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ação

administrativa
P Ó L I S - I L D E S F E S

IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL

AA No 97 1997

nar problemas comuns sem lhes retirar a auto- sistematicamente por meio de consórcios. No
nomia. Trata-se, portanto, de um recurso admi- campo do abastecimento e nutrição podem ser
CONSÓRCIOS nistrativo e, ao mesmo tempo, político. implantados programas de complemento nutrici-
onal (veja DICAS no 4) ou “sacolões” volantes
(veja DICAS no 78). No campo da cultura, em
INTERMUNI- O QUE SÃO municípios de pequeno porte é possível implan-

C
tar equipamentos e realizar atividades de caráter
CIPAIS onsórcios intermunicipais são entidades
regional, como o serviço de ônibus-biblioteca
(veja DICAS no 2). Também é possível atuar de
que reúnem diversos municípios para a forma consorciada nas áreas de esporte, lazer,
realização de ações conjuntas que se fossem pro- assistência social, aparelhamento do Corpo de
A ação conjunta de municípios duzidas pelos municípios, individualmente, não Bombeiros e saneamento.
atingiriam os mesmos resultados ou utilizariam
para resolver problemas comuns um volume maior de recursos.
b) Saúde: Este é o campo mais propício para a
criação de consórcios para prestação de servi-
amplia a capacidade de atendi- Os consórcios intermunicipais possuem perso- ços públicos. A operação conjunta da rede pú-
mento aos cidadãos e o poder nalidade jurídica (normalmente assumem a fi- blica de serviços de saúde tem sido o motivo da
gura de sociedade civil), estrutura de gestão au- criação de vários consórcios municipais nos úl-
de diálogo das prefeituras junto tônoma e orçamento próprio. Também podem timos anos. Isto porque é um tipo de serviço que
aos governos estadual e federal. dispor de patrimônio próprio para a realização exige grandes investimentos e que naturalmente
de suas atividades. é hierarquizado em rede por demanda: um mu-

O
Seus recursos podem vir de receitas próprias nicípio de pequena população não terá condi-
s problemas a cargo do governo muni- que venham a ser obtidas com suas atividades ções (nem fará sentido que o faça) para oferecer
cipal muitas vezes exigem soluções que ou a partir das contribuições dos municípios in- todo o leque de serviços possíveis e necessári-
extrapolam o alcance da capacidade de ação da tegrantes, conforme disposto nos estatutos do os. Com isso, muitos municípios passam a de-
prefeitura em termos de investimentos, recursos consórcio. Todos os municípios podem dar a pender de serviços oferecidos fora, cuja opera-
humanos e financeiros para o custeio e a atua- mesma contribuição financeira, ou esta pode ção está totalmente além de seu controle; outros
ção política. Além disto, grande parte destas so- variar em função da receita municipal, da popu- implantam equipamentos e serviços superdimen-
luções exigem ações conjuntas, pois dizem res- lação, do uso dos serviços e bens do consórcio sionados, cujo investimento necessário ou o
peito a problemas que afetam, simultaneamente, ou por outro critério julgado conveniente. custeio da operação são muito elevados para o
mais de um município. potencial econômico do município (muitas ve-
Em outros casos, mesmo sendo possível ao zes esta opção implica no sucateamento a médio
município atuar isoladamente, pode ser muito
mais econômico buscar a parceria com outros
POSSIBILIDADES prazo destes investimentos). Esse era o caso dos
27 municípios de Minas Gerais (totalizando cer-

H
municípios, possibilitando soluções que satis- ca de 250 mil habitantes) que compuseram o
façam todas as partes com desembolso menor e á amplas possibilidade de atuação con- Consórcio Intermunicipal do Alto São Fran-
melhores resultados finais. junta de municípios através de consór- cisco. O consórcio assumiu a operação de uni-
Os governos estaduais e federal, tradicionais cios. Desde pequenas ações pontuais a progra- dades de saúde de vários níveis, desde unidades
canais de solicitação de recursos utilizados pe- mas de longo prazo e intensa influência sobre o básicas a centros de referência especializados. A
los municípios, apresentam, em geral, baixa ca- destino dos municípios, os consórcios podem iniciativa conseguiu ampliar o volume de servi-
pacidade de intervenção. E também deixar se constituir com menor ou maior pretensão de ços prestados, reduzir custos de procedimentos
simplesmente que o governo estadual ou federal durabilidade e impacto. Também podem assu- e o número de deslocamentos para tratamento
assuma ou realize atividades de âmbito local ou mir os mais variados objetos de trabalho, como na capital do Estado, Belo Horizonte.
regional, que poderiam ser realizados pelos alguns apresentados a seguir: c) Obras públicas: Muitas vezes as obras pú-
municípios, pode significar uma renúncia à au- a) Serviços públicos: Os municípios podem ofe- blicas podem ser do interesse de mais de um
tonomia municipal, retirando dos cidadãos a recer serviços públicos em parceria com municí- município. É o caso de obras em áreas de divisa
possibilidade de intervir diretamente nas ações pios vizinhos. Com isso, é possível amortizar os (especialmente em áreas conurbadas), canaliza-
públicas que lhes dizem respeito. custos fixos e os investimentos sobre uma base ção de cursos d’água e obras viárias que garan-
Os consórcios intermunicipais, estabelecendo a maior de usuários, reduzindo o custo unitário da tam o acesso a vários municípios. Em outras
parceria entre as várias prefeituras, aumentam a produção e distribuição dos serviços. Diversos situações, pode ser interessante compartilhar
capacidade de um grupo de municípios solucio- tipos de serviços públicos podem ser realizados recursos para diversas obras a cargo de cada
município: rodízio de máquinas próprias, aqui- nicipal da Bacia do Rio Piracicaba, em São consórcios é um Conselho de Administração,
sição ou locação de máquinas para uso comum, Paulo. Esses consórcios podem ir além das composto pelos prefeitos dos municípios inte-
contratação de projetos arquitetônicos padroni- questões hídricas num sentido estrito e assumir grantes. É interessante, também, incorporar re-
zados ou mutirões de manutenção de estradas um papel de interlocutores frente aos governos presentantes dos legislativos municipais e enti-
vicinais, como na experiência dos municípios estadual e federal em questões ambientais mais dades da sociedade civil.
do Recôncavo Baiano. Este é um item em que os amplas como saneamento básico, lixo e enchen- Dependendo dos estatutos do conselho, as de-
consórcios intermunicipais revelam um desem- tes. É o exemplo do Consórcio Intermunici- cisões podem ser tomadas por maioria sim-
penho muito bom, por conta do próprio caráter pal das Bacias do Alto Tamanduateí e Re- ples, maioria absoluta, maioria qualificada ou
circunstancial: são ações com objetivos e etapas presa Billings, integrado pelos sete municípi- unanimidade. Em algumas situações, um dos
perfeitamente definidos, facilitando o estabele- os da região do ABC, em São Paulo, que assu- municípios pode ter poder de veto sobre as
cimento de responsabilidades de cada parceiro. miu, também, atividades no campo da promo- decisões, especialmente quando houver um mu-
d) Atividades-meio: Outra forma de tirar mais ção do desenvolvimento regional. nicípio de porte muito maior que os demais (o
proveito dos recursos por intermédio de consórci- f) Desenvolvimento econômico regional: Há centro de uma região metropolitana, por exem-
os intermunicipais é a realização de atividades-meio uma grande possibilidade de atuação dos con- plo), ou, por algum motivo, ocupar um papel
das prefeituras. É o caso da informática, que dá sórcios no campo da promoção do desenvolvi- central nas atividades realizadas pelo consór-
espaço para o uso comum de equipamentos (em mento regional. Podem assumir funções de in- cio (é o caso dos municípios que cedem áreas
caso de aplicações que requeiram maior capacida- centivo a atividades econômicas (atração de in- para a disposição final de resíduos sólidos de
de de processamento, o que pode ocorrer para vestimentos, apoio à produção agrícola) e funci- outros municípios).
municípios de maior porte) e para o desenvolvi- onar como agentes de controle e prevenção da Os consórcios, em geral, são presididos por um
mento de sistemas informatizados que possam aten- “guerra fiscal” entre municípios. No campo do dos prefeitos dos municípios que dele fazem
der a mais de um município, como, por exemplo, turismo as ações de consórcios têm sido pouco parte, adotando-se um sistema de rodízio, mu-
programas para gestão das redes de educação e utilizadas, apesar da boa possibilidade de em- dando a cada um ou dois anos.
saúde (veja DICAS no 42). Também é possível prego desse instrumento para divulgar o poten- A gestão operacional do consórcio, em gran-
estabelecer consórcios para realizar atividades de cial turístico regional e também preparar os mu- de parte dos casos, exige uma estrutura pró-
treinamento e capacitação de funcionários públi- nicípios para sua exploração racional. Pode-se pria. Há duas formas de supri-la: criando um
cos municipais, permitindo criar programas per- considerar também a hipótese de empreender quadro de pessoal próprio ou utilizando ser-
manentes de capacitação de pessoal (veja DICAS programas de capacitação e reciclagem profissi- vidores cedidos pelas prefeituras integran-
no 12) de menor custo por servidor beneficiado. onal da mão-de-obra local. tes, atuando à disposição do consórcio em
e) Meio Ambiente: Muitos consórcios têm sur- tempo integral ou parcial. Na medida do pos-
gido a partir de projetos de recuperação ou pre- sível, é conveniente dispor de uma equipe
servação do meio ambiente, sobretudo em bus-
ca de soluções para problemas em torno do ma-
GESTÃO técnica própria e de caráter permanente, per-
mitindo que se forme uma “inteligência” do
nejo de recursos hídricos de uma bacia hidro- consórcio, com conhecimento aprofundado
gráfica, como no caso do Consórcio Intermu- Normalmente, o principal agente de gestão dos da problemática regional.

RESULTADOS
Do ponto de vista da ação como investimento no con- que não seriam possíveis a de um consórcio intermuni-
dos governos municipais sórcio e o custeio de sua uti- nenhuma prefeitura isola- cipal pode criar melhores
envolvidos, a criação de lização são menores do que damente, ou mesmo à soma condições de negociação
consórcios intermunicipais a soma dos recursos que se- dos esforços individuais de dos municípios junto aos
pode produzir resultados riam necessários a cada um cada uma delas. É o caso da governos estadual e federal,
positivos de cinco tipos: dos municípios para produ- aquisição de equipamentos ou junto a entidades da so-
a) Aumento da capacidade zir os mesmos resultados. de alto custo, o desenho de ciedade, empresas ou agên-
de realização: os governos c) Realização de ações ina- políticas públicas de âmbi- cias estatais. Com isso, vê-
municipais podem ampliar cessíveis a uma única pre- to regional (como no caso se fortalecida a autonomia
o atendimento aos cidadãos feitura: a articulação de das políticas de desenvol- municipal.
e o alcance das políticas pú- esforços em um consórcio vimento econômico local). e) Aumento da publicidade
blicas por conta da dispo- intermunicipal pode criar d) Aumento do poder de diá- das decisões públicas:
nibilidade maior de recur- condições para que seja logo, pressão e negociação como as decisões tomadas
sos e do apoio dos demais possível atingir resultados dos municípios: a articulação pelos consórcios são de
municípios. âmbito regional e envolvem
b) Maior eficiência do uso dos vários atores, naturalmen-
recursos públicos: é o caso Receba o boletim DICAS te elas se tornam mais visí-
veis, pois exigem um pro-
dos consórcios cuja função
central é o compartilhamen- pela Internet: mais fácil e cesso de discussão mais
to de recursos escassos, des- aprofundado em cada mu-
de máquinas de terraplana-
mais econômico. nicípio e em termos regio-
gem a unidades de saúde ou Entre em contato conosco. nais. Com isso, abre-se es-
unidades de disposição final paço para uma maior fisca-
de resíduos sólidos. O volu- lização da sociedade sobre
me de recursos aplicados Autor: José Carlos Vaz - Auxiliar de Pesquisa: Emiliano a ação dos governos.
Caccia-Bava - Revisão: Veronika Paulics
DISC DICAS: (011) 822-9076, Rua Joaquim Floriano, 462
CEP 04534-002 - São Paulo - SP - e-mail: polis@ax.apc.org

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