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EMBRIOLOGIA DO ANFIOXO
As primeiras etapas do desenvolvimento, com poucas
exceções, são comuns a todos os animais: segmentação,
gastrulação e organogênese.
O anfioxo é um pequeno cordado marinho que vive
semienterrado nas areias próximas às praias, filtrando a
água do mar para obter seu alimento. Sua organização
corporal é muito simples se comparada à maioria dos
cordados atuais. Além disso, o fato de se desenvolver GASTRULAÇÃO
diretamente no meio aquático, facilita a observação das A partir da blástula, tem inicio o processo de
etapas iniciais do desenvolvimento embrionário em gastrulação que consiste numa série de movimentos
laboratório. Por apresentar um tipo de ovo muito celulares que levarão o embrião a adquirir um aspecto
semelhante ao do ser humano, esse pequeno animal é totalmente diferente. Nos anfioxos ocorre invaginação da
utilizado como padrão no estudo das etapas iniciais do camada celular formada pelos macrômeros, que se
desenvolvimento dos cordados. projeta para dentro da blastocele, dobrando-se na direção
da camada de micrômeros. Inicialmente, o embrião será
formado por duas camadas de células que delimitarão
uma nova cavidade, a gastrocele. Essa nova cavidade
corresponde ao intestino primitivo, também conhecido
como arquêntero (do grego: arqueos, primeiros e
enteron, intestino). Esse estágio do desenvolvimento do
embrião é denominado gástrula. Além das duas camadas
que delimitam a gástrula, outra diferença observada em
relação à blástula é a presença do blastóporo, um orifício
que comunica o arquêntero (intestino primitivo) com o
meio externo. Nos cordados, o blastóporo originará o
Observe, na imagem, que na vida adulta, o anfioxo
ânus.
apresenta a notocorda persistente, além do sistema
nervoso dorsal, fendas faringianas, cauda pós-anal e
musculatura segmentada. A ocorrência dessas
características simultaneamente é típica apenas das
primeiras fases embrionárias da maioria dos cordados
atuais. Os ovos dos anfioxos são oligolécitos com
distribuição heterogênea dos grânulos de vitelo. Sua
segmentação, portanto, é total e desigual.
FORMAÇÃO DA MÓRULA Na maioria dos animais haverá a formação de uma
Após as duas primeiras segmentações, há formação terceira camada embrionária entre as observadas na
de quatro blastômeros de mesmo tamanho. No entanto, a gástrula até aqui. Essas camadas são os folhetos
terceira segmentação é perpendicular às duas primeiras e embrionários.
origina quatro micrômeros e quatro macrômeros, Os animais que apresentam apenas dois folhetos
totalizando oito blastômeros. A partir daí, os planos de embrionários são chamados diblásticos, ou diploblásticos
segmentação serão alternadamente perpendiculares (do grego: diploos, duplo). O folheto embrionário externo
entre si, de maneira que após algumas divisões, o é a ectoderme e o que reveste internamente o
conjunto de blastômeros adquire o aspecto arquêntero é a endoderme. No entanto, assim como o
aproximadamente esférico, maciço e compacto, anfioxo, a maioria dos animais é triblástica ou
semelhante a uma amora. Devido a essa semelhança, essa triploblástica. A partir da gástrula forma-se a mesoderme,
figura embrionária recebeu o nome de mórula. um terceiro folheto embrionário situado entre a
ectoderme e a endoderme.
A importância da gastrulação está relacionada com a
formação dos folhetos embrionários, pois é a partir deles
que se originarão todos os tecidos e órgãos do embrião.
Maria Eduarda Bet - Embriologia
NEURULAÇÃO de células que reveste o intestino primitivo é a
endoderme.
Para que se possa acompanhar as principais
Assim, o revestimento interno do intestino e todas as
transformações embrionárias, a partir do estagio de
estruturas que derivam dele, como o revestimento
gástrula, é necessário observá-las da perspectiva de um
interno do sistema respiratório e da bexiga urinaria e as
corte transversal do embrião.
glândulas anexas do sistema digestório, têm origem
Nos cordados, a formação da mesoderme coincide
endodérmica.
com o surgimento do tubo neural, uma estrutura
embrionária dorsal que vai originar o sistema nervoso do
animal. Por essa razão, denomina-se nêurula o estágio de
gástrula adiantada a partir do qual se dá a formação do
sistema nervoso.
ORGANOGÊNESE
A gástrula nessa fase inicial tem a forma A organogênese é o processo pelo qual ocorre a
aproximadamente cilíndrica. Nos cordados, a extremidade formação dos tecidos e órgãos de um novo organismo a
na qual está localizado o blastóporo corresponde à partir dos três folhetos embrionários.
extremidade posterior do embrião, uma vez que aí se
originará o ânus.
Na região que corresponderá à superfície dorsal,
células da ectoderme, geneticamente programadas, se
dispõem de maneira a promover um achatamento dessa
superfície e formar a placa neural (vide A, na ilustração a
seguir). Na sequência, essa placa é recoberta por células
da própria ectoderme, ao mesmo tempo em que se
desdobra a forma a constituir um sulco voltado para a
superfície dorsal, o sulco neural. ANEXOS EMBRIONÁRIOS
As bordas do sulco neural se aproximam e acabam A conquista definitiva do ambiente terrestre pelos
por se fundir, resultando no tubo neural, separando o vertebrados foi possível devido a fatores como a presença
sulco neural da superfície externa do embrião. Portanto, o de patas para a locomoção, pele impermeável, respiração
tubo neural e, consequentemente, o sistema nervoso têm exclusivamente pulmonar e reprodução independente da
origem ectodérmica. Simultaneamente, a camada que água.
reveste o intestino primitivo sofre movimentos que Especificamente no caso da reprodução, o ovo
originam a notocorda e os somitos. A notocorda é uma terrestre ou ovo amniótico que surgiu nos répteis foi uma
estrutura inicialmente tubular, que se forma ao longo da estrutura fundamental para o desenvolvimento do
porção superior do intestino primitivo (o “teto” do embrião em ambiente seco (fora da água) e sem contato
arquêntero). Durante a neurulação, torna-se maciça, com com o meio externo.
consistência de cartilagem, exercendo a função de A formação de um ovo começa pela reprodução com
sustentação do embrião (vide B, na ilustração a seguir). fecundação interna, isto é, o encontro do espermatozoide
Nas porções superiores laterais do embrião, de cada com o óvulo ocorre dento do corpo das fêmeas e não
um dos lados do arquêntero projetam-se duas bolsas, mais na água, como nos anfíbios. Uma vez fecundado, o
inicialmente ocas, os somitos, delimitando uma nova ovo (gema) é envolvido pela clara e recebe a casca, sendo
cavidade corporal, o celoma. A maioria dos órgãos e eliminado para o ambiente onde ocorrerá o
estruturas desse novo organismo é formada a partir dos desenvolvimento do embrião até seu nascimento (eclosão
somitos, sendo que uma boa parte dos órgãos internos do ovo).
(vísceras) vai se alojar no celoma (vide C, na ilustração a Pensando na estrutura do ovo, podemos formular
seguir). algumas questões. Como o embrião consegue se
A camada de células que reveste os somitos passa a alimentar dentro do ovo? E como obtém oxigênio? Para
ser considerada a mesoderme do embrião. Portanto, a onde vão suas excretas? O ovo não desidrata ficando em
notocorda, os somitos e todas as estruturas que vão se contato com o ar? Para responder a todas essas questões,
originar a partir deles têm origem mesodérmica, sendo precisamos conhecer e entender as funções dos anexos
que o celoma é uma cavidade totalmente revestida pela embrionários, estruturas produzidas pelo embrião e
mesoderme. utilizadas apenas durante seu desenvolvimento, sendo
Finalmente, as bordas inferiores do revestimento do descartadas ao nascer.
intestino primitivo se aproximam e se fundem, São quatro os anexos embrionários: vesícula vitelínica
continuando a constituir o intestino do embrião, cuja (ou saco vitelínico), alantoide, âmnio e cório. Observe a
posição torna-se cada vez mais ventral. A camada interna ilustração.
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materno pela placenta, que é rica em vasos sanguíneos,
todas as trocas de substâncias, como nutrientes, gases,
anticorpos, hormônios e excretas, ocorrem entre o
sangue materno e o sangue fetal. Não há vesícula
vitelínica desenvolvida, ela permanece atrofiada e é
encontrada no interior do cordão umbilical. O mesmo
ocorre com o alantoide, que não armazena excretas, elas
A vesícula vitelínica armazena o vitelo, substancia são enviadas diretamente à circulação materna.
rica em lipídeos e proteínas, que alimentará o embrião no É importante ressaltar que não ocorre mistura de
período em que estiver se desenvolvendo no interior do sangue materno e fetal durante o desenvolvimento
ovo. As proteínas são matéria-prima importante para a embrionário. Todas as substâncias são trocadas por
construção do corpo do embrião, enquanto os lipídeos difusão através das paredes dos vasos sanguíneos. A
representam a reserva de energia que será utilizada nesse porção embrionária da placenta é formada pelo cório e
período. A vesícula vitelínica está ligada ao tubo pela mesoderme do alantoide, que origina os muitos
digestório do embrião, o que facilita a absorção do vasos sanguíneos desse órgão.
material nutritivo. Assim, o embrião não precisa de Quanto aos anexos embrionários, podemos concluir
alimento do meio externo, pois carrega vitelo suficiente que todos eles (vesícula vitelínica, alantoide, âmnio e
dentro do ovo para todo o período de desenvolvimento. cório) estão presentes desde os répteis até os mamíferos.
Embora esse anexo tenha função fundamental nos Nos mamíferos placentários, algumas dessas estruturas
embriões que se desenvolvem no interior de ovos, há estão atrofiadas no cordão umbilical (vesícula vitelínica e
ocorrência de vesícula vitelínica em algumas espécies de alantoide).
peixes cujos ovos são telolécitos, nos quais é encontrada
“pendurada”, externamente, na região abdominal do
embrião.
O alantoide armazena cristais de ácido úrico, excreta
nitrogenada insolúvel gerada pelo metabolismo do
embrião. Ele também está ligado ao tubo digestório,
assim como a vesícula vitelínica. O alantoide, com o cório,
forma uma membrana muito vascularizada, chamada
alantocório, que se mantém em contato com a casca e é
responsável pelas trocas gasosas entre o embrião e o
ambiente. Outra função desse anexo é absorver cálcio da
casca, usado no fortalecimento dos ossos. Ao perder esse
mineral, a casca vai ficando mais frágil, facilitando a saída
do filhote ao final do desenvolvimento.
O âmnio é uma bolsa que envolve o embrião. No seu
interior, há o liquido amniótico, no qual o embrião fica
mergulhado e protegido contra desidratação e choques
mecânicos. Ao longo do desenvolvimento esse liquido vai
sendo absorvido.
O cório (ou serosa) é uma membrana originada da
dobra do âmnio, e envolve o embrião e todos os outros
anexos embrionários, protegendo todo esse conjunto.
Além disso, com o alantoide, é responsável pela troca
gasosa do embrião com o ambiente.
PLACENTA
A maioria dos mamíferos se desenvolve no interior
do útero materno. Eles não estão dentro de ovos com
casca e não carregam consigo seu alimento ou uma
vesícula para as excretas. Estando dentro do corpo das
mães, até a obtenção de oxigênio seria difícil. Como
resolver esses problemas? A resposta a essa pergunta é:
placenta.
A placenta é um órgão formado principalmente a
partir de anexos embrionários e de tecidos maternos
derivados do endométrio (camada que reveste o útero
internamente).
O embrião dos mamíferos também fica mergulhado
no líquido amniótico, contido no interior do âmnio (bolsa
amniótica), assim como ocorre com os repteis e as aves.
Como o embrião dos mamíferos está conectado ao útero