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UMA BREVE ANÁLISE ACERCA DAS DISTINÇÕES ENTRE TEORIA TRADICIONAL

E TEORIA CRÍTICA EM MAX HORKHEIMER

Bartolomeu dos Santos Costa1

RESUMO

Este paper tem como objetivo fazer uma análise acerca da diferenciação entre Teoria Tradicional e
Teoria Crítica no texto de Max Horkheimer, que leva o título Teoria Tradicional e Teoria Crítica. O texto
analisado é o primeiro capítulo do livro Textos Escolhidos, da coleção Os Pensadores XLVIII. Como
metodologia, foi utilizada a revisão bibliográfica, focada, essencialmente, no texto supracitado, porém,
foram utilizados também alguns textos complementares. A relevância do trabalho consiste em apontar a
necessidade de uma busca e análise das bases filosóficas do antagonismo Teoria Tradicional-Teoria
Crítica, já que essas reflexões estão presentes também na Sociologia, sobretudo, na
contemporaneidade, para compreender minimamente o que é Teoria Tradicional, Teoria Crítica, quais os
elementos peculiares de cada uma dessas concepções e como esses as distinguem. À guisa de
conclusão, são apresentadas algumas características das teorias Tradicional e Crítica numa das bases
filosóficas para essa discussão, a saber, a filosofia de Max Horkheimer, um filósofo e sociólogo alemão e
um dos principais teóricos da chamada Escola de Frankfurt.

Palavras-Chave: Teoria Tradicional. Teoria Crítica. Distinção. Max Horkheimer.

INTRODUÇÃO

Os temas Teoria Tradicional e Teoria Crítica são de suma importância para a


chamada Escola de Frankfurt, e por isso, muito presentes nas discussões dos autores
que fizeram parte deste grupo de teóricos. No entanto, possuem significativa relevância
até hoje, pois fomentam debates contemporâneos acerca do que venha a ser Teoria
Tradicional e Teoria Crítica, e a distinção entre ambas.
Para Horkheimer, ‘Teoria’ é, no sentido tradicional, “[...] o saber acumulado de tal
forma que permita ser este utilizado na caracterização dos fatos tão minuciosamente
quanto possível” e “essa representação encontra em geral sua origem nos primórdios
da filosofia moderna”. (HORKHEIMER, 1975, p. 125-126), com René Descartes.
Houve, em consequência deste método de teoria científica para a análise da
realidade, uma série de questões, como, por exemplo, a separação entre ‘sociedade’ e

1Graduado em Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia – UFMA – Bacabal. Membro do Grupo de


Pesquisa em Filosofia Bacabal Hermenêutics Etudies. E-mail: tstbartolomeu@gmail.com.
‘indivíduo’, a divisão e consciência de classe, as contradições da práxis social, entre
outras.
Nesse sentido, procura-se, ao analisar o texto referenciado, entender essas
questões e algumas peculiaridades da Teoria Tradicional e da Teoria Crítica, que, por
sua vez, consistem em distinções entre ambas. Porém, precisa-se compreender que
tais distinções, nem mesmo neste texto alicerçado na temática, não aparecem de forma
íntegra a ponto de sanar todas as nossas dúvidas.
Portanto, enfatizamos que o objetivo deste paper é traçar uma narrativa, com
base no texto de Horkheimer Teoria Tradicional e Teoria Crítica, no intento de, em um
breve espaço de escrita, fazer pontuações quanto a algumas características de uma e
de outra, buscando, a partir desses pontos, fazer uma diferenciação e identificação
sobre o que é Teoria Tradicional e o que é Teoria Crítica. Como metodologia, foi
utilizada essencialmente a revisão bibliográfica da compilação de volume XLVIII, da
coleção “Os Pensadores”, na qual o texto analisado se encontra.
Dessa forma, vale ressaltar que, na apresentação de Horkheimer sobre Teoria
Crítica e Teoria Tradicional, o autor deixa claro a seguinte colocação: “o quê é
tradicional, quando se trata de teoria, perdeu sua criticidade. Em contrapartida, nem
tudo que é crítico está isento de aspectos tradicionais". (CARNAÚBA, 2010).

A TEORIA TRADICIONAL

A concepção de Teoria é essencial para que se entenda o que venha a ser


Teoria Tradicional, Teoria Crítica e, por conseguinte, as características que as
distinguem. Desse modo, segundo Horkheimer, teoria é o que se entende por Teoria
Tradicional, e Teoria Crítica pode ser o oposto a tais características.
Para além desta concepção de teoria:

[...] Em sentido preciso, é "um encadeamento sistemático de proposições de


uma dedução sistematicamente unitária". Ciência significa "um certo universo
de proposições [...] tal como sempre surge do trabalho teórico, cuja ordem
sistemática permite a determinação (Bestimmung) de um certo universo de
objetos". Uma exigência fundamental, que todo sistema teórico tem de
satisfazer, consiste em estarem todas as partes conectadas ininterruptamente e
livres de contradição. H. Weyl considera como condição imprescindível a
harmonia que exclui toda a possibilidade de contradição, assim como a
ausência de componentes supérfluos, puramente dogmáticos, e independentes
das aparências observáveis. (HORKHEIMER, 1975, p. 126).

Portanto, para Horkheimer (1975), quando se trata de teoria sem fazer os


devidos esclarecimentos, pode-se evidenciar que se esteja falando de Teoria
Tradicional. Por outro lado, Teoria Crítica, além das características contrárias às da
Teoria Tradicional, diz respeito, também, ao diagnóstico do tempo presente, à
orientação para a emancipação e ao comportamento crítico. Assim sendo, aquilo que
não está de acordo com esses objetivos é Teoria Tradicional. (CARNAÚBA, 2010).
O conceito de Teoria Tradicional foi determinado como uma sinopse de um
conjunto de hipóteses ligadas entre si, as quais são capazes de deduzir as demais
teorias, cuja legitimidade consiste em sua coerência com os fatos, em leis de causa e
efeito. (HORKHEIMER, 1975).
Horkheimer chama a atenção para a falta de criticidade na Teoria Tradicional. A
Teoria Crítica surge como oposição a este caráter passivo e de acomodação com o que
está posto. Na Teoria Tradicional, todas as categorias são naturalizadas, como, por
exemplo, capital, trabalho, mercado, mercadoria, dinheiro, etc. Esta possui um caráter
conservador, não visualiza a possibilidade de superação da contradição capital-trabalho
– pelo contrário, vislumbra o seu aperfeiçoamento. Ademais, naturaliza e caminha para
essas contradições, não reflete sobre, tampouco vê algum problema nelas.
(CARNAÚBA, 2010).

A TEORIA CRÍTICA

A Teoria Crítica, por outro lado, observa e pensa sobre todas essas contradições
e as classifica em categorias, objetivando um diagnóstico do tempo presente, uma
orientação para a emancipação e promoção de um comportamento crítico –, ou seja,
conscientizar os indivíduos de sua situação de opressão para que, além de
perceberem-se como oprimidos, não cooperem com esta realidade, como ressalta
Marcuse (1973) –, mostrar como os sofrimentos e fracassos pessoais são determinados
politicamente e socialmente. Nesse sentido, a Teoria Crítica visa a emancipação dos
indivíduos.
Para Nobre (2004), esta concepção tradicional e conservadora da Teoria
Tradicional que acarreta a divisão de classes e a promoção e reprodução da exploração
das classes dominantes sobre as dominadas, ressaltando que “em nome de uma
pretensa neutralidade da descrição, a Teoria Tradicional resigna-se à forma histórica
presente da dominação. Em uma sociedade dividida em classes, a concepção
tradicional acaba por justificar essa divisão como necessária”. (NOBRE, 2004, p.38). Já
Horkheimer denuncia essa visão ao afirmar que:

Por mais que sofra na própria carne o absurdo da continuação da miséria e do


aumento da injustiça, a diferenciação de sua estrutura social estimulada de
cima, e a oposição dos interesses pessoal e de classe, superadas apenas em
momentos excepcionais, impedem que o proletariado adquira imediatamente
consciência disso. (HORKHEIMER, 1975, p. 142-143).

Portanto, a Teoria Crítica denuncia o caráter unicamente descritivo da realidade


pela Teoria Tradicional, pois,

Ao entender que o potencial de libertação ou emancipação humana está


presente exclusivamente nas representações próprias de uma classe, a Teoria
Tradicional não mostra a distinção estrutural em relação à ciência
especializada. Assim, ela apenas descreve os conteúdos psíquicos de uma
determinada sociedade, ou seja, a investigação realizada pela Teoria
Tradicional “tratar-se-ia de [uma] psicologia social” (CARNAÚBA, 2010, p. 199).

É aqui que a Teoria Tradicional impõe uma separação entre sociedade e


indivíduo, uma vez que o indivíduo passa a ter as ações e a sociedade como objetos.
Nesse sentido, para Horkheimer, críticas que derivam de um diagnóstico de classe e
que cooperam para a reprodução da mesma lógica, não é Teoria Crítica, ou seja,
apenas seria Teoria Crítica se tivesse como um de seus princípios, evidentemente, o
comportamento crítico.

Para os sujeitos do comportamento crítico, o caráter discrepante cindido do


todo social, em sua figura atual, passa a ser contradição consciente. Ao
reconhecer o modo de economia vigente e o todo cultural nele baseado como
produto do trabalho humano, e como a organização de que a humanidade foi
capaz e que impôs a si mesma na época atual, aqueles sujeitos [críticos] se
identificam, eles mesmos, com esse todo e o compreendem como vontade e
razão: ele é o seu próprio mundo. (HORKHEIMER, 1975, p. 138).
Portanto, a Teoria Crítica distingue-se da Teoria Tradicional no que diz respeito
ao comportamento crítico, persistente em perceber o caráter contraditório da realidade
de exploração da economia e modelo de produção vigente (capitalista), que são
produtos da ação humana e, por conseguinte, têm possibilidades de caminhar para
outros rumos, para um caráter emancipatório.
Este processo que reconhece a realidade e a condena, torna possível aos
indivíduos a consciência de que há uma necessidade de se emancipar. Essa
emancipação deve almejar:

Um comportamento que esteja orientado para essa emancipação, que tenha


por meta a transformação do todo, pode servir-se sem dúvida do trabalho
teórico, tal como ocorre dentro da ordem desta realidade existente. Contudo,
ele dispensa o caráter pragmático que advém do pensamento tradicional como
um trabalho profissional socialmente útil. (HORKHEIMER, 1975, p. 139).

Nesse sentido, percebe-se uma cisão entre sociedade e indivíduo, que, apesar
de carregar, sob a tutela da Teoria Tradicional, uma fachada natural e necessária, para
a Teoria Crítica é entendida como um resultado advindo de um modo de produção,
assim, não é, jamais, um processo natural. Portanto, a Teoria Crítica proposta por
Horkheimer no texto analisado, considera na realidade das condições e contradições
capitalistas, e defende o pensamento crítico como condutor a uma emancipação.
(CARNAÚBA, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Teoria Crítica se distingue da Teoria Tradicional principalmente pela “[...]


função de mostrar que os homens não são meros resultados do processo histórico, mas
são também agentes desse processo”. (CARNAÚBA, 2010, p. 204). Nesse sentido, a
Teoria Crítica identifica os limites da Teoria Tradicional, posto que o modelo desta
última, além de não cumprir o que se propõe, não leva em consideração em sua análise
uma série de fatores, distanciando-se de um caráter emancipatório.
A Teoria Crítica mostra que o comportamento crítico frente à dominação e à
exploração do modelo capitalista de produção imposto à sociedade não é passivo. De
maneira oposta, conduz à busca de uma emancipação. (CARNAÚBA, 2010).
O texto de Horkheimer que serviu de principal base teórica para a produção
deste paper evidencia a necessidade de recorrermos às bases filosóficas para a
discussão e distinção entre Teoria Tradicional e Teoria Crítica. Vale ressaltar, também,
que o presente espaço não permite uma discussão mais complexa acerca do
antagonismo entre essas teorias, acompanhado da análise de mais elementos e/ou
características de ambas, e que, portanto, este é apenas um ensaio para futuras
pesquisas e para um trabalho mais extenso – consequentemente, mais completo
possível.

REFERÊNCIAS

HOKHEIMER, M. Teoria Tradicional e Teoria Crítica. Os Pensadores. 1. ed. São


Paulo: Abril S.A. Cultural e Industria, 1975.

MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial: homem unidimensional. Trad.


Giasone Rebuá. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973. 139 p.

NOBRE, M. A Teoria Crítica. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

CARNAÚBA, Maria Érbia Cássia. Sobre a distinção entre teoria tradicional e


teoria crítica em max Horkheimer. Rev. kínesis, vol. ii, n° 03, abril-2010, p. 195 – 204.

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