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Resumo
Esse trabalho visa apresentar as potencialidades dos padrões geométricos usados na arte
islâmica para o ensino de geometria. Trata-se de uma pesquisa exploratória cujo procedimento
metodológico de coleta de dados teve por base principal intensa investigação bibliográfica e
visitas a cidades islâmicas. A análise dos resultados foi referenciada, fundamentalmente, nos
pressupostos da Etnomatemática. Os resultados indicam que os padrões geométricos islâmicos
usam desenvolvimentos matemáticos, com destaque para a geometria, na construção de um
simbolismo relacionado a religião muçulmana. A presença da geometria na arte islâmica é um
caminho para discutir, por exemplo, isometrias e pavimentação do plano. Percebeu-se que a
prática matemática Girih foi desenvolvida e utilizada no contexto das construções arquitetônicas
dos povos muçulmanos, estando presente na ornamentação de construções religiosas, estatais e
culturais. Essa prática mostra-se potente também para o ensino de Geometria.
1. Introdução
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Ifes; acbifes@gmail.com
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Ifes; aransadli@gmail.com
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qual pertence (...) enquanto um quadrado, por exemplo, pode remeter ao simbolismo da
terra (...) além de um número infinito de outras possibilidades” (LEITE, p. 35).
Muitos desses padrões podem ser construídos usando o método strapwork que
usa régua compasso para transformar círculos e quadrados em estrelas. A figura 1 ilustra
o processo de construção de um padrão usando o método strapwork (TENNANT, 2009)
Tennant (2004) indica que a grande maioria dos padrões geométricos islâmicos
se repetem de forma periódica. Alguns deles se repetem em duas direções lineares como
os observados na primeira imagem da figura 2, enquanto outros possuem um ponto
central, a partir do qual são posicionados os polígonos com simetria radial, como na
segunda imagem da figura 2.
Ele também comenta que há diversos outros padrões que aparentam ser não
periódicos e contém diferentes simetrias, o que sugere que o artista islâmico tenha usado
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diferentes estratégias de construção. Lu e Steinhard (2007) concluíram que os artistas
usaram a estratégia denominada Girih para construir diversos padrões, como os
apresentados na figura 3.
Lu e Steinhardt (2007) nos diz que o padrão usado para ornamentar a mesquita
do complexo Sultanhan Caravanserai, foi criado a partir da repetição da célula padrão
ilustrada na figura 10.
Figura 10: Célula de criação da ornamentação da mesquita do complexo Sultanhan Caravanserai
Figura 11: Construção do padrão de ornamentação da mesquita por meio de régua e compasso
Outra forma de pensar a construção do padrão da figura 10 é por meio das peças
Girih que estão representadas na figura 5. A ornamentação é representada como uma
pavimentação de três peças: decágono, gravata borboleta e hexágono. As duas
ornamentações usam a mesma malha, no entanto houve uma rotação, resultando em
desenhos distintos (figura 12).
A construção de padrões geométricos islâmicos por meio das peças Girih traz
reflexões sobre as práticas e os procedimentos geométricos usados pelos artistas
islâmicos, inerentes a uma cultura, a um grupo ou comunidade e que tem pouca
visibilidade no mundo ocidental.
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A presença constante da geometria na ornamentação das
construções islâmicas deve-se ao fato de que formas e padrões geométricos são
abstratos e o islamismo é uma religião não figurativa, logo os antigos artistas islâmicos
levaram a expressão visual de figuras geométricas para expressarem os preceitos do islã.
Dessa forma, esses artistas produziram esses padrões não só para criar mosaicos
geométricos atrativos, mas também para transmitir as noções divinas do Islã
(ILKTÜRK, 2008).
Nos padrões geométricos, segundo Leite (2007), cada forma geométrica e sua
disposição no mosaico possui um significado no contexto da peça. Os padrões
geométricos representam o “(…) o mundo invisível, à estrutura eterna ou Unidade de
subjacente à criação” (LEITE, 2007, p. 43). Conforme esta autora, nos padrões as
formas geométricas podem estar na forma de expiração (expansão) ou de inspiração
(contração).
A autora usa o quadrado (ou da composição de quadrados) como base para obter
as formas geométricas que vão compor os padrões geométricos. Mostra 6 polígonos que
3. Aspectos Metodológicos
5. Considerações Finais
Ao iniciar essa pesquisa, tivemos como objetivo apresentar as potencialidades
dos padrões geométricos usados na arte islâmica para o ensino de geometria. No
percurso metodológico observamos que há uma escassez de trabalhos em língua
portuguesa que abordam o tema. Portanto, pesquisa desta natureza mostra-se potente no
ensino de Geometria, pois é uma forma de conhecimento matemático que foi subjugado,
pouco conhecido em nosso meio.
É possível trabalhar diversos aspectos geométricos usando o contexto da
geometria dos padrões islâmicos: conceito de polígonos, ângulos, pavimentação,
isometrias e outros. Além disso, é possível promover um diálogo entre as disciplinas de
arte e história ao se pensar em atividades com a geometria dos padrões islâmicos.
Referências
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