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“Política” é profissão?
Luis Eduardo Pantolfi de Souza 20/09/2016 às 13:51
Dias atrás, após oferecimento de denúncia pelo Ministério Público Federal, o ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais um dos seus discursos acalorados, utilizou
uma frase que não soou bem aos ouvidos de muitos (inclusive, dos meus). E não digo aqui
sobre a infeliz colocação do ex-presidente de que os funcionários públicos concursados
seriam “analfabetos políticos” (cuja defesa deixo a cargo do próprio funcionalismo
público), mas sim, no que tange, ao meu ver, sobre a equivocada alegação de que a
“profissão mais honesta é a do político.”
Sob o ponto de vista legal, não, político não é profissão. Para tanto, basta observar o
disposto no artigo 39, parágrafo 4º, da Constituição Federal,:“§ 4º O membro de Poder, o
detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o
disposto no art. 37, X e XI.”
Ou seja, da simples leitura do dispositivo acima, já se extrai que os agentes políticos
(do presidente da república aos vereadores), não possuem qualquer “vínculo de natureza
profissional com o estado”, conforme voto do ministro-relator Marco Aurélio, nos Autos
do Recurso Extraordinário nº 650.898, ainda pendente de julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal.
Tanto não possuem qualquer vínculo de natureza profissional, que sequer poderão
ser enquadrados na Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que trata das “sanções aplicáveis
aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional”. Reza
o artigo Art. 2° da mencionada Lei, que: “Reputa-se agente público, para os efeitos desta
lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.”
O próprio Ministério do Trabalho e Emprego divulga em seu site [1] uma “Listagem das
Profissões Regulamentadas”, que vai de administrador à zootecnista (são mais de 60
profissões) e no extenso rol também não se encontra nada parecido com “política” ou
“agente político”.
O renomado professor Luiz Flávio Gomes, em artigo publicado aos 18/03/2015 , traz
um levantamento assustador, ao menos para a democracia, ao delinear que “dentre os 47
políticos citados (na decisão de Teori Zavascki, ministro do STF) temos o seguinte: 1 deles
começou sua carreira na década de 1960 (Benedito de Lira), 5 deles na década de 1970
(Simão Sessim, Edison Lobão, Renan Calheiros, Fernando Collor, Pedro Corrêa), 11 deles
na década de 1980 (José Olimpio Silveira Moraes, Vilson Covati, Valdir Raupp, Roberto
Balestra, Aníbal Gomes, João Felipe de Souza Leão, João Sandes Jr., José Otávio
Germano, Nelson Meurer, José Mentor, Romero Jucá), 17 deles na década de 1990
(Roseana Sarney, José Linhares, Mário Negromente, Humberto Sérgio Costa Lima, Pedro
Henry, Arthur Lira, Luiz Carlos Heinze, Carlos Magno, Dilceu Sperafico, Lindbergh Farias,
Afonso Hamm, Luiz Fernando Ramos Faria, Renato Molling, Roberto Pereira Brito, Ciro
Nogueira, João Pizzolatti, Cândido Vacarezza, Agnaldo Velloso), 12 deles na década de
2000 (João Argôlo Filho, Eduardo Cunha, Jerônimo Goergen, Vander Loubet, Roberto
Teixeira, Antônio Anastasia, Aline Corrêa, Eduardo Henriqueda Fonte Albuquerque e Silva,
Gladson Cameli, Lázaro Botelho, Waldir Maranhão) e apenas um na década de 2010 (Gleisi
Hoffman).”
Naturalmente que em razão dessa extensa “carreira” política, a maioria esmagadora dos
políticos acima citados não exercem quaisquer outras atividades renumeradas, vivendo
única e exclusivamente da função de agentes políticos, eleitos pelo povo, em outras
palavras, não será incorreto dizer que já são verdadeiros “políticos profissionais”.
[1] http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/regulamentacao.jsf#p
[2] http://www.conjur.com.br/2012-out-09/atividade-vereador-nao-profissao-
nao-remunerada
[3] http://oeconomes.blogspot.com.br/2011/05/para-estudiosos-politica-nao-
deve-ser.html
[4] http://www.oab.org.br/noticia/27950/artigo-politica-nao-e-profissao
[5] http://oglobo.globo.com/opiniao/politica-nao-profissao-
20076034#ixzz4Knfk3xt3
[7] http://www.espacoacademico.com.br/040/40andrioli.htm
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Ciência Política Direito Administrativo Direito do Trabalho
Sobre o autor
Luis Eduardo Pantolfi de Souza
Advogado, especialista em Direito Contratual pela EPD/SP. Atuação nas
áreas do Direito Empresarial Cível (com ênfase em recuperação de crédito
judicial e extrajudicial), Família e Trabalhista.
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