Você está na página 1de 118

Unidade I

SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

Profa. Dra. Neusa Meirelles Costa


O que é comunicação?

Toda comunicação é uma relação social, que se


dá em sociedade, em uma cultura e condições
históricas. “Sacaram?”
http://cnews.com.br/content/imag
es/sites/cnews/g_80029.jpg

 Entre a palavra e o gesto ao lado criou-se a mediação


simbólica, cultural, articulando significados.

 Nesse exemplo, foram articuladas duas modalidades de


discurso: o texto (a palavra) e a representação imagética
de um gesto (o dedo polegar para cima).
O que se pode entender por comunicação social?

 A comunicação que circula na sociedade urbanizada pelo


capitalismo industrial, de trabalhadores assalariados,
alfabetizados em sua maioria, e que reivindicavam
atenção do Estado.

 Essa sociedade é constituída por gente que vive, trabalha, fala


e escreve, ela será o objeto de análise das nascentes ciências
humanas, e público da imprensa diária.
O que se pode entender por comunicação social?

 Nos jornais do séc. XIX, na França, além das “atualidades” e


do sensacionalismo, apareciam os primeiros folhetins;

Eles garantiam para os jornais:


 A fidelidade dos leitores, interessados na “continuação”
da estória,
 Elevação da renda com as tiragens.
 Esse modelo de comunicação social que a Sociologia da
Comunicação vai eleger como objeto de estudo.
Comunicação social e meios de comunicação social

 Os agentes dessa modalidade de comunicação são os


“meios” ou “veículos” (embora essa denominação
seja um tanto limitadora);

 Eles divulgam um mesmo conteúdo, intencionalmente


preparado, e o destinam à toda sociedade e seus segmentos;

 Os “meios” ficam interpostos entre o conteúdo que produzem


e a recepção, e têm uma história que antecede aos hoje
conhecidos: rádio, telefone, cinema, TV , Internet etc.
Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

Foram os folhetins dos jornais que deram origem ao que os


especialistas denominam cultura de massa, associada a uma
sociedade de massas. Traços centrais:

 Cultura de massa: vem da ampliação do alcance da


comunicação, do conteúdo simplificado, da superficialidade;

 Sociedade de massas: homogeneidade, semelhança,


consumo, facilmente conduzida, indiferente à cultura,
mediocridade e esnobismo.

 Mas por quê?


Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

 Sociedade de massa remete a um modelo de sociedade


industrial, caracterizado pelos “ganhos de escala” na
produção, utilização intensiva do fator trabalho, e pela
expansão do consumo dos produtos em série:
o mesmo carro, rádio e jornal (fordismo).

 Outro modelo, posterior, é keynesiano, segundo o qual o


trabalho intensivo com apoio e participação do Estado,
resultava no chamado “pleno emprego”, e na expansão
da sociedade de consumo.
Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

 Esses modelos societários (trabalho intensivo, emprego,


renda média) supostamente conduziriam a certa uniformidade
de expectativas no consumo de mercadorias e bens, uma
“uniformização” pela média dos gostos, expectativas,
padrões e valores;

 Eles levariam a uma sociedade de ampla classe média urbana,


ou uma sociedade de massa alimentada em suas expectativas
por meios de comunicação que atingem a todos com o mesmo
conteúdo: os mesmos filmes, programas de rádio,
e depois de televisão.
Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

 Os meios de comunicação são realmente de massa, uma vez


que o sinal que atinge a todos é exatamente igual, mas...

 Na recepção esse sinal de massa é diferenciado pelo leitor,


ouvinte ou telespectador;

 A sociedade não “é” uma “massa” uniforme, mas diferenciada


em segmentos, nichos, particularidades das mais comuns,
como idade, sexo, a outras mais complexas, como valores, e
até mesmo, estímulo da própria comunicação publicitária.
Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

 Embora a “Comunicação de massa”, ou para a massa seja


padronizada, com aspectos do cotidiano como temas
principais, “pauta”, com fotos, caricaturas e charges,
“notícias” locais e mundiais.(modelo ainda adotado
em todos os meios), esse conteúdo é decodificado
pelo repertório do receptor;

 Então a sociedade não “é” uma “massa” homogênea, ela é


segmentada em públicos distintos, mas...
Comunicação social e sociedade de massas: refinando
conceitos

 No modelo societário contemporâneo predomina o


individualismo, associado ao consumo, e o desinteresse
pelo social, para que não afete a vida individual, privada;

 Essa indiferença induz maior disposição em tomar


como verdades confiáveis os conteúdos dos meios
de comunicação: do mesmo modo que são aceitas
as notícias sobre a moda, são aceitas as notícias
políticas. Esse é o risco para a democracia.
Meios de comunicação: produção
Os meios combinam formas discursivas distintas, portanto
realizam uma comunicação social transdiscursiva.
Veja o gráfico:

fotografia
Meios, mediação simbólica e Sociologia da
comunicação
Observe as mediações (articulações) realizadas pelos meios de
comunicação:

´
Meios, mediação simbólica e Sociologia da
comunicação

 Os dois gráficos apontam que a comunicação realizada


pelos meios é intencional e elaborada para um dado
receptor (público);

 Ela é sempre uma mediação, e simbólica porque é


consistente com a matriz cultural, e porque antecipa
o repertório do receptor;

 Essa mediação simbólica é produzida jogando com a


diversidade de formas discursivas, por isso, é possível
passar a “imagem” de um perfume no comercial da TV.
Interatividade

Sobre o conceito de sociedade de massas aponte


a alternativa correta:

a) Massa como uniformidade, não se aplica a uma


sociedade individualista.
b) Os meios de comunicação são massivos, e produzem
para a massa.
c) Da amplitude e universalidade da comunicação dos meios
de comunicação resulta a sociedade de massa.
d) A recepção do sinal da comunicação só depende do
equipamento utilizado.
e) Todos os receptores se apropriam do mesmo conteúdo
das mensagens.
Sociologia da comunicação - Meios e mediação
simbólica

A Sociologia da comunicação estuda o conteúdo difundido


pelos vários meios com relação:

 Às condições de elaboração das mensagens,

 À adequação (mediação) do conteúdo ao meio e ao receptor


(sociedade ou público escolhido).

 Às condições de recepção, e implicações sociais do conteúdo.


Sociologia da comunicação
Meios e mediação simbólica

As questões propriamente sociológicas relacionadas aos meios


de comunicação começam pela produção da mensagem:

 A tendência da produção é construir a mensagem


da forma mais simples, exatamente para poder
atingir um ‘público’ maior;

 Uma novela brasileira, por exemplo, pode ser entendida


por crianças e adultos que tenham domínio de nossa
língua falada, embora a compreensão de adultos
e de crianças possa ser diferente.
Sociologia da comunicação
Meios e mediação simbólica

Estabelecida a contradição entre o meio de comunicação (que é


de massa) e o social (que é segmentado), o caminho encontrado
tem variado conforme o meio:

 A televisão simplifica o conteúdo, ou reserva os mais


complexos para os chamados “programas culturais”,
sabidamente de menor audiência;

 Nas rádios a segmentação não é por programa, mas por


emissora: uma que ‘só toca notícia’, enquanto outras se
dedicam ao rock, outras à música brasileira etc.
Sociologia da comunicação
Meios e mediação simbólica

 A fotografia depende da destinação: para jornal ou revista


sensacionalista, são focalizados os detalhes do “evento”: o
sangue, destroços etc. Há fotógrafos que evitam “clicar” o
rosto das mães quando sabem da morte de seus filhos, outros
fazem desse momento um “diferencial” em suas fotos (uma
questão de ética);

 O sensacionalismo se reflete nas manchetes dos jornais:


corpo da fonte e texto. Notícias Populares não podia ser
dobrado: vertia sangue, e as manchetes, eram tão “relativas”
que dependiam da interpretação.
Sociologia da comunicação
Meios e mediação simbólica

 A Internet tem caráter próprio: ela é individualizada por


natureza, mas também os provedores vão adquirindo um
‘perfil’ próprio, quando dão ênfase a certo tipo de notícia,

 Youtube, Orkut e as “redes sociais” instauraram um espaço


de visualização e devassa da vida privada, igualmente com
características sensacionalistas.
SC: Mediação e repertório cultural

 Na produção de uma matéria para jornal ou revista de larga


circulação, na construção de uma peça publicitária, cartaz ou
filme, ou ainda em um programa de TV, aquele que produz a
comunicação antecipa ou supõe um perfil cultural do receptor;

 O processo não é objetivo, pode até ser carregado de


preconceitos, contudo é utilizado;

 Repertório cultural é, pois, a bagagem cultural de um público,


ao qual se destina a mensagem, seja ela qual for.
SC: Mediação e repertório cultural

 O repertório permite compreender criticamente o que


apresentado na tela, no cartaz, ou no texto: ele é o
“fora da tela” que permite “entender” um filme;

 Nesse repertório estão subentendidos os valores sociais,


ideias correntes na sociedade, ou em segmentos sociais
específicos;

 A mensagem (supostamente) se torna mais aceita quando


existe esse mútuo entendimento.
SC: Mediação e repertório cultural

Na Publicidade, o “fora da tela” aparece articulando valores


sociais a produtos:

 “Gosto de tirar vantagem de tudo, certo”? (individualismo,


competição).

 “Ontem é passado, eu nunca penso no passado, o único dia


que importa é hoje” (negação da história, imediatismo).

 As duas peças distam em 30 anos, mas supostamente


a classe média brasileira que consumia cigarros,
e a que hoje compra aparelhos de barba se
mantêm individualista e imediatista.
SC: mediação e repertório na imagem publicitária

 Cartaz do filme (repare na imagem) crítica à tortura, ainda na


Ditadura Militar;
 Walita, anos 60 “Quem tem walita, tem tudo!”
(valores, Consumo/felicidade)
 O “Papa” e a Bombril (oportunidade)

http://imagens.us/marcas/bo
mbril/bombril%20(1).jpg

https://1.bp.blogspot.com/_bP-
XzCGugbg/RxTvyxOQBJI/AAAAAAA
AAC0/_ssYGHScHy0/w1200-h630-p-k-
no-nu/Eletros+Walita+1960.jpg

https://upload.wikimedia.o
rg/wikipedia/pt/c/c4/Pra_fr
ente_Brasil_filme.jpg
SC: Produtos culturais

 O que se deve entender por Produto Cultural?

Toda a produção dos meios de comunicação. Simples?


Não, complexo:

 Um livro de arte, uma exposição de pintura, um DVD, filme


seriam produtos culturais?

 Sim, a produção desses itens (edição, distribuição e


comercialização), mas não a criação do livro, dos quadros, da
música: essa criação se insere em campos distintos da arte.
SC: Produtos culturais

 Quanto ao filme, ele remete a uma forma especial de “autoria”,


distinta da música e do livro: ele é resultado de um trabalho
de equipe, poderá ser copiado para vários exibidores,
mas em todas as exibições será o mesmo filme;

 Ele se insere em um campo da arte que permite a reprodução


(reprodutividade técnica), poderá ser considerado obra de
autor (tanto quanto os quadros), mas diferente destes, o filme
poderá ser exibido, copiado e continuar o mesmo, o que não é
válido para os quadros.
SC: Produtos culturais

 Produtos culturais são, portanto resultantes da atividade dos


meios de comunicação social;
Dessa condição advêm características peculiares
aos produtos culturais:
 Características:
a) Integram a cultura em todos os campos, mas são superficiais,
generalizam;

b) Pressupõem confiabilidade do receptor;

c) Pressupõem anuência e passividade do receptor,


dada a suposta confiabilidade;
SC: Produtos culturais

Características específicas:
a) Têm por finalidade entreter, informar, orientar, convencer e
dirigir o receptor (exercem controle e influência).
b) Simplificam o conteúdo e generalizam.
c) Têm finalidade econômica (para empresa), são tomados
como culturais na sociedade.
d) Na falta de repertório, o conteúdo é tido como a verdade
(quando é apenas uma versão).
e) Constituem a Indústria Cultural.
SC: Indústria e produtos culturais

 Concluindo...

 A indústria cultural tem finalidade econômica, e não cultural.

 A divulgação das modalidades de cultura é produto, meio para


realizar a lucratividade;

 Os produtos fornecem elementos para formação cultural, mas


não substituem o repertório cultural resultante da formação.

 Há riscos na divulgação da intolerância e de preconceitos.


Interatividade

Segundo o que foi visto, qual seria o foco principal


de estudo da SC?

a) Os índices de audiência.
b) A publicidade.
c) Os produtos da indústria cultural.
d) Elaboração, recepção e efeitos sociais da indústria cultural.
e) A sociedade que recebe os produtos da indústria cultural.
SC: Principais abordagens

 Mas Como a SC estuda a comunicação social?


A SC abrange três grandes áreas:

a) Como se apresentam os produtos culturais, quais


adequações aos distintos meios, ao receptor (sociedade) e
às condições sociais de recepção;
b) Como é recebido o produto, quais reflexos ele produz na vida
das pessoas e na sociedade,
c) Com quais intenções e finalidades, são produzidos?
SC: Principais abordagens

Dessas questões resultam dois grandes campos de


investigação:
1. Estudo da comunicação social, formas, conteúdos, e
interação entre eles, relações entre modalidades de produção
cultural, níveis de cultura: erudita, popular e “de massa”;
 Nesse campo é importante entender o que vem a ser
“modalidades de produção cultural e os chamados “níveis”:
SC: Principais abordagens

 As “modalidades” não representam grande problema: artes


plásticas, ciências, culinária, música, design são modalidades
dentre muitas outras;

 Quanto aos “níveis” o conceito é severamente questionado,


especialmente pelo preconceito nele subentendido, conforme
será exposto em outro momento;

 Contudo, da relação entre essas formas culturais resultaram


algumas produções especiais, e conceitos a seguir:
SC: Principais abordagens

 Cultura erudita: a especializada, em geral arte; cultura


popular: criação do povo, ao longo da história; de “massa”,
a criada elaborada pelos meios de comunicação;
 Kitsch: é a provocação do efeito, e o “enfeite”, imitação,
o mau gosto na arte;
 Midcult: grosso modo, a cultura para a classe média,
apresentada como cultura;
 Brega: o que é popular, excessivo;
 Cult: aquele item, filme ou disco original, representante
de certo momento ou trajetória;
 Pastiche: a imitação de uma obra;
SC: Principais abordagens

2. Estudo dos meios de comunicação, formas peculiares de


produção e circulação das mensagens, reflexos sobre a
sociabilidade em face dos padrões associados à sociedade
industrial, de consumo e da chamada “pós-industrial” ou
contemporânea;

 Pode-se notar que temas presentes no campo anterior


reaparecem nesse, especialmente no que diz respeito às
formas de produção da comunicação social.
SC: Tendências de abordagem

Os dois campos se comunicam, em relação aos temas tratados,


mas as abordagens de investigação diferem:

a) Examinam criticamente os efeitos na sociedade e


peculiaridades de elaboração, da chamada “cultura de
massas” (Análise crítica e estudos posteriores);

b) Examinam a recepção das mensagens do ponto de vista de


seu alcance prático ou pragmático (Funcionalismo).
SC: Análise Crítica
(Escola de Frankfurt)

A expressão “teoria crítica” utilizada para indicar a reflexão da


Escola de Frankfurt, tem como referência o ambiente cultural,
político e social da Alemanha nazista:

 A suposta “racionalidade”, de “verdades incontestáveis”,


o apego à “ciência” e à tecnologia.

 Aspectos francamente estimulados pelos meios de


comunicação, pelo rádio nos discursos inflamados de Hitler,
pela mobilização partidária, cinema, desfiles, bandeiras etc.
SC: Análise Crítica
(Escola de Frankfurt)

 Para análise crítica,

 Os “frankfurtianos” utilizaram a revisão do marxismo, e a


incorporaram na análise da comunicação social pelos meios
de massa;

 A “novidade” residia em investigar o discurso deliberado dos


meios de comunicação na expansão do poder, da indústria e
do Nazismo;
SC: Análise Crítica
(Escola de Frankfurt)

Para os frankfurtianos duas questões se colocavam,


exigindo resposta:

 Como o pensamento racional, base da sociabilidade moderna,


se afastava da moral e da ética na condução da prática política?

 Quais condições e interesses levaram o homem moderno a


perder a individualidade, consciência social, e a se tornar
parte de uma “massa”?
SC: Análise Crítica
(Escola de Frankfurt)

 O Nazismo instaurara um padrão de sociedade pela


mobilização emocional, mas com um discurso de
convencimento racional sobre a justeza “histórica” dos
objetivos visados pelo Terceiro Reich, e sobre a “verdade
científica” da supremacia racial ariana;

 A mobilização emocional sustentava um discurso de


“racionalidade científica”, e esta adoção da racionalidade
econômica e da eficiência administrativa, da qual os campos
de extermínio eram um exemplo (mas não divulgado).
SC: Análise Crítica
(Escola de Frankfurt)

Indústria Cultural, características:

a) Quebra de espontaneidade;
b) Colagem de elementos culturais;
c) Integração deliberada do público;
d) Integração da arte superior e inferior,
e) O consumidor não é “rei”, mas target;
f) Seleção de “produtos” pelo efeito;
g) Os produtos são mercadorias;
h) A IC induz a anuência do consumidor;
i) Expansão da IC depende de processos sociais.
Escola de Frankfurt, tendências

 Indústria cultural e produto


cultural.
 (Leia o texto)
 Adorno: não há arte na indústria
cultural.
 Benjamin: novas artes existem
Adorno Horkheimer era da reprodutividade técnica
(cinema).
 Habermas: a ética na
comunicação

Benjamin Habermas
SC: Abordagem funcionalista
Pragmática e quantitativa

 O funcionalismo foi uma tendência muito em voga na


Sociologia dos anos 40-50, cujo propósito era o de
descrever e explicar o comportamento social partindo
da relação (função) ou correlação entre variáveis
(aspectos) com base empírica;

 No campo da comunicação,(audiência e publicidade)


tratava-se de investigar, com caráter pragmático o
aparecimento, circulação, permanência ou não das
mensagens, uma dinâmica nem sempre integrada
ou funcional, mas latente, ou ainda disfuncional.
SC: Abordagem funcionalista
Pragmática e quantitativa
Questão central: Como induzir indivíduos ao consumo, ao voto,
à adoção de posturas e opiniões?

Formação de
Opinião (com
Katz)

Preparação e
análise de
discurso
Interatividade

Qual seria a dimensão especial da comunicação social que


constitui objeto central da SC?

a) o fato de ela estudar as relações entre imagem, som e texto.


b) a dimensão histórica.
c) a atualidade da comunicação social.
d) a dimensão ideológica da comunicação.
e) a construção intencional da comunicação ampliada.
SC: Desenvolvimento das tendências, funcionalismo

 Funcionalismo: a abordagem quantitativa


(Lazarsfeld) foi ampliada.

 Persiste a suposição de que exista um ambiente de


sociabilidade comum a todos, ou acessível a todos.

 A sociedade seria então um conjunto de agentes de uma


mesma ordem social, participando, ou esperando participar,
da cultura e da sociedade em igualdade de condições.

 As distinções teriam origem psicológica.


SC: Desenvolvimento das tendências, funcionalismo

 Ora, essa é a concepção de uma sociedade


e cultura de massas;

 As diferenças na sociedade de mercado seriam


motivacionais? Essas questões dentre outras
fundamentam a crítica à tendência;

 Os rigores estatístico e da lógica de pesquisa desenvolvidos


pelos autores citados não têm sido observados em algumas
das pesquisas na área.
SC: Desenvolvimento, análise crítica

 Tendência crítica: incorporou elementos das tendências das


Ciências da Linguagem, da Sociologia e áreas correlatas.

 Atualmente encontra-se a perspectiva crítica nas análises


sobre os conteúdos produzidos pelos meios de comunicação,
e poderes exercidos.
SC: Desenvolvimento, análise crítica

 As ciências, a partir das últimas décadas do século XX,


deixam de manter fronteiras rígidas, e os estudos
interdisciplinares, em coerência com os “objetos” de
investigação;

 A reflexão sobre o processo de comunicação intencional e


ampliada, central à SC incorpora estudos de outras áreas, e
delas se aproxima;

 Vários autores, de tendências diversas, focalizam a produção


do conhecimento e comunicação na sociedade pós-moderna,
assentada sobre consensos provisórios e fugazes.
SC: Tendências atuais

 Reflexão de filósofos e sociólogos

Desses autores ficaram trajetórias distintas, todas apontando


para a presença fundamental dos meios de comunicação na
vida contemporânea, conforme apontado a seguir:
SC: Tendências atuais

 O trabalho de Lyothard instaura a preocupação com a


sociabilidade contemporânea, ou “pós-moderna”, como ele a
define. Ela não se pauta no modelo societário do capitalismo
industrial, ela é tecnológica, centrada na aparência, na
comunicação e no espetáculo (Dabord);

 Os meios de comunicação representam uma modalidade de


capital simbólico, instauram a verossimilhança, sucedâneo
para a “verdade” do conhecimento. Além disso, a televisão
cria (ou estimula) a passividade, o descompromisso
com o saber, aponta Bourdieu;
SC- Tendências atuais

 A dimensão passiva da sociabilidade contemporânea é central


ao trabalho de Baudrillard, na formação de uma grande
maioria silenciosa, articulada pelo individualismo, em
substituição à concepção de “social”, relacionado à
sociedade industrial;

 A preocupação de Foucault nas últimas obras foi a construção


do sujeito, que se constrói por suas práticas, tangenciando
modelos que a sociedade estabeleceu, um “sujeito de si”, de
sua sexualidade, um sujeito ético;
SC- Tendências atuais

As práticas que instauram conceitos e relações pelo discurso


estão presentes nas primeiras obras de Foucault, mas Bakhtin
empresta à questão outro entendimento, trabalhando
sobre a linguagem:

 Para ele, nada está fora da linguagem, daquela falada


ou escrita, mas que possui o poder de instaurar um
acontecimento, ou ser ela própria um acontecimento;

 Essa noção de movimento e de produção do conhecimento


pela linguagem, é fundamental à SC.
SC- Tendências atuais

Esses autores refletem sobre o conteúdo e modalidades de


comunicação produzidas pelos meios massivos:

 Não se pode condenar a chamada “cultura de massa”,


mas também não se pode absolvê-la, cabe ao sujeito
a análise (Eco)
SC- Tendências atuais

 Chomsky alerta para os consensos planejados pelos meios de


comunicação, os quais são úteis para as condições e valores
desses meios, mas são aparentes e podem ser enganosos;

 A tendência à construção de uma realidade de aparência,


de banalidade, entretenimento, é reafirmada por Barbero,
exatamente na discussão sobre as mediações realizadas
na prática da comunicação pelos vários meios
e a construção da realidade pelo discurso.
SC- Tendências atuais

 Por seu turno, se as verdades comunicadas são incorporadas


na prática da sociabilidade e nas relações com o Outro, cabe
ao sujeito a crítica, o reconhecimento de si, as escolhas
especialmente entre valores que se apresentam flutuantes,
nessa vida líquida contemporânea, conforme Bauman;

 Mas será esse sujeito habilitado para essa crítica?


Possivelmente não, aponta Morin, para tanto ele deveria ter
formado seu pensamento não na linearidade, mas na
complexidade das incertezas.
Conclusão

 As tendências da SC apontam para a importância da análise


do conteúdo da comunicação social, não apenas para aquele
conteúdo elaborado pela indústria cultural, mas também para
uma “peculiar discursividade” presente nas letras de música, e
nos discursos das minorias participativas, nas redes sociais;

 A fluidez da vida contemporânea remete, portanto para a


crítica, aquela capaz de repor a ética, quando o mundo dos
objetos e simulacros insiste na estética.
Interatividade

Qual das duas tendências apontadas oferece condições para


análise da comunicação social no Brasil?

a) A primeira porque quantifica.


b) Os funcionalistas, por causa da pesquisa de mercado e
consumo.
c) A análise crítica contemporânea.
d) A Escola de Frankfurt, porque relaciona comunicação à
expansão do capitalismo.
e) Qualquer uma, todas são válidas.
ATÉ A PRÓXIMA!
Unidade II

SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO

Profa. Dra. Neusa Meirelles Costa


A construção midiática do social e de suas práticas

Nessa unidade, o foco de discussão é dirigido para a


construção, pelos meios de comunicação,
de dois grandes temas:

a) A construção da produção e do consumo, estudando as


mediações simbólicas necessárias à articulação dos dois
extremos, um tema importante para publicitários e todos
que lidam com a comunicação social;

b) A construção do social, semelhanças e diferenças na


formação social brasileira, a construção do sujeito
e do Outro, e a construção da instância política.
Meios de comunicação: imprensa

 Jornais: os jornais brasileiros refletiram diretamente


as tendências políticas e muitos sucumbiram ante os
mecanismos de pressão financeira, especialmente
durante a ditadura;

 Mais antigos, no séc. XIX: Jornal do Comércio (PE),


O Estado de São Paulo, O Jornal do Brasil;

 Folha de São Paulo, O Globo: 1925;

 Outros jornais importantes: Diários Associados, Tribuna da


Imprensa e Última Hora, Notícias Populares, O Pasquim.
Meios de comunicação: imprensa

 Revistas: refletem mudanças nas condições econômicas do


país e sobretudo reflexos das tendências políticas e sociais: a
inserção dependente da economia brasileira nos cursos do
capitalismo, fortalecimento da sociedade de consumo;

 Títulos apareceram e desapareceram, segmentação de temas,


expansão dos quadrinhos (HQ);

 Coleções (obras) e em fascículos foram importantes no campo


editorial dos meados do século XX até hoje.
Meios de comunicação: rádio

 Começam como iniciativas de grupos e clubes (1922), logo


mudam o caráter;
 As rádios exerceram papel político fundamental (Revolução
de 30, de 32, Campanha da Legalidade 62);
 Rádio Jornal do Brasil (1935) produziu o programa A Voz do
Brasil, serviu de plataforma para o populismo (Getúlio);
 Outras rádios: Nacional, Mayrink Veiga, Tupi foram o espaço
de expansão da música popular (programas de auditório);
 Importante: Repórter Esso (1941).
Meios de comunicação: cinema

 Várias tendências e períodos: “chanchadas” dos anos 50, a


produção (Vera Cruz, SP) foi influenciada pelo realismo
italiano. O “caipira” na urbanização (Mazzaropi). No final dos
anos 50, o cinema começa a focar o brasileiro pobre (favelado,
nordestino): “Rio 40 Graus” (Nelson P. Santos);

 O CPC produz “Cinco Vezes Favela”;

 Cinema Novo (Glauber Rocha) cria uma estética e revoluciona


o cinema, focalizando sociedade e política.
Meios de comunicação: cinema

 Nos anos 70, as comédias eróticas mantêm a produção,


com apelo de público (crítica às elites);

 A produção quase desaparece com a extinção da Embrafilme


(Collor). Retomada com outros temas; criação da ANCINE;

 Aproximação com estética e temas da TV: “Cidade de Deus”,


“Cidade dos Homens”, “Grande Família”, “Os Normais”;

 Duas iniciativas importantes: Canal Brasil e o portal Porta


Curtas Petrobrás, ambos para divulgação da
produção nacional.
Meios de comunicação: televisão

 Tem início em 1950 (TV Tupi, SP), logo se expande (TV Rio):
produção cultural, óperas, teatro de vanguarda etc.;
 Organização: empresas concorrentes, combinando imprensa
e rádio: Record, Excelsior, Tupi, Globo;
 Importante papel na música popular: Festivais, Fino da Bossa,
Jovem Guarda;
 Hegemonia: integração nacional em rede, transmissão em
cores, aporte de capital externo, avanço tecnológico e
relacionamento político.
Meios de comunicação: televisão

 A diversificação de canais não retirou a hegemonia exercida


pela Globo, dada a composição da programação: Jornal
Nacional, novelas, programas semanais (Fantástico),
humor e “reality shows” BBB, em sua 12a versão;

 A TV paga reforçou essa organização;

 Os processos de constituição de uma “cultura de massas”


são aplicáveis à TV e exemplificados pela TV Globo, embora
não apenas a ela.
Meios de comunicação: internet

 Pouco mais de dez anos, permite a comunicação social e


individual em espaço também criado (virtual);

 Aparentemente, elimina a interposição do meio (imprensa,


rádio e TV) na comunicação, contudo depende do suporte
(provedores, máquinas de busca, armazenamento etc.);

 Impõe a dependência de recursos técnicos, de linguagem


e de ambiente (virtual) para a comunicação.
Meios de comunicação: internet

 Afetou a sociabilidade com as redes sociais, as relações de


mercado e, supostamente, substituiu conhecimento por
informação;

Instaurou a questão do armazenamento da comunicação e de


seu acesso:
 Toda informação pessoal fica disponível, o que implica no
risco de invasão de privacidade: é possível saber resultados
de exames, pizza preferida, compras realizadas em 2009;

 Quem terá acesso a essa informação e quando?


Conclusão

 Dois fatores decisivos no entendimento do papel dos meios


de comunicação: a) organização empresarial, sua finalidade
econômica; b) a interligação entre eles, condição para
exercício do controle sobre o “conhecimento da realidade”;

 A publicidade e o marketing atravessam esse campo e o


dividem com o jornalismo, cabendo aos três saberes práticos
a elaboração e produção dessa realidade para um público,
consumidor de produtos, ideias e de ideias sobre produtos.
Interatividade

A indústria cultural brasileira tem controle ideológico e formou a


cultura de massas, vulgar e simplificada?

a) Sim, ela produziu a cultura de massas.


b) Não, a variedade de meios não permite falar de “controle
ideológico”.
c) A diversificação de meios afeta o controle ideológico e a
massificação da cultura.
d) Não, não houve a formação da cultura de massas.
e) A cultura de massas produzida pela TV comprova seu papel.
Produção e consumo: articulação material em
simbólica

 É possível direcionar um produto ou serviço desconhecido a


um público conhecido, ou supostamente conhecido?

 Sim, mas...

 Será preciso articular (ou criar) imagens ou representações,


tanto para o público, quanto para o produto;

 E com certo saber de comunicação associar uma à outra.


Produção e consumo: articulação material em
simbólica

 Produzir implica em certa antecipação do consumo, mas


como se dá esse processo que antecipa o consumo?

 Implica em prever e projetar uma dada tendência de


comportamento social; portanto, é a sociedade,
com todas as suas contradições e complexidades
que oferecem base para essa antecipação;

 Referida ao tempo presente, mas em um deslocamento de


passado e futuro. Há historicidade embutida nessa previsão,
ou antecipação.
Produção e consumo: articulação material em
simbólica

 A associação será o conteúdo da comunicação,

 A mensagem poderá ser transdiscursiva ou não, mas será a


construção associada de duas materialidades (produto e
público);

 As duas socialmente orientadas por padrões, valores e


expectativas sociais;

 Mas nem sempre pré-existentes: o apelo simbólico da


“novidade” é grande.
Produção e consumo: articulação material em
simbólica

Apenas para efeito de exposição, é possível distinguir:

a. Produção material para consumo material e seu consumo


material;
b. Produção material para consumo simbólico e seu consumo
simbólico;
c. Produção simbólica para consumo material e seu consumo
simbólico;
d. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo
simbólico dessa produção.
Produção e consumo: articulação material em
simbólica

Duas observações conceituais:

 Práticas sociais: você pode entender como um


comportamento reiterado e também as ideias
que orientam esse comportamento;

 Articulação: a relação entre dois ou mais objetos


considerados (que podem ser ideias, coisas, ou ainda ideias e
coisas, assim como podem ser momentos da história,
segmentos sociais, processos sociais etc.).
Produção material para consumo material e o
consumo

 Se faz pela articulação com condições sociais, históricas e


culturais, que induzem o consumo e a produção;

 Mas consideradas isoladamente, elas aparecem como se


fossem realizadas por categorias sociais distintas;

Elas são construídas na aparência de vivências peculiares,


o que é inconsistente, porque:

 O trabalhador também é consumidor.

 Importante: o consumo material não esgota o consumo!


Produção material para consumo material e o
consumo

 Mas o consumo material reconstrói simbolicamente


os objetos produzidos. É nesse artifício de mediação
que se baseiam os comerciais.

 Ex.: “carros jovens” (?)


 “Tudo deu em pizza” toma uma prática alimentar (produção e
consumo material) por uma prática política de acordos e de
privilégios;
 É costume nos grupos maiores dividir a conta, assim como se
passa na “pizza política”: todos os envolvidos dividem o sigilo
em torno dos fatos e todos se fartam de impunidade.
Produção material para consumo material e o
consumo

 O cotidiano na sociedade capitalista congrega produção e


consumo, tanto material quanto simbólico;
 Essa dimensão da vida social é importante quando se pensa
na relação com os objetos, com estilo e design;
 Os móveis de estilo, o design dos objetos, o modelo
se difunde na série, diz Baudrillard, permitindo
o acesso a todos, mas...
 A “customização” reintroduz a diferença;
 A individualização fundamental.
Produção material para consumo material e o
consumo

 A customização adiciona um “valor marginal” ao produto (os


marketeiros dizem valor agregado), retira o produto da série,
da racionalidade da produção;

 Empresta ao produto “individualidade”;

 Pode ser atribuída de vários modos, inclusive com


equipamentos de série!

 Há todo um setor semi-industrial voltado a essa atividade


(inclusive os mais simples, dos adesivos).
Produção material para consumo simbólico e o
consumo

 Aqui, o foco incide sobre o consumo (fruição) de ambientes


requintados e de estilo, movimenta alguns segmentos
significativos da produção industrial, do setor
de serviços e dos meios de comunicação;

 Mas “aquilo que é dado como ‘estilo’ no fundo não passa de


um estereótipo, generalização sem nuanças de um detalhe
ou de um aspecto particular”.
Produção material para consumo simbólico e o
consumo

 O consumo simbólico se dá sob a forma de participação


ou envolvimento pessoal na ambientação, a busca do
consumidor é pelo “clima” criado com os objetos
e pela “personalidade do ambiente”;

 Depois do filme “Beleza Americana” (Sam Mendes, 1999),


pétalas de rosa vermelha espalhadas pelo chão, ou na
banheira, e velas espalhadas passaram significar
sensualidade;

 O “clima” alimenta a indústria de velas, o consumo para as


pétalas desfolhadas, competindo com os sachês de rosa.
Produção simbólica para consumo material e o
consumo simbólico

 Como construir as bases da produção simbólica para objetos


e equipamentos?
 Importante: suposta ausência de interposição (o publicitário
não fala do produto, é outro quem o faz, e com “credibilidade”
que não vem do produto);
 Articular momento histórico às peculiaridades do produto;
 Preservar a diferença social entre o consumidor e o “resto”,
pela felicidade que ele proporciona;
 Essa é a chave da produção simbólica para o consumo
material.
Produção simbólica para consumo simbólico e o
consumo simbólico

Dois aspectos são fundamentais a esse item:

1. a produção da cultura e práticas sociais nos meios de


comunicação e em certa modalidade de literatura;

2. o papel na formação e na disseminação de práticas sociais


articuladas a essa produção.

 Os dois aspectos são relacionados ao que se entende


por produto cultural.
Produção simbólica para consumo simbólico e o
consumo simbólico

 Trata-se da lógica econômica e social da produção e consumo


na ordem capitalista, aplicada à produção de conteúdo;

 A produção simbólica é tomada no âmbito da representação


material (objetos, coisas);

 O discurso de um conteúdo (tema, assunto, história, música,


notícia, evento etc.) é tomado em uma dada materialidade
(estatuto) refletindo nas condições abertas para sua
elaboração, notadamente remuneração de trabalho,
custos etc.
Produção simbólica para consumo simbólico e o
consumo simbólico

 A produção simbólica para consumo simbólico fornece ao


receptor conteúdos de como pensar e entender o mundo;

 Há um recorte sobre aquilo que seria necessário dizer,


considerando aquilo que é possível dizer.

 Concepções políticas e ideológicas (até partidárias) transitam


nesse campo e imprimem ao conteúdo, antes mesmo de
serem elaborados, os “pontos” importantes a serem
mencionados.

 Sensibilizando o receptor, oferece a ele modelos de ação


compatíveis com as valorações utilizadas.
Interatividade

A aplicação da lógica social e econômica teria implicações na


elaboração de conteúdo, em sociologia da comunicação?

a) Não, mas ele deve ser aceito pelo mercado.


b) Sim, implicações econômicas (custos) estéticas
(diagramação), estilo (ordem direta),
publicitárias e de mercado.
c) Depende do conteúdo: há demanda para ciências sociais.
d) Sim, mas depende da comercialização.
e) Sim, o conteúdo deve facilitar a visualização.
A construção do social: semelhanças e diferenças

 Lembrar que se vai discutir a “construção” do social pelos


meios de comunicação e não a constituição, ou configuração
do social ao longo da história;

 Reconhecer que a construção se mostra distinguida em


semelhanças e diferenças;

 Duas categorias, semelhantes e diferentes, que são reflexos


de um julgamento, ou apreciação, que as antecedeu, mas que
não está explícito.
A construção do social: semelhanças e diferenças

 A SC estuda os pressupostos adotados na construção;

 Nas peças publicitárias, as semelhanças são projetadas de


supostas características do público consumidor para que ele
se identifique com o produto, ainda que no imaginário;

 São “imagens sociais” as utilizadas pelos meios no processo


de construção:

 “Uai, sô, us mininim tava tudo bonzin.”

 “Us mano aliviaro a barra, firmeza?”


A construção do social: semelhanças e diferenças

 As “imagens” em texto são dizeres cotidianos, mas


permitiram a construção de uma “imagem” de que fala,
na ausência de visualização;

 Será o Rio de Janeiro a cidade “que sorri de tudo”? E São


Paulo, será sempre apressada “Vambora, vambora, tá na
hora” (imagens de letras musicais);

 Nos dois casos, essas imagens integram a identidade dessas


duas metrópoles, refletindo seus habitantes como espelhos
de mito.
Construção do social: espelho

Esse é o elemento central na construção das semelhanças:

 O “espelho” de apreciações reiteradas para uma coletividade,


permitindo a cada integrante nele se reconhecer, ou se
projetar, ainda que nele não se visualize individualmente;

 Esse “espelho” reflete a construção de uma identidade social


e um estágio, ou momento no “reconhecimento de si”, como
percepção do sujeito de si mesmo, de seus gostos,
preferências, atitudes, valores, corpo etc.
Construção do social: espelho

 Nos meios de comunicação, a construção das semelhanças


favorece a dimensão “inclusiva” do processo de identidade;

 O reforço nos traços particulares favorece o pertencimento e


identificação com subgrupos, ou certa dimensão “excludente”
do processo de identidade social;

 A integração do mercado fez do comum “regional”, o exótico


sofisticado das metrópoles. Ex.: pequi, açaí, fuxico.
Construção do social: espelho

 Na verdade, trata-se do mesmo processo perverso, de


natureza econômica e social, ou das mesmas forças de
produção e reprodução da ordem social;

 A dinâmica em movimento centrífugo produz “exclusão


social” e em movimento centrípeto produz a ‘inclusão social’;

 O “espelho” da identidade social se apresenta fragmentado:


cada fragmento é uma parte de uma identidade em mosaico
que caracteriza a sociedade brasileira.
Construção do social: espelho

 Em toda forma de convívio cotidiano, a distância social


aparece antes da palavra, como um enquadramento do olhar;

 A comunicação se estabelece de uma estranha forma pelo


incomunicável, a comunicação da distância, da diferença,
entre ‘quem’ é chamado e ‘quem’ chama;

 Mas o “mosaico” das diferenças motiva produtos culturais,


portanto, é preciso compreendê-las e saber reproduzi-las
nas telas grandes, pequenas e textos.
Construção do social: espelho

 A exigência implica aproximação com a cultura de referência,


fazendo uso de “artifícios” e recursos para acentuar
tais traços;
 No cinema e na TV, esses artifícios vão do ambiente e ao
corpo das personagens gestos, modo de falar, posturas,
suores, lágrimas, olhos, boca e sangue;
 Esse corpo produzido remete a personagem para um “lugar
conhecido” pelo espectador;
 É um “corpo social”, significante para a visualidade,
construção por mediação simbólica.
Construção do social: espelho

 As construções das diferenças sociais em imagem e texto


constituem expressão particular das mediações da
sensibilidade na expressão de Barbero (Barbero:2001);

 Construir a imagem desse Outro, diferente da pretensa


uniformidade geral, não é fácil, mas é necessária: na sua
“diferença” ele é assunto, é consumidor de ampla gama de
produtos e também é eleitor.
Construção do social: espelho

O Outro diferente pode ser construído “de fora”, acentuando


traços exóticos:

 A mulher brasileira não foi, nem é o arremedo de baiana “pop”


de Carmen; o carioca não era um “papagaio” malandro.
Construção do social: espelho

 Um recurso na construção do Outro nos meios visuais,


consiste em acentuar traços de sua tipicidade, tornando o
Outro risível (mas o caipira que inspirou Mazzaropi era
esperto e não era o Jeca).
A construção da corporeidade

 Corporeidade como o modo como aparecem as personagens,


sua fala e gestos nas cenas e nos textos, portanto, na
articulação de duas modalidades de discurso: visual (cinema,
fotografia e cartazes) e textual (letras das canções);

 Trata-se de transdiscursividade, logo é possível dizer que o


corpo percorre “na diagonal” os campos do texto e da
imagem, articulando-os entre si e se complementando,
e se “abre” para um campo correlato, a vida social,
incorporando sentidos, ou os perdendo.
A construção da corporeidade

a) A produção do corpo do Outro como objeto de desejo,


instrumento à disposição de quem canta de seu prazer;

b) A produção do corpo do Outro no devaneio, no delírio, na


paixão e na loucura de quem canta, no corpo do Outro reside
a ‘fraqueza’ do cantor, seus pecados e vícios: aquele corpo é
produzido no âmbito de uma ética e estética dos corpos;

c) A produção do corpo no âmbito das relações de poder,


presentes na ordem do trabalho, na sujeição amorosa, e a
partir de distinções sociais e referências visuais de
identidade social.
Interatividade

O conteúdo da produção simbólica abrange:

a) Apenas os sentidos culturais e sociais para dos


objetos e produtos.
b) Sentidos para objetos, práticas e valores para a vida
individual e coletiva, modo de ver o mundo e o Outro.
c) Ideias, mas não as práticas sociais a serem adotadas.
d) Valores, os valores existentes na sociedade.
e) As práticas e os critérios de consumo de objetos,
ideias e valores a eles relacionados.
A construção do cotidiano e da política

 A divulgação de “modos de entender a realidade e a vida”


implica na construção de verdades sobre o cotidiano;
 A aceitação desses “modos de entender” se dá no plano das
ideias e das práticas dos indivíduos;
 As verdades políticas e o próprio conhecimento pressupõem
atitude crítica e reflexão;
 Mas se apropriar da resposta correta não é conhecimento, é
informação; conhecimento e formação implicam capacitação
para fazer perguntas, formular hipóteses e buscar respostas
válidas.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Mas o que é a política?

 A palavra remete à ação participativa, articulação


de diferenças, visando a um denominador comum,
uma prática que envolve várias dimensões de poder,

 Afetadas pela comunicação ampliada, por todos os meios,


às quais se deve acrescentar o poder de mobilização.

 “Como é possível os meios de comunicação exercerem


papel político tão amplo?”
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 “Pela manipulação das informações” não é resposta


verdadeira;

 A mídia opera em um campo de concorrência e nele a


inverdade corresponde à quebra de confiabilidade, condição
para manter índices de audiência, publicidade etc.;

 Ela também atende às expectativas do público, portanto,


“manipulação” confere à mídia um poder que em realidade é
menos amplo, conforme Ciro Marcondes.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Para entender como os meios de comunicação exercem vários


poderes sutis, é preciso entender como o espaço político se
formou na sociedade brasileira e quais as trajetórias dos
sujeitos coletivos que dele participaram;

 Esse tema é tratado no livro texto desse curso;

 Aqui se vai dar ênfase aos recursos utilizados no exercício


desses poderes tão sutis quanto importantes na sociabilidade
contemporânea.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Os recursos não podem comprometer a confiabilidade, logo


são mais comuns;

 Escolha da “pauta” seguida pelo tratamento dessa pauta, e a


inserção da notícia política entre duas notícias “mais leves”,
especialmente esportiva;

 Repetição de palavras-chave, de imagens-chave:


desburocratização, privatização, modernidade, cidadania,
conscientização, são palavras ou bordões utilizados na
história política.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 As palavras-chave são um modo sutil de formar o “consenso


planejado” (Noam Chomsky), induzindo o público a pensar a
realidade política e social a partir dele, para “entender” o
cotidiano;

 A compreensão política exige repertório para análise e


reflexão; para isso não basta jogar com palavras fornecidas
pela mídia, é preciso a apreensão política do cotidiano
relacionando-a com um futuro em processo.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 A mídia realiza uma produção da realidade, para um público


que em geral não expressa opiniões;
 Esse processo resulta na formação das maiorias silenciosas
(Baudrillard);
 Uma vivência individualista, mas em sociedade, cabe a elas
responder e não questionar, muito menos reivindicar;
 A dimensão social política da vida coletiva escapa nessa
vivência, que tem eixo na vida privada, abrangendo no
máximo à família e aos conhecidos.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Essa despolitização do brasileiro, estimulada pelos meios de


comunicação, é também condição política;

 Na ausência de crítica e análise política, a crítica moral a


substitui, mas com superficialidade;

 O slogan tão usado, “abaixo a corrupção” é de natureza


moral, e não política;

 O slogan “mais moralidade na política” é vazio: de qual


“moralidade” se está falando?
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Outro recurso, para formar consenso em torno de candidato é


a exposição da vida privada, como atestado de moralidade
(argumento discutível);

 Um último recurso utilizado em campanhas políticas consiste


em criar uma “imagem” do candidato partindo de sua
presença pública, mais precisamente de sua aparência,
formação, hábitos e modo de falar (o candidato é objeto
de campanha de MKT, como qualquer produto).
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Nesse quadro, qual o papel das mídias na discussão da


cidadania?

 O discurso de cidadania não é limitado ao presente, mas se


projeta para um futuro desejável, um “vir a ser”;

 Não se trata mais de assegurar direitos, mas de exercer os


direitos assegurados, e de estendê-los a todos aos quais eles
são aplicáveis, implicando articulação entre a teoria e a
prática, ou o exercício nas condições concretas.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Isso significa que o discurso sobre cidadania não tem o


“Outro” como objeto, esse “Outro” é sujeito de seu próprio
discurso de cidadania, seja instalado pela semelhança, seja
pelo exercício do direito à diferença;

 Essa é a prática de movimentos de trânsito nacional e


internacional, dada a semelhança de condições vividas
por tais segmentos no Brasil e fora dele;

 São exemplos: CUFA, Movimento Hutuz Hip Hop, MST,


dentre outros.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Agora é um sujeito coletivo que fala para o “resto” da


sociedade civil; inverteu-se o sentido do discurso: é “de fora”
que o discurso chega para a sociedade, e não solicitante, o
sujeito se posiciona portador de um discurso tão competente
quanto outro qualquer, apenas diferente;

 É na pluralidade dos discursos que se instaura a democracia,


e não no consenso planejado.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 O conceito de hegemonia diz respeito à modalidade de poder


exercido por um grupo, segmento social, região ou país
dentre seus congêneres;

 Ela não é uma modalidade de poder que reflita uma situação


quantitativa (maioria), mas reflete uma situação “qualitativa”
de maior importância dentre os que são formalmente iguais;

 Não é situação estável e porque é dinâmica, formam-se


grupos que representam interesses não hegemônicos, mas
que organizados, podem contestar e rivalizar as tendências
hegemônicas.
Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia

 Qual o papel das mídias no debate da cidadania? Acompanhar


com interesse;

 Articulação entre a teoria e a prática, no exercício nas


condições concretas é a prática das minorias
participativas na sociedade contemporânea;

 No Brasil, essa prática é fundamental para a democratização


das relações sociais, e construção da cidadania, em uma
sociedade plural, mas que em lugar da pluralidade
preferiu se firmar na diferença.
Interatividade

A construção da cidadania é um projeto de caráter político.


Nesse caso, deve-se pensar que (aponte a alternativa correta).
a) Nele, os meios de comunicação devem ser afastados.
b) O rádio teria espaço em projetos dessa natureza,
mas a televisão não.
c) Um projeto dessa natureza seria beneficiado, desde
que o conteúdo fosse elaborado com tal finalidade.
d) Um projeto de construção da cidadania prescinde
dos meios de comunicação; bastariam reuniões
em comitês, leituras e nada mais.
e) A ideia de cidadania decorre da ideologia burguesa,
os meios de comunicação, instrumentos da
burguesia, comprometem a construção desse projeto.
ATÉ A PRÓXIMA!

Você também pode gostar