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II EM LETRAS INGLÊS
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
II EM LETRAS INGLÊS
Copyright © UVA 2019
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meio sem a prévia autorização desta instituição.
REVISÃO DIAGRAMAÇÃO
Janaina Senna UVA
Maria Lucia Daflon
R343
Rego, Angela
727 KB.
ISBN 978-85-5459-044-4
CDD – 469.800981
Apresentação 6
Autor 8
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
Para iniciar os trabalhos, a Unidade 1 permitirá o contato com metodologias que oferecem
embasamento teórico-prático, em consonância com as atuais diretrizes curriculares,
para atuar tanto no ensino fundamental (anos finais) quanto no ensino médio. Serão
destacadas algumas das principais mudanças em curso na área educacional hoje no
Brasil.
Por sua vez, a Unidade 2 conduzirá o futuro professor de Língua Portuguesa a aprofundar
os saberes didático-pedagógicos em Língua Portuguesa, em atividades de regência para
os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio. Serão enfocados diferentes
eixos de ensino-aprendizagem, conforme apresentados pelo documento final da Base
Nacional Comum Curricular – BNCC, documento aprovado, em seu formato final, em
2018 (BRASIL, 2018).
6
Em seguida, na Unidade 3, pretende-se enfocar o conceito de “texto” e seus múltiplos
significados na atualidade, para além do texto verbal. Estará em pauta a importância de
dialogar com os gêneros que circulam na contemporaneidade, bem como a relevância
de se desenvolver um trabalho docente que se articule com outras disciplinas, por meio
de projetos integradores e interdisciplinares.
7
AUTOR
C. Lattes
8
UNIDADE 1
Para percorrer esse trajeto, um longo percurso já foi pavimentado, e outro, mais longo e
desafiador, ainda está por acontecer. Muito embora se note a contribuição de professores,
da comunidade e de políticas públicas favoráveis à conquista de objetivos inclusivos e
socialmente significativos, é verdade também que indicadores como o Saeb (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica) e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)
ainda apontam muitas lacunas, deficiências e discrepâncias sociais e regionais.
O futuro mestre de Língua Portuguesa, egresso do curso de Letras, deverá estar apto,
nesse sentido, a atuar tanto nos anos finais do ensino fundamental quanto no ensino
médio. A Unidade 1 da disciplina de Estágio Supervisionado II, voltada para a regência
de aulas, deverá introduzir questões relevantes para o graduando atuar com preparo
intelectual e didático em consonância com as metodologias atualmente mais aceitas
pela comunidade interessada no desenvolvimento da educação no Brasil e no mundo,
formada por profissionais inseridos nas salas de aula, em posição de gestão de políticas
públicas ou na academia.
10
OBJETIVO
11
Ensino de Língua Portuguesa na Escola Bá-
sica: a importância de embasamento teóri-
co-metodológico para a atuação docente
Nesse sentido, teoria e prática — é sempre importante reforçar — devem estar de tal
modo imbricados que a formação metódica do futuro docente deve elevar a qualidade e
a relevância, para a comunidade e seu entorno, do ensino e da pesquisa realizados nos
espaços de formação, ao mesmo tempo em que deve contribuir para um aprendizado
envolvente, inovador e socialmente integrado a seu contexto. Assim, em atividades de
observação, de participação e de regência, os licenciandos — futuros professores de
Língua Portuguesa — deverão estar preparados do ponto de vista de um embasamento
teórico-prático consistente, socialmente relevante e democraticamente comprometido.
O primeiro marco legal da nova BNCC é a Constituição de 1988, a qual prevê a criação
de uma base nacional comum curricular para o ensino fundamental.Em seu artigo 210,
ela afirma:
12
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portugue-
sa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas
línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. (BRASIL, 1988)
Pouco tempo depois, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases – LDB, em 1996, a qual, por
sua vez, em relação à educação escolar, prevê em seu artigo 1º que:
I – Erradicação do analfabetismo.
II – Universalização do atendimento escolar.
III – Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promo-
ção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação.
[...]
VII – Promoção humanística, científica, cultura e a tecnológica do País.
[...].
MIDIATECA
13
Compreender as transformações ocorridas nas atuais políticas públicas brasileiras
voltadas para a área educacional é fundamental para que possamos, então, agir em
ambientes escolares. Assim, a formação inicial – em que as disciplinas de Estágio
Supervisionado ocupam uma posição de indiscutível centralidade – deve ser oferecida
de forma bem articulada com as principais mudanças ocorridas recentemente no
cenário brasileiro. Mais ainda, prevê-se que deverá haver uma relação estreita entre a
“formação inicial” e a “formação continuada”:
Nesse ponto, as palavras de Paulo Freire são esclarecedoras quando definem o cerne
da “formação permanente”. Segundo o autor:
14
O que podemos entender a partir dessa leitura?
Paulo Freire, nesse excerto de Pedagogia da autonomia (1996), deixa evidente que é
necessário ter uma relação de permanente curiosidade, questionamento, atualização,
abertura para o novo — que ainda é mais impactante com o avanço das novas tecnologias.
Reflexão e ação não se descolam; um necessita do outro para que a transformação
social, de natureza democrática e inclusiva, verdadeiramente ocorra. Trata-se, pois, de
uma postura que converge para a concepção do professor reflexivo, na trilha delineada
por Donald Schön (1930-1997), o qual recupera princípios da teoria da investigação de
John Dewey (1859-1952) — grande referência para o movimento brasileiro da Escola
Nova, cujo manifesto data de 1932 — para defender a reflexão como inerente à prática
pedagógica. Haveria, então, três tipos de reflexão, intrinsecamente ligados ao processo
formativo inicial e contínuo do professor:
2 A reflexão na ação.
Qualquer um dos caminhos adotados assume que o objetivo primeiro é refletir sobre
a práxis docente, de tal modo que qualquer atividade prática é, indiscutivelmente, uma
atividade reflexiva (CRUZ, 2009; LUPINACCI; MONTORE, 2017; MENEZES; SANTOS,
2001), e não meramente mecânica, tecnicista ou reprodutivista.
Importante
15
inclusive com cursos de pós-graduação e permanente diálogo com
coordenadores, especialistas, acadêmicos e estudantes em formação. E, se
consideramos o que nos afirma Paulo Freire sobre a eterna transformação
do ser humano no mundo, a curiosidade e a abertura para o novo devem ser
constantes para preparar a comunidade escolar para o século XXI.
Por fim, seria interessante recordar a centralidade das reflexões de Paulo Freire sobre a
importância de realizar um trabalho educativo comprometido com a práxis permanente,
para efetivar uma pedagogia do oprimido como pedagogia humanista e libertadora.
Fechemos este tópico da Unidade 1 com suas palavras, que indicam a seção Ninguém
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados
pelo mundo, do livro Pedagogia do oprimido:
16
Saiba mais
Para saber mais sobre as teorias pedagógicas na escola, com síntese sobre
a importância de Piaget, Vygotsky e Paulo Freire para a área pedagógica, bem
como ênfase na abordagem construtivista, em consonância com os princípios
de uma educação crítica, reflexiva e democrática, recomenda-se leitura atenta
da Unidade 3 do seguinte livro: LIPPE, E. M. O. (Org.). Estrutura e funcionamento
do ensino fundamental e médio. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.
Biblioteca Virtual.
17
Preparando a regência de aulas de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental: rela-
ção entre práticas de linguagem, objetos de
conhecimento e habilidades
MIDIATECA
18
Nesse sentido, a professora universitária Maria Lúcia de Castro Gomes (2015) resume
bem como o trabalho didático em língua materna deve ser orientado para o domínio das
quatro habilidades:
Compreensão Compreensão
Fala Leitura
oral escrita
O aluno deve encontrar, no contexto escolar, o espaço propício para ampliar suas
competências. Leia-se:
19
Importante
Para concluir, vamos apresentar algumas das linhas gerais das normas da BNCC para o
Ensino Fundamental, especificamente na matéria de Língua Portuguesa. No documento,
não há diferenciação entre o ensino fundamental I e o ensino fundamental II, de modo
que os elementos a serem destacados naturalmente fazem parte de um continuum de
aprendizagens múltiplas, que progridem conforme as etapas avançam. Vamos destacar
o que está previsto para os anos finais do ensino fundamental, o que corresponderia
exatamente à etapa da educação em que o professor de Língua Portuguesa irá atuar.
Antes de tudo, vale afirmar que vários pontos precisam estar em consonância para
a aplicação da BNCC. Formação inicial e continuada de professores considerando
as especificidades e as experiências de cada docente, gestão escolar, coordenação
pedagógica, projeto político-pedagógico da escola, processos de avaliação, enfim, vários
elementos devem estar concatenados para que a BNCC seja inserida positivamente no
ambiente escolar. Vale ressaltar que as escolas de formação, na educação superior,
desenvolvem hoje discussões atentas às transformações vivenciadas pela Escola Básica.
Assim, é muito importante acompanhar o que a imprensa tem noticiado recentemente,
atentando-se, de modo crítico, para os efeitos que as mudanças nas políticas públicas
têm na rotina de professores, estudantes e toda a comunidade escolar.
20
Exemplo
21
Com um trabalho bem estruturado, os alunos
compreenderão e vivenciarão práticas de lin-
guagem como sendo dinâmicas, multidimen-
sionais e em permanente transformação, sejam
de natureza verbal (oral ou visual-motora, como
LIBRAS) e escrita, sejam de natureza corporal,
visual, sonora e, nos dias de hoje, digital, como
coloca a BNCC, em particular, na área de Lingua-
gens (Cf. BRASIL, 2018, p. 63-64). Dessa forma, estarão cada vez mais preparados
para atuar socialmente, tanto na vida privada como na vida pública.
22
Destaquemos alguns pontos relevantes para essa visão panorâmica, de modo a instigar
o aluno a estudar e consultar o documento sempre que necessário. Deve-se, para atingir
esse objetivo, ampliar o estudo dos diversos gêneros discursivo-textuais, sobretudo
aqueles que participam tanto da vida privada como da vida pública, atingindo novos
escopos, experiências inovadoras e abertura consistente para a diversidade. Nesse
sentido, aprofundamento especial deverá ser dado aos gêneros que circulam na esfera
pública, nos campos jornalístico-midiático e de atuação pública.
Vale a pena enfatizar que muitos esforços têm sido feitos para que a escola se torne
um ambiente significativo, que provoque, estimule, promova a solidariedade, estimule a
pesquisa e a atuação na e pela democracia plena. Celso Ferrarezi Jr., defensor de uma
pedagogia da comunicação, nesse sentido, diz-nos:
23
Preparando a regência de aulas de Língua
Portuguesa no Ensino Médio: relação entre
campos de atuação social, competências
específicas e habilidades
Como apontado por Celso Ferrarezi Jr., uma das grandes dificuldades para a formação
dos estudantes no ensino médio é transformar vidas e conectá-las ao mundo que as cerca:
24
MIDIATECA
É possível notar, neste ponto, que esses argumentos podem ser claramente articulados
com base na teoria dos gêneros discursivos de Mikhail Bakhtin e seu círculo, para os
quais os gêneros são sócio-historicamente situados e, ocorrem em interação, por meio
da troca significativa e dinâmica. Para recordar, segundo Bakhtin (2003), todo gênero
contém conteúdo temático, um estilo e uma estrutura composicional, que se apresentam
sempre muito articulados, com claros objetivos, considerando os sujeitos interagentes
envolvidos no processo comunicativo.
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Os jovens, nessa idade, precisam se sentir acolhidos e participantes de comunidades
ativas, participativas e socialmente relevantes. Assim, é natural e esperado que busquem
desenvolver linguagens próprias da cultura juvenil daquele momento e espaço, o que
provoca constantemente o professor no sentido de construir pontes significativas
em seu entorno. Moda, música, dança, mídias, teatro, cinema etc.: essas expressões,
por exemplo, podem dialogar com saberes considerados relevantes para a formação
humanística e intelectual dos estudantes. Convém, portanto, que os sujeitos estejam
constantemente envolvidos na produção de sentidos que permitam um diálogo
produtivo, responsável, que una e permita a integração, com empatia, dinamismo,
capacidade crítica e solidariedade.
Ademais, o jovem, ao ser preparado para tomar decisões, com autonomia e criticidade,
atuando em prol da convivência democrática, deve encontrar, outrossim, um ambiente
escolar propício, que valorize a docência e a perceba como um movimento inseparável
do desenvolvimento da sociedade como um todo, em busca de maior desenvolvimento
intelectual e humano, equidade e igualdade.
26
Saiba mais
NA PRÁTICA
27
a pena também percebê-los como recurso das retomadas
coesivas (das voltas que se faz a segmentos anteriores do
texto, por exemplo, as chamadas anáforas), considerando-
-se, ainda, as condições textuais e contextuais que tais reto-
madas requerem, a fim de que as referências feitas no texto
não fiquem ambíguas ou imprecisas. Muitas são as ativida-
des que podem ser feitas na exploração das condições de
uso dos pronomes no percurso do texto. Saber que um ELE,
por exemplo, é um pronome pessoal do caso reto é muito
pouco, é pouquíssimo. O que é comunicativamente relevante
é conhecer as regularidades de uso dos pronomes no texto,
para que se possa assegurar a clareza, a precisão referen-
cial, a interpretação coerente. Exercícios para identificar os
termos substituídos pelos pronomes, bem como outros de
identificação dessas retomadas, para se estabelecer as ca-
deias referenciais de um texto seriam uma forma de explici-
tar, para o aluno, os mecanismos intuitivos da construção de
textos coesos e, por essa via, coerentes. Eventualmente, po-
deriam ser analisados também os efeitos negativos do uso
inadequado dos pronomes para a compreensão do texto. Os
casos de ambiguidade referencial dariam muitas oportunida-
des de análise; por exemplo, os casos em que há mais de
um referente para um ELE no texto, de propósito (como nos
chistes) ou não. (ANTUNES, 2003, p. 130-131)
28
Resumo da Unidade 1
CONCEITO
Nesta unidade, vimos que alguns dos conceitos centrais para compreendermos as
propostas pedagógicas centradas na educação do futuro são: “importância do emba-
samento teórico-metodológico”, “texto”, “multimodalidade de linguagens”, “competên-
cia comunicativa”, “interações sociais” e “inovação”.
29
Referências
ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Minha Biblioteca.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. [Cf.
etapa do Ensino Fundamental e do Ensino Médio]. Disponível em: http://basenacionalco-
mum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/BNCC_19dez2018_site.pdf. Acesso em:
25 dez. 2018.
ELIAS, V. M. (Org.). Ensino da língua portuguesa: oralidade, escrita e leitura. São Paulo:
Contexto, 2011. Biblioteca Virtual.
30
FREIRE, P. A concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão: seus
pressupostos, sua crítica. In: . Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra,
1987. p. 35-43. Versão digital com base na 11. ed., 23. reimp. Disponível em: http://dhnet.
org.br/direitos/militantes/paulofreire/paulo_freire_pedagogia_do_oprimido.pdf. Acesso
em: 27 jan. 2019.
ILARI, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Pau-
lo: Contexto, 2009. Biblioteca Virtual.
LEAL, T. F.; SUASSUNA, L. (Org.). Ensino de língua portuguesa na educação básica: re-
flexões sobre o currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. Biblioteca Virtual.
SILVA, A.; PESSOA, A. C.; LIMA, A. (Org.). Ensino da gramática: reflexões sobre a língua
portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. Biblioteca Virtual.
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UNIDADE 2
Aprofundando os saberes
didático-pedagógicos em Língua
Portuguesa nas atividades de
regência no Ensino Fundamental
II e no Ensino Médio
INTRODUÇÃO
Para enfocar cada um dos eixos a serem trabalhados no Ensino Básico segundo as
orientações oficiais em vigor, prioridade será dada à BNCC (BRASIL, 2018), bem como a
outros documentos oficiais que com ela dialogam, sobretudo os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 1998). Aliás, é importante destacar que
ambos concebem a linguagem como produto da interação social. Assim sendo, tanto
Lev Vygotsky (1896-1934) quanto Mikhail Bakhtin (1895-1975) estarão presentes ao longo
das reflexões teórico-práticas aqui apresentadas.
Especificamente, objetiva-se que, como estudante de Letras, você torne-se cada vez
mais preparado para trabalhar, de forma bem estruturada, em perspectiva integradora
e interdisciplinar, diferentes eixos de ensino-aprendizagem em Língua Portuguesa,
tais como oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise
linguística/semiótica (Cf. BRASIL, 2018). Nesse sentido, a estrutura da BNCC para
Língua Portuguesa será destacada nesta Unidade, com especial atenção, nos dois
primeiros tópicos, para dois componentes importantes e presentes no eixo de “análise
linguística-semiótica”: o tratamento da norma-padrão e a diversidade linguística.
Ambos os conteúdos serão articulados pensando-se em possíveis práticas de sala de
aula para diferentes segmentos da Escola Básica, em que os futuros professores de
Português poderão atuar como regentes.
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E qual seria nosso maior desejo? Sem qualquer dúvida, nosso maior anseio é consolidar
a formação docente de futuros professores de Língua Portuguesa e suas Literaturas
comprometidos com o saber, o saber-ser e o saber-fazer, alicerçados em processos
de ensino e aprendizagem mais aceitos na contemporaneidade, não só no Brasil,
mas também no mundo. Assim, a articulação entre teoria e prática visa a dar maior
relevo ao saber vivenciado na prática, no contexto de sala de aula, de modo a articular
aprendizagens sobre a profissão que, ao fim e ao cabo, possam ser relevantes para
além dos muros escolares, promovendo uma interação profícua e promissora com a
sociedade como um todo.
OBJETIVO
34
Conhecimento sobre a Língua Portuguesa e
a norma-padrão em aulas de Língua Portu-
guesa na Escola Básica
35
Importante
36
E quais seriam esses documentos curriculares anteriores de que nos fala a BNCC? Vejamos
o que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa já apontavam para
professores de Português em todo o território nacional. Segundo o documento de mais de
duas décadas de publicação (BRASIL, 1997, p. 30-31), quando se pensa sobre o processo
“linguagem em interação”, realiza-se uma atividade de natureza reflexiva — ou de análise
linguística. As atividades de análise linguística, por sua vez — com base em pressupostos
teórico-metodológicos defendidos por João Wanderley Geraldi em Portos de passagem
(1991) — podem ser: atividades epilinguísticas ou atividades metalinguísticas. Defini-
las é crucial para que se desenvolva um trabalho com a norma-padrão da língua em
consonância com os documentos oficiais.
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Segundo João Wanderley Geraldi – explicitamente mencionado nos Parâmetros Cur-
riculares Nacionais de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental (em todos os
ciclos):
No Ensino Médio, os objetivos não se desviam dos princípios acima colocados para enfo-
que no uso da língua. Pelo contrário, ampliam-se de modo a indicar atividades que sejam,
de fato, significativas para os alunos, preparando-os para o mundo em sentido amplo,
desde suas relações em comunidade, na escola, no trabalho, até o exercício da cidadania.
Vejamos, a seguir, o que se afirma nas Orientações curriculares para o Ensino Médio
em relação ao título Linguagens, códigos e suas tecnologias, na seção Conhecimentos
de Língua Portuguesa. Na publicação, delineia-se a importância de se relacionarem usos
da língua a eventos de interação do trabalho de análise linguística com a análise do fun-
cionamento sociopragmático dos textos:
38
MIDIATECA
39
Dica
Pode-se perguntar: o que trazer para a sala de aula? Segundo Antunes, deve-
se buscar uma gramática que seja relevante, funcional, contextualizada e
interessante; uma gramática que liberte, que soletre a palavra; uma gramática
que preveja mais de uma norma; uma gramática que seja “da língua”, que seja
“das pessoas” (ANTUNES, 2003, p. 96-99).
Quando afirma a importância de se trabalhar com mais de uma norma, a autora coloca
claramente que a norma-padrão deve ser vista como a variedade da língua socialmente
prestigiada e mais aceita em meios sociais escolarizados. Nesse sentido, coincide com
o conceito de norma culta empregado por alguns autores, para os quais a norma-pa-
drão definiria um modelo idealizado, normativo, que distingue regras para a padroniza-
ção da língua.
Importante
40
Uma solução para conciliar o modo como a BNCC coloca a norma-padrão e a garantia
do rigor acadêmico seria tomá-la como referência visto que ela faz parte de variedades
específicas de língua escrita, como textos literários, acadêmicos e científicos. Para Fa-
raco e Zilles, a solução de Marcos Bagno deve ser discutida, a fim de se construir uma
unificação terminológica: “norma-padrão (para a norma normativa), variedades presti-
giadas (para substituir a norma culta) e variedades estigmatizadas (para substituir a
norma popular)” (FARACO; ZILLES, 2017, p. 22). Faraco e Zilles fazem tal afirmação no
contexto de uma consequente discussão sobre a norma a se abordar na escola. Para
os autores, a norma culta deve ser a principal referência no sentido de “norma normal”.
Entretanto: “Evidentemente, se a sociedade brasileira avançar no sentido de revisar a
norma-padrão para que ela espelhe a norma culta, grande parte do ônus que recai sobre
os falantes e sobre o ensino será superado” (FARACO; ZILLES, 2017, p. 184). Lutemos,
pois, para essa aproximação!
41
Análise e funcionamento da língua em con-
textos de diversidade linguística em aulas
de português na Escola Básica
A proposta definida para a segunda parte desta unidade aprofunda as questões colocadas
na primeira parte. Ou seja, há evidentemente uma continuidade que permitirá solidificar
saberes e habilidades a serem trabalhados na sala de aula de português, de modo a
priorizar a competência comunicativa dos estudantes.
Para retomar o assunto sobre “qual norma estudar na Escola Básica” e fazer a ligação
com o conteúdo da “diversidade linguística”, voltaremos aos quatro eixos definidos pela
BNCC (2018), orientados pelas práticas de linguagem: oralidade; leitura/escuta; produção
(escrita e multissemiótica); e análise linguística/semiótica. Esses são os eixos de
integração, de modo que um conteúdo relevante — como a diversidade linguística — deve
perpassar diferentes eixos, relacionados, por sua vez, a diversas práticas de linguagem.
Oralidade
Análise
linguística/
semiótica
BNCC Leitura/
escuta
Produção
escrita e
multissemiótica
42
Antes mesmo da BNCC, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontavam um caminho
que merece ser revisitado. Especificamente para o ensino de Língua Portuguesa, de
acordo com os PCN, os conteúdos das práticas que constituem o eixo de uso da língua
divergem dos conteúdos que fazem parte do eixo de reflexão. O processo de análise
linguística situa-se, por sua vez, no eixo de reflexão, enquanto o uso está relacionado às
atividades comunicativas propriamente ditas, ou seja, à performance da linguagem em
situações reais de interlocução.
MIDIATECA
43
as novas linguagens desenvolvidas no bojo do avanço das tecnologias da informação
e comunicação (Cf. BRASIL, 2018, p. 70). Em consonância com essa posição, para
a pesquisadora Roxane Rojo, o termo multiletramentos aponta precisamente para a
multiplicidade característica de nossas sociedades, sobretudo na contemporaneidade:
“[…] a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição
dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica” (ROJO; MOURA, 2012, p. 13).
Quando se amplia o foco para a questão linguística propriamente dita, a BNCC delineia
um grande avanço no sentido de apontar para a necessidade de se reconhecerem os
direitos linguísticos de todos os cidadãos presentes em território brasileiro, na trilha do
que afirma a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (UNESCO, 1996). Há, portanto,
importante destaque para a diversidade linguística. Nesse sentido, o documento
brasileiro é preciso ao afirmar:
Para refletir
44
Apontamos especificamente dois eixos que podem articular a abordagem da diversidade
linguística conforme a BNCC: eixo da análise linguística/semiótica e o eixo da oralidade.
Porém, antes de tudo, deve-se considerar que as práticas de linguagem não podem ser
vistas separadamente. O primeiro eixo, análise linguística/semiótica, foi abordado no
Tópico 1, quando discorremos sobre sua abrangência no que se refere a questões que
devem envolver:
Observe-se que a linguagem verbal, tanto oral como escrita, recebe uma atenção no
que diz respeito à composição, à estrutura, ao estilo e à sua situação de produção e
recepção, de modo que o gênero selecionado para as atividades de sala de aula deve
ser cuidadosamente trabalhado, inclusive considerando-se elementos como coesão e
coerência. No Tópico 1, procuramos também dar relevo ao conceito de norma-padrão,
com o qual os futuros professores de Português e suas Literaturas irão se deparar.
Embora seja possível englobar a “diversidade linguística” no eixo de análise linguística/
semiótica, por exemplo, relacionando norma-padrão, variedades cultas e variedades
estigmatizadas, nossa proposta é abrir o debate para o eixo da Oralidade, de modo a
contribuir para ampliar o repertório de nossos futuros professores de Língua Portuguesa
e suas Literaturas e congregar saberes relacionados a diferentes práticas de linguagem.
45
Para refletir
Fica claro, portanto, que há muita afinidade da BNCC (2018) com a proposta
delineada a partir da publicação dos PCN de Língua Portuguesa (1997), quando
se desenham os eixos de uso e de reflexão (abordados no Tópico 1 da Unidade
2). Observe-se, nesse contexto, que a reflexão sobre variação e diversidade
linguística é central — o que implica escolher que norma empregar, com
adequação às situações de uso da língua.
Seria, portanto, oportuno, nesse conjunto de reflexões, explicitar questões relativas aos
gêneros orais. Para se efetivar um estudo detido deles, é preciso considerar — conforme
aponta a BNCC (BRASIL, 2018, p. 80) — as especificidades da fala (como ritmo, altura,
intensidade, clareza de articulação, variedade linguística adotada, estilização da fala etc.,
conforme consta no documento normativo), bem como os elementos paralinguísticos
e cinésicos (postura, expressão facial, gestualidade etc.). Mais ainda:
46
Nesse caso, o professor necessariamente deverá situar o aluno sobre a variação linguística
presente nas diferentes práticas de linguagem — mesmo porque, como bem sabemos, o
português brasileiro é muito diverso e heterogêneo, sobretudo na modalidade oral, e essa
multiplicidade precisa encontrar terreno propício para debates em sala de aula. O livro O
português da gente,de autoria de Ilari e Basso (2009), apresenta e discute as principais
características dos seguintes tipos de variação:
Engloba aspectos
relacionados aos
meios ou veículos
Diz respeito Está relacionada à Considera
das mensagens;
à variação no variação no espaço diferentes estratos
ou, ainda, conside-
tempo. ou regional. da população.
ra as especificida-
des de diferentes
gêneros textuais.
47
Nesse sentido, se queremos oferecer exemplos das diferenças entre entrevistas orais
e sua passagem para o texto escrito, naturalmente aspectos relativos às diferentes
modalidades da língua serão articulados (portanto, a variação diamésica deve estar
em pauta). A variação presente na oralidade é, de fato, diferente daquela encontrada
em textos escritos, que sofrem a força de normatização, de padrões e de regulação
operados sobretudo pela academia. Assim, as regras de textualização, como bem afirma
Marcuschi (2007), serão diferentes na fala e na escrita, que são atividades discursivas
distintas. Devemos estar atentos a essas especificidades. Há um longo trabalho a ser feito
para que os falantes brasileiros, inclusive, libertem-se de uma série de preconceitos que
prejudicam a vivência plena da cidadania, em um universo de oportunidades iguais para
todos. Leia-se, a seguir, o pungente testemunho de uma estudiosa da área, a professora
e pesquisadora Maria Marta Pereira Scherre:
Vemos, portanto, que cabe quase exclusivamente à escola conduzir um debate linguístico
que respeite a diversidade, a multiplicidade do português brasileiro e a cientificidade.
Para que isso ocorra, não há necessidade de o aluno da Escola Básica empregar
nomenclaturas específicas ou excessivamente especializadas. Entretanto, sem dúvida, o
estudante do Ensino Fundamental e do Ensino Médio precisa conhecer os mecanismos
necessários para entender a lógica dos diferentes gêneros discursivos. Essa condição
é fundamental para produzir discursos coerentes, coesos, adequados do ponto vista
linguístico e comunicativo, além de evitar preconceitos linguísticos, infelizmente muito
presentes em nossa sociedade. No próximo tópico, discutiremos especificidades relativas
a projetos didáticos em Língua Portuguesa que articulam os diferentes eixos em pauta
na BNCC, ao trabalhar, com rigor acadêmico e senso crítico, com a “variação linguística”
e a “diversidade do português brasileiro”.
48
Importância do equilíbrio entre os eixos de
leitura, escrita e oralidade em aulas de Lín-
gua Portuguesa na Escola Básica
49
MIDIATECA
O filósofo francês Edgar Morin ensina que a complexidade tem relações sólidas com
perspectivas interdisciplinares e integralizadoras, uma vez que concebe o sujeito em sua
totalidade:
Assim, por mais que possamos enfatizar determinados conteúdos, deve-se ter em mente
que qualquer isolamento, decomposição ou análise só farão sentido se a unidade for
vista como parte da diversidade do real, da multidimensionalidade e da complexidade da
natureza humana.
50
quando abordada, deve ser apresentada de modo contextualizado, a fim de ampliar as
capacidades comunicativas dos falantes. Nesse contexto, a gramática normativa, por sua
natureza prescritivista, idealizada e ainda voltada para as questões de “certo” e “errado”,
seria profundamente limitadora por não considerar os conceitos de “adequação” e de
“aceitabilidade” linguística, tal qual buscamos em qualquer fase do Ensino Básico. Para
relembrar o que nos dizem linguistas e pedagogos na atualidade:
51
(oralidade versus letramento). As relações entre fala e escrita não são
óbvias nem lineares, pois elas refletem um constante dinamismo fun-
dado no continuum que se manifesta entre essas duas modalidades de
uso da língua. (MARCUSCHI, 2010, p. 34)
A fala é não planejada; a escrita é planejada A escrita dá acesso por si mesma a poder
e permanente. e mobilidade social.
52
Essas visões redutoras vêm sendo paulatinamente superadas por uma prática
pedagógica reflexiva e crítica, de bases científicas. Observe-se abaixo o resultado de
uma prática de retextualização realizada por um estudante do quarto período de Letras
(UFPE), com base em um texto oral retirado por Marcuschi do acervo do Projeto Norma
Urbana Culta – Nurc do Recife, produzido por uma professora universitária em conversa
com um colega (MARCUSCHI, 2000-2001 apud ROJO, 2006, p. 42):
O que eu acho engraçado é que toda vez que um biólogo começa a falá em controle
da natalidade e programação da sociedade… ele é taxado imediatamente de nazista e
fascista… porque essa ressalva que eles fazem… essa reação que o povo tem em geral
até hoje eu não entendi… porque olhe… se nós vivemos em uma sociedade em que as
camadas mais pobres da população… apresentam um índice de natalidade mais alto…
significa o quê?… que a... daí a um determinado tempo… o índice mental... o índice mental
dessa sociedade vai cair [...].
53
NA PRÁTICA
Na prática, espera-se que você, aluno de Letras e futuro professor, esteja cada vez
mais preparado para desenvolver projetos didáticos bem articulados, que integrem,
em perspectiva científica e crítica, diferentes eixos de ensino-aprendizagem do
português. Você deverá contribuir para o desenvolvimento de uma educação
integral, comprometida com saberes, competências, atitudes e valores cruciais para
o enfrentamento dos desafios contemporâneos.
Observe-se, logo abaixo, como a pesquisadora Roxane Rojo (2006) propõe uma
atividade de retextualização, a partir de uma entrevista arquivada no acervo do
Projeto Nurc.
Entrevistada: [...] realmente deve ser uma delícia ter uma fa-
mília gran/ bem grande com bastante gente...eu sou filha úni-
ca...ah tenho um irmão de treze anos...mas gostaria deMAIS
de ter tido...mais irmãos...porque quando::...com meu irmão
eu já::já tinha curso universitário já já tinha saído da faculda-
de quer dizer então não tem quase que vantagem nenhuma
não é?...eu queria então uma família grande tínhamos pen-
sa::do...numa família maior mas depois do segundo...já deve
estar todo mundo tão desesperado que nós ((risos)) estamos
pensando... [...] é (pensamos) seriamente em parar...depois
disso ainda ti/ tive problemas de...saúde problemas de tirói-
de não sei quê::então o médico está aconselhando a não ter
mais... então nós estamos pensando...estamos pensando
não ofic/ oficialmente não está encerrado...mas de fato está
porque::...o endocrinologista proibiu terminantemente que eu
tenha mais filhos... (...) inclusive...se eu tiver...ele disse que vai
ser necessário...um aborto...então estamos naquele negócio
eh...como fazer::...se faço operação::se o marido fa::z mas ele
acha que::...de jeito nenhum::((risos)) (...) (2006, p. 44)
54
Em seguida, Roxane Rojo coloca, a propósito dessa transcrição, a seguinte proposta
de atividade pedagógica:
Por fim, com o objetivo de desenvolver a atividade prática, como a escrita de uma
reportagem, vimos que é necessário dinamizar um conjunto de saberes relevantes
para a formação dos sujeitos no século XXI.
55
Resumo da Unidade 2
CONCEITO
56
Referências
ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Minha Biblioteca.
57
COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. 3. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Autêntica,
2014.
ELIAS, V. M. (Org.). Ensino da língua portuguesa: oralidade, escrita e leitura. São Paulo:
Contexto, 2011. Biblioteca Virtual.
FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola, 2008.
HORA, D.; SILVA, T. C. Transformações da língua. In: PINSKY, J.; MARTINS, J. S. (Org.). O
Brasil no contexto: 1987-2017. São Paulo: Contexto, 2017. Biblioteca Virtual.
ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que
falamos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. Biblioteca Virtual.
. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
58
MORIN, E. O método 2: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2001.
ROJO, R. As relações entre fala e escrita: mitos e perspectivas. Belo Horizonte: Ceale,
2006. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/files/uploads/Col.%20
Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Letramento/Col%20Alf.Let.%2013%20Relacoes_
Fala_Escrita.pdf. Acesso em: 7 mar. 2019.
SILVA, A.; PESSOA, A. C.; LIMA, A. (Org.). Ensino da gramática: reflexões sobre a língua
portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. Biblioteca Virtual.
59
UNIDADE 3
Integrando os saberes
didático-pedagógicos em
Língua Portuguesa: o texto em
suas múltiplas modalidades
INTRODUÇÃO
Além do diálogo com as especificidades de cada espaço social, a BNCC também esti-
mula o diálogo ativo com as práticas de linguagem típicas da sociedade de informação
e comunicação. Ou seja, deve-se apresentar ao estudante do século XXI o potencial de
interação produtiva, criativa e crítica com diferentes semioses. Portanto, o universo da
cultura digital e dos meios eletrônicos tem seu espaço garantido segundo o que se dese-
nha para o futuro da educação.
Assim, se a educação deve conectar-se à realidade que a cerca, o grande desafio é man-
ter a curiosidade diante do mundo em rápida transformação, de modo que os gêneros
discursivos ou textuais ligados à mídia digital ganhem vida e não apareçam apenas como
um componente curricular amorfo.
61
ensino básico serão abordados de modo contextualizado, de acordo com práticas comu-
nicativas socialmente situadas. É dentro desse arcabouço geral que se devem estruturar
projetos pedagógicos socialmente relevantes para o estudante, sua comunidade e para a
sociedade em que ambos estão inseridos.
OBJETIVO
62
Aspectos da intervenção docente supervi-
sionada em sala de aula: os eixos de Língua
Portuguesa e as diferentes modalidades de
linguagens no contexto das práticas sociais
Neste tópico, será importante aprofundar reflexões abertas pelo conceito de letramento
inserido no contexto da didática do ensino de Língua Portuguesa. Convém, assim, partir
do seguinte princípio: todos os sujeitos inseridos na cultura letrada fazem algum tipo de
uso da leitura e da escrita em suas práticas sociais. Desse modo, as experiências são
variáveis e dificilmente mensuráveis, principalmente porque as condições de acesso a
produções que circulam na sociedade letrada são diversas e desiguais.
63
Assim, quando se exploram diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de
produção, reprodução e difusão da escrita (e de produções multissemióticas), torna-se
necessário articular um saber didático que lide com essas práticas sociais, muitas vezes
desafiadoras e híbridas (SOARES, 2002).
O segundo é aberto,
O primeiro é mais
pouco controlado, não
estável, homogêneo,
é monumental, é híbrido
acabado, monumental.
e heterogêneo.
64
É interessante observar como a metáfora dos caminhos múltiplos se atualiza de dife-
rentes modos de forma a explicitar a importância de se estabelecerem paradigmas con-
sistentes de divulgação cultural, que se potencializam na era moderna. Nesse sentido, o
professor Moisés de Lemos Martins, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
da Universidade do Minho, Portugal, afirma que:
65
Nesse sentido, pode-se dizer que o cinema é democrático, pois ele pode se expandir
por todas as partes do globo, com a colaboração das redes de produção e distribuição
multimidiáticas. Como ele, também poderíamos mencionar inúmeras outras práticas
sociais que participam ativamente da vida na contemporaneidade, como séries de TV,
performances multimidiáticas em museus e teatros, desfiles de escola de samba, a
música popular brasileira etc. O professor, portanto, deve estar atento para as especifici-
dades da cultura contemporânea, de modo a fazer recortes inovadores e estimular em
seus estudantes o interesse em participar de diferentes portas de entrada para a vida na
sociedade contemporânea.
MIDIATECA
66
Análise e discussão de dados coletados du-
rante as atividades de regência de aulas
Para refletir
Como exemplo, vejamos o que afirma a autora Rosália Duarte sobre a possibilidade de
se trazer o cinema para a sala de aula, o que seria bastante viável em aulas de Língua
Portuguesa:
[…] para se fazer análise descritiva de filmes é preciso, então, cruzar os dife-
rentes sistemas de significação dos filmes com os elementos de significa-
ção que estão presentes nas culturas em que eles são vistos e produzidos,
ou seja, procura-se identificar e descrever o(s) significado(s) de narrativas
fílmicas no contexto social de que elas participam. Assim, por exemplo,
para analisar a forma como o cinema representa a infância, não basta ter
67
conhecimento da técnica cinematográfica, é preciso ter em mente quais
são as representações de infância que estão presentes nas sociedades e
culturas em que os filmes que abordam esse tema têm repercussão. Aná-
lises desse tipo são sempre parciais e provisórias, pois deixam em aberto
a possibilidade de haver outras interpretações. (2009, p. 87)
Para refletir
Agora façamos outra indagação: como nos certificar de que as perguntas lan-
çadas, os debates produzidos, as estratégias pedagógicas adotadas, as pro-
duções realizadas, as interpretações delineadas e as avaliações desenvolvidas
foram construtivos e intelectualmente estimulantes?
Pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa é empregada para reunir dados coletados por meio de diários,
questionários, entrevistas e observações, não se baseando, portanto, em dados es-
tatísticos numéricos. Pode ser empregada para investigar motivações, opiniões, ten-
dências, pensamentos, hipóteses, com o objetivo de coletar dados para que a com-
preensão de um fenômeno possa ser enriquecida pela expressão da subjetividade e
da interação entre as pessoas. Não há padrões específicos, de modo que a metodo-
logia oferece abertura e flexibilidade em sua execução. Seus dados podem ser conti-
nuamente revistos.
68
Pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa, por outro lado, ocorre com base em dados verificáveis por
meio de sistemas numéricos. Parte da premissa de que comportamentos, atitudes,
opiniões e fenômenos sociais podem ser quantificados. As medições devem ser pa-
dronizadas, de modo que os resultados sejam objetivamente explicitados, com a fina-
lidade de generalizar dados sobre populações, comunidades, grupos etc. A coleta é
estruturada, não flexível e detalhada. Os dados coletados são posteriormente analisa-
dos e formulações e conclusões devem ser conduzidas por especialistas no assunto.
Dica
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007. Biblioteca Virtual.
Em ambos os casos, equipes devem ser treinadas a fim de se oferecer cientificidade aos
procedimentos adotados. No caso das pesquisas realizadas no âmbito educacional, po-
demos lançar mão das premissas de pesquisas qualitativa e quantitativa, antes e depois
da aplicação de projetos didáticos bem fundamentados. Assim, será possível confirmar
se determinadas estratégias adotadas são viáveis para aquela comunidade educacional,
considerando-se, entre outros elementos, seus recursos materiais e imateriais. A pesqui-
sa no campo da educação certamente é uma aliada aos processos de inovação em sala
de aula, sendo, portanto, fundamental dominar suas técnicas e seus procedimentos.
69
MIDIATECA
70
Articulação dos saberes didático-pedagó-
gicos: os projetos integradores e a interdis-
ciplinaridade
Atualmente, uma das questões mais prementes no âmbito educacional diz respeito à
importância de se estabelecerem elos construtivos entre diferentes disciplinas. Essa
integração pode se dar de inúmeras formas, por exemplo, por meio de projetos que
possibilitem trânsitos consistentes e socialmente relevantes entre literatura, língua
portuguesa e artes; literatura, língua portuguesa e história; literatura, língua portuguesa e
ciências, e por aí vai. Para tanto, é preciso, segundo Morin (2007), alterar a lógica clássica
que escora o paradigma científico, sustentando ordem, separabilidade e lógica em busca
de sistemas que reagrupem disciplinas e estabeleçam complexas interações e inter-
relações. Assim, abrem-se os caminhos para explorar processos interdisciplinares (entre
disciplinas), multidisciplinares (com várias disciplinas) e transdisciplinares (para além das
tradicionais disciplinas do conhecimento, em busca de uma educação integral).
71
modelos mais inovadores, disruptivos, sem disciplinas, que redesenham
o projeto, os espaços físicos, as metodologias, baseadas em atividades,
desafios, problemas, jogos e onde cada aluno aprende no seu próprio rit-
mo e necessidade e também aprende com os outros em grupos e proje-
tos, com supervisão de professores orientadores. (MORÁN, 2015, p. 15)
72
MIDIATECA
Para refletir
Os caminhos são vários, mas é importante partir sempre da percepção de que não se
deve ter receio de errar. Assim, o conhecimento literário, por exemplo, pode ganhar rele-
vância dentro de uma comunidade de leitores porque foi vivenciado de inúmeros modos,
sempre com o respaldo de uma orientação didática fortemente comprometida com a
descentralização, a mediação empática e a postura colaborativa. Como afirma Marcelo
Ganzela (2018):
73
tudantes de licenciatura em letras e que têm sido gerenciadas por eles
próprios. Nossa hipótese é de que, sem o uso de metodologias ativas,
muitas dessas ideias levariam mais tempo para surgir entre eles (visto
que elas surgem mesmo entre os estudantes do primeiro ano do curso).
MIDIATECA
NA PRÁTICA
Nesse sentido, é importante que o futuro professor esteja preparado para buscar a
inovação em sala de aula, de modo a construir um espaço de ensino-aprendizagem
favorável às trocas produtivas e criativas. Leia-se, a seguir, excerto de matéria
da revista Nova Escola comentando como habilidades socioemocionais podem
ser exploradas em aulas de Língua Portuguesa, com atividades voltadas para a
educação literária:
74
letivas. Ela sustenta que, além de possibilitar a imersão em
um mundo de sensibilidades, a educação literária contribui
para o desenvolvimento cognitivo e afetivo, na medida em
que proporciona a formação de um sujeito crítico, que não
apenas decodifica, mas interpreta e recria situações. (CECÍ-
LIO, 2019)
75
Resumo da Unidade 3
Nesta unidade, o objetivo principal foi estimular o estudante e futuro professor de Língua
Portuguesa a relacionar, com embasamento teórico-prático, os eixos organizadores das
práticas de linguagem e os aspectos produtivos e comunicativos em pauta para as aulas
de Língua Portuguesa no ensino básico. Trabalhamos, para tanto, com perspectivas
abertas por estudos acerca das práticas de letramentos e pelo emprego de metodologias
ativas. Apresentamos, no horizonte de possibilidades, estímulos para o estabelecimento
de trânsitos disciplinares ligados à inovação, como a aproximação entre texto verbal e
multimodal em produções audiovisuais, em contínua expansão na era contemporânea,
no Brasil e no mundo.
CONCEITO
76
Referências
BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Minha Biblioteca.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007. Biblioteca Virtual.
DUARTE, R. Cinema & educação. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. Biblioteca Virtual.
ELIAS, V. M. (Org.). Ensino da língua portuguesa: oralidade, escrita e leitura. São Paulo:
Contexto, 2011. Biblioteca Virtual.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 2001.
GANZELA, M. O leitor como protagonista: reflexões sobre metodologias ativas nas aulas
de literatura. In: BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. Edição digital.
Minha Biblioteca.
ILARI, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2009. Biblioteca Virtual.
LÉVY, P. Cibercultura. Trad. Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
77
MARTINS, M. L. Media digitais: hibridez, interatividade, multimodalidade. RCL. Minho,
n. 43-44, p. 49-60, 2011-2012. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bit-
stream/1822/25606/1/media_digitais.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019.
MOITA LOPES, L. P.; ROJO, R. Linguagens, códigos e suas tecnologias. In: BRASIL. Orien-
tações curriculares de ensino médio. Brasília: MEC; SEB; DPEM, 2004. p. 14-36. Dispo-
nível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/02Linguagens.pdf. Acesso em: 30
mar. 2019.
MORÁN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, C. A.; MORALES,
O. E. T. Midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens. Ponta Grossa: Foca
Foto-Proex/UEPG, 2015.
MORIN, E. Ciência com consciência. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
SCHNEIDER, F. Otimização do espaço escolar por meio do modelo de ensino híbrido. In:
BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. Ensino híbrido: personalização e tecnolo-
gia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. p. 67-80. Minha Biblioteca.
SILVA, A.; PESSOA, A. C.; LIMA, A. (Org.). Ensino da gramática: reflexões sobre a língua
portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. Biblioteca Virtual.
SOARES, M. Alfabetização e letramento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2017. Biblioteca Virtual.
78
. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Socie-
dade. Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/
pdf/es/v23n81/13935.pdf. Acesso em: 20 mar. 2019.
79
UNIDADE 4
Perspectivas inovadoras
na contemporaneidade:
desenvolvendo competências
cognitivas e competências
socioemocionais no ensino de
Língua Portuguesa
INTRODUÇÃO
A unidade que agora apresentamos tem como objetivo estimular o futuro professor
de Língua Portuguesa a consolidar seu conhecimento sobre práticas inovadoras no
campo educacional, de modo a colocar em foco conceitos e procedimentos que
promovam a educação integral. Essas premissas estão presentes no desenvolvimento
de competências que têm direcionado a construção de currículos em diversos países do
mundo, como Portugal, Estados Unidos e Chile, entre outros. Além disso, o aprendizado
por competências orienta a produção de avaliações internacionais, como as realizadas
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (que
implementa o Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa) e pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco (que instituiu o
órgão Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação – LLECE).
Essas premissas estarão presentes nos tópicos desta unidade, os quais discorrerão sobre
aspectos formativos e procedimentais do ensino por competências; sobre diálogo ativo
que se estabelece com uma sociedade do século XXI, orientado por princípios como o
respeito à diversidade; pelo uso responsável das tecnologias digitais; pela necessidade
de se lidar produtiva e criativamente com discursos moventes e híbridos; e, por fim, para
81
conduzir avaliações que estejam em consonância com as condições de aprendizagem
de grupos e comunidades de aprendizagem, entre outros importantes elementos.
Chegamos ao fim deste percurso esperando que todos estejam cada vez mais envolvidos
no processo de transformação educacional de nosso país! Bons estudos!
OBJETIVO
82
Reflexão sobre as práticas sociais inseridas
na sociedade da informação e comunica-
ção: a aprendizagem ativa para o desenvol-
vimento da educação no século XXI
83
Deverá, então, fazer parte da formação dos alunos de licenciatura (e futuros profissionais
da educação) o preparo constante e contínuo visando à transformação da educação,
plenamente inserida na dinâmica híbrida, móvel, ubíqua e desafiadora do século XXI,
como bem coloca a BNCC (BRASIL, 2018). Um dos pontos centrais das discussões
hodiernas, portanto, demanda posicionar nossos estudantes da rede básica de ensino
como construtores (e não consumidores acríticos) do conhecimento, preparados para
desenvolver práticas sociais complexas e inovadoras, em busca de lutar contra as
desigualdades sociais e pela inserção produtiva, criadora e responsável nas complexas
malhas discursivas que caracterizam a Sociedade da Informação e Comunicação.
84
MIDIATECA
Ainda nesse sentido, segundo os pesquisadores das práticas de letramento digital Gavin
Dudeney, Nicky Hockly e Mark Pegrum, deve fazer parte intrínseca de nossa prática
observar, refletir, agir, avaliar, modificar e tomar novas direções:
85
No campo de estudos da linguagem, o desenvolvimento das práticas de letramento
igualmente deve se orientar por um processo permanente de avaliação da formação
em serviço no interior das escolas. Assim, na perspectiva dos letramentos e dos
multiletramentos, devemos continuar a aprender considerando o contexto sociocultural
e as novas tecnologias. O professor deve conduzir a “pesquisa para a prática (reflexiva)”
e deve retornar à “pesquisa (ação), incluindo a disseminação de novos entendimentos”
(DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p. 320). Assim, tanto o sujeito da aprendizagem
quanto a própria sociedade se beneficiarão (por estarem correlacionados de modo
intrínseco) do ensino integral, de modo a associar os campos sociais, econômicos,
culturais, políticos e artísticos à dinâmica desenvolvida na própria rede escolar.
MIDIATECA
86
Produções discursivas na contemporanei-
dade: hibridismos, fronteiras e tecnologias
digitais
As premissas adotadas por Mikhail Bakhtin (2003) sobre os gêneros discursivos abrem
um potencial grande para compreender a constante renovação de formas, estilos e es-
truturas composicionais, inserindo os gêneros emergentes nas práticas cotidianas. Vale
a pena refletir, aliás, sobre as mudanças implicadas pelo conceito “gênero textual” no
ambiente das novas tecnologias digitais. Segundo Lemke, é necessário:
87
MIDIATECA
Para tanto, o ensino por competências desempenha uma função de extrema relevância
ao enfatizar o protagonismo e a centralidade dos estudantes. Os professores, como
mediadores do processo de ensino e aprendizagem, bem formados e preparados, serão
verdadeiramente estimuladores se adotarem as metodologias ativas em sala de aula.
Assim, o estudante estará cada vez mais preparado para aprender a aprender e a aprender
com o outro, desenvolvendo parcerias múltiplas. Observe-se o que afirma Berbel:
Portanto, a educação integral deve estar em perfeita consonância com uma educação
que se compromete com o desenvolvimento da equidade. Deve-se, entretanto, enfatizar
que a Sociedade da Informação e Comunicação precisa estar acessível a todos, e não a
somente poucos, se quisermos atingir um patamar educacional transformador. Segundo
Moacir Gadotti (que se dedicou ativamente ao tema das políticas públicas voltadas para
a educação em tempo integral nas redes públicas), a sociedade aprendente desenvolveu
88
múltiplos espaços de aprendizagem e comunidades de aprendizagem, sendo, portanto,
esperado que vivenciemos essa dinâmica singular:
MIDIATECA
89
Como conduzir a avaliação da aprendiza-
gem em Língua Portuguesa no contexto da
formação integral
A avaliação, desse modo, deve ser compreendida como parte de processo dialógico. O
dialogismo e a contextualização,presentes na avaliação processual, vão ao encontro
de teorias da linguagem desenvolvidas por Mikhail Bakhtin (2003) e ao pensamento de
Paulo Freire, que pauta a educação como um processo contínuo, ligado à troca dialógica
permanente entre professores e estudantes, ao cotidiano e à cidadania (cf. FREIRE, 1987;
FREIRE, 1996). Nesse sentido, há uma ênfaseno fato de que a memorização e a mera re-
produção não podem ocupar o centro do processo avaliativo, em perspectiva somativa.
A avaliação somativa, fortemente discutida por estudiosos da educação hoje, pauta-
-se por eventos pontuais, com base sequencial, somatória e cumulativa, a fim de colher
evidências para verificação, classificação, posicionamento, informação e certificação. O
pensamento de Paulo Freire procurou combater essa perspectiva em favor das práticas
de cidadania e inclusão social.
90
Por seu turno, a avaliação processual ou contínua procura compor um leque de
experiências e registros que possam oferecer informações sobre a aprendizagem do
educando em perspectiva integral. Assim, os professores também se tornam parte do
processo, de modo a poder reavaliar constantemente sua própria prática. Nesse sentido,
a avaliação processual ou formativa torna-se uma fonte valiosa de informação para lidar
com a realidade escolar de modo ativo e participativo. Os princípios que devem nortear
uma educação pautada, por exemplo, na educação inclusiva oferecem solidez para um
paradigma de avaliação de aprendizagem que privilegie os seguintes princípios:
Por fim, a centralidade da formação integral prevista na educação por competências, que
prevê a avaliação formativa, afina-se a esse debate para o desenvolvimento dos seres
humanos em uma dinâmica que seja inclusiva, que acolha a diversidade e a singularidade,
que estimule o convívio e a troca no interior de comunidades de aprendizagem. Entretanto,
dá ênfase às competências previamente estabelecidas, de modo a envolver toda a rede
de ensino em um processo comprometido com a aprendizagem ativa. Leia-se, a seguir, o
que, a propósito, afirma a BNCC sobre a importância da avaliação formativa, no contexto
da ênfase na necessidade de elaborar currículos com o envolvimento e a participação
das famílias e da comunidade. Dentre oito ações especificadas, a quinta ação implica:
91
melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos.
(BRASIL, 2018, p.17)
MIDIATECA
92
de avaliação, método de avaliação ou mesmo estratégia de avaliação
poderão, na maioria dos casos, ser mais congruentes com a concep-
ção emergente de avaliação formativa. (FERNANDES, 2006, p. 40)
Por fim, é possível observar que o desenho de currículos segundo a perspectiva do ensino
por competências se beneficia da avaliação na perspectiva formativa. Para Perrenoud, a
avaliação formativa é uma grande aliada na luta contra as desigualdades e os fracassos
escolares – temas, aliás, muito debatidos no Brasil e na América Latina, que continuam
a desafiar profissionais da educação e de políticas públicas. O autor também destaca
que não se deve abrir mão da correção, pois ela informa os pais e a comunidade escolar
sobre a aprendizagem dos alunos. Os dados fornecem subsídios consistentes para,
então, praticar uma pedagogia e uma didática comprometida com a aprendizagem de
sujeitos singulares, não padronizados, que possam mergulhar no saber para atingir seu
máximo potencial (Cf. PERRENOUD, 2015, p. 15-27).
MIDIATECA
93
NA PRÁTICA
Na prática, o futuro professor de Língua Portuguesa deverá estar apto para investir
em contextos escolares do Ensino Básico em aulas de Língua Portuguesa, com bom
embasamento teórico-prático. Inclusive, deverá estar preparado para compreender
a nova dinâmica comunicacional, que aponta para o uso recorrente de novas
tecnologias no âmbito educacional e práticas de linguagem multimodais.
94
tros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas
mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas
caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, inter-
venção na realidade. Há perguntas a serem feitas insistente-
mente por todos nós e que nos fazem ver a impossibilidade
de estudar por estudar. De estudar descomprometidamente
como se misteriosamente de repente nada tivéssemos que
ver com o mundo, um lá fora e distante mundo, alheado de
nós e nós dele. (FREIRE, 1996, p. 30-33)
95
Resumo da Unidade 4
CONCEITO
96
Referências
ALVES FILHO, F.; SANTOS, L. W.; RAMOS, P. Gêneros digitais: muito além do hipertexto.
In: MARQUESI, S. C.; PAULIUKONIS, A. L.; ELIAS, V. M. Linguística textual e ensino. São
Paulo: Contexto, 2017. p. 165-184. Biblioteca Virtual.
BACICH, L.; MORAN, J. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
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