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Introdução à Literatura

L0328 - (Unicamp) a) A leitura é, fundamentalmente, processo político.


Aqueles que formam leitores – professores,
bibliotecários – desempenham um papel político.
(Marisa Lajolo, A formação do leitor no Brasil. São
Paulo: Ática, 1996, p. 28.)
b) Pelo que sabemos, quando há um esforço real de
igualitarização, há aumento sensível do hábito de
leitura, e portanto difusão crescente das obras.
(Antonio Candido, Vários escritos. São Paulo: Duas
cidades, 2004, p.187.)
c) Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam o que
somos com o que tantos outros imaginaram,
pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos.
(Gilberto Gil, Discurso no lançamento do Ano Ibero-
Americano da Leitura, 2004.)
d) A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de
sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos?
(Fernando Pessoa, Páginas íntimas e de Auto-
Interpretação. São Paulo: Ática, 1966, p. 23.)

L0013 - (Uem)
(Adaptada) Assinale o que for correto sobre o gênero
lírico.

01. O gênero lírico, em comparação com o gênero épico


ou narrativo, mostra-se marcado por um filtro subjetivo
que favorece a expressão individual, bem como a
intensificação de sentimentos e emoções.
02. Embora marcado por grande liberdade temática, o
gênero lírico é bastante rigoroso no tocante às formas
“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos
fixas, de modo que se manifesta apenas em sonetos,
ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um
odes, elegias, contos e novelas.
machado para quebrar o mar de gelo do bom senso e do 04. Em contraste com a presença de um narrador no
senso comum."
gênero épico, na lírica nota-se a presença de um eu lírico,
(Adaptado de “Franz Kafka, carta a Oscar Pollak, 1904.”)
que tanto permite a expressão de um mundo interior
quanto serve de filtro para a realidade externa.
Assinale o excerto que confirma os dois textos
08. Uma das principais subdivisões do gênero lírico
anteriores.
encontra-se no par “comédia” e “tragédia” que, presente
desde as primeiras manifestações do gênero, deu origem,
já no fim do século XVIII, à “tragicomédia”, com a
utilização de versos livres e brancos.
16. Recursos formais como a rima, a métrica e o ritmo,
embora possam ser verificados em outros gêneros
literários, encontram-se especialmente ligados ao gênero

@professorferretto @prof_ferretto 1
lírico, favorecendo sua sonoridade e sua terço. Texto adaptado.)
expressividade.

Estão corretas apenas as afirmativas Para a maioria dos estudiosos da literatura, o texto
literário é estruturado em pares de oposição: vida/morte;
a) 01 e 02.
amor/ódio, etc. Essas oposições constam no texto
b) 01, 02 e 08. claramente ou implicitamente. E não é necessário que os
c) 02 e 04. dois termos da oposição estejam na superfície linguística
d) 01, 04 e 16. do texto. Se o texto fala somente de morte, a vida está,
por oposição, implícita nele.

L0006 -(Uece) Abaixo você encontrará duas colunas. Na coluna I, haverá


um termo que formará, com um termo presente na
O amigo da casa
coluna II, uma oposição. Essas oposições constam no
texto claramente ou implicitamente. Nessa perspectiva,
A própria menina se prende muito a 1ele, que
numere a coluna II de acordo com a I.
ainda lhe trouxe a última boneca, embora agora ela se
ponha mocinha: encolhe-se na poltrona da sala sob a luz
Coluna I Coluna II
do abajur e lê a revista de quadrinhos. 2Ele é alemão
1. indulgência (__) deslealdade
como o dono da casa. Tem apartamento no hotel da praia
2. vigor (__) arrogância
e joga tênis no clube, saltando com energia para dentro
3. essência (__) intolerância
do campo, a raquete na mão. Assiste às partidas girando
4. modéstia (__) futilidade
no copo de uísque os cubos de gelo. É o amigo da casa.
Depois do jantar, passeia com a mãe da menina pelo 5. afabilidade (__) aparência
caminho de pedra do jardim: as duas cabeças – a loira e a 6 seriedade (__) rigidez
preta de cabelos aparados – vão e vêm, a dele já com 7. confiabilidade (__) debilidade
entradas da calva. 3Ele chupa o cachimbo de fumo
cheiroso, que o moço de bordo vai deixar no escritório. Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:

O dono da casa é Seu Feldmann. 4Dirige o seu a) 1 – 4 – 7 – 2 – 3 – 5 – 6.


pequeno automóvel e é muito delicado. Cumprimenta b) 2 – 7 – 4 – 5 – 6 – 1 – 3.
sempre todos os vizinhos, até mesmo os mais canalhas c) 4 – 2 – 5 – 1 – 3 – 6 – 7.
como Seu Deca, fiscal da Alfândega.
d) 7 – 4 – 1 – 6 – 3 – 5 – 2.
Seu Feldmann cumprimenta. Bate com a cabeça.
Compra marcos a bordo e no banco para a 5sua viagem
regular à Alemanha. Viaja em companhia do comandante
do cargueiro, em camarote especial. Então respira o ar
L0009 - (Enem)
Foi sempre um gaúcho quebralhão, e despilchado
marítimo no alto do convés, os braços muito brancos e
sempre, por ser muito de mãos abertas. Se numa mesa
descarnados, na camisa leve de mangas curtas.
de primeira ganhava uma ponchada de balastracas,
A fortuna de origem é da mulher: as velhas casas
reunia a gurizada da casa, fazia pi! pi! pi! como pra
no centro da cidade, os antigos armazéns, 6o sítio da galinhas e semeava as moedas, rindo-se do formigueiro
serra, de onde ela desce aos domingos em que a miuçada formava, catando as pratas no terreiro.
companhia 7do 8outro, que é o amigo da casa, e da Gostava de sentar um laçaço num cachorro, mas desses
menina. laçaços de apanhar da palheta à virilha, e puxado a valer,
9Saem os dois à noite e 10ele para o seu próprio tanto que o bicho que o tomava, de tanto sentir dor, e
automóvel sob os coqueiros na praia. 11Decerto brigaram lombeando-se, depois de disparar um pouco é que
mais uma vez, porque ela volta para casa de olhos gritava, num caim! caim! caim! de desespero.
LOPES NETO, J. S. Contrabandista. In: SALES, H.
vermelhos, enrolando 12nos dedos o lencinho bordado.
(org). Antologia de contos brasileiros. Rio de Janeiro:
Recolhe-se a seu quarto (ela e seu Feldmann dormem em
Ediouro, 2001 (adaptado).
quartos separados). Trila o apito do guarda. 13Os faróis
do automóvel na rua pincelam de luz as paredes, tiram A língua falada no Brasil apresenta vasta diversidade, que
reflexo do espelho. 14Ela permanece insone: o vidro de se manifesta de acordo com o lugar, a faixa etária, a
sua janela é um retângulo de luz na noite. classe social, entre outros elementos. No fragmento do
(Moreira Campos. In Obra Completa– contos II. 1969. p. texto literário, a variação linguística destaca-se
120-122. Originalmente publicado na obra O puxador de

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a) por inovar na organização das estruturas sintáticas. zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a
b) pelo uso de vocabulário marcadamente regionalista. oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria
c) por distinguir, no diálogo, a origem social dos
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
falantes.
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e
d) por adotar uma grafia típica do padrão culto, na sereis omnipotentes.”
escrita. (Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)
e) pelo entrelaçamento de falas de crianças e adultos.
A resposta de Diógenes a Alexandre Magno pode ser

L0291 -
caracterizada como
(Unesp)
a) audaciosa.
E se esse tal futuro
for pior do que o presente b) subserviente.
E se for melhor parar c) hipócrita.
do que caminhar pra frente d) compassiva.
E se o amor for dor e) incoerente.
E se todo sonhador
não passar de um pobre louco
E se eu desanimar,
Se eu parar de sonhar
L0003 - (Enem)

queda a queda, pouco a pouco.


(Bráulio Bessa. “Se”. In: Poesia que transforma, 2018.)

No excerto do cordel, o eu lírico manifesta inquietação


equivalente a uma preocupação central e recorrente na
história da filosofia, desde suas origens, qual seja:

a) a identificação de princípios reveladores da virtude.


b) a fundamentação do conhecimento na experiência
empírica.
c) o desenvolvimento de critérios de organização da
linguagem.
d) o questionamento contínuo para a compreensão da
realidade.
e) a busca ininterrupta da verdade plena e absoluta.

L0310 - (Unesp)
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da
autossuficiência e do controle das paixões os valores
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe
atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão

@professorferretto @prof_ferretto 3
a) romper com a linearidade das ações da narrativa
literária.
b) ilustrar de modo fidedigno passagens representativas
da história.
c) articular a tensão do romance à desproporcionalidade
das formas.
d) potencializar a dramaticidade do episódio com
recursos das artes visuais.
e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo
desequilíbrio da composição.

L0004 - (Enem)
Esaú e Jacó

Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe


quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é
somente um meio de completar as pessoas da narração
com as ideias que deixarem, mas ainda um par de lunetas
para que o leitor do livro penetre o que for menos claro
ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha
história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei
de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o
enxadrista e os seus trebelhos.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o
bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre,
nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca
e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada
peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e
assim vai o mundo.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1964 (fragmento).

O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o


narrador concebe a leitura de um texto literário. Com
base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta

a) o leitor como peça fundamental na construção dos


sentidos.
b) a luneta como objeto que permite ler melhor.
c) o autor como único criador de significados.
A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da d) o caráter de entretenimento da literatura.
obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na e) a solidariedade de outros autores.
representação gráfica, a inter-relação de diferentes
linguagens caracteriza-se por
L0316 - (Unesp)
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond
de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro
de 1974.
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho
do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na
areia das margens, e os urubus os devoram?

@professorferretto @prof_ferretto 4
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho:
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são
a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º
parágrafo)
que for.
Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe flores consagradas aos mortos queridos.” (2º
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a parágrafo)
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente c) “– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às também...” (6º parágrafo)
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe
suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo)
macabras. e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é
São marginais caçados pela polícia ou por outros aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá- dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo)
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
L0014 - (Ufpa)
Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo,
expoentes da literatura romântica brasileira. Procurando
fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes
seguir os preceitos do romantismo, intencionou produzir
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
uma poesia capaz de exprimir a independência literária
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se a vários
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela
gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia
corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
canto IV do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias:
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar
para conversas íntimas:
Andei longes terras, Aos golpes do imigo
– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
Lidei cruas guerras, Meu último amigo,
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
Vaguei pelas serras Sem lar, sem abrigo,
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
Dos vis Aimorés; Caiu junto a mi!
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
Vi lutas de bravos, Com plácido rosto,
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
Vi fortes – escravos! Sereno e composto,
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo
De estranhos ignavos O acerbo desgosto
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
Calcados aos pés. Comigo sofri.
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
E os campos talados, Meu pai a meu lado
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
E os arcos quebrados, Já cego e quebrado,
neles foram cometidos.
E os piagas coitados De penas ralado,
O Guandu não responde a inquéritos nem a
Já sem maracás; Firmava-se em mi:
repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não
E os meigos cantores, Nós ambos,
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
Servindo a senhores, mesquinhos,
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
Que vinham traidores, Por ínvios caminhos,
vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
Com mostras de paz. Cobertos d’espinhos
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela
Chegamos aqui!
justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
Glossário:
dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da
criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
Bahia e do Espírito Santo;
Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão;
apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
Ignavos: fracos, covardes;
Guandu, apenas e afinal.
Piaga: pajé, chefe espiritual;
(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)

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Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e a) incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.
cerimônias guerreiras; b) altivez; brincadeira; ofendido; mansa.
Talados: devastados;
c) ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
Acerbo: terrível, cruel;
Ínvios: intransitáveis. d) complacência; invenção; bobo; cega.
e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.
Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto

L0278 -
afirmar que
(Fuvest)
a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o
colonizador europeu.
b) o ritual antropofágico é representado como uma
manifestação da barbárie indígena.
c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco
é considerada um processo natural e desejável para o
progresso da nova nação independente.
d) o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é
o do europeu português, que condena as práticas
bárbaras e violentas das nações indígenas brasileiras.
e) as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao
quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto
de vista do próprio índio.

L0281 - (Fuvest) O efeito de humor presente nas falas das personagens


Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia.
decorre
Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu
paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era a) da quebra de expectativa gerada pela polissemia.
um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia b) da ambiguidade causada pela antonímia.
motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já c) do contraste provocado pela fonética.
era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você
d) do contraste introduzido pela neologia.
quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia
escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, e) do estranhamento devido à morfologia.
o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas
mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma
consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se L0011 - (Uern)
de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. Os gêneros literários são empregados com finalidade
As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu estética. Leia os textos a seguir.
tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em
deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente Busque Amor novas artes, novo engenho,
dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, Para matar-me, e novas esquivanças;
já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a Que não pode tirar-me as esperanças,
não ser: “O que você quer com o passado?”. Repetia. E, Que mal me tirará o que eu não tenho.
diante da sua insistência bovina, tive de me render à (Camões, L. V. de.Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica
evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Editora. 1961. Fragmento.)
Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado.
Porém já cinco sóis eram passados
Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações Que dali nos partíramos, cortando
necessárias, é possível substituir as expressões em Os mares nunca doutrem navegados,
destaque no texto, respectivamente, por Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

@professorferretto @prof_ferretto 6
(Camões, L. V.Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. a) O texto de Manoel de Barros, escrito em versos,
Fragmento.) possui características que podem categorizá-lo como
um texto literário, pois a linguagem está construída de
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a modo referencial e de única significação. Uma leitura,
classificação dos textos. ainda que superficial, irá concluir que a expressão
“usando borboletas” é utilizada para asseverar a
a) Épico e lírico.
condição do eu lírico de exímio pesquisador dos
b) Lírico e épico.
estudos animais.
c) Lírico e dramático.
b) O eu lírico afirma que é “abastado”. No texto, tal
d) Dramático e épico. afirmativa conduz o leitor à seguinte conclusão: os
homens que são incompletos são abastados, pois

L0005 -
possuem certamente riquezas econômico-financeiras
(Upe) que os tornam pessoas-modelo para jovens aspirantes
Retrato do artista quando coisa ao mesmo status quo. Para o eu lírico, a incompletude
do homem é certeza de qualidade econômica.
A maior riqueza c) Os versos “Eu penso / renovar o homem / usando
do homem borboletas” foram escritos de modo figurado, ou seja,
é a sua incompletude. as palavras podem assumir sentidos plurais. Defini-los
Nesse ponto de forma exclusivamente dicionarizada poderá levar o
sou abastado. leitor a equívocos interpretativos, visto que tais versos
Palavras que me aceitam foram concebidos num nível discursivo que lhes
como sou permite transcender as barreiras unissignificativas da
— eu não aceito. palavra dicionarizada.
1Não aguento ser apenas
d) O eu lírico, quando afirma “Eu não aceito”, explicita
2um sujeito que abre para o leitor sua indignação com o modelo econômico
3portas, que puxa que rege o sistema capitalista. Para o eu lírico, a
4válvulas, que olha o incompletude que o torna abastado pode levá-lo a
5relógio, que compra pão
melhorias sociais e existenciais. Esse ponto de vista é
defendido pelo eu lírico de modo claro e preciso no
6às 6 da tarde, que vai
poema.
7lá fora, que aponta lápis,
e) Os versos apontados pelas referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
8que vê a uva etc. etc. e 8 do poema em análise poderiam ser substituídos,
Perdoai. Mas eu de modo preciso, pela seguinte frase: Sou um homem
preciso ser Outros. que evita utilizar, com frequência, a capacidade
Eu penso imaginativa, pois acredita que a criatividade pode
renovar o homem atrapalhar a criticidade e que ambas se opõem no
usando borboletas. momento em que vamos definir tarefas como acordar
Barros, Manoel. Manoel de Barros: Poesia Completa. São às 6 da tarde e apontar lápis.
Paulo: Leya, 2013.

Considerando o poema em análise “Retrato do artista


quando coisa” e também o assunto referente ao estudo
L0012 -(Cftmg)
Sobre os gêneros literários, afirma-se:
do texto literário, assinale a alternativa CORRETA.
I. O gênero dramático abrange textos que tematizam o
sofrimento e a aflição da condição humana.
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a
expressão subjetiva de estados interiores.
III. O gênero épico compreende textos sobre
acontecimentos grandiosos protagonizados por heróis.
IV. Em literatura, o romance e a novela são formas
narrativas pertencentes ao gênero dramático.

Estão corretas apenas as afirmativas

@professorferretto @prof_ferretto 7
a) I e II. O Guandu não responde a inquéritos nem a
b) I e IV. repórteres. Não distingue, carrega. Não comenta, não
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
c) II e III.
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
d) III e IV. vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela

L0315 - (Unesp)
justiça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
de 1974. criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na Guandu, apenas e afinal.
areia das margens, e os urubus os devoram? (Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são Pode-se apontar na crônica um teor, sobretudo,
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo a) metalinguístico.
que for. b) paródico.
Se algum deles tem sorte de derivar pela restinga da c) crítico.
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe d) satírico.
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a
e) fantástico.
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspectiva de
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos
L0269 - (Fuvest)
Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se
suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias
macabras. convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu
pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo
São marginais caçados pela polícia ou por outros
a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela
marginais, são suicidas, são acidentados? Difícil classificá-
estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
Formação, só um pouquinho mais magra.
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma
pesos amarrados aos pés. Estes últimos são mortos fáceis
para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela
fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso
fluindo e boiando, em sonho aquático deslizante, estes
é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela
Helena Morley, Minha Vida de Menina.
corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar PERGUNTAS
Numa incerta hora fria
para conversas íntimas:
perguntei ao fantasma
– Ontem, na tintura da madrugada, passaram três
que força nos prendia,
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
ele a mim, que presumo
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
estar livre de tudo
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
eu a ele, gasoso,
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo (...)
No voo que desfere
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
silente e melancólico,
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
rumo da eternidade,
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
ele apenas responde
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
(se acaso é responder
neles foram cometidos.
a mistérios, somar‐lhes

@professorferretto @prof_ferretto 8
um mistério mais alto): a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra para
que não haja separação entre a grande cultura
Amar, depois de perder. nacional e a literatura feita por minorias.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. b) comprovação de que, sendo as minorias de fato uma
maioria, não faz sentido distinguir duas literaturas,
As perguntas da menina e do poeta versam sobre a uma do centro e outra da periferia.
morte. É correto afirmar que
c) manifestação de que a literatura marginal tem seu
a) ambos guardam uma dimensão transcendente e modo próprio de falar e de contar histórias, já
católica, de origem mineira. reconhecido pelos estudiosos.
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em d) constatação de que é preciso reagir com a palavra e
definitivo as dúvidas existenciais. mostrar-se nesse lugar marginal como literatura feita
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como por minorias que juntas formam uma maioria.
episódio e o poeta especula o sentido filosófico da
morte.
d) a menina está inquieta por conhecer o destino das L0272 - (Fuvest)
almas, enquanto o poeta critica o ceticismo. Os textos literários são obras de discurso, a que falta a
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao imediata referencialidade da linguagem corrente;
poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante,
acolherem crenças populares.
cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que
os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a

L0318 - (Unicamp)
que devem o poder de apelo estético que nos enleia;
seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...).
Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um
No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando
manifesto do escritor Ferréz.
retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e
A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra,
renovada pela experiência da obra, à luz do que nos
porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A
revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐
literatura marginal se faz presente para representar a
o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o
cultura de um povo composto de minorias, mas em seu fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele,
todo uma maioria.
transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós
A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma
provocou.
literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos
centrais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de
O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza
grande poder aquisitivo. Mas alguns dizem que sua
artística da literatura, leva a considerar que a obra só
principal característica é a linguagem, é o jeito que assume função transformadora se
falamos, que contamos a história, bom, isso fica para os
estudiosos. a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o
Cansei de ouvir: – “Mas o que cês tão fazendo é separar a mundo.
literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de b) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
responder: – “O barato já tá separado há muito tempo, c) instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do
foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado mundo.
de lá, e do de cá mal terminamos o ensino dito básico.”
d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do
(Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz
mundo.
(Org.), Literatura marginal: talentos da escrita periférica.)
e) conduz o leitor a ignorar o mundo real.
Ferréz defende sua proposta literária como uma

L0002 - (Enem)
A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na
vitrola de Matilde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e
nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia
dançar a valsa, e respondi que ele me honraria tirando
minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e
assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em
meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com

@professorferretto @prof_ferretto 9
o direito Matilde dava um longo passo adiante, e os dois o palito nos dentes contentes,
estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo o gramofone rouco toda noite
dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que e a mulher que trata de tudo.
minha mulher conhecesse aqueles passos. O casal se
entendia à perfeição, mas logo distingui o que nele foi O agiota, o leiteiro, o turco,
ensinado do que era nela natural. O francês, muito alto, o médico uma vez por mês,
era um boneco de varas, jogando com uma boneca de o bilhete todas as semanas
pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre dezenas de branco! mas a esperança sempre verde.
dançarinos, e notei que todo o cabaré se extasiava com a A mulher que trata de tudo
sua exibição. Todavia, olhando bem, eram pessoas e a felicidade.
vestidas, ornadas, pintadas com deselegância, e foi me Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
parecendo que também em Matilde, em seus
movimentos de ombros e quadris, havia excesso. A No poema de Drummond,
orquestra não dava pausa, a música era repetitiva, a
a) a hierarquização dos substantivos que compõem a
dança se revelou vulgar, pela primeira vez julguei meio
primeira estrofe tem a função de situar essa família na
vulgar a mulher com quem eu tinha me casado. Depois
de meia hora eles voltaram se abanando, e escorria suor sociedade escravagista do século XIX.
pelo colo de Matilde decote abaixo. Bravô, eu gritei, b) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o
bravô, e ainda os estimulei a dançar o próximo tango, caráter nominal dos versos, destaca a serventia da
mas Dubosc disse que já era tarde, e que eu tinha um ar figura feminina na organização familiar.
fatigado. c) a ausência de menção direta ao homem produz um
CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das retrato reativo à família patriarcal, por salientar o
Letras, 2009. protagonismo social da mulher.
d) o modo como os elementos que compõem a terceira
Os recursos expressivos de um texto literário fornecem estrofe estão relacionados permite inferir a
pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens prosperidade econômica familiar.
em relação aos eventos da narrativa. No fragmento, e) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico
constitui um aspecto relevante para a compreensão das lança luz sobre um regime social que favorece a
intenções do narrador a realização plena das potencialidades femininas.
a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida
pela descrição de seu talento como dançarino.
b) demonstração de ciúmes, expressa pela L0279 - (Fuvest)
desqualificação dos participantes da cena narrada. Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo batizado,
c) postura aristocrática, assinalada pela crítica à
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
orquestra e ao gênero musical executado.
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela
Raios de sol brilharão nos sinos:
crítica ao exibicionismo da mulher.
Dez vias dar.
e) atitude interesseira, pressuposta no elogio final e no
estímulo à continuação da dança. Ai Marília, as liras e o amar
Não posso mais sufocar

L0286 -
E a minha voz irá
(Fuvest) Pra muito além do desterro e do sal,
FAMÍLIA Maior que a voz do rei.
Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de
Três meninos e duas meninas, 1973.
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata, A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles
o papagaio, o gato, o cachorro, qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais
as galinhas gordas no palmo de horta altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”,
e a mulher que trata de tudo. em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer como
símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam,
o cigarro, o trabalho, a reza, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao
a goiabada na sobremesa de domingo, discurso

@professorferretto @prof_ferretto 10
a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente a) pela música, que ressoa em canções líricas.
engajadas. b) pela cor, brilhante na claridade solar.
b) da historiografia, que minimizou a importância de c) pela afirmação de valores sólidos.
Tiradentes. d) pela memória, que corre fluida no tempo.
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura e) pelo despropósito de um faz‐de‐conta.
militar.
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras
amorosas.
e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo
L0010 -(Enem)
Guardar
do ouro.
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

L0270 -
Em cofre não se guarda coisaalguma.
(Fuvest) Em cofre perde-se a coisa à vista.
Cantiga de enganar Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
O mundo não tem sentido. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
O mundo e suas canções ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
de timbre mais comovido isto é, estar por ela ou ser por ela.
estão calados, e a fala Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
que de uma para outra sala Do que um pássaro sem voos.
ouvimos em certo instante Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
é silêncio que faz eco por isso se declara e declama um poema:
e que volta a ser silêncio Para guardá-lo:
no negrume circundante. Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Silêncio: que quer dizer? Guarde o que quer que guarda um poema:
Que diz a boca do mundo? Por isso o lance do poema:
Meu bem, o mundo é fechado, Por guardar-se o que se quer guardar.
se não for antes vazio. MACHADO, G. In: MORICONI, I.(org.). Os cem melhores
O mundo é talvez: e é só. poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva,
Talvez nem seja talvez. 2001.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe. A memória é um importante recurso do patrimônio
Meu bem, façamos de conta. cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças
De sofrer e de olvidar, do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o
de lembrar e de fruir, fazer poético como uma das maneiras de se guardar o
de escolher nossas lembranças que se quer, o texto
e revertê‐las, acaso
a) ressalta a importância dos estudos históricos para a
se lembrem demais em nós.
construção da memória social de um povo.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe – b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das
que é tudo como se fosse, narrativas populares ou coletivas.
ou que, se fora, não era. c) reforça a capacidade da literatura em promover a
(...) subjetividade e os valores humanos.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. d) destaca a importância de reservar o texto literário
àqueles que possuem maior repertório cultural.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a e) revela a superioridade da escrita poética como forma
perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, ideal de preservação da memória cultural.
como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo,
e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga
de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
L0268 - (Fuvest)
Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho,
quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno”
– cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque
toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote

@professorferretto @prof_ferretto 11
baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, a) a sucessão de orações coordenadas, que remete à
meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de sucessão de cenas e emoções sentidas pelo eu lírico
fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para ao longo da viagem.
mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso b) a elisão dos verbos, recurso estilístico constante no
manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de poema, que acentua o ritmo acelerado da
caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue modernidade.
aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que
c) o emprego de versos curtos e irregulares em sua
boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares
métrica, que reproduzem uma viagem de bonde, com
pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia;
suas paradas e retomadas de movimento.
olhinhos de viés e nariz peba, mongol.
Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. d) a sonoridade do poema, carregada de sons nasais, que
representa a tristeza do eu lírico ao longo de toda a
*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço viagem.
e) a ausência de rima nos versos, recurso muito utilizado
O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no pelos modernistas, que aproxima a linguagem do
fragmento, permite afirmar que poema da linguagem cotidiana.

a) há clara antipatia do narrador para com a personagem,


que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.
b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a
L0007 -(Udesc)
Cavador do Infinito
refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.
c) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo Com a lâmpada do Sonho desce aflito
biológico que norteia o livro. E sobe aos mundos mais imponderáveis,
d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim Vai abafando as queixas implacáveis,
da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física. Da alma o profundo e soluçado grito.
e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés”
para caracterizar a personagem como ingênua. Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
L0008 - (Enem)
O cavador do trágico Infinito.
O bonde abre a viagem,
E quanto mais pelo Infinito cava
No banco ninguém,
Mais o Infinito se transforma em lava
Estou só, stou sem.
E o cavador se perde nas distâncias...
Depois sobe um homem,
No banco sentou,
Alto levanta a lâmpada do Sonho
Companheiro vou.
E com seu vulto pálido e tristonho
O bonde está cheio.
Cava os abismos das eternas ânsias!
De novo porém
SOUZA, Cruz e. Últimos
Não sou mais ninguém.
Sonetos. www.dominiopublico.gov.br.
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia,
2005.
Analise as proposições em relação ao soneto “Cavador do
Infinito”, Cruz e Souza.
Em um texto literário, é comum que os recursos poéticos
e linguísticos participem do significado do texto, isto é,
I. A leitura do poema leva o leitor a inferir que o cavador
forma e conteúdo se relacionam significativamente. Com
do infinito é a representação da imagem do próprio
relação ao poema de Mário de Andrade, a correlação
poeta, ou seja, um autorretrato do poeta simbolista.
entre um recurso formal e um aspecto da significação do
II. Da leitura do poema infere-se que a metáfora está
texto é
centrada na lâmpada do sonho, a qual se refere à
imaginação onírica do poeta e ilumina o seu
inconsciente.
III. O sinal de pontuação – reticências – no verso 11,
acentua o clima de indefinível, levando o leitor a inferir
sobre a situação – o drama vivido pelo eu lírico.
IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula em
substantivos comuns é uma característica do Simbolismo,

@professorferretto @prof_ferretto 12
L0274 -
como ocorre em: “Sonho”(versos 1 e 12), “Ânsias” e
“Desejos” (verso 5); “Infinito” (versos 8 e 9). Usada como (Fuvest)
alegoria, a letra maiúscula tenciona dar um sentido de Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que
transcendência, de valor absoluto. a pisa.
V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista, Mas mais frágil fica a bota.
infere-se que o título do poema “Cavador do Infinito” Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.
reforça a ideia a que o soneto remete: o poeta simbolista *sesta: repouso após o almoço.
busca a transcendência, a transfiguração da realidade
cotidiana para uma dimensão metafísica, que é uma Considerando que se trata de um texto literário, uma
característica da estética simbolista. interpretação que seja capaz de captar a sua
complexidade abordará o poema como
Assinale a alternativa correta.
a) uma defesa da natureza.
a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. b) um ataque às forças armadas.
b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras. c) uma defesa dos direitos humanos.
c) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras. d) uma defesa da resistência civil.
d) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. e) um ataque à passividade.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

L0311 - (Unesp)
L0001 - (Enem)
Caso pluvioso
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da A chuva me irritava. Até que um dia
autossuficiência e do controle das paixões os valores descobri que maria é que chovia.
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram A chuva era maria. E cada pingo
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa de maria ensopava o meu domingo.
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem E meus ossos molhando, me deixava
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe como terra que a chuva lavra e lava.
atenderei.” Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está E eu era todo barro, sem verdura...
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o maria, chuvosíssima criatura!
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo Ela chovia em mim, em cada gesto,
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número pensamento, desejo, sono, e o resto.
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão Era chuva fininha e chuva grossa,
zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a Matinal e noturna, ativa... Nossa!
oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria Olympio, 1952 (fragmento).
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e Considerando-se a exploração das palavras “maria” e
sereis omnipotentes.” “chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal recurso
(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.) expressivo é um(a)

Depreende-se do ensaio uma crítica, sobretudo, a) registro social típico de variedades regionais.
b) variante particular presente na oralidade.
a) à insensibilidade.
c) inovação lexical singularizante da linguagem literária.
b) à intemperança.
d) marca de informalidade característica do texto
c) à passividade. literário.
d) à volubilidade. e) traço linguístico exclusivo da linguagem poética.
e) à intolerância.

L0273 - (Fuvest)

@professorferretto @prof_ferretto 13
amora a) incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por
pertencerem a linhagens diferentes, e superação de
a palavra amora sua hostilidade tribal.
seria talvez menos doce b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu
e um pouco menos vermelha favor na conversa com Ondina, e desespero diante do
se não trouxesse em seu corpo companheiro baleado.
(como um velado esplendor)
c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência
a memória da palavra amor
de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
a palavra amargo d) forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e
seria talvez mais doce aceitação da verdadeira orientação sexual do
e um pouco menos acerba companheiro.
se não trouxesse em seu corpo e) ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa
(como uma sombra a espreitar) que o atinge ao perceber que sua demonstração de
a memória da palavra amar coragem colocara o companheiro em risco.
Marco Catalão, Sob a face neutra.

É correto afirmar que o poema L0287 -


(Fuvest)
O QUINTO IMPÉRIO
a) aborda o tema da memória, considerada uma
faculdade que torna o ser humano menos amargo e
Triste de quem vive em casa,
sombrio.
Contente com o seu lar,
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o Sem que um sonho, no erguer de asa,
que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”. Faça até mais rubra a brasa
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras Da lareira a abandonar!
“amora” e “amargo” metáforas do sentimento
amoroso. Triste de quem é feliz!
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma Vive porque a vida dura.
tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. Nada na alma lhe diz
e) ressalta os significados das palavras tal como se Mais que a lição da raiz —
verificam no seu uso mais corrente. Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem


L0276 - (Fuvest)
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
I
Que as forças cegas se domem
– Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
Pela visão que a alma tem!
(...)
Sabes a que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento.
E assim, passados os quatro
Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só,
Tempos do ser que sonhou,
cama tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...)
A terra será teatro
Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada
Do dia claro, que no atro [sombrio]
sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois
Da erma noite começou.
não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
II
Para onde vai toda idade.
– Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um
Quem vem viver a verdade
imbecil. E quis igualar o inigualável.
Que morreu D. Sebastião?
Pepetela, Mayombe.
Fernando Pessoa. Mensagem.
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre
Mensagem reconduz a história de Portugal a partir de
as personagens Comissário e Sem Medo em momentos
uma reinterpretação do tempo histórico. No poema, o
distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário
tempo é encarado segundo uma concepção
revelam, respectivamente,

@professorferretto @prof_ferretto 14
a) nostálgica, devido à presença de modelos situados no
passado.
b) materialista, por efeito da aspiração burguesa de um
lar confortável.
c) mística, em razão do prognóstico de um futuro
metafísico.
d) biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da
existência.
e) psicológica, em virtude da referência ao substantivo
“sonho”.

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