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A Importância Da Cultura Organizacional No Sucesso Dos Programas de Conformidade
A Importância Da Cultura Organizacional No Sucesso Dos Programas de Conformidade
Brasília - DF
2022
CÉLIA VALQUÍRIA NASCIMENTO DE OLIVEIRA
Brasília
2022
Artigo de autoria de Célia Valquíria Nascimento de Oliveira, intitulada “A
IMPORTÂNCIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL NO SUCESSO DOS
PROGRAMAS DE CONFORMIDADE”, apresentada como requisito parcial para obtenção
do grau de Especialista em Direito Tributário e Compliance da Universidade Católica de
Brasília, em ____/____/2022.
__________________________________________
Prof. Dr. Gustavo Menon
Orientador
Pós-Graduação em Direito Tributário e Compliance – UCB
Brasília
2022
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente:
À Receita Federal do Brasil, por me proporcionar a excelente oportunidade de
aperfeiçoamento.
Aos colegas de curso, pelo companheirismo e apoio permanente durante todo o
percurso.
Aos professores, pelo esforço em nos proporcionar material de qualidade incontestável
e ao nosso orientador Gustavo Menon pela dedicação e atenção cuidadosa.
Ao Nassim, que me faz rir mesmo nos momentos mais difíceis.
E, especialmente, ao meu querido marido Darlan pelo amor, bom humor, apoio e
tolerância sempre.
“As autoridades desenvolvem confiança e
constroem sua legitimidade, não dando às
pessoas os resultados que desejam, o que
muitas vezes é impossível, mas sim
observando seu direito a uma audiência justa e
tratamento respeitoso.”
Valerie Braithwaite
5
Resumo:
O presente artigo tem como foco principal analisar a influência da cultura organizacional das
administrações tributárias para o sucesso dos programas de conformidade cooperativa. Foram
apresentados os conceitos de cultura, cultura organizacional e conformidade cooperativa sob a
ótica de diversos autores. Foram também analisados a cultura organizacional atualmente
vigente na Receita Federal do Brasil, delineados os principais aspectos do Programa Confia,
programa de conformidade tributária brasileiro, e consideradas a experiência internacional e
os estudos e orientações da OCDE sobre o tema. Considerando que a conformidade
cooperativa e o aumento da satisfação dos contribuintes estão entre os objetivos estratégicos
da Receita Federal do Brasil, a cultura organizacional da instituição é fator essencial a ser
considerado para o sucesso do Programa Confia. Seu alinhamento com os princípios e
diretrizes do programa deve ser objeto de ações de capacitação dos servidores, na busca do
redirecionamento da forma de atuação no sentido do paradigma do serviço, abandonando o
paradigma do crime e a visão fiscalista e beligerante atualmente vigente.
Abstract:
The focus of this article is to analyze the influence of the organizational culture of
tax administrations on the success of cooperative compliance programs. The concepts of
culture, organizational culture and cooperative compliance were presented from the
perspective of several authors. The current organizational culture at the Brazilian federal tax
administration was described and the main aspects of Confia - the Brazilian federal
cooperative compliance program - were outlined. Considering the international experience,
the OECD studies and guidelines on the subject and that cooperative compliance and
increased taxpayer satisfaction are among the strategic objectives of the Brazilian federal tax
administration, the organizational culture is a critical factor to be considered by the institution.
It is recommended that the Brazilian federal tax administration carry out training initiatives
for its employees to foster alignment between the organizational culture and the Confia
program's guiding principles. Among these principles, the paradigm of service and the spirit
of collaboration stand out, as opposed to the paradigm of crime and the current polarization
between views.
1 INTRODUÇÃO
2 CULTURA ORGANIZACIONAL
Cultura é um conceito amplo, que pode ser definido sob vários prismas, desde o
antropológico, sociológico, psicológico, econômico etc. Cultura, de um modo geral, abrange o
conjunto de símbolos e seus significados, valores, ideais e crenças compartilhados, bem como
os comportamentos considerados aceitáveis ou não pelo grupo social, definindo sua visão de
mundo, legitimando as relações e a ordem vigente.
Já o conceito de Cultura Organizacional é mais específico e delimitado, considerado
como o sistema de crenças compartilhado pelos membros de uma organização e que define
seus comportamentos e a forma como se relacionam com o trabalho e outros integrantes.
Um dos conceitos mais aceitos de Cultura Organizacional é dado por Schein (1994):
Em outra ocasião, Shein (1999, p, 45) sintetiza: “a cultura a soma de todas as certezas
compartilhadas e tidas como corretas que um grupo aprendeu ao longo de sua história. É o
resíduo do sucesso passado.” Em um conceito bastante abrangente e sintético, Robbins (2005,
p. 375) conceitua cultura organizacional como “um sistema de valores compartilhado
pelos membros de uma organização que a diferencia das demais. Esse sistema é, em última
análise, um conjunto de características-chave que a organização valoriza”. Não se pode,
porém, ignorar que apesar de existirem pontos comuns, crenças e valores amplamente
compartilhados, a maioria das grandes organizações possui diversas subculturas, decorrentes
das histórias individuais dos membros que as constituem (Robbins, 2005, p. 376).
Sob a ótica da cultura, podemos identificar nas organizações várias camadas: a cultura
dominante, as subculturas e os valores essenciais. Quando os valores essenciais são
amplamente compartilhados nas subculturas, definindo e norteando os comportamentos dos
seus membros, podemos dizer que há uma cultura forte. Uma cultura forte tem mais impacto
sobre os membros da organização: proporciona um senso de identidade, pertencimento e
comprometimento com algo maior que os interesses de cada um, gera estabilidade de forma a
tornar menos necessária a formalização dos procedimentos desejáveis e cria um clima interno
de alto controle comportamental ao servir como um guia de sentido, dando forma às atitudes e
reforçando os comportamentos dos funcionários. Pode, porém, revelar ser um passivo para a
organização ao se tornar uma barreira à diversidade e inovação quando a forma como sempre
se atuou deixa de ser eficaz e mudanças se fazem necessárias. (Robbins, 2010, p. 503-506).
Assim, podemos concluir que cultura organizacional, por definir o comportamento de
seus membros, deve ser considerada como um fator essencial no planejamento das ações em
direção aos objetivos estratégicos de qualquer organização.
8
1
Kirchler (2007) chama de “abordagem de polícia e ladrão” o paradigma do crime, que considera o contribuinte
como um criminoso em potencial e se baseia no poder das autoridades para impor o cumprimento das obrigações
tributárias, mediante auditorias e sanções; chama de “abordagem do cliente e serviço” o paradigma do serviço,
que propõe tratar o contribuinte como uma espécie de cliente, e dessa forma fortalecer a confiança e a
cooperação, incentivando e facilitando o cumprimento voluntário.
2
Apenas alguns exemplos: (1) a exigência de certidão de regularidade fiscal para contratar com órgãos públicos
ou usufruir de determinados benefícios fiscais; (2) as punições pecuniárias (multas moratórias, qualificadas e
agravadas, que vão de 20% a 225%) e (3) administrativas (por exemplo, a inaptidão da inscrição cadastral).
3
RACHID, Jorge Antonio Deher. Sanções tributárias federais e análise comparativa com outros países.
Apresentação à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, realizada em 20 de dezembro de
2017. Disponível em: 20/12/2017 - Audiência Pública - Cobrança de Multas e Encargos no âmbito da Receita
Federal e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional — Portal da Câmara dos Deputados (camara.leg.br) e
https://intranet.receita.fazenda/administracao/ascom/portal-de-noticias/informe-se/edicoes-de-
2017/dezembro/edicao-ndeg-1.497-21-12-2017/arquivos-e-imagens/anexo%201.pdf Acesso em 12 nov. 2022 e
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissões-
permanentes/cft/arquivos/RFBSanesTributriaseAnliseComparadaRachidI.pdf Acesso em: 14 out. 2022.
9
4
CTN, artigo 138, parágrafo único, – denúncia espontânea; Decreto 70.235/72, artigo 7º, inciso I, § 1º - primeiro
ato de ofício; CTN, artigo 142, lançamento vinculado; Lei 8.112/90, artigo 121, 124, 127, 132 inciso XI, XII (c/c
art. 117, IX), XIII (c/c art. 117, XII); Lei 8.429/92, artigo 11, II e artigo 12, III; Código Penal, artigo 316, § 1º,
317 e 319.
5
Portaria RFB n. 641/2015; iniciativas no sentido da autorregularização: declaração pré-preenchida para pessoa
física, “mecanismos autorregulatórios” das Malhas Pessoa Física e Jurídica, o Alerta Simples Nacional e as
Reuniões de Conformidade, ampla e detalhadamente apresentados por MENG em sua dissertação de mestrado -
MENG, Márcia Cecília. A Autorregularização e a Receita Federal do Brasil: Uma perspectiva sobre a
eficiência da Administração Tributária e a redução da litigiosidade por meio do incentivo à busca da
conformidade tributária pelos contribuintes. Dissertação (Mestrado). Fundação Getúlio Vargas – Escola de
Direito de São Paulo, São Paulo, SP, 2017.
6
Como exemplo, pode-se citar o IGC, indicador operacional Eficácia da Análise de Riscos de Conformidade em
Direito Creditório, sob gestão da Coordenação-Geral de Arrecadação e de Direito Creditório. Sua fórmula de
cálculo é o somatório dos valores das fraudes ou improcedências dos créditos identificados no período. Para o
ano de 2021, o valor da meta correspondia a 9,21% do estoque inicial de créditos selecionados para auditoria. A
meta é determinada não em créditos a serem analisados, mas em valores a serem considerados improcedentes.
10
a efetiva existência do risco da punição. Essa é uma percepção que a autora desse artigo,
servidora da instituição há 29 anos, sendo 15 deles em equipes de fiscalização, concorda ser a
dominante.
Em resumo, a cultura que norteia a atuação do fisco, no âmbito da Receita Federal do
Brasil, ainda é bastante conservadora, fiscalista e policialesca, pautada pelo paradigma do
crime (em oposição ao paradigma do serviço), sendo o contribuinte visto como “o lado
oposto” a ser combatido e tratado com desconfiança. De um modo geral o enforcement e a
presença fiscal são considerados os principais instrumentos garantidores do cumprimento das
obrigações tributárias pelos contribuintes e os servidores ainda veem com desconfiança as
iniciativas no sentido da conformidade e autorregularização, tendo certo temor de
responsabilização funcional ao agir com respaldo em normas infralegais.
3 CONFORMIDADE COOPERATIVA
7
A "globalização" econômica é um processo histórico, resultado da inovação humana e do progresso
tecnológico. Refere-se à crescente integração das economias ao redor do mundo, particularmente por meio de
fluxos comerciais e financeiros. O termo às vezes também se refere ao movimento de pessoas (trabalho) e
conhecimento (tecnologia) através das fronteiras internacionais. Há também dimensões culturais, políticas e
ambientais. International Monetary Fund (2000). Globalization: Threats or Opportunity. Disponível em
https://www.imf.org/external/np/exr/ib/2000/041200to.htm#I. Acesso em: 27 out. 2022.
11
8
HUISKERS-STOOP, Esther; GRIBNAU, Hans. Cooperative Compliance and the Dutch Horizontal Monitoring
Model. Journal of Tax Administration, v.5, n.1, p.66-110, fev 2019. Disponível em
http://jota.website/index.php/JoTA/issue/viewIssue/21/33 Acesso em: 14 out. 2022.
12
9
Instituído pela Portaria RFB nº 28, publicada em 20/04/2021, é composto pelo Secretário Especial da Receita
Federal do Brasil, seis subsecretários e dois superintendentes indicados pelo Secretário Especial.
10
Instituído pela Portaria RFB nº 71, publicada em 08/10/2021.
11
Disponível em https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-
programas/confia/Estatutorepublicado29102021.pdf Acesso em: 25 set. 2022.
12
Portaria RFB nº 209, publicada em 19/08/2022.
13
13
“Gerente de Relacionamento” é o servidor responsável pela comunicação entre a RFB e o contribuinte, e atua
como contato exclusivo para a empresa integrante do programa de conformidade, conforme conta no Manual do
Teste de Procedimentos do Programa Confia. Tem como atribuição, entre outras, intermediar as suas demandas
junto à administração tributária, facilitando a comunicação e orientando quanto ao uso dos canais corretos.
14 Portaria RFB nº 210, publicada em 19/08/2022.
15
Aprovada em 10/11/2022, inauguração dos trabalhos prevista para 16/11/2022, em evento presencial em São
Paulo.
14
No Relatório 2013 da OCDE foi incluído um anexo baseado nas experiências dos
países que implementaram programas de conformidade, relacionando as dificuldades
encontradas, as soluções aplicadas e as lições aprendidas e contendo recomendações para os
países com programas ainda em desenvolvimento (OCDE, 2013, Anexo F).
O documento relaciona alguns exemplos internacionais de providências tomadas pelos
países para vencer os desafios da mudança cultural. O Reino Unido fez investimentos
significativos em treinamento e o desenvolvimento de um “modelo operacional comum” para
garantir que os funcionários tenham conhecimento e habilidades essenciais necessárias, bem
como consistência, para tratar com grandes contribuintes com eficiência. Na Holanda foi
desenvolvida uma formação em habilidades interpessoais e em comunicação obrigatória para
todos que trabalham no programa de conformidade. Na Irlanda, discussões em workshops
explicaram a estratégia e explicaram como o programa funcionaria na prática, bem como os
benefícios esperados para a administração tributária.
A OCDE alerta sobre o desafio do gerenciamento das percepções e da decorrente
importância da comunicação, tanto interna (funcionários das administrações tributárias)
quanto externa (contribuintes). Sob o foco da percepção interna, a experiência da Austrália
concluiu que o envolvimento precoce do pessoal, ainda na fase de desenvolvimento do
programa de conformidade, é um elemento essencial para o sucesso na implementação.
Igualmente foi considerado importante por vários países o envolvimento da alta
administração, em ambos os lados, bem como um bom conhecimento do negócio e do setor
pela pessoa de contato na administração tributária.
Sob a ótica da cultura organizacional no âmbito das administrações tributárias, a
OCDE recomenda que o modelo de conformidade seja visto como um programa de mudança,
“uma abordagem voltada para o relacionamento que impõe altas demandas aos funcionários
que trabalham com grandes empresas” (OCDE, 2013, Anexo F, p. 102). A transição de um
ambiente de oposição de interesses para um ambiente colaborativo pressupõe mudanças
culturais de ambas as partes e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, de
comunicação e negociação, com disposição para diálogo e apoio mútuo, bem como a
aquisição das habilidades técnicas para entender o negócio e as dificuldades enfrentadas pelos
contribuintes. Em resumo, uma atitude proativa e cooperativa combinada com conhecimento
técnico, ambiente que deve ser desenvolvido e incentivado por meio de programas de
capacitação e modelagem de comportamento pelos gestores.
Quanto aos efeitos da cultura organizacional sobre a criação de uma relação de
confiança, base dos programas de conformidade cooperativa, Sérgio André Rocha alerta que a
mudança tem de partir do Estado e não do cidadão. Cita o exemplo emblemático da Suécia,
que a partir dos anos 2000 passou a assumir uma postura de órgão prestador de serviços e a
tratar o contribuinte como consumidor. A mudança na cultura interna na administração
tributária sueca alterou a percepção da sociedade sobre o órgão, que deixou de ser visto como
repressor e policialesco para se tornar a instituição governamental em relação à qual os
cidadãos demonstram maior grau de confiança. O contribuinte passou de “objeto de
fiscalização e repressão para consumidor do serviço de orientação, apoio e educação fiscal”.
Rocha ressalta que “esta mudança é fundamental. Uma autoridade fiscal que se coloca a
serviço do contribuinte, buscando educá-lo e informá-lo sobre como melhor cumprir suas
15
obrigações fiscais, é uma autoridade geradora de confiança”. 16 E conclui que essa mudança
tem de partir do Estado, não do cidadão.
No sentido da orientação da OCDE, deve-se considerar a implementação de um
programa de conformidade como um grande processo de mudança de cultura, tanto interna
quanto externa, com ênfase no engajamento e capacitação dos servidores e no
comprometimento da alta administração, que deve servir de modelo e comunicar amplamente
as diretrizes da nova forma de atuação. A mudança na postura da administração tributária, no
sentido de ver os contribuintes como clientes, com uma postura de orientação e prestação de
bons serviços, deve criar as condições e ser a força geradora para o surgimento de uma
relação de confiança, base dos programas de conformidade. Braithwaite (2008) 17 assim
sintetiza: “as autoridades desenvolvem confiança e constroem sua legitimidade, não dando às
pessoas os resultados que desejam, o que muitas vezes é impossível, mas sim observando seu
direito a uma audiência justa e tratamento respeitoso”.
16
ROCHA, Sérgio André. Reconstruindo a confiança na relação fisco-contribuinte. Revista Direito Tributário
Atual, 507-527, 2018. Disponível em https://ibdt.org.br/RDTA/reconstruindo-a-confianca-na-relacao-fisco-
contribuinte/ Acesso em: 14 out. 2022.
17
BRAITHWAITE, Valerie. Tax Evasion em M. Tonry (ed.), Handbook on Crime and Public Policy. Oxford,
UK: Oxford University Press, 2008.
18
LAWSON, Emily; PRICE, Colin. The psychology of change management. McKinsey Quaterly, 2003.
Disponível em:
https://www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20Functions/Organization/Our%20Insights/The%20p
sychology%20of%20change%20management/The%20psychology%20of%20change%20management.pdf.
Acesso em: 14 out. 2022.
16
comportamento que sirva de modelo a ser seguido, deixando claro os objetivos buscados com
a mudança. Nesse sentido, os autores ressaltam que “em uma mudança de comportamento em
grande escala, o caráter e a integridade do líder são extremamente importantes.”
Sendo a cultura organizacional a soma das crenças e valores compartilhados, para que
haja uma mudança é preciso identificar os comportamentos diários individuais que precisam
mudar. Field, Pears e Schaninge19, na mesma linha de Lawson e Price, citam quatro alavancas
que podem, utilizadas em combinação, mudar mentalidades e comportamentos individuais
relevantes: modelagem de papéis, compreensão e convicção, mecanismos formais de reforço
e construção de confiança e habilidades. Ressaltam também a importância dos
influenciadores, pessoas respeitadas por sua transparência, conhecimento e discernimento e
que podem ser uma força poderosa na alavanca de modelagem de papeis. Influenciadores não
tem necessariamente poder hierárquico e podem ser encontrados em todos os níveis e cargos.
John P. Kotter 20, após estudar mais de cem empresas em processo de mudança na
forma como conduziam seus negócios, conclui que “a lição mais geral a ser aprendida com os
casos mais bem-sucedidos é que o processo de mudança passa por uma série de fases que, no
total, costumam demandar um tempo considerável.”. Kotter estabelece os oito passos para
transformação das organizações: (1) Estabelecer um senso de urgência (identificar a
necessidade da mudança); (2) Formar uma coalisão orientadora (reunir um grupo com poder
para liderar a mudança); (3) Desenvolver uma visão (e a estratégica para concretizá-la); (4)
Comunicar a visão (por todos os veículos possíveis e pelo exemplo da coalisão orientadora);
(5) Capacitar os funcionários para agir de acordo com a visão (treinando, eliminando
obstáculos, alterando estruturas e encorajando a tomada de riscos e ações não tradicionais);
(6) Planejar e criar conquistas de curto prazo (melhorias visíveis no desempenho, com
recompensas e reconhecimento aos responsáveis); (7) Consolidar melhorias e produzir mais
mudanças (aproveitar o ganho de credibilidade já alcançado para alavancar ainda mais as
mudanças); e (8) Institucionalizar as novas abordagens (articular a conexão entre os novos
métodos e o sucesso da organização, garantir a formação dos sucessores). O autor também
aponta os motivos de fracasso nos processos de mudança como decorrentes da não-
observância desses passos.
Outros autores também oferecem orientações práticas para organizações e gestores,
como Kanter, que propõe os Dez Mandamentos para Execução da Mudança e Luecke, que
sugere um programa de Sete Passos. Os três modelos têm algumas diferenças e vários pontos
em comum, todos começando com a análise da necessidade da mudança, passando pela
criação da visão estratégica e sua disseminação, identificação das lideranças, ampla
comunicação, controle dos resultados e culminando nas medidas de consolidação das
mudanças.21
19
FIELD, Emily; PEARS, Elizabeth; SCHANINGER, Bill. A single approach to culture transformation may not
fit all. People & Organizational Performance Practice, McKinsey & Company, 2022. Disponível em
https://www.mckinsey.com/capabilities/people-and-organizational-performance/our-insights/a-single-approach-
to-culture-transformation-may-not-fit-all Acesso em: 14 out. 2022.
20
KOTTER, John P. Leading Change - Why Transformation Efforts Fail. Harvard Business Review. Março-
Abril, 1995. Reprint, 2007. Disponível em
https://www.academia.edu/13726263/Leading_Change_Why_Transformation_Efforts_Fail Acesso em: 14 out.
2022.
21
TODNEM, Rudy. Organisational Change Management - A Critical Review. Journal of Change Management,
Vol. 5, n. 4, 369 –380, 2005. Disponível em
https://www.avannistelrooij.nl/wp/wp-content/uploads/2017/06/Todnem-BY-2005-JoCM.pdf Acesso em: 14 out.
2022.
17
22
BASON, Christian. Leading Public Sector Innovation: co-creating for a better society. Bristol, UK: Policy
Press, 2010.
18
5 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Business Ethics, 101, 635-651, 2011. Disponível em
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entre administração tributária e contribuintes. Revista Direito Tributário Internacional Atual,
n. 2, 58-82. Disponível em: https://www.ibdt.org.br/RDTIA/2/compliance-cooperativo-uma-
nova-realidade-entre-administracao-tributaria-e-contribuintes/ Acesso em: 14 out. 2022.
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Policy. Oxford, UK: Oxford University Press, 2008.
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outros países. Apresentação à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados,
realizada em 20 de dezembro de 2017. Disponível em: 20/12/2017 - Audiência Pública -
Cobrança de Multas e Encargos no âmbito da Receita Federal e da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional — Portal da Câmara dos Deputados (camara.leg.br) e
https://intranet.receita.fazenda/administracao/ascom/portal-de-noticias/informe-se/edicoes-de-
2017/dezembro/edicao-ndeg-1.497-21-12-2017/arquivos-e-imagens/anexo%201.pdf Acesso
em 12 nov. 2022.
ROBBINS, Stephen P.; SOBRAL, Filipe. Comportamento organizacional. 14. ed. São Paulo:
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https://ibdt.org.br/RDTA/reconstruindo-a-confianca-na-relacao-fisco-contribuinte/ Acesso
em: 14 out. 2022.
SHAW, Jonathan; SLEMROD, Joel, & WHITING, John. Administration and Compliance.
Institute for Fiscal Studies (Ed.), Dimensions of Tax Design: The Mirrlees Review (pp. 1100-
1162). Oxford, UK: Oxford University Press, 2010.