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O cuidado no
envelhecimento
humano
Múltiplos olhares

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Conselho Editorial de Ciências Humanas Méritos Editora

Alessandro Batistella
Doutorando em História (UFRGS) / prof. na UPF / Brasil

Arisa Araújo da Luz


Doutora em Educação (Unisinos) / profa. na UERGS / Brasil

Elio Masferrer Kan


Doctor en Antropología (ENAH) / prof. en la Escuela Nacional de Antropología e Historia / México

Elzbieta Budakowska
Doctor of Sociology (University of Warsaw) / profa. in the same institution / Poland

Gerson Wasen Fraga


Doutor em História (UFRGS) / prof. na Universidade Federal da Fronteira Sul / Brasil

Gilmar Mantovani Maroso


Doutor em História (PUCRS) / prof. na Universidade Luterana do Brasil

Jaime Giolo
Ph.D. em Educação Superior Brasileira (Unicamp) / prof. na Univ. Federal da Fronteira Sul / Brasil

João Carlos Tedesco


Ph.D. em Ciências Sociais (Università degli Studi di Milano) / prof. na UPF / Brasil

Luiz Carlos Tau Golin


Ph.D. em História (Universidade de Lisboa) / prof. na UPF / Brasil

Nadir Antonio Pichler


Doutor em Filosofia (PUCRS) / prof. na UPF / Brasil

Thaís Janaina Wenczenovicz


Ph.D. em História (UFRGS e Instytut Studiów Iberyjskich i Iberoameryka) / profa. na UERGS / Brasil

Valentina Ayrolo
Doctora en Historia (Univ. Paris I, Panthéon-Sorbonne) / profa. en la Univ. Nac. de Mar del Plata / Argentina

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Ana Maria Bellani Migott
Nadir Antonio Pichler
Luiz Antonio Bettinelli
Silvana Alba Scortegagna

(Organizadores)

O cuidado no
envelhecimento
humano
Múltiplos olhares

– Coleção Gerontologia, Educação e Sociedade: 6 –

5
© 2017
Livraria e Editora Méritos Ltda.
Rua do Retiro, 846
Passo Fundo, RS, CEP 99074-260
Fone/fax: (54) 3313-7317
Página na internet: www.meritos.com.br
E-mail: sac@meritos.com.br

Charles Pimentel da Silva


Editor
Jenifer Bastian Hahn
Assistente de edição

Importante: As opiniões expressas neste livro, que não sejam as escritas


pelos organizadores em seus capítulos, não representam ideia(s) destes.
Cabe, assim, a cada autor a responsabilidade por seus escritos.

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610 de
19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por es-
crito da editora ou do(s) autor(es), poderá ser reproduzida ou transmitida,
sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográfi-
cos, gravação ou quaisquer outros.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O cuidado no envelhecimento humano: múltiplos olhares /


organizadores Ana Maria Bellani Migott, Nadir Antonio
Pichler, Luiz Antonio Bettinelli e Silvana Alba Scortegagna. -
Passo Fundo: Editora Méritos, 2017.
280 p. : il. – ( Série Gerontologia, Educação e Sociedade, 6)

ISBN: 978-85-8200-054-7

1. Envelhecimento. 2. Gerontologia. 3. Qualidade de Vida.


4. Terapia Alternativa – Pilates. I. Migott, Ana Maria Bellani (Org.)
II. Pichler, Nadir Antonio (Org). III. Betinelli, Luiz Antonio (Org.)
IV. Scortegagna, Silvana Alba (Org.)
CDD 618.97
CDU 613.98

Bibliotecária responsável: Marisa Fernanda Miguellis CRB 10/1241

Impresso no Brasil

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Sumário

Introdução: múltiplos olhares


Ana Maria Bellani Migott, Nadir Antonio Pichler,
Luiz Antonio Bettinelli, Silvana Alba Scortegagna............................................................ 11

Capítulo 1 – Fragilidades no idoso diabético:


um olhar fisioterapêutico
Suzane Stella Bavaresco, Luma Zanatta de Oliveira,
Camila Pereira Leguisamo......................................................................................................................... 17

Capítulo 2 – A mulher cuidadora e as dificuldades


de cuidar do familiar idoso
Vívian Balem Conrado, Ana Maria Bellani Migott,
Marilene Rodrigues Portella..................................................................................................................... 27

Capítulo 3 – O sono e o envelhecer


Ana Carolina Squeff de Mattos, Ana Carolina Bertoletti De Marchi,
Cassiano Mateus Forcelini.......................................................................................................................... 37

Capítulo 4 – O método Pilates como promotor


de cuidado, saúde e felicidade em adultos maiores
Talia Castilhos de Oliveira, Nadir Antonio Pichler,
Helenice de Moura Scortegagna, Edimarcio Testa ............................................................ 51

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Capítulo 5 – A vertigem posicional paroxística
benigna no idoso
Bibiana Fortes, Marina Viana Borgmann, Silvana Alba Scortegagna..................... 65

Capítulo 6 – Terapias alternativas no cuidado


e na reabilitação de pacientes
Yolanda Petterson Seben, Vanessa Dick, Ana Carolina Bertoletti
De Marchi................................................................................................................................................................. 79

Capítulo 7 – O idoso como agente ativo no


cuidado à saúde
Emanuelly Casal Bortoluzzi, Gustavo Cavalcanti, Marlene Doring.......................... 89

Capítulo 8 – Cuidados na saúde bucal:


a contribuição da fisioterapia no envelhecer
saudável
Claudia Maria Czernaik, Eliane Lucia Colussi................................................................. 103

Capítulo 9 – Cuidados domiciliares de pacientes


pós-acidente vascular encefálico: profissionais
de saúde versus família
Analice Calegari Lusa, Fernanda dos Santos Martins,
Lia Mara Wibelinger..................................................................................................................................... 111

Capítulo 10 – Promoção da saúde como


ferramenta para o cuidado: uma experiência
e suas possibilidades
Samuel Salvi Romero, Helenice de Moura Scortegagna.............................................. 123

Capítulo 11 – O cuidado com as emoções


pós-infarto agudo do miocárdio
Cristina Pilla Della Méa, Luiz Antonio Bettinelli, Adriano Pasqualotti................. 135

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Capítulo 12 – Doença renal crônica: interface
com a nutrição
Vanessa Maria Bertoni, Luiz Antonio Bettinelli, Adriano Pasqualotti.......................... 153

Capítulo 13 – O papel da nutrição no desempenho


cognitivo da pessoa idosa
Jéssica Cristina de Cezaro, Yolanda Petterson Seben,
Luciana Marcon Barbosa........................................................................................................................... 167

Capítulo 14 – Tecnologias interativas e


benefícios na saúde da pessoa idosa
Jéssica Cristina de Cezaro, Ariélen Ferigollo, Daiane Fernanda Cocco........................ 181

Capítulo 15 – Desnutrição em pacientes


oncológicos: importância do protocolo
de avaliação
Jéssica Cristina de Cezaro, Luciana Marcon Barbosa, Marilene Rodrigues
Portella........................................................................................................................................................................... 197

Capítulo 16 – O cuidado, a ética e a


responsabilidade: um debate sobre o
direito dos animais
Marlon André Kamphorst, Neuro José Zambam............................................................... 207

Capítulo 17 – Envelhecer é natural:


cuidar do envelhecimento é cultural
Astor Antônio Diehl........................................................................................................................................... 223

Capítulo 18 – Melatonina: uma substância


terapêutica
Mariana da Silva Formigheri, Telma Elita Bertolin...................................................... 241

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Capítulo 19 – Gestão de tecnologias em saúde
e avaliação da qualidade de vida no
envelhecimento
Flávia Fernanda Cunha Casamali, Eidimara Ferreira,
Silvana Alba Scortegagna............................................................................................................................ 255

Sobre os autores .......................................................................................................................... 271

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Introdução:
múltiplos olhares

Ana Maria Bellani Migott


Nadir Antonio Pichler
Luiz Antonio Bettinelli
Silvana Alba Scortegagna

O compromisso dos professores do curso de Mestrado da


Universidade de Passo Fundo – mais especificamente da disciplina
Cuidado na Multidimensionalidade do Envelhecimento Humano, den-
tro do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano
(PPGEH) –, é de proporcionar uma formação científica ao corpo
discente, ultrapassando fronteiras e amarras curriculares. Estes
docentes colocam-se, assim, num patamar de contribuição para a
construção de novos padrões e olhares ao ensino e à produção de
conhecimento. A ideia é que os alunos incorporem, entendam e
assumam-se como sujeitos e coatores de sua formação, inserindo-se no
processo investigatório, na escrita e na divulgação desse conhecimen-
to. Orientá-los é, portanto, ensinar a produzir conteúdo intelectual,
e isso desafia suas capacidades e os instiga a se (re)descobrirem na
realidade atual e passada, no mundo das tecnologias e das humanida-
des. É nesse exercício e nessa busca constante por orientação que os
mestrandos vivenciam o prazeroso e corrido processo da descoberta
de novos horizontes da produção do conhecimento, além de, é claro,
fortalecerem-se cada vez mais para o futuro exercício profissional.
Nesse sentindo, esse livro, intitulado O cuidado no envelhecimento
humano: múltiplos olhares, oferece significativa parcela de contribuição,

11
sendo mais do que uma formalização documental, pois representa o
esforço de professores, alunos e convidados em materializar o saber
científico, com crenças e valores de que é pela via da educação e do
conhecimento compartilhado que a sociedade prospera com mais
humanidade.
Da riqueza dos trabalhos, percebe-se que há infinitas possi-
bilidades de cuidado para o processo do envelhecimento humano.
Há espaços para os múltiplos olhares, para as fragilidades, para as
questões de gênero, para o sono e o descanso, para as atividades
físicas, para as morbidades, para as terapias alternativas, para o
autocuidado, para o cuidador, para a saúde oral, para a educação,
para os sentimentos e medos, para a nutrição e para as tecnologias.
Este livro corrobora nossa percepção do quão importante é a
interdisciplinaridade que permeia o programa de Pós-Graduação em
Envelhecimento Humano da UPF. Cabe ressaltar que, mediante os
vários olhares e referenciais teóricos trazidos por cada autor, aponta-
-se para diversas possibilidades que se fazem necessárias no cuidado
aos que envelhecem. Isso contribui para o desenvolvimento de ainda
outros olhares, sentimentos e possibilidades, como a importância
do envelhecer saudavelmente e a essencialidade de se conhecer essa
etapa do ciclo vital do ser humano.
Assim, com esta publicação – que se soma e complementa as já
existentes, e que certamente servirá para subsidiar as que se seguirem,
num caminho futuro –, cremos ser possível vislumbrar o surgimento
de novos fazeres em gerontologia. Certamente, ao ser implementada e
socializada, esta obra será de grande valia na formação dos mestran-
dos, possibilitando-lhes maior autonomia profissional.
A nossa proposta também desafia a novos olhares e formas de
cuidado noutros espaços, para além dos da saúde, como os da família,
das academias, do lazer, do turismo, da gastronomia, ou seja, da vida
cotidiana. Essas múltiplas vozes, em forma de múltiplas escritas,
abrangem o momento contemporâneo do ser e estar envelhecendo
no mundo.

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Está lançado o desafio e o convite para o leitor percorrer as
páginas deste livro através do carinho da leitura, lembrando que não
tivemos a pretensão de esgotar o tema, mas sim dar continuidade a
debates anteriores em torno do cuidado e do envelhecimento humano
e quiçá da vida.
Assim sendo, este livro está estruturado em vinte capítulos. No
Capítulo 1, intitulado Fragilidades no idoso diabético: um olhar fisiote-
rápico, discute-se que, na perspectiva de vida atual, pela inversão da
pirâmide etária, é de suma importância a compreensão do processo
de envelhecimento, principalmente pelos profissionais de saúde, com
o intuito de prevenir e amenizar as morbidades decorrentes dessa
faixa etária.
O Capítulo 2, A mulher cuidadora e as dificuldades de cuidar do
familiar idoso, lembra que, apesar de todas as mudanças sociais e dos
modelos familiares, além dos novos papéis assumidos pela mulher,
ainda se espera que ela assuma as funções do cuidado em geral.
Na sequência, o Capítulo 3, O sono e o envelhecer, remete-nos
à neurobiologia do sono, relacionada ao envelhecimento cerebral e
às suas repercussões.
O Capítulo 4, O método Pilates como promotor de cuidado, saúde
e felicidade em adultos maiores, fala sobre este método que conduz a
um caminho eficaz na promoção do cuidado, da saúde e da felicidade
em idosos, para que sejam protagonistas de sua história de vida.
No Capítulo 5, A vertigem posicional paroxística benigna no idoso,
o assunto abordado é a vertigem como sintoma comum e preocupante
na população idosa, sendo um fator preditivo de quedas que leva à
diminuição da capacidade funcional.
Como uma das formas de cuidado, o Capítulo 6, intitulado
Terapias alternativas no cuidado e na reabilitação de pacientes, enfatiza
que os profissionais da área da saúde podem incluir na sua prática
convencional as terapias alternativas, melhorando a harmonia do
indivíduo e seu equilíbrio entre corpo e mente, reduzindo os níveis
de estresse e, consequentemente, diminuindo os problemas de saúde.

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No Capítulo 7, O idoso como agente ativo no cuidado à saúde,
aborda-se o autocuidado em diferentes contextos de saúde e também
o papel do profissional de saúde neste processo.
Cuidados na saúde bucal: a contribuição da fisioterapia no envelhecer
saudável é o título do Capítulo 8, que demonstra, através da higiene
oral adequada, do acesso à informação e aos serviços odontológicos,
como chegar a uma saúde bucal satisfatória, evitando as doenças
orais que podem levar a perdas dentárias.
A contribuição que traz o Capítulo 9 é acerca dos, como o
próprio título diz, Cuidados domiciliares de pacientes pós-acidente
vascular encefálico: profissionais de saúde versus família. Portanto,
os cuidadores são alvo deste estudo, assim como as maneiras que
os profissionais da área da saúde podem auxiliar para amenizar os
efeitos do enfrentamento da doença.
Já no Capítulo 10, o assunto, tal como diz o título, é a Promo-
ção da saúde como ferramenta para o cuidado: uma experiência e suas
possibilidades. Invoca-se a importância de refletir sobre o cuidado e a
promoção da saúde para torná-los ferramentas de trabalho e reflexão
entre as equipes multiprofissionais e coletividades que trabalham
nesta área.
O Capítulo 11, intitulado O cuidado com as emoções pós-infarto
agudo do miocárdio, remete-nos ao cenário onde as pessoas vivem
mais, também em que houve um crescimento do diagnóstico de
doenças crônicas não transmissíveis e, enfim, onde afloram muitas
emoções, foco desta pesquisa.
Doença renal crônica: interface com a nutrição é o título do Capí-
tulo 12, onde se reafirma que o processo de envelhecimento não está
necessariamente associado a doenças incapacitantes, porém é muito
comum ser acompanhado por doenças crônicas.
No capítulo Capítulo 13, O papel da nutrição no desempenho
cognitivo da pessoa idosa, descreve-se a relação que alguns nutrientes
têm na função cognitiva do idoso e que os fatores dietéticos possuem

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um importante papel na diminuição do risco de neurodegeneração
cerebral.
Tecnologias interativas e benefícios na saúde da pessoa idosa é o título
do Capítulo 14, que alude aos benefícios dos jogos interativos com
games na saúde da pessoa idosa, seja como tratamento fisioterapêutico,
seja como atividade física.
No Capítulo 15, encontramos a temática já no título: Desnutrição
em pacientes oncológicos: importância do protocolo de avaliação. Traz
uma abordagem sobre a importância da avaliação e do tratamento
da desnutrição no paciente com câncer.
No Capítulo 16, O cuidado, a ética e a responsabilidade: um debate
sobre o direito dos animais, descreve-se o cuidado exercido em relação
aos humanos e também o extensível aos não humanos.
No Capítulo 17, intitulado Envelhecer é natural: cuidar do
envelhecimento é cultural, discute-se o processo do envelhecer, esta-
belecendo-se uma relação entre natureza e cultura.
No Capítulo 18, Melatonina: uma substância terapêutica, os
autores analisam o uso da melatonina como substancia terapêutica
para a regulação do sono e como reparador em diferentes situações
patológicas.
No Capítulo 19, Gestão de tecnologias em saúde e avaliação da
qualidade de vida no envelhecimento, aborda-se como a função da
gestão em saúde contribui para que mais pessoas consigam, em
idades avançadas, o melhor estado de saúde possível.
A todos, uma boa leitura!

Os organizadores,
Passo Fundo, primavera de 2016.

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Capítulo 1
Fragilidades no idoso diabético:
um olhar fisioterapêutico

Suzane Stella Bavaresco


Luma Zanatta de Oliveira
Camila Pereira Leguisamo

Introdução

Diante do aumento da perspectiva de vida, pela inversão da


pirâmide etária, é de suma importância a compreensão do processo
de envelhecimento, principalmente pelos profissionais de saúde, que
têm o intuito de prevenir e amenizar as morbidades decorrentes em
idosos. Assim, justifica-se o interesse em estudar sobre o assunto
que é de extrema relevância, mas muitas vezes passa despercebido
pelos trabalhadores da área. No Brasil, a população idosa cresce a
passos largos e, de acordo com a perspectiva do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), para os próximos 20 anos,
ela poderá ultrapassar a casa dos 30 milhões de pessoas. Essa situa-
ção traz repercussões tanto para a sociedade quanto para o sistema
de saúde, que geralmente não estão preparados para o atendimento
frente ao processo de envelhecer (Pinho, 2012).
Juntamente com a senescência, as grandes transições demográfi-
cas, epidemiológicas e nutricionais da contemporaneidade, associadas

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à globalização de alguns padrões, como os de alimentação, consumo
e hábitos de vida, estão fazendo com que as doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) sejam um dos grandes problemas de saúde
pública no mundo inteiro. Os países mais atingidos são os de baixa
e média renda, que respondem por 80% das mortes no mundo,
acometendo igualmente homens e mulheres (WHO, 2005). Outro
fator responsável pelo crescente aumento das DCNT é a escolaridade,
que acaba limitando o acesso à informação e aos serviços de saúde
(Alves; Neto, 2014).
Diante desse cenário, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
aprovou na Assembleia Mundial da Saúde em 2013 um plano global
de ação para prevenir e controlar das DCNT, com destaque para o
controle de algumas doenças, dentre elas: as respiratórias crônicas e
a diabetes, assim como prevenção de fatores de risco modificáveis,
como consumo de tabaco, dietas não saudáveis em geral, inatividade
física e uso nocivo de álcool.
O governo brasileiro, por sua vez, construiu o Plano de Enfren-
tamento das DCNT 2011-2022, sob a coordenação do Ministério
da Saúde, com o intuito de definir metas para controlar e prevenir
os fatores de risco dessas doenças, sendo o seu objetivo principal a
redução das taxas de mortalidade prematura (30 a 69 anos de idade)
em 2% ao ano até 2022.
Tendo em vista que o processo de envelhecimento traz consigo
uma série de alterações cognitivas e funcionais, uma atenção especial
deve ser dada para uma das principais comorbidades das DCNT, a
Diabetes Mellitus (DM), que gera complicações graves e consequên-
cias irreversíveis, como, por exemplo, a redução da força muscular dos
membros inferiores, o que deixa as pessoas expostas a fragilidades.
Logo, mais propensas a quedas e hospitalizações. Nesse sentido, é
necessário buscar a fisioterapia para atuar na atenção primária, ou
seja, na prevenção de tais agravantes.
O objetivo do capítulo é, portanto, demonstrar as fragilidades
do idoso diabético e o olhar do profissional de fisioterapia sobre
esse contexto.

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Diabetes mellitus

A crescente urbanização, o envelhecimento, as alterações genéti-


cas e as repercussões no estilo de vida, são algumas das características
que contribuem para o desenvolvimento de diabetes mellitus (DM).
Atualmente, acredita-se que a população mundial com diabetes seja
de 382 milhões de pessoas, e que chegará em 2035 a 471 milhões.
Cerca de 80% dos indivíduos com DM estão nos países em desen-
volvimento.
Diabetes Mellitus é um grupo de distúrbios metabólicos e
hiperglicemia, sendo a diabetes tipo 2 a forma mais comum dessa
patologia, estando presente em 90% dos casos. É resultado de defeitos
na ação ou secreção da insulina, podendo ocorrer em qualquer idade,
porém é mais comum ser diagnosticada após os 40 anos (Diretri-
zes da Sociedade Brasileira de Diabees, 2014-2015).
Em consequência da condição crônica da DM, as comorbidades
relacionadas estão cada vez mais presentes atingindo inevitavelmente
a população diabética. Muitas são as complicações vasculares que
afetam a sobrevida dos pacientes com DM tipo 2 (Power, 2004):
problemas no mecanismo microvascular atingem o sistema pulmo-
nar, os membros periféricos, a visão (retinopatias) e o sistema renal
(nefropatias), assim como problemas no mecanismo macrovascular
afetam o sistema cardiovascular e cerebral.
De acordo com as alterações citadas acima, Lu, Lin e Kuo
(2009) afirmaram a existência de uma associação de complicações
desta patologia com incapacidades físicas. Ao longo dos anos,
inúmeras mudanças ocorrem quanto à aptidão física, porém este
processo pode ser acelerado de uma maneira considerável na pre-
sença de uma doença crônica como o DM tipo 2 (Alvarenga;
Pereira; Anjos, 2010). Pacientes com esse diagnóstico, mesmo
os não idosos, já são considerados indivíduos com alto risco em caso
de quedas e demais complicações. Eles apresentam certas alterações
sistêmicas que são clássicas da patologia, bem como distúrbios de
audição, crises de hipoglicemia, uso da polifarmácia, tonturas etc.

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(Maurer; Burchan; Chang, 2005; Schwartz et al., 2008;
Wallace et al., 2012; Pijpers et al., 2011). Logo, esse grupo de
pacientes está mais propenso a desenvolver a síndrome da fragilidade,
desencadeada por um conjunto de fatores (patológicos, metabólicos
e ambientais) que leva à incapacidade do idoso diabético.

Síndrome da fragilidade no idoso diabético

Devido aos números alarmantes em relação ao crescimento da


população idosa, é sabido que a característica dos países em desen-
volvimento é possuir bastantes longevos. E, a partir disso, vem a
pergunta: Será que o sistema de saúde e as políticas públicas do Brasil
estão preparados para enfrentar essa transição demográfica? Com o
envelhecimento ocorre uma crescente carga de doenças crônicas que
muitas vezes podem ser incapacitantes.
O conceito de fragilidade tem uma recente sistematiza­ção de
informações que proporciona a observação de que um idoso está
frágil (Espinoza, 2005). Para que esse seja considerado frágil, é
necessário atender inicialmente a um critério, dentre vários, como os
que incluem doença crôni­ca incapacitante, estado de confusão mental,
depressão, que­das, incontinência urinária, desnutrição, úlceras por
pressão e problemas socioeconômicos (Winograd, 1991).
A fragilidade, ademais, é observada quando o idoso preenche
no mínimo quatro características: idade igual ou superior a 80 anos,
depressão, instabilidade de equilíbrio e marcha, diminuição da for-
ça de preen­são palmar, uso de sedativos, diminuição da força nas
articulações dos ombros e joelhos, déficits nos membros inferiores
(MMII) e déficit visual (Speechley, 1991).
Por muitos autores, a fragilidade é considerada um estado de
vulnerabilidade aos fatores estressantes que causam decréscimo das
reservas fisiológicas e, assim, diminuição da homeostase. É uma
condição prevalente em mulheres e caracteriza-se em múltiplas
consequências, como quedas, incapacidade, hospitalização, institucio­

20
nalização e até mesmo a morte (Fried, 2001; Fried, 2003). Sendo
assim, os idosos que apresentam desfechos clínicos adversos, como
dependência, institucionalização, queda, doenças crônicas, hospi-
talização, sarcopenia, alterações imunológicas e neuroendócrinas,
são aqueles que possuem riscos mais elevados para desenvolver a
síndrome da fragilidade (Bortz, 2005; Fried, 2003).

Fisioterapia

Ainda não existe consenso sobre a definição e a causa da fragi-


lidade, pois muitos resultados de intervenções fisioterapêuticas são
obtidos sem uma definição precisa da mesma (Rockwood, 2000).
Para a elaboração dos planos de tratamento, tanto os de curto quanto
os de longo prazo, é importante que se leve em conta as características
e o grau de fragilidade de cada de paciente (Espinoza, 2005).
Em idosos frágeis, a perda de massa muscular é acentuada,
porém já existem estudos que demonstram os benefícios do exercício
físico para os idosos que se encontram nessa situação. A intervenção
fisioterapêutica vem apresentando resultados significativos nessa
população, mantendo ou aumentando a amplitude de movimento,
proporcionando melhor desempenho na realização das atividades
da vida diária, no equilíbrio, na velocidade da marcha e, com isso,
reduz-se o número de quedas. Consequentemente ganha-se em
bem-estar (Daley, 2000).
Ao longo do processo de envelhecimento, é preciso que exista
grande concentração de massa muscular, para que se retarde a perda
decorrente da mesma e assim o impacto sobre a qualidade de vida
dos idosos seja menor (Silva, 2006).
Logo, vale ressaltar que a prevenção – como, por exemplo,
através do treinamento de força, equilíbrio e velocidade da marcha
– é uma das estratégias mais eficientes e importantes para atingir
determinados objetivos.

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Treinamento de força muscular

Treinar pacientes idosos diabéticos através do exercício resisti-


do, ou seja, exercício de força, vem sendo indicado como uma das
maneiras mais seguras de melhorar a capacidade funcional e força
muscular (Fiatarone, 1990; Okuma, 1998). O músculo é capaz
de gerar força a partir de um princípio chamado sobrecarga, que
se dá quando certo grupo muscular, ao ser submetido à contração
com cargas mais elevadas do que as de costume, aumenta sua força
e seu tamanho (Okuma, 1998). Pesquisas têm mostrado que existe
aumento da síntese proteica muscular como resposta ao treino resis-
tido, e também podem ocorrer mudanças na inervação e padrão de
ativação muscular que influenciará de forma benéfica o desempenho
motor (Hasten, 2000).
O treinamento com exercícios resistidos deve ser realizado
pelo menos duas vezes na semana com um intervalo mínimo de 48
horas entre as sessões. É recomendado que se realize de oito a dez
exercícios, com oito a 12 repetições para cada grupo muscular. É
importante que sejam trabalhados grandes grupos musculares e a
sessão não deve ultrapassar 60 minutos de duração. Para que se evite
a manobra de valsava, é recomendado que o paciente inspire antes
de realizar o levantamento da carga e expire durante o processo de
contração muscular (Tribees, 2005).
Submeter pacientes idosos diabéticos a exercícios de força ainda
é a intervenção mais efetiva para ganho de força e massa muscular.
Mas é importante destacar que alguns idosos não têm uma ingestão
alimentar adequada para suprir a necessidade proteica que neste
caso estará aumentada. Isso dificultará a obtenção dos efeitos do
treinamento.
A grande heterogeneidade presente na velhice, mais que em
outros grupos etários, acarreta mudanças em múltiplas dimensões
da vida dos indivíduos, como, por exemplo, nos aspectos físicos, psi-
cológicos, sociais e culturais. Em consequência, são as condições de

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saúde desses domínios que influenciarão decisivamente na qualidade
de vida. No entanto, ainda que seja comum que o idoso apresente
pelo menos uma doença crônica no seu curso de vida, o estudo do
envelhecimento não deve focar apenas a patologia (Banhato et
al., 2008).

Treinamento de equilíbrio e velocidade da marcha

Assim como o treino de força é benéfico para pacientes idosos


diabéticos, o treino aeróbico também contribui para que alguns
fatores sejam modificados (melhora no equilíbrio, na velocidade da
marcha, no risco de quedas, mobilidade articular etc.).
Os sinais de perda da capacidade aeróbica começam a aparecer
quando se sente dificuldades na execução das atividades da vida di-
ária, e também para aquelas que necessitam mais condicionamento
cardiovascular, como subir escadas, vestir-se, caminhar mais rápido
(Macedo; Gazzola; Najas, 2008).
Já existem pesquisas mostrando um crescimento das habilidade
funcionais, quando se associa o treinamento de força com outras
maneiras de treino. Quanto à associação do treinamento da capaci-
dade aeróbica com o de equilíbrio, esta vem se mostrando eficiente
no aumento do controle do mesmo, assim como da velocidade de
marcha (Lord; Sherrington; Menz, 2001; Judge; Un-
derwood; Gennosa, 1993). Os exercícios para treinar o equi-
líbrio podem ser dinâmicos e/ou estáticos, com duração de 10 a 30
segundos, com duas a três repetições para cada exercício ou posição,
gerando um total de 10 a 15 minutos, com alterações no input visual,
redução e mudança da base de sustentação, e com aumento gradativo
do nível de complexidade e dificuldade das posições. Dessa maneira,
sugere-se que se aumente o tempo para cada posição; podendo-se
usar espumas de várias densidades e materiais diferenciados e, por
fim, que as cabeças dos pacientes sejam posicionadas em angulações
diferentes (Macedo; Gazzola; Najas, 2008).

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Referências

ALVARENGA, P. P.; PEREIRA, D. S.; ANJOS, D. M. C.


Functional mobility and executive function in elderly diabetics and
non-diabetics. Rev. Bras. Fisioter., v. 14, n. 6, p. 491-6, 2010.
BANHATO, E. F. C.; SILVA, K. C. A.; MAGALHÃES, N. C.;
MOTA, M. E. Aspectos sociais e de saúde de idosos residentes na
comunidade de uma cidade brasileira. Psicol Am Lat., 2008 [citado
2011 nov. 30];(14). Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/
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26
Capítulo 2
A mulher cuidadora e
as dificuldades de cuidar
do familiar idoso

Vívian Balem Conrado


Ana Maria Bellani Migott
Marilene Rodrigues Portella

Introdução

O objetivo deste capítulo é fazer uma reflexão, sem a intensão de


esgotar o tema, sobre alguns aspectos do cuidado de pessoas idosas
e seus cuidadores. O ato de cuidar se materializa no existencial, de
onde emanam sentimentos, atitudes e ações, como vontades, desejos,
respeito ético, inclinações e impulsos, ou seja, o indivíduo perante o
mundo, os outros e a si mesmo. Compreender o valor do cuidado
para a pessoa que é cuidada e para quem cuida requer uma visão
ampliada do fenômeno, das abordagens, do ato assistencial e do
conhecimento tecnológico e científico envolvido, assim como das
limitações.
Para isso, o texto está estruturado da seguinte forma: primeiro, é
discutido o significado do cuidado de forma sucinta, e alguns aspectos

27
sobre a visão do cuidado geral; depois, são descritos alguns passos
e avanços em relação ao processo de cuidado, as exigências que o
cuidado das pessoas idosas dependentes requerem e a manutenção
da qualidade de vida de quem é cuidado e de quem cuida.

Pensando, refletindo sobre o ato de cuidar

O cuidado é uma necessidade e um recurso do ser humano;


é o ato de cuidar, ajudar, proteger, recuperar, desenvolver, inde-
pendentizar e criar novas situações diante dos agravos da saúde; é
multidimensional (biológico, psicológico, espiritual, sociocultural). O
cuidado envolve atividades voltadas para si ou para outras pessoas,
a fim de promover bem-estar, de ajudar a melhorar uma situação
difícil de vida, de deficiência ou de morte.
Cuidado são atividades/ações diretas e indiretas prestadas ao
indivíduo, à família ou ao grupo; são atividades/ações de apoio, de
facilitação, de capacitação, de ajuda, de atenção, de troca de ideias, de
decisões entre o cuidador e a pessoa que é cuidada (Migott, 2001).
Em todo lugar, época e cultura existe a necessidade de cuida-
dos, desde o nascimento até a morte. O ato de cuidar é uma práxis
da natureza do ser humano. A arte de cuidar é relevante e deve ser
desenvolvida com sensibilidade e ética frente ao outro e a si mesmo,
frente ao sofrimento, às necessidades física, emocional, espiritual e
à finitude, para suscitar no cuidador a compaixão e a solidariedade
inerentes aos seus atos. O cuidador necessita de uma boa capacidade
sensitiva para entender as demandas do seu cuidado, e assim escla-
recer as representações, os sentimentos e as atitudes das pessoas que
cuida. As ações de cuidado pautadas na ética e na estética incluem
a participação efetiva dos atores desse processo (Migott, 2014).
O cuidado também é percebido como gratidão ao familiar idoso
e zelo por seu bem-estar. O cuidar, quando se torna gratificante, é
uma demonstração de reconhecimento pela família e algumas vezes
pelo idoso. Para as cuidadoras, as palavras cuidar e cuidado fundem-

28
-se no mesmo significado, tanto em termos de definição como pela
identificação das atividades que as envolvem. As qualidades e ha-
bilidades da cuidadora, geralmente, são adquiridas pelas necessida-
des emergentes do dia-a-dia. Muitas cuidadoras aprenderam com
as dificuldades a adaptar a sua vida e o ambiente para o cuidado
(Thober; Creutzberg; Viegas, 2005).
A essência do ser humano reside no cuidado. Tudo o que existe e
vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver. O cuidado é
mais fundamental do que a razão e a vontade (Souza; Vaz, 2007).

O cuidador e o idoso que necessita de cuidados

A longevidade das pessoas tem elevado a frequência e o cresci-


mento das taxas de idosos portadores de incapacidades. A prevenção
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), a assistência à saú-
de dos idosos dependentes e o suporte aos seus cuidadores familiares
representam novos desafios para o sistema de saúde (Gaioli, 2012).
Na contemporaneidade, o expressivo número de idosos traz à
tona a necessidade de cuidados direcionados a esse público, sobretudo
à qualidade do apoio familiar, que pode ser fundamental nessa fase
do ciclo vital. Quando o idoso sente-se cuidado e assistido, desperta
para sentimentos e emoções positivas, podendo gerar repercussões na
recuperação da autonomia para a realização de atividades cotidianas.
Tais sentimentos revelam que o cuidado engloba necessidades psicoa-
fetivas, como carinho, atenção e zelo, que só ocorrem na presença do
outro em uma relação condicionada pelo contexto social (CFP, 2008).
À medida que o ser humano envelhece, muitas atividades
cotidianas podem se tornar mais difíceis de serem realizadas, até o
indivíduo entender que já depende de outra pessoa. Nesse momento
torna-se necessário o fortalecimento da rede social e o apoio social,
principalmente, da família aos idosos com limitações funcionais. Há
a necessidade de colocar um elemento, o cuidador, na roda familiar.

29
O cuidador é a pessoa que presta cuidados a outra que esteja ne-
cessitando, por estar acamada, com limitações físicas ou mentais, com
ou sem remuneração (Araújo, 2012). A presença de um cuidador
é fundamental para a reabilitação e para o atendimento às necessi-
dades cotidianas do idoso fragilizado, sobretudo no seguimento das
orientações para a saúde, bem-estar, segurança, conforto, bem como
no respeito e incentivo ao estímulo, à autonomia e à independência.
A busca pela promoção de autonomia e independência do idoso
é tarefa árdua e desgastante para os cuidadores, pois estes passam a
realizar tarefas que outrora eram de cunho pessoal e desenvolvidas
de maneira peculiar e autônoma pelo idoso (Araújo, 2012). O
cuidador de idosos é aquele que convive diariamente com o idoso,
prestando-lhe cuidados higiênicos, ajudando com a alimentação,
administrando medicação e estimulando-o com as atividades reabi-
litadoras, interagindo com a equipe terapêutica, bem como com a
família. É inclusive comparado a um guia para os idosos.
É na família que se encontram os principais cuidadores, que
geralmente reconhecem os primeiros sinais de necessidade e super-
visão e realizam o primeiro cuidado. Porém, as alterações na saúde
de um indivíduo também desencadeiam modificações na dinâmica
familiar, podendo gerar estresse e crise em toda sua unidade, assim
como num novo arranjo familiar produtivo (Luzardo, 2004).
No contexto familiar, evidencia-se que a mulher é quem mais
exerce o papel de cuidadora, sendo a ação de cuidar uma secular
atribuição feminina (Santos, 2010).
Às mulheres, sempre foi dado o papel do cuidado em tudo que
cresce e se desenvolve, por acreditar-se que sejam cuidadoras natas
e principais nas etapas do ciclo vital. Elas têm conquistado espaços
fundamentais à sua afirmação social e, principalmente, valorização
perante a sociedade, por meio dos papéis que vêm desempenhando
com competência, seja na família ou na comunidade. O seu pa-
pel de cuidadora é histórica e culturalmente o mais evidenciado,
assimilado e valorizado. Quando se trata de cuidar, a mulher está
implicitamente associada ao cuidado principal da família, embora

30
haja movimentos em direção ao homem cuidador, seja pelas novas
configurações familiares, pelo fator econômico, pela diminuição
do número de elementos do grupo familiar, ou simplesmente pela
maior participação do homem nas profissões de cuidado, como, por
exemplo, na enfermagem.
Estudos ressaltam que a mulher é a principal responsável pelo
cuidado ao idoso no domicílio. Estas mulheres são sobretudo as
esposas, as filhas e as netas, com idade entre 40 e 60 anos, de baixa
escolaridade e ocupadas apenas com afazeres domésticos. Elas rece-
bem essa designação do núcleo familiar como uma missão em suas
vidas (Pimenta, 2009; Vieira, 2011).
Na tentativa de solucionar a sobrecarga de cuidado, algumas
cuidadoras familiares estabelecem escalas de plantão e, com a ajuda
de familiares, assumem tarefas para com os idosos dependentes.
Nessa redefinição de papéis e estabelecimento de tempo de dedicação
entre os cuidadores familiares podem ocorrer conflitos intensos de
relacionamento, bem como alívio de tensões decorrentes do ato de
cuidar (Ministério da Saúde, 2010).
Pesquisas sobre relações entre idosos e cuidadoras abrem
possibilidades para a adoção de posturas a serem introduzidas na
educação escolar, no trabalho, na família, de forma a reduzir os con-
flitos interpessoais. Sobretudo, podem fornecer dados para estimular
uma relação mais harmoniosa entre cuidadoras e idosos com menor
desgaste dessa díade.
O reconhecimento do cuidador-familiar é uma forma de gratidão
ao idoso pela dedicação prévia deste à família. Montezuma, Freitas
e Monteiro (2008) apontam que o crescimento pessoal, o senso de
autorrealização e o sentimento de gratificação são benefícios decor-
rentes do ato de cuidar. Contudo, as cuidadoras podem apresentar
sintomas de estresse e menor nível de satisfação em viver, comparados
aos da população em geral, abrindo as portas para a ideia de que o ato
de cuidar tem dois lados: o positivo e o negativo (Karsch, 2008).

31
A exposição prolongada ao cuidado torna visível o aumento do
grau de dificuldade percebido pela mulher cuidadora, sendo este um
quadro negativo do ato de cuidar, pois neste momento não é raro
encontrar cuidadoras depressivas, desgastadas física e emocional-
mente, gerando assim estresse para si mesmas (Ghiorzi, 2007).
Por outro lado, quando a cuidadora familiar encontra-se em
harmonia com a pessoa a ser cuidada, pode proporcionar mais apro-
ximação entre ela e o familiar, e assim aumenta o grau de satisfação
perante o cuidado prestado.
O desgaste conferido às cuidadoras no processo de cuidar da
pessoa idosa implica também a necessidade de dispor de uma rede
de apoio social que a ajude nesta tarefa, como amigos, vizinhos e
pessoas do círculo familiar. A ausência de apoio gera um desgaste
ainda maior, por centralizar nelas todas as necessidades de cuidado
apresentadas pelo idoso, em especial, quando em situação de de-
pendência, sobrecarregando-a, fazendo com que a cuidadora viva
a vida do outro.
O ato de cuidar não é uma tarefa fácil, exige uma mudança
radical na vida de quem cuida e também demanda a execução de
tarefas complexas, delicadas e sofridas. Em muitos casos, a cuidadora
é também uma pessoa frágil, já em idade de envelhecimento ou em
vias de ficar doente, e que, frequentemente, abre mão de boa parte
de sua vida e desejos em prol da pessoa que está sob seus cuidados,
sem falar que, por vezes, estas cuidadoras se descuidam com a própria
saúde (Papaleo, 2005).
A mulher cuidadora sem suporte pode ser a futura pessoa idosa
cuidada, pois a experiência de estar ou de se tornar uma cuidadora
gera uma mudança radical na vida das pessoas. Essas mudanças
podem vir seguidas de sofrimento, decorrente de doença crônica ou
de alguma dependência física sua ou do idoso que cuidou (Andra-
de, 2009).
O fato de coabitar com um familiar idoso dependente e dele
cuidar pode ser um fator desencadeante de grandes mudanças no sis-

32
tema familiar, gerando assim um desequilíbrio emocional (Rocha,
2008). O cuidado ao idoso pode ser penoso e inadequado, tanto a
ele como à cuidadora, quando ela não estiver preparada para cuidar,
ou quando as relações familiares constituirem-se em estresse, com a
imposição da função de cuidar. A emergência da situação de cuidado
instalada na família desdobra-se em uma nova estrutura interna de
relação entre idoso e cuidadora, que pode desencadear adoecimento
dos membros envolvidos direta ou indiretamente nessa relação de
cuidado (Ministério da Saúde, 2008).
O cuidado domiciliar à pessoa idosa traz implicações ao cotidiano
da mulher cuidadora, permeado por desgastes físicos, psíquicos e
emocionais importantes. Esse cotidiano pressupõe uma atmosfera
de mudanças contínuas demarcadas pela rotina do idoso, o que
condiciona a cuidadora a adaptações e readaptações permanentes
relacionadas ao processo de cuidar. Muitas vezes, essas mudanças
exigem urgência/premência da cuidadora, não permitindo adaptações
nem tempo de se acostumar à nova situação, como, por exemplo,
deixar de se comportar como filha e passar a agir como mãe, em
uma clara inversão de papéis.
Como se pode entender, a tarefa de cuidar requer uma elevada
exigência e abnegação do cuidador, pois o idoso dependente necessita
de dedicação exclusiva, fazendo com que a cuidadora deixe de reali-
zar muitas de suas atividades, em favor dos cuidados dispensados.
Além disso, estudos mostram que há presença de estresse fí-
sico e mental nas cuidadoras, evidenciando que o cuidado, quando
executado exclusivamente por uma pessoa, constitui-se em um fator
predisponente para um estado de isolamento e depressão.
Faz-se necessário, portanto, uma atenção especial à familiar mu-
lher que presta o cuidado, tendo em vista que ela, após confirmado
o diagnóstico de desgaste físico e mental, necessita lidar com um
estresse cada vez maior, devendo administrar os conflitos familiares
e realizar um planejamento para o futuro tanto do idoso quanto de
sua pessoa.

33
Considerações finais

A boa relação entre cuidador e pessoa cuidada pressupõe uma


reciprocidade de intenções. Nesse quesito a mulher cuidadora tem
tido melhores resultados, pois volta-se de modo intencional às neces-
sidades apresentadas pelo familiar idoso, buscando correspondê-las
no exercício do cuidado.
Obviamente que a autenticidade dessa relação precisa considerar
a qualidade da interação entre os sujeitos nela envolvidos. Portanto,
ainda que se trate de idosos dependentes, são sujeitos que precisam
ser estimulados a fim de participar das ações de cuidado, na medida
de suas possibilidades.
Entretanto, o cuidado para com a pessoa idosa dependente é
demarcado por implicações importantes também no cotidiano das
cuidadoras, relacionadas às mudanças na rotina diária e ao próprio
desgaste conferido pela ação de cuidar, que, muitas vezes, vem
associado à realização de outras atividades do cotidiano da mulher
na esfera domiciliar.
Por mais que existam ainda lacunas de conhecimentos e ha-
bilidades das mulheres cuidadoras, sabe-se, por exemplo, que elas
necessitam de atenção, orientações e esclarecimentos sobre o cuidado.
Dessa forma, é necessário despertar a atenção dos profissionais
da saúde para que dirijam seu olhar aos cuidadores, seja em termos
de saúde, bem-estar e educação em saúde, seja em termos de pre-
paro ao cuidado mais profissional, orientando, realizando grupos de
autoajuda, visitas a domicílio, consultas de enfermagem. A partir
disso, devem ser desenvolvidas ações e intervenções para suprir as
necessidades dos pacientes, pois isso melhora a qualidade de vida
de ambas partes envolvidas no cuidado.

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36
Capítulo 3
O sono e o envelhecer

Ana Carolina Squeff de Mattos


Ana Carolina Bertoletti De Marchi
Cassiano Mateus Forcelini

Introdução

Com o envelhecer, aumentam naturalmente as queixas rela-


cionadas ao sono, devido às suas modificações ao passo da idade.
Quando desestruturado, o sono pode causar impactos negativos sobre
a qualidade de vida dos idosos, acarretando doenças e problemas
sociais, como, por exemplo, distúrbios do ciclo sono-vigília, comuns
na doença de Alzheimer. Existe a necessidade, portanto, de voltar a
atenção ao sono dos idosos e aos seus distúrbios, por mais que sejam
assuntos ainda pouco abordados. Nesse sentido, vale a pena lembrar
que as intervenções clínicas colaboram para melhorar a qualidade
de vida na terceira idade.

Conceitos e fisiologia do sono

O sono é um conjunto complexo de alterações comportamentais


associadas às atividades elétrico-cerebrais cíclicas. É responsável pela
função reparadora, protetora e conservadora de energia do organismo,

37
mantendo assim a homeostasia. Quando em desequilíbrio, colabora
para o surgimento de transtornos mentais, a redução da imunidade
e do desempenho físico e facilita ainda o aumento das dificuldades
adaptativas e da vulnerabilidade do organismo, principalmente nos
idosos (Quinhones; Gomes, 2011; Vitello, 2012). A vigília,
em contrapartida, caracteriza-se por elevada atividade motora, por
alta responsividade e por um ambiente neuroquímico que favorece
o processamento e o registro de informações e a interação com o
ambiente (Neves et al., 2013). A alternância entre adormecer/sono
e despertar/vigília varia de acordo com idade, sexo e características
individuais (Neves et al., 2013). Geralmente, oscila em um período
de 24 horas e apresenta um padrão sincrônico, regulado por diversas
citocinas e fatores neuro-humorais e endócrinos (Chokroverty,
2010; Neves et al., 2013).
O fato de o sono ocorrer em ciclos, com estágios previsíveis e
a capacidade natural de reversão de um estado de possível ausência
de reação aos estímulos externos, é o que permite distinguir o sono
dos estados patológicos de perda de consciência (Gomes et al.;
2010; Vitello, 2012).
O sono é uma condição fisiológica e reversível da atividade
cerebral, natural e periódica, caracterizada pela modificação do
estado de consciência, quando a atividade motora está reduzida ou
ausente e com um elevado limiar para resposta a estímulos externos
mantendo características posturais próprias (Neves et al., 2013).
O ciclo sono-vigília está relacionado à informação de lumino-
sidade trazida ao núcleo supraquiasmático (NSQ) através do trato
retino-hipotalâmico, onde acontece a regulação do ciclo circadiano
endógeno por meio do controle dos níveis plasmáticos da secreção de
melatonina, que aumentam entre uma e três horas antes do horário
normal de sono e são responsáveis pela sua manutenção noturna
(Quinhones; Gomes, 2011; Neves et al., 2013).
A regulação desse ciclo acontece pelo uso de substâncias que
promovem o sono (impulso homeostático) e o aumento da sonolência

38
após longos períodos de vigília pelo acúmulo de adenosina e através
do NSQ no hipotálamo, que promove o despertar (ciclo circadiano)
devido a variações cíclicas (de tempo e duração) entre o estado de
vigília e sono fisiológico no decorrer do dia (Neves et al., 2013).
Caso ocorram alterações em qualquer um desses mecanismos, a
regulação do ciclo sono-vigília pode ser prejudicada e causar danos
ao indivíduo.

Estágios do sono

O sono é composto por dois estágios: o não-REM (NREM),


o qual perfaz 75% do sono, e o REM, que abarca 25% do sono e
tem seu nome derivado do inglês rapid eye movements (Neves et
al., 2013).
O sono não-REM possui três fases (N1, N2 e N3) e é consi-
derado restaurador das funções orgânicas (principalmente no estágio
N3), pois está associado à restituição da estrutura proteica neuronal
e ao aumento da secreção do hormônio de crescimento (Littner
et al., 2005).
N1 (onda teta): ondas cerebrais de baixa amplitude e baixa
frequência, pouca atividade muscular em comparação com a vigília
e movimentos oculares mais lentos. É o sono superficial (Chokro-
verty, 2010; Rodrigues et al., 2012).
N2 (complexos K): ondas agudas com componente negativo
rápido, seguido de um componente positivo mais lento e com du-
ração maior que 0,5 segundo e fusos do sono (ondas de 11-16 Hz)
(Chokroverty, 2010; Rodrigues et al., 2012).
N3 (sono de ondas lentas): ondas de grande amplitude e baixa
frequência (Chokroverty, 2010; Rodrigues et al., 2012).
Já o segundo estágio (sono REM, ativo, paradoxal ou dessin-
cronizado) ocorre em intervalos regulares de aproximadamente 90
minutos, após ciclo completo de sono NREM e está associado à

39
ocorrência de sonho (Morgenthaler et al., 2007). Ocupa de
uma a duas horas do total de sono no adulto (Littner et al., 2005).
É caracterizado, no eletroencefalograma (EEG), por frequência
mista de baixa amplitude e voltagem com ou sem ondas em serra
(ondas triangulares de 2 a 6 Hz), e também por redução marcada
ou ausência de tônus muscular (Rodrigues et al., 2012; Neves,
2013).
O estágio REM é considerado profundo, devido à dificuldade
de se despertar o indivíduo nesta fase, porém possui um padrão
EEG semelhante ao da vigília com olhos abertos, ou como o do
sono NREM superficial. Por isso, é também chamado de sono pa-
radoxal. No sono REM, a atividade metabólica está aumentada em
comparação com a da vigília em diversas áreas do encéfalo, fato que
demonstra que o sono não pode ser considerado um estado de repouso
com economia energética. No estágio REM, ocorrem movimentos
rápidos dos olhos, atividade oculomotora, abalos musculares e ereção
peniana de forma fásica e eventos tônicos de dessincronização elétrica
cortical, atonia muscular, ritmo teta hipocampal; também ocorrem
flutuações cardiorrespiratórias, perda do controle da temperatura e
da sensibilidade ao dióxido de carbono, consolidação do aprendizado
e presença de sonhos (Giorelli; Florido, 2013).
O sono é mais profundo durante a primeira metade da noite
(Morgenthaler et al., 2007), com predomínio da fase NREM
(Littner et al., 2005). Na segunda metade da noite, o predomínio
é das fases mais superficiais NREM e REM (Morgenthaler
et al., 2007). Geralmente, a sequência normal dos estágios do sono
é a vigília, N1, N2, N3 e REM, sendo que o tempo total de sono é
pouco variável – vigília 5%-10%, N2 50%, N3 12,5%-20%, REM
20%-25% e N1 o restante (Neves et al., 2013).
A duração do sono e o número de despertares noturnos variam
de acordo com a idade, sendo que o primeiro despertar ocorre de
forma decrescente e o segundo de forma crescente: 19-20 horas
para o recém-nascido, 10 horas para crianças de até 10 anos, 8 horas

40
para o adolescente, 7,5 horas para o adulto e 6 horas para pessoas a
partir dos 60 anos. Os despertares noturnos variam de um despertar
na faixa de 5-10 anos para dois despertares (consideranto pessoas
entre 20 e 30 anos); quatro despertares para pessoas entre 40 e 50
anos e até oito despertares para idosos 70 e 80 anos (Morrison,
Riha, 2012).
De acordo com as normas internacionais do Manual de esta-
giamento do sono e de eventos associados (Associação Americana de
Medicina do Sono) de 2007 (Iber et al., 2007), as fases (épocas)
do sono devem ser analisadas por, pelo menos, 30 segundos, ba-
seadas: 1º) nas ondas cerebrais (alfa, beta, teta e delta) avaliadas
e classificadas pelo EEG; 2º) no nível de relaxamento muscular
visto pela eletromiografia (EMG) do mento; 3º) nos movimentos
oculares registrados pelo oculograma (EOG) (Rodrigues et al.,
2012; Neves et al., 2013).
Os ciclos de sono no adulto, para um estado de vigília ade-
quado, são caracterizados por uma média de 7-8 horas por dia,
com despertares noturnos de 5% do tempo total, onde o indivíduo
passa 30% sonhando, 20% em sono profundo e 50% em sono leve.
Agora considerando os idosos, estes podem apresentar um padrão
com redução dos estágios profundos do sono (N3 e REM) e um
aumento dos estágios de sono mais superficial (N1e N2) (Rodri-
gues et al., 2012).

41
Tabela 1 - Características do sono e alterações no envelhecimento.
Estágios
do sono Aspectos gerais Características Alterações comuns no idoso
- Sono leve - EEG: baixa voltagem e frequência mista
- Reduz atividade cerebral elétrica - Movimentos oculares lentos
N1 Normal ou minutos mais longa
- Estágio de transição do sono - Tônus aumentado
- FC e FR inalteradas
- Baixa voltagem, com fusos de sono e Redução:
- Relaxamento muscular complexos K
N2 - Número, densidade e duração dos fusos
- Baixa temperatura corporal - Sem movimentos oculares - Frequência intrafusos
- Redução da frequência cardíaca (FC) - Tônus aumentado - Número e densidade de complexos K
- Fusos do sono e complexos K no - FR pouco reduzida
EEG - Na modulação da frequência do fuso
- FC regular pelo ciclo circadiano

42
Alteração da atividade delta:
- Ondas delta e teta de alta amplitude
- Redução movimentos oculares rápidos
N3 - Ondas cerebrais com alta voltagem e - Poucos fusos e complexos K ou ausentes
baixa frequência - Pouca atividade REM do sono
(ondas - Sem movimentos oculares
lentas) - Sono restaurador (profundo) - Pico de amplitude decrescente
- Tônus diminuído
- Reduz frequência e amplitude das
- FR e FC reduzidas e regulares ondas

- Movimentos oculares rápidos - Baixa voltagem


- Sonhos vívidos - Frequência mista
Redução:
- Atividade cerebral aumentada - Movimentos oculares rápidos esparsos
REM - Movimentos oculares rápidos
- Aumento da FC e respiratória (FR) - Tônus muito reduzido ou ausente
- Atividade REM do sono
- Inibição ativa da musculatura - FC e FR regulares e aumentadas
voluntária
Fonte: QUINHONES, GOMES, 2011.
Sono no envelhecimento

O envelhecer parece acentuar as queixas relacionadas ao sono


devido às modificações na sua arquitetura (proporções e alternâncias
de fases do sono), na sua quantidade e na sua qualidade. Problemas
com o sono afetam mais da metade dos indivíduos acima dos 65 anos
(Quinhones; Gomes, 2011).
Dentre os fatores que contribuem para tal fato, destacam-se
os seguintes: os componentes restaurativos do sono; a redução da
duração dos estágios N3 e REM (podendo causar privação de sono
crônica); o menor limiar do despertar devido ao ruído (especialmente
nas mulheres, e principalmente após o nascimento do primeiro filho);
o aumento do período de latência para o início do sono (maior que
30 minutos em cerca de 32% das mulheres e 15% dos homens); o
encurtamento do tempo total do sono REM e do intervalo entre o
início do sono e o sono REM (período de latência REM); o au-
mento das transições de um estágio para outro e para a vigília, bem
como dos problemas respiratórios durante o sono e da atividade
mioclônica noturna (Geib et al., 2003; Quinhones; Gomes,
2011; Vitello, 2012).
Sono desestruturado é sinônimo de alterações do balanço
homeostático, da função psicológica, do sistema imunológico, da
resposta comportamental, do humor e da habilidade de adaptação
do indivíduo (Geib et al., 2003; Ancoli, 2009). Essas alterações
englobam o tempo na cama sem conseguir dormir, dificuldades para
reiniciar o sono, menor duração do sono noturno, maior latência de
sono, despertar pela manhã mais cedo do que o desejado, sonolência
e fadiga diurnas, aumento dos cochilos diurnos, comprometimento
cognitivo, mau desempenho diurno e aumento de quedas (Geib et
al., 2003; Quinhones; Gomes, 2011; Rodriguez; Alessi;
Dzierzewski, 2015).
O grande fator contribuinte para a falta de sono no envelheci-
mento é o uso contínuo de múltiplos fármacos. Segundo Luccheti et

43
al. (2010), a prevalência entre idosos de polifarmácia (definida como
uso de mais de cinco ou mais medicamentos por dia por pessoa) é
alta nos setores de atendimento e atenção à saúde. O aumento desse
consumo, devido a múltiplas morbidades associadas, e o consequente
aparecimento de efeitos adversos, tornou-se um aspecto importante
de cuidado em geriatria. Outra preocupação com os indivíduos que
apresentam desordens do sono é que estão frequentemente mais
propensos a desenvolver distúrbios cardio e cerebrovasculares.
Além disso, sabe-se que pacientes com essas patologias também
possuem risco aumentado para desenvolver distúrbios do sono (Jain,
2014), já que pessoas idosas tendem a desenvolver a síndrome de
apneia do sono (SAS) por modificações anatômicas e fisiológicas
nas vias aéreas compatíveis com o envelhecimento. Supõe-se que
mudanças na resistência das vias aéreas superiores sejam uma das
causas do aumento do despertar noturno, por aumentarem a instabi-
lidade do controle respiratório. Então, fica evidente que a frequência
da SAS aumenta no envelhecimento (Bixler, 1998; Jain, 2014;
Rodriguez; Alessi, Dzierzewski; 2015). De acordo com
um estudo realizado nos Estados Unidos, mais de 46% dos idosos
avaliados tiveram altos índices de apneia e hipopneia (definidos como
redução ou ausência do fluxo de ar durante o sono, respectivamente)
(Rodriguez; Alessi; Dzierzewski, 2015) em uma amostra
de 6.132 adultos. Desses, 55% foram em pessoas com 65 anos ou
mais (Idem).
A SAS, principalmente a apneia obstrutiva, está relacionada
à redução das funções cognitivas e consequentemente à demência.
É indicado não deixar de fazer o tratamento contínuo de SAS nos
idosos. Com base nesses dados, faz-se necessário o diagnóstico de
SAS como um método primário para a prevenção da demência nos
idosos (Yaffe, 2011; Nemeth, 2012; Bucks; Olaithe;
Eastwood, 2013; Troussiere et al., 2014; Okuro; Mo-
rimoro, 2014).

44
É visível o incremento da morbimortalidade na população ido-
sa com persistentes queixas referentes às mudanças no padrão do
sono. Em contrapartida, é possível afirmar que sono e o repouso são
funções restauradoras necessárias para a preservação de uma vida
saudável (Geib et al., 2003; Kwok, 2013). Porém, é fundamental
reforçar que os problemas de sono não devem ser confundidos com
as alterações fisiológicas dos padrões de sono-vigília e da arquitetura
do sono que ocorrem ao longo da vida (Rodriguez; Alessi;
Dzierzewski, 2015).

Sono na doença de Alzheimer

Os ritmos circadianos são responsáveis pelo controle dos ciclos


de sono-vigília e numerosos processos fisiológicos, desempenhando
um papel importante no processo cognitivo, incluindo o estado de
alerta, a aprendizagem e a memória (Tranah, 2011). Uma parte
substancial dos idosos com demência mostra distúrbios do ritmo
descanso-atividade (sono-vigília) (Maaskant et al., 2013).
Dentre as formas de apresentação desta disritmia, estão a insônia
inicial e de manutenção, a sonolência diurna e, principalmente, a fa-
migerada síndrome do pôr do sol (agitação vespertina). As causas desses
distúrbios ainda são pouco conhecidas, e o manejo ainda continua
sendo tema de debate no meio médico, o que torna relevante o estudo
na área. O envelhecimento está associado à alteração da atividade
desses ritmos circadianos gerando distúrbios do ciclo sono-vigília
(ritmos pobres em atividade), que é mais pronunciada na doença de
Alzheimer (DA), além de apresentar amplitudes reduzidas e atraso
de fase de variação circadiana da temperatura corporal e de atividade.
No EEG, após privação de sono, observou-se que a predominância
frontal da atividade delta decai com a idade (Czeisler, 1992; Van
Someren, 1996; Tranah, 2011).
A fragmentação do sono é uma queixa comum entre os idosos
demenciados, atingindo 25-40% dessa população, a qual frequen-

45
temente tem dificuldade não só para adormecer, mas também para
a manutenção do sono, devido a repetidos despertares noturnos.
Em geral, esses idosos se tornam progressivamente mais sonolen-
tos durante o dia com vários cochilos diurnos, sendo acometidos
pela insônia (Tranah, 2011). As regiões do cérebro responsáveis
pelos mecanismos de regulação do sono-vigília são mais afetadas
em idosos com DA avançada. Nesses casos, é comum alterações do
comportamento, desde períodos de agitação recorrentes, agressivi-
dade e desorientação (Van Someren et al., 1996). Embora tais
episódios possam ocorrer a qualquer hora, eles são mais comuns no
final da tarde ou à noite e por isso são conhecidos como síndrome
do pôr do sol.
Estima-se que as alterações patológicas subjacentes da DA já
iniciam na fase pré-clínica da doença, isto é, entre 10 e 20 anos antes
do aparecimento dos sintomas cognitivos e no momento em que se
destaca o acúmulo de placas amiloides no cérebro. O que não se sabe
ao certo é se, dentre essas anormalidades, os distúrbios do sono se
fazem presentes nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, antes
da manifestação de qualquer déficit cognitivo. Não existem estudos
que avaliam diretamente o potencial de associação entre o sono e a
DA durante a fase pré-clínica da DA, justamente quando as placas
amiloides começam a se formar, mesmo quando os indivíduos são
cognitivamente normais (YO-El et al., 2013).
O ritmo de descanso/atividade é importante para estudar pes-
soas com demência de início precoce e para distúrbios do ritmo de
atividade (Hooghiemstra et al., 2015).
Os métodos utilizados em estudos de intervenção que englobam
distúrbios do sono e demência podem ser melhorados, aumentando
a precisão do diagnóstico com a categorização dos distúrbios do
sono através da adesão ao actígrafo e, assim, definir claramente as
variáveis e parâmetros de cada estudo.
Além disso, controlando as variáveis que podem interferir no
sono e descrevendo o processo e a análise de dados, pode-se melhorar
a interpretação de resultados (Camargos; Louzada; Nóbre-

46
ga, 2013) e, então, identificar se existe diferença nos parâmetros
actimétricos entre idosos saudáveis, pacientes com dificuldade cogni-
tiva mínima e aqueles com doença de Alzheimer.
As principais queixas de sono associado com doenças neuro-
degenerativas, incluindo a DA, são insônia, hipersonia, parasonia,
excessiva atividade motora noturna, SAS e distúrbios no ciclo sono-
-vigília. O sono já é perturbado no início do processo neurodegene-
rativo e tem sido sugerido que as perturbações do sono aumentam
com a gravidade da neurodegeneração (Tranah, 2011).
O papel das perturbações do sono no processo neurodegenerati-
vo em grande parte é inexplorado (Tranah, 2011), e isso faz com
que o tratamento do desequilíbrio do ciclo sono-vigília na demência
se torne um desafio, pois é multifatorial e nem sempre tão efetivo,
por dificuldade de aderência.
Esse tratamento engloba medidas não farmacológicas (ambiente
reconhecido pelo paciente e rotina dos horários de banho, refeição e
ir à cama) e farmacológicas (benzodiazepínicos, embora com possi-
bilidade de agitação paradoxal, aumento de risco de quedas/fraturas
e agravamento do déficit de memória). Antipsicóticos também são
úteis para controlar a agitação e a síndrome do pôr do sol, porém
vale reforçar que seu uso aumenta o risco cardiovascular.

Considerações finais

Apesar de toda a pesquisa científica, envolvendo aspectos bási-


cos e clínicos do sono, há muito terreno ignorado em termos da sua
neurobiologia, em especial nos processos fisiológicos e patológicos
relacionados ao envelhecimento cerebral e suas repercussões.
A atenção ao sono dos idosos e, especialmente, aos distúrbios
que ocorrem nesta faixa etária são campo aberto para pesquisas e
intervenções clínicas para melhoria da qualidade de vida na terceira
idade.

47
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50
Capítulo 4
O método Pilates como
promotor de cuidado,
saúde e felicidade
em adultos maiores

Talia Castilhos de Oliveira


Nadir Antonio Pichler
Helenice de Moura Scortegagna
Edimarcio Testa

Introdução

Envelhecer não é simplesmente acumular anos de vida, é muito


mais complexo, não podendo ser demarcado cronologicamente aos
60 anos, se compreendido por um conjunto de atitudes e hábitos
adquiridos, melhorados e conservados durante a vida. Prestando
atenção às boas recomendações, aos sinais do nosso organismo,
consegue-se envelhecer de forma mais saudável, independente e
feliz. E o método Pilates é um caminho eficaz para a promoção de
cuidado, saúde e felicidade em adultos maiores, como também são
chamadas as pessoas com mais idade pela Organização Mundial da
Saúde (2015). Ademais, o método contribui para que sejam prota-
gonistas de sua história de vida pessoal.

51
O método Pilates foi criado por Joseph Hubertus Pilates, no
início da década de 1920. Baseia-se numa integração geral de todos
os movimentos do corpo, envolvendo contrações musculares de alto
ou baixo limiar e explorando exercícios de amplitude de movimento
completo ou com a articulação em posição neutra. Sua base está no
conceito da contrologia, em que todos os movimentos do corpo devem
ser totalmente conscientes, entendendo seus princípios de equilíbrio
e gravidade nos diferentes momentos.
O método surge como forma de condicionamento físico parti-
cularmente interessado em proporcionar bem-estar geral ao indivíduo,
incluindo felicidade, sendo capaz de proporcionar força, flexibilidade,
boa postura, controle postural, consciência corporal e percepção do
movimento (Lopes; Ruas; Patrizzi, 2014).
Considerando os fatores somáticos do corpo, a natureza gené-
tica, o estilo de vida etc., a saúde e a felicidade na longevidade são
processos complexos, intrinsecamente ligados à forma de vida, pois
envolvem autoestima, autoconhecimento, cuidado de si, autonomia,
independência financeira, participação, segurança, prática de vir-
tudes, convívio social, vida ativa, vida meditativa, espiritualidade,
sexualidade, erotismo, alimentação saudável, superação dos vícios,
atividade física, memória ativa etc.

O método Pilates

O método Pilates pauta-se em princípios da cultura oriental.


Joseph Hubertus Pilates criou um sistema de exercícios chamado
de contrologia, conceito que ele mesmo definiu em seu livro como: “a
ciência e a arte do desenvolvimento coordenado da mente, do corpo
e do espírito, através de movimentos naturais, sob o controle estrito
da vontade” (Pilates; Miller, 1945, p. 5).
A característica principal do método consiste em trabalho resisti-
do e alongamento dinâmico, realizados em conjunto com a respiração

52
e respeitando os seguintes prin­cípios: centralização, concentração,
controle, precisão, respiração, fluidez de movimento.
O primeiro deles, o princípio da centralização, consiste no centro
de força ou power house, ou seja, na musculatura abdominal super-
ficial e profunda, músculos respiratórios e na musculatura lombar,
glútea e pélvica. Essa estrutura é responsável pela sustentação da
coluna e dos órgãos internos. Nela se localiza o centro de gravidade
do corpo. O seu fortalecimento, objetivado no método, proporciona
um alinhamento biomecânico com menor gasto energético aos movi-
mentos, além de estabilidade e melhora da postura, cooperando na
prevenção de dores e outros males (Fernandes; Lácio, 2011).
A concentração é a atenção permanente com a qual se realizam
os exercícios, considerando cada parte do corpo. Já o controle remete
para a necessidade de se controlar todos os aspectos de cada movi-
mento. A precisão refere-se à exatidão com que cada exercício deve
ser praticado. A respiração é um componente importante do método,
na medida em que existe um ritmo adequado a ser adotado em cada
exercício que favorece a oxigenação de todos os tecidos do corpo.
Por fim, a fluência ou fluidez do movimento é considerada a fluidez e
a graciosidade, não só na realização dos exercícios, mas também na
mudança de um exercício para outro durante a sessão.
A focalização no centro do corpo, no início do movimento, a
coordenação de uma respiração correta (profunda e na sua capa-
cidade máxima), a concentração, o controle e a qualidade de cada
movimento em detrimento da exaustiva repetição são características
comuns à descrição do método Pilates (Pilates, 1934; Kolyniak
Filho; Garcia, 2012).
Joseph Pilates foi um autêntico pioneiro e estava à frente de seu
tempo (quase um século em relação às tendências atuais) por ser
um dos primeiros ocidentais a estudar diferentes disciplinas orientais
como yoga e a meditação. As concepções orientais refletidas em seu
método contêm recursos como a internalização de autoadaptação aos
ritmos naturais para equilíbrio, bem como características de inter-
nalização, a adaptação aos rítmos naturais para conseguir equilíbrio

53
interior, o controle dos gestos e a concepção global de uma pessoa que
se apresenta como uma unidade corpo-mente-espírito (Vilella;
Zarceño; Rosa, 2014).
Pilates (1934, p. 13) afirmou que “antes de qualquer benefício
proveniente do método, a pessoa precisa aprender a respirar corre-
tamente”, ou seja, realizar a completa inalação e exalação do ar. Ele
acreditou ser possível estimular todos os músculos a uma atividade
maior, ao mesmo tempo em que o corpo poderia tornar-se, abun-
dantemente, carregado de oxigênio puro e fresco, provendo melhor
estado de saúde. Assim, a ênfase na respiração como princípio do
método objetiva utilizá-la eficazmente, nutrindo o corpo e eliminando
toxinas, favorecendo a organização do tronco pelo recrutamento dos
músculos estabilizadores profundos da coluna na sustentação pélvica,
bem como o relaxamento dos músculos inspiratórios e cervicais.
Sobre isso, foi desenvolvido um ensaio clínico por Lopes, Ruas
e Patrizzi (2014, p. 518), intitulado Efeitos de exercícios do método
Pilates na força muscular respiratória de idosas: um ensaio clínico,
demonstrando que a técnica promove “bem-estar geral ao indiví-
duo, sendo capaz de proporcionar força, flexibilidade, boa postura,
controle postural, consciência corporal e percepção do movimento”.
Mesmo que esse ensaio clínico não tenha enfocado especificamente
a promoção da felicidade, ou bem-estar subjetivo (BES), deduz-se
por bem-estar geral também o enaltecimento dessa temática.
Em outra recente pesquisa, de natureza bibliométrica, rela-
cionada ao objeto deste capítulopesquisa (intitulada Hay beneficios
psicosociales por la práctica Pilates? Un análisis de la literatura cientí-
fica), realizada pelos pensadores espanhóis Vilella, Zarceño e Rosa
(2014), identificou-se, de um lado, que, de 2009 a 2013, houve um
considerável aumento de estudos em torno da prática. Por outro, que
havia poucos estudos na literatura acerca dos benefícios do Pilates nos
aspectos psicossociais, de acordo com as recomendações da OMS de
2010. “La práctica habitual de actividad física durante el tiempo libre
influye positivamente sobre el bienestar psicológico y emocional de
las personas” (2014, p. 118). A busca das publicações foi efetuada

54
nos suportes ScienceDirect, Pubmed, Lilacs, PsycArticles, CSIC-
-ISOC e Dialnet, nos idiomas inglês, espanhol e português.
Usando o descritor Pilates e cada um dos demais descritores,
como saúde psicológica, saúde social, saúde psicossocial, depressão,
estresse, ansiedade, saúde ocupacional, autoestima, estabilidade
emocional, otimismo e satisfação no trabalho, os autores encontraram
mais de duas mil publicações de 1997 a 2013.
Os mesmos autores ainda ressaltam que o Pilates melhora na
pessoa não só os aspectos físicos em geral, “reeduca las actitudes
posturales, aumenta la creatividad, la memoria, la autoestima, reduce
el estrés, el cansancio, la agresividad, el dolor, mejora el estado de
ánimo, la densidade ósea, la postura etc.” (2014, p. 118).
O condicionamento físico e mental decorrente de um conjun-
to de exercícios do método Pilates estimula as pessoas idosas a se
manterem motivadas, beneficiando consequentemente a “saúde e
qualidade de vida” (Kolyniak Filho; Garcia, 2012, p. 12).
Joseph Pilates publicou duas obras sobre seu método: Your he-
alth: a corrective system of exercising that revolutionizes the entire field
of physical education, em 1934, e Return to life trough contrology, em
1945. Ambas supõem atividades, movimentos precisos etc. Portan-
to, “uma boa condição física é o primeiro requisito para ser feliz”
(Pilates; Miller, 1945, p. 3).

Pilates e felicidade ou bem-estar subjetivo (BES)

Os estudos acerca da felicidade, ou bem-estar subjetivo (BES),


ganharam novamente impulso com o redespertar da arte, da filosofia,
da religião, da moral, da política etc. a partir das décadas de 1980 e
1990. Além disso, com o advento da psicologia positiva, o tema da
felicidade está sendo discutido desde uma perspectiva diferente: da
reparação de aspectos negativos e das doenças para a promoção da
saúde e de aspectos positivos do ser humano. Assim, o termo felici-
dade tem sido traduzido por bem-estar subjetivo. Logo, o constructo

55
BES vem sendo concebido como o estudo da felicidade, estando
fortemente relacionado à promoção de saúde.
A felicidade pode ser compreendida como a predominância
da frequência de ocorrência de experiências emocionais positivas
sobre as negativas. A qualidade de vida é subdividida em duas di-
mensões: bem-estar objetivo (welfare), que abarca as circunstâncias
objetivas da vida (renda, educação, saúde, lazer, transporte, entre
outros domínios) e bem-estar subjetivo (well-being), explicitado
pelas experiências subjetivas da vida, pela busca de realização pes-
soal, social e profissional. O estudo do BES busca compreender a
avaliação que as pessoas fazem de suas vidas, podendo receber outras
denominações, tais como felicidade, satisfação, estado de espírito,
afeto positivo, sendo também considerado por alguns autores uma
avaliação subjetiva da qualidade de vida. Por isso, há uma tendência
contemporânea para relacionar a felicidade ou BES à promoção de
saúde (Scorsolini-Comin, 2010).
Em um estudo realizado por Caldwell et al. (2014), assegura-
-se que o método Pilates é uma forma de educação somática com
potencial para cultivar a atenção – uma qualidade mental associada
com o bem-estar geral. A pesquisa, de caráter quase-experimental,
comparou aulas de Pilates no solo e aulas de ginástica recreativa
sobre as medidas de atenção plena e bem-estar no início, meio e
fim, totalizando 15 semanas de atividades. Houve aumento global
no quesito atenção para o grupo do método Pilates, mas não para
o grupo controle do exercício. Ter atenção sensorial, consciência
somática e conectar a mente e o corpo através da respiração são
aspectos-chave considerados de atenção plena – uma qualidade
mental associada com o bem-estar emocional e físico. Com base em
princípios e práticas fundamentais, o método Pilates pode ser uma
forma eficaz de desenvolver a atenção, no entanto isto tem sido um
assunto de estudo limitado até a data. Os resultados sugerem que o
método Pilates melhora especificamente a atenção, e estes aumentos
estão associados a outras medidas de bem-estar. As mudanças na

56
atenção plena identificadas neste estudo reforçam o papel do método
de Pilates no bem-estar mental dos seus praticantes.
Assim, historicamente, nas éticas teleológicas antigas e medievais,
intrínsecas à criatura racional, à pessoa, há uma predisposição para
um fim bom, capaz de movê-la em busca da felicidade. Por isso,
a felicidade ou o BES é o fim último do homem, o bem supremo
almejado por todas as pessoas e todos os grupos sociais no decorrer
de sua existência.
Dessa forma, para Pichler (2011), os fundamentos filosóficos
em torno desse bem supremo são oriundos das éticas clássicas de
Sócrates, Platão e Aristóteles, ampliadas, contextualizadas e rees-
truturadas por Epicuro, Cícero, Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio,
Plotino, Santo Agostinho, Severino Boécio e Tomás de Aquino. Na
modernidade, Pascal, Montaigne, Kant, Heidegger, Sartre, entre
outros, também se ocuparam com a temática. Mais recentemente,
Gilles Lipovétsky, Luc Ferry, Dalai Lama etc. desenvolvem pesquisas
em torno da felicidade na pós-modernidade.
Para Aristóteles (1999), todas as coisas, sejam as da ordem do
ser, do agir ou do fazer, tendem a um fim ou bem, que é a felicidade.
E a felicidade também é a causa final, alcançada pela ação.
Por isso, a felicidade – novamente tão em voga, mas agora
estruturada para outros valores e finalidades, como o consumo de
mercadorias, de bens e serviços – foi um tema central nas éticas
teleológicas. Enfim, ela era constituída como o bem supremo e o
fim último do homem, no qual os bens do corpo, os exteriores, as
riquezas, a beleza física, a saúde, a honra etc. eram os meios para
o fim último.
Dessa forma, uma pessoa que usufruía de boa saúde, disposição
física, com alguns recursos materiais e financeiros, conseguia dedicar-
-se à busca dos bens interiores, da alma, por meio do equilíbrio nas
ações, da prática das virtudes, do cuidado de si, do conhecimento e
autoconhecimento, enfim, da sabedoria, do bem mais elevado, por
meio da contemplação.

57
Nesse sentido, o relatório da Organização Mundial da Saúde
(2015, p. 5) sobre envelhecimento e saúde, contemplando em partes
a busca dos valores da alma mencionados acima, enfatiza que “uma
vida mais longa é um recurso incrivelmente valioso. Proporciona a
oportunidade de repensar não apenas o que a idade avançada pode
ser, mas como todas as nossas vidas podem se desdobrar”. Ou seja,
no processo de envelhecer existe a possibilidade de reestruturar a
condição existencial em busca de um envelhecimento saudável por
meio do cuidado de si, onde os adultos maiores, são convidados a
serem os protagonistas de sua história de vida. Com isso, superam-se
as percepções e suposições ideológicas estereotipadas e ultrapassadas
de que envelhecer é algo penoso.
Além do mais, “essas mudanças psicossociais podem explicar
por que em muitos cenários, a idade avançada pode ser um período
de bem-estar subjetivo maior” (OMS, 2015, p. 12), de felicidade.
A prática do método Pilates pode ser considerada uma das
formas de proporcionar melhoria na qualidade na vida de seus pra-
ticantes, através de uma condição otimizada de uma nova postura,
desenvolvendo maior mobilidade, equilíbrio e agilidade, embasando-
-se em tonificação muscular e ganho de flexibilidade e elasticidade,
alcançados com a prática de exercícios específicos, capazes de gerar
saúde, bem-estar e felicidade (Cader, 2010).
Um estudo realizado por Rodrigues et al. em 2010 teve o
objetivo avaliar o efeito do método Pilates na autonomia funcional
de idosas. Foram selecionadas 52 voluntárias, submetidas à avalia-
ção geral e ao protocolo de avaliação da autonomia funcional do
Grupo Latino-Americano de Desenvolvimento para Maturidade
(GDLAM), que consistiu em cinco testes: a) caminhadar por
10m; b) levantar-se da posição sentado; c) levantar-se da cadeira e
locomover-se pela casa; d) levantar-se da posição de decúbito ventral;
e) vestir e tirar uma camiseta.
Em seguida, as voluntárias foram divididas em: grupo Pilates
(GP, n=27; idade 66,9±5,3 anos) e grupo controle (GC, n=25;

58
idade 65,2±3,9 anos). As participantes, com idade entre 60 e 78 anos,
eram sedentárias por pelo menos seis meses antes do estudo. Supõe-
-se, a capacidade de executar as atividades da vida diária depende
de um processo delicado de captação e interpretação de estímulos
sensoriais e de execuções motoras, e se não forem bem executadas,
podem causar limitações no desempenho motor. Buscando amenizar
as consequências do processo degenerativo, o estudo concluiu que a
prática de atividade física regular apresenta resultados positivos de
ganho funcional em idosos.
Agora, voltando à felicidade, atualmente, parece haver uma
inversão dos caminhos apresentados pelos estudos acerca desse as-
sunto desde a tradição dos gregos: aquilo que era meio tornou-se o
fim último para o homem na busca insaciável pelo consumo de bens
exteriores. Talvez seja essa uma das razões do vazio existencial do
homem na contemporaneidade. Os bens que propiciam uma felici-
dade mais duradoura e substancial são os bens da alma, os valores
humanos, ou seja, a busca pelo conhecimento, o autoconhecimento,
a efetivação da sabedoria alcançada pelo sábio, a prática das virtudes
da coragem, da moderação, da justiça, da equidade, da dignidade, do
discernimento ou prudência, da amizade, o cultivo de alguns amigos
leais, do humor, do cuidado, da hospitalidade, da solidariedade etc. E
a velhice é um período privilegiado para enaltecer e essas qualidades
e usufruir delas (Lipovetsky, 2007).
Nessa perspectiva, o dinheiro e os bens materiais, tão valoriza-
dos e perseguidos atualmente, não deixam de ser necessários, desde
que sejam o meio para alcançar os valores da alma, e não o fim, já
que este fim, o bem supremo, a felicidade, transcende a vida ativa,
o apego aos bens exteriores e os problemas existenciais familiares,
sociais, culturais, religiosos, financeiros.
Todos estes e outros bens exteriores, também chamados de
bens coadjuvantes, tão necessários para a sobrevivência do mundo
globalizado e da humanidade, porém inacessíveis para muitos, são
considerados meio para a felicidade e não fim (fim no sentido de

59
busca, de projeto de vida). Eles trazem e satisfazem o bem-estar
material e o psicológico para a pessoa humana, tese corroborada,
atualmente, pelo filósofo francês Luc Ferry (2004). Entretanto, os
bens exteriores geram uma felicidade provisória, incompleta, efêmera.
Nessa ótica, se pessoas e grupos conseguem estruturar uma
vida voltada ao prazer de viver bem, ao cuidado da alma, buscando
a tranquilidade, que é o bem-estar subjetivo, por meio do convívio
familiar, com os amigos, vizinhos e pela prática das virtudes cívicas,
tornando-se assim um cidadão ativo e responsável pelos rumos da
polis ou da cidade, há sim possibilidade de ser mais feliz.
Por isso a Organização Mundial da Saúde prima e solicita me-
didas urgentes de políticas de saúde (e poderíamos acrescentar de
felicidade) para pessoas idosas: “Em todos os países, e especialmente
nos países em desenvolvimento, medidas para ajudar pessoas mais
velhas a se manterem saudáveis e ativas são uma necessidade, não
um luxo” (WHO, 2005, p. 8).
Dessa forma, a felicidade, de acordo com o itinerário da matriz
ética grega, é uma atividade considerada o bem supremo, o fim últi-
mo do homem, no sentido de que não há bem maior a ser alcançado
no decorrer da existência. O homem não nasce feliz. Ele se torna
feliz por meio da concretização de hábitos bons, isto é, pela prática
de virtudes da coragem (andreia), da moderação (sophrosynê), de
amizade (philía), da justiça (dikaiosynê), da sabedoria (sophia) etc.
Assim, a felicidade tão almejada, totalmente romântica, perene,
total e absoluta – muitas vezes apresentada pela festa do consumo,
por meio das propagandas, pelos filmes e romances – não existe. O
que uma pessoa consegue alcançar são momentos preciosos, mais ou
menos intensos, acompanhados de prazeres intelectuais, denominados
de felicidade. Tudo isso é resultado de esforço, de conquista, assim
como a aprendizagem (os conhecimentos) e habilidades práticas
(Pichler, 2011, p. 28).
De acordo com um estudo realizado sobre vivências de felici-
dade de pessoas idosas, Luz e Amatuzzi (2008) constataram que a

60
dimensão familiar e a dimensão laboral possuem grande importância,
sendo fontes de felicidade, de cuidado. Verificou-se que a velhice
pode ser um período prazeroso, com projetos e realizações. Embora
esteja diretamente ligada à qualidade de vida, a velhice pode ser
um período de liberdade e de experiência acumulada, ocasionando
maior grau de especialização e capacitação com o desenvolvimento
de projetos de vida e de potencialidades. Os alicerces da velhice
bem-sucedida são fundados em estilos de vida que mantêm o corpo
e a mente saudáveis através do exercício, bons hábitos de nutrição
e envolvimento em atividades interessantes que desafiam a mente.
O desenvolvimento desses hábitos relaciona-se com a educação e
as atitudes da família e amigos que valorizam a vida saudável e
produtiva. O envelhecimento adequado também se relaciona com o
fato de se aprender técnicas de redução do estresse na meia-idade
(Nobre et al., 2013).
Por isso que o envelhecimento psicológico tem relação com o
esforço pessoal contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido
da vida, possibilitando uma redução da vulnerabilidade nesta fase.
E, ainda, nesse contexto, D’Araújo et al. (2015) afirmam que há
uma adaptação do ser humano ao longo da vida, tal como descrito
pelo Modelo da Seleção, Otimização e Compensação, em que Seleção
é um processo em que se estabelecem metas pessoais; Otimização
refere-se à aquisição e à aplicação de meios relevantes para atingir
melhores níveis de funcionamento, equanto na Compensação são
geridas as perdas já verificadas, passíveis de serem previstas.
Com a idade, as pessoas passam a depender mais de estratégias
internas de regulação emocional, mas as relações continuam sendo
importantes, quer como pontos de referência, quer como fontes de
parceiros sociais, de manutenção do autoconceito, de ajuda instru-
mental e de apoio emocional. Ou seja, muda a função das relações
sociais, mas permanece a sua importância. Em resumo, as pessoas
aprendem sobre o mundo e sobre si mesmas por meio de seus
relacionamentos com outros significantes. Ainda no caminho das

61
pesquisas que descrevem as relações ou os contatos sociais como
um importante determinante do BES, Charles e Carstensen (2010)
apresentam evidências presentes na literatura sobre a forte relação
da rede de suporte social com o bem-estar e sobre a relação direta
entre bem-estar e relações sociais.

Considerações finais

A autoestima, a autoimagem, a aceitação das próprias limitações,


a busca pela felicidade, a saúde e o bem-estar psicológico, dentre
outros, são qualidades adquiridas durante o processo de envelhecer.
Por isso, pela prática do Pilates, é possível uma ressignificação desse
processo do desenvolvimento de adultos maiores, possibilitando que
a velhice seja vista como peculiar e saudável.
Assim, há uma compreensão de que a prática do método Pilates
pode corroborar, de forma significativa, para alcançar uma vida me-
lhor e mais feliz pelo cuidado de si, da subjetividade, ressignificando
a existência de adultos maiores. Conhecer o contexto em questão,
permitirá (re)dimensionar intervenções nas práticas de saúde e fe-
licidade dirigidas aos idosos e, com isto, propor ações mais efetivas
a grupos de convivência, quanto às formas de lidar com o envelhe-
cimento e com as principais fontes de angústia que o ser humano
idoso experimenta.
E a práxis do método Pilates traz melhorias à qualidade de
vida de seus praticantes, através de uma condição otimizada, de
uma nova postura, desenvolvendo maior mobilidade, equilíbrio
e agilidade, embasando-se numa tonificação muscular e em um
ganho de flexibilidade e elasticidade, atingidas através de seus
exercícios específicos. Contudo, a comprovação dos efeitos reais
para os praticantes deste método se faz relevante, se considerarmos
toda a importância da atividade física no cotidiano dos idosos que
necessitam de um planejamento específico para essas atividades e de
profissionais qualificados.

62
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64
Capítulo 5
A vertigem posicional paroxística
benigna no idoso

Bibiana Fortes
Marina Viana Borgmann
Silvana Alba Scortegagna

Introdução

A vertigem é um sintoma comum e preocupante na população


idosa, sendo um fator preditivo de quedas que leva à diminuição da
capacidade funcional. Dentre os principais tipos de vertigem, tem-se
a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), conhecida pela
população leiga pelo termo errôneo labirintite.
A VPPB é uma vestibulopatia periférica, descrita pela primeira
vez por Barany (apud DIX; Hallpike, 1921), desencadeada pelo
deslocamento de fragmentos de otólitos da mácula utricular no inte-
rior dos canais semicirculares (canalitíase ou ductolitíase), ou anexos
à cúpula da ampola (cupulolitíase), que geram crises de vertigem ao
movimento posicional da cabeça, associadas a um tipo característico
de nistagmo posicional paroxístico (Bittar et al., 2011; Brandt,
1999; Libonati, 2014).

65
Essa afecção tem como pico de incidência a faixa etária que
varia entre 50 e 80 anos (Bittar et al., 2011; Brandt, 1999;
Libonati, 2014; Silva et al., 2011), não existindo um consenso
da real idade média. A VPPB é considerada a causa mais prevalente
de vertigem em pessoas idosas (Barany apud DIX; Hallpike,
1921; Bittar et al., 2011; Brandt, 1999; Libonati, 2014;
Silva et al., 2011; Holstein; Due; Holst, 1990; Brandt,
1991; Fetter, 1994; Katsarkas, 1994; Davis, 1994; Iwasaki,
Yamasoba, 2015; Norré, 1995; Herdmann, 2002) e sua inci-
dência segue aumentando nos últimos anos (Iwasaki, Yamasoba
, 2015). Brandt (1999) relata que 30% da população acima dos 70
anos já apresentou um episódio de VPPB. Este capítulo revisará as
apresentações clínicas da VPPB e seu tratamento no idoso.

Aspectos clínicos

A apresentação clínica da VPPB é uma crise de vertigem (ton-


tura rotatória) súbita, com duração de segundos, que cessa esponta-
neamente. A vertigem é desencadeada por movimentos bruscos da
cabeça, como, por exemplo, ao deitar ou ao levantar da cama; trocar
o decúbito quando deitado; estender o pescoço para olhar para o alto
e fletir o pescoço para olhar para baixo. Sintomas como náuseas e
vômitos podem estar presentes e não há sintomas auditivos associados
(Bittar et al., 2011; Norré, 1995).
A VPPB proporciona problemas de equilíbrio, podendo durar
horas ou dias após o episódio de vertigem ter cessado. Nos pacientes
em que a vertigem episódica persiste, esta disfunção pode ser in-
tolerável provocando alterações significativas nas atividades diárias
(Herdmann, 2002).
A doença não é unicamente uma condição somática, mas tem
um sério impacto sobre o estado mental do paciente. A coexistência
entre transtornos psiquiátricos e distúrbios vestibulares é reportada
na literatura e deve ser investigada (Pollak et al., 2012; Yuan,

66
2015). Muitos pacientes com VPPB apresentam depressão e ansie-
dade, e a concomitância destes transtornos pode levar a um círculo
vicioso, comprometer a eficácia do tratamento e a qualidade de vida
dos pacientes (Yuan, 2015; Pereira; Santos; Volpe, 2010).

Diagnóstico

O diagnóstico da VPPB é essencialmente clínico. Assim, uma


boa anamnese sugere fortemente o diagnóstico. Um exame físico
otorrinolaringológico completo e pelo menos um exame neurológico
básico são indispensáveis em todos os pacientes, tendo em vista que as
patologias vestibulares e neurológicas podem estar associadas.
Existem diferentes manobras que permitem o diagnóstico da
VPPB. Através delas, avalia-se a ocorrência de nistagmo associado
ao sintoma de vertigem, determinando qual canal semicircular está
acometido. A VPPB de canal semicircular posterior (CSP) é a mais
prevalente, correspondendo a aproximadamente 80% dos casos
(Bittar et al., 2011, Brandt, 1999; Libonati, 2014; Norré,
1995; Pereira; Scaff, 2001), seguida pelo acometimento do
canal semicircular lateral (CSL) e pelo canal semicircular anterior
(CSA). Vale ressaltar que, embora pequena, uma parcela de pacientes
apresenta o acometimento simultâneo de mais de um canal semicir-
cular (Bittar et al., 2011; Libonati, 2014; Norré, 1995). O
nistagmo da VPPB é fatigável, de latência curta, duração rápida e
inverte a sua direção ao final da manobra.
Um dos testes mais utilizados para o diagnóstico de VPPB de
CSP e CSA é a manobra de Dix-Hallpike. Para o CSL, é o conhecido
como head roll test (Brandt, 1999; Libonatti, 2014; Pereira;
Scaff, 2001; Ganança et al., 2011; Bhattacharyya, 2008).
De forma sucinta, o primeiro é realizado com o paciente inicialmente
em posição sentada, com a cabeça para o lado em aproximadamente
45°, direita ou esquerda, conforme o lado a ser testado. Com o exa-
minador segurando a cabeça do paciente, promove-se um movimento

67
para o mesmo deitar-se em decúbito dorsal. A cabeça fica pendente,
com extensão de aproximadamente 30°. O paciente fica imobilizado
nessa posição, com os olhos abertos e assim avaliam-se as caracterís-
ticas do nistagmo, determinando qual canal está acometido.
Um nistagmo torcional com componente vertical batendo para
cima indica acometimento do canal semicircular posterior. Logo, se
for no sentido horário, o CSP é esquerdo. Se for no sentido anti-
-horário, o CSP é direito. Quando o componente vertical bate para
baixo, tem-se acometimento do canal anterior. Nesse caso, se for
no sentido horário, o CSA é esquerdo. Se for anti-horário, o CSA
é direito (Bittar et al., 2011; Libonatti, 2014; Ganança et
al., 2011).
Quando a duração do nistagmo é de menos de 60 segundos,
indica uma canalitíase, ou seja, o acúmulo de fragmentos de otólitos,
proveniente das máculas otolíticas que permanecem em suspensão
na endolinfa dos canais semicirculares. Por outro lado, diante de um
nistagmo com duração superior a 60 segundos, tem-se uma cupu-
lolitíase. Isso significa que os fragmentos de otólitos permanecem
aderidos à cúpula da ampola do canal envolvido. Em termos práticos,
a VPPB de cupulolitíase apresenta um quadro mais persistente que
precisa ser levado em consideração no tratamento (Bittar et al.,
2011; Libonatti, 2014; Ganança et al., 2011).
Na VPPB do canal horizontal, utiliza-se o head roll test, no
qual deita-se o paciente em decúbito dorsal com a cabeça flexionada
anteriormente em 30°, sendo a mesma girada, com participação do
paciente, para um dos lados e mantida nesta posição por até um
minuto. Quando o nistagmo bate para baixo (geotrópico), tem-se
uma canalitíase; quando bate para cima (ageotrópico), cupulolitíase.
O que determina o lado acometido, se direito ou esquerdo, é o lado
que o nistagmo bate de forma mais intensa. Exemplificando: se um
nistagmo geotrópico é mais intenso com a orelha direita para baixo à
manobra, tem-se uma VPPB de CSL direito; se nistagmo geotrópico
é mais intenso com a orelha esquerda para baixo, tem-se uma VPPB
de CSL esquerdo (Libonati, 2014; Pereira; Scaff, 2001).

68
Alguns pacientes que não apresentam o nistagmo característico
na manobra de Dix e Hallpike e do head roll test, mas experimentam
a vertigem clássica durante o teste, serão classificados como VPPB
subjetiva passível de manobra de tratamento (Ganança et al.,
2011; Salvinelli, 2003).
Um exame complementar muito solicitado na avaliação da
vertigem é a videoeletronistagmografia, contudo é de utilidade li-
mitada, por não permitir diagnóstico da VPPB de todos os canais.
A grande relevância do exame nessa patologia está em identificar
outras comorbidades associadas à vertigem posicional paroxística
benigna (Bittar et al., 2011).
Outro exame complementar para VPPB é a videonistagmoscopia
por infravermelho (VNG), método computadorizado que emprega
uma fonte de luz infravermelha invisível para olho humano e tem
para gravar os movimentos oculares em qualquer condição de ilumi-
nação ambiental, inclusive na completa escuridão (Eckert; Gizzi,
1998). Videocâmeras instaladas em lentes binoculares à prova de
luz possibilitam a observação direta e a gravação dos movimentos
oculares horizontais, verticais e torsionais com olhos abertos e no
escuro. A VNG emprega o processamento da imagem digital para
medir os movimentos do centro da pupila e possibilita a medida da
velocidade da componente lenta do nistagmo horizontal e vertical
(Caovilla, 1999; Bojrab; Maya, 2003; Boniver, 1998).
A visualização e a gravação da direção exata dos fenômenos
oculares é uma das grandes vantagens da VNG, a qual é útil na
avaliação do nistagmo de posicionamento, em particular no diagnósti-
co da VPPB, uma das vestibulopatias mais comuns (Caovilla,
1999; Boniver, 1998; Barin, 2008; Barin, 2009). O nistagmo
à prova de Dix-Hallpike pode ser de pequena amplitude, de dura-
ção fugaz e nem sempre é identificado ou caracterizado a simples
observação visual. O controle à VNG é útil no diagnóstico e no
registro dos movimentos oculares durante as manobras terapêuticas
da VPPB (Yakinthou; Maurer; Mann, 2003; Ganança;
Caovilla; Ganança, 2010).

69
Tratamento

O tratamento da VPPB no idoso segue de forma geral os


mesmos princípios do tratamento em outras faixas etárias, como
medidas comportamentais, terapia medicamentosa, manobras de
reposicionamento (MR), reabilitação vestibular (RV) e em alguns
casos cirurgia.
As medidas comportamentais são imprescindíveis no tratamen-
to da VPPB, especialmente no idoso, pois é comum a associação
de outras patologias como diabetes mellitus e dislipidemia, que
quando não controlados contribuem negativamente para o sucesso
do tratamento. O paciente deve alimentar-se em horários adequados,
realizar 6 refeições diárias (alimentar-se a cada 3 horas), priorizando o
café da manhã, e não pular as refeições, inclusive os lanches da manhã
e o da tarde. Também deve evitar abuso de alimentos que contenham
cafeína (café, chimarrão, chá preto, chá verde, chá mate, refrigerantes,
chocolates, energéticos), assim como medicamentos com cafeína, excesso
de carboidratos, alimentos com açúcar branco e bebidas alcóolicas.
Além disso, os pacientes devem realizar atividades físicas de
forma regular, permitindo melhorias na capacidade funcional. Isso
permite recuperar o equilíbrio por favorecer a estimulação somatos-
sensorial e proprioceptiva, proporcionar reforço muscular, evitando
maior número de quedas, e diminuir as disfunções cardiovasculares.
É importante deixar claro que as MR são consideradas a pri-
meira de linha de tratamento da VPPB. Por isso, medicamentos
ficam reservados apenas nos quadros vertiginosos agudos asso-
ciados a naúseas e vômitos (Bittar et al., 2011; Silva et al.,
2011; Ganança; Manoel; Duarte, 2014). Vários estudos
defendem que o uso de supressores vestibulares sozinhos é inferior
às manobras de reposicionamento (Bittar et al, 2011; Pereira;
Scaff, 2001; Bhattacharyya, 2008; Eckert; Gizzi, 1998;
Resende et al, 2003; Fife et al, 2008). Drogas não devem ser
usadas como substituto das manobras – situação comum na prática

70
clínica de diversas especialidades médicas –, muito menos para os
idosos, pois estes costumam fazer uso de diversas medicações para
outras comorbidades e são mais sensíveis aos efeitos colaterais.
Os supressores labirínticos interferem na compensação vestibular,
mascaram achados das manobras diagnósticas, interferem na função
cognitiva, na motilidade gastrointestinal, além de comprometerem
a função urinária e causarem distúrbios de movimento e de visão
(Bhattacharyya, 2008).
Todavia, alguns pacientes necessitam da associação de drogas
supressoras do labirinto e/ou antieméticos às MR para sentirem
alívio mais rápido. No Pronto Socorro da Otorrinolaringologia
na Unifesp-EPM (Ganança; Manoel; Duarte, 2014),
aborda-se o paciente com dimenidrato associado ao cloridrato de
piridoxina, glicose e frutose endovenosa (EV). O paciente é reava-
liado em 30-60 minutos, e caso não apresente melhora, inicia-se o
uso de diazepam EV e/ou ondansentrona EV. Uma nova avaliação
é realizada em 30-60 minutos e, se ocorrer melhora dos sintomas,
é prescrito dimenidrato B6 8/8 hs VO, cinarizina 8/8hs VO e clo-
nazepam 12/12 VO. Se não houver sinais de melhora, mantém-se o
paciente internado, prolongando o tratamento EV. Com a melhora
dos sintomas, indica-se a reabilitação vestibular (Silva et al., 2011;
Ganança; Manoel; Duarte, 2014). Ressalta-se que a cina-
rizina/flunarizina deve ser evitada em pacientes maiores de 60 anos,
pelo risco de sintomas extrapiramidais e doença de Parkinson. Ben-
zodiazepínicos devem ser indicados com cautela, principalmente na
suspeita de vertigem de origem central por serem drogas que atuam
no sistema nervoso central. Casos mais leves, de que consultas em
nível ambulatorial, são tratados com dimenidrato B6 8/8hs ou me-
clizina 8/8h, além da realização das manobras de reposicionamento
e/ou reabilitação vestibular.
As manobras de reposicionamento ou manobras liberatórias
são indispensáveis para o tratamento da VPPB (Bittar et al.,
2011; Libonati, 2014; Norré, 1995; Bhattacharyya,
2008; Resende et al., 2003; Epley, 1992; Wolf et al., 1999).

71
A manobra de Epley é a MR para tratamento da VPPB de cana-
litíase do canal posterior e anterior. Primeiro, o paciente é colocado
na posição Dix-Hallpike, na direção do lado da orelha afetada, que
deve ser mantido para baixo durante um ou dois minutos. Então,
sua cabeça é girada 45° para o lado contralateral e é mantida nesta
nova posição durante um breve período (até cessar o nistagmo ou
sintomas associados). Na sequência, realiza-se uma rotação do corpo
e o paciente deita de lado, sobre o ombro, ficando com o rosto virado
em 135° em direção ao chão. Finalmente, o paciente volta à posição
ereta, retornando com a cabeça à posição inicial.
Quanto à MR da canalitíase de canal lateral (CSL), conhecida
como Barbecue, a partir da manobra diagnóstica para o canal lateral,
a cabeça do paciente é girada 90° por três vezes, em direção ao lado
sentado, e aplica-se uma rotação de 270° no total, permanecendo em
cada posição cerca de um a dois minutos.
Existem outras manobras menos utilizadas, como, por exemplo,
a Appiani para canal lateral; a Gufoni também para lateral; a Yaco-
vino para canal anterior, entre outras (Libonati, 2014; Appiani
et al., 1996).
Há ainda a Manobra Liberatória do CSP desenvolvida por
Semont (Bittar et al., 2011; Libonati, 2014) que envolve
uma oscilação da cabeça em 180° no plano do canal posterior, com
o paciente sentado em uma mesa. O paciente senta na borda da
cama de exame com as pernas pendentes de frente para o examina-
dor. Este leva o corpo do paciente rapidamente para baixo sobre a
orelha afetada, mantendo sua cabeça girada em 45° em direção ao
lado oposto. Após o desaparecimento do nistagmo e/ou vertigem, o
paciente é levado rapidamente para o lado oposto com a cabeça e o
pescoço mantido com as duas mãos e assim atinge a posição com a
face para baixo no lado oposto.
As manobras de Epley e Semont são altamente eficazes quando
realizadas apropriadamente. Depois de uma única aplicação completa,
obtém-se a recuperação de 50-70% dos pacientes (Bronstein;
Lempert, 2010). Para a manobra de Epley, os índices de cura

72
variam de 87 a 100% (Epley, 1992; Wolf et al., 1999; Appiani
et al., 1996).
Brandt e Daroff propuseram exercícios de habituação que con-
sistem em manter o paciente sentado em uma maca, com a cabeça
voltada 45º para o lado que não provoca a vertigem. A seguir, é
instruído a deitar-se o mais rápido possível para o lado na posição
de decúbito lateral, mantendo a cabeça voltada 45º para cima, de-
vendo permanecer nesta posição por 30 segundos. Na sequência,
deve sentar por 30 segundos para logo girar a cabeça 45º para o
lado que provoca a vertigem e deitar em decúbito lateral para o lado
oposto com a cabeça voltada 45º para cima, mantendo a posição por
30 segundos. O procedimento deve ser repetido de 5 a 10 vezes
(Brandt; Daroff, 1980).
Está indicada reabilitação vestibular em casos de o paciente
permanecer com algum grau de sintoma após a MR. Na década de
1940, o médico Cooksey e o fisioterapeuta Cawthorne propuseram o
uso de exercícios com objetivo de tratar os distúrbios vestibulares. O
programa consistia em uma série de movimentos dos olhos, da cabeça
e do corpo geralmente em posições cuja vertigem era desencadeada
e que deviam ser seguidos de acordo com a tolerância do paciente
e as suas necessidades individuais. Considerada uma abordagem
terapêutica, os exercícios vestibulares buscam promover a melhora do
equilíbrio global, da qualidade de vida e a restauração da orientação
espacial para o mais próximo do fisiológico. Esta recuperação se dá
por meio da neuroplasticidade e da compensação vestibular. Além
do uso desses mecanismos, podem ocorrer também a adaptação, a
habituação e a substituição (Brandt; Daroff, 1980).
Na adaptação, o sistema vestibular reaprende a receber e a
processar informações, mesmo que distorcidas ou incompletas,
adequando-as aos estímulos apresentados a fim de recuperar o reflexo
alterado. A habituação combate os sintomas e consiste na redução
das respostas sensoriais baseada na repetição de estímulos sensoriais,
alcançada pela repetição dos movimentos, provocando diminuição
da resposta vestibular e diminuição da amplitude do nistagmo. Para

73
isso, torna-se necessária a integração de todos os aferentes sensoriais
envolvidos: visual, vestibular e somatossensorial. No processo de
substituição vestibular ocorre a troca das informações relacionadas
ao equilíbrio corporal que estejam ausentes ou conflitantes.
Assim, a RV trabalha reflexos, como o RVO (reflexo vestíbulo
ocular), com função de estabilizar as imagens na retina durante o
movimento da cabeça, preservando a imagem no centro do campo
visual. Esse reflexo ajuda na melhora da percepção do espaço onde
o indivíduo se encontra. Outro reflexo é o RVE (reflexo vestíbulo
espinhal), para estabilizar a cabeça no espaço e em relação ao corpo,
assim como manter a postura ereta. Estímulos labirínticos levam a
diferentes padrões de ativação na musculatura cervical e dos mem-
bros, e com o objetivo de prevenir quedas.
Como o idoso apresenta limitações fisiológicas, a RV é adap-
tada para cada caso. Estes pacientes possuem também limitações
musculoesqueléticas cervicais e por isso é fundamental a realização
de manipulação cervical (terapias manuais, cinesioterapia e orienta-
ções) para a realização de manobras de reposição e/ou exercícios que
facilitem o movimento cefálico.
Um programa de reabilitação vestibular (RV) inclui, portanto,
exercícios que trabalham a coordenação de movimentos de cabeça e
olhos; que estimulam o sintoma da vertigem a fim de dessensibilizar
o sistema vestibular e melhorar as habilidades de equilíbrio e cami-
nhada; atividades com estimulações visuais e optocinéticas, envolvendo
aparelhos para a estabilidade do equilíbrio corporal, e aborda também
dicas sobre alimentação e mudanças de hábitos. É um tratamento prático,
seguro, não invasivo e sem efeitos colaterais comuns dos medica-
mentos (Konnur, 2000; Bittar; Pedalini, 1999).
Há como último recurso o tratamento cirúrgico, indicado em
casos bem específicos de VPPB e que, geralmente, costumam estar
associados a outros transtornos vestibulares. A VPPB, na maioria das
ocasiões, é uma doença autolimitada que costuma ter bons resultados
com o tratamento dietético, medicamentoso e reabilitação vestibular.
Contudo, em alguns casos crônicos em que os pacientes se tornam

74
incapacitados, mesmo após o tratamento, existe a possibilidade da
cirurgia de neurectomia singular ou a cirurgia da obliteração o canal
semicircular posterior (Lavinsk; Lavinsky, 2014).

Considerações finais

A vertigem posicional paroxística benigna é a causa mais co-


mum de vertigem no idoso, assim como nos demais segmentos da
população. O diagnóstico é realizado da mesma forma em todas as
faixas etárias. O tratamento, no entanto, deve ser sempre baseado nas
manobras de reposicionamento, porém necessita ser particularizado
a cada idoso, tendo em vista as limitações funcionais, as múltiplas
comorbidades associadas e a maior sensibilidade aos efeitos das
medicações que esses pacientes costumam apresentar. Dessa forma,
um bom programa de reabilitação vestibular é essencial para uma
melhora efetiva, e, ademais, estes tratamentos estão cada vez mais
focados para essa população.

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78
Capítulo 6
Terapias alternativas
no cuidado e na reabilitação
de pacientes

Yolanda Petterson Seben


Vanessa Dick
Ana Carolina Bertoletti De Marchi

Introdução

Entende-se por terapias alternativas ou complementares as


técnicas que objetivam uma assistência ao indivíduo, considerando o
corpo, a mente e o espírito como um todo (Barbosa, 1994). Para
Queiroz (2000), é um tratamento que adota uma postura holística
e naturalista do processo saúde/doença, fugindo da racionalidade
da medicina especializada. O interesse pelo uso das terapias alter-
nativas tem crescido nos últimos anos, tanto nos países ocidentais
desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento (Tovey et
al., 1997). Essas terapias caracterizam uma opção em potencial e
podem ser consideradas práticas terapêuticas adjuvantes as terapias
convencionais (Spadacio; Barros, 2008).
Segundo Barbosa et al. (2004) e Trovó e Silva (2002), o corpo
humano é fragmentado e dissociado no ponto de vista da assistência
biomédica, levando os profissionais a um desinteresse pelas áreas

79
psicossociais, emocionais, espirituais, culturais e ambientais dos
pacientes. Ainda, segundo os mesmos autores, a adoção de terapias
alternativas agrega na disponibilidade de possíveis tratamentos,
beneficiando os resultados no processo saúde/doença, contribuindo
para o equilíbrio do ser humano, e agindo também nas energias mais
sutis que formam o corpo.
Spadacio e Barros (2008) citam como terapias alternativas mais
utilizadas a homeopatia, a medicina ayurvédica, a medicina chinesa,
a fitoterapia, a meditação, as dietas e a reflexologia. Barbosa (1994)
e Hill (2003) apontam acupuntura, moxabustão, shiatsu, do-in,
argiloterapia, cristais, hidroterapia, banhos, vaporização e sauna,
florais, terapêutica nutricional ortomolecular, radiestesia, radiônica,
relaxamento psicomuscular, cromoterapia, reiki, biodança, vitalização,
RPG (reeducação postural global) e pilates. Já para Otero e Botelh
(2010), os games são uma forma de tratamento alternativo para
doenças cognitivas e comportamentais, bem como na reabilitação
de segmentos corporais e do equilíbrio.
Diante desse contexto, o objetivo deste capítulo é apresentar
as principais terapias alternativas e seus princípios diferenciados de
ação. Foi realizada uma revisão literária em artigos encontrados na
base de dados PEDro. Para tanto, apresentaremos inicialmente o
surgimento e o uso das terapias alternativas, assim como algumas
considerações sobre o tema.

Surgimento e uso das terapias alternativas

A utilização das terapias alternativas se popularizou na década


de 1970, sendo utilizada por vários grupos de pacientes (Souza,
2007). Para o mesmo autor, a procura por estas práticas ocorre pela
insatisfação com a medicina convencional e a afinidade com produtos
naturais. Hill (2003) considera ainda a multidimensionalidade do
tratamento como um fator de adesão, bem como de fácil aquisição.
Spadacio e Barros (2008) relacionando o uso dessas terapias com o

80
elevado grau de ansiedade e depressão dos pacientes sugerem que os
usuários de terapias complementares sentem-se mais risco de morte
ou de retorno da doença.
Nos últimos anos, as novas técnicas provenientes de diferentes
culturas vêm sendo testadas pela ciência e incluídas ao tratamento
médico (Helman, 2009). O mesmo autor fala ainda que o plura-
lismo terapêutico tem ganhado reconhecimento social, acadêmico e
institucional no cuidado à saúde. Como há possibilidade de ocorrer
reações adversas e interações medicamentosas com algumas das
terapias alternativas, é preciso ser criterioso no seu uso, levando
em conta os conhecimentos científicos do procedimento aplicado
(Flaherty; Takahashi, 2004; Süsskind et al., 2012).
No Brasil, a inclusão de algumas terapias alternativas como
homeopatia e acupuntura, estão previstas na portaria nº 971 de 2006
(Brasil, 2006). O uso dessas terapias é apontado como coadjuvante
na desmedicalização parcial do cuidado profissional. Desde a década
de 1970, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incentiva a in-
serção da medicina complementar e alternativa nos sistemas de saúde
(OMS, 2003). E ainda a mesma organização orienta a estruturação
de uma política de uso, de garantia de segurança, qualidade, eficácia
e ampliação do acesso e seu uso racional.
De acordo com dados da OMS (2002), o uso de terapias alter-
nativas vem sendo disseminado no mundo. Estima-se que 90% da
população da Etiópia, 70% de Benin e Ruanda e 60% em Uganda
façam uso de algum tipo de terapia alternativa. O percentual na
Europa é de 31%, na Austrália são 48% e no Canadá 70% da popu-
lação. Para os países em desenvolvimento, faltam dados, embora seja
sabido que tais procedimentos são utilizados de forma significativa.
Nos Estados Unidos, as terapias alternativas são utilizadas pela
maioria dos pacientes com câncer em estágio terminal ou sob cui-
dados paliativos (Mansky; Wallerstedt, 2006). Os autores
citam, ainda, que a busca se dá pelo alívio dos sintomas (dor ou
efeitos colaterais causados pelo tratamento adotado), e ainda, para
uma minoria, como intenção curativa da doença.

81
Terapias alternativas

Os exercícios físicos já vêm sendo indicados para minimizar


os efeitos do envelhecimento, além de atuarem na melhora da ca-
pacidade respiratória, reserva cardíaca, força muscular, memória
recente e cognição. Porém, devem ser uma prática regular, que atue
indiretamente na qualidade de vida e no aumento da participação
social. Sabe-se que, com exercícios, há uma tendência à redução nos
escores indicativos para a ansiedade e depressão (Antunes et al.,
2001). Práticar exercícios físicos auxilia também na melhora dos
aspectos psicológicos e na capacidade de superação, proporcionada
pela prática (Cheik et al., 2003). Smith (2008) associa baixos
níveis de exercícios físicos com a depressão. Chen (2009) afirma
que os exercícios físicos alteram os níveis de endorfina, reduzindo
os níveis do hormônio cortisol, melhorando assim o humor. Já para
Baxter et al. (2010), o exercício estimula o crescimento de novas
células nervosas e a libertação de proteínas que melhoram a saúde
das células nervosas.
O Pilates, por exemplo, baseado em princípios da cultura orien-
tal, envolve a tentativa do controle dos músculos envolvidos nos
movimentos e o seu uso de forma consciente. É recomendado para
ganho de flexibilidade, de definição corporal, e para manutenção da
saúde, baseado nos princípios de concentração, controle, consciên-
cia, respiração diafragmática, leveza, precisão, força, relaxamento e
movimento harmônico. Os exercícios são adaptados às condições
do paciente, e o aumento da dificuldade respeita as características
e habilidades individuais (Anderson; Spector 2000; Loss
et al., 2010; Marés et al., 2012; Santos et al., 2011; Silva;
Mannrich, 2009).
O Pilates é uma técnica utilizada tanto pelo profissional de
educação física como pelo fisioterapeuta no tratamento de diversas
disfunções; na melhora da qualidade de vida e, principalmente, das
dores musculares. Pode ser realizado para fins de reabilitação e para
condicionamento físico, sendo executado tanto no solo como em

82
aparelhos específicos dotados de molas com diferentes resistências.
Os exercícios que compõem o método envolvem contrações isotô-
nicas (concêntricas e excêntricas) e isométricas, onde o foco maior
do centro de força, composto pelos músculos abdominais, glúteos
e paravertebrais lombares, que são responsáveis pela estabilização
estática e dinâmica do corpo. O Pilates é uma técnica que pode ser
praticada por todas as pessoas, sem limite de idade (Araújo et al.,
2012; Bertola et al., 2007; Marés et al., 2012; Santos et al.,
2011; Silva et al., 2009).
O taichi chuan, para citar outro exemplo, conhecido como um
exercício oriental, de intensidade moderada, está ganhando popula-
ridade nos países ocidentais, como uma forma de terapia alternativa.
Resultados de uma metanálise realizada por Shizheng et al. (2015)
indicam um grande efeito benéfico da terapia sobre a qualida-
de do sono em pessoas mais velhas. Em outra metanálise realizada
por Wang (2012),  os resultados apontaram que a medicina Chine-
sa como terapia alternativa melhora a gravidade dos sintomas clíni-
cos de pacientes com doença de Parkinson.
A yoga é uma prática de treinamento físico, mental e emocional
combinados. Para Um e Cohen (2014), em estudo que analisa a
prática na eficácia para redução da hipertensão arterial, esta mostrou
ser efetiva tanto para normotensos quanto para hipertensos. Para os
mesmos autores, a terapia é digna de inclusão em diretrizes clínicas,
porém, com a heterogeneidade das pesquisas revisadas, é difícil
recomendar a prática especificamente para a hipertensão arterial.
As terapias alternativas para o tratamento dos distúrbios da
ansiedade foram objeto de estudo de Sarris et al. (2012). Para os
autores, a fisioterapia mostrou-se eficaz como opção terapêutica. No
entanto, a acupuntura, o yoga e o taichi chuan têm evidências de
suporte provisório para estes distúrbios, com estudos que dificultam
por sua metodologia geral. Para os autores, faltam estudos com
metodologia comprovada que confirme a validade da homeopatia
no tratamento desses sintomas, os quais indicam uma necessidade
de modificações no estilo de vida, incluindo a adoção de exercício

83
moderado, meditação e dieta. Os mesmos autores concluem, ainda,
que algumas modificações do estilo de vida, aliados a algumas terapias
alternativas, podem proporcionar um papel benéfico no tratamento
de desordens de ansiedade.
Os transtornos de ansiedade são um fator marcante de tensão
psicológica e angústia, e podem ser acompanhados de inúmeros sin-
tomas, mentais e físicos. O uso de terapias auxiliares e modificação
dos hábitos de vida são cada vez mais considerados como opções
terapêuticas (American Psychiatric Association, 2000).
Por fim, os jogos eletrônicos costumeiramente têm boa aceitação
como forma de entretenimento em diversas faixas etárias. Estudos
recentes mostram que a utilização desta tecnologia para fins terapêuti-
cos constitui uma importante ferramenta para a recuperação motora
após uma lesão e para o condicionamento físico (Gonçalves;
Haas, 2014). Ainda para os mesmos autores, a interação social e
a motivação proporcionada pelos jogos têm ganhado destaque nos
estudos que abordam essa temática.

Considerações finais

O avanço tecnológico traz benefícios em todas as áreas do


conhecimento, surgindo cada vez mais novas tecnologias dispostas
a melhorar os aspectos diagnósticos e de tratamento das mais diver-
sas doenças. A tecnologia contribui para a recuperação da saúde, a
melhora da qualidade de vida, o aumento das interações sociais e a
diminuição da ingesta medicamentosa através de inúmeras terapias
alternativas disponíveis e cada vez mais acessíveis à população.
O paradigma holístico abre um novo campo de atuação para os
profissionais da área da saúde, aliando os cuidados convencionais à
prática das terapias alternativas, atendendo às necessidades do pacien-
te como um todo e respeitando a sua individualidade. Cabe agora
às instituições de ensino e de atendimento a pacientes o comprome-

84
timento com a inclusão dessas terapias complementares, tornando a
prática disponível, com suporte e base de conhecimento adequados.

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88
Capítulo 7
O idoso como agente ativo
no cuidado à saúde

Emanuelly Casal Bortoluzzi


Gustavo Cavalcanti
Marlene Doring

Introdução

O contingente atual de idosos, principalmente nos países em


desenvolvimento, os quais enfrentam o processo de envelhecimento
populacional de forma acelerada, apresenta um grande desafio pela
multiplicidade de necessidades a enfrentar. De forma específica, ao
frisar os cuidados em saúde, temos como importante fator a ocor-
rência simultânea de múltiplos problemas não relacionados, para o
qual surge a denominação multimorbidade (Gorzoni et al., 2011).
A multimorbidade pode ser definida como a presença de duas
ou mais doenças crônicas físicas ou mentais em um indivíduo. E a
maior prevalência dela deve-se em grande parte ao envelhecimento da
população, que pode ser explicado pelo maior tempo de exposição aos
fatores de risco e maior vulnerabilidade. Além disso, a multimorbida-
de resulta em maior número e custo de hospitalizações, mortalidade
e incapacidade (Gorzoni et al., 2011; John et al., 2014).

89
Outro importante fator é a incapacidade funcional, principal-
mente para a realização das atividades básicas da vida diária (ABVD),
as quais, relacionadas aos cuidados pessoais, são de suma importância
para a manutenção da autonomia e principalmente para a indepen-
dência do indivíduo. E tal condição está associada a mortalidade,
depressão, hospitalizações e necessidade de cuidadores, portanto a
postergação desta condição diminuiria o impacto na saúde pública
(Santos; Griep, 2013).
Por estes e outros motivos, os idosos são frequentemente apon-
tados como os responsáveis pelo aumento dos gastos públicos em
saúde. No entanto, gastos não garantem efetividade, e são visíveis
as dificuldades na realização de atendimentos adequados, que visem
ao indivíduo em sua totalidade e prezem pela prevenção da doen-
ça e promoção da saúde, além da cura ou tratamento de doenças
(Caldas, 2011).
Neste contexto, surge a relevância do cuidado, tornando o outro
importante, implicando pensar e preocupar-se com outro. Isso foi
definido por Boff (2005) como o desvelo, a solicitude, a diligência,
o zelo, a atenção, o tratar bem o outro. Para ele, o cuidado é onto-
lógico, está na constituição do ser. Portanto, falar em autocuidado
deve ser algo natural, pois é preciso ressaltar que o cuidado com a
saúde está muito além de ser um dever apenas do sistema de saúde,
mas sim do próprio indivíduo.
A partir desse contexto, objetiva-se realizar uma revisão na li-
teratura voltada ao autocuidado no idoso em diferentes contextos de
saúde, hábitos de vida e a atuação do profissional de saúde perante
a necessidade de incentivo ao autocuidado.

Autocuidado no idoso

O autocuidado encontra-se em destaque, por ser uma estratégia


na qual os idosos tornam-se agentes ativos no cuidado com a própria
vida; assumem o controle da saúde, possibilitando que se mantenham

90
proativos, diminuindo a carga sobre a família, e ainda deixam de ser
apenas consumidores acríticos do sistema de saúde.
O conceito de autocuidado é amplo, pois engloba várias ações
realizadas pelo indivíduo em benefício de si mesmo para manter e
prevenir sua saúde e lidar com as doenças (Cascaes et al., 2008).
E estas ações englobam higiene (geral e pessoal), alimentação (tipo
e qualidade), estilo de vida (prática de exercícios físicos, lazer etc.),
fatores ambientais (condições de vida e sociais), fatores socioeconô-
micos (renda, cultura, educação) e automedicação (sem prescrição
médica) (WHO, 1998).
Backman e Hentinen (1999) desenvolveram um modelo de
avaliação de autocuidado no qual criaram quatro categorias: autocui-
dado responsável, formalmente orientado, independente e abandono
do autocuidado.
O autocuidado responsável é observado em idosos que de fato
compreendem o próprio estado de saúde. No autocuidado formal-
mente orientado, o idoso não compreende o seu estado de saúde e
adere às orientações de forma acrítica. O autocuidado independente
caracteriza-se pelo idoso que duvida e questiona as orientações e segue
apenas o que considera necessário. E o abandono do autocuidado
ocorre quando o indivíduo desiste de administrar sua vida.
Para esses autores antes citados, a forma como o idoso encara o
autocuidado depende de suas experiências de vida, pois o autocui-
dado está estreitamente ligado ao seu passado e expectativas para o
futuro, por isso, quando o abandona, aparecem sinais de amargura,
negatividade e a desistência de viver.
Dorotéa Orem propôs três teorias de autocuidado:
a) Teoria do autocuidado – execução de ações dirigidas a si mesmo
e aos outros pela pessoa portadora de uma necessidade para manter
a saúde e o bem-estar, de acordo com seus interesses na vida (Har-
tweg, 1991). Geralmente, os adultos cuidam-se voluntariamente,
porém os bebês, as crianças, os idosos, os enfermos e os deficientes

91
necessitam de cuidado ou assistência completa nas atividades de
autocuidado, assim surge a segunda teoria (Bub et al., 2006).
b) Teoria do déficit de autocuidado – incapacidade da pessoa em
suprir as necessidades básicas para manter a vida, saúde e o bem-estar.
Esse déficit ocorre quando há um desequilíbrio entre a capacidade
para o autocuidado e a demanda terapêutica, sendo a primeira a
habilidade do ser humano para realizar as práticas no cuidado de si,
na relação entre indivíduo e o ambiente. Por outro lado, a demanda
terapêutica de autocuidado está relacionada aos fatores que devem
ser trabalhados, controlados e modificados no indivíduo por afeta-
rem o funcionamento do organismo e seu desenvolvimento humano
(Hartweg, 2001; Coura, 2013).
Segundo Foster e Janssen (1993), a teoria de déficit de autocui-
dado constitui a essência da teoria de Orem, quando a enfermagem
passa a ser uma exigência a partir das necessidades de um adulto,
e quando o mesmo se acha incapacitado ou limitado para prover
autocuidado contínuo e eficaz.
Os autores anteriormente citados relatam que Orem identi-
ficou cinco métodos de ajuda, através dos quais uma pessoa pode
compensar ou superar a dependência para o autocuidado, métodos
estes que as enfermeiras empregam com pessoas dependentes de
cuidados: i) agir ou fazer para o outro; ii) guiar o outro; iii) apoiar
o outro (física ou psicologicamente); iv) proporcionar um ambiente
que promova o desenvolvimento pessoal, quanto a tornar-se capaz
de satisfazer demandas futuras ou atuais de ação; v) ensinar o outro.
c) Teoria do sistema de enfermagem – descreve e explica como
as pessoas são auxiliadas por meio da enfermagem. A partir da
identificação do déficit do autocuidado, há necessidade de atuação
da enfermeira junto ao paciente para satisfazer os requisitos de
autocuidado. Quanto a isso, Orem identificou três classificações:
1º) Sistema totalmente compensatório – utilizado quando o cliente
apresenta dificuldades para atender às necessidades de autocuidado.
O enfermeiro vai agir na ação limitada do paciente, proporcionando

92
o autocuidado do mesmo, compensando sua inabilidade para a ati-
vidade de autocuidado através do apoio e da proteção.
2º) Sistema parcialmente compensatório – aplicado quando o
enfermeiro realiza algumas medidas de autocuidado pelo paciente,
compensa suas limitações atendendo ao paciente conforme o exigido.
Este, por sua vez, age realizando algumas medidas de autocuidado,
regula suas atividades e aceita atendimento e auxílio do enfermeiro
quando necessário.
3º) Sistema de apoio-educação – refere-se ao indivíduo com con-
dições de executar medidas de autocuidado terapêutico através do
conhecimento e da habilidade transmitida pelo enfermeiro.

Papel dos profissionais de saúde no autocuidado

O Sistema Único de Saúde (SUS), a principal forma de acesso


aos serviços de saúde no Brasil, tem como princípios a equidade,
a universalidade e a integralidade, os quais, na prática, devido a
inúmeros fatores, não são totalmente realizados ou, pelo menos, não
da forma como foram preconizados. Nesse contexto, o conceito de
autocuidado vem tomando força entre os profissionais de saúde, visto
que, quando existe o envolvimento do idoso, principalmente no trata-
mento de doenças, os resultados são mais efetivos (Caldas, 2011).
O processo não é simples, devendo os profissionais de saúde
motivarem mudanças de comportamento e hábitos de vida em prol
da saúde. Mas é responsabilidade de cada integrante da equipe de
saúde planejar e oferecer grupos de educação para os idosos visando
não apenas ao autocuidado com doenças crônicas que já possuam,
mas à prevenção destas doenças e à manutenção da qualidade de
vida (Oliveira, 2013).
O Ministério da Saúde preconiza como atribuições comuns a
todos os profissionais da equipe: a) realizar e participar das ativi-
dades de educação permanentes relativas à saúde da pessoa idosa;

93
b) desenvolver ações educativas de acordo com o planejamento da
equipe (Brasil, 2007).
Também é preciso avaliar a capacidade do idoso de compreen-
der o seu estado de saúde, as dificuldades que terá e os recursos
disponíveis. Para isso, é necessário maior integração e dedicação. O
idoso poderá ser relutante a assumir um papel importante perante sua
saúde, por razões culturais e por ter de abrir mão de uma situação
confortável de dependência de profissionais e familiares (Caldas,
2011).
O idoso precisa deixar de ser agente passivo para ser um par-
ceiro da equipe de saúde, já que as decisões devem ser tomadas em
conjunto. A ênfase está em estabelecer um relacionamento aberto e
colaborativo, pois eles precisam de apoio e informação para poderem
administrar suas vidas.
Esse processo sofre influência de fatores socioculturais, educa-
cionais, além da saúde mental do idoso, por isso é preciso educá-lo
para a saúde, visto que através da educação pode-se levar ao indiví-
duo o conhecimento necessário para realizar o autocuidado dentro
da multidimensionalidade do ser humano (Caldas, 2011). O
acompanhamento psicológico é de muita relevância, pois entre os
fatores citados acima incluem-se a resistência e o medo de perder a
atenção e o cuidado da família.
O modelo para a aprendizagem de adultos desenvolvido por
Knowles e abordado por Quintero pode ser uma excelente referência
para os profissionais de saúde envolvidos com programas de atenção
à população idosa e seus familiares. Determina que a relação entre
profissional e a pessoa idosa é de reciprocidade, democracia e igual-
dade. Ademais, diz que a experiência de vida da pessoa constitui o
eixo sobre o qual se assenta o processo. Estabelecem-se, então, os
seguintes pressupostos:
• Necessidade de conhecer: os adultos necessitam conhecer a
razão pela qual devem aprender algo, antes de adotarem ideias e
comportamentos novos.

94
• Autoconceito daquele que aprende: os adultos percebem a si
mesmos e desejam serem percebidos como pessoas capazes de tomar
suas próprias decisões e de responsabilizarem-se por elas e por suas
vidas. Daí a importância da sua participação nos planos de ação que
os afetam e nas decisões sobre questões de sua saúde.
• Experiência daquele que aprende: à medida que aumenta a
idade, aumenta a experiência individual de vida e esta será a refe-
rência para a aprendizagem. Todavia, a experiência de vida pode
funcionar como barreira para a aquisição de novos conhecimentos
e comportamentos.
• Disposição para aprender: os adultos se sentem dispostos a
aprender coisas que necessitam saber e fazer a fim de enfrentar sua
situação real de vida, quer dizer, dispõem-se a aprender aquilo que
resulte em utilidade prática.
• Motivação para aprender: os adultos se sentem motivados a
aprender aquilo que os ajudará a realizar tarefas ou a lidar melhor
com seus problemas, de forma que adquirem novos conhecimentos
e destrezas, e até mudam seus valores quando o material de apren-
dizagem se apresenta num contexto possível de ser aplicado à vida
real. A motivação é o elemento determinante da aprendizagem dos
adultos.
As considerações e suposições referentes ao aprendizado dos
adultos podem ser aplicadas, na sua totalidade, à população idosa.
Sabemos que os idosos têm suas fragilidades na aprendizagem devido
ao impacto que o envelhecimento produz sobre o sistema nervoso,
podendo alterar funções cognitivas como memória, entre outras.
Portanto, os profissionais de saúde deverão identificar estas dificul-
dades, reconhecer o papel central do idoso em relação à sua saúde
e estabelecer estratégias alternativas de ensino para cada indivíduo,
tornando-se parceiros do usuário (Quintero, 1994; Baker,
1997; Mendes, 2012).

95
Prática de exercícios físicos como autocuidado

Adultos sedentários são mais propensos ao desenvolvimento de


doenças crônicas do que os ativos (Lino et al., 2015). A afirmação
vem ao encontro das informações presentes na literatura sobre os
benefícios físicos, psicológicos, metabólicos, articulares, cognitivos,
terapêuticos e antropométricos dos exercícios físicos. Estes benefícios
fazem com que diminua o risco de doenças crônicas, como diabetes
mellitus e obesidade, além de ajudar no tratamento das doenças já
existentes (Garber et al., 2011).
A literatura apresenta uma gama de evidências positivas em
relação aos hábitos de vida ativa. A prática de exercícios físicos de
resistência em idosos melhora o equilíbrio, a coordenação, a agili-
dade (Silva et al., 2008), e melhora também a força muscular, a
flexibilidade, a função imunológica e a qualidade de vida de idosos
com AIDS (Araújo et al., 2014). A prática de atividades físicas
diminui o risco de quedas e melhora as condições de saúde (Mazo
et al., 2007).
Cabe ressaltar que o exercício físico traz maiores benefícios em
comparação à atividade física, porém existem algumas inconsistências
quanto a nomenclaturas, pois ambos são fatores de proteção à saúde.
Os exercícios físicos são atividades físicas planejadas, estruturadas, com
repetições de movimentos, ao passo que a atividade física é qualquer
movimento produzido pela contração muscular resultando em gasto
calórico maior do que quando em repouso (ACSM, 2013). Contudo,
o essencial é o estilo de vida ativo, um fator de proteção à saúde em
todas as idades, sobretudo nos idosos devido ao declínio natural.
O sedentarismo é um sério fator de risco para a saúde global,
já a prática de atividades físicas aliada aos fármacos é o tratamento
de várias doenças crônicas, inclusive para multimorbidade e inca-
pacidade funcional (Jacob Filho et al., 2006).
Mendes e Gleisi (2014) trazem uma reflexão voltada à edu-
cação física, com base na obra Cuidar de Si, de Michel Foucault.

96
Eles apontam o desafio de despertar práticas nas quais cada sujeito
seja capaz de pensar por si, que contribuam para a própria vida,
em substituição das muitas normas e padrões a serem seguidos sem
reflexão. Portanto, o indivíduo deve ter sempre o papel principal
em sua vida, e cabe aos profissionais de saúde, dentre os quais está
o educador físico, despertar e educar para esta consciência de auto-
cuidado e adesão proativa aos hábitos de vida saudáveis.

Alimentação balanceada como autocuidado

O Ministério da Saúde elaborou os Dez passos para uma ali-


mentação saudável, destinados tanto para idosos saudáveis, como para
aqueles acometidos por doenças crônicas, como diabetes, hipertensão,
obesidade e hipercolesterolemia (Brasil, 2009). São eles:
1º) Fazer pelo menos três refeições (café da manhã, almoço
e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. Não pular as refeições!
2º) Incluir nas refeições diárias seis porções do grupo dos ce-
reais (arroz, milho e trigo pães e massas), tubérculos como a batata,
raízes como mandioca/macaxeira/aipim. Dar preferência aos grãos
integrais e aos alimentos na sua forma mais natural.
3º) Comer diariamente pelo menos três porções de legumes e
verduras, como parte das refeições e três porções ou mais de frutas
nas sobremesas e lanches.
4º) Comer feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, cinco
vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa
de proteínas, portanto é bom para a saúde.
5º) Consumir diariamente três porções de leite e derivados e
uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos. Retirar a gordura apa-
rente das carnes e a pele das aves antes da preparação torna esses
alimentos mais saudáveis!
6º) Consumir, no máximo, uma porção por dia de óleos vegetais,
azeite, manteiga ou margarina.

97
7º) Evitar refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos
doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas como regra
da alimentação. Comê-los, no máximo, 2 vezes por semana.
8º) Diminuir a quantidade de sal na comida e retirar o saleiro
da mesa.
9º) Beber pelo menos dois litros (6 a 8 copos) de água por dia.
Dar preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições.
10º) Tornar sua vida mais saudável. Praticar pelo menos 30
minutos de atividade física todos os dias e evitar as bebidas alcoó-
licas e o fumo.
Estes passos, que incluem também hábitos saudáveis além da
alimentação, são muito importantes, porém dificilmente são seguidos,
seja por baixa renda, falta de tempo ou desinformação (Viebig et
al., 2009; Menezes et al., 2010). Contudo, cabe aos profissionais
da saúde realizar as orientações necessárias, inclusive orientar para a
leitura dos rótulos dos alimentos, observando as informações nutri-
cionais para favorecer uma alimentação saudável (Brasil, 2009).

Considerações finais

O cuidado para com o idoso é responsabilidade da família, da


comunidade e do sistema de saúde, através dos profissionais da área.
Contudo, com exceção dos idosos com incapacidade funcional para
as atividades de autocuidado – os quais devem ser estimulados a
realizarem o que ainda são capazes de fazer, todos os demais possuem
um papel fundamental perante sua saúde.
O autocuidado é um conjunto de ações realizadas em benefício
próprio, destacando-se os hábitos saudáveis de vida, como a prática
de exercícios, de atividade físicas, alimentação balanceada e higiene.
E nesse contexto, os profissionais de saúde possuem um importante
papel de educadores para a saúde, devendo passar informações de
prevenção e cuidado com as suas condições atuais de saúde, sendo
necessário apoio mútuo para garantir a efetividade deste autocuidado.

98
Ainda, grande parte dos gastos em saúde pública é atribuída
aos idosos. Por outro lado muitos deles estão recebendo o cuidado
inadequado no sistema de saúde. Todavia este modelo de saúde pode
ser aprimorado através de ações educativas mais econômicas e mais
efetivas em relação ao autocuidado.

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101
102
Capítulo 8
Cuidados na saúde bucal:
a contribuição da fisioterapia
no envelhecer saudável

Claudia Maria Czernaik


Eliane Lucia Colussi

Introdução

A expectativa de vida tem aumentado em âmbito mundial. Nos


países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, esse avanço bem
sucedido da população idosa é decorrente da inovação tecnológica
voltada à prevenção e à cura de muitas doenças, o que resultou em
um quadro de longevidade saudável. Estima-se que próximo de
2050 existirão 73 idosos para cada 100 crianças no país, caracteri-
zando uma transição demográfica distinta (Teixeira et al., 2015;
Sánchez-Garcia et al., 2014).
Essa transformação notável na composição etária da população
aponta para a necessidade de implantação de uma política sanitária
planejada e de profissionais especializados para assistir à população
idosa, visto que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)
aumentaram consideravelmente. Entre essas, destacam-se as doenças
bucais que instituem grandes problemas de saúde pública, sendo

103
algumas doenças crônicas bastante comuns em todo o mundo.
Estima-se que 90% dos idosos tiveram ou terão problemas bucais
(Moysés, 2012).
O objetivo deste trabalho é compreender o impacto negativo na
saúde geral do idoso quando a saúde bucal encontra-se em estado
precário, uma vez que está diretamente relacionada ao surgimento de
doenças orais. Destaca-se a periodontite, sendo inclusive um fator de
risco à saúde geral, podendo desencadear doenças cardiovasculares,
neurológicas e diabetes. Busca-se neste capítulo apontar também que,
com o envelhecimento, aumenta o número de DCNT, muitas vezes
relacionadas com incapacidades funcionais e dor, podendo até mesmo
impedir uma higiene bucal satisfatória. A fisioterapia, por sua vez,
como ciência da saúde, contribui para a preservação e manutenção
da qualidade de vida da pessoa idosa.

Saúde bucal

Kaufman et al. (2014) trazem como conceito de saúde bucal


a condição da cavidade oral que possibilita que uma pessoa possa
mastigar e ingerir alimentos, falar, respirar, livre de doença e de dor
e socializar sem constrangimento. Acrescentam que a preservação
de dentes naturais ao longo da vida é um sinalizador de saúde oral.
A saúde bucal tem impacto direto na saúde geral (Medaglia
et al., 2011). No Brasil, o estado de saúde oral da população geriátrica
é geralmente deficiente, com elevada prevalência de uso de próte-
ses totais ou parciais, sendo o número de dentes mantidos na boca
pequeno, com alta incidência de cárie, doença periodontal e perda
dentária. Além disso, são frequentes o edentulismo, a xerostomia e
o câncer bucal, que ocasionam prejuízos sociais, físicos, psicológicos
e consequentemente efeito negativo sobre o estado geral de saúde
e bem-estar (Gil-Montoya et al., 2015; Enoki et al., 2014;
Bianco et al., 2010).

104
Miotto e Sánchez-Garcia (2014) constatam que, durante o pro-
cesso de envelhecimento, as pessoas acabam se conformando com a
deterioração da saúde e passam a acreditar que os problemas bucais,
principalmente a perda dentária, são uma consequência inexorável
do envelhecer.
A velhice está vinculada a doenças e desprestígio social, conceitos
negativos que desencorajam o idoso a zelar e preservar a sua saúde.
Acrescente-se ainda a ocorrência de incapacidades funcionais físicas e
mentais que dificultam ou limitam o auto-cuidado. É necessário que
o envelhecimento deixe de ser visto como um período de declínio e
improdutividade e se reforce o entendimento de que a saúde bucal é
parte integrante da saúde humana e imprescindível para a qualidade
de vida (Medaglia, 2011).
Das doenças bucais, destacam-se a cárie dentária e a doença
periodontal, pois ambas, se não devidamente tratadas, levam à
perda dentária que tem por consequência o edentulismo, gerando
impacto negativo na mastigação e deglutição dos alimentos, e isso
pode levar a graves deficiências em matéria de energia e nutrientes.
Esta situação agrava o estado de desnutrição e morbidade bucal nos
idosos (Gil-Montoya et al., 2015; Ornstein et al., 2015;
Campos et al., 2014).

Doença crônica não transmissível e saúde bucal

Atualmente, tem-se investigado muito a interação entre doença


bucal e DCNT, onde a periodontite pode ser fator de risco indepen-
dente para algumas DCNT, como o diabetes, doenças cardiovascula-
res, demências, infecção pulmonar, alguns tipos de câncer, doenças
renais e aterosclerose (Gil-Montoya et al., 2015; Kaufman
et al., 2014; Castrejón-Pérez et al., 2012).
A disfunção temporomandibular (DTM) também é uma impor-
tante DCNT; tem influência direta na saúde bucal; representa uma
complexa associação de sinais e sintomas e tem como manifestações

105
mais marcantes a dor e a limitação na abertura bucal, podendo afetar
os músculos da mastigação e/ou as articulações temporomandibulares.
A dor e a limitação da abertura bucal interferem significativamente
na higiene oral, tornando essa prática muitas vezes difícil ou até
mesmo impossível de ser realizada. E afeta ainda a mastigação, que
passa a ser ineficiente, causando um impacto negativo na qualidade
de vida das pessoas idosas (Ries, L. G. K. et al., 2014).
Por meio da preservação dos níveis de higiene orais satisfatórios,
os idosos aumentam muito a possibilidade de impedir o surgimento
da doença periodontal. Práticas de higiene bucal incluem escovação
dentária adequada, uso de fio dental, creme dental não abrasivo, uso
de flúor, higiene das próteses dentárias e acesso a serviços odonto-
lógicos (Gil-Montoya et al., 2015; Medaglia et al., 2011).
As DCNT estão relacionadas diretamente com a capacidade
funcional, a qual pode interferir na saúde bucal, dependendo do
grau de incapacidade funcional que possam causar no idoso. A
saúde não é mais medida pela presença ou não de doenças, mas sim
pelo grau de preservação da capacidade funcional, tornando-se um
novo paradigma de saúde, particularmente relevante para o idoso
(Veras, 2011).

Fisioterapia: a sua contribuição na saúde bucal

O Brasil está envelhecendo a passos largos, aumentando o


contingente de pessoas idosas, que viverão mais. É um direito delas,
assegurado pela Constituição, viver com qualidade de vida. A longe-
vidade é um desafio, desde o ponto de vista social no provimento de
cuidados necessários para essa população, em termos de medidas de
bem-estar e de recursos.
É com este desafio de longevidade que a fisioterapia precisa
ocupar o seu espaço, estabelecendo as características da senescência
frente aos aspectos que lhe são constituintes enquanto ciência.

106
A fisioterapia é definida como uma ciência da saúde que estuda,
previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em
órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas,
por traumas e doenças adquiridas, na atenção básica, média e de
alta complexidade (Conselho Federal de Fisioterapia
e Terapia Ocupacional, 2015).
A fisioterapia tem sua grande contribuição para um envelhecer
saudável como multiplicadora de conhecimento, visando à prevenção
das doenças bucais através da educação e motivação para a higiene
oral e visitas aos profissionais da área de odontologia.
Os idosos portadores de DCNT que não recebem tratamento
ou o recebem de modo ineficaz aumentam os riscos de terem suas
capacidades funcionais prejudicadas, tornando-os parcial ou total-
mente dependentes. O envelhecimento ativo deve ser estimulado e
uma forma para que isso ocorra é através da atividade física, a qual
tem o intuito de prevenir e tratar as DCNT, com destaque para o
diabetes e a hipertensão arterial que se não tratadas de forma adequa-
da levam a complicações como Acidente Vascular Cerebral (AVC) e
doenças cardiovasculares (Silva et al., 2015).
Além das incapacidades funcionais ocasionadas pelas DCNT
que limitam as atividades de vida diárias (AVDs), a dor crônica pode
se tornar a principal queixa, podendo afetar a qualidade de vida dos
idosos consideravelmente (Kayser et al., 2014).
A fisioterapia dispõe de diversas técnicas e recursos cinesio
e eletrotermoterapêuticos voltados à promoção e à preservação da
capacidade funcional e da analgesia. Destacam-se exercícios de
resistência ativo-assistidos e ativos, proprioceptivos, alongamentos,
de coordenação e equilíbrio, reeducação postural, Pilates, terapias
manuais, treino de marcha, acupuntura e eletrotermoterapia. As
DCNT muitas vezes causam um declínio nos sistemas musculo-
esquelético, osteoarticular e neurológico, gerando incapacidades
e dependências nas AVDs. A perda de força muscular é um bom
exemplo de incapacidade, pois limita e até mesmo impede o idoso

107
de realizar funções básicas: alimentação, higiene pessoal, vestir,
locomoção, comunicação, socialização.
A saúde bucal torna-se precária diante da incapacidade funcio-
nal, pois a pessoa idosa está fragilizada física, mental, psicológica
e socialmente. Compromete de tal forma que pode levar à cárie, à
periodontite e ao edentulimo.

Considerações finais

A condição da saúde bucal é um indicador de satisfação da


saúde geral. É possível preservá-la no envelhecer, visto que é um
processo lento, onde, ao longo desse tempo, hábitos saudáveis devem
ser adquiridos, motivados e mantidos. Essa possibilidade ocorre com
práticas simples de higiene oral que incluem a escovação adequada,
o uso de fio dental, a alimentação saudável e o abandono do fumo
e de bebidas alcoólicas, pois esses são fatores de risco e que podem
influenciar o desenvolvimento de doenças periodontais.
O estímulo à atividade física previne e trata a DCNT, tornando
o idoso independente, com a autonomia mantida e preservada sua
capacidade funcional. A fisioterapia tem um papel importante em
proporcionar qualidade de vida para as pessoas idosas, pois dispõe
de técnicas e recursos que promovem melhoras nas incapacidades
funcionais e nos quadros álgicos decorrentes das doenças crônicas.
Isso dá condições para o idoso realizar sua higiene bucal de forma
adequada.
É necessário incrementar políticas públicas de promoção e
proteção à saúde do idoso, assim como formar profissionais de
saúde que tenham os conhecimentos fundamentais a respeito das
particularidades do envelhecimento, como mudanças físicas, sociais
e psíquicas, para que melhores condições de saúde e cuidado sejam
oferecidas a essa população.

108
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110
Capítulo 9
Cuidados domiciliares
de pacientes pós-acidente
vascular encefálico:
profissionais de saúde
versus família

Analice Calegari Lusa


Fernanda dos Santos Martins
Lia Mara Wibelinger

Introdução

A experiência de cuidar de alguém acometido por acidente


vascular encefálico (AVE) em casa tem se tornado cada vez mais
frequente no cotidiano das famílias. Essa atmosfera nos leva a refletir
a respeito de questionamentos que emergem do contexto familiar, por
ocasião de um AVE em uma sociedade que privilegia a produtivi-
dade e a independência em detrimento de valores humanos, como a
compreensão, o amor, a paciência, o companheirismo e o sentimento
de ajuda. Valem a pena as perguntas: A família estará preparada
para receber em seu seio essa pessoa portadora de incapacidades?
Como irá lidar com os conflitos gerados no processo do cuidar? Os
profissionais da saúde recebem formação para esclarecer e orientar

111
familiares quanto ao cuidado domiciliar? E, afinal, o que é cuidado
para você leitor? O objetivo deste capítulo é realizar uma análise
temática da produção do conhecimento em artigos já publicados,
acerca do enfrentamento dos cuidadores familiares de pessoas com
AVE, e de que maneira os profissionais da área da saúde auxiliam
para amenizar ou abrandar a situação.

Acidente vascular cerebral

O acidente vascular encefálico (AVE) é a principal causa de


incapacidade física em adultos tanto em países desenvolvidos, como
em países em desenvolvimento, podendo dessa forma limitar de
modo significativo o desempenho funcional, com consequências
negativas nas relações pessoais, familiares, sociais e sobretudo na
qualidade de vida.
O AVE é uma patologia causada pela perda repentina da função
cerebral resultante do rompimento ou da diminuição, total ou parcial,
do suprimento sanguíneo ao encéfalo (Lessmann et al., 2011).
Bianchini e Galvão (2010) conceituam AVE como um conjunto de
sintomas neurológicos focais ou globais, que duram mais que 24
horas, tendo início abrupto ou em forma de crise, caracterizada por
resultar em grandes níveis de incapacidade e dependência funcional
o paciente, estando associada à deterioração das capacidades físicas,
cognitivas, emocionais e sociais do indivíduo.
Em escala mundial, o AVE é a segunda causa de morte, pre-
dominantemente em adultos de meia-idade e idosos (Vangen-
-Lonne, 2010). Almeida (2012) descreve que, no Brasil, a mudança
do perfil de morbimortalidade com as doenças crônicas não trans-
missíveis é evidente: em 2009 foram registradas 160.621 internações
por doenças cerebrovasculares. A taxa de mortalidade foi de 51,8
para cada grupo de 100 mil habitantes.
O AVE pode se apresentar de formas variadas, com diferentes
manifestações clínicas e etiologias diversas. Estudos mostram que

112
aproximadamente 20% dos pacientes com AVE sobrevivem apenas
um mês após sua ocorrência; outros 50% o fazem por mais tempo,
mas apresentam deficiência considerável e permanente, necessitando
de cuidados. Os demais 30% apresentam déficits neurológicos, ad-
quirindo permanentemente certo grau de dependência (Oliveira
et al., 2013). Dentre outros acidentes, o AVE pode ser isquêmico (in-
terrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro por um coágulo ou por
interrupção de atividade elétrica) ou hemorrágico (ruptura do vaso
sanguíneo na região encefálica, formando um hematoma), transitório
ou definitivo, sendo que suas sequelas dependerão de fatores como
área e extensão da lesão (Scheffer; Klein; Almeida, 2013).
O AVE pode causar danos severos a áreas do cérebro que con-
trolam funções vitais, os quais podem envolver capacidade motora,
comunicação, emoções e consciência, entre outros, inclusive, em
alguns casos, danos com sequelas definitivas. Nesse sentido, a in-
capacidade funcional é uma das consequências mais importantes
em decorrência do AVE, o que pressupõe a necessidade de alguém
que auxilie o paciente com suas dificuldades ante o desempenho
das atividades diárias, fazendo desta patologia a primeira causa de
incapacitação funcional no mundo ocidental (André, 2006).
Rangel, Belasco e Diccini (2013) apontam que, de acordo com
a Organização Mundial de Saúde (OMS), 15 milhões de pessoas
apresentam AVE por ano. Dessas, cinco milhões morrem em decor-
rência do evento e grande parte dos sobreviventes apresenta sequelas
físicas e/ou cognitivas. Apenas 15% dos pacientes não apresentam
prejuízo da capacidade funcional. Foi observado ainda neste estudo
que, dos pacientes que apresentavam dependência de moderada a
severa, 49,7% tinham também sintomas depressivos.
Alguns fatores associados podem potencializar o risco de se ter
um AVE, como, por exemplo, o uso de anticoncepcionais e fumo
(André, 2006). Também a hipertensão arterial, tabagismo, diabete,
doenças cardíacas, alterações na coagulação sanguínea, alterações no
colesterol e frações, obesidade, alto consumo de álcool, uso de cocaína
e fumo, sedentarismo, entre outros (Ryerson, 2004).

113
Os fatores considerados modificáveis podem ser tratados, a
fim de prevenir a ocorrência da doença, como, por exemplo, terapia
anti-hipertensiva, atividade física, alimentação equilibrada, controle
do diabetes, enfim, hábitos de vida saudáveis podem reduzir muito
a incidência de um AVE, principalmente em pessoas predispotas
(Carvalho et al., 2004). Atualmente, a única forma de tentar
reduzir a incidência desta doença consiste no controle dos fatores
de risco, ou seja, na sua prevenção.
Para a maioria das pessoas que sobrevivem a um AVE, a reabi-
litação é uma das partes mais importantes do tratamento, devendo
ter início em fases precoces, nos primeiros dias após o AVE, aju-
dando o paciente a adaptar-se às suas deficiências, favorecendo sua
recuperação funcional, motora e neuropsicológica, promovendo sua
integração familiar, social e profissional.
A reabilitação deve ser iniciada assim que o quadro clínico estabi-
lizar. Todavia, a permanência de sequelas incapacitantes impondo aos
pacientes limitações motoras, sensitivas, sensoriais, de compreensão
e expressão dos pensamentos pode alterar a dinâmica da vida dessas
pessoas, não só pelas sequelas físicas que restringem as atividades
da vida diária e tornam-nas, muitas vezes, dependentes de terceiros
para se movimentar e agir com maior ou menor independência, mas
também por comprometerem suas possibilidades de administrar a
vida pessoal e familiar (Silva, 1995).
A situação pode constituir-se numa fonte de tensão intrafamiliar,
pois há necessidade de redefinição de papéis entre os membros da
família, com a escolha de alguém para assumir a responsabilidade
pelos cuidados. Muitas vezes, requer-se adequação do ambiente para
atender às demandas do familiar doente que retorna ao lar. Ademais,
tudo isso pode causar um impacto econômico e social que altera
bastante a estrutura familiar (Andrade, 1996).

114
Familiares cuidadores

Andrade (2014) refere que, com a perda da independência e,


muitas vezes, da autonomia, tem-se a urgente necessidade de alguém
que auxilie o paciente nas suas dificuldades quando no desempenho
das atividades diárias. Essa condição faz com que a sobrevida, bem
como a qualidade de vida desses já sobreviventes, esteja intrinseca-
mente ligada à existência e qualidade dos cuidados. O ato de cuidar
está relacionado à dedicação, responsabilidade, atenção e condições
que frequentemente também geram desgaste a quem cuida. O ser
cuidador, para exercer o cuidado, de acordo com Silva e Gimenes
(2000), precisa perceber o outro, como ele se mostra nos seus gestos e
falas, na sua dor e limitação, pois, por trás de cada situação física de
doença, há uma história de vida que pode ser percebida em muitos
detalhes. Certamente, o corpo físico revela, mesmo que timidamente,
muitas informações saudáveis e doentias ali armazenadas. Quando
esse cuidado é concedido de forma contínua, como requer um in-
divíduo com dependência funcional, tende a levar o cuidador a um
processo de adoecimento (Gratão et al., 2013), que poderá ser
evitado ou minorado com assistência devida, não só ao indivíduo
cuidado como também ao seu cuidador.
Em um estudo realizado por Fonseca, Penna e Soares (2008),
direcionado a identificar as percepções de cuidadores familiares em
pacientes com sequela de AVE, foi concluído que, diante de todas as
alterações impostas à vida desses cuidadores, somadas às sobrecargas
física e emocional que tais alterações podem ocasionar, fica clara a
necessidade de intervenções direcionadas aos cuidadores familiares
e obviamente extensivas aos cuidadores formais. Tais intervenções
não devem ser somente na direção de subsidiá-los tecnicamente para
o cuidar do outro, mas também, com o mesmo grau de importância,
para o autocuidado.
Araújo (2012) ressalta que existem algumas habilidades e quali-
dades que o cuidador formal deve desenvolver, destacando o seguinte:
habilidades técnicas, qualidades éticas, morais, emocionais, físicas e

115
intelectuais, além de ter motivação e empatia com os idosos. A autora
contemporiza que a profissionalização do cuidador de idosos e a
importância de sua qualificação vão além de uma mera exigência do
mercado de trabalho. É necessário compreender que cuidar é tarefa
nobre, porém complexa, o que em determinadas situações torna essa
missão ameaçadora à saúde de quem cuida (De Oliveira, 2008).
Ainda que não tenha sido objeto do estudo, pode se identificar,
pela qualidade dos registros dos profissionais, a apropriação gradativa
da interdisciplinaridade da equipe, que é um processo continuado
do desenvolvimento do indivíduo nesse universo de saberes, opor-
tunidade proporcionada pelo trabalho em equipe. Tal constatação é
elo importante do caminho para a integralidade do cuidado.
Logo que o familiar-paciente recebe alta do hospital, a família
monta toda uma estrutura de apoio em casa para recebê-lo. Como
essa situação é nova para todos, sentem-se despreparados e incapaci-
tados para cuidá-lo; ficam inseguros e com medo de cometer erros.
Em geral, os familiares, que se propuseram a ser cuidadores de uma
pessoa com AVE, ao receberem este ente querido em casa, vivenciam
mudanças no estilo de vida, que modificam e geram insatisfações
na vida social dos mesmos, devido às condições limitantes impostas
pela doença do seu familiar. Isso traz sentimentos de isolamento e,
definitivamente, demanda uma mudança brusca na rotina diária.
É como se os membros da família se encontrassem em uma situa-
ção onde alguém depende deles 24 horas por dia, para se alimentar,
aspirar a traqueostomia, fazer higiene pessoal, alternar o decúbito,
sentar na poltrona, ou seja, trata-se de uma dependência por cuidados
simples, mas que preveem assim infecções, escaras de decúbito e até
mesmo uma nova internação hospitalar. Dessa forma, a família fica
presa a uma rotina, que com o tempo se torna estressante e cansativa
a sua própria execução, principalmente porque se sabe que se todas
essas atividades e cuidados não forem atendidos, o familiar doente
ficará cada vez mais debilitado (Bocchi, 2004; Bocchi, 2005;
Schene, 1990; Williams, 1994).

116
Cuidar de alguém doente em casa não é mais uma tendência, é
uma realidade, e a família exerce um papel de fundamental impor-
tância na reabilitação desse paciente, pois a pessoa pós-AVE depende
frequentemente dos membros da família para o cuidado físico, apoio
emocional e até mesmo controle e auxílio financeiro. O grau de
recuperação do paciente pode depender da habilidade familiar em
oferecer apoio ao portador dessas deficiências. No entanto, o que
pode ser observado é que o cuidado e o apoio a essa pessoa, muitas
vezes, transforma-se em uma sobrecarga significativa para a família
que passa de cuidador para mais um cuidado.

Profissionais da saúde e cuidados

Embora as doenças físicas possam assumir uma variedade de


formas, é no âmbito familiar que cada vez mais elas são resolvidas.
Por isso, os profissionais da área da saúde precisam se instrumenta-
lizar para adquirir uma visão crítica, oferecendo apoio e assistência
de qualidade para o paciente e seus familiares que precisam de ajuda
e orientação sobre o cuidado.
A família precisa muito do apoio de profissionais da saúde, cada
um com seu papel fundamental e essencial tanto na reabilitação do
paciente quanto nas orientações ao cuidador.
A experiência de cuidar de alguém acometido por AVE em casa
tem se tornado cada vez mais frequente no cotidiano das famílias.
Dessa forma, os profissionais de saúde são de extrema importância
e têm o objetivo de preparar pacientes e familiares para reorganiza-
rem a vida em seus lares, de modo que possam assumir os cuidados
próprios ou de familiares, detectando, prevenindo e controlando
situações que possam ocorrer, evitando assim sua institucionalização.
Silva, Monteiro e Santos (2015) enfatizam a importância de
oferecer educação em saúde de qualidade aos pacientes e cuida-
dores durante o período de internação. Os profissionais da saúde
devem utilizar suas habilidades de educadores como estratégia de

117
cuidado permanente ao paciente após a alta hospitalar, minimizando
as dúvidas, medos e dificuldades deles, inclusive capacitando-lhes
para enfrentar a nova realidade. A ausência desse programa de
reabilitação representa uma nítida dicotomia das políticas públicas,
sendo identificado um atendimento precário que contribui para a
desumanização do cuidado em saúde. Os participantes e familiares
acabam sem rede de atenção à saúde para o tratamento e continui-
dade dos cuidados em domicílio, configurando uma desarticulação
da estrutura organizacional das redes de apoio e seu despreparo para
atender às demandas assistenciais aos pacientes com doenças crôni-
cas, especialmente em cidades do interior, cujos recursos humanos
e tecnológicos são escassos. Esses resultados sugerem a necessidade
de aprimorar as estratégias de intervenções educativas e atendimento
multiprofissional (Silva; Vila, 2015).

Considerações finais

Sendo assim, para que seja possível a continuidade do cuidado


em casa, os cuidadores necessitam iniciar, ainda durante a hospita-
lização do paciente-familiar, a desenvolver a capacidade para cuidar.
Isso significa que os profissionais da área da saúde devem estar
verdadeiramente comprometidos com esse propósito, ensinando a
esses familiares a maneira correta de viver esse processo, esclarecendo
dúvidas, orientando e apoiando-os, pois com certeza necessitarão
de muito apoio para superar o momento difícil, a nova realidade de
vida. Este capítulo vem desafiar novos estudos que possam beneficiar
as famílias de pacientes que se encontrem debilitados por doenças
crônicas e que atualmente estejam desamparados pelo sistema público
e privado de saúde.

118
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121
122
Capítulo 10
Promoção da saúde como
ferramenta para o cuidado:
uma experiência e suas possibilidades

Samuel Salvi Romero


Helenice de Moura Scortegagna

Introdução

A promoção da saúde é uma ferramenta utilizada entre equipes


de saúde, profissionais das diversas disciplinas e até mesmo usuários
(pacientes). Segundo Veras (2012), ações de promoção e educação
em saúde, bem como intervenções em prevenção e retardamento de
doenças e fragilidades, devem ser ampliadas no contexto atual, com
vistas a superar gastos possíveis com a aceleração do processo de
envelhecimento populacional. Com a evolução do saber e da ciência,
o conceito de promoção de saúde – que se refere ao “processo de
capacitação dos indivíduos e coletividades para identificar os fatores
e condições determinantes da saúde e exercer controle sobre eles, de
modo a garantir a melhoria das condições de vida e saúde da po-
pulação”, segundo a Carta de Otawa (1986) – denota a construção
significativa do tema e sua importância no decorrer do tempo.

123
A intensa fragmentação, a especialização do saber e a evolução
da ciência incitam a inclusão dos conceitos de promoção da saúde
e do cuidado como discussões imprescindíveis nas relações profis-
sionais e na evolução das práticas em saúde na contemporaneidade.
Adotamos de Boff (2000) a construção do conceito de cuidado,
baseado, principalmente no encontro com o outro, na sensibilidade
dos vínculos, na troca de experiências. Cuidar das coisas implica,
para o autor,

ter intimidade, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhes


sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com, auscultar-lhes
o ritmo e afinar-se com ele. A razão analítico-instrumental abre
caminho para a razão cordial, o espírito da delicadeza, o sentimento
profundo. A centralidade não é mais ocupada pelo logos razão, mas
pelo pathos sentimento.

Com base nesse conceito, é importante refletir sobre o cuidado,


a promoção da saúde e também a bioética do cuidado e torná-los
ferramentas de trabalho e reflexão entre as equipes multiprofissionais
e coletividades, permitindo introduzir seus conceitos e dinâmicas
nas práticas cotidianas, cujas ferramentas possibilitem aproximação
e respeito entre os desafios atuais, que não se finalizem, apenas, em
exigências morais (Junges, Barbiani, Zoboli, 2015). Além
disso, esta prática cuidadora, presente nas interfaces das redes de
atenção à saúde, contribui para a evolução das relações como integran-
te do processo de melhoria ou manutenção das condições de saúde
das populações e suas necessidades. Construir espaços cuidadores
resulta, contudo, na melhoria da vida humana, cuja deliberação não
se sustente apenas na individualidade, mas, principalmente, na cons-
trução coletiva, papel norteador da promoção da saúde. Entretanto,
este capítulo tem o objetivo de descrever uma experiência baseada
na promoção da saúde em um espaço de coletividades, sob a ótica
do fomento de grupalidades, multidisciplinaridade e humanização.
A promoção da saúde é descrita, no decorrer do relato, como base
central da experiência e evidencia a importância da comunicação entre

124
equipes para aprimorar vivências satisfatórias na atenção primária
à saúde e demais níveis de hierarquização dos serviços de atenção
essa área.

A promoção da saúde e os desafios na contemporaneidade

Promover saúde é desenvolver o ser humano por meio da edu-


cação; é aprimorar seus conhecimentos, proporcionando assim uma
autonomia pessoal, familiar e comunitária, segundo Arruda, Moreira
e Aragão (2014). Os autores enfatizam ainda que a educação em
saúde é considerada uma das principais estratégias de cuidado para
a promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos relacionados
à saúde, pois possibilita o desenvolvimento do ser humano e da sua
autonomia.
As diferenças entre a aplicação de medidas curativas e de pre-
venção e/ou promoção da saúde na história natural da doença con-
tribuem para o entendimento da complexidade ao se estabelecerem
conceitos de cuidado na saúde pública contemporânea. Isso enriquece
a discussão entre os modelos de cuidado presentes nas práticas atuais.
Promoção da saúde e prevenção sugerem uma limítrofe comparação
entre si, que desfavorece, por vezes, medidas educativas e compor-
tamentos adequados de políticas públicas, agredindo noções e con-
ceitos que norteiam as bases constituintes dos sistemas de saúde. Na
promoção da saúde e do cuidado, é necessária a concepção de que
não existe verdade absoluta, mas uma sociedade complexa provida de
prazer, desejos e culturas, elementos essenciais para o planejamento
de ações e intervenções em saúde (Veras, 2012).
A busca por promoção da saúde e integralidade na assistência
requer a superação de desafios, como, por exemplo, a interseto-
rialidade, levando em conta que esta, segundo Dias et al. (2014),
implica reciprocidades dos atores do contexto da saúde coletiva, o
que sugere a ideia de partilhamentos de significados, conhecimentos,
compromissos, valores, afetos, responsabilidades e ações, carac-

125
terísticas imprescindíveis nas práticas produtoras de saúde. Além
disso, para os autores, a superação e o consequente fortalecimento
da intersetorialidade residem, entre outros aspectos, na adoção de
uma visão sistêmica acerca da realidade. Para tanto, as ações de
saúde devem ser abrangentes, instrumentos de acesso e ampliação
do mesmo, sustentadas por uma ideia coletiva, horizontal e ampliada
às relações, que vão além de atividades infantilizadoras, de cunho
individualizado e específico (Veras, 2012).
A complexidade do trabalho com demandas crescentes e diver-
sificadas é reproduzida nas tensões paradigmáticas construídas ao
longo do tempo e é evidenciada nas práticas cotidianas adotadas pelos
serviços de saúde e seus profissionais, além das condutas adotadas
pela população em geral. A promoção de saúde propõe mudança
nos comportamentos coletivos, além disso, supõe entendimento dos
indicadores que compõem uma sociedade, permitindo uma visão
holística do estado de saúde da população adscrita. Seus princípios,
que vão além de conceitos teóricos predefinidos, constituem um
verdadeiro arsenal de estratégias pertinentes à readequação dos
serviços frente às necessidades do ser humano em transformação e
constante evolução.
O empoderamento das coletividades corrobora melhorias no
fortalecimento dos serviços de saúde e potencializa caminhos mais
promissores ao entendimento do processo saúde/doença, partindo
de um pressuposto humanizado, integral, equitativo, consolidado
em práticas individuais e coletivas bem planejadas e estruturadas
por equipes de saúde em educação permanente. Nesse contexto, os
profissionais de saúde são agentes de transformação social e devem
possibilitar programas e espaços para promover a integração de ati-
vidades que compreendam as demandas da população adscrita em
suas singularidades. (Mangueira et al., 2015).
Os compromissos assumidos nos espaços produtores de saúde e
na criação de vínculos ultrapassam a esfera da assistência e assumem
um caráter de reciprocidade na gestão do cuidado adotado como
prática inerente às equipes e seus produtos. Há que se discutir os

126
sentimentos produzidos nas relações (Lopes et al., 2015). A com-
plexidade do saber científico, aliada à produção do cuidado, denota
a importância de discussões suplementares sobre saúde, promoção
da saúde, bioética e seus conceitos e agentes participantes na gestão
do cuidado.
A educação continuada e a permanente nas equipes de saúde
são possibilidades para o autoconhecimento disciplinar e acerca do
papel norteador que o cuidado assume no contexto das relações
profissionais, profissional/usuário e sociais. Entender a gestão do
cuidado como um campo de encontro entre as disciplinas infere a di-
ficuldade do trabalho em saúde, logo criar instrumentos pedagógicos
para a evolução do conhecimento interdisciplinar pode ser decisivo
para a melhoria dos serviços e práticas adotadas nos mesmos, cujo
objetivo seja a construção integral de saúde (Siqueira-Batista
et al., 2015). Contudo, definir, conceituar e entender as diferenças
que compõem a díade construção do cuidado e promoção da saúde
é um grande passo para a construção de serviços públicos de saúde
de qualidade e de perspectiva integral.
A promoção da saúde e do cuidado é disposta em possibilidades
nos mais diversos cenários de saúde. Promover, nestes contexto, o
cuidado para a saúde a partir da formação de grupos torna-se um
encontro valorativo de possibilidades e conteúdos.
Partindo desse cenário, este capítulo descreve uma experiência
exitosa na prática do cuidado na atenção primária à saúde, problemati-
zando as relações entre planejamento e prática, trabalho multidisci-
plinar, intersetorial com vistas ao cuidado integralizado, sustentado
nesta vivência como prática aliada ao fomento das grupalidades.

Uma experiência e suas múltiplas possibilidades de cuidado

Em um município de pequeno porte do norte do Rio Grande


do Sul, com população de 3.842 habitantes (IBGE, 2010), cultura
predominantemente italiana e alemã e economia baseada em agricul-

127
tura e pecuária, criou-se um projeto para nortear as ações da atenção
básica. Com a introdução de novos grupos no fluxograma do serviço
de referência em atenção básica deste município, desenvolveu-se dife-
rentes formas de incluir os usuários que procuravam excessivamente
o serviço e formalizaram-se contratos de acesso a este, de forma a
sentirem-se autônomos e corresponsáveis na promoção de sua saúde.
Pode-se, desta maneira, conceituar os grupos de promoção à
saúde como

intervenções coletivas e interdisciplinares baseadas em processos


grupais dos seus participantes buscando equilíbrio das diferenças
desnecessárias e evitáveis entre grupos humanos. São pessoas ligadas
por determinado período de tempo que procuram articular momentos
de discussão, dinâmicas e realizarem tarefas para promoção da saúde
individual e coletiva (Santos, L. M. et al, 2006).

Considerando que o homem participa de grupos durante todas


as etapas de sua vida, seja no trabalho, na família ou na comunidade,
ele, quando envelhece, tende a romper e se afastar de alguns desses
grupos, como, por exemplo, do seu grupo de trabalho, em função da
aposentadoria. Participar de um grupo torna-se, assim, uma forma
de restabelecer esses vínculos perdidos (Bittar; Lima, 2011).
Os conteúdos propostos aos grupos de promoção à saúde,
contudo, devem ser balizados pelas necessidades levantadas nas
singularidades de cada grupo e seus objetivos contidos na promo-
ção da saúde (Tahan; Carvalho, 2010). Por isso, os autores
complementam a importância da capacitação e o envolvimento dos
profissionais de saúde no planejamento e implementação de atividades
de promoção da saúde, considerando o aspecto multidisciplinar para
lidar com a complexidade dessas questões e para articular os vários
setores envolvidos.
Na busca por promover, então, um cuidado ampliado, baseado
na promoção de saúde, os objetivos iniciais do projeto eram, princi-
palmente, diminuir o número de usuários nas filas para consulta, o

128
número de internações, a busca pelas especialidades, o uso dos me-
dicamentos, dentre outras práticas que fomentavam o perfil curativo
das ações da equipe profissional e dos usuários que se baseavam em
tais experiências. Ainda, esta proposta inclui o acesso ao serviço, mas
de maneira consciente e cidadã, cultivando a amizade, a integração
e a estruturação e as relações baseadas no vínculo, cuja importância
é avaliada na satisfação do usuário que chega ao serviço e se sente
acolhido, pela sua ambiência, inclusão e humanização.
A oferta limitada de ações na esfera da promoção e prevenção
em saúde no município foi imprescindível para a percepção de que os
usuários estavam desprovidos de atenção e ocupação na constituição
de projetos pessoais para a melhoria e manutenção de sua saúde e
que não participavam do processo de construção e entendimento do
fluxo do sistema, bem como do seu funcionamento. Esta carência
resultava no aumento de internações domiciliares e hospitalares, na
busca contínua por medicamentos, além de a consulta clínica médica
passar a ser primeira escolha terapêutica, caracterizando este serviço
como baseado no modelo biomédico.
Encontrou-se no fomento das grupalidades possibilidades
de enfrentamento aos nós mais comuns, após reuniões de equipe
planejadas, salas de situação e avaliações do perfil epidemiológico e
biopsicossocial da população adscrita. Com base nos indicadores, a
equipe multiprofissional atentou para a necessidade da intersetoriali-
dade, educação permanente e continuada e entendimento do conceito
de promoção de saúde como base para estruturação do projeto.
Desenvolveu-se, assim, o Grupo Amigos da Vida, que acom-
panha os portadores e ex-portadores de câncer do município, com
vistas à monitorar suas condições de saúde e motivá-los a encarar
os processos de manutenção e alta do tratamento. O grupo conta
com a participação de voluntários, alguns, inclusive, ex-portadores
da patologia, e realiza uma vez por semana a visita domiciliar como
instrumento de cuidado para toda a família, através de momentos
de conversa, motivação, escuta terapêutica e percepção de estado
clínico. Muitas vezes, é realizado o cuidado paliativo, permitindo a

129
criação de vínculo maior com toda a rede social do usuário e esta-
belecendo a equipe da atenção básica como referência de cuidado
para toda a família. Nesse contexto, um profissional da saúde com
alguns voluntários realizam as visitas e compartilham seus saberes
de forma a promover uma rede de assistência saudável a todos que
necessitam desse cuidado.
Juntamente com a Emater do próprio município deu-se início
à construção de hortos municipais para fomentar a importância da
introdução das práticas integrativas e complementares na atenção
básica, como forma de compartilhamento de experiências. Utilizou-se
a fitoterapia para a busca do cuidado integral e fator de promoção
de saúde. Cada comunidade do município, mais a SEDE, criou o
seu horto, adubou e plantou as suas mudas a fim de troca e apren-
dizado com os demais. Foi oferecida capacitação à comunidade e,
uma vez por semana, técnicas científicas fortaleciam o conhecimento
através da condução de encontros educativos, oficinas farmacêuticas
e conversas com os voluntários responsáveis pelos hortos e toda a
comunidade interessada. Para complementar o trabalho nos hortos,
contratou-se um profissional médico para a estratégia de saúde da
família, que, além de realizar as visitas domiciliares, promoção de
saúde, atendimento à demanda, colocou em prática a acupuntura,
promovendo saúde e bem-estar aos usuários que desenvolvem ativi-
dades laborais intensas e que apresentam algum desconforto devido
à sua ocupação. A acupuntura é oferecida também como terapia aos
munícipes que procuram o serviço.
Promove-se também o Projeto Saúde na Escola, cujo objetivo
principal é manter parceria constante com instituições de ensino
e a Secretaria Municipal da Educação, a fim de que os escolares
desenvolvam uma cultura de cidadania e responsabilidade social
entendendo os fatores de risco para vulnerabilidade social, cultura de
paz, não violência e desenvolvimento de melhores condições de vida,
desde a infância. Além disso, dessa forma conseguiu-se monitorar as
condições de saúde deste público que necessita de constante atenção
das entidades e instituições locais. O cuidado é oferecido através

130
de oficinas, educação em saúde, rodas de conversa e encontros de
discussão e formação de multiplicadores em saúde.
No intuito de promover saúde nas mais diversas faixas etárias
e condições de saúde, através das agentes comunitárias de saúde em
parceria com a Emater, iniciou-se o grupo de reaproveitamento de
alimentos que promove a introdução de uma culinária mais saudável
e econômica no dia a dia do trabalhador e do usuário das comuni-
dades. São realizadas receitas com alimentos reaproveitados e que
produzem integração nas comunidades e o entendimento de que a
alimentação saudável é essencial para a melhoria das condições de
saúde da população. Os participantes se encontram mensalmente nas
diversas comunidades do município, sob a orientação de profissionais
de diferentes núcleos. O grupo já ofereceu aos participantes e demais
famílias com interesse na causa um livro, já em sua terceira edição.
Ainda, todas as quartas-feiras do mês o grupo de estudos em
alcoolismo e drogadição também se reúne, com a participação de uma
estudiosa no tema. Toda a comunidade apoiadora participa e também
os usuários que já participaram de experiências de desintoxicação e/
ou internação por álcool ou outras drogas. É um grupo que mantém
o dinamismo da saúde mental como foco de intervenção na atenção
básica, sob responsabilidade da equipe de saúde, usuários, entidades
apoiadoras e redes sociais do usuário em sofrimento. O cuidado é
oferecido de forma integral, baseado no acolhimento humanizado,
com a perspectiva da abstinência, no entanto respeitando a liberdade
de expressão, cultura e ambiência.
Além desses grupos, desenvolvem-se semanalmente o grupo de
hipertensos e diabéticos, o de gestantes e o de saúde mental, com
foco na atenção básica e que comumente ocorre em todos os muni-
cípios. Em cada grupo, realiza-se uma abordagem integralizada do
cuidado, promovendo discussões contemporâneas em saúde, bem
como entendimento dos processos de cuidado no Sistema Único de
Saúde, tornando seus dados acessíveis à população, potencializando
sua importância e abrangência. O projeto de próteses dentárias foi
iniciado para tornar as ações da atenção básica mais inclusivas, sendo

131
que todos os usuários beneficiados com a prótese contratualizam com
a equipe a participação em quaisquer um dos grupos de atenção do
município, visando à corresponsabilização e à cidadania, além de
oferecer aos demais seus conhecimentos e qualidades comopromotores
da própria saúde e população adscrita.
Para tornar este conjunto de ações uma rede de serviços úteis à
comunidade, oferta-se a publicação de suas datas sempre no rádio e
espaço de mídias locais, bem como já ocorreu de oferecer-se a cada
usuário um ímã de geladeira em forma de calendário para acom-
panhar o fluxograma da Secretaria da Saúde, possibilitando assim
a ampliação do acesso, participação e controle social com vistas à
manutenção e à melhoria das condições de saúde. Paralelo a isso, a
contribuição permanente de dois parapsicólogos e uma psicopedago-
ga na melhoria dos processos internos de gestão da secretaria, com
acompanhamento às reuniões de equipe e motivação aos profissionais
de toda a Secretaria, tornam-se fatores de crescimento e autoconhe-
cimento para toda a equipe.
A partir de reuniões bem planejadas e estruturadas, com base
no perfil da população adscrita, as ações acontecem com a integração
permanente de todos os núcleos profissionais que valorizam em suas
práticas propostas integrais e de respeito à cultura dos usuários, intro-
duzindo o vínculo como fator de melhoria dos processos de trabalho,
gestão do cuidado e resolutividade do serviço. A integração entre
todos os profissionais para o desenvolvimento dos grupos e a busca
de parcerias com as entidades como Emater, Lions, Escola Estadual,
bem como com demais secretarias, demonstram o comprometimento
da comunidade no desenvolvimento dessas ações que dão suporte a
todos os munícipes.
Com isso, todos os grupos têm um período de planejamento para
serem desenvolvidos e acontecem devido ao perfil inicial diagnosti-
cado pelos profissionais da Secretaria. Contudo, a participação nos
grupos é satisfatória e a busca pelos serviços complementares conduz
a mudanças estruturantes na cultura do cuidado, cuja conquista pode
ser obtida com o esforço de todos e com o devido planejamento.

132
Além disso, promover uma aplicação de recursos voltada ao desen-
volvimento de ações de promoção e prevenção transforma os gastos
em investimentos futuros cujos resultados, certamente, visão a longo
prazo, mas que serão essenciais para perceber uma população mais
sadia e consciente no decorrer desse processo.

Considerações finais

Assim, esta construção descreveu a idealização, desenvolvimento


e implementação de um projeto fundamentado em grupos de atenção,
com vistas à busca pela educação, prevenção, promoção da saúde
e cuidado integral, em sua multidimensionalidade. O processo foi
resultado de planejamento, reorientação de modos de produção
de saúde e gestão do cuidado, além da capacitação permanente de
profissionais da saúde, em seus mais diferentes núcleos. Além disso,
a identificação dos perfis psicossocial e epidemiológico da popula-
ção assistida nos territórios foi imprescindível para a formulação
de intervenções, políticas e cardápios adequados, convenientes e
suficientes para os fluxogramas pré-existentes, permitindo adequar
ações e buscar novos olhares para a saúde local.
Enfim, promover saúde e estruturar serviços integrais são cons-
tantes desafios da assistência, nos mais diversos serviços de atenção
à saúde. Contudo, podem ser conquistados e tornarem-se tecnolo-
gias integrantes de espaços cuidadores, desde que exista respeito às
singularidades, vivências e necessidades dos usuários, base para a
“sonhada” resolubilidade nos serviços de saúde, sem esquecer que a
comunicação entre equipes, a corresponsabilização dos usuários e a
busca por autonomia em saúde são ferramentas fundamentais para
a construção do cuidado integral.

133
Referências

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134
Capítulo 11
O cuidado com as emoções
pós-infarto agudo do miocárdio

Cristina Pilla Della Méa


Luiz Antonio Bettinelli
Adriano Pasqualotti

Introdução

O envelhecimento é um processo natural que envolve fatores


genéticos, sócio-culturais e psicológicos. Atualmente, percebe-se um
aumento dos idosos no mundo, o que pode ser compreendido pela
diminuição das taxas de natalidade e um aumento da expectativa de
vida através da evolução de tratamentos ligados à área da sáude. A
partir desse cenário, onde as pessoas vivem mais, também houve um
crescimento no diagnóstico de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT). Dentre elas, encontram-se: as doenças cardiovasculares,
o câncer, o diabetes e as doenças respiratórias. Elas são responsáveis
por 63% dos óbitos em nível mundial e, no ano de 2011, as DCNT
foram causa de 74% das mortes no Brasil, sendo que 33% estavam
ligadas às doenças cardiovasculares (Brasil, 2011; World He-
alth Organization, WHO, 2011).
O infarto agudo do miocárdio (IAM), que é considerado uma
doença cardiovascular, caracteriza-se pela obstrução de uma ou

135
mais artérias coronarianas, trazendo como consequência a morte do
tecido do músculo cardíaco (Nicolau et al., 2014). O IAM é a
segunda causa de morte mais frequente no sistema público de saúde.
Também, a mortalidade de pacientes com IAM hospitalizados é alta:
em média, 16,2%, em 2000, 16,1%, em 2005, e 15,3%, em 2010,
para as internações registradas em todo o país (Datasus, 2010).
O fato de estar doente do coração e principalmente de necessitar
de um procedimento cirúrgico gera muita angústia no paciente. O
coração é o órgão que representa a vida, além de ser popularmente
associado a sentimentos, como alegria, paixão, tristeza, dentre ou-
tros. Portanto, o paciente que sofre um IAM tem muito receio do
que está por vir depois desse diagnóstico, principalmente, medo da
morte. Dessa forma, sintomas de depressão e ansiedade são comuns
em pacientes que recentemente sofreram IAM e são considerados
um fator de risco para recorrência da doença (Huffman et al.,
2010; Norlund et al., 2015), aumentando a chances de reinfar-
to e de um período longo de hospitalização (Alves; Fráguas;
Wajngarten, 2009). O paciente infartado requer cuidado, tanto
do ponto de vista físico, quanto do emocional.
O ser humano recebe e precisa de cuidado desde que nasce. O
desenvolvimento psíquico está intimamente ligado a como fomos
cuidados pelo outro desde os primeiros anos de vida. Quando apa-
recem as doenças crônicas, urge a necessidade de maior cuidado.
O cuidar de pacientes crônicos é algo desafiador, envolvendo o
autocuidado e como a família colabora. Nesse sentido, a família tem
um papel fundamental no manejo das mudanças quanto ao estilo
de vida e às questões emocionais em virtude do apoio e do cuidado
que disponibiliza.
Cuidado significa dar atenção, zelar pelo outro, ser solícito.
Esse conceito é bastante complexo, não podendo ser associado a um
simples ato. Está ligado a uma preocupação, a uma responsabilidade,
a um envolvimento afetivo com o outro. Assim, o cuidar é o agir de
forma mais dinâmica, refletida e pensada (Boff, 2014).

136
O presente estudo tem como objetivo discorrer sobre os sin-
tomas de ansiedade e depressão pós-IAM, a partir de uma revisão
bibliográfica narrativa.

Alguns aspectos sobre infarto agudo do miocárdio

O IAM é considerado uma patologia vascular que se caracteriza


por um processo aterosclerótico com oclusão trombótica das artérias
coronárias. Isso resulta num desequilíbrio entre a oferta e o consumo
de oxigênio e, consequentemente, numa necrose tecidual. O diag-
nóstico do IAM é realizado quando os níveis séricos de troponina
(T ou I) e/ou creatinoquinase fração MB (CK-MB) encontram-se
altos. Além disso, necessita-se colher a história clínica do paciente
e este ter um eletrocardiograma alterado (Bonow et al., 2013).
A principal manifestação clínica do infarto é a dor torácica, com
queixa de irradiação para membros superiores, geralmente do lado
esquerdo. A dor tem bastante intensidade e pode durar de minutos a
horas. O paciente também tem sudorese, palidez, náuseas e vômitos
e, ainda, arritmia, alteração da pressão arterial, sensação de morte
iminente, ansiedade e inquietação, fraqueza muscular generalizada,
cianose, extremidades frias. No caso do paciente ser mulher, ter
diagnóstico de diabetes ou insuficiência cardíaca, os sintomas mudam
um pouco, podendo apresentar sintomas de desconforto, peso ou mal-
-estar torácico indefinido, sudorese e fraqueza sem causa aparente.
Além disso, um quadro de confusão mental, dispneia, edema agudo
do pulmão, síncope, parada cardíaca e tromboembolismo arterial
cerebral ou periférico pode ter o IAM com substrato patológico
mesmo na ausência de dor torácica (Magalhães et al., 2013).
Hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tabagismo,
dislipidemia e insuficiência cardíaca são considerados fatores de
risco para IAM. Essas comorbidades influenciam diretamente no
surgimento de aterosclerose, infartos lacunares e acidentes vasculares
cerebrais. Consequentemente, diminui a qualidade e o tempo de vida

137
dos pacientes cardiopatas (Pereira; Barreto; Passos, 2009;
WHO, 2011). Um estudo realizado no Paraná com 258 idosos cons-
tatou que o sedentarismo, a hereditariedade, a ingesta hipercalórica,
o tabagismo, o alcoolismo e a obesidade são também fatores de risco
para IAM (Pinheiro et al., 2013). Cabe ressaltar que muitos
pacientes apresentam mais do que um fator de risco, o que acaba
influenciando diretamente o prognóstico (Bonow et al., 2013).
Quando um paciente tem o diagnóstico de IAM, geralmen-
te recebe recomendações médicas para modificar o estilo de vida
(Pereira; Barreto; Passos, 2009; Pinheiro et al., 2013).
Além do uso de medicação, é incluído uma mudança na alimenta-
ção, optando por uma dieta mais saudável, não fazer uso de álcool
e tabaco e a prática de atividade física de forma regular. Modificar
esses hábitos não é uma tarefa fácil, exige muito esforço e persistência.
Caso o paciente tenha algum sintoma psíquico, isso se torna mais
complicado, pois pode haver mais dificuldade de se cuidar, senti-
mento de desesperança, autoestima baixa e, consequentemente, uma
visão pessimista do futuro (Whooley et al., 2007). Para adotar
hábitos mais saudáveis, o paciente terá que modificar suas crenças
relacionadas com saúde, autocuidado e futuro a fim de diminuir
sintomas psicológicos (Orth-Gomér, 2012; Bonetti; Silva;
Trentini, 2013).
O tratamento do IAM pode ser clínico, que inclui o uso de
medicamentos e a mudança de hábitos de vida, ou via tratamento
cirúrgico, envolvendo técnicas de cateterismo como angioplastia co-
ronária com ou sem colocação de stent ou a realização da cirurgia de
revascularização do miocárdio. A escolha do tratamento dependerá do
estágio e da gravidade que a patologia apresentar (Gama et al., 2010;
Pêgo-Fernandes; Gaiotto; Guimarães-Fernandes,
2008). Conhecer os fatores de risco, a presença de comorbidades e
as questões psicológicas auxilia para que o procedimento seja eficaz
(Quintana; Kalil, 2012).
Uma intervenção cirúrgica é escolhida quando os sintomas
colocam em risco a vida dos pacientes, visando a um aumento do

138
tempo de sobrevida e da qualidade de vida desses sujeitos. Quando o
paciente é informado que vai ter que realizar uma cirurgia cardíaca,
apresenta sentimentos de apreensão, medo, preocupações, ansiedade,
nervosismo, depressão, dificuldades de sono e preocupações ligadas
à vida sexual (Quintana; Kalil, 2012). Na medida em que vai
elaborando esse período mais delicado de sua vida, passa a sentir mais
esperança, com a possibilidade de cura e de reabilitação (Vargas;
Maia; Dantas, 2006).
A família exerce um papel importante, tanto no ajuste quanto
no manejo das questões emocionais e sintomáticas associadas à pa-
tologia, em virtude do apoio e do cuidado disponibilizado. Ainda, as
relações sociais desempenham funções significativas porque afetam de
maneira positiva os sistemas biológicos, afetivos e comportamentais
relacionados à saúde e ao bem-estar psicológico dos indivíduos, favo-
recendo a adaptação e o ajustamento do paciente para enfrentar uma
doença crônica (Abreu-Rodrigues; Seidl, 2008, Bonetti;
Silva; Trentini, 2013; Ferreira et al., 2013; Rossi; Pace;
Hayashida, 2009).

Ansiedade pós-iam

Entende-se por ansiedade um estado emocional transitório


que vem acompanhado de tensão e apreensão por um aumento na
atividade do sistema nervoso autônomo que resulta em desconforto
abdominal, diarreia, tonturas, hiperidrose, hipertensão, palpitações,
taquicardia, hiperreflexia, agitação psicomotora, midríase pupilar,
tremores, formigamento nas extremidades, sensação de desmaio,
frequência, retenção ou urgência urinária (Fonseca et al., 2009;
Hicks; Cummnigs; Epstein, 2010; Sadock; Sadock,
2007). A ansiedade é considerada um sinal de alerta quando há uma
ameaça interna ou externa na vida do indivíduo. Nessa circunstância,
é considerada uma emoção igual ao medo (American Psychia-
tric Association – APA, 2014; Sadock; Sadock, 2007).

139
Quando os sintomas são excessivos, frequentes, persistentes e
causam sofrimento intenso ao indivíduo, considera-se a ansiedade
como patológica (APA, 2014; Sadock; Sadock, 2007). O Manu-
al Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-DSM-5 (APA,
2014) traz como tipos de transtornos de ansiedade: o transtorno de
ansiedade de separação, mutismo seletivo, fobia específica, transtorno
de ansiedade social, transtorno do pânico, agorafobia, transtorno
de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade induzido por
substância/medicamento, transtorno de ansiedade devido a outra
condição médica. O tratamento envolve o uso de psicofármacos e
psicoterapia (Sadock; Sadock, 2007; Shearer et al., 2014).
Atualmente, os transtornos de ansiedade vêm apresentando re-
lações com o desenvolvimento de eventos cardíacos na população em
geral. Em um estudo de meta-análise, concluiu-se que a ansiedade é
considerada um fator de risco em pacientes cardíacos. Sintomas de
ansiedade pós-IAM estão associados com eventos cardíacos adversos,
a novos eventos cardíacos e a causas de mortalidade (Roest et al.,
2010). Pacientes com maior número de hospitalizações, devido à
maior intensidade da ansiedade, estão em um risco mais elevado de
re-infarto e morte (Ciric-Zdravkovic et al., 2014).
A questão do fluxo coronário também está ligada às emoções.
Um estudo buscou verificar se há associação entre o fluxo coronário
lento com depressão/ansiedade. Foram avaliados noventa pacientes,
homens e mulheres, com média de idade de 51 anos. Como resultado,
a pesquisa demonstrou que os escores de ansiedade e depressão foram
maiores em pacientes com fluxo coronário lento quando comparados
com aqueles com fluxo normal (Durmaz et al., 2014).
Quando o paciente cardíaco tem indicação de procedimento
cirúrgico, geralmente experimenta sintomas de ansiedade. Os sin-
tomas decorrem do medo do desconhecido, como, por exemplo, o
paciente que tem pensamentos relacionados a anestesia e sente-se
mais vulnerável por estar desacordado e perder a consciência. Além
disso, a dor e o risco de morte geram bastante insegurança, bem
como a incerteza do que ocorrerá no pós-alta. O nível de ansiedade

140
está associado ao tempo de espera para realização do procedimento
cirúrgico, quanto mais demorado for, mais alta é a ansiedade (Fit-
zsimons et al., 2003).
Dentro desse contexto, uma pesquisa com 100 pacientes buscou
avaliar os padrões de ansiedade e preocupações depois de serem
submetidos a uma angioplastia coronária no primeiro dia após o
procedimento e uma semana pós-alta. Os escores de ansiedade foram
maiores antes do procedimento e foram diminuindo gradativamente
após a realização do mesmo. Antes do procedimento, as preocupações
estavam relacionadas ao resultado da intervenção e à possibilidade
de uma cirurgia de revascularização. Após, ainda hospitalizados, a
preocupação mais comum dos pacientes era com as limitações físicas
e a dor no local de acesso. Além disso, questões pessoais e incertezas
quanto à progressão da doença também apareceram. Os pacientes
que faziam uso de medicação para depressão ou ansiedade tiveram
escores mais altos na avaliação de ansiedade. Detectar esses sintomas
é importante porque uma ansiedade antes do procedimento pode ser
preditiva de ansiedade em situações subsequentes. Depois da inter-
venção, a ansiedade foi maior em pacientes que sentiram dor no peito
pela primeira vez após a intervenção (Trotter; Gallagher;
Donoghue, 2011).
Recentemente, uma pesquisa que verificou os diagnósticos
psicológicos em pacientes com doença arterial coronariana (DAC),
no período pré-operatório da cirurgia cardíaca, identificou que as
patologias de ansiedade são as mais frequentes (Quintana; Kalil,
2012). No Brasil, um estudo realizado por Sardinha et al. (2011)
destacou uma alta prevalência de um ou mais transtornos psiquiá-
tricos em pacientes com DAC, como depressão, agorafobia e fobia
social, principalmente. Os resultados encontrados reforçam a neces-
sidade de se avaliar as consequências dos transtornos psiquiátricos
entre pacientes cardiopatas (Frasure-Smith; Lesperance,
2008). Perceber e identificar a maneira como o paciente lida com
estes sintomas é um aspecto muito importante para a indicação e

141
realização de uma terapêutica adequada, de caráter multiprofissional
(Quintana; Kalil, 2012).
Nesse mesmo segmento, Hanssen et al. (2009) avaliaram os
sintomas de ansiedade e depressão em 288 pacientes na Noruega,
durante 18 meses. Avaliaram em quatro momentos: no terceiro, no
sexto, um ano e um ano e meio após o IAM e compararam com
um grupo da população que não tinha infartado. Não constataram
sintomas depressivos e verificaram que níveis mais elevados de
ansiedade apareceram nos três primeiros meses.
Outra pesquisa de Jeenger, Wadhwa e Mathur (2014) mediu a
prevalência de depressão e ansiedade após o primeiro IAM. Foram
avaliados 60 pacientes na Índia com o primeiro IAM e comparados
com 60 pacientes saudáveis. A avaliação se deu 2 a 3 meses após o
IAM, sendo que 40% dos pacientes estavam com um episódio de-
pressivo, 35% com sintomas de ansiedade e 16,6% com ansiedade
mista e sintomas depressivos.
É necessário avaliar a ansiedade em pacientes pós-IAM, e, caso
os escores sejam altos, o paciente deve ser encaminhado para aten-
dimento psicológico (Trotter; Gallagher; Donoghue,
2011). Destaca-se a necessidade de tratamento para eles. Assim,
pode-se melhorar a qualidade de vida e outros desfechos clínicos do
paciente (Jeenger; Wadhwa; Mathur, 2014).

Depressão pós-iam

A depressão afeta o humor, deixando o paciente deprimido ou


irritado, juntamente com uma falta de prazer nas atividades do dia
a dia. Além disso, observa-se: alterações de sono (insônia ou hiper-
sonia), aumento ou diminuição do apetite/peso, retardo ou agitação
psicomotora e sentimentos de culpa ou inutilidade, sintomas de can-
saço, dificuldades de concentração e tomada de decisão ou a presença
de ideias/tentativas de suicídio (Goldfeld, 2012; APA, 2014).

142
A depressão também está integrada a certas cardiopatias, po-
dendo ser considerada causa, fator de risco ou consequência (May
et al., 2009; Sardinha et al., 2011). Há uma maior prevalência
da depressão em pacientes portadores de DAC (Jurkiewicz;
Romano, 2009). Pessoas com patologia cardíaca mais grave têm
maior risco de desenvolver depressão pós-IAM do que pessoas com
patologias menos graves (Zuidersma et al., 2013).
Alves, Fráguas e Wajngarten (2008) destacam a relação entre
transtornos depressivos e doenças cardiovasculares, dentre elas, o
IAM. Após IAM, estima-se que 18 a 20% dos pacientes tenham
transtorno depressivo maior. A associação de um quadro cardíaco e
sintomas depressivos aumentam a taxa de reinfarto, de morbidade,
bem como mortalidade (Thombs et al., 2006). Além disso, esses
pacientes têm uma menor probabilidade de retomar as atividades
laborais; menor tolerância à prática de atividade física; dificuldade
de seguir a dieta prescrita; menos adesão ao tratamento médico;
declínio cognitivo e menor qualidade de vida em geral (Agarwal
et al., 2014; O’neil; Sanderson; Oldenburg, 2010).
Outro dado relevante é se o paciente já teve história de sin-
tomas depressivos antes do diagnóstico cardíaco ou se tem casos
de depressão na família. Se sim, tem mais chance de apresentar os
sintomas (Blay et al., 2007). Pouco apoio social está associado a
um pior estado de saúde e mais sintomas depressivos ao longo do
primeiro ano de recuperação pós-IAM, principalmente nas mulheres
(Leifheit-Limson et al., 2010).
A apresentação da depressão em cardiopatas é diferente quan-
do comparada à de pacientes sem doença cardíaca, sendo comum
os sintomas de humor aparecem mais tarde. Uma das explicações
para isso se dá pelas alterações cerebrais que ocorrem em função
da doença cardiovascular. Como anormalidades funcionais, há uma
diminuição de sangue no cérebro, envolvendo o sistema límbico e
paralímbico (Alves et al., 2006). Também, através de ressonân-
cia magnética, observa-se alterações estruturais, ou seja, lesão de
substância branca. Essas alterações afetam os circuitos responsáveis

143
pela regulação do humor, justificando o aparecimento de sintomas
depressivos em pacientes com doença cardiovascular. Estudos de
neuroimagem e de neuropatia sugerem que a causa da depressão de
início tardio tem origem numa aterosclerose cerebral. Isso, facilita
o surgimento de sintomas depressivos e ansiedade, mesmo antes da
DAC (Gustad et al., 2014).
A questão biológica compreende que o estado depressivo está
associado à hiperatividade do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, dis-
túrbio autonômico do músculo cardíaco e baixa frequência cardíaca,
alterações no sangue, mecanismos de coagulação, disfunção endotelial
vascular de artérias coronárias e a ativação do sistema imunológico,
contribuindo à trombose da artéria coronária (Lichtman et al.,
2014).
Muitas vezes, em cardiopatas, as queixas emocionais como
tristeza, cansaço e falta de interesse nas atividades do cotidiano são
confundidas com sintomas cardíacos, ficando casos sem o devido
diagnóstico e, consequentemente, tratamento adequado. Quando
se trata de idoso, a situação é mais peculiar, pois fatores como baixa
renda, morar sozinho, saúde precária, outras doenças clínicas existen-
tes, dificuldades visuais e/ou auditivas, comprometimento na rotina
diária, falta de atividade laboral e história de hospitalizações também
podem dificultar o diagnóstico (Blay et al., 2007).
Em muitos casos, os pacientes que sofreram um IAM não fe-
cham critérios para se diagnosticar um transtorno depressivo, mas
tem sintomas de depressão, o que é categorizado como depressão
subsindrômica. Uma pesquisa realizada na Índia buscou avaliar a
prevalência de transtorno depressivo e depressão subsindrômica em
pacientes que sofreram o primeiro IAM. Avaliaram os pacientes de
4 a 6 semanas após IAM e perceberam que 44,6% deles tinham
sintomas de depressão. O transtorno depressivo maior foi encontrado
em 23,8% dos pacientes e os sintomas subsindrômicos em 20,8%.
Número significativamente maior de pacientes com transtorno
depressivo maior e sintomas subsindrômicos tinham hipertensão e
diabetes mellitus como fator de risco para IAM quando comprados

144
com pacientes que não apresentaram sintomas depressivos (Aga-
rwal et al., 2011).
Além disso, os sintomas depressivos em cardiopatas podem estar
relacionados a uma influência farmacológica. Os betabloqueadores
são muito utilizados após IAM. São usados como vasodilatadores
e reduzem as taxas de mortalidade e mortalidade desses pacientes.
No entanto, esse fármaco tem relação com o humor do paciente, ou
seja, pode potencializar ou agravar sintomas de depressão. Através
da ação do medicamento, o coração trabalha com menos carga e
consequentemente a ação da adrenalina e dos hormônios do estresse
também diminuem, dando a sensação de cansaço e fadiga para os
pacientes. Assim, os sintomas de depressão podem ser confundidos
com os efeitos colaterais da medicação (Pinho et al., 2003; Pena
et al., 2011).
O tratamento para depressão pós-IAM segue o mesmo protocolo
de um tratamento para depressão, ou seja, é indicada a farmacote-
rapia associada à psicoterapia (Cuijpers et al., 2009). Quando a
depressão é tratada há maior adesão ao tratamento, e, consequente-
mente, há uma melhora no quadro clínico cardíaco e na qualidade
de vida do indivíduo (O’neil; Sanderson; Oldenburg,
2010; Thombs et al., 2006).
Quando o paciente apresentar sintomas emocionais importantes,
principalmente que comprometam a adesão ao tratamento clínico,
faz-se necessário encaminhá-lo para tratamento psicológico (Caiuby,
Andreoli; Andreoli, 2010; Coleta, 2010; Quintana;
Kalil, 2012).

Considerações finais

O paciente que sofreu um IAM, independente de necessitar


de uma intervenção cirúrgica, precisa de cuidados tanto no aspecto
físico quanto no emocional. Esse cuidado requer, primeiramente,
seguir com as orientações médicas dadas no momento da recuperação,

145
que envolve, também, remodelar seus hábitos de vida. No entanto,
precisa ser avaliado o quanto o paciente acredita que pode se cuidar
e a rede de apoio que ele tem para ampará-lo. Fazer mudanças no
estilo de vida não é uma tarefa simples. Se sintomas emocionais
estiverem presentes, pode ser ainda mais delicado. Em função de se
tratar de uma doença que envolve o órgão cardíaco, normalmente isso
implica inúmeros sentimentos, tais como ansiedade, medo, tristeza,
e principalmente incerteza perante o futuro.
Esse estudo demonstra o quanto é necessário avaliar sintomas
de ansiedade e depressão pós-IAM através de exame de rotina.
Quando detectados precocemente, tem-se a indicação de um trata-
mento psicológico. A psicoterapia se mostra benéfica, diminuindo
esses sintomas e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida
do paciente. Dessa forma, ele terá mais condições para se cuidar, o
que diretamente está ligado ao desfecho clínico de sua patologia.
Para isso, é necessário integrar as áreas do conhecimento, ou seja,
proporcionar a participação de um profissional psicólogo para avaliar
e detectar sintomas emocionais pós-IAM.

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151
152
Capítulo 12
Doença renal crônica:
interface com a nutrição

Vanessa Maria Bertoni


Luiz Antonio Bettinelli
Adriano Pasqualotti

Introdução

O processo de envelhecimento não está necessariamente associa-


do a doenças incapacitantes, porém é muito comum ser acompanhado
por doenças crônicas. Assim, segundo Alves et al. (2007), a tendência
atual é um número crescente de indivíduos idosos que, apesar de
viverem mais, apresentam maiores condições crônicas, entre elas, a
doença renal crônica (DRC).
A DRC constitui a fase final de evolução de muitas nefro-
patias, e, em alguns casos, por suas características assintomáticas
ou subclínicas, somente é diagnosticada com o aparecimento de
sintomas urêmicos. É caracterizada como uma síndrome complexa
consequente à perda lenta e progressiva da função renal. Quando isto
acontece, tem-se uma condição exigente de terapia de substituição
renal (Schor; Ajzen, 2005).
Costa e Silva et al. (2008) colocam que o acompanhamento
interdisciplinar se justifica pela complexidade da DRC, que com-

153
preende diferentes aspectos em seu tratamento e incorpora múltiplos
campos de conhecimento, entre eles, as condições clínica, nutricional,
emocional e de adesão à terapia medicamentosa.
Neste capítulo, buscamos relatar informações acerca da DRC
e suas particularidades, principalmente no que se refere ao cuidado
nutricional e à adesão deste, o que envolve aspectos de autocuidado
e aspectos emocionais.

Doença renal crônica e terapia renal substitutiva

A DRC é uma síndrome clínica que se caracteriza pela perda


lenta, progressiva e irreversível da função renal, com presença de
dano ou redução da função renal por um período igual ou superior a
três meses, independente da etiologia (Costa; Silva et al., 2008).
A Sociedade Brasileira de Nefrologia adotou a classificação da
NKF, onde a DRC pode ser classificada, de acordo com a medida
da taxa de filtração glomerular (TFG), em estágios de 1 a 5. Romão
Jr. (2004) afirma que pacientes com a doença no estágio 5, caracte-
rizado como insuficiência renal, apresentam disfunção renal grave e
necessitam de terapia substitutiva de função renal. Segundo a NKF
(2006), a DRC pode ser classificada em cinco estágios, de acordo
com a TFG, demonstrados na tabela a seguir.

Tabela 1 – Estágios da doença renal crônica.

Estágios TFG ml/min/1,73m² Características

Estágio 1 90 ou mais Lesão renal com TFG normal ou aumentada

Estágio 2 Entre 60 e 89 Lesão renal com TFG levemente diminuída

Estágio 3 Entre 30 e 59 Lesão renal com TFG moderadamente diminuída

Estágio 4 Entre 15 e 29 Lesão renal com TFG severamente diminuída

Estágio 5 Menos de 15 Falência renal

Fonte: National Kidney Foundation American (2006).

154
A NKF (2006) recomenda que a terapia de reposição renal pode
ser iniciada em indivíduos com TFG <15-20mL/min caso ocorra
DPC, ou se esta persistir após muitas tentativas para aumentar o
aporte de proteínas e energia e não houver causa aparente para a
DPC, além da baixa ingestão nutricional.
A DRC evolui para estágios mais avançados na maioria dos
pacientes, nos quais se faz necessário o emprego de uma terapia
substitutiva, como a hemodiálise (HD), a diálise peritoneal (DP)
e o transplante renal. Embora o tipo de terapia a ser aplicado seja
escolhido pela avaliação do contexto clínico e familiar do paciente
e sua preferência pelo método terapêutico, o tratamento mais uti-
lizado, em uma média de 90% dos casos, é a HD (Kamimura;
Avesani; Draibe, 2009).
A HD é uma terapia dialítica associada a complicações agudas e
crônicas e à elevada taxa de hospitalização e mortalidade e distúrbios
nutricionais. O processo de HD pode levar à remoção de 1 a 4 litros
de fluido no período médio de 4 horas e, dependendo do paciente e
da eficiência da diálise, as alterações no volume do fluido corporal
podem resultar em situações que variam desde edema e congestão
pulmonar até hipotensão e desidratação. Essas constantes variações
hídricas podem tornar imprecisas as medidas da composição corporal,
dificultando a avaliação e o acompanhamento do estado nutricional
(Araújo et al., 2006).
Muitos são os benefícios da HD, que permite prolongar a vida
dos pacientes com DRC, porém as condições impostas pela doença
e pelo próprio tratamento dialítico resultam em uma série de alte-
rações orgânicas com complicações agudas e crônicas e alterações
nutricionais. Um grande problema relacionado ao aspecto nutricional
é o acúmulo de substâncias tóxicas e de líquidos nos intervalos
interdialíticos. Isso se deve pelo fato de a terapia ser intermitente
(Riella; Martins, 2013).
Apesar dos muitos avanços tecnológicos alcançados na terapia
dialítica, ainda são preocupantes as taxas de morbimortalidade. Dados
recentes mostram que a taxa de mortalidade bruta no Brasil é de

155
17,9% (Sesso, 2011). Muitos são os fatores que determinam essa
alta taxa. Dentre eles, destaca-se o estado nutricional e a qualidade
da diálise (Clarkson; Barry, 2007).

Cuidado nutricional na doença renal crônica

Cuppari e Kamimura (2009) resgatam a história da nutrição na


DRC e observam que foi na década de 70 que surgiram os primeiros
estudos identificando a desnutrição como uma condição prevalente
nos pacientes com DRC, de modo particular naqueles em terapia
renal substitutiva, mas, na década de 80, a desnutrição foi identificada
como um fator de risco para morbi e mortalidade nesta população.
De fato, a complexa inter-relação entre os marcadores inflamatórios,
as adipocinas e o estado nutricional ainda é motivo de incessantes
investigações. Finalmente, na década atual, contrapondo o histórico
da desnutrição, a obesidade surge como um distúrbio nutricional
significativo nas principais investigações clínicas e epidemiológicas
envolvendo a DRC. A obesidade tem merecido destaque por ser
apontada como fator de risco para complicações cardiovasculares e
como um possível fator causal da DRC, mas também paradoxalmente
pelas evidências sobre um possível papel protetor na sobrevida dessa
população.
Kirchner et al. (2011) relatam que pacientes com DRC em
tratamento hemodialítico passam, frequentemente, por alterações
nutricionais e podem ser atingidos por diversas condições adver-
sas, tais como anorexia, presença de toxinas urêmicas, distúrbios
gastrintestinais e alterações metabólicas, com influência do estado
nutricional em que se encontram.
Dependendo do doente renal e da eficácia de sua diálise, as
alterações de líquidos corporais podem resultar em situações que
variam desde edema e congestão pulmonar até hipotensão e desidra-
tação. Essas variações hídricas podem tornar imprecisas as medidas
de composição corporal, sendo uma das limitações do uso da BIA

156
na avaliação do estado nutricional nesses doentes (Melo, 2009).
Estudos que utilizem a BIA em hemodiálise são necessários para
que se obter mais resultados para melhor avaliar a influência dessas
alterações hídricas nos valores obtidos pela mesma.
Em diálise crônica, os objetivos da avaliação nutricional são:
recuperar e/ou manter o estado nutricional; minimizar o catabolismo
proteico decorrente do processo dialítico; assegurar a ingestão proteica
recomendada; manter o equilíbrio ácido-básico, hidroeletrolítico, de
minerais e de vitaminas; minimizar os efeitos metabólicos da absorção
contínua de glicose do dialisato e melhorar o prognóstico (Riella;
Martins, 2013).
Riella e Martins (2013) descrevem em relação às calorias que
de 32 a 39 kcal/kg/dia (com média de 35 kcal/kg/dia), são recomen-
dadas para manutenção do peso e do balanço nitrogenado neutro
de indivíduos clinicamente estáveis em HD, sedentários ou com
atividade física leve.
A recomendação de proteína também tem aspectos específicos
a serem analisados nesses pacientes. Em virtude da perda de ami-
noácidos que ocorre durante o procedimento dialítico, da limitação
na síntese e do maior catabolismo proteico muscular, a necessidade
de proteína é superior à necessária em indivíduos saudáveis. A ureia
sanguínea possui relação direta com a ingestão proteica ou com a que-
bra endógena das proteínas por meio do catabolismo. Dessa forma,
a recomendação de proteína em HD é de 1,0 a 1,4 g/kg/dia; essa
variação vai depender do nível de estresse e das alterações metabólicas.
Pacientes em diálise podem apresentar deficiência de carnitina. Isso
ocorre principalmente pela perda durante o procedimento dialítico.
Como consequência, percebe-se a alteração no metabolismo dos
lipídios, com a levação dos níveis séricos de triglicerídeos (Riella;
Martins, 2013).
A recomendação da ingestão de sódio deve ser individualiza-
da, dependendo do volume e perdas urinárias. Após algum tempo
em programa de HD, geralmente meses, a função renal residual
diminui e o doente torna-se oligúrico ou anúrico. Com isso, o ba-

157
lanço de sódio e de outros minerais é mais difícil de alcançar e a
necessidade de restrição é maior. A recomendação diária de sódio
na dieta é de 1 a 3 gramas por dia. A restrição hídrica é um fator
importante no controle da tensão arterial e, por isso, na prevenção
de doenças cardiovasculares. A ingestão excessiva de líquido, com
consequente ganho excessivo de peso entre diálises, aumenta o risco
de edema agudo do pulmão. A necessidade de remoção de líquido
em excesso durante a sessão de HD pode causar rápida redução do
volume sanguíneo e provocar hipotensão, angina, arritmias e cãibras
musculares, uma vez que a taxa de ultrafiltração é aumentada e a
velocidade de reposição plasmática não acompanha a velocidade de
remoção de líquido na diálise. Normalmente, a recomendação diária
de líquidos é de 500 ml mais o volume de urina de 24 horas/dia
(Riella; Martins, 2001).
Outro fator essencial na dietoterapia em HD é a restrição da
ingestão de potássio. A ingestão excessiva de potássio leva a hiperca-
lemia, consequente fraqueza muscular e alterações eletrocardiográfi-
cas. Quando grave, pode precipitar arritmias fatais, isto é, fibrilação
ventricular ou assistolia (Umeakunne, 2002).
Ainda segundo Riella e Martins (2001), a dietoterapia tem
um papel muito importante também no controle do fósforo, pois os
alimentos são abundantes em fósforo, sobretudo os lacticínios, e a
diálise não é um método eficaz na remoção da carga de fósforo ali-
mentar ingerida. Além disso, a suplementação de vitamina D facilita
a sua absorção, do intestino para o sangue, sendo já a sua excreção
deficiente. A ingestão de fósforo deve ser restringida na dieta, sendo
a ingestão diária recomendada de 800 a 1.200 mg/dia.
A avaliação nutricional cuidadosa de pacientes em hemodiálise
revela que a desnutrição é um quadro comum (Bossola et al.,
2010). Levantamentos mostram que, em todo o mundo, 6% a 8%
dos indivíduos submetidos a tratamento dialítico sofrem de des-
nutrição grave e cerca de 30% de desnutrição leve a moderada. É
importante relatar que nos últimos anos a prevalência de obesidade
na DRC apresentou um aumento significativo e vários estudos

158
epidemiológicos têm mostrado uma associação entre a obesidade e
a DRC (Guedes et al., 2010).
Kim et al. (2015) concluíram que a falta de apetite é o fator mais
influente na ingestão deficiente de pacientes em hemodiálise, sintoma
presente em 70% dos sujeitos. Pacientes com DRC frequentemente
experimentam a anorexia, que se desenvolve durante a progressão
da doença. Falta de apetite foi estreitamente associada à desnutrição,
inflamação e saúde, resultado desfavorável em pacientes em HD de
manutenção.

Adesão ao tratamento nutricional e autocuidado na


doença renal crônica

Segundo Fuji e Oliveira (2011), relacionando as doenças crô-


nicas prevalentes, a DRC é reconhecida, em nível mundial, como
problema de saúde pública, sendo uma das patologias que mais têm
impacto no modo de vida de seus portadores. Geralmente, a pessoa
se vê, de forma abrupta, diagnosticada com DRC, passando dessa
fase à necessidade de terapia renal substitutiva. Esse tratamento faz
com que ela e sua família tenham que reorganizar a vida nos aspectos
econômico, social, de trabalho, entre outros. Estima-se que, no Brasil,
mais de 77.589 pessoas já dependam, de alguma forma, de terapia
renal substitutiva, sendo que, dentre essas, 89,6% fazem hemodiálise.
De acordo com Kirchner et al. (2011), o tratamento hemo-
dialítico representa uma esperança de vida, ao considerar que essa
doença é um processo irreversível. A não aceitação da doença pelo
paciente pode dificultar a adesão ao tratamento, o relacionamento
interpessoal com familiares, o convívio no meio cultural, crenças,
valores pessoais e o próprio convívio social. As limitações impostas
pela doença também influenciam e repercutem na vida familiar,
pois é um fator de grande importância a adesão dos familiares ao
tratamento, com amparo emocional ante as consequências negativas
durante o decaimento da função física do processo de adoecer.

159
O portador de DRC vivencia mudanças bruscas na sua vida,
tornando-se desanimado, desiludido e, muitas vezes, devido a esses
fatores ou por falta de orientação da equipe de saúde, abandona o
tratamento deixando de se importar com os constantes cuidados
necessários para sua qualidade de vida. Desse modo, torna-se indis-
pensável estimular suas capacidades, habilidades e potencial de reação
humana, propiciando que ele se adapte de maneira positiva ao novo
estilo de vida e assuma o controle de seu tratamento, desenvolvendo
o autocuidado (Santos et al., 2011).
Num dos estudos considerados clássicos na literatura, realizado
com o objetivo de identificar fatores determinantes de adesão à dieta
em 116 doentes em hemodiálise, Cummings et al. (1982) constataram
a existência de duas ordens de fatores explicativos de não adesão. Por
um lado, os fatores situacionais, como a dificuldade na confecção das
refeições, estar longe de casa, desejar intensamente alimentos não
admitidos na dieta; dificuldades na obtenção dos medicamentos e/ou
alimentos recomendados. Por outro lado, fatores individuais como
esquecimento; crenças em relação à eficácia do tratamento (menor
adesão nos doentes com crenças de ineficácia); crenças em relação à
expectativa de transplante (menor adesão em doentes que afirmavam
estar convencidos de poder fazer um transplante em médio-prazo);
crenças em relação à severidade da doença (menor adesão em doentes
que percebiam a doença como pouco severa).
Há ainda a diminuição do apetite, por acreditar-se que, duran-
te o processo inflamatório, o aumento da liberação ou ativação de
citocinas possa levar à supressão do apetite, à proteólise muscular,
à hipoalbuminemia, por diminuição da síntese e aumento da taxa
catabólica desta proteína e à aterogênese (Siew; Ikizler, 2010).
Sousa (2012) trata de como é essencial a ação educativa com o
paciente, a fim de que ele possa descobrir maneiras de viver dentro
dos seus limites, para não ser contrário ao seu estilo de vida e, en-
fim, conseguir conviver com a doença e o tratamento hemodialítico.
Para que as pessoas assumam os cuidados e o controle do esquema

160
terapêutico, é necessário identificar as suas necessidades, auxiliá-los
a se sentirem responsáveis e capazes de cuidarem de si mesmos.
Sendo a adesão do paciente com doença renal crônica ao regime
de tratamento um fator que interfere em sua qualidade de vida, o
nutricionista tem a responsabilidade de participar ativamente da im-
plantação de programas educacionais que atendam à necessidade do
indivíduo; de conhecer o que está ocorrendo e o que poderá ocorrer
com a sua saúde, independentemente da fase da doença em que o
paciente se encontra (Sousa, 2012).

Atividades lúdicas na hemodiálise

As sessões de hemodiálise impõem regras à vida das pessoas,


pois é necessário obedecer ao horário estabelecido para a filtração
do sangue. Nesse ínterim, os pacientes conversam com a equipe e
seus pares, dormem, lancham, assistem à televisão, leem. Contudo,
mesmo fazendo isso ou aquilo, o tempo demora-lhes a passar. Assim,
atividades lúdicas tornam-se alternativas criativas para minimizar,
provavelmente, os efeitos da monotonia e da intolerância, permitindo
ao paciente mergulhar no seu íntimo e usufruir o prazer da distração
(Inchoste et al., 2007).
Cavalcante et al. (2011) descrevem as atividades lúdico-educa-
tivas como objeto de transformação na vida de indivíduos doentes.
O lúdico não cura o paciente, mas proporciona grandes melhoras,
ajudando no enfrentamento da doença. Além de modificar desfavo-
ravelmente a vida do renal crônico, a doença consome as perspectivas
de vida do paciente, deixando-o muitas vezes, desesperançoso. Por-
tanto, é crucial para o resgate de cada indivíduo, outrora esquecido
e desacreditado, a dedicação da equipe de saúde não apenas com
a assistência tecnicista, evidenciando principalmente o fato de a
hemodiálise não ser o fim, e sim o meio de prolongar e proporcionar
qualidade de vida.

161
A finalidade do lúdico, durante as sessões de hemodiálise, é
transformar o tempo inativo do paciente em algo produtivo, que
possa animá-lo, ao passo que, para a equipe de saúde, o objetivo é
promover a integração junto aos pacientes, de forma criativa. Assim,
o apoio terapêutico por meio das atividades lúdicas pode contribuir
para todas as questões referentes ao paciente portador de doença renal
crônica que busca a completa aceitação de si, preservando a dignida-
de, direito nato de todo o ser humano (Brasil; Schwartz, 2005).
Segundo Santos et al. (2011), com o uso de atividades lúdicas e
brincadeiras, o paciente deprimido restabelece mais facilmente contato
com o outro e melhora sua autoexpressão, autopercepção, autoestima
e autocuidado; consegue restaurar o interesse e a concentração, au-
mentar a energia e a confiança em si mesmo, reduzir o sentimento
de culpa e inutilidade, o que leva a uma melhora considerável do
humor deprimido e à saída do quadro depressivo, quando encontrado.
O lúdico é a experiência da plenitude, de permitir que a pulsação
rítmica da vida se manifeste e integre todas as partes do ser. É um
mergulho pelas águas pulsantes da vida.
Teixeira e Resck (2011) consideram que durante as sessões de
hemodiálise, o uso do lúdico pode representar o retorno dos pacientes
ao entusiasmo, a novas perspectivas de vida, de forma singela, com
alegria e encantamento. Estudos recentes mostram que tanto pacien-
tes adultos e idosos como crianças apreciaram o desenvolvimento de
atividades lúdicas no ambiente hospitalar, apresentando boa aceita-
ção. Assim, faz-se necessário, porém, que existam iniciativas para
os profissionais de saúde afirmarem ainda mais o seu compromisso
com a humanização.
Complementando, as atividades lúdicas promovem a renovação
do exercício da liberdade e das grandes realizações pessoais e grupais;
constituem oportunidades de expressão da criatividade humana,
de ocupação do tempo para descontrair, rir, enfim, divertir-se; são
momentos de cuidado de si, dos outros; são momentos de viver
(Teixeira; Resck, 2011).

162
Considerações finais

A DRC acarreta várias alterações de ordem nutricional que


requerem acompanhamento constante. Por sua vez, a desnutrição é
uma das complicações que mais acomete os pacientes em hemodiálise,
aumentando a morbimortalidade nesse grupo. A desnutrição agrava
a capacidade funcional e piora o prognóstico, além de aumentar de
forma significativa os gastos com saúde.
As alterações nutricionais dos pacientes renais comprometem sua
qualidade de vida e aumentam as comorbidades. Por isso, o cuidado
e o acompanhamento do consumo alimentar do paciente com DRC
melhorará as suas condições de saúde, contribuindo para minimizar
os sinais e sintomas da doença e dessa, forma, proporcionar uma
maior e melhor expectativa de vida.
O processo pedagógico dos pacientes, desenvolvido por meio
da utilização de atividades lúdicas possibilita uma melhor compreen-
são e conscientização, por ser um método agradável e que torna o
paciente mais que um ouvinte, torna-o um participante da construção
do conhecimento, possibilitando sua autorresponsabilização. Isso
resulta em cuidado e autocuidado mais efetivos, por proporcionar
a percepção da importância de cada informação que lhe é passada.

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166
Capítulo 13
O papel da nutrição
no desempenho cognitivo
da pessoa idosa

Jéssica Cristina de Cezaro


Yolanda Petterson Seben
Luciana Marcon Barbosa

Introdução

Dentre as maiores causas de morbimortalidade nos idosos,


existem as doenças de caráter crônico, como a demência, que é uma
síndrome clínica, de natureza progressiva, causadora de perturbação
de múltiplas funções cognitivas, nas áreas da memória, atenção e
aprendizado, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, lingua-
gem e julgamento. Além disso, o comprometimento cognitivo afeta
a capacidade funcional do indivíduo, interferindo nas atividades
diárias, como higiene pessoal, vestimenta, alimentação e atividades
fisiológicas, o que implica a perda de independência e autonomia
(Brasil, 2007; Abreu; Forlenza; Barros, 2005).
Estudos demonstram que taxas de alterações cognitivas e funcio-
nais variam de 14 a 21,9% e, em relação às demências, de 7,1 a 7,2%
(Lopes et al., 2007a; Laks et al., 2005). Segundo Grundy (2003),

167
a prevalência de demência duplica a cada cinco anos após os 60 anos.
No grupo etário de 85 anos, chega a 25%, e a 30% para pessoas acima
dessa idade. Numa meta-análise publicada por Lopes et al. (2007b),
a prevalência de demência variou de 4,2 a 7,2% em indivíduos com
idade igual ou maior que 65 anos. Um estudo realizado com uma
comunidade de idosos do Sul do Brasil identificou uma incidência
de 13,2/1.000 pessoas ao ano, com comprometimento cognitivo leve
e 14,8% para demência de Alzheimer (Chaves et al., 2009).
A nutrição está cada vez mais se tornando um instrumento
essencial para promoção, manutenção e recuperação da saúde, ligada
diretamente ao envelhecimento saudável (Mecca, 2011). Evidências
sugerem que a saúde do cérebro está intimamente ligada à saúde
geral do coração e os vasos sanguíneos. Dados indicam que os fa-
tores de risco cardiovasculares, como hipercolesterolemia, diabetes
tipo 2, hipertensão, inatividade física, tabagismo e obesidade, estão
associados a um maior risco de desenvolver a doença de Alzheimer e
outras demências (Raji et al., 2009; Rusanen et al., 2010). Assim
sendo, será elucidado na sequência o papel de alguns nutrientes na
função cognitiva da pessoa idosa, entre eles: vitaminas do complexo
B, elementos antioxidantes, cálcio, vitamina D, zinco, cobre, selênio
e ácidos graxos poli-insaturados.

Nutrição e alterações cognitivas

A alimentação inadequada ao longo da vida pode ocasionar


carências em determinadas fases que demandam maior aporte vita-
mínico. Ocorre deficiência vitamínica quando não são supridas as
necessidades de ingestão recomendadas para atender à demanda do
organismo, cuja falta pode ser oriunda de dois principais motivos: por
falta de ingestão de determinados alimentos ou pela dificuldade de
absorção e utilização das vitaminas em função de fatores biológicos
(Mecca, 2011).

168
É importante frisar que as funções cognitivas são processos
neurais que utilizam informações absorvidas para assim adquirir
conhecimentos através da percepção. Memória e aprendizagem são
as primeiras palavras a serem lembradas quando se fala em cogni-
ção, mas ressalta-se que as respostas corporais e comportamentais
perante quaisquer situações também estão relacionadas a esta função
(Atallah; Frank; O’reilly, 2004).
Pesquisadores estão entendendo cada vez mais a importância
dos nutrientes no desenvolvimento e na manutenção das funções
cognitivas. A influência dos aspectos nutricionais no processo de
envelhecimento tem sido estudada como participação protetora, no
retardo das disfunções e alterações degenerativas inerentes à idade
(Machado et al., 2009).
Indivíduos adeptos à dieta do Mediterrâneo apresentam uma
tendência para a redução dos riscos de desenvolvimento de trans-
torno cognitivo leve e menor risco de evolução para a demência de
Alzheimer (Scarmeas et al., 2009). Uma análise abrangente de
diversos estudos mostrou que níveis mais altos de adesão à dieta
do Mediterrâneo reduziram o risco das doenças de Alzheimer e de
Parkinson em 13% (Sofi et al., 2008).
Os fatores dietéticos que mediam esses eventos provavelmente
afetam o risco de neurodegeneração. Evidências de estudos obser-
vacionais, embora não inteiramente consistentes, associam o maior
consumo de nutrientes (antioxidantes, vitaminas B e ácido graxo w-3)
à redução do risco de declínio cognitivo entre os idosos (Luch-
singer; Noble; Scarmeas, 2007; Fotuhi; Mohassel;
Yaffe, 2009).
Bowman et al. (2012) analisaram os níveis sanguíneos de 30
nutrientes diferentes em 104 idosos saudáveis, com idade média de
87 anos. Os resultados foram comparados com os de uma bateria
de testes cognitivos que avaliaram funções como atenção, memória
e tomada de decisão e, ainda, com os resultados de ressonância
magnética (MRI). O objetivo do estudo foi investigar se existe
relação entre os níveis de nutrientes, a função cognitiva e o volume

169
do cérebro. Os nutrientes foram agrupados em padrões de biomar-
cadores (ou NBPs). Os níveis altos de biomarcadores de vitaminas
do complexo B (B1, B2, B6, B12 e ácido fólico), C, D, E e ácidos
graxos ômega-3 foram associados a uma melhor função cognitiva e
melhores resultados de ressonância. Os piores resultados de função
cognitiva e ressonância (menor volume cerebral) foram associados
aos níveis mais altos de biomarcadores de gorduras trans.

Vitaminas do complexo B

As vitaminas do complexo B e o folato têm recebido muita


atenção, visto que seu baixo nível sérico está associado a alterações
estruturais e funcionais do cérebro, e também à atrofia do córtex
cerebral, demências, doenças cerebrovasculares e a locais específicos
de funcionamento cognitivo. Em adição a isso a suplementação de
folato mostrou um efeito positivo sobre as funções cognitivas e os
déficits de memória (Durga et al., 2007).
Muitos processos dependentes de tiamina (vitamina B1) está
diminuída em cérebros de pacientes com doença de Alzheimer
(DA). Reduções no metabolismo cerebral de glicose e o aumento
do estresse oxidativo ocorrem tanto na DA como na deficiência de
tiamina. Ambas as condições causam déficit cognitivo irreversível.
Enzimas dependentes de tiamina estão presentes em etapas críticas,
provavelmente, limitantes no metabolismo cerebral, e estão diminu-
ídas em 50% ou mais na DA (Gibson; Blass, 2007).
A vitamina B3 (niacina) possui um papel importante na síntese
e reparação do DNA, mielinização e crescimento dos dendritos,
sinalização celular de cálcio e atua como um potente antioxidante
na mitocôndria cerebral. Além disso, traz melhoras nos escores de
testes cognitivos (Cheong; Lin; Maiese, 2002).
Estudos transversais e longitudinais fornecem uma riqueza
de evidências para apoiar uma associação entre homocisteína e/ou
vitaminas do complexo B relacionadas com a função cognitiva, tanto

170
em adultos e idosos saudáveis quanto em pacientes com demência
(Herrmann; Obeid, 2011). Uma recente meta-análise de estu-
dos epidemiológicos estimou que a redução de 3μmol/L de homo-
cisteína poderia reduzir o risco de demência em até 22% (Wald;
Kasturiratne; Simmonds, 2011).
Um estudo relacionado à suplementação com ácido fólico
(800 mg/dia) em 818 pessoas com idade entre 50-70 anos, relatou
melhorias significativas na cognição em um período de intervenção
de três anos (Durga et al. 2007). Walker et al. (2012), em estudo
clínico controlado e randomizado com 900 idosos (60 a 74 anos),
demonstraram que a suplementação de ácido fólico com 400 mcg/
dia associada com 100 mcg de vitamina B12/dia promovia melho-
ria no funcionamento cognitivo após 24 meses, particularmente no
desempenho da memória imediata e tardia em idosos com sintomas
depressivos.
Há uma forte evidência para fornecer suporte de uma relação
de causa e efeito entre o estado de vitamina B e a função cognitiva
a partir da homocisteína e das vitaminas do complexo B. A suple-
mentação de vitamina B (0,8 mg de ácido fólico, 0,5 mg de vitamina
B12 e 20 mg de vitamina B6) pode desacelerar o ritmo de atrofia
cerebral (medido pela ressonância magnética)  e melhorar o desem-
penho cognitivo  em pacientes com comprometimento cognitivo leve
(Jager et al. 2012).
Uma meta-análise demonstrou que um aumento na ingestão
ou concentrações séricas de vitaminas B6, B12 e folato em meados
da vida possa ter um efeito benéfico ante a demência, incidência de
DA ou declínio cognitivo (Coley et al. 2008).

Vitaminas antioxidantes

Níveis plasmáticos elevados de vitamina E estão associados a um


risco reduzido de Alzheimer na idade avançada (80 anos ou mais)
e o efeito neuroprotetor parece estar relacionado à combinação de

171
formas diferentes dessa vitamina (alfa-tocotrieno e beta-tocotrieno),
em vez de alfa-tocoferol isolado (Mangialasche et al., 2010).
Concentrações séricas diminuídas de vitamina E foram asso-
ciadas a um maior declínio físico entre idosos. A relação entre
disponibilidade de elementos antioxidantes e o desempenho pode
ser explicado através do aumento do estresse oxidativo, implicando
maior dano no DNA e músculo e maior risco de aterosclerose e de
doenças neurodegenerativas (Bartali et al., 2008).
Uma meta-análise com 14 estudos, concentrando-se principal-
mente em populações com 65 anos ou mais, sugeriu que vitamina
E, vitamina C, flavonoides, betacaroteno (precursor da vitamina
A) ou a ingestão de antioxidantes em geral podem estar associados
na redução de demência e incidência da doença de Alzheimer, ou
declínio cognitivo (Coley et al. 2008).

Cálcio e vitamina D

A ingestão dietética de cálcio pode influenciar na função cogni-


tiva, como foi verificado em um estudo realizado com 110 idosos
não institucionalizados, no qual uma quantidade considerável de
indivíduos apresentou uma baixa ingestão de vários nutrientes es-
senciais. No início do estudo, não foram encontradas diferenças no
consumo alimentar dos pacientes com escore normal ou baixo no
mini exame do estado mental (MEEM). Contudo, os idosos foram
acompanhados por oito meses, sendo que 57% deles apresentaram
uma discreta melhora na pontuação do MEEM, dado que o consumo
de cálcio da alimentação foi maior nestes indivíduos do que nos que
não apresentaram melhora. Além do mais, sujeitos cujo consumo
de cálcio foi superior à recomendação tinham maiores chances de
melhorar o MEEM (Vellho et al., 2008).
Déficits de vitamina D estão associados a um desempenho
físico menos vigoroso e a um risco aumentado para o seu declínio,
relacionando-se a uma exposição solar diminuída, menor capacidade

172
de síntese de vitamina D pela pele, e menor ingestão através da dieta
(Wicherts et al., 2007).
Há evidências de que a vitamina D apresente um papel neu-
roprotetor, desempenhando funções específicas na cognição. Esta
vitamina auxilia na prevenção de doenças neurodegenerativas do
envelhecimento por meio de proteção contra comorbidades, tais
como doença cardiovascular e cerebrovascular, doença arterial peri-
férica, oxidação, inflamação e saúde neuronal (Buell et al., 2009).

Zinco, cobre e selênio

Há fortes evidências de que a deficiência de zinco esteja associa-


da ao declínio cognitivo, e a adequação dietética ou suplementação,
quando necessária, reduz esse quadro patogênico tanto em crianças
com até 6 anos quanto em idosos (Mccann; Hudes; Ames,
2006).
Pesquisas têm demonstrado que a deficiência de zinco é rela-
cionada ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em
crianças, comprometimento da memória e da aprendizagem em
adolescentes, e estresse, depressão e declínio cognitivo em adultos
(Klevay, 2008; Stokes, 2008).
Um estudo que mensurou o teor de zinco presente na corrente
sanguínea de pacientes com doença de Alzheimer e doença de Pa-
rkinson, comparando-os com grupos-controle, verificaram menores
taxas do mineral no sangue dos indivíduos com DA e doença de
Parkinson do que no dos pacientes sem a doença. Foi concluído que
a deficiência do mineral provavelmente deva-se à inadequação da
alimentação (Brewer et al., 2010).
Os elementos traços são importantes do ponto de vista neu-
rológico. O cobre possui ações críticas no neurodesenvolvimento,
síntese de neurotransmissores, metabolismo energético, defesa com
antioxidantes e síntese de DNA (Jones; Beard; Jones, 2008).
Portanto, uma a baixa concentração plasmática de cobre está relacio-

173
nada ao declínio cognitivo na DA (Klevay, 2008; Stokes, 2008),
já que nesses pacientes a homeostase de cobre é prejudicada, podendo
desencadear o aumento do estresse oxidativo e da neurodegeneração
(Rossi et al., 2007).
O selênio desempenha um papel importante na manutenção
do funcionamento adequado do sistema nervoso, atuando como um
agente protetor dos neurônios. É um elemento traço associado à
atividade antioxidante, sendo considerado agente protetor das lesões
provocadas por radicais livres. Baixos escores cognitivos podem estar
relacionados a baixas concentrações de selênio (GAO et al., 2007).

Ácidos graxos poli-insaturados

Evidências importantes sugerem que os ácidos graxos poli-


-insaturados, como o ômega-3 (w-3), desempenham um papel vital
na cognição e na saúde mental (Dangour; Uauy, 2008; Fo-
tuhi; Mohassel; Yaffe, 2009). Esses ácidos graxos melhoram
a memória, o humor, o comportamento e reduzem os sintomas da
depressão. Por outro lado, a deficiência dos ácidos graxos n-3 foi
relacionada ao risco aumentado de dislexia, depressão, demência,
doença de Alzheimer e esquizofrenia. Além disso, as dietas ricas em
gorduras trans e saturadas têm um efeito adverso à função cognitiva
(Parrott; Greenwood, 2007).
Andreeva et al. (2011), em estudo com pessoas que apresenta-
vam histórico de acidente vascular cerebral isquêmico, verificaram
que os participantes que receberam suplementação com vitaminas
B e ômega-3 e ácidos, obtiveram melhor pontuação na tarefa de
orientação temporal do que aqueles que receberam placebo.

174
Considerações finais

A nutrição cada vez mais vem mostrando seu papel protetor,


a partir do qual é possível comprovar que muitos são os nutrientes
com influência protetora ao retardo das disfunções cerebrais dege-
nerativas. Visto que a nutrição apresenta-se como fator importante
para o desenvolvimento ou déficits das funções cerebrais, é de gran-
de relevância que se pense em maiores estratégias de prevenção de
danos cognitivos. A realização de um trabalho preventivo com uma
alimentação balanceada é fundamental, uma vez que, detectando-se
risco nutricional prévio, é possível fazer uso de técnicas dietéticas
simples antes que a deficiência nutricional se instale.

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179
180
Capítulo 14
Tecnologias interativas
e benefícios na saúde
da pessoa idosa

Jéssica Cristina de Cezaro


Ariélen Ferigollo
Daiane Fernanda Cocco

Introdução

Determinadas alterações orgânicas e funcionais são notórias no


processo de senescência, destacando-se a diminuição da força mus-
cular e da densidade mineral óssea, o aumento na taxa de gordura
corporal, a diminuição hormonal, a queda do débito cardíaco, a
diminuição da função vital pulmonar, a elevação da pressão arterial,
as alterações neurológicas, dentre outras. A capacidade de o sistema
nervoso central processar sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos
é afetada pelo envelhecimento, e, por tais funções serem necessárias
para manter o equilíbrio do corpo, o processo degenerativo tende a
causar vertigem, tonturas e desequilíbrio. Tais modificações e con-
sequências também podem estar relacionadas em grande parte ao
estilo de vida que o indivíduo leva (Civinski; Montibeller;
De Oliveira, 2011; Batista et al., 2014).

181
Concomitante a isso, a prática regular de exercícios físicos é
apontada como uma atitude positiva, tanto na saúde física quanto
psíquica, em curto ou longo prazo (Nascimento et al., 2012).
Diversos profissionais da área da saúde vêm indicando sua prática
regular aliada ao tratamento convencional, pois um estilo de vida ativo
é capaz de retardar as alterações morfofuncionais do envelhecimento,
além de prevenir o surgimento de diversas doenças, principalmente
as crônicas não transmissíveis (DCNT), assim como outras de ordem
psicológica (Fernandes et al., 2013).
Assim sendo, neste capítulo pesquisou-se e elucidou-se os
benefícios dos jogos interativos com games na saúde da pessoa idosa,
explicitando as diferenças entre atividade física e exercício físico; quais
tecnologias interativas são mais utilizadas na atualidade, e enfim,
as evidências científicas sobre seu uso, com estudos recentes acerca
dessas tecnologias na reabilitação de pacientes com doenças crônicas.

Atividade física versus exercício físico

Considera-se atividade física todo movimento corporal humano


que envolva um gasto energético superior ao gasto energético em
repouso, portanto entende-se que qualquer atividade que um indi-
víduo faça que ultrapasse seu gasto energético basal (em repouso),
pode ser considerada atividade física (SABA, 2001).
Já o exercício físico é uma atividade com repetições de movi-
mentos sistematizados e orientados, tendo como consequência a
elevação no consumo de oxigênio, gerando trabalho. Ele representa
um subgrupo de atividade física planejada, cujo objetivo é manter o
condicionamento físico. Pode ser qualquer atividade muscular que
gere força e quebre a homeostase, gerando respostas fisiológicas nos
sistemas corporais e, em especial, no cardiovascular (Monteiro
et al., 2003).
Estudos evidenciam que dentre os principais motivos que levam
o idoso à prática regular de exercícios físicos estão o histórico fami-

182
liar positivo para doenças crônicas e degenerativas, ou seja, quando
realizam exercícios físicos por ordem médica, e, em segundo plano,
encontram prazer na realização dos exercícios, encarando este último
fator como um investimento em saúde (Nascimento et al., 2012;
Meurer; Benedetti; Mazo, 2012).
A prática de exercícios físicos em idosos é capaz de manter e
melhorar a saúde dos sistemas cardiovascular e músculo-esquelético,
além de influenciar positivamente a função psicossocial. Contudo,
diversas são as barreiras para a adesão em atividades nessa faixa
etária, incluindo limitações de força e mobilidade, falta de prazer na
atividade e cognição comprometida (Taylor et al., 2012).

Tecnologias interativas

Os serviços de saúde vêm explorando novas formas de pro-


gramas terapêuticos no contexto do envelhecimento. O uso de
videogames como ferramenta terapêutica para tratar desordens tanto
físicas quanto cognitivas é uma tendência crescente no setor de saúde
(Laver et al., 2011). Os benefícios destes jogos compreendem a
melhora nos aspectos cognitivos, como atenção, memória, concen-
tração, planejamento, tomada de decisão e cálculo (Basak, 2008);
também a diminuição no tempo de reação e melhora na precisão
na execução das tarefas (Basak, 2011); além de sistematização da
intensidade da atividade, duração do exercício e da realimentação,
resultando em uma abordagem mais individualizada e com vanta-
gens no aprendizado motor e plasticidade neural (Kueider et al.,
2012). Os videogames são acessíveis, baratos e podem ser utilizados
em diversos ambientes, incluindo a própria residência, a clínica ou
a unidade de atendimento (Laver et al., 2011).
Os avanços nas tecnologias de informação e comunicação auxi-
liaram a criação de uma classe de games, baseados em movimentos de
diversos segmentos corporais como forma de interação com ambien-
tes virtuais, que podem auxiliar tanto a elevação do gasto calórico

183
dos indivíduos (Haddock et al., 2012) quanto proporcionar ao
usuário o desenvolvimento de habilidades sensoriais, motoras e pro-
prioceptivas (PAPASTERGIOU, 2009; Vaghetti; Da Costa
Botelho, 2010). A literatura científica reporta a esta modalidade
de games várias terminologias: exergames (EXG), videojogos, exerga-
ming, motion-sensing video game, activity-promoting video games, entre
outras (Allaire et al., 2013; Baracho; Gripp; Lima, 2012).
A tecnologia com videogames foi desenvolvida inicialmente para
treinamento militar e tornou-se amplamente disponível por meio de
jogos, como o Nintendo® Wii Fit™. O videogame da Nintendo®
Wii foi criado em 2001 e tornou-se comercialmente disponível nos
Estados Unidos, no Japão e na Inglaterra ao final de 2006, revolu-
cionando o mercado dos games pela sua interação diferenciada com
o usuário (Butler; Willett, 2010).
A peça central do sistema Wii é o Wii Remote® ou Wiimote, que
objetiva associar um controle remoto familiarizado com uma tecno-
logia contendo sensor de movimento, possibilitando ao dispositivo
a localização e o movimento em um espaço tridimensional (Wii
Controllers, 2011). O Wii Remote® também disponibiliza
aos jogadores a realimentação háptica, aumentando assim o nível
de imersão no ambiente virtual. O feedback fornecido pelo televisor
proporciona ao usuário observar seus próprios movimen­tos em tempo
real, sendo um reforço positivo que facilita a formação e o aperfei-
çoamento de tarefas (Rotta, 2002). A Wii Balance Board® é uma
plataforma que contém múltiplos sensores de pressão fornecendo
cálculos do centro de pressão dos jogadores em tempo real (Wii
Balance Board, 2011).
Com o intuito de elevar o gasto energético e as características
funcionais da população idosa, a prática de atividades físicas por meio
de vídeo games ativos (VGAs) vem sendo indicada, já que utiliza
uma tecnologia manejável, individualizada e aplicada de maneira
confortável, implicando maior atenção e concentração durante a
execução dos gestos (Sousa, 2011).

184
Evidências científicas

Os sistemas de jogos em realidade virtual têm sido aplicados para


promover a atividade física em pessoas com idade superior a 45 anos,
a fim de auxiliar na reabilitação de indivíduos com deficiências físicas
e cognitivas decorrentes de doenças neurológicas, como o acidente
vascular encefálico (AVE), doença de Parkinson e lesões cerebrais
adquiridas. Muitos programas de jogos estão disponíveis para serem
utilizados como complemento terapêutico, como o Nintendo Wii™
(com controles remotos manuais e Wii Fit™ Balance Board), o Sony
Playstation 2 (com o EyeToy, semelhante a uma web-cam) e esteiras
ou tapetes de dança (Dance Revolution) (Morris et al., 2012).
O console Nintendo Wii™ tem sido muito popular e seu uso
vem evoluindo em hospitais, instalações de cuidados especiais e
programas de reabilitação. O programa Wii Fit™ tem sido comer-
cializado como uma ferramenta fitness e de saúde, sendo o primeiro
vídeo game interativo aprovado pelo Reino Unido no Programa do
Serviço Nacional de Saúde e Mudança de Vida. Embora as novas
tecnologias possam oferecer vantagens sobre as abordagens tradi-
cionais, faz-se necessário um conhecimento sobre as preferências
do paciente, já que muitos preferem a forma tradicional terapêutica
(Laver et al., 2011).
Silva (2013) realizou um ensaio clínico controlado, aleatoriza-
do e cego, objetivando comparar os efeitos obtidos através de um
treinamento fisioterapêutico convencional associado aos jogos do
Nintendo® Wii Fit™. Realizou um treino fisioterapêutico con-
vencional sobre o equilíbrio e a cognição de 32 idosos saudáveis.
Todos os participantes foram submetidos a 14 sessões individuais de
treinamento, duas vezes na semana, por sete semanas. Os resultados
evidenciaram que o treino fisioterapêutico associado nos jogos do
Nintendo® Wii Fit™ apresentou efeitos superiores sobre equilíbrio,
cognição e funcionalidade dos idosos saudáveis em relação ao trei-
namento convencional, sendo que os benefícios se conservaram por
até dois meses após a finalização do treino.

185
Estudos anteriores que fizeram uso de jogos virtuais, em par-
ticular dos direcionados para estimular as funções cognitivas em
idosos, já demonstravam resultados promissores (Basak et al.,
2008). Alguns indícios ainda propõem que as intervenções cognitivas
podem influenciar positivamente o desempenho de idosos saudáveis
e que tais benefícios podem ser mantidos por até cinco anos após a
finalização dos treinamentos (Kueider et al., 2012).
Uma revisão sistemática realizada por Coelho et al. (2009)
demonstrou que a atividade física planejada e sistematizada é capaz
de aprimorar as funções cognitivas em indivíduos portadores de
doença de Alzheimer, especialmente o nível de atenção, as funções
executivas, bem como a linguagem, mostrando-se favorável para
uma vida mais saudável e inclusive uma alternativa de intervenção
não farmacológica de sucesso para os idosos. Plancher et al. (2012),
em seu estudo com três populações diversas – compostas por idosos
saudáveis, pacientes com comprometimento cognitivo leve amnésico
e pacientes com início da demência de Alzheimer (DA) –, constatou
que a realidade virtual é indicada e bastante positiva para melhor
diagnóstico e reabilitação dos grupos em estudo, identificando déficits
precoces na perda de memória e alterações funcionas na reabilitação
cognitiva em condições que se assemelham ao dia a dia.
O uso da realidade virtual na reabilitação de pacientes que so-
freram acidente vascular encefálico é baseado na premissa de que a
prática de tarefas orientadas, relacionada à observação de membros
virtuais projetados em uma tela, facilita a reorganização funcional dos
sistemas pré-motores e motores afetados (Cameirão et al., 2010).
Em particular, o Wii Sports™ da Nintendo tem sido muito
utilizado em estudos que exploram uma variedade de aplicações.
Como resultado de um estudo de Saposnik (2010), foi encontrada
uma melhora na função motora em pacientes pós-AVE, representando
uma alternativa segura, viável e potencialmente eficaz na terapia de
reabilitação.
Corroborando os achados, Mouawad et al. (2011) investigaram
a eficácia da terapia baseada nos jogos do Wii Sports para a reabi-

186
litação pós-acidente AVE. Os participantes foram randomizados
entre grupo-controle (comnstituído de cinco indivíduos) e grupo
experimental (com sete participantes). O grupo-controle realizou
o treino utilizando o controle remoto do Nintendo® Wii com seu
membro não afetado, enquanto o grupo experimental realizava os
mesmos jogos, porém com seu membro afetado. Após duas semanas,
o estudo evidenciou benefícios significativos e clinicamente expres-
sivos na capacidade motora funcional pós-AVE no membro afetado.
No estudo de Walker et al. (2010), avaliou-se o efeito do treino
de marcha e o equilíbrio em esteira com suspensão de peso asso-
ciada à realidade virtual em seis indivíduos pós-AVE. O treino foi
realizado com uma televisão posicionada defronte à esteira, cuja tela
simulava o ambiente de uma rua com pedestres, edifícios e tráfego
de carros. Os participantes também recebiam informações auditi-
vas, emitidas por meio de um sensor de posição, para a melhora da
postura na realização da atividade. Após 12 sessões, os indivíduos
obtiveram melhora significativa na velocidade e duração da marcha
e no equilíbrio.
Outro jogo bastante utilizado é o Wii Fit™ da Nintendo. Ele
permite que os usuários executem várias atividades, como yoga,
musculação, exercícios aeróbicos e jogos de equilíbrio, fornecendo
seu desempenho em tempo real (Bieryla; Dold, 2013).
Em um estudo que usou o aparelho Nintendo Wii™ com a
população idosa, foi avaliado o equilíbrio e o controle postural de 20
idosos com idade média de 69 anos antes e após 3, 6 e 8 semanas de
um programa de treinamento com Wii Fit™. Foram selecionados os
jogos da categoria equilíbrio e yoga, tais como snowboard, penguin slide
e super hula hoop. A partir da terceira semana de treinamento, pôde-
-se observar uma melhora nas variáveis analisadas, sendo, portanto,
apontada a realidade virtual como uma estratégia de saúde para os
idosos (Gatica Rojas et al., 2010).
Ratificando os achados descritos acima, Bateni (2012) realizou
um estudo quase experimental, com intuito de definir a efetividade do
treinamento Wii Fit™ no controle do equilíbrio em relação ao treina-

187
mento de fisioterapia. A amostra consistiu em 18 idosos aleatorizados
divididos em três grupos: grupo com treinamento de fisioterapia
convencional aliado ao do Wii Fit™, grupo com treinamento isolado
Wii Fit™, e grupo com treino de fisioterapia convencional. Após
três sessões por semana, ao longo de quatro semanas, foi possível
observar que todos os participantes da pesquisa obtiveram melhora
na escala de equilíbrio de Berg. Outro fato evidenciado pelo autor
foi que o treinamento convencional em si ou associado ao treino
com Wii Fit™ é a conduta mais indicada para treinar o equilíbrio.
Seis voluntários diagnosticados com doença de Parkinson nas
fases II e III foram recrutados para o estudo de Loureiro et al.
(2012), aonde participaram de atividades envolvendo o Wii Fit, em
um total de doze intervenções, duas vezes por semana, constatando-
-se que exercícios em realidade virtual podem ser muito úteis para a
melhora do equilíbrio corporal de pacientes com essa doença.
Mirelman et al. (2011) investigaram se a utilização de trei-
namento em esteira associado à realidade virtual em idosos com
doença de Parkinson poderia ser aplicada para resolver os déficits
multifatoriais associados ao risco de queda. A amostra consistiu em
20 pacientes idosos com a doença de Parkinson, submetidos ao trei-
namento progressivo e intensivo em esteira com obstáculos virtuais,
em dezoito sessões, três vezes por semana. Os autores destacaram
que a utilização do treino em esteira associado à realidade virtual é
viável nesta doença e pode proporcionar uma melhora significativa
no desempenho físico durante a marcha em condições complexas, e
até mesmo em certos aspectos da função cognitiva.
Um ensaio clínico randomizado de Jorgensen et al. (2013) uti-
lizando o Nintendo Wii™, que objetivou examinar força muscular
e equilíbrio postural em uma comunidade idosa, constatou nítidas
melhorias na força muscular de membros inferiores e desempenho
funcional global. O alto nível de motivação na participação das
atividades sugeriu que o Wii™ pôde assegurar uma elevada adesão
dos indivíduos do referido estudo.

188
A plataforma de jogos da Nintendo Wii™ é a tecnologia mais
comumente aplicada a pessoas idosas residentes em lares. No estudo
de Sohnsmeyer, Gilbrich e Weisser (2010), um grupo de indivíduos
com idade superior a 60 anos realizou uma sessão de 20 minutos
de jogos com Wii™, por um período de seis semanas, duas vezes
na semana, utilizando controles remotos manuais. Ao comparar os
resultados com os do grupo-controle, a força muscular de membros
inferiores (quadríceps) desse grupo aumentou significativamente,
constatando-se assim que um jogo de videogame de promoção de
atividade, como o boliche com Wii™, leva a melhora funcional e
pode ter implicações positivas de saúde aos idosos.
Outro estudo investigou uma série de casos, cuja amostra foi
composta por cinco idosos (com idade entre 61 e 83 anos) com diag-
nóstico de síndrome vestibular crônica e queixas de tontura crônica
e desequilíbrio corporal. Constatou-se que os jogos interativos do
console Nintendo Wii™ foram ferramentas importantes que ajuda-
ram muito no tratamento. Nesse caso, auxiliaram na promoção da
melhora clínica dos sintomas, recuperação funcional, além de terem
promovido diminuição do risco de quedas, integração das informações
sensoriais e redução do prejuízo da tontura na qualidade de vida dos
idosos (Júnior et al., 2012).
Da mesma maneira, um estudo de caso de Doná et al. (2014)
avaliou os efeitos da reabilitação do equilíbrio corporal através da
realidade virtual Nintendo Wii™ em uma idosa de 62 anos porta-
dora de disfunção vestibular crônica há cinco anos. A intervenção
consistiu em doze sessões com dez jogos do Wii Fit Plus e Balance
Board, duas vezes por semana, com duração de 60 minutos cada.
Após o tratamento, foi possível verificar remissão da tontura bem
como redução da intensidade e frequência do zumbido e dores de
cabeça, melhorando também a capacidade funcional, a qualidade de a
estabilidade dinâmica, com aumento da área do limite de estabilidade
e a redução da oscilação corporal em diferentes condições sensoriais.
Batista et al. (2014) realizaram um estudo de caráter longitudi-
nal intervencionista quase experimental com uma população de 38

189
mulheres idosas que apresentavam déficit de equilíbrio diagnosticado
por meio da escala de Berg. Eles utilizaram um programa de inter-
venção com seis jogos através da plataforma Wii Balance Board, em
20 sessões com 30 minutos cada. Os resultados evidenciaram uma
melhora estatisticamente significativa no equilíbrio das participantes
quando comparadas antes e após a intervenção.
Outra tecnologia que apresenta tendência benéfica aos portadores
de deficiência física, como os hemiparéticos pós AVE, é o videogame
Xbox 360 com kinect, que apresenta jogos interativos para reabilitação
da força muscular, coordenação motora e equilíbrio, a fim de melhorar
a qualidade funcional do indivíduo que joga (Silva et al., 2014).
Taylor et al. (2012) avaliaram por meio de calorimetria direta
o gasto energético entre o Nintendo Wii e o X-Box 360 com Kinect.
Os participantes deveriam jogar nove videogames ativos durante
cinco minutos (cada jogo), de forma aleatória. Os jogos de boxe e
boliche foram realizados tanto em pé quanto sentados, contudo, por
mais que o gasto energético dos idosos quando jogado em pé tenha
sido maior comparando à condição de repouso, não houve diferença
significativa entre os resultados dos VGAs, permitindo uma nova
alternativa de atividade física aos indivíduos limitados fisicamente.
De acordo com uma revisão de Keogh et al. (2009), a dança
é uma forma de atividade física que proporciona benefícios físicos
aos idosos, podendo ocasionar uma melhora na saúde e bem-estar.
Os autores constataram que um programa de exercício assentado
em atividades de dança aprimora a potência aeróbica, a resistência
muscular, a força e a flexibilidade de membros inferiores, o equilíbrio
estático e dinâmico e a agilidade, bem como a velocidade de marcha.

Considerações finais

Conforme o exposto, diversos pesquisadores vêm utilizando e


testando o uso de jogos interativos na reabilitação de pacientes acome-
tidos por demências e comorbidades oriundas do desenvolvimento das

190
DCNT, mostrando que muitos são os benefícios para o tratamento de
desordens físicas e cognitivas. Além disso, é crescente o número de
residenciais geriátricos e instituições de longa permanência que tem
recorrido ao uso desse tipo de tecnologia para restabelecer o estado
de saúde de idosos com limitações de força e mobilidade, pois são
acessíveis e de baixo custo, e proporcionam melhora significativa no
seu estado de saúde.
Apesar disso, nós, como profissionais da saúde e incentivadores
de bons hábitos de vida, avaliando as condições físicas do paciente,
devemos instigá-lo a realizar e manter a prática diária de exercícios
físicos ao longo de toda a vida. Dessa forma, estaremos colaborando
na prevenção de possíveis consequências negativas no que tange ao
processo de envelhecimento, bem como às limitações que muitas
doenças adquiridas nesse processo ocasionam.

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195
196
Capítulo 15
Desnutrição em pacientes
oncológicos:
importância do protocolo
de avaliação

Jéssica Cristina de Cezaro


Luciana Marcon Barbosa
Marilene Rodrigues Portella

Introdução

Câncer é o nome dado a um conjunto de aproximadamente 100


diferentes tipos de doenças, cuja principal característica é o cresci-
mento desordenado de células anormais, as quais apresentam grande
potencial invasivo. Dados da OMS mostram que, em 2012, houve
14,1 milhões de casos novos de câncer, com 8,2 milhões de mortes
no mundo todo. Estima-se que em 2030 a carga global será de 21,4
milhões de novos casos de câncer em detrimento ao crescimento da
população idosa, redução da mortalidade infantil e de mortes por
doenças infectocontagiosas em países em ascensão (Inca, 2014).

197
Os fatores de risco para desenvolver a patologia podem ser de
natureza ambiental (estilo de vida, tabagismo, consumo elevado de
bebidas alcoólicas, hábitos alimentares inadequados, entre outros) ou
de natureza constitucional (moleculares, hereditários e suscetibilidade
genética) (Peres et al., 2009).
Alterações no estado nutricional podem acometer o indivíduo
portador de câncer ainda no momento do seu diagnóstico. A partir
de um determinado estágio neoplásico e, dependendo do tipo do
câncer, ocorrem mudanças no organismo hospedeiro. Tais modi-
ficações acontecem em detrimento às reações contra a presença do
agente cancerígeno ou decorrentes até mesmo da ação de substâncias
oriundas do tumor (Waitzberg; Nardi; Horie, 2011). Assim
sendo, o objetivo da pesquisa é abordar a importância da avaliação
e tratamento da desnutrição no paciente com câncer, enfatizando
como é importante a terapia nutricional neste paciente, bem como
as formas de administração da alimentação.

A desnutrição e o câncer

Caracteriza-se por desnutrição o estado de nutrição no qual


há uma deficiência energético-proteica, bem como de vitaminas e
minerais, a qual provoca efeitos adversos sobre os tecidos à forma,
tamanho e composição do organismo, função e evolução clínica
(Agarwal et al., 2013).
Pacientes oncológicos estão em risco de desnutrição em função
do curso da doença e das consequências do seu tratamento. Ela é
influenciada pelo tipo e localização do tumor, estágio e via de trata-
mento. Indivíduos com câncer de pulmão, cabeça, pescoço e trato
gastrintestinal superior avançado possuem mais risco de desenvolver
a desnutrição (Shaw et al., 2015).
Além da diminuição da ingestão calórico-protéica por redução
do apetite, disgeusia (alteração do paladar) e comprometimento
funcional, as alterações metabólicas contribuem para o desenvolvi-

198
mento da desnutrição, por isso é imprescindível o diagnóstico pre-
coce e a avaliação nutricional, devendo ser realizada periodicamente
(Ikemori, 2003).
Os tratamentos oncológicos (cirurgia, quimioterapia e radiote-
rapia) desencadeiam uma sintomatologia diversa, incluindo náuseas,
vômitos e alteração gustativa. Associado a isso, o baixo consumo
de alimentos influencia na perda de peso e no desenvolvimento de
caquexia nos pacientes com câncer. O organismo dos pacientes onco-
lógicos tem um gasto energético muito grande: há uma competição
do tumor pelos nutrientes, e a indução tumoral provocada por anor-
malidade no metabolismo dos macronutrientes, além de problemas
de anorexia, perdas sanguíneas, obstrução do trato gastrointestinal,
proteinúria e perda de albumina, proporciona naturalmente a perda
de peso (Machry et al., 2011).
Para avaliar esses pacientes, foi desenvolvida por Ottery (1996)
a avaliação subjetiva global produzida pelo paciente (ASG-PPP),
uma ASG adaptada para pacientes oncológicos, validada em 1995,
isto é, um questionário autoaplicativo, dividido em duas partes: na
primeira, o paciente responde, descrevendo sua alteração de peso,
ingestão alimentar, sintomas relacionados ao câncer e alterações da
capacidade funcional; a segunda parte é respondida pelo profissional
que aplica o questionário, com questões baseadas em fatores associa-
dos ao diagnóstico, que aumentam a demanda metabólica, como, por
exemplo, estresse, febre, depressão, fadiga, estadiamento do tumor
ou tratamento e exame físico.
O uso da ASG-PPP associado a um protocolo que classifique o
paciente conforme tipo de tratamento e terapia antineoplásica utilizada
pode identificar os pacientes que potencialmente se beneficiarão da
intervenção específica (Pinho et al., 2011).
A caquexia provocada pelo câncer em estágios mais avançados
foi definida por especialistas, utilizando a técnica Delphi, como uma
síndrome multifatorial caracterizada por uma perda contínua de
massa muscular esquelética (com ou sem perda de tecido adiposo),
a qual não pode ser totalmente revertida pelo suporte nutricional

199
convencional e que leva à incapacidade funcional progressiva. O
diagnóstico para caquexia é determinado pela perda de peso superior
a 5%, ou perda de peso superior a 2% em indivíduos que já mostram
esgotamento físico, de acordo com o Índice de Massa Corporal –
IMC (<20 kg/m²), ou perda de massa muscular esquelética (sar-
copenia) (Fearon et al., 2011).
A caquexia é mediada por citocinas pró-inflamatórias e está
associada a doenças crônicas, tais como o câncer, HIV/ AIDS, in-
suficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
(Agarwal et al., 2013). Sendo assim, a caquexia tem sido reco-
nhecida há muito tempo como um efeito adverso do câncer. Essa
desordem está associada à redução da função física, diminuição da
tolerância à terapia anticancerígena e a uma taxa reduzida de sobre-
vida. Trata-se de um grave problema por apresentar intercorrência
de alta incidência e prevalência, e é fator limitante e determinante
de mau prognóstico da doença (Fearon et al., 2011; Duval et
al., 2010).
Falta de apetite, perda de massa muscular, disfunção imune e
alterações resultantes de mudanças na ingestão de alimentos, assim
como má absorção dos nutrientes oriundos da alimentação fazem
parte do quadro de sintomatologia da caquexia, e interferem em
praticamente todas as vias metabólicas (Da Silva; Pinheiro;
Alves, 2012).
A síndrome da caquexia pode se desenvolver de forma progres-
siva, em diversas fases: de pré-caquexia para caquexia, e caquexia
refratária. A avaliação para a classificação do estado nutricional e
manejo clínico deve incluir a presença de anorexia ou consumo redu-
zido da alimentação, catabolismo, massa muscular e força muscular,
capacidade funcional e comprometimento psicossocial (Fearon
et al., 2011).
Nem todos os pacientes oncológicos com tumores malignos
apresentam caquexia. Contudo, em média 50% dos pacientes apre-
sentam algum grau de perda de peso. Câncer pancreático e gástrico
provoca perda de peso com grande frequência (83% a 87%); já os

200
pacientes com quadro desfavorável de linfoma não-Hodgkin, câncer
de cólon, próstata e pulmão apresentam perda de peso de 48% a
61% e, em menores graus, alguns subtipos de linfoma não-Hodgkin,
câncer de mama, sarcomas e leucemia aguda não linfocífica provocam
de 30 % a 40% de perda de peso corporal (Waitzberg; Nardi;
Horie, 2011).
A vulnerabilidade humana para cânceres do trato gastrointestinal
superior pode ser fortemente influenciada por fatores ambientais. Em
especial, o esôfago é altamente vulnerável aos efeitos combinados da
exposição a agentes cancerígenos ambientais e desnutrição. Mesmo
em países desenvolvidos, alimentação e nutrição desempenham um
papel importante na etiologia das neoplasias orofaríngeas, esofágicas
e, em menor extensão, cancros gástricos. Entretanto, a evidência
epidemiológica sugere que os riscos podem ser minimizados por
padrões alimentares que aderem às recomendações atuais de saúde
pública, juntamente com a manutenção do índice de massa corporal
dentro da faixa adequada de peso (Johnson, 2015).

Terapia nutricional para pacientes oncológicos

Os objetivos da terapia nutricional (TN) no paciente oncoló-


gico incluem prevenção e tratamento da desnutrição, modulação da
resposta orgânica ao tratamento oncológico e controle dos efeitos
adversos dos tratamentos, que comprometem o estado físico, imuno-
lógico e nutricional. A terapia nutricional também auxilia no manejo
dos sintomas, evitando a caquexia e contribuindo para a melhoria
da qualidade de vida do paciente (Pinho et al., 2011). No caso
da TN em cuidados paliativos, o objetivo é melhorar a qualidade
de vida dos pacientes, auxiliando na redução e controle dos sinto-
mas clínicos, dentre eles náuseas, vômitos e mucosite (Da Silva;
Pinheiro; Alves, 2012).
Indica-se o uso da TN a pacientes que estejam recebendo
tratamento oncológico ativo, como quimioterapia, imunoterapia e

201
radioterapia, e àqueles com ingestão alimentar oral inadequada e
insuficiente, menor que 70% do gasto energético estimado, e por
um período superior a 10 dias. É indicada também aos pacientes
que não conseguiram se alimentar por um período maior do que sete
dias (Pinho et al., 2011).
De acordo com estudo de Waitzberg e Correia (2015), os
benefícios da terapia nutricional (TN) foram estudados tanto para
internação hospitalar quanto ambulatorial. No entanto, os custos são
elevados e a nutrição compete com muitas outras terapias médicas.
Há anos discute-se sobre a importância da TN com o governo
brasileiro, tendo sido inclusive usada como modelo uma análise do
custo teórico na cidade de São Paulo. Caso a TN seria fornecida para
cada paciente desnutrido. Considerando uma prevalência de 50%
de desnutrição, ter-se-ia um aumento de 300% dos custos com TN.
Além disso, os custos combinados de nutrição enteral e parenteral
representariam 0,14% dos custos de saúde totais e 0,33% da despesas
hospitalarares. No entanto, este aumento nos valores proporcionariam
uma nutrição adequada aos doentes, com potencial de diminuir seu
tempo de internação.
A indicação da terapia nutricional parenteral (TNP) é indicada
apenas aos casos em que há toxicidade do trato gastrointestinal ou
outras complicações mais graves que impeçam a ingestão adequada
por sete a 14 dias. Esta via oferece a possibilidade de aumentar ou
assegurar a ingestão de nutrientes em pacientes nos quais a ingestão
alimentar normal é insuficiente e a nutrição enteral não é viável, é
contraindicada ou não está sendo aceita pelo paciente. A TNP pro-
duz um significativo aumento da taxa de sobrevida e também um
ganho significativo em termos de morbidade relacionada à doença.
As complicações graves podem ocorrer em curto, médio ou longo
prazo, e compreendem principalmente infecções do cateter, com-
plicações sépticas, hiponatremia, hipocalemia, hipomagnesemia,
hipofosfatemia, ou hiperglicemia, o que resulta em desidratação com
distúrbios eletrolíticos (Pinho et al., 2011; Pazart et al., 2014).

202
Já a terapia nutricional enteral (TNE) é utilizada como uma
possibilidade de manutenção ou recuperação do estado nutricional
do paciente que apresenta o trato gastrintestinal íntegro e em pleno
funcionamento, porém com a ingestão oral total ou parcialmente
comprometida. Pacientes submetidos aos tratamentos combinados
de radioterapia e quimioterapia (nas regiões de cabeça e pescoço,
bem como esôfago) podem elevar sua ingestão alimentar e prevenir
a perda de peso causada pelos efeitos do tratamento antineoplásico
através da TNE (Pinho et al., 2011). Tal via é capaz de melhorar
substancialmente o estado nutricional do indivíduo sem acarretar
complicações gastrintestinais associadas (Campanella et al.,
2008; Garolfo et al., 2010).
Indica-se o uso da sonda nasoenteral para uma TN de curto pra-
zo. Por outro lado, jejunostomia e gastrostomia devem ser indicadas
caso exista a necessidade de TN por um período superior a quatro
semanas, quando há obstrução do trato gastrointestinal superior e
em casos de pacientes com evolução de mucosite importante em
decorrência do tratamento (Pinho et al., 2011).
Escolhida a melhor via e forma de administração, a TN deve ser
iniciada em pacientes desnutridos ou com risco nutricional, os quais
devem apresentar performance status (PS) igual ou menor do que 3 e
Karnofsky performance status (KPS) igual ou maior do que 30%, pois
são bons parâmetros para o valor prognóstico da doença, uma vez que
são escalas que ajudam a classificar o paciente conforme seu grau de
deficiências funcionais. Em detrimento a isso, deve-se sempre levar
em consideração a vontade do paciente ou da família, independente
de qualquer conduta dietoterápica (Corrêa; Shibuya, 2007).

Considerações finais

Constata-se que a terapia nutricional é de extrema importância


tanto no pré quanto no pós-tratamento oncológico, a fim de que o
paciente não desenvolva desnutrição energético-proteica chegando à

203
caquexia. Para tanto, a equipe multidisciplinar deve ser completa e
trabalhar em harmonia, sendo que o profissional nutricionista precisa
intervir no tratamento aos enfermos levando em consideração todo
o histórico dietoterápico, nutricional, medicamentoso e oncológico
dos pacientes.

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205
206
Capítulo 16
O cuidado, a ética e a
responsabilidade:
um debate sobre o direito
dos animais

Marlon André Kamphorst


Neuro José Zambam

Introdução

O debate sobre o direito dos animais entrelaça sentimentos pes-


soais que envolvem a realidade, o dia a dia, e a relação primeira com
animais em questões de praticidade e envolvente cumplicidade. Este
é um assunto que toca as pessoas em seus sentimentos e emoções e
vem representado pelo cuidado com os seres não humanos e com
as leis existentes no Brasil. Capitaneados pela Constituição Federal,
diversos estados brasileiros compilaram sua própria legislação de
cuidado aos animais.
O contexto histórico-cultural atual faz com que observemos
o mundo de diferentes formas. Desde o início da vida humana, e
valendo-se de sua capacidade de raciocínio e discernimento, os seres
humanos foram alcançando a hegemonia no planeta, ao aprimorar
suas técnicas de agricultura e domesticação de animais, o que possi-

207
bilitou atribuir a esta espécie maior importância em relação às outras,
e inclusive ao meio ambiente, surgindo, assim, o antropocentrismo,
que é uma concepção de situar o homem no universo como sendo o
seu centro, de modo que ao seu redor permaneçam todas as outras
formas de vida, numa condição meramente subalterna.
O escopo teórico que suporta todo o itinerário de elaboração
desta pesquisa perpassa a necessidade de modificação no tratamento
com os seres não humanos, numa conjuntura que converge para o
diálogo interdisciplinar, como ferramenta para demonstrar os bene-
fícios recíprocos da ação ética consciente da consideração moral do
meio ambiente e dos animais.
Este capítulo tem como objetivo abordar a problemática da ação
humana antropocêntrica, desconsiderando os demais seres vivos na
atitude diária de convivência. Usando como norte as contribuições
de Hans Jonas, especialmente na obra: O princípio da responsabili-
dade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, procuramos
evidenciar a importância de inserir a consciência moral na relação
com os animais numa dimensão ética.
A estratégia de pesquisa utilizada é a investigativo-bibliográfica
e o método que orientará essa abordagem é o indutivo, que procura
destacar os aspectos mais importantes do comportamento moral con-
vergente para a relação com os animais e para a construção de um
entendimento global sobre a temática proposta. O método indutivo
segue uma linha de raciocínio e argumentação onde “as premissas
particulares consideradas inicialmente conduzem à conclusão, que
será considerada a parte geral, mais ampla, do que as premissas
basilares1”.

1 ZAMBAM; BOFF; LIPPSTEIN. Metodologia da pesquisa jurídica: orientações básicas.


Florianópolis: Conceito, 2013.

208
A Constituição Federal Brasileira e o direito dos animais
A Constituição brasileira preocupou-se em proteger, no Capítulo
VI – Do Meio Ambiente, o direito animal de não ser submetido a
tratamento cruel. E, para defesa desse direito, designou o represen-
tante do Ministério Público como porta-voz daqueles que não podem
se manifestar juridicamente. A proteção garantida aos animais, na
Carta Magna, mascara a real intenção dessa proteção, embora muitos
defensores dos direitos dos animais tenham dela se utilizando para
impetrar ações e por meio de decisões judiciais garantir a alguns
animais o direito de não serem usados ou manipulados de forma
cruel. Podemos citar como exemplos o uso de animais em circo, as
rinhas de galo, a farra do boi, entre outros.
Percebe-se que, embora o objeto de proteção real seja o homem
e não o animal, de alguma forma esta positivação tem contribuído,
ainda que seja timidamente, com a preservação e o bem-estar animal,
lembrando que ela ainda é o mais forte e amplo objeto de proteção
e garantia aos animais.
Alguns estados brasileiros contemplaram em suas Constituições
o direito dos animais a não serem tratados com crueldade e alguns
destes estados – no caso de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Paraná e São Paulo – foram além, editando leis
bem-estaristas, específicas de proteção aos animais.
No caso do Rio Grande do Sul, primeiro estado brasileiro a
editar o Código de Proteção aos Animais – lei 11.915/2003 que visa
a compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a preserva-
ção ambiental –, embora não diretamente voltado aos interesses de
direitos à vida dos animais e de sua condição e interesses naturais,
como sentir dor ou sofrer, não deixa de ser um marco, por sua in-
tenção de não submetê-los a crueldade por conta de fins econômicos.
No Paraná, a lei 14.037/2003 instituiu o Código de Defesa dos
Animais, completo, sendo uma mera reprodução do texto do Rio
Grande do Sul. Em 2005, o estado de São Paulo instituiu o seu
código de proteção, baseado no projeto de lei do deputado Ricardo

209
Trípoli, quem, antes de entrar no mérito, tratou de classificar as
espécies animais em silvestres, exóticas, domésticas, domesticadas, de
criadouros e filantrópicas. Para cada uma delas (espécies), assegurou
direitos relativos à sua condição.
No Rio de Janeiro, foram as famosas brigas de galo o alvo
de Adin consideradas inconstitucionais, como também em Santa
Catarina a farra do boi, dentre outras. Vale destacar que o estado
de Goiás instituiu em 2002 uma lei ordinária de proteção à fauna
silvestre, onde estabeleceu em seu artigo 1º: “Os animais da fauna
silvestre, nos limites do Estado de Goiás, em qualquer fase do seu
desenvolvimento, bem como os seus ninhos, abrigos e criadouros
naturais, são de propriedade do Poder Público e sua proteção dar-
-se-á na forma da lei”.
Essa lei nada mais fez do que atribuir ao Estado a respon-
sabilidade pela fauna, atribuindo-lhe o caráter de proprietário e
classificando a fauna como coisa, para o Estado. Percebe-se uma
mistura de bem-estarismo com utilitarismo, mas que na realidade é
mais uma forma de buscar a preservação do meio ambiente para
as futuras gerações. Nesta pesquisa, percebeu-se, mesmo diante de
alguns retrocessos, que cada estado buscou sanar suas intempéries
no que tange à proteção dos animais e à omissão dos constituintes
estaduais, quando elaboraram suas Constituições.
Percebeu-se que os constituintes se preocuparam em reproduzir
o texto da Constituição Federal e que esta preocupação se deu somen-
te e novamente com o meio-ambiente ecologicamente equilibrado,
assim como na Carta Magna. Não se encontrou um efetivo compro-
misso em garantir aos animais um tratamento humanitário, digno.
Estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Pau-
lo, Paraná e Santa Catarina são exemplos de preocupação com o
bem-estar dos animais, não estando preocupados apenas com o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, e sim com as reais condições
em que estes animais vivem e são tratados. Sabe-se, contudo, que
não deixam de ser posturas bem-estaristas e por muitas vezes utilita-
ristas de proteção, mas o reconhecimento de que estes animais não

210
humanos sentem dor e que não devem ser tratados de forma cruel
já é um passo para a conquista de mais direitos, como, por exemplo,
de processar o malfeitor.
Deve-se ressaltar que existem Constituições estaduais que se
quer fazem menção ao banimento de tratamento cruel aos animais
– como as do Ceará e do Pará –, nem mesmo no capítulo que se
refere ao meio ambiente; ou menção aos princípios fundamentais.
Nenhum outro capítulo do instrumento trazia referências ao ba-
nimento do tratamento não humanitário aos animais. Note-se que
não contemplar a proteção aos animais deixa estas Constituições
vulneráveis e passíveis de controle de constitucionalidade, devendo,
assim, entidades de proteção aos animais impetrar Adin para sanar
a omissão, como foi feito na Bahia.
No Brasil, a principal lei de proteção aos animais continua
sendo a Constituição Federal, mas cada unidade da federação é livre
para criar mecanismos de ajustes da proteção, adequando-a à sua
realidade social. Não se pode deixar de citar que, no país, a primeira
lei federal que visava a proteger os animais foi editada no governo
de Getulio Vargas, no decreto 24.645/34, que ainda está em vigor e
que declara em seu artigo 1º: “Todos os animais existentes no País
são tutelados pelo Estado”, conferindo aos animais não humanos a
garantia de serem protegidos pelo Estado Maior. Frise-se que outra
lei, também federal de grande importância para a defesa dos animais,
é a 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais.
Existem leis estaduais e municipais de proteção aos animais
não humanos, e, em especial, escolheu-se o Rio de Janeiro para
demonstrar esse engajamento em oferecer melhores condições de
vida para os animais.

A ética e o comportamento moral em relação aos animais


A ética radica da palavra grega ethos (costume), que é a expres-
são das ações cotidianas das pessoas no tempo, determinadas por
valores morais e pelas leis vigentes que definem e condicionam a

211
conduta humana. Vázquez (1984, p. 12), define-a como “um con-
junto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito
do comportamento humano moral, melhor dizendo, é a teoria ou
ciência do comportamento moral do homem em sociedade”.
A ética como um todo analisa o comportamento humano frente
a um fim determinado, sendo que seu desenvolvimento conceitual
necessita que se considere a sua evolução temporal. Platão determina
a finalidade da práxis humana através do conhecimento do bem, e
por objetivo chegar ao sumo bem, alcançado diante da necessidade
de o indivíduo desprezar os prazeres corporais e priorizar as virtudes
próprias da alma humana.2
Aristóteles (1985) entende que o homem congrega em si a
potencialidade para a ação virtuosa, que deve ser exercida de forma
costumeira, cultivando bons hábitos. Sua ética parte do conceito de
teleologia, no sentido de que todas as formas existentes tendem a uma
finalidade (thélos), e toda ação e todo propósito visam a um bem.
A razão teleológica é que permite ao ser humano guiar-se pelos
caminhos do meio, que se encontra entre dois extremos, o do exces-
so e o da falta. Cabe à razão discernir e optar pelo meio-termo de
forma habitual, que cuja prática contínua e reiterada das virtudes
leva à excelência moral, e, por conseguinte, atinge-se a felicidade.
Portanto, é necessário constituir o caráter mediante os bons hábitos,
organizando os desejos de maneira que as ações boas resultem na
obtenção de prazer e as más, em sofrimento.3
Dessa maneira, percebemos que a ética, por seu valor histórico,
e diante de suas várias facetas, apresenta-nos uma única certeza: a
ação humana deve ser por ela direcionada, pois vem amparada por
aspectos fundamentais da vida humana, como o dever e a virtude.
2 Nesse sentido, para Platão, os bens materiais deveriam ser substituídos pelo bem
por excelência, e, para isto, é necessário que o indivíduo tenha dentro de si a justa
proporção entre os elementos diversos que atuam em si mesmo.
3 Assim, para Aristóteles, os prazeres e o sofrimento não estavam determinados de forma
rígida pela natureza, e, por isso, poderiam ser organizados pelo hábito e pela prática
das ações humanas e é em função deles que os homens passam a atuar bem ou mal.

212
Na perspectiva deste estudo, a preocupação essencial da ética resi-
de em seu conteúdo relacional, pois, embora existam determinadas
ações que só dizem respeito a nós como indivíduos, existem diversas
atitudes que afetam ou podem prejudicar outros indivíduos. No caso
dos animais, o fato de nos alimentarmos deles, envolve, por exemplo,
um questionamento de ordem ética bastante presente: comer carne
e derivados de animais, como ocorre na quase totalidade das vezes,
enseja limitar a vida de outros seres.
Nesse contexto, a ética se coloca como uma atitude cultural e
crítica sobre valores e posições de relevância no momento de atuar
em relação com os outros homens, com a natureza e com os animais.
Desde o fim do século passado, o homem está procurando adotar
um novo ethos, um novo tipo de comportamento e de ética perante
a natureza, pois é o responsável pelos bens da terra, e, como tal, está
buscando não explorá-los aleatoriamente, mas sim preservá-los para
as gerações futuras.
O homem também está repensando a ciência de um modo
mais racional, porém não é fácil pensar racionalmente sobre ciência
quando ela envolve o uso de animais. Nesse caso, há muita emoção
envolvida. O tipo de atitude de cada pessoa com relação aos animais
depende de vários fatores, muitos dos quais remontam ao dia a dia,
ao envolvimento, à vivência.
Também a atitude das pessoas com as quais temos contato nos
influencia; o modo de agirem faz com que tenhamos uma atitude de
sensibilidade ou não para com os animais. Não é diferente na ciência.
Assim como há cientistas que valorizam a vida animal, considerando
os seres sensíveis e procurando diminuir seus sofrimentos sempre
que possível, há outros para os quais os animais têm o mesmo valor
que um vidro de substância química usado em sua pesquisa.
A premente desconsideração da vida de um animal com fins de
atender a utilidades humanas deve ser repelida. Oliveira (2013, p.
59) é enfático acerca dessa postura. Refere que

213
não é aceitável nenhuma pesquisa/experimentação com animal que
não seja feita em favor do próprio animal, tal como acontece com
seres humanos. Não imposta, em uma teoria de direitos, se o uso de
um gato pode trazer benefícios importantes para seres humanos, a
redução desse animal a meio para propósitos humanos, que traduz
precisamente a coisificação da vida, não é tolerável.

A experimentação animal é uma atividade humana com gran-


de conteúdo ético. Os problemas éticos da experimentação animal
surgem do conflito entre as justificativas para o uso de animais em
benefício de si próprios e do homem e do ato de não causar dor
e sofrimento aos animais. Esse conflito é inevitável e só pode ser
tratado equilibrando-se os valores opostos. Quanto maior o sofri-
mento que um experimento irá causar aos animais, mais difícil é a
sua justificativa.
O uso de animais para fins humanos não pode ser considera-
do eticamente válido, ainda mais se houver métodos alternativos
fidedignos para o conhecimento que se procura. O princípio ético
de reverência pela vida exige que se obtenha um ganho maior de
conhecimento com um custo menor no número de animais utilizados
e com o menor sofrimento dos mesmos. O homem, como animal
superior, considera-se no direito de usar os outros animais, porém
esse direito é inseparável do dever de não abusar.
A moralidade é essencial para o bem que possamos fazer uns
aos outros na construção de uma sociedade melhor e nas questões
que envolvem os animais. Também está inserida na concepção de
moralidade a ideia de que ela é referenciada pela cultura a que o
sujeito pertence, e que não está restrita à obediência cega a parâ-
metros predeterminados. Moralidade, assim vista, implica tomada
de consciência e adesão, por livre arbítrio, a normas e regras.
A questão do respeito aos animais também é moral, pois envolve
elementos que referem a si mesmos e aos outros. Moralmente, trata-se
de defender a preservação da espécie como meio de sobrevivência
da humanidade. Uma pessoa ecologicamente moral é aquela que

214
possui valores que regulam sua ação em função do respeito por si,
por seu próprio espaço e sobrevivência, mas também por outros, pela
natureza, pelos animais, pelo valor à vida e pelo espaço que todos
ocupam, o espaço público.

A responsabilidade do homem com os animais e a natureza

Diante da complexa ação humana, o homem necessita assumir


uma postura capaz de lidar com as mazelas geradas pelo seu compor-
tamento reintegrado ao longo dos séculos, que segregou a natureza e
os animais, gerando um óbice à subsistência, por ter se considerado
fora desse meio, um ser superior, composto por atitudes superiores
(éticas) e ações condizentes.
Nesse contexto, Jonas (2006) percebe que a ética tradicional,
toda ela, possui constituição antropocêntrica, ou seja, refere a um
contexto relacional entre homens, inclusive em uma esfera individual,
ou seja, do homem com ele mesmo, mas considerando os preceitos
pré-existentes, de modo que a concepção de homem não abarcava
conceitos evolutivos dentro de seu próprio senso de desenvolvimento,
razão pela qual a relação semântica do homem resguardava-se à sua
essência.
Imperioso destacar, na visão jonassiana, que o homo faber é
compreendido como aquele homem dotado de habilidade para mo-
dificar o mundo (externo), de modo a transformar a natureza. Em
contrapartida, o homo sapiens, constituído em um momento histórico
posterior, possui uma maior relação com esses elementos, na medida
em que busca compreender a realidade e possui uma capacidade de
se relacionar não apenas com os elementos da natureza, dos quais
tem ciência, mas também de si. Por isso, o homo sapiens possui maior
capacidade de se libertar dos preceitos individualistas e ter consciên-
cia de um agir coletivo, capaz de fomentar ações com referência à
responsabilidade.

215
Nesse contexto, todos os avanços no campo das obras humanas
e tudo aquilo que não se pode alterar restaram compreendidos como
sendo natureza. Na luta pela existência, quando o homem escolhe
entre ele e a natureza, a resposta é sempre homem. A razão não
mais contempla a natureza, a realidade se mostrou súbita, tendo o
homem que (re)pensar a sua humanidade em prol de sua própria
preservação, em uma premissa de solidariedade para com o resto
do mundo animal.
O homem, tão combatente da sua própria morte (doenças),
criou um novo problema, uma ameaça catastrófica e imediata. Pela
sua avidez na produção de riqueza e busca pelo poder, acabou por
problematizar os recursos naturais que antes o serviam eternamente.
Enquanto o homem estava compenetrado em construir o seu mun-
do, a responsabilidade possuía uma compreensão restrita, voltada à
atenção de seus interesses apenas, onde os elementos de inteligência
e criatividade eram valorizados, e estavam livres de uma compatibi-
lidade ética com os demais elementos correlatos da natureza.
Segundo Jonas (2006), o homem, mergulhado na ambiguidade,
só pode assegurar sua própria preservação se for capaz de equilibrar
em suas ações a liberdade e a responsabilidade, onde a liberdade é
o traço distintivo de todo ser vivo, e a responsabilidade, o traço dis-
tintivo do ser humano, mas igualmente, percebe a relação existente
entre responsabilidade e poder, pois quanto mais extenso o poder,
mais extensa deve ser a responsabilidade. Todavia, por sua qualida-
de inerente, deve estar ligada a um saber, ou seja, o saber gera um
poder que exige a responsabilidade que, por sua vez, exige um saber.
O princípio responsabilidade, além de ser considerado um
mandamento ético, proporciona uma perspectiva de diálogo crítico.
Jonas (1995, p. 16-17) entende que “sob o signo da tecnologia, a
ética tem a ver com ações de um alcance causal que carece de prece-
dentes [...]. tudo isso coloca a responsabilidade no centro da ética”.
Predito princípio tem como ponto de partida a constatação da
transformação da essência do agir humano em função das tecnologias
que ampliaram os efeitos das ações do homem nas perspectivas do

216
espaço e do tempo, exigindo um novo tipo de reflexão ética capaz
de fazer frente a essa ampliação.
Jonas propôs o seu imperativo, adaptado ao novo tipo do agir
humano e que se endereça ao novo tipo de sujeito, e foi enunciado
dessa forma (2006, p. 40): “Age de tal modo que os efeitos de tua ação
sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente
humana na Terra.” Essa formulação permite outras três diferentes
variações. Assim, expressadas por Jonas (2006, p. 39-40): “1) Age
de tal modo que os efeitos de tua ação não sejam destrutivos para a
possibilidade futura de uma tal vida. 2) Não comprometa as con-
dições para a continuidade indefinida da humanidade na Terra. 3)
Inclui em tua escolha atual a integridade futura do homem como
objeto secundário de teu querer.”4
A ética defendida por Jonas leva em conta as consequências
das ações realizadas. Exige que uma vida autenticamente humana
exista depois de nós, dado que sua maior prioridade é a existência
do homem. Assim, estabeleceu o vínculo originário entre vida e
responsabilidade e, com o conceito de continuidade, enfatizou a
dimensão histórica ou temporal da responsabilidade. E uma vez que
ela se prolonga no tempo e se estende, em especial, a todos nossos
semelhantes (seres humanos), sem se ater aos nossos próximos,
compreendidos como aqueles com os quais desfrutamos uma con-
vivência espaço temporal, concluiu-se que o seu foco é, portanto, a
humanidade em geral.
Desse modo, Jonas propôs uma ampliação não só do conceito
de liberdade, mas também do de responsabilidade. Um dos aspectos
mais interessantes da formulação jonassiana foi mostrar que a cons-
tatação da hipertrofia do poder humano trouxe consigo a exigência
do dever de responsabilidade como tentativa de controlar esse mes-
4 Ao imbuir o ser humano de responsabilidade para com o outro, Jonas busca também
a responsabilidade para com os seres não humanos. Alude ao poder do homem frente
à natureza, que por meio de sua engenhosidade moldou o mundo com escopo de
atender às necessidades de sua existência, utilizando de maneira expropriatória os
recursos naturais e os animais sem qualquer preocupação ou receio.

217
mo poder. Também declarou que o primeiro dever do agir humano
coletivo, na era da civilização técnica, é o futuro da humanidade.
Jonas (2006, p. 32) diz que “a violação da natureza e a civilização
do homem caminham de mãos dadas”. Pode-se dizer que este cami-
nho é o espaço entre a preocupação com o seu desenvolvimento na
sociedade até os dias atuais, sendo que a natureza está perdendo para
a irracionalidade humana, o seu espaço, no tocante ao fato de que a
natureza está sendo menosprezada pela civilização antropocêntrica.5
É preciso, portanto, agir responsavelmente para com o patri-
mônio da humanidade, através da educação ambiental e do princípio
da responsabilidade, para produzir os fundamentos a uma educação
consciente e libertadora de campanhas de consumo, e que leve,
portanto, à ação concreta, no sentido de demonstrar aos educandos
que a relação com os animais, tal qual com os homens, deve ser
considerada eticamente.6
Diante da educação, os homens irão perceber que necessitam
da conscientização com a moralidade do agir visualizando nos ani-
mais também seres reconhecidos moralmente. Refere Jonas (2006,
p. 352) que “é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a
um outro ser que se torna preocupação quando há uma ameaça à sua
5 Seguindo essa perspectiva, refere Jonas (2006, p. 32): “Antes de nossos tempos, as
interferências do homem na natureza, tal como ele próprio as via, eram essencialmente
superficiais e impotentes para prejudicar um equilíbrio firmemente assentado”.
6 Acerca da educação, e na perspectiva desse estudo, vale lembrar de uma passagem
histórica para demonstrar a possibilidade de mudança de paradigma comportamental:
Conta-se que Licurgo, o lendário legislador de Esparta, foi convidado a falar sobre
o tema educação. Ele aceitou, porém pediu um ano para se preparar. As pessoas
questionavam por que um homem tão sábio precisava de tanto tempo para preparar
uma simples exposição de ideias. No dia marcado, a multidão compareceu. Licurgo
chegou com duas gaiolas. Na primeira havia dois cães. Na segunda, duas lebres. Ele
nada falou. Apenas retirou um animal de cada gaiola. Em pouco tempo, o cão estraçalhou
a lebre. Em seguida, libertou os animais restantes. A multidão já esperava por uma nova
cena sangrenta. Para surpresa de todos, o cão aproximou-se da lebre e com ela brincou.
Licurgo esclareceu que o prazo de um ano era para preparar os animais. Mostrou assim
o poder da educação. Se foi possível educar animais, mesmo antagônicos, levando-
-os a uma convivência pacífica, certamente seria possível educar as crianças (KÜHL,
Eurípedes. Animais, nossos irmãos. São Paulo: Petit, 2006, p.181-182).

218
vulnerabilidade” (grifo nosso). Portanto, não se trata de algo que é
um bem para o ego, mas um bem comum.
Assim, conclui Jonas (2006, p. 353): “um patrimônio degradado
degradaria igualmente os seus herdeiros”. Logo, a defesa de um
princípio da responsabilidade, como fundamento para a educação
ambiental ampliada para a caracterização moral dos animais, torna
o direito à vida um patrimônio exclusivo de cada ser vivo. Deve-se
buscar um agir ético responsável, capaz de resgatar a humanidade
perdida, minimizando e erradicando as mazelas de vulnerabilidade
provocadas pela sua própria ação ao longo do tempo, para que se
possa preservar o mundo físico para as gerações futuras, em plenas
condições de vivência, deixando de ser um lugar nenhum para se
tornar um lugar possível.
Para isso, é necessário compreender o atual estágio de desen-
volvimento da humanidade de forma prática e teórica, observando o
passado como um momento de preparação para o presente, que será
o momento de projeção para o futuro. Esse agir teórico compõe a
ética moderna, capaz de resolver os problemas da vulnerabilidade,
e vislumbrando a realização desse presente e futuro, razão pela qual
é um agir responsável.
O principal ensinamento de Jonas é o de que o homem não
só deve existir no futuro, mas existir tal qual é, o que não significa
que ele não possa modificar sua constituição genética para curar
doenças, mas que ele não deve alterá-la para reduzir a sua condição
essencialmente humana. O que significa extirpar a sua ambiguidade
essencial e a sua singularidade de espécie, que somadas constituem
a integridade humana.

Considerações finais

A percepção da semelhança dos homens com os animais, sua


origem e desvelamentos, é discussão há muito debelada pelos homens.
A falta de consciência e consideração dos homens quanto ao respeito

219
poelos sentimentos dos animais torna o reconhecimento destes direi-
tos algo ainda longe da realidade social, e traça uma barreira quase
intransponível como fato indissociável da existência atual.
Nesse ínterim, Hans Jonas colabora para a elevação da questão
a patamares sociais, ao mostrar a importância do papel das questões
éticas no comportamento humano, que associa o bem com a prática
das virtudes morais, trazendo à tona a importância de se desenvolver
a ação humana com os cuidados do agir baseados na ética, para que
haja preocupação com a responsabilidade da ação, também com
relação aos animais, na esfera do princípio.
O caminho proposto por Jonas perpassa a constatação de que,
no atual paradigma enfrentado – por toda a problemática relacionada
pela vulnerabilidade do meio ambiente e a extinção das espécies ani-
mais –, um novo agir ético se faz necessário, pois os antigos preceitos,
pautados por uma teoria e uma ética arcaica, esvaziada de significado,
não mais condizem para o oferecimento de novos axiomas.
Nesse novo modo de agir, torna-se prudente pautar as ações
voltadas não mais ao desenvolvimento único e exclusivo do homem,
desarraigando a conceituação de uma ética antropocentrista, assimi-
lando os elementos de mundo, em um sentido amplo, e projetando a
ação não apenas para o lapso temporal presente, de modo a estabe-
lecer outros elementos, que não apenas e exclusivamente o homem
como um fim em si.
Referido modo de ação não antropocêntrico, ressalta a posição
animalista, que professa a tese de que os animais (ou ao menos
aqueles tidos como sencientes) contam moralmente como titulares
de interesses específicos, relacionados ao seu próprio bem-estar
experimental e à sua vida, e possuem uma subjetividade própria de
ser e de estar no mundo, o que não está presente nos ecossistemas.
O modo como o homem se relaciona com o mundo natural
consiste em um assunto essencialmente ético, que envolve a análise
dos limites e o alcance da consideração moral de entidades não hu-

220
manas e do meio ambiente como um todo, aqui ampliado a todos
aqueles que contam moralmente.
Alenta o fato que avanços operam-se legislativamente. A lei
11.794/08, que estabelece procedimentos para uso científico de
animais no Brasil, chamada Lei Arouca, prevê que animais sejam
submetidos a aflições e utiliza expressões como dor, angústia e
intensos sofrimentos, para ao final prever que sejam eutanasiados.
Portanto, deve-se reconhecer que os animais são dotados de
interesses, muitas vezes ambivalentes aos dos humanos, como por
exemplo, o de não sofrer e o da própria vida, que devem ser consi-
derados, devendo-se adotar, como imperativo ético, a igual estima
de valores. Isso porque os animais são titulares de direitos (à vida, à
integridade física, à liberdade); são indivíduos, insubstituíveis, que se
postam como fins em si mesmos, e não instrumentos para objetivos
humanos. E a ética, ao reger predita conduta, deve ser idêntica à
adotada para com seres humanos, uma vez que para uma posição
igual deve ser dispensado tratamento igual.

Referências

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de Pietro Nassetti.


São Paulo: Martin Claret, 2007.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições
70, 1997.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para
a civilização tecnológica. Tradução do original alemão por Marine
Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-
-RIO, 2006.
LOURENÇO, Daniel Braga; OLIVEIRA, Fábio Corrêa Souza
de. Sustentabilidade; economia verde; direito dos animais; ecologia
profunda: algumas considerações. Revista do Instituto do Direito

221
Brasileiro. n. 1, p. 365-404, 2012. [Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Lisboa]
OLIVEIRA, Fábio Corrêa Souza de. Bases de sustentação da
ecologia profunda e a ética animal aplicada (o caso instituto Royal).
In: TRINDADE, André Karam; ESPINDOLA, Angela Araújo
da Silveira; BOFF, Salete Oro (Orgs.). Direito, democracia e susten-
tabilidade: Anuário do Programa de Pós Graduação da Faculdade
Meridional. Passo Fundo: Imed, 2013.
PLATÃO. A república. Trad. e notas de Maria Helena da Rocha
Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1980.
SINGER, Peter. Todos os animais são iguais. In: GALVÃO, Pe-
dro. Os animais têm direitos? Perspectivas e argumentos. Lisboa:
Dinalivro, 2010.
VALLS, A. L. M. O que é ética. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
VÁZQUEZ, A. S. Ética. Tradução de João Dell’Anna. 7. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.

222
Capítulo 17
Envelhecer é natural,
cuidar do envelhecimento
é cultural

Astor Antônio Diehl

O imaginário é aquilo que


tende a se tornar real.
(André Breton)

Introdução

Quem de nós não irá enfrentar, ou já está experimentando, como


eu mesmo, o processo de envelhecer? Todos nós, dentro de certa
normalidade, iremos nos mover para esta fase, uns farão isso mais
cedo, outros mais tarde. Aliás, nascemos envelhecendo.
Frente a isso, sempre foi um dos projetos da humanidade, desde
os tempos mais remotos, desacelerar ou mesmo interromper o pro-
cesso de envelhecimento. Essa é talvez a pior maldição do tempo,
que corrói tanto o corpo como a alma.
Quando jovens, temos a sensação do tempo que parece não
passar, tudo demora demasiadamente. É como a movimentação da
água no fundo do mar. Agora a situação se inverte e esse mesmo

223
tempo começa a disparar como uma flecha acelerada rumo a um
determinado alvo. Simbolicamente, estamos sentados na praia diante
das ondas do mar. Percebemos um tempo (mar) nervoso e agitado.
Sabemos que as ondas possuem um compasso, mas também sabemos
que elas são sempre diferentes.
Contudo, já sabemos qual é esse alvo a ser atingido pela flecha
do tempo: o envelhecimento, e, diga-se de passagem, com todas as
suas possíveis peculiaridades, quando falamos das experiências de
pessoas que envelhecem. Apesar de todos nós termos algo em co-
mum: somos humanos que pensam. Este aspecto é o elemento que
altera tudo e impõe as diferenças.
Por essa razão, hoje, mais do que nunca, a indústria farmacêu-
tica, a de cosméticos, a de alimentos, a de engenharia genética etc.
procuram a juventude eterna ou mesmo querem frear radicalmente
o relógio compassado do movimento inevitável do tempo. Estamos
tentando desacelerar tais marcadores impetuosos do tempo; vivemos
sob a ditadura da eterna juventude. Entretanto, temos poucas chances
na tarefa de interromper tais marcadores. Podemos isso sim conse-
guir uma sobrevida, mas o envelhecimento irá acontecer com toda
certeza. Todos sabem que ele é inevitável e isso não se discute aqui.
A questão principal é: quando entraremos e como enfrentaremos este
momento da vida? Desde sempre, contudo, é necessário pensar as
peculiaridades do envelhecer, do velho e do envelhecimento.
Também já sabemos que o envelhecer humano é um processo
eminentemente individual do movimento de ficar velho. Claro que
este movimento não tem nada haver com o tempo cronológico. En-
velhecimento é o estado, é o conceito tipo ideal, que é quase sempre
entendido, ao nível das ciências e da demografia como sendo de
caráter geral.
O conceito é geral por ser social como um fenômeno das socie-
dades, contudo a experiência de envelhecer é individual, mesmo nos
aspectos biopsíquicos. Nesse sentido, desde já precisamos nos afastar
de noções enganadoras como terceira idade e melhor idade, as quais

224
distorcem as reflexões e a experiência sobre o próprio fenômeno do
envelhecimento.
Sim, os povos e as civilizações envelhecem. Todos nós vamos
envelhecer, mas, sem dúvidas, com sinalizações, com temporalidades
diferentes e, fundamentalmente, com diferentes entendimentos.
Parece-me que são exatamente essas as diferenças sobre as quais
incidem as grandes dificuldades para o estabelecimento de periodi-
zações, de conceitos e, sobretudo, de caracterizações gerais sobre a
experiência do envelhecer/velho/envelhecimento.
A estas duas dificuldades gerais de compreensão, podemos
ainda somar uma gama de aspectos quando tentamos periodizar ou
caracterizar o envelhecimento a partir de variáveis históricas, sociais,
culturais, biológicas ou ainda psíquicas, para citar apenas algumas
destas variáveis.
Tais dificuldades se multiplicam ainda mais quando agregamos a
elas possibilidades e expectativas futuras, como níveis de bem-estar, de
expectativas de vida, de lazer, de felicidade, inclusive as consequências
de doenças orgânicas, as psíquicas ou mesmo das de caráter social,
entendidas a partir de suas interfaces. Estas interfaces são aquelas
que nos dão tanto trabalho metodológico, mas também abrem tantas
possibilidades diferentes de compreender o envelhecer.
Por um lado, poderíamos ainda dizer, porém com certo cuidado,
até que ponto nós estamos preparados e também dispostos a lidar
com a cartografia corporal e psíquica da própria velhice – cuidado
do si – e, especialmente, com o envelhecimento alheio – a pedagogia
do cuidado do outro.
Somente levando-se em conta esse aspecto bifurcado é que surge
a infinidade de questões ético-morais que, facilmente, transcendem os
parâmetros meramente científicos. Estamos falando dos aspectos que
possibilitam a manutenção ou mesmo a primeira apreensão de noções
como as de emancipação e de autonomia. Não é fácil entregar o corpo
para que outrem o cuide, bem como é difícil o outro cuidar do meu
corpo. São dimensões que ultrapassam a racionalização científica.

225
Exatamente, o que se pretende quando velhos? Mesmo que
esta seja uma pergunta existencial, e por isso mesmo recheada de
particularismos, ela denota uma preocupação genérica. Aqui não se
trata de afirmar o que os outros pretendem, mas existem aspectos
que poderiam ilustrar pontos de convergência das diferenças, como,
por exemplo, autonomia, mobilidade, viver sem dor, ter a capacidade
de decisão e usufruir do básico para a sobrevivência material, dentre
outros.
Confesso que a reflexão sobre tais aspectos implica perceber o
abismo entre “como gostaria que fosse” e “como realmente será”.
Exatamente este é o ponto: não há como estudar o envelhecer e o
envelhecimento humano sem dois pontos fundamentais: as expe-
riências do passado e a nossa capacidade de negociar com o nosso
futuro – ficar velho, ser velho –, entre o ideal e o real. Nós ainda
pensamos: Quando me aposentar, vou fazer isso e aquilo. Será?
Sem dúvidas, para confirmar tais aspectos, bastaria ouvirmos
as conversas de jovens sobre os velhos – se é que eles falam sobre
esse tema – e mesmo de adultos já grisalhos para termos uma ideia
razoável de quão distante estamos de uma cultura científica humani-
zadora para o envelhecimento quando se trata de aportes científicos
e mesmo de expectativas sociais de preparação ao envelhecimento.
Estes são dois aspectos implícitos da sociedade do desperdício.
Em 2016, ainda jogamos muita comida da mesa no lixo. O que fare-
mos, então, ou estamos fazendo com as debilitadas carcaças de velhos.
Afinal de contas, elas já produziram, já trabalharam, já procriaram
para a manutenção da reprodutividade do capital social e cultural.
Contudo, e apesar disso, ao vermos um velho abandonado na
rua, doente, com frio e mesmo marginalizado socialmente, ainda não
nos comovemos ante a paródia da melhor idade.
Por outro lado, no mundo acadêmico muitas vezes tomamos os
velhos e o processo do envelhecer e o envelhecimento apenas como
objetos de pesquisas e de estudos.

226
Por vezes, as pesquisas, pelo seu alto grau de racionalização
teórico-metodológica, quase contábil, não conseguem identificar
que os seus objetos de estudo – que na verdade são pessoas de car-
ne – são aquelas carcaças de ossos e de sentimentos, carregadas de
experiências particulares de vida que ainda pulsam, para não falar
das subjetividades como as emoções, os sentimentos. O que iremos
fazer com tais subjetividades na ciência racionalizada? A resposta é:
possivelmente, apenas constatar sua existência.
Assim, esses estudos são realizados, e muito bem realizados,
diga-se de passagem, para a comunidade científica e para especialis-
tas sem alma e sem cultura humanizadora, que nem sempre estão
interessados em resultados envoltos de sentidos para as mudanças
sociais, políticas públicas e para a inovação hoje tão referenciada.
Por vezes, o único sentido existente é aquele imposto pela ditadura
da pontuação no Lattes.
Isso está errado? Não necessariamente. Mas certamente, estes
estudos haveriam de se completar com a pedagogia de retorno das
pessoas que ora apenas serviram de objeto para as pesquisas. Vejamos
que pela segunda vez aparece de forma contundente à necessidade de
contarmos com o passado para o entendimento do envelhecimento.
Dessa forma e sem essa noção, na maioria das vezes, somente
conseguimos apontar as causas dos problemas, sem o devido exercí-
cio da busca de tentativas no horizonte de expectativas das soluções
para tais problemas. Talvez os resultados sejam apenas superficiais
em razão do fato primeiro de não conseguirmos formular problemas
relevantes de pesquisa.
Penso que nesse caso precisamos também humanizar as próprias
ciências ou as áreas que se colocam à disposição nos estudos sobre
o envelhecimento humano. Caso contrário, estaremos confessando
academicamente a morte do sujeito – do velho, do envelhecer –, os
quais são a base do objeto de estudos do envelhecimento.
Não tenho dúvidas que alcançar uma idade avançada em
condições saudáveis, em todos os aspectos que a envolvem, nos

227
caracterizar-nos-ia como verdadeiros sobreviventes deste processo
inevitável e, na maioria das vezes, também muito cruel, quando nos
impõem sofrimentos incomensuráveis de todas as ordens: não somos
apenas candidatos para tal momento, mais sim somos eleitos com
cem por cento dos votos válidos para o envelhecimento.
Essa é a lei da natureza e por isso envelhecer é natural. Ou o
envelhecimento seria apenas uma espécie de marca palpável para uns
e característica indecifrável para outros, como sendo, por exemplo, o
beijo dado em nosso rosto pelo próprio tempo. Quem manda mesmo
neste negócio é o implacável tempo.
Ademais, não conseguimos congelar o tempo para estudá-lo de
forma estática ou ainda acelerá-lo a tal ponto que ele possa regredir.
Quanto a isso, somos minúsculas e frágeis criaturas que procu-
ram na cartografia do corpo e no bordado da alma as soluções para
nossos problemas. Somos aprendizes, quando falamos do relógio
transformador do corpo e da alma: o envelhecimento humano.
Entretanto, esse aspecto não precisamos mais discutir, ele está
dado. A questão é o como podemos protelar a nossa candidatura e se
somos candidatos como podemos enfrentar o processo inevitável do
envelhecimento com o menor custo possível? Esse é o X da questão,
o qual reside numa espécie de pedagogia do envelhecer.
Assim, o nosso objetivo neste pequeno texto é o de apresentar
alguns dos muitos aspectos que envolvem o envelhecimento humano
e que nos permitam entender peculiaridades das experiências de um
processo difícil de ser descrito dentro dos parâmetros universais da
lógica instrumental das ciências, as quais lidam apenas com a cons-
tatação e, sobretudo, com pressupostos positivo-empíricos.
Os estudos sobre a velhice precisam invariavelmente rumar para
os conhecimentos da complexidade, fundamentados numa cultura
do envelhecimento humano com sentidos pedagógicos.
A orientação da prática cotidiana burguesa de nossa época está
devendo uma resposta para esta questão: Qual seria o sentido de sua
própria experiência em envelhecer?

228
A resposta somente pode ser dada no contexto histórico, ponto
de referência da cultura do envelhecimento, perdida como sentido
de vida.
A perda de liberdade é, contrariamente, o retraimento da cultura
do envelhecimento e do espírito humano dentro do lado soterrado
do desenvolvimento da sociedade. Ambos, o envelhecer como a
experiência e o conceito do envelhecimento, foram direcionados
como produtos da sociedade do desperdício.
Do lado da prática cotidiana, observa-se tal aspecto a partir das
apostas de programas sociais para crianças e para velhos. No fundo,
ainda vigora com outras linhagens a filosofia econômica do século
XIX quanto à preparação de mão de obra e o descarte dela quando
superada.
Em outras palavras, a resposta à pergunta somente poderia
ser dada por intermédio do estudo dos custos sociais e culturais da
modernização.
Entendo que, se percebermos a questão nesta direção, nós po-
demos contribuir para a constituição de racionalidades a partir de
várias dimensões, cujo objetivo, no mínimo, possa ajudar a viabilizar
entendimentos e considerações diversos sobre a velhice e não apenas
a formulação de conclusões.
Envelhecer é natural: cuidar do envelhecimento é cultural. Nesse
sentido, cuidar do envelhecimento é retardar a estética da morte, pois
a sua fabricação já iniciou, onde o envelhecimento se torna um fóssil
da cultura da sociedade do desperdício. Para além deste aspecto,
surge a palavra do momento com toda ênfase, qual seja, a inovação,
que é exatamente aquilo que se entendia no passado recente como
validade social e acadêmica do conhecimento.

Envelhecer com o figurino da sociedade de desperdício

Esta é uma situação emblemática e um tanto óbvia num pri-


meiro olhar, pois a sociedade da cultura do desperdício já produziu

229
vários fósseis como os rebeldes, os velhos, as crianças, os moradores
de rua etc.
Esta fabricação da estética do sofrimento e da decadência – da
morte – começa a se instalar junto à origem da sociedade moderna e
se consolida na época do desperdício, durante a segunda metade do
século XIX, cuja representação externa e semântica mais cotidiana
é o que está decaído e envolto com a feiura. Estas são efetivamente
noções altamente carregadas de sentidos. A bela época e a época feia,
a era vitoriana e a era da derrota são as simbologias opostas da con-
solidação de uma semântica da exclusão.
Tais aspectos normalmente são exteriorizados a partir de im-
pulsos românticos e através da ação política aventureira. Podemos
perceber esta concepção na ideia de evolução que implica exatamente
a correlação de três conceitos como os de experiência, maturidade
e ordem.
Assim, podemos ver que a forte secularização excluiu da compo-
sição da sociedade exatamente aqueles aspectos vinculados de alguma
forma à imaginação e à paixão, ou seja, trata-se de uma exclusão
daqueles elementos que vão gradativamente perdendo energia e
contrários à evolução normal e linear do modelo natural.
Essa maneira de pensar poderia facilmente ser adotada no caso
do velho que também tende a diminuir de tamanho pela sua perda
de energia. Estas criaturas, humanos enfraquecidos, vivem na cons-
ciência de uma perda irreparável.
A perda irreparável do tempo presente faz com que esse humano
sinta nostalgia de um passado glorioso, porém que não existe mais
senão através dos mitos e da memória. A incapacidade de mudar
as coisas do mundo faz com que haja a experiência de um mundo
diminuído e a infelicidade de viver nele.
Portanto, tendo como ponto de partida as questões colocadas
nas considerações iniciais, podemos evidenciar as razões da crise
científica a partir dos diferentes entroncamentos produzidos pela
relatividade, da sociedade do conhecimento e de sua virtualidade e,

230
especialmente, da profunda incapacidade de compreensão do mundo
a partir da hibridização do conhecimento.
O envelhecimento como experiência individual somente pode
ser compreendido de forma externa, pois não podemos como pessoas
ou como cientistas, sentir as inúmeras características do processo do
envelhecer.
Podemos, então, encarar a pergunta a partir de uma composição
de fatores da noção Spätzeit (Moser, 1999, p. 33-54)1. Este autor
evidencia para a noção Spätzeit uma configuração semântica de cinco
elementos: a perda de energia, a decadência, a saturação cultural, a
secundarização e, finalmente, a posterioridade.
Para efeitos de compreensão do fenômeno do envelhecimento
humano, essa configuração semântica precisa ser somada a um con-
junto de aspectos conceituais de experiências (Diehl, 2016). Esta
experiência se configura a partir da relação de níveis diferentes, mas
interligados. Refiro-me aos aspectos conceituais sobre:
• as relações sociais, políticas e culturais que podemos chamar
de experiências público-privadas;
• as relações vinculadas aos sentimentos, denominadas de
experiências dos sentimentos de sofrimento;
• as relações de plenitude criativa, chamadas de experiências de
plenitude de sujeitos criativos (Diehl, 2016)2.
Então, munidos com as configurações semânticas de Moser
e a composição dos três níveis de experiência, podemos passar a
descrever algumas caraterísticas do que é a representação do en-
velhecer em uma sociedade de desperdício. Portanto, envelhecer
na contemporaneidade do tempo presente, a partir do sintoma da
perda de energia, significa literalmente chegar atrasado e, assim,
1 Não existe uma definição única para este conceito, no entanto ele pode significar,
conforme sua utilização, modernidade tardia, época tardia, tempo de decadência. É
uma noção que pode significar algo parecido com pós-modernidade ou tempo que
chega tarde. Para o autor não é uma conceito científico.
2 Desenvolvi esta configuração recentemente no X volume da Série Argonautas da
Subjetividade (2016).

231
prejudicado, pois este mundo é diminuído e desprovido de energia
criadora. Assim, o envelhecido – o velho – deveria se contentar com
as sobras e estar pronto para sonhar com o passado heroico. O que
lhe resta é a memória das grandes aventuras. É comum os velhos
afirmarem que o passado fora melhor do que os dias de seu presente.
Essa postura faz com que nós tenhamos dificuldades em distin-
guir imaginação, memória e história, pois elas se remetem aos mitos
de uma idade de ouro, de um paraíso perdido. Esta é a evidência de
que na evolução natural existe o processo seletivo.
Adaptado à sociedade, importa dizer que isso significa o pro-
cesso de exclusão de categorias e classes sociais, bem como de
elementos culturais, que podem inclusive produzir a xenofobia, no
caso específico do velho, daqueles que são improdutivos. Tornar-se
velho, diminuir de tamanho é gradativamente o sinônimo de enfra-
quecimento. No passado, tudo era maior, com o máximo de energia
possível e, portanto, glorioso.
Essa diminuição de tamanho e a correspondente fragilidade
implicam diretamente com os fatores das relações sociais, políticas
e culturais que podemos chamar de experiências público-privadas.
Assim, os que chegam depois estão prejudicados e desprovidos de
energia criadora. A ideia subjacente é que eles devem se contentar
com o que sobrou (Moser, 1999, p. 33-54).
Podemos pensar como essa ideia está vinculada com as relações
de trabalho, aposentadoria, saúde, Estado, instituições diversas etc.
Neste caso, restaria ao velho sonhar com o passado que também já
não existe mais.
Exatamente, a diminuição de tamanho e o sonhar com o passado
são o ponto de emergência do fator de desespero frente à grandeza
do que sobrou do passado, o que na maioria das vezes não passa de
fragmentos daquela força criadora. O desespero da velhice evidencia
o destino pelo processo de degradação e a inevitável decrepitude:
ser condenado pelo tempo. Sim, o agente desse processo é o tempo.

232
Nesse caso, podemos insistir na ideia de que a decrepitude
no destino do homem é menos ético-moral do que a da natureza.
Exatamente, este aspecto do envelhecimento como destino humano
o coloca no centro como categoria da história natural. Portanto, a
história humana encontrará seu sentido no modo de representação
da ruína, da coisa decaída. A história humana assume então a forma
de alegoria (Moser, 1999, p. 33-54).
No início deste texto, evidenciei que a bela época e a época feia, a
era vitoriana e a era da derrota são as simbologias opostas da consoli-
dação de uma semântica da exclusão. É, portanto, o estabelecimento
do imaginário da degradação humana e histórica do surgimento do
velho como objeto de estudos3.
Moser, no texto que estamos tomando como o nosso apoio,
investe no conceito de saturação cultural como o terceiro ponto
semântico para descrever e entender as modernidades tardias.
Assim, segundo o autor a degradação produz escombros, deje-
tos e ruínas. São exatamente estes restos que elaboram e compõem
esta época. Os restos irrompem do passado no presente na forma
de destroços, impondo-se na paisagem ou cena contemporânea. O
nosso presente é entendido como o espaço de descarga dos restos do
passado de todos os tempos. Estamos acumulando ou mesmo empi-
lhando objetos de culturas e épocas diferentes numa heterogeneidade.
Então, segundo Moser, o espaço cultural é de saturação de
objetos legados pelos ancestrais. Assim, os que nasceram por último
estão num mundo mais pleno ou mais saturado.
A saturação cultural poderia facilmente ser entendida como
um mundo de total desespero muito próximo daquilo que Max
Weber denominou de gaiola de ferro da submissão. O que eu, figura
diminuída, poderia fazer frente à saturação: tudo já foi dito, feito e
3 Vejo este aspecto muito próximo e mesmo vinculado com o início da psicanálise e os
estudos de Freud sobre o sonho, com as representações alegóricas. Aliás, este tema é
recorrente no século XX, nos estudos de Walter Benjamin sobre a memória ou mesmo
de Adorno e Hannah Arend nos estudos sobre o nazi-fascismo.

233
discursado e assim por diante4. O que eu estou fazendo aqui? Moser
chama atenção para a saturação, que provoca dois tipos de reações:
uma atitude negativa ou outra positiva.
Na atitude negativa, a saturação aparece como obstáculo à pro-
dução cultural. A situação de saturação é entendida como estorvo,
quando se fica paralisado com esse excesso de objetos vindos do
passado. A atitude pode ser de perplexidade, especialmente se existe
a aspiração ou valores para a novidade, a originalidade e a autenti-
cidade. O que resta? Resta apenas a fuga ao passado em direção ao
primitivo. Este gesto indica o seu desejo de se situar num momento
original de gênese.
Na atitude positiva, a saturação cultural é reconhecida como
situação ou fase nova de produção de sentidos. Nesse momento,
percebe-se mais a plenitude do que o excesso de elementos. A ple-
nitude como uma fonte inesgotável de criação5. Isso é válido desde
que se aceite criar a partir daquele excesso de objetos. Aquilo que
está cortado, fragmentado em destroços, está cheio de significados.
Então, o destroço não funciona como obstáculo para a criação, mas
como um recurso indispensável e como material para a reutilização:
a criação secundária.
O quarto elemento semântico proposto por Moser é a secun-
dariedade, cuja produção e debate têm sua atualidade, especialmente
através do esforço de teorizar o intertexto, a metaficção e a meta-
narrativa.
Moser apresenta esse elemento a partir de três formas de pen-
samento. A primeira combina aspectos da temporalidade e repetição.
Isso significa que é secundário o fenômeno que se repete de maneira
4 Eu imagino que aqui não teríamos muitas dificuldades em inserir o tema da mobilidade
de comunicações, especialmente em relação à quantidade de aplicativos que podem
ser baixados, os quais podem nos dar a sensação de saturação ou mesmo de poluição
tecnológica.
5 Nesse caso, a arquitetura urbana pode ser um exemplo, quando os estilos, os materiais
e mesmo as épocas se misturam. Não há a obrigatoriedade da exclusão, pelo contrário.

234
mais fraca ou mesmo deformada. É o fenômeno que aparece tardio
em relação a um primeiro aparecimento.
A segunda forma envereda para a lógica da teoria dos sistemas,
quando é secundário aquilo que é lançado à margem do sistema. O
argumento de elas serem lançadas à margem está no fato de serem
obstáculo às tendências principais do sistema, chamadas primárias
do centro do sistema. Dessa maneira, segundo a teoria, a evolução
exclusiva de tendência primária de um sistema é dos elementos
secundários que o sistema pode tirar oportunidades e mesmo a sua
sobrevivência através da forma de revitalização. Então, é a desordem
dos elementos secundários de um sistema que o salva da inanição e
mesmo da morte.
A terceira forma é de natureza estrutural. Este aspecto é mais
facilmente encontrado na literatura como um conjunto de enunciados
de cenários primários de uma sociedade. Em outras palavras é a
estrutura da produção narrativa e estética. Nesse sentido, a secun-
dariedade serve para designar um modo de produção cultural que
trabalha a partir de um pré-conceito cultural. Segundo o autor, isso
leva à implosão de oposições como produção-reprodução, original-
-cópia. É exatamente isso que fornece os materiais para a próxima
criação. Está evidente para Moser que essa terceira forma gera
reações e críticas, afirmando que esta maneira de produção significa
reciclagem, fagocitose, canibalismo cultural ou mesmo pastiche. A
crítica pode encaminhar para a falta de originalidade ou ausência de
uma crítica. Este fato remeteria ao esgotamento cultural.
O quinto elemento semântico é denominado posterioridade,
o qual deixa explícito um forte componente temporal. Indica que
vem depois de alguma coisa que o teria precedido, mas que não é
determinado. Sugere exatamente chegar depois, a idade de chegada.
Contudo, não significa uma época específica da história, mas
uma tipologia que se repete em cada ciclo, uma maneira de ser no
tempo, parece deslocada. Podemos firmar isso na relação de descen-
dência patrilinear: pai-filho. Os filhos por terem chegado depois dos
pais estão numa situação de fraqueza e de esgotamento. Primeiro,

235
os filhos querem vingar os pais, mas em seguida reúnem forças para
combater os pais6.

Considerações finais: outra forma de entendimento

O envelhecimento humano, como processo, é geral e estatístico.


Contudo, a experiência de envelhecer é eminentemente particular.
A experiência de cada pessoa escapa de todo e qualquer quadro
de generalização, assim como acontece com a dor, o sofrimento e
mesmo com as formas de sensibilidade, pois elas se configuram e se
dimensionam em graus variados.
Nesse caso, vale a seguinte máxima: combate-se a uniformidade
e as verdades absolutas ou, ainda, a única verdade que temos é a
da mudança.
As ciências, de forma geral, passaram nos últimos anos por
mudanças profundas nas suas estruturas em termos de conteúdos
abordados, de referenciais teóricos, de perspectivas metodológicas
e de validade científica e social7.
Não deveríamos nos assustar com esse fato, pois tais mudanças
estruturais no conhecimento fazem parte da própria dinâmica cien-
tífica, pelo menos nos últimos quinhentos anos de desenvolvimento.
Essas mudanças profundas alcançaram até mesmo as referên-
cias epistemológicas e as estéticas de apresentação do conhecimento
científico.
De uma estética clássica – moderna, linear, dedutiva, progres-
siva e cumulativa, carregada de positividade, de verdades absolutas
6 Este aspecto é muito interessante especialmente quando os filhos fazem o contrário,
na medida em que há a infantilização do idoso – fazem tudo no diminutivo. Até certo
momento da história, as crianças eram entendidas e vestidas como adultos – adultos
em miniatura.
7 Fortes indícios já estão presentes nos anos de 1980 quanto à validade científica e social
do conhecimento produzido na universidade. Ver DIEHL, Astor Antônio. Ciência,
política e universidade. Passo Fundo: Clio, 2001.

236
e objetivas, dos modelos explicativos e simétricos – passou-se para
um conhecimento inacabado, precário e em construção, cujo ponto
central é a complexidade.
Assim, na simetria clássica, o que uniria as experiências tão
distintas e particulares das pessoas seria a ideia de alcançar o futuro,
não o futuro em si, mas o controle sobre o caminho para se chegar
a um futuro moderno.
Esta estrutura moderna do conhecimento e num outro grau
da ciência, com função integradora, pressupõe a morte do sujeito.
Entretanto, os questionamentos dos limites da moderna ciência
como sendo ela uma teoria final do desenvolvimento humano e social,
ampliaram o horizonte científico para uma estética, digamos, barroca,
a da complexidade indutiva e compreensiva. Parte-se, então, para
um conhecimento não linear, precário e inconcluso.
Uma ciência das falhas e (com) imperfeições se apresenta agora
com as verdades precárias, carregadas de assimetrias, sem limites
estabelecidos pela positividade empírica, cujo paladar é aferido pelo
atual relativismo, para alguns e, por outros, até mesmo pelo ceticismo
científico. Todavia, trata-se de uma ciência da vida com todos os as-
pectos éticos que a envolve8. Contudo, a questão de difícil resolução
é a forma de como trabalhar esta ciência – uma hermenêutica do
sujeito – sem perder sua validade e, sobretudo, a interdisciplinaridade.
Nesse sentido, há uma possível forma de entendimento?
Por se tratar de uma ciência da vida, ela está inoculada de ele-
mentos assimétricos, de imperfeições que facilmente escapam das
redes metodológicas e das teorizações comumente aplicadas e utili-
zadas nos estudos sobre o envelhecer e o envelhecimento humano.
Isso significa que nós precisamos buscar uma base diferenciada para
sua validade científica e sustentabilidade social, mas que também
tenha elementos de inovação.
8 Este não é o momento para esta discussão, mas vale lembrar as questões que tal ciência
da vida necessariamente envolve, como, por exemplo, a distanásia e a eutanásia.

237
Esse aspecto reserva para a área das humanidades a necessária
tarefa de humanizar as ciências humanas dentro do princípio da cultura
científica humanizadora.

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240
Capítulo 18
Melatonina:
uma substância terapêutica

Mariana da Silva Formigheri


Telma Elita Bertolin

Introdução

A melatonina é um neuro-hormônio secretado principalmente


pela glândula pineal. Em humanos, tem como principal função re-
gular o sono. No entanto, para além de um hormônio do sono, essa
substância vem sendo relacionada a ações antioxidantes, na recupe-
ração de neurónios afetados pelas doenças crônicas, como diabetes,
Alzheimer, Parkinson, em episódios de isquemia, no tratamento da
epilepsia, da inflamação, tendo ênfase também nas síndromes de
dor, enxaqueca. No processo do envelhecimento humano, os ritmos
biológicos circadianos sofrem alterações pela atenuação da síntese
da melatonina. Esse evento biológico pode afetar não só a qualidade
do sono como também desencadear outras situações geradoras de
doenças.
O presente trabalho analisa o uso da melatonina como substancia
terapêutica para a regulação do sono, e como reparador em diferentes
situações patológicas.

241
A melatonina, é o principal hormônio sintetizado pela glândula
pineal dos seres humanos (Axelrod, 1974, p.1341).

Figura 1 – Glândula pineal.

Descoberta em 1958 pelo dermatologista Aaron Lerner, a me-


latonina é sintetizada a partir da serotonina, dependendo de uma
série de reações, que incluem a conversão do triptofano em hidroxi-
triptofano, após em serotonina e em seguida em N-acetil serotonina.
Por fim, ocorre a conversão da N-acetil serotonina em melatonina
(Claustrat; Brun; Chazot, 2005, p. 11).
A secreção da melatonina ocorre principalmente à noite, ini-
ciando-se cerca de 2 horas antes do horário habitual de dormir,
e atingindo níveis plasmáticos máximos entre 3:00 e 4:00 horas,
variando de acordo com o indivíduo. Depois de secretada, distribui-
-se por vários tecidos corporais (Lack; Wright, 2007, p. 1205).
Como a melatonina possui a característica de possuir alta so-
lubilidade em lipídeos, sua passagem é facilitada através das mem-
branas celulares, atravessando inclusive a barreira hematoencefálica
(Claustrat; Brun; Chazot, 2005, p. 11).
As taxas noturnas variam entre 10-80­g, sendo estes os menores
valores já detectados para a secreção de um hormônio. Seus níveis
plasmáticos possuem grande heterogeneidade entre diferentes indi-

242
víduos, porém costumam ser constantes em um mesmo indivíduo,
representando um dos ritmos circadianos humanos mais marcantes
(Geoffriau; Claustrat; Veldhuis, 1999, p. 139).

Triptofano Capilar

Triptofano

Luz

Hidroxitriptofano

Luz

HO
CH2 CH2 NH2

N
5-hidroxitriptamina
(Serotonina)

N-acetiltransferase
Escuro
(NAT)
Pinealócito

HO
CH2 CH2 NH2 C CH3

O
N
N-acetilserotonin2

Hidroxindol-O-
metiltransferase
(HIOMT)

CH3O
CH2 CH2 NH2 C CH3

O
N

N-acetil-metoxitriptamina
(melatonina)

Melatonina Capilar

Figura 2 – Biossíntese da melatonina. A síntese da hidroxitriptamina a partir


do triptofano está estimulada pela luz, no entando a atividade da enzima
N-acetiltransferase (NAT) é estimulada pelo escuro.
Fonte: MAGANHIN, 2008.

243
A luz é o fator ambiental mais importante para a regulação da
síntese de melatonina e também responsável pelo ritmo circadiano
de sua secreção. Tal ritmo é gerado no núcleo supraquiasmático do
hipotálamo que atua como um oscilador circadiano endógeno, pois
estudos demonstraram que, quando isolado de outras estruturas do
encéfalo, seus neurônios mantêm o ritmo circadiano (Zee; Man-
thena, 2007, p.1).
A luz possui uma ação inibitória sobre a glândula pineal, pois
os impulsos luminosos excitam os neurônios da retina, que fazem
conexão com o núcleo supraquiasmático através do trato retinohipo-
talâmico. Do núcleo supraquiasmático, partem projeções gabaérgicas
inibitórias para o núcleo paraventricular, onde conexões da porção
subparaventricular se ligam ao núcleo dorso medial do hipotálamo,
controlando ritmos circadianos relacionados com sono-vigília, ativida-
de locomotora, alimentação e síntese de corticosteroides (Gaggioni
et al., 2014, p.1, Daneaut et al., 2016, p.1).
Assim, no período de luz, o núcleo supraquiasmático está ativo
e, graças à sua ação inibitória gabaérgica sobre o núcleo paraventri-
cular, não há estimulação noradrenérgica da pineal, enquanto que
na fase escura o núcleo supraquiasmático está inativo e, portanto, há
ativação da pineal (Liira et al., 2014, p.1).
O escuro inibe a produção de melatonina, de forma aguda.
Sendo assim, intensidades moderadas de luz, como as do interior de
residências, são capazes de causar inibição da produção de melato-
nina em humanos. Repetidas exposições à luz não inibem a secreção
de melatonina, mas causam o atraso de sua liberação (Liira et al.,
2014, p.1).
Diante disso, a glândula pineal, constitui parte importante do
sistema neuroendócrino, responsável pela organização temporal dos
diversos eventos fisiológicos e comportamentais (Grima et al.,
2016, p.4). Sendo assim, essa glândula é de suma importância para
a adaptação do indivíduo às flutuações temporais do meio ambiente,
regulação do ciclo sono-vigília, regulação do sistema imunológico,

244
regulação cardiovascular, bem como no sistema genital (Grima et
al., 2016, p.4).
Além disso, a melatonina influencia o ritmo de vários outros
processos fisiológicos durante a noite, sendo que a digestão se torna
mais lenta, a temperatura corporal cai, o ritmo cardíaco e a pressão
sanguínea diminuem e o sistema imunológico é estimulado. Também
parece ser capaz de aumentar a mobilidade e a atividade das células
de defesa, estimular a formação dos anticorpos e facilitar a defesa
contra os microrganismos (Danilov; Kurganova, 2016, p.4).
A produção e a importância da melatonina variam de forma
importante ao longo da vida, sendo que a maior concentração de
melatonina ocorre durante a infância, caindo rapidamente antes do
início da puberdade e sofrendo nova queda acentuada durante a
senectude (Grima et al., 2016, p. 3).
Dessa forma, a melatonina teria papel importante durante o ciclo
da vida, bem como no processo de envelhecimento.
Entre as várias ações da melatonina já comprovadas cientifi-
camente, destacam-se: imunomodulatória, agindo sobre linfócitos,
citocinas, entre outros; antiinflamatória, inibindo prostaglandinas e
regulando a COX-2; antitumoral, inibindo mitoses e suprimindo a
recaptação do ácido linoléico, regulando assim receptores de estro-
gênio; antioxidante, regulando pró-oxidantes envolvidos na síntese
do óxido nítrico e lipoxigenases; cronobiológica e síndrome da dor
(Mayo et al., 2005, p. 4, Skene, 2005, p. 25).
Arendt e Skene (2005) definem que a melatonina é um crono-
biótico, substância que, sincroniza os ritmos biológicos intrínsecos,
sendo que quando a melatonina é secretada em horários diferentes
do fisiológico, ocorre aumento da sonolência e diminuição da tem-
peratura corporal.
Muitos efeitos biológicos da melatonina a caracterizam como
uma possível candidata à fisiopatologia ao tratamento da enxaqueca,
na qual os níveis são diminuídos de melatonina, tendo sido encon-
trada alteração na sua curva de secreção foram detectados. Clini-

245
camente, as crises podem ocorrer à noite, e mudanças de ritmo de
sono desencadeiam crises de enxaqueca, sendo que estes pacientes
com enxaqueca dormem menos, têm latência de sono maior e mais
despertares noturnos (Peres, 2005, p. 218).
Recentemente, estudos mostram que a melatonina (3mg/dia)
foi eficaz na prevenção da enxaqueca. E um outro estudo, este com
duzentos pacientes com enxaqueca episódica e crônica, revelou que os
que mudaram seu horário de sono, ou realizaram viagens cruzando
fusos horários, relataram piora das crises (Peres et al., 2009, p. 757).
Um estudo duplo-cego controlado com placebo mostrou que a
melatonina foi superior ao placebo em cefaléia, em salvas episódica
e crônica, onde os níveis de melatonina encontravam-se diminuídos
em pacientes com cefaleia (Peres, 2000, p. 147).
Noutro estudo, demonstrou-se que cefaléia após o trabalho em
turno trocado correlacionou-se com fadiga e queixas de memória.
Cefaléia após viagens cruzando fusos horários correlacionou-se com
queixas de concentração e memória. A fase de sono esteve significa-
tivamente atrasada, sendo que 108 pacientes (54%) mudaram-na. A
maioria dos pacientes (75,69%) atrasou, enquanto 33 (31%) avan-
çaram a fase de sono. Houve ainda atrasos ou avanços maiores, que
representaram 12,5% dos pacientes (Peres, 2003, p. 470).
A melatonina mostra ação antiepiléptica tanto em modelos
experimentais quanto em humanos, com provável mecanismo ga-
baérgico (Peres, 2004, p.218). Em pacientes com demência, o
aparecimento de agitação no final do dia vem sendo tratado com
sucesso com melatonina. Os níveis anormais de melatonina podem
aparecer já na fase pré-clínica, sendo que em modelos experimentais
de Alzheimer, observou-se aumento da sobrevida e diminuição das
lesões patológicas (Mccleery; Cohen; Sharpley, 2014, p. 1).
A melatonina tem potente ação varredora de radicais livres, tendo
importância como substância neuroprotetora (Peres, 2004, p. 218).
Em modelos experimentais de isquemia, houve redução da
área afetada com a administração do hormônio, além de propiciar

246
diminuição do edema, melhor recuperação de déficits neurológicos
(Peres, 2004, p. 218).
Ocorre também no acidente vascular cerebral uma variação
sazonal e circadiana dos eventos, sendo que a melatonina modula
a ação da dopamina, inibindo a sua liberação, e assim interfere po-
tencialmente em distúrbios do movimento (Peres, 2004, p. 218).
Há também estudos mostrando alterações dos níveis de mela-
tonina em doença de Parkinson, com benefício em discinesia tardia.
Devido à sua ação neuroprotetora pode inclusive atuar como adju-
vante no tratamento da doença de Parkinson (Peres, 2004, p. 218).
Em relação aos efeitos da melatonina no metabolismo da glico-
se, alguns resultados contraditórios têm sido relatados, o que está
diretamente interligado a diferenças na dose, período de tratamento,
e os animais experimentais utilizados nos estudos (Nishida, 2005,
p. 131; Peschke, 2008, p. 26)
Sob estimulação da insulina e melatonina desencadeiam-se
cadeias de reações que promovem o transporte de glicose, a síntese
de glicogênio, e a inibição de lipólise, controlando o peso corporal
e o metabolismo da glicose (HA et al., 2006, p. 67)
A administração de melatonina, com um modelo experimental
usando ratos, possuindo diabetes, melhorou os níveis sanguíneos de
gordura neutra, de ácidos gordos livres, e colesterol total (Nishida
et al., 2002, p. 26).
Por outro lado, a pinealectomia em resistência aumentada à in-
sulina e à hiperinsulinemia induzida podem acelerar a progressão da
doença em ratos diabéticos de tipo 2 (Nishida et al., 2003, p. 251).
Estes dados em animais estudados indicam que a melatonina
melhora a resistência à insulina. A administração a longo prazo de
melatonina para os seres humanos e animais experimentais reduz o
colesterol no sangue e no fígado, assim como os níveis de coleste-
rol LDL. Estes efeitos são extremamente observados em modelos
animais experimentais com hipercolesterolemia, em animais de meia
idade e senis e em modelos animais experimentais com diabetes, mas

247
isso é raramente observado em ratos jovens saudáveis (Hussain,
2007, p. 267).
Por sua vez, o tratamento de mulheres peri e pós-menopáusicas
com melatonina aumentou o colesterol HDL (Tamura et al.,
2008, p. 101). Sendo assim, estes dados demonstram, em geral,
que a melatonina pode afetar beneficamente o metabolismo lipídico.
Estudos experimentais demonstraram os efeitos anti-tumorais
de melatonina em diferentes tipos de tecidos. A melatonina inibiu a
formação de focos de criptas aberrantes induzidas por azoximetano
no cólon de ratos (Weisburger et al., 2004, p. 234).
A melatonina inibiu células cancerígenas da próstata com um
aumento da produção de dihidrotestosterona (Kobayashi et al.,
2003, p. 232)
Numa linha celular de cancro do útero corpo estrogénio-positiva,
a melatonina intensificou significativamente o efeito anti-tumoral de
paclitaxel, que é mediada pelo receptor de melatonina e envolve a
expressão do receptor estrogênio (Watanabe et al., 2008, p. 567).
Em células de cancro da mama, a melatonina inibiu a expressão
de genes relacionados com o cancro que respondem ao estrogênio
(Girgert et al., 2009, p. 23). Espera-se que o uso combinado de
melatonina e uma variedade de terapias anti-cancro possam trazer
uma eficácia adicional a este tratamento.
Os pacientes com demência, como a de Alzheimer desenvolvem
distúrbios do ritmo circadiano, e, além disso, delírio noturno, em que
eles não dormem, tendo excitação, alucinação, ou delírio durante a
noite (Mccleery; Cohen; Sharpley, 2014, p. 1).
O sono de tais pacientes é caracterizado por distúrbio continuado
do sono (aumento da frequência de excitação durante o sono), bem
como a diminuição da quantidade de sono profundo e sono REM
(Liira et al. 2014, p. 13).
Espera-se que a terapia de melatonina seja eficaz na melhoria do
sono e perturbações resultantes da doença de Alzheimer (Danilov,
2016, p. 4; Mccleery; Cohen; Sharpley, 2014, p. 3). Alguns

248
pesquisadores têm relatado que a musicoterapia aumenta a secreção
de melatonina, e a terapia com luz estimula a secreção de melatonina
em pacientes com doença de Alzheimer (Danilov, 2016, p.1).
As investigações clínicas de terapia de melatonina em pacientes
idosos têm demonstrado um efeito de relaxamento e a melhoria do
humor deprimido e memória (Zhdanova et al., 2001, p. 4727).
Por outro lado, em pacientes com perturbações do sono resultantes
da demência, certas variedades de alterações são anotadas em ritmos
circadianos devido ao envelhecimento e degeneração dos nervos e,
consequentemente, a reposição desfavorável de melatonina em alguns
pacientes (Haffmans et al., 2001, p. 106).
Em modelos animais experimentais, as reduções relacionadas à
idade na secreção de melatonina podem induzir hiperfosforilação de
fibras nervosas e, assim, contribuir para o desenvolvimento da dege-
neração de fibras nervosas. Um estudo relatou que a administração
de melatonina exercia um efeito antioxidante, e, além disso, inibiu
a acumulação de fibras -amilóide (Cheng et al., 2006, p.129).
As ações de proteção da melatonina, neste contexto, são relacio-
nadas à sua função primordial que é de contribuir com a regulação
do ritmo do ciclo circadiano, com a normalização do sono. Essa
função, fundamenta a proteção para as diferentes doenças crônicas.

Considerações finais

Os efeitos da melatonina, ainda estão sendo pesquisados. Alguns


ainda permanecem em discussão, enquanto outros são sem dúvida
bastante elucidados. Dentre esses, estão o efeito cronobiótico, que
respalda os ciclos circadianos, normalizando o sono; o efeito anal-
gésico da melatonina, atuando principalmente na dor da enxaque-
ca, e ainda sua função reparadora nas doenças crônicas, tais como
Alzheimer e Parkinson.

249
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253
254
Capítulo 19
Gestão de tecnologias
em saúde e avaliação da
qualidade de vida
no envelhecimento

Flávia Fernanda Cunha Casamali


Eidimara Ferreira
Silvana Alba Scortegagna

Introdução

O desenvolvimento, a incorporação e a utilização de tecnologias


nos sistemas de saúde, bem como a sua sustentabilidade estão inse-
ridos em contextos sociais e econômicos, que derivam da contínua
produção e do consumo de bens e produtos. Após a Segunda Guerra
Mundial, o acentuado desenvolvimento científico e tecnológico con-
tribuiu para que o complexo econômico da saúde se constituísse em
um dos setores de maior desenvolvimento, ao mesmo tempo em que
a saúde dos indivíduos e das populações passou a ser considerada
como um direito a ser preservado, contribuindo para a expansão dos
sistemas de saúde e da medicalização das sociedades (Brasil, 2010).
Os sistemas de saúde dos diferentes países apresentam grande
diversidade no que concerne às decisões sobre incorporação de tec-

255
nologias e às expectativas dos usuários dos serviços. Escolhas difíceis
são enfrentadas por gestores em todos os níveis do sistema de saúde.
A descentralização redistribui o poder e a responsabilidade entre os
diferentes níveis de gestão que passam a decidir, em cada instância,
sobre questões ligadas à regulamentação do setor e à alocação dos
recursos disponíveis.
Nessa perspectiva, a incorporação de uma tecnologia no setor
saúde é regulamentada por diferentes atores. Os órgãos da admi-
nistração direta desempenham papel estratégico na incorporação
de tecnologias relacionadas às políticas de prevenção, ao controle e
à vigilância em saúde, à atenção primária, secundária e terciária, à
assistência farmacêutica, à atenção a grupos populacionais específicos
e vulneráveis. Geralmente, são estabelecidos grupos assessores para
auxiliar na elaboração de diretrizes para assistências e no processo
decisório sobre o emprego de tecnologias em saúde (Dawalibi;
Goulart; Prearo, 2014).
Para o gestor, que precisa decidir sobre a alocação de recursos
limitados frente a uma demanda cada vez maior de intervenções, o
problema não se resolve apenas com a identificação dos benefícios
ao paciente, pois é necessário, também, identificar ao menos o
custo da intervenção. Uma distribuição de recursos, atendendo a
princípios de equidade, deveria considerar: quem iria se beneficiar;
quem arcaria com os custos envolvidos e, inevitavelmente, quem
ficaria sem cobertura para seu problema de saúde. Paralelamente ao
movimento anterior, os economistas da área da saúde desenvolvem
métodos sistemáticos de associar efetividade e eficiência, incluindo a
variável custo no processo de decisão e tornando explícita a alocação
de recursos limitados (Kovaleski; Freitas, 2015).
Ao se ponderar sobre a gestão em saúde e a avaliação da quali-
dade de vida de forma ampliada, torna-se imperativa a mudança no
contexto atual, a afim de auxiliar na constituição de um ambiente
social e cultural favorável para o envelhecimento saudável. Nesse
contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar o processo de
gestão de tecnologias em saúde e a qualidade de vida no processo de

256
envelhecimento. Além de uma breve introdução, esta revisão teórica
baseada na literatura empírica vigente, discorre sobre as seguintes
temáticas: o processo de gestão de tecnologias em saúde, os desafios
na gestão da saúde do idoso e a avaliação da qualidade de vida.

O processo de gestão de tecnologias em saúde

O processo de gestão de tecnologias em saúde implica uma


reflexão sobre o princípio da equidade agregado à regionalização,
uma diretriz do SUS, um eixo estruturante do Pacto pela Vida em
defesa do SUS. Assim, define-se gestão de tecnologias em saúde
como o conjunto de atividades gestoras relacionado aos processos
de avaliação, incorporação, difusão, gerenciamento da utilização e
retirada de tecnologias do sistema de saúde. Esse processo deve ter
como referenciais as necessidades de saúde, o orçamento público,
as responsabilidades dos três níveis de governo e do controle social,
além dos princípios de equidade, universalidade e integralidade que
fundamentam a atenção à saúde no Brasil (Lazzarotto et al.,
2008).
O processo de inovação tecnológica começa com a invenção de
um novo produto, processo, ou prática e se encerra por ocasião da
primeira utilização prática. Entre esses dois marcos, há, usualmente,
alguma forma de avaliação econômica (custos de produção) e, ainda,
testes com voluntários para avaliar benefícios e riscos da nova tecno-
logia. Porém, as avaliações realizadas nessa etapa geralmente têm uma
capacidade limitada de quantificar os impactos que serão observados
após a difusão da tecnologia. O conhecimento dos efeitos decorrentes
da utilização rotineira das tecnologias em saúde é fundamental, já que
é nessa fase que os benefícios à saúde serão obtidos, recursos críticos
serão dispendidos e efeitos adversos poderão ser detectados. Cada
tipo de delineamento está sujeito a diversos fatores que podem afetar
a validade do estudo (vieses ou tendenciosidades), motivo pelo qual

257
esforços devem ser dispensados para controlá-los na maior extensão
possível (Dawalibi; Goulart; Prearo, 2014).
Uma avaliação de tecnologias é orientada ao problema quando
tem por objetivo questões sobre a melhor maneira de gerenciar um
problema clínico ou de saúde, como, por exemplo, utilizar um novo
tratamento ou estabelecer um programa para a prevenção da obe-
sidade mórbida. Esse tipo de orientação é típico de uma avaliação
destinada à elaboração de uma diretriz clínica, também conhecida
como guia de conduta clínica (do inglês, guidelines) (Nogueira
et al., 2014).
A ênfase de qualquer avaliação de tecnologias frequentemen-
te reflete as necessidades ou os objetivos particulares do ator que
conduz ou financia a avaliação. Agências regulatórias nacionais
podem demandar avaliações para garantir a segurança e a eficácia de
tecnologias em saúde para a sociedade como um todo. Hospitais e
outras instituições de atenção à saúde avaliam tecnologias para obter
informações que apoiem os processos de aquisição, investimento e de
decisões relacionadas ao gerenciamento de tecnologias. Associações
profissionais precisam de avaliações para apoiá-las na decisão sobre
os cuidados com pacientes. Companhias de seguros conduzem estu-
dos de avaliação para apoiar a decisão sobre cobertura e reembolso
de procedimentos etc. Cada ator apresenta uma perspectiva própria
sobre o processo avaliativo, a qual refletirá sobre a estrutura e os
resultados desta. Os custos e benefícios que serão calculados e/ou
estimados dependem, em muitos casos, da perspectiva dos avaliadores
(Kovaleski; Freitas, 2015).
Considerações de ordem moral estão, implícita ou explicitamente,
associadas ao desenvolvimento e ao uso de tecnologias de atenção à
saúde. Juízos de valores são inerentes quando se determina os efeitos
do uso das tecnologias, uma vez que a identificação e interpretação
do que constitui benefícios ou prejuízos não são questões meramente
técnicas. Nesse contexto, problemas de ordem moral podem ser
gerados pelas tecnologias (exemplo: tecnologias que prolongam a
vida). Finalmente, juízos de valor são inerentes no estabelecimento

258
de prioridades e alocação de recursos (Dawalibi; Goulart;
Prearo, 2014).
Compilar a evidência para uma avaliação pode envolver a coleta
de dados primários. Em princípio, um programa avaliativo pode
determinar que a evidência existente é insuficiente para prover as
informações necessárias à formulação de política, e que novos estu-
dos são necessários para gerar dados para aspectos particulares da
avaliação. Certamente, esse pode ser um processo interativo. Uma
vez disponíveis, os novos dados são interpretados e sintetizados com
o corpo existente de evidências. Na prática, a capacidade da maior
parte dos programas de avaliação para empreender novos levanta-
mentos de dados, particularmente os ensaios clínicos, é limitada por
fatores como orçamento e tempo, impossibilidade de conduzir ou
financiar estudos clínicos e outros aspectos como o papel ou a missão
do programa (Nogueira et al., 2014).
Extrair os achados substanciais da evidência científica a partir
dos diferentes delineamentos de estudos com qualidade variada
constitui um desafio para toda a ATS. Os avaliadores devem usar
um enfoque sistemático para avaliar criticamente a qualidade dos
estudos disponíveis, o que requer conhecimento de epidemiologia e
estatística. Em geral, a interpretação da evidência envolve a seleção
e a classificação dela e dos estudos e da evidência.
Existem outras propostas para se avaliar a qualidade de estudos
individuais para os diversos tipos de delineamento de investigações.
Também há diversos enfoques de como usar estudos individuais, no
caso de avaliação de tecnologias: usar todos os estudos; incluir ou
excluir com base no tipo de delineamento ou qualidade do estudo;
ponderar acerca da qualidade relativa, e realizar ajustes nos resultados
dos estudos para compensar suas tendenciosidades. Cada método
apresenta vantagens e desvantagens. É importante que a avaliação
documente em seu relatório os critérios e os procedimentos utili-
zados para selecionar os estudos e como foram trabalhados os seus
resultados (Lorenzin, L. R. et al., 2015, p. 84).

259
Sintetizar a evidência tem sido o passo que mais destaque rece-
beu em termos de desenvolvimento ou incorporação de métodos já
existentes em diferentes áreas do conhecimento, como epidemiologia,
psicologia, economia, pesquisa operacional, ciências exatas, teoria da
decisão, entre outras. Apenas alguns dos principais métodos usados
em ATS serão, brevemente, apresentados para efeito de ilustração.
Alguns buscam sintetizar a informação de apenas um atributo (revisão
sistemática), outros podem considerar duas dimensões (análise custo
efetividade) e outros, ainda, múltiplas dimensões (opiniões de espe-
cialistas e modelagem matemática) (Kovaleski; Freitas, 2015).
Os processos de interpretar e sintetizar a evidência ajudam o
grupo avaliador a determinar a adequabilidade da evidência para
responder aos aspectos do problema a ser avaliado. Assim, os usuários
das recomendações apresentadas em uma ATS devem entender as
bases para as recomendações e identificar com que grau de confiança
essas foram estabelecidas. Muitas vezes, os leitores tendem a ter a
impressão equivocada de que todas as recomendações apresentadas
em um relatório de avaliação são igualmente válidas e mandatórias,
mas isso não é verdadeiro. Para facilitar o entendimento dos leitores,
alguns autores têm sugerido esquemas de classificação da força da
recomendação associada à qualidade da evidência.
Medir o impacto de uma avaliação pode ser considerado tanto
uma tarefa elementar quanto impossível, uma vez que associar as
mudanças eventualmente observadas às recomendações da avaliação
torna-se difícil em função de fatores concorrentes: marketing do
produto, mudanças no sistema de reembolso etc. Além disso, vários
fatores podem afetar o impacto da avaliação, como técnica de disse-
minação, grupo-alvo, ambiente, qualidade do relatório. Tentativas
sistemáticas de monitorar o impacto das recomendações são, ainda,
pouco frequentes, apesar da crescente ênfase que os órgãos gover-
namentais, as seguradoras de saúde e os consórcios internacionais
de agências têm atribuído ao assunto. A demonstração de eficácia e
segurança é uma condição para a aprovação e a comercialização de
medicamentos em diversos países. Tal rigor, entretanto, não se observa

260
em relação a outras tecnologias. Também é crescente o número de
recomendações relativas à incorporação de análises econômicas nos
ensaios randomizados controlados, apesar de que tais recomendações
não têm o poder de uma regulamentação (Kovaleski; Freitas,
2015).
A estrutura do sistema de saúde irá influenciar o uso da tecno-
logia, dadas as suas condições de acesso, cobertura, custo, forma de
pagamento, recursos humanos, organização e serviços. Dessa forma,
a incorporação e a utilização de tecnologias com vistas a melhorar
a qualidade dos serviços deverão concentrar esforços em medir re-
sultados em saúde de forma a se obter, na prática clínica, resultados
semelhantes àqueles obtidos nas condições ideais. É importante que
isso fique claro, pois o conceito de qualidade tem sido usado como
justificativa de incorporação de tecnologias complexas e, com isso,
a ênfase volta-se para a atenção terciária em detrimento da atenção
primária (Lima; Freitas, 2012).

Os desafios na gestão da saúde do idoso

Os desafios na gestão da saúde do idoso fundamentam-se, basi-


camente, em efetivar ações unificadas às necessidades biopsicossociais
no processo de envelhecimento, fortalecendo a atenção básica de
saúde, de modo que essas ações incidam de maneira multidiscipli-
nar, com a avaliação ampla para a saúde física e mental dos idosos,
elevando ao máximo a potencialidade na promoção da qualidade
de vida dessa população. Assim, pode-se referenciar que atingir
satisfação com a vida, ou qualidade de vida, significa um grau total
de contentamento com as condições de vida. Como protagonista,
o idoso, com todo seu aporte de vida, propicia, de forma singular,
as próprias ações de conduzir, atuar e agir na sociedade, podendo
apresentar as respostas para as diversas esferas da vida (Cybulski;
Krajewska-Kulak; Jamiolkowski, 2015).

261
No início de 1990, foi proposta uma das definições de qualidade
de vida (QV), composta por uma acepção global de avaliação de
satisfação/insatisfação com ela. Posteriormente, os estudos apresen-
taram uma visão multidimensional, mostrando-se mais voltados às
diferentes áreas da vida, como bem-estar, funcionalidade, capacidade,
saúde, autonomia e independência, além da atuação social, política
e econômica e da liberdade, ampliando tal definição aos diversos
subsídios efetivos no ambiente do idoso (Praça, 2012).
Nesse aspecto, a QV é um termo complexo para se definir. De
modo geral, representa uma noção eminentemente humana, que tem
sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar,
amorosa, social e ambiental e na própria estética existencial, sendo
indiscutível a influência da saúde do indivíduo (Lorenzin, L. R.
et al., 2015, p. 83).
Destaca-se a importância de se conhecer a heterogeneidade da
população idosa ao se avaliar a qualidade de vida em relação à saúde.
A terminologia compreende diferentes denotações, que conjecturam
ciências, conhecimentos e valores de cada indivíduo, e, igualmente,
coletividades que se ligam ao termo em diferentes períodos, ambientes
e, consequentemente, em histórias distintas. É, desse modo, uma
constituição social embasada na realidade cultural (Dawalibi;
Goulart; Prearo, 2014).
Na tentativa de entender em sua complexidade o universo
do envelhecimento saudável com QV em diferentes cenários, os
estudos de Kozlowska et al. (2008) destacaram que a atenção ao
idoso, as intervenções de análises e as avaliações podem maximizar
o conhecimento da população sobre as diferentes visões relacionadas
ao bem-estar. Da mesma forma, os idosos devem ser estimulados ao
autocuidado e a ações que promovam o envelhecimento sadio e o
incentivo a modificações paulatinas nos hábitos de vida, otimizando
os processos de troca de informações (Boult et al., 2009).
A QV relacionada à saúde expressa na literatura traz a definição
específica do preceito de cuidados com a saúde, ou seja, a qualidade
de vida relacionada à saúde reflete diretamente na presença ou não

262
de patologias e a patologia é considerada como base para avaliar a
QV, pois é utilizada para medir as limitações pelos danos funcionais.
Consequentemente, considera-se o valor atribuído à saúde e à doença,
visto que o envelhecimento com QV pode ser a percepção do nível
de saúde subjetivo, que envolve a compreensão de variáveis como
idade, sexo, nível socioeconômico, cultura, estilo de vida e atuação
em sociedade (Praça, 2012).
A promoção da saúde para os idosos é ponto crucial, inclusive a
atenção no processo de envelhecimento, pois as ações, nesse sentido,
poderão permitir melhoria da saúde e da qualidade de vida, aumen-
tando, portanto, a longevidade e colaborando para uma gestão mais
coerente das soluções em prol da promoção da saúde, seja em aspectos
econômicos ou sociais. Em face da realidade do envelhecimento em
nível global, a sociedade busca descobrir formas de gestão eficazes
de apoio aos idosos com a finalidade de potencializar a qualidade de
vida (Boult et al., 2009).
Um dos ensejos que está na procedência da avaliação da QV
está ligado com a saúde. Assim, para mensurar a complexidade da
informação da QV e sua relatividade em face de diversas culturas
e realidades sociais, múltiplos instrumentos foram estabelecidos ao
longo do tempo, sendo que um dos primeiros e o mais versado é
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), organizado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
em que são agrupados três elementos basilares da QV de uma po-
pulação: renda, saúde e educação (Minayo, 2010).
Um dos potenciais da gestão da atenção é a integração das ações
e o fortalecimento dos serviços sociais e de saúde, minimizando a
fragmentação das necessidades, os resultados pouco efetivos, a de-
sarticulação das ações, as barreiras de comunicação entre idosos, a
família e os profissionais, e, ainda, o acesso dificultado aos serviços.
Nessa perspectiva, o idoso é colocado no centro da atenção do seu
plano de cuidado, sendo convidado a participar de forma ativa das
ações que serão realizadas. A família, a comunidade e os serviços
são atores fundamentais, fornecendo os pilares para uma atenção

263
complexa, qualificada e dinâmica. Os serviços e as políticas, por
sua vez, são os espaços privilegiados em que a gestão pode alcançar
maior ressonância, integrando desde ações destinadas à promoção
do envelhecimento ativo, a iniciativas voltadas para a prevenção da
fragilização na velhice (Salmazo-Silva; Lima, 2012).
Todos os instrumentos desenvolvidos para a avaliação da QV
expõem vantagens e desvantagens. Uns referem-se tão somente a
algumas características, outros, no entanto, admitem respostas deci-
sivas de sim ou não, o que permite simplesmente definir os pontos
extremos; outros ainda pressupõem a preparação do pessoal e uma
grande disponibilidade de tempo, ainda que forneçam dados mais
particularizados. Os instrumentos de avaliação da qualidade de vida
devem cumprir as seguintes propriedades psicométricas: validade,
confiabilidade, ou seja, quando produzem os mesmos resultados em
avaliações repetidas usando as mesmas condições, todo o questionário
sobre qualidade de vida deve ser considerado estável e reproduzível
no tempo, sensível às mudanças, quando produz diferentes resultados
em avaliações repetidas em que as condições se alteraram (Praça,
2012).

A avaliação da qualidade de vida

As metodologias de avaliação da qualidade de vida baseiam-se


em trabalhos qualitativos e quantitativos. Os primeiros utilizam téc-
nicas de biografias ou histórias de vida para evitar respostas estereoti-
padas; os outros apresentam tendência para a construção e a validação
de instrumentos que mensuram constructos multidimensionais. Em
ambos os casos, são, comumente, utilizados questionários autoapli-
cáveis ou entrevistas com o próprio sujeito, e proporcionam resul-
tados comparáveis. Os principais indicadores utilizados para medir
a qualidade de vida são bioestatísticos, psicométricos e econômicos,
os quais não consideram o contexto cultural e social, a história de
vida e o percurso dos indivíduos avaliados (Malik et al., 2015).

264
Entretanto, os instrumentos de avaliação da qualidade de vida
não devem utilizar medidas focalizadas apenas nos sintomas, mas sim
incluir itens qualitativos como os utilizados em pesquisas sociológicas.
Nas últimas décadas, os indicadores de qualidade e segurança do
paciente receberam uma valorização e um crescimento importante
nas instituições de saúde. Tais métricas são utilizadas para analisar
e avaliar o desempenho dos processos assistenciais, a fim de que se
tenha uma tomada de decisão, uma implantação de melhorias ou até
mesmo a correção de desvios e erros. Na área da qualidade, entra-se
em contato com o responsável pela coleta do indicador, para que seja
analisado em conjunto como processo de coleta do dado.
Com base nessa análise, é verificada a consistência do processo
e a acurácia do resultado, de forma que é obtido o grau de confia-
bilidade do que foi coletado, que deve ser maior ou igual a 90%.
Nos casos em que o grau de confiabilidade for menor, um plano
de ação para correção deve ser realizado, sendo acompanhado pela
área da qualidade. Com a implantação do processo de validação dos
indicadores, os resultados apresentados periodicamente tornam-se
mais confiáveis e de qualidade. O processo de validação implica à
instituição uma confiabilidade dos resultados analisados pela direção,
que realiza decisões estratégicas para melhoria dos processos, com
base na análise de seu próprio desempenho (Oliveira et al., 2015;
Malik et al., 2015).
A relevância deve ser percebida em indicadores observáveis no
cotidiano da gestão, em seus mais variados níveis, considerando os
sujeitos envolvidos. O que se pretende responder neste estudo é: que
atributos devem ter os indicadores para que sejam capazes de traduzir
o critério da relevância para a avaliação da qualidade da gestão em
saúde? Assume-se que a avaliação para a gestão deve ser engajada
com as demandas sociais, estando voltada à tomada de decisão. A
área da avaliação em saúde ocupa significativa abrangência e pode
ser observada a partir de três ramos: avaliação clínica, avaliação epi-
demiológica e avaliação para a gestão. Parte-se do entendimento de
que a avaliação da gestão deve debruçar-se sobre questões passíveis

265
de intervenção por parte da gestão. A meta da avaliação em saúde,
no contexto assumido, é integrar o melhor das atividades e dos re-
cursos existentes nos programas, ações ou sistemas, modificando o
que não é útil ou não está na direção política almejada, aprendendo
com a experiência (Kovaleski; Freitas, 2015).
O uso criterioso dos métodos e das ferramentas próprias da
avaliação é fundamental para que a opção pessoal do avaliador não
se confunda com os resultados de avaliação. É importante ter clareza
de que o processo de avaliação gera uma tensão entre o dado objetivo
e o subjetivo. A avaliação deve trazer a apreensão de que é produto
do conhecimento e, como tal, deve ser coerente na sua utilização
para, realmente, buscar transformações e qualidade nas políticas
públicas. É preciso perceber que a avaliação de políticas envolve
princípios políticos fundamentais sobre alguma concepção referente
ao bem-estar humano, destacando-se entre esses, os princípios de
igualdade e democracia, bem como a concepção de cidadania (Ko-
valeski; Botazzo, 2015). Portanto, mudanças na qualidade de
vida podem ser avaliadas por meio de questionário em decorrência
de determinados tratamentos e programas de assistência para grupos
com agravos diversos.

Considerações finais

A responsabilidade na gestão da qualidade de vida no processo


de envelhecimento envolve o imprescindível entendimento sobre
a heterogeneidade que individualiza a população idosa e as suas
particularidades. A atenção consecutiva e dinâmica para a saúde e o
bem-estar dessa população demanda distintos níveis de intervenção
dos serviços de saúde, apropriados às caracterizadas fases do processo
de envelhecimento. Os estudos devem estar fundamentados em uma
atenção integral adequada de qualidade, humanizada e oportuna.
Há necessidade de que todos os envolvidos no processo de
gestão à saúde dos idosos sejam instigados a repensar o modelo

266
atual, com a finalidade de estabelecer um preceito de saúde que con-
tribua efetivamente para a melhoria da vida dos idosos. E, embora
seja um privilégio e uma conquista da sociedade, o envelhecimento
populacional apresenta desafios que, como no caso da área de saúde,
dificilmente poderão ser enfrentados de maneira isolada, quer seja
pelo setor público, pela família ou pelo setor privado. Ao contrário,
as evidências apontam, cada vez mais, para a necessidade de se esta-
belecerem estratégias conjuntas e complementares, a fim de se fazer
frente aos desafios do envelhecimento na área de saúde.

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269
270
Sobre os autores

Adriano Pasqualotti – Possui graduação em Matemática pela


Universidade de Passo Fundo (1994), mestrado em Computação
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000), doutora-
do em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2008) e pós-doutorado em Sociedade, Comunicação
e Cultura pela Universidade de Lisboa (UL), Portugal (2014).
Atualmente é docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo e
pesquisador associado do Centro de Administração de Políticas Pú-
blicas (CAPP), do Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)
da Universidade de Lisboa (UL).
Ana Carolina Bertoletti De Marchi – Possui graduação em
Bacharelado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (1995), mestrado em Computação pela Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) e doutorado em
Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (2006). Atualmente é professora titular I da Universidade
de Passo Fundo, professora do Programa de Pós-Graduação em
Envelhecimento Humano, do Programa de Pós-Graduação em
Computação Aplicada e dos cursos de Ciência da Computação e
Sistemas para Internet.
Ana Carolina Squeff de Mattos – Graduada em Medicina pela
Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó.
Realizou Estágio Extracurricular com atividade teórico-práticas,
ambulatorial e cirúrgicas na Clínica da Mulher de Chapecó e Hos-

271
pital da Criança Augusta Muller Bohner. Foi Monitora do Labo-
ratório de Histologia, membro representante discente do Colegiado
do Curso de Medicina, membro da Liga Acadêmica de Ginecologia
e Obstetrícia pela mesma instituição.
Ana Maria Bellani Migott – Possui graduação em Enfermagem
pela Universidade de Passo Fundo (1985), graduação em Psicologia
pela Universidade de Passo Fundo (1996), mestrado em Enfermagem
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000) e doutorado
em Clínica Médica Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2007). Atualmente é professora
titular da Universidade de Passo Fundo.
Analice Calegari Lusa – Mestranda em Envelhecimento Hu-
mano (UPF) e especialista em Disfagia Clínica (ESAMAZ). Possui
graduação em Fonoaudiologia pela Universidade de Passo Fundo
(2008). Atualmente é fonoaudióloga do Hospital da Cidade Passo
Fundo.
Ariélen Ferigollo – Bacharel em Nutrição pela Universidade
Federal de Santa Maria (2015), bolsista da CAPES, modalidade
graduação sanduíche, na Universidade de Milão UNIMI - Itá-
lia (2013-2014). Atualmente é aluna do Programa de Residência
Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar na
Universidade Federal de Santa Maria.
Astor Antônio Diehl – Doutor em Teoria, Metodologia e Didá-
tica da História pela Ruhr Universität Bochum, Alemanha, 1991.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Hu-
mano e Graduação em História da UPF/RS. E-mail: astor@upf.br
Bibiana Fortes – Graduação em Medicina pela Universidade
Federal de Santa Maria, UFSM, Brasil. Especialização / Residên-
cia médica pelo Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, Brasil
(2015). Mestranda em Envelhecimento Humano pela Universidade
de Passo Fundo. Professora de Otorrinolaringologia da Universidade
de Passo Fundo.

272
Camila Pereira Leguisamo – Fisioterapeuta formada pela
Universidade Luterana do Brasil (2001), com mestrado (2004) e
doutorado (2009) em Ciências da Saúde: Cardiologia, pelo Instituto
de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia.
Cassiano Mateus Forcelini – Graduado em Medicina pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1997,
realizou especialização (residência médica) em Neurologia na Uni-
versidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
(1998-2000). Fez especialização em Medicina do Sono na Universi-
dade Federal de São Paulo - Unifesp (2002). Concluiu mestrado em
Ciências da Saúde pela UFCSPA em 2011. Realizou seu doutorado
em Ciências em Gastroenterologia e Hepatologia pela UFRGS
(2011-2014). Atua como professor de Farmacologia Clínica no curso
de Medicina da Universidade de Passo Fundo.
Claudia Maria Czernaik – Mestranda em Envelhecimento
Humano (UPF) e especializada em Ortopedia e Traumatologia
(IOT-RS). Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade
Federal de Santa Maria-RS (1998). Atualmente é fisioterapeuta
na Clínica de Fisioterapia Santa Clara Ltda (Getúlio Vargas - RS).
Cristina Pilla Della Méa – Possui graduação em Faculdade
de Psicologia (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade de
Passo Fundo (2000). Especialização em Psicoterapias Cognitivo-
-Comportamentais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
- UNISINOS (2003). Especialização em Psicologia Clínica pela
Faculdade Meridional - IMED (2008). Atua como psicóloga clí-
nica. É professora e supervisora de estágios da Escola de Psicologia
- Faculdade Meridional (IMED).
Daiane Fernanda Cocco – Possui graduação em Nutrição pela
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-
Campus de Frederico Westphalen/RS (2013). Pós-graduanda em
nutrição Clínica com Ênfase em Doenças Crônicas e Transtornos
Alimentares (URI). Atualmente, atua como Nutricionista na Clínica
de Saúde na cidade de Frederico Westphalen - RS.

273
Edimarcio Testa – Possui graduação em Filosofia pela Faculdade
de Filosofia Imaculada Conceição (FAFIMC) e mestrado em Fi-
losofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), câmpus de Caxias do Sul.
Eidimara Ferreira – Possui graduação em Estética e Cosmética
pela Universidade de Passo Fundo (2012). Técnico em Podologia
pela Universidade de Caxias do Sul (UCS-2008), com curso em
Estabilometria Podoposturologia para Podólogos. Mestrando En-
velhecimento Humano.
Eliane Lucia Colussi – Possui graduação em História pela
Universidade de Passo Fundo (1985), mestrado em História pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1993) e
doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (1998). Atualmente é professora permanente
do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano na
Universidade de Passo Fundo
Emanuelly Casal Bortoluzzi – Bacharel em Educação Física,
graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Mestranda em Envelhecimento Humano pela Universidade de
Passo Fundo, bolsista da CAPES. Integrante do Grupo de Estudos
e Pesquisa em Bioética e o Cuidado Humano e do VIVENCER,
da Universidade de Passo Fundo.
Flávia Fernanda Cunha Casamali – Mestranda em Envelhe-
cimento Humano UPF (2015-2), bolsista Capes/ PROSUP 2016,
especialista em Fisiologia do Exercício - Universidade Federal do
Paraná -UFPR (2004). Possui graduação em Educação Física pela
Universidade de Passo Fundo (1999).
Gustavo Cavalcanti – Graduado em Enfermagem pela Uni-
versidade de Passo Fundo (2005). Especialista em Enfermagem
Traumato-Ortopédica pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e

274
Extensão (2009). Atualmente é enfermeiro do Hospital São Vicente
de Paulo.
Helenice de Moura Scortegagna – Graduada em Enfermagem
e Obstetrícia pela Universidade de Passo Fundo em 1986. Especia-
lista em Gerontologia Social pela UPF em 1994 e especialista em
Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
em 2010. Mestre e doutora em Enfermagem pela Universidade Fede-
ral de Santa Catarina/UFSC. Professor Titular III da Universidade
de Passo Fundo, docente no Curso de Enfermagem, na Residência
Multiprofissional Integrada em Saúde do Idoso e Atenção ao Câncer,
e no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Envelhecimento
Humano da UPF.
Jéssica Cristina de Cezaro – Nutricionista. Especialista em
Gestão da Atenção à Saúde do Idoso (IFRS). Bolsista da CAPES
no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Envelhecimento
Humano (UPF).
Lia Mara Wibelinger – Graduada em Fisioterapia pela Uni-
versidade de Cruz Alta (1999), especialista em Saúde Pública
pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP-SP), mestre em
Gerontologia Biomédica pela PUC-RS e doutora em Gerontologia
Biomédica pela PUC-RS. Atualmente é professora-pesquisadora
da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade
de Passo Fundo (UPF).
Luciana Marcon Barbosa – Possui graduação em Nutrição pela
Universidade do Extremo Sul Catarinense - Criciúma - SC (2008).
É especialista em Nutrição Oncológica pelo Hospital Moinhos de
Vento- Porto Alegre/RS e mestranda (Bolsista/CAPES) em Enve-
lhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo.
Luiz Antonio Bettinelli – Graduado em Enfermagem e Obs-
tetrícia pela Universidade de Caxias do Sul (1977), mestre em
Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998)
e doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Ca-

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tarina (2001). Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2012). Atualmente é professor titular da Universidade de
Passo Fundo.
Luma Zanatta de Oliveira – Fisioterapeuta, graduada pela Uni-
versidade de Passo Fundo - UPF (2015). Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo. Bolsista CAPES/PROSUP.
Mariana da Silva Formigheri – Mestranda do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e Tecnologia de Alimen-
tos (PPGCTA) da Universidade de Passo Fundo. Graduada em
Farmácia pela Universidade de Passo Fundo (2009).
Marilene Rodrigues Portella – Possui graduação em Enfer-
magem pela Universidade de Passo Fundo (1986), mestrado em
Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998)
e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2002). Atualmente é professor titular da Universidade de
Passo Fundo.
Marina Viana Borgmann – Fisioterapeuta especialista em Clí-
nica Médica UNIFESP/SP (2009), graduado pela Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus
Erechim (2008). Atualmente é Fisioterapeuta da Clínica Rumo.
Marlene Doring – Graduada em Enfermagem e Obstetrícia
pela Universidade de Passo Fundo (1981), é mestre (1998) e dou-
tor (2005) em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. É
professora, desde 1987, do Curso de Enfermagem da Universidade
de Passo Fundo.
Marlon André Kamphorst – Possui Mestrado em Direito
pela Faculdade Meridional (2015), graduação em Filosofia pela
Universidade de Passo Fundo (2004), graduação em Direito pela
Universidade de Passo Fundo (1999 ) e pós-graduação em Direito
Civil, Processo Civil e Processo do Trabalho pela Universidade

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de Passo Fundo. É professor de filosofia vinculado à Secretaria da
Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
Nadir Antonio Pichler – Possui graduação em Filosofia pela
Fundação Educacional de Brusque (1992) e mestrado em Filosofia
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2003). Doutor em
Filosofia pela PUCRS (2009), na área de Filosofia Medieval. É
professor da Universidade de Passo Fundo e docente do Programa
de Pós-Graduação do Envelhecimento Humano da UPF.
Neuro José Zambam – Possui graduação em Filosofia pela
Universidade de Passo Fundo (1985). Especialização em Filosofia:
Epistemologia das Ciências Sociais. Mestrado em Filosofia: Sistemas
Éticos pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2002). Doutora-
do em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (2009). Pós-doutorado na UNISINOS (2015). Atualmente
é professor da Faculdade Meridional (IMED) de Passo Fundo.
Samuel Salvi Romero – Graduação em Enfermagem pela
Universidade Federal de Pelotas - UFPel (2010). Especialização
Multiprofissional em Saúde da Família pela Universidade Federal
de Santa Catarina - UFSC (2014). Mestrado em Envelhecimento
Humano da Universidade de Passo Fundo - UPF (2015). Professor
do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
Silvana Alba Scortegagna – Doutora em Psicologia pela Uni-
versidade São Francisco, Itatiba/São Paulo (USF), com período na
Universidade de Salamanca/Espanha (USAL). Mestra em Educação
pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Professora Titular III
do Curso de Psicologia e dos Programas de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Envelhecimento Humano e em Administração da Uni-
versidade de Passo Fundo.
Suzane Stella Bavaresco – Fisioterapeuta, graduada pela
Universidade de Passo Fundo/RS. Mestranda em Envelhecimento

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Humano pela Universidade de Passo Fundo/RS, bolsista da CA-
PES/TAXA.
Talia Castilhos de Oliveira – Graduada em Fisioterapia pela FE-
EVALE CENTRO UNIVERSITÁRIO em 2002, pós-graduada
em Fisioterapia Cárdio-Respiratória pela GAMA FILHO em 2004.
Mestranda em Envelhecimento Humano pela UPF (Universidade
de Passo Fundo). Atualmente é instrutora da oficina de Pilates no
CREATI, no campus UPF de Carazinho e Docente do SENAC
de Carazinho.
Telma Elita Bertolin – Bióloga, pós-doutora em Neurociências
Celular e Molecular pela Universidade de Lisboa - Instituto de
Medicina Molecular - IMM - PT. Doutora em Tecnologia Bioquí-
mico Farmacêutica Pela Universidade de São Paulo. Professora dos
Programas de Pós Graduação em Envelhecimento Humano e de
Ciência e Tecnologia dos Alimentos da Universidade de Passo Fundo.
Vanessa Dick – Possui graduação em Educação Física pela Uni-
versidade Estadual do Oeste do Paraná (2006). Especialização em
Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fronteira Sul - UFFS/SC
(2013). Mestranda em Envelhecimento Humano pela Universidade
de Passo Fundo - RS.
Vanessa Maria Bertoni – Mestranda do Programa de Pós-
-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo
Fundo. Nutricionista-clínica do Hospital São Vicente de Paulo.
Especialista em Saúde do Idoso pelo Hospital São Vicente de Paulo,
Secretaria Municipal de Saúde de Passo Fundo e Universidade de
Passo Fundo. Pós-graduada em Nutrição Clínica e Doenças Crôni-
cas pelo Instituto de Educação e Pesquisa do Hospital Moinhos de
Vento. Graduada em Nutrição pela Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Erechim.
Vívian Balem Conrado – Mestranda em Envelhecimento Hu-
mano pela Universidade de Passo Fundo - RS (2014). Pós-graduada
em Saúde Pública pela Faculdade ECOAR - FAECO (2013).

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Graduada em Enfermagem pela Universidade de Passo Fundo
(2006). Atua como coordenadora, supervisora e docente na Escola
DOM - Sistema Educacional (2015). Coordenadora e supervisora
de estágios curriculares no curso de Técnico em Enfermagem pelo
CEUS - Centro Educacional Universo do Saber (2014).
Willian Roger Dullius – Enfermeiro graduado pela Universi-
dade de Passo Fundo, tendo realizado período sanduíche na Brock
University - Canadá no ano de 2014 ao âmbito do Programa Ciên-
cias sem Fronteiras (CAPES). Realiza pesquisas em saúde mental
e gerontologia com focus em demência em idosos sob orientação da
Ph.D Lynn McCleary.
Yolanda Petterson Seben – Possui graduação em Fisioterapia
(2009) e pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar (2012) pela
Universidade de Passo Fundo. Atualmente é mestranda em Enve-
lhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo, bolsista
PROSUP/CAPES, fisioterapeuta da Unidade de Terapia Intensiva
do Hospital São Vicente de Paulo, Unidade 2, de Passo Fundo - RS.

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