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03/04/2024
12:49:34

Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

Distribuidor do Fórum Des. Artur Oscar de O. Deda


- Centro

DESPACHO

Dados do Processo

Dados do Processo
Número Classe Competência Processo
202400117437 Mandado de Segurança G-31 Eletrônico

Fase Cível Relator


DISTRIBUÍDO Situação Des(a) Diógenes
Escrivania: ANDAMENTO Barreto
Escrivania da Prioridade Máxima: Órgão Julgador:
Câmara Criminal e Não TRIBUNAL PLENO
Tribunal Pleno
Distribuido Em:
Impedimento/Suspeição 01/04/2024
NÃO
Segredo de
Justiça Processo
NÃO Sigiloso
NÃO
Número Único:
0004416-
04.2024.8.25.0000

Dados da Parte

Trata-se de Mandado de Segurança com pedido liminar impetrado pelo ESTADO DE SERGIPE contra
ato supostamente ilegal e abusivo do Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe.

Narra que o “Estado de Sergipe, por intermédio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e


Infraestrutura – SEDURBI2, lançou processo licitatório, ainda sob a égide da Lei n.º 8.666/93, na
modalidade Concorrência (tombado sob nº 06/2023 – doc.01) cujo objeto é a “Execução dos
serviços/obras de construção de 2 (duas) Obras de Artes Especiais (OAEs), sendo uma um viaduto, com
extensão aproximada de 180 metros, na interseção da Avenida Tancredo Neves com a Avenida Beira
Mar, e a outra, uma ponte estaiada, com extensão de 360 metros, interligando a Avenida Tancredo Neves
ao bairro Coroa do Meio, na cidade de Aracaju/SE.”

Discorre que com os serviços viários complementares a obra tem uma extensão total de
aproximadamente 4,80 Km e foi orçada em R$ 398.141.414,26 (trezentos e noventa e oito milhões,
cento e quarenta e um mil, quatrocentos e quatorze reais e vinte e seis centavos).

Afirma que no decorrer do procedimento licitatório acolheu duas intervenções do Tribunal de Contas por
meio de concessão de medidas cautelares, encampando as recomendações da Corte de Contas.

Informa que na sessão de julgamento da habilitação dos concorrentes, realizada no dia 08/03/2024,
realizada pela Comissão de Licitação, forma declarados 05 (cinco) licitantes habilitados e 02 (dois)
inabilitados, sendo publicada a Ata no DOE de 11/03/2024, sendo que o prazo recursal para todos os
licitantes teve início em 12/03/2024 e finalizou em 18/03/2023, tendo sido interpostos 06 (seis) recursos
administrativos, dos quais 02 (dois) foram das empresas inabilitadas, quais sejam: Consórcio Aracaju e
Consórcio Beira Mar.
Assevera que, para sua surpresa, mesmo ainda estando aberto o prazo para os demais licitantes
apresentarem suas contrarrazões recursais, que se encerraria em 26/04/2024, e antes de julgamento dos
recursos por parte da SEDURBI, o Tribunal de Contas, em sessão plenária do dia 21/03/2024, concedeu
as cautelares por meio das decisões TC-24743/2024- Pleno (doc.26) e TC-24742/2024-Pleno, de
relatoria do Conselheiro José Carlos Felizola Soares Filho, e determinou a suspensão do procedimento
licitatório, declarando habilitados os consórcios inabilitados pela comissão de licitação, mesmo antes do
julgamento dos recursos.

Pontua que “o ato fustigado pelo e. TCE ainda era preambular, próprio da fase interna de licitação e
inerente aos poderes da Comissão de Licitação, que inabilitou os Consórcios Beira MAr e Aracaju por
não cumprimento das regras do edital quanto à qualificação técnica.”

Salienta “que reconhecer o poder geral de cautela ao e. TCE de Sergipe não autoriza, por si só, a
concessão de medidas cautelares que interfiram direta ou indiretamente nas licitações quando os atos
administrativos questionados ainda não se perfectibilizaram, porque pendentes de apreciação recursal e
juízo próprio meritório que poderia, inclusive, alterar todo o quadro decisório.”

Destaca que o Tribunal de Contas invadiu a competência do Poder Executivo ao declarar habilitados
consórcios cujos recursos eram pendentes de julgamento, sendo patente a ilegalidade dos atos praticados.

Reforçando a argumentação, por amor ao debate, relata que “em relação às exigências de qualificação
técnica (capacidade técnico-operacional e técnico-profissional), a escolha dos requisitos e dos
respectivos quantitativos pela Administração deve limitar-se àquilo que seja essencial à garantia da
satisfação da necessidade pública, evitando critérios que possam reduzir a competitividade potencial e
viabilizando as condições para a obtenção da melhor proposta, atendendo ao princípio da
economicidade”, destacando que tais exigências buscam afastar a contratação de licitantes sem aptidão
técnica em obras vultuosas.

Sustenta “que a possibilidade de somatório de atestados foi expressamente prevista no edital da


Concorrência em tela, em especial para fins de cumprimento da qualificação técnica do licitante.
Todavia, é igualmente óbvio que essa operação de soma apenas atende aos limites quantitativos de
objeto que assim possibilitem, como o era, por exemplo, o item questionado pela empresa e respondido
pela SEDURBI” e que “Dos 04 (quatro) itens constantes no edital como “relevantes” a exigir
comprovação de capacidade técnico operacional, temos apenas o item 01 - execução de pavimento
flexível – pautado com características quantitativas (3.000 toneladas), de forma que podem sim, os
licitantes, somarem eventuais atestados parciais. Mas os outros itens foram mensurados como objetos
únicos e indivisíveis, com as características que entendeu a Administração por bem sindicar para
garantia da obra, de forma que se torna impossível aplicar a previsão do item 8.5.3 do edital. E isto não
conflita, ao revés, dá-lhe sustentação.”

Defende que as decisões do Tribunal de Contas vai de encontro aos itens 8.3.2. e 8.5.3 do edital e
deturpa o art. 30, II, §§ 1º, 2º e 3º e art. 33, III, da Lei n.º 8.666/93.

Discorre acerca dos métodos que serão utilizados para construção da ponde e do viaduto objetos da
licitação, fazendo a diferenciação entre ambos.

Ao final, requer “seja Concedida Medida Liminar Inaudita Altera Parte para Suspender os efeitos do
ato coator, qual seja, a Decisão Cautelar TC-24742/2024-Pleno e a Decisão Cautelar TC-24743/2024-
Pleno, proferidas pelo Pleno do e. TCE – Tribunal de Contas do Estado de Sergipe nas Representações
TC/002339/2024 e TC/002345/2024, até o trânsito em julgado do presente mandamus.” No mérito,
pugna pela concessão da segurança, com a anulação das decisões combatidas.

É o relatório. Decido.

De logo, destaco a competência do Pleno deste Tribunal de Justiça para apreciar e julgar os pedidos
formulados na exordial do presente mandamus, nos termos do art. 106, inciso I, “e”, da Constituição do
Estado de Sergipe, que assim dispõe:

Art. 106. Compete, ainda, ao Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar originariamente:

(...)

e) o mandado de segurança contra atos das autoridades mencionadas na letra d, do Presidente de


Comissão Parlamentar de Inquérito, de membro da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa, do
Tribunal de Contas, de Desembargador Relator e Corregedor;

Adentrando ao exame do pedido liminar, saliente-se que o art. 7º, inciso III, da Lei 12.016/2009, admite
sua concessão quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
medida, caso seja deferida na apreciação do mérito, ou seja, quando coexistentes o fumus boni juris e o
periculum in mora.

Pretende o Estado de Sergipe suspender as decisões cautelares TC-24742/2024 e TC-24743/2024,


datadas de 21/03/2024, proferidas pelo Pleno do e. TCE – Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, que
fizeram constar, respectivamente, em suas partes dispositivas:

“(...) Diante de todo o exposto, acompanho o opinativo da Coordenadoria de Engenhariae da 5ª CCI e,


VOTO pelo DEFERIMENTO da MEDIDA CAUTELARinaudita altera pars, para SUSTAR o ato
impugnado referente a decisão da Presidente da Comissão Permanente de Licitação da Secretaria de
Estado do Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura – SEDURBI que INABILITOU a Denunciante,
devendo o certame ficar SUSPENSO até que seja regularizada o óbice em tela( sustar o ato de
inabilitação)sob pena de multa administrativa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em caso de
descumprimento, dando-se imediatamente ciência desta decisão ao Secretário, Sr. Luiz Roberto Dantas
de Santana, e a Presidente da Comissão Permanente de Licitação, Sra. Atenéa de Moraes Fontes, para
que apresentem defesa no prazo de 05 dias, e ao final, seja o presente o expediente AUTUADO como
denúncia. (...)”

“(...)Diante de todo o exposto, acompanho o opinativo da Coordenadoria de Engenhariae, VOTO pelo


DEFERIMENTO da MEDIDA CAUTELAR inaudita altera pars para SUSTARo ato impugnado referente
a decisão da Presidente da Comissão Permanente de Licitação da Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura – SEDURBI que INABILITOU a Denunciante, devendo o
certame ficar SUSPENSO até que sejaregularizada o óbice em tela( sustar o ato de inabilitação)sob
pena de multa administrativa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em caso de descumprimento, dando-
se imediatamente ciência desta decisão ao Secretário, Sr. Luiz Roberto Dantas de Santana, e a
Presidente da Comissão Permanente de Licitação, Sra. Atenéa de Moraes Fontes, para que apresentem
defesa no prazo de 05 dias, e ao final, seja o presente o expediente AUTUADO como denúncia. (...)”

In casu, considerando as provas colacionadas aos autos, entendo que a liminar deve ser concedida, diante
da presença dos referidos requisitos legais, destacando-se a inexistência de afronta ao parágrafo 2º do art.
7º da Lei nº 12.016/2009.

Pois bem. Extrai-se da prova pré-constituída, que o Tribunal de Contas, em sessão realizada em
21/03/2024, suspendeu o processo licitatório para construção de 2 (duas) Obras de Artes Especiais
(OAEs), sendo um viaduto, na interseção da Avenida Tancredo Neves com a Avenida Beira Mar, e uma
ponte estaiada, interligando a Avenida Tancredo Neves ao bairro Coroa do Meio, nesta capital, por
entender que houve ilegalidade por parte da comissão de licitação ao inabilitar o Consórcio Aracaju e o
Consórcio Beira Mar.

Contudo, infere-se dos autos que, de fato, o ato de inabilitação dos consórcios ainda não havia se
concretizado, pois o procedimento licitatório ainda se encontrava na fase de julgamento dos recursos
apresentados pelos concorrentes inabilitados, inclusive dos consórcios acima citadas, fase essa prevista
no edital da concorrência, vejamos:

10.7. Caso haja suspensão, retornando os trabalhos a Presidente da CPL divulgará o Julgamento da
Habilitação, franqueando a palavra a todas as Licitantes e, ocorrendo renúncia/desistência expressa de
interposição de recurso dará prosseguimento com a abertura do Envelope Nº 4 = Proposta de Preços.

10.8. Ocorrendo pedido para interposição de recurso contra a Habilitação da(s) Licitante(s), a
Presidente suspenderá os trabalhos para recebimento de Recurso Administrativo, fixando de logo, dia e
hora da entrega da peça recursal.

10.9. No caso de interposição de Recurso Administrativo sobre a Habilitação e após o seu julgamento
pela CPL e consequente despacho do Secretário da SEDURBI, as Licitantes serão convocadas via e-
mail para abertura dos envelopes contendo as Propostas de Preços das Licitantes consideradas
Habilitadas.

Ou seja, infere-se das disposições do edital acima transcritas que o procedimento licitatório somente
passaria para a fase seguinte com a renúncia/desistência ou julgamentos dos recursos interpostos, o que
não ocorreu.

Logo, em que pese reconheça o poder geral de cautela da Corte de Contas, reconhecido pelos Tribunais
Superiores e assegurado pelo art. 64 da Lei Complementar 205/2011 (institui a Lei Orgânica do Tribunal
de Contas do Estado de Sergipe), observo que, no presente caso, ao conceder as medidas cautelares
combatidas, o Tribunal foi de encontro ao referido dispositivo legal, que assim dispõe:

Art. 64. O Tribunal, em caso de urgência, sempre que verificado fundado receio de grave lesão ao
Erário, ao patrimônio público, ao exercício do controle externo, ou a direitos individuais deve expedir,
de ofício, ou mediante provocação, as medidas cautelares necessárias ao resguardo da efetividade da
decisão final a ser prolatada.

Trazendo o dispositivo legal para o presente caso, não verifico o preenchimento de qualquer dos
requisitos (receio de grave lesão ao Erário, ao patrimônio público, ao exercício do controle externo, ou
a direitos individuais) para que o Tribunal de Contas tivesse concedido a medida cautelar suspendendo o
procedimento licitatório nesse momento e, muito menos, habilitando os consórcios cujos recursos contra
a inabilitação ainda estavam tempestivamente em fase de julgamento.

Na verdade, se nos aprofundarmos, nesse momento, vamos verificar que o ato praticado pela Corte de
Contas, caso mantido, poderá causar sérios prejuízos ao erário, pois a suspensão do procedimento
licitatório, com certeza, ensejara o atraso para o começo das obras, as quais serão realizadas com
recursos provenientes de instituições financeiras, cujo prolongamento para conclusão das obras
acarretará no pagamento de valores acima dos já pactuados.

Aliado a isso, a própria população também seria prejudicada com o atraso no início da construção e
conclusão das obras decorrentes da suspensão da licitação, diante dos problemas com a mobilidade
urbana que já vem enfrentando.

Portanto, restou demonstrado que a comissão de licitação cumpriu as disposições do edital acima
transcritas, oportunizando aos licitantes a interposições de recurso administrativo, com apresentação das
razões e contrarrazões recursais, para somente após proceder com o julgamento, restando demonstrado
que a decisão cautelar da Corte de Contas, suspendendo a licitação antes desse julgamento, se deu de
forma equivocada.
Dessa forma, patente está aplausibilidade das alegações ventiladas na exordial deste mandamus (fumus
boni iuris).

Logo, por subsistir a tese levantada pelo impetrante, conclui-se pelo deferimento do pleito liminar,
diante da plausibilidade de suas alegações (fumus boni iuris) acima delineada,bem como fundado receio
da ocorrência de dano de difícil reparação (periculum in mora), haja vista o evidente prejuízo ao erário e
à população.

Ante o exposto, defiro o pedido liminar formulado pelo impetrante, a fim de determinar a suspensão
das decisões cautelares TC-24742/2024 e TC-24743/2024, datadas de 21/03/2024, proferidas pelo Pleno
do e. TCE – Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, até o julgamento do mérito do presente
mandamus.

Determino a notificação da autoridade coatora para que preste as informações no prazo de dez dias, na
forma do artigo 7º, I da Lei 12016/2009.

Após, remetam-se os autos à Procuradoria-Geral de Justiça para emissão de parecer.

Intime-se. Cumpra-se.

Elbe Maria F. do P. de Carvalho


Juiz(a) de Direito

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