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DEFINIÇÃO

Identificação dos principais conceitos de Marshall McLuhan (1911-1980) sobre os meios de


comunicação de massa e as críticas ao teórico. Apresentação do hibridismo nos meios de
comunicação e as sensorialidades acionadas pelas diversas mídias, bem como as mudanças
nos papéis de produtor e de consumidor de conteúdo na era digital.

PROPÓSITO
Discutir a passagem da cultura impressa para a digital a fim de identificar diferentes práticas de
produção e consumo da informação de acordo com os meios e compreender o cenário atual de
mídia e suas potencialidades.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Reconhecer os conceitos de meios quentes e meios frios de McLuhan e as principais críticas


ao teórico

MÓDULO 2

Definir hibridismo, comparando sensorialidades despertadas pelas mídias impressa, digital,


audiovisual e móvel

MÓDULO 3

Comparar os conceitos de mídias de massa e de nicho e os papéis de produtor e de


consumidor de conteúdo no cenário atual

MÓDULO 4

Comparar os efeitos do texto linear e do hipertexto em contextos cross-media, transmídia e


multimídia
INTRODUÇÃO
Você sabia que tocamos nossos smartphones, em média, 2.617 vezes por dia? Isso significa
consultá-los 109 vezes por hora, de acordo com Tozzi e Gómez (2018). Em breve, preveem os
especialistas, consumiremos cada vez mais informações em dispositivos vestíveis, que
dispensam o uso das mãos, como óculos e relógios inteligentes, conectados à internet. Será
que esses aparelhos podem ser considerados extensões do corpo humano?

MÓDULO 1

 Reconhecer os conceitos de meios quentes e meios frios de McLuhan e as principais


críticas ao teórico

Autor do livro Os meios de comunicação como extensões do homem (1974), o canadense


Marshall McLuhan, um dos teóricos mais controversos da Comunicação no século XX, foi tão
reverenciado quanto criticado. Em 1977, ele chegou a fazer uma ponta no filme Noivo
Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, em que contesta um professor de mídia que
discorria sobre seu pensamento em uma fila de cinema. Com o surgimento da internet e o
desenvolvimento do campo dos estudos de cibercultura, McLuhan voltou a ficar em evidência,
como veremos no fim deste módulo.
McLuhan cunhou a expressão “o meio é a mensagem”, partindo da premissa de que os meios
de comunicação não são tecnologias neutras. Até então, os estudos no campo da
Comunicação davam mais ênfase ao conteúdo das mensagens do que à forma como elas se
apresentavam e eram veiculadas. McLuhan se deteve nas características materiais dos
suportes em que as mensagens eram transmitidas para verificar a influência que exerciam
sobre nós.

 Marschall McLuhan em 1945.

UM EXEMPLO: A MESMA INFORMAÇÃO VEICULADA EM UM


JORNAL, OUVIDA EM UMA RÁDIO OU ASSISTIDA NA
TELEVISÃO ACIONARIA DIFERENTES PERCEPÇÕES NOS
LEITORES, OUVINTES E TELESPECTADORES. OS MEIOS
INFLUENCIAM O MODO COMO SENTIMOS E PENSAMOS.
Mouillaud (1997, p. 29) também analisa a questão:

À PRIMEIRA VISTA, A EMBALAGEM E O OBJETO


PODEM SER SEPARADOS SEM QUE O OBJETO
PERCA SUA IDENTIDADE; ENTRETANTO, UM
PERFUME CONTINUA A SER UM PERFUME SEM SEU
FRASCO? O LIMITE MATERIAL ESTÁ EVIDENTE, E O
LIMITE SIMBÓLICO?

Ou seja, o mesmo perfume despertará diferentes percepções dependendo da embalagem em


que ele se apresentar. No caso do jornal, o mesmo texto impresso pode ser veiculado em um
website. Mas ele provocará no leitor e no usuário a mesma experiência e os mesmos
significados nos dois suportes? Mesmo depois de 30 anos do lançamento do primeiro website,
o senso comum tende a classificar o suporte impresso ainda como mais crível que os suportes
digitais.

Mas nem sempre o meio impresso esteve entre os mais prestigiados. O filósofo francês Régis
Debray (1993), em seu livro Curso de Midiologia Geral, ressalta que, no início de sua utilização,
o papel não desfrutava de credibilidade. Prova disso foi o fato de as universidades terem
mantido durante muito tempo os canudos de formatura confeccionados com pele para a
colação dos alunos. Posteriormente, foi a vez de os livros de bolso provocarem indignação nos
meios literários por serem vistos como uma profanação do livro convencional. Portanto, assim
como Mouillaud, Debray acredita que não há como se menosprezar o valor simbólico da
materialidade dos suportes.
VALOR SIMBÓLICO DA MATERIALIDADE DOS
SUPORTES

Não é à toa que ouvimos com frequência as expressões “Deu no jornal” ou “Vi na televisão”
como sinônimos de credibilidade. Uma pesquisa do Datafolha (MARQUES, 2020), realizada em
meio à pandemia de coronavírus, revelou que programas jornalísticos da TV (61%) e jornais
impressos (56%) lideraram no índice de confiança do público, seguidos de programas
jornalísticos de rádio (50%) e sites de notícias (38%). Podemos partir da premissa de que as
principais notícias, como decisões e pronunciamentos de autoridades e organismos
internacionais, foram informadas por todos os veículos. Entretanto, o jornal e a TV despontam
como mais merecedores de crédito por parte da população do que os sites.

Um dos maiores historiadores da leitura, o francês Roger Chartier também acentua a


importância da forma na comunicação, ressaltando a influência dos suportes materiais na
compreensão dos significados das mensagens. Chartier (1998) observa, por exemplo, que um
romance de Balzac pode ser recebido de maneira diferente, mesmo sem que uma linha do
texto tenha sido mudada, caso ele seja publicado em um folhetim, em um livro ou em uma
coletânea.

Voltando a McLuhan, ele sustenta que a forma como experimentamos a realidade é mediada
pelos sentidos. Desse modo, cada meio de comunicação acionaria predominantemente um ou
vários sentidos humanos. Cada novo meio introduzido alteraria a relação entre os nossos
sentidos, modificando nossa forma de experimentar o mundo. Embora seus estudos tenham
sido motivados pelo advento da televisão, McLuhan volta à época da tradição oral, antes da
invenção da escrita, para fazer valer seu raciocínio.

DA CULTURA ORAL PARA A IMPRESSA E A


ELETRÔNICA
Em Galáxia de Gutenberg, publicado em 1962, os capítulos indicam a divisão proposta por
McLuhan entre a oralidade, a escrita e a era eletrônica. Antes da invenção do alfabeto
fonético, éramos marcados pela cultura da oralidade. McLuhan lembra que, em uma conversa
presencial entre as pessoas, todos os sentidos estavam presentes: gestos, cheiros, ambiente,
audição e visão se articulavam simultaneamente. A invenção da escrita teria reduzido o espaço
para a oralidade e nos guiado em direção a uma cultura visual, separando os sentidos que se
entrecruzavam antes. Na leitura, o sentido que prevalece é a visão.

ALFABETO FONÉTICO

Antes dele, havia a escrita pictográfica ou hieroglífica, quando os sistemas, baseados em


figuras e símbolos, ainda não representavam sons.

O ALFABETO FONÉTICO É CAPAZ DE TRADUZIR O


AUDÍVEL E O TÁTIL NO VISÍVEL E NO ABSTRATO.

BARBOSA, 2017.

Segundo Barbosa (2017), McLuhan sustenta que a consequência da adoção da escrita


reconfigurou nossa cultura para um mundo visual, baseado na abstração, na linearidade e no
individualismo. Todos os sentidos continuaram a ser acionados ainda para a obtenção de
conhecimento, mas a confirmação passou a ser pela visão: é preciso ver escrito para crer.

A prensa de Gutenberg, para McLuhan, acelerou ainda mais a característica visual de nossa
cultura devido à uniformidade no formato das letras. Ele demarca uma diferença crucial entre a
cultura manuscrita e a impressa. Na primeira, a leitura era ainda mais social, feita em voz alta,
não havia índice nem numeração das páginas, como nos livros. Com a prensa de Gutenberg,
tem origem um processo de mecanização, que inaugura o modo linear de produção. A leitura
passa a ser predominantemente silenciosa, nossos olhos passam a acompanhar as páginas da
esquerda para a direita e as frases e orações dependem de uma relação de causalidade entre
elas.
 Prensa de tipos móveis de 1811, em exposição em Munique, Alemanha.

A IMPRENSA EXIGE A FACULDADE VISUAL NUA E


ISOLADA, NÃO A SENSORIALIDADE UNIFICADA.

MCLUHAN, 1969.

Se, por um lado, a cultura escrita permitiu a expansão do conhecimento, por outro reduziu a
comunicação ao aspecto visual. A era eletrônica estaria recriando um mundo à imagem de uma
“aldeia global”, a partir do advento da TV. Até o surgimento da televisão, vivíamos na "Galáxia
de Gutenberg". Para McLuhan, a evolução dos meios de comunicação de massa estaria
reorganizando nossas percepções e nos levando de um mundo linear e tipográfico para um
mundo audiotátil, tribalizado e cósmico da era eletrônica.

ALDEIA GLOBAL
Quando Marshall McLuhan cunhou o termo “aldeia global”, a internet estava restrita aos
circuitos militar e acadêmico norte-americanos e ainda estávamos distantes do uso de
computadores pessoais.

Mas se alguém tinha dúvidas sobre esse conceito inicialmente pensado em relação à televisão,
ele foi concretizado na web: estamos conectados 24 horas por dia ao redor do mundo e sem
obstáculos geográficos.

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOS


McLuhan acreditava que a mudança na comunicação da forma tátil-acústica, característica das
práticas orais, para a visual poderia ser sistematizada pelos conceitos de meios quentes e
meios frios. Essa divisão foi apresentada no livro Os meios de comunicação como extensões
do homem (1974). O que determina se os meios são quentes ou frios é o grau de participação
dos indivíduos e os sentidos que são acionados no ato da comunicação.

Veja alguns exemplos desses meios e tente identificar as razões pelas quais eles foram
definidos como quentes ou frios.

Meios quentes Meios frios

Alfabeto Caricatura

Filme Desenho

Fotografia Fala

Jornal Hieróglifos

Palestra Telefone
Rádio Televisão

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Quantas vezes você já não assistiu a uma palestra e ficou bocejando? E quantas conversas ao
telefone não te deixaram entusiasmado? Então a palestra não deveria ser considerada “fria” e
o papo ao telefone “quente”?

O pensamento de McLuhan vai contra o senso comum em relação ao que nos acostumamos a
perceber como “quente” e “frio”. Os meios quentes, para ele, seriam os que prolongam um
dos nossos sentidos e em “alta definição”, ou seja, nos suprem com uma elevada
clareza de informação. Se o meio nos proporciona uma mensagem de fácil compreensão ou
“mastigada”, como diríamos na gíria, os nossos sentidos são pouco requisitados para a
recepção da mensagem. O rádio, por exemplo, pela definição de McLuhan, estenderia a
audição. Já o telefone, embora dependa da audição, seria “frio” porque tanto o emissor como o
receptor precisam participar da conversa para completar a mensagem.

OS MEIOS FRIOS, PORTANTO, SÃO AQUELES QUE


DEMANDAM QUE ACIONEMOS MAIS DE UM SENTIDO
SIMULTANEAMENTE OU AINDA UMA MAIOR PARTICIPAÇÃO
PARA INTERPRETARMOS AS MENSAGENS. ELES NOS
DEIXAM MARGEM PARA PREENCHERMOS OS SIGNIFICADOS
DELAS.

 A primeira imagem transmitida por ondas de televisão pela NBC foi de um boneco do Gato
Félix
Quando recebemos uma informação por um meio frio, precisamos acionar mais de um sentido
para compreendê-la. É o que acontece com a televisão, em que visão e audição se articulam.
Além disso, as observações de McLuhan se referem aos primórdios da televisão, quando a
baixa definição da imagem exigia do telespectador um esforço maior para decodificar a
mensagem. A título de exemplo, veja como era a definição da imagem do Gato Félix em 1928.

Diferentemente da fotografia, um desenho ou uma caricatura também ampliam a nossa


capacidade perceptual. Para compreender melhor, veja a classificação dos meios segundo
suas características:

Meios quentes Meios frios

Baixa participação Alta participação

Linear Não linear

Fragmentário (individual) Tribal

Aciona um sentido em alta definição Aciona mais de um sentido em baixa definição

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal


Você se lembra de que, na introdução a este tema, foi questionado se o smartphone seria uma
extensão do corpo humano? McLuhan entende que os meios – ou as tecnologias – expandem
a existência, as capacidades e o corpo humano. O telefone seria a extensão do ouvido. O livro,
por exemplo, a da visão. Ao estender nossos sentidos, os meios seriam prolongamentos de
nosso corpo, como uma projeção de nosso sistema nervoso central para restabelecer o
equilíbrio sensorial que foi modificado pela introdução de um novo meio. Para o teórico, os
meios seriam tanto extensões quanto “amputações”, entorpecendo-nos com seus efeitos.

A extensão exigiria um processo de “autoamputação” realizado pelo nosso corpo para aliviar a
perturbação dos meios sobre o nosso sistema nervoso central. A adoção dessas extensões
acionaria em nós essa autoproteção com o entorpecimento da área prolongada. Esse estado
de êxtase revelaria a incorporação de um novo aparato tecnológico por nós.

CRÍTICAS AO PENSAMENTO DE MCLUHAN


De intelectual pop, McLuhan caiu no ostracismo a partir da década de 1980. Com a internet,
porém, seus estudos voltaram a ficar em evidência. O teórico sofreu várias críticas, entre as
quais a de adotar um pensamento evolucionista e de ser determinista tecnológico.
DETERMINISMO

Determinismo é a doutrina filosófica que defende que os fenômenos têm relação causal e
necessária. Mas é usado em um sentido mais geral para dizer que o meio em que as pessoas
estão inseridas as determinaria de maneira inescapável, uma leitura reducionista da
causalidade.

Estudos que investigam as relações entre a oralidade e a escrita muitas vezes estabelecem
uma oposição ou subordinação entre os dois universos ou ainda uma linha evolutiva, como foi
o caso de McLuhan, que demarcou a passagem da oralidade para a escrita a partir da
invenção do alfabeto fonético. Mas será que deixamos de ser uma sociedade oral com a
invenção da escrita e da tipografia?

Paul Zumthor está entre os críticos de McLuhan, embora reconheça a importância de suas
contribuições. Para ele, existem três tipos de oralidade:

PAUL ZUMTHOR

Paul Zumthor (1915-1995) foi um importante linguista, crítico literário e historiador da literatura
suíço.

ORALIDADE PRIMÁRIA
Característica das sociedades que não têm contato algum com a escrita.

ORALIDADE MISTA
Ocorre quando as linguagens oral e escrita estão presentes, mas a influência da escrita é
apenas parcial.

ORALIDADE SECUNDÁRIA
Caracterizaria as culturas letradas, em que a voz e o imaginário perderam força.

A diferença é que, para Zumthor, as existências desses tipos de oralidade não estariam
condicionadas a uma linha evolutiva. Elas dependeriam do contexto cultural de cada
sociedade.
ORALIDADE E ESCRITA COEXISTIRAM SEMPRE, EM
ÉPOCAS HISTÓRICAS, E SUAS DIFERENÇAS AFETAM
A MENSAGEM DE MODO MENOS DEMARCADO DO
QUE FEZ ACREDITAR MCLUHAN.

ZUMTHOR, 2014.

Um exemplo evidente seria pensar nas aldeias indígenas, marcadas pela oralidade ainda no
século XXI. Entretanto, mesmo nas grandes capitais, não podemos supor que o sucesso da
troca de mensagens em áudio por aplicativos de conversas, como o WhatsApp, revela o
aspecto oral de uma cultura? Pesquisa realizada pela empresa Panorama Mobile Time/Opinion
Box revelou que 76% dos brasileiros enviam mensagens por áudio na plataforma. Não à toa o
fundador do WhatsApp, Brian Acton, afirmou, em entrevista à Revista Exame, que os
brasileiros amam ligar e mandar áudios. (AGRELA, 2017)

Outra crítica comumente dirigida a McLuhan gira em torno de seu aforismo “o meio é a
mensagem”. De acordo com o teórico, são os meios que determinam as mudanças culturais
em nossos comportamentos. Essa visão, para muitos críticos, privilegia o aspecto tecnológico e
menospreza o cultural, ou seja, a ação humana. Sem referir-se ao canadense, o filósofo Pierre
Lévy (2000) indiretamente questionou suas afirmações ao voltar-se contra o determinismo
tecnológico. Ele prefere utilizar o termo “condicionamento tecnológico”. Assim, as invenções
tecnológicas apenas seriam parte do ambiente de transformação cultural de nossas
sociedades. O homem tipográfico, por exemplo, não teria sido determinado pela prensa de
Gutenberg, mas condicionado por ela. As tecnologias ajudariam a compor os cenários de
transformação, mas as mudanças não dependeriam exclusivamente delas.
 Pierre Lévy

AFORISMO

Aforismo: Máxima ou sentença que em poucas palavras contém uma regra ou um princípio de
alcance moral.

Outro crítico de McLuhan é Umberto Eco, autor do livro Apocalípticos e Integrados (1979), em
que critica tanto os defensores quanto os detratores da indústria cultural. Um dos grandes
problemas do pensamento de McLuhan, para Eco, seria a falta de conceituação sobre meios,
mídias e mensagens. McLuhan se referia indistintamente a eles. Além disso, Eco aponta que o
conteúdo importa sim. O modo como os meios são percebidos por cada indivíduo e os
contextos político, histórico e sociocultural em que as mensagens se inserem têm de ser
levados em conta para uma análise estrutural dos meios de massa.

UMBERTO ECO

Umberto Eco (1932-2016) foi um escritor, filósofo e linguista, titular da cadeira de Semiótica e
diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha. Além de
acadêmico e articulista de jornal, escreveu romances de grande notoriedade, entre os quais O
Nome da Rosa e O pêndulo de Foucault.

OS CONTEXTOS POLÍTICO, HISTÓRICO E


SOCIOCULTURAL EM QUE AS MENSAGENS SE
INSEREM

Para exemplificar, a primeira transmissão de TV ocorreu no Reino Unido, em 1926. No ano


seguinte, a CBS (Columbia Broadcasting System), uma das maiores emissoras de TV e rádio,
foi inaugurada nos EUA. No Brasil, somente em 1950 ocorreria a primeira transmissão, pela TV
Tupi, que alcançou 200 brasileiros. Portanto, contextos inteiramente diversos precisam ser
considerados ao se observar os efeitos dos meios.

As críticas mais contundentes se referiram ao conceito de meios quentes e meios frios. Para
James Carey, eles são o ponto fraco da obra do canadense, aponta Barbosa (2017). O grande
problema é que a classificação proposta por McLuhan não leva em conta as mudanças das
características dos meios com o passar do tempo. Atualmente, classificar a televisão como um
meio frio soa problemático, com TVs apresentando as imagens em alta definição. Em 1948,
poderia fazer sentido, já que a TV tinha menos linhas de definição e, portanto, uma qualidade
de imagem que era inferior em relação aos filmes, considerados como meios quentes. Como
observa Carey:

JAMES CAREY

James William Carey (1934-2006) foi um teórico de comunicação americano, crítico de mídia e
instrutor de jornalismo na Universidade de Illinois e, mais tarde, na Universidade Colúmbia.

OS MEIOS QUE SÃO QUENTES EM UM MINUTO


PODEM SER FRIOS. É IMPOSSÍVEL AFIRMAR QUE A
TEMPERATURA É UMA PROPRIEDADE ABSOLUTA DE
UM MEIO OU SE UM MEIO É QUENTE OU FRIO
RELATIVAMENTE A OUTRO. E A CLASSIFICAÇÃO DAS
MÍDIAS SEGUNDO ESSAS CATEGORIAS SÃO SEMPRE
ARBITRÁRIAS.

CAREY apud BARBOSA, 2017.

A televisão seria um meio mais frio em relação ao rádio. E, mesmo assim, em determinado
período. Seguindo os argumentos de Carey, seria mais produtivo enxergar essa classificação
entre meios quentes e meios frios como relativa, dependendo das mudanças que os meios
sofressem em sua estrutura e seu conteúdo. Em tempos de convergência, por exemplo, seria
ainda possível afirmar que o rádio é um meio quente diante do cenário de interatividade que se
verifica atualmente, em que o ouvinte participa até da programação, entrando ao vivo no ar?
Para recapitular a diferença e alguns questionamentos a respeito de meios quentes e meios
frios, assista ao vídeo abaixo.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Definir hibridismo, comparando sensorialidades despertadas pelas mídias impressa, digital,


audiovisual e móvel
Imagine um esloveno ou um egípcio que chegue ao Brasil e acesse websites de notícias de
diversos veículos, sem traduzi-los para o português. O importante para esse exercício de
imaginação é que sejam cidadãos de países que não conheçam o português. De curiosidade,
eles entram no site do jornal Folha de S. Paulo, no da rádio CBN e no do Jornal Nacional.
Supondo que não entendam português, você acha que eles saberão identificar qual é o site
originariamente de um jornal, de uma rádio e de uma TV? A resposta, por enquanto, ainda é
sim e torçamos para que tal cenário mude em breve. Embora a internet tenha proporcionado a
possibilidade da utilização de uma linguagem híbrida ou multimídia, ainda notamos a
prevalência do texto no site da Folha de S. Paulo, do áudio no da CBN e do audiovisual no
do Jornal Nacional.

HIBRIDISMO E REMEDIAÇÃO
Vimos que a classificação de McLuhan sobre os meios quentes e frios ficou datada. Entretanto,
seu pensamento voltou a ser valorizado com a internet pelo fato de o meio permitir um
hibridismo entre as linguagens impressa, sonora, audiovisual e tátil se as consumirmos nos
smartphones.

McLuhan percebia que, num primeiro momento, todo meio novo busca incorporar os meios que
o precederam e referenciá-los. Assim, cada meio tornava-se o conteúdo do que substituía:

O manuscrito tornou-se o conteúdo do impresso


A fotografia e o romance tornaram-se o conteúdo do filme


O filme tornou-se o conteúdo da TV

Ou seja, uma mídia era sempre assimilada ou representada na mídia mais nova.

O termo hibridização foi usado por McLuhan na década de 1960 para caracterizar as
mudanças provocadas pela introdução e disseminação da televisão. No século XXI, voltou a
ficar atual com a convergência entre as mídias possibilitada pela rede mundial de
computadores.

 SAIBA MAIS

Parte das críticas a Marshall McLuhan se deram também pela incompreensão à sua forma de
se expressar, adaptando frases de outros autores e empregando metáforas, exemplos e
aforismos. De acordo com Barbosa (2017), a forma de escrever do autor lembrava um
mosaico, em vez de seguir uma linearidade sequencial da escrita. Ao tentar romper com a ideia
de causalidade e sequência, McLuhan se expressava em livros de maneira não convencional,
usando o meio como forma de crítica a uma de suas principais características: a linearidade.
Seu livro O meio é a massagem: um inventário de efeitos, de 1967, é um exemplo disso.

O MEIO É A MASSAGEM

O título do livro teria sido resultado de um erro tipográfico, segundo um sobrinho de McLuhan,
que ao voltar do tipógrafo atentou que no lugar da palavra message (mensagem) havia a
palavra massage (massagem). McLuhan, na ocasião, preferiu o título com o erro, alegando que
estava na proposta certa, e levava a refletir sobre os demais sentidos sensórios. As edições
brasileiras têm o nome tanto de O meio é a mensagem, quanto O meio é a massagem.

O HÍBRIDO, OU ENCONTRO DE DOIS MEIOS,


CONSTITUI UM MOMENTO DE VERDADE E
REVELAÇÃO, DO QUAL CRESCE A FORMA NOVA.
ISTO PORQUE O PARALELO DE DOIS MEIOS NOS
MANTÉM NAS FRONTEIRAS ENTRE FORMAS (...). O
MOMENTO DE ENCONTRO DOS MEIOS É UM
MOMENTO DE LIBERDADE E LIBERTAÇÃO DO
ENTORPECIMENTO E DO TRANSE QUE ELES IMPÕEM
AOS NOSSOS SENTIDOS.

MCLUHAN apud DEL BIANCO, 2005.

 Forte em Saint Tropez ao por do sol

Lembra-se do conceito de extensão e autoamputação que os meios provocam sobre os nossos


sentidos ao acentuar determinada forma de recepção da mensagem em detrimento de outras?
Pois o que McLuhan está tentando transmitir com a citação anterior é que, ao assimilarmos um
novo meio, ficamos em um estágio de transição entre formas que nos permitem ter consciência
sobre os efeitos de determinado meio sobre os nossos sentidos, libertando-nos da sensação
anestésica que eles despertavam em nós. Ou seja, sairíamos do “modo automático”. Ao
suscitarem novas sensações, um meio nos faria refletir sobre elas.

Na contemporaneidade, entretanto, não é mais possível enxergar esse cenário evolutivo de


uma mídia para a outra. Aliás, será que algum dia os meios foram excludentes? Quem via
televisão não poderia ler jornal na manhã do dia seguinte? Ou ouvir um programa de rádio? Na
época do surgimento da TV, dizia-se que ela acabaria com o rádio. Entretanto, a previsão não
se concretizou. Com a era digital, a profecia ficou ainda mais distante porque meios e práticas
convergem. Quando navegamos por um website, estamos experimentando o encontro de todas
as mídias anteriores. Para Del Bianco, a hibridização entre os meios realinha o sistema de
comunicação:

É POSSÍVEL ENTENDER HOJE QUE AS MUTAÇÕES


EMERGENTES POR HIBRIDIZAÇÃO DESENCADEIAM
UM REALINHAMENTO DO SISTEMA DE
COMUNICAÇÃO, ABRINDO CAMINHO PARA A
CONVERGÊNCIA DE PROCESSOS E PRÁTICAS. E
NESSE AMBIENTE DE MODIFICAÇÕES E
RECICLAGENS, ONDE UMA FORMA NÃO SUBSISTE
SEM A OUTRA, É QUE ESTÃO SENDO MOLDADAS NA
CONTEMPORANEIDADE AS BASES DO PROCESSO DE
CONVERGÊNCIA OU INTEGRAÇÃO ENTRE NOVOS E
VELHOS MEIOS. REVOLUCIONÁRIO E VISIONÁRIO, O
PENSAMENTO DE MCLUHAN SAIU DO OSTRACISMO
PARA INSPIRAR PESQUISADORES EM TODO MUNDO.

DEL BIANCO, 2005.

Esse processo de incorporação de um meio pelo outro foi chamado de “remediação” por Bolter
e Grusin (2000). Os autores analisaram os diferentes graus em que as mídias digitais
“remediam” as anteriores, surgidas na era analógica dos meios de comunicação de massa.

BOLTER E GRUSIN

Em seu livro Remediation: Understanding New Media (2000), Bolter e Grusin fazem uma
releitura do clássico de McLuhan Understanding media: the extensions of man.
Como o jornal, o cinema, o rádio e a televisão estão representados na internet? Para Bolter e
Grusin, os níveis de incorporação variam da absorção total à parcial de uma mídia pela outra:

Absorção total

As rupturas em relação ao meio anteriormente prevalente são pouco percebidas.


Absorção parcial

As diferenças entre os antigos e novos meios se sobressaem, sem que isso resulte, no
entanto, no apagamento da mídia anterior.

Entre os extremos, estariam diferentes formas de remediação.

Voltando ao exemplo dos sites da Folha de S. Paulo, da CBN e do Jornal Nacional, em que
grau desse fenômeno você acha que eles se encontram? Certamente não é o de absorção
total, já que ainda notamos neles, claramente, traços da mídia anterior que remediaram: o
rádio, o jornal e a TV.

Importante notar que, para os autores, o processo de remediação, entretanto, age nos dois
sentidos: tanto da mídia anterior para a nova quanto da nova para a que a antecedeu. Como
exemplo, eles citam os filmes que incorporaram características das mídias digitais, como a
computação gráfica, num movimento que parte da mídia mais nova para uma anterior: o
cinema. Quantas vezes você já deve ter visto diálogos de aplicativos de mensagens projetados
na tela de cinema, simulando o diálogo entre os personagens que estão usando seus
smartphones em cena? Ou tweets reproduzidos em páginas impressas? Na visão de Bolter e
Grusin, o processo de remediação é inevitável: todo meio estaria absorvendo o outro.

Manovich (2003), ao analisar as chamadas novas mídias – ou mídias digitais – observou que
elas se nutrem das características das velhas, tornando-se, assim, metamídia. O grande
divisor de águas entre elas seria a migração das mídias para o software, que permite novas
formas de distribuição e interatividade. Entretanto, as novas mídias se valem das convenções
culturais já existentes e construídas pela chamada velha mídia.

Mas será que as “velhas mídias” são tão antigas assim?

O MEIO IMPRESSO E A LINEARIDADE


Vilém Flusser (2010) observou que o motivo por trás da invenção do alfabeto foi superar a
consciência mágico-mítica (pré-histórica) e garantir espaço para uma nova (histórica)
consciência. Discípulo de McLuhan, Walter Ong (1912-2003) defendeu no livro Oralidade e
escrita: a tecnologização da palavra que a escrita separa o conhecido do conhecedor por meio
do texto. Para ele, a cultura oral reduziria o espaço para a experimentação intelectual, pois a
mente está ocupada com o que classifica como tarefas conservadoras: como o conhecimento é
transmitido sem cessar entre os indivíduos e as gerações, é preciso que a mente se
encarregue disso. Por que Ong as chama de conservadoras? Porque é por meio delas que
uma cultura é preservada. Exemplos são as diversas culturas indígenas e afro-brasileiras, e
num outro âmbito, a cultura surda mundial, que não têm tradição escrita, mas nem por isso
deixam de ter história.
 Capa da edição do trigésimo aniversário de Oralidade e Escrita, De Walter J. Ongl

VILÉM FLUSSER

Grande pensador da comunicação sob um viés filosófico, Vilém Flusser (1920-1991), nascido
em Praga, refugiou-se do nazismo mudando-se para o Brasil e se naturalizando brasileiro.

WALTER ONG (1982) AFIRMA QUE O TEXTO, POR SER


LITERALMENTE CONSERVADOR (ELE SE CONSERVA),
LIBERARIA A MENTE DE TAREFAS CONSERVADORAS. ELE
ACREDITA QUE ESCREVER FORTALECE A CONSCIÊNCIA.
PARA O TEÓRICO, O USO DE UMA TECNOLOGIA PODE
ENRIQUECER A PSIQUE, ALARGAR O ESPÍRITO HUMANO E
INTENSIFICAR SUA VIDA INTERIOR, E A ESCRITA É UMA
TECNOLOGIA AINDA MAIS PROFUNDAMENTE
INTERIORIZADA.
Walter Ong demarcou a existência entre a oralidade primária e a secundária. A primeira diz
respeito à oralidade das culturas sem conhecimento da escrita. Já a secundária seria a das
culturas em que o rádio, a televisão e outros meios eletrônicos transmitem uma nova oralidade
que, entretanto, depende da escrita. Faz sentido. Afinal, os noticiários de rádio, TV, as
radionovelas e as novelas pressupõem a existência de um texto jornalístico ou roteiro.

O RÁDIO E A TV: VOLTA À TRIBALIDADE?


Já o rádio e a TV, para McLuhan, trariam um retorno às possibilidades sensórias mágico-
míticas das culturas orais. O teórico atribuiu à imprensa a construção do pensamento
tipográfico ou linear e viu nos meios eletrônicos perspectivas mais ricas de interação com os
nossos sentidos.

Comecemos pelo rádio. Embora tenha classificado o rádio como um meio quente pela baixa
participação do público, McLuhan, por outro lado, escreveu o texto Rádio, o tambor tribal, o
trigésimo capítulo do clássico Understanding Media: The Extensions of Man, em que discorre
sobre como o rádio restabeleceu uma conexão íntima com a cultura oral.

O meio, com seu poder de envolver, teria alargado a audição, como notam Del Bianco e
Meditsch (2005). McLuhan, apontam os autores, recorreu à metáfora do tambor tribal para
definir o rádio como uma tecnologia que fortalece a conexão do homem com o grupo, com a
comunidade, que foi capaz de reverter rapidamente o individualismo do homem
tipográfico para o coletivismo. O rádio, para Del Bianco, trouxe à tona ecos de antigos
tambores tribais.
ESSA FORÇA ARCAICA DO RÁDIO, SEGUNDO
MCLUHAN, ESTÁ NA PRÓPRIA NATUREZA
TECNOLÓGICA DO MEIO. AO PRODUZIR IMAGENS
AUDITIVAS, O RÁDIO CRIA UM AMBIENTE
TOTALMENTE INCLUSIVO E ABSORVENTE QUE
PROPICIA ÀS PESSOAS UM MUNDO PARTICULAR EM
MEIO ÀS MULTIDÕES. ALARGA O SENTIDO DA
AUDIÇÃO E AS FACULDADES HUMANAS, TORNANDO-
SE UMA EXTENSÃO DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL. POR ESSA CARACTERÍSTICA, ALTERA OS
ÍNDICES DE SENSIBILIDADE OU MODOS DE
PERCEPÇÃO DE QUEM TRANSITA EM AMBIENTES
MOLDADOS POR ELE.

DEL BIANCO, 2005.

O rádio elenca a linguagem oral, a penetração, a mobilidade, o baixo custo, o imediatismo, a


autonomia (a pessoa pode receber a mensagem em qualquer lugar que esteja) e a
sensorialidade. Segundo Ortriwano (1985), ele envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio
da criação de um “diálogo mental” com o emissor e faz a imaginação ser ativada mediante a
emocionalidade das palavras e dos recursos da sonoplastia, permitindo que as mensagens
tenham nuances individuais, de acordo com as expectativas de cada um.

Em relação à televisão, à mídia digital e à mídia impressa, alguns autores defendem que nelas
a imaginação seja limitada pela presença de imagens. O argumento vai na contramão de
McLuhan. Como já vimos, desde então, a configuração da TV se modificou.

Pode soar estranho atualmente imaginar que uma TV nos anos 1960 pudesse acionar um
mundo audiotátil, e não audiovisual, como defendia McLuhan. Com alta definição e som
surround, agora a televisão se aproxima mais da experiência audiovisual do cinema. Estivesse
exagerando ou não, o autor canadense foi um visionário. E não se pode esquecer das smart
TVs, que podem inclusive ser acionadas por gestos. Já poderíamos afirmar que a TV é
audiovisual e tátil. E podemos ir além se considerarmos o uso crescente de dispositivos
acionados por comando de voz interconectados com os smartphones.
OS DISPOSITIVOS MÓVEIS E A
TACTILIDADE
É possível notar a influência da materialidade como impulsionadora de uma nova linguagem no
conteúdo produzido para telas sensíveis ao toque, como os smartphones e os tablets. Palácios
e Cunha (2012), ao analisarem os impactos desses novos dispositivos sobre o jornalismo,
enumeraram a tactilidade como mais um atributo do ciberjornalismo contemporâneo, além da
multimidialidade, hipertextualidade, interatividade, customização, memória e da
instantaneidade. Embora tenham analisado os efeitos sobre o jornalismo, cabe ressaltar que as
conclusões a que chegaram se aplicam a quaisquer produtos desenvolvidos para esses meios.
DIFERENTEMENTE DE RECURSOS COMO A
“MULTIMIDIALIDADE” E A “MEMÓRIA”, QUE NOS
PRIMÓRDIOS DA INTERNET ERAM APENAS
POTENCIALIDADES, A TACTILIDADE JÁ NASCE
PLENAMENTE APROPRIÁVEL PARA UTILIZAÇÕES EM
APLICATIVOS CRIADOS PARA PLATAFORMAS
MÓVEIS. SEU USO NÃO ESTÁ LIMITADO POR
BARREIRAS TÉCNICAS, MAS APENAS CIRCUNSCRITO
PELA CAPACIDADE CRIATIVA PARA UM MELHOR
APROVEITAMENTO.

PALÁCIOS e CUNHA, 2012.

No artigo Duas telas, dois caminhos: a produção de notícias para celular e tablet no panorama
dos jornais brasileiros, Barsotti e Aguiar (2014) sustentam que a produção de produtos
jornalísticos para tablets possibilitou o surgimento de uma nova linguagem nesses dispositivos.
Eles observaram que, nos produtos jornalísticos para smartphones, a tactilidade se revelava
apenas no ato do consumo, já que as redações, à época, só reproduziam automaticamente
para as telas de celulares os seus sites, fazendo uma operação de transposição.

Já nos tablets, a tactilidade tornava-se um componente necessário para experimentar os


produtos, tendo em vista que a produção jornalística era pensada especificamente para essas
telas.

BARSOTTI E AGUIAR (2014) AFIRMAM QUE O JORNALISMO


FEITO SOB MEDIDA PARA ESSES DISPOSITIVOS TEM
APOSTADO NA LÓGICA DAS SENSAÇÕES, AO APOIAR-SE NA
RECEPÇÃO POR MEIO DOS TRÊS SENTIDOS:
A VISÃO, A AUDIÇÃO E O TATO.
Os produtos analisados à época valiam-se de textos, áudios e vídeos, mas também de
infográficos interativos e testes que demandavam a tactilidade para o usuário interagir com o
conteúdo.

A LINGUAGEM HIPERMÍDIA E A
INTERATIVIDADE
Interação é a palavra-chave para a compreensão da mudança radical de um consumo mais
passivo de informação que caracterizou a era dos meios de comunicação de massa para um
mais ativo na era digital. Bardoel e Deuze (2001) identificaram quatro características do
jornalismo online que se aplicam de modo geral aos produtos veiculados na rede mundial de
computadores: a hipertextualidade, a interatividade, a mutimidialidade e a customização de
conteúdo.

A multimidialidade se refere à convergência de diversas mídias tradicionais para a internet,


com a possibilidade de utilização de som, imagem e texto, transpondo características
originariamente do jornal, do rádio e da TV.

A interatividade na web pode acontecer de várias formas. Para alguns autores, ela é múltipla,
de modo que não é possível falar de interatividade no singular. Segundo Mielniczuk (2001), ela
estaria presente em uma série de processos.
Diante de uma tela de computador conectado à internet, o usuário estabelece relações:

com a máquina


com o conteúdo


com outras pessoas – seja o autor ou outros leitores

No trecho a seguir, Mielniczuk faz referência à ocorrência de tais processos em um site


jornalístico:

NAVEGANDO PELO WEBJORNAL E ELEGENDO O


PRÓPRIO PERCURSO DE LEITURA, OS USUÁRIOS
TERIAM ACESSO ÀS INFORMAÇÕES DE UM JEITO
MUITO DIFERENCIADO ENTRE SI. É POSSÍVEL DIZER
QUE DIANTE DE UM JORNAL IMPRESSO CADA
LEITOR FAZ O SEU PERCURSO DE LEITURA OU QUE
DIANTE DA TELEVISÃO CONVENCIONAL CADA
PESSOA TROCA OS CANAIS – DURANTE O
TELEJORNAL – DE ACORDO COM SUA VONTADE,
PORÉM EM AMBOS OS CASOS EXISTE UMA UNIDADE
PROPOSTA. NO WEBJORNAL, ESSA DITA UNIDADE
PROPOSTA É TÃO COMPLEXA – SOBRETUDO PELA
CONSTANTE ATUALIZAÇÃO, PELO GRANDE VOLUME
DE INFORMAÇÕES E PELO FORMATO HIPERTEXTUAL
– QUE O PRODUTO DEIXA DE SER PERCEBIDO PELOS
LEITORES COMO SENDO ÚNICO.

MIELNICZUK, 2001.

No trecho destacado, a autora indiretamente está abordando outra característica gerada pela
navegação na web: a customização. No exemplo, ela menciona a customização gerada pelo
percurso de leitura escolhido pelo usuário por meio dos hiperlinks. Nenhum produto será único,
já que existem escolhas o tempo inteiro a serem feitas pelo usuário, como em um jogo.
Dependendo das opções que façam, os usuários serão apresentados a diferentes alternativas
de leitura.

A customização tem duas outras faces: em muitos sites e aplicativos, o usuário configura os
produtos de acordo com suas preferências. Entretanto, existe ainda uma customização
algorítmica nas redes sociais e nos mecanismos de busca. Por meio do nosso comportamento
ao navegarmos na web, os algoritmos presentes nessas plataformas filtram o que nos será
mostrado e ocultado.

NO CASO DO JORNALISMO, TAL FILTRAGEM PODE TRAZER


CONSEQUÊNCIAS IMPREVISÍVEIS, TENDO EM VISTA QUE
APENAS ALGUMAS NOTÍCIAS SERÃO MOSTRADAS AOS
USUÁRIOS NAS REDES SOCIAIS (BARSOTTI, 2018). UM DOS
PRINCÍPIOS DO JORNALISMO É JUSTAMENTE LEVAR
DIVERSIDADE DE PONTOS DE VISTA AOS USUÁRIOS. A
CULTURA ALGORÍTMICA TAMBÉM ENVOLVE QUESTÕES DE
PRIVACIDADE E ALGUNS AUTORES DEFENDEM QUE PODE
INDUZIR ESCOLHAS E COMPORTAMENTOS.

No vídeo a seguir, Anderson Lopes, doutor em Ciências da Comunicação pela USP, explica os
dilemas da customização e da cultura algorítmica.

Por fim, resta descrever os efeitos da hipertextualidade. A conexão entre os textos por meio de
links rompe com a linearidade da leitura tal como no texto impresso. Essa característica da
linguagem digital também contribui para a personalização do conteúdo, já que cada leitor
escolherá seu caminho de leitura. É claro que, no jornal impresso, você também poderia ler
apenas o primeiro parágrafo de uma notícia, abandoná-la e decidir pular da Política para o
Caderno de Esportes, por exemplo. Ainda assim, o “cardápio” de notícias ofertado a você seria
composto apenas pelas notícias que aconteceram no dia anterior.
Na televisão e no rádio, o telespectador poderia trocar de canal ou estação quantas vezes
quisesse. Portanto, já havia interatividade, mas as escolhas do leitor, ouvinte e telespectador
eram limitadas pela grade de programação ou pelo tamanho do jornal. Na web, a liberdade de
escolhas é infinita.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Comparar os conceitos de mídias de massa e de nicho e os papéis de produtor e de


consumidor de conteúdo no cenário atual

Você já assistiu a Black Mirror: Bandersnatch? No filme, os usuários podem decidir cinco finais
possíveis para o personagem Stefan, um jovem programador que desenvolve um game nos
anos 1980 que começa a misturar a realidade com o mundo virtual. O destino do personagem
principal é fruto das escolhas dos usuários. Foi a primeira experiência interativa do serviço de
streaming Netflix.

Outro exemplo são os QR codes que têm aparecido em intervalos comerciais de TV, para que
se saiba mais sobre alguma oferta. Ou, em uma emissão de rádio, o âncora anunciar que
determinado ouvinte está enviando informações por WhatsApp. Ou, ainda, a escolha de
assentos nas compras online para ir fisicamente assistir a um filme. Ainda será possível
distinguir tão marcadamente as mídias online e offline?

BROADCAST E INTERCAST
No livro We media: How audiences are shaping the future of News and information, Bowman e
Willis (2003) fizeram a distinção entre a mídia broadcast e a que denominaram como intercast.
A mídia broadcast seria representada pelos meios analógicos de comunicação de massa:
jornais, cinema, rádio e televisão. A intercast seria composta pelos meios na internet. Para os
autores, a rede mundial de computadores facilita a comunicação horizontal, diferentemente dos
veículos tradicionais, que seriam de comunicação vertical.

No sistema broadcast, que consideram mais hierarquizado, as decisões são centralizadas e


comunicadas para o público de cima para baixo. Os meios analógicos teriam consolidado um
modelo de relacionamento com suas audiências dentro do conceito clássico de emissor-
receptor. Como se fosse “eu falo e vocês escutam”. Tal modelo se baseava numa amostragem
do público que era possível de ser obtida com pesquisas quantitativas e qualitativas de
mercado. No caso dos jornais, a aferição era feita pelo Índice de Verificação de Circulação
(IVC), que recentemente foi renomeado e agora se chama Instituto Verificador de
Comunicação, passando a medir também os assinantes digitais.

Na TV e no rádio, são comuns as pesquisas de audiência. Entretanto, quaisquer decisões


baseadas no comportamento do público só poderiam ter tomadas a posteriori. Embora
existissem canais de comunicação abertos para a audiência – como a seção de cartas nos
jornais e telefones para atender à audiência no rádio e na TV –, eles eram mais escassos do
que são atualmente.

No modelo nomeado por eles de intercast, o feedback do público é instantâneo. É possível


saber em tempo real quais são as notícias mais lidas em determinado site ou as mais
compartilhadas em redes sociais, acompanhar o termômetro de votações de reality shows na
TV ou ainda saber quais são os filmes mais assistidos numa plataforma de streaming.

BROADCAST

Meios analógicos de comunicação de massa

Decisões centralizadas
Comunicação vertical


INTERCAST

Dispositivos digitais, conectados à internet

Feedback instantâneo

Comunicação horizontal

Cabe ressaltar que a internet permite reunir, simultaneamente e no mesmo ciberespaço


informativo, os produtores de conteúdo, a audiência, as fontes de informação, os sites do
governo, de empresas e do terceiro setor. Nesse ambiente, em que qualquer um dos usuários
pode participar, as regras são mais flexíveis e a hierarquia é mais frouxa. Antes da internet, por
exemplo, um livro precisava de uma boa crítica literária para entrar na lista de mais lidos.
Atualmente, os leitores podem também ajudar a construir a reputação de uma obra, enviando
suas próprias avaliações. Existe, inclusive, o fenômeno dos booktubers, que são “críticos”
literários do YouTube, além de blogs, já há mais tempo, também tratando de literatura. Ou
podem descobrir leituras afins sem precisar da ajuda de uma resenha, pois os sistemas de
recomendação se encarregam disso.
MÍDIAS DE MASSA E MÍDIAS DE NICHO
No vídeo a seguir, entenda a diferença entre mídias de massa e mídias de nicho:

“Mídias-sol” e “mídias-poeira” são outras classificações propostas para definir a separação


entre as mídias offline e online. Ela é de autoria de Ignacio Ramonet (2012). As mídias-sol
seriam as de comunicação de massa, e as mídias-poeira, as de nicho.

Imagine o desenho de um dinossauro. A parte principal do seu corpo é bem mais alta do que a
cauda, que é longa, mas tem pouca altura. O mercado de nicho seria como a cauda de um
dinossauro. Há pouco ou nenhum impacto no mercado quando esses produtos são lançados,
mas a demanda por eles, embora baixa em termos de volume, é contínua. Anderson observou
que existia uma “cauda longa” na busca por tais produtos e notou três características principais
desta teoria: “(1) a cauda das variedades disponíveis é muito mais longa do que supomos; (2)
ela agora é economicamente viável; (3) todos esses nichos, quando agregados, podem formar
um mercado significativo.” (ANDERSON, 2011, p.10)

Vamos recorrer a um exemplo prático: em 2018, a youtuber Jout Jout leu o livro infantil A parte
que falta em um vídeo em seu canal. Houve um aumento de mais de cem vezes nos pedidos
de livrarias, e a editora Companhia das Letrinhas anunciou uma reimpressão para dar conta da
Amazon. O livro, que não era um lançamento, ficou no topo dos mais vendidos no site de
compras.

A FALSA OPOSIÇÃO ENTRE MÍDIA ONLINE


E OFFLINE
Como visto no vídeo, não há mais como separar os mundos físico e virtual, que se entrelaçam
cada vez mais na sociedade em rede. Isso também vale para as mídias. Elas não se excluem,
mas se complementam. Quantas vezes você se sentou no sofá diante da TV com o celular na
mão e ficou navegando no Twitter e comentando o programa a que assistia?

Uma pesquisa do IBOPE Conecta, sobre o comportamento do usuário brasileiro, mostrou que
95% deles assistem à TV e navegam pela internet ao mesmo tempo. Dentre eles, 9% assistem
à TV e navegam na internet simultaneamente para interagir com a programação a que estão
assistindo e outros 9% discutem com amigos sobre o programa que estão vendo. Não é à toa
que, durante as transmissões de programas populares, como o Master Chef e o Big Brother, e
de partidas de futebol, hashtags referentes a eles entrem no topo dos Trending Topics do
Twitter. No caso do Big Brother, por exemplo, os telespectadores podem votar pela internet
para escolher quem será o eliminado da vez.

Paremos para pensar nas outras mídias de massa da era analógica. O rádio foi estendido para
as redes sociais, aplicativos de trocas de mensagens e até mesmo para a televisão. Os
repórteres da Band News, por exemplo, depois de gravarem suas reportagens em áudio,
precisam fazer um vídeo para ser publicado nas redes sociais da emissora. Eles também
podem ser solicitados a gravar a mesma reportagem para ser exibida na televisão aberta. Os
principais programas de estúdio têm transmissão ao vivo pelo Facebook. Além disso, diversas
pautas surgem porque os ouvintes são convidados a enviarem denúncias e sugestões pelo
número de WhatsApp divulgado no ar. Se um ouvinte perder a programação ao vivo, ela
também estará disponível no aplicativo da rádio. Aliás, isso também vale para a TV. A TV
Globo, por exemplo, envia a programação da TV aberta para o aplicativo Globoplay para
smartphones e smart TVs.

SE VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE EM REDE, O JORNALISMO


NÃO PODERIA ESTAR EXCLUÍDO DELA. O CONCEITO DE
JORNALISMO EM REDE, PROPOSTO POR ANSGARD
HEINRICH (2011), IMPLICA ENXERGAR AS ORGANIZAÇÕES
JORNALÍSTICAS COMO NÓS DE UMA COMPLEXA REDE DA
QUAL PARTICIPAM TAMBÉM OS CIDADÃOS COMUNS, AS
FONTES, OS JORNALISTAS INDEPENDENTES E BLOGUEIROS,
ENTRE OUTROS.
Ansgard Heinrich enxerga o jornalismo em rede extrapolando a esfera da internet. Como todos
estão em rede – fontes noticiosas, jornalistas e público – todos influenciam e são influenciados
pelos demais agentes envolvidos no processo, independentemente do grau de influência de
cada um e do suporte em que a comunicação se dá.
PORTANTO, O CONCEITO DE JORNALISMO EM REDE
ACABA COM A OPOSIÇÃO ENTRE MEIOS DIGITAIS E
ANALÓGICOS.

BARSOTTI, 2017.

QUANTO MAIS INFORMAÇÃO, MAIS


NECESSIDADE DE MEDIAÇÃO
E como lidar com tanta informação? A internet registra o maior crescimento entre as mídias na
história. No clássico A Sociedade em rede – A Era da Informação: economia, sociedade e
cultura, Manuel Castells afirma que, em 1973, quando a internet estava em seus primórdios,
havia 25 computadores conectados à rede. Durante os anos 1970, o número aumentou para
256 e, na década seguinte, para alguns milhares de usuários. Em 1999, nove anos após o
surgimento da World Wide Web (www), a interface gráfica que permitiu a criação de sites, a
internet já conectava 63 milhões de computadores, 950 milhões de telefones (a internet era
discada) e cinco milhões de sites e era usada por 179 milhões de pessoas em todo o mundo.

MANUEL CASTELLS

Manuel Castells é um sociólogo espanhol e referência nos estudos da sociedade em rede e no


pensamento sobre as transformações sociais no século XX.

E qual o volume de informação que circulava na rede? Em 2002, um estudo da Universidade


de Berkeley mediu a extensão dele. Intitulado How Much Information?, ele somou as
informações lidas, vistas e ouvidas, ao longo de 2002, em meios impressos, rádio, TV, internet
e telefone. Foram 70 milhões de horas transmitidas pelo rádio e 31 milhões pela TV, cinco
bilhões de mensagens instantâneas enviadas por telefone e 31 bilhões de e-mails trocados.
Somente a internet gerou 170 terabytes de informação, o equivalente a 17 bibliotecas do
Congresso dos EUA, o triplo do registrado no estudo anterior, realizado em 2000. (BARSOTTI,
2012)
Em 2019, éramos 3,9 bilhões de pessoas conectadas à rede ao redor do globo, ou 51% da
população mundial, segundo estudo da UIT, agência das Nações Unidas. A empresa Visual
Capitalist mensurou o que isso quer dizer em um minuto na internet:

1 milhão de logins no Facebook

41,6 milhões de mensagens enviadas no Facebook Messenger e no WhatsApp

3,8 milhões de buscas no Google

4,5 milhões de vídeos assistidos no YouTube

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Nessa avalanche de informações, seria ainda necessário o papel de seleção e curadoria


exercido por jornalistas, produtores culturais e editores de livros? Você acha que o fato de
haver espaço ilimitado para uma infinidade de produtos e serviços na web significa que ela
dispense a necessidade de mediação? Como fica a relação entre os emissores e os receptores
à medida que todos têm acesso aos meios de publicação?
Pierre Lévy está entre os autores que apostam nos efeitos democratizantes da rede. Em
Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio, Tapscott e Williams
veem com bons olhos o desaparecimento das fronteiras claras entre público e autor na internet.
Eles se referem aos prosumers, termo criado por Toffler (1980) para designar o produtor-
consumidor (producer + consumer, em inglês) de conteúdo. Para os autores, a democratização
da tecnologia estaria permitindo a inclusão de todos.

EM UM MUNDO ONDE TUDO O QUE VOCÊ PRECISA É


DE UM CELULAR COM CÂMERA PARA MOSTRAR O
QUE ESTÁ ACONTECENDO À SUA VOLTA, NÃO É
MAIS TÃO SIMPLES LIMITAR O PAPEL DE UMA
PESSOA.

TAPSCOTT e WILLIAMS, 2006.


 ATENÇÃO

Cabe aqui uma ressalva: como vimos, apenas 51% dos habitantes do planeta têm acesso à
internet. No Brasil, a exclusão digital atinge um a cada quatro brasileiros, de acordo com dados
do IBGE.

Rosenbaum (2011) utiliza o termo curador de conteúdo que, para ele, é exercido tanto por
amadores quanto por profissionais, sem hierarquia entre eles. Ele enfatiza, no entanto, o valor
da curadoria humana sobre a dos algoritmos, que também atuam na seleção de conteúdos
na web: eles estão presentes nos sistemas de recomendação, nas redes sociais e nos
buscadores. Eles filtram nossas buscas e escolhas, mas são os humanos que adicionam valor
à informação, ressalta o autor.

Por outro lado, há autores que enxergam como preocupante o excesso de informações
publicadas por amadores na web, sem curadoria. Andrew Keen (2009), em O culto do amador,
é bastante crítico. Ele sustenta que a nação web 2.0 é tão digitalmente fragmentada que
não é mais capaz de debate informado. Para ele, na web, “as palavras do sábio não
contam mais que os balbucios de um tolo.” Vale lembrar que Keen escreveu o livro muito
antes do cenário a que estamos assistindo, de propagação de desinformação, com as
chamadas fake news.
ESSE APAGAMENTO DAS LINHAS ENTRE PÚBLICO E
AUTOR, FATO E FICÇÃO, INVENÇÃO E REALIDADE
OBSCURECE AINDA MAIS A OBJETIVIDADE. O CULTO
DO AMADOR TORNOU CADA VEZ MAIS DIFÍCIL
DETERMINAR A DIFERENÇA ENTRE LEITOR E
ESCRITOR, ARTISTA E RELAÇÕES-PÚBLICAS, ARTE E
PUBLICIDADE, AMADOR E ESPECIALISTA. O
RESULTADO? O DECLÍNIO DA QUALIDADE E DA
CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO QUE
RECEBEMOS, DISTORCENDO ASSIM, SE NÃO
CORROMPENDO POR COMPLETO, NOSSO DEBATE
CÍVICO NACIONAL.

KEEN, 2009.

No caso do jornalismo, diversos autores já apontaram para o risco da falta de curadoria da


informação que trafega na internet e sustentam que a era digital fortalece o papel do
profissional. Neveu (2006) acredita numa revalorização da função do jornalista, diante da
abundância de informação na web. Ele afirma que o caos da oferta de informação na
internet pode devolver sentido à necessidade de uma forma de certificado de garantia
para o profissionalismo dos jornalistas.

Wolton (2010) vai na mesma linha de pensamento. Para ele, a informação se tornou
abundante, mas a comunicação é uma raridade no cenário contemporâneo. Daí a necessidade
do intermediário, que seria o jornalista.
NÃO É O SUPORTE QUE DÁ SENTIDO À
INFORMAÇÃO, NEM O RECEPTOR, MAS O
JORNALISTA. NESSA LEGITIMIDADE DO JORNALISTA
RESIDE O PAPEL ESSENCIAL DA PROFISSÃO DE
INTERMEDIÁRIO, QUE MUITOS QUEREM REDUZIR, OU
SUPRIMIR, EM FAVOR DE UMA SUPOSTA
‘DEMOCRACIA DIRETA’.

WOLTON, 2010.

Um dos maiores youtubers do país, Felipe Neto disse, em entrevista ao jornal Folha de S.
Paulo (MEIRELES, 2020) que, sem os jornalistas, “não há chance de batalha” contra “os
obscurantistas, negacionistas e revisionistas”, referindo-se ao cenário das fake news em meio
à pandemia de coronavírus. “É preciso destruir o terraplanismo científico e histórico e trazer à
luz (e à popularidade) os verdadeiros cientistas, historiadores e comunicadores comprometidos
com a verdade”, afirmou.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 4

 Comparar os efeitos do texto linear e do hipertexto em contextos cross-media, transmídia e


multimídia

Será que é 100% verdadeira a afirmação de que a leitura de um livro ou de um jornal é sempre
linear? Quantas vezes você já ficou curioso em saber logo o final de um romance e foi xeretar o
fim do livro? Ou ainda pulou da página 5 de um jornal e foi direto para o Caderno de Cultura,
evitando a leitura do noticiário local e internacional, que vinham nas páginas imediatamente
seguintes àquelas em que você estava? Agora pensemos no mesmo livro e no mesmo jornal
sendo lidos em um dispositivo móvel. É claro que você também pode “pular” páginas tanto no
e-book quanto no jornal que estão disponíveis em sua tela. A diferença é que poderá optar
também por outros caminhos a partir dos hiperlinks que encontrar em ambos. De um livro,
poderá até mesmo ir para outro. De uma edição do dia do jornal, poderá ir para a da semana
anterior.

O HIPERTEXTO: CAMINHOS MÚLTIPLOS


De acordo com Fachinetto (2005), o termo hipertexto foi criado nos anos 1960, por Theodor H.
Nelson, com seu projeto Xanadu. Ele foi concebido para ser um processador de textos capaz
de lidar com várias versões de um texto e mostrar as diferenças entre elas.

O objetivo de Nelson, que era estudante em Harvard, era facilitar a escrita não linear. Por meio
de um documento eletrônico, o usuário poderia escolher seu próprio caminho de leitura. No
livro O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço, Lúcia Leão (1999)
expõe o pensamento de Nelson: para ele, o hipertexto se constitui de escritas associadas
não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em
diferentes direções.
Refletindo sobre as diferenças entre hipertexto e hipermídia, George Paul Landow afirma que
o hipertexto é composto de fragmentos de texto e dos links que os conectam entre si. Para ele,
o termo hipermídia estende a noção de hipertexto, ao adicionar informação visual, sonora,
animação e outras formas de informação, além do texto (apud FACHINETTO, 2005).

GEORGE PAUL LANDOW

George Paul Landow é professor emérito de História da Arte na Brown University. Ele é um
especialista em literatura, arte e cultura vitoriana, é ainda pioneiro em crítica e teoria da
literatura eletrônica, hipertexto e hipermídia.

Vale lembrar que, assim como no hipertexto, o usuário também escolhe seu caminho na
hipermídia: posso decidir entrar em outro vídeo “linkado” ao que estou assistindo, posso
interagir com infográficos (de modo que eles me apresentem os dados específicos que estou
buscando), posso seguir alternativas distintas em games e assim por diante.

DIFERENTEMENTE DA NARRATIVA LINEAR, O LEITOR TEM


MAIS LIBERDADE DE ABANDONAR A ORDEM PREVISTA PELO
AUTOR E ESCOLHER SEU PRÓPRIO CAMINHO DE LEITURA
NO HIPERTEXTO. NOS MEIOS DIGITAIS, O TEXTO PODE SER
FRAGMENTADO E RETIRADO DE UMA SEQUÊNCIA QUE
OBEDECE À LÓGICA DA ESCRITA, DE CAUSALIDADE ENTRE
AS ORAÇÕES. A LINEARIDADE, COMO JÁ VISTO,
CARACTERIZOU O HOMEM TIPOGRÁFICO, SEGUNDO
MCLUHAN.
Mas será que foi somente com o hipertexto que aconteceu essa quebra da linearidade? Foi
essa pergunta que Aguiar e Barsotti (2010) fizeram no artigo As novas tecnologias digitais e as
perspectivas para o jornalismo e a literatura eletrônicos. Os autores notam que a linearidade já
vinha sendo problematizada mesmo antes da era digital. Uma hipótese é que seu surgimento
possa estar relacionado à forma fragmentada de lidar com a noção de espaço e tempo na
contemporaneidade.

Como já vimos, desde a invenção do telégrafo, os jornais passaram a noticiar eventos que,
antes, só poderiam ser incluídos nas edições muito tempo depois de terem acontecido. Teria
começado ali uma nova noção geográfica e temporal, que se aceleraria no século XX, com o
rádio e a TV. As transmissões ao vivo (o “aqui” e o “agora”) nos teriam levado à aldeia global
prevista por McLuhan. Eventos distantes geograficamente passaram a ficar próximos de nós e
com cada vez mais instantaneidade.

Na literatura, a tendência de quebra da linearidade nas narrativas já era observada em livros


publicados no século XX, citam Aguiar e Barsotti (2010). Dois exemplos são as obras O jardim
dos caminhos que se bifurcam (1941), de Jorge Luis Borges, e Se um viajante numa noite de
inverno (1979), de Italo Calvino, uma história que termina e reinicia continuamente. No cinema,
a quebra da sequência temporal pode ser observada no clássico Pulp Fiction, de Quentin
Tarantino, assinalam Aguiar e Barsotti (2010). A Ética, de Spinoza, é um livro de filosofia do
século XVII organizado em axiomas, proposições, definições, que se remetem uns aos outros.
É possível começar a leitura desse tratado em qualquer parte do livro e seguir as remissões
conforme se desejar.
 Representação do ator John Travolta no cenário de Pulp Fiction, no Museu Madame
Tussauds em São Francisco.

PULP FICTION

O filme começa e termina em assalto a um restaurante, e outras histórias se entrecruzam, sem


qualquer ordem cronológica. A estrutura, circular, estaria mais próxima do pensamento mágico-
mítico que teria voltado a nos encantar. Vale lembrar que o filme é de 1994, ainda no início da
popularização da internet.

O hipertexto é, portanto, uma inovação narrativa anterior à era digital. Mas o cenário digital
acelerou o processo. As histórias impressas, os filmes, os áudios e os vídeos estão
transformando os formatos lineares do passado. Aguiar e Barsotti (2010) sustentam que seria
ingênuo acreditar no purismo do texto impresso atualmente porque ele se interpenetra
profundamente com o eletrônico, a começar pelo meio em que são escritos.
MESMO QUE NÃO SE UTILIZE NENHUM RECURSO
DIGITAL COMO TÉCNICA DE LEITURA, É PRECISO
LEMBRAR QUE TODOS OS LIVROS E OS JORNAIS
QUE SE DESTINAM AO SUPORTE IMPRESSO SÃO
ESCRITOS ATUALMENTE NO COMPUTADOR. OU
SEJA, ELES TAMBÉM SOFREM INFLUÊNCIA DO NOVO
MEIO E SÃO POR ELE MODIFICADOS.

AGUIAR e BARSOTTI, 2010.

Umberto Eco, assim como fez em Apocalípticos e Integrados, em que expôs os argumentos
dos críticos e dos defensores dos meios de comunicação de massa, buscou o equilíbrio ao
analisar os efeitos do hipertexto no livro Sobre a literatura. Para ele, os contos “imodificáveis”,
ou seja, os já consagrados pelos livros impressos, ao contarem uma história, também contam a
de cada indivíduo. Por isso, sustentou, são amados. Por outro lado, Umberto Eco viu valor no
hipertexto, que pode educar para a liberdade e para a criatividade.

NARRATIVAS SEM FRONTEIRAS


Narrativas migram de um meio para o outro e adaptam-se às linguagens de cada um. Se
houver a crença de que o futuro das boas histórias dependerá da exploração dos recursos dos
novos meios, assistiremos a um descentramento cada vez maior das produções culturais e sua
interseção com outros campos. Assim como o hipertexto, essa falta de centralidade é anterior
ao computador. Instalações de artes plásticas que utilizam poesia multimídia não são novas. O
mesmo ocorre quando textos de jornais são lidos em rádio, lembram os autores. Mas é
inevitável sua aceleração na era digital, com a convergência das mídias. A especificidade de
cada meio vem se diluindo.
 ZKM, Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe, Alemanha.

Imaginando os diversos campos da cultura, como a fotografia, o cinema e a música, como


círculos que se interpenetram, Arlindo Machado (2007) constatou:

CHEGA UM MOMENTO EM QUE A AMPLIAÇÃO DOS


CÍRCULOS ATINGE TAL MAGNITUDE QUE HÁ
INTERSEÇÃO NÃO APENAS NAS BORDAS, MAS
TAMBÉM NOS SEUS NÚCLEOS DUROS. ORA, ESSE É
JUSTAMENTE O PONTO DE RUPTURA: NO MOMENTO
EM QUE O CENTRO MAIS DENSO DO CÍRCULO,
IDENTIFICADOR DE SUA ESPECIFICIDADE, COMEÇA
A SE CONFUNDIR COM OS OUTROS, CHEGAMOS A
UM NOVO PATAMAR DA HISTÓRIA DOS MEIOS: O
MOMENTO DA CONVERGÊNCIA DOS MEIOS, QUE SE
SOBREPÕE À ANTIGA DIVERGÊNCIA.
A narrativa multimídia pode abrigar vários campos artísticos, entre eles as artes plásticas, o
design, o vídeo e a música, os games e a programação. Flusser (2010) observou que a
fronteira entre a categoria “arte” e a categoria “ciência e técnica” é eliminada pela produção
multimídia: a Ciência evidencia-se como forma artística e a Arte, como fonte de
conhecimento científico.

Mesmo um romance pode combinar meios anteriormente usados em outras narrativas. Um


exemplo é Alice inanimada, de Kate Pullinger e Chris Joseph, que usa uma combinação de
várias mídias para contar a história de uma menina que sai de uma região da China para se
tornar designer de jogos. Como classificá-lo? Literatura, game, animação?

No jornalismo, um marco inaugural desse uso de diferentes mídias foi o especial Snow Fall, do
New York Times, publicado em 2012. No ano seguinte, a reportagem, sobre uma avalanche
ocorrida no estado de Washington com vítimas fatais, ganhou o Prêmio Pulitzer. Dividida em
seis capítulos, a história foi contada utilizando recursos multimídia: infográficos animados,
vídeos aéreos, animações, fotografias e hiperlinks.

Durante seis meses, uma equipe de reportagem e de especialistas em programação e design


planejou o projeto. A iniciativa foi considerada um divisor de águas no jornalismo online e foi
replicada no mundo todo. O Brasil também começou iniciativas do gênero, como o especial
Belo Monte, sobre a usina hidrelétrica, na Folha de S. Paulo. Na edição impressa, mereceu
duas páginas. Ou seja, nos meios analógicos, permanece a especificidade de cada um. Nos
meios digitais, as fronteiras ficam cada vez mais esmaecidas.

É BOM RESSALTAR QUE OS SITES JORNALÍSTICOS ESTÃO


PRESENTES NA INTERNET DESDE A SEGUNDA METADE DOS
ANOS 1990. ENTRETANTO, NOS PRIMÓRDIOS, ERA COMUM
QUE AS PÁGINAS IMPRESSAS FOSSEM APENAS
TRANSPOSTAS PARA O MEIO ONLINE. AS ATUALIZAÇÕES
ERAM RARAS NAQUELE MOMENTO. TAMPOUCO RECURSOS
MULTIMÍDIA ERAM USADOS. OS SITES LANÇAVAM MÃO
APENAS DO HIPERTEXTO. PORTANTO, O SNOW FALL FOI
CONSIDERADO UM MARCO POR TER UTILIZADO AS
DIVERSAS LINGUAGENS QUE A CONVERGÊNCIA TORNOU
POSSÍVEL DE FORMA FLUENTE E INTERATIVA.
MULTIMÍDIA, CROSS-MEDIA E TRANSMÍDIA
No artigo Interfaces e linguagens para o documentário transmídia, Renó (2013) procura
demonstrar a confusão que há entre os conceitos multimídia, cross-media e transmídia,
embora muitas vezes eles sejam aplicados sem distinção. Ele lembra que cross-media é um
termo que significa a transmissão de um mesmo conteúdo por plataformas diferentes, segundo
demarcou Henry Jenkins (apud RENÓ, 2013). Ou seja, você pode assistir a um filme na
televisão aberta, na tela do seu smartphone ou na sala de cinema. O conteúdo será
exatamente o mesmo, embora as experiências sejam bem diferentes.

Para Vicente Gosciola (apud RENÓ, 2013), os termos também devem ser usados de forma
distinta. Ele nota que o cross-media é uma linguagem geralmente adotada pelo marketing e
que teria ambições voltadas para o mercado. Já a narrativa transmídia, contaria uma história
expandida e dividida em várias partes que são distribuídas entre diversas mídias,
exatamente aquelas que melhor possam expressar a sua parte da história. Ou seja, os
produtos transmídia seriam complementares.

 RESUMINDO

Enquanto a estratégia cross-media distribui a mesma mensagem em multiplataforma, a


narrativa transmídia oferta mensagens distintas, ainda que relacionadas e complementares,
em ambiente multiplataforma.

Nos primórdios da internet, era comum veículos jornalísticos lançarem mão de uma estratégia
cross-media, distribuindo o mesmo conteúdo para várias plataformas. Mas aos poucos as
redações começaram a produzir conteúdos específicos para os meios.
Veja também a explicação do professor Anderson Lopes sobre multimídia, cross-media e
transmídia.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na passagem da cultura impressa para a digital, estamos assistindo a um longo caminho de
adaptações e mudanças que envolvem tanto o modo como produzimos quanto como
consumimos informação, o que engloba transformações tecnológicas, mas também culturais.
Se atribuirmos toda a revolução a que estamos assistindo no mundo contemporâneo à
evolução das máquinas, reduziremos o protagonismo dos humanos nesse cenário.

A grande mudança de paradigma da cultura impressa para a digital reside na migração da


escrita linear para o hipertexto. Em vez de seguir uma ordem de leitura sequencial, inaugurada
pelo alfabeto fonético, o usuário agora decide seu próprio caminho de consumo da informação.
Na contemporaneidade, o conceito de hipertexto foi estendido para hipermídia.

Para analisar esse cenário, estudamos os conceitos de meios quentes e meios frios,
hibridismo, mídia de massa e mídia de nicho, transmídia e cross-media. Assim, buscamos
entender os efeitos das novas mídias sobre nós, mas também as possibilidades que trazem
para os produtores de conteúdo do século XXI, que podem se valer das potencialidades de
todas elas.

 PODCAST

AVALIAÇÃO DO TEMA:

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EXPLORE+

Pesquise na internet sobre a entrevista do filósofo e teórico da comunicação Herbert


Marshall McLuhan ao programa Monday Conference, da ABC, Austrália, em junho de
1977. Nesse vídeo, o pensador canadense fala de alguns de seus principais conceitos e,
com respostas espirituosas, comprova o caráter visionário de sua obra.

Leia o artigo Imprensa sensacionalista: o entretenimento e a lógica da sensação, no qual


seu autor, Leonel Aguiar, distingue imprensa sensacionalista de imprensa sensacional e
defende a recepção pela “lógica da sensação”.

Leia o texto Tradição oral e a preservação de culturas, de Fabiana Pinto, para saber mais
sobre a preservação da história entre membros de culturas de tradição oral, cujo
conhecimento se dá com base nos relatos dos antepassados transmitidos continuamente
dos bisavós para os avós, dos avós para os filhos.

Pesquise na internet sobre o vídeo de demonstração do Google Home para entender


melhor sobre os dispositivos e seu acionamento.

Leia a íntegra da entrevista de Chris Anderson, autor do livro A Cauda Longa, para a
Revista Época (edição 433, 1º set. 2006), quando ele explica de forma clara sua teoria.
Embora tenha trabalhado durante muitos anos como jornalista nas revistas The
Economist e Wired, Anderson é formado em Física.

O especial transmídia Snow Fall – The Avalanche, do New York Times, é considerado um
divisor de águas no uso da transmídia no jornalismo. Em cada plataforma, o conteúdo foi
expandido e não meramente reproduzido como acontece nos projetos cross-media. O
sucesso foi tanto que Snow Fall também foi editado em e-book. Além dele, outros
especiais com as mesmas características foram lançados pelo jornal desde então:

A Game of Shark and Minnow;

The 1619 Project.

CONTEUDISTA
Curadoria de Humanidades

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