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A ESCRITA ORIENTAL: CHINESA E JAPONESA

Research · December 2010


DOI: 10.13140/RG.2.2.32242.32963

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Jônatas Ferreira de Lima Souza


Federal University of Rio de Janeiro
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A ESCRITA ORIENTAL: CHINESA E JAPONESA

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Jônatas Ferreira de Lima

O TRABALHO ORIENTALISTA: ESCRITA ORIENTAL

É importante mencionar a dificuldade que a academia no Ocidente tem de


compreender e estudar o mundo que se construiu no Oriente. Não vem ao caso
discutir essas questões, mas é necessário alertar o quanto essa barreira, que para o
historiador ocidental, primeiro inicia-se na escrita desses povos. São os chamados
ideogramas. A escrita oriental sempre partiu de pequenas representações
caligráficas que indicassem alguma tentativa de comunicação, isto é, uma
transmissão de ideia. No geral, essa é a principal função da escrita. A
particularidade oriental existe apenas na sua relação com o alfabeto – alfa-beta
(αλφάβητο) para os gregos (ocidente/oriente), alphabet para o latim (ocidente) e alef-
beit (‫ )אלפבית‬para os hebreus (oriente). As letras ocidentais oriundas do latim
possuem um formato totalmente diferente dos que permaneceram como
“ideogramas” no oriente. Por mais que muitas delas, ao longo de séculos, tenha
sofrido transformações, não perderam em sua totalidade, a ideia-grafia. Ou seja, a
letra “A” no latim, remete basicamente à fonética “á”. Anglo-Saxões se apropriaram
desse modelo de escrita “A” mas sua fonética é diferente, lê-se “êi”. É importante
destacar que nem todas as escritas e pronúncia no Ocidente são homogêneas. As
escritas russa e sérvia, por exemplo, misturam letras latinas às letras características
de sua cultura, semelhante ao grego; por exemplo: alfabeto é алфавит (alfavit) em
russo e азбука (azbuka) em sérvio.
No oriente não se difere muito dessas relações. As diferenças significativas
estão nas escritas que influenciaram as outras como, por exemplo, a fenícia (mais
antiga que influenciou a hebraica), o sânscrito (influência no aramaico – muito
popular –, híndi), a árabe (pérsia, Arábia, dentre outros) e a chinesa (mais antiga
que influenciou coreanos, japoneses, mongóis, etc.). Os “radicais” de escrita de
muitos desses povos permanecem intactos, como nos desenvolvidos a partir do

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Graduando em História (penúltimo semestre) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Email: metalahnjfl@yahoo.com.br
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mandarim. O mandarim é a língua mais falada do mundo. É a mais falada e escrita


na China, o país mais populoso do mundo – mais de 1,3 bilhões de habitantes em
2008.

1 ESCRITAS ORIENTAIS: CHINESA.

中國 (Zhōngguó) é o nome da China para os chineses no qual o kanji


中(Zhōng) representa a ideia de “meio” e 國 (Guó) a ideia de terra natal, país, nação;
então China para os chineses, é o mesmo que “nação central” na ideia de “país
principal” ou de “os escolhidos”. No Japão, os mesmos kanji’s são foneticamente
lidos como 中 (Naka) e 国 ou 國 (Kuni), possuindo o mesmo significado. Então onde
surgiu esse nome “China”? China é para os ocidentais. Esse nome aparece quando
os romanos entram em contato, principalmente por vias comerciais, com 秦始皇 (Qin
Shi Huangdi = o que reina supremo) que foi o “Primeiro Imperador” entre 221 e 210
a.C., por volta de 206 a.C. A grafia romana para descrever o Reino de 秦 (Qin) foi
Chin, daí o nome que viria a ser escrito como China (hipótese).
E de onde viria a palavra que nomeia a escrita mandarim, chamada de
kanji? Conta a história chinesa que na época do Imperador Amarelo, por volta de
2650 a.C. vivia um historiador, ou seria um ser lendário de quatro olhos chamado
倉頡 (Cāng jié), que montou as bases dos métodos de escrita, posteriormente
adotada pelos mandarins dos Imperadores. Há indícios desses métodos por volta de
8000 a.C. Essa escrita em sua forma “moderna” recebe o nome popularizado de
“Kanji”.
Um outro personagem importante para essa busca pelos primeiros indícios
de escrita chinesa é o próprio Imperador Amarelo, assim chamado no Ocidente a
posterior, da dinastia/etnia Han. Em chinês 黃帝 (Huángdì), foi um dos cinco
governantes lendários da China entre 2698 e 2599 a.C. Sua importância (na escrita)
inicia com o envolvimento na criação do famoso calendário chinês ou 夏曆 (Nóng lì)
para os mesmos, tratando-se do mais antigo da humanidade sendo desenvolvido
usando as atividades lunares e solares com um total de 354 dias. Em 2010, estamos
no ano 4708 chinês. Não somente no calendário, 黃帝 (Huángdì) também está
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envolvido no 內經 (Nèi jīng), conhecido atualmente como O Clássico do Imperador


Amarelo, é um dos “livros” mais antigos da humanidade. Trata-se de uma reunião de
registro de conversas entre o Imperador e seus “ministros” sobre medicina – ainda é
base da medicina tradicional chinesa – e questões sociais da época –
comportamento, vestimenta, educação, política, etc.
Então, o que são os ideogramas? Como dito anteriormente, são gráficos que
representam uma ideia. Esse tipo de grafia é utilizada por muitos países do leste
asiático. São cerca de 15 mil e são comumente encaixados em quatro divisões. Mas
antes de apresentar essas divisões, notemos a “evolução” da escrita ideograma
chinesa. Vejamos o exemplo do 馬 (cavalo), construído da seguinte forma ao longo
da história chinesa:

Cǎoshū
Jiǎgǔwén Kǎishū
Jīnwén
Dàzhuàn Kǎishū (TR)
Lìshū
Xiǎozhuàn

Ideogramas antigos Ideogramas modernos

Quanto a mencionada formação dos ideogramas, temos em primeiro lugar,


ou em Primeira Classe, os que são formados/construídos pela observação da
“natureza”. São eles:

– 山 - Shān = Montanha.
– 河 - Hé = Rio.
– 树 - Shù = Árvore.
– 日 - Rì = Sol, dia.

Logo em seguida temos os chamados Segunda Classe ou os


formados/construídos por “convenções”. Dentre estes destacamos:
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– 一 (Yī - Um)
– 二 (Èr - Dois)
– 三 (Sān - Três)
– 中 (Zhōng - Meio)
– 上 (Shàng - Em cima, sobre)
– 下 (Xià - Em baixo, sob)

Após, temos a Terceira Classe ou os formados/construídos por


“combinação”. Exemplo:

– 木 (Mù) Madeira + 树 (Shù) Árvore = 森林 (Sēnlín) Floresta

Por fim, os de Quarta Classe ou o simples “saber escrever”. Se trata de um


perfeito equilíbrio entre osso, carne, músculo e sangue. Exemplo da “técnica de
escrita”:

Pinyin: bà
Traços: 8
Significado: Pai, papai
Radical: 父(Fù) Pai + 巴 (Ba)

A partir desses estudos, métodos, classificações, temos os kanji’s. Vejamos


os kanji’s que representam o calendário chinês: Em 2010, estamos no ano do Tigre
na china até fevereiro de 2011:

– "shu" 鼠 (rato), "niou" 牛 (boi), "hu" 虎 (tigre), "tu" 兔 (coelho),


"long" 龍 (dragão), "she" 蛇 (serpente), "ma" 馬 (cavalo), "yang" 羊
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(carneiro), "hou" 猴 (macaco), "ji" 雞 (galo), "gou" 狗 (cão), "zhu" 豬


(porco).

Tendo conhecido as Classes de formação/construção dos kanji’s, veremos


como se deram os estilos de escrita dos mesmos. A princípio, a utilização de
materiais feitos de ossos, cascos de tartaruga e bambu (também jarros de bronze a
posteriori) eram os locais de prática da escrita. Esse é o período que chamo de Pré-
Qin – antes de 221 a.C. como na Dinastia Shang. O próximo período chamo de Qin
(221 a.C.), uma vez que a escrita feita nesse tempo, buscou a
padronização/unificação da forma escrita dos símbolos. Ela foi uma política do
Imperador Qin, chamado também de o “Primeiro” (à unificar). Esse estilo é
conhecido como Selo ou 篆書 (zhuànshū) utilizando ideogramas antigos. O período
seguinte chamo de Han, pós-206 a.C., pois a escrita nesse tempo, buscou a
perfeição no uso do pincel. Conhecido como o estilo dos Escribas ou 隸書 (lìshū)
utilizou ideogramas antigos e semi-modernos. Correndo com o período anterior há o
que chamo Jin, correspondente ao pós-300 d.C., uma vez que a escrita desse tempo
buscou a perfeição nos trabalhos caligráficos como os de 王羲之 (Wáng Xīzhī). Esse
estilo é chamado Comum ou 行書 (xíngshū) utilizando ideogramas “pouco antigos” e
semi-modernos. Já este próximo período, que chamo de Han aos Tang ou pós-600
d.C, tratou de buscar a perfeição nas experiências passadas. Esse estilo chamado
Regular ou 楷書 (kǎishū) utiliza ideogramas que chegam intactos até o presente
momento, sendo eles a quem chamamos de ideogramas modernos. O último
período chamo: de Han aos tempos atuais, ou pós-430. Desde os tempos da
Dinastia Han que há a prática/estudo do estilo de Erva ou 草書 (cǎoshū) tendo como
um de seus precursores o já mencionado calígrafo 王羲之 (Wáng Xīzhī). Um dos
calígrafos que afirmaram essa prática chamada cursiva moderna ou escrita rápida
foi 孙过庭 (Sum Guoting) por volta de 650. O estilo cursivo foi utilizado pelos
japoneses que a posterior formarão os famosos hiragana.
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2 ESCRITAS ORIENTAIS: JAPONESA

Conhecido como a terra do sol nascente (Japão: 日 (Hi) → Sol + 本 (Hon) →


Livro, base = “origem do sol”), o Japão é um dos países mais desenvolvidos da
atualidade, porém, durante cerca de 200 anos, na segunda metade do primeiro
milênio, foi um tipo de protetorado chinês, com isso passou a estabelecer uma longa
experiência de intercâmbios culturais com os que lhes dominava. É a partir dessa
inusitada informação que iniciamos a discussão acerca da escrita japonesa.
Juntamente com as demais trocas culturais com o seu dominador, os
japoneses “absorveram” a escrita chinesa, que é logográfica, constituida pelos
Kanjis. A base da escrita japonesa se deu com o estilo cursivo dos Kanjis. Esse
estilo recebeu o nome de Man'yōgana (万葉仮名), que foi bastante utilizado para
melhorar a comunicação entre chineses e japoneses, mas foi sofrendo modificações
ao longo do tempo até tornar-se o hiragana atual. Assim, o hiragana (平仮名) passa
a ser utilizado como a representação dos sons do japonês, explicando também o
som dos kanjis, ou pelo menos como os japoneses os falavam/falam – afirmamos
isso por haver uma variação na pronuncia dos Kanjis nesses dois paises, por
exemplo: a palavra “Japão” no Japão lê-se Nippon ou Nihon, já na China lê-se
Rìběn, embora em ambos sejam utilizados os mesmo Kanjis para escrever essa
palavra, 日本.
Sendo os hiraganas (平仮名) o “aperfeiçoamento” dos Man'yōgana
(万葉仮名), que é o estilo cursivo dos Kanjis, percebe-se uma “simplificação” da
forma escrita japonesa, facilitando o seu uso cotidiano por essa sociedade.
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Tabela com a formação dos hiraganas (nas primeiras linhas estão


os Kanjis Chineses; nas segundas estão os Man'yōgana, em
vermelho; e nas terceiras os hiraganas.

Além dos hiraganas, a escrita japonesa também é constituída por katakanas


(カタカナ) – tendo uma inserção mais antiga no Japão que os hiraganas – que,
assim como os primeiros, também foram formados a partir dos kanjis chineses.
Esses katakanas foram/são utilizados para expressar palavras estrangeiras e nomes
próprios; atualmente também são utilizados para nomes científicos e onomatopéias.
Como já explicitamos, esses katakanas (カタカナ) são construídos a partir
dos kanjis chineses, literalmente, pois é selecionada uma parte representativa do
kanji e essa seleção que é “transformada” em katakana. Podemos observar essa
afirmativa na tabela que segue abaixo:
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Tabela com a formação dos katakanas (o primeiro caractere da


esquerda dos quadros é o katakana atual, o segundo é o kanji o
qual deu origem ao katakana correspondente, e as partes em
vermelho dos kanjis é a seleção que “inspirou” a elaboração do
katakana correspondente.

Devido a rígida tradição para a escrita dos kanjis, já explicitada no primeiro


momento desse texto, a maioria dos kanjis (漢字) no Japão são explicados/grafados
utilizando-se de hiragana; pois, como a grafia dos kanjis demanda maior tempo,
devido às rígidas normas, convencionou-se a utilização dos hiraganas no cotidiano
dos japoneses, por ser uma escrita cursiva, que exige menor técnica e tempo para
serem escritos. Logo, não se utiliza os kanjis quando não se quer “perder tempo” na
escrita, pois esses são mais “complexos” que os hiraganas e katacanas – como por
exemplo: os hiraganas いる é a escrita cursiva dos kanjis 居る, percebe-se naqueles
uma “simplificação” desses últimos.
Sendo o katakana uma explicação fonética/ silábica japonesa aos kanjis
chineses, uma vez que alguns deles recebem outros significados em terras
nipônicas, há uma difereniação entre a leitura dos mesmos kanjis no Japão e na
China; assim, a leitura chinesa dos kanjis é chamada de On'yomi (音読み), já a
leitura japonesa dos kanjis é a Kun'yomi (訓読み) – como exemplo podemos citar o
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kanji 東 que significa “leste” em ambos os países, mas na China se pronuncia Dōng,
e no Japão se lê Higashi ou Azuma.
Essa formação silábica dos hiraganas e katakanas pode ser percebida na
tabela abaixo, em que são apresentadas as sílabas correspondentes a cada
hiragana e katakana:

Atualmente o léxico japonês é constituído por três tipos de vocábulos: a)


Wago: que são os “nativos”, existentes no Japão desde suas “origens” remotas –
exemplos: Oto (Ruído), Utau (Cantar); b) Kango: que são os de origem chinesa –
exemplos: Sensei (Professor), Suiei (Natação); c) Gairaigo: que são os estrangéiros,
em grande parte da Europa - exemplos: Basu (Ônibus), Konpiuta (Computador),
Chokoreto (Chocolate).
Quanto a leitura, no Japão se lê tanto de cima para baixo/da direita para a
esquerda, como da esquerda para a direita/de cima para baixo, como mostram as
imagens que seguem:
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Já em relação aos textos digitados, os japoneses utilizam teclados especiais,


nos quais tanto há letras do alfabeto ocidental (ou Romaji), como caracteres
hiraganas para serem digitados, além de kanjis em teclas de apoio (como Ctrol e
Esc), como o segue abaixo:

3 OCIDENTALIZAÇÃO DA ESCRITA ORIENTAL: ROMAJI E PINYIN

Ambos os estilos de escritas, foram desenvolvidos para que os povos que


não compreendem a ideografia possam lêr. O rōmaji (ローマ字) ou escrita romana,
foi desenvolvida por volta do século XVI com os contatos da Companhia de Jesus
com o Japão. Já o pīnyīn (拼音) ou fonética, foi criada para o mandarim em 1958,
mas somente foi internacionalizada em 1982.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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linguagens do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. cap. 17, p. 121-125.

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DIRINGER, David. As escritas japonesas. In: _______. A escrita. Rio de Janeiro:


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SAKURAI, Célia. Os Japoneses. São Paulo: Contexto, 2007.

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Sistemas de escrita. São Paulo: Atual, 1996. cap. 8.

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São Paulo: Atual, 1996. cap. 9.

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