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A CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA VYGOTSKYANA PARA O

ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Larissa Cristina Torres dos Santos1


Micaele Carolaine Santos2
Rodrigo Azevedo3

RESUMO

Teorias de pesquisadores do comportamento infantil afirmam que as fases do


desenvolvimento cognitivo infantil compreendem todo o processo de transformação da
criança, pelo qual ela passa ao longo do tempo enquanto adquire e aprimora inúmeras
capacidades necessárias para a vida toda. O presente trabalho objetivou a realização de
revisão literária sobre as fases do desenvolvimento infantil, destacando-se a teoria do
desenvolvimento infantil descrita por Lev Semenovitch Vygotsky em suas obras. O
desenvolvimento infantil em si não é consequência apenas de fatores internos como genética,
maturação física, crescimento, pois também pode ser influenciado por fatores extrínsecos ao
indivíduo, como por exemplo, pelas circunstâncias físicas e interações sociais que
proporcionam incentivos, oportunidades e passagens para o crescimento. Para Vygotsky, o
aprendizado do indivíduo não deve ser dissociado do seu contexto histórico, social e cultural.
Para aprender, elaborar conhecimentos e para se autoconstruir, o ser humano precisa
interagir com outros membros de sua espécie, com o meio e também com a cultura.

Palavras-chave: aprendizagem, linguagem, Piaget, psicologia, Vygotsky.

ABSTRACT

Theories of researchers of child behavior state that the phases of child cognitive
development comprise the entire process of transformation of the child, which he goes
through over time while acquiring and improving numerous skills necessary for life. This
work aimed to carry out a literary review on the stages of child development, highlighting
the theory of child development described by Lev Semenovitch Vygotsky in his works.
Child development itself is not just a consequence of internal factors such as genetics,
physical maturation, growth, as it can also be influenced by factors extrinsic to the
individual, such as, for example, physical circumstances and social interactions that provide
incentives, opportunities and passages to the future. growth. For Vygotsky, the individual's
learning should not be dissociated from its historical, social and cultural context. In order to
learn, develop knowledge and self-construct, human beings need to interact with other
members of their species, with the environment and also with culture.

Key words: learning, language, Piaget, psychology, Vygotsky.


1
Formanda do curso de Psicologia da União das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO),
larissadosantos95@hotmail.com;
2
Formanda do curso de Psicologia da União das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO), mica-ariranha-
1340@hotmail.com;
3
Mestre do curso de Psicologia da União das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO).
1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento infantil engloba aspectos motores, cognitivos, sociais e


emocionais, sendo influenciado por relações complexas descritas por pensadores renomados.
Durante o processo de desenvolvimento, a criança passa por uma constante evolução, sendo
moldada por suas experiências com o mundo e com outras pessoas. Ao longo das diferentes
fases da vida, ela adquire novas habilidades e competências por meio das interações sociais,
permitindo uma compreensão e interação mais ampla com o ambiente. (BEZERRA, 2022, p.
04)
As fases do desenvolvimento humano são consideradas componentes de um ciclo vital
que é universal e igual para todos os indivíduos. Nessa visão, são estabelecidas etapas e
estágios de desenvolvimento que, embora possam ser influenciados pelas interações sociais,
seguem uma ordem fixa e válida para qualquer pessoa, independentemente do contexto ou
época. (SCHIRMANN et al., 2019, p. 05)
A discussão sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem envolve diversas
teorias, que foram construídas por meio de observações e pesquisas com grupos de diferentes
faixas etárias e contextos culturais. Entre os teóricos relevantes destacam-se Freud, Piaget,
Vygotsky.
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento é um processo evolutivo em que as funções
psicológicas superiores surgem nas relações entre indivíduos humanos e se desenvolvem por
meio da internalização de formas culturais de comportamento. Essa posição de Vygotsky se
distancia da visão de Piaget, que salienta que o desenvolvimento é biológico e maturacional e
ocorre de maneira cronológica, seguindo uma sequência de estágios a serem atingidos, onde é
necessário que a criança atinja os estágios de desenvolvimento, para que a aprendizagem
ocorra. (RIBEIRO; SILVA; CARNEIRO, 2011, p. 05)
Já Freud propôs que o desenvolvimento engloba cinco estágios psicossexuais, nos
quais cada um está associado a um conflito específico. Para progredir com sucesso para o
próximo estágio, é necessário resolver esse conflito. A resolução de cada conflito requer a
utilização de energia sexual, e quanto mais energia é investida em um estágio específico, mais
características importantes desse estágio permanecem com o indivíduo à medida que ele
amadurece psicologicamente. (OLIVEIRA, 2022, p.05)
Embora os pesquisadores e profissionais da área considerem diversas perspectivas
teóricas no estudo e compreensão do desenvolvimento infantil, a ênfase de Vygotsky no
contexto sociocultural, na interação social e na linguagem como elementos essenciais na
aquisição de conhecimento e habilidades pelas crianças contribui de forma significativa para a
educação e a prática pedagógica. Ele destaca a importância do suporte psicológico adequado,
da interação social e da linguagem na promoção do desenvolvimento cognitivo e
socioemocional das crianças. Sua abordagem sociocultural continua a influenciar pesquisas e
práticas relacionadas ao desenvolvimento infantil em áreas como a educação, psicologia e
psicopedagogia. (DA CONCEIÇÃO; SIQUEIRA; DA ROSA ZUCOLOTTO, 2019, p. 02)
Contudo, diferentes abordagens da psicologia ao longo da história têm analisado e
interpretado o desenvolvimento infantil. Ao discutir os estágios e fases do desenvolvimento
psiquismo infantil, os autores concluem que tanto o conteúdo desses estágios e fases quanto
sua sequência temporal não são fixos e definitivos, uma vez que são determinados pelas
condições históricas concretas. (SCHIRMANN et al., 2019, p. 04)
Neste sentido, o presente trabalho objetivou a realização de uma revisão literária sobre
as diferentes fases do desenvolvimento infantil e suas características, destacando-se a
relevância da teoria do desenvolvimento infantil descrita por Lev Semenovitch Vygotsky, em
suas obras.

2. METODOLOGIA

A metodologia empregada neste trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica,


utilizando artigos de revistas e livros físicos e digitais, com o objetivo de realizar um estudo
sobre as fases do desenvolvimento infantil e a contribuição da teoria vygotskyana para seu
respectivo estudo.
As plataformas digitais de dados mais utilizadas foram o Google Acadêmico, a
Scientific Electronic Library (SciELO), o PubMed, jornais e livros. Na seleção de artigos, as
obras mais recentes foram priorizadas com o objetivo de obter informações atualizadas sobre
o tema.

3. DESENVOLVIMENTO
3.1. REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Compreender as características das fases que compõem o desenvolvimento infantil é


primordial para uma discussão assertiva sobre seus impactos na vida afetiva, social e física
das crianças. Entender quais são as necessidades vivenciadas por elas em cada fase de
desenvolvimento é uma oportunidade de investir neste processo gradativo de forma
cuidadosa, respeitando o tempo e particularidades de cada criança e, consequentemente,
potencializar seu futuro bem-estar.
Ao criar-se uma reflexão acerca do desenvolvimento infantil, é conveniente realizar-se
previamente a alusão da definição dos termos. Estabelecido ainda na primeira metade do
século passado como um dos fundamentos conceituais e operativos da assistência pediátrica, o
desenvolvimento humano pode ser compreendido e definido de diversas formas, dependendo
do referencial teórico adotado, sendo composto por conceitos heterogêneos das mais variadas
origens. (CAMINHA et al., 2017, p. 02)
Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma transformação complexa,
contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, a maturação, a
aprendizagem e os aspectos psíquicos e sociais. (BRASIL, 2002, p. 76) Assim, o
desenvolvimento infantil refere-se ao desenvolvimento da criança, em seus aspectos motores,
sociais, cognitivos e emocionais.
O desenvolvimento infantil em si não é consequência apenas de fatores internos como
genética, maturação física, crescimento, pois também pode ser influenciado por fatores
extrínsecos ao indivíduo, como por exemplo, pelas circunstâncias físicas e interações sociais
que proporcionam incentivos, oportunidades e passagens para o crescimento. (LINHARES;
ENUMO, 2020, p. 03)
É primordial para o desenvolvimento infantil a progressão contínua no processo de
desenvolvimento de um indivíduo. Antes do nascimento da criança é formado o molde de
uma construção cerebral que vai se definindo através da influência genética e sua relação com
o ambiente em que a criança está inserida nos anos iniciais de vida. (CAMPOS et al., 2020,
p.03)
O desenvolvimento infantil satisfatório contribui para a formação de um sujeito com
maior possibilidade de tornar-se um adulto independente, apto a enfrentar as adversidades que
a vida oferece, reduzindo-se assim as disparidades sociais e econômicas da nossa sociedade.
(SOUZA, 2014, p. 28)
Considerando que, nos primeiros anos, é moldada a arquitetura cerebral das crianças, o
desenvolvimento infantil torna-se parte fundamental do desenvolvimento humano. Ao lado do
crescimento somático, ele representa um dos eixos que definem e qualificam o processo ativo
e contínuo de vigilância à saúde das crianças, sendo alvo da atenção de diversos estudos
profissionais. (CAMINHA et al., 2017, p. 02)
De acordo com Bronfenbrenner (apud LINHARES; ENUMO, 2020, p. 04), o
desenvolvimento humano tem quatro componentes: pessoa, processo, contexto e tempo. As
características da pessoa, tais como genética, fisiologia, gênero, temperamento, nível de
atividade, entre outras, se relacionam com o contexto proximal de desenvolvimento humano,
representado por cuidadores familiares, em especial os pais e os professores no ambiente
educacional.
Alguns autores dividem o desenvolvimento humano em domínios, o que facilita sua
análise e compreensão, uma vez que se trata de um fenômeno muito abrangente. Contudo,
embora o estudo do desenvolvimento seja organizado em domínios, o desenvolvimento é
holístico, ou seja, cada pessoa cresce como um todo integrado.

⮚ Desenvolvimento físico: inclui crescimento do corpo e do cérebro, das capacidades

sensórias, das habilidades motoras e da saúde.

⮚ Desenvolvimento cognitivo: relativo à mudança e à estabilidade nas capacidades

mentais, como aprendizagem, memória, linguagem, pensamento, julgamento moral e


criatividade; e desenvolvimento psicossocial, referente à mudança e à estabilidade na
personalidade e nos relacionamentos sociais. (SOUZA, 2014, p. 26)

Os domínios do desenvolvimento podem ser considerados também biossociais, que


incluem cérebro e corpo, bem como as modificações que neles ocorrem e as influências
sociais que as direcionam. Enquanto o domínio cognitivo inclui os processos do pensamento,
as aptidões de percepção e a linguagem, o domínio psicossocial inclui a personalidade, as
emoções e as relações interpessoais. (CAMINHA et al., 2017, p. 03)
O desenvolvimento é um fenômeno de continuidade e de mudança das características
biopsicológicas dos seres humanos como indivíduos e grupos. É um processo através do qual
a pessoa adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada e válida do meio ambiente
ecológico, e se torna mais capaz de se envolver em atividades que revelam suas propriedades,
sustentam ou reestruturam aquele ambiente em níveis de complexidade semelhante ou maior
de forma e conteúdo. (SOUZA, 2014, p. 09)
De acordo com teorias de pesquisadores do comportamento infantil, as fases do
desenvolvimento cognitivo infantil abrangem a totalidade do processo de transformação da
criança, no qual ela adquire e aprimora diversas habilidades essenciais para toda a vida, ao
longo do tempo. (CAMPIRA; ARAÚJO, 2012, p. 172)
O modo como os teóricos explicam o desenvolvimento depende de como consideram
o peso dado à hereditariedade e ao ambiente; se as pessoas são ativas ou passivas em seu
próprio desenvolvimento; se é contínuo, ou ocorre em etapas. As principais teorias que
influenciam a pesquisa sobre desenvolvimento humano são: Teorias Psicanalíticas; Teorias da
Aprendizagem; Teorias Cognitivas e Teorias Ecológicas. (LINHARES; ENUMO, 2020, p.
03)

3.2. A TEORIA VYGOTSKYANA

Os conceitos sobre desenvolvimento e aprendizagem, levam à reflexão sobre como


ocorrem esses processos. Então, como se pode perceber o desenvolvimento natural da criança
e estimulá-la de forma a contribuir para o seu desenvolvimento? Para responder a essa
pergunta, a partir de agora, refletiremos sobre a teoria de desenvolvimento elaborada por
Vygostky, que trata da influência do ambiente familiar e educacional no processo de
maturação da criança.
O psicólogo russo Lev Vygotsky, desenvolveu pesquisas pioneiras no conceito do
interacionismo, estabelecendo a ideia de que o desenvolvimento das crianças é resultado de
suas interações sociais e condições de vida. Sua Teoria Sociointeracionista foi realmente
impactante diante do pensamento vigente na época: o de que as crianças simplesmente não
tinham capacidade cognitiva até certa idade. (KAULFUSS, 2019, p.05)
A visão Vygotskyana sobre o desenvolvimento infantil indica que ele é produzido por
um processo que integra interações sociais com contextos culturais, e que esse processo é
construído de fora para dentro, onde, o cérebro humano é a base dos seres vivos, e sua
especificidade define os limites e possibilidades do desenvolvimento humano. (FAGUNDES,
2022, p. 17)
Assim, Vygotsky considera o homem em seus aspectos sócio-históricos. Entende o
homem de forma una, como corpo e mente, biológico e social, espécie humana e ator num
processo histórico. Em decorrência disso, estabelecem-se os seguintes pilares básicos do
pensamento de Vygotsky:

⮚ As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade

cerebral, sendo o cérebro um sistema aberto de grande plasticidade, moldado ao longo


da história da espécie e do desenvolvimento humano;

⮚ O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o

mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico;

⮚ A relação homem/mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.

(KAULFUSS, 2019, p. 06)


Vygotsky afirma que a criança nasce com apenas funções cognitivas básicas, mas que
se estendem às funções complexas como as interações culturais, que não ocorrem de forma
espontânea, mas por vinculação a outros sujeitos. Essas diretrizes são responsáveis pela
construção de interpretações de conceitos de natureza histórica e social. (RIBEIRO; SILVA;
CARNEIRO, 2011, p. 08)
Essa posição de Vygotsky se distancia da visão de Piaget, que salienta que o
desenvolvimento é biológico e maturacional e ocorre de maneira cronológica, seguindo uma
sequência de estágios a serem atingidos, onde é necessário que a criança atinja os estágios de
desenvolvimento, para que a aprendizagem ocorra.
Diferentemente de Vygostky, Piaget iniciou sua carreira acadêmica com pesquisas
relacionadas ao contexto biológico e, posteriormente, adentrou o campo da psicologia,
concentrando-se na análise dos estágios do desenvolvimento cognitivo. Piaget acreditava que
conhecimento é constituído a partir do interior da criança para o meio externo. Neste sentido,
afirmava que a aprendizagem está atrelada ao desenvolvimento, de forma que a criança só vai
avançar no aprendizado conforme for avançando nos estágios de desenvolvimento,
desprezando-se o fator interação social na construção do conhecimento. (FAGUNDES, 2022,
p. 17)
Segundo Piaget, a criança interage com o ambiente de forma a construir uma nova
compreensão de objetos e conhecimentos, estabelecendo uma relação participativa e ativa
com o mundo ao seu redor. Sua teoria enfatiza a importância dos aspectos biológicos e
maturacionais, pois se acredita que o desenvolvimento serve como base e suporte para o
processo de aprendizagem ocorrer. (RIBEIRO; SILVA; CARNEIRO, 2011, p. 04)
No pensamento vygotskyano, o conhecimento procede do meio externo social para o
individual da pessoa. O desenvolvimento e a aprendizagem são elementos que agem de forma
recíproca. Desta forma, quanto mais à criança aprende, mais ela se desenvolve, dando-se total
ênfase nas interações sociais como fundamentais no aprendizado. (KAULFUSS, 2019, p. 09)
Vygotsky entende que as diferenças quanto à capacidade de desenvolvimento
potencial das crianças devem ser, em grande parte, as diferenças qualitativas no ambiente
social em que vivem. As diversidades nas condições sociais promovem aprendizagens
também diversas e estas, por sua vez, ativam diferentes processos de desenvolvimento.
(FAGUNDES, 2022, p. 22)
É a relação com o seu ambiente sócio-cultural que permitirá o pleno desenvolvimento
do indivíduo. Existem dois níveis de desenvolvimento a serem considerados: o nível de
desenvolvimento real, que implica na capacidade de realizar tarefas de forma independente e
o nível de desenvolvimento potencial, que implica na capacidade de desempenhar tarefas com
a ajuda de adultos ou companheiros mais capazes. A capacidade de se beneficiar de uma
colaboração vai ocorrer num certo nível de desenvolvimento, mas não antes. (CAMPIRA;
ARAÚJO, 2012, p. 174)

3.3. CARACTERÍSTICAS DA FASE PRÉ-OPERACIONAL

O pensamento vygotskyano sustenta ainda que a noção de que funções mentais


superiores, como linguagem e memória, são construídas ao longo da história social de uma
pessoa em sua relação com o mundo e, portanto, essas funções referem-se a práticas
voluntárias, ações conscientes, mecanismos de comprometimento e são baseadas no processo
de aprendizado. Portanto, o papel social com relação ao desenvolvimento é mais marcado em
Vygotsky. (RIBEIRO; SILVA; CARNEIRO, 2011, p. 07)
O processo de aquisição do conhecimento e a formação do pensamento proporciona
um dinamismo entre dois conceitos muito importantes em sua teoria, que são a linguagem e o
pensamento. Ambos diferem um do outro em suas distinções e suas particularidades, mas
durante tal processo, há pouco mencionado, vão se entrelaçando e se unificando como um
todo inseparável. (KAULFUSS, 2019, p. 07)
A linguagem e o pensamento, dois processos independentes em que as funções
mentais da criança são modificadas pela obtenção da linguagem. Com isso, o pensamento
então assume a sua forma, que irá possibilitar o desenvolvimento de sua memória, da
imaginação e o planejamento de suas ações diante das situações da vida. (FAGUNDES, 2022,
p. 19)
As funções básicas da linguagem são o intercâmbio social, que consiste no impulso
inicial visível, inclusive no bebê, e o pensamento generalizante, sendo que, neste caso, a
linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos,
eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual. A função generalizante torna a
linguagem um instrumento de pensamento: a linguagem fornece os conceitos e as formas de
organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento.
(RIBEIRO; SILVA; CARNEIRO, 2011, p. 09).
A criança pequena tem uma fase do pensamento pré-verbal e da liguagem pré-
intelectual que vai até aproximadamente os dois anos, quando a fala torna-se intelectual, com
função simbólica e generalizante, e o pensamento verbal, mediado por significados dados pela
linguagem. Esta aquisição decorre do impulso resultante da inserção num meio sociocultural.
(KAULFUSS, 2019, p. 08).
Nas circunstâncias que envolvem as relações sociais, evidencia-se ainda mais a
importância da linguagem, essencial por assumir um papel de um complexo de símbolos, por
agir como um meio de conciliação entre os seres humanos e o mundo ao seu redor. Assim, a
criança assimila certas funções, que criam um pensamento com caráter generalizador e de
interação social, e, no momento em que faz a estruturação de suas experiências, adquirem
significados que poderão ser compartilhados, e que posteriormente irão fazer a intermediação
das relações no meio social. (FAGUNDES, 2022, p. 19)
Sabe-se que Vygotsky enfatizou a importância das interações sociais que a criança tem
com o ambiente a sua volta, porém a concepção de ensino-aprendizagem de Vygotsky inclui
ainda dois aspectos particularmente relevantes: primeiro, a ideia de um processo que envolve,
ao mesmo tempo, quem ensina e quem aprende, mas que não se refere necessariamente à
situações em que haja um educador fisicamente presente, podendo ser concretizado por
objetos, eventos, situações, modos de organização do real e a própria linguagem; e segundo,
quando a aprendizagem é resultado desejável de um processo deliberado, explícito,
intencional, onde a intervenção pedagógica é um mecanismo privilegiado e a escola é o
espaço, por excelência, onde o processo de ensino-aprendizagem ocorre. (KAULFUSS, 2019,
p. 15)
Vygotsky estudou também processos psicológicos superiores, que se diferenciam das
ações reflexas, reações automatizadas e processos de associação simples, sendo
comportamentos voluntários e intencionais. O interesse especial do autor pelo pensamento e
linguagem, que têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo trajetórias paralelas e
independentes, antes da ocorrência da estreita ligação entre os fenômenos, é marcante.
(JOENK, 2022, p. 07)
As fases no desenvolvimento das relações fala-pensamento, de acordo com Vigotsky,
eram mais ou menos as seguintes. Inicialmente, os aspectos motores e verbais do
comportamento estão misturados. A fala envolve os elementos referenciais, a conversação
orientada pelo objeto, as expressões emocionais e outros tipos de fala social. Em virtude de a
criança estar cercada pelos membros mais velhos da família, a fala começa, cada vez mais a
adquirir traços demosntrativos, o que permite que a criança indique o que está fazendo e quais
são suas necessidades. (RABELLO e PASSOS, 2010, p. 09)
Após algum tempo, a criança, fazendo distinções para os outros com o auxílio da fala,
começa, internamente, a fazer distinções para si mesma. Desta forma, a fala deixa de ser
apenas um meio para dirigir o comportamento dos outros e começa a desempenhar a função
de autodireção. (BEZERRA e CASTRO ARAÚJO, 2013, p. 09)
Por volta dos 2 anos de idade, o pensamento da criança encontra-se com a linguagem,
e seu desenvolvimento cerebral se modifica, atuando de uma nova maneira. A fala pré-
intelectual, dominada por choros e gestos, torna-se fala intelectual, com função simbólica,
generalizante, e o pensamento transforma-se em verbal, mediado por conceitos relacionados à
linguagem. Reafirmando modo a linguagem como um fator determinante para o
desenvolvimento dos processos cognitivos como memória, percepção, atenção, imaginação.
(RIBEIRO; SILVA; CARNEIRO, 2011, p. 14)
Chamado de período pré-operacional, a fase, que acontece entre dois a sete anos, tem
essa denominação porque a criança carrega significações do período anterior, tendo conceitos
iniciais confusos, mas em constante construção de ideias lógicas. (FAGUNDES, 2022, p.07)
Nesta fase, a criança ainda é egocêntrica, tendo a noção de que o mundo é feito para ela, e
voltado para seus desejos, limitando-a a realizar trocas intelectuais, visto que ainda não possui
referências para o diálogo, irritando-se facilmente quando contrariada.
Os significados das palavras fornecem a mediação simbólica entre o indivíduo e o
mundo, é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal.
Para Vygotsky, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala
egocêntrica, atingindo a fala interior que é pensamento reflexivo. A fala egocêntrica emerge
quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das
funções psíquicas interiores e pessoais. (MELLO, 1999, p. 10)
O brinquedo tmbém tem um papel relevante na teoria de Vygotsky, pois é visto como
uma possibilidade de provocar e estimular o desenvolvimento de uma criança. O brincar é
uma atividade que potencializa o crescimento desses processos. A brincadeira faz com que a
criança internalize conceitos do meio social e também modifique suas funções psicológicas
(atenção, memória, linguagem, percepção, entre outros), ou seja, é pelo ato de brincar que a
criança se desenvolve. (GONÇALVES, 2014, p. 07)
De acordo com Mello (1999), Vygotsky acreditava que a aprendizagem na criança
podia ocorrer através do jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um
aprendiz e um aprendiz mais experiente. De acordo com a autora, o processo básico pelo qual
isto ocorre é chamado de mediação (ligação entre duas estruturas, uma social e uma
pessoalmente construída, através de instrumentos ou sinais). Quando os signos culturais vão
sendo internalizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a capacidade de uma ordem
de pensamento mais elevada. (MELLO, 1999, p. 09)
No entendimento Vygotskyano, a noção do entendimento sobre o que é o
desenvolvimento se expande no momento em que é inserido um segundo nível de
desenvolvimento, o qual Vygotsky chama de “Zona de Desenvolvimento Proximal” (ZDP).
Este se trata de um conceito fundamental que se deve entender para compreender o processo
de aprendizagem em Vygotsky. De acordo com ele, cada indivíduo se encontra presente em
duas zonas de conhecimento, o qual fazem a distinção do nível de conhecimento que esse
sujeito já possui e, o que ele ainda poderá apropriar-se. Essas duas zonas são conhecidas
como: Zona de conhecimento Real e Zona de Conhecimento Potencial. (RABELLO e
PASSOS, 2010, p. 06)
Seguindo essa linha de pensamento e tendo em mente o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal, o professor tem um papel de mediador entre o indivíduo e o
conhecimento cultural presente ao seu redor. Sua função pode proporcionar um ambiente
social propício ao pleno desenvolvimento do aluno, por meio da discussão da relação do
educando com a informação, em interação social adequada e organizada de acordo com as
circunstâncias possíveis e íntimas da criança. (DA CONCEIÇÃO; SIQUEIRA; DA ROSA
ZUCOLOTTO, 2019, p. 03)
A aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do
conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo
aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre eles. Esta conexão entre
desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal, cria um
“espaço dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha e os que deverá
resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento, para em seguida, chegar a
dominá-los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial). (SOARES; CERVEIRA;
MELLO, 2019, p. 07)
Para Vygostky, para criação da personalidade humana, não basta uma rica carga
genética. É necessária uma rica experiência desde o nascimento da criança: de contato com a
natureza, com as outras pessoas e com a cultura acumulada pela humanidade ao longo de sua
história. Esse contato provoca no cérebro infantil a ginástica de que este necessita para formar
as ligações neurais que criam as condições para o desenvolvimento da consciência e,
conseqüentemente, as bases para o desenvolvimento infantil. (RIBEIRO; SILVA;
CARNEIRO, 2011, p. 06)
Neste sentido, Mello (1999) afirma que o homem não nasce humano. Sua humanidade
é externa a ele, desenvolvida ao longo do processo de apropriação da cultura que as novas
gerações encontram ao nascer, acumulada pelas gerações precedentes - cultura essa que é,
portanto, reculiar ao momento histórico em que o indivíduo nasce e ao lugar que ocupa nessa
sociedade. Assim, o homem se torna humano à medida que atua sobre a realidade,
apropriando-se dela e transformando-a. (MELLO, 1999, p. 08)

Com base nos estudos apresentados, pode-se afirmar que para Vygotsky o ensino
eficiente é aquele que faz a criança avançar no já sabe, desafiando-a para o que ela ainda não
sabe ou ainda não é capaz de fazer sem a ajuda de outros. Uma relação aprendizagem e
desenvolvimento que nos ajuda a refletir sobre a educação, que ao mesmo tempo em que deve
facilitar o desenvolvimento de aptidões que estão naturalmente dadas ao indivíduo, também
deve garantir a criação de aptidões que são inicialmente externas aos indivíduos, dadas como
possibilidades incorporadas nos objetos da cultura.

4. CONCLUSÕES

Considerando a revisão bibliográfica realizada no presente trabalho, constata-se que as


pesquisas que abordam sobre o desenvolvimento infantil têm sido a base de muitos
educadores nos últimos anos, uma vez que se busca expandir os conhecimentos acerca dos
processos de aprendizagens infantis. Compreende-se ainda, que tais estudos são essenciais
para a visualização do cenário educacional brasileiro, no que se refere à ampliação de saberes
dos processos de desenvolvimento infantil.
Hoje se sabe que a criança está em constante desenvolvimento, e que suas experiências
sociais são essenciais para estruturar seu processo de desenvolvimento intelectual e humano.
Ao decorrer dos períodos de aprendizagem, a criança constrói suas competências,
considerando o contexto social em que está inserida, que irão auxiliar na sua compreensão de
mundo e atuação nele.
De acordo com as pesquisas ora realizadas, o pensamento Vygotskyano considera que
esse desenvolvimento infantil também é influenciado por fatores extrínsecos ao índividuo,
não se limitando apenas a fatores internos como genética, maturação física e crescimento, mas
também ao contexto social e ambiental em que a criança está inserida.
Neste sentido, Vygotsky defende que o densenvolvimento infantil também pode ser
entendido como um processo que integra interações sociais com contextos culturais. O autor
acredita que o aprendizado do indivíduo não deve ser dissociado do seu contexto histórico,
social e cultural. Para aprender, elaborar conhecimentos e para se autoconstruir, o ser humano
precisa interagir com outros membros de sua espécie, com o meio e também com a cultura.
Para Vygotsky, uma das fases mais importantes e primordiais para o desenvolvimento
infantil é o período pré-operacional, que ocorre dos dois aos sete anos da criança. É nesta fase
que o desenvolvimento de representações mentais internas está acontecendo e a criança
consegue iniciar o aprimoramento do seu pensamento lógico. No entanto, a característica mais
importante da fase pré-operatória é o desenvolvimento da comunicação verbal, onde a criança
começa a expressar o que passa em sua mente por meio da manipulação de símbolos verbais.
Ainda com base nos estudos apresentados, pode-se afirmar que é imensurável a
contribuição de Vygotsky para o estudo do processo de desenvolvimento e aprendizado
infantil, sendo sua teoria sociocultural, que pressupõe que o funcionamento mental humano
resulta da participação e apropriação de formas de mediação cultural integradas em
atividades sociais, uma das mais relevantes para o estudo da educação infantil.

5. REFERÊNCIAS

BEZERRA, G. F., & de CASTRO ARAUJO, D. A. (2013). Sobre a linguagem: considerações


sobre a atividade verbal a partir da Psicologia Histórico-Cultural. Temas em
Psicologia, 21(1), 83-96.

BRASIL. Ministério da Saúde. Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil.


Brasília: Ministério da Saúde; 2002. (Série Cadernos da Atenção Básica; 11 – Séries A
Normas e Manuais Técnicos).

CAMINHA, Maria de Fátima Costa et al. Vigilância do desenvolvimento infantil: análise da


situação brasileira. Revista Paulista de Pediatria, v. 35, p. 102-109, 2017.

CAMPIRA, F. P., ARAÚJO, A. M. A teoria sociocultural de Vygotsky e o contexto


educativo em Moçambique. Psicologia, Edução e Cultura, XVI, v. 2, p. 171-190, 2012.

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