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ESTUDOS ECONÓMICOS

BPI E FINANCEIROS

Moçambique
Junho 2013

Paula Gonçalves Carvalho


A ERA DOS RECURSOS NATURAIS
NATURAIS Email: paula.goncalves.carvalho@bancobpi.pt
Telef.: 21 310 11 87
Nuno André Coelho
 A economia cresceu 7.4% em 2012 com um contributo diversificado dos vários sectores de actividade, registando uma Email: nuno.andre.coelho@bancobpi.pt
das maiores taxas de crescimento real a nível mundial. Os últimos anos têm sido particularmente positivos para Moçambique, Telef.: 21 310 11 84
que tem superado o crescimento da região subsariana e se tem aproximado do ritmo de crescimento de países como a
Fax: 21 353 56 94
China. No entanto, o rápido crescimento do país está ainda relacionado com a reduzida base de partida, dado que http://www.bci.co.mz
Moçambique permanece um dos países mais pobres do mundo.

 Os índices de desenvolvimento humano e igualdade de géneros de Moçambique continuam em patamares muito baixos.
As autoridades do país têm desenvolvido esforços consideráveis no sentido de melhorar os principais indicadores de
desenvolvimento humano e social, particularmente com o objectivo de reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna
e aumentar as taxas de escolarização. No entanto, estes esforços têm-se revelado insuficientes para elevar os níveis de
desenvolvimento do país.

 A capacidade de atracção de investimento estrangeiro e a exploração de recursos naturais têm sido determinantes para
elevar o potencial de crescimento da economia. Apesar de a agricultura continuar a deter um peso muito elevado no PIB,
a recente descoberta de grandes reservas de carvão e de gás natural tem estado na base da atracção de investimento para
mega-projectos e tem possibilitado um desenvolvimento extraordinário do sector da indústria extractiva. Contudo, a
exploração potencial das minas de carvão está ainda muito limitada pelos constrangimentos existentes ao nível dos
transportes.

 As previsões de crescimento são favoráveis, mantendo a economia numa trajectória de expansão rápida. As projecções
oficiais apontam para um crescimento de 8.4% este ano para o qual deverá contribuir significativamente o aumento da
produção no sector da indústria extractiva, derivada da exploração crescente dos recursos naturais, e da expansão das
actividades financeiras. No entanto, as cheias que afectaram o país nos primeiros meses do ano poderão comprometer as
previsões mais optimistas. O aumento da incerteza nos mercados das commodities e a lenta recuperação económica dos
países mais desenvolvidos poderá também colocar em risco o desempenho da economia, pois o grau de dependência da
ajuda internacional ao desenvolvimento mantém-se elevado.

 A política orçamental continuará expansionista, com o Estado a manter a sua aposta no desenvolvimento de infra-
estruturas básicas e a aumentar o apoio social à população, com o objectivo final de estimular o crescimento económico.
Por sua vez, a política monetária deverá permanecer restringida pelo aumento recente do nível de preços e pelos riscos de
inflação no curto prazo. Caso estes se materializem, tornam-se improváveis novas reduções das taxas de juro directoras
até ao final do ano.
Ilha de Moçambique

ÍNDICE Pág.

MOÇAMBIQUE
ACTIVIDADE ECONÓMICA
Crescimento real elevado marcado pela expansão da produção mineira 03
Previsões de crescimento para 2013 04
Grandes projectos de investimento contribuem significativamente para o PIB 05
Revisões negativas ao défice corrente influenciadas pelo investimento estrangeiro 06
CONTEXTO POLÍTICO
Permanece impasse entre os dois principais partidos 08
Eleições presidenciais marcadas para 2014 08
POLÍTICA ORÇAMENTAL
RÇAMENTAL
Política orçamental expansionista orientada para o crescimento económico 09
Dívida pública permanece estável 10
SECTOR MONETÁRIO E FINANCEIRO
Inflação no início do ano atribui-se ao efeito das cheias, início do ano escolar e
inflação importada 11
Política monetária: trade-off entre expansão da base monetária e inflação 11
Crédito e depósitos em expansão 12
DESENVOLVIMENTO HUMANO E S OCIAL
ESENVOLVIMENTO
Desenvolvimento humano não tem acompanhado o crescimento económico 14
CONTEXTO EMPRESARIAL
Realização de negócios afectada pela envolvente sócio-económica 15

BASE DE DADOS 17

Dep. Estudos Económicos e Financeiros


Paula Gonçalves Carvalho Sub-directora
Teresa Gil Pinheiro
Carmen Mendes Camacho
Nuno André Coelho

A NÁLISE TÉCNICA
Agostinho Leal Alves

Tel.: 351 21 310 11 86 Fax: 351 21 353 56 94


Email: deef@bancobpi.pt http://www .bancobpi.pt
http://www.bancobpi.pt
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.bpiinvestimentos.pt/Research http://www.bci.co.mz
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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

A CTIVIDADE E CONÓMICA

CRESCIMENTO REAL ELEVADO MARCADO PELA EXP


ELEVADO ANSÃO DA PRODUÇÃO MINEIRA
EXPANSÃO

Em 2012, Moçambique foi uma das economias com crescimento real mais elevado. A produção interna cresceu 7.4% (em volume),
sustentada por uma aceleração de 8.3% y/y no último trimestre (2.3% q/q após descontados efeitos sazonais). Desta forma, o país
mantém-se como uma das economias com maior crescimento real do PIB nos últimos anos, ultrapassando largamente as taxas de crescimento
da região subsariana, que registou uma expansão de 4.8% no ano passado. A capacidade de atracção de investimento estrangeiro e a
exploração de recursos naturais têm sido determinantes para elevar o potencial de crescimento da economia. De acordo com as estimativas
do Fundo Monetário Internacional, Moçambique estará entre as 15 economias com crescimento real mais elevado pelo menos até 2018.
No entanto, o rápido crescimento do país está ainda relacionado com a reduzida base de partida, dado que Moçambique é um dos países
mais pobres da África Subsariana.

Em 2012, o crescimento da actividade económica voltou a ser bastante diversificado, com uma contribuição repartida pelos vários
sectores de actividade. Em particular, destaca-se o seguinte:

A produção no sector das indústrias extractivas aumentou 40.8% (em volume) em 2012, contribuindo com 0.8 pontos percentuais
(pp) para o crescimento do Valor Acrescentado Bruto (VAB). O desempenho do sector está sobretudo ligado ao rápido início da
produção de carvão em Moatize e em Benga, mas também ao aumento da produção de alguns minerais, como Tentalite e Zircão. No
entanto, este sector é apenas responsável por 1.7% da produção total interna.
 O sector da agricultura, pr
produção
odução animal, caça e silvicultura contribuiu com 2.0 pp para o crescimento do VAB. Em 2012, a
produção agrícola, responsável por 23.4% da produção total, aumentou 7.1%.
 A produção no sector dos transportes e comunicações
comunicações, correspondente a 12.3% do PIB, aumentou 10.4% e contribuiu com
1.4 pp para o crescimento do VAB. A introdução da terceira operadora móvel e o incremento no número de investimentos contribuíram
de forma significativa para este desempenho. Alguns dos investimentos têm sido orientados para a modernização da rede de
transportes e infra-estruturas.
 A indústria transfor madora foi responsável por 1.1 pp da taxa de crescimento do VAB, ao registar uma expansão de 13.4%. Foi
transformadora
o terceiro sector com maior peso na economia (cerca de 12.0% do PIB). O desempenho do sector foi favorecido pela indústria da
alimentação e bebidas, pelo início da produção numa nova fábrica de cimento, e pelo aumento da capacidade produtiva nas
fábricas de cimento da Matola e da Beira.

Moçambique é um dos países com maiores taxas de Taxas de crescimento real do PIB têm-se mantido acima dos
crescimento real do PIB 6% desde 2001

(%) (%)
12 15
Áfr. Subs.
12
8 Prev isões FMI
Moçambique
9
4 China
6
Índia Prev isões EIU
0 3
Brasil
0
-4
2000 02 04 06 08 10 12 14 16
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fonte: FMI Fonte: FMI, EIU

Nos próximos anos, a economia deverá continuar a registar taxas de crescimento real elevadas. As previsões são favoráveis, mantendo a
economia numa trajectória de expansão rápida. O governo, no Plano Económico e Social para 2013, projecta uma expansão do PIB de
8.4% para 2013, para o qual deverá contribuir significativamente o aumento da produção no sector da indústria extractiva, derivada da
exploração crescente dos recursos naturais (a extracção do carvão coque, que se estima ter-se fixado em 5 milhões de toneladas em 2012,
deverá crescer 20% no próximo ano; por sua vez, a extracção do carvão térmico, que se iniciou em 2012 com um registo de 930 mil
toneladas, deverá aumentar 61.2%) e da expansão das actividades financeiras, através do aumento da concessão de empréstimos à
economia consequente da expansão esperada no sector produtivo.

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A CTIVIDADE E CONÓMICA

Maior contributo da indústria de extracção mineira para o VAB Estrutura da actividade económica é bastante diversificada
em 2012 (peso no VAB de 2012, preços de 2003)
(pontos percentuais) Outros Agricultura e
9 Imobil., alug.
18% pesca
e serv .
29%
6 empres.
6% Ind. ex tractiv a
3
Act. 2%
financeiras
0 Ind. Transf.
6%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Transp. e 13%
Agricultura e pesca Ind. ex trac. Ind. transformadora comunic.
Comércio Transp. e com. Act. financeiras Comércio
Outros 14% 12% Fonte: Estat. oficiais
Fonte: Estat. oficiais

No entanto, as previsões para 2013 estão fortemente comprometidas pelas cheias que atravessaram o país nos primeiros meses do ano,
prejudicando sobretudo a agricultura, os transportes e o sector da indústria extractiva. O aumento da incerteza nos mercados das commodities
e da lenta recuperação económica dos países mais desenvolvidos poderá também colocar em risco o desempenho da economia, pois a
tendência de queda da ajuda internacional ao desenvolvimento por alguns dos principais doadores poderá intensificar-se.

Previsões de crescimento para 2013 assentes na exploração de carvão e no investimento em infra-estruturas de transporte

De acordo com o PES 2013, o documento de estratégia oficial para a implementação dos objectivos de política económica e social
definidos no Programa Quinquenal do Governo para 2010-14, o governo prevê que a produção interna real aumente 8.4% em
2013. Esta previsão assenta sobretudo no dinamismo do sector da indústria extractiva e das actividades financeiras. Os sectores
dos transportes e comunicações e das actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas também deverão dar
um forte contributo para o desempenho da economia no ano em curso.

Tabela 1. Previsões de crescimento, óptica da produção (preços constantes)

VAB por sectores de actividade Valor 2012(1) (milhões MZN) Previsão 2013
Sector primário
Agricultura, produção animal e silvicultura 49,744 +4.6%
Pescas 2,976 +4.5%
Indústria extractiva 3,516 +18.6%
Sector secundário
Indústria transformadora 25,435 +5.8%
Electricidade e água 9,450 +5.1%
Construção 7,166 +5.6%
Sector terciário
Comércio e serv. de reparação 23,581 +5.9%
Alojamento, restauração e similares 3,042 +6.2%
Transportes e comunicações 26,168 +14.1%
Actividades financeiras 11,966 +17.7%
Activ. imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 12,272 +11.8%
Administração pública 8,059 +4.1%
Outros 6,975 +2.4%
PIB 212,232 +8.4%
Fonte: Governo de Moçambique, BPI
Nota: (1) O PIB corresponde à soma do Valor Acrescentado Bruto em cada sector de actividade com os impostos líquidos de subsídios sobre produtos, que foram excluídos do quadro
por simplificação da exposição.

Segundo as projecções oficiais, a produção no sector da indústria extractiva deverá aumentar 18.6% face a 2012 como resultado
da intensificação da produção nas minas de Moatize, Benga e Cahora Bassa. A produção de carvão, pela importância que tem na
produção mineira global, deverá contribuir significativamente para a expansão no sector (espera-se um aumentou de 20.0% na
produção de carvão coque e de 61.2% na produção de carvão térmico). No entanto, estas estimativas podem ficar largamente

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A CTIVIDADE E CONÓMICA

comprometidas pelos efeitos devastadores das cheias no início do ano, que forçaram o encerramento da linha de caminhos-de-
ferro do Sena (a única que faz a ligação entre as minas de Moatize e o porto da Beira) durante duas semanas em Fevereiro. A
empresa brasileira Vale, uma das principais a operar no sector, reduziu a previsão de exportação de carvão para este ano em cerca
de 30%, de 4.9 m/t (cerca de 65% do valor previsto para a produção de carvão no PES 2013) para apenas 3.4 m/t depois de ter
sido impossibilitada de cumprir vários contratos devido à paralisação da circulação ferroviária. O PES 2013 prevê também um
aumento (+6.3%) na produção de gás natural em virtude da recente descoberta de novas reservas de gás no país (estima-se que
as reservas de gás do país sejam as quartas maiores a nível mundial). Moçambique é já o quarto maior produtor mundial de gás
natural, de acordo com a consultora francesa StrategiCo, e a exploração deste recurso poderá tornar o país numa importante
referência no sector energético nos próximos anos.

A expansão da extracção e da exportação de carvão deverá dar um contributo significativo para o sector dos transportes, tornando
necessários investimentos para melhorar a rede de transportes do país e para aumentar a carga de transporte das linhas ferroviárias.
De facto, o desempenho da produção e exportação do carvão continua enfraquecido pela necessidade de uma melhor rede de
infra-estruturas no país que permita fazer a ligação entre as minas os portos marítimos, deixando as minas a produzir muito abaixo
do sua capacidade potencial. A construção da linha ferroviária de Nacala irá impulsionar a produção de carvão, que poderá crescer
a um ritmo de 30% por ano no médio-prazo1 . A produção referente ao sector dos transportes e comunicações, o segundo com
maior peso no PIB, deverá aumentar 14.1% em 2013, com destaque para o crescimento esperado de 65.2% nos transportes
ferroviários e de 10.6% nos transportes rodoviários.

A tendência de redução do preço do carvão nos mercados internacionais poderá também constituir um desafio para o valor das
exportações em 2013. O aumento da produção nos EUA e consequente aumento das exportações tem colocado pressão negativa
sobre o preço do carvão, bem como a procura anémica global no pós-crise financeira de 2008. Desta forma, os produtores
nacionais de carvão poderão ver os seus retornos drasticamente reduzidos.

Por último, a expansão prevista para o sector das actividades financeiras, de 14.1%, está directamente relacionada com o
dinamismo nos restantes sectores produtivos da economia. O volume de crédito concedido deverá aumentar para financiar o
aumento do número de projectos para investimento e para financiar o consumo privado.

GRANDES PROJECTOS DE INVESTIMENTO CONTRIBUEM SIGNIFICATIV


SIGNIFICATIVAMENTE PARA O
TIVAMENTE PIB

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) líquido do exterior em Moçambique praticamente triplicou em 2012 face ao ano anterior,
aumentando de USD 2.7 mil milhões (mm) para 5.2 mm, equivalente a 35.7% do PIB desse ano. O investimento estrangeiro (líquido) tem
sido canalizado sobretudo através dos mega-projectos2 , orientado para o sector da extracção mineira - no ano passado, cerca de 83% do
IDE líquido total foi absorvido pelo sector da indústria extractiva e cerca de 76% foi direccionado a mega-projectos. A exploração dos
recursos naturais de Moçambique, principalmente de carvão e de gás, tem-se assumido como o principal factor de interesse para o IDE e
tem justificado a expansão extraordinária do sector, suportando as elevadas taxas de crescimento da economia.

Em 2011, Moçambique era o 14º país africano com maior stock de IDE bruto, ou o 13º país com maior IDE em percentagem do PIB
segundo dados da UNCTAD. Os dados divulgados por esta instituição para 2012 ainda não foram revelados, mas a julgar pela evolução do
IDE líquido (divulgado pelo Banco de Moçambique), o país poderá ter entrado no top-10 das economias africanas com maior IDE.

A capacidade de atracção de investimento está sobretudo relacionada com a abundância de recursos naturais no país mas também com
os incentivos fiscais para grandes investimentos, como isenção de pagamento de IVA sobre bens de capital e impostos reduzidos sobre a
actividade empresarial. Existem ainda Zonas Francas Industriais, que isentam as empresas que aí estabelecem a sua actividade do
pagamento de determinados impostos e tarifas e que têm um regime especial de apoio ao desenvolvimento e exploração de infra-
estruturas. De facto, apesar do elevado volume de negócios gerado pelos mega-projectos, os impostos pagos por estas empresas são muito
reduzidos (em 2012 o contributo dos mega-projectos para a receita total do orçamento foi de cerca de 3%, equivalente a 513 milhões de
meticais).

1
Para mais detalhes, ver a Caixa 1 do relatório "Quinta avaliação do acordo ao abrigo do instrumento de apoio à política económica e pedido de
modificação de critérios de avaliação" do FMI, disponível a 3 de Janeiro de 2013; 2São considerados mega-projectos os projectos com investimento
inicial de pelo menos USD 500 mil.
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A CTIVIDADE E CONÓMICA

Aumento do IDE relacionado com investimento dos Brasil foi o país que mais investiu em Moçambique em 2012
mega-projectos

Grande parte do IDE é canalizado para a exploração de recursos Comparação regional de stocks de IDE (bruto): em 2011,
naturais Moçambique era o 14º país africano com maior IDE

(milhões de $US) (%)


15,000 80
12,000 60
9,000
40
6,000
3,000 20

0 0

Suazilândia
Zâmbia

Tanzânia

Moçambique

Malawi
Zimbabwe
Stock % do PIB
Fonte: UNCTAD

R EVISÕES NEGATIV
NEGATIV AS AO DÉFICE CORRENTE INFLUENCIADAS PELO INVESTIMENTO EM MEGA- PROJECTOS
TIVAS

O défice da balança corrente fixou-se em USD 5.17 mm, equivalente a cerca de 26.2% do PIB (segundo as estimativas do FMI) e 72%
acima do défice de 2011. O défice corrente foi explicado sobretudo pelo elevado valor das importações de bens (USD 6.17 mm, das quais
USD 2.14 mm associados directamente aos mega-projectos) em relação às exportações (USD 3.47 mm, em que cerca de 63% foram
responsáveis pelos mega-projectos) e pela contratação de serviços de construção externos (no valor de USD 1.98 mm). O financiamento
do défice foi sobretudo efectuado com recurso ao IDE - o valor do investimento estrangeiro, USD 5.22 mm, foi inclusive superior ao valor
do défice corrente.

O défice corrente foi revisto em alta em 2011, de 13.3% para 25.8% do PIB, reflectindo principalmente uma revisão em alta das
importações relacionada com a duplicação de importações de bens de investimento (em parte devido aos serviços subcontratados pelos
mega-projectos), de automóveis, de cereais (devido ao início de operações de moagem de cereais) e de electricidade (estas últimas para
compensar o facto de a procura interna ter superado a quota de produção nacional da hidroeléctrica de Cahora Bassa nas horas de ponta).
O défice da balança corrente deverá continuar a agravar-se nos próximos anos reflectindo a crescente actividade do investimento e as
importações necessárias para realizar os grandes projectos de investimento. Segundo o FMI, o défice da balança corrente poderá atingir
os 40.6% do PIB em 2014, depois de descer este ano para os 25.4%, e não deverá descer abaixo dos 30% antes de 2018. Estas previsões
baseiam-se numa perspectiva de evolução favorável do sector de extracção mineira, principalmente da extracção de carvão, que deverá
contribuir para aumentar o IDE dirigido para o sector.

As exportações registaram um comportamento muito positivo face ao ano anterior, determinado sobretudo pelo aumento extraordinário das
exportações de carvão, que se iniciaram em 2011 (o valor das exportações de carvão aumentou de USD 21.2 milhões para 435.5 milhões).
Apesar da descoberta recente de vastas reservas de carvão e do rápido início das suas exportações, a exploração potencial das minas de
carvão está ainda muito limitada pelos constrangimentos existentes ao nível dos transportes. O alumínio continua o principal bem exportado,
apesar de o valor das suas exportações ter sofrido um queda de cerca de 20% como resultado da redução do preço internacional. A quota

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A CTIVIDADE E CONÓMICA

das exportações de alumínio no total de exportações diminuiu de 43% para 31% enquanto que a quota das exportações de carvão
aumentou de 0.6% para 13%.

Actividade dos mega-projectos tem contribuido para agravar o Alumínio continua o principal bem exportado, mas tem perdido
défice corrente quota para o carvão

Mega-projectos são responsáveis por mais de metade das Mega-projectos são também responsáveis por grande parte das
exportações de bens importações de bens

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C ONTEXTO P OLÍTICO

P ERMANECE IMPASSE ENTRE OS DOIS PRINCIP


IMPASSE AIS PAR
PRINCIPAIS TIDOS
ARTIDOS

Estão em curso negociações entre o governo o principal partido da oposição, a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), para
colocar um fim ao clima de violência que começou no início de Abril, envolvendo militantes dos dois principais partidos e forças policiais.

No final da quarta ronda de negociações, que terminou no dia 27 de Maio, foi anunciado que estavam ultrapassadas as primeiras questões
levantadas pela Renamo, que exigia, entre outros, a presença de observadores internacionais nas negociações. Foi também definido que
as negociações estariam concluídas no prazo de um mês. No entanto, a quinta ronda negocial terminou (no dia 11 de Junho) sem um
entendimento devido a divergências relativamente à legislação eleitoral.

A ausência de um ambiente político estável poderia colocar em risco a capacidade de atracção de investimento estrangeiro, pelo que o
diálogo entre os dois principais partidos políticos é essencial para o desenvolvimento económico e social do país.

E LEIÇÕES PRESIDENCIAIS MARCADAS PARA 2014

O actual presidente de Moçambique, Armando Guebuza, foi reeleito presidente do partido no poder, a Frelimo (Frente de Libertação de
Moçambique), durante o X congresso do partido que decorreu entre 23 e 28 de Setembro de 2012 na cidade de Pemba, no norte do país.

Com a reeleição de Armando Guebuza, que está a completar o segundo mandato como presidente do país, surge a dúvida sobre quem será
o representante do Frelimo nas próximas eleições presidenciais, no final de 2014. Desde o Dia da Independência, em 1975, que o
presidente do partido no poder tem sido também o presidente da República. No entanto, segundo a Constituição do país, cada presidente
não pode exercer mais de dois mandatos sucessivos, pelo que Armando Guebuza deverá, em 2014, abrir espaço para a sua sucessão. Este
processo de transição será atentamente acompanhado pelos observadores internacionais, pois a forma como irá decorrer dará indicações
sobre o aprofundamento da vivência democrática no país. De facto, não obstante o sucesso alcançado pelas políticas de pacificação, a
ausência de forças na oposição com alguma robustez e capacidade de gerar alternativas políticas e de suscitar confronto de ideias capazes
de contribuir para o avanço mais célere no caminho do desenvolvimento, poderá colocar em causa os progressos alcançados até agora.
Tudo indica que a Frelimo manter-se-á como principal partido após as eleições de 2014. Todavia, não se excluem potenciais focos de
instabilidade, que poderão surgir associados ao encarecimento de produtos básicos, perante eventuais suspeitas de favorecimento ou
corrupção, ou mesmo associados ao desenvolvimento de alguns projectos com impacto no modo de vida das populações locais. Os
acontecimentos recentes vêm evidenciar a necessidade de alcançar um crescimento inclusivo que, entre outros, passa pelo planeamento
e análise de todos os potenciais impactos sócio económicos de cada projecto de investimento. O apoio ao desenvolvimento de um sector
privado robusto, fora dos sectores associados aos recursos naturais e com maior utilização de mão de obra constitui outro dos elementos
assenciais na procura de um modelo de crescimento e desenvolvimento inclusivos.

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P OLÍTICA O RÇAMENTAL
RÇAMENTAL

A política orçamental de Moçambique dos próximos três anos deverá continuará a ser guiada pelo Instrumento de Apoio à Política
Económica (IAPE) do FMI. No início do mês de Maio ficou concluída a 6ª e última avaliação de Moçambique ao abrigo do IAPE 2010-13,
que terminou com o acordo para a criação de um novo programa até 2016 (a sua aprovação está ainda sujeita a aprovação pelo conselho
executivo do FMI). O pedido para a criação de um novo programa está alinhado com os esforços de combate à pobreza e de implementação
de uma estratégia de desenvolvimento, pelo que o novo IAPE deverá focar-se principalmente em apoiar o investimento público em infra-
estruturas e em reforçar a base tributária e melhorar a gestão pública por força a conseguir aumentar a despesa pública direccionada para
as áreas prioritárias de acção social (desenvolvimento agrícola, saúde, educação e protecção social).

O combate à pobreza e o alcance de um crescimento mais inclusivo permanecem as prioridades do governo de Moçambique na proposta
para o Orçamento de Estado de 2013, consistente com o PARPA para 2011-13 e com o Programa Quinquenal do Governo (PQG) para
2010-143 . De acordo com o PQG, o governo deve desempenhar um papel fundamental em estimular o desenvolvimento do capital
humano, em garantir a adequação de infra-estruturas de apoio económico e social, e em fornecer bens e serviços básicos para a população.

P OLÍTICA ORÇAMENTAL EXP


ORÇAMENTAL ANSIONIST
EXPANSIONISTA ORIENT
ANSIONISTA ADA PARA O CRESCIMENTO ECONÓMICO
ORIENTADA

Receitas e despesas públicas deverão continuar a aumentar nos Plano de despesa pública para 2013
próximos anos

Educação
Outros

Saúde

Infra-estruturas Agricultura e
desenv . rural
Benefícios Gov ernação,
sociais seg. e just.
Fonte: Est. oficiais

Financiamento público A ajuda oficial diminuiu em 2012, afectada pelo abrandamento


da economia mundial
MZN milhões % do PIB
2012 2013 2012 2013
Défice primário 34.6 43.0 8.3 8.9
Donativos 34.7 19.1 8.4 4.1
Empréstimos externos 29.6 37.6 7.2 7.8
Crédito interno 3.2 3.6 0.8 0.7
Fonte: Ministério das Finanças de Moçambique.

A política orçamental continuará expansionista, com o Estado a


manter a sua aposta no desenvolvimento de infra-estruturas básicas
e a aumentar o apoio social à população, com o objectivo final de
estimular o crescimento económico. A despesa pública deverá
aumentar 10% para um total de 175.0 mil milhões de meticais,
reflectindo o compromisso do governo em reduzir os níveis de pobreza e de promover o investimento privado no país. O Orçamento de
Estado para 2013 prevê que cerca de 30% da despesa pública seja canalizada para infra-estruturas - 17.3% para a construção e/ou
remodelação de estradas, 9.5% para o sector da água e obras públicas e 2.1% para o sector dos recursos minerais e energéticos - num
esforço para melhorar a competitividade interna do país. A educação receberá 30% do total da despesa do Estado, o desenvolvimento rural
receberá 20.3% e a saúde 19.6%. A despesa com o pessoal, prevista em quase metade da despesa total, será determinantemente
influenciada pela capacidade negocial dos trabalhadores. Com o aumento do salário mínimo dos funcionários públicos em 7%, os
trabalhadores mais qualificados poderão também exigir aumentos salariais, colocando pressão adicional sobre esta componente da despesa.

3
De acordo com o PQG, o governo deve desempenhar um papel fundamental em estimular o desenvolvimento do capital humano, em garantir a
adequação de infra-estruturas de apoio económico e social, e em fornecer bens e serviços básicos para a população.

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P OLÍTICA O RÇAMENTAL
RÇAMENTAL

A proposta do Orçamento de Estado para 2013 prevê um défice de 61.0 mil milhões de meticais antes de donativos, o equivalente a
12.6% do PIB, abaixo dos 16.3% previstos para 2012 (ainda não são conhecidos os valores finais). No entanto, este défice pode já ter
ficado comprometido pelo aumento da despesa em resposta às cheias que devastaram algumas regiões no início do ano.

O governo espera arrecadar 114.0 mil milhões de meticais em receita fiscal durante o ano em curso, o que corresponde a um aumento de
cerca de 7% relativamente ao orçamento de 2012. Este aumento da receita deverá reflectir a evolução positiva da actividade económica
e o aumento do pagamento dos direitos de exploração pelas empresas do sector mineiro.

O défice deverá ser financiado maioritariamente com recurso a empréstimos do exterior (equivalentes a 7.8% do PIB, o equivalente a
cerca de 62% do total do défice) e donativos (4.1% do PIB), enquanto que os restantes 0.7% deverão ser financiados com recurso a
empréstimos domésticos. A ajuda externa deverá diminuir drasticamente (o OE para 2013 prevê uma redução de 43% face a 2012),
explicada em parte pela recessão prolongada na zona euro e também pelo fraco progresso registado na redução da pobreza, combate à
corrupção e melhoria da governação, o que tem desiludido os principais doadores internacionais. Ainda assim, Moçambique deverá
continuar um dos países com maiores influxos de ajuda externa ao desenvolvimento, bem acima da média da África Subsariana.

Dívida pública permanece estável

O rácio entre a dívida pública e o PIB tem-se mantido relativamente Rácio dívida pública-PIB deverá manter-se estável nos próximos
estável em 40% desde 2006, ano em que o FMI aprovou a anos
Iniciativa Multilateral do Alívio da Dívida que estabeleceu o perdão MZN mil milhões %
de toda a dívida com montante vivo incorrida com a instituição 500 100
Prev isões
antes de 2005. O esforço exigido pelos planos de investimento 400 80
em infra-estruturas públicas e em outros sectores prioritários para
300 60
os próximos anos deverão aumentar os valores nominais da dívida
200 40
e do défice público, mas o seu efeito sobre os rácios destas
variáveis em relação ao PIB deverá ser atenuado pelas elevadas 100 20
taxas de crescimento económico. 0 0
2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
O nível de risco atribuído pelas maiores agências de rating à dívida Dív ida pública % do PIB (ELD)
Fonte: FMI
pública de Moçambique (em moeda estrangeira) tem permanecido
estável desde 2007 no segundo maior nível dentro da classificação
de investimento especulativo. No entanto, desde Julho de 2012 que a Fitch tem o outlook em positivo, indicando que as perspectivas para
melhoria do rating são favoráveis. O outlook positivo é suportado pela expansão da actividade relacionada com a exploração de recursos
naturais, particularmente com o aumento da produção de carvão e com as perspectivas de se iniciar a produção de gás. No entanto, esta
agência alerta para a necessidade de se complementar o elevado ritmo de expansão económica com a criação de condições para um
ambiente propício à actividade empresarial e com progressos mais significativos na redução da pobreza e na promoção do desenvolvimento
humano.

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

S ECTOR M ONETÁRIO E F INANCEIRO

INFLAÇÃO NO INÍCIO DO ANO ATRIBUI - SE AO EFEITO DAS CHEIAS , INÍCIO DO ANO ESCOLAR E INFLAÇÃO IMPORTADA
IMPORT

Os preços do consumo sofreram nova aceleração nos primeiros meses de 2013, depois de em 2012 terem registado uma variação média
anual de 2.6% explicada sobretudo pela estabilidade de preços na segunda metade do ano. Em Maio deste ano a inflação anual acelerou
para 4.9%, que compara com 2.0% em Dezembro, devido principalmente ao impacto das cheias em Janeiro e Fevereiro, que destruiu
colheitas agrícolas, danificou linhas ferroviárias e reduziu a oferta de bens alimentares.

O aumento anual do nível de preços global também tem sido influenciado significativamente pelo aumento de preços dos serviços de
educação, nomeadamente das propinas e de material escolar, associado ao início do ano escolar (em Janeiro); ao aumento dos preços
internacionais de algumas commodities com impacto significativo na inflação interna (caso do arroz, trigo e óleos alimentares) e pelo
efeito de inflação importada, quer através do aumento de preços na África do Sul (principal fornecedor de bens alimentares), quer através
da depreciação do metical face ao dólar americano.

Para 2013, o Banco de Moçambique prevê a persistência de riscos de inflação, que se deverão materializar numa taxa de inflação média
anual de 7.0%, ou numa inflação anual de 6.5% em final de período, em linha com os objectivos do governo inseridos no PES. Esta
projecção é determinada sobretudo pela inflação importada dos principais parceiros comerciais de Moçambique, principalmente de África
do Sul, e pela expectativa de estabilização do metical. Outros factores deverão também condicionar a evolução da inflação, nomeadamente
o desenvolvimento da actividade económica mundial (com provável impacto sobre o comércio externo), a probabilidade de ocorrência de
cheias ou a alteração do preço dos bens administrados (principalmente do preço dos combustíveis e dos transportes).

POLÍTICA MONETÁRIA: TRADE- OFF ENTRE EXPANSÃO DA BASE MONETÁRIA E INFLAÇÃO


EXPANSÃO

O aumento recente do nível de preços tem conduzido a uma política monetária prudente, cujo principal objectivo é garantir a estabilidade
de preços4 . Caso os riscos para a inflação se materializem, tornam-se improváveis novas reduções das taxas de juro directoras até ao final
do ano.

O Banco de Moçambique (BoM) iniciou um ciclo de redução das taxas de directoras em Julho de 2011, quando a inflação regressou a
níveis consistentes com o objectivo da política monetária. A taxa aplicável a facilidade permanente de cedência foi reduzida em 7 pontos
percentuais até aos actuais 9.5% e a taxa de juro aplicável aos depósitos foi reduzida em 2.75 pp para 2.25%. As principais taxas de
mercado - as taxas Maibor (taxa de mercado monetário interbancário) e as taxas dos Bilhetes do Tesouro - sofreram também quedas
acentuadas neste período como consequência do relaxamento da política monetária.

Nos últimos meses, as taxas Maibor têm-se mantido estáveis. No Inflação volta a acelerar no início de 2013
entanto, os juros exigidos no mercado primário de BT estão a aumentar
gradualmente desde Novembro, à medida que as expectativas de 20.0%
inflação diminuem os retornos reais esperados. A intervenção do
15.0%
BoM tem consistido em manter as taxas de juro das facilidades de
cedência/depósito inalteradas e em manter a expansão da base 10.0%
monetária controlada, consistente com um aumento do crédito que
não coloque em risco a estabilidade de preços no médio-prazo. 5.0%

0.0%
Dez-09 Dez-10 Dez-11 Dez-12 Dez-13
Fonte: Est. oficiais

4
O objectivo para a inflação é anunciado anualmente pelo governo no Plano Económico e Social e na proposta de Lei do Orçamento de Estado,
detendo o Banco de Moçambique (BoM) autonomia para actuar em consonância com os objectivos definidos através dos seus instrumentos de
política monetária - operações de mercado aberto (estas baseiam-se em leilões de Bilhetes do Tesouro, operações de compra de BT com revenda
- Repo - e operações de venda de BT com recompra - Reverse Repo ), controlo de reservas obrigatórias e intervenções no mercado cambial
interbancário. As facilidades permanentes de cedência e de depósito, cuja taxa de juro é fixada pelo BoM, têm como função suprimir excessos
de liquidez ou para satisfazer necessidades de liquidez overnight.

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

S ECTOR M ONETÁRIO E F INANCEIRO

A evolução do câmbio é fundamental para a estabilidade de Taxa de juro dos Bilhetes do Tesouro limitadas pelos
preços instrumentos de política monetária
20%
40 6
15%
35 5
10%

30 4 5%
0%
25 3
Abr-10 Set-10 Fev -11 Jul-11 Dez-11 Mai-12 Out-12 Mar-13
91 dias 182 dias 364 dias
20 2 Tx . depósito Tx . cedência
Jun-09 Jun-10 Jun-11 Jun-12 Jun-13 Fonte: os espaços em branco nas séries dos BT significam que não se
USD/MZN ZAR/MZN (ELD) Fonte: Bloomberg realizaram operações nos meses correpondentes
Fonte: BoM

C RÉDITO E DEPÓSITOS EM EXPANSÃO


EXPANSÃO

O aumento do crédito à economia tem vindo a acelerar desde meados de 2012, em grande parte devido aos efeitos desfasados da política
monetária e à expansão dos sectores produtivos.

A redução das taxas directoras e a expansão da base monetária estão a transmitir-se a uma redução nas taxas activas cobradas pelos
bancos nos empréstimos, o que tem contribuído para o aumento do stock de crédito: em Março deste ano, o crédito tinha aumentado
23.5% yoy, que compara com um aumento de 6.3% em Março do ano anterior. Para além da redução das taxas de juro, a procura tem sido
também influenciada pelo dinamismo da actividade económica, sobretudo pelo crescimento das relações comerciais de Moçambique com
o resto do mundo.

O aumento dos depósitos nas instituições de crédito tem sido determinante para financiar a expansão do mercado de crédito (o stock de
crédito em relação ao PIB duplicou entre 2005 e 2012, subindo de 14% para 28%). O crescimento dos depósitos tem sido superior ao
crescimento do crédito apesar da redução das taxas aplicáveis aos depósitos. Se por um lado a diversidade de produtos financeiros para
aplicação de poupança é reduzida, por outro lado os depósitos têm sido influenciados pelo acréscimo de entradas de capitais no país e
pela volatilidade cambial. De facto, os depósitos em moeda estrangeira correspondem a cerca de 33% dos depósitos totais. Por último, o
sector bancário ainda não se encontra muito alavancado: o rácio de transformação de depósitos em crédito está em 73%, o que significa
que por cada 1 metical em depósitos, existem 0.73 meticais em crédito no balanço das instituições de crédito.

Efeito desfasado da política monetária: crédito, depósitos e Taxas de juro bancárias encontram-se em queda, como reacção
base monetária estão a acelerar à política monetária

(Var. homólogas) (%)


28
60%
23
40%
18

20% 13

8
0%
Mar-10 Mar-11 Mar-12 Mar-13
Mar-10 Set-10 Mar-11 Set-11 Mar-12 Set-12 Mar-13
Emp. 180 dias Emp. 1 ano
Base monetária Crédito Depósitos Dep. 180 dias Dep. 1 ano Fonte: BoM
Fonte: BoM

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S ECTOR M ONETÁRIO E F INANCEIRO

Rácio de transformação de depósitos em crédito Depósitos em moeda estrangeira sensíveis a variações cambiais

(USD/MZN)
90% 60% 40

40% 30
80% 20%
20
0%
70% 10
-20%
-40% 0
60%
2008 2009 2010 2011 2012 2013
Mar-10 Mar-11 Mar-12 Mar-13 Depósitos ME (v ar. % anual) USD/MZN (ELD)
Fonte: BoM, BPI Fonte: BoM, Bloomberg

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

D ESENVOLVIMENTO H UMANO
ESENVOLVIMENTO E SOCIAL

DESENVOLVIMENTO
ESENVOLVIMENTO HUMANO NÃO TEM ACOMPANHADO O CRESCIMENTO ECONÓMICO
ACOMPANHADO

Os índices de desenvolvimento humano e igualdade de géneros de Moçambique são dos mais baixos no mundo. As autoridades do país têm
desenvolvido esforços consideráveis no sentido de melhorar os principais indicadores de desenvolvimento humano e social, particularmente
com o objectivo de reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna e aumentar as taxas de escolarização. No entanto, estes esforços
têm-se revelado insuficientes para elevar os níveis de desenvolvimento do país. Moçambique está colocado no 185º lugar no Índice de
Desenvolvimento Humano de 2013, numa lista que engloba 187 países, apenas à frente do Níger e da República Democrática do Congo.

Apesar de se terem registado progressos significativos no contexto social desde 1990, Moçambique continua muito atrás dos restantes
países da África Subsariana em todos os indicadores sociais. Ao nível da saúde, o número de anos de vida esperados à nascença, 50.7,
apenas é menor na República Democrática do Congo. Na média dos países da região Subsariana, a esperança média de vida é de 54.9
anos. A pobreza extrema afecta uma grande maioria da população de Moçambique. O Produto Interno Bruto per capita fixou-se em USD
906 PPP (preços de 2005) em 2012, apenas 45% da média dos países da África Subsariana. Entre 1980 e 2012, o PNB pc aumentou
106%, mas continua num nível bastante baixo. Adicionalmente, em 2008 cerca de 81.8% da população vivia com menos de USD 2 (PPP)
por dia e 59.6% encontrava-se em numa situação de pobreza extrema, vivendo com menos de USD 1.25 (PPP) por dia (de acordo com os
valores mais recentes disponibilizados pelo Banco Mundial).

Também nos níveis de educação Moçambique fica bem atrás dos restantes países africanos. O número médio de anos de escolaridade da
população adulta é o mais reduzido a nível mundial: os 1.2 anos de escolaridade média dos adultos em Moçambique contrastam largamente
com os 4.7 anos médios na África Subsariana, apesar de os 9.2 anos de escolaridade esperados à nascença estarem em linha com a média
da região (9.3). A taxa de abandono escolar é ainda muito elevada, estimando-se que cerca de 64.6% dos alunos a frequentar o ensino
primário não concluem os estudos, e a taxa de alfabetização de adultos encontra-se apenas nos 56.1%.

A desigualdade entre os géneros é marcante, o que leva Moçambique a ocupar o 125º lugar no Índice de Desigualdade de Géneros (numa
lista que engloba 148 países). Apenas 39.2% dos assentos parlamentares são ocupados por mulheres, apenas 1.5% das mulheres tem
pelo menos o ensino secundário completo (que compara com uma taxa de 6% nos homens), apesar de a taxa de participação no mercado
de trabalho ser mais elevada entre as mulheres do que entre os homens (86% vs. 82.9%).

Indicadores sociais, 2012

Ranking IDH Esperança de vida Anos de escolaridade Número médio de anos PNB per capita
(em 187 países) à nascença esperados (crianças) de escolaridade (adultos) (2005 US$ PPP)
Moçambique 185 50.7 9.2 1.2 861
Níger 186 55.1 4.9 1.4 701
Rep. Democ. do Congo 187 48.7 8.5 3.5 319
Angola 148 51.5 10.2 4.7 4,812

África Subsariana - 54.9 9.3 4.7 2,010

Para comparação:
Portugal 43 79.7 16 7.7 19,907
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Com o objectivo de reduzir os níveis de pobreza e alcançar um crescimento económico inclusivo, o Plano de Acção Para Redução da
Pobreza Absoluta (PARPA) 2011-14, define as linhas gerais da estratégia do governo e projecta uma redução na taxa de incidência da
pobreza para 54.7% em 2014. Este programa foi criado para apoiar a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, cujo
principal objectivo é reduzir para metade a percentagem da população que vive numa situação de pobreza extrema até ao ano de 2015.
Promover a igualdade dos géneros, reduzir a mortalidade infantil e garantir que todos os rapazes e raparigas concluam o ensino primário
são outros objectivos a atingir até 2015.

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

C ONTEXTO E MPRESARIAL

REALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS AFECT ADA PELA ENVOL


AFECTADA VENTE SÓCIO- ECONÓMICA
ENVOLVENTE

O contexto sócio-económico de Moçambique é um principal obstáculo à concretização de negócios no país, que ocupa actualmente a 146ª
posição do ranking Doing Business de 2013 (num total de 185 países), publicado anualmente pelo Banco de Mundial, descendo 7
posições face ao ano anterior.

O acesso à electricidade (posição 174) e o registo de propriedade (ranking 155) são os factores que mais dificultam a actividade
empresarial no país. Os empreendedores precisam de 117 dias e um custo de 2,395% do rendimento per capita para conseguirem obter
uma ligação de electricidade permanente (comparando com 103 dias e um custo de 92.5% do rendimento per capita na OCDE).
Adicionalmente, são necessários 42 dias e um custo de 8% do valor da propriedade, quase o dobro do necessário na OCDE, para registar
legalmente uma propriedade, um valor que se pode tornar superior uma vez que apenas os custos oficiais são contabilizados.

Por outro lado, a protecção dos investidores é um dos factores que mais ajuda à criação de novos negócios no país. O índice de protecção
dos investidores está apenas 0.1 pontos abaixo da média dos países da OCDE: numa escala de 0 a 10, Moçambique apresenta um valor
de 6.0. A facilidade de os investidores processarem dirigentes por condutas impróprias recebe quase a cotação máxima: 9.0.

Os principais factores adversos à concretização de negócios estão relacionados com o acesso ao financiamento, corrupção e fraca qualidade
das infra-estruturas existentes, de acordo com o World Economic Forum. Pelo contrário, a instabilidade das políticas conduzidas pelo
governo e a fraca saúde pública são os factores que menos prejudicam a actividade empresarial.

A competitividade externa é particularmente afectada pelas infra-estruturas, saúde pública, educação e desenvolvimento do sector financeiro.
Moçambique ocupa a posição 138 (num total de 144 países) do Índice de Competitividade Global de 2012-13, publicado pelo Banco
Mundial, em que a qualidade global das infra-estruturas, particularmente das estradas, e o reduzido número de subscrições de linhas de
comunicação são os pilares que pesam mais negativamente na classificação das infra-estruturas do país. Por sua vez, o ranking da saúde
é afectado principalmente pelas elevadas taxas de incidência de malária, tuberculose e VIH, pela elevada mortalidade infantil e pela
reduzida esperança média de vida, enquanto que a frequência de ensino superior (secundário e terciário) e a fraca qualidade do ensino
primário são os factores que mais prejudicam a educação.

Posição de Moçambique nos pilares do ranking Doing Business Principais obstáculos à realização de negócios
(146/185)
Abertura de empresas 96
Ob. de alav arás de
Res. de insolv ências
147 construção 135
Ex ec. de contratos Ob. de electricidade
132 174

Comércio entre fronteiras Registo de propriedades


134 155
Pag. de impostos Obtenção de crédito
105 129
Protec. de inv estidores 49

Fonte: Relatório Doing Business 2013

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

Base de Dados

Principais Indicadores Económicos

2010 2011E 2012E 2013P


População (milhões) 22.4 23.0 23.7 24.4
PIB per capita US$ PPC 1,014.2 1,089.9 1,169.2 1,263.0
Fonte: INE de Moçambique, FMI.

Produto Interno Bruto

2010 2011E 2012E 2013P


PIB (mil milhões MZN), preços correntes 315.0 365.3 414.4 482.9
PIB (mil milhões USD), preços correntes 9.55 12.57 14.60 15.77

Composição do PIB (por sectores)


Agricultura, pecuária, silvicultura e pescas 28.3% 28.6% n.d. n.d.
Comércio e serviços de reparação 14.7% 15.5% n.d. n.d.
Indústria transformadora e construção 15.5% 14.6% n.d. n.d.
Transportes e comunicações 9.1% 9.0% n.d. n.d.
Alug. Imob. e Serv. Prest. Emp. 4.7% 4.3% n.d. n.d.
Electricidade e água 4.2% 4.1% n.d. n.d.
Educação 3.9% 3.7% n.d. n.d.
Serviços financeiros 3.8% 3.5% n.d. n.d.
Indústria de extracção mineira 1.3% 1.4% n.d. n.d.
Outros 14.4% 15.4% n.d. n.d.
Fonte: INE de Moçambique, FMI.

Previsões para o crescimento de Moçambique (t.v.r. do PIB, %)

2012F 2013P 2014P 2015P


Proposta do Orçamento de Estado para 2013 7.5 8.4 - -
FMI (WEO Abr 13) 7.5 8.4 8.0 8.0
Economist Intelligence Unit (Abr 13) 7.4 7.0 7.5 7.8
Fonte: Ministério das Finanças de Moçambique, Economist Intelligence Unit, FMI.

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E.E.F. - Moçambique * Junho 2013

Base de Dados

Índice de Preços no Consumidor

2010 2011 2012E 2013P


Taxa de Inflação (média anual) 12.7% 10.4% 2.1% 5.4%
Taxa de Inflação (final período) 16.6% 5.5% 2.2% 4.5%
Fonte: INE Moçambique.

Sector Externo

2010 2011 2012P 2013P


Exportações (USD milhões) 2,333.3 2,776.3 - -
Importações (USD milhões) 3,512.4 4,187.1 - -
Saldo bal. corrente, antes de donativos (%PIB) -24.3 -32.1 -31.2 -30.0
Saldo bal. corrente, após donativos (%PIB) -17.4 -25.8 -26.9 -26.3
Reservas internacionais brutas (USD milhões) 2,099.0 2,428.0 2,723.0 2,874.0
Fonte: Banco de Moçambique, FMI.

Contas Públicas

2010 2011 2012P 2013P


Receita Total (%PIB) 29.5 30.0 29.7 28.7
Despesa Total (%PIB) 33.4 34.4 32.7 33.4
Saldo Orçamental (%PIB) -3.9 -4.3 -3.0 -4.7
Fonte: FMI.

Principais Varáveis Financeiras

2010 2011 2012 2013 (*)


Taxa de Câmbio
Final de período
USD/MZN 32.40 27.13 29.70 30.70
EUR/MZN 43.37 35.16 39.18 40.45
Média
USD/MZN 34.34 29.05 28.27 30.58
EUR/MZN 45.52 40.40 36.35 40.24
Taxas dir ectoras (final de período)
directoras
Fac. permanente de liquidez 15.50 15.00 9.50 9.50
Fac. permanente de depósito 4.00 5.00 2.25 2.25
Taxas mer cado interbancário (média período)
mercado
Maibor 3M 16.23 16.87 14.61 13.34
Maibor 12M 17.89 18.53 16.29 15.04
Taxas de jur
juroo activas (média período)
180 dias 20.97 23.92 22.49 20.70
Mais de 2 anos 21.04 23.45 22.94 21.30
Source: Bloomberg, Banco de Moçambique, BPI.
Note: * Valores calculados com dados disponíveis a 2 de Maio.

18
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