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Doutor António Salomão Chipanga, Professor e Regente da Disciplina de História de Direito

Moçambicano leccionada na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane - Maputo

Disciplina: HISTÓRIA DO DIREITO MOÇAMBICANO

Aula: de 27 de Abril a 1 de Maio de 2020


Período: Vigência do estado de emergência, estabelecido pelo Decreto Presidencial n.˚
11/2020, de 30 de Março
Docente: Doutor António S. Chipanga

Meios e metodologia de ensino: Online por meio de tecnologias de informação e


comunicação em uso e permitidos pela Faculdade.

Tipo de aula: Pesquisa individual e elaboração conjunta em grupo de trabalho, com


assistência e apoio do docente.

Módulo II – O Direito durante o “encontro colonial”


Sumário:
 A ocupação do continente africano pelas potências europeias.
 Razões económicas, políticas, sociais e culturais – Teorias doutrinárias.
 As fragilidades dos povos e Governos africanos.

Fonte: 1. História Geral da África, VII. A África sob dominação colonial, 1880 –
1935, Coordenador do Volume: A. Adu Boahen, Comité Científico
Internacional para a Redacção de uma História Geral da África
(UNESCO) – Ática/UNESCO, página 44 e seguintes.
2. Qualquer outra fonte bibliográfica sobre o tema em debate

Terminado o estudo das matérias constantes do Modulo I, referentes ao Direito antes da


colonização portuguesa, no território que é hoje Moçambique iniciaremos assim o estudo do
Modulo II que se seguem conforme o Plano temático da nossa disciplina que nos trás conteúdos
atinentes ao Direito, no seu conceito global, durante o encontro do povo moçambicano com o
regime colonial português.

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O nosso objectivo com este módulo é trazer durante as nossas sessões de aulas os antecedentes
históricos do Direito positivo Moçambicano, por forma a compreender a história política e
institucional que serve de base de sustentação do Direito que hoje constitui o ordenamento
jurídico moçambicano e sobretudo a ideia de que nenhum Direito se acha isolado do resto do
mundo.

Todos os ordenamentos jurídicos estão entre si relacionados e sofrem mutuamente influência


de outros povos da comunidade internacional, o que confirma a sociabilidade do ser humano,
independentemente do local de nascimento, nacionalidade, sexo, etnia, cor, raça, religião,
opção política ou ideológica, estado civil, habilitações, posição económica, social ou cultural.

Muitos são os exemplos que podemos enunciar que provam que todos os povos buscam de
outros algo e desenvolvem em seu benefício, pois ninguém nasce a saber de tudo, daí a
importante da cooperação, troca de experiência, solidariedade e parceria que são valores que
os povos, desde os primeiros momentos da sua racionalidade souberam adoptar para a
convivência sã, assente em valores de tolerância, cultura da paz, dialogo, solidariedade,
respeito mútuo, igualdade em todas as circunstancias e oportunidades, não descriminação, em
razão da cor, raça, lugar de nascimento, filiação, religião, língua, opção política ou ideológica,
estado civil, habilitações, posição económica, social ou cultural, entre os Homens em
sociedade, entendido este na sua globalidade.

Julgamos importante este módulo, porquanto, nos trás o percurso histórico e vicissitudes por
que passou o nosso Direito e fornece nos ainda os fundamentos e sobretudo as razões de ser e
de estar do nosso Direito hoje e particularmente a simbiose que sustenta a filosofia da
construção do Direito positivo e consuetudinário do nosso Pais, do nosso Estado, ou seja, os
usos e costumes do nosso povo em todo o território moçambicano e a necessidade de cada vez
mais preservarmos os valores culturais em que assenta a afirmação da nossa identidade cultural,
as nossas tradições e demais valores culturais da moçambicanidade que nos torna diferentes de
outros povos do planeta terra.

No fim deste módulo esperámos que os estudantes que frequentam esta disciplina de História
de Direito Moçambicano no presente ano sejam capazes de entender e distinguir o que é
genuinamente moçambicano e o que é importado e de que Direito estadual o sistema jurídico
recebeu e assim saber de que forma deve interpretar e aplicar, em cada caso.

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Comecemos então o nosso tema com os conteúdos sobre a ocupação do continente africano
pelas potências europeias, para entender que a conquista, dominação e colonização do
continente africano não é uma acção isolada de um País europeu, como é o Caso de Portugal
em relação ao território moçambicano, mas sim uma estratégia política, económica, social e
cultural global do Imperialismo com sede na Europa, daí a adopção de uma política, estratégia
e métodos comuns de actuação por parte de todos os países colonizadores sobre os territórios
africanos ocupados sem consentimento dos respectivos povos.

O planeta terra compreende cinco continentes a saber: Europa, América, Austrália, Ásia e
África.

Dos cinco continentes, o continente de África foi o último a ser invadido, ocupado e
dominado pelas potenciais europeias.

Do continente africano todos os países que o compõem foram dominados e colonizados pelas
potências colonias europeias, excepto a Libéria.

A Etiópia foi o que menos tempo de colonização europeia foi submetida e a potência
colonizadora foi a Itália, considerando que foi de 1935 a 1941, ou seja, seis anos sob dominação
italiana.

Os historiadores e os cientistas na tentativa de entender e explicar o fenómeno de ocupação do


continente africano pelos europeus, não obstante reconhecerem que as razões da partilha de
África pelas potenciais europeias fossem motivadas por rivalidades económicas entre os países
industrializados da Europa criaram as seguintes teorias que no seu entender justificam a
ocupação europeia do continente africano:

1. Teorias económicas;
2. Teorias psicológicas;
3. Teorias diplomáticas;
4. Teorias da dimensão de África.

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Assim, vamos sumariamente descortinar cada uma das teorias ora anunciadas, sem prejuízo de
outros pontos de vista que justificam a ocupação europeia do continente africano. Cada uma
das teorias deve ser entendida como sendo um ponto de vista e não uma verdade absoluta dos
factos apresentados.

1 – Teoria Económica

Segundo os teorizadores desta Escola, o desenvolvimento da sociedade humana do primitivo


para o esclavagismo, do esclavagismo para o feudalismo e desta sociedade para o capitalismo,
regista-se um impulso na sociedade capitalista onde com a utilização da máquina a vapor então
descoberto e a introdução de outras tecnologias há um impulso nas unidades de produção no
campo da indústria em todos os domínios, verificando-se assim, uma produção elevada que se
denomina “superprodução” que tem como consequência directa e imediata, o surgimento de
excedente do capital e o subconsumo dos países industrializados, facto que se extrai da
afirmação de John Atkinson Hobson, conforme a citação textualmente indicada na obra que
serve de fonte desta teoria1.

“a superprodução, os excedentes de capital e o subconsumo dos países industrializados


levaram-nos a colocar uma parte crescente de seus recursos económicos fora de sua esfera
política atual e a aplicar ativamente uma estratégia de expansão política com vistas a se
apossar de novos territórios”

Para ele, estava aí “a raiz econômica do imperialismo”. Embora admitindo que forças de
carácter não-econômica desempenharam certo papel na expansão imperialista, Hobson estava
convicto de que,
“mesmo que um estadista ambicioso, um negociante empreendedor pudesse sugerir ou
até iniciar uma nova etapa da expansão imperialista, ou contribuir para sensibilizar a opinião
pública de sua pátria no sentido da urgente necessidade de novas conquistas, a decisão final
ficaria com o poder financeiro”.

História Geral da África, VII. A África sob dominação colonial, 1880 – 1935, Coordenador do Volume: A. Adu
1

Boahen, Comité Científico Internacional para a Redacção de uma História Geral da África (UNESCO) –
Ática/UNESCO, página 44.

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Adotando livremente as teses centrais dos social-democratas alemães, assim como Hobson,
V.I.Lênin salientava que o novo imperialismo caracterizava-se pela transição de um
capitalismo de orientação “pré-monopolista”, “no qual predomina a livre concorrência”, para
o estágio do capitalismo monopolista “intimamente ligado à intensificação da luta pela partilha
do mundo”

Assim, a superprodução e o excedente de capital, por sua vez, exigiu ou impusera ao sistema
capitalista uma nova estratégia para a comercialização dos seus produtos excedentários o que
exigiu dos proprietários a política da expansão do capital excedentário acumulado para as zonas
ou regiões onde se mostrava insuficiente ou inexistente o que levou o capitalismo a
transformar-se em sistema imperialista, pois a sua principal preocupação era cada vez mais o
lucro e a mão-de-obra barata.

Para os teorizantes desta escola, as potências coloniais europeias invadem e ocupam a África
com objectivos economicistas, com a finalidade de expandir o seu mercado nacional e dominar
novas regiões para o desenvolvimento da sua indústria e do comércio resultante.

Por isso, concluem os pensadores na base desta teoria que a invasão e ocupação do continente
africano deve-se a procura da matéria-prima e de novos mercados para a comercialização dos
produtos excedentários do mercado da sua origem.

2 - Teorias Psicológicas
Estas teorias assentam no que comumente se classifica de Darwinismo social, cristianismo
evangélico e ativismo social.

Segundo os defensores destas teorias pela sua ordem de apresentação defendem o seguinte:

2.1. Darwinismo social

A obra de Darwin, sob o título A origem das espécies por meio da selecção natural, ou a
conservação das raças favorecidas na luta pela vida, publicada em Inglês em Novembro de
1859.

A descoberta de Darwin serviu de fundamento de grande suporte científico aos partidários da


supremacia da raça branca em relação a raça negra.

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Para os defensores desta teoria a conquista do que eles chamavam de “raças sujeitas”, ou
“raças não evoluídas”, pela “raça superior”, decorrente de um processo inelutável da
“selecção natural”, em que o forte domina o fraco na luta pela existência.

Desta feita, os defensores desta corrente pretendem afirmar que os Homens de raça europeia
são superiores aos Homens de raça negra do continente africano, daí que na luta pela
sobrevivência prevaleceram os Homens de raça europeia, por estese serem mais fortes que os
africanos.

2.2. Cristianismo evangélico

Por oposição ao Darwinismo social surgem a teoria do Cristianismo evangélico que se


contrapõe a supremacia racial.

Segundo esta teoria a partilha de África pelas potenciais europeias se deve a um impulso
“missionário”, em sentido lato, e humanitário, com objectivo de “regenerar” os povos
africanos.

O que se pode afirmar como facto irrefutável é que os missionários na verdade foram dos
primeiros homens europeus depois das viagem marítimas designadas de descobertas de
caminhos marítimos a chegarem a vários territórios africanos e pregarem e evangelizar os
povos africanos, mostrando-lhes fé cristã por meio da palavra bíblica e desta forma, os
africanos foram sendo baptizados e atribuídos nomes dos Santos e outros da religião cristã e
em troca o imperialismo ocupou as terras e os africanos ficaram com a Bíblia e a palavra de
Deus e eles com as terras e recursos naturais existentes no continente africano.

2.3. Activismo Social

Joseph Schumpeter é o primeiro analista a explicar o novo imperialismo em termos


sociológico.

Para ele o imperialismo é a consequência de certos elementos psicológicos imponderáveis e


não de pressões económicas.

No seu raciocínio defende que se trata de um desejo natural do homem: dominar o próximo
pelo prazer de dominá-lo. Essa pulsão agressiva inata seria comandada pelo desejo de
apropriação, próprio do ser humano. O imperialismo seria portanto, um egoísmo nacional
colectivo: “a disposição, desprovida de objectivos que um Estado manifesta de expandir-se
ilimitadamente pela força” para outras terras até então alheias.

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O novo imperialismo, por conseguinte, seria de carácter atávico, que quer dizer, manifestaria
uma regressão aos instintos políticos e sociais primitivos do Homem, que talvez se
justificassem em tempos antigos, mas certamente não no mundo moderno.

3 – Teorias Diplomáticas
Trata-se de teorias que suportam as teorias psicológicas e assentam em factores de natureza
política que justificam a ocupação e partilha de África pelos europeus, com base no egoísmo
nacional de cada Estado invasor decorrente de conflitos militares com outras potencias e na
tentativa de demonstrar a comunidade internacional a sua valentia e a defesa da sua honra em
face de avanço ou superioridade militar de uma outra potencia europeia teriam optado por
atacar o continente africano com objectivos de mostrar a sua superioridade e intimidar os seus
inimigos ocupando os territórios africanos e, tais teorias têm em consideração três factores,
designadamente:

3.1. Prestígio Nacional

A luta entre as grandes potências de então e a procura cada vez mais do prestígio internacional
sobre as demais nações, levou que a Inglaterra, a França, a Espanha e outras potências
colonizadoras, cada uma delas quisesse demonstrar à outra o seu poder político, a sua posição
suprema e a sua influência na comunidade internacional, por um lado e, por outro compensar
os danos morais decorridos de uma ou de outra perda, por exemplo a França procurava
compensar as perdas na Europa por conquistas em África, a Inglaterra as perdas sofridas na
guerra com as treze colonias britânicas nas terras na América, com as conquistas das terras em
África.

Esta teoria no essencial refuta as teorias económicas, pois defende que a invasão a África se
deve a tentativa de demonstrar a superioridade e recuperar o prestígio nacional e moralizar os
seus militares e os cidadãos nacionais em geral.

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3.2.Equilíbrio de Força

Entre as potências europeias colonizadoras existiam muitas desconfianças e ameaças ao nível


da Europa que a manterem-se poderiam desaguar em conflitos militares de dimensão
generalizada, duradouro e de proporções imensuráveis, tal como poderia suceder em
consequência das rivalidades russo-britânica nos Balcãs e no Império Otomano que a
persistirem poderia provocar uma guerra, assim como medida de busca de paz e de estabilidade
das nações europeias os defensores desta teoria defendem que as potencias europeias
procurando evitar o surgimento da crise na política do poder teriam optado pela intervenção e
ocupação de África como forma de demonstrar o seu poder militar numa perspectiva de
equilíbrio de força entre as nações europeias.

Desta feita, cada nação europeia, nos territórios africanos apresentava e demonstrava o seu
poderio e capacidade militar no campo de batalha, o que em parte representava uma forma de
intimidação, criando desse modo reservas a outra nação e assim, levando-o a abster-se de
mover qualquer ataque.

3.3. Estratégia Global


Os defensores desta linha de pensamento ensinam-nos que a localização geográfica e a posição
de África constituía e constitui um lugar estratégico para todos os domínios de
desenvolvimento, particularmente o eixo de África – Índia, em especial para o Reino Unido,
assim, as potências europeias conscientes deste lugar estratégico, nada mais tiveram que optar
pela sua ocupação, no quadro do desenvolvimento da política global imperialista, como medida
preventiva, por um lado e por outro de evitar que os movimentos atávicos “protonacionalistas”
na África, a título de exemplo o Egipto e a África do Norte pudessem se desenvolver
constituindo assim uma forte ameaça as nações europeias. Assim as potências de então por
antecipação decidem pela iniciativa de atacar para evitar serem atacados e dominado pelos
povos africanos ou outros a partir de África, como seja a Ásia.

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4 – Teorias da Dimensão de África

África é em si um grande continente propício ao desenvolvimento económico. A sua ocupação


era para as potências colonizadoras uma questão fundamental, do interesse do desenvolvimento
e factor para reduzir as rivalidades económicas entre os países industrializados da Europa,
assim a conquista do continente africano tornou-se um imperativo inevitável, a partir da
crescente influência europeia nas trocas comerciais e estabelecimentos de postos de compra e
venda de mercadorias de ambos continentes.

Fragilidades do continente africano e os factores que permitiram a penetração e


dominação dos Estados e Governos africanos.

Os factores que em seguida são enumeradas são de entre os vários aqueles que terão concorrido
para facilitar a conquista e dominação europeia aos povos, Governos e Estados africanos.

1 – Factores Socioculturais:

a) Presença dos missionários antes da penetração dos Estados e dominação dos


respectivos povos. Os missionários jogaram um papel preponderante no processo da
conquista e dominação dos povos, porquanto, eles chegaram antes e assim tiveram
oportunidade de estabelecer contacto físico com as populações e assim, tiveram acesso
as condições de terreno, a economia e recursos existentes e sua localização, a força e
debilidade do Governo e das contradições ou conflitos entre os membros dos órgãos do
Estado em cada território africano, as ambições pessoais e fraquezas das lideranças.
b) Descoberta de vacinas contra malária e outras doenças típicas do continente africano,
constitui um factor de manutenção da presença europeia em África;
c) Existência de grupos étnicos culturais fortemente divididos por tribos ou etnias no seio
das comunidades e Estados Africanos;
d) Conflitos étnicos;
e) Complexo de inferioridade em relação aos europeus;
f) Analfabetismo acentuado entre as populações e dirigentes dos Estados africanos.

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2 – Factores Político-Militares:

a) Falta de unidade e coesão dos povos e dos governos africanos. Em contrapartida, os


países europeus, apesar de rivalidades entre si, por motivos económicos e outros,
conseguiram manter um espirito de solidariedade, não se deixando abalar, prevenindo
todas as situações que poderiam concorrer para uma guerra entre si. Apostaram sempre
no diálogo político, económico e militar culminando com acordos e concessões como
medidas para prevenir e ultrapassar conflitos e no apoio mútuo em todas as situações
de ataques por parte dos africanos ou de outros povos hostis;
b) Inferioridade militar, decorrente de desgaste moral e físico dos militares africanos
devido a lutas intestinais;
c) Superioridade logística e militar dos exércitos europeus;
d) Conflitos étnicos entre as diferentes tribos decorrentes de conquista de mais terras e
escravos para sustentarem o funcionamento do Estado e dos dirigentes da sociedade e
do Estado;
e) Traição entre os africanos – alguns membros ou tribos não hesitavam em aliar-se ao
exército estrangeiro para atacar o exército dos Estados africanos, apoiando a invasão
do seu próprio território ou seus vizinhos, por rivalidades decorrentes de interesses
particulares;
f) Uso dos próprios africanos pelos europeus para engrossar as fileiras do exército
estrangeiro na ocupação de África;
g) Falta de unidade, solidariedade e cooperação entre os povos africanos, fazendo com
que a maior parte das incursos militares desencadeadas pelos exércitos estrangeiros
resultassem em fracasso, devido a descoordenação ou acções isoladas que facilmente
foram sendo aniquiladas pelos invasores;
h) Inexistência de um exército coeso, forte, permanente e de profissionais, enquanto a
europa dispunha de um forte exercito devidamente equipado com armas de grande
alcance e de destruição maciça, constituída por uma tropa de profissionais, que podiam
incluir mercenários e próprios africanos recrutados localmente. De referir ainda que o
recrutamento dos soldados africanos em alguns casos era de forma ad hoc, visando
satisfazer as necessidades imediatas de conter a invasão em curso ou eminente;

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3 – Factores Económicos:
a) Incapacidade económica de sustentar uma máquina de guerra prolongada com Estado
europeu fortemente armado e com uma indústria capaz de alimentar a aquisição de mais
material de guerra e de sustentar a capacidade física e moral dos soldados
b) Existência de recursos naturais cobiçados pela indústria europeia;
c) Posição e localização geográfica privilegiada dos territórios de africa em especial as
localizadas ao longo do mar e com rios navegáveis para o desenvolvimento do comercio
entre os diferentes povos africanos e outros;
d) Existência de mão-de-obra barata transformada em escravos, resultantes de guerras
internas e étnicas tribais;
e) Potencialidades económicas;
f) Contratos comerciais celebrados com os Chefes de Estado e de Governos Africanos;
g) Fraco desenvolvimento tecnológico.
i) Inferioridade do equipamento militar, porquanto, nos termos da Convenção de Bruxelas
de 1890, não era permitido a venda de equipamento militar aos africanos, colocando os
estados africanos na condição de lutar com um exército altamente equipado, usando
equipamento obsoletos e por vezes fora de uso ou sem munições.
j) Contratos políticos que atentam contra a soberania do Estado;

Segue a matéria sobre a Conferência de Berlim e a Partilha de África pelas potências Europeias

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