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Introdução
nas palavras do Professor Fiorin, numa das suas principais conquistas: a compreensão
de que "não se poderiam resolver todas as questões pela força, era preciso usar a palavra
para persuadir os outros a fazer alguma coisa" (p.9).
No discurso temos a manipulação consciente e a determinação inconsciente,
na sintaxe discursiva usa-se a manipulação consciente. O orador usa de
estratégias argumentativas e outros procedimentos para criar o efeito de
verdade. Nas determinações inconscientes é a semântica discursiva e seus
elementos semânticos usados no discurso que dependendo da época mostra a
maneira de ver o mundo numa dada formação social. A semântica discursiva é
o campo da determinação ideológica.
Nessa fase, as teses althusserianas sobre os aparelhos ideológicos do Estado e o assujeitamento levam-no
a pensar o sujeito como atravessado pela ideologia e pelo inconsciente, um sujeito que, não sendo fonte
nem origem do dizer, seria afetado pelo já-dito e pelo pré-construído. A metodologia que propõe é de
base harrisiana1 que busca destacar os traços e enunciados de base do processo discursivo. Ao fazer a
crítica desse período, Pêcheux se penitencia por ter criado o “primado do Mesmo sobre o Outro”,
privilegiando a repetição e a invariância.2
Microfísica do poder – Michel Foucault - Esta obra explicita como os mecanismos de poder são
exercidos fora, abaixo e ao lado do aparelho de Estado. Assim como, mostra-nos a relação de poder e
saber nas sociedades modernas com objetivo de produzir “verdades” cujo interesse essencial é a
dominação do homem através de praticas políticas e econômicas de uma sociedade capitalista.
No capítulo Verdade e Poder Foucault explica que a verdade é produto de várias coerções causadoras de
efeitos regulamentados de poder. “Parece-me que o que deve se levar em consideração no intelectual não
é, portanto, ‘o portador de valores universais’, ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja
especificidade está ligada às funções gerais do dispositivo de verdades em nossa sociedade” (Foucault:
13). Ou seja, ele coloca a questão do papel do intelectual na sociedade como sendo uma espécie de
produtor das “verdades”, dos discursos vindo de uma classe burguesa a serviço do capitalismo, que
persuade uma sociedade alienada pelo domínio surgido de uma condição de vida estruturada a qual lhes
davam total respaldo para o exercício de poder.
Como exemplo de instituições que a princípio foram construídas com o objetivo de excluir uma parte da
sociedade no século XVII, Foucault utiliza o hospital, lugar que ao invés de ser aproveitado para a prática
de cura das doenças, eram depositados os pobres doentes, prostitutas, os loucos e todos que
representavam ameaça para a sociedade burguesa. Quem detinha o poder dessas instituições eram os
religiosos e leigos em medicina que ficavam no hospital para fazer caridade e garantir a salvação eterna
aos indivíduos lá depositados.
Até o século XVIII, as visitas médicas hospitalares eram feitas de forma irregular, pois, os religiosos
concebiam o espaço para impor somente a ordem religiosa e não como um espaço para a cura das
enfermidades, o médico nada podia fazer para ajudar essas pessoas, eles também estavam sob a
dependência do pessoal religioso, e podiam ser despedidos caso descumprissem a ordem.
Nas análises sobre as questões relacionadas à psiquiatria Foucault relata como as instituições a princípio
foram locais reservados para a diminuição do poder dos indivíduos capazes de enxergar o que acontecia
com relação a dominação da prática da psiquiatria e de outras instituições e mecanismos do saber, onde
pessoas eram praticamente abandonadas em um determinado local à arbitrariedade dos médicos e
enfermeiros, os quais podiam fazer delas o que bem entendesse, sem que houvesse a possibilidade de
apelo. Neste capítulo o leitor que teve o prazer de ler O Alienista de Machado de Assis, pode comparar as
varias semelhanças de uma obra fictícia de uma obra com análises da realidade como Microfísica do
Poder. Em O Alienista, Machado de Assis traz como tema a “loucura”, enfocada de uma forma que acaba
por dissuadir todas as consciências consideradas normais e por questionar a própria condição humana.
Machado procura apontar como as pessoas consideradas “anormais” por uma parte da sociedade, eram
colocadas em um asilo para loucos onde os personagens se tornavam objetos de experiência científica.
“A característica dessas instituições é uma separação decidida entre aqueles que têm o poder e aqueles
que não o têm” (Foucault: 124). A importância de uma transformação na reorganização arquitetônica
dessas instituições hospitalares no século XVIII, de acordo com Foucault, só houve devido às questões
políticas e econômicas que circundavam a sociedade francesa e européia. Essa reorganização se situou em
torno das relações de poder, ou seja, os médicos passaram a exercer o poder dentro da instituição e fora
dela. Como produtor da verdade, passavam a persuadir as pessoas no intuito de controlá-las e neutralizá-
las para exercer poder sobre a sociedade.
Da mesma forma que as instituições hospitalares, a prisão deveria ser construída para servir de
instrumento de transformação do indivíduo, mas não foi o que aconteceu. Foucault explica que a prisão
passou ser um local de fabricação de mais criminosos, utilizada como estratégia também de domínio
econômico. Para ele esse poder que era exercido nas instituições, era um feixe de relações mais ou menos
organizadas, mais ou menos piramidalizadas, mais ou menos coordenadas. Que arriscavam dirigir a
consciência e tentavam injetar na sociedade discursos persuasivos que indicavam quem exercia o poder e
quem o acatava. Existia uma pirâmide do sistema que se fazia construir a possibilidade de manter esta
relação de poder.
Além das instituições, existia um local todo gradeado e aberto aos olhos de somente um indivíduo, onde a
sociedade era posta para exercer suas atividades como trabalhar, estudar e manter suas relações pessoais
em grupo, sem que as instituições mantenedoras do poder não deixasse de saber o que estava acontecendo
com cada indivíduo, tentando convencer a sociedade de que esta prisão era somente para resolver os
problemas de vigilância e manter todos seguros.
Esta obra de Foucault possibilita que o leitor faça uma análise do que ocorreu e continua ocorrendo em
nossa nação, cujo poder continua centralizado nas mãos de uma pequena parte da sociedade, que se utiliza
de instituições e organismos para manipular, persuadir e neutralizar a grande massa para a manutenção de
mecanismos que impossibilite a sua ascensão social. Para ficar mais clara a comparação sobre a sociedade
que Foucault expõe em Microfísica do Poder e a sociedade atual, basta o leitor ler o livro de Néstor
García Canclini, Latino-americanos à procura de um lugar neste século, que fala sobre como os EUA
através da globalização, vem exercendo um poder dominador, bloqueando o acesso ao desenvolvimento
dos países latino-americanos, aumentando ainda mais as mazelas existentes no mundo de forma geral.
No decorrer de cada capítulo Foucault cita alguns pensadores como Freud, Nietzsche e Marx e algumas
de suas obras como Vigiar e Punir, As Palavras e as Coisas, Arqueologia do Saber, A Vontade de Saber,
que acaba estimulando o leitor a conhecer um pouco mais sobre o que está escrito em cada livro e sobre
cada pensamento articulado que complementa a obra.
Em suma, é uma obra de absoluta importância para estudantes de qualquer graduação que busca um
comprometimento com a profissão e com a sociedade. Pois, ajuda a melhorar e elucidar o conhecimento
sobre as mazelas impregnadas no nosso país e no mundo.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas. In: ORTIZ, Renato (org.). 1983.
Bourdieu – Sociologia. São Paulo: Ática. Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 39. p.156-183.
CRUZ , Maria de Loudes Otero Brabo. Bourdieu e a linguística aplicada. In: Alfa, São
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FIORIN, José Luiz. Argumentação. 1ª ed. 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016.
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FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 2007. (Princípios;137p.)
FIORIN, José Luiz. Língua, discurso e política. Alea [online]. 2009, vol.11, n.1, pp.148-
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em 06/12/2016.