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L0013 - (Uem)
(Adaptada) Assinale o que for correto sobre o gênero
lírico.
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lírico, favorecendo sua sonoridade e sua terço. Texto adaptado.)
expressividade.
Estão corretas apenas as afirmativas Para a maioria dos estudiosos da literatura, o texto
literário é estruturado em pares de oposição: vida/morte;
a) 01 e 02.
amor/ódio, etc. Essas oposições constam no texto
b) 01, 02 e 08. claramente ou implicitamente. E não é necessário que os
c) 02 e 04. dois termos da oposição estejam na superfície linguística
d) 01, 04 e 16. do texto. Se o texto fala somente de morte, a vida está,
por oposição, implícita nele.
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a) por inovar na organização das estruturas sintáticas. zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a
b) pelo uso de vocabulário marcadamente regionalista. oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria
c) por distinguir, no diálogo, a origem social dos
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
falantes.
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e
d) por adotar uma grafia típica do padrão culto, na sereis omnipotentes.”
escrita. (Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)
e) pelo entrelaçamento de falas de crianças e adultos.
A resposta de Diógenes a Alexandre Magno pode ser
L0291 -
caracterizada como
(Unesp)
a) audaciosa.
E se esse tal futuro
for pior do que o presente b) subserviente.
E se for melhor parar c) hipócrita.
do que caminhar pra frente d) compassiva.
E se o amor for dor e) incoerente.
E se todo sonhador
não passar de um pobre louco
E se eu desanimar,
Se eu parar de sonhar
L0003 - (Enem)
L0310 - (Unesp)
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da
autossuficiência e do controle das paixões os valores
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe
atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão
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a) romper com a linearidade das ações da narrativa
literária.
b) ilustrar de modo fidedigno passagens representativas
da história.
c) articular a tensão do romance à desproporcionalidade
das formas.
d) potencializar a dramaticidade do episódio com
recursos das artes visuais.
e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo
desequilíbrio da composição.
L0004 - (Enem)
Esaú e Jacó
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Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho:
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são
a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º
parágrafo)
que for.
Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe flores consagradas aos mortos queridos.” (2º
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a parágrafo)
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente c) “– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às também...” (6º parágrafo)
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe
suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo)
macabras. e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é
São marginais caçados pela polícia ou por outros aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá- dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo)
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
L0014 - (Ufpa)
Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo,
expoentes da literatura romântica brasileira. Procurando
fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes
seguir os preceitos do romantismo, intencionou produzir
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
uma poesia capaz de exprimir a independência literária
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se a vários
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela
gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia
corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
canto IV do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias:
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar
para conversas íntimas:
Andei longes terras, Aos golpes do imigo
– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
Lidei cruas guerras, Meu último amigo,
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
Vaguei pelas serras Sem lar, sem abrigo,
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
Dos vis Aimorés; Caiu junto a mi!
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
Vi lutas de bravos, Com plácido rosto,
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
Vi fortes – escravos! Sereno e composto,
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo
De estranhos ignavos O acerbo desgosto
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
Calcados aos pés. Comigo sofri.
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
E os campos talados, Meu pai a meu lado
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
E os arcos quebrados, Já cego e quebrado,
neles foram cometidos.
E os piagas coitados De penas ralado,
O Guandu não responde a inquéritos nem a
Já sem maracás; Firmava-se em mi:
repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não
E os meigos cantores, Nós ambos,
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
Servindo a senhores, mesquinhos,
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
Que vinham traidores, Por ínvios caminhos,
vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
Com mostras de paz. Cobertos d’espinhos
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela
Chegamos aqui!
justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
Glossário:
dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da
criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
Bahia e do Espírito Santo;
Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão;
apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
Ignavos: fracos, covardes;
Guandu, apenas e afinal.
Piaga: pajé, chefe espiritual;
(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
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Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e a) incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.
cerimônias guerreiras; b) altivez; brincadeira; ofendido; mansa.
Talados: devastados;
c) ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
Acerbo: terrível, cruel;
Ínvios: intransitáveis. d) complacência; invenção; bobo; cega.
e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.
Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto
L0278 -
afirmar que
(Fuvest)
a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o
colonizador europeu.
b) o ritual antropofágico é representado como uma
manifestação da barbárie indígena.
c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco
é considerada um processo natural e desejável para o
progresso da nova nação independente.
d) o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é
o do europeu português, que condena as práticas
bárbaras e violentas das nações indígenas brasileiras.
e) as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao
quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto
de vista do próprio índio.
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(Camões, L. V.Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. a) O texto de Manoel de Barros, escrito em versos,
Fragmento.) possui características que podem categorizá-lo como
um texto literário, pois a linguagem está construída de
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a modo referencial e de única significação. Uma leitura,
classificação dos textos. ainda que superficial, irá concluir que a expressão
“usando borboletas” é utilizada para asseverar a
a) Épico e lírico.
condição do eu lírico de exímio pesquisador dos
b) Lírico e épico.
estudos animais.
c) Lírico e dramático.
b) O eu lírico afirma que é “abastado”. No texto, tal
d) Dramático e épico. afirmativa conduz o leitor à seguinte conclusão: os
homens que são incompletos são abastados, pois
L0005 -
possuem certamente riquezas econômico-financeiras
(Upe) que os tornam pessoas-modelo para jovens aspirantes
Retrato do artista quando coisa ao mesmo status quo. Para o eu lírico, a incompletude
do homem é certeza de qualidade econômica.
A maior riqueza c) Os versos “Eu penso / renovar o homem / usando
do homem borboletas” foram escritos de modo figurado, ou seja,
é a sua incompletude. as palavras podem assumir sentidos plurais. Defini-los
Nesse ponto de forma exclusivamente dicionarizada poderá levar o
sou abastado. leitor a equívocos interpretativos, visto que tais versos
Palavras que me aceitam foram concebidos num nível discursivo que lhes
como sou permite transcender as barreiras unissignificativas da
— eu não aceito. palavra dicionarizada.
1Não aguento ser apenas
d) O eu lírico, quando afirma “Eu não aceito”, explicita
2um sujeito que abre para o leitor sua indignação com o modelo econômico
3portas, que puxa que rege o sistema capitalista. Para o eu lírico, a
4válvulas, que olha o incompletude que o torna abastado pode levá-lo a
5relógio, que compra pão
melhorias sociais e existenciais. Esse ponto de vista é
defendido pelo eu lírico de modo claro e preciso no
6às 6 da tarde, que vai
poema.
7lá fora, que aponta lápis,
e) Os versos apontados pelas referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
8que vê a uva etc. etc. e 8 do poema em análise poderiam ser substituídos,
Perdoai. Mas eu de modo preciso, pela seguinte frase: Sou um homem
preciso ser Outros. que evita utilizar, com frequência, a capacidade
Eu penso imaginativa, pois acredita que a criatividade pode
renovar o homem atrapalhar a criticidade e que ambas se opõem no
usando borboletas. momento em que vamos definir tarefas como acordar
Barros, Manoel. Manoel de Barros: Poesia Completa. São às 6 da tarde e apontar lápis.
Paulo: Leya, 2013.
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a) I e II. O Guandu não responde a inquéritos nem a
b) I e IV. repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
c) II e III.
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
d) III e IV. vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela
L0315 - (Unesp)
justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
de 1974. criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na Guandu, apenas e afinal.
areia das margens, e os urubus os devoram? (Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são Pode-se apontar na crônica um teor, sobretudo,
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo a) metalinguístico.
que for. b) paródico.
Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da c) crítico.
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe d) satírico.
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a
e) fantástico.
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos
L0269 - (Fuvest)
Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se
suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias
macabras. convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu
pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo
São marginais caçados pela polícia ou por outros
a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela
marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá-
estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
Formação, só um pouquinho mais magra.
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma
pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis
para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela
fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso
fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes
é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela
Helena Morley, Minha Vida de Menina.
corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar PERGUNTAS
Numa incerta hora fria
para conversas íntimas:
perguntei ao fantasma
– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
que força nos prendia,
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
ele a mim, que presumo
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
estar livre de tudo
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
eu a ele, gasoso,
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo (...)
No voo que desfere
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
silente e melancólico,
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
rumo da eternidade,
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
ele apenas responde
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
(se acaso é responder
neles foram cometidos.
a mistérios, somar‐lhes
@professorferretto @prof_ferretto 8
um mistério mais alto): a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra para
que não haja separação entre a grande cultura
Amar, depois de perder. nacional e a literatura feita por minorias.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. b) comprovação de que, sendo as minorias de fato uma
maioria, não faz sentido distinguir duas literaturas,
As perguntas da menina e do poeta versam sobre a uma do centro e outra da periferia.
morte. É correto afirmar que
c) manifestação de que a literatura marginal tem seu
a) ambos guardam uma dimensão transcendente e modo próprio de falar e de contar histórias, já
católica, de origem mineira. reconhecido pelos estudiosos.
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em d) constatação de que é preciso reagir com a palavra e
definitivo as dúvidas existenciais. mostrar-se nesse lugar marginal como literatura feita
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como por minorias que juntas formam uma maioria.
episódio e o poeta especula o sentido filosófico da
morte.
d) a menina está inquieta por conhecer o destino das L0272 - (Fuvest)
almas, enquanto o poeta critica o ceticismo. Os textos literários são obras de discurso, a que falta a
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao imediata referencialidade da linguagem corrente;
poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante,
acolherem crenças populares.
cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que
os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a
L0318 - (Unicamp)
que devem o poder de apelo estético que nos enleia;
seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...).
Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um
No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando
manifesto do escritor Ferréz.
retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e
A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra,
renovada pela experiência da obra, à luz do que nos
porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A
revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐
literatura marginal se faz presente para representar a
o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o
cultura de um povo composto de minorias, mas em seu fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele,
todo uma maioria.
transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós
A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma
provocou.
literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos
centrais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de
O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza
grande poder aquisitivo. Mas alguns dizem que sua
artística da literatura, leva a considerar que a obra só
principal característica é a linguagem, é o jeito que assume função transformadora se
falamos, que contamos a história, bom, isso fica para os
estudiosos. a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o
Cansei de ouvir: – “Mas o que cês tão fazendo é separar a mundo.
literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de b) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
responder: – “O barato já tá separado há muito tempo, c) instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do
foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado mundo.
de lá, e do de cá mal terminamos o ensino dito básico.”
d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do
(Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz
mundo.
(Org.), Literatura marginal: talentos da escrita periférica.)
e) conduz o leitor a ignorar o mundo real.
Ferréz defende sua proposta literária como uma
L0002 - (Enem)
A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na
vitrola de Matilde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e
nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia
dançar a valsa, e respondi que ele me honraria tirando
minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e
assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em
meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com
@professorferretto @prof_ferretto 9
o direito Matilde dava um longo passo adiante, e os dois o palito nos dentes contentes,
estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo o gramofone rouco toda noite
dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que e a mulher que trata de tudo.
minha mulher conhecesse aqueles passos. O casal se
entendia à perfeição, mas logo distingui o que nele foi O agiota, o leiteiro, o turco,
ensinado do que era nela natural. O francês, muito alto, o médico uma vez por mês,
era um boneco de varas, jogando com uma boneca de o bilhete todas as semanas
pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre dezenas de branco! mas a esperança sempre verde.
dançarinos, e notei que todo o cabaré se extasiava com a A mulher que trata de tudo
sua exibição. Todavia, olhando bem, eram pessoas e a felicidade.
vestidas, ornadas, pintadas com deselegância, e foi me Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
parecendo que também em Matilde, em seus
movimentos de ombros e quadris, havia excesso. A No poema de Drummond,
orquestra não dava pausa, a música era repetitiva, a
a) a hierarquização dos substantivos que compõem a
dança se revelou vulgar, pela primeira vez julguei meio
primeira estrofe tem a função de situar essa família na
vulgar a mulher com quem eu tinha me casado. Depois
de meia hora eles voltaram se abanando, e escorria suor sociedade escravagista do século XIX.
pelo colo de Matilde decote abaixo. Bravô, eu gritei, b) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o
bravô, e ainda os estimulei a dançar o próximo tango, caráter nominal dos versos, destaca a serventia da
mas Dubosc disse que já era tarde, e que eu tinha um ar figura feminina na organização familiar.
fatigado. c) a ausência de menção direta ao homem produz um
CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das retrato reativo à família patriarcal, por salientar o
Letras, 2009. protagonismo social da mulher.
d) o modo como os elementos que compõem a terceira
Os recursos expressivos de um texto literário fornecem estrofe estão relacionados permite inferir a
pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens prosperidade econômica familiar.
em relação aos eventos da narrativa. No fragmento, e) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico
constitui um aspecto relevante para a compreensão das lança luz sobre um regime social que favorece a
intenções do narrador a realização plena das potencialidades femininas.
a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida
pela descrição de seu talento como dançarino.
b) demonstração de ciúmes, expressa pela L0279 - (Fuvest)
desqualificação dos participantes da cena narrada. Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo batizado,
c) postura aristocrática, assinalada pela crítica à
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
orquestra e ao gênero musical executado.
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela
Raios de sol brilharão nos sinos:
crítica ao exibicionismo da mulher.
Dez vias dar.
e) atitude interesseira, pressuposta no elogio final e no
estímulo à continuação da dança. Ai Marília, as liras e o amar
Não posso mais sufocar
L0286 -
E a minha voz irá
(Fuvest) Pra muito além do desterro e do sal,
FAMÍLIA Maior que a voz do rei.
Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de
Três meninos e duas meninas, 1973.
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata, A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles
o papagaio, o gato, o cachorro, qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais
as galinhas gordas no palmo de horta altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”,
e a mulher que trata de tudo. em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer como
símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam,
o cigarro, o trabalho, a reza, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao
a goiabada na sobremesa de domingo, discurso
@professorferretto @prof_ferretto 10
a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente a) pela música, que ressoa em canções líricas.
engajadas. b) pela cor, brilhante na claridade solar.
b) da historiografia, que minimizou a importância de c) pela afirmação de valores sólidos.
Tiradentes. d) pela memória, que corre fluida no tempo.
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura e) pelo despropósito de um faz‐de‐conta.
militar.
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras
amorosas.
e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo
L0010 -(Enem)
Guardar
do ouro.
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
L0270 -
Em cofre não se guarda coisaalguma.
(Fuvest) Em cofre perde-se a coisa à vista.
Cantiga de enganar Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
O mundo não tem sentido. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
O mundo e suas canções ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
de timbre mais comovido isto é, estar por ela ou ser por ela.
estão calados, e a fala Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
que de uma para outra sala Do que um pássaro sem voos.
ouvimos em certo instante Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
é silêncio que faz eco por isso se declara e declama um poema:
e que volta a ser silêncio Para guardá-lo:
no negrume circundante. Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Silêncio: que quer dizer? Guarde o que quer que guarda um poema:
Que diz a boca do mundo? Por isso o lance do poema:
Meu bem, o mundo é fechado, Por guardar-se o que se quer guardar.
se não for antes vazio. MACHADO, G. In: MORICONI, I.(org.). Os cem melhores
O mundo é talvez: e é só. poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva,
Talvez nem seja talvez. 2001.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe. A memória é um importante recurso do patrimônio
Meu bem, façamos de conta. cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças
De sofrer e de olvidar, do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o
de lembrar e de fruir, fazer poético como uma das maneiras de se guardar o
de escolher nossas lembranças que se quer, o texto
e revertê‐las, acaso
a) ressalta a importância dos estudos históricos para a
se lembrem demais em nós.
construção da memória social de um povo.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe – b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das
que é tudo como se fosse, narrativas populares ou coletivas.
ou que, se fora, não era. c) reforça a capacidade da literatura em promover a
(...) subjetividade e os valores humanos.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. d) destaca a importância de reservar o texto literário
àqueles que possuem maior repertório cultural.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a e) revela a superioridade da escrita poética como forma
perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, ideal de preservação da memória cultural.
como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo,
e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga
de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
L0268 - (Fuvest)
Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho,
quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno”
– cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque
toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote
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baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, a) a sucessão de orações coordenadas, que remete à
meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de sucessão de cenas e emoções sentidas pelo eu lírico
fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para ao longo da viagem.
mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso b) a elisão dos verbos, recurso estilístico constante no
manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de poema, que acentua o ritmo acelerado da
caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue modernidade.
aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que
c) o emprego de versos curtos e irregulares em sua
boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares
métrica, que reproduzem uma viagem de bonde, com
pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia;
suas paradas e retomadas de movimento.
olhinhos de viés e nariz peba, mongol.
Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. d) a sonoridade do poema, carregada de sons nasais, que
representa a tristeza do eu lírico ao longo de toda a
*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço viagem.
e) a ausência de rima nos versos, recurso muito utilizado
O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no pelos modernistas, que aproxima a linguagem do
fragmento, permite afirmar que poema da linguagem cotidiana.
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L0274 -
como ocorre em: “Sonho”(versos 1 e 12), “Ânsias” e
“Desejos” (verso 5); “Infinito” (versos 8 e 9). Usada como (Fuvest)
alegoria, a letra maiúscula tenciona dar um sentido de Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que
transcendência, de valor absoluto. a pisa.
V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista, Mas mais frágil fica a bota.
infere-se que o título do poema “Cavador do Infinito” Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.
reforça a ideia a que o soneto remete: o poeta simbolista *sesta: repouso após o almoço.
busca a transcendência, a transfiguração da realidade
cotidiana para uma dimensão metafísica, que é uma Considerando que se trata de um texto literário, uma
característica da estética simbolista. interpretação que seja capaz de captar a sua
complexidade abordará o poema como
Assinale a alternativa correta.
a) uma defesa da natureza.
a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. b) um ataque às forças armadas.
b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras. c) uma defesa dos direitos humanos.
c) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras. d) uma defesa da resistência civil.
d) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. e) um ataque à passividade.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
L0311 - (Unesp)
L0001 - (Enem)
Caso pluvioso
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da A chuva me irritava. Até que um dia
autossuficiência e do controle das paixões os valores descobri que maria é que chovia.
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram A chuva era maria. E cada pingo
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa de maria ensopava o meu domingo.
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem E meus ossos molhando, me deixava
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe como terra que a chuva lavra e lava.
atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está E eu era todo barro, sem verdura...
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o maria, chuvosíssima criatura!
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo Ela chovia em mim, em cada gesto,
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número pensamento, desejo, sono, e o resto.
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão Era chuva fininha e chuva grossa,
zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a Matinal e noturna, ativa... Nossa!
oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria Olympio, 1952 (fragmento).
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e Considerando-se a exploração das palavras “maria” e
sereis omnipotentes.” “chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal recurso
(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.) expressivo é um(a)
Depreende-se do ensaio uma crítica, sobretudo, a) registro social típico de variedades regionais.
b) variante particular presente na oralidade.
a) à insensibilidade.
c) inovação lexical singularizante da linguagem literária.
b) à intemperança.
d) marca de informalidade característica do texto
c) à passividade. literário.
d) à volubilidade. e) traço linguístico exclusivo da linguagem poética.
e) à intolerância.
L0273 - (Fuvest)
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amora a) incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por
pertencerem a linhagens diferentes, e superação de
a palavra amora sua hostilidade tribal.
seria talvez menos doce b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu
e um pouco menos vermelha favor na conversa com Ondina, e desespero diante do
se não trouxesse em seu corpo companheiro baleado.
(como um velado esplendor)
c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência
a memória da palavra amor
de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
a palavra amargo d) forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e
seria talvez mais doce aceitação da verdadeira orientação sexual do
e um pouco menos acerba companheiro.
se não trouxesse em seu corpo e) ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa
(como uma sombra a espreitar) que o atinge ao perceber que sua demonstração de
a memória da palavra amar coragem colocara o companheiro em risco.
Marco Catalão, Sob a face neutra.
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a) nostálgica, devido à presença de modelos situados no
passado.
b) materialista, por efeito da aspiração burguesa de um
lar confortável.
c) mística, em razão do prognóstico de um futuro
metafísico.
d) biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da
existência.
e) psicológica, em virtude da referência ao substantivo
“sonho”.
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