades, com muitas cidades, então se havia, uma área muito degradada, muito, muito
degradada. Somado a isso tem uma favela, um vilarejo bem próximo, muito grande, e o
maior de Buenos Aires.

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Marcel: A Zabaleta?

Pirovano: A Zabaleta. A Zabaleta 2124.

Os vizinhos, muito irritados. A área estava totalmente saturada, Buenos Aires teve
um dos sistemas de esgotos mais antigos e eficientes da América Latina em 29. Se armou
toda essa estrutura, que basicamente a mesma de 29, então o que acontece, como muito
escrito, foram abertos os esgotos, as grandes tubulações, e as tubulações explodiram.
Então o sistema de águas pressiona os pluviais, para escoar o esgoto no sistema pluvial e ir
para o córrego. E isso também estava saturado, e aqui os canos explodiram, porque era a
última etapa onde chegava a todos os do norte. Então fica uma área completamente
detonada

A primeira vez que me reuni com os vizinhos, eles basicamente me disseram, olha,
nós não acreditamos em você. E ele me fala…olha, Parque Patrícios deu 3 vereadores da
cidade a legislatura. A primeira medida que esses legisladores tomaram foi sair do bairro.
Quero dizer, era uma rota de fuga. Então realmente foi uma situação muito complexa. E na
primeira visita que fiz eu passei por lá, eles me assaltaram.

Marcel: E falam isso mesmo, que era muito perigoso, né?

Pirovano: Era, era muito perigoso, onde hoje a prefeitura, onde fica a sede da
prefeitura, se chamava “aguantadero de la Zabaleta”. Foi um projeto fracassado dos
sindicatos fazer uma unidade habitacional de 220 apartamentos.Isso estava interrompido
desde os anos 80, onde traficava drogas, praticavam prostituição, era como um grande
terreno baldio de concreto, ali onde as pessoas entravam e faziam coisas e era muito, muito
desastroso, e as pessoas moravam ao lado e ficavam com medo, porque a cidade
avançava, havia tendas no Parque Patricio, tendas de pessoas que ocupavam e viviam ali.
Então foi uma situação realmente muito, muito complexa, muito complexa, sob todos os
pontos de vista, mas o lugar tinha muito potencial.

E nós tivemos uma primeira reunião, o Mauricio teve uma primeira reunião.
Preparamos para Mauricio no primeiro encontro as principais referências de tecnologia na
Argentina. Com o pessoal da Cognizant, o pessoal da Tata, o pessoal da Accenture estava
lá. Ehh quem mais que estava lá? A Global também, muitos empresários importantes.

E o Mauricio é um cara muito ativo, muito, muito proativo e dizia: “o que posso fazer
por você ir bem?” E então ele pega e diz: “bem, vamos ver, posso te dar um lote grande?
100 hectares lá em em em em em soldati” onde ficava o parque que era o Interama, aquele
parque de diversões falido também.

E eu me lembro que a Cognizant lhe disse: “Tá louco? não precisamos disso. A
última coisa que precisamos é de uma bolha e ir para um lugar onde seja um grande
parque, porque nosso principal insumo é o talento, nosso principal insumo são as pessoas.
E o que as pessoas querem é a cidade, não querem ir para o campo aberto, querem chegar
ao trabalho com facilidade, sair e comprar um café com com com proximidade, ir para casa
rapidamente, hein? Então o que precisamos é metro quadrado barato, Acessibilidade e uma
fibra ótica muito boa, nada mais.

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Então começamos a procurar um espaço que tivesse essas características, ou seja,
era uma área urbana. Que fosse uma área urbana com boa infraestrutura, talvez
degradada, mas com uma boa infraestrutura que a indústria precisasse e também vendo o
que outras cidades fizeram, ou seja, justamente o @23, justamente no Brasil, na era digital
em Pernambuco, houve exemplos de reurbanização de base tecnológica ou estratégias de
recuperação urbana. É que, digamos, estava quase que na moda.

Marcel: Vocês procuraram as referências por vocês mesmos?

Pirovano: Sim, sim, buscamos essas referências. A cidade, Eh eles não tinham
muitos recursos e também eh? A primeira coisa que eles me aconselharam é que as
pessoas fossem entusiasmadas porque um distrito de tecnologia é bom para marketing,
certo? É lindo, aquilo tem tudo o que precisa ter, gente jovem, gente boa, tecnologia,
criação de valor. Então, vários políticos me aconselharam, olha, sabe o que você tem que
fazer? Você tem que desapropriar quatro blocos, uma grande construção de conhecimento
para colocar ali todas as incubadoras e empresas, ou lá e que se diga.

Não tínhamos um centavo Leo. E não é o que as empresas necessitam, nenhuma


empresa pediu. Não é o que se necessita. O que necessitam é ser rentáveis, e na Argentina
é difícil encontrar rentabilidade. Então, o que propusemos como design foi escolher uma
área que não deveria ser tão pequena para gerar uma bolha imobiliária, ou seja, é como
dizer para que as empresas viessem. A margem do aluguel era comida pelo preço do metro
quadrado. Eles precisavam de metragem quadrada barata. E uma área não tão grande
quanto para não ter efeito na recuperação urbana, né? E temos que conseguir colocar toda
a infraestrutura de forma barata como um cinturão de fibra óptica, tudo sem gastar muito
dinheiro porque não tínhamos dinheiro.

Então definimos o tamanho mais ou menos, definimos menor do que finalmente era,
porque aí começam as pressões. A verdade é que se tivéssemos feito 30% menor, teria
ficado perfeito. O fato já se passaram quase 20 anos, 15 anos e ainda precisamos
desenvolver toda a parte debaixo que é importante.

Marcel: Parte debaixo?

Pirovano: De baixo.

Marcel: Mais perto de Pompeya.

Pirovano: Claro, exatamente mais a parte de Pompéia do que Parque Patricios,


exatamente. E bem, o que dizemos foi simples, vamos criar uma zona livre de impostos
locais, vinham os desenvolvedores e me perguntavam e para nós há o que? E eu os dizia:
“olha, para você estou dando o mais importante de tudo isso, os clientes”. Não vou gastar
dinheiro com nada além de empresas de tecnologia.

Isto é, regressou o início da guerra do Von Clausewitz, tudo em meu poder no ponto
que eu preciso, todos eles. Então, os desenvolvedores começaram a ver que tinham um
cliente em potencial e começaram a desenvolver, e aqui não havia nenhum benefício
especial, nada. Nenhum benefício especial era uma área que não pagava renda bruta, não
pagava Abel, eh não pagava imposto local, nada.

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E olha que interessante, as primeiras empresas que vêm me dizer que a lei sai em
2008, vem a crise de 2009. Os dados saem em dezembro de 2008, 2009, estamos em crise
e eu digo, isso vai passar. Veio no meu telefone que tínhamos o subprime , e ele me diz que
não vamos instalar o Instituto Tecnológico. Eu digo bem, diga-me, qual foi o seu raciocínio?
Qual foi a sua análise para eu entender? Deve ser muito fácil, estamos em crise, quando
não tiver crise, não faça contas. Quando você está em crise, começa a ver como a verdade
de como a crise nos detonou, crise nos ajudou a impulsionar o distrito de tecnologia.

Chegaram empresas de hardware que falaram assim: “olha, não sei se vocês
ganham ganham dinheiro com isso, mas eu sou, eu sou uma empresa que tem pouca
margem e eles tiram 3% do faturamento bruto de mim em impostos. E Minha margem é 5%,
se eu faço 3%, você me dá o dobro do meu resultado.

Marcel: Porque tem imagem, também toda a tecnologia que é… as imagens são
muito grandes, não é verdade.

Pirovano: As margens são pequenas, são pequenas e têm volume, exatamente.

Marcel: E é muito competitivo também.

Pirovano: Muito competitivos, muito competitivos, eles estão exatamente fazendo


as contas o tempo todo e o tempo todo vendo como… então, as primeiras empresas que
começaram a…

E bem, então convencemos a Metrotel a fazer a fibra ótica. Eh e a verdade que tem
ido muito bem. E o plano também é… de volta, as grandes empresas não acompanham.
Então eu me juntei com a telefônica e disse: “ Che, você tem que ter fibra óptica, que eu
não tenho mais cobre.

Pirovano: Ah, não, eu não vou fazer isso, não vou investir para você. Eu já estou
prestando o serviço pra que dia, mas eu presto e nunca me passou pela cabeça que tinha
que ter um segmento corporativo que solicitaria certas coisas. E ficou para trás, ficou para
trás, ou seja, eles não viram a oportunidade, Metrotel Metrotel e Plano viram a
oportunidade.

Marcel: Então também havia uma dificuldade. Creio que também seja uma coisa
que eu falo, que as inovações e o risco que muitas vezes pegam as pequenas e médias
empresas.

Pirovano: Sim

Marcel: Porque os grandes já têm um grande mercado e se acostumam e se


acomodam.

Pirovano: Elas são burocráticas, exatamente, sim, sim, sim, sim, sim, sim. Bem, a
cidade tinha esses dois quarteirões aqui, tinha esses dois bairros, e exatamente o que
dissemos: “temos que criar um espaço que possa fornecer os bens do clube, ou seja, os
bens que eles podem usar. Bem, nós instalamos a polícia da cidade e então fizemos este
lugar, que seria como o "core" do distrito tecnológico, onde instalamos 3 universidades aqui,
esta é a Universidade, aqui é o IVA, e agora está em construção a Universidade de

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Salvador, uma Universidade Jesuíta, a Universidade da Câmara de Comércio Argentina,
digamos, e a Universidade Tecnológica por excelência da região.

Muito engraçado quando eu já mostrei esse lugar ou essa área para os gerentes de
Linda. Que é uma, é uma Universidade de elite, é uma Universidade muito cara para gente
com muito dinheiro, uh, muito exigente e o diretor me disse: “ nunca um estudante
criminoso, nunca vai estudar no sul da cidade de Buenos Aires.”

E, continuei procurando por ele, entrei no IVA e os ofereci o quarteirão inteiro de


graça pra eles virem e me falarem que não.Em um ano eles me chamaram e disseram que
estavam interessados, mas eu os disse que já era lamentavelmente tarde e eu tinha que
vender. Todas as especificações já haviam sido feitas, pois já haviam os prazos para
visitá-la, vendi a metade dela, do posto avançado, mas vendi para ele.

Pirovano: Eu acho que como o metrô agora é muito fácil para os alunos da escola…
veja, você leva a mesma hora de Belgrano, que é uma zona, digamos, a 2 metrôs aqui, É o
mesmo tempo de chegar aqui do que ir ao centro

Marcel: Muito perto.

Pirovano: E você não tem toda a bagunça que o centro tem, a bagunça dos
piquetes,você não tem essa bagunça com essas historinhas, totalmente fora disso, desse
jogo, desse jogo. Bem, a gente conseguiu muito, a gente montou um time de gente que ia
buscar empresas e que tinham o objetivo de trazer empresas para, digo, a gente tinha que
administrar isso.

Fizemos gestão com a comunidade, a gente fez o trabalho com a infraestrutura, isso
era manual, digamos, uh, o que a gente não mexia muito era no bairro, ou seja, não é assim
que se fez em Barcelona. Demolições ou… De novo, porque somos América Latina, somos
pobres, não, não. Na melhor, Barcelona estava bem

Marcel: Com edifícios icônicos…

Pirovano: Claro, claro, você tem um, você tem outro, outro poder de fogo.

Aqui, com muita humildade, hoje temos quase 400 empresas estabelecidas, de
tecnologia, Isso para nós é muito bom.

Marcel: E a escolha pelo setor de tecnologia, as lançou como construir a


nacionalidade, para pensar que a aposta da tecnologia aqui seria uma boa ideia

Pirovano - Bem, sim, se você é um parque tecnológico em 2001, é dizer, empresas


de tecnologia haviam, não é… eu dizer a exportação de conhecimento da Argentina é
importante, é

Marcel: É um ativo para a cidade...

Pirovano: Totalmente, totalmente.

Eu sempre rio, porque a Argentina é um país que está muito mal hoje, temos um
dólar que não existe, outro dólar que existe, mas não se pode julgar, temos problemas. Mas,
mas as pessoas procuram… Eu tenho 20 sobrinhos, tenho 10 sobrinhos que trabalham para

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o exterior, e desses, 5 que trabalham, trabalham no exterior, não trabalham aqui. É dizer, o
argentino capacitado sabe que não pode trabalhar na Argentina, então você tem uma
Argentina não competitiva, uma Argentina que quer ser funcionário público, digamos que
seu objetivo na vida é conseguir um cargo público. Os mais astutos serão os políticos, os
menos astutos serão os funcionários públicos.

Marcel: Como no Brasil?

Pirovano: Claro, como no Brasil E então você tem um monte de gente quando meu
objetivo de vida não é que eles queiram deixar algo que eles são para algo, não para fazer.
Uma cenoura em um escritório público. Esse tipo cria, inventa e depois esse tipo vende lá
fora, claro? O governo não vai detê-los. Então, há muitas pessoas trabalhando fora,
comprando fora, sendo pagas fora, morando com os pais aqui, mas rapidamente se vão,
não vai impedi-los.

Marcel: Agora é fácil é.

Pirovano: Muito mais fácil, lidar com criptos. A empresa privada hoje faz com que, a
revolução tecnológica foi basicamente transformando bens não comercializáveis ​em bens
comercializáveis. Então, quem perdeu? Os governos perderam? Eles perderam o governo,
não o povo. As pessoas perceberam que o governo não é um aliado, mas sim um
impedimento para conseguir alcançar. Então, sério? A Argentina já havia feito. O que a
gente fez foi falar, “olha gente, se vocês vão se instalar em Vicente López, saímos daqui.”
Aqui nós damos a você, como um homem falava: “ uma bolha de lucratividade” Ele disse
que ganhava mais dinheiro do que em Vicente López, basicamente.

Marcel: Vicente López é do subúrbio.

Pirovano: Já é, província de Buenos Aires.

Marcel: Houve um projeto?.

Pirovano: Não, não, não havia um projeto em San Isidro, havia um projeto em
Tandil, havia algo interessante com a Universidade, em geral os projetos tecnológicos são
organizados no estilo do tec de Monterrey, em torno de uma Universidade Tecnológica que
potencializa isso. O poder, digamos, o conhecimento que ele gera. Aqui isso não aconteceu.
Porque tudo é muito, muito mais urbano, não é? Mendoza planejou algo Córdoba planejou
algo, e então é meio que aquilo.

Marcel: Acho que para 8 também, Bariloche também tem, também está construindo
um.

Pirovano: Pode ser, pode ser, pode ser, mas eles… De volta, tem glamour. O que
acontece é que o que os governos querem é colocar o cartaz: “Ah distrito tecnológico.” e aí
se der certo ou não, não importa o que eles querem é ganhar uma eleição. Nosso objetivo
não era ganhar eleição com isso, nosso objetivo, nosso objetivo não era ganhar eleição, e
mesmo assim o lugar onde mais crescemos em votação foi aqui.

Marcel: Tudo por tudo que foi feito.

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Pirovano: Claro, mas mas objetivo era te devolver, eh usar, criar uma indústria com
potencial muito forte para recuperar um bairro, recuperar um bairro. E a quantidade de
pessoas que vieram morar aqui, compraram casa ou apartamento porque agora trabalham
aqui, né? E depois da pandemia, a pandemia é um problema, porque se existe um lugar
onde você pode trabalhar remotamente agora, é a tecnologia.

Marcel: Então é passado por um trabalho híbrido muito forte agora.

Pirovano: Claro que sim, sim híbrido. Eu diria que vamos ver que estamos indo
violentamente para o fato de que os locais de trabalho não fazem sentido. Sem sentido quer
dizer que estamos perdendo o relacionamento humano. Mas você tem que redefinir isso,
você tem que repensar isso, Porque

Pirovano: Porque no local de trabalho isso não faz mais sentido. Se eu venho,
venho aqui uma vez por semana, o país passa por isso neste momento, e venho
basicamente porque estou sozinho e posso escrever, ficar sozinho .É claro dizer para ter um
zoom, para ter uma reunião para ter em geral. Fico em casa.

Marcel: Claro que é interessante porque na Universidade também no Brasil,


conversando com meus colegas, com meus colegas de trabalho, eles disseram a mesma
coisa que está vazio.

Pirovano: Claro, exato não faz sentido, não faz sentido. Olha hein? Minha esposa é
tradutora, ela trabalha no exterior, ela trabalha no exterior, e já trabalha em casa. Meu filho
está estagiando nestes meses, com 22 anos terminou a universidade estagiando em uma
empresa de tecnologia YMS, e vai duas vezes por semana para trabalhar no escritório e o
resto em casa. E o critério de seleção, da empresa, foi “walking distance". Não, não, eu não
vou para o centro, nem louco, nem louco.

Marcel: Eu não compreendi, que é drive, “walk distance”?

Pirovano: Ah, o principal. O motivo da escolha do seu local de trabalho foi o fato de
ser perto de casa, distante, passível de caminhada. Mas aqui não, é loucura, não vou
mover meu polegar. Tenho 40 minutos de ônibus, nem louco.

Pirovano: O emprego mudou totalmente.

Marcel: E como vê? um desafio agora para o distrito ou não?

Pirovano: Claramente, creio que seja um desafio para todas as indústrias, os


serviços e claro, para as universidades, como reconfiguramos a presencialidade, para que a
reconfiguramos, porque para adquirir conhecimento ela é necessária. É necessária para
adquirir atitude das relações humanas, então o que teremos que fazer para isso, o que
devemos tentar? isso, para mim, é o tema dos próximos 10 anos, como vamos repensar a
cidade?

Marcel: Claro

Pirovano: claro que sei como as pessoas vão começar a se relacionar. Posso ter
gente, tenho dois filhos, o mais velho tem 22 anos e o mais novo tem 15. O mais velho é
muito sociável, joga futebol, faz ginástica, joga paddle, joga tênis, encontra os amigos, né.

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Na pandemia, não ligava para o que a lei dizia, ele se preparava e ia. Ele estava brigando
com a velha que queria obrigá-lo a usar uma máscara

A mais nova é mais nerd, em casa conversando com os amigos pela internet, claro,
mas esse usa máscara, foi o último que deixou de usar, eh, não saia, adorava o ensino à
distância, detestava ir ao colégio. E após a pandemia, ela ficou em casa, com sua mãe. Ela
teve que fazer um trabalho para ressocializá-la. Porque ela estava perdendo, era a típica
geek ou nerd que perdia habilidades sociais. O outro não, o outro ia trabalhar, voltou à
faculdade e dizia: “eu gosto do presencial, eu gosto de ir e ver meus amigos".

Agora,não há dúvida de que somos um animal gregário e que as habilidades sociais


são extremamente importantes para o progresso de uma sociedade. Então, com as
atividades, começa-se a mudar isso. Não sei o quanto trabalhou no mundo corporativo, eu
tenho, bem 20, 30 anos de mundo corporativo e 12 de função pública. E eu, não, não, eu
não conseguia fazer as coisas porque escreviam um memorando e eles me pediam: “ah,
você tinha que fazer amizade com todo mundo.” nós somos latinos, [inaudível]. Tudo isso é
muito importante.

Marcel: Muito importante

Pirovano: talvez na Islândia e na Dinamarca, não, mas aqui, é fundamental, então,


como reconfiguramos isso? Entendendo que o trabalho, a produtividade, a pessoa que está
trabalhando, em grande parte, especialmente serviços, é solitário.Mas que o trabalho, a
criação e a construção de valor, em geral, é comunitária.

Marcel: Na ocasião, por exemplo, é que seja feito por clusters.

Pirovano: Escopo da discussão, exatamente, exatamente. Então tudo é um


tópico,não acho que tenha sido totalmente resolvido, eu não acho que foi resolvido, ainda
tem muita gente pensando nessas coisas. É, um dos meus, eu sou professor aqui e diretor
de um observatório de produtividade e competitividade, que digo, é o meu dever como
economista. Mais tarde, sou diretor de uma empresa metalúrgica. E, além disso, tenho um
Clube de Tênis.

Marcel: 3 trabalhos

Pirovano: É no Tênis Clube que me orgulho, de participar do clube que considero o


melhor de Buenos Aires, que é o Racquet Club. Não vou ver empresas.Para dizer: “olha,
você nos dá um espaço porque precisamos reunir nossos gerentes”. E, em um escritório,
em uma sala de reunião não faz o menor sentido, mas temos que nos unir. Portanto,
queremos incentivá-los a vir conversar e convergir em um ambiente mais amigável. A
quadra de tênis e a academia, onde podem fazer networking, e as relações são
reconfiguradas.

No século 18, as pessoas se reuniam em cafés e eles apareciam, os cafés


nasceram como um local de encontro e discussão filosófica.

Marcel: Claro, verdade

Pirovano: e isso foi definido automaticamente antes, havia outras coisas, eh, havia
a igreja, aí eles não iam à igreja, iam tomar café. Mas mas é interessante como você pode

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pensar nessa reconfiguração, naquele lugar onde as pessoas podem conversar, não de
forma árida, sobre um tema, mas de forma criativa sobre esse tema.

Marcel: Sim, sim, e você acha isso, por exemplo, quando pensamos nisso de distrito
tecnológico, se pensa em uma abordagem nesse sentido, certo?

Pirovano: Sim, sim, totalmente, para mim isso não há em clubes, ou seja, onde
construir a sociedade? Onde construir a sociedade? Mas isso tem que ter um motivo,
existem jogos de incentivo que são importantes, porque uma empresa tem que se
reconfigurar nessa questão. Hoje uma empresa que ainda permanece uma estrutura
hierárquica e autoritária, onde o CEO tem poder sobre a vida e a fortuna de seus escravos
abaixo, correto? As empresas mais modernas não têm essa atitude, mas geram as redes e
o poder é muito mais difuso. Quando ele pode ser mais difuso, a participação da
comunidade começa a ter valor, quando a participação da comunidade começa a ter valor,
as pessoas começam a apostar nos pares, porque são os pares que as empurram

Marcel: A inovação e conhecimento submergem disso?

Pirovano: Sim, exato, na geração dessas estruturas empresariais , onde onde o


poder é muito mais distribuído e onde você tem que jogar, de uma forma tão hierarquizada,
não? Não existem papéis tão específicos entre um time de basquete e um time de futebol,
mas todos atacamos, todos defendemos, é mais decente.

Marcel: E pensar em construir uma estrutura dessas para o Distrito, seria uma
construção da gente?

Pirovano: Não, não, não, não, para ver o distrito, eu diria a você se tivesse que
projetar um distrito tecnológico hoje, a primeira coisa que vejo são as empresas.
Certamente há certos problemas que o setor privado tem que resolver, mas o Estado não
vai resolver, é simples assim. Então eu tenho que ver o que, o que eles estão explorando, o
que eles estão fazendo e a partir daí, gerar esses pequenos empurrões, para que você
possa tirar vantagem disso

Marcel: Potencializar?

Pirovano: Potencializar, exatamente. E de volta, o que precisam? Onde está a


necessidade? No final das contas, governos bem-sucedidos, providenciam bens valiosos.
Em governos mal sucedidos fazem não é nada, eles roubam seu dinheiro. Entretanto, o que
é valioso é o cliente, não surge de sua inteligência superior digamos. Então olhe para as
empresas e veja do que elas precisam.

Pirovano: Quando projetamos o Distrito Tecnológicos pensamos de um jeito,


quando projetamos o Distrito Audiovisual pensamos diferente, quando projetamos o Distrito
de Desenho, pensamos diferente de outros,

Marcel: O Audiovisual é o único que está ao norte, certo?

Pirovano: Isso, o Audiovisual, porque as empresas já estavam lá, basicamente a


gente falou, uh, já tem um cluster pro Audiovisual, e como a gente faz esse cluster se
espalhar para a área menos favorecida?

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Marcel: E esse é um cluster muito economicamente importante para Buenos Aires,
né? Filmes comerciais para o mundo todo, para a Europa…

Pirovano: Sim, isso é uma Buenos Aires, é algo que este governo não aproveitou,
mas é um local muito bom para fazer filmes, porque tem muita gente, gente muito capaz
que é…

Marcel: É impressionante, os teatros…

Pirovano: Muita gente capacitada…

Marcel: Se faz todo tipo de cenário…

Pirovano: de tudo, tudo

Marcel: Fui visitar San Martín, uma oficina que se faz de tudo, fiquei impressionado

Pirovano: Sim, sim, sim, sim, sim, há muita criatividade e os jovens gostam.

Sim, porque também Buenos Aires você pode replicar quase qualquer cenário
né.Você quer replicar Paris? Rio de Janeiro em uma favela? Você tem, você quer replicar
Roma? Você tem, você quer replicar Nova York? tem

Quero dizer, uh, mas fazer é muito fácil porque tem uma arquitetura muito variada e
com áreas que não encontrará em mais lugar nenhum. Se deseja um bairro do século XIX
que pudesse replicar Paris, novamente em Buenos Aires, em outro lugar da América
Latina? Você não tem. É um atrativo muito importante que não soubemos aproveitar e
lamentavelmente o excesso de sindicalização faz com que a luta pelo o aluguel, ou como
você queira chama-lo, não nos permita ser flexíveis o suficiente. Poderíamos ter o set de
filmagem do mundo, praticamente, somos baratos, temos recursos, mas não.

Marcel: É engraçado como uma coisa chama outra, se sabem que o filme foi feito
aqui e assistem o filme, o turismo é incentivado na cidade

Pirovano: É sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim.

Marcel: Sim, e se faz muito isso porque compensa muito o investimento, porque
aqui dos turistas também.

Pirovano: Atrai turistas exatamente, totalmente, totalmente

Marcel: Se multiplica os efeitos

Pirovano: Tem cidades que pagam um diretor para fazer um filme falando da
cidade. E não, a Argentina é uma máquina de perder oportunidades. Nós realmente somos
muito bons nisso, muito, muito bons.

Marcel: E acho que foi aqui, eu acho que você falou quase tudo… ah sim, há uma
pergunta. Acredito que para a construção do Distrito sei que tenho um conjunto de ideias,
por exemplo, eu li muito os textos de Cabrera, La Nación, sobre a classe criativa. Eu queria
saber quais eram os conjuntos de ideias teóricas, que usaram para construir o Distrito.

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Pirovano: Sim, vamos ver de novo, vamos ver, em primeiro lugar nós fizemos como
um, estabeleceu vários axiomas, certo? estudar mais ou menos, né? Buenos Aires é um
lugar que tem gente capacitada. Ou seja, Buenos Aires não tem soja, não tem lítio,não tem
recursos naturais. Então, se tivermos de incentivar certas atividades e certos
desenvolvimentos, tem que ser sobre as pessoas. Os portenhos, assim como os nova
iorquinos e os paulistas, nós acreditamos que somos os melhores do mundo, e nós
pensamos que somos criativos e inventivos e nós somos pessoas que desafiam.

Então paramos nisso, nos distritos criativos, nas coisas criativas, é por isso que
definimos tecnologia, audiovisual, design, arte, porque são distritos criativos, essa era a
ideia geral mais ou menos de tudo. Aí a gente percebeu outra coisa, que eu acho
importante, dizíamos que o desenvolvimento econômico não é de curto prazo, não é um
plano de estabilização, não é uma política de crise é uma política de Estado que tem que
durar 20 anos.Então, você não pode sair… Antes do Instituto Tecnológico havia dois pólos
tecnológicos e eles foram criados por decreto, que falharam.

Porque basicamente quando ele ia ao funcionário que ele queria, ele queria que ali
estivesse o filho dele, então ele abandonava, porque ele não estava interessado. Então
dissemos que, para que algo dure, tem que ser por política, vamos começar a discussão no
legislativo e que saia por lei, tinha que ser por lei. Levamos 1 ano para conseguir a primeira
lei.

Marcel: e como foi o debate com o legislativo?

Pirovano: Mas ela, onde se debateu… eu não respeito muito os legisladores, não
parecem pessoas que aprofundam ou não colocam… mas, eu digo umas coisas que não
são politicamente corretas.

Marcel: É de uso interno

Pirovano: Bem, a legislatura basicamente nos ignorou dizendo. O partido no poder


responde ao partido no poder, portanto se Mauricio Macri disser que está claro, então eles
votam. E a oposição? Bom, se não for algo em que eles não possam atacar o governo,
ignoram, ignoram. Não, eles não podem lucrar com isso, certo? Lembro-me que me
apresentei aos legisladores, um cara que ficou 5 minutos para ver, da oposição, e depois foi
embora. O Ministro da Fazenda da cidade, quando eu apresentei isso a ele, dizendo que
era um investimento, que tinha retorno, que tinha criação de valor, que tinha um valor
presente, líquido, mensurável, ele: “não importa, não acontece nada, não acontece nada.
Nada vai acontecer com isso, não vai ter impacto fiscal, não vai ter impacto fiscal positivo ou
negativo, não me importo”. Ninguém acreditou.

Marcel: Essa é uma questão complicada por causa disso, porque no Brasil também
é assim que às vezes a educação em geral tem clientes que são seus leitores e pouca
profundidade.

Pirovano: Pouca profundidade, discutiu-se, discutiu-se o limite, discutiu-se as


indústrias. Não estava muito claro que a tecnologia foi a primeira… então, estabelecemos
um método pelo qual uma empresa… primeiro definimos o que era tecnologia na lei e
definimos tecnologia em sentido amplo, como ela é.

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Marcel: E quem foram os seus consultores para isso?

Pirovano: Nós temos uma equipe para nós, ou seja, conversamos. Conversamos
com empresários, conversamos, isso nos ajudou muito. Disseram, não, não, não, não, não
vá apenas por fábrica de software. Por que? Para enganar o carinha, fazer no sentido
amplo, então fomos ao call center até o hardware, fizemos o mapa inteiro.

Nos tiraram o call center, porque os deputados falavam que era um trabalho
precário, o que era mentira, mas bem…

Marcel: Que é muita tecnologia também né?

Pirovano:Também. Isso é muita tecnologia, claro, mas, mas eles.

Marcel: Acho que esse aglomerado de empresas é criado por outra filiação.

Pirovano: Sim, isso, como um setor só. É assim, é um ecossistema, é um


ecossistema e eles não entendiam o que era. Nós, dentro desse sistema, pode ser
aprovada a lei que se fez, é estabelecido um cadastro, a empresa que quiser se candidatar
é aqui apresentada, o ramo da tecnologia que ela quer se candidatar, investiga-se o que ela
fez, era dada a autorização prévia, se instalava, se verificava o que se havia instalado e foi
dado o benefício fiscal correto, [inaudível]

Aos primeiros inspetores que enviavamos, voltavam e diziam: “mas a empresa não é
de tecnologia.” É um monte de pequenos escritórios com computadores. Então eu os dizia:
“que tempera que isso representa uma empresa de tecnologia? Tipo um traje de
astronauta? Qual é a ideia mágica de tecnologia que você tem?”Então eles tiveram que
tocar as pessoas sobre a tecnologia que elas olhavam.

Em um momento eu queria fazer um distrito de bio, de biotecnologia. E alguém, que


não vou dar o nome, porque porque hoje é um funcionário municipal muito importante, me
disse: “biotecnologia? a biotecnologia não. As farmacêuticas?” Em outras palavras, ele não
sabia o que era biotecnologia e o que diferenciava biotecnologia de uma aspirina.

Marcel: Claro.

Pirovano - Não, a ignorância da política é enorme. Eles são caras de olhos


enormes, eles não são burros, eles são pessoas muito inteligentes, na conquista do poder e
na obtenção de votos. Seu negócio é um negócio, eles lidam bem com isso. Sim, eles
administram seus negócios muito bem, é claro agora dizem que a face da política tem uma
face agonizante e uma face arquitetônica, a fase de agonia é como chegar ao poder e a
fase arquitetônica é como governar. Bem, a fase arquitetônica eles são muito ruins.

Marcel: E é interessante porque o mundo mudou muito e acho que não perceberam
que o processo de globalização da mudança tecnológica é uma coisa avassaladora.

Pirovano: Sim.

Marcel: Veja a China, os Estados Unidos e tudo o que aconteceu com o seu uso,
por exemplo, do Vale do Silício. As coisas são um desafio muito grande.

Pirovano: Sim.

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Marcel: Para se pensar algo dessa forma

Pirovano: Sim, sim, sim, claramente os políticos estão atrás, alguns estão de olho, o
próprio negócio colocando muita tecnologia nisso, ou seja, um Bolsonaro, hoje é um…
digamos… alguém que tem uma indústria muito interessante construída por trás da
mensagem.

Marcel: A tecnologia.

Pirovano: Sim, a tecnologia, Lula também, quer dizer…

Marcel: Estão mudando a política, também a forma de…

Pirovano: Exatamente, exatamente e, de alguma forma, o estado tem que mudar. O


que acontece é que o Estado continua existindo, pelo menos na América Latina, Parece-me
como um covil de ineficiência, e isso é um problema porque você precisa usar esses
recursos de alguma forma.

A China tem uma vantagem porque a China não precisa se conformar com os
1.000.500.000.000 de chineses que não fazem parte do Partido Comunista. O populismo
tem o problema de acabar sendo escravo dessa época e no final acaba se acontecendo o
que ocorreu com Dilma. São tópicos muito interessantes, muito muito interessantes.

Marcel: Que política não acompanha é isso, política é a estrutura administrativa.

Pirovano - Bem, você sabe disso no tempo de Alfonsín, Alfonsín foi presidente de
1983 a 1989, na Argentina, um presidente totalmente… Hoje eles o amam muito, mas nós
que vivemos naquela época, foi terrível

Marcel: Por causa da inflação, se me recordo…

Pirovano: Sim sim sim sim sim sim. Bem. Era um momento complicado para toda a
América Latina, complicado.

Marcel: Sim.

Pirovano: Ele fez uma lei, para regular os portos, e se equivocou. E essa lei abriu
uma janelinha de conveniência de interesse para os portos privados. Um sistema de portos
foi estabelecido desde Puerto San Martín ao norte quase até Buenos Aires em direção a
Zárate. Os portos privados passaram a ser administrados por conta própria, esses portos
ganharam enorme eficiência e mataram os portos estatais. Ele não fez de propósito, ele fez
isso sem querer, e foi provavelmente a política de maior sucesso de Alfonsín.

Pirovano: Acho que criou uma janela para que o setor privado obtenha
rentabilidade.

Marcel: Claro.

Pirovano Ou seja, o tempo todo o estado está agindo como um inimigo do setor
privado, isso é um problema. Um problema porque é o privado que tem dado conta, então
eles agem de acordo.

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Marcel: também, mas o que eu também percebi na gestão, foi que também foram
criadas estruturas para dar conta disso, como a subsecretaria de investimentos…

Pirovano: Oh sim, bem, a ideia da ideia do Ministério do Desenvolvimento


Econômico e daí sim ir fazer, digamos, algum tipo de coisa…

Marcel: isso é um tipo de coisa nova que se criou

Pirovano: Sim, sim, sim, foi o amigo, era o amigo das empresas, temos sido amigos
das empresas que passavam pela a aprovação urbana, que é aquele que dá as
autorizações para construção, eles me disseram: “essas pessoas, esses caras, todos eles
te amam”. eles tinham muita desconfiança em relação ao setor privado, essas do tipo que
os caras vão querer roubar metros quadrados…. não, não, não quero que me roubem
nada, você faz o seu trabalho, mas no tempo certo para não sofrer. não tem porque
ninguém estar te pedindo para dar mais do que os metros correspondentes.

Marcel: Claro

Pirovano - Não os tratar como se fossem um criminoso a priori. Então, a gente tinha
criado um escritório que era a central de atendimento ao investidor, que era como um posto
de atendimento da cidade para empresas.

Marcel: Se eles necessitassem de informações…

Pirovano: Não inclusive gestionamos, os ajudamos, os acompanhamos aos outros


ministérios para fazer as licenças. Muito relacionamento humano, muito relacionamento
humano.

Marcel: Claro, claro. E tudo isso faz parte da realidade de uma mudança do row ao
pensar no distrito, os investidores de destaque pensando em mudar aquela estrutura mais
burocrática.

Pirovano: Claro, sim, sim, sim, sim, ponte preta, ou seja…de volta, mudar
estruturalmente o estado é difícil, todo o mundo fala sobre o agrupamento dos serviços,
todo mundo que quer criar um processo lá… e a verdade é que quando você cria um
processo e dá para o Estado, um poder, pelo menos, na América Latina, você cria um
quiosque. Então o que fizemos foi criarmos em um escritório, mediamos como se fossem
particulares, mediamos o Executivo, fizemos… isso tem que durar tanto tempo, isso tem
que ser instalado, tem que ter tantas empresas instaladas, seu objetivo é tantos meses, e
ele tinha que arranjar, ele tinha que ir fazer amizade com o cara ali e conseguir, ele tinha
que se relacionar com tal ministério e ele tinha que fazer isso. mova-se seja criativo.E
funcionou

Marcel: E existe uma outra pergunta, são duas na verdade. A primeira é sobre o
diálogo com os vizinhos, também porque eram 6 estações…

Pirovano: Tenho mais 15 minutos, vamos.

Marcel: Então para finalizar…

Pirovano: O diálogo com os vizinhos é muito importante porque primeiro para fazer
a lei sair, ter o apoio dos vizinhos é fundamental. O que se deve saber? Ele, vizinho da

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oposição, vai apoiar, o vizinho do partido vai estar com a gente e terá o vizinho que não
estará de nenhum lado. Ele não está em lugar nenhum, mas e aquele vizinho, a única coisa
que importa é que a casa dele esteja limpa, que não haja crime, que não haja um morador
de rua caído na rua, hein? Então você tem que trabalhar essa questão também e isso e isso
vai ser a cobrança do vizinho. O vizinho não vai te pedir uma regeneração urbana perfeita,
não. Ele vai te falar: “olha eu quero que minha filha possa chegar em casa e não ser
atacada”.

Marcel: Que você sempre pensa no estudo de coisas gigantes, bom tem coisas
básicas…

Pirovano: Básicas, básicas a gente fez o básico aqui, a gente se uniu, a gente
também ouvimos os vizinhos, a gente ofereceu os seguros para eles, a questão da polícia,
a questão da calçada ser arrumada, ou seja, a gente trabalha na praça, para consertar, a
gente trabalha com essas coisas.

Marcel: Praticamente um diagnóstico feito com os vizinhos para a intervenção.

Pirovano: Bem sim, para principalmente para o vizinho que está desconfiado. Sobre
essas coisas, para mim no bairro das artes, aquele en La boca, que é um bairro bem
tradicional de Buenos Aires, uma vizinha me disse: “não, porque eu sei, eu sei que todo o
bairro foi comprado Uma importante produtora de televisão na Argentina que fez um
empreendimento imobiliário para a gente rica e vão nos expulsar.” Respondi: “Então olha,
eu não o conheço, não sei do que você está falando.”

Mas essa desconfiança está aí, o que você sabe é que a oposição pode a usar,
entretanto o que não precisa acontecer, é uma posição que, naturalmente, se você não
administrar, isso acontecerá.

Marcel: E esse diálogo e depois foi fundamental…

Pirovano: Você tem 14.000 interesses rodando por aqui. A associação de assuntos
históricos do Zabaleta e associação para a defesa de El parque de los patricios.

Marcel: O centro da memória.

Pirovano: Claro, isso, tudo isso…

Marcel: A associação comercial.

Pirovano: A associação comercial, o Rotary Club do Parque Patricio, tudo, nós


temos tudo e você tem que ir ver tudo, você tem que ouvir, eles têm o diário deles, você tem
que ver, isso tem que estar lá, isso é uma tarefa, certamente é uma tarefa.

Marcel: E bom, só pra fechar, como você avalia esses 14 anos do distrito?

Pirovano: Veja, vou repetir para você novamente, um conceito que é muito
importante para mim, para que uma política pública sobreviva, mais de um governo é a
chave para saber… quando Mauricio sai da cidade, Horacio vem para o governo e agora
sim, na verdade, não dá nem bola para o distrito tecnológico, aliás, deixamos ele com 250
empresas e no ano havia 203, 220. E com o tempo Horácio percebe que não há política de
desenvolvimento econômico [inaudível]

84
Algo menor. O que diz a guerra, o que a guerra faz? E ele volta a tentar isto porque
não tem ideia do que fazer, pega, de novo, e o atual ministro retoma o assunto, e já sem
nome porque… eu já não existo há muitos anos no Distrito de Tecnologia, mas tem muita
gente que o toma como próprio e você tem um subsecretário distrital, um cara onde o tema
é dele… porque a lei o permite, e porque eles têm o que trabalhar. Depois voltou a tomar
dinâmica, ou seja, nada dos originais estar lá, ou seja, passamos no teste.

Marcel: Claro.

Pirovano: Essa é a chave para o sucesso. Isto é, para mim, essas coisas que são,
de alguma forma… Ovelha Dolly, as ovelhas são clones, são criadas a partir do estado e
não do interesse privado, o principal risco que correm é não sobreviverem, então você tem
que fazê-los de forma que a dinâmica dos interesses os faça prosperar

Marcel: Claro.

Pirovano: Então essa é a chave do design para mim, e acho que o Distrito de
Tecnologia foi bem-sucedido. Eh, não tenho certeza sobre os outros. O Audiovisual está
bem, porque era basicamente são e foi privado logo de cara, o de Desenho tinha um pouco
mais de dinâmica, mas ainda encontra dificuldades, porque abandonamos quando ainda
não havia chegado. Acho que as leis são boas, eu acho que eles não são bem
administrados hoje.

Marcel: Sim Sim.

Pirovano:E isso para mim é fundamental na gestão, é fundamental.

Marcel: : Sim Sim.

Perdão, a última Para uma e boa gestão de agora em diante, como você acha o que
a lei diz, uma mudança de gestão? E o que se pensa como gestão para isso?

Pirovano: Para que? Para recuperá-lo, para dar-lhe uma dinâmica…

Marcel: Para dá-lo mais dinâmica

Pirovano - Acho que temos que encarar isso como um desenvolvimento urbano e
que temos que redefinir o papel das empresas e temos que gerar, uh, temos que ver quais
são as necessidades das empresas que estão lá. Claro que tem que voltar, tem que ver o
que eles precisam, tem que ver, tem que entender a produção. Nietzsche disse para um
político: “uma ferramenta ou um inimigo?”

Marcel: Claro.

Pirovano: Ei para ele, para o político, as empresas são uma ferramenta, diz: “para
que me passem coisas por aqui, e o que vem da empresa…”, não têm empatia, não falam,
não tentam perguntar o que você precisa? Eles são uma deformação da transacionalidade.
“Como posso tirar algo das empresas? Como posso fazê-las vir e não ter que dar nada?”

Marcel: Visão política muito instrumental.

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Pirovano - Muito instrumental, exato. Muito instrumental, então eu faria isso, ou
seja, o que eu faria é voltar com as empresas. Eu tentaria resolvê-los permanecendo em
uma associação, sendo informado de que eles precisam entender o ecossistema. onde o
ecossistema está falhando, onde está o ecossistema, porque estão vindo coisas de fora e
não de dentro, por que? Tentaria entender isso?

Marcel: Claro.

Pirovano: Não, não agiria mecanicamente com clareza, isso não daria a você uma
revisão 2.0 do tema.

Marcel: Claro, Claro… Carlos muito obrigado pela entrevista, incrível a entrevista…

Pirovano: incrível Marcel, obrigado a você, a verdade é que faz tempo que não falo
desse assunto, né?

[Fim da gravação]

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