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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 02
INTRODUÇÃO
A ação do professor durante a alfabetização inicial diz respeito a um fazer pedagógico que
objetiva propor a aquisição da leitura e da escrita de forma processual,respeitosa e produtiva. Para
realizar um estudo sobre os fundamentos que possibilitam esse processo, faz-se necessário
compreender o objetivo do proposto pelas autoras, quais as possíveis intervenções e qual a sua
relevância para o processo de aprendizagem.
Durante muito tempo acreditou-se que, como pré-requisito fundamental para se produzir um
texto, seria necessário o domínio do código gráfico de escrita- ler e escrever convencionalmente.
Com a chegada da psicogênese da língua escrita essa perspectiva mudou, e como ponto de partida
para a realização deste estudo se faz necessário observar essas e outras mudanças que ocorreram
na educação. Uma dessas grandes mudanças encontra-se no fato de que as práticas pedagógicas
nem sempre conceberam a criança ativa no seu processo de aprendizagem (MORTATTI, 2000).
Tais práticas, ensinadas com respectivos métodos de alfabetização, preocupavam-se em
sistematizar o fazer docente de modo a tornar os conteúdos tecnicamente ensináveis, não
considerando os saberes do sujeito.
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Psicolinguísta argentina , Doutora pela Universidade de Genebra, orientadora e colaboradora de Jean Piaget (1896
– 1980)
2
Teoria que apresenta a construção do conhecimento e as mudanças qualitativas que passa a criança, desde o
estágio inicial (sensório-motor) até o pensamento lógico, na adolescência (PIAGET, 1971).
3
K.Goodman, 1991; N. Chomsky, 2002 e outros.
4
Nossa atual visão do processo é radicalmente diferente: no lugar de uma criança que espera
passivamente o reforço externo de uma resposta produzida pouco menos que ao acaso,
aparece uma criança que procura ativamente compreendê-la, formula hipóteses, busca
regularidades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática (que não é
simples cópia deformada do modelo adulto mas sim criação original)
(FERREIRO;TEBEROSKY, 1985, p.22).
Eis então o ponto crucial da pesquisa psicogenética: “[...] tentar uma explicação dos
processos e das formas mediante as quais a criança chega a aprender a ler e escrever” (p.15).Ou
seja, Ferreiro e Teberosky intencionaram explicar a maneira como a criança aprende, algo que é
certamente ainda mais importante do que o próprio instrumento utilizado para o seu aprendizado.
Não que na prática aconteça de maneira desconexa, mas sim complementar, onde a criança é, a
partir de então, o início do planejamento dessas práticas.
Motivada por esse estudo que concebe o modo como o sujeito aprende como ponto de
partida para a atuação docente, em especial, questões relacionadas à aquisição do sistema de
escrita destaca três pontos importantes para o favorecimento do processo de alfabetização : 1.a
criança – maneira como entende-se que ela aprende; 2. a prática pedagógica - uma das condições
para potencializar esse processo; 3. os professores, pois a maneira como se pensa a criança e
como se acredita que ela aprende, fundamenta diretamente a prática docente.
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São estes três pontos que delimitarão os caminhos percorridos: a criança como construtora
de seu conhecimento, as práticas como sendo instrumento a serviço da aprendizagem e o
professor como mediador que potencializa esse processo.
A fim de compor este e-book, realizou-se um estudo sobre as mudanças que aconteceram
na educação (MORTATTI, 2000) até a chegada da psicogênese da língua escrita (FERREIRO,
TEBEROSKY, 1985), a fim de compreender as concepções de criança e aprendizagem subjacentes
aos métodos de alfabetização, até culminar em estudos psicogenéticos. Com esta fundamentação
foi possível dar início a um estudo sobre os conteúdos relacionados ao ensino da linguagem escrita
na escola (PRETI, 2003), utilizando a pedagogia de projetos como estratégia utilizada para o ensino
destas práticas, de modo significativo e similar às práticas sociais (PRADO, 2003).
Dada então, a importância da abordagem desta linha cronológica com foco em como se
pensava e como se pensa hoje o ensino da leitura e da escrita, constrói-se coesão no estudo das
práticas pedagógicas que surgiram ao longo das décadas e, que até os dias de hoje permeiam
discussões e reflexões psicológicas, pedagógicas, sociológicas e políticas.
No final do século XIX, com a proclamação da República, a educação passou a tomar lugar
de destaque no país. A escola consolidou-se como instituição cujo principal objetivo era o preparo
das novas gerações, sob o dever de contribuir para os interesses do Estado antes Império, agora
República, pautado pela busca da tão sonhada e utópica “sociedade moderna”, ressalta Mortatti
(2000, p.25):
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Desse ponto de vista, os processos de ensinar e aprender a leitura e escrita na fase inicial da
escolarização de crianças se apresenta como um momento de passagem para um mundo
novo – para o Estado e para o cidadão - : o mundo público da cultura letrada, que instaura
novas formas de relação dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história e com o próprio
Estado; um mundo novo que instaura, enfim, novos modos e conteúdos de pensar, sentir,
querer e agir.
O país passava por mudanças importantes em sua política e na educação não seria
diferente.
Saber ler e escrever sob esse olhar dos ideais republicanos, frente a um passado onde a
leitura e a escrita eram ensinadas por meio de uma “transmissão assistemática” para poucos,
privado ao lar ou nas poucas “escolas” do Império, passava agora a ser um direito dentro de uma
sociedade onde se buscava o saber e o esclarecimento.
Segundo Ferreiro e Teberosky (1985), os princípios fundantes de uma sociedade não
carregam somente profundas concepções psicológicas, mas também influenciam as concepções
metodológicas de ensino e foi a partir dessas crenças que se fundamentaram os métodos vigentes
na época, os considerados “tradicionais”(p.19).
Mortatti (2000) explica que a ideologia presente nas políticas republicanas no final do século
XlX, orientava as políticas educacionais que concebiam o ensino da leitura e da escrita como algo
tecnicamente ensinável. Ensinar o quê, para quê e de que modo, são e sempre foram norteados
por interesses implícitos –o que ocorre até os dias de hoje- utilizando a escola como o grande e,
porque não chamarmos a principal instituição de massificação em prol do Estado vigente, em prol
da afirmação de seus interesses políticos e de seus objetivos.
Acredita-se, que a maneira como pensa uma sociedade diz muito sobre as práticas
estabelecidas dentro e fora da escola reforçam Ferreiro e Teberosky (1985). Quanto aos métodos,
as autoras os dividem em três momentos: os grupos de marcha sintética, de marcha analítica e os
chamados “mistos”. Cada um em seu momento histórico ocupou lugar não somente do “fazer
pedagógico” mas, em cada ato trazia a concepção de aprendizagem dominante na sociedade.
Estes e outros aspectos do passado se mantêm presentes até os dias de hoje, e vestígios
desses métodos podem ser encontrados ainda em vigor em nossas escolas atuais (MORTATTI,
2000 p.17).
chegada das cartilhas escritas pelo português João de Deus (Cartilha Maternal ou Arte da Leitura4),
pouco antes de serem difundidas em todo o território brasileiro por Antonio Silva Jardim, professor
de português da Escola Normal de São Paulo (MORTATTI, p.25).
Nelas, supunha-se que ler era decodificar e escrever codificar, de uma maneira indissociável
onde a escrita era uma transcrição da fala. Desse modo, o principal objeto de estudo dessas
cartilhas era a aquisição do domínio do código e, somente após esse domínio, eram trabalhadas
noções consideradas “mais complexas”. Ferreiro e Teberosky também as comentaram: “Na
aprendizagem, está em primeiro lugar a mecânica de leitura (decifrado do texto) que,
posteriormente, dará lugar à leitura “inteligente” (compreensão do texto lido), culminando com uma
leitura expressiva, onde se junta a entonação” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985 p.19).
Essas noções consideradas mais complexas partem desde a interpretação de um texto, até
sua produção. Trabalhar a produção textual com crianças que ainda não dominam o código era
uma proposta não valorizada, talvez nem imaginada. Nos métodos de marcha sintética, por
exemplo, pontuavam-se questões de soletração, que dizem respeito ao nome das letras. No
método fônico, o som correspondente a essas letras. Na silabação, os sons formados pela junção
silábica (ou família silábica). Posteriormente, a leitura era composta pela junção desses fatores
previamente aprendidos. Sem dominá-los, não era possível avançar para o próximo passo.
Defensores do “método João de Deus”, contrapostos pelos defensores dos métodos
sintéticos, estabeleceram então debates no âmbito educacional que perduraram durante alguns
anos, até que um novo método foi colocado em jogo. A partir de 1890, em São Paulo, com o intuito
de servir de modelo para o resto do país, mudanças foram implementadas e uma reforma
educacional era esperada com grandes resultados, a partir da adoção do método analítico
(FERREIRO;TEBEROSKY, 1985). De cunho obrigatório, o método era utilizado em todo o estado,
trazendo um novo olhar sobre a criança:
Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então utilizados, o método analítico,
sobre forte influência da pedagogia norte-americana, baseava-se em princípios didáticos
derivados de uma nova concepção – de caráter biopsicofisiológico- da criança, cuja forma de
apreensão do mundo era entendida como sincrética (MORTATTI, 2006 p.7).
4
Publicada em 1876, a cartilha servia como base para o ensino da leitura e da escrita.Propulsora de inúmeras outras publicações
semelhantes, a Cartilha Maternal é uma das obras mais reimpressas em Portugal.
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Médico, psicólogo e filósofo francês. Sua teoria trata do desenvolvimento intelectual reconhecendo corpo e emoções da
criança.
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Testes destinados à verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e escrita.
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Ferreiro e Teberosky trazem esse sujeito cognoscente para o sujeito que está em processo
de alfabetização. A teoria de Piaget não tratou de estudar os processos pelos quais a criança chega
a compreender de fato a linguagem e a escrita de maneira convencional (sua alfabetização), porém
as autoras se apoiaram em sua pesquisa psicogenética para compreender o processo de aquisição
da leitura e da escrita pela criança.
Se a criança se desenvolve por meio de um processo, por que com relação a escrita seria
diferente? Neste questão, encontra-se o mais relevante ponto comum nas duas concepções: a
aprendizagem da criança.
Ao reconhecer a aprendizagem da escrita também como um processo contínuo e carregado
de erros construtivos, não se reconhece somente uma relação com a teoria piagetiana, mas o fator
que impulsiona uma mudança na educação é exatamente uma inovação no que diz respeito às
práticas pedagógicas, como reforçam as autoras: “Tudo muda se supomos que o sujeito que vai
abordar a escrita já possui um notável conhecimento de sua língua materna, ou se supomos que
não o possui” (1985, p.23). Afirmam também, que é no mínimo estranho pensar que a criança só
terá noções da escrita a partir do momento que alguém lhe ensinar, seja em sua casa ou no
ambiente escolar. É evidente que, em um mundo letrado, uma criança ativa e questionadora faz
relação de suas ideias com o mundo que a cerca, pois é nele que há troca de experiências,
observações, indagações e crenças refutadas.
Como citam as autoras “...não se trata de transmitir um conhecimento que o sujeito não teria
fora desse ato de transmissão, mas sim de fazer-lhe cobrar a consciência de um conhecimento que
o sujeito possui, porém sem ser consciente de possuí-lo” ( 1985, p.24)
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É por meio da vivência em nosso mundo “escrito”, que a criança, vista como ativa, elabora,
ainda que de modo inadequado, hipóteses sobre o “mundo dos adultos”.
Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura,entendida como o questionamento
a respeito da natureza, função e valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito
antes do que a escola imagina,transcorrendo por insuspeitados caminhos.Que, além dos
métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca aquisição de
conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, seguindo sua própria
metodologia (FERREIRO, TEBERPSKY, 1985 p.11).
A teoria de Piaget traz também outro ponto importante para a psicogênese: a aprendizagem
e o desenvolvimento vistos como um processo. Processo este com dois princípios básicos, a
assimilação e a acomodação.
Um dos princípios básicos dessa teoria é que os estímulos não atuam diretamente, mas sim
que são transformados pelos sistemas de assimilação do sujeito (seus “esquemas de
assimilação”): neste ato de transformação o sujeito interpreta o estímulo(o objeto, em termos
gerais),e é somente em conseqüência dessa interpretação que a conduta do sujeito se faz
compreensível (FERREIRO, 1985 p.27).
Dessa forma, são considerados também importantes fatores das relações com o meio, de
modo a interferir também nos conhecimentos já adquiridos por suas próprias indagações. Piaget
concebe aprendizagem, como um processo de obtenção de conhecimento por meio da própria
atividade do sujeito.
Este sujeito ativo e consciente aprende mediante seus esquemas assimiladores, que tratarão
de interpretar a informação recebida. As autoras da psicogênese, porém, diferenciam dois pontos
da teoria piagetiana, e que de forma alguma devem ser olhadas de maneira distintas, mas sim
complementares: de um lado, a visão de uma teoria limitada aos processos de aquisição do
conhecimento lógico-matemático, e em contrapartida, uma teoria voltada para a interpretação geral
dos processos de aquisição do conhecimento.
Um progresso no conhecimento não será obtido senão através de um conflito cognitivo, isto
é, quando a presença de um objeto (no sentido amplo de objeto de conhecimento) não
assimilável force o sujeito a modificar seus esquemas assimiladores, ou seja, a realizar um
esforço de acomodação que tenda a incorporar o que resultava inassimilável ( e que constitui,
tecnicamente, uma perturbação) (FERREIRO,TEBEROSKY,1985 p.31)
Na teoria piagetiana, o conhecimento objetivo, portanto, não é algo como um dado inicial,
mas sim fruto de um processo de aquisição. Neste processo, como vimos, o conflito cognitivo
atuando sobre os esquemas assimiladores atua de forma a refutar ou validar hipóteses e crenças
trazidas previamente. Compreende-se então que essas reestruturações são ações
importantíssimas para este processo. Tem-se então a noção de erro construtivo trazido nessa
teoria.
Um exemplo de erros construtivos, são as indagações acerca a língua falada, que dizem
muito sobre as hipóteses que as crianças levantam. Os erros “São regularizados porque a criança
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busca na língua uma regularidade e uma coerência que faria dela um sistema mais lógico do que
na verdade é.” (FERREIRO,TEBEROSKY,1985,p.22). Ou seja, esse erro leva a uma assimilação,
e para Piaget, esses erros então, constituem pré-requisitos necessários para a aprendizagem de
fato: a “aprendizagem como uma aquisição em função da experiência, mas se desenvolvendo no
tempo, quer dizer mediata e não imediata como a percepção ou a compreensão instantânea”
(PIAGET,1959 p.53).
Os resultados dessa pesquisa compõem o livro publicado em 1985, que apresenta e detalha
a maneira como as investigações se desenvolveram, e mediante seus produtos, os apontamentos
realizados pelas próprias pesquisadoras.
Para demarcar a problemática e o cenário construído historicamente as autoras trouxeram
um levantamento da situação educacional em toda a América Latina, abordando questões como o
fracasso escolar e a história dos métodos de ensino.
Já em um de seus capítulos onde apresentam resultados das pesquisas realizadas,
destacam “Os aspectos formais do grafismo e sua interpretação” (p.39), trazendo relatos de
crianças ainda em processo de alfabetização, postas à atividade de leitura. Neste capítulo, já se
evidencia claramente concepções psicogenéticas onde as autoras em suas intervenções, valorizam
os argumentos e as hipóteses de cada criança.De um modo geral, estes relatos foram transcritos
como exemplos das concepções que as autoras objetivaram propor.
Os argumentos das crianças trouxeram uma questão pertinente: quais características
formais os textos devem conter para que possam ser lidos, mesmo por crianças que ainda não
sabem ler? Os resultados alcançados encontram-se resumidos no Quadro 1.
- Há uma variedade nos caracteres que deve aparecer para que um texto “sirva
Variedade de caracteres
para ler”
- Palavras com caracteres iguais como “MMMMM”e “AAAAAA” exemplificados
são considerados ilegíveis por conterem somente um caractere
As características selecionadas pelas crianças como inerentes ao ato de ler trazem uma
reflexão também a respeito da escrita. Essas mesmas crianças, que antes de compreenderem o
código e dominarem a leitura, inferem, selecionam, utilizam-se de referências para a tentativa de
uma leitura (ler sem saber ler), utilizam-se de “mecanismos” parecidos para tentar escrever
também, sem que se saiba. Suas hipóteses embora não as façam ler e escrever convencionalmente
de maneira instantânea, são pontos de partida para progredir nesse processo.
Essas hipóteses que as crianças constroem com relação à escrita foram analisadas
mediante acompanhamento e observação das crianças escrevendo de maneira espontânea, onde
as autoras puderam descobrir muito sobre o pensamento infantil durante o processo de aquisição
do sistema.
Para Ferreiro e Teberosky (1985), toda criança constrói níveis estruturais da linguagem até
que domine o sistema alfabético.
1º momento :
- Se estabelece relação do
Escrita indiferenciada
“Realismo Nominal” ou “Correspondência objeto que se escreve com sua
(Ex: presença de
Figurativa” quantidade de caracteres. (Ex:
traçados, letras e
elefante é grafado com mais
pseudoletras,
letras que formiga)
números e desenhos)
- A escrita de uma mesma
2º momento : Não há estabilidade / permanência. palavra se apresenta de
Escrita diferenciada. maneiras diferentes.
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- Início de acréscimos de
Alternância na escrita caracteres na composição das
Silábico Alfabético
(Transição entre os níveis: silábico com sílabas
valor sonoro convencional e alfabético)
-Reconhecimento de a junção
Maior exigência na quantidade de de duas letras forma o som de
caracteres. uma sílaba.
Olhar a criança como ativa em seu processo de aquisição do conhecimento não interfere
somente em questões de pesquisas acadêmicas, mas influencia diretamente questões do fazer
pedagógico, porém não de maneira metodológica mas, acima, disso, conceitual, e que implica
atitude diferenciada frente ao aluno e sua aprendizagem.
O modo como se compreende o processo de desenvolvimento de uma criança se aplica a
todas as suas áreas do conhecimento, e, com a aprendizagem da leitura e da escrita não seria
diferente.
Este capítulo, portanto, destaca a importância de compreender as mudanças em
fundamentos da educação com foco nos métodos alfabetizadores, objetivando se aproximar da
relação existente entre a concepção que se tem do sujeito e o modo como ele aprende, com as
práticas realizadas dentro da escola. O que se concebe como sujeito interfere diretamente em como
se propõe práticas pedagógicas para que ele de fato compreenda o objeto de estudo em questão.
Este é o ponto: a psicogênese da língua escrita embora não proponha um novo método, sua
concepção da criança e consequentemente de aprendizagem mostram um caminho para uma
aprendizagem significativa. Caminho este, de valorização dos conhecimentos prévios e de suas
hipóteses, tornando possível dessa forma, trabalhar dentro da escola práticas de leitura e de escrita
em que a criança leia e escreva, mesmo que ainda não as domine no modo convencional do termo.
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Sabe-se quão complexas são as tarefas de um professor. Frente a uma visão construtivista
de ensino, fundamentada nos estudos de Ferreiro e Teberosky (1985), a atuação do professor
passou a ser vista como uma prática não somente de transmissão de conteúdos a serem
ensinados, mas também de desenvolvimento e planejamento a partir dos conhecimentos que seus
alunos já possuem. Essas práticas estão ligadas à questões de gestão do tempo e controle dos
conteúdos, bem como o planejamento e organização das atividades a serem trabalhadas.
Na perspectiva de um docente que planeja sua prática, compreender que seus alunos são
diferentes entre si e que as propostas a serem trabalhadas nem sempre atenderão a todos, são
desafios que devem motivar o seu trabalho e que precisa haver um planejamento que considere
que nem todos aprenderão ao mesmo tempo, tão pouco compreenderão os conteúdos da mesma
maneira (LERNER,2002).
Considerando também que cada sujeito tem suas potencialidades particulares, suas
necessidades também são únicas e precisam ser valorizadas. Ter suas necessidades valorizadas
diz respeito a um fazer pedagógico que leve em conta suas hipóteses, e se utilize destas para
propor o próximo ponto a ser avançado: um conteúdo que não esteja demasiadamente além para
não desmotivar, nem aquém para não gerar desinteresse. O professor então é levado a organizar-
se de modo a partir daquilo que seus alunos já sabem e, em um trabalho em conjunto- professor e
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aluno- situá-lo como corresponsável pelo seu aprendizado, produtor de conhecimentos. Isso implica
em possibilitar ao aluno:
[...] uma margem de liberdade intelectual muito maior do que é habitual na escola, permitir-
lhe que exponha suas conceitualizações, criar condições para que ponha em jogo suas
próprias estratégias cognitivas e que corra o risco de se equivocar, sabendo que o erro será
considerado como natural e como ponto de partida de uma nova reflexão (LERNER, 2002,
p.112).
Assumir tantas tarefas complexas é algo que exige organização e trabalho, visto que ao
passo que o professor precisa dar conta de tantos aspectos, precisa também controlar a gestão do
tempo em sala frente à uma demanda a ser atendida no que diz respeito à expectativas da
instituição escolar, pais, coordenadores e dos próprios alunos.
Se por um lado não se deve pensar a oralidade e a escrita como faces dicotômicas de uma
mesma linguagem, por outro, nessa situação de produção de textos por crianças na alfabetização
inicial, aquilo que foi realizado inicialmente no plano da oralidade, através do professor, pôde
materializar-se em aspecto gráfico, necessário para que a criança estabeleça relação daquilo que
se diz com aquilo que se escreve, em outras palavras, nesta prática a oralidade e a escrita são
trabalhadas simultaneamente.
Dentre tantas questões envolvendo a dificuldade de se trabalhar a oralidade e a escrita em
um contexto de alfabetização inicial, encontra-se também a dificuldade de docentes que acreditam
que debater um assunto, ou promover ao aluno momentos em que se utilize de um discurso já são
propostas que potencializarão a oralidade, visto que a fala é algo que os alunos já utilizam durante
todo o dia, e que, por esse motivo, não é algo que precisam se preocupar nesta fase da
escolaridade. De algum modo os PCN’s que devem –ou deveriam- orientá-los a trabalhar com a
oralidade, deixam um pouco a desejar, pelo falo de atribuir à escola o papel de ensinar o aluno a
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utilizar-se da linguagem oral em apresentações teatrais, entrevistas, debates, para que faça sentido
o ensino da linguagem escrita:
[...] Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato,
pois é descabido treinar um nível mais formal da fala, tomado como mais apropriado para
todas as situações (SANTOS,2003 p.25).
Estima-se que tais propostas façam sentido para a criança. Contudo, percebe-se nesse
trecho que o exemplo de peças teatrais, debates e entrevistas não se encaixa devidamente ao
ensino da linguagem falada, visto que tais modalidades necessitam de uma escrita anterior à
atividade em si, pois agem como uma espécie de simulação da fala e não de uma oralidade
espontânea (SANTOS, 2003 p.2)
Na situação de ditado ao professor, as crianças planejam oralmente aquilo que é
materializado pelo professor em forma gráfica. Desse modo, o fato de materializar a oralidade em
escrita, é suficiente para denominar o texto escrito em linguagem escrita?
O uso de palavras e sinais gráficos seria suficiente para transformar um texto falado em texto
em linguagem escrita? Como diferenciar então linguagem falada de linguagem escrita?
Para responder a tais questões, se faz necessária a observação de alguns contextos, como
os apresentados por Preti (2003).
Neste caso, a face da língua apresentada é a linguagem falada. Todos esses elementos nos
mostram pontos característicos de uma conversa, tanto em suas questões linguísticas como em
paralinguísticas , como os olhares, gestuais e expressões faciais.
Estima-se que essa linguagem apresentada, no caso de ser gravada e transcrita
(materializada em grafia) em muito perderá seu real significado, pois o papel dos interlocutores
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quanto ao tom de voz, entonação, risos e outras marcas da oralidade seriam omitidos. Por outro
lado, seu gênero certamente seria identificado como uma situação conversacional espontânea, por
conta de sua estrutura e organização dos fatos e falas dos interlocutores. É válido ressaltar que
Santos (2003) apresenta em seu artigo que, embora a linguagem falada deva ser trabalhada
adequadamente na escola: “Em nenhum momento o PCN sugere a análise da conversação
espontânea” (p.3). Estima-se que isso ocorra pelo fato de que o que se espera dentro da escola é
que as múltiplas faces da linguagem sejam propostas de maneira significativa para a criança, de
modo que o planejamento ocorra levando em conta conhecimentos que a criança traz consigo antes
de ingressar na “vida escolar”.
Certamente grande importância se encontra no desenvolvimento adequado da linguagem
falada, contudo, o foco do ditado ao professor não se encontra somente na oralidade, mas também
nas modificações cognitivas que se estruturam através da fala, como o pensamento e a
organização dos fatos que se deseja narrar. Quando se deseja ditar algo para que alguém escreva,
é necessário organizar a fala de modo que relacione o que se quer dizer, com o que se quer
escrever, pois o fato de ser elaborada oralmente, não torna a escrita uma representação em
linguagem oral, por exemplo. Em um outro caso, uma conversa espontânea analisada por Preti
(2003), mesmo quando materializada, não se encontra em linguagem escrita, pois o simples fato
de grafarmos a fala não torna o texto em linguagem escrita, pois a fala carrega consigo marcas da
oralidade, do diálogo, da relação entre os interlocutores, dentre outras questões.
Levando em conta tais estudos sociolinguísticos, conclui-se que a fala das crianças
transcritas pelo professor não necessariamente se encontra em linguagem escrita, pois o fato de
estar materializado em grafia não é fator determinante para uma linguagem falada tornar-se
linguagem escrita. Desse modo, compreende-se então, que o papel do professor não é somente
transcrever a fala de seus alunos, mas intervir de modo a perguntar-lhes: Como posso escrever o
que está me ditando? Se alguém ler nosso texto, compreenderá a mensagem que estamos
passando? Podemos escrever de outra forma? Como são escritos os livros que você conhece?
Sabe-se então, que a linguagem escrita não é simplesmente a materialização gráfica daquilo
que se diz, mas a transposição de uma fala espontânea para uma linguagem daquele que deseja
escrever.
O modo como escrevermos não corresponde ao modo como falamos. Naturalmente, essa
transposição para nós adultos ocorre a medida que pensamos a mensagem que queremos
transmitir e logo a escrevemos. Com as crianças este pensamento ocorre através de um processo
que precisa ser norteado pelo professor não somente com a aplicação de propostas que a este
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Este distanciamento exige planejamento do autor do texto. Por outro lado, o leitor, por não
acompanhar a produção, limita-se a compreender informações contidas e passadas através do
texto. Neste caso, não há alternância de papéis, o autor é sempre o autor, e o leitor é passivo diante
de sua produção, ele é sempre receptor.
Um lapso de tempo maior ou menor obrigatoriamente põe distância entre o ato de elaboração
do texto pelo escritor e o ato de leitura pelo leitor. Aliás, o escritor nem se pode afirmar que
ele se preocupa com tal problema; ele constrói sozinho seu texto. O isolamento do escritor
com relação ao leitor faz com que este leitor só possa dispor de informações passadas no e
pelo texto, já que não dispõe de dados do contexto situacional. A língua escrita tem de
compensar a ausência da situação, fornecendo, linguisticamente, informação a ela
equivalente, ou, em tese, precisa haver a recuperação linguística do componente situacional
( HALLIDAY, apud PRETI, 1974p.31).
Por outro lado, as autoras tratam também de aspectos que dizem respeito às preocupações
que o ditante deve ter durante a produção. Quem dita deve fazer distinção entre dizer e dizer para
ser escrito. Deve também realizar o controle da extensão daquilo que se pretende ditar,
recuperando sempre a ordem sequencial daquilo que já produziu.
Este procedimento, porém, em se tratando do âmbito escolar, historicamente destinou-se
aos alunos. O ditado em voz alta feito pelo professor aferia questões exclusivamente ortográficas,
sem nenhuma relação com o processo de produção de algum tipo de texto.
Neste caso, a professora espera que seus alunos transcrevam de modo a atender
convencionalmente as regras da chamada “ortografia-padrão”. Teberosky (1992) ressalta que na
utilização do ditado escolar é possível identificar certa dissociação entre composição e apenas
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transcrição gráfica, pois o que se observa no aluno não é sua capacidade de compositor tão pouco
de “ditador”, mas sim, sua relação com o processo de transcrição no modo convencional da escrita.
Olhando de forma inversa para essa proposta de ditado dentro da escola, crianças quando
são postas em posição de ditantes ao professor, pode-se afirmar que o que se espera neste caso
dos alunos, não é a ortografia e sim, o modo como através da fala são trabalhadas noções de
produção textual mediante a diferenciação do “dizer” e o “dizer para ser escrito”.
O ditado é uma atividade linguística que tem muitas características de produção oral (embora
se produza um texto auto-suficiente,o ditante utiliza recursos prosódicos, por exemplo, para
apontar as diferenças entre o dizer e o dizer para ser escrito , tem que ter um certo controle
do processo, de modo a respeitar as exigências do escritor) e muitas outras características
da produção escrita (o ditante tem à sua frente o escriba, mas não o orador; o texto pode ser
revisto e corrigido , e pode ser lido também para distinguir entre o que está escrito e o que
ainda está para ser escrito, o ditante tem que pensar e produzir o texto oralmente, porém
como se fosse escrito)9 (FABBRETTI,TEBEROSKY,1993, p.216).
Falar de forma planejada e sistemática, atendendo aos objetivos do texto que se quer
produzir, levando em conta o leitor real da mensagem que se quer passar não é algo simples,
principalmente para sujeito que está no início de sua alfabetização.
Por tempos, linhas metodológicas ancoradas em algumas fundamentações tradicionais,
defenderam que para produzir um texto em linguagem escrita era necessário saber ler e escrever.
A grande possibilidade do ditado ao professor encontra-se no fato de que os ditantes não colocarão
em jogo sua hipótese de escrita. Ou seja, em outras palavras, saber escrever não é requisito aferido
nesta atividade textual: “O importante do ditado do texto ao professor [..] é a diferenciação entre o
trabalho gráfico e a composição do texto” (p.16). A atenção neste caso, se encontra em possibilitar
ao aluno uma apropriação das práticas dos procedimentos de textualização, bem como valorizar
aspectos da língua escrita.
A atenção aos aspectos da língua escrita como prática social supera a preocupação de
introduzir as crianças somente ao sistema alfabético, tradicionalmente considerado a coisa
mais importante quando se trata do acesso a língua escrita (NUCCI. ISIAS, 2004 p.2).
A fim de compreender melhor essa dissociação entre trabalho gráfico e produção, Teberosky
(1992) utiliza o termo “composição escrita” e define que: “[..] a composição escrita geralmente é
associada à geração de idéias”(p.103).Dessa forma, o papel do ditante está em organizar e planejar
aquilo que se quer dizer para que a professora o manifeste em grafia:
Embora o reconhecimento e a produção da linguagem escrita sejam independentes de sua
manifestação gráfica, a intervenção do instrumento gráfico condiciona os processos de produção
de linguagem escrita, e as circunstâncias de uso influem nas variedades de discurso privilegiadas
para os enunciados escritos (Teberosky 1992,p.58).
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Tradução nossa: El dictado es una actividad lingüística que posee muchas características de la producción oral (aunque produzca
un texto autosuficiente, el dictante utiliza recursos prosódicos, por ejemplo para señalar las diferencias entre lo que se dice
simplemente y lo que se dice para que se pueda escribir, tiene que tener un cierto control del proceso, de manera que se respeten
las exigencias de quien escribe) y muchas otras características de la producción escrita (el dictante tiene ante sí al escribiente, pero
no al interlocutor; el texto puede ser revisado y corregido, y puede leerse también para distinguir entre lo que está escrito y lo que
todavía tiene que escribirse; el dictante tiene que pensar y producir el texto oralmente pero como si fuera escrito)
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De certo modo, escrevendo para seus alunos o professor os isenta de se preocuparem (ao
menos naquele momento) com o sistema gráfico de escrita. Dessa forma, as expressões literais, a
escolha das palavras, a retomada de partes que necessitam de ajustes, como também o diálogo e
a interação entre os produtores -neste caso os alunos- se tornam ainda mais propícios, visto que é
nelas e a partir deles que a atividade irá se desenvolver.
Quem escreve tem o trabalho de realizar algumas tarefas complexas. Deve-se ter em mente
a importância de realizar tais tarefas levando em conta os elementos que constituem o ato de
escrever. Escrever implica em realizar procedimentos antes, durante, e após a produção. Desse
modo, compreende-se que a escrita não constitui somente o grafar, mas todo processo de
idealização e planejamento, culminando na materialização gráfica, e conclui-se somente ao término
de todas as revisões.
A produção textual contempla então conteúdos e práticas de leitura e de escrita em uma só
tarefa. Quando se produz se lê, retoma-se pontos, faz-se ligação com outros textos, com outros
autores, retoma-se a escrita e posteriormente, se revisa a quantidade de vezes que o autor julgar
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necessário. Estes diversos papéis enunciativos ocupados pelo autor em prol de uma tarefa única é
o que se espera de um bom escritor (LERNER, 2002, p.62).
Ler e escrever na escola não somente para aprender a ler e a escrever, mas para fazer uso
destas práticas na vida em sociedade, participando das comunidades leitora e escritora fora do
âmbito escolar. Ler e escrever nesta perspectiva de produção textual então, corresponde a uma
prática que deve ser trabalhada na escola em prol dos comportamentos leitores e escritores (p.63).
Quanto aos componentes de uma produção textual, Barbeiro (2007) os divide em três
momentos: planificação, textualização e revisão. Tais componentes constituem o processo de
produção.
Estas atividades presentes no processo de escrita podem ser agrupadas segundo três
componentes: planificação, textualização e revisão. As atividades ligadas a cada um destes
componentes podem surgir em diferentes momentos do processo. Por exemplo, ao longo do
processo, acontecem momentos de pausa em que quem escreve procura planificar o que
ainda falta escrever. Por seu lado, a revisão pode ir sendo realizada ao longo do próprio
processo, à medida que se vai redigindo e relendo o que já se encontra escrito
(BARBEIRO,2007, p.17).
São estes componentes que devem ser realizados pelo escritor ao escrever. Pensar e
planejar o seu texto, escolher as palavras adequadas e em seguida, revisar o que foi produzido são
comportamentos inerentes ao ato de escrever. Estes e outros comportamentos como cita Lerner
(2000), devem ser trabalhados durante a vida escolar, ainda que no início do processo de aquisição
do sistema. Quando convidadas a exercerem tais comportamentos ainda quando pequenas, as
crianças experimentam a escrita enquanto processo gostoso e lúdico e são levadas a exercerem
papéis e funções que certamente se recordarão quando já estiverem alfabéticas.
Componentes
Orienta a produção
Organiza informação
Organiza-se o conteúdo
Avaliação da planificação
Planificação
Segundo Barbeiro (2007), a planificação antecede a produção textual. Ainda que aconteça
previamente à textualização, caracteriza-se por ser um momento importante para a produção.
Planificar diz respeito ao ato planejar e definir questões que deverão conduzir a escrita do texto.
Ao explicitar suas ideias, o autor organiza seus pensamentos e traça um caminho para
prosseguir com a produção. É neste primeiro contato com o que se pode chamar de “esqueleto do
texto” que o autor escolhe enredos, temas, acontecimentos, personagens, fatos, palavras, tudo
conforme o objetivo do texto. O objetivo do texto está ligado à mensagem que se pretende passar,
a função do texto que se produziu, ou seja, o motivo pelo qual se escreveu e é condição para um
bom planejamento, ter em mente a razão pelo qual se escreve. Refere-se a uma produção que
valoriza o seu leitor real, e consequentemente, faz com que o autor planeje sua escrita em prol de
um objetivo real. Para designar pontos importantes para o momento de planificação, o autor
destaca o que pode-se chamar de “subsídios para uma boa planificação”:
Textualização
Seja em roda com a turma escrevendo em uma grande folha ou na lousa para que todos
possam acompanhar, é neste momento que o ditado acontece de fato. O professor ocupa o papel
de escriba do texto produzido oralmente por seus alunos, e se torna corresponsável pelo que eles
estão produzindo.
No curso da textualização, os alunos são levados a pensar como querem que os pontos
planejados na planificação apareçam no texto, e, consequentemente, são levados a pensar em
quais palavras e termos utilizarão para transmitir a mensagem que desejam.
Neste momento é importante que o professor escriba exerça também o papel de leitor para
auxiliar seus alunos no texto que está sendo produzido. A cada trecho escrito, o professor relê o
que foi produzido para que, mediante o que está feito, possam caminhar para o que ainda resta
escrever.
Revisão
O termo “revisão” refere-se ao ato de rever algo, revisar determinado objeto. No processo
de produção textual o termo está ligado a um fazer do escritor complexo e trabalhoso. Revisar um
texto produzido é, sem dúvida, um momento que demanda atenção do autor a termos, trechos, que
ele julga inadequados e que necessitam de eventual mudança.
Ressalta-se que ao autor, seu texto lhe é próximo, íntimo e familiar. Neste ponto a produção
textual para o seu autor apresenta-se como coesa e clara, pois ele quem a produziu. No momento
da revisão é fundamental que se tenha sensibilidade quanto à importância de distanciar-se do texto
e colocar-se por vezes no papel de leitor, para compreender de modo diferente aquilo que desejou
escrever e, quem sabe, apontar trechos do texto que para o leitor, podem ter sentido ambíguo. Esta
é a grande possibilidade da revisão: avaliar a escrita e poder aperfeiçoá-la.
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Quando à análise feita durante a revisão, estima-se que se destaque pontos de encontro
entre o texto produzido e os objetivos propostos durante a planificação. Analisar se os objetivos
foram alcançados, por exemplo, é um trabalho de rever o curso da textualização e compreender se
o caminho tomado era o esperado.
Os componentes da produção, constituem um único processo e são dependentes entre si
para que a escrita ocorra de fato no modo convencional do termo. Ir e vir no texto, escrever e
modificá-lo quando necessário, é o que se espera nessa introdução ao mundo escritor para o sujeito
que se encontra no início de sua alfabetização.
Escrever com o outro implica em tomar decisões consensuais durante a produção. Frente a
inúmeros obstáculos que a escrita apresenta, a produção grupal deve ser envolta por debates, por
idas e vindas no texto produzido e no planejamento do que ainda resta produzir.
Teberosky (1992) aponta que nas produções orais trabalha-se por aproximações
sucessivas, ou seja, o falante tem algo para dizer, e em seu repertório procura a palavra adequada
para dizê-lo. Muitas vezes, ao passo que dita também faz comentários sobre a adequação daquela,
que, escolhida para denominar sua fala, materializou-se em grafia. Coletivamente esse trabalho
acontece da mesma forma. O falante, em contrapartida encontra comentários favoráveis ou não à
sua fala e juntos buscam uma adequação daquilo que pretendem dizer:
A interação que ocorre na escrita colaborativa permite apresentar propostas, obter reações,
confrontar opiniões, procurar alternativas, solicitar explicações, apresentar argumentos,
tomar decisões em conjunto ( BARREIRO, 2007,p.10).
Dessa forma, o texto deve ser reelaborado sempre em conjunto, em discussões e revisões
e, caso houver a necessidade de substituir alguma palavra que se repete, alguma expressão
inadequada como “daí”, “aí”, pode ser substituída para expressões como “de repente” , “tempos
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depois”... etc. A reelaboração do texto produzido seja coletiva ou individualmente com a mediação
do professor, faz com que a criança :
Para uma proposta de escrita ou produção oral com destino escrito ser de fato interessante,
deve acontecer em um contexto de interação e contemplar de modo significativo o objetivo daquilo
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que se pretende cumprir. Para isso, é preciso que as crianças aprendam a trabalharem juntas e,
acima de tudo, reconheçam a função daquilo que lhes foi proposto.
Lerner (2002), em seu livro “Ler e escrever na escola, o real o possível e o necessário” (2002)
aborda questões de leitura e escrita na escola, pensando nessa relação de como ensinar mediante
o modo como a criança aprende dentro deste contexto.
“A necessidade de comunicar o conhecimento leva a modificá-lo” (p.34). Ao afirmar isso, Lerner
traz implicitamente noções não somente necessárias ao ato de comunicar o conhecimento, mas
também de que maneira isso deve acontecer. O fato de tornar-se “modificado”, implica em relações
entre as versões sociais e escolares do conteúdo. Diz respeito à chamada “transposição didática”
(Chevallard, apud Lerner 2002), com o cuidado de se trabalhar o objeto de ensino de maneira
relacionada com a versão social (não escolar) do conteúdo (p.35).
[...] a escrita deve ser entendida como um processo de interlocução entre leitor-texto-autor
que se concretiza via gêneros textuais num contexto sócio-historicamente situado. Por essa
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razão, no ensino da elaboração textual, devem ser propostas situações que se reportem a
práticas sociais e a gêneros textuais passíveis de serem reconstituídos, ainda que
parcialmente, em sala de aula, tanto no que se refere à produção quanto no que se refere à
recepção do texto escrito. Escrever na escola, portanto, deve ser visto como um ensaio ou
mesmo uma prévia convincente do que será requerido dos jovens aprendizes no espaço
social (MARCUSCHI,2008 p.11).
Como então produzir textos com crianças ainda não alfabetizadas, em um processo de
adequação e construção de novos conhecimentos acerca da linguagem e da escrita? E,
consequentemente, como transpor esse objeto de estudo de maneira que se pareça com sua
versão social?
Em suma, deve-se ter em mente a razão pelo qual se escreve. Deve haver um motivo
significativo para esta produção, algo que no mundo social - não escolar- certamente a criança
participará em sua vida. Escrever para não esquecer algo (lembrete), escrever para transmitir uma
mensagem para o maior número de pessoas possíveis (um cartaz ) , escrever para alguém que
mora longe, escrever convidando alguém para algo ( um convite) dentre tantos outros.
Nesses casos, além de ter clareza da funcionalidade do texto que se está produzindo, deve-se
conhecer as características deste texto, quais informações ele deve conter para que atinja
plenamente seu objetivo.
Quando alguém escreve uma carta, é porque outra pessoa vai recebê-la. Quando alguém
redige uma notícia, é porque muitos vão lê-la. Quando alguém produz um conto, uma crônica
ou um romance, é porque espera emocionar, provocar ou simplesmente entreter diversos
leitores. E isso é perfeitamente possível de fazer na escola: a carta pode ser enviada para
amigos, parentes ou colegas de outras turmas; a notícia pode ser divulgada num jornal
distribuído internamente ou transformado em mural; o texto literário pode dar origem a um
livro, produzido de forma coletiva pela moçada (MOÇO, 2009 p.4).
Por fim, os pontos estudados neste capítulo podem ser divididos em três momentos: a
importância de escrever para os alunos, os componentes necessários para que eles se apropriem
da prática de produção textual, e por fim, a importância de trabalhar com propostas que tenham
função social. Esses três momentos tornam relevante a proposta de ditado ao professor durante a
alfabetização inicial, dando fundamentos e norteando a prática do professor frente a essa proposta.
Planejar atividades que coloquem as crianças como leitoras e escritoras antes mesmo de
dominarem o código gráfico, possibilita inúmeros avanços. Nestes avanços encontram-se o fato de
que é participando de práticas de leitura e escrita com função social que a criança se aproxima da
escrita convencional de modo significativo. Este é o objetivo: tornar a aprendizagem um processo
prazeroso e produtivo dentro da escola.
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