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PROPÓSITO
Discutir a passagem da cultura impressa para a digital a fim de identificar diferentes práticas de
produção e consumo da informação de acordo com os meios e compreender o cenário atual de
mídia e suas potencialidades.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
MÓDULO 1
Fonte:Shutterstock
Marschall McLuhan em 1945.
Fonte:Shutterstock
Mas nem sempre o meio impresso esteve entre os mais prestigiados. O filósofo francês Régis
Debray (1993), em seu livro Curso de Midiologia Geral, ressalta que, no início de sua utilização,
o papel não desfrutava de credibilidade. Prova disso foi o fato de as universidades terem
mantido durante muito tempo os canudos de formatura confeccionados com pele para a
colação dos alunos. Posteriormente, foi a vez de os livros de bolso provocarem indignação nos
meios literários por serem vistos como uma profanação do livro convencional. Portanto, assim
como Mouillaud, Debray acredita que não há como se menosprezar o valor simbólico da
materialidade dos suportes.
Não é à toa que ouvimos com frequência as expressões “Deu no jornal” ou “Vi na
televisão” como sinônimos de credibilidade. Uma pesquisa do Datafolha (MARQUES,
2020), realizada em meio à pandemia de coronavírus, revelou que programas
jornalísticos da TV (61%) e jornais impressos (56%) lideraram no índice de confiança do
público, seguidos de programas jornalísticos de rádio (50%) e sites de notícias (38%).
Podemos partir da premissa de que as principais notícias, como decisões e
pronunciamentos de autoridades e organismos internacionais, foram informadas por
todos os veículos. Entretanto, o jornal e a TV despontam como mais merecedores de
crédito por parte da população do que os sites.
Voltando a McLuhan, ele sustenta que a forma como experimentamos a realidade é mediada
pelos sentidos. Desse modo, cada meio de comunicação acionaria predominantemente um ou
vários sentidos humanos. Cada novo meio introduzido alteraria a relação entre os nossos
sentidos, modificando nossa forma de experimentar o mundo. Embora seus estudos tenham
sido motivados pelo advento da televisão, McLuhan volta à época da tradição oral, antes da
invenção da escrita, para fazer valer seu raciocínio.
DA CULTURA ORAL PARA A IMPRESSA E A
ELETRÔNICA
Em Galáxia de Gutenberg, publicado em 1962, os capítulos indicam a divisão proposta por
McLuhan entre a oralidade, a escrita e a era eletrônica. Antes da invenção do alfabeto
fonético, éramos marcados pela cultura da oralidade. McLuhan lembra que, em uma conversa
presencial entre as pessoas, todos os sentidos estavam presentes: gestos, cheiros, ambiente,
audição e visão se articulavam simultaneamente. A invenção da escrita teria reduzido o espaço
para a oralidade e nos guiado em direção a uma cultura visual, separando os sentidos que se
entrecruzavam antes. Na leitura, o sentido que prevalece é a visão.
ALFABETO FONÉTICO
BARBOSA, 2017.
Fonte:Shutterstock
Prensa de tipos móveis de 1811, em exposição em Munique, Alemanha.
MCLUHAN, 1969.
Se, por um lado, a cultura escrita permitiu a expansão do conhecimento, por outro reduziu a
comunicação ao aspecto visual. A era eletrônica estaria recriando um mundo à imagem de uma
“aldeia global”, a partir do advento da TV. Até o surgimento da televisão, vivíamos na "Galáxia
de Gutenberg". Para McLuhan, a evolução dos meios de comunicação de massa estaria
reorganizando nossas percepções e nos levando de um mundo linear e tipográfico para um
mundo audiotátil, tribalizado e cósmico da era eletrônica.
ALDEIA GLOBAL
Quando Marshall McLuhan cunhou o termo “aldeia global”, a internet estava restrita aos
circuitos militar e acadêmico norte-americanos e ainda estávamos distantes do uso de
computadores pessoais.
Mas se alguém tinha dúvidas sobre esse conceito inicialmente pensado em relação à
televisão, ele foi concretizado na web: estamos conectados 24 horas por dia ao redor do
mundo e sem obstáculos geográficos.
Veja alguns exemplos desses meios e tente identificar as razões pelas quais eles foram
definidos como quentes ou frios.
Alfabeto Caricatura
Filme Desenho
Fotografia Fala
Jornal Hieróglifos
Palestra Telefone
Rádio Televisão
Quantas vezes você já não assistiu a uma palestra e ficou bocejando? E quantas conversas ao
telefone não te deixaram entusiasmado? Então a palestra não deveria ser considerada “fria” e
o papo ao telefone “quente”?
O pensamento de McLuhan vai contra o senso comum em relação ao que nos acostumamos a
perceber como “quente” e “frio”. Os meios quentes, para ele, seriam os que prolongam um
dos nossos sentidos e em “alta definição”, ou seja, nos suprem com uma elevada
clareza de informação. Se o meio nos proporciona uma mensagem de fácil compreensão ou
“mastigada”, como diríamos na gíria, os nossos sentidos são pouco requisitados para a
recepção da mensagem. O rádio, por exemplo, pela definição de McLuhan, estenderia a
audição. Já o telefone, embora dependa da audição, seria “frio” porque tanto o emissor como o
receptor precisam participar da conversa para completar a mensagem.
Quando recebemos uma informação por um meio frio, precisamos acionar mais de um sentido
para compreendê-la. É o que acontece com a televisão, em que visão e audição se articulam.
Além disso, as observações de McLuhan se referem aos primórdios da televisão, quando a
baixa definição da imagem exigia do telespectador um esforço maior para decodificar a
mensagem. A título de exemplo, veja como era a definição da imagem do Gato Félix em 1928.
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Você se lembra de que, na introdução a este tema, foi questionado se o smartphone seria uma
extensão do corpo humano? McLuhan entende que os meios – ou as tecnologias – expandem
a existência, as capacidades e o corpo humano. O telefone seria a extensão do ouvido. O livro,
por exemplo, a da visão. Ao estender nossos sentidos, os meios seriam prolongamentos de
nosso corpo, como uma projeção de nosso sistema nervoso central para restabelecer o
equilíbrio sensorial que foi modificado pela introdução de um novo meio. Para o teórico, os
meios seriam tanto extensões quanto “amputações”, entorpecendo-nos com seus efeitos.
A extensão exigiria um processo de “autoamputação” realizado pelo nosso corpo para aliviar a
perturbação dos meios sobre o nosso sistema nervoso central. A adoção dessas extensões
acionaria em nós essa autoproteção com o entorpecimento da área prolongada. Esse estado
de êxtase revelaria a incorporação de um novo aparato tecnológico por nós.
DETERMINISMO
Determinismo é a doutrina filosófica que defende que os fenômenos têm relação causal e
necessária. Mas é usado em um sentido mais geral para dizer que o meio em que as
pessoas estão inseridas as determinaria de maneira inescapável, uma leitura reducionista
da causalidade.
Estudos que investigam as relações entre a oralidade e a escrita muitas vezes estabelecem
uma oposição ou subordinação entre os dois universos ou ainda uma linha evolutiva, como foi
o caso de McLuhan, que demarcou a passagem da oralidade para a escrita a partir da
invenção do alfabeto fonético. Mas será que deixamos de ser uma sociedade oral com a
invenção da escrita e da tipografia?
Paul Zumthor está entre os críticos de McLuhan, embora reconheça a importância de suas
contribuições. Para ele, existem três tipos de oralidade:
PAUL ZUMTHOR
ORALIDADE PRIMÁRIA
Característica das sociedades que não têm contato algum com a escrita.
ORALIDADE MISTA
Ocorre quando as linguagens oral e escrita estão presentes, mas a influência da escrita é
apenas parcial.
ORALIDADE SECUNDÁRIA
Caracterizaria as culturas letradas, em que a voz e o imaginário perderam força.
A diferença é que, para Zumthor, as existências desses tipos de oralidade não estariam
condicionadas a uma linha evolutiva. Elas dependeriam do contexto cultural de cada
sociedade.
ZUMTHOR, 2014.
Um exemplo evidente seria pensar nas aldeias indígenas, marcadas pela oralidade ainda no
século XXI. Entretanto, mesmo nas grandes capitais, não podemos supor que o sucesso da
troca de mensagens em áudio por aplicativos de conversas, como o WhatsApp, revela o
aspecto oral de uma cultura? Pesquisa realizada pela empresa Panorama Mobile Time/Opinion
Box revelou que 76% dos brasileiros enviam mensagens por áudio na plataforma. Não à toa o
fundador do WhatsApp, Brian Acton, afirmou, em entrevista à Revista Exame, que os
brasileiros amam ligar e mandar áudios. (AGRELA, 2017)
Outra crítica comumente dirigida a McLuhan gira em torno de seu aforismo “o meio é a
mensagem”. De acordo com o teórico, são os meios que determinam as mudanças culturais
em nossos comportamentos. Essa visão, para muitos críticos, privilegia o aspecto tecnológico e
menospreza o cultural, ou seja, a ação humana. Sem referir-se ao canadense, o filósofo Pierre
Lévy (2000) indiretamente questionou suas afirmações ao voltar-se contra o determinismo
tecnológico. Ele prefere utilizar o termo “condicionamento tecnológico”. Assim, as invenções
tecnológicas apenas seriam parte do ambiente de transformação cultural de nossas
sociedades. O homem tipográfico, por exemplo, não teria sido determinado pela prensa de
Gutenberg, mas condicionado por ela. As tecnologias ajudariam a compor os cenários de
transformação, mas as mudanças não dependeriam exclusivamente delas.
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Pierre Lévy
AFORISMO
Outro crítico de McLuhan é Umberto Eco, autor do livro Apocalípticos e Integrados (1979), em
que critica tanto os defensores quanto os detratores da indústria cultural. Um dos grandes
problemas do pensamento de McLuhan, para Eco, seria a falta de conceituação sobre meios,
mídias e mensagens. McLuhan se referia indistintamente a eles. Além disso, Eco aponta que o
conteúdo importa sim. O modo como os meios são percebidos por cada indivíduo e os
contextos político, histórico e sociocultural em que as mensagens se inserem têm de ser
levados em conta para uma análise estrutural dos meios de massa.
UMBERTO ECO
As críticas mais contundentes se referiram ao conceito de meios quentes e meios frios. Para
James Carey, eles são o ponto fraco da obra do canadense, aponta Barbosa (2017). O grande
problema é que a classificação proposta por McLuhan não leva em conta as mudanças das
características dos meios com o passar do tempo. Atualmente, classificar a televisão como um
meio frio soa problemático, com TVs apresentando as imagens em alta definição. Em 1948,
poderia fazer sentido, já que a TV tinha menos linhas de definição e, portanto, uma qualidade
de imagem que era inferior em relação aos filmes, considerados como meios quentes. Como
observa Carey:
JAMES CAREY
A televisão seria um meio mais frio em relação ao rádio. E, mesmo assim, em determinado
período. Seguindo os argumentos de Carey, seria mais produtivo enxergar essa classificação
entre meios quentes e meios frios como relativa, dependendo das mudanças que os meios
sofressem em sua estrutura e seu conteúdo. Em tempos de convergência, por exemplo, seria
ainda possível afirmar que o rádio é um meio quente diante do cenário de interatividade que se
verifica atualmente, em que o ouvinte participa até da programação, entrando ao vivo no ar?
A) A televisão foi considerada um meio frio por acionar vários sentidos no telespectador e por
demandar dele uma capacidade de imaginação para a recepção da imagem.
B) O rádio seria um meio frio por aguçar a audição e permitir pouca participação dos ouvintes.
C) O jornal foi classificado como um meio frio por ser linear e teria reduzido nossa percepção
ao aspecto visual.
D) A palestra e a fala são ambas meios frios por demandarem muita interatividade dos
envolvidos.
A) A divisão entre meios quentes e frios é estática e não leva em conta que os meios sofrem
transformações em suas características ao longo do tempo.
B) Mais produtivo seria pensar sobre as propriedades dos meios de forma relativa entre eles,
ou seja, um meio seria mais quente ou mais frio em comparação com outro.
D) A classificação da televisão como um meio quente só fazia sentido à época do início das
transmissões, em que os aparelhos tinham baixa definição de imagem.
GABARITO
1. Um dos teóricos mais polêmicos do século XX, McLuhan propôs o conceito de meios
quentes e meios frios para classificar os meios de comunicação e expressão de nossa
sociedade a partir do surgimento e disseminação da TV como mídia de massa. Abaixo,
apresentamos alguns meios e as razões pelas quais foram listados como frios ou
quentes. Assinale a alternativa que está em desacordo com o pensamento de McLuhan:
A palestra e a fala, embora pareçam ser da mesma natureza, não o são, segundo a
classificação de McLuhan. A palestra é um meio quente porque os ouvintes têm uma posição
passiva diante do orador. Já na fala, um meio frio, só há o desenrolar da comunicação se
ambos os envolvidos preencherem a conversa.
MÓDULO 2
HIBRIDISMO E REMEDIAÇÃO
Vimos que a classificação de McLuhan sobre os meios quentes e frios ficou datada. Entretanto,
seu pensamento voltou a ser valorizado com a internet pelo fato de o meio permitir um
hibridismo entre as linguagens impressa, sonora, audiovisual e tátil se as consumirmos nos
smartphones.
McLuhan percebia que, num primeiro momento, todo meio novo busca incorporar os meios que
o precederam e referenciá-los. Assim, cada meio tornava-se o conteúdo do que substituía:
O filme tornou-se o conteúdo da TV
Ou seja, uma mídia era sempre assimilada ou representada na mídia mais nova.
O termo hibridização foi usado por McLuhan na década de 1960 para caracterizar as
mudanças provocadas pela introdução e disseminação da televisão. No século XXI, voltou a
ficar atual com a convergência entre as mídias possibilitada pela rede mundial de
computadores.
SAIBA MAIS
Parte das críticas a Marshall McLuhan se deram também pela incompreensão à sua forma de
se expressar, adaptando frases de outros autores e empregando metáforas, exemplos e
aforismos. De acordo com Barbosa (2017), a forma de escrever do autor lembrava um
mosaico, em vez de seguir uma linearidade sequencial da escrita. Ao tentar romper com a ideia
de causalidade e sequência, McLuhan se expressava em livros de maneira não convencional,
usando o meio como forma de crítica a uma de suas principais características: a linearidade.
Seu livro O meio é a massagem: um inventário de efeitos, de 1967, é um exemplo disso.
O MEIO É A MASSAGEM
Esse processo de incorporação de um meio pelo outro foi chamado de “remediação” por Bolter
e Grusin (2000). Os autores analisaram os diferentes graus em que as mídias digitais
“remediam” as anteriores, surgidas na era analógica dos meios de comunicação de massa.
BOLTER E GRUSIN
Em seu livro Remediation: Understanding New Media (2000), Bolter e Grusin fazem uma
releitura do clássico de McLuhan Understanding media: the extensions of man.
Como o jornal, o cinema, o rádio e a televisão estão representados na internet? Para Bolter e
Grusin, os níveis de incorporação variam da absorção total à parcial de uma mídia pela outra:
Absorção total
As diferenças entre os antigos e novos meios se sobressaem, sem que isso resulte, no
entanto, no apagamento da mídia anterior.
Voltando ao exemplo dos sites da Folha de S. Paulo, da CBN e do Jornal Nacional, em que
grau desse fenômeno você acha que eles se encontram? Certamente não é o de absorção
total, já que ainda notamos neles, claramente, traços da mídia anterior que remediaram: o
rádio, o jornal e a TV.
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Importante notar que, para os autores, o processo de remediação, entretanto, age nos dois
sentidos: tanto da mídia anterior para a nova quanto da nova para a que a antecedeu. Como
exemplo, eles citam os filmes que incorporaram características das mídias digitais, como a
computação gráfica, num movimento que parte da mídia mais nova para uma anterior: o
cinema. Quantas vezes você já deve ter visto diálogos de aplicativos de mensagens projetados
na tela de cinema, simulando o diálogo entre os personagens que estão usando seus
smartphones em cena? Ou tweets reproduzidos em páginas impressas? Na visão de Bolter e
Grusin, o processo de remediação é inevitável: todo meio estaria absorvendo o outro.
Manovich (2003), ao analisar as chamadas novas mídias – ou mídias digitais – observou que
elas se nutrem das características das velhas, tornando-se, assim, metamídia. O grande
divisor de águas entre elas seria a migração das mídias para o software, que permite novas
formas de distribuição e interatividade. Entretanto, as novas mídias se valem das convenções
culturais já existentes e construídas pela chamada velha mídia.
VILÉM FLUSSER
Comecemos pelo rádio. Embora tenha classificado o rádio como um meio quente pela baixa
participação do público, McLuhan, por outro lado, escreveu o texto Rádio, o tambor tribal, o
trigésimo capítulo do clássico Understanding Media: The Extensions of Man, em que discorre
sobre como o rádio restabeleceu uma conexão íntima com a cultura oral.
O meio, com seu poder de envolver, teria alargado a audição, como notam Del Bianco e
Meditsch (2005). McLuhan, apontam os autores, recorreu à metáfora do tambor tribal para
definir o rádio como uma tecnologia que fortalece a conexão do homem com o grupo, com a
comunidade, que foi capaz de reverter rapidamente o individualismo do homem
tipográfico para o coletivismo. O rádio, para Del Bianco, trouxe à tona ecos de antigos
tambores tribais.
ESSA FORÇA ARCAICA DO RÁDIO, SEGUNDO
MCLUHAN, ESTÁ NA PRÓPRIA NATUREZA
TECNOLÓGICA DO MEIO. AO PRODUZIR IMAGENS
AUDITIVAS, O RÁDIO CRIA UM AMBIENTE
TOTALMENTE INCLUSIVO E ABSORVENTE QUE
PROPICIA ÀS PESSOAS UM MUNDO PARTICULAR EM
MEIO ÀS MULTIDÕES. ALARGA O SENTIDO DA
AUDIÇÃO E AS FACULDADES HUMANAS, TORNANDO-
SE UMA EXTENSÃO DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL. POR ESSA CARACTERÍSTICA, ALTERA OS
ÍNDICES DE SENSIBILIDADE OU MODOS DE
PERCEPÇÃO DE QUEM TRANSITA EM AMBIENTES
MOLDADOS POR ELE.
Em relação à televisão, à mídia digital e à mídia impressa, alguns autores defendem que nelas
a imaginação seja limitada pela presença de imagens. O argumento vai na contramão de
McLuhan. Como já vimos, desde então, a configuração da TV se modificou.
Pode soar estranho atualmente imaginar que uma TV nos anos 1960 pudesse acionar um
mundo audiotátil, e não audiovisual, como defendia McLuhan. Com alta definição e som
surround, agora a televisão se aproxima mais da experiência audiovisual do cinema. Estivesse
exagerando ou não, o autor canadense foi um visionário. E não se pode esquecer das smart
TVs, que podem inclusive ser acionadas por gestos. Já poderíamos afirmar que a TV é
audiovisual e tátil. E podemos ir além se considerarmos o uso crescente de dispositivos
acionados por comando de voz interconectados com os smartphones.
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OS DISPOSITIVOS MÓVEIS E A
TACTILIDADE
É possível notar a influência da materialidade como impulsionadora de uma nova linguagem no
conteúdo produzido para telas sensíveis ao toque, como os smartphones e os tablets. Palácios
e Cunha (2012), ao analisarem os impactos desses novos dispositivos sobre o jornalismo,
enumeraram a tactilidade como mais um atributo do ciberjornalismo contemporâneo, além da
multimidialidade, hipertextualidade, interatividade, customização, memória e da
instantaneidade. Embora tenham analisado os efeitos sobre o jornalismo, cabe ressaltar que as
conclusões a que chegaram se aplicam a quaisquer produtos desenvolvidos para esses meios.
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A LINGUAGEM HIPERMÍDIA E A
INTERATIVIDADE
Interação é a palavra-chave para a compreensão da mudança radical de um consumo mais
passivo de informação que caracterizou a era dos meios de comunicação de massa para um
mais ativo na era digital. Bardoel e Deuze (2001) identificaram quatro características do
jornalismo online que se aplicam de modo geral aos produtos veiculados na rede mundial de
computadores: a hipertextualidade, a interatividade, a mutimidialidade e a customização de
conteúdo.
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com a máquina
com o conteúdo
com outras pessoas – seja o autor ou outros leitores
MIELNICZUK, 2001.
No trecho destacado, a autora indiretamente está abordando outra característica gerada pela
navegação na web: a customização. No exemplo, ela menciona a customização gerada pelo
percurso de leitura escolhido pelo usuário por meio dos hiperlinks. Nenhum produto será único,
já que existem escolhas o tempo inteiro a serem feitas pelo usuário, como em um jogo.
Dependendo das opções que façam, os usuários serão apresentados a diferentes alternativas
de leitura.
A customização tem duas outras faces: em muitos sites e aplicativos, o usuário configura os
produtos de acordo com suas preferências. Entretanto, existe ainda uma customização
algorítmica nas redes sociais e nos mecanismos de busca. Por meio do nosso comportamento
ao navegarmos na web, os algoritmos presentes nessas plataformas filtram o que nos será
mostrado e ocultado.
NO CASO DO JORNALISMO, TAL FILTRAGEM PODE TRAZER
CONSEQUÊNCIAS IMPREVISÍVEIS, TENDO EM VISTA QUE
APENAS ALGUMAS NOTÍCIAS SERÃO MOSTRADAS AOS
USUÁRIOS NAS REDES SOCIAIS (BARSOTTI, 2018). UM DOS
PRINCÍPIOS DO JORNALISMO É JUSTAMENTE LEVAR
DIVERSIDADE DE PONTOS DE VISTA AOS USUÁRIOS. A
CULTURA ALGORÍTMICA TAMBÉM ENVOLVE QUESTÕES DE
PRIVACIDADE E ALGUNS AUTORES DEFENDEM QUE PODE
INDUZIR ESCOLHAS E COMPORTAMENTOS.
No vídeo a seguir, Anderson Lopes, doutor em Ciências da Comunicação pela USP, explica os
dilemas da customização e da cultura algorítmica.
Por fim, resta descrever os efeitos da hipertextualidade. A conexão entre os textos por meio de
links rompe com a linearidade da leitura tal como no texto impresso. Essa característica da
linguagem digital também contribui para a personalização do conteúdo, já que cada leitor
escolherá seu caminho de leitura. É claro que, no jornal impresso, você também poderia ler
apenas o primeiro parágrafo de uma notícia, abandoná-la e decidir pular da Política para o
Caderno de Esportes, por exemplo. Ainda assim, o “cardápio” de notícias ofertado a você seria
composto apenas pelas notícias que aconteceram no dia anterior.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) Processo que leva à incorporação de um meio pelo outro nos dois sentidos: da mídia mais
velha para a mais nova e vice-versa.
B) Os dispositivos móveis, com telas sensíveis ao toque, acionam a visão, a audição e o tato.
C) A leitura dos jornais impressos aguça a visão, direcionando a uma leitura linear.
GABARITO
1. Embora a palavra hibridismo ou hibridização tenha surgido nos anos 1960, ela ganhou
força e um significado mais palpável com o advento da internet. As afirmativas abaixo
representam características do hibridismo, exceto:
A televisão, pela definição de McLuhan, teria nos levado de um mundo tipográfico para um
mundo audiotátil. O conceito de McLuhan foi cunhado em uma época em que a TV
apresentava imagens de baixa qualidade e que, portanto, demandava do telespectador
diversos sentidos para interpretar os pontos na tela a que estava assistindo. Com a evolução
dos aparelhos, a TV se aproximou do cinema, com imagens de alta definição. Mesmo assim,
ela é, no mínimo, um meio audiovisual: aciona a visão e a audição. Já há alguns aparelhos
comandados por gestos no mercado. Nesse caso, a televisão seria audiovisual e tátil.
MÓDULO 3
Você já assistiu a Black Mirror: Bandersnatch? No filme, os usuários podem decidir cinco finais
possíveis para o personagem Stefan, um jovem programador que desenvolve um game nos
anos 1980 que começa a misturar a realidade com o mundo virtual. O destino do personagem
principal é fruto das escolhas dos usuários. Foi a primeira experiência interativa do serviço de
streaming Netflix.
Outro exemplo são os QR codes que têm aparecido em intervalos comerciais de TV, para que
se saiba mais sobre alguma oferta. Ou, em uma emissão de rádio, o âncora anunciar que
determinado ouvinte está enviando informações por WhatsApp. Ou, ainda, a escolha de
assentos nas compras online para ir fisicamente assistir a um filme. Ainda será possível
distinguir tão marcadamente as mídias online e offline?
BROADCAST E INTERCAST
No livro We media: How audiences are shaping the future of News and information, Bowman e
Willis (2003) fizeram a distinção entre a mídia broadcast e a que denominaram como intercast.
A mídia broadcast seria representada pelos meios analógicos de comunicação de massa:
jornais, cinema, rádio e televisão. A intercast seria composta pelos meios na internet. Para os
autores, a rede mundial de computadores facilita a comunicação horizontal, diferentemente dos
veículos tradicionais, que seriam de comunicação vertical.
No sistema broadcast, que consideram mais hierarquizado, as decisões são centralizadas e
comunicadas para o público de cima para baixo. Os meios analógicos teriam consolidado um
modelo de relacionamento com suas audiências dentro do conceito clássico de emissor-
receptor. Como se fosse “eu falo e vocês escutam”. Tal modelo se baseava numa amostragem
do público que era possível de ser obtida com pesquisas quantitativas e qualitativas de
mercado. No caso dos jornais, a aferição era feita pelo Índice de Verificação de Circulação
(IVC), que recentemente foi renomeado e agora se chama Instituto Verificador de
Comunicação, passando a medir também os assinantes digitais.
BROADCAST
Decisões centralizadas
Comunicação vertical
INTERCAST
Feedback instantâneo
Comunicação horizontal
Imagine o desenho de um dinossauro. A parte principal do seu corpo é bem mais alta do que a
cauda, que é longa, mas tem pouca altura. O mercado de nicho seria como a cauda de um
dinossauro. Há pouco ou nenhum impacto no mercado quando esses produtos são lançados,
mas a demanda por eles, embora baixa em termos de volume, é contínua. Anderson observou
que existia uma “cauda longa” na busca por tais produtos e notou três características principais
desta teoria: “(1) a cauda das variedades disponíveis é muito mais longa do que supomos; (2)
ela agora é economicamente viável; (3) todos esses nichos, quando agregados, podem formar
um mercado significativo.” (ANDERSON, 2011, p.10)
Vamos recorrer a um exemplo prático: em 2018, a youtuber Jout Jout leu o livro infantil A parte
que falta em um vídeo em seu canal. Houve um aumento de mais de cem vezes nos pedidos
de livrarias, e a editora Companhia das Letrinhas anunciou uma reimpressão para dar conta da
Amazon. O livro, que não era um lançamento, ficou no topo dos mais vendidos no site de
compras.
Uma pesquisa do IBOPE Conecta, sobre o comportamento do usuário brasileiro, mostrou que
95% deles assistem à TV e navegam pela internet ao mesmo tempo. Dentre eles, 9% assistem
à TV e navegam na internet simultaneamente para interagir com a programação a que estão
assistindo e outros 9% discutem com amigos sobre o programa que estão vendo. Não é à toa
que, durante as transmissões de programas populares, como o Master Chef e o Big Brother, e
de partidas de futebol, hashtags referentes a eles entrem no topo dos Trending Topics do
Twitter. No caso do Big Brother, por exemplo, os telespectadores podem votar pela internet
para escolher quem será o eliminado da vez.
Paremos para pensar nas outras mídias de massa da era analógica. O rádio foi estendido para
as redes sociais, aplicativos de trocas de mensagens e até mesmo para a televisão. Os
repórteres da Band News, por exemplo, depois de gravarem suas reportagens em áudio,
precisam fazer um vídeo para ser publicado nas redes sociais da emissora. Eles também
podem ser solicitados a gravar a mesma reportagem para ser exibida na televisão aberta. Os
principais programas de estúdio têm transmissão ao vivo pelo Facebook. Além disso, diversas
pautas surgem porque os ouvintes são convidados a enviarem denúncias e sugestões pelo
número de WhatsApp divulgado no ar. Se um ouvinte perder a programação ao vivo, ela
também estará disponível no aplicativo da rádio. Aliás, isso também vale para a TV. A TV
Globo, por exemplo, envia a programação da TV aberta para o aplicativo Globoplay para
smartphones e smart TVs.
Fonte:Shutterstock
BARSOTTI, 2017.
MANUEL CASTELLS
Pierre Lévy está entre os autores que apostam nos efeitos democratizantes da rede. Em
Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio, Tapscott e Williams
veem com bons olhos o desaparecimento das fronteiras claras entre público e autor na internet.
Eles se referem aos prosumers, termo criado por Toffler (1980) para designar o produtor-
consumidor (producer + consumer, em inglês) de conteúdo. Para os autores, a democratização
da tecnologia estaria permitindo a inclusão de todos.
Cabe aqui uma ressalva: como vimos, apenas 51% dos habitantes do planeta têm acesso à
internet. No Brasil, a exclusão digital atinge um a cada quatro brasileiros, de acordo com dados
do IBGE.
Rosenbaum (2011) utiliza o termo curador de conteúdo que, para ele, é exercido tanto por
amadores quanto por profissionais, sem hierarquia entre eles. Ele enfatiza, no entanto, o valor
da curadoria humana sobre a dos algoritmos, que também atuam na seleção de conteúdos
na web: eles estão presentes nos sistemas de recomendação, nas redes sociais e nos
buscadores. Eles filtram nossas buscas e escolhas, mas são os humanos que adicionam valor
à informação, ressalta o autor.
Por outro lado, há autores que enxergam como preocupante o excesso de informações
publicadas por amadores na web, sem curadoria. Andrew Keen (2009), em O culto do amador,
é bastante crítico. Ele sustenta que a nação web 2.0 é tão digitalmente fragmentada que
não é mais capaz de debate informado. Para ele, na web, “as palavras do sábio não
contam mais que os balbucios de um tolo.” Vale lembrar que Keen escreveu o livro muito
antes do cenário a que estamos assistindo, de propagação de desinformação, com as
chamadas fake news.
Fonte:Shutterstock
ESSE APAGAMENTO DAS LINHAS ENTRE PÚBLICO E
AUTOR, FATO E FICÇÃO, INVENÇÃO E REALIDADE
OBSCURECE AINDA MAIS A OBJETIVIDADE. O CULTO
DO AMADOR TORNOU CADA VEZ MAIS DIFÍCIL
DETERMINAR A DIFERENÇA ENTRE LEITOR E
ESCRITOR, ARTISTA E RELAÇÕES-PÚBLICAS, ARTE E
PUBLICIDADE, AMADOR E ESPECIALISTA. O
RESULTADO? O DECLÍNIO DA QUALIDADE E DA
CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO QUE
RECEBEMOS, DISTORCENDO ASSIM, SE NÃO
CORROMPENDO POR COMPLETO, NOSSO DEBATE
CÍVICO NACIONAL.
KEEN, 2009.
Wolton (2010) vai na mesma linha de pensamento. Para ele, a informação se tornou
abundante, mas a comunicação é uma raridade no cenário contemporâneo. Daí a necessidade
do intermediário, que seria o jornalista.
NÃO É O SUPORTE QUE DÁ SENTIDO À
INFORMAÇÃO, NEM O RECEPTOR, MAS O
JORNALISTA. NESSA LEGITIMIDADE DO JORNALISTA
RESIDE O PAPEL ESSENCIAL DA PROFISSÃO DE
INTERMEDIÁRIO, QUE MUITOS QUEREM REDUZIR, OU
SUPRIMIR, EM FAVOR DE UMA SUPOSTA
‘DEMOCRACIA DIRETA’.
WOLTON, 2010.
Um dos maiores youtubers do país, Felipe Neto disse, em entrevista ao jornal Folha de S.
Paulo (MEIRELES, 2020) que, sem os jornalistas, “não há chance de batalha” contra “os
obscurantistas, negacionistas e revisionistas”, referindo-se ao cenário das fake news em meio
à pandemia de coronavírus. “É preciso destruir o terraplanismo científico e histórico e trazer à
luz (e à popularidade) os verdadeiros cientistas, historiadores e comunicadores comprometidos
com a verdade”, afirmou.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) A metáfora das “mídias-sol” foi utilizada por Ramonet para caracterizar os meios de
comunicação de massa no cenário contemporâneo da comunicação.
A) Produtos de nicho, antes da internet, não tinham visibilidade porque não entravam em
cartaz nos cinemas, não chegavam às livrarias nem tocavam nas rádios.
B) No varejo online, existe uma busca infinita por produtos de nicho que, somados,
representam um mercado significativo para bens culturais.
GABARITO
MÓDULO 4
Será que é 100% verdadeira a afirmação de que a leitura de um livro ou de um jornal é sempre
linear? Quantas vezes você já ficou curioso em saber logo o final de um romance e foi xeretar o
fim do livro? Ou ainda pulou da página 5 de um jornal e foi direto para o Caderno de Cultura,
evitando a leitura do noticiário local e internacional, que vinham nas páginas imediatamente
seguintes àquelas em que você estava? Agora pensemos no mesmo livro e no mesmo jornal
sendo lidos em um dispositivo móvel. É claro que você também pode “pular” páginas tanto no
e-book quanto no jornal que estão disponíveis em sua tela. A diferença é que poderá optar
também por outros caminhos a partir dos hiperlinks que encontrar em ambos. De um livro,
poderá até mesmo ir para outro. De uma edição do dia do jornal, poderá ir para a da semana
anterior.
Fonte:Shutterstock
O objetivo de Nelson, que era estudante em Harvard, era facilitar a escrita não linear. Por meio
de um documento eletrônico, o usuário poderia escolher seu próprio caminho de leitura. No
livro O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço, Lúcia Leão (1999)
expõe o pensamento de Nelson: para ele, o hipertexto se constitui de escritas associadas
não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em
diferentes direções.
Fonte:Shutterstock
Refletindo sobre as diferenças entre hipertexto e hipermídia, George Paul Landow afirma que
o hipertexto é composto de fragmentos de texto e dos links que os conectam entre si. Para ele,
o termo hipermídia estende a noção de hipertexto, ao adicionar informação visual, sonora,
animação e outras formas de informação, além do texto (apud FACHINETTO, 2005).
George Paul Landow é professor emérito de História da Arte na Brown University. Ele é
um especialista em literatura, arte e cultura vitoriana, é ainda pioneiro em crítica e teoria
da literatura eletrônica, hipertexto e hipermídia.
Vale lembrar que, assim como no hipertexto, o usuário também escolhe seu caminho na
hipermídia: posso decidir entrar em outro vídeo “linkado” ao que estou assistindo, posso
interagir com infográficos (de modo que eles me apresentem os dados específicos que estou
buscando), posso seguir alternativas distintas em games e assim por diante.
Como já vimos, desde a invenção do telégrafo, os jornais passaram a noticiar eventos que,
antes, só poderiam ser incluídos nas edições muito tempo depois de terem acontecido. Teria
começado ali uma nova noção geográfica e temporal, que se aceleraria no século XX, com o
rádio e a TV. As transmissões ao vivo (o “aqui” e o “agora”) nos teriam levado à aldeia global
prevista por McLuhan. Eventos distantes geograficamente passaram a ficar próximos de nós e
com cada vez mais instantaneidade.
PULP FICTION
O hipertexto é, portanto, uma inovação narrativa anterior à era digital. Mas o cenário digital
acelerou o processo. As histórias impressas, os filmes, os áudios e os vídeos estão
transformando os formatos lineares do passado. Aguiar e Barsotti (2010) sustentam que seria
ingênuo acreditar no purismo do texto impresso atualmente porque ele se interpenetra
profundamente com o eletrônico, a começar pelo meio em que são escritos.
MESMO QUE NÃO SE UTILIZE NENHUM RECURSO
DIGITAL COMO TÉCNICA DE LEITURA, É PRECISO
LEMBRAR QUE TODOS OS LIVROS E OS JORNAIS
QUE SE DESTINAM AO SUPORTE IMPRESSO SÃO
ESCRITOS ATUALMENTE NO COMPUTADOR. OU
SEJA, ELES TAMBÉM SOFREM INFLUÊNCIA DO NOVO
MEIO E SÃO POR ELE MODIFICADOS.
Umberto Eco, assim como fez em Apocalípticos e Integrados, em que expôs os argumentos
dos críticos e dos defensores dos meios de comunicação de massa, buscou o equilíbrio ao
analisar os efeitos do hipertexto no livro Sobre a literatura. Para ele, os contos “imodificáveis”,
ou seja, os já consagrados pelos livros impressos, ao contarem uma história, também contam a
de cada indivíduo. Por isso, sustentou, são amados. Por outro lado, Umberto Eco viu valor no
hipertexto, que pode educar para a liberdade e para a criatividade.
No jornalismo, um marco inaugural desse uso de diferentes mídias foi o especial Snow Fall, do
New York Times, publicado em 2012. No ano seguinte, a reportagem, sobre uma avalanche
ocorrida no estado de Washington com vítimas fatais, ganhou o Prêmio Pulitzer. Dividida em
seis capítulos, a história foi contada utilizando recursos multimídia: infográficos animados,
vídeos aéreos, animações, fotografias e hiperlinks.
Para Vicente Gosciola (apud RENÓ, 2013), os termos também devem ser usados de forma
distinta. Ele nota que o cross-media é uma linguagem geralmente adotada pelo marketing e
que teria ambições voltadas para o mercado. Já a narrativa transmídia, contaria uma história
expandida e dividida em várias partes que são distribuídas entre diversas mídias,
exatamente aquelas que melhor possam expressar a sua parte da história. Ou seja, os
produtos transmídia seriam complementares.
RESUMINDO
Nos primórdios da internet, era comum veículos jornalísticos lançarem mão de uma estratégia
cross-media, distribuindo o mesmo conteúdo para várias plataformas. Mas aos poucos as
redações começaram a produzir conteúdos específicos para os meios.
Veja também a explicação do professor Anderson Lopes sobre multimídia, cross-media e
transmídia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Em um podcast, assim como quando se ouve música online, o usuário retorna para ouvir
alguns trechos que não compreendeu ou vai diretamente para o episódio ou a canção
seguintes caso não esteja satisfeito com o que está ouvindo.
GABARITO
1. O “núcleo duro” de cada meio vem se diluindo na era digital. Quanto maior for a
interseção entre eles, notaremos o fenômeno da convergência, que se sobrepõe à antiga
divergência da era analógica. Sobre a convergência, todas as afirmações abaixo estão
corretas, exceto:
A convergência permite a reunião das mídias analógicas com as digitais. Um exemplo: Uma
rádio continua com suas transmissões pelas ondas eletromagnéticas ao mesmo tempo em que
está presente na web, com seu site, e nos smartphones, seja em aplicativos ou em plataformas
de distribuição de podcasts, como o Spotify.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na passagem da cultura impressa para a digital, estamos assistindo a um longo caminho de
adaptações e mudanças que envolvem tanto o modo como produzimos quanto como
consumimos informação, o que engloba transformações tecnológicas, mas também culturais.
Se atribuirmos toda a revolução a que estamos assistindo no mundo contemporâneo à
evolução das máquinas, reduziremos o protagonismo dos humanos nesse cenário.
Para analisar esse cenário, estudamos os conceitos de meios quentes e meios frios,
hibridismo, mídia de massa e mídia de nicho, transmídia e cross-media. Assim, buscamos
entender os efeitos das novas mídias sobre nós, mas também as possibilidades que trazem
para os produtores de conteúdo do século XXI, que podem se valer das potencialidades de
todas elas.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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Exame. Publicado em: 12 fev. 2017.
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CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE
(Intercom Nordeste), 19.; DT 1 – JORNALISMO, 2017, Fortaleza. Anais, Fortaleza: Intercom
Nordeste, 2017.
BARDOEL, J.; DEUZE, M. Network Journalism: Converging Competencies of Old and New
Media Professionals. In: Australian Journalism Review, v.23, n.3, 2001.
BARSOTTI, A; AGUIAR, L. Duas telas, dois caminhos: a produção de notícias para celular
e tablet no panorama dos jornais brasileiros. In: Sur le journalisme, v.3, n.2, 2014.
BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. Cambridge: The MIT
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CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora Unesp, 1998.
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contextos. v.1. Florianópolis: Insular, 2005, p. 153-162.
FACHINETTO, E. A. O hipertexto e as práticas de leitura. In: Revista Letra Magna, v.2, n.3,
2005.
GAZETA DO POVO. Por que os brasileiros enviam tantos áudios de WhatsApp? In:
Gazeta do Povo, dez. 2007.
HAYLES, N. K. Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário. São Paulo: Global,
2009.
HEINRICH, A. Network journalism: Journalistic Practice in Interative Spheres. Nova York:
Routledge, 2011.
MEIRELES, M. Felipe Neto diz que gabinete do ódio tem a inteligência de uma geladeira
frostfree. In: Folha de S. Paulo. 6 jun. 2020.
ONG, W. J. Orality & Literacy: the technologizing of the word. Londres: Routledge, 1982.
ORTRIWANO, G. S. A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos
conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.
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Nova York: McGraw-Hill, 2011.
TOZZI, E.; GÓMEZ, N. Será que você está viciado no seu celular? In: Você S/A. 17 dez.
2018.
WOLTON, D. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias. Porto Alegre: Sulina,
2007.
EXPLORE+
Leia o texto Tradição oral e a preservação de culturas, de Fabiana Pinto, para saber mais
sobre a preservação da história entre membros de culturas de tradição oral, cujo
conhecimento se dá com base nos relatos dos antepassados transmitidos continuamente
dos bisavós para os avós, dos avós para os filhos.
Leia a íntegra da entrevista de Chris Anderson, autor do livro A Cauda Longa, para a
Revista Época (edição 433, 1º set. 2006), quando ele explica de forma clara sua teoria.
Embora tenha trabalhado durante muitos anos como jornalista nas revistas The
Economist e Wired, Anderson é formado em Física.
O especial transmídia Snow Fall – The Avalanche, do New York Times, é considerado um
divisor de águas no uso da transmídia no jornalismo. Em cada plataforma, o conteúdo foi
expandido e não meramente reproduzido como acontece nos projetos cross-media. O
sucesso foi tanto que Snow Fall também foi editado em e-book. Além dele, outros
especiais com as mesmas características foram lançados pelo jornal desde então:
CONTEUDISTA
Curadoria de Humanidades