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Por decisão do Autor, este livro mantém a grafia anterior ao Acordo Ortográfi-
co de 1990.
Quetzal Editores
Rua Prof. Jorge da Silva Horta, n.° 1
1500-499 Lisboa
quetzal@quetzaleditores.pt
Tel. 21 7626000
ISBN: 978-989-722-849-0
Dramatis personae
A.A. Crosse
Um concorrente nos jogos de palavras publicados por vários jornais
ingleses.
A.L.R.
Conhecido apenas pelas iniciais, A.L.R estava indicado como tradu-
tor e comentador de uma edição portuguesa de Os Protocolos dos
Sábios de Sião, um documento fraudulento que pretensamente
mostrava como judeus proeminentes conspiravam para desestabili-
zar e dominar o mundo. Este era um dos muitos livros que Pessoa
esperava publicar na Olisipo, uma pequena editora fundada em
1921.
Alberto Caeiro
Nascido em Lisboa no dia 16 de Abril de 1889, Alberto Caeiro da Sil-
va viveu com uma tia numa casa branca do campo, a nordeste da
capital, e morreu de tuberculose em 1915. Poeta com pouca educa-
ção formal que acreditava que as coisas são exactamente aquilo
que parecem ser, Caeiro ganhou vida em Março de 1914 e foi imedi-
atamente reconhecido por Pessoa como «mestre». Foi também
mestre de Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Além de O Guardador
de Rebanhos, que contém quarenta e nove poemas, Caeiro foi autor
de uma colectânea mais pequena, O Pastor Amoroso, e de dezenas
de poemas compilados em Poemas Inconjuntos.
Alexander Search
Nascido em Lisboa no mesmo dia que Fernando Pessoa, Search
surgiu em 1906 e suplantou rapidamente Charles Robert Anon como
o mais importante heterónimo de língua inglesa de Pessoa. Em acti-
vidade até 1910, assinaria mais de cem poemas, incluindo muitos
que foram escritos entre 1903 e 1905 e que tinham sido original-
mente atribuídos a C.R. Anon. Search foi igualmente autor de um
conto, «A Very Original Dinner», e vários ensaios.
Álvaro de Campos
O mais exuberante, mais assertivo e mais prolífico de todos os hete-
rónimos, Campos surgiu em 1914, cerca de três meses depois de
Caeiro. Nascido no dia 15 de Outubro de 1890 em Tavira, cidade al-
garvia onde a família paterna de Pessoa se encontrava, Campos es-
tudou Engenharia na Escócia, viajou pelo Extremo Oriente, viveu
durante algum tempo em Londres, trabalhou como engenheiro naval
no norte de Inglaterra e acabou por se instalar em Lisboa. Sentia-se
sexualmente atraído tanto por homens como por mulheres, e quei-
xava-se de que, por mais que visse, sentisse e experimentasse, pre-
cisava de ver, sentir e experimentar ainda mais. Além de poesia, es-
creveu e publicou textos em prosa provocadores, nos quais discor-
dou das opiniões de Fernando Pessoa.
António Mora
Num conto que Pessoa começou a escrever em 1909, Mora era um
louco obcecado com a Grécia que usava toga e vivia num manicó-
mio. A história esmoreceu, mas seis anos depois Mora foi ressusci-
tado e tornou-se um heterónimo que, juntamente com Ricardo Reis,
promoveu um renascimento do paganismo no mundo moderno. Foi
também o autor de uma dissertação favorável à Alemanha na Pri-
meira Guerra Mundial.
Barão de Teive
O décimo quarto barão de Teive, que nasceu num caderno usado
por Pessoa em 1928, vivia numa propriedade rural portuguesa, mas
tinha passado algum tempo em Paris, onde travou um duelo com
um marquês de França. Frustrado pela sua timidez com as mulhe-
res e ainda mais pelas suas insuficiências como escritor, pegou fogo
a todas as suas obras literárias e suicidou-se, não sem antes escre-
ver uma última obra errática, em que explica os seus motivos.
Bernardo Soares
Mencionado de fugida em 1920 como escritor de contos, o nome de
Bernardo Soares desapareceu em seguida, mas ressurgiria em
1929 como autor do Livro do Desassossego. As notas de Pessoa in-
dicam que trechos deste livro escritos na década de 1920 e original-
mente atribuídos a Vicente Guedes se tinham tornado propriedade
literária de Soares, que trabalhou como ajudante de guarda-livros na
Rua dos Douradores, em plena Baixa lisboeta. Homem de hábitos
solitários, vivia num quarto andar arrendado na mesma rua.
Carlos Otto
Criado em 1909 para ser colaborador dos jornais que Pessoa pro-
jectava lançar no ano seguinte, Otto, além de escrever poesia e tra-
duzir, redigiu um tratado sobre luta livre.
Chevalier de Pas
Pessoa, quando tinha apenas cinco ou seis anos, escreveu cartas a
si próprio usando o nome deste cavaleiro francês, um dos seus
companheiros de infância imaginários.
David Merrick
Inventado em 1903, foi incumbido de escrever um romance, dois vo-
lumes de contos, um livro de peças e uma colectânea de poesia. Es-
tas tarefas não se concretizaram ou foram transferidas para outros.
Dr. Pancrácio
Autor de seis poemas e dois epigramas que apareceram nos jornais
de faz-de-conta criados por Pessoa entre 1902 e 1905.
Eduardo Lança
Supostamente nascido no Brasil em 1875, Lança mudou-se já adul-
to para Portugal, país onde começou a publicar poesia e prosa. Al-
guns dos seus poemas foram incluídos por Pessoa no jornal caseiro
O Palrador em 1902.
Fernando Pessoa
A persona que levava o próprio nome de Pessoa tinha «subpersona-
lidades», segundo o poeta, e não era menos fingidora do que os
seus heterónimos.
Frederick Wyatt
Inglês que residia em Lisboa e cujo modo excêntrico de vestir provo-
cava sorrisos entre os transeuntes, Wyatt surgiu em 1913. No ano
seguinte, foi-lhe atribuída a autoria de vinte e um poemas ingleses
anteriormente assinados por Alexander Search.
Frederico Reis
Autor de uma análise crítica da poesia do irmão Ricardo, Frederico
também redigiu um panfleto sobre a chamada Escola de Lisboa,
composta pelos três principais heterónimos: Caeiro, Campos e Reis.
Frei Maurice
Dominado por dúvidas quanto à existência de Deus, este religioso
— que escreveu trechos em prosa para The Book of Friar Maurice
— foi uma presença inquietante na vida concreta de Pessoa, segun-
do um texto autobiográfico datado de 1907.
Gaveston
Os papéis de Pessoa entre 1904 e 1910 contêm dezenas de assina-
turas desta misteriosa figura — ligada pelo seu criador a Piers Ga-
veston (1284-1312), favorito do rei Eduardo II de Inglaterra — que
nunca assinou qualquer obra.
Giovanni B. Angioletti
Este crítico italiano antifascista roubou a identidade a um crítico lite-
rário milanês real chamado Giovanni Battista Angioletti (1896-1961)
e exilou-se em Portugal. Numa entrevista publicada por um jornal
lisboeta no Outono de 1926, declarou que Mussolini era um louco e
descreveu alguns dos aspectos deploráveis do regime.
Henry More
Este espírito astral, cuja encarnação terrena foi Henry More (1614-
1687), o platonista de Cambridge, começou a comunicar com Pes-
soa através de escrita automática em 1916.
I.I. Crosse
Este crítico inglês escreveu favoravelmente sobre a poesia de Alber-
to Caeiro e Álvaro de Campos.
João Craveiro
Autor de comentários políticos projectado para uma revista que Pes-
soa pensou vagamente lançar em 1918.
Joaquim Moura-Costa
Escreveu poemas satíricos contra a monarquia e a Igreja Católica
para dois jornais que Pessoa esperava (sem êxito) lançar em 1910.
Karl P. Effield
Primeiro autor fictício de Pessoa a escrever em inglês e o primeiro a
assinar um poema publicado num jornal verdadeiro, o Natal Mercury
(Durban), em Julho de 1903. Effield, nascido em Boston, Massa-
chussetts, viajou pela Ásia oriental e pela Austrália.
Lucas Merrick
Presumível irmão de David Merrick, deveria escrever alguns contos,
mas essa responsabilidade foi passada a Sidney Parkinson Stool e
Charles Robert Anon.
Maria José
Corcunda com dezanove anos que sofria de tuberculose e artrite
causadora de invalidez, Maria José passava o tempo à janela de um
primeiro andar e sentia o coração a bater sempre que o senhor An-
tónio, um belo serralheiro, lhe aparecia a caminho do trabalho. Em-
bora não tivesse a intenção de a enviar, escreveu-lhe uma carta
comprida e tocante, datada de 1929 ou 1930, na qual descreve a
sua existência patética e o seu ardente sentimento amoroso.
Pantaleão
Criado em 1908 como autor português de ensaios políticos, cartas
ficcionais, máximas e reflexões.
Pêro Botelho
Autor de contos e cartas que datam de cerca de 1913.
Pip
Autor de um poema «publicado» no jornal caseiro O Palrador quan-
do Pessoa tinha treze anos.
Raphael Baldaya
Dotado de uma barba comprida e fluente em inglês e português, es-
te estudioso de astrologia e ocultismo recebeu as suas primeiras ta-
refas literárias nos finais de 1914 ou no início de 1915. Pessoa con-
cebeu depois a ideia (nunca realizada) de vender horóscopos de
Baldaya pelo correio.
Ricardo Reis
Escritor de odes clássicas à maneira de Horácio, Ricardo Sequeira
Reis surgiu a Pessoa em Junho de 1914, alguns dias ou semanas
depois de Álvaro de Campos. Nascido no Porto em 19 de Setembro
de 1887, estudou Medicina, mas tornou-se professor de Latim no li-
ceu, foi para o Brasil em 1919 e ainda estava a viver nas Américas,
talvez no Peru, quando Pessoa morreu, em 1935. Além das suas
odes de métrica rigorosa, que aconselhavam a aceitação pacífica de
tudo o que os deuses determinassem, escreveu ensaios a defender
o renascimento moderno do paganismo. Comentou profusamente o
génio de Alberto Caeiro, seu muito admirado mestre, mas opôs-se a
Álvaro de Campos em várias questões literárias.
Sher Henay
Tinha como tarefa compilar e apresentar uma Antologia Sensacio-
nista em língua inglesa concebida em 1916. Deveria incluir obras de
Pessoa e dos seus camaradas «sensacionistas».
Thomas Crosse
Criado por volta de 1916, escreveu ensaios sobre a história de Por-
tugal, a literatura portuguesa e outros tópicos para o mundo anglófo-
no. Estava igualmente escalado para traduzir os Poemas Completos
de Alberto Caeiro e, embora não tenha realizado esta tarefa, escre-
veu algumas páginas para o «Prefácio do tradutor».
Vicente Guedes
Concebido em 1909, mais ou menos ao mesmo tempo que Joaquim
Moura-Costa e Carlos Otto, Guedes era poeta, escritor de contos e
tradutor da malsucedida Empreza Ibis — Typographica e Editora,
que encerrou no Verão de 1910. Em 1914, Guedes seria designado
autor do Livro do Desassossego, ocupação que manteve até 1920,
altura em que desapareceu.
Vuduísta
Henry More e Wardour procuravam proteger Pessoa deste espírito
maléfico, para que as suas comunicações não desviassem o discí-
pulo deles do bom caminho.
W.W. Austin
Austin viveu durante algum tempo na Austrália, onde conheceu Karl
P. Effield, que estava a trabalhar como mineiro. Austin enviou «The
Miner’s Song» de Effield ao Natal Mercury (Durban), juntamente
com uma carta de apresentação.
Wardour
Como Henry More, este comunicador astral enviou mensagens pre-
vendo que Pessoa conheceria e acasalaria com esta ou aquela mu-
lher. Pelo menos numa ocasião, também funcionou como explicador
de poesia.
William Jinks
Amigo de Charles Robert Anon e promotor charlatão da vida saudá-
vel, foi parar a uma cadeia de Londres, cidade de onde escreveu
uma carta em inglês cheia de erros de ortografia cómicos.
PRÓLOGO
O estrangeiro nato
(1888-1905)
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há
aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra de-
baixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Os dois primeiros versos do poema — o segundo dos quais está
construído como uma asserção lógica, como se a felicidade do ra-
paz fosse o corolário de ainda ninguém ter morrido — tornam explí-
cito que o autor tinha em mente o quinto aniversário:
A Mamã está agora em Lisboa, veio para o meu casamento, que esta-
va para se efectuar este mês, mas como já deves saber, eu tencionava
ir para Lourenço Marques e estes acontecimentos agora, as revoltas
dos pretos, obstam a que eu possa ir por enquanto. Isto apoquenta-me
deveras, porque o meu noivo terá que ir e a separação causa-me uma
dor, cuja intensidade me dilacera o coração. É sina minha, como es-
quivar-me a ela?18
* Gungunhana, um dos reis mais poderosos de África, tinha mais de duzentas mulheres,
quarenta das quais viviam na sua corte. Quando foi capturado, deixaram-no escolher sete
para o acompanharem no exílio — não esperando que viessem a separá-las dele. Três das
sete mulheres escolhidas morreram em São Tomé; as outras quatro acabaram por ser re-
patriadas para Moçambique. Ver Maria da Conceição Vilhena, «As mulheres do Gungunha-
na», Arquipélago-História (Ponta Delgada), 2.ª série, III, 1999, pp. 407-416.
CAPÍTULO 3
* As quatro tias-avós — Rita, Maria, Carolina e Adelaide — eram irmãs de Madalena, avó
materna de Pessoa. Tinham um irmão, que tinha emigrado para o Brasil.
** Moby Dick, trad. de Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, Lisboa, Relógio D’Água,
2005. (N. dos T.)
CAPÍTULO 4
O Fernando irá para a ilha com a Mamã. Faz de conta que tens mais
um filho e tenho a certeza que ele será tão querido como se o fosse
realmente, lembrando-te que o pobre inocente não tem pai e vai viver
durante tanto tempo longe da sua mãe. Nem te imaginas o que me
custa separar-me do pequeno, é uma dor tão intensa, tão profunda
que nem sei como resistir-lhe. Enfim, Deus que para tudo me tem da-
do coragem, há-de dar-me também para mais este golpe, que me rou-
ba com certeza anos de vida. Eu sou assim, nunca as coisas decorrem
bem de todo.
Como qualquer mãe normal faria, apertou o brilhante filho nos bra-
ços e disse-lhe que não se apoquentasse, que o amava muito. Copi-
ou a quadra num pedaço de papel e datou-a, convertendo as pala-
vras do filho numa súplica escrita que não podia ignorar. Embora
uma parte dela ainda hesitasse, a vontade do miúdo prevaleceu.
Haveriam de navegar juntos (como ficaram a saber vários meses
depois) para a cidade de Durban, na costa oriental da África do Sul,
onde Fernando se sentiria sempre um pouco deslocado, lá mas não
totalmente lá, irremediavelmente estrangeiro. Um solo estranho, co-
mo acabaria por se revelar, era exactamente aquilo de que ele preci-
sava para que o seu tipo de génio florescesse.
João Miguel Rosa assumiu o posto de cônsul de Portugal em
Durban no dia 5 de Outubro de 1895. A sua nova casa ficava a ape-
nas quinhentos e cinquenta quilómetros de Lourenço Marques, mas
como era diferente! Durban tinha uma população dez vezes maior,
excelentes infra-estruturas portuárias, ruas perfeitamente traçadas,
a eficiência inglesa e um ar de prosperidade assegurado. A cidade
não era totalmente desconhecida de Rosa, pois em Julho de 1893,
quando era ainda comandante da marinha portuguesa destacado na
costa oriental de África, navegara com o Liberal até Durban, onde fi-
cou durante um mês, bastante mais tempo do que seria suposto. A
demora deveu-se à incapacidade, revelada pelo cônsul português
da altura, de emitir rapidamente a carta de saúde necessária para o
regresso do navio a Lourenço Marques. Efectivamente, uma das
obrigações mais importantes do consulado em Durban consistia em
fornecer aos navios que se dirigiam a portos portugueses a papela-
da necessária. Além de emitir cartas de saúde, que certificavam que
o porto de saída estava livre de doenças contagiosas e que nenhum
membro das tripulações tinha quaisquer sinais visíveis de doença,
cabia ao consulado legalizar conhecimentos de embarque e listas
de passageiros. O atraso nas partidas podia ser muito oneroso, pelo
que, depois de uma fileira de cônsules de curta duração que não se
saíram bem neste aspecto do trabalho, o Ministério dos Negócios
Estrangeiros decidiu experimentar um comandante e administrador
portuário com grande experiência prática em assuntos marítimos.5
* Assim é a quadra que a mãe de Pessoa registou em papel e datou, mas o poeta recorda-
va-se, em 1914, de uma versão um pouco diferente dos dois primeiros versos: «Ó terras de
Portugal / Ó terras onde eu nasci.» Contou, ainda, a Armando Côrtes-Rodrigues, por um
evidente lapso de memória, que fizera a quadra aos cinco anos de idade.
** O Tratado de Windsor, ainda em vigor, estabelece o compromisso de Inglaterra e Portu-
gal se auxiliarem mutuamente para garantirem a sua segurança. Há tratados comerciais
entre as duas nações desde 1294.
CAPÍTULO 5
And if I catch
Him by the tail
He’ll run off
To Durban gaol.***,****
* Sam Campbell fundou o Technical College de Durban em 1907; o filho dele, o poeta Roy
Campbell (1901-1957), foi um dos primeiros tradutores de Pessoa para inglês.
** Nome civil de Mark Twain. (N. dos T.)
*** «Que ninguém roube este livro / Com medo de ficar envergonhado / Pois nele está ins-
crito / O nome do dono. // E se o apanho / Pela cauda / Vai parar / À cadeia de Durban. (N.
dos T.)
**** Insatisfeito com o quinto e o sexto versos, Fernando riscou-os.
CAPÍTULO 6
Por que não fiquei eu sempre criança? Por que não morri eu ali, num
desses momentos, preso das astúcias dos meus escolares e da vinda
como-que-inesperada dos meus mestres? Hoje não posso fazer isto…
Hoje tenho só a realidade, com que não posso brincar… Pobre criança
exilada na sua virilidade! Por que foi que eu tive de crescer?
* Trata-se de «Sonnet», que começa com «Lady, believe me ever at your feet» e que é da-
tado de Março de 1907. Como nos poemas de 1902, a dama amada parece meramente hi-
potética. Nunca encontramos, em toda a poesia de Pessoa, um grupo de poemas de amor
dirigido a uma pessoa específica.
CAPÍTULO 10
27 de Novembro de 1903
Meu caro Ormond,
Tendo afortunadamente chegado ao fim da tua petulante composi-
ção, cuja principal intenção é refutar aquilo que já se provou estar refu-
tado, retirei daí a feliz inferência de que quanto mais depressa se pu-
ser termo a esta discussão asinina, tanto melhor será para a estabili-
dade dos nossos intelectos.8
* «Hillier foi o primeiro a usurpar os reinos da rima / Para parodiar o bardo de antigamente;
/ Haggar segue-o depois e, em versos fúteis, / Prova que para o que é mau há pior; / A se-
guir, um crítico sem nome, em tom furioso, / Causa no indefeso leitor dores cruéis / En-
quanto por métrica pura parece ansiar, / Mas mostra que para o pior há ainda pior.» Tradu-
ção de Luísa Freire. (N. dos T.)
** A canção do mineiro: «Deixámos as vias relvadas por onde andámos, / Deixámos o lago
sombrio que à vela corremos, / Na pátria distante nossa amada mãe deixámos / E viemos
com esperança, mas talvez falhemos. // Pois que em nosso olhar brilhava então o vil metal,
/ Desejosos de ricos à nossa terra voltar, / Voltar ao pátio da quinta, de novo ao curral, / E
àquela que amamos, que nos vai esperar.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 11
Who am I?
Indeed thou askest well. Full many a time
I asked myself that question, and no answer
Could my mind give to what my tongue did speak.****
* «(Oh, que chocante!) / Este homem muito santo (duro de relacionar) / Preferiria despir
uma mulher a um prelado.» Unfrock significa «despir» mas também «despadrar». (N. dos
T.)
** Este era o nome de um escritor real, o britânico Nat Gould (1857-1919), agora quase es-
quecido, mas que foi um dos autores da altura que mais livros vendeu, sendo as corridas
de cavalos o tema principal dos seus romances e contos.
*** «Salvé, mar! / Como me tomou a tua fúria, / Que relampeje, que troveje, / Sobre a costa
apavorada.» (N. dos T.)
**** «Quem sou? / Na verdade perguntais bem. Muitas vezes / Me questionei sobre isso,
mas nenhuma resposta / A minha mente soube dar para o que a minha língua realmente
disse.» (N. dos T.)
CAPÍTULO 12
Mas, apesar do que estes versos sugerem, duvido que Pessoa esti-
vesse muito atento ao que via e ouvia no mundo da natureza. Esta-
va mais interessado no poder descritivo e rítmico das palavras.
William e Dorothy Wordsworth eram assíduos observadores de
campos e bosques, com Samuel Taylor Coleridge a juntar-se-lhes às
vezes nas suas excursões por Lake District. As casas de campo em
ruínas ou as personagens rústicas dos poemas de Wordsworth
eram-lhe conhecidas por contacto directo ou eram compósitos base-
ados no que tinha visto ou ouvido. Byron e Shelley, nas viagens que
fizeram ao continente, vaguearam pelo campo e pelas cidades, e as
impressões que recolheram nos dois ambientes — rural e urbano —
inspiraram muitos dos poemas que escreveram. Fernando, em Dur-
ban, tinha a possibilidade de passear por matas semitropicais que
não ficavam longe de Berea, onde vivia com a família. E, mesmo
sem se afastar do seu bairro arborizado, era-lhe possível aproveitar
para vaguear pela vegetação exuberante e observar as aves colori-
das e outros animais selvagens que abundavam por lá. Tanto quan-
to sabemos, raramente tirou partido dessas oportunidades. Aquilo
que o rodeava não entrou no que escrevia. Escreveu sobre mineiros
na Austrália e um castelo em ruínas em Espanha. E também escre-
veu sobre a natureza — a natureza descrita em poemas de Gray,
Wordsworth e Shelley.
Durante o Verão, Durban é frequentemente afectada por trovoa-
das, normalmente ao fim da tarde, e Fernando, quando era ainda
um rapazinho, viu uma vez um raio abrir uma árvore ao meio, expe-
riência que o encheu de um espanto e de um medo exagerados por
tempestades, que o haviam de acompanhar toda a vida.10 Mas
«Ode to the Storm», como mostrei, inspirou-se no poema homónimo
do professor de Francês. Em toda a poesia que compôs em Durban,
Pessoa fez apenas uma referência inequívoca ao cenário local:
* «Demasiado cedo o dia desapareceu, / Com maculados raios vermelhos / O sol mergu-
lhara sob a sua sombria mortalha, / Colhendo austera ordem. / Nos degraus do dia / A de-
moníaca tormenta amontoa nuvem sobre nuvem, / Como na triste história de um poeta / As
atrozes hordas infernais de numerosos fantasmas pálidos.» (N. dos T.)
** «Jovem demais aprendi a raciocinar friamente / E cheguei a conclusões firme e ousada-
mente.» (N. dos T.)
*** Esta ideia foi desenvolvida por Keats em «The Fall of Hyperion», que revisita o poema
anterior.
**** «Na morte não vejo a libertação — / É melhor o mau que o desconhecido.» Tradução
de Luísa Freire. (N. dos T.)
***** «Não sei o que é, mas posso sentir / O seu poder e ouvir-lhe a voz em tudo o que há.
/ Assim, quando cedo passeio pelo campo, / Isso encontra expressão em qualquer paisa-
gem — / As folhas de erva, as flores variadas / Que brilham na relva, as plantas, as árvo-
res, / As formigas caseiras, o afã das abelhas, as aves, / Os simples rebanhos e as mana-
das pastando.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
****** «Era a glória de uma noite calma / Do Outono africano, quando a ligeira e doce brisa
/ Acorda da calmaria só para por instantes agitar / As culminantes folhas das árvores, que
parecem / Acenar grotescamente à silente Lua.» (N. dos T.)
CAPÍTULO 13
To a Prostitute
Senhores,
Submeto à vossa apreciação o poema incluso. Tentei apenas atin-
gir o ridículo através da união do sério e do grotesco. Aliás, fiz uma
tentativa de ligar a ridicularia da expressão assim produzida a um mo-
vimento estrófico de carácter elegíaco, elevado. Avaliareis até que
ponto tive êxito.
Estou ciente de que o meu manuscrito devia ter sido dactilografado,
mas os meios de que disponho não mo permitiram. Tenho também
consciência de que não possuo experiência literária (não se pode es-
perar nenhuma de um rapaz de dezasseis anos); e de que, por esta
razão, quando redigi o meu manuscrito, posso ter rudemente ferido a
Convenção: espero que tudo isto me seja desculpado.
Assinei o meu manuscrito com um pseudónimo; mas quando um
estrangeiro escreve alguma coisa — em especial um poema —, o me-
lhor é não assumir directamente a paternidade dele.
Se o meu poema for recusado, receio que o tenhais de deitar para
o caixote do lixo, visto que cá não é possível obter selos ingleses.
Contudo, na esperança de ter êxito, incluo aqui o que posso — um so-
brescrito com o meu endereço.
Com a maior consideração,
F.A.N. Pessoa
O poema mencionado na carta era «Elegy on the Marriage of My
Dear Friend Mr. Jinks», uma sátira que descreve com mordacidade
a perspectiva sombria que espera Mr. Jinks na sua vida de casado,
e em que o jovem poeta se serve da linguagem de um dos mais ci-
tados poemas de Lord Byron, escrito quando estava a recuperar de
ter abusado da pândega no Carnaval de Veneza. Eis a primeira es-
trofe desse poema:
* A uma prostituta: «Como é bom pensar / Que um dia apodrecerás / E vermes encherão o
teu ventre / Na escuridão da tumba.» (N. dos T.)
** No original, há um jogo de palavras e sons entre a primeira e a segunda partes da frase:
«Stool is in America, in Washington – and it’s a ton of washing it will need with Stool there.»
(N. dos T.)
*** «Assim, não mais vaguearemos / Tão tarde na noite, / Embora com o coração ainda
amoroso, / E a Lua ainda brilhante.» (N. dos T.)
**** «Ah, ficarás contente ao cirandar / De loja em loja com ela, a tua sogra, / Ou estreme-
cer ao ouvir à noite, / Com profundo horror e susto, / A torrente palavrosa saída da boca da
tua mulher?» (N. dos T.)
CAPÍTULO 15
* A expressão «sino, livro e vela» refere-se ao método católico de excomunhão por anáte-
ma aplicado a quem tenha cometido um pecado excepcionalmente grave. (N. dos T.)
** «Disse o corvo, “Nunca mais!”», como traduzido por Fernando Pessoa. (N. dos T.)
*** «É velha estalagem com corredores tecidos / Num labirinto escuro onde, noite fora, /
Sem causa nem lugar se ouvem ruídos / De portas a fechar, o que nos apavora.» Tradução
de Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 16
APESAR DAS SUAS DÚVIDAS sobre aquilo que o mundo era, ou se, fi-
losoficamente, o mundo existia mesmo, Pessoa seguia de perto o
confuso desenrolar do melodrama político de Portugal, em que um
rei não isento de defeitos mas que não tinha nada de despótico se
tornara o objecto do descontentamento nacional crescente. Pessoa
escreveu em inglês sobre o que se estava a passar, e porquê, num
livro dirigido aos estrangeiros curiosos, mas infelizmente deixado
por terminar: Extent and Causes of Portuguese Decay. Segundo a
sua análise, «a vaga de ira e ódio» que acabaria por conduzir ao as-
sassinato do rei D. Carlos tinha começado em 20 de Novembro de
1906, quando um deputado republicano chamado Afonso Costa
(1871-1937) fez um discurso no Parlamento no qual atribuiu a res-
ponsabilidade do estado desastroso das finanças nacionais à má
administração fiscal e aos gastos exorbitantes do monarca e respec-
tivo clã.24 Após mais de uma hora de peroração, o presidente da
Assembleia pediu a Costa para não voltar a referir-se ao rei, ao que
o orador declarou: «Por muitos menos crimes do que os cometidos
por D. Carlos I, rolou no cadafalso, em França, a cabeça de Luís
XVI!» Costa, bem como outro republicano, foi expulso do Parlamen-
to durante trinta dias. Se as suas palavras inflamadas não foram
exactamente uma ameaça, foram de facto uma profecia: o rei, cujos
gastos nem remotamente poderiam ser comparados aos de Luís
XVI, seria morto quinze meses depois.
As despesas reais foram um pormenor secundário sagazmente
explorado pelos republicanos. A ameaça mais grave para a monar-
quia foi o colapso dos partidos tradicionais que a apoiavam. O pri-
meiro-ministro João Franco estava no exercício do cargo há apenas
seis meses, mas já era alvo de ataques vindos de praticamente to-
dos os lados. Foi Franco quem cunhou o termo «rotativismo» para
caracterizar o sistema ineficaz em que o poder passava, sem quais-
quer diferenças, de um partido político para o outro — o Progressis-
ta e o Regenerador —, não conduzindo o país a lado nenhum, pelo
que em 1903 formou uma facção dissidente: o Partido Regenerador
Liberal. A isto seguiu-se, dois anos depois, uma divisão no Partido
Progressista. Os republicanos, que estavam a obter a adesão de
muitos intelectuais, jovens e habitantes das cidades, começaram a
ser cortejados pelos dissidentes de ambos os partidos tradicionais.
As duas câmaras do Parlamento, cada vez mais fracturadas, reuni-
am-se para sessões cada vez mais curtas, que se transformavam
com muita frequência em combates de gritaria dos quais não era
possível retirar nenhuma decisão legislativa coerente.
Em todas as partes da Europa proliferavam igualmente partidos
políticos, com a diferença de que encarnavam muitas vezes distin-
ções ideológicas acentuadas. A Alemanha era governada por uma
coligação de centro-direita, mas os sociais-democratas, que nessa
altura eram marxistas doutrinários, tinham-se tornado o maior parti-
do nacional, recolhendo cerca de trinta por cento dos votos nas elei-
ções de 1907. Os socialistas franceses eram também uma força que
agora tinha de ser levada em consideração. Em Portugal, em parte
devido ao ritmo lento da industrialização, o apoio aos partidos de es-
querda era mínimo, e era difícil distinguir os programas eleitorais
dos partidos tradicionais que se alternavam no poder. O centro po-
lítico nacional, em vez de ser apanhado numa luta entre extremos
ideológicos, estava a desmoronar-se.
Como seria expectável, o método de vaivém na distribuição do
poder em Portugal tinha o seu exacto análogo no vizinho ibérico, Es-
panha, onde durante várias décadas o poder tinha alternado regular-
mente, por mútuo consentimento, entre liberais e conservadores.
Também aí o sistema, conhecido como turnismo e sustentado, como
em Portugal, por eleições fraudulentas, ameaçava derruir com o fra-
cionamento dos partidos oficiais, um processo agravado por movi-
mentos regionalistas, particularmente na Catalunha. Os republica-
nos espanhóis também estavam divididos em vários partidos e fra-
cassavam, por enquanto, na obtenção de um apoio popular signifi-
cativo. Os republicanos portugueses, pelo contrário, mantiveram
uma frente notavelmente unida enquanto estiveram na oposição.
Criticavam em uníssono e sem descanso os partidos no poder, por
perpetuarem um conluio de direitos adquiridos que impedia a nação
de avançar económica e socialmente.
Na esperança de poder evitar uma insurreição sangrenta lançan-
do uma «revolução» modesta controlada por si, D. Carlos tinha de-
signado João Franco, um denunciador incansável da corrupção po-
lítica e da ineficiência administrativa, para presidir a um governo re-
formista. Este governo baseou-se numa coligação improvável do
Partido Regenerador Liberal de João Franco com o Partido Progres-
sista, muito mais numeroso e chefiado por José Luciano de Castro,
já de idade avançada e doente. Em 25 de Maio de 1906, o novo pri-
meiro-ministro anunciou a intenção de governar de acordo com o
modelo britânico, fazendo intervir todas as tendências no processo
político, incluindo os republicanos. O programa apresentado conti-
nha propostas específicas para garantir eleições mais limpas, trans-
parência nas finanças governamentais, maior independência do sis-
tema judicial, descentralização administrativa, aumento da produtivi-
dade no sector privado, protecções sociais para os trabalhadores e
mais liberdade de imprensa.25
As eleições foram realizadas em Agosto e a legislatura foi convo-
cada para Setembro; no início as coisas pareciam estar a correr
bem para o novo governo. No entanto, João Franco sobrestimou a
sua capacidade de alterar as regras persistentes do jogo político em
Portugal, que era sobretudo vocacionado para defender os interes-
ses de cada partido político. Agora que o sistema de poder rotativo
estava em colapso, a cooperação entre partidos tinha-se tornado
ainda mais difícil. Ficar sentado a discutir calmamente e a promulgar
legislação progressista não fazia parte da agenda republicana, uma
vez que não havia nada a ganhar com uma reforma que podia elimi-
nar, como D. Carlos esperava, os motivos para a cruzada do partido
contra a monarquia constitucional. Os políticos de outras cores esta-
vam em modo de competição, tentando obter uma situação vantajo-
sa com manobras e manipulações, cépticos quanto à possibilidade
de realizar reformas genuínas, como se fosse muito tarde para isso.
Os jornais eram os agentes mais poderosos para formar a opini-
ão pública, e nesse terreno os antimonárquicos levavam vantagem,
pois é mais fácil fazer notícias sendo contra do que sendo a favor.
As informações sobre uma família real que vivia à grande e à fran-
cesa, através de empréstimos tecnicamente ilegais do erário públi-
co, incendiaram o povo. Numa tentativa de refrear os jornalistas, Jo-
ão Franco fez aprovar uma Lei de Imprensa enganadora, cujo pri-
meiro artigo garantia o direito à livre expressão jornalística, sem
censura, mas cujos artigos subsequentes determinavam sanções
pesadas para quem difamasse o rei ou os dirigentes políticos. A lei,
que se tornou efectiva em 11 de Abril de 1907, não tem recebido re-
ferência particular por parte da maioria dos historiadores, mas justifi-
cou um capítulo inteiro em Extent and Causes of Portuguese Decay,
de Pessoa. Quase três décadas depois, o controlo da liberdade de
expressão incitaria Pessoa a repudiar o regime de Salazar. De acor-
do com a sua maneira de pensar, as próprias palavras — não só as
pessoas que as falavam ou escreviam — tinham o direito inviolável
de serem ouvidas e lidas.
O capítulo seguinte de Extent and Causes of Portuguese De-
cay26, escrito no final de 1909 ou no início de 1910, focou-se na
greve estudantil iniciada na Universidade de Coimbra, depois de a
tese de um estudante de Direito ter sido rejeitada por razões políti-
cas. O candidato, filho de um antigo primeiro-ministro com apoios
republicanos, era ele próprio um republicano convicto e tinha dedi-
cado a tese a Teófilo Braga (1843-1924), escritor de tendências pro-
gressistas e político republicano, um anátema para os administrado-
res conservadores da mais antiga e na altura única universidade
portuguesa. Os estudantes de todas as faculdades boicotaram as
aulas como forma de protesto, forçando o reitor a fechar a escola.
Em 4 de Março, mais de trezentos estudantes de Coimbra apanha-
ram o comboio para Lisboa, onde expuseram as suas queixas em
relação ao Governo, obtendo facilmente o apoio de estudantes lo-
cais e da população em geral. Responsáveis pela Universidade de
Coimbra anunciaram a expulsão de sete estudantes grevistas, seis
dos quais republicanos, por supostamente terem gritado insultos
contra os professores e apedrejado as suas casas. A universidade
reabriu um mês depois, mas os estudantes não cediam e a greve
estendeu-se a quase todas as instituições portuguesas de ensino
superior, incluindo o Curso Superior de Letras que Pessoa frequen-
tava.
Em 15 de Abril, João Franco ordenou que todas as escolas afec-
tadas pela greve fossem encerradas até nova decisão. Entretanto, a
sessão legislativa tinha terminado vários dias antes, sem que prati-
camente quaisquer aspectos do programa de reformas do Governo
tivessem sido postos em prática. Abandonado pelo Partido Progres-
sista, parceiro de coligação, era suposto que João Franco se demi-
tisse, mas nem uma nova governação nem novas eleições pareciam
ser capazes de resolver o impasse político. Os dois partidos tradicio-
nais, «rotativos», eram demasiado fracos e estavam demasiado de-
sacreditados para serem forças de governação eficazes, mesmo
que ainda fossem suficientemente fortes para sabotar a tentativa de
quem quer que fosse de governar respeitando as normas legais. Por
isso, D. Carlos convidou João Franco a governar sem respeito pela
lei. O Parlamento foi dissolvido em 10 de Maio, dando-se início a um
regime ditatorial.
* «Qual é a coisa que buscas nas coisas? / Qual é o pensamento que o teu pensar não en-
contra? / Para que alturas tem o teu forte espírito asas? / A que visão elevada dói ser ce-
go?» (N. dos T.)
** Havia também um Prometeu Desacorrentado na Antiguidade, do qual subsistem apenas
alguns fragmentos.
CAPÍTULO 17
COMO UM HOMEM que, depois de lhe ter sido diagnosticada uma do-
ença grave, se dedica a saber tudo sobre as causas, sintomas e
consequências possíveis, também Pessoa tentou descobrir tudo o
que pôde sobre a «doença» da genialidade. Logo que acabou de
devorar Degeneração, de Nordau, lançou-se na leitura de uma tra-
dução francesa de L’uomo di genio, de Cesare Lombroso (1835-
1909), precursor italiano de Nordau, um clínico que investigava há
bastante tempo as ligações entre génio, loucura e degeneração.14
Lombroso, que é sobretudo recordado como criminologista, susten-
tava que o crime era também uma predisposição hereditária resul-
tante de degenerescência mental, tendo proposto que as prisões
fossem convertidas em manicómios.15
Foi em Julho de 1907 e na Biblioteca Nacional — onde provavel-
mente chegava todos os dias depois de ter almoçado com as tias
Maria e Rita — que Pessoa leu o tratado de Lombroso sobre o génio
e a loucura, bem como livros de autores ingleses, alemães e france-
ses sobre psiquiatria, doença mental e fisiologia. A caminho do final
do ano ou em 1908, adquiriu e leu The Insanity of Genius (1891), de
John Ferguson Nisbet, e Genius and Degeneration (1896), de Willi-
am Hirsch16, anotando febrilmente as margens de quase todas as
páginas. Mas a avidez rapace de Pessoa pelas perspectivas psi-
quiátricas sobre o carácter e o comportamento humanos, em especi-
al relativamente aos artistas, ainda não o levou a Sigmund Freud.
Embora Freud já tivesse publicado algumas das suas importantes
obras, incluindo A Interpretação dos Sonhos (1899), estas não fo-
ram amplamente traduzidas até 1910.
Comparando, sintetizando e elaborando sobre as suas leituras,
Pessoa preencheu vários cadernos e muitas páginas avulsas com
material para variados e nunca completados ensaios sobre génio,
degeneração, loucura e patologias psicológicas específicas. Elabo-
rava esquemas numa tentativa de sistematizar o génio em todas as
suas variedades, bem como as neuroses e psicoses que cada varie-
dade podia exibir. Num dos seus diagramas iniciais, incluídos num
caderno que usou em 1907, Pessoa dividiu os génios em três tipos
básicos — génios do pensamento, do sentimento e da vontade — e
três tipos híbridos: pensamento-sentimento, pensamento-vontade e
sentimento-vontade. E assinalava que os génios do pensamento es-
tão aptos a ser filósofos ou pensadores, os génios do sentimento
tendem a ser místicos, os génios do pensamento-sentimento serão
habitualmente poetas, e assim por diante. Outro esquema, que se
serve do jargão psiquiátrico característico da época, caracterizava
os génios segundo as suas psicopatologias — como neurasténicos,
histéricos, epilépticos ou combinações destes. Um punhado de géni-
os célebres servia de exemplo ilustrativo, com Napoleão e César
classificados como epilépticos, e Poe e Flaubert como histérico-epi-
lépticos. Shakespeare era catalogado como neurasténico histérico,
que é como Pessoa se referiu às vezes a si próprio ao longo da vi-
da.17 Numa carta datada de 1931, explicaria: «Sou um histeroneu-
rasténico com a predominância do elemento histérico na emoção e
do elemento neurasténico na inteligência e na vontade.»18
«Histeria», um termo que tem origem na palavra grega para
«útero», era um diagnóstico clínico habitualmente aplicado a mulhe-
res, com sintomas que iam de irritabilidade e desejo sexual imodera-
do a alucinações e perturbações psicossomáticas. Os médicos trata-
vam a enfermidade massajando os órgãos genitais femininos para
causar orgasmos, uma terapia que ajudou a popularizar o vibrador,
inventado nos anos 1880 para aliviar as dores musculares. Pessoa,
que estava perfeitamente consciente do entendimento tradicional da
histeria, formulou a sua própria descrição da síndrome, feita à medi-
da. A histeria, escreveu ele em inglês, manifesta-se em oscilações
de humor agudas, na tendência para sonhar acordado e na «simula-
ção e despersonalização, quer pela forma comum da mentira […]
quer pela auto-sugestão de emoções falsas». Não era coincidência
que a despersonalização fosse para Pessoa o traço distintivo dos
grandes poetas, que são capazes de sentir intensamente o que não
sentem naturalmente. A neurastenia, por outro lado, resultava da
tensão mental «do pensamento hiperactivo» e manifestava-se ca-
racteristicamente como «uma ansiedade surda» e «um enfraqueci-
mento e uma suspensão da vontade, uma impotência na acção e na
decisão».19 Esta definição também se ajustava ao próprio caso de
Pessoa. Em meados do século XX, ambos os diagnósticos desapa-
receriam quase por completo do léxico psiquiátrico.
Pessoa não usava a histeroneurastenia como um emblema na
lapela, mas nas suas notas e entre os seus amigos literatos agrada-
va-lhe poder interpretar quaisquer aspectos excêntricos e perturba-
dores da sua psicologia como sintomas da mesma enfermidade que
afectara Shakespeare, que não teria sido Shakespeare sem esse
mal. Segundo a análise de Pessoa do «caso» partilhado, a desper-
sonalização que deu origem aos heterónimos, assim como a Ham-
let, Lady Macbeth, King Lear e Falstaff, era uma excrescência, ou
desvio, dos impulsos femininos («histéricos») de ambos os escrito-
res. E o «pensamento hiperactivo» deles, que levava à passividade
«neurasténica», era um factor que provavelmente contribuía para a
dispersão literária em inúmeros tipos caracterológicos.
Search foi um céptico compulsivo e maníaco até ao seu fim, que so-
breviria com «vinte e tal anos», segundo o mesmo epitáfio — como
Shelley, que morreu com vinte e nove, ou Keats, que viveu apenas
vinte e cinco. A profecia confirmou-se: Search deixou efectivamente
de existir em 1910, o que fazia com que tivesse vinte e dois anos,
pois, como Pessoa, nascera em 13 de Junho de 1888.
Apesar da conexão visceral sugerida por esta coincidência de
datas de nascimento, como se fossem gémeos idênticos, a semilou-
cura de Search e o receio de perder por completo a sanidade mental
não eram partilhados pelo seu criador. Fernando Pessoa era o dili-
gente estudioso de psiquiatria e das teorias que ligavam genialidade
a degenerescência mental. Alexander Search, também um estudio-
so, bem como um colaborador cativo, tornou-se o sujeito experimen-
tal que representou a própria loucura ou quase-loucura. Quando o
interesse intelectual de Pessoa pelo assunto começou a esmorecer
no final da década, Alexander Search perdeu a sua razão de ser e
deixou de assinar poemas. Durante a década seguinte, Pessoa con-
tinuou a escrever prolificamente poesia em inglês — toda com o seu
próprio nome, com uma excepção. Em Julho de 1916 comporia um
poema que começa com
e termina com
Pobre Mr. Search, que, na sua própria opinião, estava a ficar des-
controlado, uma vez que o pensamento está «condenado ao símbo-
lo e à analogia», recusando-lhe a possibilidade de tirar conclusões.
Anda em círculos. Aceitando que é assim, concebe um círculo místi-
co como um símbolo ou um contentor de símbolos capaz de repre-
sentar as imperscrutáveis leis da natureza e os misteriosos proces-
sos e transformações da vida. Search, por outras palavras, espera
conseguir acalmar as suas desvairadas especulações sobre a exis-
tência e o funcionamento do mundo admitindo a possibilidade da re-
solução mística, não racional, das suas dúvidas. A esperança é frus-
trada, segundo a terceira e última estrofe do poema:
* Em Maio de 1907, menos de um mês antes de ter escrito «A Very Original Dinner», Pes-
soa leu O Barão de Lavos (1891), de Abel Botelho, que narra a história de um homossexu-
al aristocrático cuja «doença» é apresentada como o resultado cientificamente lógico de
vários séculos de degenerescência familiar, sendo exacerbada pela atmosfera devassa da
vida urbana.
** «Para mim tudo é uma interrogação / Que da normalidade se afasta, / E o seu incessan-
te interrogatório gasta / O meu coração. / As coisas são e parecem, e nada sustenta / O se-
gredo da vida que ostenta.» (N. dos T.)
*** «Tudo fica escuro. Sinto / Que a razão me deixa como um último raio de sol.» (N. dos
T.)
**** «Aqui jaz Alexander Search / De Deus e homens abandonado, / Da natureza troçado
em dor; / Não acreditou em igreja ou estado, / Em Deus, homem, mulher ou amor, / Nem
na terra aqui ou no céu além.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
***** «Não há paz excepto onde não estou» e «Ó Mãe das Sombras, cujo gélido beijo fatal /
É a loucura, precipita-te para o meu cérebro!». (N. dos T.)
****** Nordau, aliás, catalogara como degenerados tanto Wagner como Nietzsche, que fo-
ram figuras centrais da mitologia ariana nazi.
******* «Meu simples pensar em vão quis parado / O correr desta loucura à revelia, / Mas
meu pensamento está condenado / Ao símbolo e à analogia: / Julguei que um círculo en-
cerrasse inteiro / Em calma, a violência do mistério.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
******** «E assim, em cabalístico jeito, / Ali tracei um círculo, curioso; / O círculo traçado era
imperfeito, / Embora em sua forma, cuidadoso. / Profundamente, da Magia ao falhar, / Li-
ção tirei que me fez suspirar.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 18
Não tenho ninguém em quem confiar. A minha família não entende na-
da. Não posso incomodar os meus amigos com estas coisas; não te-
nho amigos verdadeiramente íntimos, e mesmo que tivesse um amigo
íntimo, em termos aceitáveis para o mundo, não seria, no entanto, ínti-
mo nos termos em que eu entendo a intimidade. Sou tímido e não es-
tou disposto a dar a conhecer as minhas angústias. Um amigo íntimo é
um dos meus ideais, um dos meus devaneios, mas um amigo íntimo é
algo que nunca terei. Nenhum temperamento se me ajusta; não há um
carácter neste mundo que se mostre capaz de se aproximar daquilo
que eu sonho num amigo íntimo. Basta, já chega disto.
* Como muitos outros leitores, Pessoa entendeu erroneamente que Alastor é o nome do
protagonista do poema. Alastor, da mitologia romana, é o nome que Shelley deu ao espírito
da solidão que assombra o inominado herói do poema.
** Tratava-se provavelmente de uma invenção que permitia mudar de letras minúsculas pa-
ra maiúsculas e vice-versa de uma forma mais expedita. (N. dos T.)
*** «Tudo isto me alimenta, sabe bem, agrada-me, torna-se meu, / Eu sou o homem, eu so-
fri, eu estive lá.» Tradução de José Agostinho Baptista (Walt Whitman, Folhas de Erva [Lis-
boa: Assírio & Alvim, 2003]. (N. dos T.)
**** «As agonias são uma das minhas vestes, / Não pergunto ao ferido como se sente, eu
próprio me converto no ferido.» Tradução de José Agostinho Baptista. (N. dos T.)
CAPÍTULO 19
* As peças com temática sexual de Wedekind, importa que se diga, foram largamente inspi-
radas pela sua experiência de boémio em Paris entre 1892 e 1895.
CAPÍTULO 20
* «O que é a vida para que nos incomodemos com ela? / O que é o amor para que lhe su-
portemos / Esperança e desespero e infelicidade? // Nada vale nada. / Abandonemos a es-
perança, [verso incompleto] / E cruzemos os braços e fechemos os olhos / E deixemos a
apatia reinar.» (N. dos T.)
** «Ah quantas máscaras e submáscaras / Usamos sobre a alma! E quando, a gosto, / A
alma tira a última das máscaras, / Será que ela conhece o simples rosto?» Tradução de Lu-
ísa Freire. (N. dos T.)
*** «E até o pensar uma máscara tem / Quando quer a alma desmascarar.» Tradução de
Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 22
* A percentagem de analfabetos era de cerca de cinquenta por cento em Espanha, oito por
cento nos Estados Unidos e dois por cento em Inglaterra.
** Actualmente a igreja sem telhado alberga um museu arqueológico.
CAPÍTULO 23
Chorai, arcadas
Do violoncelo,
Convulsionadas.
Pontes aladas
De pesadelo...
PESSOA TINHA UMA RAZÃO mais nobre para não viajar para Lon-
dres: o despontar da Renascença portuguesa. Mais precisamente,
aquilo que o fez permanecer em território pátrio foi o intenso esforço
para demonstrar, numa série de artigos densos que escreveu entre
Março e Dezembro de 1912, que uma Renascença portuguesa esta-
va iminente e era inevitável. Os artigos foram publicados em A
Águia, revista sedeada no Porto que pertencia à Renascença Portu-
guesa, um movimento cujo próprio nome reflectia a crença num res-
surgimento nacional. Quer o movimento quer a revista contribuíram
para a evolução de Pessoa como escritor e figura pública que em
breve haveria de criar movimentos e uma revista próprios.
No meio da turbulência e da instabilidade que continuavam a
afectar a república recém-instaurada, A Águia conseguiu ter uma
existência duradoura e notavelmente estável. Lançada em Dezem-
bro de 1910, dois meses após a revolução republicana, a revista
subsistiria até à década de 1930, mas é sobretudo recordada pelos
anos iniciais, quando Portugal se sentia um país novo onde tudo era
possível. Contemplando poesia, ficção, investigação sociológica, crí-
tica cultural e artigos sobre educação e com uma grande vontade de
promover o auto-aperfeiçoamento, A Águia encarnou o espírito do
nacionalismo republicano dando-lhe uma tonalidade mística. Teixei-
ra de Pascoaes, um importante poeta e o ensaísta mais influente
publicado pela revista, escreveu um artigo para o número inaugural
no qual elogiava os rendeiros e outras pessoas ligadas à terra que,
apesar das «superstições católicas» neles inculcadas por padres de
mentes tacanhas, eram admiravelmente habitados por «aquela Al-
ma excepcional, instintivamente naturalista e mística, que criou a
Saudade, promessa duma nova Civilização Lusitana» (em itálico no
original). Pascoaes tornou-se director de A Águia em 19123 e pro-
moveu com fervor evangélico a doutrina do saudosismo, segundo a
qual a saudade era uma energia da alma essencialmente portugue-
sa e a chave para o progresso civilizacional da nação.
Em A Evolução Criadora (1907), o filósofo francês Henri Bergson
tinha proposto que o élan vital era um impulso primordial responsá-
vel pela evolução e a criatividade no seu sentido mais lato. Esta
ideia deu rapidamente origem a conceitos semelhantes e pode ter
influenciado Pascoaes, que parece ter entendido a saudade como
um élan vital localizado, especificamente português — «o próprio
sangue espiritual da Raça», segundo o editorial escrito para o nú-
mero de Janeiro de 1912 de A Águia. Embora várias vozes proemi-
nentes da Renascença Portuguesa não apreciassem esta visão es-
sencialista e racista do espírito, ou alma, ou povo português, foram
as ideias de Pascoaes que prevaleceram, garantindo firmes segui-
dores, incluindo Mário Beirão (1890-1965), um bom amigo de Pes-
soa cujos poemas tinham vindo a ser publicados com regularidade
em A Águia desde Janeiro de 1911.
Terá sido nos cafés que Pessoa conheceu Mário Beirão, cujos
olhos negros e fundos irradiavam seriedade e sinceridade, e talvez
tenha sido através de Beirão que conheceu Pascoaes, homem que
aparentava estar na posse de um grande segredo. (Pascoaes era
oriundo do norte de Portugal, mas visitava de vez em quando Lis-
boa.) Ou talvez tenha sido Pessoa, por sua própria iniciativa, a es-
crever uma carta a Pascoaes ou a outro responsável de A Águia pa-
ra que ele publicasse o primeiro dos seus artigos sobre a poesia
portuguesa contemporânea. Comprava a revista desde o primeiro
número e identificava-se até certo ponto com a filosofia e as ambi-
ções do grupo da Renascença Portuguesa.4 De facto, apercebeu-se
subitamente de que as ideias que tinha sobre as transformações
que ocorriam em Portugal estavam mais ou menos em sintonia com
as do grupo. Ou melhor, poderia (e iria) revestir as suas ideias de
modo a criar a impressão de uma quase convergência, conquistan-
do assim uma plataforma para as promover.
A Águia publicou «A nova poesia portuguesa sociologicamente
considerada» de Pessoa no número de Abril de 1912. Este foi o seu
primeiro texto de crítica publicado, e a intelectualidade portuguesa fi-
cou abismada com a sua argumentação deslumbrante e a sua lin-
guagem exacta, mesmo se a tese e a conclusão fossem considera-
das por alguns como um embuste. Adoptando uma perspectiva evo-
lucionista, Pessoa estabelecia uma relação entre progresso literário
e progresso político ou sociológico. Explicava em detalhe que, assim
como Shakespeare e os seus pares isabelinos floresceram no início
da grandiosa era política (na opinião dele) que culminaria na repúbli-
ca de Oliver Cromwell, e assim como o grande movimento literário
francês — o romantismo — começara depois da queda do Ancien
Régime mas antes de a Revolução Francesa se enraizar na alma do
povo (entre 1848 e 1870, segundo os seus cálculos), era quase cer-
to que o padrão se repetiria em Portugal: a nova mas ainda desajei-
tada república levaria ao mais grandioso período sociopolítico da
sua história, que seria precedido pelo mais grandioso período literá-
rio de sempre. O facto (para ele óbvio) de a poesia portuguesa da
altura ser original, intensamente portuguesa e objectivamente de al-
ta qualidade confirmava a ocorrência de uma Renascença literária, e
isto confirmava, por sua vez, que o vigente estado de desordem da
jovem república era um prelúdio dissonante do «futuro glorioso que
espera a Pátria Portuguesa».
Uma vez que o ponto literário mais elevado de um país prenun-
cia o seu ponto político mais elevado, e uma vez que o zénite políti-
co já podia ser vagamente discernido, Pessoa deduzia que a exce-
lente poesia portuguesa que estava a ser produzida em 1912 era o
terreno propício ao surgimento de um escritor genial, que elevaria
rapidamente a literatura nacional a alturas nunca antes vistas. Era
inevitável, concluía ele, que um «Grande Poeta» emergisse e eclip-
sasse Luís de Camões. Não referia que o putativo Grande Poeta era
ele próprio.
Nem toda a gente pensou que as observações e conclusões de
Pessoa fossem óbvias ou inevitáveis. Uma semana depois da publi-
cação do artigo, um jornal lisboeta apresentou uma crítica que refu-
tava os pontos principais do texto. Pessoa escreveu uma réplica pa-
ra o número de Maio de A Águia, no qual reiterava e expandia os ar-
gumentos originais. Para sustentar a afirmação de que a nova poe-
sia portuguesa tinha atingido um extraordinário grau de originalidade
e «elevação», citava exemplos concretos, como os versos seguintes
de Teixeira de Pascoaes:
* Na província mais liberal do Cabo, os negros podiam tradicionalmente votar, mas foram
sendo privados de direitos civis depois de a África do Sul se tornar independente.
CAPÍTULO 25
* «[...] entre o silêncio e o dizer, / Entre o nosso dormir e o despertar, / Entre nós e a cons-
ciência de nós.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 27
É difícil dizer para que é tudo isto, mas a sentinela erecta e a sua
lança ainda mais alta são claramente fálicas. Até nestes pauis o im-
pulso sexual perseguia o poeta. Mário de Sá-Carneiro disse ao ami-
go que a sentinela e a sua lança o tinham assustado inexplicavel-
mente, mas mesmo assim admirava essa imagem perturbadora,
bem como o resto do poema, e citava muitos dos versos a Pessoa
na carta de 6 de Maio. Rejeitando o receio do amigo de que o poe-
ma pudesse ser demasiado «nebuloso», declarava que era «subli-
me», uma das melhores coisas que Pessoa tinha escrito até então.
O entusiasmo de Sá-Carneiro é compreensível, uma vez que a
sua própria poesia recorre a motivos e efeitos atmosféricos similares
— anseios, coisas douradas, luz crepuscular — para descrever um
ser exteriorizado e narcisisticamente contemplado. O narrador de
Pessoa é menos um narcisista do que um homem confundido pelo
que vê. Sente-se separado do seu próprio eu e inseguro em relação
ao lugar onde ele começa e acaba, ou se o eu que parece ver é re-
almente ele. «Que pasmo de mim anseia por outra coisa que o que
chora! », declara no oitavo verso.
Elogiado e promovido por Sá-Carneiro, o poema «Pauis» circu-
lou entre os amigos dele e de Pessoa e acabou por dar o nome a
um movimento literário português conhecido como «paulismo», defi-
nível como um simbolismo exacerbado, com sugestão, incerteza e
mistério a envolver imagens extravagantes num mundo de sombras
sem tempo ou geografia. Este foi um estilo que Pessoa utilizou não
só em poemas, mas também, e de uma forma muito eficaz, em cer-
tas peças em prosa que incluiu no seu mais novo projecto literário,
Livro do Desassossego. Esta obra, a mais extensa e poderosa que
escreveu, teve um início humilíssimo: germinou de uma palavra,
«desassossego», que Pessoa apontou em grandes letras ao lado de
um poema escrito em 20 de Janeiro de 1913. Sabia que queria usar
a palavra como título, mas em que género de livro? Sem uma ideia
clara ou mesmo confusa da forma que poderia assumir, começou a
escrever trechos em prosa que eram frequentemente fragmentários
e incompletos, reflectindo as suas próprias hesitação e incerteza. Al-
guns passos eram «paúlicos», enquanto outros eram lamentosos,
exaltados ou meditativos, havendo outros ainda que eram lucida-
mente analíticos. A obra mudava de direcção de uma maneira im-
previsível, levando o escritor a reboque, como um carro cujo condu-
tor tivesse perdido o controlo do volante.
Neste período o próprio Pessoa estava dominado por um senti-
mento de desassossego. As entradas de diário de 1913 revelam um
homem sempre impaciente, incapaz de parar durante muito tempo,
umas vezes porque estava animado, outras porque estava nervoso
e espiritualmente perturbado. O dia 20 de Março, segundo o diarista,
foi «de depressão absoluta e mortal». Ao longo da vida, Pessoa foi
periodicamente afectado por esse tipo de depressão que chega co-
mo uma onda negra, sem razão aparente, mas as oscilações de hu-
mor e a inquietude que sentia nesta conjuntura da vida estavam re-
lacionadas com a sua situação pessoal enquanto jovem de vinte e
cinco anos que está ainda à procura do seu caminho.
A sua carreira literária estava mais ou menos encarreirada, os ar-
tigos publicados já tinham provado o seu talento como crítico e ami-
gos como Sá-Carneiro reverenciavam a sua poesia, instando-o a
publicá-la sem mais delongas, mas socialmente era uma pessoa es-
quisita. Constava entre os frequentadores dos cafés que era melhor
não dizer nada indecente diante de Pessoa, que poderia corar, ou
incomodar-se, ou irritar-se. O diário não diz com exactidão como re-
agia quando o sexo entrava na conversa, mas dá conta de como se
sentiu aflito uma tarde em que encontrou uma mulher no gabinete
editorial da revista Teatro, onde tinha ido para conversar com os ra-
pazes.4
Eu não sonho possuir-te. Para quê? Era traduzir para plebeu o meu
sonho. Possuir um corpo é ser banal. Sonhar possuir um corpo é tal-
vez pior, ainda que seja difícil sê-lo: é sonhar-se banal — horror supre-
mo.6
* «O noivo anseia de tudo o final / No desejo dos seios em prazer chupado, / No pôr da
mão no pêlo virginal / E no apalpar do antro labiado / Da fortaleza pronta para assaltar, /
Que faz o aríete crescer e ansiar.» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
** «Pernas cabeludas e as nádegas tensas para fender / Pernas brancas entre as quais se
movem.» (N. dos T.)
*** «Tão natural como / Mijar quando a vontade o impõe!» (N. dos T.)
CAPÍTULO 28
Levei uns dias a elaborar o poeta, mas nada consegui. Num dia em
que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me
de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé,
como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a
fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi
o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com
um título, «O guardador de rebanhos». E o que se seguiu foi o apareci-
mento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto
Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu
mestre.
Esquece, mas não seria o poeta Alberto Caeiro sem todo aquele sa-
ber anterior.
A PRIMEIRA PESSOA A TRADUZIR Caeiro para inglês de uma forma
sustentada — doze poemas — foi Thomas Merton (1915-1968), um
monge trapista americano que era ele próprio um bom poeta, além
de um notável escritor de literatura contemplativa. Estudou as tradi-
ções místicas orientais, apercebendo-se dos seus nexos com o mis-
ticismo ocidental (São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, Mestre
Eckhart...) e sentiu-se particular e pessoalmente atraído pelo budis-
mo zen. Foi a «proximidade com a doutrina zen» dos poemas de
Caeiro, lidos primeiramente na tradução espanhola de Octavio Paz,
que o atraiu. No entanto, notou perspicazmente que esta qualidade
zen era «às vezes complicada por uma certa nota de uma insistên-
cia consciente e programática».14
Em 1914 o budismo zen ainda não se tinha tornado popular no
Ocidente, e o conhecimento de Pessoa sobre o assunto era reduzi-
do, embora estivesse interessado nos princípios e no espírito do bu-
dismo em geral. A semelhança de Caeiro com o zen era pura coinci-
dência, evidente na sua renúncia ao saber através do estudo e aos
preconceitos que alimenta, no seu compromisso com ver o que lá
estava para ser visto, sem interpretação, e na sua desconfiança
quanto à especulação metafísica. Uma investigadora chegou a iden-
tificar semelhanças entre os versos de Caeiro e estilos poéticos ja-
poneses como o haiku, caro a muitos seguidores do zen.15 O princi-
pal objectivo do zen, que é o satori, ou iluminação, não foi uma am-
bição de Caeiro, que era isento de ambições, mas as suas qualida-
des zen acidentais foram o que fez dele o mestre de dois outros im-
portantes heterónimos prestes a surgir — Álvaro de Campos e Ri-
cardo Reis — e do próprio Fernando Pessoa. Além disso, a história
do magistério de Caeiro conduz também a outro ponto em comum
com o budismo zen, cuja essência é apropriadamente transmitida
através do diálogo com o exemplo de um mestre, e não mediante o
estudo e a devoção individuais.
Pessoa foi o primeiro a admitir o absurdo de afirmar que Caeiro
foi seu mestre, mas a afirmação pode não parecer tão absurda se
se pensar em Caeiro como uma convergência de poderosas influên-
cias poéticas que, atingindo de imediato Pessoa, o mudaram para
sempre. Efectivamente, o Dia Triunfal mítico e metafórico da vida de
Pessoa não foi só sobre o nascimento de Alberto Caeiro, mas tam-
bém sobre o seu próprio renascimento. O relato que Pessoa faz da-
quilo que aconteceu em 8 de Março de 1914 não acaba com a apa-
rição nele de Alberto Caeiro. Ele continua e diz que, após escrevi-
nhar trinta e tal poemas em nome e no estilo do «mestre» Caeiro,
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o Sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
As outras odes enviadas para Paris mencionavam os deuses Pã,
Apolo, Ceres, Júpiter e Plutão, bem como o filósofo Epicuro, que en-
sinou que o prazer é o bem supremo. Para Ricardo Reis, o prazer
positivo era uma coisa pouco expectável num mundo moderno go-
vernado pelo pensamento cristão, que ele detestava; esforçava-se
para, pelo menos, viver calmamente e sem sofrimento. Nascido em
19 de Setembro de 1887, este amante da Antiguidade era o heteró-
nimo mais velho e o único que nasceu antes do próprio Pessoa.
Sá-Carneiro definiu o novo poeta como um Horácio dos tempos
modernos (mas «multiplicado por alma», disse a Pessoa), em parte
por causa de todas as referências aos deuses do Olimpo, mas tam-
bém por causa dos temas, do tom elevado e do equilíbrio clássico. À
medida que mais odes de Reis eram escritas, o vocabulário e a orto-
grafia tornavam-se mais latinizados e a sintaxe mais intricada, com
recurso frequente a adaptações portuguesas de estrofes ditas «al-
caicas» e «sáficas», assim designadas devido aos poetas Alceu e
Safo, que eram ambos naturais da ilha grega de Lesbos.* Estas ca-
racterísticas formais reflectem as de Quinto Horácio Flaco, que se
tornou célebre por adaptar para latim complexas métricas líricas gre-
gas.
Horácio também inspirou as recomendações de Ricardo Reis pa-
ra que se vivesse para o dia de hoje, se seguisse o caminho do
meio e se aceitasse aquilo que os deuses, ou o destino, tivessem
determinado, mas o heterónimo era mais melancólico e menos di-
vertido do que o seu precursor romano. Uma ode datada de Junho
de 1914 — altura em que Reis, com apenas um mês, já tinha atingi-
do a maturidade do seu estilo — aconselha-nos a viver
* A estrofe alcaica, como adaptada por Pessoa-Reis, consiste em dois versos que contêm
quatro pés métricos seguidos por dois mais curtos, enquanto a estrofe sáfica tem três ver-
sos longos seguidos por um curto.
CAPÍTULO 33
Sonhador e civilizador
(1914-1925)
* O Partido Republicano Português, chefiado por Afonso Costa, foi informalmente chamado
Partido Democrático, a fim de o distinguir de dois outros paridos igualmente republicanos.
** O exército de dezoito mil homens reunido por D. Sebastião incluía para cima de cinco mil
voluntários e mercenários vindos de Espanha, Alemanha, Flandres e Itália. A ele se junta-
ram, em Marrocos, cerca de seis mil tropas mouras de Abu Abdallah, rei deposto que pro-
curava recuperar o trono agora na posse do tio, Abd Al-Malik, que era apoiado pelos oto-
manos e tinha reunido um exército três vezes mais numeroso do que as forças reunidas
sob o comando de D. Sebastião.
*** Um jornalista que seguiu os acontecimentos, Euclides da Cunha, escreveu Os Sertões,
uma crónica apaixonante sobre a Guerra de Canudos.
CAPÍTULO 35
Tudo — incluindo tudo aquilo que Pessoa disse ou fez — era mais
do que parecia ser, segundo o seu ponto de vista dessa altura. E
apesar da compulsão para a dúvida, que minava todas as tentativas
para professar uma qualquer fé, Pessoa, como um devoto, trataria
de realidades mais elevadas e escondidas ao longo do resto da vi-
da.
A primeira dessas realidades que o cativaram foi aquela que con-
seguia ver ao olhar à noite para o céu escuro e sem nuvens. Nos fi-
nais de 1914 começou a ler atentamente manuais de astrologia, co-
mo se fosse um homem obcecado com a aprendizagem de uma lín-
gua estrangeira. Copiou e recopiou os símbolos dos planetas, as re-
lações angulares conhecidas como «aspectos», as suas influências,
e em 1915 fez uma série de mapas astrológicos de pessoas famo-
sas do passado, comparando os resultados obtidos com os de ma-
pas publicados por astrólogos eminentes. Em resumo, concebeu o
seu próprio curso de auto-aprendizagem, com a ajuda de textos
clássicos sobre astrologia de autores como Sepharial, Raphael, Ge-
orge Wilde e Alan Leo. O estudante aplicado adquiriu alguns dos
seus manuais na livraria inglesa, situada na Baixa, na Rua do Arse-
nal, perto do rio. Quando o livreiro, o senhor Tabuada, lhe falou de
outro cliente interessado em astrologia, Pessoa entusiasmou-se e
pediu-lhe para os pôr em contacto, ansioso por aprender com al-
guém mais experiente na matéria.
César Porto (1873-1944), que usava óculos sem aros como Pes-
soa, mas tinha um rosto mais cheio e uma farta cabeleira, era um
dedicado professor de liceu e poeta, dramaturgo e romancista de ta-
lento limitado. Já estudava astrologia há alguns anos, mas não seria
capaz de ensinar nada a Pessoa, que assimilara rapidamente a arte
de construir e analisar mapas astrológicos lendo e treinando sozi-
nho. Não obstante, Pessoa ficou encantado por poder fazer amizade
com alguém com quem pudesse discutir assuntos astrológicos e de
quem pudesse obter uma opinião sobre os mapas que fazia. Encon-
traram-se com regularidade em 1915 e 1916, normalmente no Café
A Brasileira da Praça do Rossio, e depois esporadicamente, man-
tendo-se em contacto até à morte inesperada de Pessoa, em 1935.
Em Novembro de 1936, César Porto publicaria um artigo num
jornal lisboeta sobre o interesse do seu falecido amigo pela astrolo-
gia.7 Enquanto para ele a astrologia nunca passara de um passa-
tempo que produzia «curiosas previsões», era uma paixão ardente
para Pessoa, que matutava sobre as ligações mais profundas entre
«os movimentos siderais» e a vida humana na Terra. Sem o dizer
claramente, Porto insinuava que Pessoa levava a astrologia demasi-
ado a sério e gastava demasiado tempo com ela. Lamentava que a
produção literária do amigo tivesse ficado «não só dispersa porque
as partes não formam um todo homogéneo, mas — o que é pior —
sem um produto onde o seu ser inteiro se espelhasse». O falecido
poeta, admitia Porto, nunca se tinha realmente encontrado.
O primeiro biógrafo de Pessoa faria, no essencial, o mesmo diag-
nóstico, argumentando que os heterónimos eram um produto da in-
capacidade de o poeta pôr todo o seu ser na obra escrita. É uma
conclusão razoável. Pessoa foi o primeiro a acusar-se de ser facil-
mente atraído para demasiadas direcções distintas, e disse a Côr-
tes-Rodrigues que precisava urgentemente de eliminar distracções,
porque estas o impediam de desenvolver o seu génio literário e de o
usar em proveito de Portugal e da civilização humana. E, no entan-
to, dedicou-se prodigamente ao novíssimo interesse, sacrificando
tempo que poderia ter usado para escrever. A busca espiritual de
Pessoa tornou-se rapidamente uma odisseia que evoluiu para órbi-
tas cada vez mais largas, criando condições muito mais difíceis para
que ele concentrasse o seu ser total numa única obra de literatura
— um objectivo que, de qualquer modo, pouco poderia significar pa-
ra quem tentava apreender o cosmos dentro de si, bem como o uni-
verso que está para lá dele.
* Durante os quarenta anos que se sucederam à morte de Pessoa, este verso haveria de
ser censurado nas edições portuguesas das suas obras.
** Pregando a igualdade entre brancos e negros, Vieira sentia-se horrorizado pela escrava-
tura mas achava que devia existir uma razão divina para a sua existência, e por isso dizia
aos escravos brasileiros que aceitassem a sua sorte.
CAPÍTULO 37
Quero dizer-lhe, de uma maneira muito franca, que não tenho nada de
futurista; percebi, no entanto, na sua atitude (que não na sua Obra) es-
se amor pelas coisas modernas que estava já em mim, de que procu-
rei dar, na «Ode triunfal», uma expressão puramente de engenheiro,
puramente mecânica e técnica.
Como não admito que haja qualquer relação entre arte e realidade,
não posso, como é natural, aceitar a sua técnica e os seus processos.
Para mim, as suas palavras em liberdade não fazem sentido. Não ad-
mito senão as minhas sensações e, para utilizar a sua expressão, não
admito na arte senão sensações em liberdade.
Alguns dirão que todo o nosso amor foi apenas os nossos crimes;
Outros contra os nossos nomes as facas afiarão
Do alegre ódio à beleza da beleza, e farão
Dos nossos nomes base para nela esquadrinhar
Os nomes de todos os nossos irmãos com célere escárnio.
Por isso eu quero frisar — e sei que ao frisá-lo estão comigo os votos
de grande número dos portugueses, dos católicos oprimidos, das clas-
ses médias atacadas, dos cidadãos pacíficos assaltados nas ruas, de
todos aqueles que o general Pimenta de Castro representava — que
só não se regozija, no desastre acontecido a Costa, a circunstância,
que infelizmente se parece confirmar, do seu restabelecimento.
Felizmente para Pessoa, a carta não foi terminada. Se tivesse sido
recebida e publicada pelo jornal, a sua vida teria ficado de facto em
grande perigo.
* Quinze homens em cima do baú do homem morto, / Aiou-ou-ou e uma garrafa de rum. (N.
dos T.)
** Isto descreve precisamente o argumento de Le basi de Marinetti, que ninguém, com toda
a probabilidade, estava seriamente a pensar encenar em Lisboa.
CAPÍTULO 39
Senhores,
Tendo inventado dois jogos, que podem ser apelidados de jogos de
guerra, para serem jogados com dados e em tabuleiros especiais, pre-
tendo saber se estarão interessados neste assunto e se, portanto, vo-
los posso enviar, com regras completas e explícitas e desenho dos ta-
buleiros. [...]
Disse que se lhes poderia chamar jogos de guerra, mas é preciso
compreender que isto significa que, caso seja necessário, podem ser
anunciados, com o objectivo de serem vendidos, como estando relaci-
onados, digamos, com a presente Guerra. Efectivamente, quase todos
os jogos, uma vez que são competições, podem ser chamados jogos
de guerra; as damas e o xadrez são exemplos salientes.
Estimado Senhor,
[...] Com esta carta envio o segundo número da nossa revista tri-
mestral Orpheu, que representa o movimento sensacionista da recente
literatura portuguesa. A circunstância de o primeiro número ter esgota-
do em três semanas impede-me de enviar também um exemplar dele.
É provável que não saiba português, e o segundo número do Orpheu
recorre talvez demasiado, não a sentimentos futuristas, mas a proces-
sos futuristas, para que seja do seu agrado. No entanto, o movimento
sensacionista português é uma coisa bastante diferente do futurismo e
não tem qualquer relação com ele.1
Nothing: all,
And I centre of to recall,
As if Seeing were a god.*
* «Nada: tudo, / E eu centro de recordar / Como se Ver fosse um deus.» (N. dos T.)
CAPÍTULO 41
A MÃE DE PESSOA, MARIA MADALENA, que ele não via há sete anos
e meio, continuava a enviar-lhe fielmente uma carta semanal, que
Pessoa abria, lia à pressa e acrescentava à pilha das cartas anterio-
res. Escrevia-lhe sobre a família que tinha constituído com o cônsul
João Miguel Rosa, sobre a casa de Pretória onde moravam, sobre
algumas das pessoas de Durban com quem ainda estava em con-
tacto e sobre diversos parentes portugueses — nada que divertisse
ou interessasse particularmente o filho mais velho. Mas, embora les-
se com mais entusiasmo, e mesmo voracidade, as cartas que rece-
bia de Sá-Carneiro, prezava muito as da mãe, por funcionarem co-
mo uma espécie de âncora que ainda o ligava firmemente ao seu
antigo sentimento de pertença familiar. A preocupação constante
que ela manifestava em relação à saúde do filho, as expressões de
amor e carinho e a caligrafia cujas curvas e linhas conhecia tão bem
— podia sempre contar com estas coisas, semana após semana,
qualquer que fosse a «crise» de angústia por que estivesse a pas-
sar. E por isso, em meados de Dezembro de 1915, quando chegou
uma carta que não era da mãe mas do padrasto, Fernando abriu-a
rápida e nervosamente, perguntando-se que diabo tinha acontecido.
Na segunda semana de Novembro, a mãe sofrera um acidente vas-
cular cerebral que a deixara paralisada do lado esquerdo. Apenas
nessa altura soube da notícia, pois o correio proveniente da África
do Sul demorava cerca de um mês a chegar a Lisboa.1
O jovem ficou completamente aturdido. Embora Maria Madalena
se queixasse nas cartas de achaques ocasionais e de más-disposi-
ções, nunca lhe tinha ocorrido que pudesse não ser invulnerável. Ti-
nha cinquenta e três anos, quase cinquenta e quatro — era demasi-
ado nova para ter um AVC. Felizmente, o lado direito do corpo não
fora afectado, mas o lado esquerdo sim, e muito. Durante os seis
meses seguintes, João Miguel Rosa enviaria relatórios semanais a
Fernando informando-o sobre a recuperação da mulher, que causa-
va preocupação por ser tão lenta. Os médicos experimentaram cho-
ques eléctricos, mas ela não reagia bem.
Apesar da preocupação e da ansiedade que sentia, Pessoa não
disse nada a Mário de Sá-Carneiro sobre a saúde da mãe. Seria por
não querer que a vida familiar — em particular o intenso afecto que
sentia pela mãe — interferisse na ligação especial que mantinha
com o amigo? Talvez. Fosse qual fosse a razão, a verdade é que o
amigo se tornaria em breve uma fonte de maior preocupação para
ele do que a própria mãe, de modo que recebia as cartas com ca-
rimbo dos correios de Paris não só com expectativa, mas também
com algum temor.
A carta de Mário datada do dia 29 de Dezembro continha os pri-
meiros sinais de aviso. Sentia uma «vertigem de aborrecimento» em
relação a tudo, especialmente em relação a si próprio. «Estou farto!
farto! farto!», deixou ele escapar no meio da carta. A primeira carta
do novo ano foi menos soturna, mas a segunda, enviada em 13 de
Janeiro de 1916, anunciava que estava definitiva e seguramente
louco. Mais inquietante ainda foi uma declaração que autorizava
Pessoa a publicar os seus poemas onde e como julgasse adequado.
Com vinte e cinco anos, uma idade que não era propriamente avan-
çada, Mário tinha de repente decidido nomear um testamenteiro lite-
rário. A carta continha outros sinais de desespero, e Pessoa não
soube qual a melhor maneira de responder, ou procrastinou a res-
posta por autodefesa, como se já temesse ser abandonado. Mário
enviou postais desconsolados, pedindo uma carta ao amigo, que fi-
nalmente lhe escreveu no final do mês.
Onde estava o Mário que gostava de discutir literatura, teorias ar-
tísticas e projectos editoriais? Pessoa gostaria que o amigo o aju-
dasse pelo menos a sonhar, se não a planear, a continuação do
Orpheu, mas nenhum encorajamento vinha de Paris. Mário relatou
com alegria alguns comentários que os dois números publicados ti-
nham provocado na capital francesa, mas quando Pessoa, imediata-
mente antes do Natal, lhe escreveu sobre um potencial financiador
do Orpheu 3, Sá-Carneiro mostrou-se céptico. Para ele, como para
muitos dos outros jovens ligados ao Orpheu, o tempo da revista já ti-
nha passado. Haveriam de seguir caminhos separados, investindo
as suas energias em novos projectos que incluíram outras revistas
de curta duração: Exílio (1916), Centauro (1916) e Portugal Futurista
(1917).
Sá-Carneiro continuou a trocar novidades literárias com Pessoa,
embora sem a paixão anterior pela literatura em si. E continuou a
enviar ao amigo poemas novos, agora incisivamente autobiográfi-
cos. A carta de 3 de Fevereiro incluía um poema intitulado «Aquele
outro», que consistia numa série de epítetos autodescritivos pouco
lisonjeiros, o último dos quais era «o Esfinge gordo». O autocontrolo
nunca tinha interessado Sá-Carneiro, e o seu corpo, já de si roliço,
estava a distender-se. Não prestava atenção à guerra em curso, a
não ser na medida em que afectava a cidade onde vivia naquele
momento e a que tinha deixado para trás. Reflectiam-se uma na ou-
tra, reflectiam-no a ele próprio em parte e serviam de pano de fundo
para a preocupação que assumia como central: ele mesmo. A carta
de 3 de Fevereiro assinala a curiosa coincidência de os zepelins ale-
mães terem bombardeado Paris na mesma noite, 29 de Janeiro, em
que bombas de fabrico caseiro explodiam nas ruas de Lisboa. Agita-
dores tinham de facto organizado assaltos armados a algumas mer-
cearias e armazéns de bens alimentícios na capital portuguesa, acu-
sando os proprietários de estarem a esconder produtos subsidiados
pelo Governo, para os venderem no mercado negro. A classe portu-
guesa dos desfavorecidos estava a ficar mais esfomeada e mais de-
sesperada.
SÁ-CARNEIRO E PESSOA TINHAM UM BOM AMIGO a combater nas
trincheiras desde o início da guerra: Carlos Franco, pintor, cenógrafo
e membro honorário do grupo do Orpheu. Conheceram-se no Outo-
no de 1913, depois de Sá-Carneiro e José Pacheco terem regressa-
do de Paris. Infinitamente afável, Franco era o tipo de pessoa com
quem todos simpatizavam de imediato, incluindo Fernando, que lhe
dedicou a peça O Marinheiro, cuja escrita iniciou por volta da altura
em que se conheceram. Franco, Sá-Carneiro e Pacheco estavam
todos em Lisboa no último dia de 1913, que passaram juntos a fes-
tejar — sem Pessoa, que não gostava de feriados e da obrigação de
os comemorar —, e deu-se o caso de também os três estarem em
Paris no Verão de 1914. Franco arranjara um bom emprego a pintar
cenários de ópera num dos muitos estúdios cenográficos da cidade,
mas foi despedido quando a guerra eclodiu, não tinha nenhuma
perspectiva de encontrar trabalho em Lisboa e decidiu alistar-se na
Legião Estrangeira francesa. Tinha na altura vinte e sete anos, mais
um do que Pessoa.
Franco enviou cartas da frente de combate a Sá-Carneiro, que
transmitia as suas notícias a Pessoa, e, em Dezembro de 1915,
quando o soldado teve seis dias de licença, passou-os com o amigo
em Paris, instalando-se no mesmo hotel da Rue Victor Massé, perto
de La Cigale e do Moulin Rouge. Depois de Franco partir para se
voltar a juntar ao seu regimento, Sá-Carneiro escreveu a Pessoa di-
zendo que o tinha achado em grande forma física e psicológica,
apesar dos sete meses de combate em Arras e na região de Cham-
pagne, onde os franceses tinham travado duras mas infrutíferas ba-
talhas contra os alemães. Exemplares do Orpheu 1 e de Céu em
Fogo tinham-no acompanhado na frente de batalha, e sabia de cor
alguns dos poemas de Sá-Carneiro e alguns passos de O Marinhei-
ro de Pessoa. Embora Carlos Franco fosse um desconhecido que
nunca expôs nem publicou nada digno de registo, um retrato dele
envergando farda — pintado em Paris quando lá esteve de licença
— foi capa do número de 7 de Fevereiro da Ilustração Portuguesa,
uma popular revista publicada semanalmente. Portugal estava pres-
tes a entrar na guerra e os editores queriam desempenhar o seu pa-
pel no recrutamento.
Em 23 de Fevereiro de 1916, a marinha portuguesa, a pedido da
Grã-Bretanha, apreendeu setenta e dois navios mercantes alemães
pacificamente ancorados em portos portugueses. Em troca de dois
terços dos navios, que a Grã-Bretanha reaproveitaria para ajudar no
esforço de guerra, Portugal receberia um empréstimo de dois mi-
lhões de libras esterlinas para comprar trigo e armas. Em 9 de Mar-
ço, a Alemanha, como seria de esperar, declarou guerra a Portugal,
tendo o Parlamento português feito uma declaração idêntica no dia
seguinte, e em breve os homens fisicamente capazes estavam a ser
recrutados para o Corpo Expedicionário Português que lutaria ao la-
do dos Aliados na Europa. A guerra não declarada em África, para
onde milhares de soldados tinham sido enviados a fim de defende-
rem Moçambique, tinha exaurido as capacidades do exército portu-
guês, e levaria vários meses até ser possível mobilizar civis e treiná-
los como soldados, com os primeiros destacamentos do Corpo a
chegarem a solo francês apenas em Fevereiro de 1917. Nessa altu-
ra Carlos Franco já fazia parte desse solo, pois tinha sido morto seis
meses antes na Batalha do Somme, que provocou mais de um mi-
lhão de mortos.2
Fernando Pessoa fez um mapa astrológico para a declaração de
guerra à Alemanha feita por Portugal em 10 de Março.3 O outro lado
do mapa contém uma dúzia de diferentes assinaturas de António
Mora, que continuava a argumentar, em passos de Dissertação a
Favor da Alemanha, que faria mais sentido que Portugal estivesse
do lado deste país e não do lado dos Aliados — pelo menos numa
perspectiva civilizacional, cultural. Apesar de simpatizar com o ponto
de vista do seu heterónimo, Pessoa acabou por alinhar com os Alia-
dos, questionando, contudo, o sentido de enviar soldados portugue-
ses para França. O Governo, de novo chefiado por Afonso Costa,
garantiu um empréstimo muito necessário, mas os custos materiais
e humanos da participação na guerra seriam enormes.
NA MESMA ALTURA EM QUE PORTUGAL DECLARAVA oficialmente
guerra à Alemanha e os cidadãos do país, incluindo Pessoa, se in-
terrogavam sobre o que aconteceria a seguir, Mário de Sá-Carneiro
estava a entrar cada vez mais profundamente no mundo das suas
ficções, assumindo o papel de uma personagem condenada. Em 16
de Fevereiro de 1916, enviou a Pessoa um estranho poema intitula-
do «Feminina», que começa assim:
Já sei o bastante das ciências ocultas para reconhecer que estão sen-
do acordados em mim os sentidos chamados superiores para um fim
qualquer, que o Mestre desconhecido, que assim me vai iniciando, ao
impor-me essa existência superior, me vai dar um sofrimento muito
maior do que até aqui tenho tido, e aquele desgosto profundo de tudo
que vem com a aquisição destas altas faculdades. Além disso, já o
próprio alvorecer dessas faculdades é acompanhado duma misteriosa
sensação de isolamento e de abandono que enche de amargura até
ao fundo da alma...
Não deves continuar casto. És tão misógino que vais ficar moralmente
impotente e dessa maneira não produzirás nenhuma obra literária
completa. Tens de abandonar a tua vida monástica, e já. […] Manter a
castidade é para homens mais fortes que têm de [continuar castos] de-
vido a problemas de saúde. Isto não se aplica a ti.* Um homem que se
masturba não é forte, e um homem não é homem se não for um aman-
te. […] Tu és um homem que se masturba e que sonha com mulheres
à maneira de masturbador. Homem é homem. Nenhum homem pode
mover-se entre homens se não for um homem como eles.
Assim, pelo menos não teria de casar com ela. Ainda nessa mesma
noite, Pessoa recebeu uma comunicação complementar, confirman-
do que conheceria e acasalaria com uma mulher «imensamente
masculina». Outras comunicações mais ou menos dessa altura des-
creviam-na como uma «rapariga flexível e magra mas com bastante
peito» que tinha sido educada em França e Inglaterra, escrevia poe-
sia que não era «muito má» e ansiava conhecer a «estranha criatu-
ra» responsável pelo Orpheu.
A maioria das comunicações, ao contrário desta mais longa, con-
sistia em curtas respostas às perguntas de Pessoa, e a iniciação se-
xual não era de maneira nenhuma o tópico exclusivo da conversa.
Algumas das comunicações tocavam nos projectos literários de Pes-
soa, na sua situação financeira e em acontecimentos banais da vida
quotidiana. No entanto, todos estes assuntos eram subsidiários da
questão mais importante da sua progressão espiritual, que estava li-
gada à progressão sexual. Na visão de realidade cósmica revelada
a Pessoa pelos comunicadores, os mistérios do sexo espelhavam
os mistérios arcanos do espírito.
Na sua encarnação terrena, Henry More (1614-1687) tinha sido
um poeta, filósofo e teólogo inglês, bem como a figura de proa do
grupo de pensadores mais tarde conhecidos por «Platonistas de
Cambridge». Alguns ocultistas especularam sobre a possibilidade
de More ser igualmente um rosa-cruz, que quase de certeza não foi,
mas quando comunicava com Pessoa apresentava-se como Frater
Rosae Crucis e frequentemente colocava a abreviatura «R† C» de-
pois da assinatura. Havia outros espíritos menos eruditos com os
quais Pessoa contactava, incluindo um de nome Wardour, aliado de
More na tentativa de desvirginar Pessoa, e um espírito maléfico cha-
mado Vuduísta.
Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, por-
que ainda nunca lá estive. Também, igualmente, o propósito ritual da
minha viagem era ir em demanda de portos inexistentes — portos que
fossem apenas o entrar-para-portos; enseadas esquecidas de rios, es-
treitos entre cidades irrepreensivelmente irreais. Julgais sem dúvida,
ao ler-me, que as minhas palavras são absurdas. É que nunca viajas-
tes como eu.7
* A castidade de Pessoa, como pelo menos um autor sugeriu, não era devida a um proble-
ma fisiológico.
** George Mansel era o nome do comissário-chefe da polícia de Natal quando Pessoa vivia
em Durban.
*** Alguns dos principais imagistas eram americanos e não ingleses: Pound, H.D., Amy
Lowell e William Carlos Williams.
**** Weltanschauung: mundividência. (N. dos T.)
CAPÍTULO 43
«EM ADRIAN O A CHUVA FORA ERA NA ALMA FRIA», diz o primeiro ver-
so de «Antinous», e ao longo do resto do poema a chuva continua a
cair lugubremente, aumentando o desconforto do imperador, já de si
perturbado. No meio dessa escuridão interior e exterior, a saudosa
memória que Adriano tem do amor que conheceu com Antínoo é
uma candeia brilhante cuja luz pode ser escondida, mas não profa-
nada. Na segunda metade de 1915, alguns meses depois de produ-
zir o primeiro rascunho de «Antinous», Pessoa escreveu mais qua-
tro poemas homoeróticos, todos em inglês. Em «Le mignon», um
monólogo dramático, o narrador é mais uma vez o imperador Adria-
no, recordando e defendendo vigorosamente o seu amor por Antí-
noo. Dois outros poemas evocam os amantes masculinos imortaliza-
dos pelo poeta lírico grego Anacreonte — em especial Batilo, que
encantou o poeta com a sua grande beleza e a requintada arte de
tocar flauta. O narrador lamenta melancolicamente não ter vivido na
Grécia antiga, onde podia também ter amado jovens do sexo mas-
culino sem «pensar que houvesse mal» nisso. O seu consolo, e
frustração, é que a «doce presença» de Batilo, que lhe é comunica-
da pela poesia de Anacreonte, está «agora mesclada / Com o meu
desespero de modernidade».
O desespero de um escritor moderno atraído por outros homens
era duplo, uma vez que era perigoso amar abertamente alguém do
mesmo sexo e difícil escrever sobre esse amor, a não ser de forma
velada, e mesmo assim poderia haver consequências desagradá-
veis. Oscar Wilde foi a vítima paradigmática desse perigo e dessa
dificuldade, e já assinalei como a «pederastia» e o encarceramento
do escritor irlandês foram examinadas numa perspectiva astrológica
por Pessoa em 1915 e novamente em 1917. Em 1916, quando inter-
rogou os espíritos astrais sobre se alguma vez conheceria certas ce-
lebridades, três dos vinte e seis nomes da lista pertenciam a escrito-
res cuja fama derivava apenas da sua relação com Wilde e a reputa-
ção póstuma dele: Robert Ross, que introduziu Wilde no mundo da
homossexualidade londrino e foi seu executor literário; Lord Alfred
Douglas, ou «Bosie», que repudiou a sua ligação a Wilde quando as
partes suprimidas de De Profundis — uma carta escrita na prisão
que lhe era dirigida — começaram a vir à luz do dia em 1912; e Tho-
mas Crosland, que instigou e colaborou com Douglas para denegrir
o nome de Wilde.
A preocupação de Pessoa com a actividade homossexual de Wil-
de e a sua ruína subsequente pode sugerir-nos que namorava a
ideia de agir consoante o desejo que ele próprio sentia por homens,
mas temia as possíveis consequências desagradáveis disso. Contu-
do, o mais provável é que tivesse fechado a porta a essa ideia e qui-
sesse convencer-se de que tomara a decisão certa. Nos finais de
1916, ou possivelmente no início de 1917, escrevinhou a lápis outro
poema homoerótico em inglês10, muito diferente de qualquer outro
escrito até então. Os primeiros seis versos dizem o seguinte:
* «Escrevo à tua memória, amor, sem teres morrido, / E à memória desse amor, em nós
nunca sabido. // Éramos rapazes, tu eras mais novo e eu o maior. / Tivéssemos sabido
amar e ter-nos-íamos amado. / Tivéssemos descoberto o caminho do amor e teríamos
achado / Seus prazeres, mas, jovens então, era de irmãos nosso amor.» Tradução de Luí-
sa Freire. (N. dos T.)
** «Tenho vergonha agora de ser o que não sabia outrora.» Tradução de Luísa Freire. (N.
dos T.)
*** «Eras atraente e belo; eu não: apenas amava. // Cava-se mais em mim a marca desta
doença antiga / Que só os gregos, porque eram belos, tornaram bela.» Tradução de Luísa
Freire. (N. dos T.)
**** Um ano antes, o sentimento de ultraje internacional por causa das atrocidades huma-
nas nas áreas produtoras de borracha do Estado Livre do Congo — uma colónia que era
propriedade e estava sob administração pessoal do rei belga Leopoldo II — tinha levado a
Bélgica a anexar o território para começar a reprimir as práticas mais abusivas.
CAPÍTULO 44
* Estes tumultos foram habituais em toda a Europa durante a guerra, mesmo em nações
neutrais como os Países Baixos e a Suíça.
CAPÍTULO 45
* Por muito idealista que fosse, e progressista em vários sentidos, Wilson permitiu que a
segregação racial não só continuasse mas até se expandisse dentro do Governo Federal.
CAPÍTULO 47
O narrador deste trecho sonha em não ter mais do que uma ligação
passageira, própria de um viajante, às outras pessoas, ao passo
que os narradores dos quatro poemas escritos nesse mesmo dia re-
gressam ao passado ou então refugiam-se na vida mental. O que to-
dos os cinco narradores possuem em comum é uma indisponibilida-
de para interagir, de forma afectiva e dotada de significado, com os
outros no presente.
Já tinham passado doze anos e meio desde que Pessoa vira pe-
la última vez a mãe, que iria voltar por fim para casa, e, apesar de
ter vontade de a ver, também se encontrava apreensivo. Ela estava
a envelhecer e o AVC debilitara-a. Fernando, por seu turno, sentia-
se com menos do que os seus trinta e um anos, pois não tinha famí-
lia própria, um emprego com horário fixo ou morada permanente.
Ainda assim, fixara energicamente a sua independência emocional,
a ponto de ter deixado passar dez meses sem escrever à mãe, nem
sequer pelo aniversário dela.
As mudanças são sempre para pior, escrevera-lhe numa carta de
1914, pois implicam uma morte parcial, a perda definitiva de uma
condição prévia, e a alteração na dinâmica da relação entre ambos
foi para Fernando especialmente perturbadora. Embora não dese-
jasse de facto voltar a ser o menino dela, tinha saudades da simpli-
cidade inicial dessa ligação, antes de esta ter sido perturbada pela
presença de outras pessoas, de outros afectos, e antes de terem di-
to e feito coisas que os levaram a magoar-se mutuamente, e a arre-
pender-se por isso. A mãe amava o filho mais velho mas não o con-
seguia compreender, e ele mostrava-se incapaz de satisfazer as ex-
pectativas dela. O major reformado, sem passado nem família, vi-
vendo uma vida estática num cantinho do mundo, possuía a vanta-
gem de nunca se ter sentido desiludido nem ter desapontado nin-
guém.
«Não ousaria ansiar por ti», avisa ele a rapariga no mesmo poema,
pois está «cercado por pensamentos» e «encerrado em dor, / En-
clausurado da vida em sonhos ociosos».20
Na semana seguinte, Ofélia continuou o ataque, fazendo olhi-
nhos e sorrindo a Pessoa, que retribuiu alguns desses olhares e sor-
risos, mas sem dar a entender que compreendia o que se passava,
e não tinha sequer a certeza de que compreendia bem. Talvez ela
estivesse de facto a pregar-lhe uma partida, a divertir-se um pouco à
sua custa. Sempre lhe fora difícil acreditar que alguém pudesse es-
tar romanticamente interessado nele.
Ofélia resolveu explicar o que sentia num bilhete, mas não sabia
ao certo que palavras utilizar. Escrevinhou algumas fórmulas possí-
veis, incluindo: «É-me extremamente querida a sua presença no es-
critório Félix, Valadas & Freitas porque me sinto atraída a si.»21 De-
masiado atrevido! Rasgou o que tinha escrito em pedacinhos e ati-
rou-os para o lixo. Depois de ela se ter ido embora do escritório,
Pessoa foi buscar os pedacinhos ao cesto dos papéis e levou-os pa-
ra casa. Juntando-os como peças de um puzzle, leu com estupefac-
ção aquela admissão inequívoca.
Sabendo que ela o achava atraente, Fernando deixou que a afei-
ção que sentia por Ofélia florescesse sem restrições. Teria sido envi-
ada pelo Destino? Os seus comunicadores astrais haviam-lhe dito
que precisava de uma mulher masculina para o obrigar a submeter-
se, mas tinham previsto também que a mulher que lhe estaria desti-
nada seria bastante nova, ainda adolescente. Feminina e delicada,
Ofélia preenchia apenas o segundo requisito. Nada tinha de viril.
Mas também não era o género de mulher sensualmente sedutora
que intimidava Pessoa facilmente. Parecia ter dezassete e não de-
zanove anos, usava muito pouca maquilhagem e tinha seios peque-
nos, com uma constituição de criança. E ainda que tivesse conse-
guido conquistar os afectos de Pessoa, era ele quem controlava a
relação, que avançou a passo lento, entre todas as actividades co-
merciais da Félix, Valadas & Freitas, Lda.
Ao longo de três meses, trocaram sorrisos furtivos, olhares fugi-
dios e palavras educadas que ocultavam emoções ternas, como cri-
anças que na escola têm receio de ser apanhadas pelo professor.
Também passavam bilhetinhos de amor um ao outro, por vezes sob
a forma de poemas. Contudo, não houve qualquer contacto físico
entre os dois até 22 de Janeiro de 1920, durante uma falha de ener-
gia eléctrica, já depois de toda a gente ter voltado para casa. Ofélia
também se estava a preparar para sair quando Fernando entrou no
gabinete onde ela trabalhava, com um candeeiro de petróleo, e se
declarou servindo-se de palavras tiradas da carta de Hamlet à Ofélia
dele:
Oh, querida Ofélia! Meço mal os meus versos; careço de arte para me-
dir os meus suspiros; mas amo-te em extremo. Oh! até do último extre-
mo, acredita!
* «Porquê, a não ser que pregues / Uma partida ao Destino e a mim / Se dirigem para mim
os teus olhos / E teu sorriso me procura, a mim que não te procurei?» (N. dos T.)
CAPÍTULO 49
* «Passamos e sonhamos. A Terra sorri. A virtude é rara. / A idade, o dever, os deuses pe-
sam na nossa felicidade consciente / Esperai o melhor e preparai-vos para o pior. / A soma
de sabedoria determinada nisto fala.» (N. dos T.)
CAPÍTULO 50
Na vidraça da janela
A chuva, leve, tinia…
* Esaguy relatou que o próprio Saa, de quem era amigo, tinha traços de ascendência judai-
ca e que A Invasão dos Judeus se enquadrava numa «campanha humorística contra os ju-
deus portugueses». No entanto, também criticou abertamente Saa pela pesquisa pouco ri-
gorosa, pela deturpação histórica e pela regurgitação acrítica dos argumentos anti-semitas
do movimento Action Française. Ver O Ditador, 19/IV/1925, p. 4; A Batalha, 15/II/1925, p. 2.
** Apesar das alegações incendiárias de Saa, o anti-semitismo nunca pegou em Portugal
no período entre as duas grandes guerras. O país acolheu, perante o avanço dos nazis,
dezenas de milhares de refugiados judeus que, de outra forma, poderiam ter acabado nos
comboios da morte a caminho das câmaras de gás. Esaguy foi um líder do esforço de auxí-
lio aos refugiados que aguardavam, em Lisboa e nos arredores, por navios que os levas-
sem para as Américas.
CAPÍTULO 51
* Que não se aplicava aos trabalhadores rurais ou domésticos, continuando também a se-
mana de trabalho a ser de seis e não de cinco dias.
CAPÍTULO 52
* «Em matéria de assuntos de estado, Mussolini manifesta uma presença de espírito assi-
nalável, discernimento singular e uma capacidade de aplicar eficientemente as suas ideias
à resolução dos problemas existentes», escreveram os editores da Time na edição de 6/VI-
II/1923, cuja capa mostrava uma imagem austera de Il Duce.
CAPÍTULO 54
O que revoltava Pessoa é que até a dor sentida com mais since-
ridade era lamentavelmente diminuta, vergonhosamente breve. Mui-
to antes de a mãe ter morrido fisicamente, já Fernando a começara
a matar — pelo simples facto de se afirmar, de viver a sua própria vi-
da —, e a vida dele prosseguiria, com pouco espaço, tempo ou paci-
ência para ela e para os outros mortos, pois a vida só se interessa
por viver. E depois acabaria por morrer, sem filhos que o esqueces-
sem, o que talvez até fosse melhor. Tinha apenas uma esperança:
se fosse capaz de escrever páginas de poesia e prosa cujas recons-
tituições espantosas de emoções humanas as fizessem perdurar, o
nome dele seria lembrado. E, mais ainda, através dessas páginas
continuaria a impressionar mentes e corações, e assim continuaria
também a viver, já bem depois de o corpo se ter reduzido a ossos e
pó.
Espiritualista e humanista
(1925-1935)
O carro de pau
Que bebé deixou…
Bebé já morreu,
O carro ficou…
Tanto para Pessoa como para Campos, que neste caso serviu de fi-
el porta-voz do criador, as emoções verdadeiras do eu não podem
ser conhecidas de modo inteligível e muito menos exprimidas, e o
eu não é fiável, a sua realidade é sempre fluida, dependente das re-
lações variáveis com o ambiente à volta. O autoconhecimento, ou a
individualidade, corresponde assim a uma questão de postura, de
representação. O grande artista, ou o grande seja o que for, é um
grande fingidor.
Nos anos que se seguiram, os directores da Presença invocari-
am repetidas vezes a sinceridade de expressão e a verdade em re-
lação ao nosso eu como traços distintivos de uma arte superior, ao
passo que Pessoa questionaria, também repetidas vezes, se pala-
vras como «sinceridade» e «verdade» significariam de facto alguma
coisa para um artista criativo. Essa divergência radical de pontos de
vista foi em si mesma um estímulo poderoso, impulsionando Pessoa
a produzir, por via da reacção, como uma corrente eléctrica que se
sobrepõe à resistência, algumas das suas obras literárias mais des-
lumbrantes.
CAPÍTULO 57
* DL, 14/I/1928, p. 4. Em 1930, haveria já vinte mil automóveis em Portugal, à volta de du-
zentos mil em Espanha e mais de vinte e cinco milhões nos Estados Unidos.
CAPÍTULO 59
Ofelinha:
Gostei do coração da sua carta, e realmente não vejo que a foto-
grafia de qualquer meliante, ainda que esse meliante seja o irmão gé-
meo que não tenho, forme motivo para agradecimentos. Então uma
sombra bêbada ocupa lugar nas lembranças?
Ao meu exílio, que sou eu mesmo, a sua carta chegou como uma
alegria lá de casa, e sou eu que tenho que agradecer, pequenina.
O que lhe disse de ir para Cascais (Cascais quer dizer um ponto qual-
quer fora de Lisboa, mas perto, e pode querer dizer Sintra ou Caxias)
é rigorosamente verdade: verdade, pelo menos, quanto à intenção.
Cheguei à idade em que se tem o pleno domínio das próprias qualida-
des, e a inteligência atingiu a força e a destreza que pode ter. É pois a
ocasião de realizar a minha obra literária, completando umas coisas,
agrupando outras, escrevendo outras que estão por escrever.
Seguramente que era tudo verdade, como quase tudo o que Pessoa
escrevia, no momento em que o escrevia. No papel, nada era im-
possível, incluindo a felicidade nupcial com Ofélia. Porventura inspi-
rado pelo amigo Geraldo, um ano mais velho e acabado de casar,
sentia-se ao menos intrigado com a possibilidade de também vir a
casar.
Animada pela carta de Fernando, Ofélia resolveu fazer a vontade
ao amado — e, assim, entregar-se à sua própria fantasia. Claro que
ele devia mudar-se para Cascais, se tal servisse para lhe fazer
avançar a carreira literária — e preencher assim o principal requisito
para qualquer casamento poder celebrar-se. Disse-lhe que podia es-
perar. Fernando, que nunca tinha acreditado na verdadeira probabili-
dade de um casamento, tão-só na sua possibilidade teórica, não tar-
dou a aperceber-se de que isso se encontrava absolutamente fora
de questão, mas não arranjou coragem para lho dizer. A 9 de Outu-
bro, enviou-lhe duas cartas escritas numa prosa ora jorrante, ora de-
sarticulada, que mimetizava a loucura declarada pelo remetente, o
qual avisava, na segunda carta, estar mais do que pronto para dar
entrada num manicómio:
Assim tem sido sempre a minha vida, e assim quero que possa ser
sempre —
Vou onde o vento me leva e então não preciso pensar.
Pessoa também escreveu duas odes assinadas por Ricardo Reis,
uma das quais recomenda que concentremos os pensamentos «[n]o
que fica do que passa» sempre que a nossa mente for assaltada pe-
la tomada de consciência de que também nós estamos a passar,
quais folhas amarelecidas, no Outono da nossa vida. Contudo, pare-
ce improvável que a aceitação passiva recomendada por Reis e
exemplificada em Caeiro pudesse ajudar a mitigar as saudades de
Campos por «o que fui de coração e parentesco», por «o que fui de
amarem-me e eu ser menino», no «tempo em que festejavam o dia
dos meus anos!».
De todos os poemas e textos em prosa da obra colossal de Pes-
soa, «Aniversário» apresenta as provas mais evidentes em defesa
da tese de João Gaspar Simões, exposta na biografia que assinou
em 1950, de que as saudades de uma infância perdida constituem a
chave para entender a produção criativa do escritor. Segundo Gas-
par Simões, essas saudades funcionam como uma marca de since-
ridade que confere autenticidade artística à obra. E, ainda assim, é
possível, e até aconselhável, que duvidemos dessa completa since-
ridade das saudades que inundam «Aniversário». No mesmo dia em
que escreveu esse poema, um poema de Caeiro e duas odes de Ri-
cardo Reis, escreveu também um trecho para o Livro do Desassos-
sego de Bernardo Soares. Começa assim:
* Referência a um verso da canção « Fine and Mellow», de Billie Holiday: «Love is just like
the faucet, it turns off and on.» («O amor é como a torneira, abre-se e fecha-se.» (N. dos T.)
** Referência ao «Método Stanislavsvki», criado pelo encenador russo Konstantin Stanis-
lavski (1863-1938). Trata-se de um sistema a partir do qual o actor se prepara para o papel
a desempenhar, mediante um processo disciplinado e imersivo de envolvimento e entrega
total à personagem. (N. dos T.)
CAPÍTULO 62
Care Frater:
Faz o que queres será a súmula da Lei.
Muito obrigado pelos três livrinhos. Julgo serem verdadeiramente
notáveis na sua excelência.
Nos Sonetos, ou antes Quatorzains**, parece ter recapturado o im-
pulso isabelino original — o que é magnífico.
Aprecio igualmente os restantes poemas, muitíssimo até.
Amor é a Lei, Amor sob Vontade.
Fraternalmente Seu,
Aleister Crowley2
A esta carta dactilografada, de 22 de Dezembro de 1929, Crowley
acrescentou um post scriptum à mão: «Com efeito, tomei a chegada
da sua poesia como uma Mensagem concreta, que gostaria de lhe
explicar em pessoa. Estará em Lisboa nos próximos três meses?
Em caso afirmativo, gostaria de o ir visitar: mas sem contar a nin-
guém. Por favor, informe-me na volta do correio. 666.»
Sem contar a ninguém? Porquê o secretismo? Hesitando entre a
excitação nervosa e a apreensão, Pessoa não respondeu de imedia-
to. Se a Grande Besta 666 o queria conhecer, seguramente que o
cruzar dos caminhos de ambos estava planeado nos astros, mas se-
ria mesmo boa ideia? Em 31 de Dezembro, apanhou o comboio pa-
ra Évora a fim de ir visitar a irmã e a família, regressando a Lisboa
em 2 de Janeiro. No dia seguinte, recebeu uma mensagem encora-
jante de um dos comunicadores astrais: «Assinala para breve uma
fase maravilhosa na menor das tuas carreiras. Desenvolverás de se-
guida as tuas tendências marcianas.» O planeta Marte está associa-
do à acção, à auto-afirmação, ao desejo sexual — áreas em que a
«carreira» de Pessoa não era de facto brilhante. Talvez Crowley,
com a filosofia «Faz o que queres», o fosse ajudar a fortalecer es-
sas débeis tendências «marcianas». Todavia, Pessoa ainda não es-
tava preparado para conhecer o mago. Na carta que lhe escreveu
no dia 6 de Janeiro de 1930, sugeriu que Crowley adiasse a visita a
Lisboa até Março, em parte por ter assuntos não especificados a re-
solver nas semanas que se seguiriam e em parte por «razões astro-
lógicas». Além do mais, anunciou que era possível que viajasse pa-
ra Londres no final de Fevereiro, e nesse caso poderiam encontrar-
se lá.
Um dos amigos mais próximos de Pessoa também estava em
contacto com Crowley. Após escutar, um bocadinho estupefacto, a
descrição que Pessoa fez da vida tumultuosa e dos ensinamentos
heterodoxos do mestre do oculto, Raul Leal pediu a morada dele e
enviou-lhe um exemplar de Antéchrist et la gloire du Saint-Esprit, um
«poema-hino sagrado» que publicara em francês, bem como uma
carta extensa, também em francês. Apresentando-se como Henoch,
o Profeta de Deus e da Morte enviado ao mundo para anunciar o
Reino do Espírito Santo, Leal informou Crowley de que as doutrinas
de ambos tinham muito em comum. Na realidade, tinham um pouco
em comum. A ideia de Leal de que era preciso descer às profunde-
zas da bestialidade carnal para a poder transcender, tornando-a as-
sim divina, assemelhava-se ao método espiritual de Crowley, que se
fundava num consumo de drogas intenso e em sexo extremo para
alcançar uma condição espiritual elevada. No entanto, a besta de
Crowley era uma criatura de gargalhadas e licenciosamente brinca-
lhona. A de Leal era triste e atrozmente séria, sofredora, coberta de
feridas e encolhida no canto da jaula. «A minha missão divina exige
que me torne um mártir do Oculto», escreveu nessa carta.3
Crowley, que já tinha imensa experiência com maluquinhos e ex-
cêntricos, respondeu educadamente ao Profeta de Deus e da Morte
que estava desejoso de o conhecer. Porém, o homem que no fundo
queria conhecer era o poeta bilingue e astrólogo talentoso chamado
Fernando Pessoa, que continuava a temporizar. A 25 de Fevereiro,
Pessoa escreveu-lhe que «só mesmo quase à beira do dia de on-
tem» se tinha tornado evidente que não iria a Inglaterra nesse mês.
Em Maio, Crowley, que viajara para a Alemanha no mês anterior, es-
creveu a Pessoa perguntando-lhe se contava ir a Londres num futu-
ro próximo. Não seria para breve, respondeu Pessoa, mas porventu-
ra no Outono. E assim o poeta conseguiu continuar a adiar esse en-
contro, sugerindo repetidas vezes que o mesmo poderia esperar até
que ele viajasse para Londres — uma possibilidade só um tudo-na-
da mais provável do que uma viagem para o Taiti.
Os dois homens poderiam nunca ter chegado a conhecer-se se
não fosse por Hanni Larissa Jaeger, uma jovem germano-americana
que Crowley conhecera em Berlim.*** Abandonando a mulher que ti-
nha à época, e que pouco depois daria entrada num manicómio, en-
volveu-se com Jaeger, levando-a para Inglaterra em Agosto. A 4 de
Setembro de 1930, essa nova Mulher Escarlate — a nona ou déci-
ma a ser assim designada — faria vinte anos, e Crowley decidiu co-
memorar a ocasião trazendo-a a Portugal para um Retiro Espiritual,
ou umas férias, que incluiria passeios à beira-mar e magia sexual no
hotel. Esperava também criar uma secção portuguesa da Ordo Tem-
pli Orientis, sob a direcção de Fernando Pessoa.4
CROWLEY PRESSENTIRA uma invulgar inteligência criativa em Pes-
soa. Mesmo antes de ter conhecimento dos heterónimos, sentia que
havia algum elemento mágico e alquímico num poeta português ca-
paz de escrever sonetos no estilo e na linguagem de Shakespeare.
E também tinha em grande conta os restantes poemas que Pessoa
lhe enviara: o obsceno «Epithalamium», que faria corar os invento-
res gregos dessa forma, e o ousadamente homoerótico «Antinous».
A intuição dizia-lhe que Pessoa — um indivíduo avançado em ter-
mos espirituais, mágicos e sexuais — seria o líder ideal de uma sec-
ção portuguesa da O.T.O., cujos graus iniciáticos superiores envolvi-
am às vezes doutrinas e práticas sexuais vagamente inspiradas nas
tradições tântricas indianas. Segundo a reformulação crowleyana do
sistema da O.T.O., o oitavo grau correspondia a uma iniciação à ma-
gia masturbatória, o nono a uma iniciação à penetração vaginal má-
gica e o décimo primeiro a uma iniciação à penetração anal com
propósitos mágicos. Os ritos associados a esses graus superiores
incluíam o consumo de fluidos sexuais e outras secreções corpo-
rais.5 Nada disso parecia fazer propriamente o género de Pessoa.
Os ritos de magia sexual da O.T.O. talvez nos lembrem os com-
portamentos salazes sordidamente descritos pelo heterónimo Jean
Seul vinte anos antes, em sátiras morais contra a decadência como
«La France en 1950», mas estavam bem para lá de qualquer coisa
que Pessoa e os heterónimos coevos pudessem sequer conceber,
muito menos ensinar e praticar. Embora fosse um leitor não só dili-
gente como voraz, Pessoa sabia provavelmente muito pouco acerca
da secreta O.T.O. e, por isso mesmo, dificilmente podia ter a menor
noção do que o mágico e ocultista inglês lhe reservava.
Estava mais calor em Lisboa do que era habitual para o início de
Setembro, o que, aliado ao nervosismo de Pessoa, o deve ter feito
suar um pouco ao dar as boas-vindas a Crowley e à namorada, que
desembarcaram do navio às quatro da tarde. Acompanhou os via-
jantes do porto até ao Hotel de l’Europe, na Praça Luís de Camões,
onde iriam passar a noite. Depois de o casal ter feito o check-in,
sentaram-se os três para poderem conversar como deve ser e Cro-
wley não perdeu tempo, abordando Pessoa sobre a possibilidade de
este dirigir um capítulo da O.T.O. em Portugal. Pessoa, que tinha as
suas próprias prioridades, expôs-lhe algumas ideias para um empre-
endimento editorial anglo-português. Hanni Jaeger — uma loira es-
belta e sensual — observou-os enquanto falavam e tomavam por
certo qualquer coisa no bar do hotel. Os dois homens possuíam ca-
racterísticas e posturas levemente femininas, mas tinham aparênci-
as muito diferentes. Com a cabeça rapada e uma papada, a fisiono-
mia da Besta de cinquenta e cinco anos assemelhava-se a uma pi-
râmide — uma pirâmide fatigada e a aluir. No entanto, os seus olhos
ainda eram penetrantes e intimidatórios. Já Pessoa estava bem pro-
tegido — pelos óculos com armações redondas, pelo bigode e pelo
chapéu, que lhe tapava a calvície. Falar em inglês ajudava-o a ser
melhor actor, demonstrando autoconfiança. Causou uma óptima pri-
meira impressão. «Um homem muito agradável», escreveu Crowley
no diário. Contudo, acerca de Lisboa, não era elogioso: «Esquálida,
mal pavimentada, suja, exígua e entediante.»6
Antes de partir no dia seguinte, 3 de Setembro, para as praias do
Estoril, onde ele e Jaeger passariam duas semanas, Crowley escre-
veu uma carta a Pessoa exortando-o a ir ter com eles o mais breve-
mente possível. Precisavam de falar melhor sobre hipotéticos pro-
jectos editoriais e, sobretudo, sobre «o plano com vista a atribuir à
Obra da Ordem uma base mundial de organização estreita».7 No
dia 7 de Setembro, um domingo, Pessoa apanhou o comboio para o
Estoril, que atraía uma clientela cada vez mais internacional, e almo-
çou com os dois veraneantes. Conversaram durante algumas horas
e combinaram voltar a encontrar-se terça-feira, dia em que Crowley
iria a Lisboa buscar correio. Pessoa disse que iria convidar Raul Le-
al a juntar-se-lhes. O amigo estava ansioso por conhecer Crowley,
que, no mínimo, tinha alguma curiosidade em ouvir o que o pretenso
profeta tinha para dizer pessoalmente. Numa das cartas ao mago,
Pessoa havia falado das «capacidades metafísicas esplendidamen-
te intensas» de Leal. Talvez pudesse servir de ajuda à implantação
da O.T.O. em Portugal. Porém, o que seria realmente útil era alguém
com capital para ajudar a financiar a ordem e pagar um salário ao
seu líder espiritual. Leal? Pessoa?
Nessa noite, sentindo-se inquieto, Pessoa traçou uma carta as-
trológica em relação ao que poderia resultar do encontro entre Cro-
wley, Hanni Jaeger, ele e Raul Leal. É impossível afirmar que expec-
tativas ou dúvidas tinha. A resposta dos astros à misteriosa indaga-
ção de Pessoa foi que esse encontro entre os quatro traria um claro
benefício a Jaeger, um ligeiro benefício a Pessoa, nenhum benefício
a Leal e um ligeiro inconveniente a Crowley. Em jeito de resumo, o
astrólogo escreveu uma nota críptica em inglês: «O caso não avan-
çará, mas muito pouco de mal sairá dali.»8
Os quatro reuniram-se no Café Martinho da Arcada, cujos em-
pregados de camisa branca e avental preto fitaram de olhos esbuga-
lhados o seu mais fiel cliente: até então, nunca o tinham visto com
uma mulher, e Hannie Jaeger irradiava sensualidade. O espanto au-
mentou quando viram a jovem a sorrir com suave deleite enquanto
conversava com Pessoa em inglês. Entretanto, Crowley e Raul Leal
trocavam palavras em francês. Uma pequena dose do amigo de
Pessoa chegou e sobrou para Crowley, que comentaria no diário:
«Conheci o Leal: não gosto dele. Há qualquer coisa muito errada
nele.» Os dois homens não voltariam a encontrar-se.9 Pessoa, por
seu turno, caíra bastante no goto de Crowley, ainda que por essa al-
tura já fosse evidente que não haveria qualquer capítulo da O.T.O.
em Portugal. O poeta não era de todo o género certo de pessoa pa-
ra ser iniciado, ou iniciar outros, na magia sexual. Crowley aceitou
então a proposta de Pessoa de colaborarem em projectos editoriais,
oferecendo-se para escrever um prefácio a um dos livros dele com
poemas em inglês, partindo do pressuposto de que a Mandrake
Press o publicaria. A editora atravessava dificuldades e o mago es-
perava que o poeta — sempre impecavelmente vestido e com o anel
com sinete indicador de nobreza — pudesse ter algum dinheiro para
investir.
Pessoa, ingenuamente, escreveu uma longa carta à Mandrake
Press apresentando em linhas gerais alguns projectos que tinha dis-
cutido com Crowley: a publicação de livros de «autores portugueses
estranhos ou desconhecidos», incluindo Fernando Pessoa, em In-
glaterra; a criação de uma sucursal da Mandrake em Portugal, onde
as chapas de impressão para as suas edições poderiam ser feitas
de forma mais barata e não menos profissional, com Pessoa a ga-
rantir que seriam «da máxima qualidade»; e a tradução de livros da
Mandrake, como The Confessions of Aleister Crowley, para portu-
guês. Pessoa recebeu uma pronta resposta da parte de Robert
Thompson Thynne, o director-executivo da Mandrake Press. Consi-
derava as propostas de Pessoa «extremamente interessantes» e in-
terrogava-se se ele não gostaria de ser accionista da Mandrake
Press e o seu representante oficial ibérico. «De momento, temos
disponíveis duas mil Acções Preferenciais Cumulativas com um va-
lor nominal de uma libra e um dividendo fixo de dez por cento», es-
creveu, salientando os enormes lucros potenciais em causa. (Em
1930, duas mil libras equivaleriam a pelo menos cento e vinte mil li-
bras actuais.)
Uma semana mais tarde, Pessoa recebeu um folheto a promover
a «Aleister Crowley Ltd.», uma empresa que, a materializar-se, pas-
saria a controlar e a explorar todos os activos do mágico, que in-
cluíam não só os seus livros e manuscritos, mas também direitos
para adaptações teatrais e cinematográficas, quadros, os direitos de
autor para um conjunto de peças de xadrez concebido por Crowley
e a receita secreta deste para um licor ainda em fase de testes. Os
lucros anuais, potencialmente gigantescos, seriam divididos pelos
accionistas depois de Crowley, na qualidade de director-geral, retirar
o salário de mil libras.
Ainda antes de o folheto ser enviado — por Karl Germer, discípu-
lo alemão do Mestre Therion e, à época, a sua tábua de salvação fi-
nanceira — já Pessoa confessara a Crowley que estava absoluta-
mente nas lonas, o que em nada o fez ser menos apreciado.10
Quanto a Hanni Jaeger, que aspirava a ser artista, achou Pessoa
completamente encantador, sentimento que era recíproco, embora o
encanto que ela exerceu fosse de outra natureza. Fernando sentiu-o
sobremaneira durante o tempo que passaram «sozinhos» no café,
enquanto Crowley estava ocupado com Raul Leal. No dia a seguir a
esse encontro, Pessoa compôs o único poema em toda a vida no
qual o sujeito cobiça de modo inequívoco um corpo feminino:
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.
[…]
PESSOA ESPERAVA QUE PELO MENOS ELE pudesse lucrar com o sui-
cídio fictício, reformulando-o como uma novela policial escrita em in-
glês e destinada porventura ao mercado americano, no qual Cro-
wley julgava que a história se venderia muito bem. Intitulada The
Mouth of Hell, a novela ganhou forma na cabeça do autor entre Ou-
tubro e Novembro, e Pessoa enviou, a 3 de Dezembro, cópias da si-
nopse a Crowley e ao anfitrião berlinense deste, Karl Germer, bem
como ao secretário do mágico em Londres, Israel Regardie.17
Narrado por um detective inglês contratado para descobrir o que
aconteceu ao certo à Besta sumida, The Mouth of Hell é um produto
inconfundivelmente pessoano, no qual os factos se misturam com a
ficção e dão a conhecer personagens com múltiplas identidades. Há
um pseudo-Crowley, que atravessa a fronteira para Espanha, e um
Crowley real, que tenta escapar aos inimigos, bem como um pseu-
do-Pessoa e um Pessoa real. Augusto Ferreira Gomes, o amigo
bastante real de Pessoa, também é uma personagem da novela. Tal
como o antes real mas recém-falecido Ernesto Martins, taxista cujo
misterioso homicídio nos arredores de Lisboa foi noticiado no jornal
no mesmo dia do desaparecimento de Crowley.18 Divertiu sobrema-
neira Pessoa a ideia de incluir o desafortunado taxista nas páginas
da novela, na qual, poucas horas depois de levar Crowley do ponto
A ao ponto B em Lisboa, é brutalmente abatido a tiro a sangue-frio
— exactamente como o sangue frio que cobria o cadáver do não-fic-
cional Ernesto Martins, encontrado às 6h30 de 27 de Setembro de
1930.
Escrevendo-lhe de Berlim, Crowley propôs algumas sugestões
para a novela, que Pessoa acabou por dividir em dez capítulos. Pas-
sados alguns meses, já tinha um rascunho, embora alguns capítulos
ainda precisassem de desenvolvimento e a obra inteira de ser revis-
ta e refinada. Conforme já frisei, Pessoa não tinha grande queda pa-
ra criar suspense dramático e pintar cenas bem urdidas, mas o mai-
or problema, talvez insuperável, de The Mouth of Hell é o aconteci-
mento que lhe serviu de inspiração. O pseudo-suicídio de Crowley
não era um assunto lá muito interessante, e o tratamento ficcionali-
zado que Pessoa lhe deu estava quase fadado a constituir uma lei-
tura entediante. Como, de resto, o próprio desconfiava. O prefácio
para a novela reconhece que o tema «poderá parecer ao leitor de
reduzidíssima importância» e a narrativa daí resultante «deveras di-
minuta e talvez enfadonha», mas se o leitor insistir, «encontrará
mais emoções fortes do que espera». Na verdade, não encontrará.
O capítulo mais interessante de The Mouth of Hell pondera a
possibilidade de Crowley ser em simultâneo «uma espécie de char-
latão» e «um profundo ocultista e mágico». Interrogada pelo detecti-
ve inglês, a personagem chamada Fernando Pessoa explica que
Crowley possui «uma vida dupla», dividida entre um eu inferior e um
eu superior, e que a futilidade do primeiro não invalida a superiorida-
de espiritual do segundo.19
Com efeito, para Pessoa, era quase como se o Crowley charla-
tão (o eu que ele mostrava ao mundo) atestasse a autenticidade do
Crowley mago superior (o eu que o mundo não conseguia ver). E
para além desses dois eus essenciais e contrários, Crowley decom-
punha-se ainda em dezenas de outros eus: de alpinista a jogador de
xadrez, de mestre de ioga a cabalista, de viciado em heroína a mís-
tico religioso, poeta, pintor, jornalista, sumo sacerdote, sodomita ac-
tivo com mulheres e passivo com homens. Pessoa, um prodigioso
multiplicador de si próprio na imaginação, não podia deixar de olhar,
boquiaberto e com profundo respeito, para Aleister Crowley, que
era, na realidade, capaz de ser muitas coisas diferentes e por vezes
contraditórias.
O romancista Christopher Isherwood, cujo Adeus a Berlim (1939)
seria adaptado ao cinema e transformado no enorme êxito de bilhe-
teira que foi o musical Cabaret — Adeus Berlim (1972), confraterni-
zou com Crowley nos bares e clubes berlinenses do início da déca-
da de 1930 e comentou, no seu diário, que «ficamos com a sensa-
ção de que ele não acreditava realmente em nada».20 Mas podería-
mos muito bem dizer também que Crowley acreditava absolutamen-
te em tudo — tal e qual como Fernando Pessoa. Nesse aspecto, os
dois homens convergiam. Ainda que com estilos de vida antitéticos,
sentiam-se ambos inclinados a dar um pouco de crédito a tudo, bas-
tante crédito a algumas coisas e crédito total a nada.
* A religião de Crowley inspirou-se em François Rabelais (c. 1490-1553), cujo satírico Gar-
gântua e Pantagruel descreve uma Abadia de Thelema onde monges e freiras católicos vi-
viam juntos em instalações luxuriosas, que incluíam campos de ténis e jardins de recreio.
Apenas lhes era exigido que respeitassem uma regra: «Faz o que queres.»
** Palavra derivada do francês quatorze (catorze) e utilizada historicamente como sinónimo
de «soneto», com eventuais diferenças de carácter métrico. (N. dos T.)
*** Nascida em Berlim em 1910, Hanni Jaeger passou a adolescência na América, tendo
emigrado para os Estados Unidos em 1924 — com a mãe e as duas irmãs mais velhas —
para se juntar ao pai em Santa Barbara, na Califórnia. (Base de dados online de Ellis Is-
land.)
**** Jaeger suicidar-se-ia em 1933.
CAPÍTULO 63
TALVEZ POR PESSOA TER SIDO TÃO RESERVADO e ter tido uma vida
tão pouco emocionante, depois de ele ter morrido surgiu uma série
de lendas e informações erradas sobre os quarenta e sete anos da
sua existência terrena. Ao falar comigo, Manuela Nogueira admitiu
que não consegue dizer ao certo se a própria mãe, e irmã de Pes-
soa, terá relatado única e exclusivamente a verdade aos entrevista-
dores que insistiram com ela para que respondesse às muitas per-
guntas que lhe fizeram. E já vimos como até Pessoa, ao escrever
sobre a vida dele e sobre os heterónimos, romanceava ou inventava
por vezes factos sem sequer invocar como justificação a liberdade
poética. Com efeito, defendia que há qualquer coisa inerente e inevi-
tavelmente falsa em todas as afirmações que um poeta faz, mesmo
quando são «verdadeiras».
A este respeito, é impossível não nos lembrarmos das primeiras
duas estrofes de «Autopsicografia»:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Porém, o mundo «em cima» não era apenas povoado por Formas
ideais, Pensamentos elevados e esplendores empíreos; também era
habitado por poderes espirituais que governam o universo — de mo-
do contencioso, com os mesmos tipos de lutas pelo poder que con-
vulsionam o mundo geopolítico «em baixo».
Quem tem Deuses nunca tem tédio. O tédio é a falta de uma mitologia.
A quem não tem crenças, até a dúvida é impossível, até o cepticismo
não tem força para desconfiar. Sim, o tédio é isso: a perda, pela alma,
da sua capacidade de se iludir, a falta, no pensamento, da escada ine-
xistente por onde ele sobe sólido à verdade.2
Eu, verdadeiramente eu, sou o centro que não há nisto senão por uma
geometria do abismo; sou o nada em torno do qual este movimento gi-
ra, só para que gire, sem que esse centro exista senão porque todo o
círculo o tem. Eu, verdadeiramente eu, sou o poço sem muros, mas
com a viscosidade dos muros, o centro de tudo com o nada à roda.3
* O próprio Eliot, vinte e dois anos após escrever «Hamlet and His Problems», considerou-
o deficiente e excluiu-o de uma edição americana dos seus ensaios.
CAPÍTULO 65
Amo o Tejo porque há uma cidade grande à beira dele. Gozo o céu
porque o vejo de um quarto andar de rua da Baixa. Nada o campo ou
a natureza me pode dar que valha a majestade irregular da cidade
tranquila, sob o luar, vista da Graça ou de São Pedro de Alcântara.
Não há para mim flores como, sob o sol, o colorido variadíssimo de
Lisboa.
* O homem que, em 1951, ficou com a loja de Kamenezky relataria, cerca de cinquenta
anos mais tarde, que Pessoa, depois de ter bebido demasiado, fazia às vezes uma sesta
na minúscula cave (na qual era impossível estar de pé), escrevinhando poemas nas pare-
des. Depois da morte de Pessoa, com a passagem dos anos, as lendas sobre o poeta fo-
ram-se tornando cada vez mais ousadamente disparatadas.
CAPÍTULO 66
UMA TARDE, ENQUANTO DAVA UMA VISTA DE OLHOS pela Livraria In-
glesa, localizada a meio caminho de dois dos escritórios onde traba-
lhava algumas horas praticamente todos os dias, Pessoa reparou
num exemplar do Ulisses de James Joyce. O escândalo provocado
pela sua publicação parcial em The Little Review, entre 1918 e
1920, poderá não ter chegado aos ouvidos do poeta, mas, em 1933,
Pessoa já tinha pleno conhecimento do estatuto célebre do livro en-
quanto obra proibida, julgada obscena e ainda indisponível no Reino
Unido e nos Estados Unidos.* O exemplar que ele viu — e adquiriu
— era o da Odyssey Press em dois volumes, edição publicada na
Alemanha em Dezembro de 1932. Ambos os volumes chegaram até
nós num estado imaculado, sem um único traço a lápis. A única pro-
va de que Pessoa leu de facto Ulisses, ou o suficiente para saber
que não queria ler mais, é o comentário lacónico que escrevinhou,
em português, num pedaço de papel:
Não são os judeus, mas a ralé da judiaria, quem encontramos por toda
a parte ao comando do mundo material. Para os judeus verdadeira-
mente grandiosos — os judeus portugueses e espanhóis —, os Roths-
child, os Rathenau, todos esses falsos com nomes alemães e polacos,
são a ralé da sua raça e a ignomínia da sua religião.5
A Senhora da Agonia
Tem uma imagem na Igreja.
Mas a dor que me agonia
Não tem ninguém quem a veja.14
P: Em que crês?
R: Sou cego.
P: Quem és?
R: Sou nu.
P: O que tens?
R: Só a mim.
P: Queres ser recebido nesta ordem para nela teres a luz?
R: Quero, se ma mostrarem.
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doura
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa.
[…]
E eu —
Que sofro e tenho amargamente sofrido,
Não terei o direito de procurar
Um grande prazer proibido?
* «Terá sido só um beijo? / Terá sido mais que isso? / E ele, muito galante? / E tu, cegueira
bastante?» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
CAPÍTULO 75
D.T.
Jazo, mesquinho,
Mas ao meu coração
Sobe, num torvelinho
A memória de quanto ouvi do que há
No que há de carícia, de lar, de ninho,
Ao relembrar o ouvi, hoje, meu Deus, sozinho,
«Un Soir à Lima».
* «Todos os nossos pensamentos e atitudes se afundam / Na bebida universal.» (N. dos T.)
** Hoje em dia, delirium tremens refere-se à pior fase da síndrome de abstinência alcoólica.
Na época de Pessoa, tratava-se de um termo menos restritivo, que podia ser aplicado aos
delírios e sintomas relacionados sofridos por consumidores de bebidas alcoólicas que ain-
da bebiam muito. Ver, por exemplo, o artigo «Delirium» na Encyclopaedia Britannica de
1911 (consultável online).
*** D.T.: «Outro dia, eu bem o sei, / Na parede, com sapato, / A centopeia matei / Que nem
lá estava de facto. / Mas como pode isso ser? / Bem simples de perceber — / É o começo
de D.T. // Quando o róseo jacaré / E o tigre sem cabeça / Começarem a ter pé / E comendo
tudo depressa, / Sapatos eu não vou ter / Ao tamanho de os matar, / Começarei a pensar: /
Devo deixar de beber?» Tradução de Luísa Freire. (N. dos T.)
**** «Poderia o teu afecto / A ser melhor me levar / Do que sou eu a tentar. / Mas nós nun-
ca saberemos / Amor, não sei pelo menos, / Se o doce em teu coração / Caramelo de re-
pente... / Pois que sofra o coração / Enquanto bebo aguardente.» Tradução de Luísa Frei-
re. (N. dos T.)
CAPÍTULO 76
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo.
«Não sei o que o amanhã trará» ecoa igualmente aquilo que o pai
de Pessoa, dominado por uma febre tuberculosa e por arrepios, es-
creveu numa carta à mulher na véspera da morte: «Não sei o que is-
to será.»
Independentemente do que possa ter inspirado a última frase
que Pessoa escreveu, o facto de a ter datado, como sucedia com
frequência no caso das suas obras literárias, encoraja-nos a lê-la
como um poema de um só verso. Se pretendia à partida escrever
mais versos, apercebeu-se, passadas sete palavras, de que já tinha
dito tudo o que havia a dizer. Pessoa sabia que estava a morrer —
se não amanhã, então depois de amanhã ou passado mais um dia.
Mas e a seguir? Era uma pergunta que sempre o tinha atormentado.
1887
19 de Setembro: O heterónimo Ricardo Reis nasce no Porto às
16h05, cerca de nove horas e meia antes de Pessoa ser conce-
bido, segundo um dos seus mapas astrológicos.
1888
13 de Junho: Fernando António Nogueira Pessoa, primeiro filho de
Maria Madalena Pinheiro Nogueira e Joaquim de Seabra Pes-
soa, nasce no Largo de São Carlos, número 4, quarto esquerdo,
em frente à Ópera de Lisboa, por volta das 15h20.
O heterónimo de língua inglesa Alexander Search nasce em Lisboa,
no mesmo dia.
1889
16 de Abril: O heterónimo Alberto Caeiro nasce em Lisboa, às
13h45.
1890
15 de Outubro: O heterónimo Álvaro de Campos nasce em Tavira,
às 13h30.
1893
21 de Janeiro: Nasce Jorge, irmão de Pessoa.
13 de Julho: O pai de Pessoa morre de tuberculose.
15 de Novembro: A família, incluindo Dionísia, avó paterna de Pes-
soa, muda-se para um apartamento mais pequeno na Rua de
São Marçal, número 104, terceiro andar.
1894
2 de Janeiro: Morre o irmão Jorge. Nesse mesmo mês, a mãe co-
nhece João Miguel Rosa, comandante da marinha portuguesa.
1895
26 de Julho: Declama uma quadra dedicada à mãe, que anota as
palavras.
30 de Dezembro: A mãe casa por procuração com João Miguel Ro-
sa, que tinha acabado de ser nomeado cônsul de Portugal em
Durban, a maior cidade da colónia britânica de Natal.
1896
20 de Janeiro: Embarca com a mãe para Durban, na África do Sul.
Março: Entra na Escola do Convento de São José. A família vive na
Tresilian House, em Berea, um bairro apreciado pelos residentes
brancos de Durban.
27 de Novembro: A mãe dá à luz Henriqueta Madalena, que será
conhecida na família pelo diminutivo de Teca.
1898
Em Janeiro, a família de Pessoa muda-se para o número 157 de
West Street, na Baixa de Durban.
1899
7 de Abril: Entra no Liceu de Durban.
11 de Outubro: Início da Guerra Anglo-Bóer, que levará à chegada
de milhares de refugiados a Durban.
1901
11 de Janeiro: A mãe dá à luz Luís Miguel.
12 de Maio: Escreve o primeiro poema em inglês, «Separated from
thee».
Junho: Conclui, com louvor, o exame nacional do liceu.
1 de Agosto: Embarca com a família para umas férias de um ano em
Portugal; passam a maior parte do tempo em Lisboa, alojados
num apartamento da Rua de Pedrouços, número 45, rés-do-
chão. A certa altura, Pessoa, provavelmente com o resto da fa-
mília, viaja para o Algarve a fim de visitar os parentes do lado pa-
terno.
1902
2 de Maio: Viaja com a família para a Terceira, a fim de visitar os pa-
rentes do lado materno.
26 de Junho: A família regressa a Durban, enquanto ele permanece
em Lisboa para se preparar e apresentar ao exame de instrução
primária do segundo grau. Reside na Avenida D. Carlos I, núme-
ro 109, terceiro esquerdo, certamente com familiares.
18 de Julho: Publica o seu primeiro poema, no jornal de Lisboa O
Imparcial.
19 de Setembro: Parte sozinho para Durban, a bordo do Herzog.
Outubro: Entra na Escola Comercial. Vive com a família no número
25 de Tenth Avenue, mais uma vez no bairro de Berea.
1903
17 de Janeiro: A mãe dá à luz João Maria.
11 de Julho: Publica um poema em inglês, «The Miner’s Song», as-
sinado por Karl E. Effield, no Natal Mercury.
Novembro: Faz o exame de admissão da Universidade do Cabo da
Boa Esperança e recebe o Prémio Queen Victoria Memorial para
o melhor ensaio em inglês.
1904
Fevereiro: Regressa ao Liceu de Durban, onde segue o primeiro ano
de estudos de nível universitário.
9 de Julho: Publica, no Natal Mercury, um poema satírico assinado
por Charles Robert Anon.
Novembro: Apresenta-se ao Exame Intermédio em Artes, adminis-
trado pela Universidade do Cabo da Boa Esperança, e obtém a
classificação mais alta na província de Natal.
1905
20 de Agosto: Parte para Lisboa, onde irá viver com a tia Anica e os
primos Mário e Maria, na Rua de São Bento, número 98, segun-
do esquerdo.
2 de Outubro: Inscreve-se no Curso Superior de Letras.
1906
Surge Alexander Search, autor de poemas, histórias e ensaios.
Julho: Muda-se para a Calçada da Estrela, número 100, primeiro an-
dar, a fim de estar com a família, que regressou novamente de
Durban para umas longas férias.
Não se apresenta aos exames devido a doença.
Setembro: Reinscreve-se no primeiro ano do Curso Superior de Le-
tras.
1907
Surgem o Dr. Faustino Antunes, psiquiatra, e Frei Maurice, um religi-
oso que está a passar por uma crise de fé.
25 de Abril: A família regressa a Durban. Passa a morar com duas
tias-avós maternas — Rita e Maria — e a avó Dionísia, na Rua
da Bela Vista à Lapa, número 17, primeiro andar.
Maio ou Junho: Desiste do Curso Superior de Letras.
6 de Setembro: Morre Dionísia, deixando ao neto uma herança bas-
tante razoável.
1908
Surge Jean Seul, autor de textos em francês.
1 de Fevereiro: O rei D. Carlos é assassinado.
14 de Dezembro: Primeiro trecho datado de Fausto, um drama em
verso inspirado na obra homónima de Goethe.
1909
Surgem, relacionados com os planos de Pessoa de fundar uma edi-
tora, Joaquim Moura-Costa, Vicente Guedes, Carlos Otto e ou-
tros autores fictícios.
Agosto: Vai a Portalegre para comprar uma prensa tipográfica.
Novembro: A Empreza Ibis — Typographica e Editora abre em Lis-
boa, na Rua da Conceição da Glória, números 38-40. Nesse
mesmo mês, Pessoa muda-se para o seu próprio apartamento
na Rua da Glória, número 4, rés-do-chão.
1910
Junho: A Íbis, que fez algum trabalho tipográfico, mas não publicou
nada, fecha as portas.
5 de Outubro: Cai a monarquia e é proclamada a Primeira República
em Portugal.
1911
Obrigado a deixar o seu apartamento, Pessoa vive durante alguns
meses num escritório que pertence ao primo Mário, no Largo do
Carmo, números 18-20, primeiro andar.
Junho ou Julho: Muda-se para o apartamento da tia Anica, na Rua
Passos Manuel, número 24, terceiro esquerdo.
Setembro: Após a nomeação do padrasto como cônsul-geral de Por-
tugal na recém-formada África do Sul, a família muda-se de Dur-
ban para Pretória.
1912
Conhece o poeta e ficcionista Mário de Sá-Carneiro, que se tornará
o seu mais íntimo amigo e aliado literário.
Abril: Publica o seu primeiro artigo de crítica literária, «A nova poe-
sia portuguesa sociologicamente considerada», na revista portu-
ense A Águia.
1913
Agosto: Publica, na revista A Águia, o seu primeiro texto de prosa
criativa, um trecho do Livro do Desassossego, assinando com o
seu próprio nome.
1914
Fevereiro: Publica os seus primeiros poemas de maturidade, «Ó si-
no da minha aldeia» e «Pauis», em A Renascença, uma publica-
ção literária efémera.
4 de Março: Primeiro poema datado de Alberto Caeiro.
Abril: Muda-se, com a tia Anica e a filha dela, Maria, para a Rua
Pascoal de Melo, número 119, terceiro direito.
Junho: Surge Álvaro de Campos.
12 de Junho: Primeiras odes datadas de Ricardo Reis.
Novembro: A tia Anica muda-se para a Suíça com a filha e o genro.
Pessoa arrenda um quarto na Rua Dona Estefânia, número 127,
rés-do-chão.
Dezembro: Surge Raphael Baldaya, astrólogo e estudioso de ocul-
tismo.
1915
Surge António Mora, teórico e divulgador do neopaganismo.
Alberto Caeiro morre de tuberculose.
24 de Março: Publicação do Orpheu 1, que inclui o «drama estático»
O Marinheiro, assinado por Pessoa, e «Opiário» e «Ode triunfal»,
assinados por Álvaro de Campos.
Junho: Publicação do Orpheu 2, que inclui «Chuva oblíqua» de Pes-
soa e «Ode marítima» de Campos.
Setembro: Completa a primeira de seis traduções de obras de Hele-
na Blavatsky, C.W. Leadbeater e outros escritores teosóficos (pu-
blicadas em 1915-1916).
Novembro: A mãe, ainda na África do Sul, tem um AVC que lhe
afecta o lado esquerdo.
1916
9 de Março: A Alemanha declara guerra a Portugal, que faz o mes-
mo no dia seguinte.
26 de Abril: Mário de Sá-Carneiro suicida-se num hotel parisiense.
Maio (?): Pessoa arrenda um quarto na Rua Antero de Quental.
Junho: Mais antigos exemplos de escrita automática, supostamente
ditados a Pessoa por espíritos astrais, que chegaram até nós.
Setembro (?): Fica alojado, durante um curto período, num quarto
da Rua Almirante Barroso, número 12.
Outubro: Arrenda um alojamento na Rua Cidade da Horta, número
58, primeiro direito.
1917
Janeiro: O primeiro contingente de tropas portuguesas embarca pa-
ra França a fim de combater pelos Aliados.
12 de Maio: Envia The Mad Fiddler, uma colectânea de poemas, a
um editor inglês, que rejeita o manuscrito.
21 de Agosto: Pessoa e dois amigos abrem a F.A. Pessoa, uma em-
presa que agirá como intermediária em transacções comerciais.
Cessa actividade nove meses depois.
31 de Outubro: Publica, na revista Portugal Futurista, o «Ultimatum»
de Álvaro de Campos, um manifesto que denigre os dirigentes
políticos e as luminárias culturais da Europa.
Outubro ou Novembro: Muda-se para um espaçoso apartamento na
Rua Bernardim Ribeiro, número 17, primeiro andar.
Dezembro: Um golpe de Estado instala Sidónio Pais como ditador.
1918
Julho: Publica, em edição de autor, duas plaquetes com os seus po-
emas ingleses, Antinous (escrito em 1915) e 35 Sonnets, que re-
cebem recensões positivas na imprensa britânica.
Novembro ou Dezembro: Muda-se para um apartamento mobilado
na Rua de Santo António dos Capuchos.
14 de Dezembro: Sidónio Pais é assassinado.
1919
Fevereiro: Uma insurreição monárquica que rebentou um mês antes
é esmagada por forças republicanas, o que leva o monárquico
Ricardo Reis a emigrar para o Brasil.
Junho ou Julho (?): Pessoa muda-se para a Rua Capitão Renato
Baptista, número 3, rés-do-chão esquerdo.
7 de Outubro: O padrasto morre em Pretória.
8 de Outubro: Ofélia Queiroz é entrevistada por causa de um empre-
go como secretária numa empresa em que Pessoa se ocupa da
correspondência comercial.
Outubro ou Novembro: Arrenda um quarto a uma família na Avenida
Gomes Pereira, Vila Gonçalves de Azevedo, rés-do-chão, em
Benfica.
1920
30 de Janeiro: Publica «Meantime», um poema de The Mad Fiddler,
na revista londrina The Athenaeum.
1 de Março: Escreve a primeira carta de amor a Ofélia Queiroz.
30 de Março: A mãe e os três filhos crescidos do segundo casamen-
to chegam a Lisboa. Os dois meios-irmãos partem pouco depois
para Inglaterra, onde acabarão por se licenciar em universidades
londrinas, casar e instalar. Pessoa, a mãe e a meia-irmã Teca
ocupam um apartamento na Rua Coelho da Rocha, número 16,
primeiro direito. Pessoa vive nesta morada até morrer.
Outubro: Funda uma pequena agência, a Olisipo, que serve inicial-
mente de intermediário no negócio de minas e depois se torna
uma editora.
29 de Novembro: Acaba por carta a relação com Ofélia Queiroz.
1921
Dezembro: A Olisipo publica English Poems I-II (incluindo «Inscripti-
ons» e uma versão revista de «Antinous») e English Poems III
(«Epithalamium», escrito em 1913), de Fernando Pessoa, e A In-
venção do Dia Claro, de José de Almada Negreiros.
1922
Outubro: Pessoa publica, na Contemporânea, «Mar português»,
uma série de doze poemas, onze dos quais serão incluídos em
Mensagem.
Novembro: A Olisipo publica uma versão revista e aumentada de
Canções, um livro de poemas de António Botto, homossexual as-
sumido.
1923
Fevereiro: A Olisipo publica Sodoma Divinizada, de Raul Leal.
Março: Em resposta a uma campanha de estudantes conservadores
contra a chamada Literatura de Sodoma, o Governo proíbe vári-
os livros considerados imorais, incluindo Sodoma Divinizada, de
Leal, e Canções, de Botto. Pessoa publica dois manifestos — um
assinado com o seu próprio nome e outro com o nome de Álvaro
de Campos — nos quais critica os estudantes e defende Leal
contra os ataques pessoais que aqueles lhe dirigem.
21 de Julho: A irmã de Pessoa casa com Francisco Caetano Dias,
conhecido pelo diminutivo Chico, e a mãe doente vai viver com o
jovem casal.
1924
Outubro: Ricardo Reis dá-se a conhecer pela primeira vez com vinte
odes publicadas na Athena — Revista de Arte. Pessoa é o direc-
tor literário da revista.
1925
Março: O quarto número da Athena (datado de Janeiro) dá a conhe-
cer Alberto Caeiro através de vinte e três poemas de O Guarda-
dor de Rebanhos.
17 de Março: A mãe de Pessoa morre.
Junho: O quinto e último número da Athena (datado de Fevereiro)
inclui dezasseis dos Poemas Inconjuntos de Caeiro.
16 de Novembro: Nascimento de Manuela Nogueira Rosa Dias, a
única sobrinha de Pessoa a sobreviver à infância.
1926
Janeiro: Pessoa e o cunhado fundam a Revista de Comércio e Con-
tabilidade, que terá seis números.
28 de Maio: Um golpe de Estado instala uma ditadura militar em
Portugal.
1927
4 de Junho: O poeta torna-se colaborador da Presença, uma revista
de arte e literatura na qual publicará alguns dos seus mais notá-
veis poemas e textos em prosa nos anos subsequentes. Embora
Pessoa não fosse muito conhecido, os jovens directores da Pre-
sença consideram-no o mais importante escritor português vivo.
1928
15 de Janeiro: Escreve «Tabacaria», poema atribuído a Álvaro de
Campos.
Março: Publica O Interregno, um panfleto que defende e justifica a
ditadura militar como um «Estado de Transição» no Portugal poli-
ticamente instável. (Pessoa repudiará O Interregno em 1935.)
26 de Abril: António de Oliveira Salazar é nomeado ministro das Fi-
nanças com poderes alargados.
Agosto: Pessoa começa a escrever textos em prosa com o nome do
suicida Barão de Teive.
1929
22 de Março: Primeiro trecho datado da fase final e mais intensa do
Livro do Desassossego, atribuído ao «semi-heterónimo» Bernar-
do Soares. Onze excertos aparecerão em periódicos entre 1929
e 1932. Centenas de outros só serão publicados décadas após a
morte de Pessoa.
Setembro: Reata a relação com Ofélia Queiroz.
Dezembro: Começa a corresponder-se com Aleister Crowley, o ma-
go e mestre ocultista inglês, depois de ter lido o seu texto autobi-
ográfico Confessions.
1930
11 de Janeiro: Escreve a sua última carta a Ofélia Queiroz. Continu-
arão a encontrar-se e ela continuará a escrever-lhe durante um
ano.
23 de Julho: Escreve os dois últimos poemas de Alberto Caeiro.
2 de Setembro: Aleister Crowley chega a Lisboa com uma namora-
da e conhece Pessoa.
23 de Setembro: Ajuda Crowley a encenar um falso suicídio que re-
cebe uma cobertura jornalística considerável.
1931
1 de Janeiro: Nascimento de Luís Miguel Rosa Dias, único sobrinho
de Pessoa.
1 de Abril: Escreve «Autopsicografia».
1932
5 de Julho: António de Oliveira Salazar é nomeado presidente do
Conselho de Ministros, tornando-se ditador de facto.
16 de Setembro: Pessoa apresenta (sem êxito) uma candidatura ao
cargo de conservador-bibliotecário do Museu-Biblioteca Condes
de Castro Guimarães, em Cascais.
1933
Janeiro: Cinco poemas de Pessoa traduzidos para francês são pu-
blicados na Cahiers du Sud (Marselha).
19 de Março: Um referendo nacional aprova uma nova Constituição,
que marca o início do chamado Estado Novo salazarista.
1934
Julho: Pessoa começa a escrever uma longa série de quadras popu-
lares — mais de trezentas e cinquenta.
1 de Dezembro: Publica Mensagem, único livro da sua poesia portu-
guesa a ser editado em vida. O livro recebe um prémio do Secre-
tariado da Propaganda Nacional.
1935
4 de Fevereiro: Publica, no Diário de Lisboa, um artigo contra a pro-
posta de lei que proíbe a maçonaria. A Assembleia Nacional rati-
ficará por unanimidade a lei em Abril.
16 de Março: Data de «Liberdade», primeiro poema de Pessoa con-
tra Salazar e o Estado Novo.
21 de Outubro: Escreve «Todas as cartas de amor são ridículas», o
último poema datado de Álvaro de Campos.
13 de Novembro: Escreve «Vivem em nós inúmeros», último poema
datado de Ricardo Reis.
19 de Novembro: Escreve «Há doenças piores que as doenças», úl-
timo poema em português datado.
22 de Novembro: Escreve «The happy sun is shining», último poe-
ma em inglês datado.
29 de Novembro: É internado no hospital francês de Lisboa com do-
res abdominais agudas. É lá que escreve, em inglês, as suas últi-
mas palavras: «I know not what to-morrow will bring.» («Não sei
o que o amanhã trará.»)
30 de Novembro: Morre por volta das 20h30, provavelmente devido
a uma obstrução intestinal.
2 de Dezembro: É enterrado no Cemitério dos Prazeres, onde Luís
de Montalvor, do grupo da revista Orpheu, faz uma curta alocu-
ção na presença de aproximadamente sessenta pessoas.
Agradecimentos
Muitas das cartas de Pessoa que chegaram até nós foram publica-
das em Correspondência 1905-1922 e Correspondência 1923-1935
ou em Cartas, vol. 7 da Obra Essencial de Fernando Pessoa.
Salvo indicação em contrário, as cartas enviadas a Pessoa pela
mãe, o padrasto e a meia-irmã, bem como as trocadas entre os
seus parentes do lado materno, estão por publicar e pertencem à
Colecção de Cartas da Família de Pessoa. Todas as cartas que tro-
cou com Ofélia Queiroz foram publicadas em Pessoa e Queiroz,
Correspondência Amorosa Completa, 1919-1935. As cartas que re-
cebeu de Mário de Sá-Carneiro foram publicadas em Cartas de Má-
rio de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (2001) e noutras edições.
Os artigos, ensaios e outros textos em prosa de Pessoa publica-
dos em vida podem ser encontrados em Crítica, em Prosa Publicada
em Vida (vol. 3 da Obra Essencial) e na Edição Digital de Fernando
Pessoa online. Os seus diários e muitos textos autobiográficos estão
em Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal.
Os livros da sua biblioteca pessoal, salvo indicação em contrário,
podem ser consultados no site da Casa Fernando Pessoa.
A informação bibliográfica completa para as obras mencionadas,
bem como para as obras frequentemente citadas na lista infra, pode
ser encontrada em «Fontes e referências».
Nas minhas frequentes alusões ao Espólio Fernando Pessoa, os
números depois da barra oblíqua indicam os documentos contidos
no envelope cujo número de catálogo aparece antes da barra. Por
exemplo, «doc. 134A/93v» refere-se às costas (v, por verso) do do-
cumento 93, que está no envelope 134A. No caso dos cadernos de
Pessoa, os números a seguir à barra correspondem aos fólios no
caderno cujo número de catálogo aparece antes da barra. «Caderno
144B/50-51» refere-se aos fólios 50 e 51 do caderno catalogado sob
o número 144B.
Capítulo 1
1 DN, 14/VI/1888, p. 1. Sobre os ventos fortes: Diário Ilustrado, 14/VI/1888,
p. 3.
2 Desassossego, trecho 438.
3 Ibidem, trecho 138.
4 Ibidem, trechos 259 e 30.
5 Vida, p. 36.
6 Obituários em O Comércio de Portugal, 29/VI/1884, p. 2, e em DN,
29/VI/1884, p. 1; verbetes para Luiz António Nogueira em Encyclopedia Portu-
guesa Ilustrada (Porto: Lemos & Co. 1900-1909) e Portugal: Diccionario Histo-
rico, Chorographico, Heraldico, Biographico, Bibliographico, Numismatico e
Artistico (Lisboa: João Romano Torres & C.ª Editores, 1911). Um dos obituári-
os afirma erradamente que o filho, Luís António, morreu com dezassete anos
em 1883. Nasceu em 1863 e morreu em 30/III/1882. O filho mais velho, Gui-
lherme Pinheiro Nogueira, morreu em 18/II/1870, com quinze anos.
7 História contada pela irmã de Pessoa à filha, que ma contou.
8 DN, 14/VII/1893, p. 1.
9 Cadafaz de Matos (1988), p. 22. Bernhardt interpretou o papel de Com-
tesse de Rocca, em L’Aveu, uma peça de sua autoria. As reacções da crítica
foram desiguais.
10 Dossier («Processo Individual») sobre Joaquim António Araújo, Arquivo
Histórico Militar. Fernandes (1975) refere um José de Seabra Pessoa, irmão
do pai de Pessoa. Pessoa desenhou ele próprio uma árvore genealógica que
inclui um tio paterno, «J. Pessoa», cuja morte é atribuída à tuberculose (doc.
134.A/93v), reproduzida em Génio, p. 323, e Foto XX, p. 33.
11 Marques (1935), pp. 97-105. Para a fluência de Seabra em francês e
italiano: DN, 14/VII/1893, p.1.
12 Livros mencionados na carta de 14/XI/1893 de Madalena Pinheiro No-
gueira à filha.
13 CHP. Cada álbum correspondia a uma temporada de actuações, indo
normalmente de Setembro ou Outubro a Junho, com peças ocasionais nos
meses de Verão.
14 Porcelana referida numa carta de 16/III/1894 de Madalena Pinheiro No-
gueira à filha, mãe de Pessoa.
15 EA, p. 204; as notas autobiográficas são datadas de 30/III/1935. Manu-
el, irmão mais novo de Sancho Pessoa da Cunha, é o antepassado por via
paterna de Fernando Pessoa nessa geração, mas Sancho é também um ante-
passado de sangue, uma vez que a filha, Rosa Maria Pessoa, era mulher de
Diogo Nunes da Cunha Pessoa, filho de Manuel, que era o seguinte na linha
de sucessão. O apelido da Cunha na genealogia de Pessoa remonta pelo me-
nos a Pêro da Cunha, um nobre ao serviço de D. Manuel I (que reinou de
1495 a 1521) e D. João III (que reinou de 1521 a 1557). Alguns cristãos-novos
eram membros da nobreza, e pode ter sido esse o caso de Pêro da Cunha.
Se não foi, então ele, ou um filho, casou com uma cristã-nova, segundo os in-
dícios genealógicos.
16 Chagas (2004), verbete sobre Jacques Pessoa.
17 Doc. 19/59v. De «Erostratrus», ensaio inacabado. Pessoa, Heróstrato,
p. 182.
18 Carta datada de 8/II/1918. Segundo os mapas astrológicos que recebeu
do British Journal of Astrology, Pessoa nasceu às 15h11m49s e foi concebido
em 20/IX/1887, às 1h47m34s (doc. S5/87). Num mapa que traçou para si, o
poeta chegou a uma «época pré-natal» que era cerca de sete minutos mais
cedo (caderno 144X/9). CA, pp. 43, 47-49.
19 Docs. 28/99. Caderno 144C2-8v. EA, p. 45.
20 Um santinho (CHP) foi reproduzido em Lancastre (1981), p. 41.
21 Vida, pp. 33, 45. Notas, pp. 28-29. Exílios, p. 23.
22 Uma carta da mãe a Maria Nogueira Pessoa, escrita em 14/XII/1893, in-
dica que Dionísia tinha num dado momento sido internada numa clínica du-
rante um período não especificado. Isto ocorreu provavelmente em 1892, mas
também pode ter sido antes.
23 A irmã de Pessoa conta que as duas empregadas domésticas eram ido-
sas: Intimidade, p. 21. Numa carta à filha (mãe de Pessoa) datada de
14/XII/1893, Madalena Pinheiro Nogueira, que vivera intermitentemente em
Lisboa durante os anos precedentes, recorda que «parece que não havia se-
mana nenhuma em que [a Joana] não estivesse de cama dois ou três dias».
Numa carta escrita um mês antes, em 15/XI/1893, lembra à filha que ela tinha
sido profundamente infeliz no casamento, excepto durante o primeiro ano.
Que a mãe de Pessoa era propensa ao choro quando se sentia infeliz, é reve-
lado em cartas à irmã datadas de 19/II/1895 e 4/III/1895.
24 Joaquim Seabra Pessoa publicou uma nota de agradecimento ao Dr.
Joaquim de Andrade Neves por tratamentos recebidos (recorte preservado
pelos herdeiros de Neves; jornal e data desconhecidos). Um obituário descre-
veu-o como homeopata (DN, 7/IX/1892, p.4).
25 Uma ideia referida, por exemplo, em «A Metaphysical Theory», (docs.
22/21-22) e na sua carta de 13/I/1935 a Adolfo Casais Monteiro.
26 DN, 6/VI/1888.
27 Intimidade, p. 30.
28 Numa página de notas (doc. S6/16) que liga acontecimentos autobio-
gráficos a conjunções astrológicas, Pessoa escreveu: «Out. 1892 (fim de
aprender [a] ler?).»
29 Relatado por um membro da família em Acção, 19/VI/1937, p. 8. A iden-
tidade do amigo da família, Álvaro Franco, foi revelada em Notas, p. 36.
Capítulo 2
1 Informação sobre Lisbela obtida em conversas e entrevistas com Inês e
Isabel Sarmento, e com Maria Manuela Pessoa Chaves. Informação sobre o
marido de Lisbela, Romão Aurélio da Cruz Machado, obtida no Processo Indi-
vidual dele no Arquivo Histórico Militar. A tia Anica, através da filha Maria Ma-
dalena, disse a Pessoa que ele tinha ido ao Algarve com dois anos (doc. Ane-
xo IV/20v).
2 Artigo sobre o hotel em Correio da Noite, 6/IX/1887.
3 João Korth, de ascendência holandesa mas nascido em Angra do He-
roísmo (Merelim, 1974, p. 14), era médico em Lisboa há pelo menos dez
anos.
4 Obituários de Joaquim Seabra Pessoa publicados em DN e Correio da
Noite, em 14/VII/1893. A certidão de óbito afirma que não recebeu a extrema-
unção. As cartas que escreveu de Caneças e Telheiras (uma zona que então
não era parte integrante de Lisboa) foram publicadas em Matos (1988).
5 Ida Fuller (1867-1922) era irmã de outra bailarina «serpentina», Loïe Ful-
ler (1862-1928). Encontrei informação sobre as duas bailarinas no blogue
«Red Poulaine’s Musings», consultado em Novembro de 2018: http://redpou-
laine.blogspot.com/2013/07/ida-pinckney-fuller-belle-epoque.html. O espectá-
culo de Fuller em Lisboa está descrito em Ocidente (Lisboa), 21/VII/1893, p.
162.
6 Trecho 30.
7 Leilão referido na carta de Madalena Pinheiro Nogueira de 16/III/1894 à
filha. Informação sobre o mobiliário retirado da Rua de São Marçal na carta de
Madalena de 28/VII/1894 à filha.
8 A possibilidade de meningite é aludida na carta de Anica de 2/I/1894 à ir-
mã. Foi sugerido que a vacina contra a varíola possa ter contribuído para a
morte dele, mas a reacção visível de Jorge à inoculação — uma irritação da
pele — há muito que tinha desaparecido.
9 DN, 3/I/1894, p. 1.
10 A dependência económica que Maria tinha da sogra é aludida nas car-
tas de 5/III/1894 e 3/X/1894 de Madalena Pinheiro Nogueira à filha.
11 Notas, p. 37.
12 O poema «Só!», que Maria Madalena escreveu em 27/VIII/1894 — um
dia depois de ter escrito «Desejos!», um ardente poema de amor dedicado a
João Miguel Rosa — foi publicado como se tivesse sido escrito em memória
do primeiro marido (Imagens, p. 31). Não foi evidentemente o caso. O «frio da
sepultura» referido na primeira estância do poema não é uma referência à
morte do primeiro marido, mas uma metáfora daquilo que a oradora sente na
alma «quando de ti me aparto» — como ela explica noutra estância, resoluta-
mente escrita no tempo presente. Ela está de facto a descrever a circunstân-
cia de se achar sozinha depois de ter gozado a companhia do amante. Aliás,
o motivo do cemitério reaparece exactamente com a mesma formulação na
conclusão do seu poema «O teu cigarro», dedicado «Ao meu querido e adora-
do João» e datado de 24/I/1895.
13 Cartas de Madalena Pinheiro Nogueira à filha, datadas de 15/IV/1894 e
2/XII/1894.
14 As viagens do Liberal e de João Miguel Rosa estão registadas nas Or-
dens da Armada de 1894 e, com mais pormenor, em Livro Mestre C, p. 131,
no Arquivo Histórico da Marinha, em Lisboa.
15 Por exemplo, na carta de 13/VII/1894 à filha.
16 Carta de Madalena Pinheiro Nogueira à filha Anica, datada de 3/I/1895.
17 Jornal do Comércio, 16/II/1893, p. 2.
18 Colecção Jaime de Andrade Neves.
19 A Medalha de Ouro Rainha Dona Amélia foi atribuída a Rosa em 1896.
As informações de viagem foram extraídas de cartas da mãe de Pessoa a
Anica, datadas de 19/II/1895 e 18/III/1895. Sobre a sublevação e a reacção
portuguesa, ver António Enes, A Guerra de África em 1895 (Lisboa: Typo-
graphia do «Dia», 1898), designadamente pp. 25-26, 108-109.
20 Anuário Diplomático e Consular Português de 1916-1917; dossier sobre
Rosa no Arquivo Histórico da Marinha.
Capítulo 3
1 Carta de Madalena Pinheiro Nogueira a Anica, datada de 3/I/1895.
2 «Beg[inning] knowl[edge] m[other] & st[ep]-f[ather]», escreveu a propósi-
to de uma conjugação astral que ocorre depois de ter feito seis anos (doc.
901/62).
3 Vida, parte I, capítulo 3.
4 O que Maria escreveu é deduzido da resposta da mãe, datada de
28/VII/1894.
5 Carta datada de 21/I/1894 e publicada em Rita Lopes e Abreu (1983), p.
41.
6 Do poema que começa «Bem sei que tudo é natural».
7 Desassossego, trechos 278 e 118.
8 Poema intitulado «Diluente», datado de 29/VIII/1929.
9 Foto XX, pp. 28, 33.
10 Madalena Pinheiro Nogueira citou o comentário da filha numa carta da-
tada de 15/XI/1894.
11 EA, p. 68.
12 O soneto da tia-avó Maria e as observações de Pessoa sobre o seu ca-
rácter foram publicados em Pessoa, Cartas de Fernando Pessoa a Armando
Côrtes-Rodrigues, p. 75.
13 Jornal do Comércio, 26/II/1895, p. 2. A ópera era Crispino e la Comare,
dos irmãos Ricci, popular na época mas raramente cantada depois do século
XIX. A ida de Fernando à ópera com o tio é referida numa carta, datada de
4/III/1895, de Maria Madalena à irmã Anica.
14 Pormenores da relação de Pessoa com o tio Cunha e a tia Maria po-
dem ser respigados nas cartas da mãe, como na de 4/III/1895 à irmã, e das
cartas do tio Cunha ao sobrinho, duas das quais foram publicadas em Ima-
gens, pp. 35-36. O soneto de Maria, tia-avó de Pessoa, e as observações dele
sobre o carácter dela, foram publicados em Pessoa, Cartas de Fernando Pes-
soa a Armando Côrtes-Rodrigues, p. 75. Os jornais fictícios ligados a partidos
políticos inventados e discutidos adiante são de 1909.
15 De um prefácio inacabado para uma publicação não realizada de obras
dos heterónimos de Pessoa. Foi erradamente publicado como um rascunho
da carta que dirigiu a Adolfo Casais Monteiro em 13/I/1935.
16 Duas cartas que já vieram a lume, datadas de 20/VII/1896 e 22/III/1897,
foram publicadas em Imagens, pp. 35-36. Outras cartas do tio Cunha ainda
não publicadas (CHP) fornecem um quadro mais completo dos jogos de reali-
dade alternativa que fazia com o sobrinho. Excertos publicados em Nogueira
(2015), pp. 101-105.
17 Os pormenores dos dois parágrafos anteriores foram extraídos de car-
tas de família não publicadas, de 1894-1896.
Capítulo 4
1 Jorge Martins, «O Caso Dreyfus em França e Portugal», História, n.º 70
(2004).
2 Notas, p. 38.
3 Docs. 49A5/55 (datado de 1/VIII/1818) e 133A/60.
4 Carta de Maria Madalena a Anica de 19/VIII/1895.
5 De acordo com os registos de bordo preservados no Arquivo Histórico da
Marinha, Caixa 499, o Liberal partiu em 16/VII/1893 de Lourenço Marques pa-
ra Durban, onde atracou no dia 18, e iniciou a viagem de regresso em 16/VI-
II/1893. Segundo os arquivos consulares portugueses de Durban, a empresa
Castle Shipping Line — cujos navios circulavam entre a Europa e a África do
Sul — apresentou uma queixa formal (em Abril de 1895) contra o antecessor
imediato de João Rosa, por não ter despachado um certificado de saúde de
que um desses navios precisava para zarpar. Rosa foi nomeado cônsul al-
guns meses depois deste episódio.
6 O vestido de veludo preto vem referido nas cartas de 16/X/1894 e
2/XII/1894 de Anica à irmã. Segundo a carta de 4/X/1895 de Maria Madalena
a Anica, ainda não tinha conhecido Henrique Rosa.
7 A avó Madalena, como é descrito por Pedro da Silveira em Merelim
(1974), p. 90, estava na lista de passageiros do Açor, que partiu de Lisboa pa-
ra os Açores em 5/I/1896. A informação sobre Dionísia provém das cartas de
19/IV/1895 e 8/V/1895 de Maria Nogueira Pessoa à irmã Anica. O registo do
internamento hospitalar (agora na Torre do Tombo): fólio 137, n.º de registo
365; fólio 142, n.º de registo 1412. O registo diário dos proventos e despesas
de Dionísia realizado por Maria Pinheiro Nogueira pertence aos herdeiros de
Pessoa.
8 Esta história era repetidamente contada por familiares e está descrita
num artigo que foi publicado dois anos depois da morte do poeta (Acção,
19/VI/1937, p. 8).
9 Desassossego, trecho 165.
10 The Scramble for Africa (1991), de Thomas Pakenham, é uma excelen-
te descrição, embora não se ocupe da disputa entre Portugal e a Grã-Breta-
nha que conduziu ao Ultimato Britânico.
11 Nuno Severiano Teixeira, «Política externa e política interna no Portugal
de 1890: o Ultimato Inglês», Análise Social, vol. XXIII, 1987, n.º 4, pp. 687-
719.
12 Doc. 133E/84.
Capítulo 5
1 Intimidade, p. 27.
2 The Standard (Londres), 22/I/1896, p. 1; Diário de Notícias (Funchal),
31/I/1896, p. 2.
3 A carta de 31/VIII/1896 do tio Cunha a Fernando (CHP) refere os dois
«espiões» que descobriram na viagem de ida.
4 O historiador James Bryce descreveu a viagem que fez no Hawarden em
1895, bem como a chegada à Cidade do Cabo, em Impressions of South Afri-
ca, pp. 189-190.
5 A chegada do Hawarden foi descrita em TNM, 21/II/1896 e 22/II/1896, na
secção de notas marítimas. Jennings, em dois dos seus livros sobre Pessoa,
afirmou que os navios a vapor não entraram no porto de Durban antes de
1904, ano em que as gigantescas obras de engenharia foram concluídas. Na
verdade, navios a vapor de tamanho médio como o Hawarden já atracavam
nele semanalmente na década de 1890. Contudo, a profundidade média das
águas variava segundo as marés e a época do ano, de modo que mesmo os
navios a vapor de tamanho médio eram às vezes forçados a permanecer fun-
deados ao largo, de onde escaleres transferiam passageiros e carga para os
molhes. Bryce (1899), pp. 180, 282-283.
6 «Tersilian [sic] House, em Ridge Road» é mencionado em Vida, p. 63.
Pesquisas realizadas no notariado de Durban por Bryan Lee e Lenn Mostart, a
meu pedido, indicam que um tal John Francis Hitchens era dono da proprieda-
de «Tresilian», número 60 de South Ridge Road (agora Mazisi Kunene Road),
antes de 1902. A minha descrição da casa é baseada na interpretação de
uma fotografia aérea da Tresilian House e da vizinhança datada de 1931. A
casa foi demolida algum tempo depois. Sobre o estilo típico de casa da época:
Frescura e Maude-Stone (2013), p. 109.
7 Informação recolhida no Natal Almanac, de 1896 a 1900.
8 Chegou a Lisboa em 9 de Abril. Merelim (1974), p. 91.
9 Imagens, p. 35.
10 Obituários publicados em 26/I/1898 no Correio da Noite e no DN. José
Luciano de Castro, o chefe do Partido Progressista e primeiro-ministro na altu-
ra, assistiu ao funeral.
11 Os nomes dos trabalhadores estão registados no Arquivo do Consulado
Português de Durban.
12 Malyn Newitt, A History of Mozambique, (Bloomington: Indiana Univer-
sity Press, 1995), pp. 482-485; A.H. de Oliveira Marques, História de Portugal,
vol. III (Lisboa: Palas Editores, 1986), p. 195.
13 Segundo a Lei de Registo de Empregados (Registration of Servants
Act) n.º 2, 1888.
14 Segundo a irmã de Pessoa, em Intimidade, p. 60.
15 Bryce, pp. 283-285.
16 Miller (1985), pp. 6, 10, 32. As memórias de Miller remontam a 1910.
Pessoa viveria em Durban até 1905.
17 Em 11/V/1896, o TNM relata: «Tão felizes estão com a cidade e o clima
que a senhora e a menina Clemens vão passar na cidade mais uma quinze-
na.» A passagem de Twain pela África do Sul foi investigada e contada em
detalhe por Coleman O. Parsons em «Mark Twain: Traveler in South Africa»,
Mississippi Quarterly, Inverno, 1975-1976.
18 Este livro encontra-se na biblioteca pessoal de Pessoa, na Casa Fer-
nando Pessoa. Os herdeiros de Pessoa possuem o índice sobrevivente de ou-
tro livro de Twain adquirido por Pessoa em Durban, The Celebrated Jumping
Frog of Calaveras County, and Other Stories.
19 As suas cartas à avó não chegaram até nós, mas Fernando guardou
uma que ela lhe escreveu em 15/VIII/1896.
20 Vários livros de poesia que Pessoa tinha em Durban mantiveram-se na
biblioteca pessoal dele, que está na Casa Fernando Pessoa; há um que está
na Biblioteca Nacional de Portugal.
21 TNM, 21/XII/1898. Havia prémios, incluindo um prémio de exame anual,
que eram atribuídos por cada um dos anos da escola primária. Pessoa estava
na «primeira classe», ou quinto ano. O prémio atribuído a Pessoa na discipli-
na de Latim foi The Remarkable Adventure of Walter Trelawney, de Joseph
Smith Fletcher. Os outros dois prémios podem ter sido livros também.
22 Docs. 28/69-70. EA, pp. 66-69.
Capítulo 6
1 Na realidade, a grande maioria dos passageiros indianos já se tinha es-
tabelecido na África do Sul, ou então ia reunir-se a familiares.
2 Gandhi recordaria o episódio da estação de caminhos-de-ferro como ten-
do ocorrido sete dias depois de ter chegado a Durban, mas houve historiado-
res que provaram que teve efectivamente lugar em 7 de Junho, duas sema-
nas depois da sua chegada. John Laband e Robert Haswell (eds.), Pieterma-
ritzburg 1838-1988 — A New Portrait of an African City (Pietermaritzburg: Uni-
versity of Natal Press/Shuter & Shooter, 1988), p. 201.
3 Em The Story of My Experiments with Truth, Gandhi indica o dia 22 de
Maio como a data em que o Congresso foi fundado; na verdade, a fundação
formal ocorreu em 22 de Agosto.
4 TNM, 14/I/1897, pp. 4-5.
5 Time, 31/III/1930. Reapareceria na capa de 5/I/1931, como figura do ano.
6 Docs. 55H/64-65, Foto XX, pp. 50-51.
7 Desassossego, trecho 258.
8 Ver Leela Gandhi (2014) para reflexões sobre o encontro de Pessoa com
Gandhi à luz da afirmação de Alain Badiou de que o pensamento filosófico
«ainda não é digno de Pessoa» (Badiou, 2005, p. 36).
Capítulo 7
1 A meia-irmã de Pessoa contou que a família já estava a viver no número
157 de West Street na altura do seu nascimento (Intimidade, p. 30), mas o Na-
tal Almanac indica que um alfaiate ocupou o edifício pelo menos até 1897.
Não existem fotografias conhecidas da fachada da casa de West Street, mas
um mapa de seguros Charles Goad da cidade de Durban em 1931 (arquivado
na Don Africana Library de Durban) e fotografias aéreas mostram o edifício
como descrito no texto. (Devo esta informação a Brian Kearney, arquitecto e
historiador de Durban.) A habitação foi substituída por um stand de automó-
veis em 1935; é actualmente uma oficina mecânica. A minha cronologia dos
sucessivos domicílios de Pessoa em Durban foi estabelecida cotejando recor-
dações familiares, documentos encontrados no Espólio Fernando Pessoa, re-
gistos de edifícios de Durban, listas de moradas em directórios anuais de Na-
tal e informação (nem sempre precisa) fornecida a Simões pelo cônsul de Por-
tugal em Durban em 1949 (a carta do cônsul integra a Colecção Fernando Tá-
vora).
2 A mãe de Pessoa recordaria as idas à praia da baía numa carta ao filho
datada de 15/VII/1911.
3 Parece que a mãe de Pessoa escreveu poesia por vagas. Muitos dos
seus poemas pertencem a dois períodos, de 1894 a 1895 (CHP) e de
12/VII/1898 a 6/II/1899 (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delga-
da).
4 TNM, 24/XII/1898.
5 Carta de 17/V/1965 de H.D. Jennings a Alexandrino Severino, em Seve-
rino (1970), pp. 121-123.
6 Eric Anderson Walker, The Cambridge History of the British Empire, vol.
8 (Cambridge: Cambridge University Press, 1963), pp. 275-277.
7 Doc. 97/34. Pessoa, Ultimatum e Páginas, p. 186.
8 Oddy (2008), p. 40; Belcher e Collins (1906), pp. 56-58.
9 Jennings (1966), pp. 83, 85; Jennings (1986), pp. 9-10; Exílios, p. 201.
10 Oddy (2008), p. 40.
11 Desassossego, trecho 237.
12 Carta a Adolfo Casais Monteiro, datada de 20/I/1935.
13 H.J. Ogden, The War Against the Dutch Republics in South Africa (Man-
chester: National Reform Union, 1901), p. 40.
14 Doc. 55H/80. Pessoa, Ultimatum e Páginas, p. 238.
Capítulo 8
1 «Joseph Chamberlain», datado de Fevereiro de 1905.
2 Byron Farwell, «Taking Sides in the Boer War», American Heritage, Abril
de 1976 (consultado online).
3 Ultimatum (1917).
4 O meu resumo da guerra baseia-se na interpretação dos acontecimentos
de Pakenham em The Boer War (1979).
5 Clifford Geerdts, citado em Jennings (1986), p. 20.
6 Collected Works of Mahatma Gandhi (livro electrónico), Nova Déli: Publi-
cation Division Government of India, 1999, vol. II (consultado online).
7 Wassermann e Kearney (2002), p. 380, que cita Peter Warwick, Black
People and the South African War 1899-1902 (Cambridge: Cambridge Univer-
sity Press, 1983), pp. 127-128.
8 Informação sobre refugiados europeus, indianos e nativos de Wasser-
mann e Kearney (2002), pp. 251-252, 381; apenas sobre refugiados indianos:
Coolam Vahed, «Natal’s Indians, the Empire and the South African War, 1899-
1902», New Contree, 45, Setembro de 1999, pp. 185-216 (consultado online).
9 Frescura e Maude-Stone (2013), p. 119.
10 Wassermann e Kearney (2002), p. 248.
11 Trechos 132, 138 e 420.
12 TNM, 25/XII/1899, p. 5.
13 Wassermann e Kearney (2002), p. 247.
14 Caderno 144B; C. Mazansky, «Cigarette Cards and South African Mili-
tary History», Military History Journal (Kengray, África do Sul), vol. 8, n.º 2, De-
zembro de 1989 (consultado online).
15 Diário Ilustrado, 29/III/1901, p. 3. Fernando Costa (1998).
16 Caderno 144B/8-9.
17 O romance de George Sand está incluído nas notas de Pessoa como
manual integrado no programa de 1901 (caderno 144B/15). O «L.» da assina-
tura de Pessoa também aparece em dois manuais de Latim que utilizou em
1904: o Revised Latin Primer, 1898; e A Practical Introduction to Latin Prose
Composition, 1899. Jennings (1986), pp. 19-20.
18 Wassermann e Kearney (2002), p. 272; site do Anglo-Boer War Mu-
seum: http://www.anglo-boer.co.za/; Pakenham (1979), pp. 493-510, 572-573.
19 «A opinião pública», segunda parte, A Acção, Lisboa, 4/VIII/1919; OE,
vol. III, pp. 315-334.
20 Em 1914 Pessoa diria ao amigo Armando Côrtes-Rodrigues que, à ex-
cepção da quadra escrita para a mãe quando tinha sete anos, não produziu
poesia até 1901. Um poema intitulado «Anamnesis» tem sido repetida e erra-
damente referido como tendo sido escrito e datado por Pessoa no mesmo dia
que «Separated from thee»; de facto, foi escrito em 1915.
21 As doze páginas do jornal inventado foram reproduzidas em Zenith
(2012), pp. 134-136. Excluindo a secção desportiva, que foi da autoria do pró-
prio Pessoa, localizei facilmente todo o conteúdo em inglês do «jornal» em vá-
rios jornais reais do período disponíveis na Internet, assim como algum do
conteúdo em francês.
22 Pessoa referiu várias vezes o seu apreço por Os Cadernos Póstumos
do Clube Pickwick. Numa entrevista (Henriqueta Madalena Rosa Dias, pp. 6-
7) realizada em 1988, a irmã de Pessoa contou que o livro estava bastante
gasto pelo uso constante, mas o seu paradeiro actual é desconhecido.
23 Doc. 48B/134.
24 Desassossego, trecho 195.
25 Doc. 19/97. Pessoa, Páginas de Estética, p. 308.
26 Desassossego, «Nossa Senhora do Silêncio».
27 Severino (1970), p. 143; Imagens, p. 39.
28 «Relatório do semestre terminado em 26 de Junho de 1901», reproduzi-
do em Exílios, p. 187.
29 «Correspondência expedida para o Ministério dos Negócios Estrangei-
ros de 27 Outubro 1896 a 22 Agosto 1903», Arquivo do Consulado Português,
Durban.
30 A data de partida do König, mencionada na carta do cônsul, é confirma-
da pelas notas de navegação de TNM, 2/VII/1901. Sobre a morte da irmã de
Pessoa: Intimidade, p. 51.
Capítulo 9
1 Jornal do Comércio, 14/IX/1901, p. 1.
2 Um recibo de renda (CHP) que chegou até nós sugere que a família Ro-
sa só ocupou o apartamento na Rua de Pedrouços a partir de 1 de Janeiro de
1902, e o Anuário Comercial de Portugal, Ilhas e Ultramar de 1902 (compilado
nos finais de 1901) indica «Miguel Rosa, capitão-tenente da armada» como
residente no Estoril. É possível que a família Rosa se tenha alojado durante
os últimos meses de 1901 no Estoril, que, como Pedrouços, fica na linha de
comboios Cais do Sodré-Cascais, enquanto Fernando estava com as tias-
avós e a avó. No entanto, João Miguel Rosa era capitão (desde 1895) e não
capitão-tenente.
3 Numa carta de 13/VI/1894 à filha Anica, Madalena Pinheiro Nogueira en-
viou saudações a Lisbela, que viajara de Tavira a Lisboa. O paradeiro actual
das cartas de Pessoa à tia Lisbela é desconhecido, mas uma herdeira que as
teve na sua posse lembra-se de ter lido uma carta, enviada de Durban, na
qual Fernando agradeça a hospitalidade que lhe fora proporcionada quando
esteve em Tavira (Fernandes [1975], p. 9). Isto sugere que ele visitou Tavira
no Verão de 1902, talvez pela segunda vez durante as férias portuguesas,
pouco antes de regressar a Durban.
4 Júlio Leopoldo Rosa, três anos mais velho do que João Miguel Rosa, era
engenheiro civil e condutor de obras públicas; era casado, mas não tinha fi-
lhos. Obituário em DN, 8/XI/1912, p. 4.
5 Exemplares de O Pimpão que pertenceram a Henrique Rosa estão agora
à guarda dos herdeiros de Pessoa.
6 Fac-símiles dos jornais a fingir de Pessoa datados de 1902 estão publi-
cados em Rita Lopes (1990), pp. 130-145. O Palrador: docs. 87/23-25. Os nú-
meros que nos chegaram de A Palavra — publicação analisada mais adiante
— estão à guarda dos herdeiros de Pessoa.
7 Revised Latin Primer, 1898. O manual contém ainda assinaturas do pró-
prio Pessoa e do seu heterónimo C.R. Anon.
8 «Diabo Azul» foi um pseudónimo usado por Narciso de Lacerda (1858-
1913) em diversas colectâneas de histórias publicadas entre 1899 e 1902. La-
cerda não foi o único, contudo, a fornecer as histórias atribuídas ao Diabo
Azul em O Pimpão. Jorge Abreu, Boémia Jornalística (Lisboa: Guimarães,
1927), capítulo 4.
9 Datado de 5/VII/1902.
10 R. Zenith, «A Sonnet from the English», in Cláudia Pazos Alonso e
Stephen Parkinson (eds.), Reading Literature in Portuguese — Commentaries
in Honour of Tom Earle (Londres: Legenda, 2013), pp. 169-175.
11 Entre os colaboradores de O Palrador com pseudónimos inspirados em
jornalistas verdadeiros contavam-se não só o Diabo Azul, mas também o Pad
Zé, que era a abreviatura de Padre José, alcunha de Alberto Costa (1877-
1908), estudante de Direito na Universidade de Coimbra famoso pela extrava-
gância boémia e pela vivacidade de espírito. Em 1899, Costa tinha feito sair
três números de uma revista satírica, A Revista do Civil, e em 1905 publicaria
um relato trocista dos seus tempos de universitário, O Livro do Doutor Assis,
muito apreciado por Pessoa.
12 Guiomar Silvano Pamplona Corte Real, uma parente afastada que se
encontrou com Pessoa durante a visita da família à Terceira, descreveu-o em
Merelim (1974), pp. 119-123.
13 Ibid., pp. 20-21, 87-107; Intimidade, p. 52.
14 R. Zenith (2019), pp. 69-81. Jorge de Sena foi o primeiro investigador a
identificar a relação entre «Quando ela passa» e o poema de António Nobre.
A tradução parcial feita por Pessoa de «Elegia escrita num cemitério rural», de
Gray, consta do caderno 153/7-8.
15 Caderno 144B/49v-50v.
16 Henriqueta Rosa Dias (1985), p. 6.
17 Segundo a irmã, em Intimidade, p. 54. Sobre a viagem de regresso a
Lisboa, ver Pedro da Silveira, em Merelim (1974), p. 104.
18 Ele copiou o título, o preço e o custo de transporte do álbum no seu blo-
co de notas (caderno 144B/42). Imagem fac-similada do álbum de selos assi-
nado e datado por Pessoa em Foto XX, p. 54.
19 Fac-símile em Imagens, p. 40.
20 Referido numa carta da mãe, datada de 11/V/1913.
21 O bloco de notas que utilizava em 1902 contém as soluções de equa-
ções e problemas matemáticos tirados de um manual português (caderno
144B/50-56).
22 Números de 27 de Agosto, 24 de Setembro, 5 de Outubro e 26 de No-
vembro, sempre na p. 7.
Capítulo 10
1 O decreto governamental data de 24/XII/1901 (informação fornecida pelo
Arquivo Histórico Militar). O documento que concede esta isenção a Pessoa é
reproduzido em Lencastre (1981), p. 106, e em Foto XX, p. 41.
2 TNM, um matutino, relatou em 16 de Outubro que o Herzog estava «fo-
ra» do porto e em 18 de Outubro que estava «no porto».
3 Henderson (1904), pp. 116, 210-215; Brian Kearney, «Bamboo Square: A
Documentary Narrative», Journal of Natal and Zulu History, 20 (2002), pp. 29-
64 (consultado online). João Miguel Rosa, numa carta enviada às autoridades
portuguesas em 30/XI/1902, escreveu que o primeiro caso de peste tinha sido
oficialmente confirmado. A peste ressurgiria em Abril de 1904, numa escala
menor.
4 «School Vacations/Commercial School», TNM, edição semanal, 1/I/1904,
p. 14.
5 Vida, pp. 80-81, Carlos Pittela, «Mr. Ormond: The Testimonial from a
Classmate of Fernando Pessoa», Pessoa Plural, Outono de 2017, pp. 194-
235.
6 Jennings (1986), p. 18.
7 Vida, p. 80. Pittela, «Mr. Ormond», p. 211.
8 Carta completa (doc. 1143/3) transcrita em OE, vol. VII, pp. 31-33.
9 The Natal Who’s Who (1906); 1908 South African Who’s Who; artigos
nos jornais australianos Sydney Morning Herald, 3/X/1885, West Coast Times,
10/II/1890 e The Queenslander (Brisbane), 21/I/1891 (todos consultados onli-
ne).
10 Caderno 153/20, pp. 26 e 66. Nesta última página, uma nota riscada in-
dica que Effield seria autor de uma peça inominada. Zenith e Vieira (2009, p.
65) contém um fac-símile de «The Miner’s Song» como publicado em TNM.
Pedido manuscrito: doc. 49D2/18v. Sobrescrito dirigido a Effield em Durban:
doc. 134/1.
11 Caderno 153/23; docs. 77/20-21.
12 Caderno 153/8v, 27-29. «Martin Kéravas» era um potencial pseudo-au-
tor, bem como o título de um romance. Vários exemplos da sua assinatura po-
dem ser encontrados na contracapa do exemplar de Pitman’s Shorthand de
Pessoa.
13 Caderno 153/9v-10.
14 Caderno 153/12.
Capítulo 11
1 Introdução de Christine Alexander para Tales of Glass Town, Angria and
Gondal — Selected Early Writings, dos Brontë (Londres: Oxford University
Press, 2010). Introdução de David Daiches a Wuthering Heights, de Emily
Brontë (Londres: Penguin, 1985).
2 Caderno 144R/1-13v.
3 Encontrei informação sobre a serialização da história em http://www.friar-
dale.co.uk/BFL e http://www.philsp.com/homeville. A história completa foi pos-
teriormente publicada em livro, em 1906, havendo um exemplar na colecção
de dime novels da biblioteca da Universidade de Stanford, onde Vincent Bar-
letta amavelmente me arranjou uma cópia digitalizada da obra. Para uma dis-
cussão mais pormenorizada, ver «Barrowby, Boys’ Books, and How to Make
Literature», de R. Zenith, in Ferrari e Pizarro (2015), pp. 15-29.
4 Caderno 144R.
5 Docs. 104/38; 133M/39; 49B2/46v.
6 A relação entre os dois homens foi o ponto de partida da peça Edward II,
de Christopher Marlowe.
7 Doc. 49D1/56.
8 Docs. 13A/37v; 146/72v; 100/4.
9 Houve também uma única assinatura, datada de 1908, de um certo Mar-
tin Gaveston (doc. 92Q/31v). Os três versos citados encontram-se no doc.
49D1/56. O passo de «Ensaio sobre poesia» encimado pelo nome de Gaves-
ton consta do doc. 13A/37v.
10 Três romances de Yreka Jim foram publicados por volta de 1900 na
Boy’s First-Rate Pocket Library. Tom Wallis, a Tale of the South Seas foi publi-
cado em 1900 pelo escritor australiano Louis Becke.
11 Caderno 144R/10v, 11r, 15v, 22-23. Naquilo que parece ser um registo
da primeira sessão do «Derby» é atribuída a Gould a soma então significativa
de trinta libras, eliminando a possibilidade de que estivessem a ocorrer apos-
tas a sério. A irmã de Pessoa recorda-se de que a família às vezes jogava o
«Derby» ao serão, depois do jantar (Intimidade, pp. 67-68).
12 O Cato Lodge Cricket Club vinha referido na secção de desporto do jor-
nal de Pessoa criado em Abril de 1901. As listas de atletas feitas por Pessoa
datam de Agosto de 1903 (caderno 144R/19v, 20). Há pelo menos duas fichas
de resultados de meados de 1904 que chegaram até nós e que se referem a
jogos de críquete envolvendo jogadores das listas de 1903 (caderno
144S/15v, 16r,17v, 18r). Outras fichas de resultados, com os nomes de dife-
rentes jogadores, datam de 1904-1905 (docs. 146/76, 279D2/51v, 52v e
49D1/19). Nenhum dos nomes completos que figuravam nas fichas de resulta-
dos de Pessoa pode ser encontrado nas listas de endereços de Durban da
década de 1910, altura em que os colegas de Pessoa seriam já adultos e teri-
am os seus empregos.
13 Doc. 124/39-42.
14 Natal Almanach de 1903, 1904 e 1905.
15 Como os poemas que surgiram em TNM, a coluna de charadas fazia
parte de uma página literária e de opinião chamada «Man on the Moon», pu-
blicada ao sábado na edição diária e de novo na sexta-feira seguinte, na edi-
ção semanal. Os projectos literários de Henderson Carr são referidos no ca-
derno 144R/14-15.
16 Desassossego, trecho 114.
17 Doc. 28A/2.
18 Doc. 49A1/3. Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, p. 173.
19 A maioria dos fragmentos do primeiro drama em verso Marino foram
publicados em Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, pp. 183-189, 193, 200. Os
passos não publicados incluem os documentos 1110MA/31, 38,42. O inacaba-
do «Vincenzo» foi publicado em Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, pp. 200-
203. Para a última versão de Marino, ou Marino (A Tragedy), em cinco actos,
Pessoa escreveu alguns passos e descrições do enredo não publicados (in
env. 1110MA). Um plano de publicação registando o poema «Vincenzo» (doc.
48C/6) data de finais de 1907 ou inícios de 1908. O exemplar das obras com-
pletas de Byron (incluindo Marino Faliero) que pertenceu a Pessoa e que che-
gou até nós foi publicado em 1905, mas sabemos que ele começou a ler By-
ron vários anos antes.
20 O alargamento de âmbito da Escola Comercial foi descrito em TNM,
1/I/1904, p. 14.
21 Pessoa guardou cópias do exame e dos resultados: docs. 28/71-87.
Fac-símile dos termos oficiais do Prémio Severino (1970), p. 179. A informa-
ção sobre o número de examinandos (oitocentos e noventa e nove) foi forne-
cida pelo Joint Matriculation Board de Pretória a Gaspar Simões (Vida, nota
de pé de página na p. 79).
22 Carta fac-similada in Fernando Pessoa — A Biblioteca Impossível (Cas-
cais: Câmara Municipal, 2010), apêndice III.
23 O Palgrave’s Golden Treasury e outros dez manuais do Form IV encon-
tram-se na biblioteca pessoal do poeta. Partes do Exame Intermédio de 1904
e o sumário de leituras obrigatórias podem ser encontrados em Severino
(1970), pp. 166-178.
24 The Nile Quest, de Harry Johnson. Os resultados do exame foram re-
portados em carta, datada de 21/XI/1967, do arquivista da Universidade da
África do Sul para Jennings (Exílios, p. 194).
25 Pessoa também publicou alguns acrósticos na revista (docs. 133I/52v,
53v). O ensaio fac-similado de Macaulay foi publicado em Severino (1988),
pp. 64-67.
26 Jennings (1986), p. 20. A carta de Geerdts (docs. Anexo IV/25-28) foi
publicada em EA, pp. 394-400.
27 A carta do Dr. Antunes a Hardress O’Grady pode ser lida em EA, pp.
66-68. O nome de O’Grady aparece numa curta lista de cartas que Pessoa
tencionava escrever em 1907 (doc. 28/99v).
28 Vieira (2010), p. 96; Wassermann e Kearney (2002), p. 261.
29 Numa conferência proferida em 1986 na Universidade de Natal, em
Durban (agora parte da Universidade de KwaZulu-Natal), Alexandrino Severi-
no afirmou ter visto a carta de Storm no início dos anos 1960, quando os pa-
péis de Pessoa ainda estavam à guarda da irmã dele. «Era endereçada a um
psiquiatra lisboeta que lhe tinha escrito a perguntar sobre o estado mental de
Pessoa. A carta era muito lisonjeira para o Sr. Pessoa. É evidente que o psi-
quiatra era o próprio Pessoa, agindo como se estivesse a fazer isso através
de um dos seus pseudónimos, tentando descobrir por via de um estratagema
o que pensavam os outros dele.» Severino (1988), p. 91. O senhor e a senho-
ra Storm são referidos em cartas que Pessoa recebeu da mãe em 1912. O ca-
sal tinha um filho chamado William, que era oito anos mais velho do que Fer-
nando, mas não vem mencionado nas cartas da mãe de Pessoa e não parece
ter havido qualquer amizade entre eles. Foi sem dúvida a William, pai, que foi
pedida uma avaliação da saúde mental de Fernando na adolescência.
30 Exílios, pp. 197-198 (fac-símile); EA, 390-392. O paradeiro da carta é
desconhecido.
31 Docs. 133F/65v e 279D2/46v.
32 Caderno 144S/12v.
33 Desassossego, trecho 457.
Capítulo 12
1 A adopção por Pessoa do esquema estrófico de Milton, bem como de di-
versas imagens da ode «Nativity», é discutida por Patricio Ferrari em «Fer-
nando Pessoa, poète-lecteur-théoricien: des expériences métriques et rythmi-
ques entre-langues», Loxias 30, 19/IX/2010 (consultado online).
2 Doc. 19/67. Pessoa, Heróstrato, pp. 195-196.
3 Doc. 127F/1. Jennings, que publicou o rondó (Exílios, p. 134), refere que
O’Grady actuou na opereta, mas o nome do professor de Francês não apare-
ce no programa.
4 Docs. 49B2/91; 49B4/33-34, 36, 40, 57, 99a, 100. Caderno 144S/13v. A
maioria dos fragmentos é transcrita em Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, pp.
176-178.
5 «A ceifeira», como publicado em 1925 (Athena 3, datado de Dezembro
de 1924).
6 Lista de influências redigida em 1914. EA, p. 150.
7 Poema começado em 1904 (cadernos 144S/10v-11 e 153/51v-54v), mas
revisto e com mais versos adicionados depois do regresso de Pessoa a Lis-
boa em 1905. Docs. 49B2/94v e 78B/39-43; cadernos 144J/8v, 24 e 144T/19v-
20. Transcrito em Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, pp. 99-104. Três passos
adicionais em CHP.
8 A maior parte do material de «Gahu» está por publicar. Docs. 279D2/43v,
49B2/40v, 49B6/42-44, 49D2/37, 133E/75. Um fac-símile do doc. 49B6/43 foi
publicado em Exílios, p. 204.
9 Pessoa mudaria o título do poema para «The Death of the Titan».
10 Intimidade, p. 68.
11 Docs. 13A/30v, 49B6/57. Caderno 144S/18v. Transcrito em Pessoa, Po-
emas Ingleses, tomo II, pp. 165-166.
12 Há um rascunho meio escrito da carta de 14 de Julho que pode ou não
ter sido terminada e enviada (CHP). O Espólio Fernando Pessoa contém um
rascunho muito incipiente da mesma carta datado de dia 13 (doc. 49B2/5v).
13 O título e um parágrafo de abertura, assinado por K.P. Effield, podem
ser encontrados no verso de um fragmento de «Ode to the Storm» (doc.
49B4/100v). Há um plano geral do ensaio, datável de 1904 mas sem a assina-
tura de Effield, no caderno 144S/4v.
14 O nome «S.P. Stool» está inscrito por baixo de «Atlantis» num manus-
crito (doc. 49B4/37) que também contém versos de «Ode to the Storm».
15 Uma história de Herbert Flowerdew (1866-1917), «The Black Deed
Box», na qual um sargento Byng, do Departamento de Polícia de Nova Iorque,
persegue um conhecido arrombador de cofres, foi publicada no Utica Obser-
ver, 22/III/1900, no South Wales Echo, 25/VII/1900, p. 4, e provavelmente
noutros jornais. É necessário continuar a investigar para descobrir se esta his-
tória ou outras em que o sargento Byng é protagonista podem ter sido lidas
por Pessoa em Durban.
16 A maior parte dos passos escritos para «The Case of the Science Mas-
ter» foi publicada por Gianluca Miraglia em Revista da BN, Setembro-Dezem-
bro de 1988, pp. 43-72; Jerónimo Pizarro publicou outros passos em Génio,
pp. 492-502. Os primeiros passos, assinados por Horace James Faber ou por
este e C.R. Anon, podem ser encontrados em env. 279/D2; o doc. 13A/68v
contém outro passo inicial assinado por Faber, cujo nome foi posteriormente
apagado. Currículos de Faber e Anon: doc 48B/153.
17 O título «Plausibility of All Philosophies», com uma nota que afirma ter o
ensaio sido motivado «por o Dr. Nabos defender a teoria de Helvétius», apare-
ce numa folha manuscrita datada de 1904 (doc. 48A/66); o outro lado da folha
contém o início do ensaio planeado.
18 Do Prefácio de Pessoa para Aspectos. Pessoa, OE, vol. 5, p. 145.
Capítulo 13
1 Docs. 49B4/36v e 40v.
2 Chinua Thelwall, «The Young Men Must Blacken Their Faces: The Black-
face Minstrel Show in Preindustrial South Africa», The Drama Review, Verão
de 2013, pp. 66-85 (consultado online).
3 A história aqui relatada foi registada pela irmã de Pessoa em Intimidade,
p. 60. A sobrinha de Pessoa recorda-se de ouvir a mãe contar uma história
muito diferente, na qual todas as crianças se tinham vestido de fantasmas e
Fernando não correra atrás dos empregados, que foram contactados no dia
seguinte pelo padrasto. Nogueira (1998), p. 53.
4 Talvez o nome desta personagem tenha sido inspirado em quebrantahu-
esos, a palavra espanhola para o abutre quebra-ossos.
5 Intimidade, p. 67. A irmã de Pessoa contou que a mãe tocava músicas
de Mozart, Beethoven e Liszt, entre outros compositores.
6 Belcher e Collins (1906), pp. 66-67.
7 Partira para o continente em busca de tratamento e morrera em Lisboa,
em 21/II/1904.
8 Doc. 49B1/16.
9 H.S. Hall e S.R. Knight, Elementary Algebra for Schools (Londres: Mac-
Millan, 1898).
10 Os termos e condições da bolsa Exhibition foram publicados no Natal
Almanach de 1903, p. 280.
11 David L. Chapman, Sandow the Magnificent (Urbana: University of Illi-
nois Press, 1994), pp. 153-155. A edição semanal da TNM de 27/V/1904 infor-
mava que Sandow chegaria à África do Sul nesse mês para visitar a Cidade
do Cabo, Joanesburgo «e cidades ao longo da costa». O Evening Post de
Wellington, na Nova Zelândia, informava em 10/XII/1904 (p. 13) que a recente
digressão sul-africana de Sandow incluíra «visitas à Cidade do Cabo, Durban,
Joanesburgo, Port Elizabeth, East London e Baía da Lagoa».
12 Carta publicada em Pessoa, Correspondência Inédita, p. 203 (doc.
79/7v). A menção ao formulário de medidas indica que o livro que Pessoa en-
comendou e recebeu foi Strength and How to Obtain It.
13 Jon Stallworthy, Between the Line — Yeats’s Poetry in the Making (No-
va Iorque: Oxford University Press, 1963), p. 14; Reiner Stach, Kafka — The
Early Years (Princeton University Press, 2017), p. 278; Gordon (2000), p. 30.
14 Pessoa guardou a carta, servindo-se posteriormente das costas e de
parte da frente para fazer anotações de carácter literário e rabiscos (docs.
48A/44v-47v). Corrector do peito: doc. 133C/33.
15 Nos finais de 1904 ou inícios de 1905, Pessoa usou cerca de vinte pági-
nas de testemunhos sobre os benefícios obtidos com o sistema de Macdonald
Smith para fazer um caderno de notas (144B2). Serviu-se do lado em branco
das folhas para escrever.
16 Docs. 2721K4/1-4 (em inglês).
17 Sobre a noção de «império» como quadro de referência entranhado de
Pessoa, que será derivado da sua educação na infância, ver Stefan Helges-
son, «Pessoa, Anon, and the Natal Colony: Retracing an Imperial Matrix», em
Ferrari e Pizarro (2015), pp. 30-46.
18 Doc. 1141/81.
19 Docs. 2722Z5/1-3.
20 Doc. 18/61. Pessoa, Páginas de Estética, p. 81. Pessoa fez duas cartas
astrológicas para Ruskin (doc. Sinais 6/61v e caderno 144/P3) e leu The Life
of John Ruskin, de W.G. Collingwood.
21 Citado na p. 192 de Modern Humanists, de John M. Robertson, na bibli-
oteca pessoal de Fernando Pessoa.
22 Doc. 2721L4/19v. Inacabada e não publicada.
23 Docs. 2721O4/1-4. Inacabado e não publicado.
24 Docs. 48C/12 e 124/26. Pessoa, Teoria da Heteronímia, pp. 356-357.
25 Desassossego, trecho 299.
26 Entrada sobre Storm em The Natal Who’s Who (1906), p. 189.
Capítulo 14
1 «Lisbon Revisited (1926)».
2 Ilustração Portuguesa, 31/VII/1905, p. 620.
3 Uma das salas de cinema iniciais, o Salão da Avenida abriu em 1898,
mas durou apenas um ano. Alguns teatros tradicionais também exibiam fil-
mes.
4 Diário Ilustrado, 10/IX/1905, p. 1; Ilustração Portuguesa, 18/IX/1905, p.
732. A indústria do tabaco era uma das mais importantes fontes de receita pa-
ra o Tesouro e um manancial de comissões e subornos para quem estava no
poder. Maria Filomena Mónica, «Capitalistas e industriais (1870-1914)», Análi-
se Social, vol. XXXIII, 1987, n.º 5, pp. 819-863.
5 O registo das finanças de Dionísia feito pela tia Maria contém referências
à criada alemã (CHP). Pessoa fez uma referência fortuita à criada numas no-
tas de 1907 (doc. 134/68v).
6 Sobre a frequência e o desempenho académicos de Pessoa no Curso
Superior de Letras, ver Luísa Prista (2001). Sobre a história deste curso e a
distinção entre os estudantes voluntários e ordinários, ver Adolpho Coelho, Le
Cours Supérieur de Lettres: Mémoire (Paris: Aillaud et Cie., 1900) e Manuel
Busquets de Aguilar, O Curso Superior de Letras (1858-1911) (Lisboa: Facul-
dade de Letras, 1939).
7 A prescrição (doc. Anexo IV/8; fac-símile em Lancastre, p. 304) era para
três dioptrias em cada olho.
8 O neto de Armando e Beatriz, Rodrigo Miquelino, disse-me que o pai de-
la era meio inglês e que a mãe era em partes iguais irlandesa, norueguesa,
francesa e escocesa. A informação sobre os trabalhos consulares de Eduardo
Teixeira Rebelo em Pretória foi encontrada no Anuário Diplomático e Consular
Português de 1889-1890 e 1891.
9 Doc. 49A7/28; publicado em Jennings (2019). Embora não tivesse termi-
nado o poema, Pessoa incluiria «To a Prostitue» em listas de poemas atribuí-
dos a Alexander Search. Este heterónimo, todavia, ainda não existia na época
em que o poema foi (parcialmente) escrito.
10 «Harlot’s Song», escrito em português (exceptuando o título em inglês)
em 1/VII/1910.
11 Doc. 133D/76v.
12 Doc. 133N/19v.
13 Desassossego, trechos 195 e 317; Pessoa, Páginas de Estética, pp.
307-308.
14 Quando o espólio de Pessoa ainda estava na posse da irmã, uma cópia
de «Elegy on the Marriage of My Dear Friend Mr. Jinks» foi encontrada junto
de um rascunho da carta à Punch (Exílios, p. 94). Não há provas, contudo, de
que Pessoa enviasse de facto cópias da sua carta (docs. 1143/25-26) e do
seu poema (docs. 78B/53-60).
15 Imagens, pp. 55-57.
16 Entradas de diário de 16, 20 e 21 de Março e 12, 13 e 27 de Abril. O
diário de 1906 (docs. 22/74; 13A/41-58) foi publicado em EA, pp. 24-24.
17 Docs. 48B/123,127, 129.
Capítulo 15
1 O livro que atacava as convenções era Palavras Cínicas (1905), de Albi-
no Forjaz de Sampaio (1884-1913).
2 Informação sobre Henrique Rosa obtida no Arquivo Histórico Militar. A
dedicatória num manuscrito poético não publicado que integra o seu espólio li-
terário (na Biblioteca Nacional de Portugal) indica que viveu com Augusta de
1881 a 1919, ano em que ela morreu.
3 Doc. 15B3/90 (em inglês).
4 Doc. 49C1/40.
5 Fez, contudo, alguns comentários marginais no seu exemplar de uma
tradução francesa de A Origem do Homem e a Selecção Sexual, de Darwin.
6 Ana Leonor Pereira, Darwin em Portugal (1865-1914) (Coimbra: Edições
Almedina, 2001).
7 A autoria da divisa é muitas vezes atribuída ao próprio Haeckel, mas não
parece estar em nenhuma das suas obras publicadas.
8 Segundo uma lista de «Memoranda» datada de 1913 (doc. 28A/9).
9 Docs. 92D/45-46. Pessoa, Da República, p. 158.
10 Jennings (2019), p. 67.
11 Caderno 144N/7-8; diário de Pessoa de 1906 (docs. 22/74; 13A/41-58).
12 Rousseau e muitos dos outros autores referidos estão mencionados no
diário de 1906; o nome de Chateaubriand aparece numa lista coeva (caderno
144B2/11).
13 Doc. 2711L2/1-3.
14 Docs. 134B/28v; 23/13v; 48B/123; 133G/39.
Capítulo 16
1 O primeiro biógrafo de Pessoa relatou que a família chegou de Durban
em Outubro de 1906, mas os registos consulares em Durban e os arquivos di-
plomáticos em Lisboa indicam que deixou Durban em 22/V/1906 a bordo do
Admiral, um vapor alemão, que atracou em Lisboa em 1 de Julho. Doc.
901/62.
2 No trecho «Educação sentimental».
3 Trecho intitulado «O rio da posse».
4 Pessoa guardou o sobrescrito enviado a Mário pelo vendedor, G. Delpy.
Doc. 133J/34v.
5 Doc. 117EN/7v.
6 Doc. 1151/18.
7 Docs. 15A/33v e 49B1/83v.
8 Caderno 144N/13-17; docs. 146/63v, 64, 66v e 24/14v. EA, p. 46-52; Gé-
nio, pp. 620-621.
9 Várias folhas com essas medições estão na posse dos herdeiros de Pes-
soa. Pessoa já tinha registado medidas do seu próprio crânio, da tia-avó Maria
e da tia Anica. Doc. 901/80; Notas, p. 161.
10 Prista (2001), pp. 173-177; Foto XX, p. 70.
11 Docs. 22/74v e 13ª/56v; cadernos 144B2 e 144C2.
12 Caderno 144H.
13 Docs. 13A/1-20.
14 Este e outros compromissos idênticos são parte de um «pacto para a
vida» descrito no capítulo 18.
15 Numa conferência dada em Harvard, em 17/II/1933, que fez parte de
uma série sobre «O Uso da Poesia e o Uso da Crítica».
16 Doc. 74B/41.
17 Os muitos passos que Pessoa escreveu para Prometheus Rebound es-
tão no env. 1112PR do Espólio. O primeiro trabalho sustentado na peça foi fei-
to no final de 1916, mas os fragmentos mais antigos remontam pelo menos a
1907, e a obra é mencionada numa lista de projectos a escrever esboçada
nesse ano (doc. 48B/129).
18 Do poema «Às vezes medito», datado de 29/IV/1928.
19 Doc. 22/45a. Pessoa, Textos Filosóficos, vol. I, pp. 68-69.
20 Docs. 22/48-49. Pessoa, Textos Filosóficos, vol. I, pp. 73-74.
21 Doc. 35/30. Reproduzido em Rita Lopes (1990), p. 225.
22 Docs. 22/39 e 23/32. Pessoa, Textos Filosóficos, vol. I, pp. 55, 186. O
caderno estreado por Alexander Search em Setembro de 1906 contém o es-
boço de uma obra filosófica mais sucintamente intitulada The World as Power
(caderno 144H/39v).
23 Docs. 22/45-46, 50, 53-57. Pessoa, Textos Filosóficos, vol. I, pp. 67-72,
74-75, 80-83.
24 Os passos escritos para Extent and Causes of Portuguese Decay po-
dem ser encontrados sobretudo em envs. 92-92Q; frase citada em doc.
92Q/72.
25 Ramos (2006), pp. 262-263.
26 Docs. 92O/84-91.
27 Maria Clara morreu em 11/XII/1906. Sobre a causa da morte, ver Intimi-
dade, p. 59. O aborto aconteceu em 19/I/1907, segundo o registo dos enterros
(devo esta informação a Jorge Ferreira).
28 Carta de 5/XI/1910, parcialmente publicada em Imagens, p. 68.
29 Uma carta de 28/IV/1912 que a mãe escreveu ao filho confirma que a
partida de Lisboa ocorreu em 25/IV/1907.
30 A sua perda de interesse é referida numa nota na parte final de um ras-
cunho incompleto de uma carta à mãe, escrito no Verão de 1907 (doc.
138A/47v). EA, p.408.
31 Rosa (1969), p. 233.
32 Doc. 92O/88.
Capítulo 17
1 A irmã de Pessoa contou que os pais ficaram amargamente decepciona-
dos quando ele decidiu abandonar o curso (Henriqueta Rosa Dias, 1988, p.
6). Um rascunho de uma carta dirigida por Pessoa à mãe (docs. 138A/46-47)
dá uma ideia do tom ofendido e ofensivo das cartas trocadas.
2 Docs. 133I/57 e 133F/53v. Caderno 144T/33v.
3 Doc. 78B/55. Pessoa, Poemas Ingleses, tomo II, pp. 9-13 (introdução do
editor).
4 Uma transcrição de «A Very Original Dinner» foi publicada num apêndice
de Adverse Genres in Fernando Pessoa, de K. David Jackson. O primeiro ca-
pítulo do livro analisa a história à luz dos estudos etnográficos de cientistas
como Darwin e das teorizações de Freud em obras como Totem e Tabu e O
Mal-Estar na Civilização.
5 Nordau (1993), livro II, capítulo 3, p. 128.
6 A resposta de Pessoa ao inquérito foi publicada seis meses depois da
sua morte. OE, vol. II, pp. 211-212.
7 Nordau (1993), livro II, capítulo 3, p. 127.
8 Ibidem, livro II, capítulo 3, p. 101.
9 Doc. 134/44.
10 Docs. 134/59-60. Génio, p. 682-685. Pessoa consultou o artigo «Folie
du doute avec délire du toucher», de Antoine Ritti (1844-1920), no Dictionnaire
encyclopédique des sciences médicales, vol. II (Paris: Éd. G. Masson e P. As-
selin, 1879), pp. 339-348.
11 Docs. 134/13 e 40. Génio, pp. 48, 50.
12 Docs. 134/41. Génio, p. 51.
13 Docs. 134/41 e 134A/93v. Génio, p. 51, 323.
14 Genio e follia, de Lombroso, foi publicado em 1864. L’uomo di genio,
publicado em italiano em 1888, era uma versão muito alargada da obra anteri-
or.
15 Em 1906 Pessoa leu, numa edição francesa, L’uomo delinquente, de
Lombroso.
16 Pessoa leu uma edição de 1893 da obra de Nisbet e uma de 1897 da
de Hirsch (a primeira edição alemã é de 1894). Pizarro (2007) apresenta um
relato completo das leituras de Pessoa durante esta época.
17 Caderno 144Z/7.
18 Carta de 11/XII/1931 a João Gaspar Simões.
19 Docs. 15B3/1-2; caderno 144Z/19. Génio, pp. 189, 375-376.
20 Em 1909, Pessoa começou a escrever um artigo (não terminado) que
refutava alguns dos argumentos principais apresentados por Nordau em De-
generação (docs. 141/89-90). Génio, pp. 380-381.
21 Cinco dos seis títulos de Nordau estão na biblioteca pessoal do poeta
português. Pessoa possuía um exemplar em dois volumes de Degeneração,
que vendeu algum tempo depois de 1910 (doc. 93/100v).
22 Doc. 20/84. Este inquérito literário, como o último que foi mencionado,
não chegou a ser publicado durante a vida do poeta. Pessoa, Páginas Ínti-
mas, pp. 122-124.
23 Desassossego, trecho 305 (incluído na edição da Assírio & Alvim de
2009).
Capítulo 18
1 Comentário jocoso: Fama (Lisboa), 10/III/1933, p. 24.
2 João Lobo Antunes, Egas Moniz — Uma Biografia (Lisboa: Gradiva,
2010), p. 108.
3 Carta enviada em 26/VIII/1907. Caderno 144T/30. Cerca de vinte anos
depois, a Bernarr Macfadden Foundation exibiu o método do fundador entre
um grupo de cinquenta órfãos portugueses, que passaram seis meses num
campo de férias infantil a oeste de Lisboa em 1931-1932. Pessoa escreveria
de uma forma entusiástica sobre os resultados alcançados e sobre o próprio
Macfadden para uma revista portuguesa. «O que um milionário americano fez
em Portugal», Fama, 10/III/1993, pp. 22-24.
4 Caderno 144T/51-52. Familiares e amigos relataram que Pessoa tomava
sempre banho com água fria.
5 Shoulder Brace: doc 135/42. O «aparelho Pulvermacher» aparece em
1908 numa lista de coisas a levar numa viagem prevista a Londres (doc.
92Y/58v). Uma vez que o «aparelho», ou cinto, era vendido para ser utilizado
diariamente e não como um objecto a levar numa viagem, é de presumir que
Pessoa já possuísse um.
6 Pessoa lançou calúnias sobre Egas Moniz e outros psiquiatras portugue-
ses, e também sobre Egas Moniz enquanto neurologista, que acusou de nun-
ca ter tido uma única ideia original, não passando de um papagaio de outros.
Docs. 15B3/81-85; Génio, pp. 397-398.
7 Docs. 138A/46-47; EA, pp. 63-65.
8 Desassossego, trecho 77.
9 Caderno 144T/24-29v (em inglês).
10 Docs. 49A1/47v, 48v e 49D1/44v.
11 A carta de Mascaró (CHP) está transcrita em Imagens, p. 53. O Anuário
Comercial de 1920 assinala Mascaró como director de R.G. Dun em Portugal.
Posteriormente, tornar-se-ia director de R.G. Dun em Espanha, para onde le-
vou a família. A mulher, Laurinda, morreu e foi sepultada na cidade de Madrid
em 1931. Filho de um afamado oftalmologista que fundara uma pequena es-
cola para cegos em Lisboa, Mascaró também foi optometrista.
12 Caderno 144I/7; doc. 137E/58 (publicado em Foto XX, p. 75).
13 Caderno 144T/42, 51. Ver também doc. 133M/30. As notas iniciais de
Pessoa sobre os seus sistemas de estenografia podem ser encontradas so-
bretudo em envs. 128 e 128C e no caderno 144L.
14 Docs. 146/40v; 49D1/48v; 75A/31v; 133F/53v. Caderno 144J/2v.
15 Doc. 79/10v. Informação sobre a nova morada de Margarida Soares
Couto, cuja mãe viveu com a família de Anica em 1906-1907.
16 Caderno 144J/31-32. Notas escritas no final de 1907, em inglês.
17 Poems by Walt Whitman (Londres: Review of Reviews Office, c. 1895),
pp. 33-34.
18 Caderno 144T/52. Docs. 48C/18; 20/9; 133C/19. Pessoa, Teoria de He-
teronímia, pp. 358-359.
19 Passos não publicados (docs. 26/90v-91).
20 EA, p. 82.
21 A Vanguarda, 1/I/1908, p. 1.
Capítulo 19
1 R. Ramos (2006), pp. 313-319.
2 O livro de Pessoa citava outro estudo psiquiátrico de Franco, Um Caso
de Loucura Epiléptica, publicado em 1907 por Artur Leitão, um médico portu-
guês. O exemplar de Pessoa (em env. 108C) tem a assinatura de Alexander
Search.
3 Doc. 92P/70.
4 The Graphic, 29/II/1908, p. 17.
5 Docs. 92Y/36, 41. Muitas outras páginas a defender o regicídio, umas
coevas, outras datadas de 1909, podem ser encontradas em env. 92Y.
6 Pessoa guardou uma cópia desta proposta de publicação (doc. 124/7),
na qual registou a data e o conteúdo do cartão que a acompanhava.
7 «Lisbon Murders», Daily Telegraph, 11/III/1908, p. 11.
8 Docs. 92J/23-24. Caderno 144I/7, 63. A Vanguarda, um jornal republica-
no, relatou em 30/III/1908 que mais de cinquenta mil pessoas participaram na
manifestação.
9 Doc. 92H/46. Na parte superior do rascunho deste artigo inacabado,
Pessoa anotou a data e o jornal, A Luta, 27/II/1908, onde tinha lido a notícia
sobre os «sofrimentos do povo russo».
10 Pessoa-Search criticava o primeiro dos quatro volumes de La Folie de
Jésus (1908-1915), que tinha causado sensação e sido imediatamente tradu-
zido para português. Os passos escritos para o panfleto foram transcritos em
Génio, pp. 244-256.
11 «Trois chansons mortes», Contemporânea, Janeiro-Março de 1923.
Pessoa escreveu cerca de vinte poemas completos em francês e muitos ou-
tros incompletos (ou fragmentos de poemas), estando todos reunidos em Poè-
mes français.
12 Ver, sobre este assunto, a instrutiva introdução a Pessoa, Obras de Je-
an Seul, pp. 7-36.
13 Degeneração, livro V («O século XX»), capítulo I. Nordau acreditava que
este cenário pessimista de decadência futura seria evitado.
14 Docs. 92S/71-72 (em inglês).
15 Também era suposto que traduzisse El estudiante de Salamanca, de
José de Espronceda, um projecto que tinha sido anteriormente atribuído a
Alexander.
16 Caderno 144I/61v, 62r; doc. 92Y/58v. Escreveu ambas as listas em in-
glês.
17 O Espólio Fernando Pessoa contém, pelo menos, cinco referências à
correspondência do poeta com a Sprigg, Pedrick & Co. e uma carta enviada
ao Quill Club. Docs. 48H/49; 92P/35v; 92W/29v; 133M/1v. Caderno 144I/3.
Sobre a família Search, ver Pessoa, Teoria da Heteronímia, p. 69.
Capítulo 20
1 «Influências», 1914. EA, p. 150.
2 Doc. 138A/6.
3 Posfácio e apêndices a Quental, Os Sonetos Completos de Antero de
Quental, com Tradução Parcial em Língua Inglesa por Fernando Pessoa, ed.
Patricio Ferrari (Lisboa: Guimarães, 2010).
4 Pessoa, Cartas a Armando Côrtes-Rodrigues, p. 76.
5 O exemplar de Doctor Faustus que Pessoa adquiriu era de uma edição
de 1912.
6 Doc. 29/96. Pessoa, Fausto, pp. 231, 502.
7 Novo Almanach de Lembranças Luso-Brazileiro para o Anno de 1909, p.
144.
8 Pessoa publicou outra adivinha poética do Dr. Nabos no almanaque de
1910, p. 277.
9 Os editores de Eu Sou Uma Antologia, de Pessoa, afirmam nas pp. 709-
710 que nem O Progresso nem A Civilização foram obra do poeta, que, suge-
rem, adquiriu exemplares por causa do sarcasmo sobre a sua mestria poética.
Mas enquanto guardou apenas um exemplar de A Civilização, onde o sarcas-
mo aparece, guardou dois do terceiro número de O Progresso, bem como
exemplares únicos dos dois primeiros números, nos quais não é possível en-
contrar nada sobre ele. Aliás, várias correcções que há nos jornais foram fei-
tas com a letra dele. Uma vez que o mimeógrafo pertencia a Mário, é concebí-
vel que este primo e vários outros possam tê-lo usado para produzir alguma
coisa divertida, mas não estava nas capacidades imaginativas de qualquer um
deles inventar partidos políticos adversos, um governo a fingir e um discurso
político sarcástico. Os primos podem ter contribuído para o projecto, mas é
evidente que se tratou de uma criação de Pessoa.
10 A vida de Clara Alves Soares (1891-1977) em Lisboa, as impressões
sobre Pessoa e as visitas à Trafaria foram-me relatadas pela filha dela, Mar-
garida Soares Couto (entrevista em 2011). Pessoa já enviava cartas para a
Trafaria em Agosto de 1907 (caderno 144/30), e as cartas da sua mãe ainda
existentes indicam que a tia Anica e os primos direitos continuaram a ir para lá
pelo menos até Setembro de 1912.
11 Doc. 93/13.
12 Mário mudou rapidamente o escritório para a Rua do Carmo, número
35, segundo andar. Os documentos ligados à agência mineira podem ser en-
contrados em envs. 137B-137D do Espólio Fernando Pessoa.
Capítulo 21
1 Rosa (1969), p. 232; Mega Ferreira (2005), p. 51.
2 Doc. 137E/58. Mega Ferreira (2005), pp. 55-56, 215-216.
3 A recusa da oferta de emprego e o salário que teria ganho são mencio-
nados na carta de 12/I/1913 que Maria Nogueira Rosa endereçou a Pessoa.
Eduardo Freitas da Costa (Notas, p. 61) afirma que o salário inicial seria mais
elevado: quarenta mil réis mensais.
4 Doc. 49A2/37. O manuscrito contém vários finais alternativos, sendo que
todos eles dão a ideia de que reinava a apatia.
5 Caderno 144M/31v. Mega Ferreira (2005), pp. 57-58.
6 Caderno 144M/1v. Mega Ferreira (2005), pp. 41-65, fornece o relato mais
completo da aquisição da prensa tipográfica e do equipamento acessório.
7 Caderno 144M. Revista Lusitânia e Revista Íbis foram títulos alternativos
para a revista.
8 Doc. S2/23.
9 Os planos de edição de Pessoa na Íbis podem ser encontrados no ca-
derno 144V e nos docs. 48A/11; 48B/130-133, 148; 55D/101v; 93/51.
10 O título Tratado de Luta, Sistema Yvetot, atribuído a Miguel Otto e não a
Carlos Otto, aparece numa lista incipiente de livros da Íbis que foi riscada
(doc. 144V/5). As páginas do tratado efectivamente escritas (docs. 124/56-
59), com um título ligeiramente distinto, foram assinadas por Carlos.
11 Zenith (2012), pp. 150-151.
12 Rui Sena, de Loulé. Dois anos depois, a investigadora Ana Rita Palmei-
rim descobriu que a Íbis imprimiu o primeiro número de A Mosca (16/III/1910)
e vários números de A Comédia em Abril e Maio de 1910; ambas as publica-
ções foram revistas de vida efémera e obscura publicadas em Lisboa.
13 Zenith (2012), p. 155.
14 Docs. 28A/10, 66D/6v e 92A/87v.
15 Doc. 1114X/8v, 8av. Não publicado.
16 O doc. 1114X/8a contém o esboço inicial da primeira quadra do soneto
«How many masks wear we», com data de 5 de Agosto e já citado. Nove so-
netos adicionais escritos entre 6 e 15 de Agosto e posteriormente publicados
em 35 Sonnets (sonetos 1, 4, 11, 13, 14, 18, 23, 25 e 27) são tratados na in-
trodução a Pessoa, Poemas Ingleses, tomo I, pp. 8-9. Nesse mês de Agosto,
Pessoa ainda escreveu outros sonetos ingleses que não foram incluídos em
35 Sonnets.
17 Doc. 1114X/9. Escrito em inglês, na mesma altura que o documento re-
ferido nas duas notas anteriores.
18 Doc. 93/51. A maior parte do material para este poema fragmentário po-
de ser encontrada em envs. 117EN e 117ENP (transcrição de Barbosa, Pizar-
ro, Pittella e Sousa em Pessoa Plural, primavera de 2020, pp. 76-229). O doc.
117EN/71 contém um fragmento de epílogo, seguido pela data Agosto-Setem-
bro de 1910, mas Pessoa escreveria versos adicionais para o poema até pelo
menos 1918 (doc. 44/36).
Capítulo 22
1 Doc. Anexo IV/6.
2 Docs. 56/36-37. O poema, datado de 26/X/1909, foi publicado em Rita
Lopes (1990), p. 219.
3 As minhas fontes de informação sobre a república portuguesa incluem
Wheeler (1978) e Ramos (1994).
4 Doc. 92W/63.
5 Doc. 92B/53. As notas de Pessoa referem-se a um artigo publicado em A
Capital, 10/II/1911, p. 1. O autor, Abel Sebroza, receava que um partido repu-
blicano conservador viesse a defender o regresso de valores monárquicos e
classes privilegiadas.
6 Arnaldo Saraiva (1996) reproduz e discute muitas das traduções de Pes-
soa publicadas na Biblioteca. O Espólio Fernando Pessoa contém quatro car-
tas de Kellogg, com datas compreendidas entre 21/VII/1911 e 19/II/1912
(docs. 1151/20-21; 66A/8v; 1158/43). A chegada de Kellogg em Maio de 1911
é deduzida de uma lista de passageiros (consultada em ancestry.com), que in-
dica que chegou a Southampton vindo de Nova Iorque em 3/V/1911 e possuía
um bilhete para Lisboa.
7 A carta dela de 12/I/1913 referiria uma carta anterior dele em que lhe ti-
nha falado dessa repulsa.
8 Entrevista com Margarida Soares Couto.
9 Cadernos 144V/55 e 144I/63v.
10 Soneto intitulado «Junho de 1911».
Capítulo 23
1 António Mora é o nome do protagonista de um passo escrito para a his-
tória cascalense; noutros passos o nome do protagonista é Dr. Gama Nobre.
Não é claro qual o nome que surgiu primeiro e qual aquele que Pessoa aca-
bou por escolher, se é que o fez. Nunca acabou a história, mas Gama Nobre
reapareceria na década de 1920 como o transtornado protagonista de um
conto diferente, «Na Casa de Saúde de Caxias».
2 Doc. 279E2/20. A fobia sexual de Marcos Alves é óbvia em várias passa-
gens que foram mesmo escritas e ainda mais óbvia em notas para passagens
não escritas: docs. 279E2/1, 2, 7, 9, 10. Praticamente todo o material para o
romance foi publicado em Génio, pp. 526-547, e em Pessoa, A Porta e Outras
Ficções, pp. 203-230, 282-284.
3 É possível que Pessoa só «lesse» Krafft-Ebing através da obra de outros
escritores, como Nordau e Lombroso.
4 Abandonou o projecto por volta de 1920.
5 A peça é referida em projectos de publicação ao longo da vida de Pes-
soa, e parte de pelo menos uma cena foi escrita no seu último ano de vida,
em 4/I/1935 (doc. 115D/71).
6 Doc. 114D/51v.
7 Doc. 114/D/16v.
8 Doc. 114D/80v.
9 Docs. 115D/42, 38; 114D/95.
10 Doc. 115D/83 (em inglês).
11 Bloco de notas (1911-1913) na Casa Fernando Pessoa. Página repro-
duzida em Objectos, p. 150.
12 Docs. 16A/29-30.
13 Docs. 92J/2; 133M/76.
14 Algumas cartas da mãe de Pessoa ao filho datadas deste período refe-
rem como a tia Anica estava a cuidar das tias Rita e Maria. Uma dessas car-
tas, datada de 2/IX/1911, indica que Pessoa tinha ido morar com a tia e os pri-
mos pelo menos um mês antes, tendo começado a receber correspondência
na morada deles em Junho.
15 Docs. 151/1, 117EN/92. Caderno 144V/4.
16 De um texto intitulado «Os homens dos cafés», doc. 55F/28. Os docs.
55F/27, 29-30 também pertencem ao ensaio embrionário, alternadamente inti-
tulado «Vida de café».
17 Côrtes-Rodrigues (1960), p. 11. Côrtes-Rodrigues declarou que se en-
contrava com Pessoa quase diariamente entre 1910 e 1915 (mas o diário de
Pessoa de 1913 demonstra que não foi assim). Confiei em Anabela Almeida
(2019) para a informação bibliográfica e biográfica sobre este poeta.
18 O lugar da música na escrita e no pensamento de Pessoa, em particu-
lar quando está relacionada com a poesia, é examinada no primeiro capítulo
de Episódios — Da Teorização Estética em Fernando Pessoa, de Rita Patrício
(Vila Nova de Famalicão: Húmus, 2012).
19 Entrevistas publicadas de Signa Teixeira Rebelo.
20 Hourcade (1978), p. 134; Mendes (1967), p. 11; Câmara Reis (1939), p.
333; Carlos Lobo de Oliveira, «Fernando Pessoa, tradutor e astrólogo», Bole-
tim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, Janeiro de 1959, p. 16.
21 O Espólio Fernando Pessoa contém uma cópia a papel químico apenas
da décima quarta página da carta endereçada ao tio (doc.28/92). Uma refe-
rência à viagem de Pessoa ao Algarve indica que foi escrita no Outono de
1914.
22 «Refugees in Spain», The Daily Telegraph, 4/X/1911, p. 11.
23 Doc. 48D/25. As dezenas de páginas escritas para o ensaio, a maior
parte não publicada, estão reunidas em envs. 130-132 do Espólio Fernando
Pessoa.
24 Docs. 92W/50 (citado); 92B/16-17; 92E/41-42, 65; 92W/22-23; 92X/49-
50, 100. Pessoa atribuiu a autoria do ensaio a um tal Gervásio Guedes ou, em
alternativa, a um L. Guerreiro.
25 Docs. 48H/7-8.
26 Contudo, continuou a trabalhar em «Oligarquia das bestas» até 1915
(doc. 133M/97v).
Capítulo 24
1 Vida, p. 145; Notas, p. 62. Kellogg ainda estava em Lisboa em 7/VI/1912,
quando enviou uma carta ao estadista republicano Bernardino Machado (con-
sulta online em casacomum.org) dizendo que iria para o Brasil no Outono. Na
verdade, atrasou a viagem, partindo de barco de Dover para o Rio de Janeiro
em 9/I/1913 no Zeelandia (de acordo com a lista de passageiros consultada
em ancestry.com). Ele e Rebelo devem ter viajado para Londres por volta de 1
de Julho.
2 Objectos, p. 122.
3 A Águia foi lançada de novo em Janeiro de 1912 como órgão oficial do
grupo da Renascença Portuguesa, fundado no ano anterior. O grupo e a revis-
ta permitiam a diversidade de opiniões e a influência de Pascoaes, de início
forte, diminuiria com o tempo. O nome verdadeiro de Pascoaes é Joaquim Pe-
reira Teixeira de Vasconcelos.
4 Na entrada do diário de 4/III/1913, Pessoa menciona ter emprestado o
seu exemplar do número de 1/IV/1911 de A Águia a um director de uma revis-
ta (doc. 133L/44v).
5 Pascoaes, «Renascença», A Águia, Janeiro de 1912, p. 33.
Capítulo 25
1 Carta datada de 21/X/1912. Imagens, p. 75.
2 Cobeira (1953). Haveria depois de escrever e publicar ocasionalmente
alguns poemas.
3 Entrevista em O Primeiro de Janeiro de 24/V/1950, p. 3.
4 Reproduzido em Comércio do Porto, 30/XI/1985, que indica a revista bra-
sileira Fatos (talvez Fatos e Fotos) como a fonte original.
5 Cobeira (1953).
6 Castex (1999), pp. 13-42.
7 Doc. 38/37. Soneto publicado em Pessoa, Poesia: 1902-1917, p. 121,
numa transcrição ligeiramente diferente. Uma parte do segundo poema foi pu-
blicada numa nota de pé de página em ibid., p. 452. Poemas republicados por
Victor Correia, Homossexualidade e Homoerotismo em Fernando Pessoa (Lis-
boa: Colibri, 2018), pp. 141-142, mas erradamente datados de 11/II/1919.
8 Non amabam et amare amabam (Livro III das Confissões).
Capítulo 26
1 Os nomes de quem se despediu de Sá-Carneiro foram mencionados nu-
ma breve notícia de primeira página de O Mundo do dia seguinte.
2 W.C. Rivers, Walt Whitman’s Anomaly (1913); Robert H. Sherard, Oscar
Wilde — The Story of an Unhappy Friendship (1909).
3 Doc. 57/19a.
4 Nascido em 17/VIII/1896, de acordo com a certidão de nascimento, em-
bora o seu ano de nascimento apareça frequentemente como tendo sido
1895. Morreu em 1956.
5 A pintura está datada de 27/III/1912 na parte de trás da tela. Uma nota
pessoal de Pessoa, de Setembro de 1912 (doc. 57/19v), diz «Quadro casa
Castañé», que pode ter sido um lembrete para ir buscar a obra.
6 República, 21/IX/1912, p. 1. A caricatura acompanhava uma réplica de
Pessoa a defender que um Super-Camões surgiria em breve para renovar a li-
teratura portuguesa.
7 Relatado por Sá-Carneiro numa carta de 5/VII/1913 endereçada ao ami-
go Gilberto Rola (publicada em Vértice, Janeiro de 1966). Também alude à re-
lação amorosa numa carta de 21/IV/1913 a Pessoa.
8 Um recorte da notícia, cuja fonte não consegui identificar, mantém-se en-
tre os seus papéis (CHP).
9 Fundada em 1909, a sociedade ainda existe, bem como a revista.
10 Doc. 28/95.
11 Em 30/III/1913, Pessoa escreveu que «Coelho» tinha prometido em-
prestar-lhe cento e trinta mil réis para viagens que queria fazer a Inglaterra e
ao Algarve. Na entrada de diário do dia seguinte, afirma que este mesmo Co-
elho afinal lhe tinha emprestado apenas dois mil réis. Este empréstimo foi um
dos sete que Geraldo Coelho de Jesus fez e estão referidos em duas porme-
norizadas listas de dívidas redigidas por Pessoa em 1913, uma na Primavera
(docs. 28A/8-10) e a segunda em 15/XI/1913 (CHP).
12 Em Julho desse ano, forneceu à agência um relatório técnico sobre
uma mina de cobre (docs. 137C/14-22).
13 Anahory (1884-1969) desistiu da medicina dentária e da sua incipiente
carreira literária para ingressar na diplomacia, tendo sido enviado para França
como cônsul de Portugal em Sète e Rouen. Demitido do cargo em 1935, por
passar passaportes falsos a adversários de Salazar, passou algum tempo em
Espanha, trabalhou para a secção do Partido Comunista Português em Paris
e foi preso quando regressou a Portugal. Informação biográfica, alguma da
qual descoberta no arquivo da polícia política portuguesa respeitante a
Anahory, compilada por António Paula Brito: http:/www.olhaocubista.pt/perso-
nalidades/TextosFFL/Israel_Anahory.htm (acedido em 6/IV/2015). A morada
de Anahory em Sète está numa lista compilada por Pessoa em 1923 (doc.
75/71v). Referências ao seu trabalho literário (poemas e uma peça): docs.
48D/14; 48H/42. Pessoa fez uma carta astrológica de Anahory: doc. S7/43.
14 Do poema «The King of Gaps».
15 Edward Ayres d’Abreu, Ruy Coelho (1889-1986) — O Compositor da
Geração d’Orpheu (tese de mestrado), Universidade Nova de Lisboa, 2014,
pp. 24-44.
16 Característica é a crítica publicada em A Capital, 13/VI/1913, p. 1.
17 Em «Nota ao acaso», assinada por Álvaro de Campos e publicada em
1935. Em textos escritos em inglês que datam de 1912-1914, Pessoa escre-
veu que Camões era «um italiano» ou «italianizado» (docs. 19/110v, 20/83v).
Capítulo 27
1 Doc. 130/23.
2 Entrada do diário de 3/IV/1913. O diário de 1913 (docs. 20/18-45) foi pu-
blicado em EA, pp. 106-133.
3 Sá-Carneiro transmitiu este comentário a Pessoa numa carta de
6/V/1913.
4 Entradas de 8 de Março e 27 de Fevereiro.
5 Docs. 2722C6/1-2.
6 Desassossego, trecho 345.
7 Aberdeen Daily Journal, 19/I/1922.
8 A meia dúzia de sonetos escrita em 14/V/1913 (docs. 40/33-34) foi inad-
vertidamente publicada como um único poema fragmentário com mais de no-
venta versos em Pessoa, Poesia: 1902-1917, pp. 174-177. No estudo sobre a
poética do amor em Pessoa, Aníbal Frias interpreta Vénus-Efebo do primeiro
soneto da série como um híbrido «ontológico e gramatical», tanto feminino co-
mo masculino, em tensão contínua (pp. 96 e seguintes). Se bem compreendo
a sua análise, Frias considera o desejo do narrador não tanto por um indiví-
duo hipotético como por esta imprecisão de géneros e a libertação (não exclu-
sivamente sexual) que representa. Trata-se de uma hipótese fascinante, mas
a série completa de sonetos mostra com clareza que o narrador poético está a
tentar fazer com que uma relação entre pessoas do mesmo sexo encaixe no
paradigma heterossexual, com um homem a interpretar o papel masculino e
outro o feminino.
9 Jacques d’Adelswärd-Fersen, fundador e editor-chefe da Akademos, pri-
meira revista gay publicada em França, fala de «l’Autre Amour» no número
inaugural, 15/I/1909, p. 68.
10 A edição norte-americana do livro de Hyde (1970), recorrendo a outro
eufemismo, intitulou-se The Love that Dared not Speak its Name.
11 Doc. 55/38.
12 Carta datada de 16/III/1913.
13 Ibidem.
14 O livro era uma tradução espanhola, La inferioridad mental de la mujer,
do neurologista alemão Paul Julius Möbius (1853-1907). Pessoa também pos-
suía um exemplar de La indigencia espiritual del sexo feminino, do médico es-
panhol Roberto Nóvoa Santos (1885-1933). José Barreto (2011) discute estes
e outros livros misóginos da biblioteca de Pessoa, assim como todas as pro-
vas de misoginia nos seus próprios textos.
15 Docs. 15B1/82-83; Barreto (2011), pp. 131-133.
16 Docs. 55/36-38. O texto completo, um diálogo, foi publicado em Barreto
(2011), pp. 123-129.
17 Citado na carta de Madalena de 20/IV/1913.
18 Poemas em Prosa, de Wilde (com excepção de «O professor de Sabe-
doria») na tradução portuguesa de Pessoa: docs. 2712T2/1-2; 2723/13; 94/7-
11, 14-15. Planos para traduzir outras obras de Wilde: docs. 55L/5v; 175; 179.
Ver também «Traduções» (CHP) em pessoadigital.pt (CP 248). Pessoa tradu-
ziu um breve passo de De Profundis: doc. 23/66.
19 Doc. 18/50. Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
pp. 67-69. Pessoa traduziu «Up at a Villa — Down in the City», de Browning,
para a Biblioteca Internacional de Obras Célebres, vol. XX, pp. 9890-9892.
Tencionava traduzir outros poemas de Browning para projectos de publicação
pessoais (docs. 48/8, 10, 56; 77/1-2; 93/89-90. Ver também «Traduções»
(CHP) em pessoadigital.pt (CP 248).
20 Docs. 14E/64, 73, 69.
21 A biblioteca de Pessoa inclui o livro de Gide sobre Wilde (1910), que ele
leu com atenção, assim como Corydon (1924), a defesa que Gide fez da ho-
mossexualidade.
22 Doc. 14E/62.
23 «Wilde fez mais com as suas excentricidades pessoais que com as su-
as obras.» Nordau (1993), livro III, capítulo 3, pp. 317 e seguintes.
24 A carta, escrita em 1890, era dirigida a Beatrice Allhusen e referia-se à
primeira versão de O Retrato de Dorian Gray, publicado na Lippincott’s
Monthly Magazine.
25 Devo várias das minhas observações sobre Wilde e Pessoa a «Oscar
Wilde, Fernando Pessoa and the Art of Lying», de Mariana de Castro (Portu-
guese Studies, vol. 22, n.º 2, 2006, pp. 219-249) e à tese de doutoramento de
Jorge Uribe intitulada Um Drama da Crítica — Oscar Wilde, Walter Pater e
Matthew Arnold, Lidos por Fernando Pessoa (Universidade de Lisboa, 2014).
Capítulo 28
1 Pessoa mencionou esta correspondência com Lisbela nas cartas à mãe,
que, numa carta datada de 16/II/1913, o encoraja a visitá-la, porque «não tem
estado contigo desde que és homem».
2 Doc. 92A/87v.
3 As visitas de Lisbela a Lisboa são mencionadas em cartas da mãe a
Pessoa. O seu último empréstimo foi registado na lista de dívidas que Pessoa
redigiu em 15/XI/1913 (CHP).
4 Teresa Rita Lopes (1985) refere ter visto notas para a peça Briareu que
remontam a 1908. É possível, mas não as consegui encontrar no Espólio Fer-
nando Pessoa. As cenas escritas por Pessoa para a trilogia também incluem
diálogos para um gigante, Livôr, que ele próprio inventou.
5 Claudia J. Fisher, «Auto-tradução e experimentação interlinguística na
génese d’O Marinheiro de Fernando Pessoa», Pessoa Plural, Primavera de
2012, pp. 1-69; e «Os caminhos d’O Marinheiro entre criação e auto-tradu-
ção», em Zenith, Lopes e Rêgo (2015), pp. 59-68.
6 Doc. 48G/6. Caderno 144P/51v.
7 Doc. 48D/57. Este projecto data de 1911 ou 1912.
8 Como Pessoa declara na sua carta inacabada a Yeats (doc. 1143/72). Ja-
mes H. Cousins, «William Butler Yeats: The Celtic Lyrist», em The Poetry Re-
view, Abril de 1912, foi uma das fontes prováveis dessa informação, segundo
Patricia Silva McNeill (2010), p. 2.
9 Docs. 1114X/6-7.
10 Doc. 28/95v.
11 Docs. 906/197-198.
12 Docs. 905/100-101; S4/15v.
13 Doc. 20/83. Pessoa, Páginas Íntimas, p. 119.
14 Embora impressos em Novembro de 1913, os frontispícios tanto de A
Confissão de Lúcio como de Dispersão indicavam 1914 como ano de publica-
ção.
15 Lista em CHP.
16 Pessoa, 300 Provérbios, ed. Orlando Silva (Vergada: Gráfica da Verga-
da, 1996); Pessoa, Provérbios Portugueses, ed. Jerónimo Pizarro e Patricio
Ferrari (Lisboa: Ática, 2010).
Capítulo 29
1 Realizado por Stelios Charalambopoulos.
2 Doc. 20/17. EA, pp. 186-187.
3 «A imoralidade das biografias», publicado em Pessoa, Páginas de Estéti-
ca, pp. 131-132, (doc. 19/15). As biografias, segundo este ensaio inacabado,
são moralmente problemáticas, não porque estabeleçam conexões inválidas
entre génio artístico e comportamentos excêntricos ou desvios à «normalida-
de» psicológica, mas porque essas conexões, que muitas vezes são válidas,
podem persuadir os futuros escritores a imitar o estilo de vida de Baudelaire,
Verlaine e Oscar Wilde com a vã esperança de assim adquirirem alguma da
sua genialidade.
4 Docs. 25/134; 48A/48; S3/43v.
5 Docs. 138A/66, 131/35a.
6 Leio o seu ano do nascimento, dado no doc. 2716W2/42v, como sendo
1868.
7 Pessoa, Quaresma, Decifrador.
8 O doc. 133G/52, que data do Verão de 1912, contém uma referência ao
panfleto que ele planeava escrever sobre o tema.
9 Caderno 144D2/16-17.
10 Neste e noutros pontos, sigo a excelente análise de Mariana Gray de
Castro (2015, pp. 74-109) sobre Pessoa e a questão da autoria de Shakespe-
are.
11 Docs. 48E/29; 48B/22.
12 Doc. 138/77.
13 Alexander Search, como já foi referido, surgiu em 1906 mas viu serem-
lhe retrospectivamente atribuídos vários poemas ingleses escritos em 1904 e
1905. Sobre a família Wyatt, ver Pessoa, Teoria da Heteronímia, pp. 78-79.
Capítulo 30
1 O cabeçalho está reproduzido em Marina Tavares Dias (1988), p. 144.
2 A Renascença, Fevereiro de 1914. Este foi o primeiro e único número da
revista, fundada por dois escritores do círculo literário de Pessoa mais jovens,
José Coelho Pacheco e Fernando Carvalho Mourão. «Ó sino da minha al-
deia», analisado no capítulo 1, foi o outro poema publicado por Pessoa nesta
revista que, apesar do título, não tinha qualquer ligação com o grupo da Re-
nascença Portuguesa chefiado por Teixeira de Pascoaes.
3 No texto que começa «Sensationism began with», publicado pela primei-
ra vez em Tricórnio, Lisboa, 1952, pp. 17-22 (paradeiro do original desconhe-
cido).
4 Os dramas estáticos foram coligidos em Pessoa, Teatro Estático.
5 O Marinheiro aparece numa lista de obras que datam de Fevereiro de
1914 (doc. 48I/5), altura em que devia estar muito avançado, se não mesmo
terminado.
6 Ivo Castro, «O corpus de O Guardador de Rebanhos depositado na Bibli-
oteca Nacional», Revista da Biblioteca Nacional, 2 (1), 1982, pp. 17-61.
7 Do poema XXXIX, O Guardador de Rebanhos.
8 Doc. 14B/62a (em inglês).
9 Desassossego, trechos 195, 285, 317.
10 A carta de Pessoa datada de 4/X/1914 a Côrtes-Rodrigues, que explica
como Ferro foi enganado, também deixa implícito que alguns poemas de Ca-
eiro circulavam entre leitores que julgavam serem de um poeta real.
11 Doc. 68A/3.
12 Docs. 21/98-103, publicados em OE, vol. V, pp. 166-170. Doc. 14B/62,
transcrito numa adenda de Zenith, «Pessoa e Walt Whitman Revisited», em
Castro (2013), pp. 49-50.
13 Na entrevista já mencionada, supostamente dada em Vigo (docs.
68A/8-1; 143/100; 68A/5, 4v).
14 Merton, «Translator’s Note», New Directions in Prose and Poetry 19
(Nova Iorque: New Directions, 1966), p. 299. Sobre Merton e Pessoa, ver
Monteiro (1998), pp. 32-40.
15 Leyla Perrone-Moisés (2011), no capítulo «Caeiro zen».
16 Doc. 50A1/21a.
17 Há alusões ao interseccionismo em três postais que Sá-Carneiro enviou
a Côrtes-Rodrigues entre 2 e 28 de Março de 1914, e à revista Europa no ter-
ceiro. Reproduzidos no apêndice de Anabela Almeida (2019).
18 Doc. 48I/5.
19 Doc. 67/30. Os poemas XXIV e XXV de O Guardador de Rebanhos es-
tão datados de 13/II/1914.
Capítulo 31
1 Entrevista com Margarida Soares Couto.
2 Uma entrada de diário de Pessoa mostra que Raul da Costa esteve lá
pelo menos alguns dias em Fevereiro de 1913. Pode muito bem ter estado a
viver com eles.
3 Isto é uma conjectura minha, dado que o novo apartamento da tia Anica
era consideravelmente mais pequeno. Sabemos de ciência certa que Rita,
quando morreu, em 1916, estava a viver com Carolina.
4 Notas, pp. 161-162; carta de Pessoa à tia Anica datada de 24/VI/1916.
Em Abril de 2011, a filha e uma neta de Clara Alves Soares falaram-me do re-
lato das sessões que ela muitas vezes repetia.
5 Prefácio para uma colectânea de obras projectada com o título «Aspec-
tos».
6 O Manifesto do Futurismo de Marinetti foi publicado em Milão e Bolonha
algumas semanas antes da sua publicação em francês. A primeira tradução
portuguesa do manifesto apareceu em 5 de Agosto de 1909, mas longe do
continente; Diário dos Açores (Pedro da Silveira, «O que soubemos logo em
1909 do futurismo», Revista da Biblioteca Nacional, 1981 [1], pp. 90-103). Fer-
nando Cabral Martins, «Futurismo», em Cabral Martins, Dicionário, pp. 301-
302.
7 A esta versão inicial (docs. 66/80-81) acrescentei a mesma pontuação
(pontos de exclamação, principalmente) que Pessoa acrescentaria à versão fi-
nal.
8 Poema sem título que começa «Amem outros a graça feminina»,
23/II/1914 (doc. 41/40).
9 A data do seu nascimento foi inicialmente 13 de Outubro, mas Pessoa al-
terou-a posteriormente para 15. Nietzsche nasceu em 15 de Outubro de 1844.
10 «Você hoje vai falar com o Álvaro de Campos», era o aviso que às ve-
zes Pessoa deixava a Alfredo Guisado, um amigo e colaborador próximo em
1914-1915. Mas Guisado não entrou em pormenores sobre o estilo de conver-
sação de Campos. Guisado (1935).
Capítulo 32
1 Zenith, «A verdadeira partida a Sá-Carneiro», Colóquio-Letras, Maio-
Agosto de 2017, pp. 135-142.
2 Docs. 145/77-78; 40/25; 55M/28a; 150/1-3.
3 As respectivas explicações podem ser encontradas na terceira das «No-
tas» de Campos, publicadas por Pessoa em Presença, Janeiro-Feveveiro de
1931, e no prefácio inacabado de Reis para os poemas de Caeiro (em particu-
lar, docs. 21/68, 116).
4 A correlação dos três heterónimos com diferentes fases do dia foi primei-
ro identificada por António M. Feijó, num artigo publicado em 1999 e integrado
em Uma Admiração Pastoril (2015), pp. 127-128. «Ode à noite» foi um título
que Pessoa utilizou a dada altura para «Excertos de duas odes», datado de
30/VI/1914 e publicado postumamente.
Capítulo 33
1 Doc. 48G/32. Caderno 144D2/41v. É possível que o índice tenha sido es-
boçado no Verão ou no início do Outono de 1914.
2 Pessoa guardou uma cópia parcial desta carta (doc.92I/5).
3 Doc. 14B/5. Pessoa acabou por não mencionar os heterónimos nas car-
tas endereçadas a Crowley, mas as palavras citadas foram escritas tendo-o
em mente como seu possível receptor.
4 Doc. 2723/120.
Capítulo 34
1 Sampaio Bruno, O Encoberto (Porto: Liv. Moreira, 1904), p. 167.
2 Sampaio Bruno, pseudónimo de José Pereira de Sampaio, respondeu
com uma carta cordial, recomendando o seu livro O Encoberto, que Pessoa ti-
nha e já havia lido. Pessoa também leu O Brasil Mental, que critica o positivis-
mo do filósofo francês Auguste Comte (doc. 551/53) e pelo menos tencionava
ler A Ideia de Deus (doc. 93/87), no qual Sampaio Bruno formulava o seu pró-
prio sistema de crenças.
3 O exemplar de Pessoa de L’Occultisme hier et aujourd’hui, carimbado
com o monograma A.S., pertencia à «biblioteca» de Alexander Search. O ca-
pítulo IV de Demi-fous et demi-responsables (1907), de Grasset, analisava a
«meia loucura» de vários escritores, filósofos e músicos renomados.
4 Numa carta inacabada dirigida a Sá-Carneiro e datada de 6/XII/1915,
Pessoa mencionaria ter lido este livro «há muito tempo».
5 Doc. 29/28v.
6 «Muito importante», anotou Pessoa numa guarda, com a indicação do
número de página (377) onde o passo citado se encontra. O passo tocou-o
em particular quando releu o livro em 1917 (caderno 144Y/29).
7 Doc. 2719M3/8v. Este e outros passos de «Filósofo hermético» foram pu-
blicados em Pessoa, Rosea Cruz, pp. 29-35.
8 Yvette Centeno, «“Episódios/A múmia” ou o hermetismo em Fernando
Pessoa», em Fernando Pessoa — Os Trezentos (1988), pp. 33-64.
9 Dei uma volta pela casa em Mesquita, com Isabel e Inês Sarmento, em
Setembro de 2011. A viagem de Pessoa em Setembro de 1914 é referida na
carta de 4/X/1914 a Côrtes-Rodrigues.
10 Em 2011 ainda se podia ler uma reprodução desta quadra no muro des-
sa casa branca situada no cimo de uma colina, com a menção de que foi «ins-
pirada e escrita» nela. O Espólio Fernando Pessoa contém uma cópia manus-
crita da quadra (doc 17/39).
11 Entrevista com Maria Manuela Pessoa Chaves Ortega, que foi parcial-
mente criada por Lisbela. As lembranças da entrevistada provêm do que ouviu
outros membros da família contarem. Confirmou a informação dada por Pedro
da Silveira (em Merelim, 1974, p. 107) de que o primo dela, Rui Santos, um
poeta que conhecera Pessoa, tinha ficado com as cartas deste a Lisbela, que
planeava publicar, mas estas desapareceram depois da morte dele, em 1962.
Capítulo 35
1 Doc. 20/51. EA, pp. 147-149.
2 A Águia publicara uma recensão desfavorável do primeiro livro de poe-
mas de Sá-Carneiro no número de Junho de 1914.
3 Segundo a carta de 4/I/1915 a Côrtes-Rodrigues.
4 Sena (1982), p. 94. Feijó (2015), pp. 38 e seguintes.
5 Caderno 144C/15. Pessoa, Sensacionismo, p. 286.
6 Doc. 145/30, datável de 1917.
7 Porto (1936).
8 Paulo Cardoso, em CA e outras publicações, analisou meticulosamente
e dispôs em tabelas a produção astrológica de Pessoa.
9 Doc. 28/94. Virgínia Rosa Teixeira (1852-1925) era o nome verdadeiro da
médium.
10 A busca de Yeats da unidade do ser é um tema orientador da biografia
de Richard Ellmann.
11 Caderno 144C/7v-11.
Capítulo 36
1 As cartas e outros documentos relativos à fundação da revista Orpheu
podem ser encontrados em Saraiva (2015) e Zenith, Lopes e Rêgo (2015). Dix
(2015) contém ensaios sobre o ano da fundação do Orpheu e sobre os escri-
tores e artistas ligados à revista.
2 O restaurante fechou em 1970 e o hotel em 1974.
3 Pessoa registou estas particularidades numa pseudo-entrevista escrita
muitos anos depois, publicada em Pessoa, Sobre Orpheu, pp. 148-154, e nou-
tros lugares. O original está na Colecção Fernando Távora.
4 Carta a Adolfo Casais Monteiro, 13/I/1935.
5 O Jornal, 6/IV/1915, p. 1.
6 Gustavo Nobre, «José “Pacheko”», em Pacheko, Almada e «Contempo-
rânea», ed. Daniel Pires e António Braz de Oliveira (Lisboa: Centro Nacional
de Cultura/Bertrand, 1993), pp. 43-57. Ilustração, 1 de Agosto de 1929, p. 36.
Almada Negreiros (1982), p. 99.
7 Dispersão (1913) e Céu em Fogo (1915).
8 Docs. 48G/29; 57A/5. Zenith, Lopes e Rêgo (2015), pp. 191-194. A Ideia
Nacional, 27/III/1915, p. 128.
9 António Sardinha, Hipólito Raposo e Vasco de Carvalho.
10 Bernardino Machado, um Democrata moderado que foi primeiro-minis-
tro durante dez meses em 1914, tentou mitigar a hostilidade do Governo em
relação aos dirigentes e actividades da Igreja Católica, mas o Parlamento não
aceitaria fazer alterações à Lei de Separação do Estado das Igrejas de 1911.
11 Docs. 92I/6-9. Outras notas sobre a teoria, escritas entre o Verão de
1914 e 1915, incluem os docs. 16/24v; 92C/23-29; 92E/45; 92I/1, 3-5; 92L/61;
92M/1-4, 6-11.
12 Na verdade, parece que Pessoa se despediu quando o chefe de redac-
ção lhe pediu explicações. Ferreira Gomes (1950), p. 2.
13 Doc. 92J/34. Os jornais que consultei mencionam a Cruz Vermelha,
mas sem referir a existência de colaboradores que tenham sido alvo de tiros.
14 Os materiais para o ensaio, maioritariamente por publicar, encontram-
se em docs. 121/10; 92H/99-100; 92I/38, 41-42; 92J/30-47; 92M/12; e no ca-
derno 144A/27v-28v.
15 Doc. 55I/34. Pessoa, Sobre Portugal, pp. 226-227.
16 Assim afirmou Pessoa, por exemplo em doc. 57A/24v. Pessoa, Sensaci-
onismo, p. 302.
17 Docs. 121/14, 32, 49, 60, 80; 55B/78v. Pessoa, O Regresso dos Deu-
ses, «Dissertação a favor da Alemanha», pp. 195-229. Pessoa, Sensacionis-
mo, p. 137.
18 A maior parte destas páginas foi publicada em Pessoa, O Regresso dos
Deuses; outras páginas foram publicadas em Pessoa, Ultimatum e Páginas de
Sociologia Política, pp. 223-240. Outras páginas ainda (incluindo docs.
55G/66-67) estão por publicar.
19 Docs. 20/81-82. Pessoa, O Regresso dos Deuses, pp. 255-257. Pessoa
não publicou, nem acabou, a recensão do Orpheu atribuída a Mora.
20 Este último ponto é analisado por Maria Irene Ramalho em Poetas do
Atlântico (2008), capítulo 3.
21 Caderno 144A/26.
Capítulo 37
1 Caderno 144X/44v. Docs. 21/135; S6/20v.
2 Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, 31/XII/1912.
3 Docs. 21/I/122v, 123v. Pessoa, Prosa Escolhida de Álvaro de Campos,
pp. 122-124.
4 Poema datado de 4/IV/1929.
5 Wilde estava a citar o último verso do poema de Lord Alfred Douglas
«Two Loves».
6 Pinharanda Gomes (1965), pp. 25-45.
7 Caderno 144X/64v.
8 CA, pp. 206-218.
9 Ibidem, pp. 150-155. Caderno 144Y/50v.
10 Doc. 14E/66.
11 De uma carta de 1906 endereçada ao irmão e citada em Ellmann
(1966), p. 241.
Capítulo 38
1 Pessoa fez esta afirmação numa bibliografia das obras de Sá-Carneiro
publicada em Presença, Novembro de 1928. Blague ou não, o extenso poema
deu origem a algumas interpretações fascinantes.
2 Trecho 289.
3 Um poema de Campos datado de 9/VIII/1934 menciona a estrutura da
ode pindárica que suporta a «Ode marítima». Segui a divisão das três sec-
ções — estrofe, antístrofe e epodo — estabelecida por Pauly Ellen Bothe na
tese de mestrado Poesía y musicalidad en las poéticas modernistas de Fer-
nando Pessoa y T.S. Eliot: la Ode Marítima (Lisboa: Faculdade de Letras, Uni-
versidade de Lisboa, 2003).
4 Docs. 74/18-23. A intenção de Pessoa de publicar uma versão portugue-
sa deste livro é mencionada nos projectos para a editora Íbis em 1910 (cader-
no 144V/7) e de novo em 1915 (doc. 133M/97).
5 Creio que quem primeiro recitou a ode foi, em 1938, Manuela Porto
(1908-1950), filha de César Porto, o amigo astrólogo de Pessoa.
6 De um prefácio para uma antologia prevista em inglês, com o título The
Portuguese «Sensationists». OE, vol. V, pp. 189-190.
7 O Mundo, 7/VII/1915.
8 A afirmação aparece no prefácio de uma antologia de textos «sensacio-
nistas» datável de 1916 (OE, vol. V, p. 186). Gaspar Simões (Vida, pp. 595-
596) escreveu que alguns membros da Carbonária Portuguesa visitaram o
restaurante, mas essa organização já se tinha dissolvido.
9 Por exemplo, Robert Herrick, «The Face of Paris», Chicago Tribune,
11/VII/1915, p. 5, reproduzido em Robert J. Young, Under Siege — Portraits of
Civilian Life in France during World War I (Nova Iorque: Berghahn Books,
2000), pp. 42-44 (consultado online).
Capítulo 39
1 Barley não respondeu a esta carta, se é que ela foi enviada, mas respon-
deu a uma idêntica enviada (ou reenviada) por Pessoa em Janeiro de 1916.
2 Doc. 87/68, datável de cerca de Agosto de 1915.
3 «Mundo Interior» foi também o título de um conto inacabado de Sá-Car-
neiro que Pessoa muito admirou; o original perdeu-se.
4 Docs. 901/25-28. As «considerações» de Baldaya foram escritas em in-
glês.
5 Caderno 144P/46-49.
6 Sobre a escassez de alimentos em tempo de guerra, ver Ramos (1994),
pp. 519-523.
7 Docs. 55A/94; 55H/82; 135/20-22. José Barreto, «Germanófilo ou aliadó-
filo», Pessoa Plural, Outono de 2014, pp. 152-215, inclui transcrições do apelo
publicado em O Mundo e a réplica inacabada de Pessoa.
8 «Crónica da vida que passa», O Jornal, 8/IV/1915, p. 1.
9 Pessoa guardou uma cópia dactilografada da carta (Pessoa, Sensacio-
nismo, p. 661). Os herdeiros de Pessoa possuem uma cópia manuscrita e
dactilografada das regras de «Estratégia». A intenção de Pessoa de apresen-
tar «Estratégia», «Oposição» e outros jogos à Gamage é referida numa lista
de coisas a fazer com data de 1915 (docs. 133M/96-98).
10 Docs. 902/33; 133M/98v.
11 O Século e A Capital, 22/VIII/1915.
12 O esboço dactilografado da carta conservado por Pessoa não tem data,
mas é quase certo que ele a enviou em Agosto. O correio de Lisboa para Ma-
cau demorava mais de um mês a chegar ao destino.
13 Os dois números (CHP) foram referidos na carta de Sá-Carneiro a Pes-
soa datada de 10/VIII/1915.
Capítulo 40
1 Doc. 1141/79. Este rascunho foi publicado em Pessoa, OE, vol. 7, pp.
151-152, com a data conjectural de Agosto-Setembro de 1916, mas foi quase
de certeza escrito no Outono de 1915.
2 Doc. 52/3v. Pessoa pensou de início incluir alguns poemas de Alexander
Search em The Mad Fiddler, mas desistiu rapidamente da ideia. Ainda não ti-
nha muita certeza de como organizar os poemas ingleses para publicação.
Um projecto de livro chamado «Antinous» and Other Poems, também datável
de 1915, inclui uma secção intitulada «The Mad Fiddler» (doc. 31/90).
3 A recepção e a rejeição dos poemas por John Lane é referida por Pes-
soa numa entrada do diário de 3/XI/1915 e na carta de Sá-Carneiro a Pessoa
de 24/XII/1915. O Espólio Fernando Pessoa contém uma carta de apresenta-
ção dirigida a um editor não especificado datada de 27/XII/1915 e uma cópia a
papel químico da mesma (docs. 1141/61-63). Talvez tenha desistido de a envi-
ar, ou pode ter enviado outra carta parecida, juntamente com poemas que
propunha para publicação.
4 Docs. 1141/116-118; 48G/9. O mais provável é que nunca tenha enviado
qualquer uma das cartas destinadas a críticos literários.
5 Docs. 26B/8; 54A/85-86.
6 Doc. 901/16.
7 Docs. 133M/96v-97; 901/1.
8 O Espólio Fernando Pessoa contém uma tradução inglesa dactilografada
da cena inicial (doc. 74/75), bem como uma cópia manuscrita da peça original,
possivelmente escrita à mão por Braga (env. Anexo D). Uma parte do ensaio
de Pessoa sobre o drama inspirado por Octávio (docs. 14A/45-53; 18/62-113)
foi publicada em Pessoa, Páginas de Estética, pp. 85-111.
9 Com estreia prevista para o final de 1915, Octávio acabou por estrear-se
em Maio de 1916 no Teatro Nacional, tendo havido seis espectáculos.
10 O diário de 1915 (caderno 144X/140v-143) foi publicado em EA, pp.
156-172.
11 O diário regista apenas o apelido do autor, James, mas não há registo
de Pessoa ter lido qualquer obra de Henry James. The Varieties of Religious
Experience vem mencionado nos seus papéis como um livro que tencionava
ler (doc. 93/87).
12 Pablo Javier Pérez López, «Fernando Pessoa e Iván de Nogales: el en-
cuentro de la vida y la literatura», em Fernando Pessoa em Espanha, ed. An-
tonio Sáez Delgado e Jerónimo Pizarro (Lisboa: Biblioteca Nacional de Portu-
gal/Babel, 2014), pp. 39-62.
13 Docs. S3/19, 138M/98.
14 Doc. 138M/98v.
Capítulo 41
1 Se lhe tivessem enviado um telegrama logo após o acidente, certamente
teria dado conta do facto no diário que manteve entre 1 de Novembro e 7 de
Dezembro. Na entrada de 1 de Dezembro a mãe é mencionada, mas apenas
por causa de uma carta que ela lhe tinha enviado na primeira semana de No-
vembro. O padrasto de Pessoa, na carta de 24/XI/1915, escreveu que o aci-
dente ocorrera em 9 de Novembro.
2 O número de Março de 1925 da Contemporânea relaria que exemplares
da Orpheu e do romance A Confissão de Lúcio de Sá-Carneiro tinham sido
encontrados na mochila de Carlos Franco. Desaparecido em combate em
4/VII/1916, o cadáver de Franco nunca foi recuperado. Os dados sobre a mor-
te dele (descobertos por Carlos Silveira) podem ser consultados no site «Mé-
moire des hommes» do Ministério da Defesa de França.
3 Doc. 902/67. Dois meses e meio depois, em 29 de Maio, Pessoa faria um
horóscopo para descobrir se havia alguma hipótese de ser recrutado. (doc.
S6/94). Os astros, para seu grande alívio, responderam negativamente.
4 Um obituário publicado no jornal O Século (1/V/1916) contava que Araújo
tinha conseguido que Sá-Carneiro fosse levado para um hospital, mas que
morrera durante a viagem. Há uma série de imprecisões comprovadas no obi-
tuário; baseei-me no relato pormenorizado que Araújo fez numa carta enviada
a Pessoa em 10 de Maio.
5 A carta pertence a um coleccionador privado e está reproduzida em Lan-
castre (1981), p. 179.
6 François Castex, coleccionador e investigador, encontrou-se com José
de Araújo na década de 1960 e tentou, sem êxito, convencê-lo a revelar o ver-
dadeiro motivo do suicídio. Sá-Carneiro (1992), p. 14.
7 O café é mencionado na carta que Carlos Ferreira escreveu a Pessoa
em 20/V/1916 (Colecção Fernando Távora; publicada em Sá-Carneiro, 2017,
p. 564). Marina Tavares Dias, a mais rigorosa investigadora da vida de Sá-
Carneiro, revelou o nome da amiga de Sá-Carneiro (1992), p. 16.
8 Carta de José Araújo a Pessoa datada de 18/XII/1916, em Sá-Carneiro
(2017), p. 570.
9 Assim disse ao primeiro biógrafo de Pessoa.
10 Uma carta completa de Pessoa a Sá-Carneiro, datada de 14/III/1916,
chegou até nós numa cópia dactilografada feita pelo remetente, para que par-
tes dela pudessem ser adaptadas ao Livro do Desassossego.
11 Le Figaro, 30/IV/1916, p. 3. Le Temps, 1/V/1916, p. 3. Le Petit Parisien,
1/V/1916, p. 2. Le Petit Journal, 1/V/1916, p. 2. República, 29/IV/1916, p. 2.
Foram também publicados obituários em DN, 28/IV/1916, p. 2, e O Século,
1/V/1916, p. 2.
12 Doc. 905/6. A plaquete prevista nunca chegou a ser publicada.
13 A confiança de Pessoa nesses poderes foi estimulada por alguns livros
de auto-ajuda que adquiriu em Abril: The Magic Seven e The Magnet, ambos
da autoria da anglo-americana Lida Abbie Churchill, e Creative Thought, de
W.J. Colville. Os três livros, nos quais Pessoa fez abundantes marcas a lápis
e caneta, contêm capítulos sobre magnetismo interior, aura humana, poder de
sugestão, etc.
14 Segundo a carta de Pessoa mencionada no parágrafo seguinte, essa
noite ocorreu no final de Março. Provas manuscritas sugerem que foi mais tar-
de, talvez no final de Abril ou Maio.
15 Pessoa conhecia Santana pelo menos desde 1910, quando este lhe
emprestou algum dinheiro para a Íbis, que estava em apuros (doc. 92A/87v).
16 Doc. 28/101.
Capítulo 42
1 As comunicações citadas nas páginas seguintes, a não ser que tenham
outras referências, estão publicadas em EA.
2 George Mills Harper, The Making of Yeats’s «A Vision» — A Study of the
Automatic Script, 2 vols. (Londres: MacMillan, 1987).
3 Doc. 904/24. Wardour adiantou várias outras datas de nascimento possí-
veis antes de assentar em 30/VII/1903 como «a data certa».
4 Ellmann (1999), pp. 223-225.
5 Docs. 42/28a; 58/12v; 66D/14.
6 Notas, pp. 73-76.
7 Rhian Atkins discute este trecho e o livro de Maistre em «Going Nowhere
in Voyage autour de ma chambre and “Viagem Nunca Feita”», em Pessoa in
an Intertextual Web, ed. David G. Frier (Londres: Legenda, 2012), pp. 82-98.
Pessoa tinha dois exemplares do livro de Maistre.
8 A única outra pessoa que poderia ter sugerido este pintor a Pessoa era
José Pacheco. No Outono de 1916, Pacheco abriu uma galeria de arte em
Lisboa que exibiu obras de Almada Negreiros e outros modernistas, mas ne-
nhuma de Souza-Cardoso.
9 Foi apenas em 2015 que Marta Soares descobriu, no espólio de Souza-
Cardoso, as fotografias das quatro pinturas escolhidas. Estão reproduzidas
em Zenith, Lopes e Rêgo (2015), pp. 95-108. Pessoa tinha seis poemas de
Pessanha dactilografados, mas planeava incluir mais alguns de uma lista de
treze adicionais (docs. 151; 41/25v). As férias de Pessanha em Portugal dura-
ram do Outono de 1915 à Primavera de 1916. O dossier sobre Camilo Pessa-
nha da Biblioteca Nacional de Portugal, que inclui uma excelente cronologia
reunida por Daniel Pires, pode ser consultado online.
10 A antologia foi publicada no início desse mesmo ano nos Estados Uni-
dos, em The Glebe.
11 As cartas de apresentação referem dois livros da Poetry Bookshop —
dos poetas imagistas Richard Aldington e F.S. Flint —, publicados em Dezem-
bro de 1915, que Pessoa possuía. Uma das cartas afirma que o Orpheu 2
«data de Junho de 1915, mas conseguimos publicar o número 3, que sairá
dentro de alguns dias». Estes pormenores tornam possível datar as cartas de
apresentação de Agosto e Setembro de 1916. Docs. 1142/90, 62. OE, vol. VII,
pp. 149-151.
12 Doc. 1141/112. O rascunho que chegou até nós está inacabado. É pos-
sível, mas improvável, que Pessoa tenha acabado e enviado a carta.
13 Docs. 20/86-87. É provável que a carta nunca tenha sido enviada.
14 Editado por Augusto Santa-Rita, poeta que era irmão de Santa Rita Pin-
tor. Estre os fundadores da revista estavam Alfredo Guisado, Armando Côr-
tes-Rodrigues e António Ferro. O primeiro número foi também o último.
15 Outros investigadores crêem que pode ter surgido um ou dois anos
mais cedo.
16 Docs. 48/9, 17. A antologia incluía escritores que tinham publicado no
Orpheu 1 ou no Orpheu 2, ou cujas obras estavam escaladas para aparecer
no Orpheu 3.
17 OE, vol. V, pp. 187-197.
Capítulo 43
1 «O mago e o louco», de José Barreto, faz um relato minucioso do inter-
namento forçado de Cunha Dias e dá uma visão geral da vida e do relaciona-
mento dele com Pessoa.
2 Doc. 48A/34.
3 Athena foi alternadamente intitulada Cadernos de Cultura Superior (docs.
48G/26; 87/68). Alguns dos planos da revista que chegaram até nós podem
ser datados de 1915, com base na máquina de escrever e fita de tinta (docs.
48B/11; 48G/33; 87/68).
4 Carta a Harold Monro (doc. 1142/90). O prefaciador de Sensationist
Anthology afirma: «O Orpheu é uma revista trimestral de que, apesar de ter
começado há um ano e meio, apenas saíram três números.
5 República, 23/VIII/1916, p. 1 (anúncio descoberto por João Macdonald).
Docs. 87/28-29, 42, 46. Pessoa, Sensacionismo, pp. 78-79, 479.
6 Docs. 906/59-60. Leal mudou-se inicialmente para Sevilha (doc. 1152/81-
86) e daí foi para Madrid. Pessoa aludiu à tentativa de suicídio de Leal na sua
leitura astral e na carta de 4/IX/1916 a Côrtes-Rodrigues.
7 Assim escreveu Leal numa carta de 27/I/1916 a Sá-Carneiro, que a en-
caminhou para Pessoa (docs. 1152/81-86).
8 Desassossego, trecho 430.
9 Leal a Sá-Carneiro, 27/I/1916. A carta foi publicada em Mário Cesariny,
O Virgem Negra (Lisboa: Assírio & Alvim, 1989), pp. 93-104.
10 Doc. 49B6/19. Publicado pela primeira vez em 2007 (OE, vol. VI, p.
440).
11 A Ordem, 6/XII/1916.
12 Docs. 48H/49; 55D/88-107. Ver Ana Maria Freitas, «Fernando Pessoa e
a polémica Cadbury», Revista de Estudos Anglo-Portugueses, n.º 23, 2014,
pp. 349-358.
13 Doc. 55D/91. Quando criticou o tratamento dos trabalhadores «no
Rand» (doc. 55D/91v), Pessoa podia estar a pensar não só nos negros africa-
nos, mas também (como sugerido por Freitas, «Fernando Pessoa e a polémi-
ca Cadbury») nos milhares de chineses contratados e trazidos para trabalhar
nas minas entre 1904 e 1910. O artigo de Pessoa também insistia em que as
injustiças cometidas na África ocidental portuguesa deviam ser imputadas,
não a Portugal, mas à monarquia corrupta e decadente que governava o país
na altura.
14 Por exemplo, em «A opinião pública», um artigo publicado em 1919 e
em doc. 110/5.
15 Doc. 49B7/6v.
16 Doc. 55B/88. Pessoa, Sobre Portugal, p. 217.
17 José Paulo Cavalcanti Filho (2012, p. 53) sugere que um dos livros da
biblioteca de Pessoa — Racial Supremacy, Being Studies in Imperialism
(1905), de John George Godard, promovia a ideia da supremacia branca. Na
verdade, faz o contrário: o livro é uma condenação do imperialismo britânico e
da ideia de supremacia branca que o justificava.
18 Doc. 110/41. De uma inacabada e não publicada «Carta aberta» a Woo-
drow Wilson, discutida adiante.
19 Doc. 19/64. Do estudo de Pessoa sobre a imortalidade literária intitula-
do Erostratus, discutido adiante.
20 Doc. 92M/65.
21 De um poema fragmentário que começa «Ora por nós, ora por nós»
(caderno 144Y/39).
22 Doc. 58/27. Escrito em português e datado de 26/II/1917.
Capítulo 44
1 Doc. 55/91.
2 Os projectos de livros são todos mencionados no caderno 144Y.
3 O doc. S4/9 contém os dois mapas astrológicos. O que corresponde a
The Mad Fiddler refere-se ao «Registo» às 14h14. «Chegada a Inglaterra: 21
ou 22-V-1917», escreveu no mapa, em inglês.
4 Doc. 904/50v.
5 Doc. 903/40.
6 Docs. 113P1/3-6.
7 Doc. 152/66.
8 Ana Rita Palmeirim (2016) é a melhor fonte de informação sobre a vida e
a obra literária de Coelho Pacheco.
9 Um sobrescrito impresso no Espólio Fernando Pessoa (doc. 133C/52v) é
a única prova que consegui encontrar da tentativa de vender carros feita por
Coelho de Jesus.
10 Pessoa fez um mapa astrológico para a data de fundação da empresa:
21 de Agosto de 1917 (doc. S5/41).
11 Doc. S4/73v.
12 Docs. 124A/42v; S6/55v. A pergunta foi feita em inglês.
13 Desassossego, trecho 429. Pessoa datou-o de 18/IX/1917.
14 Doc. 8/3. No verso do manuscrito pode ler-se uma lista de artigos para
promover Caeiro, datada de 1914.
Capítulo 45
1 «É doce e adequado morrer pela pátria.» Verso de uma ode de Horácio.
2 Contudo, o fundador e director oficial foi o artista (e futuro realizador de
cinema) Carlos Filipe Porfírio (1895-1970), que obteve financiamento para a
revista através de um amigo. Muitos dos artigos publicados na revista, incluin-
do o «Ultimatum», foram reunidos no Verão de 1917. Ver João Macdonald,
«Porfírio & Santa Rita Lda.: um exame à produção de Portugal Futurista»,
Convocarte (Lisboa), Setembro de 2019, pp. 316-334.
3 Em 1919, já muito afectado por uma esquizofrenia aguda, interpretaria
um curto bailado a solo num hotel suíço.
4 A Monarquia, 2/XI/1917, p. 1 (recentemente descoberto por João Macdo-
nald). Pessoa fez um mapa astrológico para Portugal Futurista com pormeno-
res sobre a sua curta existência (doc. 902/32).
5 Quando algumas provas paginadas do número abortado foram finalmen-
te publicadas em 1953, os estudiosos concluíram que o misterioso C. Pache-
co, autor do poema «Para além doutro oceano», era outro heterónimo de Fer-
nando Pessoa. Em 2011, Ana Rita Palmeirim apresentou manuscritos origi-
nais do poema, escritos pelo avô dela, o esquecido José Coelho Pacheco.
Palmeirim (2016), pp. 161-178.
6 A Situação, 25/V/1917. Citado em Pais, Um Ano de Ditadura — Discur-
sos e Alocuções (Lisboa: Lusitânia, 1924), p. 61.
7 Doc. 904/31. Notas, pp. 85-87. O Anuário Comercial de 1919 (compilado
no final de 1918) regista o escritório de Sengo no mesmo edifício e no mesmo
andar do de Pessoa. O endereço do escritório de Sengo está registado no Es-
pólio Fernando Pessoa, em papel da leitaria de Sengo, perto da qual Pessoa
tinha vivido durante um curto espaço de tempo, no final de 1916 (doc.
133C/58v). Pessoa também fez um mapa astrológico de Sengo (doc. S5/88v).
8 Cunha Dias (1944), p. 30.
9 Docs. 48/30; 110/5v, 96.
10 Carlos Jorge Alves Lopes, Os Portugueses na Grande Guerra (tese de
mestrado, Universidade Aberta de Lisboa, 2012), consultado online.
Capítulo 46
1 Docs. 904/52-53 (em inglês).
2 Aquilo que Pessoa escreveu foi um pormenorizado esboço narrativo para
um estudo de caso completo que nunca realizou. A máquina de escrever e a
fita tornam possível datar a versão dactilografada do esboço (docs. 54A/78-
82) de 1918. A versão preliminar (doc. 54B/23) foi provavelmente escrita nes-
se mesmo ano.
3 Esta recomendação do além ocorre repetidamente nos anos seguintes,
até 1934 (doc. 62B/33).
4 Doc. 43/1v.
5 Caderno 144X/54; 144Y/20.
6 Docs. 110/69-72.
7 Doc. S5/43 (em inglês).
8 A recepção de Antinous — A Poem é analisada em Monteiro (2007).
9 «Falência?», O Tempo, 13/X/1918, p. 1; «Lógica... futurista», Diário Naci-
onal, 14/X/1918, p. 1.
10 Doc. 113P1/22.
11 Doc. 92D/60.
12 Doc. 87/66. Minerva foi um título alternativo para este projecto de revis-
ta. A colaboração de Craveiro (doc. 113P1/21) foi publicada em Pessoa, Eu
Sou Uma Antologia, pp. 544-545.
13 Doc. 5/83.
14 Exposto na carta a Casais Monteiro de 13/I/1935, sobre a origem dos
heterónimos. Nessa mesma carta, Pessoa definiu Álvaro de Campos como «o
mais histericamente histérico de mim», mas este estava mais adaptado ao
mundo moderno do que os seus colegas heterónimos.
15 Esta ideia foi desenvolvida por Leo Marx em «Melville’s Parable of the
Walls», Sewanee Review, Outono de 1953; reeditado em Melville’s Short No-
vels, ed. Dan McCall (Nova Iorque: W.W. Norton, 2002), pp. 239-256.
16 Maria Nogueira Rosa a Fernando Pessoa, 23/XI/1918.
17 O Primeiro de Janeiro, 26/X/1918, p. 2 e O Dia, 28/X/1918, publicaram
curtos obituários, enquanto alguns outros jornais publicaram notícias sucintas
da morte. João Mcdonald, «Os obituários de Amadeo», Machina, Maio de
2020 (revista online).
18 Alfredo Guisado a António Ferro, 15/XI/1918 (carta no Espólio António
Ferro).
19 A Capital, 11/XI/1918, pp. 1-2.
20 Os restos mortais de Sidónio seriam trasladados para o Panteão Nacio-
nal em 1966.
Capítulo 47
1 António Machado Santos, considerado o fundador da répública, tinha-se
afastado de Sidónio e do seu governo alguns meses antes e, em todo o caso,
não teria estado disposto a governar como ditador.
2 Doc. 92V/3.
3 Doc. 55J/12.
4 Doc. 110/38.
5 Por exemplo, no discurso de 14/VI/1917, junto ao Monumento a
Washington, ou na comunicação ao Congresso a 4/XII/1917.
6 Docs. 110A/1, 12.
7 Na Primavera de 1919, Pessoa reorganizou as suas prolixas cartas aber-
tas sob um novo título, Five Epistles to the Boeotians. Na Antiguidade, os beó-
cios eram um povo da Grécia proverbialmente obtuso, ao passo que os beóci-
os modernos, segundo Pessoa, eram todos aqueles que consideravam Wil-
son, Lloyd George e Clemenceau estadistas válidos e respeitáveis (doc.
111/11).
8 Docs. 55J/36; 92B/73-74; 92U/49-50, 77-79; 92V/1; 112/4-8. Registado
nos planos de publicação: docs. 48H/2, 18; doc. 182; caderno 144G/38.
9 Doc. 92V/17 (em inglês).
10 Docs. 123/43; 55G/29 (ponto 6).
11 Caderno 144G/7-8.
12 Docs. 133G/93; 1111MU/1-6; 2723/126-27. Pessoa, Argumentos para
Filmes, pp. 24-30, 39-48, 93-96.
13 Docs. 87A/7-10. Caderno 144G/13v. Doc. 55I/18v.
14 Caderno 144G/8v. Diogenes e Portugal foram dois títulos possíveis para
essa publicação. Docs. 48I/19-20; 92V/4; 136/62.
15 Cartas de Pessoa a Coelho de Jesus datadas de 10/VIII/1919 e 12/VI-
II/1919. Exemplares de outros dois jornais sidonistas, A Época e O Jornal, fi-
zeram igualmente parte da fogueira (A Capital, 10/VIII/1919, p. 1).
16 Doc. 55I/100.
17 Doc. 42/26. Fragmentos poéticos e nota publicados em Pessoa, Poesia:
1902-1917, pp. 353-354, 466-467.
18 Um dos poemas pertence à Colecção Fernando Távora; outro encontra-
se na CHP; outros quatro (docs. 42/47; 43/13; 47-48; 44/5-6) foram publicados
em Pessoa, Poesia: 1918-1930, pp. 22, 51-57. O material referente a Juliano
foi publicado numa edição comentada por Carlos Pittella in Pessoa Plural, Ou-
tono de 2017, pp. 457-488.
19 Doc. 55G/29.
20 Doc. 111/10v, «First Epistle to the Boeotians» (em inglês).
21 Passados alguns anos, todo o Espólio foi digitalizado.
22 Docs. 43/50-51. Publiquei o poema, adicionando-lhe uma tradução para
inglês, em Lusosex — Gender and Sexuality in the Portuguese-Speaking
World, eds. Susan Canty Quinlan e Fernando Arenas (Minneapolis: University
of Minnesota Press, 2002), pp. 47-53.
23 Carta de Bentley a Pessoa datada de 3/VIII/1918 (doc. 1151/19). Publi-
cada em Pessoa, Correspondência Inédita, p. 208. Bentley era o director de
Portugal — A Monthy Review of the Country, its Colonies, Commerce, History,
Literature and Art, publicada em Londres entre 1915 e 1916. Os 35 Sonnets
de Pessoa causaram melhor impressão a Bentley.
Capítulo 48
1 Caderno 144G/17-25. Estas notas foram escritas em inglês.
2 Caderno 144G/22v, 19, 23.
3 Era assim o título da edição americana (1911). A edição original, britâni-
ca (1908-1910), intitulava-se simplesmente The Children’s Encyclopaedia.
4 Apesar de a enciclopédia só ter sido lançada em 1925, a maior parte do
trabalho efectuado por Pessoa data de 1919. O espólio de Raul Proença, que
supervisionou a equipa de tradutores portugueses, inclui os manuscritos origi-
nais de algumas das traduções de Pessoa, a maioria datada de 1919. Para
além do poema «O avô e o neto», assinado por Pessoa, a enciclopédia con-
tém um par de poemas não assinados que ele também poderá ter escrito.
5 Doc. 1141/96. Pessoa, Correspondência, 1905-1922, p. 271.
6 Pessoa a Victoriano Braga, 25/I/1919 (carta na Colecção António Miran-
da, Santo Tirso). Foram publicados um fac-símile e uma transcrição em Pes-
soa Plural, Outono de 2019, pp. 391-392.
7 Carta da mãe de Pessoa datada de 15/VII-18/VIII/1919; Notas, p. 63. So-
bre o curto mandato do reitor, Joaquim José Coelho de Carvalho (1855-1934):
Manuel Augusto Rodrigues, «A República e a autonomia da Universidade», in
Biblos: Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, vol. 8
(2010), pp. 95-126 (consultado online).
8 Pormenores registados num bloco de notas presente na Casa Fernando
Pessoa. Reproduzido em Objectos, pp. 164-207.
9 O Grande Hotel de Faro, descrito em Revista de Turismo, Maio de 1920,
pp. 132-134.
10 A 30/VIII/1919, Pessoa escreveu uma carta de Faro a Luís de Montal-
vor, explicando apenas vagamente o motivo dessa viagem (Colecção Fernan-
do Távora). O bloco de notas referido na penúltima nota dá conta da intenção
de indagar sobre conservas de peixe e outros produtos algarvios (Objectos,
pp. 164-165).
11 A carta de Pessoa para Geraldo Coelho de Jesus datada de 10/VI-
II/1919 refere esses aposentos exíguos; EA, pp. 180, 450-451. Pessoa decidiu
dispensar Emília em Agosto. Objectos, pp. 195-199, 204, 183.
12 A carta de 19/III/1920 de Pessoa para Ofélia Queiroz indicia que ele vi-
via com uma família.
13 Cartas de Maria Nogueira Rosa a Pessoa datadas de 15/VII/1919 e
19/XII/1919.
14 Pessoa a Ofélia Queiroz, 22/III/1920.
15 Cartas de Maria Nogueira Rosa a Pessoa datadas de 14/X/1919 e
19/XII/1919.
16 A firma de importações e exportações publicitara as suas actividades
em Acção, 19/V/1919.
17 Do trecho intitulado «O major».
18 Pessoa e Queiroz (2013), pp. 15-16.
19 Ibidem.
20 Doc. 49A5/73.
21 Ofélia Queiroz (1996), p. 156.
22 Pessoa e Queiroz (2013), pp. 17-18. Pessoa redigiu essas notas a
19/II/1920, quando traçou um horóscopo a propósito da relação com Ofélia
(caderno 144G/26v-28).
23 Pessoa e Queiroz (2013), p. 22.
24 Ofélia Queiroz a Pessoa, 23/III/1920.
25 Desassossego, trecho 138.
26 Franz Kafka a Felice Bauer, 11/XI/1912.
27 Ofélia Queiroz a Pessoa, 23/III/1920.
28 O Lourenço Marques era um dos navios alemães apreendidos pelos
portugueses em 1916.
29 Intimidade, p. 235.
30 Docs. 28A/10v; 92R/4v; 92A/87v.
31 Michael (Luís Miguel) Rosa a Hubert D. Jennings, 20/XI/1966; publicado
em Pessoa Plural, Outono de 2015, pp. 253-257.
32 Pessoa e Queiroz (2013), p. 21.
33 Cartas datadas de 13/V/1920, 18/V/1920 e 30/V/1920.
Capítulo 49
1 Ofélia Queiroz a Pessoa, 1/VI/1920.
2 Caderno 144G/9, 40. Apontamentos pessoais (CHP) demonstram clara-
mente a sua intenção de substituir a Cosmópolis pela Olisipo.
3 Docs. 137D/44-47, analisados em Mega Ferreira (2005), pp. 76-79, e pu-
blicados em Pessoa, Fernando Pessoa — O Comércio, pp. 154-159.
4 Doc. 48/44v. A morada exacta era Rua da Boa Vista, 102, segundo es-
querdo.
5 No Espólio encontram-se três envelopes provenientes de firmas estran-
geiras endereçados à Olisipo e com carimbo de Outubro e Novembro de
1920: docs. 104/30v; 49B5/83v; 49C1/6av. O último é da Veloce Ltd. Sem dú-
vida que Pessoa contactou também outras empresas.
6 Caderno 144T/3.
7 Doc. 125A/13.
8 Todos os trechos de «Impermanence» incluídos em Pessoa, Heróstrato.
9 É possível que Pessoa tenha escrito o prefácio em 1919, mas não antes,
visto que alude à emigração de Ricardo Reis para as Américas, ocorrida de-
pois de a Monarquia do Norte ter sido esmagada, em Fevereiro de 1919.
10 Queiroz a Pessoa, 3/VI/1920.
11 Desassossego, trecho 112.
12 Docs. 49B5/83; 49C1/6-6a. Os poemas estão ambos incompletos.
Capítulo 50
1 Docs. 58/57-61. Na sua maior parte, não publicada, mas dois passos es-
critos em 1917 foram transcritos em Rita Lopes (1990), pp. 90-92. A peça sur-
ge em diversos planos editoriais, incluindo para a Olisipo, em 1921. Docs.
44/47; 48B/25; 137A/22. Caderno 144G/38.
2 Por exemplo, no artigo «As algemas», publicado em 1926.
3 Ferro, «Sinfonia heróica», O Jornal, 5/XII/1919, p. 1. Durante algum tem-
po, Ferro foi o redactor principal deste jornal sidonista.
4 Excertos da tradução para inglês de Pessoa (CHP) foram publicados por
Jerónimo Pizarro e Sara Afonso Ferreira em «A génese d’A invenção do dia
claro e o estabelecimento de Invention of the Bright Day», em Fernando Pes-
soa — O Guardador de Papéis, ed. Pizarro (Lisboa: Texto Editores, 2009), pp.
283-338.
5 Anna Klobucka descobriu essa recensão. O seu O Mundo Gay de Antó-
nio Botto faz uma análise pormenorizada da recepção crítica votada a Botto e
de outros aspectos da vida e obra do autor.
6 Doc. 133I/35.
7 O Primeiro de Janeiro, 3/V/1921, p. 6, e 4/V/1921, p. 6.
8 Docs. 137A/13-20, 52-57.
9 Docs. 137A/21-24.
10 «O caso da janela estreita», em Pessoa, Quaresma, Decifrador, p. 356
(doc. 276S/4). A mesma afirmação surge num trecho do ensaio de Pessoa «O
sentido do sidonismo» (doc. 92B/72).
11 Docs. 55J/54, 56-59; 55A/101.
12 Doc. 48B/23v.
13 «Unser Nachwuchs», Neue Freie Presse (Viena), 25/XII/1909.
14 Doc. 53B/70. Mais de metade do material escrito para o ensaio (docs.
53B/55-71, 92v) encontra-se transcrita em Centeno (1988), pp. 119-143. Ex-
certos adicionais: docs. 26/20-21 e 55J/85-89.
15 Doc. 53B/57.
16 E possivelmente noutras línguas também: doc. 137A/23. Pessoa, Fer-
nando Pessoa — O Comércio, pp. 161-162.
17 Exílios, p. 183. Desconhece-se o paradeiro deste estudo genealógico.
18 Saa, A Invasão dos Judeus, pp. 291-295, 298. A biblioteca pessoal de
Fernando Pessoa inclui um exemplar deste livro.
19 «O perigo judeu», A Batalha, 13/II/1925, p. 1. Um crítico ao serviço des-
se mesmo jornal catalogou o livro de Saa como inequivocamente anti-semita
(A Batalha, 23/III/1925, Supl. Lit., p. 4).
20 Docs. 134A/26-28, 55J/54v.
21 Na interminável carta aberta a Woodrow Wilson (doc. 110/30).
22 Doc. 53B/56.
Capítulo 51
1 DN, 20/X/1921.
2 Docs. 137D/70-71.
3 Ilustração Portuguesa, 10/XII/1921, p. 81; DL, 17/XII/1921, p. 1.
4 Docs. 1151/26; 1158/33. Imagens, p. 98.
5 Disse-o a Ofélia Queiroz.
6 Docs. 137B/75-79; 137D/48-51. Mega Ferreira (2005), pp. 83-84. A pro-
posta de Pessoa, dactilografada e datada, foi quase de certeza apresentada,
embora eu não tenha conseguido encontrar provas conclusivas disso mesmo.
Um catálogo de apenas um volume composto para a exposição, Livro d’Oiro e
Catálogo Oficial — Exposição Internacional do Rio de Janeiro: Secção Portu-
guesa, foi publicado pelo Comissariado Geral do Governo em Agosto de
1922.
7 Na verdade, a proposta de Pessoa consistia numa versão actualizada e
ampliada da ideia de uma Companhia de Produtos Portugueses, que esperara
poder lançar via Olisipo, numa altura em que esta era ainda uma agência co-
mercial e não uma pequena editora. Docs. 137/80-90, 137A/1-12, 38-41, 50.
Mega Ferreira (2005), pp. 92-95. A resposta (1151/52-53) de Eduardo Ramires
dos Reis foi publicada em Pessoa, Correspondência Inédita, pp. 210-211.
8 Apenas a última página do original dactilografado se mantém no Espólio
Fernando Pessoa (doc. 272D/14). Provavelmente, o conto terá surgido ao au-
tor em 1921 (docs. 48/40-41).
9 Esta definição pessoana provém de uma carta inacabada a José Pache-
co (doc. 1143/9-10) publicada em Pessoa, Correspondência, 1905-1922, pp.
410-411.
10 O livro, As Doutrinas Anarquistas (1908), de Paul Eltzbacher, está assi-
nado por Alexander Search e faz parte da biblioteca pessoal de Fernando
Pessoa.
11 Doc. 48B/62.
12 Max Stirner era o pseudónimo de Johann Kaspar Schmidt (1806-1856).
Capítulo 52
1 A revista está datada de Outubro, mas só foi distribuída no início de No-
vembro. Sobre o artigo de Maia e o «díptico» Pessoa-Botto que o suscitou,
ver Klobucka (2018), pp. 108-112.
2 Registada na Biblioteca Nacional a 17/XI/1922 (doc. Anexo IV/10). Ape-
sar de o colofão do livro indicar que este foi composto e impresso em Janeiro
de 1922, só foi lançado (e, porventura, impresso) em Novembro.
3 Doc. 135C/28. A carta de 21/XI/1922 de Pessoa a Botto refere-se ao fo-
lheto, impresso pelo menos seis meses antes e datado «Primavera de 1922»,
a altura do ano em que estava previsto que o livro tivesse sido publicado.
4 Doc. Anexo A/1.
5 Registado na Biblioteca Nacional a 17/II/1923 e comercializado pelo me-
nos por uma livraria a partir dessa data (docs. Anexo IV/13, 18).
6 DL, 14/II/1923, p. 8. Outro jornal, A Capital (14/II/1923, p. 2), relatou que
tinham sido detidos dezoito homens.
7 Marcello Caetano, «“Arte” sem moral nenhuma», in Ordem Nova, n.os 4-
5, Junho-Julho de 1926, pp. 156-158. O artigo de Caetano vem citado em Tei-
xeira (1996), p. 250.
8 DL, 10/II/1922, p. 5. A Capital, 5/II/1923, p. 1. DL, 6/II/1923, p. 4.
9 A Época, 22/II/1923, transcrita em Cunha Gonçalves (2014), pp. 107-
109.
10 A Capital, 5/III/1923, p. 2. Botto (2010), pp. 148-49. Docs. 55D/13, 24;
1153/24; Anexo IV/15, 17, 18.
11 A Época, 6/III/1923, p. 1. Um exemplar do próprio manifesto encontra-
se no Espólio Fernando Pessoa (doc. Anexo A/69).
12 Docs. 48D/60-65; 75/71v. José Barreto, «Os destinatários dos panfletos
pessoanos em 1923», Pessoa Plural, Outono de 2016, pp. 628-703.
13 No ensaio de Pessoa «Erostratus».
14 Devo esta observação a Anna Klobucka.
15 Pessoa a Botto, 21/XI/1922. Em duas cartas subsequentes de Pessoa a
Metello, enviou cumprimentos aos pais do rapaz, que tinha evidentemente co-
nhecido na herdade da família.
16 A Contemporânea 8 tinha como data Fevereiro de 1923, mas só foi pu-
blicada em meados de Maio (DL, 22/V/1923, p. 1).
17 Moitinho de Almeida (1985), pp. 79, 82.
18 A ode em questão começa com «A flor que és, não a que dás, eu que-
ro» e tem por data 21/X/1923. A composição em prosa (doc. 71A/34) de Cam-
pos foi publicada em Rita Lopes (1990), p. 475.
Capítulo 53
1 DL, 15/VI/1922, p. 5.
2 A casa de Teixeira é descrita por um entrevistador em Revista Portugue-
sa, 24/III/1923, pp. 16-18; a entrevista vem reproduzida em Teixeira (1996),
pp. 236-238.
3 Entrevista em Diário da Manhã, 14/IX/1952, pp. 6-8. Citada por Sáez
Delgado (2015, p. 99); esse livro relata de forma pormenorizada as relações li-
terárias e as publicações mencionadas neste parágrafo e no seguinte.
4 Valle a Pessoa, 10/XI/1924 (doc. 1158/39).
5 As críticas espanholas foram referidas em DL, 7/IX/1923, p.1, e
18/IX/1923, p. 1. Em Lisboa, Valle fez uma lista de críticos e poetas espanhóis
a quem Pessoa enviou exemplares do livro de Botto.
6 DL, 3/VIII/1923, p. 5. O título da palestra foi «Poetas de hoje».
7 A carta, que se mantém no espólio de Adriano del Valle e foi transcrita
por Sáez Delgado em Fernando Pessoa e Espanha (Lousã: Editora Licorne,
2011), p. 149, data de Agosto ou Setembro de 1923.
8 Docs. Anexo IV/14, 16, 19.
9 Diário do Senado, sessão n.º 66, 20/VII/1923, p. 4 (consultado em
http://debates.parlamento.pt).
10 The Washington Post, 10/VIII/1923. p. 8. O New York Times, a
10/V/1923, p. 25, comentou igualmente como o serviço ferroviário italiano ti-
nha melhorado bastante.
11 Entre 2 e 23 de Junho, foram publicados quatro números.
12 Portugal, 2/VI/1923, pp. 3-5; 9/VI/1923, p. 3; 16/VI/1923, p. 5;
23/VI/1923, pp. 5-6. Saa recorreu ao pseudónimo M. D’Erval, quase um ana-
grama de Ervedal, uma aldeia próxima da herdade onde crescera e à qual
acabaria por voltar. Ferreira Gomes assinou várias colaborações como
«C.S.», ou Carlos Sequeira, o mesmo pseudónimo utilizado como tradutor de
contos de Edgar Allan Poe. Sobre o tema do fascismo português, referindo-
me aqui aos que acolhiam de facto esse termo: Leal (1994), pp. 113-164, e
Luís Reis Torgal, Estados Novos, Estado Novo — Ensaios de História Política
e Cultural, vol. 1 (Coimbra: Universidade de Coimbra, 2009), pp. 87-104.
13 Ver «Como organizar Portugal» e «A opinião pública», bem como docs.
21/25-26 (assinados por R. Reis), 55/83-84; 55H/78; 92M/45v.
14 A entrevista de Ferro a Mussolini foi capa do A Capital, 5/XII/1923. As
edições de 15/XI/1923 a 8/XII/1923 do A Capital incluem entrevistas e reporta-
gens realizadas durante a viagem de Ferro, bem como outros artigos a elogiar
Mussolini.
15 Doc. 133E/12. Publicado em Fascismo, p. 57.
16 DN, 26/II/1923, p. 2 (doc. 135C/103). A ligação entre o recorte noticioso
e a hostilidade de Pessoa para com Mussolini foi alvitrada por José Barreto
em «O fascismo e o salazarismo vistos por Fernando Pessoa», Acade-
mia.edu, pp. 5-6.
17 Ver, por exemplo, DL, 20/VII/1923, p. 7; A Capital, 8/XII/1923, p. 1.
18 Doc. 104/1.
19 Trovas do Bandarra, ed. Jorge Uribe (Lisboa: Guimarães, 2010), é uma
transcrição da edição de 1866 que pertencia a Pessoa (docs. 125B/67-100),
incluindo algumas dessas anotações e outros textos relevantes. A outra edi-
ção constante do Espólio Fernando Pessoa (docs. 125B/101-145) foi publica-
da em 1911. Na sua maioria, os escritos de Pessoa sobre Bandarra e as inter-
pretações dos poemas proféticos deste encontram-se nos envelopes 125,
125A e 125B do Espólio. Quanto à selecção que fez de quadras fundamentais
de Nostradamo, em alguns casos anotadas: docs. 125/20-24, 86; 125B/22-26,
44, 49-52.
20 A ideia de uma nova edição das Trovas do Bandarra, com comentários
assinados por Raphael Baldaya, ocorreu pela primeira vez a Pessoa por volta
de 1918 (doc. 901/8). Esperava publicar essa edição, nunca finalizada, como
um livro da Olisipo (docs. 20/65; 48I/17; 137A/21).
21 Doc. 125B/11. Pessoa, Sobre Portugal, pp. 205-206.
22 O nome de Lamim surge num livro de 1810 acerca do sebastianismo
consultado por Pessoa. Docs. 125/2-3. Pessoa, Sebastianismo, pp. 147-154.
23 Docs. 125A/30, 83; 125B/11. Pessoa, Sobre Portugal, pp. 180-183, 205.
24 Doc. 125B/19.
25 O Espólio Fernando Pessoa contém esboços iniciais dessas respostas
(docs. 55F/41; 55I/47-50; 125/10).
Capítulo 54
1 Intimidade, pp. 115, 118. Gaspar (1988), p. 49R. Entrevista a Margarida
Soares Couto.
2 Arquivo Histórico da Marinha, Livro Mestre do Corpo de Engenheiros
Construtores Navais 2, folhas 98v-100, 159-159v.
3 Intimidade, p. 117.
4 Eduardo Freitas da Costa a Carlos Queiroz, 20/VIII/1936 (Colecção Ma-
ria da Graça Queiroz). O autor da carta recordava-se de Pessoa recitar poe-
mas, a ele e a outros primos, «por volta de 1923», mas entre finais de 1920 e
inícios de 1924 Eduardo e os pais estiveram em Itália.
5 Docs. 87/72; 48B/110.
6 Doc. 48B/26. O título desse poema é «Loucura».
7 DL, 3/XI/1924, p. 5. A Capital, 3/XI/1924, p. 2.
8 Pessoa a Bentley, carta de 31/X/1924. Bentley tinha acabado de deixar
Lisboa e voltar para Inglaterra.
9 «As três metamorfoses», Assim Falava Zaratustra.
10 Vida, p. 541; Henriqueta Rosa Dias (1988), p. 6.
11 DN, p. 5. Imagens, p. 103.
12 Pseudónimo de William Sydney Porter (1862-1910), autor de várias
centenas de contos.
13 Doc. 1151/73 (carta datada de 31/VII/1925). Publicada em Pessoa, Cor-
respondência Inédita, pp. 50-52.
14 Doc. 14E/5. Há uma breve nota para essa suposta edição em que os
«parentes» de Caeiro se identificam assinando com as iniciais A.L.C. e J.C.
(doc. 21/75).
Capítulo 55
1 António Cobeira (1953), p. 5. Cobeira saíra de Lisboa muitos anos antes
para ser professor de liceu em Santarém e, mais tarde, no Porto.
2 Docs. 142/94; 55D/65-67; 87/39; 87A/18.
3 Docs. 49B1/39, 95-96; 49B4/9.
4 Carta datada de 1/X/1925 (Colecção Jaime de Andrade Neves). Pessoa
escreveu que a sobrinha tinha morrido de «intoxicação intestinal».
5 Entrevista a Manuela Nogueira.
6 Pessoa tinha entre os clientes três empresários que ocupavam a antiga
sede da Olisipo, no número 52 da Rua de São Julião. A existência de papel
de carta e sobrescritos com um cabeçalho que incluía esse endereço e o no-
me F.N. Pessoa levaram-me, bem como a outras pessoas, a concluir que o
poeta tinha criado uma empresa intitulada F.N. Pessoa (a não confundir com a
firma F.A. Pessoa). Ora essa empresa nunca existiu. No entanto, como Pes-
soa trabalhava para os novos inquilinos e se dava bem com eles, indicou essa
morada como sendo a sua pelo menos uma vez, aquando de um pedido de
patente (doc. 1142/88).
7 As notas de Pessoa para o sistema com vista a condensar códigos en-
contram-se maioritariamente no env. 128A. A resposta da Eden Fischer (doc.
1152/11) tem por data 14/XI/1925.
8 Patente 14345, registada a 26/X/1925. Fac-símiles e transcrições de do-
cumentos relevantes em Objectos, pp. 97-103.
9 Docs. 273K/1-5. O Espólio Fernando Pessoa contém as notas de um
amigo jornalista que acompanhou o julgamento (docs. 137/51-72).
10 Pessoa a Guérin Frères, carta de 6/III/1926 (docs. 137B/11-15).
11 Docs. 137B/35-39, 42-46, 48-49. Essas e outras invenções são descri-
tas em Mega Ferreira (2005), pp. 103-117.
12 Hernâni Carqueja, «Francisco José Caetano Dias», Revisores & Em-
presas, n.º 23, Outubro-Dezembro de 2003, pp. 5-6.
13 Pessoa, «Palavras iniciais», Revista de Comércio e Contabilidade, n.º 1
(25/I/1926), p. 6.
14 O artigo em questão foi publicado no sexto número.
15 Docs. 138/22-26; 138A/7-9. Selected Prose, pp. 197-199.
16 Os fascículos foram publicados entre Janeiro de 1926 e Fevereiro de
1927. Foi sem dúvida o entusiasmo manifestado por Francisco Costa em rela-
ção a A Letra Encarnada, na carta de 31/VII/1925, que inspirou Pessoa a tra-
duzi-lo.
17 José Fonseca e Costa, Os Mistérios de Lisboa ou What the Tourist
Should See, 2009.
18 Raul Proença, Guia de Portugal, vol. I, «Lisboa e arredores» (Lisboa:
Biblioteca Nacional, 1924). Este livro continua disponível e a revelar-se uma
valiosa obra de referência, ainda que alguma da informação apresentada já se
encontre desactualizada. O guia de Pessoa, publicado pela primeira vez numa
edição bilingue, em 1992 (Lisboa — O Que o Turista Deve Ver), menciona que
a revista Ilustração «foi lançada há muito pouco tempo»: o número inaugural
surgiu em Janeiro de 1926.
19 Desassossego, trecho 330. Caderno 144C/13v.
20 Três odes de Reis datadas de 13/VI/1925 em determinadas edições fo-
ram, na verdade, escritas a 13/VI/1928, de acordo com o respectivo manuscri-
to. Os sonetos de Campos difíceis de datar são de uma série intitulada «Bar-
row-on-Furness».
21 O número de Junho só foi publicado no final de Julho (Sol — Bissema-
nário Republicano, 25/VII/1926, p. 9).
22 Entrevista a Maria da Graça Queiroz, filha de Carlos Queiroz e próxima
da tia-avó, Ofélia.
23 Doc. 87/95a.
24 Onésimo T. Almeida (2014, pp. 135-149) argumenta convincentemente
que Pessoa deverá ter lido Georges Sorel (1847-1922), filósofo francês cujo li-
vro Réflexions sur la violence (1908) teorizava o poder dos mitos nacionais
para mobilizar povos e levar a cabo mudanças revolucionárias. Ainda que ou-
tro livro de Sorel seja mencionado de forma fugaz nas notas de Pessoa (doc.
133G/49), não existem provas de que ele tenha lido de facto alguma coisa es-
crita por este autor. No entanto, os conceitos de Pessoa e de Sorel quanto ao
poder estimulante dos mitos nacionais são incontestavelmente similares.
25 No Jornal do Comércio e das Colónias.
Capítulo 56
1 Docs. 92I/15-16. Fascismo, pp. 68-74.
2 Esse diário foi precedido, em Julho e Agosto, por um quinzenário de cur-
ta duração também chamado Sol, no qual Pessoa (conforme mostrado por Jo-
sé Barreto) publicou um pequeno manifesto anónimo declarando, para que os
generais no Governo o compreendessem, que o indivíduo é a «única verda-
deira realidade social» (Sol, 4/VIII/1926, p. 2). Celestino Soares (1898-1962),
escritor e diplomata com várias missões nos Estados Unidos, viria mais tarde
a ser preso e a cumprir pena pela participação em duas tentativas de derrubar
Salazar, em Outubro de 1946 e Abril de 1947.
3 Sol, 20/XI/1926, pp. 1-2. Foi só em 2012 que a criação de Angioletti por
Pessoa conheceu a luz do dia, através do artigo «Mussolini é um louco» de
Barreto.
4 O visitante era Ezio Maria Gray (1885-1969), um coronel das milícias fas-
cistas conhecidas como «camisas negras» que participou na Marcha sobre
Roma. Dirigiu-se à comunidade italiana de Lisboa no contexto de uma missão
com vista a criar uma fascio, ou liga fascista, local. A palestra foi noticiada ao
pormenor em DN, 19/XI/1926, p. 1.
5 DN, 21/XI/1926, p. 4. Sol, 22/XI/1926, p. 1.
6 O verdadeiro Angioletti, tal como o falso crítico, nunca publicou nada na
Mercure de France, mas a sua primeira «Italian Chronicle» tinha saído recen-
temente em The Criterion, de T.S. Eliot (no número de Junho de 1926), levan-
tando a possibilidade intrigante de Pessoa ser um leitor ocasional dessa revis-
ta, onde o poema A Terra Devastada fora inicialmente lançado, em 1922. Con-
tudo, o cronista deixou apenas como assinatura G.B. Angioletti; o seu nome
próprio completo não aparece em The Criterion. Deverá ter sido por via de
uma publicação italiana que Pessoa descobriu Giovanni B. Angioletti (que se
tornaria um bem-sucedido escritor de ficção).
7 Desassossego, trecho 209.
8 Answers, 18/IX/1926, p. 14. Em 2017, Sally Bolton pesquisou amavel-
mente os arquivos jornalísticos da Bodleian Library de Oxford, tendo localiza-
do a carta que levou à resposta de Pessoa (doc. 138/65), publicada em EA,
pp. 182-186.
9 Pessoa e Queiroz (2013), pp. 15-16.
10 Nogueira Rosa (1969), p. 231. Intimidade, pp. 314-315.
11 Correio da Noite, 18/VIII/1926, p. 5; 21/VIII/1926, pp. 5, 8; 22/VIII/1926,
p. 1; 24/VIII/1926, p. 5. A Reacção, 28/VIII/1926, p. 1.
12 Botto trabalhou como funcionário público em Angola durante quase to-
do o ano de 1924 e parte de 1925.
13 A Batalha, 2/IX/1925, p. 2.
14 Doc. 104/50.
15 Para mais informações sobre Luis Fernando de Orleans y Borbón e o
caso com Botto, ver Klobucka (2018), pp. 41-49.
16 Sobre as origens e a história do fado, ver Para Uma História do Fado
(Lisboa: Público, 2004; ed. revista, Lisboa: INCM, 2012), de Rui Vieira Nery.
17 Botto, «O verdadeiro Fernando Pessoa». Existem duas versões ligeira-
mente diferentes deste ensaio, parcialmente transcritas e publicadas por Ma-
ria José de Lancastre, «Pessoa e Botto: análise de uma mitografia», em Lan-
castre, Peloso e Serani (eds.), E Vós, Tágides Minhas — Miscellanea in Ono-
re di Luciana Stegagno Picchio (Viareggio: M. Baroni, 1999), pp. 393-404.
18 Doc. S7/38. CA, pp. 249-250.
19 A carta de 8/III/1927 de Pessoa a Botto faz parte da Colecção Fernando
Távora. Cópias dela e da segunda carta enviada a Botto, datada de
25/III/1927, encontram-se na CHP e foram publicadas em Botto (2010), pp.
155-163.
20 Este formato, que surgiu no século XIX, consistia numa quadra de mote,
seguida de quatro estrofes de dez versos, cada uma terminando, em sequên-
cia, com um dos versos da quadra inicial.
21 Pessoa guardou o duplicado do poema; deduzo que ele terá submetido
o original ao Sempre Fixe, o único periódico capaz de o publicar. O poeta ti-
nha um título alternativo e mais contundente para este fado, «Cantiga do
“Bristol”», que aludia ao edifício que serviu de quartel-general à rebelião de
Fevereiro em Lisboa. Fascismo, p. 94.
22 Mário Eloy (1900-1951), que passaria longos períodos em Berlim entre
1927 e 1931, foi o pintor expressionista mais importante de Portugal. O movi-
mento dadá não teve seguidores portugueses propriamente ditos.
23 Gaspar Simões (1974), pp. 52-53. Gaspar Simões, José Régio e a His-
tória do Movimento da «Presença» (Porto: Brasília Editora, 1977), pp. 56, 209-
210.
Capítulo 57
1 Pessoa a Luís Miguel Rosa, carta de 7/I/1929 (CHP). Pessoa juntou uma
cópia da carta para que Luís Miguel a entregasse ao irmão João.
2 Sousa (2010), pp. 54-55. Martins da Hora (1971), p. 47-51.
3 Esse estabelecimento ficava no cruzamento da Rua dos Fanqueiros com
a Rua de São Nicolau.
4 O contrato de vinte anos da companhia expirara na Primavera de 1926,
mas o controlo da indústria por essa empresa manteve-se até Março de 1927,
altura em que o governo militar alterou as condições contratuais e permitiu a
existência de um concorrente, criando assim um duopólio.
5 Pessoa guardou duplicados não assinados de três cartas enviadas à
Burley, duas datadas de 6/I/1927 e a última de 20/I/1927 (CHP).
6 Aquivo Militar Histórico, Caixa 4213, Processo 131/69.
7 Moitinho de Almeida (1985), pp. 24, 69, 78-79.
8 Manuel Martins da Hora — Publicitário (Lisboa: Câmara Municipal,
1997); Martins da Hora (1965); Martins da Hora (1971). Em 1927, a General
Motors assinou um contrato de âmbito mundial com uma agência publicitária
nova-iorquina, a J. Walter Thompson, que contratou a Agência Hora como su-
bagente em Portugal.
9 Pessoa, Contos Completos. Provavelmente, a brochura foi impressa no
final de 1928 ou em 1929.
10 Moitinho de Almeida (1985), pp. 49-53. O slogan de Pessoa apareceu
pela primeira vez no DL na edição de 16/VII/1927, p. 4, e, pela quarta e última
vez, a 5/VIII/1927, p. 4. O mesmo slogan foi publicado no DN (quatro edições,
entre 17/VII/1927 e 7/VIII/1927, sempre na p. 2) e n’O Século (quatro edições,
entre 17/VII/1927 e 14/VIII/ 1927, sempre na p. 3). Estes foram os únicos jor-
nais que consultei, com a ajuda de Marianna Silvano. Provavelmente, o slo-
gan também foi impresso em cartazes publicitários.
11 O Dr. Ricardo Jorge, que era o director-geral de saúde, emitiu essa opi-
nião a 23/XII/1927. Carlos Alberto Pires Costa, A Droga, o Poder Político e os
Partidos em Portugal (Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência,
2007), pp. 78-80.
12 Esse livro de entrevistas, À Volta das Ditaduras, foi lançado a
28/V/1927, primeiro aniversário da revolução que instaurou uma ditadura mili-
tar em Portugal. Ferro e Câmara tinham-se tornado amigos em Angola, no
ano de 1918, quando o segundo exercia o cargo de governador colonial e o
primeiro era seu secretário-geral.
13 Na carta de 3/V/1928 a José Régio, Pessoa declara ter escrito o mani-
festo a pedido de alguém «muito meu amigo». António Botto (1959) identificou
o amigo autor desse pedido como sendo Coelho de Jesus.
14 José Barreto, «A publicação de O Interregno no contexto político de
1927-1928», Pessoa Plural, Outono de 2012, pp. 174-207.
15 DL, 7/IV/1928, p. 8.
16 «Afonso Lopes Vieira. O poeta nacionalista», O «Notícias» Ilustrado,
3/VI/1928, p. 8. O Espólio Fernando Pessoa contém o original escrito à mão
desse artigo (docs. 125A/26-29). Pessoa, Sebastianismo, pp. 156-159.
17 David Davidson e Herbert Aldersmith, The Great Pyramid, 4.ª ed. (Lon-
dres: Williams & Norgate, 1927), gravuras LXV-c e LXVI, localizadas entre as
pp. 390 e 391; ver também pp. x, 26, 366, 387, 394, 400, 456.
18 DN, 8/VI/1928, pp. 1, 5. Fabrizio Boscaglia, «Fernando Pessoa, Blas In-
fante e Al-Mu’tamid», Colóquio Letras, Janeiro-Abril de 2016, pp. 148-160.
19 Além do mais, esse e outros acontecimentos futuros de grande impor-
tância ocultista tinham ficado «decididos» a 29/V/1928, o início da «tribulação
final», segundo Davidson e Aldersmith, The Great Pyramid. O «Notícias» Ilus-
trado, 15/VII/1928, p. 22; 22/VII/1928, p. 15. O Espólio Fernando Pessoa inclui
o original dactilografado somente do segundo dos artigos acerca de Al-Mu’ta-
mid (doc. 125/1), mas o primeiro também foi inquestionavelmente escrito por
ele. Pessoa, Sebastianismo, pp. 295-299. Devido aos protestos dos católicos,
a homenagem prevista a Al-Mu’tamid em Silves foi cancelada.
20 Passo composto para um prefácio a Aspectos, a projectada colectânea
da sua produção heterónima (doc. 20/73).
21 Doc. 92D/3. «God is God’s best joke.»
Capítulo 58
1 DN, 26/IV/1927, p. 1. Rui Sousa, «O jogo como problema na segunda
metade de 1920 na interpretação de Fernando Pessoa», Pessoa Plural, Outo-
no de 2020, pp. 427-505.
2 Manuel Domingos de Moura Teixeira, Mundanismo, Transgressão e Boé-
mia em Lisboa dos Anos 20 — O Clube Noturno como Paradigma (tese de
mestrado), Universidade Lusófona (Lisboa), 2012, pp. 29-36 (consultado onli-
ne). O jogo ainda continuou a ser tolerado por mais algum tempo no Maxim’s,
o mais antigo e maior dos clubes nocturnos e o último a encerrar, em 1933.
3 António Soares (1894-1978), um bom amigo de Augusto Ferreira Go-
mes, tinha concebido a capa do livrinho de Pessoa Antinous — A Poem.
4 Mega Ferreira (2005), pp. 135-145.
5 Desassossego, trechos 303, 322, 91.
6 «Orpheu como mera base», escreveu Pessoa nos planos rapidamente
abortados para uma nova revista (doc. 122/10v), cujo título não especificou.
7 Pessoa, A Educação do Estóico, pp. 26, 48.
8 Pessoa leu A Jovem Parca e outros poemas de Valéry, aos quais não
deu grande relevância, considerando-os uma continuação desinteressante da
obra de Mallarmé (doc. 14E/27). É possível que tenha lido algumas das refle-
xões do Senhor Teste publicadas durante a vida dele — num livro de 1926 in-
titulado Monsieur Teste, por exemplo.
9 Doc. 59/45v.
10 Pessoa, A Educação do Estóico, pp. 22-23, 29, 37.
11 Essa imagem pintada vem reproduzida em Lancastre (1981), p. 283, e,
a cores, em Objectos, p. 35. Entre os documentos (doc. 113P2/20), Pessoa
guardou uma transcrição dactilografada do título nobiliárquico conferido ao tri-
savô, em 1799, e publicado em Visconde de Sanches de Baena, Arquivo He-
ráldico Genealógico (1872), pp. 361-362. Esse título refere Leonor Francisca
Coelho de Ataíde (ou Athayde) na linhagem de Pessoa, conforme primeiro no-
tou Jerónimo Pizarro.
12 Moitinho de Almeida (1985), p. 28. Carlos Lobo de Oliveira, «Fernando
Pessoa e a sua genealogia», Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris 3,
n.º 24 (Abril de 1963), p. 81. A intenção de Pessoa de adquirir um ou mais
anéis, e de mandar arranjar um anel que já possuía, surge registada num blo-
co de notas por ele utilizado em 1919 (Objectos, pp. 204-205).
13 Pessoa, A Educação do Estóico — O Único Manuscrito do Barão de
Teive (1999). Manuela Parreira da Silva ajudou-me a decifrar os manuscritos
originais.
14 Passo intitulado «Exame de consciência». Desassossego, trecho 446.
Capítulo 59
1 Docs. 2721L4/19; 48/4.
2 Thomas Hunter Weir, Omar Khayyám The Poet, 1926. O exemplar de
Pessoa do Rubáiyát of Omar Khayyám de FitzGerald é uma reedição de 1928
de uma publicação de 1910. Ver Boscaglia (2016). Para os livros de Pessoa
referentes à cultura islâmica e do Médio Oriente, ver, além de Boscaglia,
«Anexo I», de Antonio Cardiello, «Os orientes de Fernando Pessoa», Pessoa
Plural, Primavera de 2016, pp. 182-184.
3 Doc. 14C/40 (em inglês).
4 Pessoa, Rubaiyat (2008), reúne todos os ruba’iyat de Pessoa, originais
ou traduzidos, bem como os passos em prosa que escreveu sobre Khayyam.
5 Pessoa incluiu três passos desse prefácio nunca terminado num envelo-
pe com material para o Livro do Desassossego (trechos 446-448). O passo ci-
tado é do trecho 446.
6 DL, 24/XII/1928, p. 32.
7 O «Notícias» Ilustrado, 30/XII/1928, p. 15.
8 Bilhete de agradecimento publicado em Imagens, p. 106. A carta de
l7/I/1929 enviada por Pessoa ao meio-irmão Luís Miguel (CHP) explica o de-
sentendimento e a subsequente reconciliação entre ele e a irmã.
9 Pessoa e Queiroz (2013), p. 25.
10 Albino Lapa e Rogério de Figueirôa Rego também foram membros fun-
dadores da Solução Editora. Rego ocupou o lugar de Saa e passou a ser o di-
rector da revista a partir do quinto número, publicado em Agosto de 1929.
Santos Pereira (2010), pp. 56-57; Albino Lapa, «A última blague de José Pa-
checo», DL, 3/V/1935, Supl. Lit., p. 3.
11 Botto publicaria a Antologia completa em 1944, acrescentando-lhe poe-
mas da autoria de Pessoa, dos heterónimos e de outros oito poetas.
12 Larbaud passou um mês em Lisboa no Inverno de 1926. António Ferro
e Almada Negreiros discursaram num banquete em sua honra; Pessoa detes-
tava e evitava banquetes.
13 Desassossego, trecho 340.
14 Caderno 144G/29, 39.
15 Moitinho de Almeida (1985), pp. 55-67.
16 Desassossego, trechos 3 e 5.
17 Ibidem, trecho 420.
18 Ibidem, trecho 1.
19 Ibidem, trecho 379.
20 Ferro, «Alguns precursores», O «Notícias» Ilustrado, 24/II/1929, pp. 11,
14.
21 Bettencourt, O Mundo das Imagens (Lisboa: Ressurgimento, 1928), pp.
75-78. A biblioteca pessoal de Fernando Pessoa inclui um exemplar deste li-
vro, assinado pelo autor em Agosto de 1928.
22 Antes de aparecer no livro Temas, Gaspar Simões publicou o ensaio
sobre Pessoa em A Águia, Janeiro-Março de 1929, pp. 221-228.
23 Desassossego, trecho 145.
24 Esse fogo posto ocorreu no século IV a.C., mas, na verdade, foi a ver-
são reconstruída do Templo de Ártemis, que ficou conhecido como uma das
Sete Maravilhas da Antiguidade. Manteve-se em pé até ao século V d.C.
25 Docs. 15B3/77-80. Alguns trechos podem ser reconduzidos a Março de
1929; há um que data de 1930 ou 1931. O título do ensaio surge numa lista
de planos de publicação (CHP; acessível online em pessoadigital.pt, CP 14).
Inicialmente, chamou-se «Anteros, or the Future of Attraction» (doc. 15B3/86).
26 Doc. 107/23. OE, vol. III, p. 252.
27 O Fedro ocupa o lugar cimeiro numa lista de nove diálogos platónicos
redigida por Pessoa quando estudava Filosofia no Curso Superior de Letras,
em 1906-1907 (doc. 153/28a).
28 Doc. 64/99v.
29 Edward Carpenter, The Intermediate Sex — A Study of Some Transitio-
nal Types of Men and Women (Londres: Sonnenschein, 1908), capítulo 2. Ver
também Carpenter, Love’s Coming-of-Age (Manchester: Labour Press, 1896).
Fernando Beleza alertou-me para a possível influência de Carpenter em Pes-
soa.
Capítulo 60
1 Luís de Montalvor tinha casado em 1910. Em 1928, a segunda mulher de
Alberto da Cunha Dias morreu.
2 Saa (2006), pp. 327-328; Gaspar Simões (1974), pp. 183-184. Saa e a
mulher casaram aos olhos da lei em 1951.
3 Registo de casamento reproduzido em Palmeirim (2016), p. 86.
4 Pessoa ajudou a tratar de alguma da documentação necessária para o
casamento, que teve lugar em Paris. Ver cartas de Ferreira Gomes a Pessoa,
entre Outubro e Novembro de 1930, em Pessoa, O Mistério da Boca do Infer-
no, pp. 123-170. Marcelle Ferreira Gomes enviou de França um postal sem
data (doc. 1152/63) a Pessoa dizendo que queria muito conhecê-lo.
5 Pinharanda Gomes (2005), p. 155.
6 Entrevista com Beatriz Costa in Semanário, 24/I/1986, pp. 32-33. Beatriz
Costa, Sem Papas na Língua (Lisboa: Europa-América, 1975), pp. 54, 58. É
difícil precisar em que altura Beatriz começou a frequentar o café, mas prova-
velmente não terá sido antes de 1930. As suas cartas e postais constantes do
espólio de Saa são de entre 1933 e 1940.
7 Desassossego, trechos 277 e 410. Ver também trechos 59 e 360.
8 «A tragédia temporária do poeta António Botto», O Jornal do Repórter X,
26/X/1929, pp. 1, 3. A irritação devia-se provavelmente à sífilis, ainda numa
fase inicial, mas Botto parece ter padecido também de tuberculose. O médico
aconselhou-o a fazer um tratamento no Sanatório Sousa Martins, especializa-
do na tuberculose. As cartas de Botto a Ferro, escritas durante e após a doen-
ça, fazem parte do espólio de António Ferro.
9 Gaspar Simões (1974), p. 125.
10 O hospital psiquiátrico do Telhal, perto de Sintra, continua a funcionar.
Rilhafoles, rebaptizado Hospital Miguel Bombarda em 1911, era a única insti-
tuição psiquiátrica existente em Lisboa durante a vida de Pessoa.
11 Cartas de Ofélia Queiroz a Fernando Pessoa datadas de 15, 16, 26, 30
e 31 de Outubro e de 1 de Novembro de 1929. O «cartão-de-visita» que ela
fez para Álvaro de Campos vem reproduzido em Pessoa e Queiroz (2013), p.
37.
12 Queiroz a Pessoa, 17/XII/1929.
13 Desassossego, trecho 235.
14 Queiroz a Pessoa, 9/X/1929 e 23/X/1929.
Capítulo 61
1 Do London Herald e do Daily Mail, ambos datados de 25/X/1929.
2 Lloyd George pertencia ao Partido Liberal e Churchill ao Partido Conser-
vador. Ramsay MacDonald, à época primeiro-ministro e membro do Partido
Trabalhista, era outro dos políticos a quem Pessoa fazia tenções de enviar o
questionário. Docs. 48H/3-4; 55E/17, 14. Fascismo, pp. 146-150.
3 Fac-símile da carta, com data de 14/XII/1930, publicado em Martins da
Hora (1965), p. 10.
4 A empresa Manuel Martins da Hora, Lda., sedeada na Rua da Prata, foi
criada em 1927. Ver Nuno Cardal e Rita Fragoso de Almeida, Grupo McCann
Portugal — 65 Anos de Publicidade (Lisboa: Texto Editora, 1994), pp. 11-14. A
firma anterior de Martins da Hora chamava-se Empresa Central de Publicida-
de (doc. 92M/58v).
5 Desassossego, trecho 9.
6 Nessas empresas, incluíam-se a Moitinho de Almeida, a Agência Hora e
a Toscano & C.ª (mais tarde, Toscano & Cruz).
7 Ofélia Queiroz a Fernando Pessoa, 2/III/1930. Docs. 46/48v; 120/42v. Al-
guma da mobília tinha estado guardada num apartamento que pertencia à fa-
mília do cunhado, no número 18 da Rua Campo de Ourique. O meio-irmão de
Pessoa, João Nogueira Rosa, que nunca mais o viu após 1920, afirmaria, em
1968, que ele viveu em quartos arrendados enquanto a família se encontrava
em Évora, mas Manuela Nogueira disse-me, com absoluta certeza, que o tio
Fernando viveu sempre na Rua Coelho da Rocha, entre 1920 e 1935.
8 Queiroz a Pessoa, 15/VIII/1930 e 14/IX/1930.
9 Desassossego, trecho 100.
10 Essa troca de presentes vem relatada na carta de 12/VII/1930 de Ofélia
ao sobrinho Carlos, que, em 1928, se mudara para Santarém, onde terminaria
por fim o liceu. Carta na Colecção Maria da Graça Queiroz.
11 Docs. 133F/86; 133B/97. Ofélia recordaria a última vez que se beijaram
nas cartas a Pessoa datadas de 14/IX/1930 e 7/X/1930.
12 João Gaspar Simões, que deu uma palestra neste salão, realizado na
Sociedade Nacional de Belas-Artes, recordaria o evento como tendo decorrido
em Junho quando, na verdade, se deu entre os dias 12 e 30 de Maio. Ver Jo-
sé-Augusto França (1992), pp. 370-375, e José-Augusto França, A Arte em
Portugal no Século XX, (Lisboa: Bertrand, 1974), pp. 195-197.
13 Gaspar Simões (1974), pp. 57-64; Quadros (1981), p. 143. No primeiro
relato desse encontro publicado por Gaspar Simões (Gaspar Simões [1936]),
a sensação com que ele ficou foi a de que Pessoa tentou apresentar-se como
Campos sem o conseguir.
14 Hourcade (1978), pp. 134, 157.
15 Pierre Hourcade, «Rencontre avec Fernando Pessoa», Contacts, n.º 3,
Junho de 1930, pp. 40-42.
16 Creio que essa qualidade escultural foi primeiro referida por António
Feijó, num ensaio de 1999 republicado em 2015 como o terceiro capítulo de
Feijó (2015). O quinto capítulo tece comentários sobre as transformações se-
xuais de Reis e Campos mencionadas nos dois parágrafos seguintes.
17 Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, 13/I/1935.
18 «Carta da corcunda para o serralheiro» (docs. 95/7-9). Rita Lopes
(1990), pp. 256-258.
19 Victor K. Mendes, «The Ecology of Writing: Maria José’s Fernando Pes-
soa», em Castro (2013), pp. 201-213. A carta de Maria José, a única obra que
Pessoa lhe atribuiu, ocupa três páginas e meia dactilografadas, mas ostenta a
assinatura dela.
20 Desassossego, trecho 56.
21 Doc. 208.
Capítulo 62
1 No semanário John Bull, 24/III/1923.
2 A grande maioria das cartas trocadas entre Pessoa e Crowley, a Mandra-
ke Press e associados de Crowley foi publicada pelo sobrinho de Pessoa,
Luís Miguel Rosa Dias (Miguel Roza), em Encontro Magick, ed. revista (Lis-
boa: Assírio & Alvim, 2010). Steffen Dix publicou uma edição mais completa e
rigorosa: Pessoa, O Mistério da Boca do Inferno — Correspondência e Novela
Policial. Ambos os lados dessa correspondência (duplicados, no caso das car-
tas de Pessoa) fazem parte do Espólio Fernando Pessoa, docs. 190-311.
3 O Espólio Fernando Pessoa inclui um duplicado da carta de Leal (doc.
113F/62-66). Publicada, com uma introdução e notas, por Manuela Parreira da
Silva (separata de A Ideia, n.os 75/76, Lisboa, 2015).
4 De acordo com um documento que escreveu em 1937, Crowley preten-
dia, nessa viagem a Lisboa, criar «uma sede para a Ordem sob o comando de
Don Fernando Pessoa». Para Marco Pasi, o estudioso que descobriu esse do-
cumento, Crowley «referia-se seguramente à Ordo Templi Orientis» (Pasi
[2014], pp. 19, 104). É possível que Crowley se referisse antes à ordem
A.·.A.·., mas ainda que as duas ordens fossem independentes, mostravam-se
ambas imbuídas das doutrinas de Thelema e atraíam muitos dos mesmos dis-
cípulos.
5 Marco Pasi, «Ordo Templi Orientis», em Hanegraaff (2006), pp. 898-906.
Hugh Urban, «Unleashing the Beast: Aleister Crowley, Tantra and Sex Magic
in Late Victorian England», Esoterica —The Journal of Esoteric Studies 5
(2003), pp. 138-192 (consultado a 5/V/2017, http://www.esoteric.msu.edu/Vo-
lumeV/Unleashing_the_Beast.htm).
6 Marco Pasi, «September 1930, Lisbon: Aleister Crowley’s Lost Diary of
His Portuguese Trip», Pessoa Plural, Primavera de 2012, pp. 253-283.
7 Doc. 215. Conforme observado por Pasi (2014, p. 193, nota 59), o sím-
bolo astrológico utilizado para datar essa carta corresponde a 3 de Setembro.
8 Doc. 295. CA, pp. 266-271.
9 A entrada do diário de Crowley para esse dia continuava assim: «À noite,
Iniciação.» Alguns estudiosos propuseram que se trataria da iniciação de Raul
Leal (que, na carta de 15/I/1930, comunicara realmente o desejo de ser inicia-
do por Crowley), que teria tido lugar no quarto arrendado por Leal, e que, pos-
sivelmente, Pessoa teria sido iniciado nessa mesma ocasião. No entanto, de
acordo com os dois relatos de Leal sobre as suas interacções com Crowley,
os dois ter-se-ão encontrado somente uma vez, no Café Martinho da Arcada,
com Pessoa a ir visitá-lo ao quarto algum tempo antes, provavelmente na vés-
pera, para o informar desse encontro, a que ele e Hanni Jaeger também com-
pareceram. («Carta de Raul Leal», Persona n.º 7, Agosto de 1982, p. 55; Se-
na e Leal [2010], pp. 39-41.) A iniciação referida nessa entrada do diário de
Crowley era certamente a de Hanni Jaeger («À noite» — de regresso ao hotel
no Estoril) num novo rito sexual ou num grau espiritual acompanhado por um
acto de magia sexual. A entrada prossegue com a descrição, em latim, de
uma sessão de penetração anal que constituía um «começo» para אמת
[emet], a palavra hebraica para «verdade». No dia seguinte, quarta-feira, Jae-
ger teve a sua primeira «visão astral».
10 O folheto foi enviado, a pedido de Crowley, na expectativa de que Pes-
soa pudesse ter amigos com dinheiro interessados em investir.
11 O poema, «Dá a surpresa de ser», tem por data 10/IX/1930.
12 DL, 27/IX/1930, p. 5. DN, 27/IX/1930, p. 6, e 28/IX/1930, p. 1. O Século,
28/IX/1930, p. 6. O «Notícias» Ilustrado, 4/X/1930, pp. 1, 8, 10, 14. Em De-
zembro, uma nova revista, a Girassol, publicou também um artigo especial so-
bre o desaparecimento de Crowley (16/XII/1930).
13 Um jornal dominical especializado em notícias sensacionalistas; o artigo
foi publicado na p. 5.
14 Recorte no Espólio Fernando Pessoa (doc. 250). Pessoa, O Mistério,
125.
15 Israel Regardie (1907-1985), o secretário pessoal de Crowley em Lon-
dres, tentou em vão atrair publicidade para essa história. Escreveu a Pessoa
a 27/X/1930: «Não há jornal que não tenha o pressentimento subconsciente
de que se trata de um truque e por isso ninguém quer nada com ela.»
16 O Século, 28/IX/1930, p. 6.
17 Karl Germer (1885-1962) sucederia a Crowley como líder da Ordo Tem-
pli Orientis. Regardie escreveria uma biografia de Crowley e republicaria uma
série de obras do mágico; lançaria ainda uma edição em quatro volumes dos
ensinamentos, ritos e cerimónias da Ordem do Amanhecer Dourado.
18 DL, 27/IX/1930, pp. 5, 8.
19 A novela incompleta (docs. 315-387) foi publicada em Pessoa, O Misté-
rio, pp. 377-437.
20 Isherwood, Diaries, vol. 1, 1939-1960 (Londres: Methuen, 1996), p. 550.
21 The Brotherhood of the Rosy Cross (1924), de Arthur E. Waite, e Histoi-
re des Rose-Croix (1925), de Frans Wittemans. Posteriormente, viria a adqui-
rir livros de Waite sobre a maçonaria e a lenda e o simbolismo espiritual do
Santo Graal.
22 Docs. 54/37-38, 55-58 e 60-63, que datam da segunda metade de
1925.
23 O melhor exemplo dessa verdade era Liber 777, um compêndio de ta-
belas em que se correlacionavam símbolos religiosos, mitos e fenómenos na-
turais entre si e com aspectos da cabala. Pessoa comprou Liber 777 em 1917
sem saber que era da autoria de Crowley, que o havia publicado anonima-
mente.
24 O poema veio incluído na carta de 20/X/1930 de Pessoa a «Karl Ger-
mer». Pessoa endereçou as cartas a Germer, com quem Crowley estava a vi-
ver, enquanto mantiveram a fraude do suicídio deste último.
25 No capítulo 27, cita-se na íntegra o passo relevante.
26 Doc. 48D/34. Desde 1917 que Pessoa planeava um livro com cinco
grandes poemas em inglês à volta do amor e do afecto humano: «Antinous»,
«Epithalamium», «Prayer to a Fair Body», «Divineness» e «Spring 1917»
(docs. 31/93-94; 48B/64; 48D/30). Ver Frias (2012), para reflexões sobre o
«Quinto Império do Amor» de Pessoa.
27 Doc. 299. Pessoa, O Mistério, 301.
28 CHP. Fac-símile publicado pela primeira vez em Intimidade, p. 190.
Capítulo 63
1 Pessoa tinha telefonado para a casa onde eles viviam com Joaquina, a
mãe de Carlos. A carta de Ofélia leva a crer que ela estava em casa quando
Pessoa ligou, mas ele não pediu para falar com ela.
2 Mário Domingues, «Profecias fatídicas de um árabe», Repórter X,
4/IV/1931, pp. 8-9, 14.
3 Câmara Reis (1939). Luís da Câmara Reis, «Boletim». Câmara Reis
(1885-1961) foi membro fundador e, durante muito tempo, um director da Sea-
ra Nova. Os jantares, que ocorriam na casa de Fernando Lobo de Ávila Lima,
membro da Junta de Educação Nacional, também vêm referidos nas cartas de
Ofélia Queiroz a Pessoa.
4 Sobre o papel de Pessoa como agente lisboeta da Monarquia do Norte:
Eco de Estremoz, 30/XII/1972, pp. 1, 4; desenvolvido em «A abusiva apropria-
çao esquerda da figura ímpar de Fernando Pessoa», Cidade de Tomar,
8/II/1980, pp. 6, 9, e em «Evocando Fernando Pessoa», O Comércio de Gaia,
18/VIII/1989, última página. Sobre Pessoa como guarda do cadáver de Sidó-
nio: «Evocando Fernando Pessoa», Cidade de Tomar, 27/V/1988, p. 7.
5 Os artigos surgiram em seis jornais: Eco de Estremoz, 1972-1973; Cida-
de de Tomar, 1980-1990; Notícias de Guimarães, Fevereiro-Abril de 1984; O
Comércio de Gaia, 1984-1989; Consciência Nacional, Outubro-Dezembro de
1985; e Jornal da Bairrada, Julho de 1985-Março de 1986. Haverá sem dúvida
mais artigos que não consegui descobrir, nestes e possivelmente noutros jor-
nais.
6 Moitinho de Almeida (1985), p. 101.
7 Sobre o bordel: Cidade de Tomar, 15/VII/1983, p. 8. Sobre a roupa coça-
da (embora imaculada): Eco de Estremoz, 9/XII/1972, pp. 1, 6. Sobre os quar-
tos miseráveis: Eco de Estremoz, 26/V/1973, pp. 1, 3; 9/VI/1973, p. 8.
8 Ao vasculhar milhares de edições de obscuros jornais regionais para de-
senterrar todos os artigos que Bourbon escreveu sobre Pessoa, deparei com
um outro artigo dele em que o autor praticamente admitia ser um negacionista
do Holocausto, opinando que Hitler tinha sido «objecto de muitas difamações
e calúnias». Ver «A exposição de aguarelas de Adolfo Hitler», O Comércio de
Gaia, 15/II/1985, pp. 1, 5. É provável que Bourbon, graças a um amigo co-
mum, tenha estado de facto com Pessoa por diversas ocasiões, porventura no
Café Montanha, e algumas das suas asserções acerca do que foi dito nesses
encontros podem ser verdade, mas é impossível saber quais.
9 Doc. 48/2, datável de 1930.
10 Docs. 121/79; 48B/18, 22, 34, 62v.
11 Desassossego, trecho 149, datado de 3/III/1931. Ver também doc.
2
15 /63.
12 O Espólio Fernando Pessoa inclui listas de encomendas e facturas rela-
tivas a alguns dos livros adquiridos (docs. 28A/4; 93A/2; Anexo IV/1-2).
13 Trata-se da segunda estrofe de «Oiço passar o vento na noite», datado
de 24/IX/1923.
14 Desassossego, trecho 443, escrito em 1915.
15 Doc. 54/78. Ver também doc. 53/69.
16 A versão em língua inglesa que Pessoa tinha do Novo Testamento era
a edição Westcott-Hort (1881), que praticamente todas as edições críticas
subsequentes seguiram de perto.
17 Num «currículo» autobiográfico datado de 30/III/1935. EA, pp. 203-206.
18 Doc. 54B/12.
19 Desassossego, trecho 144, datado de 1/II/1931.
20 Docs. 53B/37-38, 41-42.
21 Docs. 54/42, 46.
22 Doc. 54A/18.
23 Doc. 54/99.
Capítulo 64
1 Yeats foi o padrinho de Georgie Hyde-Lees quando esta ingressou na or-
dem, em 1915, dois anos antes de casarem.
2 Desassossego, trecho 263.
3 Ibidem, trecho 262.
4 As semelhanças e diferenças entre o pensamento de Pessoa e os con-
ceitos budistas são analisadas em Borges (2017), pp. 15-71. O Buda é a per-
sonagem central num dos «dramas estáticos» mais interessantes de Pessoa,
Sakyamuni, que revela todavia parca compreensão das doutrinas budistas
elementares: Pessoa, Teatro Estático, pp. 153-168.
5 Nos seus escritos, Pessoa citou o versículo de São Paulo (Filipenses
2:12) pelo menos três vezes (docs. 26B/51; 55D/25v; 125B/19).
6 Docs. 92M/49-50, 68. Fascismo, pp. 161-164.
7 Desassossego, trecho 259.
8 Docs. 125A/15; 143/14; 123/96.
9 J.A. Moreira de Castro, Nova Selecta Portugueza (Porto: Typ. de José da
Silva Mendonça, 1896), pp. 209-210.
10 Esta recordação era sem dúvida do próprio Pessoa, que, no entanto, a
comunicou através de Bernardo Soares, no mesmo trecho do Livro do Desas-
sossego em que declarou que a pátria dele não era Portugal, mas a língua
portuguesa.
11 Doc. 14E/53.
12 Pessoa possuía e estudou Milton’s Prosody, de Robert Bridges, e Clas-
sical Meters in English Verse, de William Johnson Stone, publicados em con-
junto pela Oxford University Press em 1901.
13 Leonardo da Vinci and a Memory of His Childhood, tr. Alan Tyson, in
The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud,
ed. James Strachey (Londres: Hogarth Press/Institute of Psycho-Analysis,
1957), pp. 131-132 (consultado online).
14 Ibid., pp. 69, 133. Sigmund Freud, Un souvenir d’enfance de Léonard
de Vinci (Paris: Gallimard, 1927), pp. 27-28, 204.
15 Docs. 133D/17-20. Embora sem data concreta, estas comunicações fo-
ram escritas em papel com marca de água Grahams Bond Registered, muito
utilizada por Pessoa em 1931 — para trechos do Livro do Desassossego, di-
versos poemas e outros textos.
16 No ano que se seguiu à morte de Pessoa, Gaspar Simões publicou, na
Presença (Julho de 1936, pp. 17-22), a longa carta que recebera e um longo
artigo que discordava de alguns dos argumentos apresentados.
17 Desassossego, trecho 260.
18 O ensaio de Eliot era uma recensão de The Problem of «Hamlet»
(1919), de John M. Robertson. Pessoa tinha esse livro e «Hamlet» Once More
(1923), também de Robertson, que refere a recensão de Eliot, mas não o con-
ceito do «correlativo objectivo». É muito provável, ainda que não esteja prova-
do, que Pessoa tenha lido o ensaio de Eliot sobre Hamlet.
19 Virginia Woolf, Roger Fry (Londres: Hogarth Press, 1940). Deparei com
este comentário no magnífico ensaio de James Woods sobre Woolf (parte da
colectânea de 1999 The Broken Estate).
20 A caracterização que faço e as impressões que deixo sobre Eliot são
em grande medida baseadas na biografia admiravelmente imparcial de Lyn-
dall Gordon (1998). Para efeitos da comparação que estabeleço com Pessoa,
a minha abordagem a Eliot assume uma nota mais crítica e menos favorável.
Capítulo 65
1 Docs. Anexo IV/1-3, 7.
2 José Luís Cardoso, «The Great Depression in Portugal: Diagnoses and
Remedies», em The Great Depression in Europe: Economic Thought and Po-
licy in a National Context, ed. Michalis Psalidopoulos (Atenas: Alpha Bank,
2012), pp. 361-393 (consultado online).
3 «Eleazar Kaminetzky, o apóstolo da vida simples», Jornal do Brasil,
29/XII/1915 (artigo no Espólio Kamenetzky, E43/27). Tanto o nome como o
apelido de Kamenezky foram grafados de várias maneiras ao longo da sua vi-
da.
4 Alguns anos mais tarde haveria de participar em vários filmes portugue-
ses, interpretando papéis de russo. Morreu em 1957 e foi enterrado no Cemi-
tério Israelita de Lisboa. Esboço biográfico baseado em documentos do Espó-
lio Kamenezky e no artigo «Figuras excêntricas da nossa terra», Ilustração,
16/X/1928, pp. 20-21.
5 Em 1991, a versão inglesa incompleta de Pessoa (envs. 80-82) foi tradu-
zida para italiano e publicada como romance de sua própria autoria: Pessoa,
Eliezer (Roma: Lucarini, 1991). Ver Ivo Castro, João Dionísio e Luís Prista,
«Eliezer: ascensão e queda de um romance pessoano», Revista da Biblioteca
Nacional, 1992 (1), pp. 75-136.
6 Traduções de Pessoa dos poemas líricos de Kamenezky: docs. 91/1-115.
Poemas em prosa de Kamenezky e traduções de Pessoa dos mesmos: docs.
94/5-6, 17-63, 66-73. (O Espólio Kamenezky contém os originais dactilografa-
dos das traduções de Pessoa.)
7 Docs. 28/3; 48B/92, 113v, 149v, 55F/53v-54. Caderno 153/58.
8 Pessoa também dactilografou alguns dos poemas para o livro, um servi-
ço pelo qual foi certamente pago.
9 DL, 29/II/1932, p. 1. Segundo o autor, «Acrómios» é uma palavra portu-
guesa rara que se refere aos astros que nascem após o acaso do Sol; no en-
tanto, não a encontrei em nenhum dicionário. Moitinho de Almeida (1985), p.
32.
10 Cartas Que Me Foram Devolvidas.
11 Na sua introdução aos Poemas Ingleses de Pessoa (Lisboa: Ática,
1974), Jorge de Sena sugeriu primeiro, baseado num argumento um pouco di-
ferente, que Botto poderia ser encarado como um heterónimo de Pessoa. Se-
na (1984), p. 328.
12 Botto a Ferro, 3/II/1930 (Espólio António Ferro). Sobre Botto e Carmin-
da Rodrigues, ver Klobucka, pp. 152-159.
13 Nogueira (2015), p. 62.
14 O ritual de barbeiro foi primeiro descrito por Henriqueta Rosa Dias, irmã
de Pessoa e mãe de Manuela. Os relatos de Manuela Nogueira do ritual dife-
rem em alguns pormenores. Intimidade, p. 313; Nogueira (2015), pp. 59-60.
15 Entrevista com Manuela Nogueira.
16 Teixeira Rebelo (1985), p. 6.
17 Desassossego, trechos 50, 130.
18 Ibidem, trechos 24, 279, 18.
19 Era tia-avó do poeta e professor universitário Jorge de Sena. Sena
(1984), pp. 159-160.
20 A agência funerária Barata trataria do funeral de Pessoa; Esteves é o
declarante na certidão de óbito.
21 Desassossego, trecho 317.
Capítulo 66
1 No dossier da carreira militar de Mário Freitas, estão registados os lon-
gos períodos de baixa por doença. Arquivo Histórico Militar, Caixa 2190.
2 Segundo a irmã Teca, citada em Intimidade, p. 241. Ver também Desas-
sossego, trecho 208.
3 Docs. S2/19-20.
4 Docs. 901/61; 902/87, 89, 98; S2/37, 43, 49-51; S3/83; S6/7.
5 Doc. 901/55 (em inglês).
6 Ribeiro de Meneses (2009), p. 79.
7 A história deste movimento vem exaustivamente descrita em Costa Pinto
(2015).
8 Numa nova revista, Fama, cujo director era Augusto Ferreira Gomes.
9 Doc. 48B/34.
10 Os docs. S2/14-16 consistem em horóscopos traçados a 13, 16 e 17 de
Agosto de 1932.
11 O Século, 1/IX/1932, p. 10; Pessoa guardou esse anúncio (doc.
135/82). António Navarro, poeta e admirador, relataria posteriormente que o
trabalho de Pessoa como escritor de cartas freelance lhe garantia à volta de
trezentos escudos por mês (DL, 22/I/1937, Supl. Lit., pp. 3-4). Trata-se de um
montante implausivelmente baixo, tendo em conta que Pessoa, como salário
a tempo parcial, tinha pedido oitocentos escudos por mês ao escritório de Ma-
drid da J. Walter Thompson, em 1929.
12 Arquivo do Museu Condes de Castro Guimarães. Signa Teixeira Rebelo
(1986) afirmaria ter sido ela a apresentar as candidaturas do pai e do padri-
nho, Fernando Pessoa. Um fac-símile do dossier de candidatura de Pessoa
está disponível em Teresa Rita Lopes, Fernando Pessoa — A Biblioteca Im-
possível (Cascais: Câmara Municipal, 1995).
13 Pereira Faísca, Exílio, 50.
14 Doc. 901/58. Pessoa tinha a edição de 1930 de The White-Magic Book,
de Mrs. John Le Breton, publicado pela primeira vez em 1919.
15 Essa biblioteca contém aproximadamente dois mil e oitocentos livros.
Bonvalot (1893-1934) foi nomeado director interino. Nos artigos muito pouco
fiáveis que escreveu acerca de uma tertúlia que supostamente se reunia no
Café Montanha, Francisco Peixoto Bourbon relatou que Pessoa, algum tempo
depois de saber que não tinha sido escolhido para o cargo, pousou a cabeça
na mesa e chorou convulsivamente (Eco de Estremoz, 10/II/1973, p. 6). O que
é apenas um pouco menos implausível do que a história de ele ter uma prosti-
tuta preferida num bordel.
16 Doc. 29/12. Escrito a 9/XI/1932.
17 Doc. 54A/4.
18 Docs. 54/19; 54A/4.
19 Doc. 54A/2.
20 Docs. 54A/3, 9.
Capítulo 67
1 António Ferro, «Política do espírito», DN, 21/XI/1932, p. 1.
2 Luís Manuel Gaspar, cronologia da vida e obra do artista, em José de Al-
mada Negreiros — Uma Maneira de Ser Moderno (catálogo da exposição),
ed. Mariana Pinto dos Santos (Lisboa: Fundação Gulbenkian/Sistema Solar,
2017), p. 395.
3 José de Almada Negreiros, «Um ponto no i do futurismo», DL,
25/XI/1932, pp. 5, 8.
4 Fernando Pessoa a António Ferro, 11/III/1933. Três anos antes, a
7/IV/1930, Pessoa escrevera a Ferro a elogiá-lo por uma série de entrevistas
realizada em Espanha e, de maneira mais genérica, pelo seu estilo expressivo
e vigoroso como jornalista.
5 Docs. 92M/77, 74-76. Tanto Rita Lopes (em Pessoa, Pessoa Inédito, pp.
365-366) como Barreto (em Fascismo, pp. 179-180) apontam 1932-1933 co-
mo data para estes dois documentos. É possível que assim seja, mas a minha
conjectura é 1934-1935.
6 Docs. 92/64-67. Fascismo, pp. 186-191.
7 Doc. 92M/77. Fascismo, p. 180.
8 Os outros três artistas foram Jorge Barradas (1894-1971), Stuart Carva-
lhais (1887-1961) e Francisco Keil do Amaral (1910-1975). Diário da Manhã,
15/III/1933, p. 2; 16/III/1933, p. 3.
9 Diário da Manhã, 10/III/1933, p. 3.
10 Doc. 92I/51. Pizarro (2007), p. 216.
11 Matos e Lemos (2006), p. 234.
12 Ellen Sapega, «Staging Memory», in Consensus and Debate in Sala-
zar’s Portugal (University Park: Pennsylvania State University Press, 2008),
pp. 9-45.
13 As regras dos prémios foram anunciadas em DN, 29/XI/1933, p. 1, e
noutros jornais.
14 Doc. 92F/52. Publicado pela primeira vez no Expresso, no suplemento
«40 anos após a morte de Fernando Pessoa», 6/XII/1975, p. 1.
Capítulo 68
1 Docs. 51/89; 133F/28v.
2 Cahiers du Sud, Janeiro de 1933, pp. 66-73. Para além dos poemas de
Campos e de Caeiro, as traduções incluíam também as duas estrofes finais
de «O último sortilégio», de Pessoa, erroneamente identificado como um poe-
ma de Caeiro.
3 Desassossego, trecho 338.
4 Docs. 107/23-25. OE, vol. 3, pp. 252-54.
5 Botto (2010), pp. 17, 325. DL, 12/VII/1935, p. 4.
6 Wilson, «Ulysses», The New Republic, 5/VII/1922, pp. 164-166.
7 Desassossego, trecho 150 (entre outros).
8 Ellmann (1959), p. 528.
9 Almada Negreiros, Textos de Intervenção (Lisboa: Editorial Estampa,
1972), p. 173.
10 Poema datado de 21/V/1917.
11 Desassossego, trecho 193.
12 Ibidem, trecho 79.
13 Ibidem, trecho 441.
14 Docs. 54B/7, 16v; 54/97; 54A/51, 52, 61. Podem ser encontradas trans-
crições dos trechos que Pessoa compôs para «An Essay on Initiation», Sub-
solo e O Caminho da Serpente em Centeno (2003).
15 Poema datado de 23/IX/1933.
Capítulo 69
1 Gaspar Simões (1936).
2 Hourcade (1978).
3 Docs. 277W/11-12, 6, 9. Pessoa, A Hora do Diabo, 25-26, 29.
4 O Espólio Fernando Pessoa inclui um duplicado da carta de Pessoa, da-
tada de 28/I/1934 (docs. 1143/65-66). O artigo a que essa carta ao director se
refere tinha sido publicado no jornal A Voz, 24/I/1934, p. 2. Ver Fascismo, pp.
225-226.
5 «The Jews and Freemasonry»: docs. 53/14-18, 20-43; 53A/17, 66-68,
83-87. As citações provêm dos docs. 53/14 e 32. Na última frase citada, e a
bem da clareza, substituí duas vírgulas por travessões.
6 Docs. 92A/62-64; 92E/55-58. Fascismo, pp. 209-213. Estes passos não
estão assinados por Thomas Crosse, mas «Dictatorships» aparece numa lista
de artigos de Crosse com data aproximada de 1934 (doc. 143/13).
7 Avante!, 3/II/1934, pp. 3-5, 7-8. O comício decorreu em 28 de Janeiro.
8 «Fernando Pessoa», Avante!, 16/XII/1935, pp. 3, 6.
9 Costa Pinto (2015), capítulo 5. Ribeiro de Meneses (2009), pp. 128-129.
10 Desassossego, trecho 473.
11 Doc. 2/60. Desassossego, Apêndice.
12 Thomas Carlyle, «The Hero as Poet». Pessoa leu esta palestra enquan-
to estudava em Durban. Carlyle foi buscar a locução latina a Horácio.
13 Doc. 6/6. Pessoa, A Educação do Estóico, pp. 48-49.
14 «A Senhora da Agonia» (doc. 17/41v), datado de 11/VII/1934.
15 Doc. 54/44.
16 Doc. 53B/25 (em inglês).
17 Docs. 53/63; 54B/4. Outras perguntas e respostas, bem como discur-
sos, do ritual inventado: docs. 26/101; 53/62, 64, 65, 89. Duas das folhas têm
por data 3/IX/1934. A maior parte do ritual foi transcrito em Rita Lopes (1990),
pp. 98-104.
18 Doc. 54A/91 (em inglês).
19 Doc. 53/81.
20 Em determinadas notas sobre graus iniciáticos, Pessoa idealizou um
«Abade da Quintessência» (Doc. 53A/59).
21 Docs. 54B/20 (em inglês); 53/9v (em inglês); 53A/59.
22 Docs. 54B/17-18. Ver também o texto que começa com «Dividiu Aristó-
teles» (docs. 16/61-62), in OE, vol. V, pp. 150-151.
Capítulo 70
1 José Blanco, «A verdade sobre a Mensagem», Fundação António Qua-
dros (consultado online). «No XIV aniversário da morte de Fernando Pessoa:
algumas revelações curiosas do seu primeiro impressor Armando de Figueire-
do», Átomo, 30/XI/1949, p. 16. Uma data escrita a lápis na cópia dactilografa-
da de Mensagem — 23/VIII/1934 — parece indicar o dia, uma quinta-feira, em
que foi recebida pelo tipógrafo, embora uma carta de Augusto Ferreira Gomes
a João Gaspar Simões, datada de 7/XI/1949 (espólio de Alberto Serpa, Biblio-
teca Municipal do Porto; publicada em Pessoa Plural, Primavera de 2018, pp.
335-336) dê a entender que terá sido entregue ao tipógrafo numa segunda-
feira.
2 Doc. 125A/25. O poema que Pessoa reescreveu foi «Afonso de Albu-
querque», em homenagem ao militar que conquistou Goa e outras terras indi-
anas para os portugueses.
3 Docs. 17/51v; 905/83v.
4 No Verão de 1926, na Casa de Saúde do Telhal.
5 Fac-símiles de duas páginas e uma transcrição parcial deste extravagan-
te texto em prosa — cedido a Pessoa (CHP) — foram publicados por Rui Lo-
pes, «Inéditos de Raul Leal», Pessoa Plural, Primavera de 2013, pp. 77-79.
6 DL, 28/IX/1934, p. 4. Novidades, 29/IX/1934, p. 6. DN, 30/IX/1934, p. 6.
7 O artigo intitulava-se «Marcha sobre Roma». Docs. 26/29-31; 48B/90.
8 «A Igreja Católica cobriu como uma redoma», datado de 20/IV/1934.
9 «Mensagem (poemas)», A Voz, 9/XII/1934, p. 8.
10 DL, 14/XII/1934, Supl. Lit., p. 5; DL, 6/IX/1950, p. 9. Mota Ribeiro e Se-
na (2003), p. 25.
11 O «Notícias» Ilustrado, 23/XII/1934, p. 9.
12 Fradique, 20/XII/1934, p. 1.
13 Moitinho de Almeida (1985), pp. 43-48.
14 Entrevista a Margarida Soares Couto.
15 Este episódio foi-me relatado por Manuela Nogueira, a sobrinha de
Pessoa, que o ouviu contado pelos pais.
16 O empregador de John Rosa era a londrina Helbert, Wagg & Co. Ltd.
Entre 1924 e 1928, tinha trabalhado para o Banco Otomano, em Istambul, e
trabalharia mais tarde para o Ministério das Colónias, ajudando a projectar o
desastroso «plano dos amendoins», com o qual a Grã-Bretanha, para ameni-
zar a escassez de óleo alimentar, pós-Segunda Guerra Mundial, tentou culti-
var amendoins no Tanganica (actualmente, parte da Tanzânia). Conheceu Ei-
leen Anderson (1902-1987) na London School of Economics e casou com ela
a seguir a um longo namoro. Não tiveram filhos.
17 Os duplicados das cartas de Pessoa (datadas de 2/II/1934, 28/II/1934 e
24/X/1934) e as cartas originais de John Rosa (datadas de 5/III/1934 e
31/XII/1934) fazem parte da CHP; fac-símiles dos duplicados podem ser con-
sultados nos Hubert Jennings Papers («Transcriptions by Xerox [T2b]») do
Repositório Digital da Universidade de Brown. No caso da fábrica de pólvora,
Pessoa representou Francisco Camelo, proprietário da Sociedade Africana de
Pólvora. Para as outras propostas de negócios, agiu como intermediário da
empresa Gouveia & Carvalho.
18 Patricia Silva McNeill ([2010], pp. 70, 111, 166), justapõe o «anti-eu» ye-
atsiano à utilização dos heterónimos por Pessoa.
19 Jornal de Letras, 26/XI-2/XII/1985, p. 11; Expresso, 4/VI/1988, «Revis-
ta», p. 49. Foi através do primo Victoriano Braga que Pessoa arranjou trabalho
como explicador. Calvet de Magalhães foi co-fundador da Editora Confluência,
que, em 1942, publicaria Poesia, uma antologia de poemas de Pessoa que ti-
nham surgido em periódicos.
20 Docs. 48D/16 (datado de 1933 ou posterior) e 63/31 (datado de Julho
de 1935).
21 Na carta de 24/XII/1934 a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa disse-lhe
que sofria há já vários meses de «uma crise neurasténica».
22 Doc. 1158/62.
23 O texto integral da colaboração de Pessoa para o álbum de Correia Di-
as foi publicado em Saraiva (2015), pp. 343-344. Meireles e Correia Dias che-
garam a Portugal em 9 de Outubro e voltaram para o Brasil em 21 de Dezem-
bro. Meireles deu três palestras em Lisboa. Após a morte da poeta, em 1964,
o segundo marido espalhou a história de que Pessoa havia deixado um bilhe-
te no hotel responsabilizando um horóscopo, que avisava que não se deviam
encontrar, pelo facto de não ter aparecido no café. Meireles, no relato que fez
a Armando Côrtes-Rodrigues de ter esperado em vão por Pessoa, não menci-
ona tal bilhete. Leila Vilas Boas Gouvêa, Cecília em Portugal — Ensaio Bio-
gráfico sobre a Presença de Cecília Meireles na Terra de Camões, Antero e
Pessoa (São Paulo: Editora Iluminuras Ltda., 2011), pp. 57, 66; Saraiva
(2015), p. 201.
24 Maria José Almada Negreiros, Conversas com Sarah Affonso, pp. 98-
99.
25 Um fac-símile da dedicatória, com a data de 18/XI/1934, foi publicado
em Objectos, p. 230.
26 A acta das deliberações do júri encontra-se arquivada na Fundação An-
tónio Quadros e pode ser consultada online.
Capítulo 71
1 DL, 31/XII/1934, p. 16.
2 Avante!, 16/XII/1935, pp. 3, 6.
3 Doc. 47/23v. Pessoa, Poesia: 1931-1935 e não Datada, pp. 441-442.
4 Polémica entre Gaspar Simões e Reis: Fradique, 31/I/1935, pp. 5, 7;
14/III/1935, pp. 1, 7; 4/IV/1935, pp. 1, 5; 30/V/1935, p. 5. Artigo de Castro
Osório: DL, Supl. Lit., 22/II/1935, p. 6. Vasco Reis, cujo nome verdadeiro era
Manuel Reis Ventura, deixaria o sacerdócio, casaria e fixar-se-ia em Angola,
onde trabalhou como jornalista e escreveu romances colonialistas, além de
poesia.
5 Avante!, 13/I/1935, p. 5. Almeida assinava as recensões com o pseudóni-
mo de Fernando Trigueiros. Ver também Moitinho de Almeida (1985), pp. 84-
85.
6 Fradique, 6/VI/1935, p. 5.
7 Alice Ogando, «Mensagem — Poemas de Fernando Pessoa», O Diabo,
27/I/1935, p. 4.
8 João de Castro Osório, «A Mensagem do desejado: o sentimento sebas-
tianista na moderna poesia», DL, 12/IV/1935, Supl. Lit., p. 6.
9 Caio Gagliardi, «Mário Beirão e Fernando Pessoa: Lusitânia intertexto de
Mensagem», Pessoa Plural, Primavera de 2014, pp. 70-87.
10 Caderno 144Q/42v.
11 Doc. 125A/13. Pessoa, Sobre Portugal, p. 240.
12 Doc. 133A/37. A comunicação incluía também a expressão «Valete,
Fratres».
13 Doc. 54A/56 (em inglês). Ver também docs. 53B/44-45.
14 Arthur E. Waite, The Brotherhood of the Rosy Cross (1924; na biblioteca
pessoal de Fernando Pessoa), 449-450. Doc. 53A/69 (em inglês). Num passo
de um ensaio sobre Goethe, Pessoa traçou um «processo alquímico» seme-
lhante, em quatro fases, para se atingir a genialidade (doc. 19/4). Pessoa, So-
bre a Arte Literária (Lisboa: Assírio & Alvim, 2018), pp. 164-165.
15 Sobre a «fé» de Pessoa no ocultismo: Adolfo Casais Monteiro, «O in-
sincero verídico» (1954), em Casais Monteiro, A Poesia de Fernando Pessoa
(Lisboa: INCM, 1985), pp. 87-106.
Capítulo 72
1 Docs. 113P1/87-90; 113I/31-36.
2 Maria José da Graça Ferreira do Amaral (1908-2001), que trabalhou num
dos escritórios onde Pessoa escrevia cartas comerciais, relatou que esse arti-
go foi publicado graças a uma amiga dela que trabalhava na Comissão de
Censura (Intimidade, p 151). Porém, conforme José Barreto realça, os censo-
res eram todos oficiais do exército e inflexivelmente fiéis aos ideais do Estado
Novo; ver posfácio de Barreto a Pessoa, Associações Secretas e Outros Es-
critos, pp. 239-288.
3 Diário da Manhã, 25/I/1935, p. 3; 5/II/1935, p. 1.
4 Fradique, 14/II/1935, p. 1.
5 X: Semanário de Grandes Reportagens, 14/II/1935, p. 4. O artigo não as-
sinado era da autoria do director da revista, Reinaldo Ferreira (1897-1935),
popularmente conhecido como Repórter X.
6 José Cabral, «Chove no templo…», A Voz, 6/II/1935, p. 1. José Cabral,
«O projecto de lei sobre associações secretas: o sr. dr. José Cabral responde
ao artigo do sr. Fernando Pessoa», DL, 7/II/1935, pp. 1, 4.
7 Foto XX, pp. 164-165, contém fac-símiles de documentos relevantes da
Direcção-Geral dos Serviços de Censura à Imprensa, arquivados na Torre do
Tombo.
8 DL, 1/II/1935, p. 5. O Diabo, 3/II/1935, p. 1, e 10/II/1935, p. 8. Barreto,
posfácio a Pessoa, Associações Secretas, pp. 250-251.
9 Diário da Manhã, 25/II/1935, pp. 1, 3, 4, 6.
10 Docs. 92L/94, 89-90.
11 DN, 22/II/1935, pp. 1, 4. Diário da Manhã, 22/II/1935, pp. 1, 2, 7. A Voz,
22/II/1935, pp. 1, 6. O discurso de Salazar consistia em excertos de um prefá-
cio para uma compilação dos seus discursos que seria publicada em Março.
As palavras de Séneca eram tiradas do capítulo 9 do seu De tranquillitate ani-
mi (Sobre a Tranquilidade da Alma).
12 Doc. 129/51. Fascismo, pp. 265-266. Estas palavras faziam parte de
um artigo (inacabado) que Pessoa esperava publicar no DL.
13 Docs. 92L/85.
14 Quase dois anos depois de o poeta morrer, em 11/IX/1937, um censor
menos atento permitiu que a Seara Nova publicasse «Liberdade».
15 Pedro da Silveira relatou a proposta de publicar «Liberdade» e a histó-
ria subsequente, bem como a circulação oral de um dos poemas anti-Salazar
de Pessoa, em «Nota adicional», Seara Nova, Julho de 1974, p. 20. Sobre Rui
Santos: Pedro da Silveira, em Merelim (1974), p. 107. Santos era primo de
Maria Adelaide dos Santos Ortega, filha de Maria da Cruz Pessoa Chaves,
que foi criada por Lisbela Pessoa Machado.
16 Ferreira de Seixas, (1979), p. 7.
17 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT). Foi sucedida,
após a revolução de 1974, pelo Instituto Nacional para o Aproveitamento dos
Tempos Livres (INATEL).
18 «Saudação a todos quantos querem ser felizes», datável de Setembro
de 1935 (caderno 144F/4v).
Capítulo 73
1 Docs. 48B/34; 92A/26; 92U/34; 111/34-35; 143/13. Ver também «Aponta-
mentos para publicações» (CHP), consultável em pessoadigital.pt (CP 808).
2 Doc. 151/87, com data aproximada de 1925. Noutro documento, tinha es-
crito, também em português: «Só existem nações; não existe humanidade»
(doc. 23/42). Ver também docs. 23/43; 55H/3-4.
3 Fernando Pessoa a João Gaspar Simões, 11/XII/1931.
4 Desassossego, trecho 349.
5 Docs. 92H/48; 904/47.
6 O jornalista era Artur Portela: DL, 6/IX/1950, p. 9.
7 Raul Leal a João Gaspar Simões, carta de 23-24/VII/1950, publicada em
Persona 7, Agosto de 1982, pp. 54-57. CA, pp. 64-66. Cf. doc. S3/78.
8 Doc. S2/3.
9 Almada Negreiros, «Um aniversário: Orpheu», DL, 8/III/1935, Supl. Lit.,
pp. 1, 7. Na verdade, havia apenas cinco nomes nessa lista assinalados com
cruzes, mas, sem que Almada Negreiros o soubesse, um sexto colaborador, o
poeta brasileiro Eduardo Guimaraens, também tinha morrido, em 1928.
10 Luís de Montalvor, «Um poeta que morre: Ronald de Carvalho», DL,
22/II/1935, Supl. Lit., p. 1.
11 Com base nas características físicas do manuscrito, a elegia — sem da-
ta — foi escrita na Primavera de 1935.
12 Pessoa a Gaspar Simões, 11/XII/1931.
13 O discurso foi feito em Avis, em 7/VII/1935. Santos Pereira (2010), pp.
60-61.
14 «À Emissora Nacional», um poema que data do Verão ou do Outono de
1935.
15 Sudoeste — Cadernos de Almada Negreiros, n.º 1, Junho de 1935, pp.
30-31. No segundo número da revista, publicado em Outubro, Almada Negrei-
ros respondeu à reacção negativa a «Mística colectiva» explicando que essas
afirmações tão bem articuladas não eram afinal afirmações; constituíam uma
«fotografia» verbal, não uma apologia, do panorama político europeu de en-
tão.
16 DL, 22/III/1935, Supl. Lit., p. 5.
17 A exposição, organizada pelo SPN na Sociedade Nacional de Belas-Ar-
tes, decorreu entre 16 de Março e 1 de Abril. O discurso de Almada Negreiros
foi proferido no banquete oficial, no dia 23 de Março, e publicado em DL,
29/III/1935, Supl. Lit., p. 7.
18 «Sim, é o Estado Novo, e o povo», datado de 29/VII/1935.
19 Para um exemplo de elogios fora do país, ver o semanário londrino The
Sphere, 6/IV/1935, pp. 18, 46.
Capítulo 74
1 O romance de Régio, Jogo da Cabra Cega, foi publicado em Outubro de
1934 e proibido em Dezembro.
2 Docs. 48/25; 63/31.
3 Doc. 54B/10.
4 Fernando Pessoa a João Gaspar Simões, 11/XII/1931.
5 As impressões de Raul Leal acerca da sexualidade de Pessoa encon-
tram-se nas pp. 47-48 de um ensaio não publicado que integra a Colecção
Fernando Távora. Os comentários de Botto em relação ao interesse de Pes-
soa por rapazes novos e a um pénis alegadamente pequeno foram divulgados
por Jorge de Sena ([1948], p. 431). O poeta Herberto Helder (1930-2015) re-
petiu-me mais de uma vez aquilo que Raul Leal lhe contou a propósito do ta-
manho do pénis de Pessoa.
6 Uma nota de rodapé em Ofélila Queiroz (1996), p. 256, informa errada-
mente que Anderson tinha estado em Portugal em Novembro de 1929 e que
se divorciara por volta dessa altura. Pela carta de 10/IV/1935 enviada por
João Nogueira Rosa a Pessoa, torna-se evidente que nem este nem Teca co-
nheciam ainda a cunhada dele, que se manteve solteira até 1939. As informa-
ções sobre os estudos de Anderson foram providenciadas pela divisão de Co-
lecções Especiais da biblioteca da University of St Andrews. (Anderson licen-
ciou-se em 1926.) De acordo com Jonathan Byrne, funcionário do Gabinete
de História Oral do Bletchley Park Trust, parece que Anderson trabalhava para
o Government Code and Cypher School, e possivelmente para o MI6 (os ser-
viços secretos do Reino Unido), antes da Segunda Guerra Mundial (email, De-
zembro de 2017).
7 Pereira Faísca (1944), p. 52.
8 Docs. 49A7/11; 50A1/28.
9 As listas de passageiros (consultadas em ancestry.com) indicam que
Madge Anderson partiu no Dempo de Southampton, Inglaterra, em
12/IV/1935, para Lisboa, onde apanhou o Sibajak para a viagem de regresso,
tendo chegado a Southampton em 26/V/1935.
10 Esta não é a carta que Pessoa enviou de facto mas uma transcrição de
um rascunho dactilografado, com correcções (CHP). Nesse rascunho, várias
frases riscadas e incompletas mostram que foi a irmã que o levou a escrever:
«Pela indignação permanente de Teca comigo, depreendo que seja culpa-
do…» e «O que eu quero dizer no fundo é que não sei verdadeiramente o que
fiz ou disse durante a sua estada…»
11 A resposta de Madge faz parte da CHP. A dada altura, ela também lhe
enviou um postal sem data (doc. 1152/97), transcrito em José Barreto, «A últi-
ma paixão de Fernando Pessoa», Pessoa Plural, Outono de 2017, pp. 596-
641.
12 Docs. 135/75, 70v, 72. Não é possível datar com absoluta certeza o re-
corte, que se encontra no Espólio Fernando Pessoa, relativo ao «vinho nutriti-
vo de carne»; já os recortes que se referem a uma água milagrosamente tera-
pêutica e ao spa radioactivo são de 1935. À data em que este livro foi escrito,
esse hotel palaciano que servia de spa, abandonado na década de 1950, era
uma carcaça macabra e periclitante no cimo de uma encosta não muito dis-
tante da aldeia medieval de Sortelha.
13 Documento assinado em 14/VI/1935. Arquivo Histórico Militar, Caixa
4213, Processo 131/69.
14 A versão em panfleto corrigiu as muitas gralhas que haviam saído no
jornal.
15 T.S. Eliot a António Ferro, 27/V/1938. Espólio de António Ferro.
16 Oito excertos que tinham por destino a carta de Pessoa ao presidente
(docs. 92M/28-33, 41-43, 80-82; 92E/53-54), todos datados de Julho de 1935
em diante, foram publicados em Fascismo, pp. 276-282.
17 José Blanco, citado em Bréchon (1996), p. 530.
18 O «Notícias» Ilustrado, 9/VI/1935, p. 12.
19 «Contra a democracia», que Pessoa não finalizou, já foi referido. Para
além do contemporâneo «Apologia dos tiranos», o poeta escreveu passos pa-
ra «Cinco diálogos sobre a tirania». Ambas as obras, inacabadas e apenas
parcialmente publicadas, foram escritas em português. O poema citado de
Caeiro («Ontem o pregador de verdades dele»), a que atribuo a data de 1919,
poderá ter sido composto um pouco mais tarde, entre 1920 e 1923.
20 Alberto da Cunha Dias, Outono, p. 80. O restaurante fechou em 2015.
21 Carlos Queiroz (1936), p. 11.
Capítulo 75
1 Trindade (1965), p. 5; Ferreira de Seixas (1979), p. 7. Ver também as en-
trevistas de Luís Sttau Monteiro a Trindade e Ferreira de Seixas para um epi-
sódio da série de televisão O Homem É Um Mundo, «A Casa de Fernando
Pessoa», transmitido na RTP 1 em 25/I/1981 (consultado online). A leitaria A
Morgadinha, segundo Trindade, estabeleceu-se em 1921 nos números 2 e 4
da Rua Coelho da Rocha.
2 Entrevista a Maria José da Graça Ferreira do Amaral (funcionária da em-
presa Gouveia & Carvalho), conduzida por Luís Sttau Monteiro para «Fernan-
do Pessoa», outro episódio da série O Homem É Um Mundo, transmitido na
RTP 1 em 27/IX/1981 (consultado online). Entrevista a Ferreira do Amaral em
Intimidade, p. 150.
3 Carlos Queiroz (1936), p. 11.
4 Doc. 63/31v.
5 Relatado por Alfredo Margarido em Fernando Pessoa, Santo António,
São João, São Pedro (Lisboa: A Regra do Jogo, 1986), p. 85, nota de fim 38.
No último capítulo da biografia que dedicou a Pessoa, Gaspar Simões escre-
veu que o poeta «fora acometido de um breve ataque de delirium tremens» na
casa da irmã, em São João do Estoril (Vida, capítulo final). Numa carta de
9/X/1935 a Madge Anderson, Pessoa assinalou que «D.T.» tinha sido com-
posto em Abril e que era, pelo menos em parte, autobiográfico. O tipo de pa-
pel e de caneta e o estilo da caligrafia no manuscrito original correspondem
aos de vários poemas já mencionados escritos em São João do Estoril no fi-
nal de Abril.
6 Eva Frances Hunt (c. 1909-1986). Ela e o marido casaram em 1932 e
não tiveram filhos.
7 Manuela Nogueira, a sobrinha de Pessoa, mostrou-me poemas compos-
tos por Louis Michael Rosa nas décadas que se seguiram à morte de Pessoa.
8 Referido numa carta inacabada que Pessoa escreveu a Louis Michael
em 15/X/1935.
9 Intimidade, p. 295.
10 Louis Michael Rosa a Fernando Pessoa, 15/IX/1935 (carta incluída no
Espólio Fernando Pessoa, doc. 1152/109). Pessoa, Correspondência Inédita,
p. 128. Louis Michael e Eva moravam nos arredores de Londres.
11 A CHP contém um duplicado da carta que Pessoa escreveu ao irmão.
Louis Michael informou o estudioso Alexandrino Severino de que Pessoa es-
tava a pensar ir viver com ele e a mulher; porém, a última carta que endere-
çou a Fernando não inclui qualquer convite explícito, tão-só uma oferta de aju-
da («tratar-te-emos de tudo») caso acontecesse ele ir a Inglaterra, e a carta
de resposta de Pessoa não manifesta tal propósito, pese embora a afirmação
do biógrafo Ángel Crespo em sentido contrário. Ver Severino (1983), pp. 147-
148; Crespo (1988), p. 310.
12 O que chegou até nós não é a carta de Pessoa propriamente dita mas
um rascunho da mesma (CHP), que sabemos ter sido enviada, juntamente
com o poema «D.T.».
13 Refiro-me à parte de África em que ele viveu de facto. Por volta de
1912, Pessoa compôs uma série de quatro sonetos inacabados, «Ao Cabo da
Boa Esperança», evocando as três vezes em que tinha dobrado o cabo nas
viagens de e para Durban. Docs. 37/20-21. Pessoa, Poesia: 1931-1935 e Não
Datada, pp. 461-463.
14 Desassossego, trecho 299.
15 Pessoa, Poemas de Fernando Pessoa: 1934-1935, pp. 232-241. Um
passo do poema, sem o título, já havia sido publicado em 1973.
16 Docs. 48B/90; 66/102. Caderno 144F/2.
17 Doc. 55/87. Este e outros passos para «Nacionalismo liberal» (inacaba-
do) foram publicados em Fascismo, pp. 354-372.
18 Docs. 92W/6; 92X/73. José Barreto, «Fernando Pessoa e a invasão da
Abissínia pela Itália fascista», Análise Social, vol. XLIV, n.º 193 (Outubro de
2009), pp. 693-718. Fascismo, pp. 341-350. O jornal Bandarra, apoiado pelo
regime, defendeu as pretensões da Itália relativamente à Etiópia num editorial
publicado em 31/VIII/1935, p. 1; quando mais tarde se opôs à invasão, fê-lo
sublinhando a solidariedade inalterada de Portugal para com o fascismo italia-
no (26/X/1935, p. 1).
19 Os comentários feitos por Mussolini em 1913, e que saíram no jornal
italiano Avanti, foram citados num jornal britânico, em 19/X/1935, e transmiti-
dos a Pessoa por um homem de negócios luso-britânico chamado Amsinck
Allen. Docs. 92X/78-79; 1151/1-2.
20 O artigo de Pessoa foi publicado pela primeira vez em Sobral Cunha e
Sousa (1985), pp. 121-122, com uma nota a dar conta de que os censores ha-
viam proibido a sua publicação no DL. Tudo leva a crer que essa informação
seja verdadeira, mas não consegui encontrar nenhum documento que o prove
de forma conclusiva.
21 Na mesma folha de papel em que enumerou as fontes para o artigo
censurado, Pessoa apontou o número de telefone da Comissão de Censura
(caderno 144F/1v).
22 A carta era dirigida a António Marques Matias (1911-1982), co-director
da revista Momento, na qual Pessoa publicou dois poemas.
Capítulo 76
1 Os dois colaboradores brasileiros do Orpheu, que já tinham morrido, não
surgiram representados nesse número.
2 Pessoa preparou uma cópia dactilografada, corrigida e final do tríptico
(docs. 118/62-65) para a Sudoeste no Outono de 1935. O manuscrito dactilo-
grafado original (docs. 118/60-61) — tendo em conta o papel, a máquina de
escrever e a tinta — foi produzido um ou dois anos antes.
3 Doc. 54/79. Ver também doc. 54A/17.
4 O relato de João Gaspar Simões na sua biografia de 1950 (Vida, p. 662)
não indica quem encontrou Pessoa trancado na casa de banho — provavel-
mente, a empregada que todas as manhãs tratava da lida da casa. Num en-
saio pouco fiável de 1974 («Fernando Pessoa», in Retratos de Poetas, pp. 45-
88), Gaspar Simões situaria esse episódio bem mais perto da morte de Pes-
soa, mas, na biografia, o momento em que terá ocorrido não surge precisado.
As cartas enviadas por Chico e Teca a familiares dão conta de que Pessoa se
encontrava gravemente doente em finais de Setembro, tendo contudo recupe-
rado e parecendo estar de boa saúde entre a segunda semana de Outubro e
o seu declínio repentino e fatal. Carta de Francisco Dias (Chico) a Luís Miguel
(Louis Michael), datada de 27/IV/1936, parcialmente transcrita em Imagens, p.
116. Carta de Henriqueta Rosa Dias (Teca) a Jaime Neves, datada de
13/XII/1935, parte da Colecção Jaime de Andrade Neves.
5 Doc. 1152/16. O bilhete diz textualmente: «Rua Coelho da Rocha, N. 16
1º Dto: Meu qurido [sic] tio tinha muito gosto que o tio deixa-se [sic] de beber
tanto vinho e tam bem [sic] de fazer ges [sic] ao jantar.» Confrontada com o
bilhete, a sua autora, em Janeiro de 2018, achava que «ges» poderia ser uma
abreviação para «gestos». Outra possibilidade seria a palavra «gás» mal es-
crita.
6 Doc. 1152/108. A carta de Anderson tinha por data 14/XI/1935.
7 Doc. 49A7/19. Pessoa, English Poetry, pp. 202-203. Quase todas as ou-
tras edições omitiram a terceira estrofe.
8 Desassossego, trecho 62.
9 Os poemas citados datam de 10/VIII/1935 e de 3/XI/1935.
10 Do poema «Le sourire de tes yeux bleus», sem data, mas escrito por
certo em 1935.
11 Intimidade, p. 325. «Afinal como era Fernando Pessoa?», Silex (Lis-
boa), Março de 1980, pp. 26-27 (entrevista à irmã de Pessoa). Sena (1984), p.
160. Notas, pp. 117-119. De acordo com Eduardo Freitas da Costa, o telegra-
ma nunca terá chegado a Teca, visto que o ardina incumbido de o enviar aca-
bou por ficar com o dinheiro, mas a própria Teca afirmaria mais tarde tê-lo re-
cebido. Relatou que o marido, na manhã do dia 28, deparou com Pessoa na
cama; Freitas da Costa escreveu que Pessoa já se encontrava de pé.
12 O palácio foi convertido num hospital em 1867. Costa-Sacadura, Subsí-
dios para a História do Hospital de S. Luiz dos Franceses (Coimbra: Coimbra
Editora, 1933).
13 Desassossego, trecho 303. Lancastre (1981), p. 306; Mota Ribeiro e
Sena (2003), p. 24.
14 Por exemplo, António M. Feijó apontou uma possível relação entre a
afirmação de Pessoa e o «Quod sit futurum cras fugere quaerere» («Não per-
guntes o que o amanhã pode trazer») de Horácio, de Odes I.9.13: ver Feijó
(2015), p. 75.
15 Notas, p. 119. Pessoa referiu-se aos dois homens como amigos e des-
creveu a natureza da empresa de ambos na carta de 24/X/1934 ao irmão
John Rosa.
16 Teca declararia, numa entrevista, que o irmão tinha sido diagnosticado
com uma possível cirrose incipiente no começo da década de 1920 (Intimida-
de, p. 240). Logo de seguida, menciona as crises ocasionais de «cólica hepá-
tica» de Fernando. Por outras palavras, também ela misturava dores vesicula-
res com uma doença do fígado.
17 Esta hipótese foi convincentemente defendida por Fonseca Ferreira
(2002). Menos convincente é a forma como o autor descarta a obstrução in-
testinal — a causa da morte indicada pelo Dr. Jaime Neves no «Boletim de
óbito» constante da Quinta Conservatória do Registo Civil de Lisboa — em
virtude do tempo que havia passado, que supostamente era pouco. A carta de
5/XII/1935 de Teca a Louis Michael e Eva Rosa revela que o problema come-
çou vários dias antes do aniversário dela, ou seja, aproximadamente uma se-
mana antes da morte de Pessoa. O mesmo é confirmado por João Gaspar Si-
mões, que escreveu, em Abril de 1936, que, vários dias antes de Pessoa mor-
rer, ele e Almada Negreiros foram à procura do poeta no Café Martinho da Ar-
cada, onde os informaram de que Pessoa devia estar doente, pois há já dois
dias que não aparecia (Gaspar Simões, [1936]). Na biografia de 1950, Gaspar
Simões alteraria a sua história, afirmando que, a 27 de Novembro, Almada
Negreiros se encontrou com Pessoa no dito café (Vida, p. 661). Em 1974,
quatro anos depois da morte de Almada Negreiros, mudaria uma vez mais a
história, garantindo que ele e Almada Negreiros estiveram com Pessoa no ca-
fé a 28 de Novembro, às 16h00 (Retratos de Poetas, pp. 77-82, 113). Acredito
na primeira versão de Gaspar Simões. Quanto à segunda, Almada Negreiros
era conhecido pela má memória que tinha para as datas. A terceira é uma fic-
ção óbvia.
18 Teixeira Rebelo (1985), p. 6.
19 Ofélia Queiroz (1985), p. 4. Outro mito acerca de Pessoa, ainda recen-
te, é que as freiras francesas telefonaram a Ofélia Queiroz para a informar da
morte, que ela foi ao hospital velar o cadáver até ao início da manhã seguinte
e que as freiras lhe deram um livrinho de poemas encontrado no pijama do
morto como recordação. Tudo isto é refutado em Zenith, «Fernando e Ofélia:
amor em tempos necrológicos», Expresso, 30/VI/2012, suplemento «Atual»,
pp. 30-31.
20 Foto XX, 172. Emília foi identificada por Eduardo Freitas da Costa (No-
tas, p. 123). Cunha Dias foi visto no funeral por Luís Pedro Moitinho de Almei-
da (Fernando Pessoa no Cinquentenário da Sua Morte, p. 37). Mais de cin-
quenta outras pessoas foram nomeadas nos obituários publicados após o fu-
neral. A maior parte foi reproduzida em Revista da Biblioteca Nacional, Se-
tembro-Dezembro de 1988, pp. 227-247.
21 DL, 2/XII/1935, p. 6. A Voz, 3/XII/1935, p. 8. DN, 3/XII/1935, p. 1.
22 Foi sem dúvida Eduardo Freitas da Costa, afilhado e primo em segundo
grau de Pessoa, o responsável pela edição em folheto, em 1940, da elegia «À
memória do presidente-rei Sidónio Pais», que Pessoa tinha publicado nas pá-
ginas do Acção, em 1920. O folheto incluía uma versão mutilada do currículo
de Março de 1935 de Pessoa; faltavam o repúdio de O Interregno, claramente
manifestado pelo autor, e a rejeição do lema de Salazar, «Tudo pela nação,
nada contra a nação».
23 Louis Michael Rosa, que dedicaria um tempo considerável a inventariar
a obra do irmão defunto, declarou numa entrevista, em 1971, que o espólio,
quando ainda pertencia aos herdeiros de Pessoa, continha mais de trinta e
seis mil folhas manuscritas ou dactilografadas e encheria três arcas (Flama,
19/II/1971, pp. 42, 48), mas não há maneira de confirmar a exactidão desse
número, que poderá estar inflacionado. A maioria dessas folhas foi adquirida
pelo Governo português em 1979, constituindo o Espólio Fernando Pessoa,
situado na Biblioteca Nacional de Portugal, que adquiriu depois outros manus-
critos. Actualmente, o Espólio inclui mais de vinte e oito mil e quinhentos itens,
dos quais pelo menos dois mil e quinhentos correspondem, não a originais de
Pessoa, mas a coisas que ele guardou junto dos papéis: recortes de jornal, fo-
lhetos e demais publicações, bem como cartas, poemas e textos em prosa de
outros escritores. Alguns dos originais de Pessoa estão na posse de coleccio-
nadores privados, ao passo que outros já foram publicados, mas desconhece-
se neste momento o seu paradeiro. Vinte e nove cadernos, que fazem tam-
bém parte do Espólio Fernando Pessoa, contêm mais de mil e quinhentas fo-
lhas adicionais com textos escritos.
24 Carlos Queiroz, numa palestra dada na rádio em 9/XII/1935 e publicada
no folheto Homenagem a Fernando Pessoa (Coimbra: Presença, 1936), p. 18.
Ver também Mendes (1967), pp. 11-12.
25 Desassossego, trecho 236.
Epílogo
1 Os dados sobre a vida de Anderson foram fornecidos por quatro das su-
as sobrinhas: Tessa Morris-Suzuki, Morag Young, Hilary Morris e Judy Knapp.
2 Diário Popular, 2/III/1947, pp. 1, 12; 5/III/1947, p. 12. O jornal afirmou
que estiveram no funeral «milhares» de pessoas, o que é certamente um exa-
gero.
3 Diário Popular, 1/VI/1972, p. 9.
4 Henriqueta Rosa Dias (1985), p. 7.
5 Intimidade, p. 237. Pinharanda Gomes (2005). DN, 2/II/1953, p. 6;
3/II/1953, p. 6.
6 DL, 11/XI/1935, Supl. Lit., p. 2. Docs. S4/47 (ver também caderno
144F/4); S4/48; S5/1; S5/3; S5/4. DL, 12/VI/1947, p. 2. A Voz, 13/VI/1947, pp.
1, 6.
7 Botto, «O verdadeiro Fernando Pessoa».
8 A elegia foi escrita parcialmente em verso, parcialmente em prosa; está
publicada em Persona (Porto), 4 de Janeiro de 1981, pp. 27-28. Saa reformu-
lou a elegia num poema mais curto que exclui as alusões pessoais que referi:
ver Saa (2006), pp. 188-189.
9 Pinharanda Gomes (1965). Pinharanda Gomes (1966), pp. 25-26; Manu-
ela Parreira da Silva, «A propósito de uma carta inédita de Raul Leal para Jo-
sé de Almada Negreiros», Colóquio/Letras, Janeiro-Abril de 2014, pp. 32-41.
Helder Macedo disse-me numa conversa, confirmada por um email de Janeiro
de 2018, que Francisco de Brito, o ex-pugilista, escoltava Leal até ao Café
Gelo, onde se encontrava regularmente com Macedo, Mário Cesariny, Herber-
to Helder, Luiz Pacheco e outros jovens poetas. Relativamente ao ano previs-
to para a sua morte: Sena e Leal (2010), pp. 9, 60.
10 Docs. 137E/65-69. Palmeirim (2016), pp. 84-88. Em 2018 Palmeirim —
que partilhou comigo as memórias de família de Coelho de Jesus — acabou
por descobrir as datas da morte dele e da sua mulher francesa.
11 Almada Negreiros (1982), p. 99. A pintura leiloada está agora exposta
na Casa Fernando Pessoa. O artista fez uma segunda versão, que está no
museu da Fundação Calouste Gulbenkian.
12 A recensão a Desaparecido de Queiroz escrita por Pessoa foi publicada
pela primeira vez em 1938. A sua morte é relatada em DL, 28/X/1949, p. 6.
13 Ofélia Queiroz (1985), p. 4.
Fontes e referências
Bibliografia seleccionada