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Curso Processo Civil de A a Z – CPC/73 X Novo Cpc 2015

Prof. Erik Navarro


102.01
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Teoria e Prática do Precedente Judicial ................................................................. 2
1.1 Introdução......................................................................................................... 2
1.2 Conceitos........................................................................................................... 4
1.3 Radiografia do precedente ............................................................................... 5
1.4 Eficácia dos precedentes .................................................................................. 8
2. Dos Processos nos Tribunais e Dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 9

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1. Teoria e Prática do Precedente Judicial


1.1 Introdução
Este tema sofreu uma das maiores alterações no Novo CPC.
O CPC/73 já tratava dos precedentes. Precedente nada mais é do que uma decisão
judicial que tem aptidão para ser seguida em casos futuros semelhantes. A diferença é que o
Novo CPC procura instrumentos que deem força normativa aos precedentes judiciais. Essa
força normativa já poderia ser buscada na CRFB/88, mas não o era por conta da legislação
que não valorizava os precedentes expressamente, e também muito por conta da cultura
jurídica brasileira de não valorização dos precedentes.
Nossa cultura é a da jurisprudência dispersiva, ou seja, quando se olha para decisões
das cortes superiores não há segurança de que quando se recorrer a elas a decisão para
casos semelhantes será a mesma. Isto porque, dentre vários motivos, as várias cortes
superiores não cuidam da estabilidade da sua jurisprudência, mudando seu posicionamento
o tempo todo. Cada sessão, cada turma julga de forma diferente.
Outro problema, ainda mais óbvio, é que o juiz brasileiro não está acostumado a
respeitar os precedentes judiciais, e ao verificar que seu entendimento é diverso de um
precedente, não leva em conta o mal que está fazendo ao sistema.
Quando se olha para o ordenamento jurídico no mundo moderno, não se pode falar
apenas do direito positivo (lei escrita), mas se deve sim olhar para outras fontes, tal como a
jurisprudência, pois no mundo complexo e mutável como o de hoje a lei é incapaz de dispor
acerca de todas as possibilidades. Há as normas princípio, que trazem a base para a solução
do conflito, mas que devem ser sempre vistas à luz da jurisprudência, que traz, em regra,
uma interpretação da norma mais próxima da realidade.
O precedente surge através do juiz de primeiro grau. Contudo, quando se passa a ter
uma consolidação de entendimentos em tribunais locais ou superiores, é necessário
estabilizar e respeitar a jurisprudência, passando a existir o valor jurídico, ético e econômico
(segurança e previsibilidade). Isso não significa que a jurisprudência tenha que ser imutável,
mas a primeira preocupação é torná-la estável.
 Qual é a razão por de trás desses problemas com os precedentes judiciais no Brasil?
É, sobretudo, um problema cultural, que gera dificuldades para o juiz brasileiro, não
apenas em seguir os precedentes, como também quanto às técnicas de aplicação e formas
de lhe dar com os precedentes obrigatórios no dia a dia. O novo CPC positiva muitas dessas
técnicas, mas, na prática, haverá muitas dificuldades.

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O juiz brasileiro e o juiz do civil law como um todo não é muito detalhista quanto a
definição, e não tem cuidado com os fatos da causa. É um juiz que tende a olhar para a lei,
olhar para os fatos básicos e fazer um raciocínio rápido de subsunção, é o que chamamos de
raciocínio dedutivo, partindo do abstrato para o concreto. Partindo da norma geral para a
norma especial. São juízes muito dedutivos e pouco analíticos.
Por outro lado, o juiz do common law não é dedutivo, mas sim indutivo, pois ao invés
de olhar primeiro para a norma geral, ele vai se preocupar com o caso concreto,
preocupando-se com os aspectos fáticos ele separa os fatos conforme sua relevância
(statement of material facts). Quando ele definir esses fatos, vai procurar na jurisprudência
se já houve julgado envolvendo esses fatos ou fatos semelhantes. Encontrando, procura o
raciocínio utilizado para se chegar à decisão (legal reasoning). Aí está o coração do
precedente judicial. Ele então transplanta o entendimento para o caso concreto que lhe foi
submetido. O juiz do common law decide caso a caso (case in case).
O judiciário do common law é muito mais criativo do que o do civil law, pois se pauta
muito mais em jurisprudências, justamente por não dispor de arca bolso legal tão vasto
quanto o do judiciário do civil law.
 Como surgiu o common law e o que o caracteriza?
Tem início entre 1350/1500 quando o império romano foi incorporado ao direito
europeu continental. Os países insulares não foram afetados pelo direito romano,
justamente por estarem ilhados (Exemplo: Inglaterra). Assim, enquanto o direito romano foi
aplicado no continente, a Inglaterra aplicou basicamente os seus costumes, inclusive por não
ter muitas regras escritas.
A partir da revolução da burguesia, o juiz europeu continental era visto como juiz
reacionário a partir de então, de modo que quando a burguesia tomou o poder, impôs que o
juiz aplicaria mecanicamente as leis. Entretanto, na Inglaterra, o juiz ficou ao lado do povo,
ganhando força e credibilidade.
A House of Lords (atual Câmara dos Lordes, e antigo Supremo Tribunal Inglês), até
1966, estava vinculada aos próprios precedentes, a ponto de não poder afastá-los.
Naturalmente, em 1966, por um ato normativo publicado por um dos lordes, passou a
decidir que poderia sim revogar seus próprios precedentes, fazendo o overruling (somente a
corte que criou o precedente ou uma corte superior a ela poderia revogá-lo).
No direito norte-americano a flexibilização dos precedentes é maior. Nos Estados
Unidos existem muito mais leis escritas do que na Inglaterra. Contudo, a Reforma Woods
mudou um pouco isso, de modo que a Inglaterra, país das leis não escritas, passou a ter um
código de processo civil escrito.

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A partir do surgimento da Teoria da Relatividade e dos estudos da física quântica,


percebe-se também que as leis não são perfeitas e absolutas. Surge a teoria da incerteza que
inunda todas as áreas do conhecimento, de modo que o juiz, tal qual ao homem, precisa
criar entendimentos em certas situações.
Assim, a expressão “ordenamento jurídico” que dá ideia de completude deve ser
substituída pela expressão “cosmos normativo” que dá ideia de algo que está sempre em
mutação.
Nos países de civil law mais desenvolvidos, os juízes respeitam os precedentes das
cortes superiores, tendo em vista a respeitabilidade dessas cortes. Isso ocorre na Alemanha,
por exemplo. O sistema de respeito aos precedentes não é prerrogativa do common law,
mas sim de sistemas jurídicos sérios em que há estabilidade e previsibilidade dos
precedentes.
Para entender porque no Brasil não é assim, se faz necessário visitar grandes
sociólogos que descrevem o perfil complacente dos brasileiros. Não é que o brasileiro não
respeite os precedentes. Ele não respeita a norma seja na forma que for. O panorama atual
brasileiro demonstra isso.
Por mais que haja muitas diferenças entre civil law e common law, há algumas
aproximações que fazem crer que o respeito aos precedentes independe do sistema, mas
depende sim da conduta dos agentes em geral; da sociedade.

1.2 Conceitos
Não confundir decisão judicial com precedente. Decisão judicial é gênero, do qual
precedente é uma espécie.
Precedente é a decisão judicial verificada à luz do caso concreto, capaz de persuadir
decisões futuras sobre temas iguais ou semelhantes. Pode ser que a decisão de um tribunal
qualquer do Brasil tenha esse poder em razão do respeito a essa corte. No Brasil, há as
súmulas vinculantes que devem obrigatoriamente ser seguidas, o que é bom por um lado,
mas gera problemas por outro.
Jurisprudência é um conjunto de decisões judiciais, que nem sempre serão
precedentes, mas que têm dimensão coletiva. O Conceito romano de iurisprudentia surge
com a figura do jurista, o primeiro técnico desenvolvedor da ciência do direito que acabou
por criar a doutrina como fonte, já que seus pareceres técnicos eram utilizados pelos juízes
para decidir casos.
 Quem define se uma decisão judicial é ou não um precedente?

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No common law a primeira pessoa que diz um precedente é o juiz de primeiro grau.
Em países como o Brasil, o sistema é invertido, de modo que são os tribunais superiores que
dizem o que é o precedente.
Stare Decisis não se confunde com os precedentes. Surge a posteriori como uma
evolução dessa doutrina, buscando sistematizar as decisões, para, em sua elaboração,
distinguir melhor a ratio decidendi, em separada do dictum. É tido como o dogma do
respeito aos precedentes. Contudo, nada mais incompleto do que afirmar isso, pois o dogma
do respeito aos precedentes surge na separação entre o direito romano continental e o
direito inglês insular. O stare decisis é a sistematização das cortes superiores a fim de deixar
mais claro o coração do precedente e o que é apenas um dito de passagem (dictum) que não
tem relação direta com os fatos relevantes para julgamento daquela causa.

1.3 Radiografia do precedente


Exemplo: uma decisão do STF em julgamento de recurso repetitivo, por conta da
norma escrita, é um precedente.
Há as circunstâncias fáticas postas a julgamento. Como visto, umas são deixadas de
lado e outras são consideradas relevantes para o julgamento da causa.

Ratio decidendi (holding): princípio jurídico que consta da motivação da decisão:


1ª. Statement of material facts: indicação dos fatos relevantes para o julgamento da
causa;
2ª. Legal reasoning: raciocínio lógico-jurídico da decisão, que só pode ser
compreendido em conexão estrita com o statement of material facts;
3ª. Judgment: juízo decisório.

A súmula vinculante é um enunciado abstrato que contém basicamente algo próximo


de um legal reasoning sem referência a fato relevante. Entretanto, para conferir maior
certeza, deve-se indicar os precedentes que originaram a súmula vinculante.
Súmula é o conjunto dos enunciados que representam a jurisprudência dominante de
determinado tribunal. O direito sumular brasileiro é muito ruim, mas a tendência é de se
obter melhores precedentes considerando-se a forma dos tribunais superiores decidirem
com base nas normas do novo CPC.

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Nesses casos, assim como tratado no artigo “Brasil: Cultura e Precedentes”, da lavra
do Professor Erik Navarro, se em regra a cultura modifica o ordenamento jurídico, existem
momentos em que é preciso alterar o ordenamento jurídico para vergar uma cultura que
não é boa.
 O que há em nosso sistema de novo que pode provocar essa evolução?
Temos desde a reforma trazida pela EC 45 às súmulas vinculantes, passando pelas
decisões do STF no controle concentrado de constitucionalidade (art. 103-A).
CRFB/88
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação
direta de inconstitucionalidade.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-
a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

O destaque do novo CPC é o IRDR (Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas


– art. 976 a 987), onde a ideia é travar demandas repetitivas, julgando um caso a partir do
qual o resultado será “repetido” para os demais.
Novo CPC
Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas
quando houver, simultaneamente:
I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito;
II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

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§ 1o A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do


incidente.
§ 2o Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente
e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.
§ 3o A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de
qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o
requisito, seja o incidente novamente suscitado.
§ 4o É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos
tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso
para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.
§ 5o Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas
repetitivas.

Há também o IAC (Incidente de Assunção de Competência - art. 947), que é uma


forma de gerar precedente vinculante para caso que, apesar de não repetitivo, seja de
repercussão podendo dar origem a casos análogos
Novo CPC
Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de
remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante
questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos
processos.
§ 1o Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício ou a
requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que seja o
recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária julgado pelo
órgão colegiado que o regimento indicar.
§ 2o O órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de
competência originária se reconhecer interesse público na assunção de competência.
§ 3o O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e órgãos
fracionários, exceto se houver revisão de tese.
§ 4o Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a
respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre
câmaras ou turmas do tribunal.

E, por último, os Recursos Repetitivos (art. 1036 a 1041), que passam a ter maior
radicalização, alcançando inclusive casos de primeiro grau, e de forma idêntica para
Recursos Especiais e Recursos Extraordinários.
Novo CPC
Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais
com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de
acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.

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§ 1o O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional


federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão
encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins
de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§ 2o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da
decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias
para manifestar-se sobre esse requerimento.
§ 3o Da decisão que indeferir este requerimento caberá agravo, nos termos do art. 1.042.
§ 4o A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do
tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá
selecionar outros recursos representativos da controvérsia.
§ 5o O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos
representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito
independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de
origem.
§ 6o Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente
argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

1.4 Eficácia dos precedentes


Há no nosso sistema diversas formas de eficácia no que diz respeito à força dos
precedentes:
 Precedentes Vinculantes (binding precedent) – Precedente típico do common
law. No Brasil, são apenas aqueles que se desrespeitados geram direito de
ajuizamento de Reclamação Constitucional (art. 988), quais sejam: decisões
tomadas em controle de constitucionalidade, súmulas vinculantes, IRDR, IAC e
Recursos Especiais e Extraordinários Repetitivos. O artigo 927 do Novo CPC
que abre o Livro III traz essa hierarquia.
 Precedentes Obrigatórios – são os demais precedentes do próprio tribunal,
como súmulas não vinculantes e jurisprudência dominante que deve ser
convertida em súmula. Eles promovem a aceleração do julgamento, como
decisões monocráticas e julgamento liminar de improcedência (súmula de
tribunal local).
 Precedentes Persuasivos (persuasive precedent) – são todos os demais
precedentes, de órgãos fracionários do próprio tribunal ou de outros
tribunais.

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2. Dos Processos nos Tribunais e Dos Meios de Impugnação das Decisões


Judiciais
Nosso curso segue basicamente o esquema do novo código. Aqui, abre-se o estudo
do Livro III do Novo CPC (Dos Processos nos Tribunais e Dos Meios de Impugnação das
Decisões Judiciais).
Interessante se faz a leitura da Exposição de Motivos do Novo CPC:
“todas as normas jurídicas devem tender a dar efetividade às garantias constitucionais,
tornando ‘segura’ a vida dos jurisdicionados, de modo a que estes sejam poupados de
‘surpresas’, podendo sempre prever, em alto grau, as consequências jurídicas de sua
conduta”

O Capítulo I do processo nos tribunais traz seus três primeiros artigos sobre
precedentes judiciais. Mais do que grandes novidades, são quase um resumo doutrinário do
que vem a ser um sistema em que os precedentes são respeitados.
Novo CPC
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra
e coerente.

Se a cultura brasileira fosse de respeito aos precedentes, não seria necessário este
dispositivo. No common law as cortes, tendem a ser menores, e em cortes menores a coesão
da jurisprudência é tida de forma mais fácil. Em cortes maiores, a coesão se torna mais
difícil.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os
tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência
dominante.

O código não diz o que vem a ser a jurisprudência dominante, mas havendo, é
necessário editar enunciados de súmulas. Pode-se definir a jurisprudência dominante como
o entendimento dominante na turma responsável por uniformizar determinado
entendimento.
Há uma preocupação grande com relação à qualidade dos enunciados de súmulas.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas
dos precedentes que motivaram sua criação.

Deve-se considerar os fatos relevantes do caso que geraram o raciocínio lógico-


jurídico para se chegar à decisão.

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Novo CPC
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e
do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

Não há como se ter precedentes se a jurisprudência dominante não for utilizada


pelos juízes de primeiro grau e cortes inferiores. O artigo 927 traz um rol de precedentes
obrigatórios e vinculantes. Pela ordem dos incisos, o código indica hierarquia entre os
precedentes.
O enunciado espelha o precedente, enquanto as decisões são o próprio precedente.
Os três primeiros incisos são precedentes com efeito vinculante, pois sua não
observância gera possibilidade de Reclamação. Após, são precedentes obrigatórios não
vinculantes ou precedentes magnéticos. A doutrina fala em precedentes obrigatórios de
força média.
§ 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando
decidirem com fundamento neste artigo.

Significa contraditório e fundamentação analítica das decisões judiciais.


Hoje existe vício grave do juiz brasileiro, como nos casos em que se nega antecipação
de tutela sob a simples justificativa de ausência de fumus boni iuris e periculum in mora, sem
qualquer outra fundamentação.
 E se aparentemente os fatos forem os mesmos, mas no momento em que o juiz fizer
o confronto analítico, perceber que os fatos não são os mesmos e que a diferença
fática exige o afastamento do precedente?
Todo esse exercício de comparação analítica (case to case), quando verificada a
impossibilidade de utilização do precedente, é denominada “Distinção / Distinguishing”, pois
nesse caso poderá haver verdadeira injustiça diante da utilização do precedente. O
distinguishing é o método de comparação analítico do case to case. O resultado pode
ensejar a aplicação do precedente ou o seu afastamento.
O próprio advogado quando ajuíza ação e sabe que existe precedente contrário a sua
tese, já deve buscar na sua inicial fazer o distinguishing. Por outro lado, se houver

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precedentes que afirmam a tese do autor, deve utilizar o distiguishing método, a fim de
buscar uma tutela da evidência, que antecipa efeitos práticos da decisão final.
§ 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de
casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de
pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.

Desde 1966, a própria House of Lords não rejeitava em absoluto a reforma dos seus
precedentes. Às vezes é necessário que o precedente se adapte. A superação do precedente
é algo como a revogação ou derrogação de lei. O código se preocupa com isso, porque altera
algo que deveria ser estável, deve haver cuidado com a segurança jurídica estabelecendo
regras de transição suave para a alteração do precedente, deve haver contraditório.
A superação do precedente é o overruling. Se for revogação do tipo parcial, é o
overriding. A regra de ouro é que somete corte superior ou a própria corte que gerou o
precedente pode superá-lo. Nosso código acrescenta que neste procedimento deve haver
abertura, pois há problema com a democratização.
Aqui se fala da decisão que altera o precedente, mas vale também para decisões que
criam os precedentes. O código preferiu tratar isso em cada um dos mecanismos, mas
poderia ter tratado de modo geral, e ainda falar sobre a alteração em precedentes
vinculantes em geral.
Existe um microssistema de precedentes no novo CPC, ou seja, uma norma que se
refira a apenas um precedente, se aplica aos demais que tenham o mesmo status normativo.
§ 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal
e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode
haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

A preocupação com a alteração do precedente continua. Trata-se aqui de


entendimento dominante do STF e Tribunais Superiores, na alteração de interesse social e
da segurança jurídica.
§ 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese
adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação
adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia.

A ideia mais uma vez é a proteção da confiança.


Quando se fala de modulação, lembra-se de decisões do STF em controle de
constitucionalidade. A decisão que declara a inconstitucionalidade é ex tunc, mas por razões
de segurança jurídica o STF pode modular os efeitos. Nem todos os precedentes dizem

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respeito à declaração de inconstitucionalidade da norma. Então, via de regra, decisões que


alteram precedentes já são ex nunc.
Exemplo: lei cria tributo. Há dúvida se a atividade X é fato gerador desse tributo. O
entendimento dominante em 2004 era pela inconstitucionalidade dessa hipótese de
incidência tributária. Quem praticasse a atividade X não devia esse tributo. Em 2016 a corte
superior declarou a constitucionalidade da norma. X é fato gerador do tributo. O STF
preocupado com a segurança jurídica, declara a constitucionalidade com efeitos ex nunc.
Deve-se verificar a data da relação jurídico-tributária que está sendo julgada. Isso é
modulação.
Fora a modulação o código não traz outra técnica de proteção. Há duas técnicas que
constam do direito comparado:
 Signaling – sinalização – do direito norte-americano. Há o precedente X. Esse
precedente está a caminho de ser superado, mas para não surpreender as
partes e toda a comunidade jurídica, a corte avisa que mudou de
entendimento, de X para Y, mas aplica o entendimento X para essa causa, por
ser o que está sendo esperado dela, e avisa que os próximos casos serão
decididos conforme o precedente Y.
 Decisões-alerta – do direito alemão. São mais sutis do que a signaling.
Qualquer corte alemã indica a possibilidade de mudança do entendimento e
convoca a sociedade para participar da possível alteração através de um
debate. Não há dificuldade para que essa técnica seja aplicada no direito
brasileiro.
Assim, tem-se que as técnicas de alteração são: a modulação (bem feita); signaling; e
as decisões-alerta.
§ 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão
jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.

STJ e STF já fazem isso com relativo sucesso.


A publicidade deve ser dada e a organização deve ser por tema. Seria ideal que o CNJ
regulamentasse isso, bem como implantasse um único sistema de processo eletrônico para
todo o país.
Há basicamente duas instituições sérias que estão editando enunciados sobre o novo
CPC.

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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Uma é mais utópica, que é o Forum Permanente de Processualistas Civis. Alguns


enunciados são excelentes, outros são um pouco descolados da realidade, mas vale a pena o
estudo.
Já a ENFAM (Escola Nacional de Formação de Magistrados), escola que tem
atribuições sobre a formação de magistrados de todo o Brasil tem mais credibilidade. Editou
62 enunciados sobre o novo CPC e foi muito criticada, pois “puxou sardinha” para facilitar o
dia a dia do juiz. Os enunciados refletem o pensamento do juiz médio. Certamente será o
pensamento inicial, que será enfrentado a curto e médio prazo. Alguns são problemáticos,
mas outros são muito bons.
Merecem destaque:
Enunciado 19
A decisão que aplica a tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos não
precisa enfrentar os fundamentos já analisados na decisão paradigma, sendo suficiente,
para fins de atendimento das exigências constantes no art. 489, § 1o, do CPC/2015, a
correlação fática e jurídica entre o caso concreto e aquele apreciado no incidente de
solução concentrada.

Dizer que determinado fato relevante tem a legal reasoning, necessita de uma série
de fundamentos, argumentos, o que foi feito na formação do precedente. Quando há caso
concreto para julgamento com os mesmos fatos relevantes, deve se preocupar em
demonstrar essa equivalência.
Enunciado 20
O pedido fundado em tese aprovada em IRDR deverá ser julgado procedente,
respeitados o contraditório e a ampla defesa, salvo se for o caso de distinção ou se
houver superação do entendimento pelo tribunal competente.

O réu deve falar antes, porque ele poderá utilizar o distinguishing, deve-se ver se o
réu traz algum fato relevante diferente dos apresentados. Não se aplicará a tese criada no
IRDR.

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