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ESPORTES DE COMBATE, LUTAS E ARTES MARCIAIS NA INFÂNCIA:

IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES

VITOR HENRIQUE DE MELO;

RANIERI FUNES CALLEGARI.

RESUMO

Esta pesquisa bibliográfica teve como objetivo principal identificar as


contribuições (descrever os objetivos) enfocou os seguintes aspectos:
(apresentar os assuntos que abordou – objetivos específicos de estudo); a
pesquisa baseia-se, principalmente nos estudos de (relatar os principais
referenciais teóricos/autores que balizaram a pesquisa, exemplo Santos (2014);
Souza (2011), ...). Conclui-se, nesta investigação, que (síntese da conclusão)

PALAVRAS CHAVE: indicar 3 e separá-las com ponto

1 INTRODUÇÃO

A presente produção estima agregar a aplicabilidade das lutas para


crianças, no quesito motor, cognitivo e atitudinal. Propor uma abordagem
pedagógica aos professores, mestres e senseis para com as crianças,
ressaltando a importância de planejar suas aulas pensando em ressignificar a
prática para as crianças, criando uma relação positiva com os esportes e
posteriormente hábitos saudáveis na fase púbere e adulta. Esta produção
pretende tratar dos seguintes temas: 1) Desenvolvimento motor (DM), por meio
da oportunização de movimentos com o objetivo de ampliação do repertório
motor, utilizando os fundamentos da aprendizagem motora para facilitar o
processo de ensino-aprendizagem e torná-lo eficaz. 2) Desenvolvimento
cognitivo, maneiras eficazes de desenvolver o cérebro utilizando o corpo como
mecanismo de conexão com o mundo, através das práticas de lutas. 3)
Desenvolvimento afetivo, ensinar valores e ideais importantes para o convívio
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na sociedade, capazes de resolver demandas complexas da vida, cidadania e


trabalho.

Deste modo, proporcionando uma melhora significativa na qualidade de


vida, comportamento e bem estar das crianças, por meio das lutas. Além disso,
este estudo tem como objetivo apresentar, justificar e/ou refutar implicações e
problematizações aludidas a prática de lutas por crianças, adolescentes, e até
mesmo adultos, desmistificando sensos comuns a respeito de tal campo.

Me chamo Vitor Melo e para mim as lutas, enfatizo aqui os esportes de


combate, foram precursores de uma mudança fundamental na minha vida, e no
meu modo de enxergar o mundo. Fui um adolescente irresponsável, meus
valores e ideais eram desvirtuados e por esse motivo tomava demasiadas
atitudes erradas. O ciclo social que eu frequentava e o meio ambiente
incentivava o meu comportamento, amigos usuários de drogas, meu corpo
extremamente magro, quase em estado de anorexia, não me alimentava nada
bem e me exercitava menos ainda, não havia saúde em mim, e eu não fazia
questão que houvesse, era aquela minha realidade.

Após me envolver em um conflito no meio da rua, pude tomar conta da


minha tamanha fraqueza diante aos outros garotos da minha idade, depois de
me envergonhar decidi que precisava praticar algum exercício físico. Não tinha
apreço nenhum pelas lutas, mas havia um projeto social intitulado “BOXE: Uma
Luz Para o Futuro” onde eram realizadas aulas totalmente gratuitas de boxe,
duas vezes na semana, mediante a minha situação financeira atual, fui
conhecer o projeto. Já na primeira aula despertava uma paixão em mim pelo
esporte, frequentando-a, a paixão apenas aumentava, mudei drasticamente
minha alimentação e parei imediatamente com drogas e álcool.

Após um ano no projeto social, fui convidado a integrar a equipe


principal de Sorocaba, além do treino ser muito mais específico, era uma
verdadeira escola de valores, o Prof. Vladimir J. de Godoi citava valores de
respeito, amizade e excelência, onde houve uma mudança drástica no meu
caráter. Mas tudo isso ocorreu graças a uma metodologia bem estruturada, que
visa massificar o boxe, adaptando-o para todas as faixas etárias. Acredito que
3

esse estudo irá agregar grandemente a maneira como os professores, mestres


e senseis administram suas aulas, mostrando-lhes novos nortes e novos
caminhos importantes embasados cientificamente no que temos de melhor no
ramo da aprendizagem motora, comportamento motor e aprendizagem
cognitiva e afetiva, apresentando-lhes novos meios e métodos voltados às
aulas infantis e juvenis.

Sou Ranieri Funes e comecei a praticar Muay Thai com 10 anos de


idade, era muito medroso, tímido e acima do peso, acabei saindo de uma
escola por conta do bullying, como consequência não consegui fazer muitos
amigos. Meus amigos eram o padre da escola e os funcionários, isso acabava
me oprimindo e me deixando mais tímido e medroso.

Um certo dia minha avó, preocupada com minha saúde física e mental,
me falou que tinha uma academia na rua de cima e que ela pagaria para eu
frequentá-la. Fui para academia e fiz minha matrícula e na minha primeira aula
pude notar que não havia nenhum aparelho de musculação e fiquei confuso, foi
aí que percebi que se tratava de uma academia de Artes Marciais, onde eu
jamais imaginei frequentar, pois tinha muito medo.

Após um tempo de prática tomei consciência dos prazeres movidos


pelos desafios, passei a me conhecer melhor e observar o meu potencial, isso
me motivou ainda mais a praticar e subir de grau, logo percebi que perdi a
timidez e comecei a fazer mais amigos na escola, a ter mais coragem e
autoconfiança, pois meu professor me ensinava os valores, e me mostrava
meu potencial que muitas vezes não enxergava, porém, a academia teve que
fechar, mas isso não me impediu de continuar praticando lutas.

Quando sai da escola já sabia que queria fazer Educação física para ser
professor de Artes marciais pois sei quanto ela pode ser benéfica a quem
pratica, quando ela é estruturada em metodologia enraizada em valores
importantes para o caráter. As artes marciais foram de enorme valor em minha
vida onde eu pude construir valores e caráter, acredito que as artes marciais e
os esportes de combate em sua essência traz a quem pratica valores
importantes para a vida como respeito, humildade e coragem, quando são
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realizadas com estudo e metodologia embasada nos valores do ser humano,


principalmente para as crianças e adolescentes, onde podem perceber suas
capacidades e potenciais. Escolhi esse tema, pois sei o quanto ele é
importante e como deve ser levado a sério, as lutas são benéficas e
transformadoras, porém não devem ser tratadas de qualquer forma, nesse
caso podem acabar trazendo malefícios por conta disso a importância da
didática e metodologia do professor nas lutas, esportes de combate e artes
marciais.

Nós chegamos a este tema pois acreditamos que se trata de um assunto


de grande importância que irá agregar o meio das lutas, artes marciais e
esportes de combate e propor uma mudança na abordagem pedagógica dos
professores, mestres e senseis para com as crianças e adolescentes.
Acreditamos que as lutas podem contribuir grandemente na infância pois fomos
impactados por isso em nossa experiência de vida. Por meio das mudanças de
hábitos oriundas das aulas de lutas, nos tornamos pessoas totalmente
diferentes das que éramos, agregando imensamente nosso desenvolvimento
pessoal.

2 METODOLOGIA

este título deve receber o número 2, ser escrito em letras maiúsculas e


em negrito. Deve apresentar um texto que mencione que o trabalho é uma
revisão de literatura e quais fontes de informação foram acessadas. Exemplo
para o texto: “Este artigo foi elaborado a partir de uma revisão de literatura.
Para isso, foram selecionados artigos nacionais obtidos nos sites SciELO,
Google Acadêmico, revistas e livros impressos. Os artigos e livros foram
publicados entre os anos de XXXX e XXXX. As palavras-chave utilizadas no
idioma português foram XXXX, XXXX e XXXX.”

3 BASES TEÓRICAS
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3.1 Artes Marciais

Segundo Correia e Franchini (2010), a arte marcial é diferente dos


esportes de combate, ela tem referência a práticas de movimentos ancestrais
construídas partir da "guerra", são conjuntos de técnicas e movimentos
utilizado para guerra, portanto sendo denominado de Marcial (Marte, nome de
um deus romano que representava a guerra), com isso as artes marciais
surginam em vários contextos sociais.

A arte marcial tem sua origem na pré-história, através de lutas entre


tribos e animais, tudo isso para a sua sobrevivência, mas os guerreiros
chegaram a conclusão que não bastaria ter apenas boas armas, mas sim
aumentar suas capacidades físicas e habilidades, mas principalmente as
técnicas de combate, obtendo-as através do treinamento em momento de paz,
através destes, os seus desempenhos, sua defesa pessoal e no campo de
batalha, surgindo várias artes marciais na história (HIRATA; DEL VECCHIO,
2006).

Correia e Franchini (2010) explicam a arte marcial como uma


manifestação cultural, por um processo de ressignificação de fundamentos
éticos e filosóficos, observamos a questão da expressão "arte" que demonstra
a ligação entre os movimentos e técnicas relacionadas a prática marcial em
conjunto a dimensões éticas e filosóficas

¨O estudo das lutas e artes marciais são indispensáveis para a superação do


senso comum que impera nos diferentes canais de comunicação social de massa.
Assertivas como: Arte Marcial é saúde e qualidade de vida; defesa pessoal eficiente;
disciplina para crianças e jovens; espiritualidade; são milenares e providas de
filosofias; preconizam a paz social; são exemplos de que, todos esses anúncios
disponibilizados na sociedade contemporânea, suscitam o crivo da reflexão criteriosa
e sistematizada do instrumental científico e do espírito crítico (CORREIA,
FRANCHINI, 2010; p 06 , p 07 ). ¨

3.2 Modalidade Esportiva de Combate


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As modalidades esportivas de combate são tidas como um campo de


interação das lutas e das artes marciais, consideradas versões ¨esportivizadas¨
das antecessoras, possuindo as sete características apontadas por Guttmann
associadas à lógica e as nuances presentes no esporte moderno; a
secularização, igualdade, especialização, racionalização, burocratização,
quantificação e os recordes (Guttmann 1978 apud DEL VECCHIO;
FRANCHINI, 2011, p 67).

Segundo Del Vecchio e Franchini, os primeiros confrontos que podem se


assimilar às Modalidades Esportivas de Combate, no Ocidente, foram
realizados na Grécia Antiga. O pugilato, a luta olímpica e o pancrácio eram
desportos de combates que faziam parte de diversos jogos, inclusive dos Jogos
Olímpicos (Poliakoff apud DEL VECCHIO, FRANCHINI 2011). Kraemer e
Hakkinen também citam que Milo de Crotona, precursor do princípio da
sobrecarga progressiva no treinamento desportivo, referenciado pela lenda de
que portava um bezerro para realizar treinamento de força, era também um
atleta de luta olímpica da Grécia Antiga. Os gregos não eram os únicos que
apresentavam semelhanças com as práticas dos esportes de combates atuais,
os romanos eram conhecidos por suas grandes disputas ainda mais voltadas
ao espetáculo, os confrontos entre gladiadores (Nachmittag 2002 apud DEL
VECCHIO; FRANCHINI, 2011, p 67).

As Modalidades Esportivas de Combate tais como conhecemos hoje,


surgiram no final do século XIX, com a ida do boxe para a Inglaterra. A
inserção de novas regras visando a burocratização, segurança dos praticantes
e igualdade no esporte, acarretou a inclusão das MEC nos Jogos Olímpicos,
ocasionando numa grande força e visibilidade para as modalidades,
principalmente durante a Guerra Fria (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2011, p
67).

¨A denominação Modalidades Esportivas de Combate implica uma


configuração das práticas de lutas, das artes marciais e dos sistemas de combate
sistematizados em manifestações culturais modernas, orientadas a partir das
decodificações propostas pelas instituições esportivas. Aspectos e conceitos como
competição, mensuração, aplicação de conceitos científicos, comparação de
resultados, regras e normas codificadas e institucionalizadas, maximização do
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rendimento corporal e espetacularização da expressão corporal são alguns exemplos


dessa transposição moderna de práticas seculares de “combate” (CORREIA,
FRANCHINI, 2010; p 02).

Desde então as modalidades esportivas de combate como o boxe, luta


olímpica, esgrima e outros, vem ganhando mais destaque e notoriedade,
apresentando aproximadamente 25% do total de medalhas nos Jogos
Olímpicos de Londres 2012 (Franchini 2007 apud DEL VECCHIO, FRANCHINI,
2011) e há evidências de que a quantidade de pesquisas em tal campo vem
aumentando, apesar de pouco incentivo financeiro (Correia, Franchini, p 74,
2011).

3.3 Lutas

O termo “luta” está frequentemente atrelado aos outros dois temas já


abordados, porém o mesmo contém uma dimensão polissêmica, significando
mais do que combates físicos e corporais, por exemplo a luta de classes, luta
contra o racismo, luta pela vida e outras, que se tratam de lutas de ideias,
valores, legados (Correia, Franchini, 2010). O presente trabalho tem como
objeto de estudos a luta puramente atrelada aos combates físicos corporais, ou
seja, não se refere aos demais contextos citados anteriormente.

Segundo Rufino e Darido “o ato de lutar é tão antigo quanto a própria


história da humanidade “ (RUFINO, DARIDO, 2011, p 7 ). No decorrer dos anos
esse gesto que se tratava de um meio utilitário ou de sobrevivência, como
caçar para alimentar-se, passaram por processos de modernização, como a
sistematização e burocratização de cada povo, criando novas práticas
alternadas pelo passado (Rufino, Darido, 2011). Hoje, alguns autores
classificam como sinônimo as lutas, esporte de combate e arte marcial, mas é
importante ressaltar que as lutas não são apenas práticas esportivas, algumas
modalidades de lutas não se enquadram no contexto dos esportes, além disso,
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algumas modalidades apresentam certa resistência ao aderir o termo “esporte”,


os praticantes de capoeira, por exemplo, são contrários a essa proposta, pois,
essa luta é vista também como música, dança e manifestação de um povo
oprimido (AREIAS, 1984, p 8 apud RUFINO, DARIDO 2011).

As lutas são práticas plurais e heterogêneas, com origens distintas do


conceito de esporte moderno e de importância histórica, sendo parte integrante da
cultura corporal. Não devem ser classificadas apenas como esportes, pois podem
possuir outras características, dependendo do contexto na qual estejam inseridas
(RUFINO, DARIDO, 2011, p 13).

As lutas, artes marciais e esporte de combate são tidos como símiles,


mas o fato de haver muitas semelhanças não os torna sinônimos, cada campo
apresenta alguma divergência. É possível perceber que cada modalidade
contém características próprias que podem classificá-las como esporte de
combate e arte marcial, como é o caso do judô, taekwondo e karatê, em
contrapartida, há modalidades que são unicamente esporte de combate, como
o boxe ou a luta livre olímpica, essa uniformidade prova que o grau de
adaptabilidade no contexto das lutas é um grande diferencial (DA GAMA,
2021).

3.4 Desenvolvimento Holístico

Compactuamos com a filosofia de Pierre de Coubertin (1863-1937) que


defendia que o esporte na infância deveria contribuir com a formação completa
da criança, tendo metas educacionais que visam desenvolver o corpo e a
mente (Ensinando valores olímpicos, p 20, 2012).

3.5 Desenvolvimento motor (DM) e aprendizagem motora (AM)

O desenvolvimento motor é o alicerce de todo o progresso infantil. A


capacidade de se mover e interagir com objetos expande a compreensão do
mundo por parte das crianças, promovendo seu crescimento e evolução
constante. Essa ideia é fundamentada por alguns teóricos e pesquisadores,
dentre eles Jean Piaget, em "A psicologia da criança" no qual relaciona o
movimento da criança ao desenvolvimento cognitivo da mesma (PIAGET,
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1966). Maria Montessori também é uma prestigiada autora que relacionou o


movimento ao desenvolvimento holístico da criança, criou um método
educacional que consiste em envolver as crianças fisicamente em atividades
práticas para uma aprendizagem mais eficiente (MONTESSORI, 1912).

O modelo citado por Gallahue e Ozmun (2005) descreve as fases de DM


que fundamenta a metodologia do ensino de lutas na infância, deste modelo
podemos notar as seguintes fases motoras, e suas respectivas faixa etária e
estágios:

Até 1 ano de idade / Fase Motora Rudimentar / Inibição de Reflexos

1 a 2 anos de idade / Fase Motora Rudimentar / Estágio de Pré-controle

2 a 3 anos de idade / Fase Motora Fundamental / Estágio Inicial

4 a 5 anos de idade / Fase Motora Fundamental / Estágio Elementar

6 a 7 anos de idade / Fase Motora Fundamental / Estágio Maduro

7 a 10 anos de idade / Fase Motora Especializada/ Estágio Transitório

11 a 13 anos de idade / Fase Motora Especializada / Estágio de Aplicação

14 anos em diante / Fase Motora Especializada / Estágio de utilização


permanente

O professor de lutas, além de dominar a modalidade, tem o dever de


conhecer tão bem quanto as fases de DM, a fim de selecionar o estímulo
adequado no momento correto (ANJOS, 2021). Como o presente artigo se trata
de uma abordagem metodológica para iniciação esportiva em lutas, iremos
enfatizar a fase motora fundamental e introduzir a fase motora especializada, já
a fase motora rudimentar não nos é pertinente no momento.

Visto isso, entendemos que por volta dos 6 anos de idade, até seus 10
anos, uma aula de lutas deve privilegiar o desenvolvimento das capacidades
coordenativas, visando ampliar o repertório motor geral da criança, no qual
além de impactar positivamente diversos fatores da vida, facilitará o processo
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de aprendizagem posterior das habilidades motoras especializadas, pois as


habilidades motoras básicas são pré-requisitos fundamentais para que a
aquisição posterior seja efetiva. O professor deve apresentar as técnicas
oriundas da modalidade escolhida de forma sutil nesta idade, sem demasiada
exigência com o gesto técnico como o de um especialista (ANJOS, 2021).

É importante reconhecer que existem variações dos marcos de


desenvolvimento infantil, devido ao fato de que o aprendizado das habilidades
motoras está sujeito a influência da individualidade biológica, do ambiente e da
tarefa que aquela criança foi exposta até determinado momento, mas de
maneira geral, as crianças dessa faixa etária são dotadas do potencial para a
aquisição das habilidades motoras fundamentais no estágio maduro. (Gallahue,
Ozmun & Goodway, 2013).

É altamente recomendável, nesta fase, proporcionar aos alunos uma


experiência poliesportiva, visto que as lutas contam com suas particularidades
e predominâncias, que podem gerar possíveis lacunas em outras habilidades
que não serão desenvolvidas em sua plenitude, como a habilidade de correr,
saltar, arremessar, escalar, dentre muitas outras. Ao adotarmos uma
abordagem poliesportiva, temos a oportunidade de compensar essas lacunas,
além disso, essas atividades devem ser incorporadas por meio de jogos e
brincadeiras, o que não apenas motiva, mas também aumenta a permanência
das crianças no esporte, reduzindo drasticamente a probabilidade de
desistência devido a monotonia das atividades repetitivas associadas a
modalidade escolhida (ANJOS, 2021).

As habilidades motoras especializadas devem ser estimuladas em todas


as faixas etárias, com maior ou menor grau conforme o bom senso do
profissional, levando em consideração as fases sensitivas e a maturação
biológica e psicológica do aluno. É imperativo que o nível do desafio
proporcionado ao aluno esteja de acordo com as necessidades, desafio em
excesso não é cabível pois poderá acarretar em deficiências no processo de
acomodação, adaptação e equilibração conforme delineado por Piaget (1996).
No entanto, também é crucial que os desafios não sobrecarregue o aluno para
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além de sua a capacidade, visto que isso poderá ocasionar desmotivação e


desinteresse do aprendiz, dentre outros problemas.

As lutas tem como característica as habilidades abertas, que consiste


num ambiente variável e imprevisível durante a ação e requer que os
executantes adaptem seus movimentos em resposta às propriedades
dinâmicas do ambiente (SCHMIDT, R. A.; LEE, T. D). Por esse motivo, quando
tratamos de treinar as habilidades motoras especializadas das lutas, promover
atividades de predominância motora, utilizando da concepção analitica, ou seja,
realizar o gesto esportivo com excelência a base de repetição, não
necessariamente apresentará resultado no quesito de aplicabilidade no
combate (VIANNA, 2021). Para superar essa limitação, são introduzidas no
programa de ensino as concepções global e sintética, que envolvem a prática
de lutas simuladas e jogos de oposição. Isso permite que os praticantes
desenvolvam suas habilidades de maneira mais contextualizada e aplicável à
luta real. Isso não desvaloriza a concepção analitica, Schmidt e Lee (2016)
apresentam que a proposta de programas híbridos, utilizando de níveis
moderados de prática aleatória e prática em blocos mostraram benefícios para
a performance e aprendizagem.

Há uma variedade de procedimentos metodológicos interessantes para


ensinar as lutas, e muitos deles serão apresentados no próximo capítulo, que
se concentra no desenvolvimento cognitivo. Neste momento vamos apresentar
aqueles que enfatizam a técnica, no entanto, é importante ressaltar que
nenhum processo se desenvolve sozinho e todos estão em constante
evolução, todos os exercícios são tanto motores quanto cognitivos, mas nos
referimos aqui a uma predominância, que se remete a tarefa, indivíduo e
ambiente. Neste capítulo estamos nos referindo a procedimentos
metodológicos que apresentam predominância técnica. Algumas delas são
apresentadas por Vianna (2021) e são as seguintes:

Comando: no qual o professor determina o gesto que deve ser realizado


pelos praticantes e diz como e quando faze-lo.
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Tarefa: o método de ensino por tarefa é semelhante ao treinamento por


circuito ou funcional, os conteúdos são apresentados em forma de tarefa que
podem ser distribuídas por diferentes estações. Isso oferece ao professor mais
controle dos ajustes, tempo e repetição, por exemplo.

3.7 Desenvolvimento Atitudinal (Afetivo).

Segundo Fransson, Laburu e Zompero (2019) a formação atitudinal é


muito importante para o indivíduo tornando-se necessária, trabalhando ela
através de conversas com a temática, através de reflexões internas, através
do fruto dessas reflexões leva a construção de seu caráter e seus valores
pessoais.

O autor continua dizendo que as atitudes e valores ela vem de pré


disposições absorvida a avaliar alguma situação ou acontecimento e atuar
com essa influência dessa avaliação, e moldando os seus princípios éticos aos
quais com respeito elas expressam forte dever emocional que elas utilizam
para julgar condutas.

Soares e Câmara (2023) enfatiza que podemos trabalhar esses


aspectos atitudinais com as lutas, a vivência nas lutas podem proporcionar
aspectos reflexivos e filosóficos, pois trabalham o respeito com o outro e
também seus limites internos como lealdade, autoconhecimento, autodisciplina
e outros.

Podemos de certa maneira trabalhar as lutas como jogos, pois elas se


encaixam no que diz Huizinga (1999) o jogo pode ser determinado por uma
atividade dentro de certos limites determinado por espaço e tempo, com regras
consentidas obrigatórias. E as lutas podem entrar no âmbito dos jogos de
oposição.

Santos (2012) diz as características do jogos de oposição:

“uma atividade lúdica que envolve confronto entre duplas


ou grupos, na qual cada participante tem a intenção de
vencer(sem valorizar o contexto de competição para não excluir
os “perdedores”), impondo-se ao outro pela tática ou pelo físico,
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sempre respeitando as regras e convenções relativas à sua


segurança e à de seu oponente, sem jamais deixar de lado o
componente lúdico e prazeroso”. (p. 41)

Segundo Tezani (2021) podemos trabalhar os aspectos afetivos partir


dos jogos onde a criança pode naturalmente brincar e se testar, explorar sua
criatividade aprimorando de forma integral descobrindo o seu próprio eu, e
entendendo os seus sentimentos pois o jogo trás eles átona, onde trás
espontaneidade durante o jogo.

O autor continua e diz que só é possível desfrutar esses aspectos que o


jogo trás a partir de um ambiente bem estruturado com boas relações, um
espaço de confiança.

3.7 A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA

Atividades físicas estruturadas são benéficas para qualquer idade,


trazendo melhorias como a do perfil lipídico e prevenção a obesidade (Lazzoli
et al 1998). Nesta pesquisa vamos abordar as lutas para crianças de cinco a
doze anos de idade. Segundo BRASIL (1990) é considerado criança até os
doze anos de idade, nos anos subsequentes até os dezoito anos de idade
considera-se adolescente.

Como cita o estatuto da criança e do adolescente, é um dever da


sociedade e do poder público proporcionar o esporte e lazer (BRASIL, 1990)

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e


do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL,
1990).

Brasil (1990) ainda ressalta que: “Art. 71. A criança e o adolescente têm
direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos
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e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em


desenvolvimento”.

Após tomar conhecimento de que a prática esportiva, lúdica,


informativa, cultural e demasiadas outras, são direitos da criança e do
adolescente, por se tratarem de importantes fatores que irão corroborar com o
processo de desenvolvimento físico, motor, cognitivo e afetivo da criança,
desenvolvimento este que perdurará no decorrer de sua vida, podemos
contribuir utilizando as lutas, artes marciais e esportes de combates, por meio
da oportunização de novas experiências relacionadas a cultura de movimento,
desse modo, desempenhando papel fundamental no desenvolvimento integral
do indivíduo (ROCHA et al. 2010).

É de extrema importância que os professores de lutas que visam


trabalhar com crianças, entendam que as aulas para as mesmas apresentam
algumas particularidades em relação às aulas para adolescentes e adultos.
Qualquer gesto que tenha como resultado contração dos músculos
esqueléticos e que invariavelmente causa aumento do gasto energético acima
do nível de repouso é caracterizada atividade física (LAZZOLI et al., 1998). As
lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate são consideradas
práticas desportivas, que vão além das atividades físicas cotidianas, e
precisam seguir normas de prescrição orientadas a fisiologia do praticante.
Visto que em crianças as capacidades condicionantes são inferiores,
aumentando gradualmente decorrente tanto do crescimento quanto da
maturação, que tem seu ápice na puberdade (LAZZOLI et al., 1998), a prática
de lutas deve privilegiar o desenvolvimento das capacidades coordenativas,
visando ampliar o repertório motor global da criança, como as habilidades
motoras básicas de locomoção, manipulação e estabilidade, mas também
inserir as habilidades motoras específicas da luta praticada, sem demasiadas
exigências com a técnica perfeita como a de um especialista (ANJOS, 2021).

.
15

3.5 Possibilidades e implicações

O profissional das lutas deve ter conhecimento das fases de


desenvolvimento motor, para que não exija das crianças tarefas precoces. O
modelo citado por Gallahue e Ozmun (2005) descreve as fases de
desenvolvimento motor e fundamenta o trabalho que o profissional de lutas
deve exercer sobre a criança, são elas a fase motora reflexo, rudimentar,
fundamental e especializada, sendo obrigação para a maior parte dos
profissionais de educação física, entender e discutir pelo menos da fase
fundamental adiante.

As aptidões físicas não diferem significamente entre meninos e meninas


pré-púberes (LAZZOLI et al., 1998) e o potencial de treinamento aeróbio,
resistido e de flexibilidade das crianças ainda precisam ser documentados de
forma conclusiva, apesar de ter sido observado algumas adaptações. Mas
essa característica é alternada na fase púbere, quando ocorre um aumento das
capacidades físicas, proporcionalmente maior nos meninos, e torna os
adolescentes de ambos os sexos mais suscetíveis ao treinamento de
capacidades físicas (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

A prescrição de lutas, artes marciais e esportes de combate para a


criança ou o adolescente, conforme as normas da Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte, constatada por Lazzoli et al. (1998), deve servir para criar
o hábito e o interesse pela atividade física, e não treinar visando o
desempenho.

"Dessa forma, deve-se priorizar a inclusão da atividade física no


cotidiano e valorizar a educação física escolar que estimule a prática
de atividade física para toda a vida, de forma agradável e prazerosa,
integrando as crianças e não discriminando os menos aptos".
(LAZZOLI et al., 1998, p. 108).
16

Conforme previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais, as artes


marciais/lutas devem ser trabalhadas através de atividades lúdicas e também
em caráter competitivo (BRASIL, 1998). Segundo Lazzoli et al. (1998), o
componente lúdico deve prevalecer sobre o competitivo quando se trata de
atividade física para crianças.

Nascimento e Almeida (2007) apresentam duas implicações que


ocorrem no ensino das lutas, por conta das informações serem pouco
acessadas, acabam preocupando os profissionais de educação física em tratar
esse assunto. Dois fatores são observados, a falta de vivência em lutas em sua
vida acadêmica e o outro fator seria a preocupação sobre o aspecto da
violência que está às vezes associado às lutas, sendo assim os professores
apresentam certa dificuldade em abordar o tema das lutas.

Diante de outra Implicação sobre a questão do comportamento


agressivo, muitas vezes apresentado por adolescentes que por influência da
mídia e muitas das vezes de ambiente familiar, o comportamento agressivo
sendo um reflexo da sociedade que os cercam, acarretando na influência de
crianças e adolescentes, e por esse motivo, profissionais de Educação física
acabam com receio de trabalhar as artes marciais com crianças e
adolescentes (PACHECO, 2012).

Como é possível observar, as lutas mostram consigo implicações muito


das vezes trazidas pela falta de informação no ambiente acadêmico e social,
levando informações e deduções distorcidas, com a mídia reforçando isso
ainda mais, tratando as lutas como algo que propaga a desordem e a violência,
que acabam apresentando uma visão na qual as lutas e as brigas são
comparáveis. Porém, é possível observar que até mesmo um jogo de futebol
pode trazer violência e desordem quando não apresenta uma boa abordagem.
As lutas trazem muitos valores importantes para os indivíduos que a praticam,
quando abordadas de maneira correta, agregando em todas as áreas de sua
vida.

Uma possível solução para remover tais paradigmas que englobam o


ensino de lutas para crianças é a aplicação de uma metodologia embasada em
17

conhecimento científico e tudo que a literatura tem demonstrado até o


momento. Com isso, acreditamos não solucionar todos os problemas
sócioestruturais e técnicos do ensino de lutas, mas pelo menos amenizar os
problemas aqui apresentados e propor uma abordagem pedagógica que
enriqueça os praticantes de maneira motora, cognitiva e atitudinal.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5 REFERÊNCIAS

FRASSON, F.; LABURÚ, C. E.; ZOMPERO, A. de F. APRENDIZAGEM


SIGNIFICATIVA CONCEITUAL, PROCEDIMENTAL E ATITUDINAL: UMA
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