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EXTENSIVO E TERCEIRÃO 02
PORTUGUÊS A
01. (ACAFE – SC/2022) – Assinale a frase correta b) ao paralelismo sintático entre complementos di-
quanto à regência verbal e nominal: ferentes.
a) Devido à essa questão, a inclusão do assunto c) à regência dos verbos cujo complemento é feito
relativamente a expansão da fábrica agora não pelos pronomes.
é pertinente sobre o tema. d) à substituição e à diversificação de comple-
b) A causa do atraso tem a ver tão somente com mentos já apresentados.
a aversão que ele sente por tarefas que lhe exi- e) ao contexto de circulação e à formalidade da
gem um certo esforço intelectual. situação de comunicação.
c) Recomendou-lhe, todavia, que não dissesse
O texto a seguir é referência para a próxima
a seus pais o desamparo que o vira, para não
questão:
lhes deixar ainda mais constrangidos.
d) As universidades são organizações que você ESTUPOR
pode abandonar uma pesquisa sem ser osten- esse súbito não ter
sivamente cobrado disso. esse estúpido querer
que me leva a duvidar
02. (ACAFE – SC/2023) – A única frase que não apre-
senta desvio em relação à regência (nominal e quando eu devia crer
verbal) recomendada pela norma culta é: esse sentir-se cair
a) No meu relógio já deu seis horas de atraso. quando não existe lugar
b) Ninguém responde o professor daquele jeito aonde se possa ir
insolente. esse pegar ou largar
c) Sairei do trabalho ao meio-dia e meia. essa poesia vulgar
d) Tenho horror de barata. que não me deixa mentir
que pode ser aquilo,
03. (PUCPR/2023) – O texto a seguir é referência
lonjura, no azul, tranquila?
para a próxima questão:
se nuvem, por que perdura?
Erico Verissimo disse a ela que mandasse
montanha,
imediatamente uma carta a Lescure, o que ela
fez. “Apresso-me em informar-lhe”, escreveu em como vacila?
seu francês mais formal, “que não posso consentir Fonte: LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo:
Companhia das letras, 2013, p. 249.
na publicação do livro em seu estado atual.” A
tradução era “escandalosamente ruim... muitas
04. (UEPG – PR/2023) – Em relação ao poema, assi-
vezes ridícula mesmo”. Por isso, escreveu ela,
nale o que for correto.
“prefiro que o livro não seja publicado na França a
vê-lo aparecer tão cheio de erros”. 01) No segmento “não existe lugar / aonde se
MOSER, B. Clarice, uma biografia. São Paulo: possa ir”, o termo destacado poderia ser subs-
Cosac Naify, 2011, p. 358 tituído pela locução “para onde” sem que hou-
As duas ocorrências de pronomes destacadas no vesse prejuízo semântico para a correta com-
texto são formas de 3a. pessoa singular. A escolha preensão do trecho.
entre uma ou outra para exercer a função de 02) No trecho “não existe lugar / aonde se possa
complemento verbal, como ocorre no contexto, ir”, o vocábulo destacado poderia ser trocado
está relacionada pela locução “no que” sem que houvesse pre-
a) à concordância singular com os referentes juízo semântico para a compreensão correta
anteriores. do segmento.
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Português A Revisão 2 Extensivo e Terceirão
04) Na frase “se nuvem, por que perdura?”, a 07. (ACAFE – SC/2023) – Observe as seguintes pla-
palavra destacada poderia ser alterada para cas de trânsito:
o termo “persiste” sem que houvesse prejuízo
semântico para a interpretação correta do pe-
ríodo.
08) Na oração “se nuvem, por que perdura?”,
o item destacado poderia ser substituído
pelo vocábulo “sucumbe” sem que houvesse
prejuízo semântico para a correta interpretação
do período.
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Manhã / Tarde / Noite
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09. (SLMANDIC – SP/2023) – Dadas as sentenças: O acento indicativo de crase pode ser motivado
I. Estou a seu dispor à todo momento a menos por várias combinações morfossintáticas. No
que surja alguma visita. contexto em que ocorre, no trecho de texto lido,
ele se justifica por
II. O doente bebia o remédio gota à gota.
a) contração entre duas preposições iguais, mar-
III. Dirigiam-se à casa das máquinas.
cadas pelo acento para evitar repetição.
IV. A carreira à qual aspiro é almejada por muitos.
b) introdução de uma expressão adverbial forma-
Estão corretamente acentuadas as orações da a partir de substantivo feminino (à luta).
a) I, II, III e IV; c) soma de preposição (exigida pelo verbo) e da
b) III e IV, apenas; forma feminina de pronome demonstrativo.
c) I e II, apenas; d) indicação de retomada de estrutura nominal su-
d) II e III, apenas; bentendida pela regência verbal.
e) II e IV, apenas. e) combinação entre preposição (exigida pelo verbo)
e artigo (antecedendo o substantivo feminino).
10. (FPP – PR/2021) – Observe as informações a se- 12. (PUCPR/2023) – O texto a seguir é referência
guir e os vocábulos destacados: para a próxima questão:
Os dados da alfabetização no Brasil estão
Uma celebração às diferenças: Longe da Árvore longe de serem ideais (1). Segundo a Pesquisa
fala sobre expectativas dos pais em relação aos Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua
filhos. Educação de 2019, do IBGE, são 11 milhões de
Disponível em: < https://leiturinha.com.br/blog/longe-da- brasileiros analfabetos. Mas os dados preocupam
arvore/>. Acesso em: 10/02/2020 mais ainda quando se fala em analfabetismo
As duas combinações destacadas no texto funcional – a incapacidade de, mesmo sabendo
(às e aos) podem ocorrer por diferentes motivos e ler, compreender e interpretar textos e ideias e
encontram-se devidamente descritas na alternativa: fazer operações matemáticas. Estudos estimam
que até 29% da população brasileira seja
a) No primeiro caso, temos junção de preposição analfabeta funcional (2) – pessoas que encontram
e artigo e no segundo, conjunção. dificuldades em encontrar emprego, se qualificar
b) Em ambos os casos, a exigência de preposição na carreira e até mesmo em organizar a vida e as
se dá pela regência verbal. finanças pessoais.
c) Nos dois casos, trata-se da junção entre prepo- Muito dessa problemática advém (3) do déficit
sição e artigo definido. de hábito de leitura entre a população brasileira.
Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”
d) No segundo caso, há combinação de dois arti- divulgada em 2020, somente 52% dos brasileiros
gos, e no primeiro, preposição e artigo. têm (4) o costume de ler. A média nacional de li-
e) No segundo caso, temos regência nominal; no vros inteiros lidos em um ano é (5) de 4,2 livros
primeiro, verbal. por pessoa. E entre 2015 e 2019, o país perdeu
46 milhões de leitores.
Disponível em: <https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/
11. (PUCPR/2023) – O texto a seguir é referência especial-publicitario/prefeitura-municipal-de-jaragua-do-sul/
para a próxima questão: viver-jaragua/noticia/2021/11/12/analfabetismo-funcional-
atinge-29percent-da-populacao-brasileira.ghtml>. Acesso em:
POR QUE, NAS VÁRIAS HISTÓRIAS 04/03/22
QUE SE ENTRELAÇAM NO LIVRO, Acerca das relações de concordância, com base
A FAMÍLIA TEM UM PESO ESPECIAL? nas estruturas contidas no texto, assinale a
afirmação correta:
Dizia o poeta William Wordsworth: “A criança
é o pai do homem”, querendo nos dizer que a a) Em (3), caso o núcleo fosse “problemáticas”, a
infância é a origem do que vamos fazer quando forma verbal seria “advêm”.
adultos. Mas acredito que se pode escapar dessa b) Em (1), o verbo “ser” deveria ficar no singular
origem condenatória. Assim, Pablo teve uma por concordar com alfabetização.
infância que teve de abandonar para ir à luta. E c) Em (2), o verbo “ser” poderia concordar com
isso é um sinal muito evidente de que, de alguma “Estudos” e ir para o plural.
forma, vamos carregar uma pedra na mochila ao
d) Em (5), o verbo “ser” fica no singular por se tra-
longo da vida.
tar de emprego de voz passiva.
Disponível em: < https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-
e-lazer/noticia/2022/06/em-a-boa-sorte-rosa-montero- e) Em (4), mesmo que o substantivo acompanhan-
descreve-as-contradicoes-que-marcam-todas-as-existencias- do o percentual fosse singular, seria mantida a
cl4js14bh000n01hmrnghuw2w.html>. Acesso em: 15/07/22
forma “têm”.
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Português A Revisão 2 Extensivo e Terceirão
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15. (FUVEST – SP/2023) – O uso dos verbos “passar” comer, ele próprio não acabe comido. Na vida
(2º parágrafo) e “tentar” (3º parágrafo) no texto, selvagem, o animal está obrigado a dividir sua
em sua forma pronominal, revela atenção em diversas atividades. Por isso, não é
a) adequação à forma analítica da voz passiva; capaz de aprofundamento contemplativo – nem para
comer, nem no copular. O animal não pode mergulhar
b) construção com conjunção integrante;
contemplativamente no que tem diante de si, pois tem
c) marcação da impessoalidade do discurso; de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás de si.
d) informalidade correspondente ao gênero dis- Não apenas a multitarefa, mas também atividades
cursivo; como jogos de computador geram uma atenção
e) ênfase na reciprocidade da linguagem. ampla, mas rasa, que se assemelha à atenção de um
animal selvagem. As mais recentes evoluções sociais
16. (UNEX – BA/inverno de 2022) – Texto: e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada
Um dado que, muitas vezes, passa vez mais a sociedade humana da vida selvagem.
despercebido é que o segundo estudante só toma Extraído e Adaptado de: HAN, Byung-Chul. Sociedade do
cansaço. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p. 31-32
a decisão de sair correndo depois que o primeiro
confirma que o leão da montanha é mais rápido
que um ser humano.
17. (UFPR/2023) – Assinale a alternativa que recupe-
ra a tese central do texto de Byung-Chul Han:
Em relação ao conectivo oracional “que”, nas a) A vida na sociedade pós-moderna é mais diver-
diferentes situações em que se encontra nessa sificada que a de épocas mais remotas e não
frase, é correto afirmar: apresentou progresso civilizatório.
a) Na oração “que, muitas vezes, passa desperce- b) A sociedade humana, assim como a vida selva-
bido”, possui valor conjuntivo. gem, exige a execução de multitarefas, por isso
b) Em “é que o segundo só toma a decisão de sair não desenvolve a contemplação.
correndo”, introduz uma oração substantiva. c) A estrutura da atenção humana em relação ao
c) No trecho “depois que o primeiro confirma”, es- controle do tempo para execução de múltiplas
tabelece com o pensamento a que se liga uma tarefas foi redimensionada positivamente.
relação de concessão. d) A sobrecarga de tarefas demanda atenção especí-
d) No fragmento “que o leão da montanha é mais fica e tempo dispendido diferenciado tanto para a
rápido”, é um pronome relativo. vida selvagem quanto para a sociedade humana.
e) Na oração “que um ser humano”, expressa con- e) As mudanças na estrutura de atenção humana,
dição. atualmente, ao invés de serem um ganho civi-
O texto a seguir é referência para as duas próximas lizatório apresentam um retorno ao comporta-
questões: mento animal.
O TÉDIO PROFUNDO 18. (UFPR/2023) – Para a adequada interpretação do
O excesso de positividade se manifesta texto, é necessário identificar a que informações,
também como excesso de estímulos, informações apresentadas previamente, correspondem algumas
e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e expressões de sentido vago e empregadas pelo
economia da atenção. Com isso se fragmenta e autor. Isso posto, considere as seguintes afirmativas:
destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga 1. Na expressão “para que”, “que” é pronome rela-
de trabalho torna necessária uma técnica específica tivo cujo referente é “ele próprio”.
relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos
2. O termo destacado na expressão “trata-se” re-
novamente na estrutura da atenção. A técnica
fere-se a “técnica de atenção”.
temporal e de atenção multitasking (multitarefa)
não representa nenhum progresso civilizatório. A 3. O termo grifado na expressão “que se asseme-
multitarefa não é uma capacidade para a qual só lha” é marca de indeterminação.
seria capaz o homem na sociedade trabalhista e 4. “Por isso” estabelece relação conclusiva com o
de informação pós-moderna. Trata-se antes de período imediatamente anterior.
um retrocesso. A multitarefa está amplamente Assinale a alternativa correta:
disseminada entre os animais em estado selvagem.
a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.
Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável
para sobreviver na vida selvagem. b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
Um animal ocupado no exercício da mastigação
de sua comida tem de ocupar-se ao mesmo tempo d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
com outras atividades. Deve cuidar para que, ao e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
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20. (MACK – PR/2023) – Na frase “A família é um conjunto de pessoas que se defendem em bloco e se atacam
em particular”, há duas ocorrências do pronome se, com, respectivamente, os valores de
a) pronome reflexivo / pronome reflexivo;
b) pronome recíproco / pronome recíproco;
c) pronome indeterminador do sujeito / pronome reflexivo;
d) pronome apassivador / pronome apassivador;
e) pronome reflexivo / pronome recíproco.
GABARITO
01. b 11. e
02. c 12. a
03. c 13. e
04. 05 (01 + 04) 14. e
05. c 15. c
06. b 16. b
07. b 17. e
08. e 18. a
09. b 19. e
10. c 20. e
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REVISÃO
EXTENSIVO E TERCEIRÃO 02
PORTUGUÊS B
Ouvindo mortos
Passava das quatro da madrugada de sábado, 9 de eu tinha, usava pra ir ao laboratório dissecar cadáveres.”
outubro, quando o celular da médica-legista Gabriela Pinto Apaixonou-se pelas aulas de anatomia e descobriu sua
tocou na sala de convívio do Instituto Médico Legal Afrânio vocação para legista. Em casa, inventava para os pais que
Peixoto, no Centro do Rio. Era o técnico de necropsia, ia acompanhar partos com um professor obstetra quando, na
Alexandre Braga Pereira, de 37 anos, que interrompia o sono verdade, seguia para o IML na companhia de um professor
das plantonistas para avisar que, naquele momento, mais de medicina legal.
quatro cadáveres haviam chegado ao necrotério. No beliche Certa vez, no laboratório da faculdade, Gabriela
ao lado de Gabriela, a segunda legista do plantão1, Antonieta recebeu o corpo de um homem cujo olho saltado só estava
Campos Xavier, perguntou animada: “Tem algum baleado?” preso à órbita por um feixe de nervos e músculos. Na época,
Quem trabalha com a doutora Antonieta conhece a ela namorava um rapaz que pensava em ser oftalmologista.
regra: os baleados são todos dela. Diz-se nos corredores do Querendo agradá-lo, deu-lhe de presente um vidrinho de
IML que é uma injustiça ela não constar no Guiness como formol com o olho dentro. O namorado achou o gesto de
recordista mundial em necropsias de baleados. Essa mau gosto e Gabriela ficou com o olho para si. Juntou-o a
circunstância faz com que Antonieta trabalhe mais do sua coleção de ossos. Ao casar, teve de se desfazer de tudo.
que seus companheiros. Grande parte das ocorrências O marido não gostou da ideia de conviver com esqueletos e
registradas ali é, no jargão dos legistas2, de Perfuração por olhos.
Armas de Fogo, ou PAFs. Dos 1 080 casos de homicídio que Gabriela tem 36 anos e trabalha há oito no IML. Ela
chegaram ao IML no primeiro semestre de 2010, 913 foram é baixa, magra, com músculos bem torneados. Os cabelos
por armas de fogo, uma média de cinco baleados por dia. lisos chegam quase à cintura. Naquela madrugada, usava
Antonieta, 66 anos, é uma mulher pequena, de um uniforme verde da Rede D’Or, onde também trabalha,
cabelos rebeldes e franqueza desconcertante. Para manter brincos de pérola e duas correntes de ouro: uma com a
a forma, corre, faz musculação e bicicleta.3 No trabalho, estrela de Davi, e outra com um pingente onde se lê o nome
costuma ser mais rápida que seus companheiros. Assim que do filho de 5 anos, Miguel. É ortopedista, como o pai, com
se desembaraça de seus baleados, se apressa em ajudar os quem divide um consultório particular. Não abriu mão, no
colegas. Já chegou a fazer 28 necropsias num só dia. entanto, de exercer a medicina legal. A decisão não agradou
O IML é o desaguadouro das misérias de uma à família, principalmente ao pai, que considera o ambiente de
cidade violenta. Ali só chegam vítimas de mortes não trabalho degradante e não entende o que a filha vê “na p... do
naturais – assassinados, acidentados, suicidas. Em média, IML”. Gabriela tem uma explicação: ali encontrou um modo
são autopsiados vinte corpos por dia. Às sextas-feiras, de dar vazão a seu sentimento moral. A medicina legal lhe dá
a estatística piora. “Sexta-feira é o Dia Internacional da a possibilidade de condenar culpados e absolver inocentes.
Matança. Hoje está sendo atípico, pudemos até descansar Gabriela busca compreender o que os mortos dizem com
um pouco”, disse Antonieta, referindo-se ao baixo movimento. seus corpos mutilados.
Desde que o plantão começara, às oito da noite, até aquela (...)
hora, haviam chegado apenas oito corpos. Antonieta foi a primeira a chegar à sala de necropsia.
A estatística podia ou não merecer alguma Estava bem-disposta, apesar das poucas horas de sono.
comemoração. Às vezes, os corpos demoram a ser Vestia uma calça azul, jaleco branco, touca, sapatos cor-de-
encontrados e os despojos das sextas sangrentas, rosa e carregava uma prancheta decorada com adesivos
principalmente as de sol, que estimulam o consumo de das princesas da Disney. Eram cinco da manhã, e os dois
álcool, só aparecem no sábado e no domingo. Nos dias de cadáveres que haviam sido autopsiados pelas médicas
chuva mata-se menos. quatro horas antes continuavam nas mesas de aço. A
Antonieta saltou da cama e, tateando no escuro, cabeça de um deles estava reduzida a duas dimensões
apanhou seu uniforme dobrado sobre a cadeira. Enquanto por causa da roda que lhe passara por cima. Irritada com
se vestia – ela se recusa a dormir com a roupa de trabalho, a displicência da equipe, Antonieta gritou: “Sala! Cadáver
ao contrário dos colegas –, definiu-se com crueza implacável: na mesa!” Em poucos minutos, sonolentos e com olheiras
“Sou movida a defunto e Coca-Cola.” Como para justificar fundas, apareceram os técnicos de necropsia – responsáveis
a brutalidade da frase, emendou: “O médico-legista não é por abrir e costurar os corpos –, o coletor de vísceras para
um mortal comum. Nós somos abutres da humanidade. os exames laboratoriais, o digitador e um faxineiro recém-
Não dá para ver o que a gente vê e permanecer normal.” contratado. A faxineira anterior não aguentara o trabalho e
Se já estivesse de pé, e não encolhida nos lençóis tentando pedira demissão.
espichar o sono um pouquinho mais, a colega Gabriela (...)
assentiria. Mais tarde, contaria que, na faculdade de https://piaui.folha.uol.com.br/materia/ouvindo-os-mortos/
medicina, vivia cheirando a formol. “Todo tempo livre que
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Português B Revisão 2 Extensivo e Terceirão
01. A sintaxe de uma língua obedece a critérios de 04. Nas passagens extraídas do texto, todos os co-
ordenação entre palavras cuja rigidez pode variar nectores destacados têm uma mesma classifica-
de idioma a idioma. Os sintagmas abaixo, por ção, excetuando um caso. Identifique-o.
exemplo, apresentam uma mesma organização a) Era o técnico de necropsia, Alexandre Braga
na combinação da palavra nuclear e da palavra Pereira, de 37 anos, que interrompia o sono
periférica. Um caso, apenas, destoa do padrão. das plantonistas.
Aponte-o
b) Diz-se nos corredores do IML que é uma injus-
a) recordista mundial tiça ela não constar no Guiness.
b) mulher pequena c) Dos 1 080 casos de homicídio que chegaram
c) franqueza desconcertante ao IML no primeiro semestre de 2010.
d) baixo movimento d) Naquela madrugada, usava um uniforme verde
e) sextas sangrentas da Rede D’Or, onde também trabalha.
e) É ortopedista, como o pai, com quem divide
um consultório particular.
02. Todos os exemplos a seguir, extraídos do texto
lido, foram formados por sufixação, produzindo
05. Nas passagens extraídas do texto, todas as
palavras de uma mesma classe gramatical, exce-
orações apontam para uma mesma circunstância
to em um caso. Identifique-o.
adverbial, excetuando um caso. Identifique-o.
a) ocorrências
a) quando o celular da médica-legista Gabriela
b) franqueza Pinto tocou
c) brutalidade b) No trabalho, costuma ser mais rápida que seus
d) explicação companheiros.
e) sonolentos c) Assim que se desembaraça de seus baleados,
se apressa em ajudar os colegas.
d) Enquanto se vestia – ela se recusa a dormir
03. Sobre relações de coesão verificadas no texto, com a roupa de trabalho, ao contrário dos cole-
aponte a alternativa correta. gas –, definiu-se com crueza implacável.
a) “Essa circunstância” se refere ao fato de e) Ao casar, teve de se desfazer de tudo.
Antonieta Campos não figurar no Guiness
como recordista mundial.
b) Em “Grande parte das ocorrências registradas
06. Assinale a alternativa em que o uso da palavra se
tem como função indeterminar o sujeito da ação
ali”, o advérbio destacado se refere ao registro
verbal.
no livro dos recordes.
a) Diz-se nos corredores do IML que é uma injusti-
c) O sujeito oculto em “Mais tarde, contaria que,
ça ela não constar no Guiness como recordista
na faculdade de medicina, vivia cheirando a
mundial em necropsias de baleados.
formol.” refere-se, semanticamente, à medica
Gabriela. b) Assim que se desembaraça de seus baleados
(...)
d) Em “que estimulam o consumo de álcool”, o
pronome relativo destacado se refere ao termo c) Disse Antonieta, referindo-se ao baixo movi-
anterior “sol”. mento.
e) Em “por causa da roda que lhe passara por d) Nos dias de chuva, mata-se menos.
cima”, o pronome destacado se refere a “um e) Apaixonou-se pelas aulas de anatomia e des-
deles”. cobriu sua vocação para legista.
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Manhã / Tarde / Noite
Extensivo e Terceirão Revisão 2 Português B
07. Nos excertos a seguir, extraídos do texto, identifi- 09. Leia os itens a seguir e assinale a alternativa cor-
que a passagem em que se verifica um verbo clas- reta.
sificado como transitivo direto e indireto
I. A voz ativa correspondente a Às vezes, os
a) Querendo agradá-lo, deu-lhe de presente um corpos demoram a ser encontrados seria
vidrinho de formol com o olho dentro. “Às vezes, demoram a encontrar os corpos”.
b) O marido não gostou da ideia de conviver com
II. Em “Sou movida a defunto e Coca-Cola.”,
esqueletos e olhos.
a correspondente voz ativa seria “Defunto e
c) Os cabelos lisos chegam quase à cintura. Coca-Cola me movem”.
d) Responsáveis por abrir e costurar os corpos III. Na passagem “Em média, são autopsiados
e) A faxineira anterior não aguentara o trabalho e vinte corpos por dia”, tem-se voz ativa com
pedira demissão. objeto direto explícito.
a) todos os itens estão corretos
08. Leia com atenção os itens a seguir e responda ao b) apenas I e II estão corretos
que se pede.
c) apenas I e III estão corretos
I. Em “O médico-legista não é um mortal comum.
d) apenas II e III estão corretos
Nós somos abutres da humanidade”, ocorre a
figura da metáfora. e) apenas um item é correto
GABARITO
01. d 06. d
02. e 07. a
03. c 08. c
04. b 09. b
05. b 10. e
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Manhã / Tarde / Noite
REVISÃO
EXTENSIVO E TERCEIRÃO 02
PORTUGUÊS C
(UFPR) – Escreva um ou dois parágrafos, dando continuidade à crônica de Martinz, sem necessa-
riamente concluí-la. Seu texto deverá:
– apresentar uma articulação clara e consistente com os parágrafos iniciais;
– introduzir informações novas, que garantam a progressão no tratamento do tema;
– ter de 10 a 12 linhas;
– respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.
EXEMPLOS DE REDAÇÃO
TEXTO 01
E continuou para sempre fiel. Após anos, já enrugado tal qual o uma uva passa e com o seu cérebro sendo lentamente
devorado pelo câncer, continuou sempre a tirar suas fotos. O seu precioso ritual era o que lhe conservava na vida. Agora
estava abandonado em uma – mais antiga do que ele, por incrível que pareça – casa de asilo. Sem mulher, somente com
seus negativos, ter uma vida que tanto podia ser e não foi. E, novamente, o tédio lhe fincou adagas no peito, agora cheio
de angústia, e abriu a sua tão amada pasta, ENVELHECENDO DORMINDO. E lá estava ele, 50 anos atrás, em seu estado
mais deplorável, com a esguia cara amassada, o nariz torto com resquícios de carbono e dos pequeninos olhos remelados
final e, mesmo assim, ao vislumbrar se se sentia muito belo, muito jovem. Começou a explorar sua máquina do tempo, e as
memórias lhe inundavam. Em um dia, registro de olhos vermelhos devido ao seu primeiro baseado, em outro, óleos roxos
resultantes de sua primeira briga, em mais outro, olhos inchados em razão de sua primeira decepção amorosa. Jennifer,
aquela vigarista. Mas, ao acessar as fotos de seus 30 anos, viu que algo mudara. Os seus olhos, antes cheios de histórias,
estavam monótonos, sem brilhar. E assim permaneceram até o presente momento. Fechou sua pasta e se preparava para
dormir. Mas, deitou-se e nunca mais tornou a acordar. Nunca mais tornou a registrar. E assim foi sua vida, envelheceu
enquanto dormia e dormiu enquanto envelhecia. Sempre como um eterno e infinito passivo.
TEXTO 02
Num primeiro momento, as fotos pareciam todas iguais - infinitas imagens de seu rosto encarando o de volta. Abriu
a primeira delas. Pela primeira vez olhou para ela com atenção. Passou para a próxima. E para a próxima. E toda vez que
apertava o botão no teclado do computador reparava em algo diferente. Sim, seu tédio era tanto a ponto de reparar em algo
diferente naquelas fotos iguais. Pensou em quantas coisas diferentes havia deixado de reparar em seus dias iguais - que
começavam todos com aquelas fotos. Todas diferentes.
Fechou a pasta. Desligou o computador. Foi tomado por um sentimento estranho, não sabia bem o que era. Talvez
fosse apenas o efeito de olhar para si mesmo 328 vezes. Talvez fosse o fato de que em 328 dias, apesar de tantas
diferenças, tudo continuava igual. Ponderou se deveria se comprometer a fazer mais alguma coisa todos os dias além
daqueles meros registros, já que, de novo, era fiel aos seus propósitos. Algo mais impactante, que fizesse a diferença.
Desistiu. Se fizesse todos os dias, todos os dias continuariam iguais.
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Extensivo e Terceirão Revisão 2 Português C
PROPOSTA DE REDAÇÃO
TEXTO 01
TEXTO 02
Escreva uma narrativa cujos personagens principais sejam os integrantes da família retratada na
fotografia de Sebastião Salgado. Seu texto deverá:
• ter de 10 a 15 linhas;
• ser em 1ª pessoa;
• contextualizar o enredo em uma das situações colocadas no segundo parágrafo;
• não utilizar nomes próprios para se referir a outros personagens (A NÃO OBEDIÊNCIA A ESSE COMAN-
DO RESULTARÁ NA ANULAÇÃO DO TEXTO);
• respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.
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Manhã / Tarde / Noite
Português C Revisão 2 Extensivo e Terceirão
01.
02.
03.
04.
05.
06.
07.
08.
09.
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LIMITE MÍNIMO
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Manhã / Tarde / Noite
REVISÃO
EXTENSIVO E TERCEIRÃO 02
PORTUGUÊS D
QUARTO DE DESPEJO que sou um objeto fora do uso, digno de estar num
Carolina Maria de Jesus quarto de despejo”
(1914 – 1977) Percebe-se que o título escolhido para a obra
resume toda a crítica a essa realidade e o sentimento
Por se tratar de um diário, o livro é composto da autora diante da vida. Carolina também expõe
por demarcações de dias, meses e anos, contendo a invisibilidade social que ela, seus filhos e seus
relatos e sensações reais do quotidiano de uma vizinhos viviam, ignorados por aqueles de melhor
mãe solteira, pobre e catadora de lixo. Escrito entre condição, pelo Estado e até por quem pedia ajuda.
1955 e 1960, não se tem registro de todos os dias, O diário serviu como válvula de escape e esperança,
devido à fraqueza e doença de Carolina, causadas pois sonhava que alguém o leria e se compadeceria,
por sua condição social. Apesar de ter apenas os pensando nas milhares pessoas que vivem em
dois primeiros anos de educação básica, Carolina situação semelhante.
era apaixonada por literatura e se tornou autodidata:
aproveitava o material escolar encontrado no lixo para Em muitos trechos, Carolina relata sua
se aprofundar na escrita. constante indisposição, seus momentos de raiva e
crises emocionais, seus pesares, seus sentimentos
Quarto de Despejo é marcado pela fome,
por compreender a situação em que se encontrava.
preconceito, violência e sofrimento.
Porém, ela sempre encontrava motivação e
O jornalista Audálio Dantas fazia um trabalho permanecia mais determinada em continuar lutando
nas comunidades à beira do rio Tietê quando se de- quando olhava para sua família:
parou com esta mulher, que tinha muita história para
“Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas,
contar e uma literatura rica a oferecer. O jornalista
o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar
preferiu não corrigir os erros ortográficos e variações
descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia
vocabulares, para que os leitores experimentassem
maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois
autenticamente a leitura. Esse toque pessoal garante
retornei, catei uns ferros, umas latas, e lenha.”
à narrativa uma sensibilidade de percepções extraor-
dinárias. Em sua escrita, Carolina relata que a cor da A autora vivia de doações e, várias vezes, e
fome é amarela: por vezes tinha que buscar restos de alimento nas
“Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as feiras e no lixo. Nisso, notava a maldade que algumas
aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou- pessoas faziam com os pobres necessitados:
se aos meus olhos.” “Percebi que no Frigorífico jogam creolina no
Assim, fica claro que apesar de tudo, Carolina lixo, para o favelado não catar a carne para comer”.
ainda tinha habilidade para escrever de forma poética Preferiu ser mãe solteira, não queria viver com
e, ao mesmo tempo, com uma veracidade incrível. homem algum, além de observar os casais vizinhos
Carolina tinha constantes reflexões sobre em que homens e mulheres viviam constantemente
política e sociedade, o que garante à obra passagens alcoolizados para enganar a sensação de fome,
de grande valor para os leitores. Ela também tecia envolvendo-se frequentemente em brigas, mortes e
críticas aos políticos que só lembram da favela e dos violência intermináveis.
seus pobres habitantes durante as eleições.
ANÁLISE
“… As oito e meia da noite eu ja estava na
favela respirando o odor dos excrementos que mescla A linguagem transparente e honesta, a fala e
com o barro podre. Quando estou na cidade tenho vivência de Carolina são a personificação de outras
a impressão que estou na sala de visita com seus mulheres que vivem em situações semelhantes por
lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas todo país. É como se a voz de todas elas fosse ouvida
de sitim. E quando estou na favela tenha a impressão por meio dessa obra.
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O livro foi a oportunidade para abordar essas de idade, com os pais, supostos avós, antes de vir
questões de forma impactante e objetiva, ao tratar para o Brasil
sobre saneamento básico, recolha de lixo, fome e Buell Quain, etnólogo americano, pessoa
miséria. Era a possibilidade de adentrar num espaço atormentada, angustiada e muito tímida, viajou
que o público brasileiro não conhecia a fundo. pelo mundo à procura de um lugar para si mesmo.
Os diários foram escritos durante o governo de Paranoico sentia-se perseguido e deslocado no
Juscelino Kubitschek, cujo lema era “50 anos em 5”, mundo, bissexual, sentia-se atraído por homens fortes
para impulsionar a construção de Brasília e inúmeras e negros. Conseguiu desabafar seus sentimentos e
outras obras urbanas que fomentaram expansão e atitudes em histórias confusas e fragmentadas, nas
crescimento da infraestrutura no Brasil. Contudo, essa nove noites que passou conversando e bebendo
expansão acelerada não atingiu os menos favorecidos, com Manoel Perna.
fazendo com que a desigualdade social se tornasse Ismael e João, indígenas que acompanhavam
mais aguda e pouco se investisse nos necessitados. o protagonista no dia em que ele se matou.
NOVE NOITES Eric P. Quain, médico, pai de Buell Quain,
separou-se da esposa pouco antes da morte do filho.
BERNARDO CARVALHO
(RJ, 1960) Fannie Dunn Quain, mãe de Buell Quain,
segundo os amigos, mulher autoritária e dominadora.
Marion Quain Kaiser, irmã de Buell Quain,
A OBRA
casada com Charles C. Kaiser.
Obra da literatura contemporânea brasileira,
publicada em 2002, escrita pelo também jornalista Lévi-Strauss, antropólogo franco-suíço,
Bernardo Carvalho. O livro, com 19 capítulos, é uma conheceu Buel em Cuiabá de quem se tornou amigo
obra de ficção, mas apresenta características de um e que é citado num dos trabalhos do americano.
romance jornalístico, já que um dos narradores relata Ruth Benedict, professora e pesquisadora
os passos da investigação em que busca encontrar o da Universidade de Colúmbia em Nova Iorque.
motivo do suicídio do protagonista. Esta professora era orientadora de Buell Quain e
A narrativa se desenvolve alternadamente entre de outros jovens pesquisadores que ela escolhia,
dois narradores-personagens pertencentes a épocas dando preferência aos que viviam fora dos padrões
distintas. O primeiro — Manoel Perna — é amigo do moralistas americanos.
protagonista e conviveu com ele durante nove noites, Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu
em 1939, e deixou uma carta-testamento, escrita Nacional do Rio de Janeiro, responsável pelos
seis anos depois do misterioso suicídio do amigo antropólogos da Universidade de Colúmbia no Brasil.
americano. O segundo narrador, espécie de jornalista Mulher de personalidade forte e poderosa nos meios
investigador que se confunde com o autor e que, 62 intelectuais e políticos.
anos depois, em 2001, tenta descobrir os motivos Maria Júlia Pourchat, assistente de Heloísa
do suicídio do antropólogo americano Buell Quain, que, segundo a filha revelou ao jornalista, teria tido
ocorrido no interior do Brasil, durante o Estado Novo, um namorico com Buell Quain.
pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Alfred Métraux, antropólogo que, presenciou
Em vários pontos este narrador se identifica com Buel uma cena constrangedora feita por um Buell Quain
Quain. É obcecado pelo americano e pela vida dele, embriagado, durante um almoço.
chegando a misturar realidade e ficção. Charles Wagley, antropólogo que apresentou
Buell a Métraux.
PERSONAGENS
Ruth Landes, antropóloga, estabeleceu-se na
Andrew Parsons fotógrafo, suposto amante
Bahia para pesquisar o candomblé e as raízes negras
de Buel Quain, veio para o Brasil em 1940, à procura
do povo. Amiga de Buell que em cartas desabafava
de Buell, mas não o reencontrou. Depois de anos,
com ela as verdades sobre os índios e o povo
já velho, viveu num asilo e morreu no quarto em
brasileiro, que não podia dizer a outras pessoas.
que estava o pai do narrador-jornalista, confundiu-o
com Buell Quain e chamou-o, conforme entendeu o Luiz de Castro Faria, velho antropólogo,
jornalista, de Bill Cohen. forneceu muitas informações ao narrador-jornalista,
sobre Buell Quain a quem conhecera pessoalmente.
Schlomo Parsons, tido como filho do fotógrafo
que, logo após o nascimento do bebê, filho da Diniz, velho índio Krahô que, ainda criança,
prostituta com quem Buel tinha um caso, assumiu a conhecera o protagonista e conversa com o jornalista
paternidade do menino e deixou-o, com seis meses a respeito do americano.
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“O livro das semelhanças” última e maior é que se leia um a um, em suas singularidades, em
parte do livro, funciona como metonímia de um livro suas similaridades. Há, é claro, um poema chamado
de poemas ou como o verdadeiro livro dentro do livro. “O livro das semelhanças”, e esse livro não se fecha: é
Penso se deveria começar a ler o livro por aqui, ou se um livro de crianças, é um mapa-múndi, em que tudo
há uma certa lógica na ordem das partes – as ideias se parece com tudo, mas nada é igual a nada.
para um livro, a descrição material de um livro, A fechar o livro, fundamento, o lugar-comum do
a escrita dos / nos mapas, a desconstrução de amor: clichês, seus nomes na tradição, poesia ready-
lugares-comuns e, finalmente, o livro cujo nome made; e, à guisa de remate, o
está escrito na capa.
Logo nos primeiros poemas da seção, traços POEMA DE TRÁS PARA FRENTE
bem definidos que opõem semelhanças a ausências,
A memória lê o dia
a lacunas, a algo que não se completa nunca. A
de trás para frente
impossibilidade de possuir, o ter pelas negativas:
“é dos solitários o amor”; a cisão instransponível
entre palavra e coisa, aqui finalmente escancarada: acendo um poema em outro poema
“viajantes de mapas, turistas de nomes de cidades”, como quem acende um cigarro no outro
“É mais difícil esconder um cavalo do que a palavra
cavalo”. Enfim os poemas de amor são poemas sobre que vestígio deixamos
o amor: não que antes não fossem. do que não fizemos?
Estão aqui alguns dos belos poemas estranhos como os buracos funcionam?
que não falam sobre algo ao certo: desdobram-se somos cada vez mais jovens
apenas enquanto poesia, com suas temáticas de
nas fotografias
palavras, que se fazem apenas no ato da escrita; é
aqui ainda o lugar do fait-divers da poesia (o mar,
Minas, seres míticos, o museu, a coleção), e por de trás para frente
isso é difícil falar desses poemas em geral: necessário a memória lê o dia
TESTES
01. Texto 02. Leia o texto a seguir, de Quarto de despejo.
– Eles gastam nas eleições e depois aumentam O meu filho com 11 anos já quer mulher.
qualquer coisa. O Auro perdeu, aumentou a carne. Expliquei-lhe que ele precisa tirar o diploma de
O Adhemar perdeu, aumentou as passagens. grupo. E estudar depois, que o curso primário é
Quarto de despejo muito pouco.
Assinale a alternativa que indica corretamente a Assinale a alternativa que interpreta corretamente
conclusão a que a narradora chega, depois dessa o texto.
afirmação.
a) A escola é importante para a educação sexual
a) Os empresários não pensam nos pobres. das crianças.
b) Quem paga as despesas das eleições é o povo. b) A pobreza e a fome aceleram o desenvolvimen-
c) Devido ao aumento das passagens vai haver to sexual das crianças.
intervenção policial. c) A narradora, com autoridade, proíbe o filho de
d) É por isso que o povo anda triste pelas ruas. falar “nessas coisas”.
e) Trabalhando ou não a gente passa forme. d) Depois de terminar o Primário e o Ginásio (atual
ensino fundamental) o filho já terá idade (15-16
anos) para entender de sexo.
e) A narradora insiste em que o filho primeiro en-
tre numa universidade, para depois pensar em
sexo.
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b) Tem pessoa que quando me vê passar saem a) A carta-testamento de Manoel Perna era dirigi-
da janela ou fecham as portas. Estes gestos da ao narrador-jornalista.
não me ofendem. Eu até gosto porque não pre- b) A narração do investigador é mais objetiva que
ciso parar para conversar. a do engenheiro de Carolina.
c) O que eu sei é que com tantos baianos na fave- c) Heloísa Torres, responsável pelo intercâmbio
la os favelados veteranos estão mudando-se. científico entre a universidade americana e a
Eles querem ser superior pela força. brasileira, Acompanhou Buell Quain até Caro-
d) Eu estava escrevendo quando vi o meu visinho lina.
Antonio Nascimento repreendendo meu filho d) Ruth Benedict, orientadora de Quain, remetia-
José Carlos. Ele anda dizendo que vai bater no -lhe, por correspondência, constantes orienta-
menino. ções a respeito das pesquisas.
e) A filha da Dirce morreu. Era duas gemeas. e) Ruth Landes, amiga de Buel, passava a ele
Atualmente ela tem tido partos duplos. O ano informações sobre as movimentações da
passado morreu o casal de gemeos. O menino polícia do Estado Novo.
num dia, e a menina no outro. E agora fenece
outra.
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07. Avalie os seguintes textos de Nove noites. d) Em Nove Noites várias linhas se cruzam numa
1. Queria deixar o mundo em ordem, a julgar pelo história misteriosa, com poucos pontos falsos e
conteúdo das quatro (cartas) a que tive acesso, mais pontos de apoio.
endereçadas a sua orientadora Ruth Benedict, e) A história de Quain é verdadeira. O autor soube
[...]; a dona Heloísa Alberto Torres [...]; a Manoel dela em conversas que manteve com historia-
Perna [...] e ao capitão Ângelo Sampaio, delega- dores e colegas de universidade do protagonis-
do de polícia da cidade. Queria isentar os índios ta.
de qualquer culpa, constituir seus executores
testamentários e instruí-los sobre a disposição 09. Avalie as seguintes afirmações.
de seus bens.
1. A indistinção entre fato e ficção faz parte do
2. Entre as (cartas) que não consegui encontrar, no suspense do romance. Por isso não faz sentido
entanto, sei que havia pelo menos uma endere- dizer o que é real e o que não é. Há no livro
çada ao pai médico, dr. Eric P. Quain [...]; outra um dispositivo labiríntico, em que o leitor vai se
ao reverendo Thomas Young, missionário [...], e perdendo ao longo da narração. Nesse caso
uma terceira ao cunhado Charles C. Kaiser em isso fica mais nítido porque existem referências
que lhes revelava a existência de um filho seu, a pessoas reais. Mas mesmo as partes em que
recém-nascido e adotado pelo fotógrafo Andrew elas aparecem podem ter sido inventadas. Em
Parsons, chamado Schlomo Parsons. última instância, é tudo ficção.
3. Teria ido eu mesmo se soubesse que, entre 2. A obra mostra que nunca se sabe se os índios
aquelas cartas, eu lhe enviava a sentença de estão inventando ou dizendo a verdade. Não
morte, [...]. Ele me fizera prometer que lhe re- dá para confiar em nada. O cara diz uma coisa
meteria as cartas por um portador assim que hoje, depois é outra completamente diferente.
chegassem. Esperava uma resposta. E já não É uma forma de narrar estranha, não se sabe
tenho dúvidas de que era a sua resposta que ele se ele está querendo agradar, se está dizendo
aguardava com tanta ansiedade. aquilo só porque acha que o interlocutor quer
ouvir. De certa maneira, esse livro é uma lite-
4. Antes de entregá-las ao meu irmão, li entre os ratura à maneira dos índios, pois mantém essa
envelopes do último correio [...], o nome de um dúvida para o leitor.
remetente que depois eu iria reconhecer entre
3. O autor não queria fazer um romance, queria
os destinatários das cartas que ele escreveu nas
fazer um livro de jornalismo. Foi como se a his-
horas que antecederam sua morte, justamente
tória de Buell Quain viesse confundir o que o
aquela carta entre todas as outras que decidi
escritor já tinha na cabeça. Conforme ia escre-
guardar comigo, a despeito do que você possa
vendo, o autor percebia que talvez a história já
pensar, em nome da memória do dr. Buell, e para
estivesse pronta. Teve certeza de que seria
proteger os índios, a carta que ele lhe deixara.
ficção quando percebeu que não encontraria a
Dos textos apresentados, só não foram alterados família dele. Ao longo do processo, porém, mui-
a) 1, 2 e 3. tas cartas que tinha enviado começaram a ser
respondidas. E surgiu o medo de que, se a fa-
b) 2 e 3.
mília de Buell aparecesse, invalidava a história.
c) 1, 3 e 4.
4. Com relação à antropologia, a abordagem não
d) 3 e 4. é leviana. A relação com os índios faz parte do
e) 2, 3 e 4. passado do autor que tem até uma espécie de
mito na família ligado ao assunto, que é Ron-
08. Assinale a afirmação correta a respeito da obra don, bisavô do autor. Ele não quer ser pater-
Nove noites. nalista, quer tratar o índio de igual para igual.
a) O antropólogo americano Buell Quain suicidou- E não tem nenhuma mentira com relação aos
-se em 1939, aos 27 anos, poucos dias após índios.
deixar uma aldeia indígena no interior do Brasil. É correto afirmar sobre Nove noites, de Bernardo
b) No fim dos anos 60, um esperto e alegre menino Carvalho, apenas o que se afirma em
de seis anos de idade, frequenta encantado a re- a) 1, 2 e 3.
gião do Xingu, onde o pai comprou uma fazenda.
b) 2 e 3.
c) Mais de 30 anos depois, o menino se transfor-
c) 3 e 4.
mou num escritor empenhado em reconstruir
a trajetória do pai e, por consequência, passa- d) 1, 3 e 4.
gens da própria infância. e) 1, 2 e 4.
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10. A respeito de Nove noites, assinale a alternativa 12. Leia este trecho do poema “Visita ao lugar-co-
correta. mum”, de Ana Martins Marques (Livro das Seme-
lhanças, 2015):
a) Buell Quain tinha uma relação respeitosa com o
pai, mas não fez papel de pai com os índios. Dobrar a língua
b) A linguagem do narrador jornalista é mais e ao desdobrá-la
floreada, empolada e poética que a de Manoel deixar cair
Perna, mais objetiva e simples.
uma a uma
c) Por ser uma história que trata de pesquisadores palavras não ditas
e cientistas, o livro pouco aborda questões
familiares. É possível afirmar sobre o trecho acima que:
d) A figura de Manuel Perna é uma espécie de a) A autora destaca a capacidade que alguns têm
desejo do autor de resolver as lacunas que não de enrolar a língua.
são resolvidas pela pesquisa. b) Há um humor na forma inesperada com que a
autora usa as palavras.
e) Os primeiros a tomarem conhecimento das
doenças de Buell Quain foram o índio Trumai. c) A autora questiona o melhor momento de falar
aquilo que é desconfortável.
11. Leia o poema a seguir, de Ana Martins Marques d) A autora convida o leitor a experimentar dobrar
(Livro das Semelhanças, 2015): a língua e depois desdobrá-la.
e) Fica claro que, para a autora, é impossível se
Há estes dias em que pressentimos na casa a
expressar de forma espontânea.
ruína da casa
e no corpo a morte do corpo
13. (UFMS) – Leia o texto a seguir.
e no amor o fim do amor
estes dias em que tomar o ônibus é no entanto ÚLTIMO POEMA
perdê-lo Agora deixa o livro
e chegar a tempo é já chegar demasiado tarde volta os olhos
não são coisas que se expliquem para a janela
apenas são dias em que de repente sabemos a cidade
o que sempre soubemos a rua
e todos sabem que a madeira o chão
é apenas o que vem logo antes da cinza o corpo mais próximo
e por mais vidas que tenha cada gato tuas próprias mãos:
é o cadáver de um gato aí também
Pode-se dizer que o poema: se lê
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças.
a) É tão absurdo, que não se pode tirar conclusão São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 29
alguma dele.
Em O livro das semelhanças (2015), a poeta
b) É sobre o medo que a autora tem de perder sua Ana Martins Marques aproxima-se de uma espécie
casa, seu corpo e seu amor. de estética do cotidiano, em poemas nos quais a
sensibilidade pode ser objeto da poesia a partir de
c) Fala do inconformismo da autora ao perder o
relações estabelecidas com sensações ou objetos
ônibus e chegar demasiado tarde.
do senso comum. Em “Último poema”, o eu lírico:
d) Traz uma reflexão sobre momentos em que nos a) volta-se para a materialidade das coisas de
damos conta da finitude das coisas. modo a separar, em universos descontínuos, o
e) É um tanto esotérico, pois fala dos pressenti- literário e a vida.
mentos da autora sobre perdas futuras. b) convoca o leitor a enxergar a poesia além do li-
vro, contida no mundo e no próprio corpo e que
carece do olhar para ser percebida.
c) decreta o fim da poesia de modo panfletário o
que, metonimicamente, relaciona-se com o fim
do livro na era digital.
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d) explicita que está nas mãos do leitor a respon- 15. Leia o poema a seguir, de O livro das semelhan-
sabilidade sobre a interpretação, prescindindo ças.
da leitura. O passado anda atrás de nós
e) manifesta-se centrado em sua subjetividade como os detetives os cobradores os ladrões
a partir de uma oposição maniqueísta entre o o futuro anda na frente
exterior e o interior, sendo este hierarquicamente como as crianças os guias de montanha
superior àquele. os maratonistas melhores
do que nós
14. Avalie as afirmações a seguir, a respeito de O livro salvo engano o futuro não se imprime
das semelhanças.
como o passado nas pedras nos móveis no rosto
1. A poesia de Ana Martins Marques alia a das pessoas que conhecemos
elaboração formal a uma reflexão sobre a o passado ao contrário dos gatos
vida, promovendo um “estreitamento entre
não se limpa a si mesmo
linguagem e experiência”.
aos cães domesticados se ensina
2. Ana nos entrega e revela a cartografia do mun-
a andar sempre atrás do dono
do. Parece geógrafa de solidões, amores, via-
mas os cães o passado só aparentemente nos
gens, do mar e, até mesmo, dos livros (a meta-
linguagem é muito presente na primeira parte pertence
– quando ela produz poemas sobre as partes pense em como do lodo primeiro surgiu esta
que os compõem). poltrona este livro
3. É do todo que se tira a ironia da poeta e toda a este besouro este vulcão este despenhadeiro
sua impossibilidade de arrumar uma mala, sair à frente de nós à frente deles
em viagem e se encontrar. “Sempre acabo to- corre o cão
mando o caminho errado / que falta me faz um ANA MARTINS MARQUES O livro das semelhanças.
mapa / que me levasse pela mão”. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
4. Trata-se de uma seleção de poemas voltada Nos versos em destaque, sugere-se uma ideia a
para a ressignificação do cotidiano mediante respeito da relação entre cães e seres humanos.
o redimensionamento da linguagem cujos ver-
Essa ideia, no verso destacado, recebe da poeta
sos, livres da métrica e de rimas, apresentam
a seguinte avaliação:
uma sonoridade impactante, em especial, por
conta do hábil manejo das palavras. a) adesão
b) negação
Está correto o que se afirma
c) proibição
a) 1, 2, 3 e 4.
d) permissão
b) Somente em 1, 2 e 3.
c) Somente em 2, 3 e 4.
d) Somente em 1, 2 e 4
e) Somente em 1, 3 e 4.
GABARITO
01. b 06. b 11. d
02. d 07. c 12. b
03. a 08. a 13. b
04. c 09. e 14. a
05. e 10. d 15. d
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ANOTAÇÕES
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