Você está na página 1de 10

PROJETO PARA ARTIGO CIENTÍFICO

O discurso técnico-científico como forma de poder e dominação no campo do


conhecimento: uma perspectiva sócio ideológica do uso da língua.

Introdução

O emprego da linguagem é reconhecido como instrumento de domínio desde os


primeiros estudos gerados nesse campo, os quais remontam às históricas apropriações
de territórios e conquista de povos pela Grécia e Roma, na antiguidade clássica, que
impunham às populações submetidas também a língua do conquistador. Mesmo a
retórica aristotélica era mantida como instrumento de convencimento e persuasão. Pode
ser observado que no decorrer do desenvolvimento cultural da humanidade, o uso da
língua manteve-se como importante ferramenta para o controle e manipulação das
massas populares.
Ao longo de sua história, a linguagem humana passou por reformulações que ora
lhe agregaram, ora a despojaram de sofisticação, simplicidade, rebuscamento, sutileza e
objetividade, entre outras características, conforme as conveniências e interesses dos
grupos sociais dominantes e do aparelhamento ideológico estatal.
A partir da observação de que as conquistas e resultados das pesquisas
acadêmico-científicas são divulgados à comunidade em geral, porém, por meio de uma
terminologia estritamente técnica, compreensível, de fato, somente para seus pares,
surge a questão de que a exacerbação do uso do discurso técnico nos meios acadêmico-
científico possa ser um recurso para o domínio sobre o conhecimento e a consequente
manutenção de poder?
A lingüística reduz uma relação de força simbólica baseada numa
relação autoridade-crença, a uma operação intelectual cifração-
decifração. Escutar é crer. Como vemos claramente no caso das
ordens (no sentido de comando) ou, melhor ainda, das palavras de
ordem, o poder das palavras nunca é somente o poder de mobilizar a
autoridade acumulada num campo. [...] A produção é comandada pela
estrutura do mercado ou, mais precisamente, pela competência (no
sentido pleno) na sua relação com um certo mercado, isto é, pela
autoridade linguística como poder que confere às relações de
produção linguística uma outra forma de poder. (BOURDIEU, 1977,
p.6).
Se, hipoteticamente, A linguagem técnica vem sendo utilizada nos meios
acadêmico-científico como forma de retenção de conhecimento e a consequente
manutenção do poder e domínio social, é de interesse para comunidade em geral
conhecer o modo pelo qual se opera essa manipulação e acredita-se que, nesse caso,
explicitar e dar a conhecer sobre formas de utilização de recursos linguísticos para
manipulação e dominação possibilitará aos indivíduos alguma apropriação de si e
domínio intelectual, de modo que possa manter sua autocrítica, apesar das influências
ideológicas veiculadas pelos diversos gêneros textuais no campo das interações sociais.
“descobrir que o jogo que se joga nele tem qualquer coisa de ambíguo e mesmo
qualquer coisa de suspeito” (BOURDIEU, 2004, p. 123).
Nessa perspectiva, este trabalho pretende por meio de uma breve pesquisa
literária sobre algumas teorias dos autores José Luiz Fiorin, Luíz Antônio Marcuschi e
Pierre Bordieu, sobre argumentação, estruturação linguística e a utilização do
simbolismo e poder linguístico como instrumentos de dominação e veiculação de
ideologias sociais, incluindo-se alguns conceitos da teoria Marxista, relacionar o uso
dos gêneros textuais como sistema de controle e dominação social no campo do
conhecimento, passando, ligeiramente, pela microfísica do poder em Foucault.

Síntese da Literatura Relevante

Uma importante questão em discussão na atualidade é a suposta neutralidade da


ciência. Embora, já não se mantenha a absurdo ideia da completa isenção científica,
permanece o discurso pretenso a fazer crer que tais processos sejam calcados na
intenção de neutralidade, imparcialidade e isenção por parte dos envolvidos.
Contrariando essa premissa, na obra Argumentação, o professor José Luíz
Fiorin, (2016), propõe que a argumentação implica o uso da linguagem e, "a
argumentação é uma questão de linguagem". (p.78) afirmando que a linguagem além de
polissêmica é também susceptível à vagueza e à ambiguidade. Sendo, nesse caso, a
linguagem indissociável da interpretação, e, portanto, objetividade, imparcialidade e
neutralidade seriam conceitos inatingíveis no discurso, concluindo que "a linguagem
está sempre carregada dos pontos de vista" (p.83), encontrando-se num plano muito
distante da neutralidade. Os discursos são, então, orientados a uma finalidade e valem-
se de diversos artifícios e estratégias para alcançar seu objetivo. (FIORIN, 2016).
Ao discutir as bases da argumentação e as principais organizações discursivas,
referenciando-se no dialogismo de Bakhtin, o professor José Luíz Fiorin, (2016),
ressalta que todo o discurso tem uma dimensão argumentativa e inclui a retórica no
discurso. E sobre a argumentação enquanto recurso, afirma que "Um argumento são
proposições destinadas a fazer admitir uma dada tese" (p.70), tomando como
equivalente o "fazer admitir" à "finalidade de persuadir". Induzindo à inferência de que
todo discurso, por sua dimensão Dialógica, contém um “interdiscurso” e uma “retórica”,
elementos comumente utilizados na persuasão.
A aplicabilidade e eficácia da utilização dessas estratégias no discurso também
podem ser confirmadas a partir da análise da tessitura inferencial, de três pontos de
vista: o lógico, o semântico e o pragmático em que Fiorin, (2016), aponta que as
inferências semânticas, articulam a relação entre o explícito e o implícito, marcando que
o subentendido possui a característica de “dizer sem dizer” ou “sugerir, mas não
afirmar” (p.39); explicitando como, por meio do discurso indireto, ideias e ideais são
disseminados, melhor assimilados, e, finalmente, incutidos na mente dos indivíduos,
confundindo os enunciatários do discurso a tal ponto que esses creem, com total
convicção, que tais ideias são descobertas, originalmente, suas. Essas estratégias
destituem os sujeitos do poder sobre si, sobre suas opiniões e em consequência, sobre
suas decisões, transformando-os em objetos de manipulação política.
No artigo Língua, Discurso e Política, o professor José Fiorin, (2009),
fundamentando-se em Aristóteles, define que “política diz respeito à obtenção, ao
exercício e à conservação do poder governamental.” (p.148), porém, nos tempos atuais
observa-se que não se trata apenas do poder do Estado, mas que nas sociedades podem
ser encontrados diversos nichos de poder, aprimorando-se, assim, a concepção de
política para o diz respeito aos diversos poderes instaurados e instalados nas sociedades.
Nessa perspectiva, Fiorin, 2009, p.149, descreve possíveis formas de análises da língua
no campo das relações de poder: “a) a natureza intrinsecamente política da linguagem e
de suas manifestações, as línguas; b) as relações de poder entre os discursos e sua
dimensão política; c) as relações de poder entre as línguas e a dimensão política de seu
uso; d) as políticas linguísticas.”,
Continuando suas inferências linguísticas, o professor Fiorin, 2009, conclui que
a linguagem e as línguas possuem arraigadas em si a natureza política, uma vez que
assujeitam o falante à sua ordenação. O discurso opera verdadeiros silenciadores que
mostram uma relação de poder com seus enunciatários. Sendo que a partir dos usos
linguísticos os falantes são destinados ao pertencimento ou à exclusão social. A língua
mostra estar muito distante da neutralidade na comunicação, ao contrário, ela comunica
intencionalmente e a serviço de seus articuladores, sendo perpassada pelas relações de
poder e políticas vigentes nos contextos sociais que dela fazem uso. Tais afirmações
confirmam a possibilidade do uso político da língua para a manutenção do poder nas
diversas interações sócio-políticas que os sujeitos vivenciam no seu cotidiano.
As grandes massas humanas que, atualmente, ocupam os centros urbanos têm
seu tempo, seu interesse, e mesmo, suas vidas tomados por inúmeras ocupações, já que
a moda é “produzir algo”, seja na manutenção do sustento e sobrevivência, sejam pela
busca de melhores condições de trabalho, pela conquista de riquezas e bens materiais ou
outros elementos distratores oferecidos pelo desenvolvimento tecnológico. Dessa forma,
esses sujeitos são na verdade distraídos de si mesmos e distanciados de suas questões
internas, bem como das questões sócio políticas em que vivem, barganhando seu direito
à reflexão, criação intelectual individual e poder de decisão por ideias e ideais coletivos
prontos para uso e consumo, que lhes poupam o tempo que seria empregado em
reflexões e divagações “inúteis”, sobrando-lhes esse tempo para as atividades de
recreação e entretenimento, que prometem aliviar a tensão e o estresse causados,
supostamente, pela vida em sociedade, pelo processo civilizatório e pelo “mal estar” que
esses possam gerar.
Pierre Bourdieu, (1989), em seu trabalho “O poder simbólico”, conduz o leitor a
uma reflexão sociológica sobre o poder dos recursos simbólicos e sobre como estes
recursos vêm sendo utilizados como instrumento de poder e dominação social. Os
símbolos, neste caso, sentido dado ao uso da língua, são percebidos como instrumentos
de integração social. O poder simbólico deriva de uma construção da realidade em que o
sentido do mundo supõe um conformismo lógico, ou seja, a estruturação social
compreende um consentimento tácito por parte de seus componentes. “O poder
simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a
cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o
exercem” (BOURDIEU, 1989, p. 7).
Atendo-se às situações em que a intenção de poder, geralmente, é ignorada, e
que justamente por isso, atinge seus objetivos com melhores resultados, ao tratar dos
sistemas simbólicos existentes nas estruturações sociais, Bourdieu (1977), refere-se às
produções simbólicas como instrumentos de dominação, destacando o instrumento
“linguagem”.
A estrutura da relação de produção linguística depende da relação de
força simbólica entre os dois locutores, isto é, da importância de seu
capital de autoridade (que não é redutível ao capital propriamente
linguístico): a competência é também portanto capacidade de se fazer
escutar. A língua não é somente um instrumento de comunicação ou
mesmo de conhecimento, mas um instrumento de poder. Não
procuramos somente ser compreendidos mas também obedecidos,
acreditados, respeitados, reconhecidos. Daí a definição completa da
competência como direito à palavra, isto é, à linguagem legítima como
linguagem autorizada, como linguagem de autoridade. A competência
implica o poder de impor a recepção. (BOURDIEU, 1977, p.5).

O poder simbólico, um poder quase mágico, que cumpre a finalidade de se obter


o que de outra forma somente poderia ser obtido pela força física ou econômica,
passando despercebido pelos já desfavorecidos nas interações sociais desiguais.
A partir da teoria Marxista sobre as funções políticas dos sistemas simbólicos,
Bourdieu, (1989), explica como a cultura dominante irá contribuir para a integração real
dessa classe, assegurando uma integração comunicacional entre seus membros e
separando os demais como instrumento de distinção, legitimando a diferenças e
distinções sociais entre dominantes e dominados.
Os sistemas simbólicos são então tidos como instrumentos estruturados e
estruturantes de comunicação e conhecimento, que cumprem uma finalidade política de
imposição e de legitimação da dominação imposta por uma e sofrida pela outra classe,
daí surgindo o conceito de “violência simbólica”.
“violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se
exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da
comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do
desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do
sentimento” (p. 7-8).
Bourdieu (1989), ao descrever o conceito de violência simbólica, explicita a
existência de mecanismos sutis de dominação e exclusão social, que quando
direcionados ao desejo de pertencimento dos sujeitos sociais são utilizados com êxito
por indivíduos, grupos ou instituições com a finalidade de dominação social.
Conforme alguns conceitos da teoria Marxista, a linguagem pode ser distinguida
em seus dois aspectos fundamentais: como a de realização ontológica humana e como
forma de alienação. Utilizada como instrumento para a alienação dos sujeitos à língua
pode-se atrelar os conceitos de ideologia e hegemonia de determinados grupos sociais e
destacar algumas estratégias discursivas que constituem formas linguísticas alienadas.
Essas práticas discursivas trazem em si estratégias e práticas sociais que reproduzem e
legitimam distintas formas de dominação social.
Dessa forma, pensamento e linguagem não são autônomos, uma vez que ambos
derivam de expressões da vida real. A linguagem, na sua condição de mediador social,
deve então, ser analisada por diversas perspectivas, incluindo-se o uso da língua como
instrumento para a veiculação de crenças e ideologias no campo das representações
sociais, que exerce influências nos planos individual e ou coletivo, físico e ou psíquico.
Sendo assim, a linguagem sofre tanto determinações sociais quanto autônomas e,
também por isso, deve ser considerada em suas diversas dimensões, sem desvincular-se
da vida social, no plano do real e do concreto.

Contrariamente ao prometido, essa alienação de si e dos contextos vivenciados, longe de


aliviar o mal estar, desapropria o sujeito de sua autonomia, objetalizando-o e, que, a
partir dos valores internalizados como seus, passa também a objetalizar suas relações,
transformando-as em relações utilitárias e com a permanência mantida enquanto se
cumpre como de uso necessário a algum interesse concreto.

O professor Fiorin, na literatura vislumbra-se a possibilidade de revelação e denúncia do


emprego dessas estratégias políticas por meio da linguagem.

nas palavras do Professor Fiorin, numa das suas principais conquistas: a compreensão
de que "não se poderiam resolver todas as questões pela força, era preciso usar a palavra
para persuadir os outros a fazer alguma coisa" (p.9).
No discurso temos a manipulação consciente e a determinação inconsciente,
na sintaxe discursiva usa-se a manipulação consciente. O orador usa de
estratégias argumentativas e outros procedimentos para criar o efeito de
verdade. Nas determinações inconscientes é a semântica discursiva e seus
elementos semânticos usados no discurso que dependendo da época mostra a
maneira de ver o mundo numa dada formação social. A semântica discursiva é
o campo da determinação ideológica.

Nessa fase, as teses althusserianas sobre os aparelhos ideológicos do Estado e o assujeitamento levam-no
a pensar o sujeito como atravessado pela ideologia e pelo inconsciente, um sujeito que, não sendo fonte
nem origem do dizer, seria afetado pelo já-dito e pelo pré-construído. A metodologia que propõe é de
base harrisiana1 que busca destacar os traços e enunciados de base do processo discursivo. Ao fazer a
crítica desse período, Pêcheux se penitencia por ter criado o “primado do Mesmo sobre o Outro”,
privilegiando a repetição e a invariância.2

Língua Discurso e Política, Fiorim - Este trabalho, depois de discutir o sentido da


palavra política, mostra que há quatro possíveis abordagens para a questão das relações
entre língua, discurso e política: a) a natureza intrinsecamente política da linguagem e
das línguas; b) as relações de poder entre os discursos e sua dimensão política; c) as
relações de poder entre as línguas e a dimensão política de seu uso; d) as políticas
linguísticas. Este texto desenvolve apenas os dois primeiros itens. A linguagem e as
línguas têm uma natureza intrinsecamente política, porque sujeitam os falantes a sua
ordem. Os silenciamentos operados pelo discurso manifestam uma relação de poder. A
circulação dos discursos no espaço social está também submetida à ordem do poder.
Os usos linguísticos podem ser o espaço da pertença, mas também da exclusão, da
separação e até da eliminação do outro. Por isso, a língua não é um instrumento neutro
de comunicação, mas é atravessada pela política, pelo poder, pelos poderes. A literatura,
pelos deslocamentos que produz, é uma forma de trapacear a língua, desvelando os
poderes nela inscritos.

Palavras-chave: poderes; silenciamentos; circulação dos discursos; preconceito


linguístico; deslocamentos linguísticos.

Microfísica do poder – Michel Foucault - Esta obra explicita como os mecanismos de poder são
exercidos fora, abaixo e ao lado do aparelho de Estado. Assim como, mostra-nos a relação de poder e
saber nas sociedades modernas com objetivo de produzir “verdades” cujo interesse essencial é a
dominação do homem através de praticas políticas e econômicas de uma sociedade capitalista.

No capítulo Verdade e Poder Foucault explica que a verdade é produto de várias coerções causadoras de
efeitos regulamentados de poder. “Parece-me que o que deve se levar em consideração no intelectual não
é, portanto, ‘o portador de valores universais’, ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja
especificidade está ligada às funções gerais do dispositivo de verdades em nossa sociedade” (Foucault:
13). Ou seja, ele coloca a questão do papel do intelectual na sociedade como sendo uma espécie de
produtor das “verdades”, dos discursos vindo de uma classe burguesa a serviço do capitalismo, que
persuade uma sociedade alienada pelo domínio surgido de uma condição de vida estruturada a qual lhes
davam total respaldo para o exercício de poder.
Como exemplo de instituições que a princípio foram construídas com o objetivo de excluir uma parte da
sociedade no século XVII, Foucault utiliza o hospital, lugar que ao invés de ser aproveitado para a prática
de cura das doenças, eram depositados os pobres doentes, prostitutas, os loucos e todos que
representavam ameaça para a sociedade burguesa. Quem detinha o poder dessas instituições eram os
religiosos e leigos em medicina que ficavam no hospital para fazer caridade e garantir a salvação eterna
aos indivíduos lá depositados.
Até o século XVIII, as visitas médicas hospitalares eram feitas de forma irregular, pois, os religiosos
concebiam o espaço para impor somente a ordem religiosa e não como um espaço para a cura das
enfermidades, o médico nada podia fazer para ajudar essas pessoas, eles também estavam sob a
dependência do pessoal religioso, e podiam ser despedidos caso descumprissem a ordem.
Nas análises sobre as questões relacionadas à psiquiatria Foucault relata como as instituições a princípio
foram locais reservados para a diminuição do poder dos indivíduos capazes de enxergar o que acontecia
com relação a dominação da prática da psiquiatria e de outras instituições e mecanismos do saber, onde
pessoas eram praticamente abandonadas em um determinado local à arbitrariedade dos médicos e
enfermeiros, os quais podiam fazer delas o que bem entendesse, sem que houvesse a possibilidade de
apelo. Neste capítulo o leitor que teve o prazer de ler O Alienista de Machado de Assis, pode comparar as
varias semelhanças de uma obra fictícia de uma obra com análises da realidade como Microfísica do
Poder. Em O Alienista, Machado de Assis traz como tema a “loucura”, enfocada de uma forma que acaba
por dissuadir todas as consciências consideradas normais e por questionar a própria condição humana.
Machado procura apontar como as pessoas consideradas “anormais” por uma parte da sociedade, eram
colocadas em um asilo para loucos onde os personagens se tornavam objetos de experiência científica.
“A característica dessas instituições é uma separação decidida entre aqueles que têm o poder e aqueles
que não o têm” (Foucault: 124). A importância de uma transformação na reorganização arquitetônica
dessas instituições hospitalares no século XVIII, de acordo com Foucault, só houve devido às questões
políticas e econômicas que circundavam a sociedade francesa e européia. Essa reorganização se situou em
torno das relações de poder, ou seja, os médicos passaram a exercer o poder dentro da instituição e fora
dela. Como produtor da verdade, passavam a persuadir as pessoas no intuito de controlá-las e neutralizá-
las para exercer poder sobre a sociedade.
Da mesma forma que as instituições hospitalares, a prisão deveria ser construída para servir de
instrumento de transformação do indivíduo, mas não foi o que aconteceu. Foucault explica que a prisão
passou ser um local de fabricação de mais criminosos, utilizada como estratégia também de domínio
econômico. Para ele esse poder que era exercido nas instituições, era um feixe de relações mais ou menos
organizadas, mais ou menos piramidalizadas, mais ou menos coordenadas. Que arriscavam dirigir a
consciência e tentavam injetar na sociedade discursos persuasivos que indicavam quem exercia o poder e
quem o acatava. Existia uma pirâmide do sistema que se fazia construir a possibilidade de manter esta
relação de poder.
Além das instituições, existia um local todo gradeado e aberto aos olhos de somente um indivíduo, onde a
sociedade era posta para exercer suas atividades como trabalhar, estudar e manter suas relações pessoais
em grupo, sem que as instituições mantenedoras do poder não deixasse de saber o que estava acontecendo
com cada indivíduo, tentando convencer a sociedade de que esta prisão era somente para resolver os
problemas de vigilância e manter todos seguros.
Esta obra de Foucault possibilita que o leitor faça uma análise do que ocorreu e continua ocorrendo em
nossa nação, cujo poder continua centralizado nas mãos de uma pequena parte da sociedade, que se utiliza
de instituições e organismos para manipular, persuadir e neutralizar a grande massa para a manutenção de
mecanismos que impossibilite a sua ascensão social. Para ficar mais clara a comparação sobre a sociedade
que Foucault expõe em Microfísica do Poder e a sociedade atual, basta o leitor ler o livro de Néstor
García Canclini, Latino-americanos à procura de um lugar neste século, que fala sobre como os EUA
através da globalização, vem exercendo um poder dominador, bloqueando o acesso ao desenvolvimento
dos países latino-americanos, aumentando ainda mais as mazelas existentes no mundo de forma geral.
No decorrer de cada capítulo Foucault cita alguns pensadores como Freud, Nietzsche e Marx e algumas
de suas obras como Vigiar e Punir, As Palavras e as Coisas, Arqueologia do Saber, A Vontade de Saber,
que acaba estimulando o leitor a conhecer um pouco mais sobre o que está escrito em cada livro e sobre
cada pensamento articulado que complementa a obra.
Em suma, é uma obra de absoluta importância para estudantes de qualquer graduação que busca um
comprometimento com a profissão e com a sociedade. Pois, ajuda a melhorar e elucidar o conhecimento
sobre as mazelas impregnadas no nosso país e no mundo.

PRADO, et all. Os conceitos de saber, poder e discurso ideológico analisados


segundo a teoria de Michel Foucault. In: Revista Anagrama: Revista Científica
Interdisciplinar da Graduação Ano 4 - Edição 3– Março-Maio de 2011.
Michel Foucault, nas obras A ordem do discurso e Microfísica do poder, expõe a relação entre
o saber e o poder nas relações sociais, bem como teoriza a cerca das amarras sociais
desenvolvidas nessa interação. Neste trabalho analisamos os conceitos de saber e poder, a
construção do discurso ligada as formas de dominação pressupondo as teorias de Foucault
nestas obras, ao passo que ilustramos a discussão com a análise de uma propaganda de
veiculação pelo TSE – Tribunal Superior Eleitoral, em 2010, no Brasil. A relação recíproca entre
saber e poder, que participam ativamente da constituição das relações sociais, políticas e
econômicas têm fundamentação graças à construção do discurso ideológico. Portanto, é
através da formação do pressuposto teórico e ideológico que predomine nas mais variadas
áreas da sociedade, que a classe dominante conseguirá convencer e se manter no poder.
Palavras-chave: saber, poder, discurso ideológico, Michel Foucault.

Referências Bibliográficas

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução Fernando Tomas. 12 ed. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 313p.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas. In: ORTIZ, Renato (org.). 1983.
Bourdieu – Sociologia. São Paulo: Ática. Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 39. p.156-183.

CRUZ , Maria de Loudes Otero Brabo. Bourdieu e a linguística aplicada. In: Alfa, São
Paulo, v.35,p. 79-84, 1991.

FIORIN, José Luiz. Argumentação. 1ª ed. 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016.
269p.

FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 2007. (Princípios;137p.)
FIORIN, José Luiz. Língua, discurso e política. Alea [online]. 2009, vol.11, n.1, pp.148-
165. ISSN 1517-106X. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-106X2009000100012. Acesso
em 06/12/2016.

MARCUSCHI, Luíz A. Produção Textual, análise de gêneros e compreensão. 1ª ed. 5ª


reimpressão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. 296p.

MARCUSCHI, Luíz. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO,


Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.).
Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p.19-36).

PRADO, et all. Os conceitos de saber, poder e discurso ideológico analisados segundo


a teoria de Michel Foucault. In: Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar
da Graduação Ano 4 - Edição 3– Março-Maio de 2011.

RAMOS, D. V; CRUZ, E. S. Língua, poder e identidade em Ngugi Wa Thiongo


E Kanavillil Rajagopalan. Revista Linha d’Água, n. 25 (1), p. 13-27, 2012.

VIANA, Nildo. Linguagem, Discurso e Poder. Ensaios sobre Linguagem e Sociedade.


Pará de Minas: VirtualBooks, 2009. 59p.

Você também pode gostar