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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

CASSIA MARTINELLI RODRIGUES

EPI NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CAUSAS DA RESISTÊNCIA AO USO

Florianópolis
2017
CASSIA MARTINELLI RODRIGUES

EPI NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CAUSAS DA RESISTÊNCIA AO USO

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Engenharia de Segurança
do Trabalho da Universidade do Sul de Santa
Catarina como requisito parcial à obtenção do
título de Especialista em Engenharia de
Segurança do Trabalho.

Orientador: Prof. Ms. José Humberto Dias de Tôledo

Florianópolis
2017
CASSIA MARTINELLI RODRIGUES

EPI NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CAUSAS DA RESISTÊNCIA AO USO

Esta Monografia foi julgada adequada à


obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho e
aprovada em sua forma final pelo Curso de
Especialização em Engenharia de Segurança
do Trabalho da Universidade do Sul de Santa
Catarina.

Florianópolis, 02 de junho de 2017.

______________________________________________________
Professor e orientador José Humberto Dias de Tôledo, Ms
Universidade do Sul de Santa Catarina
Às pessoas que conheci ao longo desses anos,
que compartilharam experiências, trabalhos e
conhecimentos, oportunizando laços de
amizade e crescimento profissional.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente àqueles que incentivaram a volta aos estudos.


Àqueles que contribuíram dividindo histórias e promovendo conversas.
Àqueles que se mostraram além de colegas de turma, parceiros de trabalho.
Enfim, o meu muito obrigada àqueles que direta ou indiretamente fizeram parte
desta formação.
“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso
muito para ser muito.” (Lina Bo Bardi).
RESUMO

Este trabalho tem como finalidade identificar as causas pelas quais os trabalhadores da
construção civil deixam de utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) durante a
realização de suas atividades. A partir disto, propor ações a serem adotadas pelas empresas
com objetivo de minimizar a possibilidade de acidentes durante o trabalho. Para atingir estes
objetivos, foi realizada pesquisa bibliográfica com a literatura disponível sobre o tema e uma
pesquisa de campo para obter relatos dos trabalhadores a partir de uma entrevista.
Identificamos que os programas de gestão de segurança não são eficientes no setor da
construção civil, seja por questões socioculturais dos trabalhadores, seja por falta de
programas internos promovidos pelas empresas, tais como: programas internos ativos,
treinamentos sobre a importância e conscientização do uso de EPI.

Palavras-chave: Equipamento de proteção individual (EPI). Construção civil. Segurança.


ABSTRACT

This paper aims to identify the causes by which construction workers sometimes don’t use
personal protective equipment (PPE) during the performance of their activities. From this,
propose actions to be adopted by companies with the purpose of minimizing the possibility of
accidents during work. In order to reach these objectives, a bibliographical research was
carried out with the available literature on the subject and a field research to obtain workers'
reports from an interview. We have identified that safety management programs are not
efficient in the construction sector, either because of the socio-cultural issues of the workers,
or because of the lack of internal programs promoted by companies, such as: active internal
programs, training on the importance and awareness of the use of PPE.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Capacete para proteção contra impactos ................................................................. 37

Figura 2 – Óculos para proteção dos olhos .............................................................................. 37

Figura 3 – Protetor auricular tipo circum-auricular ........................................................... 38

Figura 4 – Luvas de proteção. .................................................................................................. 39

Figura 5 – Botas para proteção dos membros inferiores ......................................................... 40


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Faixa etária dos entrevistados................................................................................43


Gráfico 2 – Faixa etária x Tempo de profissão ........................................................................ 44
Gráfico 3 – Tipos de equipamentos fornecidos ........................................................................ 45
Gráfico 4 – Uso do equipamento durante o trabalho ................................................................ 46
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CA Certificado de Aprovação
CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
com a Saúde
CLT Consolidação das Leis de Trabalho
COM Comitê Permanente Nacional
CPR Comitês Permanentes Regionais
EPC Equipamento de Proteção Coletiva
EPI Equipamento de Proteção Individual
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
MPS Ministério da Previdência Social
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NR Normas Regulamentadoras
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial de Saúde
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção Civil
PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
RTP Regulamentos Técnicos de Procedimentos
SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
SIMETRO Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
SST Segurança e Saúde do Trabalho
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 12
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................................... 12
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 12
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 14
1.3.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 14
1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................ 14
1.5 ESTRUTURA .................................................................................................................. 16
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 17
2.1 ASPECTOS LEGAIS SOBRE SEGURANÇA DO TRABALHO ................................. 17
2.2 ACIDENTES DE TRABALHO ...................................................................................... 19
2.3 CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................................................................... 21
2.3.1 HISTÓRICO ................................................................................................................ 21
2.3.2 PERFIL DOS TRABALHADORES.......................................................................... 22
2.3.3 SEGURANÇA DO TRABALHO NO SETOR ......................................................... 23
2.3.4 RISCOS E ACIDENTES DE TRABALHO ............................................................. 25
2.3.5 NORMAS REGULAMENTADORAS ...................................................................... 27
2.4 EPI (EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL) .............................................. 34
2.4.1 CONCEITO E LEGISLAÇÃO .................................................................................. 34
2.4.2 IMPORTÂNCIA ......................................................................................................... 35
2.4.3 EQUIPAMENTOS ...................................................................................................... 36
2.4.4 CERTIFICADO DE APROVAÇÃO DOS EPI ........................................................ 40
3 RESULTADOS E ANÁLISES......................................................................................... 42
3.1 CAMPO DE PESQUISA ................................................................................................. 42
3.2 RESULTADOS................................................................................................................ 43
3.3 ANÁLISES ...................................................................................................................... 47
3.4 RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................... 50
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 54
ANEXOS ................................................................................................................................. 57
ANEXO A – QUESTIONÁRIO APLICADO ...................................................................... 58
12

1 INTRODUÇÃO

De acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social – Ano 2015 (Anuário


Brasileiro de Proteção, 2016) a construção civil continua como um dos setores que mais
registram acidentes de trabalho seja com ou sem a abertura da Comunicação de Acidente de
Trabalho (CAT).
O principal fator de diferenciação entre a construção civil para as demais
indústrias concentra-se no fato de que a construção é totalmente dependente da mão-de-obra
utilizada. Em que pese tal fato devesse contribuir para uma melhor gestão da segurança nas
atividades, o cenário prático mostra um alto número de acidentes.
Não obstante, o equipamento de proteção individual (EPI) encontra resistência por
falta de conhecimento dos empregados ou por falta de conhecimento das normas e legislações
sobre o assunto. De maneira geral, os EPI’s são fornecidos, na maioria das vezes, sem
qualquer critério de escolha, apenas para o cumprimento básico da legislação, causando
muitas vezes desconforto nos trabalhadores. Não há qualquer preocupação om a qualidade e
desempenho dos equipamentos. (PELLOSO; ZANDONADI, 2012)
A pesquisa tem por objetivo identificar quais são os principais motivos que levam
os trabalhadores da construção civil a deixarem de usar os EPI’s durante a execução de suas
atividades, bem como analisar os equipamentos de segurança em relação ao trabalhador e as
medidas que podem ser adotadas para melhor desempenho do equipamento e trabalhador
como um todo.
A partir disto, busca-se identificar quais são os equipamentos disponibilizados aos
trabalhadores da área e como deve ser tratado o assunto entre os trabalhadores e empresa.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Quais os motivos que levam à resistência ao uso de EPI – Equipamentos de


Proteção Individual pelos trabalhadores na Construção Civil?

1.2 JUSTIFICATIVA

O setor da construção civil se caracteriza por ser uma atividade crescente, com
inovações tecnológicas e desenvolvimento de novos métodos construtivos, a fim de facilitar e
13

tornar a construção cada vez mais rápida e fácil de executar. Com obras cada vez mais
complexas há sempre estudos e treinamentos de funcionários, com propósito de minimizar o
desperdício de material e mão-de-obra, fator importante para a empresa e principalmente para
o meio ambiente, mas isso não é suficiente para o funcionário, que por muitas vezes se
envolve em acidentes por falta de equipamentos de proteção individual, treinamento e
informação.
Sabe-se que a condição de saúde e segurança do trabalhador, hoje é um fator
preponderante no contexto social, por isso a escolha deste tema deve-se a importância da
identificação dos motivos do não uso do EPI fornecido no setor da construção civil.
Os EPIs permitem aos trabalhadores exercerem suas atividades de forma segura,
zelando pela integridade física e protegendo contra acidentes no trabalho.
Sabe-se que os acidentes de trabalho são os maiores desafios para a saúde do
trabalhador, atualmente e no futuro e ocorrem não por falta de legislação, mas devido ao não
cumprimento das normas de segurança, as quais visam proteção da integridade física do
trabalhador no desempenho de suas atividades, como também o controle de perdas.
A partir do conhecimento destes fatores, ações poderão ser tomadas para
minimizar as possibilidades de acidentes durante o trabalho.
No entanto, este estudo partiu da hipótese de que ainda é grande o número de
trabalhadores da construção civil que resistem ao uso dos EPI. Daí a grande necessidade de se
investigar o tema para conhecer o grau de urgência das organizações dessa área em aplicarem
recursos, investirem em treinamento, equipamentos e métodos de trabalho para incutir em seu
pessoal o espírito prevencionista, a fim de combaterem em seu meio o acidente de trabalho
que, conforme tem sido demonstrado, atinge forte e danosamente a qualidade, a produção e os
custos.
Portanto, o estudo pode fornecer dados relevantes para que as organizações da
área da construção civil possam atuar na melhoria da utilização de equipamentos de proteção
individual dos trabalhadores.
14

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Este trabalho busca identificar quais são os principais motivos que levam os
trabalhadores da construção civil a deixarem de usar os EPI’s durante a execução de suas
atividades, quando fornecidos pelos empregadores.

1.3.2 Objetivos Específicos

Este trabalho tem os seguintes objetivos específicos:


a) investigar diretamente com operários da construção civil através de visitas a
campo e aplicação de questionário e entrevista, buscando assim conhecer a
rotina e o contato dos trabalhadores com relação aos equipamentos de
segurança;
b) averiguar com os operários existência de programas de treinamento e
fiscalização nos locais de trabalho, visando conscientização e melhores
condições de segurança;
c) ouvir diretamente dos operários o que eles pensam sobre os equipamentos de
proteção individual, como eles colaboram para sua própria segurança e quais
os motivos que os fazem resistir ao uso desses equipamentos;
d) promover recomendações as empresas da construção civil a partir dos
resultados obtidos através desta pesquisa.

1.4 METODOLOGIA

É essencial para um trabalho acadêmico descrever os métodos utilizados para


atingir os objetivos propostos. Marconi e Lakatos (1992) elencam vários conceitos sobre
método, adotando como consenso que este é um conjunto das atividades sistemáticas e
racionais que buscam alcançar objetivos, na construção do conhecimento, identificando erros
e auxiliando cientistas.
De acordo com Almeida (2011) esta pesquisa caracteriza-se como pesquisa
científica aplicada, por fazer uso de dados que já foram anteriormente sistematizados com
intuito de solucionar problemas organizacionais.
15

Ainda segundo o autor, pode-se enquadrar o trabalho como descritivo com etapas
quantitativas, mas predominantemente qualitativo.
A pesquisa descritiva tem como principal objetivo descrever determinadas
características de um fenômeno ou população. Dentre suas características, destaca-se o uso de
técnicas padronizadas para coleta de dados (GIL, 1999).
Vieira (2002) complementa que embora a pesquisa descritiva não tenha o
compromisso de explicar os fenômenos que descreve, ela serve como base para tal explicação,
pois procura descrevê-los, classificá-los e interpretá-los.
Um estudo qualitativo segundo Richardson (1999, p.80) “pode descrever a
complexidade de determinado problema, analisar a interação entre certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”.
Já um estudo quantitativo tem a intenção de identificar alguns aspectos na
população através de inferências estatísticas retiradas geralmente de amostras, visto que
estudos de toda uma população geralmente são inviáveis (CAMPOMAR, 1991).
Importante destacar que as duas abordagens não são excludentes, e sim
complementares. As diferentes abordagens resultam em um trabalho mais robusto. Cada um
dos métodos possui características próprias e adequadas para cada situação
Do ponto de vista dos seus objetivos a pesquisa se classifica como descritiva, uma
vez que objetiva descrever as características de certa população, estabelecer relações e
envolve técnicas de coleta de dados padronizadas (questionário, observação) e busque uma
resposta ao problema abordado. Vergara (1998, p. 45) define pesquisa descritiva como:

A pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de


determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e
definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve,
embora sirva de base para tal explicação.

Em relação aos procedimentos técnicos para coleta de dados, utilizaram-se


referências bibliográficas, documentais e questionários aplicados na pesquisa de campo. Em
uma primeira etapa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico do
estudo proposto. A pesquisa bibliográfica tem como característica ser um estudo desenvolvido
com base em material publicado em livros, revistas, jornais e dissertações. Foi realizada
também uma pesquisa documental, que, segundo Gil (2010), apresenta muitos pontos de
semelhança com a pesquisa bibliográfica, sendo a principal diferença, a natureza das fontes. A
pesquisa documental se vale de documentos elaborados com diversas finalidades, e a pesquisa
bibliográfica utiliza materiais elaborados para serem lidos por um grupo específico. A
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pesquisa de campo foi outro procedimento usado na pesquisa após o estudo teórico. Segundo
Vergara (2005), uma pesquisa de campo é uma investigação empírica realizada por meio de
entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante, ou não, no local onde
ocorre, ou ocorreu um fenômeno.

1.5 ESTRUTURA

O presente estudo se divide em quatro capítulos. Começando pela introdução,


expondo o problema que será objeto do estudo (motivos que levam à resistência ao uso de
EPI) e a metodologia da pesquisa.
Em seguida é feito uma pesquisa bibliográfica em veículos especializados
disponíveis, onde é estudado o tema e as principais normas relacionadas, caracterizando o
referencial teórico da pesquisa; subdividido em dois subitens: primeiro abordando de forma
geral os aspectos legais sobre segurança do trabalho, acidentes do trabalho e EPI e depois de
forma mais específica relacionando com a construção civil.
Na terceira parte são apresentados os resultados das entrevistas e do questionário
aplicado.
E para finalizar, são feitas as considerações finais concluindo que não há como
simplesmente obrigar os trabalhadores a utilizarem os equipamentos de proteção individual, e
sim que é necessária uma conscientização sobre a importância do uso e as consequências do
não uso, vencendo questões socioculturais e melhorando os sistemas de gestão de pessoas.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ASPECTOS LEGAIS SOBRE SEGURANÇA DO TRABALHO

Usualmente, os estudos a respeito de segurança do trabalho datam da civilização


greco-romana, tendo doenças relacionadas ao trabalho identificadas por Hipócrates na Grécia
há cerca de seis séculos.
Importante destacar a obra de Bernardino Ramazzini, em 1700, que teve
repercussão mundial devido a sua importância, descrevendo as enfermidades de cinquenta
diferentes profissões. Todavia, é a partir da Revolução Industrial que passa a se relacionar as
doenças profissionais com base na ocupação dos empregados.
Bittencourt e Quelhas (1998) explicam que durante esta época as tarefas
realizadas pelos trabalhadores eram repetitivas, resultando num alto número de acidentes.
Além disto, grande parte da mão-de-obra utilizada era composta por mulheres ou crianças,
selecionadas sem qualquer tipo de avaliação criteriosa quanto a aptidão ao cargo ocupado,
resultando em doenças e até mortes dos trabalhadores.
Destaca-se também que os ambientes de trabalho não eram nada saudáveis, pois
havia ruídos por máquinas precárias, temperaturas altas devido à falta de ventilação,
iluminação deficiente. Ademais, não havia qualquer limite de carga horária.
(BITTENCOURT E QUELHAS, 1998).
Quando necessário o afastamento do operário esse não recebia salário e não havia
leis que o amparassem. Em geral, os empregadores não tinham interesse na existência dessas
leis, nem consciência de seus deveres. Nesse contexto surgiram as primeiras leis destinadas à
proteçãoao trabalho na Inglaterra, França, Alemanha e Itália (OLIVEIRA, 2009 apud
MARTINS et al, 2013).
Em 1831, a partir da instalação de uma comissão para análise da situação dos
trabalhadores, criou-se a primeira legislação do trabalho, resultado do impacto do relatório
gerado. A referida Lei foi chamada de “Factory Act”, aplicada sobretudo na indústria têxtil.
Dentre as principais disposições destaca-se: restrição a 12 horas diárias e 96 horas
semanais; escolas nas fábricas para crianças menores de 13 anos; presença de médico nas
fábricas. (BITTENCOURT E QUELHAS, 1998).
Já na América Latina, só passou haver preocupação com o tema a partir da
industrialização no século XX. Em 1950 através de Comissão conjunta, a O.I.T. (Organização
Internacional do Trabalho) e a OMS (Organização Mundial da Saúde), estabeleceu-se os
18

objetivos da saúde ocupacional. Logo após, em 1954, a partir de estudos e pesquisas de


peritos da Ásia, América e Europa recomendou que medidas relacionadas à saúde do
trabalhador deveriam estabelecer princípios básicos. Tais medidas foram definidas pela OIT
conceituando o serviço de saúde como um serviço médico instalado em um estabelecimento
de trabalho, ou em suas proximidades, que tem como objetivos: proteger os Trabalhadores
contra qualquer risco à sua saúde, que possa decorrer do seu trabalho ou das condições em
que este é realizado; contribuir para o ajustamento físico e mental do trabalhador, obtido
especialmente pela adaptação do trabalho aos trabalhadores, e pela colocação do trabalho aos
trabalhadores, e pela colocação destes em atividades profissionais; e contribuir para o
estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e mental dos
trabalhadores. (BITTENCOURT E QUELHAS, 1998).
O Brasil aderiu a OIT desde sua fundação. A Constituição de 1934 foi a primeira
a tratar do direito do trabalho, assegurando salário mínimo, jornadas de oito horas, repouso
semanal, etc.
Em 1943, o Decreto-lei no 5.452, de 01 de maio, regulamentou o capítulo V do
Título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que trata da segurança e medicina do
trabalho (REIS, 2010 apud MARTINS et al, 2013).
Em 1972, o Governo Brasileiro baixou a Portaria no 3.237 que regulamentava as
exigências já previstas na CLT, dentre elas a criação dos serviços médicos e de higiene e
segurança em empresas com mais de cem trabalhadores. Atualmente, tendo em vista a
evolução dos estudos pertinentes a Segurança e Saúde do Trabalho (SST), a legislação passa a
considerar não somente o número de empregados na empresa, mas principalmente o grau de
risco inerente a atividade (ALVES, 2003 apud MARTINS et al, 2013).
Bittencourt e Quelhas (1998) citam a criação da Portaria 3.214, em 1978, que
aprovou as Normas Regulamentadoras (NR) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho,
destacando as atualizações que as mesmas vêm sofrendo ao longo dos anos, descrevendo
procedimentos a serem tomados inclusive sobre doenças consideradas modernas, como por
exemplo, a LER (lesões por esforço repetitivo).
Finalmente, contextualizando a importância da segurança e medicina do trabalho
nos dias atuais, destaca-se a regulamentação do eSocial (Decreto nº 8.373/2014), obrigação
acessória que é “o instrumento de unificação da prestação das informações referentes à
escrituração das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas e tem por finalidade
padronizar sua transmissão, validação, armazenamento e distribuição” (art. 2º). Desta forma,
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os órgãos competentes passarão a receber informações relacionadas à segurança e medicina


do trabalho de maneira mais ágil, tornando o processo de fiscalização mais efetivo.

2.2 ACIDENTES DE TRABALHO

A definição legal de acidente de trabalho é definida pela Lei nº 6.367/1976, que


em seu artigo 2º define acidente do trabalho como aquele que ocorrer pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte, ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho
(BRASIL, 1976).
Ademais, a o parágrafo 1º da referida Lei enumera algumas situações que se
equiparam ao acidente do trabalho, vejamos:

§ 1º Equiparam-se ao acidente do trabalho, para os fins desta lei:


I - a doença profissional ou do trabalho, assim entendida a inerente ou peculiar a
determinado ramo de atividade e constante de relação organizada pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS);
II - o acidente que, ligado ao trabalho, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte, ou a perda, ou redução da capacidade para o
trabalho;
III - o acidente sofrido pelo empregado no local e no horário do trabalho, em
conseqüência de:
a) ato de sabotagem ou de terrorismo praticado por terceiros, inclusive companheiro
de trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada
com o trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro inclusive
companheiro de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação ou incêndio;
f) outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior.
IV - a doença proveniente de contaminação acidental de pessoal de área médica, no
exercício de sua atividade;
V - o acidente sofrido pelo empregado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, seja qual for o meio de locomoção utilizado,
inclusive veículo de propriedade do empregado;
d) no percurso da residência para o trabalho ou deste para aquela (BRASI,. 1976).

Finalmente, a legislação ainda define algumas situações atípicas sobre o tema,


como por exemplo, quais os períodos que são considerados como a serviço da empresa ou
qual é considerado o dia do acidente:
20

§ 2º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de


outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado
será considerado a serviço da empresa.
§ 3º Em casos excepcionais, constatando que doença não incluída na relação prevista
no item I do § 1º resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e
com ele se relaciona diretamente, o Ministério da Previdência e Assistência Social
deverá considerá-la como acidente do trabalho.
§ 4º Não poderão ser consideradas, para os fins do disposto no § 3º, a doença
degenerativa, a inerente a grupo etário e a que não acarreta incapacidade para o
trabalho.
§ 5º Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do
trabalho, a data da comunicação desta à empresa ou, na sua falta, a da entrada do
pedido de benefício do INPS, a partir de quando serão devidas as prestações
cabíveis. (BRASIL. 1976).

Conforme visto, a legislação citada não é exaustiva, com certa limitação do


conceito de acidente de trabalho. Em razão disto, buscam-se outras referências para clarificar
o tema.
Para Costa (2009, p. 81) o acidente de trabalho é “um ataque inesperado ao corpo
humano ocorrido durante o trabalho, decorrente de uma ação traumática violenta, subitânea,
concentrada e de consequências identificadas”. O principal meio de diferenciação para uma
doença profissional é a possibilidade de identificação do momento exato em que ocorreu a
lesão. Ainda, complementa o autor que o acidente de trabalho é uma afronta sofrida durante o
seu horário e local de trabalho, incluindo-se o trajeto.
Por fim, pode-se caracterizar o acidente de trabalho como o resultado de perícia
médica apresentado pelo INSS em que constará o nexo com o trabalho e o agravo. Considera-
se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico
epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da
incapacidade, elencada na CID (CALLERI, 2007).
Vilela, Mendes e Gonçalves (2007) citam diferentes concepções acerca dos
fatores causais do acidente de trabalho. A primeira delas é considerada tradicional e mais
comum no Brasil, tendo como principal característica atribuir erro humano ao acidente,
buscando mecanismos de evita-lo. É considerada tradicional por ter sido trazida na teoria de
Heinrich, data da década de 50. Consequência desta teoria é tornar-se útil em processos para
descaracterização da responsabilidade civil.
Contrapondo a teoria tradicional, existe o modelo de análise de acidentes de
Reason, buscando aspectos da organização (história, decisões, mudanças) que possam ter
deixado latente o risco de acidente. Neste modelo, o erro ativo pode combinar-se com
diversos fatores existentes, sendo que este encontro resulta na liberação de energia que
ultrapasse as falhas nas barreiras de proteção do sistema. O acidente, portanto, seria
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decorrente do encontro de diversos fatores capazes de desencadeá-lo. Nessa abordagem, a


ausência de barreiras de proteção é considerada “a priori” um fator de acidente e é enfatizada
a necessidade de que existam múltiplas barreiras de proteção do sistema (VILELA, MENDES
e GONÇALVES, 2007).
Diante dos fatos conclui-se que o acidente de trabalho normalmente ocorre de
algum evento anormal ocorrido durante o trabalho, podendo ser causado por imprudência do
empregado ou por fatores ambientais, tendo como consequências graves a saúde do
trabalhador.

2.3 CONSTRUÇÃO CIVIL

A indústria da Construção Civil é uma atividade econômica que envolve


tradicionais estruturas sociais, culturais e políticas. É nacionalmente caracterizada por
apresentar um elevado índice de acidentes de trabalho, e está em segundo lugar na frequência
de acidentes registrados em todo o país. Esse perfil pode ser traduzido como gerador de
inúmeras perdas de recursos humanos e financeiros no setor (MEDEIROS e RODRIGUES,
2010).
Silva e Mendonça (2012) retrata com o setor com bases nos estudos divulgados
sobre o setor:
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), conforme dados divulgados em estudo sobre o setor
(DIEESE, 2011) a construção civil acompanhou as estatísticas nacionais e obteve
em 2010 a segunda maior taxa de crescimento entre os setores da indústria e o
melhor desempenho dos últimos 24 anos, que foi de 11,6%. Dados publicados no
Panorama em SST da Indústria 2009 (SESI, 2011) mostraram que a indústria
brasileira empregou mais de 9,5 milhões de indivíduos e o segmento que obteve
maior percentual de trabalhadores empregados foi o da construção. A indústria da
construção cresceu acentuadamente nos últimos anos em relação ao número de
postos de trabalho. Dados sobre informações sociais (MTE, 2011), divulgados pelo
MTE, a indústria da construção teve um acréscimo de 15,01% no número de
profissionais formalmente empregados entre os anos de 2009 e 2010. Já em relação
à remuneração média dos empregados no setor constatou-se um crescimento de
18,1% entre os anos de 2008 e 2009 em Alagoas. Pode-se considerar que esse
percentual está diretamente relacionado ao aumento do número de obras implantadas
pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mantido pelo governo federal.

2.3.1 Histórico

A construção civil representa, para o Brasil, um dos setores empresariais com


maior absorção de mão de obra, além de ser um dos maiores poderes econômicos, com alta
geração de oportunidade de emprego. É um segmento caracterizado pela precariedade na
22

qualificação da mão de obra e pela não continuidade do processo industrial, pois há


mobilização e desmobilização das equipes a cada obra executada. Esta situação vivida pelo
setor pode resultar no comprometimento da integridade física do trabalhador e acidentes,
sendo estes grandes desafios encontrados na construção civil (SILVA e BEMFICA, 2015).
Acidentes com homens em seu meio de trabalho sempre ocorreram, devido a
condições e atos inseguros. Desde a pré-história o homem em sua vida diária estava
constantemente exposto a perigos que constituíam parte de sua luta pela existência
(MOTERLE, 2014).
No Brasil Colonial, os escravos trabalhavam até 18 horas por dia, estando os
proprietários no direito de aplicar castigos para garantir uma melhor produtividade e
submissão ao trabalho. Esta situação tornava a mão de obra escrava quase que descartável, já
que, em 1730, a vida útil de um escravo jovem era de apenas 12 anos. A partir do século XIX,
com as limitações impostas ao tráfico de escravos, os proprietários esboçaram alguma
preocupação com a saúde dos escravos, tentando garantir um tempo maior de espoliação da
força de trabalho de suas “propriedades” (OLIVEIRA, 2012).
Com a Revolução Industrial, máquinas foram inventadas e melhoradas para
acompanhar a industrialização que se expandia, trazendo consigo novos riscos. Desta forma,
leis trabalhistas, bem como estudos na área de segurança ao trabalhador, vêm passando por
constantes evoluções, visto que a proteção ao trabalhador tem gerado grandes preocupações
nos países industrializados (MOTERLE, 2014).
A construção civil é um dos ramos mais antigos do mundo, trazendo consigo
inúmeros riscos de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Desta forma, tem ganhado
uma importância especial pela legislação, para a segurança do trabalhador desta área
(MOTERLE, 2014).

2.3.2 Perfil dos Trabalhadores

A mão-de-obra na construção civil é composta quase exclusivamente de


trabalhadores do sexo masculino, que totalizam 92,54% do contingente empregado no setor.
As mulheres são os 7,46% restantes. O percentual de mulheres vem aumentando nos últimos
anos e está sendo alocado nas funções administrativas e de maior qualificação. Elas, por sua
vez possuem nível de instrução mais elevado do que os homens empregados no setor. A maior
concentração dos trabalhadores está nas faixas etárias de 30 a 39 anos (30,21% do total) e de
23

40 a 49 anos (22,04%). De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), mais


de 33% dos trabalhadores registrados na construção civil são analfabetos funcionais e, em
geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou nenhuma especialização. Os dados
brasileiros da RAIS 2001 (Relação Anual de Informações Sociais) elaborada pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE) confirmam o nível baixo, embora se observe uma sensível
melhora nos últimos anos. Em 2001, 38% haviam cursado apenas o 4o ano do estudo
primário, seja a 4a série incompleta (16,87%) ou a 4a série completa (20,91%). Mas esse
percentual era de 64,18% em 1988. O número de analfabetos no setor também foi reduzido
pela metade na última década, saindo de um percentual de 5,3% em 1988 para 2,44% em
2001 (TERRA, 2017).
O número de trabalhadores nas faixas de escolaridade mais elevadas também vem
aumentando. Em 2001, para todo o Brasil, 18,99% da mão-de-obra empregada no setor tinha
a 8a série incompleta; outros 17,73% a 8a série completa e 12,22% tinham o 2o grau
completo. Esses percentuais em 2000 eram de 18,54%, 16,89% e 11,36%, respectivamente. O
Sul é a região onde prevalecem os melhores índices de escolaridade. A região apresenta o
menor número de trabalhadores analfabetos (1,80%) e o maior percentual de trabalhadores
com a 8a série primária (46,54% - seja incompleta ou completa). Na região Nordeste o índice
de analfabetismo na construção chega a 4,16% do total dos trabalhadores e ainda 60,12%
destes cursaram somente entre a 4a série incompleta e a 8a completa (TERRA, 2017).
Segundo Silva (1993), é sabido que dentro do setor da construção civil, há uma
grande necessidade de qualificação da mão de obra. A não qualificação dos operários acarreta
em dificuldades na modernização do setor, pois gera desperdícios, proporciona baixa
produtividade e contribui par a má qualidade da obra. Além disso, os acidentes do trabalho
também estão intimamente ligados com a falta de formação técnica e profissional dos
trabalhadores. A construção civil, conforme Medeiros e Rodrigues (2009), é um ramo em que
se exige uma grande atenção quando o assunto envolve segurança, gestão com qualidade e
respeito ao meio ambiente.

2.3.3 Segurança do Trabalho no Setor

Conforme já demonstrado, a construção civil é uma indústria que apresenta um


alto número de acidentes, muitos deles fatais. Neste sentido, Filgueiras et al (2015) observam
que:
24

O cenário de riscos e acidentalidade verificados no conjunto da economia brasileira


parece ser ainda pior na construção civil. Segundo os indicadores oficiais
disponíveis, a construção civil é a atividade econômica que mais mata trabalhadores
no Brasil. Considerando apenas os empregados formalmente vinculados aos CNAE
(Classificação Nacional de Atividade Econômica) que integram a Construção (Setor
F) e os dados dos últimos Anuários Estatísticos de Acidentes de Trabalho (AEAT,
2010, 2011, 2012, 2013) do INSS, morrem mais de 450 trabalhadores no setor, a
cada ano, no país.

Uma das causas destes números deve-se a pouca importância dada pelas
construtoras e empreiteiras, pois estas acreditam que o custo de treinamento e implementação
de medidas de segurança é custosa e improdutiva, tendo em vista a alta rotatividade de
empregados no setor. Neste sentido, o entendimento é de que o comprometimento dos
empregados é apenas com o salário, diferenciando, nestes casos, com outras indústrias. Esta
visão é compartilhada por De Cicco (1982, apud RAMOS, 2009), que classifica os
empregados da construção civil como nômades, em razão da facilidade de encontrar outra
colocação no mercado facilmente.
Para diminuir esses acidentes é necessário realizar um trabalho de educação junto
ao colaborador quanto à segurança do trabalho. Também devem ser considerados os fatores
de ordem social, como os baixos salários, que levam os funcionários a alimentar-se mal,
facilitando o contágio das doenças ocupacionais. Muitas vezes o transporte coletivo é
inadequado, ou até mesmo a distância do local de trabalho faz com que o funcionário tenha
que acordar muito cedo (RAMOS, 2009).
A Segurança do Trabalho no setor da construção civil surgiu como uma reação ao
grande número de acidentes ocorridos durante a atividade laborativa e, inclusive, devido à
realidade econômica vigente entre os anos 1964 e 1985, que não privilegiava o social. Foi um
período em que a construção civil estava em alta expansão (SILVA e BEMFICA, 2015).
A partir de então, com a introdução da segurança do trabalho no ramo da
construção civil, Diniz (2002, apud Silva e Bemfica, 2015) observa que a questão começou a
ser considerada como um fator de referência qualitativa no que ser refere às empresas, que
cuidam e zelam pela qualidade das construções que realizam.
Segundo Diniz (2002, apud Silva e Bemfica, 2015), todos os envolvidos na área
da construção civil precisam promover e aplicar programas de Engenharia de Segurança no
Trabalho como ferramentas obrigatórias para reduzir os acidentes de trabalho, fazendo com
que os operários se sintam mais seguros. Dentre tais ferramentas tem-se a CIPA, PPRA, uso
de EPI, EPC, etc.
25

2.3.4 Riscos e Acidentes de Trabalho

Na Indústria da Construção ocorre alta incidência de acidentes de trabalho e


particularmente dos acidentes graves e fatais. No Brasil, mantém elevados índices de
ocorrências, perdendo apenas para o setor rural. O número de acidentes de trabalho em todo o
país cresceu entre 2004 e 2006, passando de 465.700 para 503.890. Os dados referentes à
construção civil ficaram nesse mesmo período, em 28.875 e 31.529, respectivamente. O
percentual de acidentes no setor para os dois anos é o mesmo, 6,2%. Em 2005, de um total de
499.680 ocorrências no Brasil, 29.228 (5,8%) foram na construção civil. No mundo inteiro, a
maior causa de acidentes fatais na construção é a queda de trabalhadores e também de
material sobre os funcionários. O segundo fator são os choques elétricos e o terceiro,
soterramentos.
De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a
“construção civil ocupa o terceiro lugar no número de acidentes de trabalho” (CBIC, 2013,
s/d). Nos últimos anos, o crescimento das atividades relacionadas a essa indústria foi
influenciada pelas condições econômicas do país e pelo PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento), observando-se um acréscimo das atividades e número de trabalhadores
relacionados ao setor da construção, aumentando assim a quantidade de obras, de
trabalhadores e da quantidade de acidentes. Entretanto, de acordo com a CBIC, atualmente
nota-se uma redução no número absoluto de acidentes no trabalho. Outra informação que
corrobora essa afirmação foi publicada pelo Ministério da Previdência Social (MPS), que
divulgou AEPS 2012 - Anuário Estatístico da Previdência Social de 2012, com as estatísticas
de acidentes de trabalho ocorridas no ano de 2012. A pesquisa revela a redução no número de
acidentes em relação a 2010 e 2011. Ao todo, foram registrados 705.239 casos, contra
720.629 em 2011 e 709.474 em 2010. Os óbitos também apresentaram uma pequena redução,
com 2.731 em 2012, sendo que em 2010 foram 2.753 e 2.938 em 2011 (REVISTA
PROTEÇÃO, 2013). Observa-se que os acidentes típicos representam 78,6% dos acidentes
registrados, inclusos nessa classe os acidentes ocorridos em altura, (total de 423.167 Revista
Pensar Engenharia, v.1, n. 1, Jan./2015 acidentes típicos).
Existem muitos fatores que expõe os operários aos riscos de acidentes como:
• Instalações inadequadas;
• Longas jornadas de trabalho;
• Falta de equipamentos de proteção individual ou uso incorreto dos mesmos;
• Falta de equipamentos de proteção coletiva;
26

• Falta de treinamento.
Observa-se ainda a existência de um perfil de insensibilidade com a higiene e
segurança no trabalho. Os itens mais infringidos - condições sanitárias e EPI – são os que
apresentaram maior número de irregularidades. Trata-se, portanto, de itens sobre os quais
todos têm conhecimento e que não dependem de nenhum conhecimento técnico mais
aprofundado.
Pessoa (2014) explica que em decorrência do aquecimento da economia brasileira,
a indústria da construção civil tem apresentado um aumento econômico de grande
representatividade. Tal fato é resultado de que todas as cidades do país estão se tornando
grandes canteiros de obras para a construção ou reformas de estradas, obras de mobilidade
urbana, para o sistema de transporte, para construção de moradias, edifícios e outros. Para
Simões (2010), o crescimento da quantidade de obras não tem sido acompanhado na mesma
velocidade no que se refere á fiscalização e segurança na construção civil, levando, como
consequência, ao aumento do número de acidentes do trabalho, riscos à saúde do trabalhador
e o comprometimento da integridade física deste. De acordo com Medeiros e Rodrigues
(2009) o setor da indústria da construção civil envolve tradicionais estruturas culturais, sociais
e políticas e causa um elevado índice de acidentes de trabalho. Os autores lecionam que os
acidentes de trabalho nesse setor têm sido frequentes e muitas vezes estão associadas a
patrões negligentes que oferecem condições de trabalho inseguras e também a empregados
que cometem atos inseguros. Para Rodrigues (1986), os riscos são muitos, considerando que
alguns trabalhadores, por necessidade, sujeitam-se á exposição do perigo exigidas pela
empresa a fim de manter o emprego. O trabalhador é tratado como um corpo a ser “adestrado”
para “executar” uma determinada tarefa no mais breve período de tempo. Ele passa a não
mais conceber e planejar o seu trabalho, sendo-lhe atribuída apenas a sua execução
(RODRIGUES, 1986, p.35). Colombo (2009) afirma que muitos acidentes de trabalho e riscos
na construção civil surgem como resultado da falta de conhecimento por parte do trabalhador,
pressa para entregar o produto final no prazo determinado pelo cliente, pela ausência de um
devido planejamento e improvisos. Estes são fatores que fazem com que o canteiro de obras
se transforme em um ambiente agressivo e vulnerável a ocorrência de acidentes do trabalho.
De acordo com o autor, no setor da construção civil, geralmente os acidentes não
surgem por motivos de fácil solução, pois são originados de consequências de maior
profundidade e sem haver consciência dos fatores reais das suas causas. Trata- se de uma
situação comum em casos de acidentes que não geram lesões ou que sejam de natureza leve.
Por isso, com um estudo da área para verificar os riscos que envolvem os trabalhadores
27

precisa ser feito no canteiro de obra com base em uma elaboração e implantação de medidas
de segurança que sejam de fato eficazes. Relacionado a isso, os serviços de construção
tendem a ser concentrados e ocorrer sob pressão, o que leva a um maior risco de acidentes.
Desta forma, pode-se apontar como fatores que levam aos acontecimentos de acidentes na
construção civil, o tempo das obras que é relativamente curto; a pouca ou nenhuma
qualificação de mão de obra, resultando em alta rotatividade de pessoal; maior contato pessoal
com os equipamentos da construção, causando exposição aos riscos; e execução das
atividades sob condições climáticas desfavoráveis (BRUSIUS, 2010).

2.3 NORMAS REGULAMENTADORAS

No Brasil, além da regulação e das normas e guias de boas práticas, são utilizadas
inspeções e penalidades, treinamentos e cursos que promovem o aprimoramento do
desempenho das empresas na prática de proteção dos trabalhadores. O Ministério do Trabalho
exige que todas as empresas com trabalhadores avaliem regularmente os riscos do ambiente
de trabalho e a saúde de seus trabalhadores, sendo que os resultados dessas avaliações devem
subsidiar os programas de prevenção. Os dois programas obrigatórios para empresas são o
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) (NR-9) e o Programa de Controle
Médico e Saúde Ocupacional (NR-7) (CHAVES, et. al., 2009).
A NR-9 estabelece obrigatoriedade da elaboração e implementação do PPRA por
parte de empregadores e instituições, visando à preservação da saúde e da integridade física
dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle
da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de
trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
Na NR-7, encontra-se o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO), obrigatório para empresas e instituições que admitem empregados, com o objetivo
da preservação da saúde de seus trabalhadores, nos quais serão obrigados à realização de
exame médico por conta do empregador nas condições estabelecidas: na admissão, na
demissão, periodicamente, no retorno ao trabalho, na mudança de função.
Já a NR-6 é exclusiva para a regulamentação do uso de EPI. Define e estabelece
os tipos de EPI que as empresas são obrigadas a fornecer a seus empregados, sempre que as
condições de trabalho os exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos
trabalhadores. Porém muitas empresas não fornecem com frequência os EPI aos empregados e
28

não orientam quanto ao seu uso, principalmente devido às falhas de comunicação, o que
explica a forma inadequada ou ineficaz de sua utilização, gerando até mesmo incômodos aos
trabalhadores. Segundo o Decreto nº 3.048/99, citado por Nascimento (et. al., 2009, p. 35),
Art. 338, a empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de
proteção e saúde do trabalhador, assim como prestar informações sobre os riscos do trabalho a
ser feito ou produto a ser manipulado.
A segurança e a saúde do trabalho na área da construção civil baseiam-se em
normas regulamentadoras, descritas no MTE, sendo a mais importante para as atividades
exercidas em canteiros de obras a NR-18, que obriga a elaboração e cumprimento do
PCMAT, (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção).
A NR-18, com o título de “Obras de Construção, Demolição e Reparos”, define as regras de
prevenção de acidentes de trabalho para a indústria da construção. Foi aprovada pela portaria
nº 3.214 de 08/07/1978, porém devido aos progressos tecnológicos e sociais seu texto tornou-
se defasado, necessitando de modificações legais, as quais ocorreram recentemente. A nova
NR-18 introduz inovações conceituais que aparecem a partir de sua própria formulação, uma
vez que é a 1ª norma publicada que teve a sua condução final consolidada através de
negociação clássica nos moldes prescritos pela Organização Internacional do Trabalho. A
mudança do título de “Obras de Construção, Demolição e Reparos” para “Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção” já introduziu inovações consideráveis:
ampliou-se o campo de atuação da norma a todo meio ambiente de trabalho da indústria e não
apenas aos canteiros de obras, bem como a toda a indústria da construção sem restrições ao
tipo de obra. Os objetivos da nova norma também apontam grandes avanços, já que busca
“estabelecer diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização, que
objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos
processos, nas condições e no meio ambiente na Indústria da Construção”. (Manuais de
Legislação Atlas, 1996). Estes objetivos são colocados em prática através do PCMAT, que
busca garantir o surgimento de programas consistentes de prevenção com integração entre
dirigentes, empregados (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA) e profissionais
da área, evitando assim a aquisição de pacotes pré-fabricados cuja motivação única seja
atender a norma para evitar multas.
A NR-18 tem como finalidade estabelecer diretrizes com o objetivo de programar
medidas de controle e sistemas de prevenção de segurança nos processos, nas condições e no
meio ambiente de trabalho na indústria da construção. O PCMAT constitui em uma série de
medidas preventivas de segurança que devem ser adotadas durante o desenvolvimento da
29

obra, no ambiente de trabalho da indústria da construção. Segundo a NR-18, item 18.3, é


obrigatório sua elaboração e cumprimento, contemplando os aspectos desta NR e outros
dispositivos complementares de segurança para os estabelecimentos com 20 (vinte)
trabalhadores ou mais.
O corpo da norma NR 18 apresenta os seguintes itens:
• Objetivo e Campo de Aplicação: é o item que define a norma e remete a NR 4
para a definição das atividades cobertas.
• Comunicação Prévia: define a obrigatoriedade da comunicação legal.
• Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção: define exigências da prevenção sob forma de projeto a ser elaborado antes do
início da execução da obra.
• Áreas de Vivência: onde são descritas as condições mínimas requeridas para a
habitabilidade dos canteiros de obras. São requeridas as seguintes instalações: instalações
sanitárias, vestiários, alojamentos, local de refeições, cozinha, lavanderia, área de lazer e
ambulatório. Destaque especial é dado para a conservação e o estado de higiene e limpeza em
que devem ser mantidas as instalações nos canteiros de obras, com a obrigatoriedade de vários
itens necessários a estas.
• Demolição: estabelece pré-requisitos para o início deste tipo de trabalho.
• Escavações a Céu Aberto remete a NBR 9061/85 - Segurança em Escavações a
Céu Aberto, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
• Carpintaria: que trata principalmente da qualificação de trabalhadores para as
operações com máquinas e equipamentos, bem como da obrigatoriedade de dispositivos de
proteção adequados para máquinas, equipamentos e operadores.
• Armações de Aço: traz medidas de segurança no transporte, armazenamento e
principalmente manuseio de vergalhões.
• Estruturas de Concreto: apresenta cuidados básicos para a execução, trazendo
como principal enfoque, os cuidados com a estabilidade. Também a desforma é enfocada com
maiores cuidados na sua execução.
• Estruturas Metálicas: apresenta poucos cuidados, porém em função do
crescimento do número de obras e da necessidade de um bom detalhamento, sua
complementação se dará através de regulamentos técnicos de procedimentos.
• Operações de Soldagem e Corte a Quente: são itens de grande importância,
trazem cuidados e precauções com o material inflamável, a ventilação e a necessidade de
30

trabalhadores qualificados e utilizando Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) devido à


gravidade dos acidentes.
• Escadas, Rampas e Passarelas: apresenta quesitos mínimos para o
dimensionamento, a construção e o uso destes, além de uma recomendação de orientação aos
trabalhadores sobre regras de utilização segura, uma vez que são utilizados para acesso a
diversos locais.
• Proteções Coletivas Contra Quedas de Alturas: é um item surgido por ser esta a
causa de muitos acidentes fatais. Este apresenta obrigatoriedades que demonstram uma
modificação na maneira de pensar no canteiro de obras, substituindo equipamentos de
proteção individual por equipamentos de proteção coletiva, propiciando assim um ambiente
de maior segurança e bem-estar dentro do canteiro de obras.
• Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas: estabelece requisitos
mínimos de segurança para a instalação e operação destes equipamentos, os quais são
causadores de um grande número de acidentes. Para tanto, apresenta grande detalhamento das
necessidades dos equipamentos mais utilizados, como torres de elevadores, elevadores de
transporte de materiais, elevadores de passageiros e gruas.
• Andaimes: apresenta requisitos mínimos para confecção e utilização de cada
tipo, além da necessidade do uso de EPI. Os principais andaimes referidos são os andaimes
simplesmente apoiados, andaimes fachadeiros e andaimes móveis.
• Cabos de Aço: serão fiscalizados pela norma vigente da ABNT, a NBR 6327/83
que estabelece os requisitos mínimos para sua utilização. Também é requerida mão de obra
treinada e especializada.
• Alvenaria, Revestimentos e Acabamentos: traz apenas alguns cuidados quanto à
sinalização e proteção durante a execução dos serviços.
• Serviços em Telhados: devido aos vários acidentes graves e fatais registrados,
prevê o uso de cinto de segurança do tipo paraquedista ligado a cabo-guia. Além disto, é
necessário a sinalização e isolamento da área e um planejamento prévio dos serviços em
telhado.
• Serviços em Flutuantes: apresenta apenas uma orientação geral, para que no
futuro haja uma complementação através de Regulamento Técnico de Procedimento (RTP).
• Locais Confinados: inclui tarefas que exponham os trabalhadores a riscos de
asfixia, explosão, intoxicação e doenças do trabalho salientando a importância do treinamento
e a correta orientação dos trabalhadores.
31

• Instalações Elétricas: é composto por cuidados essenciais com os circuitos e


equipamentos, requisitos mínimos para as instalações provisórias no canteiro, além da
necessidade de trabalhador qualificado com supervisão de profissional legalmente habilitado
para a execução e manutenção das instalações.
• Máquinas e Equipamentos e Ferramentas Diversas: traz várias exigências entre
as quais a necessidade de operador qualificado e identificado por crachá, além da atenção
especial dada ao dispositivo de acionamento e parada destas máquinas e da inspeção e
manutenção periódica, registrada em livro próprio. Quanto às ferramentas, além dos cuidados
normais, o uso de ferramentas pneumáticas portáteis e de fixação à pólvora merece
recomendações especiais.
• EPI: traz o importante fato que a empresa é obrigada a fornecer aos
trabalhadores, gratuitamente, o EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e
funcionamento. Estes estão perfeitamente definidos pela NR-6 - Equipamentos de Proteção
Individual.
• Armazenagem e Estocagem de Materiais: uma recomendação que representa
uma grande contribuição na diminuição do número de acidentes são os cuidados na
armazenagem de materiais, permitindo que estes sejam retirados obedecendo a sequência de
utilização planejada.
• Transporte de Trabalhadores em Veículos Automotores: visa regular o
transporte coletivo seguro para os trabalhadores da indústria da construção. Além disto,
apresenta a obrigatoriedade do uso de meios de transporte normalizados pelas entidades
competentes e de condutor habilitado para o transporte de trabalhadores.
• Proteção Contra Incêndio: além de remeter a NR-23, prevê o treinamento de
equipes para o primeiro combate ao fogo além de sistema de alarme com alcance a todos os
locais do canteiro de obras.
• Sinalização de Segurança: é um item novo que veio reforçar ainda mais o caráter
preservacionista da nova redação desta norma, pois é de grande importância para coibir ou
prevenir atos inseguros. Possuem os objetivos de identificação, comunicação e alerta.
• Treinamento: traz a obrigatoriedade de treinamento admissional e periódico,
com carga horária mínima de 6 horas, além da inclusão de matérias de segurança e saúde do
trabalho e a obrigatoriedade da distribuição dos procedimentos. Demonstra a importância das
Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs) e Serviços Especializados em
32

Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMTs), sérios e organizados, que


deverão ser encarregados de ministrar e acompanhar estes treinamentos.
• Ordem e Limpeza: é um item básico para que, segundo a OIT, sejam atingidos
níveis adequados de segurança e higiene do trabalho. Foi consolidado na Conferência
Internacional do Trabalho, realizada em Genebra na data de 2 de julho de 1981. Neste item,
salienta-se principalmente, a remoção de entulhos e lixo para locais adequados de deposição,
sem queimá-los, além da organização e limpeza do canteiro, com vias de circulação e
passagem desimpedidas.
• Tapumes e Galerias: apresenta grande importância para o correto isolamento do
canteiro de obras.
• Acidentes Fatais: apresenta o procedimento legal. Além das autoridades
policiais deverá ser comunicado também o órgão regional do Ministério do Trabalho, e o local
deverão permanecer isolados para a perfeita investigação.
• Dados Estatísticos: traz algumas referências sobre o encaminhamento e o
arquivamento das fichas apresentadas nos dois anexos com a finalidade de levantar dados
estatísticos sobre a ocorrência e a gravidade dos acidentes na indústria da construção. Este
item visa o cumprimento de parte do artigo 1 da convenção 155 da OIT, o encaminhamento
deve ser feito à Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO).
• Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA): apresenta modificações
importantes em relação à norma antiga, ficando um pouco mais próxima dos canteiros de obra
com a redução do número de trabalhadores, de 100 para 70, por canteiro, exigidos para sua
existência. Uma mudança de grande importância foi a inclusão das 61 subempreiteiras, que
não possuam CIPA no canteiro, com pelo menos um representante na CIPA da contratante.
Também foi incluída uma modificação na estrutura da CIPA em canteiros de obra de
existência inferior a 180 dias. O modo de ação e formação da CIPA está especificado na NR-
5.
• Comitês Permanentes Sobre Condições e Meio Ambiente do Trabalho na
Indústria da Construção: através deste item ficaram criados o Comitê Permanente Nacional
(CPN) e os Comitês Permanentes Regionais (CPR). A estrutura destes comitês será tripartite e
o objetivo de sua criação é o estabelecimento de um mecanismo de depuração e atualização da
própria norma. Através de estudos realizados pelos próprios comitês e de propostas
encaminhadas por empresas, profissionais ou entidades, tanto soluções alternativas como
33

avanços tecnológicos poderão ser incorporados rapidamente aos instrumentos normativos já


existentes.
• Regulamentos Técnicos de Procedimentos (RTPs): são os instrumentos
utilizados para ampliação da NR-18, detalhando os princípios já estabelecidos na norma,
através da discriminação de dimensões, qualificações e especificações de materiais. Estes são
também os instrumentos de atualização com objetivo de incorporar todas as inovações
tecnológicas do setor de forma permanente.
• Disposições Gerais: traz vários subitens contidos na norma anterior que foram
retirados do texto da norma atual. Estes devem posteriormente ser incorporados em
Regulamentos Técnicos de Procedimentos específicos, porém, até a aprovação destas,
continuam em vigor e não devem ser esquecidos.
• Disposições Finais: são várias considerações de grande importância para a nova
norma. Aqui, encontram-se definidos os conceitos de trabalhadores habilitados e de
trabalhadores qualificados, que aparecem frequentemente na maioria dos itens da norma.
Também estão aqui garantidos a existência de bebedouro e o fornecimento gratuito de
vestimentas para os trabalhadores do setor, outro item estabelecido pela Convenção Sobre
Segurança e Saúde dos Trabalhadores e o Meio Ambiente do Trabalho da OIT.
Apesar das grandes mudanças introduzidas, na reformulação da norma, a grande
maioria de seus itens trata apenas das condições físicas de trabalho oferecidas ao trabalhador.
Poucos itens demonstram preocupação com o comportamento deste no ambiente de trabalho,
portanto, é correto afirmar que a norma não é medida suficiente para o gerenciamento da
segurança e saúde ocupacional. A segurança para ser efetiva deve fazer parte integral do
trabalho, este é o único modo das tarefas serem realizadas seguramente. De maneira geral,
observa-se que muitos empresários e trabalhadores desconhecem as normas existentes sobre a
segurança do trabalhador e seu ambiente de trabalho, os riscos de acidentes que variam de
acordo com cada obra, e o preparo de cada trabalhador para o desenvolvimento das
atividades, o que se torna favorável para a ocorrência de acidentes. A empresa é a responsável
pela aplicação das normas e tem que fiscalizar e cobrar dos seus trabalhadores o cumprimento
delas. Jogar a culpa nos funcionários quando ocorre o acidente, ou alegar que eles acontecem
por conta da baixa escolaridade, é uma visão simplista e injusta.
34

2.4 EPI (EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL)

Dentre as práticas para se buscar reduzir ou evitar os acidentes de trabalho


tratados na sessão anterior, tem-se a divulgação dos riscos, medidas preventivas,
equipamentos de proteção coletiva (EPC), equipamentos de proteção individual, dentre
outros. Neste tópico, exploraremos os conceitos, normativas e importância do EPI.
Os EPI são equipamentos de uso individual e pessoal; funcionam como solução
em casos de impossibilidade de controle efetivo para eliminação de riscos a acidentes do
trabalho. É fato então que o EPI nunca deve ser a primeira opção de solução adotada para o
controle de riscos e acidentes, as medidas organizacionais e coletivas devem ser levadas em
consideração antes. Mesmo assim muitos empregadores ao invés de buscarem formas de
neutralizar ou eliminar os riscos direto na fonte geradora, preferem proteger o empregado com
EPI continuando assim com os riscos no ambiente laboral.

2.4.1 Conceito e Legislação

O uso do EPI está previsto na Lei nº 6.514/1977 (CLT), que versa sobre a
Medicina e Segurança no Trabalho, e regulamentado pela Norma Regulamentadora nº 06
(NR-06). Conforme artigo nº 166 da CLT:

A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamentos de


proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e
funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa
proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

A NR-06 define o EPI como “todo dispositivo ou produto, de uso individual


utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e
a saúde no trabalho”.
Pode-se também dizer “como todo dispositivo de uso individual destinado a
proteger a integridade física do trabalhador” (SAMPAIO, 1998, p. 117), restando ao
trabalhador ser treinado e conscientizado sobre a utilização destes equipamentos.
Dentre as responsabilidades do trabalhador previstas pela sessão 6.7 da NR-06,
destaca-se a utilização apenas para a finalidade a que se destina; a responsabilidade pela
guarda e conservação; a comunicação ao empregador em caso de qualquer alteração que o
torne impróprio para o uso e o cumprimento das determinações do empregador quanto ao uso.
35

A Norma ainda destaca que o fabricante do EPI deve cadastrar junto ao órgão
nacional competente em matérias de SESMT a emissão do Certificado de Aprovação (CA),
ou seja, cabe ao empregador verificar se os equipamentos disponibilizados aos empregados
estão registrados e regulamentados pelo órgão competente.
A utilização do EPI concomitantemente a outros recursos de segurança do
trabalho é fundamental para preservação do trabalhador contra os diferentes riscos do
ambiente de trabalho, conforme afirmam Nacimento et al. (2009, apud CISZ, 2015).

2.4.2 Importância

O processo de construção resulta numa contínua modificação de ambiente, de


atividades e de trabalhadores e, devido à toda uma reformulação deste processo, as atividades
de cada fase da obra são realizadas por diversas empreiteiras, podendo resultar em divisão do
comando e de responsabilidade pelas condições de trabalho (NASCIMENTO et al, 2009).
Os autores comentam ainda que as atividades da indústria da construção civil são
perigosas e expõem os empregados a variados riscos, de acordo com o tipo da construção, da
fase da obra e da maneira de conduzir os programas e ações de segurança e saúde no trabalho.
O trabalhador é exposto aos riscos do ambiente, das intempéries, de suas tarefas e das
atividades de outros trabalhadores.
Desta forma, observa-se a necessidade de interação entre os trabalhadores no
processo produtivo de uma obra, com todas as fases de construção e de execução, para que se
possa atender além das necessidades dos proprietários, com prazos e qualidade, as medidas de
prevenção de acidentes, como observado também pelos autores (NASCIMENTO et al, 2009).
O setor da Construção Civil apresenta dois grandes obstáculos para que possa se
desenvolver em conformidade com a legislação vigente que rege as normas de segurança do
trabalho no seu ambiente de trabalho que são a não disponibilização dos EPI's por parte dos
empregadores deste setor e a não utilização dos EPI’s por parte dos empregados quando estes
são fornecidos, principalmente nas obras de pequeno porte, devido a ineficiência da
fiscalização dos órgãos responsáveis (CISZ, 2015).
Estes são considerados obstáculos por serem causas de muitos acidentes nos
canteiros de obra, acidentes estes que poderiam ser evitados e terem suas sequelas amenizadas
pela entrega e uso dos EPI’s que são uma das formas previstas em lei de prevenir as lesões
provocadas pelos acidentes de trabalho, segundo Dobrovolski, Witkowski e Alamanczuk
(2008). Montenegro e Santana (2008) mencionam que é importante o uso do equipamento de
36

proteção individual pelos trabalhadores da Construção Civil porque o mesmo visa à pratica de
segurança com eficácia para estes, protegendo os mesmos contra as lesões provocadas pelos
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. O uso dos EPI’s é uma estratégia de ação
preventiva fundamental, sendo indispensável para a segurança dos trabalhadores, pois visa
proteger e reduzir os riscos existentes no ambiente de trabalho, como também amenizar as
sequelas que venham ocorrer no caso de acidentes, podendo ser ferramentas determinantes no
que se refere a salvar vidas dos trabalhadores. Uma das formas de garantir o uso dos EPI’s
pelos trabalhadores da Construção Civil é a fiscalização das atividades desenvolvidas no
setor, pois assegura a qualidade e segurança do empreendimento durante a sua fase de
construção, evitando assim as falhas no sistema construtivo.
Nascimento et al. (2009) destacam que o empregador tem algumas obrigações
quanto aos EPI’s que são fornecer gratuitamente ao empregado o tipo adequado de EPI para
atividade que desenvolve; fornecer ao empregado somente EPI’s com Certificado de
Aprovação (CA); treinar o trabalhador sobre seu uso adequado; tornar obrigatório o seu uso;
substituí-ló, imediatamente, quando danificado ou extraviado; responsabilizar- se pela sua
higienização e manutenção periódica e comunicar ao Ministério do Trabalho qualquer
irregularidade observada nos EPI’s. Estes autores mencionam, ainda, as obrigações dos
empregados quanto aos EPI’s que correspondem a usá-los apenas à finalidade a que se
destina; responsabilizar- se pela guarda e conservação do EPI’s que lhe for confiado;
comunicar ao empregador qualquer alteração no EPI’s que o torne improprio para seu uso.
A importância do uso dos EPI se dá visto que esses instrumentos promovem
segurança dos trabalhadores, amenizando ou até mesmo evitando possíveis lesões provocadas
por acidentes no ambiente laboral.

2.4.3 Equipamentos

O setor da Construção Civil faz uso de distintos grupos de EPI listados pela NR-6
pois é um setor que engloba atividades que apresentam riscos pelo contato com águas, altura,
eletricidade, trabalhos de escavação, demolição, alvenarias, aplicação de pavimentos e
assentamento de revestimentos, serralheria, entre outros; que englobam as atividades
desenvolvidas na construção civil.
Os equipamentos de proteção individual utilizados na construção civil,
encontram-se agrupados em:
37

a) Equipamentos para Proteção da Cabeça: capacetes, capuz ou bala clave. Sendo


utilizados em obras de pequeno porte apenas os que protegem o crânio contra impactos, que é
utilizado com suspensão para permitir um melhor ajuste do equipamento à cabeça,
amortecendo impactos e possibilitando o rebatimento do material que cai e evitando lesões no
pescoço.

Figura 1: Capacete para proteção contra impactos

Fonte: (IMBEP. 2017) 1

Os capacetes devem ser feitos de material rígido plástico e de alta resistência ao


impacto e à penetração.
b) Equipamentos para proteção de olhos e face: Os óculos (Figura 2) são os
equipamentos utilizados para proteção dos olhos evitando a perfuração dos mesmos por
corpos estranhos em atividades que possam vir a causar respingos de produtos químicos,
radiação, trabalhos com objetos perfurantes, entre outros.

Figura 2: Óculos para proteção dos olhos

Fonte: ( segurança do trabalho nwn, 2012)2

1
Disponível em: <http://blog.inbep.com.br/conheca-o-significado-das-cores-dos-capacetes-na-construcao-
civil/>. Acesso em 18 mai. 2017.
38

Já a proteção da face se dá pelo uso de protetores facial – máscaras: contra poeira,


contra soldas, com filtros para vapores.
Conforme Silva (2009, apud CISZ, 2015):

As máscaras mais usadas na Construção Civil correspondem a máscara contra


poeiras que se destina a proteção respiratória dos trabalhadores contra poeiras
incômodas, tais como, a cal e o calcário, cuja concentração seja desconfortável para
o trabalho; máscara semifacial com filtro para vapores orgânicos que é utilizada na
atividade de pintura e a máscara para soldadores utilizada no que se refere a soldas.
Conforme NR-6 a máscara de Solda assegura a proteção da face contra impactos de
partículas volantes, radiação ultravioleta, radiação infra- vermelha e luminosidade
intensa.

c) Equipamentos para Proteção Auditiva: os equipamentos podem ser do tipo:


circum-auricular; de inserção ou semi-auricular para proteção do sistema auditivo contra
níveis de pressão sonora superiores ao estabelecido na NR-15. Tais equipamentos devem ser
confortáveis e estar sempre limpos, higienizados ou trocados periodicamente de acordo com
os períodos de utilização.

Figura 3: Protetor auricular tipo circum-auricular

Fonte: (SEGURANÇA, 2013)3

d) Equipamentos para Proteção dos Membros Superiores: a proteção dos


membros superiores é realizada através do uso de luvas, creme protetor, roupas com mangas,
uso de braçadeira e dedeira. As luvas protegem as mãos contra agentes abrasivos e/ ou

2
Disponível em: < http://segurancadotrabalhonwn.com/protecao-dos-olhos-dds/>. Acesso em 18 mai. 2017.
3
Disponível em: < http://seguranca2013.blogspot.com.br/2013/08/dicas-de-treinamento.html>. Acesso em 18
mai. 2017.
39

escoriantes; cortantes/perfurantes; choques elétricos; agentes térmicos; biológicos; químicos;


vibrações; umidade pelas operações com uso de água e radiações ionizantes. Existem
diferentes tipos de luvas para os diferentes tipos de atividades desenvolvidas.

Figura 4: Luvas de proteção. Na ordem: luva isolante de borracha; luva de proteção em raspa e vaqueta; luva de
proteção em borracha nitrílica.

Fonte: (VENTOWAG, 2011)4

Nas obras da Construção Civil de pequeno porte, as luvas utilizadas com maior
frequência são aquelas que protegem as mãos contra agentes abrasivos e escoriantes, agentes
cortantes e perfurantes; agentes químicos como o cimento; umidade proveniente de operações
com uso de água – luvas de borracha.
e) Equipamentos para Proteção dos Membros Inferiores: Os membros inferiores
são protegidos pelo uso de calçados, divididos em: calçado para proteção contra impactos de
quedas de objetos sobre os artelhos (articulações), agentes provenientes de energia elétrica,
agentes térmicos, abrasivos e escoriantes, cortantes e perfurantes; calçados para proteção de
pernas e pés contra umidade proveniente de operações com uso de água, e também contra
respingos de produtos químicos. Calçados são equipamentos de uso obrigatório durante toda a
jornada de trabalho e em todos os ambientes de trabalho.

4
Disponível em: < http://www.ventowag.com.br/epi-equipamento-de-protecao-individual-251111.php>.
Acesso em 18 mai. 2017.
40

Figura 5: Botas para proteção dos membros inferiores

Fonte: (FIO CRUZ)5

f) Equipamentos para Proteção Contra Quedas com Diferença de Nível: os


equipamentos que protegem contra quedas com diferença de nível correspondem ao cinturão
de segurança para proteção do usuário contra riscos de queda em trabalhos em altura; ao
cinturão de segurança para proteção do usuário contra riscos de queda no posicionamento em
trabalhos em altura; ao dispositivo trava-queda para proteção do usuário contra quedas em
operações com movimentação vertical ou horizontal que deve ser utilizado com cinturão de
segurança para obter uma maior proteção contra quedas.

2.4.4 Certificado de Aprovação dos EPI

Conforme a NR 6 o EPI de fabricação nacional ou importado só́ poderá́ ser posto


à venda para ser utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (C.A.), que certifica e
atesta a qualidade e eficácia do equipamento para aquele determinado uso.
Para Rosso e Oliveira (2005) o C.A dos EPI’s deve ser regulamentado pelo MTE,
que é o órgão nacional competente para regulamentar questões de segurança e saúde no
trabalho. Caso aprovada a conformidade dos EPI’s, as especificações e testes devem ser
realizados pelo Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(SINMETRO), visando avaliar se podem ser comercializado como EPI’s.
Para fins comerciais, cada C.A. emitido terá validade até 5 (cinco) anos, conforme
previsto na NR-6. Em alguns casos, cabe ao SINMETRO estabelecer prazos diferentes.

5
Disponível em: < http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/epiprotecaomembrosinferiores.html>.
Acesso em 18 mai. 2017.
41

O sítio do MTE disponibiliza consultas a respeito da validade dos EPI e


visualização dos C.A. de cada equipamento. Destaca-se que os procedimentos relativos ao
C.A. são isentos de taxas.
Sobre a rastreabilidade, os itens 6.9 e 6.12 da NR-6 especificam o detalhamento:
Todo EPI deverá apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o
nome comercial da empresa fabricante, o lote de fabricação e o
número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador,
o lote de fabricação e o número do CA.
(...)
Por ocasião da fiscalização poderão ser recolhidas amostras de EPI, no
fabricante ou importador e seus distribuidores ou revendedores, ou
ainda, junto à empresa utilizadora, em número mínimo a ser
estabelecido nas normas técnicas de ensaio, as quais serão
encaminhadas, mediante ofício da autoridade regional competente em
matéria de segurança e saúde no trabalho, a um laboratório
credenciado junto ao MTE ou ao SINMETRO, capaz de realizar os
respectivos laudos de ensaios, ensejando comunicação posterior ao
órgão nacional competente.

A NR-6 destaca, ainda, que quando não for possível cumprir o determinado acima
o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho poderá́ autorizar
uma forma alternativa de gravação, a ser proposta pelo fabricante ou importador, devendo esta
constar do C.A.
Por fim, ressalta-se que o C.A. é indispensável ao EPI, pois contém as
informações necessárias para que determinado equipamento tenha determinada especificações
para garantir sua finalidade, que é de proteger o empregado de determinados riscos.
42

3 RESULTADOS E ANÁLISES

Após apresentação do referencial teórico que serviu para o embasamento do


presente estudo, seguimos neste capítulo para a apresentação da pesquisa de campo, seus
resultados e análises.
A seguir serão apresentados quatro tópicos, sendo: a) o campo de pesquisa,
explicando como esta foi realizada; b) os resultados extraídos da pesquisa; c) as análises feitas
a partir dos resultados e d) as recomendações tendo por base os resultados obtidos.

3.1 CAMPO DE PESQUISA

A coleta de dados foi realizada com trabalhadores da construção civil, no


município de Florianópolis/SC, através de pesquisa direcionada com entrevista individual e
aplicação de um questionário entre os operários. O questionário foi estruturado para efetuar
um diagnóstico sobre a utilização ou não de EPI em atividades cotidianas na construção civil,
dentro de uma rotina diária de trabalho na empresa onde cada operário é contratado. A
pesquisa procurou abordar aspectos relacionados aos dados pessoais dos funcionários como:
função, fornecimento de EPI por parte das empresas e questões relacionadas ao uso e
conhecimento dos equipamentos de proteção.
O critério de seleção para entrevista era apenas ser trabalhador em obra da
construção civil; dessa forma a seleção foi feita de forma aleatória, com participação
voluntária. Todas as entrevistas foram escritas para posterior análise. Foram entrevistados
dez trabalhadores da construção civil trabalhadores de empresas diferentes:

• Dois mestres de obras;


• Dois pedreiros;
• Um servente;
• Um carpinteiro;
• Um gesseiro;
• Um pintor;
• Um serralheiro e;
• Um eletricista.
43

Devido ao elevado número de operários da construção civil, optou-se pela


realização de uma pesquisa na qual foram entrevistados apenas alguns operários, dando-se
preferência para operários que realizassem funções diferentes entre eles, não necessariamente
precisando trabalhar todos na mesma empresa. Assim, tem-se que a amostra utilizada refere-
se a uma amostra não representativa, motivo pelo qual se utilizou a abordagem qualitativa
para análise dos dados.

3.2 RESULTADOS

Neste tópico serão apresentados os resultados obtidos a partir da pesquisa


realizada. Para facilitar a visualização dos dados apresentados, os mesmos foram colocados na
forma de gráfico. O modelo de questionário utilizado para a pesquisa pode ser encontrado no
Apêndice I.
O questionário desenvolvido apresenta 11 questões, onde é verificado se há
fornecimento de EPI pela empresa; se há treinamento para uso; se os operários têm
consciência dos riscos que correm; se usam os equipamentos de proteção fornecidos e porque
não usam em alguns momentos. Os questionamentos deviam ser respondidos com “sim” ou
“não” e em alguns casos devendo ser explicado o porquê da escolha da alternativa.

Idade dos entrevistados


70
56 58
60
50 43 44
38 40
40
32 32
29
30
21
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Gráfico 1: Faixa etária dos entrevistados


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
44

Segundo o Gráfico 1, a faixa etária dos entrevistados é bastante variada; o mais


jovem tem 21 anos e o mais velho 58 anos.

Faixa etária x Tempo de profissão


45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo de Profissão Idade que iniciou a profissão

Gráfico 2: Faixa etária x tempo de profissão


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Segundo o gráfico 2, os operários começam na profissão bem cedo, em torno dos


20 anos de idade. A partir da conversa com os operários durante as entrevistas pode-se
constatar que muitos iniciam na profissão no cargo de servente quando não possuem ainda
experiência de trabalho e, ao longo dos trabalhos vão acumulando funções maiores.
Em relação ao fornecimento de equipamentos de segurança nas empresas onde
trabalham, todos responderam que a empresa fornece equipamentos de proteção individual
aos operários. Já quando questionados sobre se os equipamentos fornecidos eram específicos
para cada função ou se eram os mesmos para todos os funcionários as respostas foram
divergentes, conforme apresentado no gráfico 3.
45

Tipos de equipamentos fornecidos

40%
Mesmos
60%; Específico

Gráfico 3: Tipos de equipamentos fornecidos


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Quando questionados se havia algum tipo de treinamento realizado pela empresa


sobre os equipamentos de segurança, metade dos operários respondeu que sim e a outra
metade respondeu que não; já quando foi perguntado a eles o que achavam que a empresa
poderia fazer para melhorar a qualidade do ambiente de trabalho e a segurança; apenas um
entrevistado respondeu que não era necessário fazer nada: “na empresa que trabalho eles são
bem rígidos quanto à segurança, por isso acho que está tudo bem”- carpinteiro; “acho que
deve haver mais fiscalização, pois os pedreiros e serventes acham que nunca vai acontecer
nada de ruim e deixam de usar o capacete ou até mesmo não prendem direito o cinto de
segurança. Se o técnico de segurança passasse mais vezes exigindo que coloquem os
operários vão colocar porque ficam com medo de receber advertências” – mestre de obra. Os
nove entrevistados que deram sugestões concordam ser necessário maiores informações e
alguém que possa ensinar os trabalhadores da obra; “acho que precisa de mais informações,
mas acho que eles precisam fornecer equipamentos que além de serem seguros não
atrapalhem muito o nosso serviço” – gesseiro.
Todos os operários responderam que usam algum EPI durante a realização de
trabalho dentro da empresa; mas quando a pergunta foi se utilizam procedimentos de
segurança nos trabalhos que realizam como autônomos as respostas foram diferentes: “as
vezes pego uns trabalhos por fora, mas é coisa pequena e não precisa de capacete e cinto” –
pintor, “as reformas que faço são pequenas, mas mesmo assim uso bota e capacete, já está
bom né?”- mestre de obras. Dois entrevistados responderam que não utilizam equipamentos,
46

pois, segundo eles, não há necessidade e outros dois responderam que utilizam os mesmos da
empresa.
Apenas quatro entrevistados responderam que tem conhecimento de todos os
equipamentos que são necessários para realizar o seu serviço, dois entrevistados responderam
que não tem conhecimento e os outros quatro responderam que “acham que sim”.

Deixa de usar o equipamento durante o


trabalho?
Não
20%

Sim
80%

Sim Não

Gráfico 4: Uso do equipamento durante o trabalho


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Conforme o gráfico 4, apenas dois dos entrevistados responderam não para


pergunta “você deixa de usar algum equipamento de segurança que foi fornecido pela
empresa durante a realização do seu trabalho”, o restante que respondeu positivamente
complementou as respostas com exemplos: “eles falam que é para usar andaime, mas andaime
demora mais para fazer o serviço, tem que ficar carregando, é melhor fazer com escada
quando o serviço é menor, daí ficam reclamando” – gesseiro.
Já a pergunta número 10 era: “Você utiliza o equipamento de segurança o tempo
todo enquanto está realizando o serviço?”, todos responderam que não. “Na verdade, só uso
quando é trabalho com alta carga” - eletricista; “já tirei o capacete óculos algumas vezes
porque estava muito quente ou para poder conversar melhor com alguém” – mestre de obras;
“é impossível ficar trabalhando com aquela luva” - o gesseiro.
47

3.3 ANÁLISES

Este estudo confirmou parte dos resultados encontrados na literatura usada como
base nesta pesquisa. Com relação à Ergonomia e aos EPI, notou-se pelas entrevistas que o
incômodo, a falta de informação correta sobre o uso destes equipamentos pelos trabalhadores
e o excesso de confiança no próprio trabalho pelos anos de experiência, geram resistência ao
uso durante a execução do trabalho.
Para dizer que cumprem as leis de Segurança do Trabalho, todas as empresas que
tiveram operários entrevistados fornecem equipamentos de segurança individual (EPI), porém
não mantêm técnicos responsáveis pela aquisição, distribuição, instrução de uso dos EPI e
treinamentos. Não há fiscalização quanto ao uso correto dos equipamentos, favorecendo o
risco de acidentes no ambiente de trabalho; quando há fiscalização esta por sua vez é vaga,
simplesmente olhando se o funcionário está com ou sem capacete. Esse tipo de fiscalização
favorece o mau comportamento dos funcionários, durante a conversa das entrevistas alguns
operários afirmaram só colocar o equipamento de segurança quando está próximo do horário
da pessoa responsável pela segurança passar; ou seja, para a empresa passa a impressão de
estarem utilizando os equipamentos, mas na verdade não estão.
Nas obras visitadas para as entrevistas percebeu-se que não há nenhum tipo de
programa de gestão de segurança. O foco das obras está no prazo e custo, e estes programas
de segurança são vistos como excessos de despesas e tempo perdido, pois o nível de instrução
dos trabalhadores é baixo e há uma grande rotatividade de funcionários ao longo da execução
da obra. Como os acidentes não ocorrem com frequência, eles acham que investir em um
problema que acontece “de vez em quando” não é primordial.
Com base no questionário, onde se priorizou questões como o conhecimento,
obrigatoriedade de uso, importância, utilização e conhecimento de riscos, orientação,
treinamento, percebeu-se certo descontentamento quanto ao EPI devido a desconfortos, como
por exemplo:

• O capacete esquenta a cabeça;


• O capacete e/ou óculos que cai da cabeça de acordo o movimento que o
operário faz;
• O capacete encosta no gesso que está sendo executado;
• Limitação dos movimentos pelo uso do cinto;
• Falta de sensibilidade nas mãos por causa das luvas;
48

• Suor nas mãos por causa das luvas;


• Demora e perda na agilidade do trabalho por estar utilizando luvas;
• Calor e dificuldade para conversar por causa da máscara;
• Dor na cabeça pelo uso dos óculos que apertam;
• Demora e dificuldade para mover o andaime;
• Experiência na área e nunca ter sofrido nenhum acidente;
• Entre outros motivos que levam à retirada do equipamento durante a execução
das atividades.

No momento da entrevista sobre o conhecimento do EPI, todos já tinham ouvido


falar no termo, mas poucos sabiam o seu real significado. “EPI é o capacete, bota.” – servente.
Quando questionados sobre a obrigatoriedade do uso por função desempenhada, quase
ninguém sabia dizer qual equipamento é obrigatório para determinada função, eles conheciam
só os equipamentos mais básicos e sempre disponibilizados: botas e capacete.
Todos os entrevistados sabiam sobre a importância do uso do EPI. “É importante
porque evita acidentes.” – eletricista. Mas quando perguntados se deixavam de utilizar o
equipamento em algum momento, mais de setenta por cento deixam de utilizar em algum
momento.
Quanto ao uso dos EPI, observou-se que itens como botas, luvas, óculos e
abafador de ruídos são utilizados com maior frequência. O item que possui maior resistência
ao uso é, sem dúvida, o capacete, pois foi citado como incômodo por vários entrevistados que
exercem funções distintas. Alguns entrevistados mesmo tendo à disposição, não usam os
equipamentos, seja por imprudência, negligência ou excesso de confiança, argumentando que
nunca aconteceu de sofrerem acidentes e de que são muito cuidadosos. Até mesmo aqueles
que são obrigados pela construtora a usar os equipamentos, são encontrados trabalhando em
situação irregular. Alguns operários disseram não haver riscos nas funções que desenvolvem;
consideram que acidentes somente acontecem com pessoas que não tem experiência. Para
eles, com a experiência adquirida ao longo dos anos, jamais serão vítimas de acidentes, já que
conhecem os riscos existentes no ambiente de trabalho. Por isso, a maior aversão ao uso dos
equipamentos de proteção pessoal verificada nessa pesquisa está associada aos operários com
mais de 12 anos de profissão.
Outro fator observado é que muitos operários recebem pagamentos por cada dia
trabalhado e não pagamentos mensais, assim, querem sempre realizar o serviço da forma mais
rápida visando conseguir mais serviços e mais dinheiro. Segundo o que os operários
49

informaram, colocar os EPI consome tempo e o uso deles torna o trabalho mais lento. Todos
os entrevistados responderam que realizam trabalhos também como autônomos – geralmente
nos fins de semana e fora do horário comercial - e a grande maioria disse não utilizar EPI
nestes trabalhos por serem serviços pequenos que não oferecem riscos de acidentes.
Esse alto índice se dá pela falta de orientação e treinamento quanto ao uso do EPI
durante a atividade, o que gera um desconhecimento dos reais riscos que eles correm
desempenhando as funções que são designadas. “Todo mundo sabe como usar porque já viu
outra pessoa usando, mas explicar de verdade ninguém explica não.” – mestre-de-obras. “Até
já tentei usar a luva, mas atrapalha muito, demoro mais para fazer o serviço, é ruim de pegar
as coisas”.
Percebeu-se pela pesquisa que os trabalhadores conhecem os equipamentos
básicos, mas não sabem que um mesmo equipamento tem diversos tipos para ser usado e se
adequar ao uso em diferentes funções, existe diversos tipos de luvas, diversos tipos de
capacetes e diversos tipos de máscaras, entre outros. Mas o que se vê nas obras é o mesmo
tipo de equipamento sendo distribuído para todos os funcionários: um kit básico com
uniforme, capacete (igual para todos), óculos (igual para todos), bota e luvas (iguais para
todos); não há adequação dos EPI para diferentes funções.
Com estas respostas, pode-se constatar que a falta de informação, a falta de
conscientização sobre segurança e a ergonomia do equipamento de proteção são motivos da
resistência ao uso adequado do EPI. Essa falta de informação e conscientização ocasiona a
retirada do mesmo em algum momento da rotina de trabalho. Este ato pode causar acidentes,
graves ou não, que geram transtornos a todos. Ao evitar esse tipo de atitude, reduz-se a
probabilidade de ocorrência dos acidentes, e consequentemente aumenta-se a segurança de
todos.
Conforme os resultados obtidos neste estudo, observou-se que existem muitos
fatores que condicionam a postura dos trabalhadores e que podem reduzir a eficiência dos EPI
quanto à garantia de segurança, como:

• Não utilização dos EPI, ou por descuido da empresa ou por negligência do


trabalhador, considerando que o equipamento pode causar certo incômodo, ou
simplesmente pela falta de atenção;
• Falta de informação correta sobre o uso dos EPIs pelos trabalhadores, gerando
resistência ao uso durante a execução do trabalho;
• Desconhecimento sobre qual equipamento é obrigatório para determinada função;
50

• Inadaptabilidade do EPI, que não leva em conta as características físicas/


antropométricas dos operários, tendo sempre um tamanho padrão baseado no
modelo americano;
• “Criatividade do brasileiro”, que acham o equipamento desconfortável e resolvem
complementar o EPI por conta própria de acordo com as necessidades percebidas.

O estudo apontou que os problemas iniciam já na gestão da segurança do trabalho


das empresas; isso se acentua pela alta rotatividade de trabalhadores e a baixa qualificação da
mão-de-obra requerida, como obstáculos a serem superados para a melhoria da segurança no
ambiente de trabalho.
Apenas a exigência do uso do EPI e o simples fornecimento não impedem que
acidentes aconteçam. Além da preocupação em fornecer treinamentos e conscientização dos
riscos da não utilização ou do uso incorreto dos equipamentos, é importante levar em
consideração a escolha do equipamento mais adequado à função e ao funcionário visando
conforto e mobilidade, além de uma melhor aceitação por parte de seus usuários.
Com base nos dados obtidos com a entrevista em campo, constatou-se que a falta
de conhecimento e que a falta de ergonomia dos equipamentos são os principais fatores para a
não utilização do EPI.
É necessário que seja feita uma avaliação da capacidade de adaptação do EPI em
relação ao usuário, considerando não só questões antropométricas, mas os materiais utilizados
e como estes se comportam nas diferentes condições de temperatura e intensificar a
conscientização dos trabalhadores sobre o uso do equipamento, para que o ambiente de
trabalha torne-se mais seguro e traga mais qualidade durante a realização de suas funções.

3.4 RECOMENDAÇÕES

Algumas recomendações podem ser realizadas tendo como base esse estudo.
Através da aplicação do questionário, concluiu-se que não é suficiente apenas cumprir a
norma e fornecer os equipamentos de proteção, é necessário entender que cada um é
responsável pelos cuidados da atividade que está exercendo.
Dentre as causas de acidentes nos canteiros de obra destacam-se atos inseguros e
condições inseguras, resultantes dos riscos e perigos existentes no ambiente de trabalho. Os
riscos têm relação com fatores ambientais e ergonômicos, representados pelo ambiente de
51

trabalho e pelas condições de trabalho, sem excluir o comportamento do trabalhador. A falta


de cobrança de utilização do EPI é também causa de acidente nos canteiros de obras
observados. É necessária a fiscalização constante dos canteiros de obras.
Na prática, existe a necessidade urgente de se falar, expor a importância do bem
estar na atividade laboral. Pelas respostas recebidas no questionário, os funcionários estão
dispostos e interessados em aceitar a “educação” da segurança no trabalho.
Recomenda-se para as empresas a implantação de uma equipe de segurança do
trabalho em ação monitorar os acontecimentos e para reconhecer e corrigir as condições de
risco no ambiente laboral. A implantação de uma “cultura prevencionista” é a medida chave
para a prevenção de acidentes; a busca por mudanças de atitudes conseguidas através do
comportamento prevencionista irá reduzir a taxa de acidentes. E é esse o objetivo principal da
segurança de trabalho: ações preventivas e ações corretivas; buscando o máximo da eficiência
e eficácia do ambiente, do processo de trabalho resultando numa melhor qualidade de trabalho
e de vida. Quanto ao EPI, como já falado anteriormente, precisam ser adaptados a cada
função. Não é um único capacete, uma única luva e o protetor facial padrão que se adequa a
todos os tipos de trabalhadores na mesma obra. Deve ser levado em considerado aqueles que
melhor se ajustam ou se adequam a determina atividade, isto é, deve-se considerar também a
ergonomia dos equipamentos.
52

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor da construção civil apresenta grande oferta de uma mão de obra pouco
qualificada. Isto se deve ao fato de que a contratação para a execução dos trabalhos braçais
geralmente não exige muita experiência, prevalecendo, assim, a quantidade sobre a qualidade.
Além da baixa qualificação, observa-se também alta rotatividade no setor, e constante
substituição dos trabalhadores.
Nas obras que foram visitadas para fazer a entrevista com operários, o foco dos
serviços está no prazo e no custo, estes, por sua vez, sempre destacados com a frase de que
“tempo é dinheiro”. Os programas de treinamento e conscientização mesmo sendo vistos por
muitos empregadores do setor como despesas e tempo perdido, são vistos de forma positiva
pelos operários.
Sobre ergonomia e EPI, pode-se notar que o incômodo pelo uso destes
equipamentos pelos trabalhadores gera resistência à utilização durante a execução de alguns
serviços; mesmo quando a empresa cumpre com as leis do trabalho, fornecendo EPI,
disponibilizando técnicos responsáveis pela aquisição e distribuição e instrução de uso do
EPI. Foi constatado com o estudo que mesmo que exista falta de informação e até de
conscientização sobre segurança e a ergonomia do equipamento de proteção; o principal
motivo para causa de acidentes é o desconforto causado pelo uso do EPI, que acaba por
ocasionar falta de utilização ou retirada do mesmo em algum momento. Evitando esse tipo de
atitude, reduz-se a probabilidade de ocorrência dos acidentes, consequentemente aumentando
a segurança de todos.
Observou-se, que mesmo existindo esforços por parte das empresas, a segurança
do trabalho ainda é um assunto tratado em segundo plano e mesmo que todos estejam cientes
da importância da utilização do EPI, não haverá um resultado positivo, enquanto houver a
ausência de uma prática de antecipação, com um planejamento de como deve ser feita a
prevenção dos riscos do processo de produção ou do método de trabalho. Quando há um
planejamento onde as questões de segurança são pensadas desde o principio, mais pra frente
não serão vistas como gastos ou acréscimos no valor da obra.
As empresas precisam adotar políticas de qualidade e de segurança visando à
melhoria das relações de trabalho, maior envolvimento dos trabalhadores, maior senso de
coletividade e companheirismo; um trabalho de educação junto ao colaborador quanto à
segurança do trabalho. Essa educação pode ser feita através de palestras, treinamentos e
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conscientização, mas não pode ser feita de modo que se mostre como uma obrigação à
segurança, mas sim uma conscientização para os operários; e não um fardo.
Entre as limitações identificadas no estudo verificou-se principalmente a escassez de
informações técnicas que permitam estimar o real problema ergonômico dos equipamentos
quando aplicados às características físicas dos operários da construção civil e Às condições
ambientes dos lugares onde executam trabalhos. Como sugestões e/ou pesquisas futuras,
destaca-se a análise ergonômica dos equipamentos de proteção disponíveis no mercado e sua
melhor adaptação às diferentes funções da construção civil visando maneiras de diminuir os
incômodos relatados pelos operários além de uma análise relacionando as diferentes
condições climáticas de cada região e a interferência que estas podem vir a causar no uso de
equipamentos.
54

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ANEXOS
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APÊNDICE I – Questionário Aplicado

Nome:
Função:
Idade:
Tempo na profissão:
Tempo na empresa:

1- A empresa fornece equipamentos de segurança?

( ) Sim ( ) Não

Caso sim; quais?


___________________________________________________________________________

2- Os equipamentos fornecidos pela empresa são específicos para cada função ou todos os operários
recebem os mesmo equipamentos? Poderia citar alguns?

( ) Específico ( ) Os mesmos
___________________________________________________________________________

3- Houve algum momento de treinamento para que o uso dos equipamentos (EPI) fosse ensinado aos
operários?

( ) Sim ( ) Não

4- Você tem conhecimento de todos os equipamentos de segurança que precisam ser usados pra
desenvolver a sua função?

( ) Sim ( ) Não

5- Você usa algum equipamento de segurança durante a realização do seu trabalho na empresa?

( ) Sim ( ) Não

Caso sim; quais?

6- Você deixa de usar algum equipamento de segurança que foi fornecido pela empresa durante a
realização do seu trabalho?

( ) Sim ( ) Não
Caso sim, por que?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________

7- Existe fiscalização por parte da empresa para verificar se os operários estão usando os equipamentos de
segurança fornecidos?

( ) Sim ( ) Não

8- Você tem conhecimento dos riscos que corre na sua profissão?

( ) Sim ( ) Não
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9- O que você acha que pode ser feito pela empresa para melhorar a qualidade do ambiente de trabalho e a
segurança dos funcionários?

___________________________________________________________________________________

10- Você utiliza o equipamento de segurança o tempo todo enquanto está realizando o serviço?
11- ( ) Sim ( ) Não

Caso não, por qual motivo?


___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

11 - Você realiza trabalhos como autônomo também?

( ) Sim ( ) Não

Caso sim, diga como utiliza os procedimentos de segurança nos trabalhos realizados fora da empresa.

_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________

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