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UnB - PAS 1 - Português - Profª Lene

Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais conativa, como evidencia o emprego do modo
severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os imperativo no início do período.
olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também
éramos finos, metemos o nariz no livro, e continuamos 5 ( ) Os contos machadianos são conhecidos pela
a ler. Afinal, cansou e tomou as folhas do dia, três ou habilidade ficcional narrativa que frequentemente se
quatro, que ele lia devagar, mastigando as ideias e as une à alusão a fatos históricos do século XIX, como
paixões R.6. Não esqueçam que estávamos então no fim acontece nos Contos de Escola.
da Regência R.6, e que era grande a agitação pública.
Policarpo tinha, decerto, algum partido, mas nunca 6 ( ) A relação entre a política e o castigo empregado
pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, pelo “mestre” é sublinhada com fina ironia pelo
para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada narrador, como se pode perceber no último período do
no portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos primeiro parágrafo.
do diabo R.11. Era só levantar a mão, despendurá-la e
brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. O objetivo do mundo codificado que nos circunda: que
E daí, pode ser que, alguma vez, as paixões políticas esqueçamos que ele consiste num tecido artificial que
dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra esconde uma natureza sem significado, sem sentido,
correção. (...) por ele representada. O objetivo da comunicação
Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui humana é nos fazer esquecer esse contexto
recebendo os bolos uns por cima dos outros, até insignificante, em que nos encontramos
completar doze R.17, que me deixaram as palmas completamente sozinhos e “incomunicáveis”, ou seja, é
vermelhas e inchadas. Acabou, pregou-nos outro nos fazer esquecer esse mundo em que ocupamos uma
sermão. Chamou-nos sem vergonhas, desaforados, e cela solitária e em que somos condenados à morte — o
jurou que, se repetíssemos o negócio, apanharíamos tal mundo da natureza.
castigo R.21 que nos havíamos de lembrar para todo o Vilém Flusser. O mundo codificado: por uma filosofia do design e
sempre. da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 90 (com
adaptações)
Machado de Assis. Contos de escola. São Paulo: Cosac & Naify,
2002, p. 13 e 24.
7 ( ) O autor do texto estabelece uma relação de causa
Considerando o texto acima, extraído de Contos de e efeito entre o fato de se experimentar a solidão da
Escola, e os diversos temas por ele suscitados, julgue existência, representada, no texto, pela metáfora “uma
os itens. cela solitária” (R.7) e o fato de a sociedade humana criar
um mundo artificial, codificado.
1 ( ) Nos segmentos “mastigando as ideias e as paixões”
(R.6) e “com os seus cinco olhos do diabo” (R.11), foi Considerando o poema Caso Pluvioso, de Carlos
empregada a linguagem figurada, o que se coaduna Drummond de Andrade, julgue os itens a seguir.
com o caráter literário do texto.
8 ( ) O título remete o leitor à ideia de uma relação
2 ( ) A expressão “tal castigo” (R.21) refere-se aos “os agitada entre o poeta e uma mulher, assim como a água
bolos uns por cima dos outros, até completar doze” o é.
(R.17).
9 ( ) O poeta, no verso “Era chuva fininha e chuva
3 ( ) Depreende-se do texto que, na relação entre grossa”, retrata a personalidade de uma mulher
mestre e alunos, à estratégia empregada pelo mestre, instável.
no controle da situação, seguiu-se, tacitamente, uma
estratégia defensiva dos alunos. 10 ( ) A referência a Deus no poema significa a falta de
fé que o poeta tem na relação com maria.
4 ( ) No trecho “Não esqueçam que estávamos então
no fim da Regência” (R.6-7), o narrador dirige-se aos
leitores, utilizando a linguagem em sua função
Anti-petendam cânticos se ouviram. Considerando a obra Felicidade clandestina em sua
Que nada! As cordas d’água mais deliram, totalidade, julgue os itens a seguir.
e Maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada. 14 ( ) O clandestino relaciona-se com o proibido, algo
Carlos Drummond de Andrade. Caso que tem poder desestruturador. E esse poder a leitura
Pluvioso. consegue ter, quando realizada com intensidade.
11 ( ) Anti-petendam cânticos são verdadeiros cânticos 15 ( ) O prazer intenso provocado pela leitura envolve
antichuva, portanto entoados para que a chuva não só o cérebro, o intelecto, mas os sentidos, o corpo,
diminua. daí ser proibido, assim como tudo que é clandestino.

16 ( ) Ao terminar a narrativa com a frase “Não era mais


Chuvadeira Maria, chuvadonha, uma menina com um livro: era uma mulher com o seu
Chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha! amante", a autora expressa que a menina já não
Eu lhe gritava: Para! e ela chovendo, se interessa mais pelo livro, e que a felicidade
Poças d’água gelada ia tecendo. clandestina se realizou no momento em que o
E choveu tanto Maria em minha casa conseguiu.
que a correnteza forte criou asa
17 ( ) O conto apresenta ruptura com a linearidade da
e um rio se formou, ou mar, não narrativa.
sei apenas que nele me afundei.
E quanto mais as ondas me levavam, 18 ( ) O diferencial da obra de Clarice Lispector é o
as fontes de Maria mais chuvavam, primor na descrição do universo interior dos
Carlos Drummond de Andrade. Caso
Pluvioso.
personagens, com a investigação de subjetividades em
crise, experienciando revelações e epifanias.
12 ( ) Ao mudar o radical do último elemento da
gradação, o poeta quebra a expectativa do leitor,
trazendo, ao mesmo tempo, ênfase para essa palavra e
um espanto para o leitor.

13 ( ) Com exceção de um dos neologismos, os demais


são criados a partir de afixos.

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