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isbn: 978-65-5531-000-0
1ª edição, novembro de 2020.
RESUMO
O artigo possibilita trazer para esta discussão a necessidade de uma Pe-
dagogia, um caminho que se possa articular o saber popular com o con-
texto social em que os educandos se encontrem inseridos. Reflete-se as
concepções pedagógicas que reproduzem a sociedade desigual em que
vivemos, bem como discute teóricas que pensam uma educação centrada
numa concepção de transformação da realidade. Concebe-se como propos-
ta de educação transformadora a Pedagogia Histórico-crítica como articu-
ladora de saberes populares a partir do chão da sala de aula, formando ho-
mens e mulheres capazes de intervir na realidade e modificá-la. Conclui-se
esta discussão entendendo a escola como o espaço social da contrariedade.
PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia Histórico-crítica. Transformação.
Realidade social.
INTRODUÇÃO
A escrita deste artigo trouxe para o autor, a continuidade do pensa-
mento utópico de que é possível mudar a realidade social a partir da es-
cola. Os procesos educacionais podem oportunizar concepções teóricas
que vê o sujeito como construtor de um mundo melhor e não como
mero produto que se vende num amplo mercado global. Precisa-se
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pensar numa educação não como mercadoria, mas como fomentadora
de mudanças sociais.
Pretende-se com este trabalho discutir as teorias e concepções peda-
gógicas que reproduz uma sociedade dividida em classes, que fomenta
a continuidade das relações de poder dentro da sociedade. Esta visão
de mundo compreende uma sociedade neutra, incapaz de agir sobre os
problemas sociais e modificá-lo.
Por outro lado, em contraponto á estas teorias, o autor faz uma re-
flexão trazendo para esta discussão, concepções pedagógicas que retra-
tam uma escola capaz de problematizar a realidade, a partir da valoriza-
ção da cultura que já existe na cultura do educando. Neste sentido, uma
escola que se molda por um viés transformador, concebe uma realidade
educativa que fomenta nas relações com os educandos a problematiza-
ção da realidade para que os educandos construa saberes que os ajude a
intervir na realidade e modificá-la.
A discussão acadêmica aqui problematizada à luz de teóricos como
Dermeval Saviani, retrata a partir deste autor a Pedagogia Histórico-crí-
tica como fomentadora da possibilidade da escola se tornar o lugar da
contrariedade. A escola por este viés concebe o educando como ser so-
cial capaz de problematizar os problemas apresentados e nele intervir.
O teórico Gasparin, concebe a Pedagogia Histórico-crítica como
fundamento prático para se efetivar uma educação capaz de intervir na
realidade a partir da participação ativa dos educandos nesse processo.
Sendo assim, este autor de forma didática explicita os cinco passos: Prá-
tica social; problematização; instrumentalização; catarse e prática so-
cial, que se tornam importantes para o desenvolvimento crítico-social
destes educando.
Para tanto, entender a realidade social se faz urgente para poder
mudar os rumos desiguais presentes nas relações entre as pessoas. A
proposta de discutir uma pedagogia que norteará a escola na constru-
ção de práticas libertadoras se faz também necessária e urgente. A pro-
posta deste trabalho que se intitula “Uma pedagogia para a superação da
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marginalização social”, quer ser um instrumento de reflexão e tomada
de decisão do papel social da escola.
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Nasce uma concepção de anormalidade que se aproxima da ideia de
marginalizados. Saviani (1992) reforça esta lógica sintetizando que para
esta concepção pedagógica, a marginalidade é também um fenômeno
que denuncia os anormais como os desajustados, desadaptados e que a
escola precisa lidar com estas diferenças. Assim sendo, a educação tida
nesta ótica como fator de equalização social, será o instrumento de cor-
reção para ajustar e adaptar estes sujeitos à sociedade.
Neste tocante a escola para suprir esta demanda e atender qualita-
tivamente, precisaria se constituir de uma nova roupagem, sair do viés
pedagógico para um olhar mais sentimental, se atentando para uma
sensível reformulação da sua organização escolar. O professor seria por
esta ótica, um mediador que estimula e incentiva o acesso ao conheci-
mento. Esta escola ganhou mais destaque social por incorporar no seu
interior práticas pedagógicas que refutavam o tradicionalismo dos con-
textos anteriores. Passou assim a ser uma escola com um maior poder
de acolhimento, visivelmente mais alegre, mais próxima dos alunos.
Contudo, esta escola não conseguiu alterar significativamente os sis-
temas escolares, pois além de mudar a ótica do ensino, iria mexer gran-
diosamente com os custos efetivos para a sua implantação e ampliação
dentro da sociedade. Assim, essa “nova escola” apenas se afirmou como
escolas experimentais, sendo posteriormente atreladas a pequenos gru-
pos das elites, conforme reforça Saviani (1992): “Com isto, a “Escola
Nova” organizaram-se basicamente na forma de escolas experimentais
ou como núcleos raros, muito bem equipados e circunscritos a peque-
nos grupos de elite” (p. 21).
Entende-se que a Pedagogia da Escola Nova não conseguiu resolver
o problema da marginalidade, tendeu-se a agravar a problemática, haja
vista que sua preocupação se assentou nas questões técnica-pedagógi-
ca do ensino, deixando à mercê, o olhar político de intervenção social.
Essa postura se fez agigantar a qualidade do ensino destinado às elites,
em contrapartida rebaixou o nível do ensino que ora era destinado às
classes menos favorecidas.
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Saviani (1992) ressalta que a expansão da Pedagogia da Escola Nova
tentou propagar os “defeitos” da Pedagogia tradicional, enfatizando
uma concepção de que é mais relevante para a sociedade uma escola
considerada boa que atenda a poucos, do que uma escola carente, defei-
tuosa que atenda a muitas pessoas. Aqui, se percebe o quanto a Pedago-
gia da Escola Nova não se atentou a resolver o problema da marginali-
dade na sua essência.
Por não concretizar os anseios de romper com a marginalidade, a
Pedagogia da Escola Nova se revelou ineficaz diante desta problemáti-
ca, dando espaço para a imersão de uma nova Pedagogia, a Tecnicista.
Para esta concepção pedagógica é necessária a neutralidade cientifica,
conforme fundamenta Saviani (1992, p. 23) quando cita: “A partir do
pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de ra-
cionalidade, eficiência e produtividade, essa pedagogia advoga a reor-
denação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e ope-
racional”. O autor compara os pressupostos desta teoria ao trabalho
fabril e reforça a intencionalidade desta, incorporar estes pressupostos
ao trabalho pedagógico nos espaços escolares.
Este fenômeno pedagógico tecnicista buscou criar nos espaços edu-
cativos uma organização escolar racional sem interferências de outros
pensamentos ideológicos que colocasse em risco sua eficiência. Cria-se
efetivamente neste cenário, propostas pedagógicas que entendia a ne-
cessidade de mecanizar o processo de ensino e aprendizagem, como
cita Saviani (1992): “Daí a proliferação de propostas pedagógicas tais
como o enfoque sistêmico, o microensino, o tele ensino, a instrução
programada, as máquinas de ensinar etc.” (p. 24).
Importante retomar a questão da Pedagogia tradicional e da Peda-
gogia da Escola Nova para melhor compreender o papel do professor
e do aluno na Pedagogia Tecnicista. Assim, na Pedagogia Tradicional o
professor era o sujeito do processo, detentor do saber, o aluno pessoa
secundária. Na Pedagogia da Escola Nova, o aluno passa a ser o centro
do processo, e passa a ter uma relação mais igualitária na busca pelo
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conhecimento. Já na Pedagogia Tecnicista, essa relação passa a ficar su-
bordinada ao sistema educacional, ficando professor e aluno numa con-
dição secundária.
Saviani (1992) reforça que a Pedagogia Tecnicista tem como o prin-
cipal elemento a organização racional dos meios, e o professor e o alu-
no ocupando posição subalterna, condicionados à meros executores de
processos organizados por especialistas imparciais e neutros, tendencio-
sos à meros reprodutores da ordem vigente.
É perceptível uma enorme diferença entre a Pedagogia da Escola
Nova e a Pedagogia Tecnicista quando comparadas no seu olhar sobre
professor e aluno e como os meios para construir o conhecimento se
encontram nesta relação. Na primeira, estes meios se encontravam a
disposição do professor-aluno, estes decidem o que deveriam usar,
quando usar e como iriam fazer este uso. Porém, a segunda Pedagogia,
esta decisão não era do professor-aluno, o sistema definia o que estes
sujeitos devem fazer, como e quando devem executar o que foi progra-
mado pelos especialistas.
Mais uma vez se pergunta como esta nova Pedagogia poderá re-
solver o problema da marginalidade? Entende-se que o marginalizado
para esta concepção pedagógica não será identificado como o ignoran-
te ou rejeitado por ser considerado “anormal”, mas por ser rotulado
socialmente como incompetente. Saviani (1992) reforça que: [...] “Mar-
ginalizado será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o
ineficiente, improdutivo” (p. 25).
Para esta concepção pedagógica a escola irá contribuir para a supe-
ração da marginalidade, ao tempo em que produzirá indivíduos eficien-
tes para a vida em sociedade. Preocupa-se em formar seres produtivos e
que em detrimento disso, possam dar sua contribuição para o aumento
da produtividade da sociedade.
Assim, a Pedagogia Tecnicista estaria por meio da escola contribuin-
do com a superação da marginalidade quanto seu trabalho é formar
indivíduos eficientes para o mercado de trabalho. Por marginalidade,
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esta Pedagogia, entende ser a ineficiência e a improdutividade, ambas
se constituem enquanto ameaça ao bom funcionamento do sistema.
Aqui se entende a educação com um subsistema que deve organizar as
ações para que o sistema permaneça instável.
Neste contexto é necessário entender que para a Pedagogia Tra-
dicional a questão essencial é “aprender”, para a Pedagogia da Escola
Nova, essa essencialidade passa a ser “aprender a aprender” e para a
Pedagogia Tecnicista, “aprender a fazer” passa a ser o centro dessa ação
pedagógica. Esta última incorporou às escolas um amplo processo de
burocratização das relações, ampliando a transferência dos ideais do
trabalho fabril para o interior das escolas, fragmentando a prática pe-
dagógica.
Essa transposição dos ideais do trabalho fabril para a prática pedagó-
gica no interior da escola fez a educação perder o seu sentido, permeado
pela ausência das relações que se deve estabelecer entre os sujeitos essen-
ciais nesse processo: o professor e o aluno. Saviani (1992) esclarece que:
Mais uma vez, uma Pedagogia não conseguiu superar os altos índi-
ces de marginalidade, mas efetivamente e de forma continuada aumen-
tou o caos na educação, pois não foi possível ter um contínuo trabalho
pedagógico, fragmentando e inviabilizando a prática pedagógica no in-
terior das escolas. Assim, o ensino e as vagas nesse período foram irre-
levantes, pois neste período aumentou consideravelmente a evasão e a
repetência, tornando uma Pedagogia que não conseguir ir de encontro
com a marginalidade, porém conseguiu agravar o problema.
Até aqui apresentamos as teorias “não criticas” por entenderem
que a marginalidade como um desvio social e que cabe a educação
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recolocar de volta ao lugar de origem, estes ditos sujeitos desviados, de-
sajustados. Nesse tocante, a marginalidade por este olhar, é tida como
um problema social, e vê a educação como única alternativa capaz de
intervir eficazmente na sociedade, pois considera apenas a ação da
educação como fundamento para equacional a problemática da mar-
ginalidade.
Saviani (1992) apresenta as “teorias crítico-reprodutivistas” enfati-
zando que estas são críticas e enxergam não ser possível compreender
as questões da educação sem antes entender seus fatores sociais. Apre-
sentam a educação como dependente da sociedade e assim reafirmam
“ainda” que a função própria da educação é reproduzir a sociedade.
Entre tais teorias encontra-se a “teoria do sistema de ensino enquanto
violência simbólica”. Entende-se por violência simbólica, o que passa a
relatar Saviani (1992):
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a violência simbólica nestes termos pode ser entendida como a impo-
sição de uma cultura sobre a liberdade das pessoas. Neste caso, a im-
posição de forma arbitrária de uma cultura dominante sobre grupos
dominados.
Ainda sobre esta questão, a imposição cultural pode ser exercida a
partir da autoridade pedagógica que dissemina entre seus pares por um
longo tempo outra cultura que ao ser incorporada passa a ser um ha-
bitus interiorizado como algo cultural. Neste sentido, Saviani (1992) re-
força que: “Portanto, a teoria não deixa margem de duvidas. A função
da educação é a de reprodução das desigualdades sociais. Pela reprodu-
ção cultural, ela contribui especificamente para a reprodução social”
(p. 31).
Importa-se a reflexão que nos indaga: como fica o fenômeno da
marginalização? Concebem os marginalizados como os sujeitos, gru-
pos ou classe sociais que se encontram numa condição de dominados.
Entende-se por marginalizados socialmente aqueles que num dado mo-
mento social não detém do poder material, ou seja, do capital econômi-
co, bem como podem ser considerados marginalizados culturalmente
aqueles que não dispõe do poder simbólico, que é o capital cultural.
Neste caso especifico a educação por meio da escola, não contribui para
superar esta problemática da marginalização, apenas reforça ou repro-
duz esta realidade.
Continuando, Saviani (1992) trata de outra teoria denominada de
“teoria da escola enquanto aparelho ideológico do estado”, que tem na figu-
ra de Althusser, filósofo francês a concepção de que sociedade capita-
lista atual, as elites detêm de aparelhos ideológicos que contribui para
a reprodução da sociedade dividida em classe. Para Althusser (1970),
os aparelhos ideológicos do estado configuram como um conjunto de
ações repressivas e ideológicas que primam para a continuidade da re-
produção social, jamais a sua transformação.
Ainda Althusser (1970) reforça que não existe aparelho puramente
ideológico, e reafirma sobre o poder da escola e das igrejas, enfatizando
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que ambas educam por metodologias apropriadas com punições, exclu-
sões, seleções, etc., ainda sinaliza que assim também acontece na famí-
lia. E continua reforçando que dos aparelhos ideológicos que apresenta
em seus escritos, o aparelho ideológico escolar se configura como o
mais estruturado socialmente. Sobre esta questão: “4. - Contudo, nes-
te concerto, há um Aparelho Ideológico de Estado que desempenha
incontestavelmente o papel dominante, embora nem sempre se preste
muita atenção à sua música: ela é de tal maneira silenciosa! Trata-se da
Escola” (ALTHUSSER, 1970, p. 64).
A escola como aparelho reprodutor da sociedade vê grande parte
daqueles que passam por ela como os operários e os camponeses, (os
marginalizados) que cumprem vagarosamente sua escolaridade e de-
pois disso são introduzidos no processo de produção do sistema capi-
talista. Outros avançam no processo de escolarização, mas não conse-
guem atingir o seu ápice, se tornando pequenos ou médios burgueses.
Ainda outros conseguem concluir sua escolarização, passando a incor-
porar os altos postos de exploração, de repressão e profissionais deten-
tores da ideologia dentro dos aparelhos ideológicos do estado.
Contudo, mais uma vez, se faz necessário questionar como a ur-
gente necessidade desta teoria ser visualizada pela escola como repro-
dutora da marginalização social, e aqui, considera-se marginalizada a
classe trabalhadora. A escola se torna por esta concepção, o aparelho
criado pela burguesia (donos do capital) para garantir a perpetuação
dos seus interesses. Assim, a escola e seus professores ao se relaciona-
rem (sem reflexão crítica) com as concepções ideológicas presentes na
organização do sistema educacional, contribuem para reproduzir as
condições de marginalização em que se encontram as classes menos
favorecidas.
Por outro olhar, Saviani (1992) traz outra concepção, agora deno-
minada de “teoria da escola dualista”, que tenta mostrar que no interior
da escola existe uma divisão de classes sociais: a burguesia e o prole-
tariado. Afirma o autor que é desde a escola primária que as ideias do
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aparelho escolar capitalista se efetiva, contribuindo para a formação da
força de trabalho e inculcação do domínio da burguesia.
Para Saviani (1992):
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demonstram independência, haja vista a burguesia tem a escola como
instrumento, já os descamisados, não a tem.
Para tanto, não se pode aqui enxergar a escola como idealizadora
da superação da marginalidade, ela se constitui como a percussora da
reprodução do domínio da classe dominadora. Assim, a marginalidade
por esta ótica é reforçada e se agiganta por entender que a escola se
encontra atrelada aos anseios e pressupostos políticos e sociais da classe
dominante.
Antes de adentrarmos à teoria crítica da educação, vale ressaltar que as
“teorias não críticas” de forma sutil pretendem equacionar o problema
da marginalidade por meio da escola, sem efetivamente demonstrarem
êxitos, as “teorias critico-reprodutivistas”, tentam explicar porque não
foi possível resolver o problema da marginalização. De fato, as teorias
não-críticas jamais conseguiriam superar o problema da marginalidade,
haja vista, a escola enquanto aparelho ideológico do estado conseguiu
seu êxito, que neste caso foi o fracasso das “teorias não críticas”.
Sequenciando a discussão, veremos a seguir uma das concepções
críticas da educação discutidas por Dermeval Saviani na tentativa de
retratar a educação como fomentadora de um mundo melhor a partir
da escola. Pretende-se com esta concepção pedagógica encontrar as res-
postas para a superação da marginalização social. Vamos lá?
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histórico, possibilitando criar alternativas pedagógicas em que seu mais
acentuado compromisso é a da transformação da sociedade, desconsi-
derando as ideias de reprodução tão encorajadas por outras concepções
pedagógicas da educação.
Diante deste cenário, Saviani propõe, no ano de 1979, a Pedagogia
Histórico-crítica conhecida naquele momento histórico de “pedagogia
dialética” – como uma tentativa de não apenas tecer uma crítica social,
mas criar alternativas para os problemas educacionais, orientando a
prática pedagógica em um sentido libertador. (SAVIANI, 2011).
Por conceber um olhar dialético, articulado com a contextualização
dos problemas sociais, a Pedagogia Histórico-crítica se encontra atenta
aos condicionantes sociais da educação que lhe permite criar um tra-
balho pedagógico que seja articulado com as relações estabelecidas em
sociedade. Nesse sentido, por esta concepção a escola deve construir
alternativa para a transformação da sociedade e não a sua reprodução,
na tentativa de superar os grandes níveis de desigualdades entre as clas-
ses sociais.
Faz-se necessário destacar nos escritos de Dermeval Saviani, a im-
portância desta relação entre teoria e prática dentro do trabalho peda-
gógico no interior das escolas. Essa relação é muito relevante para se
compreender a Pedagogia Histórico-crítica pelo fato de que os sujeitos
sociais se encontram inseridos numa mesma sociedade e, conseqüente-
mente, estabelecem relações.
A Pedagogia histórico-crítica se articula e realiza uma nova crítica a
sociedade de classes, enxergando na sua estrutura social, o antagonis-
mo de duas classes, com interesses distintos. Para tanto, a Pedagogia
Histórico-crítica, vai de encontro com os interesses da classe dominan-
te, possibilitando reflexões nos espaços da escola. Nesse sentido, é ne-
cessário que se busque construir nos espaços educativos a construção
de alternativas pedagógicas que alimente a esperança daqueles que se
encontram à margem da sociedade, possibilitando adequar os espa-
ços da escola aos interesses dos menos favorecidos (proletariados). A
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pedagogia histórico-crítica precisa do envolvimento e da luta ideológica
daqueles que diretamente se envolvem com a causa dos grupos subal-
ternos, na tentativa libertadora de se construir uma sociedade sem divi-
são de classes.
Para Gasparin e Petenucci na escrita do artigo: Pedagogia histórico crí-
tica: da teoria à prática no contexto escolar, traz à tona o conceitos e refe-
rências do sentido desta Pedagogia, sinalizando que ficou evidenciado
o porquê, esta é chamada de Histórico-critica por Dermeval Saviani.
Ela é Histórica, porque nesta perspectiva a educação também interfere
sobre a sociedade, podendo contribuir para a sua transformação social.
Ela também é crítica, por ter consciência dos condicionantes que esta
sociedade exerce sobre a educação.
Esta concepção pedagógica visa resgatar a importância social da es-
cola, fomenta uma nova organização da prática educativa, ressaltando
a sistematização do saber, a partir do qual será definida a importância
do saber disponível aos alunos. Esta é uma concepção teórica de suma
importância para o cenário educacional brasileiro, pois traz uma me-
todologia que se diferencia das demais, por conceber um mundo sem
divisão de classes a partir do trabalho em sala de aula.
Nesse sentido, a Pedagogia Histórico-crítica, especifica metodolo-
gicamente os passos que são imprescindíveis para o desenvolvimento
crítico-social do educando: o 1º passo: Prática Social; 2º passo: Proble-
matização; 3º: Instrumentalização; 4º: Catarse; 5º: Prática Social). Aqui
iremos discutir mais sistematicamente a didática da Pedagogia históri-
co-crítica, que reforçada por Petenucci (2008), salienta que:
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Gasparin (2002) ainda fundamenta a metodologia da Pedagogia His-
tórico-crítica, sinalizando que, esse novo olhar metodológico de ensino-
-aprendizagem expressa a totalidade da prática pedagógica, dando-lhe
objetividade e direção na construção e reconstrução do conhecimento.
Essa opção metodológica fortalece a prática pedagógica e valoriza to-
dos os envolvidos que compõem o processo educativo escolar.
Saviani (2007, p.74), nessa mesma perspectiva, tenta trazer esse
processo metodológico, fazendo uma contextualização teórica e prá-
tica, quando saliente que nesse processo, o sujeito constrói o seu co-
nhecimento, através do movimento da Síncrese para a Síntese, tendo
a Análise, como mediadora desse processo. O aluno, enquanto sujei-
to do conhecimento chega à sala de aula já repleto de conhecimentos
baseado em suas experiências anteriores. Esse conhecimento não cien-
tífico, mas informal e fragmentado (sincrético) deverá ser analisado e
reforçado pelo educador, criando no aluno a motivação e o interesse
em reconstruir seu pensamento, dando início à formulação do próprio
conhecimento, que a isso chamamos de (análise); através da elaboração
e reelaboração destas diferentes relações de significados, o sujeito vai
se aproximando cada vez mais do conhecimento elaborado, denomina-
do de (síntese). Portanto, o método dialético aqui apresentado, que em
sala de aula consiste na construção do conhecimento a partir de infor-
mações desconexas, (internalizadas anteriormente pelos sujeitos que
chegam à escola) até um pensamento organizado e coerente, construí-
do a partir da contextualização, mediada pelo educador em sala de aula.
Apresentam-se nesta sequência os passos de forma ordenada para
que se conheça o funcionamento teórico da Metodologia da Pedagogia
Histórico-crítica de Dermeval Saviani, a partir do olhar de Gasparin.
O passo inicial, denominado de 1º Passo - Prática Social Inicial é per-
ceptível à necessidade de avaliar atentamente o nível de desenvolvimen-
to atual do educando que chega até a sala de aula, observando: se este
sujeito se expressa pela prática social inicial dos conteúdos. Se ele já
traz seu ponto de partida no conhecimento prévio do professor e dos
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educandos. Para Gasparin (2002) Este momento de conscientização é
mediado pelo professor que, “a partir da explicitação da Prática Social
Inicial, toma conhecimento do ponto de onde deve iniciar sua ação”
(p.20).
Citam-se neste sentido, alguns momentos importantes que podem
ser utilizados metodologicamente pelo educador na tentativa de apro-
ximar a teoria da objetividade da sua prática: num primeiro momento,
o professor anuncia aos alunos os conteúdos que serão estudados, re-
forçando seus objetivos; em um momento posterior, na mesma aula, o
educador busca conhecer os educandos através do processo dialético,
observando e percebendo, suas vivências internalizadas que o coloca
distante ou perto do conteúdo apresentado, criando alternativas peda-
gógicas que estimule o sujeito, oportunizando a estes falarem aberta-
mente do que gostariam de saber mais sobre o conteúdo que lhe foi
apresentado. Lembrando que esse momento é peculiar à postura do
educador em perceber como esses sujeitos fazem a ligação do que sa-
bem com a prática social dos conteúdos.
A Problematização é neste caso o 2º passo que partir da observação do
cotidiano trazido por cada educando, essa realidade se torna um obje-
to de estudo, é o momento de criar uma problematização a partir das
experiências informais trazidas pelos sujeitos. O grande objetivo deste
procedimento metodológico é despertar no sujeito a consciência crítica
sobre a realidade que o cerca, levando-o a refletir e questionar os pres-
supostos sociais que o rodeia. Assim, ao ser analisada didaticamente,
a problematização passa a se tornar um conteúdo para a prática social
dos alunos. Segundo Gasparin (2002) “a aprendizagem somente é sig-
nificativa a partir do momento em que os educandos […] apropriam-se
do objeto do conhecimento em suas múltiplas determinações” (p.52).
No 3º passo, essa fase, a Instrumentalização é o momento em que
o educador estrutura o conhecimento científico. De forma peculiar, é
necessário que este momento seja pautado em fundamentação teórica
que amplie a visão sobre como o sujeito internaliza o conhecimento.
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Para isso, Gasparin (2005), se baseando nas teorias de Vygotsky, reafir-
ma que o processo de construção na mente das crianças se dá pela me-
diação do adulto. Esse mesmo autor, indaga, sinalizando que muitas
crianças ao se depararem com conhecimentos mais aprimorados, pode-
rão não compreendê-los inicialmente. Como reagiriam estes sujeitos?
A essa questão, Vygotsky (2003) responde:
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Nesta fase da Catarse, que é o 4º passo, identifica-se o momento em
que o educando consiga sistematizar o que assimilou, mostrando que
atingiu um nível de abstração intelectual mais elevado da realidade. As-
sim, Gasparin (2002) define que esta abstração intelectual pode ser de-
monstrada oral ou escrita, e é denominada de Catarse. Gasparin (2002)
ainda sinaliza que “Isso não significa que a aprendizagem ocorra somente
durante a Catarse. Ela se dá no processo inteiro, nos cinco passos, mas a
Catarse é a expressão mais evidente de que o aluno se modifica intelec-
tualmente” (p.134). Esse processo se dá, envolvendo alguns momentos e
observações: primeiramente observa-se o resumo mental realizado pelo
sujeito, ou como ele demonstra ter abstraído o conteúdo; é perceptível
quando demonstra a sua nova postura mental/conceitual que une o sa-
ber cotidiano ao saber científico totalizando o novo conhecimento.
Por esta perspectiva, o educando realiza um resumo de tudo que
foi abstraído por ele, a partir dos conteúdos estudados, realizando as-
sim uma nova conceituação do conteúdo. Num outro passo seguinte, o
processo de avaliação oral ou escrita, possibilita que o sujeito expresse
ou traduz o que de fato aprendeu, sempre levando em consideração as
dimensões estabelecidas pelo educador para tratar o conteúdo.
A nova forma de pensar e intervir na realidade constitui a Prática
Social Final, que é neste caso o 5º passo. Todos os passos ajudaram a
construir a autonomia do ser, que ao superar os desafios iniciais, acaba
por ocupar outro nível de desenvolvimento cognitivo: o de uso social
dos conteúdos científicos aprendidos na escola, a partir de sua inserção
na realidade. Esta fase é conceituada por Gasparin (2002) como o ponto
de chegada do processo pedagógico.
Esse novo nível de desenvolvimento do educando, consiste em assumir
uma nova postura de ação a partir do que foi aprendido no decorrer das
atividades. Essa é uma nova forma do sujeito perceber a realidade, que se
constituirá da prática social final. Este passo se apresenta por duas ques-
tões básicas: primeiro pela nova postura prática, pelas novas atitudes rea-
lizadas, a partir das novas formas de expressão e intencionalidade da sua
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prática fora da escola, das percepções sobre os novos conhecimentos cien-
tíficos; segundo, pelos compromissos que assumirá e pelas ações realiza-
das ou que se dispõe a executar colocando em prática a efetividade social
dos novos conceitos abstraídos a partir desta metodologia.
Para tanto, na orientação metodológica de Gasparin é possível descre-
vê-la enquanto um caminho para se praticar a Pedagogia Histórico-Cri-
tica de Dermeval Saviani. A seguir apresenta-se o quadro que resume as
ideias de Gasparin, apontando de forma sistemática os cinco passos.
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Contudo, o educando na escola, não pode mais ser um mero cida-
dão neste cenário de luta de classes e a instituição educativa ainda não
conseguiu superar a sua fragmentação organizacional e continua a re-
passar o saber de forma alienante, que é o conhecimento fragmentado.
Assim, a superação da marginalização a partir da escola, ainda é algo
utópico, porém Gasparin(2002) defende que uma proposta pedagógica,
baseada no método dialético, “Prática-Teoria-Prática”, pode ser um ca-
minho inverso ao que está colocado como hegemônico, tanto na esco-
la, como nas relações sociais mais amplas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões tecidas neste trabalho a partir do tema: “uma pedagogia
para superação da marginalização social” se tornou algo de extrema re-
levância dentro de um cenário conflituoso em que cada vez mais a edu-
cação se associa a ideia de mercado, colocando à margem os sujeitos
sociais em estado de vulnerabilidade social. Por este olhar, discutiu-se
a importância da escola e seus atores se tornarem homens e mulheres
capazes de intervirem e modificarem a realidade social.
Foi possível identificar que historicamente tivemos concepções pe-
dagógicas que se atrelaram às elites dominantes da época e fortalece-
ram ideais de reprodução social. Estas concepções nos mostraram que
fortaleceram no âmbito da sociedade a divisão desta mesma sociedade
em classes, fortaleceram a continuidade das desigualdades sociais e re-
produziram as relações de poder.
Por outro lado, foi possível discutir, em contrariedade a este formato
de concepção, ideias e fundamentos que concebia uma escola proble-
matizadora da realidade social, a partir da valorização dos educandos
e sua produção cultura trazida de casa, de sua realidade. Estas concep-
ções pedagógicas retratam a necessidade de se ter uma escola próxima
da realidade social em que seus alunos se encontram inseridos, ajudan-
do-os a entenderem seus problemas e dilemas, e não apenas permane-
cerem perplexos diante deles, mas intervir e modificar esta realidade.
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Foi possível trazer para este estudo a Pedagogia histórico-crítica do
Filósofo e Professor Dr. Dermeval Saviani, que compreende uma Peda-
gogia capaz de ser a contrariedade utópica que enxerga a escola como
o lugar da problematização da realidade e concebe professor e aluno
como sujeitos sociais indispensáveis na efetivação desta pedagogia. No
entanto, o agir metodológico desta Pedagogia Histórico-crítica retratou
metodologicamente os cinco passos necessários para uma prática edu-
cativa centrada na intervenção da realidade. A Prática social; a proble-
matização; a instrumentalização; a catarse e a prática social, trouxeram
de forma sistemática uma organizar metodológica importante para o
desenvolvimento crític-social dos educando no chão da sala de aula.
Contudo, percebeu-se que esta concepção pedagógica se traduz
num olhar utópico da realidade, ela concebe a escola como capaz de
enfrentar os diversos dilemas sociais que os governos e políticas sociais
não conseguiu modificá-los. Porém, esta mesma concepção denomina-
da de Pedagogia Histórico-crítica persiste em acreditar que é necessário
olhar a escola e seus alunos como sujeitos sociais capazes de superar o
processo alienante presente nos espaços escolares. Sendo assim, o cami-
nho para a superação da marginalização social, passa necessariamente
por uma Pedagogia escolar que esteja do lado dos mais vulneráveis.
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VYGOTSKY, L. S.. A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 2003.
NOTAS
1. Escritor e Autor do livro: “A Pedagogia da Escola dos meus sonhos”, pela editora Autografia
- Rio de Janeiro - RJ. Doutorando e Mestre em Educação pela Universidad Interamericana - As-
suncion/PY. Pedagogo. Assistente Social, Psicopedagogo. É Professor Assistente Acadêmico na
Faculdade Educacional da Lapa - FAEL. Psicopedagogo em Centros Multidisciplinares de Apoio
a Educação Inclusiva, nas cidades de Canarana e Barro Alto na Bahia. Profissional de Segurança
Pública - Polícia Militar do Estado da Bahia e Instrutor do Programa Educacional e Prevenção
as Drogas - PROERD - E-mail: edineipsicopedagogo@gmail.com
2. Doutora em Educação: Currículo. (PUC-SP) Área de Pesquisa: Tecnologias da Educação.
Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Especialista em
Administração e Supervisão Escolar e Especialização em Metodologia de Ensino. E- mail:
aneridis@gmail.com
3. Pós-Doutora em Educação pela Universidad Iberoamericana - PY. Doutora em Ciências da
Educação pela Universidade San Carlos - PY. E-mail: profsandrageo@yahoo.com.br
4. Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Columbia del Paraguay. Especialista em
Direito Educacional pelas Universidades Claretianas - UNICLAIR. Graduada em Pedagogia
pela Universidade Federal e Ouro Preto. E-mail: julianasantoscarvalho@hotmail.com
5. Pós-Doutor em Ciências da Educação; Ciências Jurídicas e Administração pela Universidade
Iberoamericana - UNIBE- PY. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Americana
- PY. Graduado em Pedagogia pela Unibh - Centro Universitário de Belo Horizonte. E-mail:
gnilton@zipmail.com
6. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia del Paraguay. Metre em
Ciências da Educação pela Universidad Columbia del Paraguay. E-mail: lillianoliveira@uol.com.br
7. De acordo com as estimativas relativas a 1970, “cerca de 50% dos alunos das escolas primá-
rias desertavam em condições de semianalfabetismo ou de analfabetismo potencial na maioria
dos países da América Latina”. [...] Isto sem levar em conta o contingente de crianças em idade
escolar que sequer tem acesso à escola e que, portanto, já se encontram a priori marginalizados
dela. O Simples dado acima indicado lança de imediato em nossos rostos a realidade da mar-
ginalidade relativamente ao fenômeno da escolarização. Como interpretar esse dado? Como
28
explicá-lo? Como as teorias da educação se posicionaram diante dessa situação? SAVIANI, Der-
meval. Escola e Democracia. 26. ed. Campinas: Autores Associados, 1992.
8. Em outros termos, o que eu quero traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica é
o empenho em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento histórico
objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da pedagogia histórico-crítica é o mate-
rialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da
determinação das condições materiais da existência humana. No Brasil, esta corrente pedagógi-
ca firma-se, fundamentalmente, a partir de 1979. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-crí-
tica: primeiras aproximações. 11.ed.rev.— Campinas, SP: Autores Associados, 2011
9. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2289-8.pdf.
Acesso em 06 de março 2019.
29
II.
OS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIENCIAS DA EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE
AMERICANA - PY CURSADOS POR BRASILEIROS:
UMA VISÃO HOLÍSTICA ACERCA DAS
ATITUDES PROATIVAS DIRECIONADAS À
SAÚDE DOS SEUS PÓS-GRADUANDOS
Autora: Edna Resende Camisão Aquino1
RESUMO
O artigo foi resultado da tese de doutorado da autora, apresentado
na Universidad Americana, Assunção Paraguai (2014),curso interme-
diado pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional Ibero-America-
no (IDEIA), Brasil, apoiado pelo acordo do MERCOSUL, no período
de janeiro de 2009 a janeiro 2012. Foram analisadas condutas proativas
dos pós-graduandos dos cursos de mestrado e doutorado em Ciências
da Educação no contexto da visão holística de saúde. Foi um estudo
de caso com predominância qualitativa, aplicou- se questionários e
entrevistas com objetivo de analisar as ações e atitudes proativas di-
recionadas ao bem-estar físico, emocional, social e espiritual dos pós-
-graduandos. Houve o entendimento de saúde conforme investigado e
foram constatados que o estilo de vida e as formas comportamentais
dos estudantes bem como as condições ambientais foram fatores que
contribuíram para aparecimento de intercorrências de saúde e influí-
ram no desempenho acadêmico tanto em território Paraguaio quanto
no nacional.
PALAVRAS CHAVE: IDEIA. MERCOSUL. Saúde. Universidad
Americana.
31
RESUMEN
El artículo fue resultado de la tesis del autor, presentada en la Uni-
versidad Americana, Asunción Paraguay ( 2014), curso mediatizado
por el Instituto de Desenvolvimento Educacional Ibero-Americano (
IDEIA) – Brasil, aprobado por el acuerdo MERCOSUR, la pesquisa tuvo
lugar durante el período de Enero de 2009 Enero de 2012. Fueron ana-
lizadas las conductas proactivas de lós estudiantes a nivel de postgrado
stricto senso en programas de maestria y doctorado en el contexto da la
visión holística de la salud.; Fue un Estudio de Caso con predominancia
cualitativa, aplicó cuestionarios y entrevistas para analizar las acciones
y actitudes proactivas dirigidas hacia la salud física, emocional, social y
espiritual de los estudiantes de posgrado para analizar las acciones y ac-
titudes proactivas dirigidas hacia la salud física, emocional, social y es-
piritual de los estudiantes de posgrado. Se constató el entendimiento de
la salud se ha evidenciado y que el estilo de vida y comportamiento de
los estudiantes, así como las condiciones ambientales, fueron factores
que fueron factores que contribuyeron a la aparición de complicaciones
de la salud y influyeron en el desempeño académico tanto en el territo-
rio paraguayo cuánto en el nacional
PALABRAS CLAVES: IDEIA. MERCOSUR. Salud. Universidad
Americana.
I. INTRODUCAO
A proposta do estudo foi investigar as condições de saúde dos educado-
res pós – graduandos em ciências da Educação da Universidad Americana,
em Assunção, Paraguai, curso intermediado pelo Instituto de Desenvol-
vimento Educacional Ibero-Americano (IDEIA), BRASIL¹ no período de
janeiro de 2009 a janeiro de 2012. O IDEIA atuou como mediador nas re-
lações nacionais e internacionais, foi um facilitador e propiciou a conexão
entre estudantes e universidade no país estrangeiro. Concretizou o desejo
de aperfeiçoar e aprofundar conhecimentos dos profissionais principal-
mente da área da educação com o sonhado diploma.
32
Os profissionais brasileiros de diversas áreas foram atraídos a parti-
cipar dos cursos de formação continuada em nível de pós- graduação
stricto senso em programas de mestrado e doutorado estimulados pelo
acordo entre os países do MERCOSUL², que teve seu inicio em 1991
com o Tratado de Assunção³. A fim de viabilizar parcerias e integrar as
nações amigas e signatárias novas legislações foram criadas.
Em destaque o Decreto n° 5.518, de 23 de agosto de 2005, visa pro-
mulgar o Acordo de Títulos e Graus Universitários para o Exercício de
Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do MERCOSUL, mecanis-
mo de permissão automática dos títulos obtidos em instituições nos
países signatários. Esse acordo respeita a soberania de cada país para
avaliar a qualidade de ensino prestada nos cursos de cada instituição de
ensino, devendo ter a validação do órgão competente do país de ori-
gem, atendendo as formalidades e exigências.
A escassa oferta de vagas no Brasil em cursos de pós- graduações
no setor público e os altos preços nas instituições privadas tornaram
inviável a realização dos cursos em território nacional. No afã de auferir
conhecimentos técnicos e científicos tornando-se especialistas e pesqui-
sadores bem como provendo um futuro melhor com a possibilidade de
uma ascensão profissional com melhorias financeiras surgiu à perspec-
tiva de realizar os cursos fora do país.
A diversidade entre os profissionais procedentes de várias regiões do
Brasil com diferentes perfis socioeconômicos, culturais e ambientais e
com faixas etárias distintas demonstraram estilo e ritmo de vida dife-
rente. Esta desigualdade tornou-se demonstrada durante o período de
permanência em Assunção e foi observada pela pesquisadora a fragili-
dade e o desequilíbrio na saúde de vários colegas de curso, como Enfer-
meira chegou a atuar profissionalmente em alguns casos.
Essa demanda foi fonte de motivação para a realização da pesqui-
sa visando encontrar soluções para os problemas descobertos no que
tange a saúde dos pós – graduandos. As observações clínicas informais,
sendo transformadas em um trabalho cientifico, foi o desafio atraente
33
sendo eleito como caminho de pesquisa as ações proativas dos pós- gra-
duandos .
Ressalta-se que a investigação foi realizada com os pós-graduandos
profissionais da educação, muitos deles submetidos a baixos salários,
carga horária excessiva de trabalho, com jornadas duplas e triplas e que
ficaram sem usufruir suas férias e recessos escolares em prol do cresci-
mento profissional.
Arcaram com suas despesas durante sua formação como estadia,
alimentação, transporte, material didático e paradidático. Não tinham
um tempo para seus cuidados, pois, precisavam cumprir as exigências
diárias de tarefas acadêmicas. Portanto, estavam vulneráveis quanto à
questão saúde e carecia de orientações e um despertar para cuidados
com sua saúde.
Analisando as atitudes dos professores estavam presentes fatores de
riscos na forma de alimentarem, consumo de álcool, tabagismo, seden-
tarismo, transtornos emocionais, fadiga e estresse, variações climáticas,
poucas horas de sono, acarretando surgimento de doenças e agrava-
mento das doenças preexistentes.
A discrepância de hábitos salutares e a não realização de exames pe-
riódicos, possivelmente, tenha interferido nos resultados dos trabalhos
acadêmicos nos seus diversos níveis.
34
• Identificar questões referentes ao estilo de vida, antecedentes e ris-
co à saúde dos pós- graduandos dos cursos de mestrado e doutora-
do em Ciências da Educação realizados na Universidad Americana,
Paraguai;
• Pontuar as intercorrências na saúde dos pós- graduandos no perío-
do de permanência em Assunção e suas possíveis consequências.
• Distinguir as ações e atitudes proativas desenvolvidas pelo IDEIA
com vistas à manutenção da saúde dos pós- graduandos dos cursos
de mestrado e doutorado em Ciências da Educação realizados na
Universidad Americana, Paraguai.
35
meses na área restrita da Central do Aluno. Caracterizou-se como sen-
do não probabilística, intencional e por acessibilidade.
Como dados primários foram utilizados questionário e entrevistas.
Seguiram o tramite legal com análise de doutores da área com autori-
zação e aplicação de pré- teste. O questionário continha perguntas fe-
chadas e abertas tendo como objetivo coletar informações sobre o esti-
lo de vida, condições socioeconômicas, atitudes e comportamentos dos
participantes em relação a sua saúde e seus estudos feitos fora do país.
Foi autoaplicado de forma indireta e as respostas autopreenchíveis,
retornaram por meio de correio eletrônico diretamente para a inves-
tigadora. A world wide web serviu como aparato tecnológico para a
concretização do estudo. Aplicado o questionário foi feita tabulação das
respostas e análise.
As entrevistas foram semiestruturadas e realizadas com os Diretores
Acadêmico e Administrativo do Instituto IDEIA e com a responsável
Registro Acadêmico para perscrutar informações acerca das ações pre-
ventivas e protetoras porventura efetuadas pelo referido instituto, bem
como a busca de referências históricas que enfocassem a saúde do pós-
-graduando.
Como dado secundário utilizou-se para a pesquisa bibliográfica li-
vros, revistas e periódicos, publicações em websites de fontes governa-
mentais nacionais e internacionais, além de não governamentais.
36
esta forma de atendimento. Passaram a ter um serviço de atendimento mé-
dico, contratado pelo IDEIA, a partir de 2009, exclusivamente para seus alu-
nos conforme assegurou o Diretor Administrativo da Instituição.
A Universidade Americana, por meio de seu serviço de saúde, resol-
veu o problema das ocorrências no interior da mesma com um convê-
nio para atendimentos emergenciais com instituições de saúde locais.
Casos de maiores gravidades, o Hospital Santa Barbara foi acionado. A
internação e seu custeio era responsabilidade do Instituto IDEIA ou do
aluno a universidade se excluiu neste quesito.
Vale ressaltar que dos 773 pós-graduandos em Ciências da Educação que
estavam inscritos nos cursos de mestrado e doutorado, desde janeiro de
2009 até janeiro de 2012, na Universidade Americana, intermediados pelo
Instituto IDEIA, verificou-se que cinco pós-graduandos deixaram de fazer
o curso por motivo de doença, enquanto 39 terminaram o curso, mas ainda
não tinham feito defesas, alegando problemas de saúde. No que tange aos
que atrasaram a defesa por motivo de saúde, foram sete justificativas.
Em relação às condutas Proativas adotadas pelo IDEIA em Assun-
ção, constatou-se que forma mantidas orientações no site institucional.
Estabeleceram parcerias com a seguradora ASSIST CARD, adequando
um valor menor para seus educandos aderirem a esta modalidade de
seguro saúde. Mantiveram um profissional da área de saúde (médico ou
enfermeiro) à disposição dos educandos nos horários de aulas. Propor-
cionaram apoio logístico para a locomoção do educando em caso de
doença e suporte emocional, bem como fornecimento de medicação
em casos prescritos e que o educando não tinha como prover.
A faixa etária foi eleita para servir de parâmetro nos estudos por
ter sido ela um dos aspectos mais relevantes que incidiram na saúde
dos pós- graduandos em Assunção. Apoiado também como fator de-
terminante para detectar a expectativa de vida, tempo laboral, riscos a
doenças e estilo de vida dos estudados. Foram estabelecidas nove faixas
etárias para uma visão maior das características comportamentais que
embasavam os objetivos da investigação.
37
Foram analisados 58 sujeitos que responderam a seis perguntas da
primeira parte do questionário que continham dados pessoais (sexo,
tempo de profissão, jornada de trabalho, faixa etária e faixa salarial) e
perguntado qual curso tinha frequentado no Paraguai, mestrado, dou-
torado ou mestrado e doutorado.
A segunda parte continha dados de saúde do investigado para carac-
terização do sujeito, perquirindo sobre doenças pré-existentes, conhe-
cimento da pressão arterial, uso de medicamentos, hábitos em relação
uso de fumo, bebidas alcoólicas, ingestão de líquidos, atividades físicas,
refeições diárias, realização de exames periódicos, seguro viagem, inter-
corrências na saúde no período de estada em Assunção, interferências
de saúde no desempenho acadêmico durante o curso e durante a elabo-
ração do trabalho final no Brasil.
Apurada a percepção espiritual dos pós-graduandos para ver o nível
de comprometimento destes com a visão holística do novo conceito
de saúde dada pela OMS onde o equilíbrio espiritual é fonte geradora
de saúde e de suma importância para manter e prevenir doenças. Con-
cluindo o questionário foi feita uma pergunta aberta para o investigado
acrescentar à pesquisa sua opinião sobre o tema. Os indicadores acima
possibilitaram fazer uma avaliação sobre o perfil de quem procurava
estes cursos.
Bertherat (1996) afirma que o corpo é a primeira casa do ser huma-
no e este não sabe fazer bom uso dela perdendo inclusive sua chave. A
negligência faz com que o gerenciamento do corpo fique delegado a
terceiros. Um corpo desconhecido pelo próprio dono torna-se muito
mais difícil de ser cuidado e tratado. A pose do corpo pode ser retoma-
da com o reconhecimento deste como único, físico, mental/ espiritual,
social. A conscientização do corpo, autoconhecimento facilitará a bus-
ca e o equilíbrio da saúde.
Ficou constatado que dentre os 58 sujeitos participantes da amostra
que 28 fizeram curso de mestrado, 19 curso de doutorado e 11 fize-
ram mestrado e doutorado em Assunção. As mulheres apareceram em
38
maior número sendo 35 no universo de 58 investigados. No referente
à faixa etária foi encontrado 40 pós-graduandos na faixa 46- 70 anos.
Tempo de profissão acima de 21 anos. Em relação à carga horária traba-
lhada pelos pós- graduandos foram apontados que a maioria trabalhava
no mínimo de 40 horas ou mais semanais. A média salarial variou entre
quatro e quatorze salários mínimos nacional.
No que tange à saúde dos investigados foi constatado que dos 58
investigados 55 conheciam sua pressão arterial, sendo que 15 se decla-
raram hipertensos. Fazendo uso de medicamentos diários foram 27 que
manifestaram esta prática. As doenças preexistentes foram relatadas em
11 investigados, sendo que encontrada mais de uma no mesmo.
Quanto aos hábitos em relação ao fumo e bebidas alcoólicas grande
parcela compreendendo todas as faixas etárias não o faz com frequên-
cia, 54 se declararam não fumantes e 43 bebiam eventualmente e nos
finais de semana. Em relação à ingestão de líquidos 25 alegaram tomar
até 5 copos de 200 ml diários e 33 alegaram ingerir de 6 a 10 copos de
200 ml diários.
As atividades físicas estavam presentes na vida de 34 investigados
numa frequência maior de 2 a 3 vezes por semana. Declaram não ser
adeptos aos exercícios físicos 24 investigados. No quesito alimentação a
maioria estava entre 3 e 4 refeições ao dia. Foi constatado que o exame
periódico realizado pelo trabalho e de obrigação patronal ainda não é
posto em pratica em relação aos educadores somente 9 o fazem.
Nahas (2006) assegura que para manter um estilo de vida saudável
é preciso ter condutas comportamentais preventivas. Nessas condu-
tas são elencados os cinco elementos essenciais para a manutenção do
bem-estar, chamado de pentáculo do bem–estar: alimentação, exercício
físico, higiene, amizades e atitudes.
De acordo com a OMS (1998), a definição de estilo de vida está baseada
em padrões de comportamento que estão submetidos a condições socioe-
conômicas, assim sendo afeta não só o individuo, mas toda coletividade.
Ao expandir o quesito exame médico realizado por iniciativa própria, 55
39
investigados afirmaram que o fazem sendo 31 anualmente e ou semestral-
mente, 20 sempre que precisavam procuravam exames.
Exames preventivos antes de viajarem para Assunção a grande maioria
declaram que não o faziam. Uma pequena parcela de 12 investigados afir-
mou utilizar este recurso. Quanto ao seguro saúde a maioria não o possuía.
Foi averiguada que houve muitos sintomas de distúrbios a saúde na
coleta de dados, mas, que declaram ter necessitado de ajuda de um pro-
fissional de saúde somente 17 investigados declararam. Dentre os sin-
tomas relatados foram 26 sintomas gastrointestinais, 21 respiratórios,
treze alérgicos, 1 cardiovascular, dois acidentes, 8 problemas odontoló-
gicos e 9 distúrbios ósseos/ osteomusculares.
Certamente, precisaram de medicação e ou ajuda de um profissio-
nal de saúde de forma oficiosa ou de outro profissional de saúde que
encontrava na situação de estudante como também de apoio de colegas
que portavam medicamentos e davam aos que precisavam. Foi observa-
do que declararam as enfermidades e não a ajuda de profissionais.
De acordo com Marcondes et al (1980 ), Capra (1982), Scliar (2007),
Campos (2007) , Briceño-Leon (2000) Mongelós (2009) Aquino (2012),
saúde depende de circunstancias como social,econômica,religiosa, po-
lítica e cultural , que determinam de forma individualizada o seu en-
tendimento . Esta envolvida valores extrapola a visão de que saúde é a
ausência de componente biológico que acarreta a doença. Tem um veio
biológico e outro comportamental.
É um direito e uma aquisição. Depende do equilíbrio do individuo
como o meio ambiente. Saúde é uma condição por meio de práticas sau-
dáveis que previne. É um estado de perfeita harmonia entre o físico, men-
tal, social e ambiental. Dentre os vários fatores que contribuem para o
adoecimento do indivíduo, destacam-se os ambientais, biológicos, cultu-
rais, emocionais, comportamentais, socioeconômicos e nutricionais.
O desempenho acadêmico e as intercorrências de saúde durante
a estada em Assunção, Paraguai, foi apontada por16 investigados que
afirmaram ter sofrido com os transtornos e que interferiram em seus
40
desempenhos acadêmicos. Na elaboração do trabalho final da disserta-
ção ou tese foram encontrados 16 relatos de investigados que sofreram
por motivo de saúde neste processo.
Foram coletados dados junto ao registro acadêmico que contabili-
zou 5 pós- graduandos que deixaram de fazer o curso por motivos de
saúde, 39 não concluíram o curso e /ou não fizeram as defesas, ale-
garam o mesmo. Não foi possível o cruzamento desses dados com a
amostra, tampouco estabelecer a relação do percentual envolvido, mas
são dados que revelam a existência de intercorrências na saúde que pro-
vocaram dificuldades e/ ou impedimentos na concretização dos cursos.
Em relação ao equilíbrio espiritual como fonte geradora de bem-es-
tar e saúde ficou demonstrado o entendimentos dos investigados quan-
to a sua importância e que o mesmo pode ser encontrado por meio de
práticas religiosas, esportivas, meditação ou contato com a natureza.
No quesito aberto para o investigado acrescentar à pesquisa sua opi-
nião sobre o tema foram relatados os problemas com alimentação, ha-
via pouco tempo para fazer as refeições, dificuldade de bons restaurantes
perto da universidade, falta de frutas e legumes nas refeições, alimentos
calóricos e pouco nutricionais, condições higiênicas dos restaurantes.
Mobiliários e sala de aula foram percebidos como inadequados para
a quantidade de horas em que ficavam sentados, ocasionou dores no
corpo e musculares. Faltava ergonomia. Tinha pouca circulação de ar
nas salas. Carga horária excessiva três períodos oficiais e um oficioso,
após as 23 horas no hotel fazendo as tarefas extraclasse excessivas, des-
gastantes com poucas horas de sono, repouso e nenhum lazer.
Dejours (2011) afirma que o trabalho pode ser um gerador de saúde ou
de doença devido o sofrimento psíquico que é submetido os trabalhadores.
A rotina acirrada pela exaustão ou aborrecimentos, opressões, assédio mo-
ral, falta de reconhecimento, medo da demissão, incapacidade de cumprir
metas, podem arrastar o trabalhador para doenças psicossomáticas ou até
o suicídio. Por analogia, faz-se a aplicação do estudo do eminente autor aos
educadores do Brasil após ter sido colhido os resultados apresentados.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A saúde foi entendida como o equilíbrio dinâmico que envolve o bem-
-estar físico, emocional, social e espiritual, em uma concepção holística.
Identificou-se, em relação ao estilo de vida, antecedentes e riscos à saúde
dos pós-graduandos dos cursos de mestrado e doutorado em Ciências da
Educação realizados na Universidad Americana, Paraguai os seguintes si-
nais: sedentarismo, doenças preexistentes não tratadas, excesso na jornada
de trabalho, falta de lazer, não gozo das férias, extensa carga horária de es-
tudos em Assunção, pequenos intervalos para alimentação e repouso, hábi-
tos alimentares distintos e condições climáticas e ambientais diferenciadas.
Tais fatores podem ter contribuído para a instabilidade da condição
de saúde dos pós–graduandos no período em que cursavam a pós-gra-
duação. Em relação às intercorrências na saúde dos pós–graduandos
durante sua permanência em Assunção, descreveram-se os seguintes
episódios: gastrointestinais, respiratórios, alérgicos, cardiovasculares,
odontológicos e ósseo/osteomusculares.
Revelou-se que tais intercorrências interferiram na produtividade aca-
dêmica dos participantes, ocasionando, para alguns deles, a necessidade de
adiamento de defesas, trancamento de curso ou até mesmo o abandono.
Como condutas proativas dos pós-graduandos observou-se que a
grande maioria fazia exames de saúde semestralmente ou anualmente.
Considerando o seguro viagem como um comportamento preven-
tivo constatou-se que metade dos participantes já o contratava. Em
relação à saúde dos seus pós-graduandos, distinguiram-se as seguintes
condutas do IDEIA: Orientações sobre clima, alimentação e seguro via-
gem, disponibilizadas no site institucional.
Suporte técnico e logístico na área de saúde com profissional um
médico/enfermeiro ativo durante o período das aulas. Apoio/ visitação
aos estudantes enfermos, suporte para locomoção se preciso. As análi-
ses contidas neste estudo apontaram para a presença de ações e atitudes
direcionadas ao bem-estar físico, emocional, social e espiritual na forma
como se expõe a seguir:
42
1- Algumas ações e atitudes de ordem proativa por parte dos pós-
-graduandos.
2- Ações e atitudes de ordem mais corretiva do que proativas desen-
volvidas pelo IDEIA.
Portanto, tais ações e atitudes interferiram na prevenção e manuten-
ção da saúde dos pós-graduandos dos cursos de mestrado e doutorado
em Ciências da Educação realizados na Universidad Americana (UA),
Paraguai e intermediados pelo Instituto de Desenvolvimento Educacio-
nal Ibero-Americano (IDEIA), Brasil, durante os cursos e permanência
em Assunção.
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d=S010373312007000100003&lng=en&nrm=iso>.
NOTAS
1. Doutora em Ciências da Educação (Universidad Americana, Assunção - Paraguai 2014). Mestre
em Ciências da Educação (Universidad Americana Assunção - Paraguai, 2012). Graduada em En-
fermagem e Obstetrícia (Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, 1979). Especialização em
Enfermagem do Trabalho (Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória - EMES-
CAM, 1979). Curso de Habilitação Em Enfermagem de Saúde Pública (Universidade Estadual do
Rio de Janeiro – UERJ, 1980). Bacharel em Direito (Instituto Metodista Bennett, 1997 - Certificado
de Habilitação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil 1997). Curso Regular Fundação
Escola Superior da Defensoria do Estado do Rio de Janeiro - FESUDEPERJ, 1998; Colégio Pedro II
(1987). Chefe de Saúde do Colégio Pedro II. E-mail: ednaaquino@hotmail.com
44
III.
O GUARANI: A LÍNGUA MATERNA INDÍGENA E
SUA INFLUÊNCIA NA CULTURA PARAGUAIA
Autor: Jefferson Antonio do Prado1
Maria José Alacrino2
Coautores: Nelilda Ormond Braga3
Valdenice Duarte Gomes de Oliveira4
Ângela do Céo Gonzaga de Vasconcelos5
Urubatan Ferreira de Castro6
RESUMO
Este trabalho objetiva levantar discussão envolvendo as dinâmicas
provenientes do período de industrialização e urbanização da cidade
de Assunção no Paraguai, relacionando os fatores condicionantes des-
se processo em torno da manutenção da língua mãe dos índios guara-
nis. Partiu da metodologia exploratória, por meio do laboratório par-
ticipativo da visita de campo ao centro histórico da cidade, bem como
de levantamento bibliográfico para compreender os fatos sociais que
foram representativos nesse contexto, utilizando-se de observação e
registros fotográficos dos espaços urbanos. Essa discussão foi norteada
levando em consideração a cultura do povo Guarani e de sua língua
materna enfatizando assim a identidade de um povo, além de sua im-
portância para o povo Paraguaio. Foi possível observar que, embora
obrigatório nas escolas, existe uma ausência do guarani nos letreiros
e placas na área urbana, bem como sua falta de utilização pelas crian-
ças, jovens e adultos, já que a comunicação se dá por meio da língua
espanhola.
PALAVRAS-CHAVE: Industrialização. Urbanização. Paraguai. Lín-
gua materna. Identidade social.
45
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho enfoca a dinâmica da urbanidade envolvendo o
crescimento da cidade de Assunção, considerando o impacto da urba-
nização no cenário capitalista e explorador, principalmente no que se
diz respeito à apropriação da terra e o dispersar do povo e da cultura
indígena. No intuito de colaborar para uma possível reflexão diante da
preservação da identidade de um povo, por meio de sua língua, é pre-
ponderante destacar que a simbologia da linguagem um povo desem-
penha um papel importante frente às questões sociais e o exercício da
cidadania.
A importância da linguagem perpassa por toda geração de uma co-
munidade. Nessa perspectiva, a cidadania efetiva precisa exercer seu pa-
pel no intuito de promover a preservação cultural de seu povo.
A história do povo paraguaio é marcada por governos que se dife-
rem entre si, desde questões que envolvem a cultura e política, pautada
no bem-estar social e desenvolvimento do povo, até uma ditadura que
trazia oposição ao próprio povo e suas origens.
Podemos enunciar dessa maneira, em períodos distintos, a detenção
da maior economia da américa latina, assim como a fragilidade do povo
frente à guerra da Tríplice Aliança, que resultou numa relevante cri-
se socioeconômica a qual permanece com suas condicionantes, até os
dias de hoje, como alta taxa de desemprego, o pouco desenvolvimen-
to industrial e um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH), entre outros problemas sociais.
2. JUSTIFICATIVA
Devido ao processo de industrialização e urbanização das cidades, mui-
tos povos tiveram sua cultura invadida e subtraída por culturas estrangei-
ras, consequentemente, gerando uma dinâmica que exclui e segrega.
A constituição de uma nação passa por processos oriundos de mui-
tas transformações. Entre essas a constituição de um povo, de sua lín-
gua, incorporando seus costumes e práticas sociais.
46
Nesse sentido, é imprescindível salientar a importância da manuten-
ção da cultura, da história, da tradição e do costume de um povo por
meio da comunicação, como forma de perpetuar a sua herança. A lín-
gua materna, por exemplo, faz parte da identidade de um povo.
3. OBJETIVO GERAL
Analisar a importância da língua mãe como forma de preservação
da cultura do país por meio do laboratório participativo no Centro His-
tórico de Assunção.
4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Identificar no centro cultural de Assunção, capital do Paraguai, o
contexto histórico e social em que a língua guarani está inserida.
• Determinar a reinserção da língua guarani no processo de escolari-
zação e socialização urbana.
• Especificar a aplicação da língua guarani nos espaços públicos do
Centro Histórico de Assunção.
5. MATERIAL E MÉTODO
Dada a importância da cultura de um povo, com ênfase na sua pre-
servação e manutenção, a perspectiva que envolveu o artigo foi viabili-
zada a partir da disciplina “Epistemologia das Ciências da Educação” do
Doutoramento em Ciências Da Educação da Universidad Columbia,
Assunção-Paraguay.
Neste artigo considerou-se o laboratório participativo por meio da
visita acadêmica ao Centro Histórico de Assunção, utilizando-se de ob-
servação e registros fotográficos dos espaços urbanos.
6. O CENÁRIO DO ESTUDO
O local da pesquisa, Nossa Senhora Santa Maria da Assunção ou
mais conhecida como Assunção, é a capital considerada a maior cida-
de da república do Paraguai. É um município que se destaca pela sua
47
autonomia, conceituado assim Distrito capital independente. Localiza-
-se junto à baia de Assunção, na margem esquerda do Rio Paraguai,
frente à confluência com o rio Pilcomayo.
De acordo com os dados da Direção Geral de Estatísticas Pesquisas
e Censos (DGEEC) 2010, a cidade tem uma população aproximada de
544 309 habitantes. Sua área metropolitana é composta pelas seguin-
tes cidades: Grande Assunção, San Lorenzo, Lambaré, Fernando de La
Mora, Capiatá, Luque, Mariano Roque Alonso, Nemby, Villa Hayes e
San Antonio, que agrega uma população estimada em mais de 2 529
061 habitantes. Seu PIB chega a 21000 milhões de dólares devido à in-
fluência do seu comércio e indústria.
Situam-se na cidade de Assunção os três poderes: executivo, legis-
lativo e judiciário. E abarca, em seu território, o principal porto fluvial
(Direção Geral de Aduanas) e do centro cultural do País. Sendo assim,
referencia-se como umas das cidades mais importantes da América La-
tina, como na figura 1:
48
Figura 2: foto Palácio de Los Lopez
(Fonte: http://eu-adoro-o-paraguai.blogspot.com/2014/04/
um-passeio-pelo-centro-historico-de.htm)
49
O Cabildo foi antiga sede do poder legislativo. Atualmente, é um
museu da música paraguaia e que também abriga acervos históricos
sobre os índios.
50
7. A LÍNGUA GUARANI NA EDUCAÇÃO
A educação no Paraguai tem passado por várias mudanças nos últi-
mos tempos, dentre elas, a questão linguística, oficializando o bilinguis-
mo guarani e espanhol. Segundo Meliá (1982), o guarani Paraguaio ain-
da é muito falado, visto que as escolas alfabetizam as crianças, também,
em Guarani. Porém, existe uma mistura desses dois idiomas fazendo
com que a pureza da língua seja invadida pelo espanhol.
Por isso, nos centros urbanos tal mistura gerou o que eles chamam
Jopará. Tal hibridismo reflete o afastamento do guarani paraguaio do
guarani clássico. Apesar de, atualmente, o guarani ser considerado lín-
gua mãe, o processo não se deu de forma pacífica.
De acordo com Silva (2015), durante o período de colonização dos pa-
raguaios, os espanhóis, visando catequizar os nativos, chegaram a utilizar
a língua nativa. Entretanto, aos poucos as línguas locais foram desapare-
cendo para dar espaço à língua espanhola, inclusive nas escolas.
Esse processo de desvalorização do Guarani ocorre a partir do sécu-
lo XVII. Somente na década de 90, na constituição de 1992, o Guarani
passou a ser considerado como língua oficial, juntamente ao espanhol.
Desse modo, esta foi uma forma de resgatar e preservar a identidade de
um povo.
Velásquez (2011) parece constatar que falar espanhol ou guarani é
uma questão de status. Essa situação torna-se conflituosa, visto que o
guarani é percebido como uma língua das camadas menos favorecidas,
principalmente os indígenas. Isso nos leva a questionar sobre a capaci-
dade de sobrevivência desta língua, diante do processo de desvaloriza-
ção e imposição do espanhol, inclusive nas transações comerciais.
O movimento de intelectuais do Paraguai, dentre eles Natalia Kri-
voshein de Canese, David Galeano e Ramón Silva, Susy Delgado, me-
diante uma postura cidadã veio ao encontro da preservação da língua
materna (guarani), com uma representação social destacando os anos
1970 a 1992 e, atualmente, obras de relevâncias da cultura indígena, dis-
poníveis no portal Guarani.
51
Dessa maneira pode se afirmar que:
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho trouxe em foco o relato de experiência que
surgiu a partir de visita acadêmica ao Centro Histórico de Assunção,
viabilizada pela disciplina Epistemologia das Ciências da Educação do
Doutoramento em Ciências da Educação da Universidad Columbia, As-
sunção-Paraguay. O objetivo foi conhecer a cultura, a história, os mitos,
a língua, a arquitetura, os costumes, entre outros, do povo Paraguaio.
Atualmente, o guarani é considerado como língua mãe, sendo ensi-
nado nas escolas juntamente ao espanhol e a partir da luta do povo pa-
raguaio, hoje esse é o único país da América Latina a tornar o Guarani
como a língua oficial em suas escolas.
Apesar de ser idioma oficial e implantado como obrigatório nas es-
colas, durante o percurso da visita acadêmica no centro Assunção, foi
possível verificar que a comunicação por meio de placas ou letreiros,
seja no comércio ou na identificação dos nomes das ruas, é predomi-
nante escrita na língua espanhola.
É importante ressaltar que no diálogo entre os Paraguaios, seja en-
tre crianças, jovens ou adultos, observou-se a predominância do uso da
língua espanhola. Questiona-se até onde o guarani sobreviverá se as no-
vas gerações não se organizarem, enquanto representantes sociais, para
manter viva a sua língua mãe, como uma forma de expressão fiel da sua
cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da cultura. Governo federal. Plano setorial para as culturas indíge-
nas. Brasília, 2012.
CANESE, Marta. Sociedad y Cultura Urbana. Reflexiones para la Gestión y la participación
ciudadana em América Latina. Marben. Editora & Gráfica S.A. 2012.
MELIÁ, BARTOMEU. Hacia una tercera lengua en el Paraguay. In Sociedad y lengua. Bi-
linguismo en el Paraguay. Tomo I. Centro Paraguayo de Estudios Sociológicos, Asun-
ción, 1982.
PARAGUAY. Dirección General de Estadística, Encuestas Y Censos. Disponível em: http://
www.dgeec.gov.py/Publicaciones/evoluciontotal.php. Acesso em 16 jan.2019.
53
PORTAL GUARANI. Disponível em: www.portalguarani.com/index.php. Acesso em:
16 jan.2019.
SILVA, J.R. Dinâmicas linguísticas no comércio de ciudad del este: como os atores sociais se
posicionam quanto às línguas faladas na região. Trabalho de Conclusão de Curso do Ins-
tituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História da Universidade Federal da In-
tegração Latino-Americana - UNILA, Bacharel em Letras: Expressões Linguísticas e
Literárias. Foz do Iguaçu, 2015.
NOTAS
1. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia Del Paraguay. Mestre em
Educação pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: pradoj2000@yahoo.com.br
2. Mestre em Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Vale da Paraí
ba - UNIVAP. E-mail: tecalacrino@yahoo.com.br
3. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Americana - PY. E-mail: ormond@
hotmail.com
4. Mestranda em Ciências da Educação pela UTIC - Universidad Tecnológica Intercontinen-
tal. Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade de São Salvador E-mail: valdaduarte33@
hotmail.com
5. Mestre em Letras: Estudos Literários pela Universidade Federal da Paraíba - UFPA. Douto-
randa em Ciências da Educação pela Universidad Autônoma de Asunción - PY. E-mail: angelaa-
triz@yahoo.com.br
6. Mestre em Musicologia pela Campbellsville University EUA. E-mail: castrouburatan@
gmail.com
54
IV.
LEITURA E COMPREENSÃO TEXTUAL:
DIFICULDADES ENCONTRADAS POR ALUNOS DO
ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS
Autor: Luciene Novais de Freitas Brito1
Coautores: Cláudio Roberto Araújo Castro2
Lucileide Assis Ferreira Charruf3
Maria Marta do Nascimento4
Taiane Barbosa Ferreira5
Maricelia Maria da Silva6
Maria Dalva Sandin Nery7
RESUMO
A leitura tornou-se muito essencial desde o momento em que se
percebeu a importância da comunicação verbal de forma unificada e
por consequência disso desde anos remotos estudiosos estão em busca
de métodos de como transmitir o conhecimento da leitura para os in-
divíduos, claro que isso era apenas privilégio de poucos. Com o passar
dos séculos as classes mais populares começaram a ter acesso a esse
aprendizado. A falta de uma base escolar, principalmente das escolas
públicas, de professores com capacitação, de práticas pedagógicas ade-
quadas e sem contar na falta de estímulos familiares, tudo isso desen-
cadeou uma série de problemas na educação atual, especificamente na
área de leitura e compreensão de textos. O professor precisa ajudar o
aluno a ter necessidade de ler, de buscar um objetivo, com isso ele terá
prazer em realizar esse tipo de atividade. O conhecimento prévio desse
aluno constituído por todos os outros saberes, incluindo os valores cul-
turais, é um dos fatores decisivos no interesse da leitura e compreensão
e ativar esse conhecimento é fundamental para possibilitar a leitura e
consequentemente esta incentiva e instiga atitudes e comportamentos
55
voltados para a construção da cidadania, bem como também a abertura
de novos horizontes desse leitor.
Palavras-chave: Leitura; Compreensão Textual; Dificuldades; Esco-
las Públicas; Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
As dificuldades que alunos de escolas públicas encontram no proces-
so de leitura e compreensão textual implica em vários fatores e alguns
deles são os fatores históricos, sociais, cognitivos, a formação inadequa-
da de professores, uma base escolar mal feita e as práticas pedagógicas
que não contribuem na melhoria desse processo. Iremos analisar esses
fatores que são essenciais para o desenvolvimento do nosso artigo.
O processo da leitura não pode ser visto apenas como a transmissão
fonética da fala e não só a decodificação dos signos gráficos. “A leitura
é um ato social, entre dois sujeitos - leitor e autor que interagem entre
si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados”
(Kleiman, 1997:10).
A hora da leitura é um momento especial. Não é um momento solitá-
rio, pois o leitor interage com o autor, transportando todo seu universo in-
terno e externo para o texto, no qual este está impregnado com o contex-
to histórico sócio cultural e político do autor e dessa forma ele é envolvido
cada vez mais com história do texto. Além disso é uma interação entre o
autor e o leitor, uma cumplicidade, levando-se em conta o conhecimento
prévio do leitor, pois o mesmo texto não é entendido por todos da mesma
forma, pois cada leitor tem sua própria experiência de vida, seus próprios
objetivos e a cada texto há uma informação nova a ser processada.
A leitura consiste no processamento de informações de um texto
escrito com a finalidade de compreendê-las e interpretá-las, mas não é
tão simples assim, até porque o leitor não pode se fixar somente nos có-
digos visuais impressos nas páginas, a compreensão ocorrerá a partir do
sentido que os códigos têm e seu conhecimento prévio do que adquire
ao longo de sua vida.
56
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utiliza-
ção de conhecimento prévio: na leitura o que ele já sabe, o conhecimento
adquirido ao longo de sua vida. É mediante interação de diversos níveis
de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhe-
cimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto.
Porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que in-
teragem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se
dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do
leitor não haverá compreensão Kleiman, 1999, p.13).
57
Esse outro teórico possui a mesma concepção, onde diz:
58
Pesquisas já demonstraram que, enquanto as classes dominantes veem a
leitura como fruição, lazer, ampliação de horizontes, de conhecimentos,
de experiências, as classes dominadas a veem pragmaticamente como ins-
trumento necessário à sobrevivência, ao acesso ao mundo do trabalho, à
luta contra as condições de vida. (SOARES, 1988, p.17-29).
59
esses terão uma predisposição maior para ser um bom leitor, mesmo
que isso não signifique generalizar, pois existem alunos que desenvol-
vem essa capacidade mesmo que os pais nunca demonstrem ter gosto
pela leitura.
Crianças que têm o privilégio de ter contato com a língua escrita antes
de irem para escola, através da leitura que lhes é feita pelo adulto, já têm
consciência pelo menos dos aspectos discursivos que diferenciam a fala e a
escrita. (KATO, 1999, p.14).
60
A leitura de mundo que os alunos fazem até mesmo sem perceber
é muito importante quando ele nota que está adquirindo e expondo
conhecimento sobre aquele momento ou aquela situação, entretanto
quando esse leitor passa para a leitura sistemática de textos, parece que
uma coisa se distancia da outra de forma muito significativa, isso vem
a se questionar sobre por que é tão difícil interpretar ou compreender
aquilo que se lê através de códigos linguísticos e não é tão difícil assim
ler um cenário ou uma imagem?
Uma das respostas seria, então, as práticas pedagógicas inadequadas,
elaboradas por professores sem formação especializada, tendo estes, di-
ficuldades de sanar esses problemas, resultando em uma má alfabetiza-
ção que por sua vez é a base e o “elevador” da aprendizagem. Aí é que
vem o papel da educação, exigir a (trans)formação desses professores
em profissionais mais capacitados e com práticas pedagógicas apropria-
das para poder amenizar o problema da deficiência da compreensão
textual.
Esse é um papel muito importante na educação formal, pois habilita
profissionais docentes e preparam pra lidar com situações adversas. As
práticas educativas formais são necessárias para uma construção de co-
nhecimento sistematizados e universais que inserem os indivíduos em
sua sociedade.
O aluno antes de ingressar na escola já pratica muito o ato de ler,
através de imagens, cenários, códigos, rótulos que ele tem contato em
seu dia a dia. Ele utiliza-se de suas vivências como estratégias de leitura,
o conhecimento que ele tem de mundo. “O aprendizado e o desenvol-
vimento da leitura e da escrita ocorrem parte no cotidiano, no nosso
dia a dia (GESTAR, 2008:18).
As séries iniciais são de fundamental importância para que o aluno
organize suas vivências e consiga distinguir o real do imaginário através
dos textos infantis e da comparação com a realidade. É um período que
serve para direcionar o aluno ao caminho correto do aprendizado da
leitura e compreensão.
61
Aprendemos a ler e escrever à medida que nos alfabetizamos ao longo da
vida e adquirimos experiência nas diversas situações sociocomunicativas. [...]
As situações comunicativas se tornam mais complexas, fazendo que outras
necessidades surjam com convenções renovadas sobre as funções e as ex-
pressões da escrita (alfabética, ortográfica, de apresentação gráfica dos tex-
tos, suportes preferidos para as diferentes situações comunicativas, de cons-
trução do discurso nos diferentes gêneros, etc (GESTAR, 2008, p.30).
62
processo que não começa nem se encerra nele, e poderá, no mesmo gesto,
tanto dar sentido aos esforços dos educadores que o precederam, como
ainda sinalizar o caminho dos que o sucederão ( LAJOLO, 1994, p.22 ).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito importante o profissional ter uma formação apropriada
para trabalhar com ensino aprendizagem. O professor precisa se en-
volver de habilidades e competências para melhorar as propostas de
atividades de leitura dentro de sala de aula, pois nesse âmbito escolar,
ele dispõe de ferramentas metodológicas que possibilitam, se for bem
utilizadas, ampliar os conhecimentos, o importante agora é saber for-
mulá-las e mobilizá-las adequadamente.
63
Quando falamos de ler e compreender, estamos falando de conhecer. O melhor
autor é aquele que faz seu público avançar na medida em que propõe novas lei-
turas da realidade. O melhor mediador – professor- é aquele que, gostando da
leitura, sabe explorar um texto propondo atividades de promoção de leitura atra-
vés de estratégias que atendam os interesses dos jovens (NEVES, 2004, p.164).
64
Para que isso ocorra, é necessário que se abordem os fatos gramati-
cais primeiramente por sua estrutura semântica, que se compreenda o
significado, o valor, sua funcionalidade no texto e que se enverede pela
história da língua.
As práticas de leitura precisam ocorrer num espaço de maior liberdade
não se deter apenas a uma sala de aula. Os alunos de uma mesma classe,
por exemplo, não podem pelo menos nas séries iniciais, ser obrigados a
ler um mesmo livro só porque ele é apropriado para aquela faixa etária
ou porque o tema é interessante para àquele tipo de criança, isso tudo é
relativo. Pode-se variar os livros e até mesmo fazer os alunos escolherem
entre alguns, o que teve mais afinidade naquele momento e depois claro,
ele pode buscar outro para continuar seu processo de prática de leitura.
As práticas pedagógicas que permitem aos alunos construir seus
próprios significados, fazendo inferências do texto, elaborando seus
próprios questionamentos, obtendo respostas ou não são muito impor-
tante para que haja a completa compreensão do que é lido.
65
entretanto descobre que é um mundo que impõe o silêncio forçado, vi-
ver sentado sem agitação do mundo lá fora, que ele estava acostumado.
É como se tivesse que carregar um fardo pesado nas costas. O aluno
não entende mais o que os professores ensinam. Ele aprende que não
pode mais aprender. Ele é obrigado a saber e se isso não acontece, ele é
ignorado pelos colegas e até mesmo pelo professor.
Ainda segundo Muñoz (2009), se o professor não assumir o papel educa-
cional, de questionador, com perguntas inocentes e não ingênuas, ele não
poderá avaliar a criação de processos educativos. O educador precisa ajudar
a criar relacionamentos, sem precedentes, com base no que é conhecido.
Portanto, pensar em leitura como prática social é muito importante
e fundamental, pois esta é a forma do indivíduo interagir ativamente
dentro da sociedade em que vive. É se tornar um cidadão crítico, pes-
quisador e o professor sendo um leitor ativo e participante, que estimu-
le seus alunos a ser esse tipo de cidadão, um professor que seja também
“inocente” e não “ingênuo”. Que a escola seja menos burocrática, me-
nos estática. Nossos alunos precisam encontrar na escola um lugar de
“refúgio” pra seus questionamentos e um lugar de prazer.
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NOTAS
1. Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental -
UTIC. Graduada em Letras pela UNEB. E-mail: lunovaisfreitas@gmail.com
2. Mestrando em Ciências da Educação pela UAA - Universidade Autónoma de Assunção - PY.
E-mail: claudio.castro@if b.edu.br
3. Mestranda em Ciências da Educação pela UAA - Universidade Autônoma de Assunção- PY.
Especialista em Educação Física pela UNOPAR. E-mail: lucileidemestrado2019@gmail.com
4. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. E-mail: maria.
marta.3@hotmail.com
5. Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. Mestre em Es-
tudos Interdisciplinaridade sobre Universidade pela UFBA. E- mail: taianeferreira@if ba.edu.br
6. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. Mestre
em Ciências da Educação pela UA - Universidade Americana-PY. E-mail: mari-celia-44@hot-
mail.com
7. Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental- UTIC.
E-mail: dalvinhasn@hotmail.com
67
V.
GESTÃO ESCOLAR: SINERGIA ENTRE GESTÃO
PEDAGÓGICA E GESTÃO ADMINISTRATIVA
Autor: Jaeder Araujo Monteiro1
Coautores: Andreza Regina Nave Benettti2
Maria Marta do Nascimento3
Ajane Morocx das Mercês Leite Almeida4
Manoel Augusto Miranda Dourado5
Anderson Antonio Rocha da Silva6
Eliene Pereira da Silva Dias7
Sueli Rodrigues de Sousa8
RESUMO
Este artigo tem por objetivo maior, conceituar a gestão escolar
contemporânea e as duas subdivisões que compõe a mesma. Bem
como, evidenciar a sinergia em todo o processo que as envolve, para
que assim, seja possível alcançar o melhor e mais adequado modelo
de gestão escolar para determinada época. A fundamentação teórica
desta investigação, tem por base, estudos sobre gestão escolar e a si-
nergia que envolve as partes que a compõem. Por meio de pesquisa
bibliográfica, foram angariadas informações para a composição do
referencial teórico. Com tudo, mediante todas as informações co-
letadas, foi possível identificar a necessidade de sinergia, de alinha-
mento entre as partes que formam a gestão escolar para que assim,
exista condições de alcance dos resultados pretendidos e, de ade-
quação à realidade vivida. Nessa perspectiva, este artigo visa con-
tribuir para o fortalecimento do debate sobre a sinergia necessária
entre a gestão pedagógica e a gestão administrativa, para que, haja
possibilidade de fortalecimento do planejamento institucional e, das
69
demais ações articuladas pelo gestor principal da unidade escolar,
ou seja, o diretor geral.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão escolar; Gestão pedagógica e adminis-
trativa; Sinergia.
INTRODUÇÃO
O vocábulo gestão escolar há não muito tempo, era intitulado como
administração escolar, justamente por empregar aspectos da adminis-
tração geral, porém voltados à educação. A gestão escolar é subdivi-
da em duas partes: gestão pedagógica e gestão administrativa, onde a
primeira tem papel norteador, por cuidar dos aspectos educacionais e,
a segunda tem papel de apoio, por cuidar da parte institucional que,
envolve planejamento, demais procedimentos e ações.
70
de ensino ou não, tende a obter resultados satisfatórios quando seu con-
tingente humano é valorizado.
De acordo com a ideia de Dourado (2003) a gestão da educação, por
meio de uma ótica e, da tomada de decisões, intencionalmente propaga
crenças, valores, propósitos da instituição em seu montante.
O sincronismo, sistematização e sinergia apresentam-se como itens
essenciais em virtude das ações que, circundam a gestão pedagógica e a
gestão administrativa. Tal empreitada, emergirá do gestor máximo da ins-
tituição de ensino, o diretor geral. Todas as ações em virtude do planeja-
mento e adequações desse planejamento, passam pelo crivo do dirigente
máximo da instituição de ensino e, com isso, o mesmo provocará o me-
lhor alinhamento, a sinergia entre as partes pedagógica e administrativa.
É necessário destacar a função das comunidades interna e externa,
pois a identificação de suas necessidades proporcionará um planeja-
mento mais adequado da gestão escolar e, os acertos e/ou potenciali-
zação de ações, proporcionando assim, um modelo mais sólido e eficaz
de gestão escolar.
Quando é mencionada a gestão administrativa ou apoio adminis-
trativo, não significa que os indivíduos que a compõem, estejam res-
ponsáveis apenas por tarefas como matrícula, emissão de diplomas e
declarações, tirar cópias, imprimir e/ou entrega de documentos. Dá
mesma forma que, quando o assunto é gestão pedagógica, não é cor-
reto afirmar que, seja apenas ministrar aulas e fazer a chamada dos
alunos. O termo gestão atribui algo muito mais valioso para as intui-
ções em geral, e não seria diferente para as instituições de ensino. Afi-
nal, atribuições que envolvem a gestão escolar e as gestões pedagógica
e administrativa são: planejar, organizar, dirigir e controlar todas as
ações definidas para o alcance do objetivo principal da instituição de
ensino de forma humanizada. O que está em questão é que, nenhuma
instituição de ensino funciona de fora eficaz, sem que seja dada a de-
vida e necessária atenção e, sem que haja sinergia entre as duas partes
que a constitui.
71
2. GESTÃO ESCOLAR E A EVOLUÇÃO DO TERMOS
Inicialmente é justa a apresentação do termo gestão escolar. Enten-
de-se mediante a ideia exposta por diversos autores que, o termo gestão
escolar está de forma muito peculiar envolvido com os princípios da
administração.
O termo gestão escolar ao restrito entendimento de alguns, reflete
a forma de organização de uma instituição de ensino quanto ao seu
potencial de qualificar os alunos para o mercado e para a vida. Porém,
é claro que, a gestão escolar em sua prática utiliza os princípios da ad-
ministração aliados aos princípios pedagógicos. Afinal, a estrutura or-
ganizacional de instituição de ensino, gestão escolar, é composta pela
gestão pedagógica juntamente a gestão administrativa.
72
Martins (1999, p.2), esclarece que:
73
de forma simultânea, preocupar-se com os indivíduos envolvidos na
mesma: diretores, corpo pedagógico, corpo administrativo, colabora-
dores voltados ao funcionamento da estrutura e os alunos, bem como,
preocupar-se com os outros colaboradores diretos e indiretos envolvi-
dos na gestão escolar. Não esquecendo, dos indivíduos que compõem a
comunidade externa.
3. GESTÃO PEDAGÓGICA
A gestão pedagógica é a parte mais significativa que compõe a ges-
tão escolar. Mesmo porque, está atrelada de forma retilínea a objeti-
vo-fim das instituições de ensino. Atua com o objetivo principal em
formar profissionais e cidadãos preparados para o atendimento das exi-
gências do mercado globalizado e, da sociedade contemporânea.
É importante frisar que, a gestão pedagógica tem por natural fun-
ção, estabelecer objetivos e metas educacionais, mediante demanda ge-
rada pela sociedade, mercado profissional, seguindo normas e leis esta-
belecidas pelas esferas municipal, estadual e federal.
A gestão pedagógica
74
das competências individuais. Estou a falar da necessidade de um tecido
profissional enriquecido, da necessidade de integrar na cultura docente
um conjunto de modos coletivos de produção e de regulação do trabalho
(NÓVOA, 2012, p.17).
A escola necessária para fazer frente a essas realidades é a que provê forma-
ção cultural e científica, que possibilita o contato dos alunos com a cultu-
ra, aquela cultura provida pela ciência, pela técnica, pela linguagem, pela
estética, pela ética. Especialmente, uma escola de qualidade é aquela que
75
inclui uma escola contra a exclusão econômica, política, cultural, pedagó-
gica. (LIBÂNEO, 2006, p.51).
76
nos referimos aos processos de organização, coordenação, liderança e
avaliação das ações e estratégias direcionadas à aprendizagem dos alunos.
(LÜCK, 2009, p.96).
77
E por fim, pode-se dizer que, a gestão pedagógica de qualquer ins-
tituição escolar tem por objetivo transmitir os saberes não apenas por
meio de docentes, mas também, através das demais personagens que
compõem o ambiente escolar, mesmo que de forma indireta. Pois, tal
processo é sistemático, organizado e autorreflexivo.
4. GESTÃO ADMINISTRATIVA
Uma apropriada gestão escolar objetiva a evolução globalizada da ins-
tituição escolar e, se direciona ao alcance do objetivo institucional que, é
preparar os indivíduos para o mercado de trabalho e a sociedade. Com
isso, é justo mencionar que, para que tais objetivos e metas sejam alcan-
çados, não basta apenas que, a instituição de ensino preocupe-se com a
parte da gestão que envolve o caráter pedagógico, apesar de reconhecer-
mos que essa gestão é a que norteia qualquer instituição educativa.
Como também não é recomendado que, as preocupações institu-
cionais estão voltadas apenas a qualificação contínua de professores e
demais profissionais envolvidos diretamente em pedagógicas, como
exemplo a construção e manutenção de um bom projeto político pe-
dagógico ou currículo. Pois, existe a parte da gestão escolar que, atua
em apoio a gestão pedagógica para que, o objetivo-fim da instituição
escolar seja realizado a contento.
A mesma, como já mencionado em tópicos anteriores é conhecida pelas
seguintes nomenclaturas, administração escolar, gestão administrativa ou
muitas vezes, conhecida como apenas administrativo. No entanto, neste
artigo utilizaremos em maior parte, a nomenclatura gestão administrativa.
Compreende-se que, será bastante difícil o alcance satisfatório do
objetivo-fim pretendido pela instituição de ensino, caso não conte com
o apoio da gestão administrativa, uma vez que, é através da mesma que
ocorrem, por exemplo, a compra, fornecimento e controle materiais
físicos, ambientes e itens essenciais, como carteiras e mesas escola-
res, equipamentos em geral, salas de aula adequadas, banheiros, lim-
peza das instalações, energia elétrica, água tratada, formulários para
78
procedimentos, entre outros, indispensáveis ao bom funcionamento de
qualquer instituição escolar.
Essa é a fundamental função da gestão administrativa, zelar pelo
bom andamento e aprimoramento das normas e procedimentos, bem
como, a aquisição e controle de materiais e ambientes para o bom fun-
cionamento da instituição escolar, garantido assim, a qualidade da ges-
tão escolar pretendida que, tem por objetivo maior a formação de indi-
víduos para o mercado e para a sociedade.
79
decisões, também chamadas processos ou funções: Planejamento, organi-
zação, liderança, execução e controle. (MAXIMIANO, 2008, p.05).
Santos (1996) relata que, existe certa analogia quanto aos objetivos
básicos da administração geral, administração escolar e gestão adminis-
trativa: a administração geral tem como objetivos fundamentais plane-
jamento, organização, direção e controle dos bens e serviços indispen-
sáveis ao funcionamento de uma instituição, seja a mesma escolar ou
não. Com isso, as demais nomenclaturas, também utilizam os mesmos
princípios básicos da administração geral, para atuarem de maneira
personalizada no ambiente escolar.
Entende-se mediante ao mencionado no parágrafo acima que, os
princípios básicos da administração, são indispensáveis a qualquer tipo
de instituição e, não seria diferente quanto ao seu uso nas instituições
de ensino. Mesmo porque, as mesmas, necessitam efetuar ações vol-
tadas a planejamento, organização, direção e controle para com isso
alcançarem seus objetivos educacionais.
80
tais princípios não sejam importantes ou até mesmo que, devam ser
extintos. A razão de tal aversão, teve início em uma época onde os prin-
cípios da administração geral eram utilizados apenas com a mera inten-
ção de obter lucro.
Porém, na gestão administrativa voltada a gestão escolar, tais argu-
mentos não se confirmam, uma vez que, os princípios básicos da admi-
nistração são utilizados com o pensamento em beneficiar e valorizar
pessoas, o intuito é fortalecer os indivíduos e, não apenas a atuar de
forma fria, com o pensamento meramente voltado ao capital.
Apesar da administração empresarial, administração escolar e gestão
escolar apresentarem pontos semelhantes, as mesmas diferem alguns
pontos. Visto que, em uma organização voltada ao capitalismo o obje-
tivo principal é a produção de um produto ou serviço, ou seja, é apenas
um negócio, trata-se de dinheiro, lucro, capital. Já em uma instituição
de ensino, as personagens jamais poderão ser comparadas a operários
e, muito menos os alunos comparados à matéria-prima que, está sendo
trabalhada por máquinas, equipamentos e mão-de-obra especializada,
segundo Martins (1999).
Concorda-se que, ainda que semelhantes, a principal dessemelhança
entre a administração empresarial e a administração escolar ou gestão
escolar, seja a visão fria e, a romântica forma de lidar com os processos
e indivíduos.
81
seu contingente humano. Enfim, não é justo enxergar o posicionamen-
to frio, como regra.
A administração escolar ou gestão administrativa, segundo Ribeiro
(1986) é enxergada com uma das aplicações da administração geral e
ambas detêm aspectos, tipos, processos, meios e objetivos muito pare-
cidos. A administração escolar ou gestão administrativa tende a consi-
derar os estudos realizados em outras esferas da administração e, por
conseguinte, será capaz de proporcionar maiores contribuições e me-
lhorias.
Enxerga-se que, a gestão administrativa precisa atuar de forma per-
sonalizada. Pois, detém a responsabilidade de empregar todos os seus
recursos, mecanismos, procedimentos disponíveis e possíveis direcio-
nados aos campos profissional, social, democrático e participativo, ou
seja, com o pensamento voltado ao objetivo de atender a formação de
indivíduos e, não em lucrar valores monetários, como uma organiza-
ção capitalista faz. O foco é o indivíduo.
Gestão é ação, atuação pela qual são mobilizadas condutas para compreen-
der os objetivos da estrutura envolvendo, fundamentalmente, relações
gerenciais e técnico-administrativas. A Gestão Escolar articula o processo
de decisão na coordenação de trabalhos e na organização das atividades;
82
supera desafios oriundos da administração escolar, buscando olhares sig-
nificativos à gestão pedagógica de recursos humanos e administrativos.
(BUSS, 2012, p.22).
83
Percebe-se que autores apoiam a ideia que, as instituições de ensino
não são autossuficientes apenas por elaborarem uma “boa” estrutura
pedagógica, uma vez que, o apoio administrativo se faz necessário e
complementar as ações voltadas ao bom andamento da gestão pedagó-
gica como um todo.
84
autoridade dentro da mesma, bem como, tem a função de articulador
de todas as atividades e funções que envolvem a gestão escolar, ou seja,
as ações que envolvem as gestões pedagógicas a administrativas. Ele é
responsável pelas ações que, por sua vez estarão direta e indiretamente
atreladas as leis, diretrizes, normas e procedimentos orientados não so-
mente a parte pedagógica, mas também pela parte administrativa, enfim,
ao todo da instituição escolar.
O desafio enfrentado pela gestão escolar é:
85
fundamental para a construção de uma escola democrática e de qualida-
de, certamente as bases necessárias para termos uma sociedade mais justa.
(MARANHÃO, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve como objetivo esclarecer quais são os conceitos que
envolvem a gestão escolar desenvolvida nas instituições brasileiras e,
também os conceitos que envolvem os dois desmembramentos da mes-
ma, no caso, a gestão pedagógica e a gestão administrativa.
Outro ponto forte do artigo é onde atenta sobre importância da si-
nergia existente entre as gestões pedagógica e administrativa. É justo
mencionar que, a gestão administrativa trabalha em apoio a gestão pe-
dagógica que, por sua vez, é a gestão que norteia as ações de qualquer
instituição de ensino.
Mediante a demanda manifestada pelo mercado e pela sociedade,
originam-se e alteram-se leis governamentais, normais e procedimen-
tos internos a cada instituição de ensino e, com isso, as ações e tarefas
também são criadas e modificadas com a intenção de seguir o planeja-
mento proposto pela gestão escolar, com a intenção principal de alcan-
çar o objetivo-fim educacional, ou seja, gerar educação de qualidade
e, formar indivíduos capazes de atender e sobreviver as mutações do
mercado de trabalho e sociedade.
Ainda nos dias atuais, temos dois entendimentos sobre a gestão es-
colar, uma vez que, o conceito que envolve a mesma ainda não é bem
entendido por algumas pessoas. Muitos ainda reconhecem os termos
que envolvem gestão como algo distante da educação. Esse fato é real
e, crê-se que, ainda é bastante comum no dia a dia dos colaboradores
86
que atuam em instituições ensino: quando mencionam que trabalham
em uma escola, logo são recebem o seguinte questionamento: “você
dá aula?”.
Sim, aí está o grande problema que, existe fora e que, também está
presente dentro dos muros das instituições de ensino, a incompreen-
são, a falta de reconhecimento. Pois, a maioria das pessoas não têm
ideia da importância do apoio administrativo propicia para que, o en-
sino-aprendizagem ocorra dentro do estabelecido pelo planejamento
da gestão escolar.
A gestão administrativa trabalha em maior parte, dentro da deman-
da expedida pelas personagens que compõem a gestão pedagógica.
Sem exagero, são poucas as possibilidades da existência de um ensino
de qualidade, quando o pensamento está voltado apenas para o conhe-
cimento e/ou a brilhante formação docente.
Para que o ensino-aprendizagem ocorra de forma integral, é neces-
sário que existam locais físicos adequados, materiais de consumo e per-
manentes, serviço de limpeza, segurança e manutenção predial, bem
como, análises mais aprofundadas e estudos voltados às leis, normais,
controle financeiro, documental, entre outras atividades e funções exe-
cutadas pela gestão administrativa.
A importância do apoio administrativo é evidente, uma vez que, não
existe a grande possibilidade que docentes ministrarem conteúdo e, ao
mesmo tempo consigam realizar as tarefas atribuídas ao corpo adminis-
trativo, pois é humanamente impossível.
Daí surge a necessidade de melhor entendimento que, a gestão es-
colar que, é composta pela gestão pedagógica e pela gestão administra-
tiva, seja vista como um sistema, onde todas personagens atuam em
razão de um objetivo comum. A visão de completo e participação, é
algo necessário para harmonizar as ações planejadas.
Afinal, tudo começa com o planejamento geral expedido pela gestão
escolar que, no decorrer da execução, identificará as carências que en-
volvem as personagens da gestão pedagógica e gestão administrativa,
87
considerando os cenários externos à instituição de ensino e, realizará
as devidas modificações e incrementos, na busca do melhor modelo de
gestão escolar para o momento vivido.
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<http://www.professores.uff.br/hjbortol/car/library/valente.html>. Acesso em: 09
dez.2008.
89
NOTAS
1. Mestre em Educação pela Universidad Del Norte - UNINORTE - Asunción/PY. Doutorando
em Ciências da Educação pela Universidad Tecnológica Intercontinental - UTIC - Asunción/PY
E-mail: montjae@gmail.com
2. Mestra em Gestão a Avaliação Pública pela UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora.
Especialista em Gestão Escolar pela UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
andrezanavebenetti@gmail.com
3. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. E-mail: maria.
marta.3@hotmail.com
4. Especialista em Coordenação Pedagógica pela Faculdade Regional de Filosofia e Ciências
e Letras de Candeias. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências Educacionais. Li-
cenciada em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail: ajanemorocx@
yahoo.com.br
5. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. Mestre em
Ciências da Educação pela Universidade da Madeira- Funchal - Portugal. E-mail: md.manoel@
bol.com.br
6. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay-PY. E-mail: eu-
cador.rocha@gmail.com
7. Mestranda em Governança e Desenvolvimento pela ENAP/DP. Especialista em Gestão de
Pessoas no Serviço Público pela ENAP/DP. E-mail: eneiledays@gmail.com
8. Mestre em Administração pela Universidad IberoAmericana (UNIBE) - PY. E-mail: sousa-
sueli@gmail.com
90
VI.
FORMAÇÃO DOCENTE: RACIONALIDADE
TÉCNICA E ENSINO
Autor: Ivan Braga de Souza1
Coautores: Eugênio Yokoya2
Carlos Henrique Schneider3
Francisco Tarcilio Teles Forte4
Severino Joaquim Correia Neto5
Ajane Morocx das Mercês Leite Almeida6
RESUMO
Situar as mudanças ocorridas na formação docente capazes de de-
marcarem transformações de conceitos e percepções sobre sua for-
mação se faz o objetivo deste artigo. Trata-se de uma pesquisa de
natureza qualitativa e constou da pesquisa bibliográfica; a pesquisa
desenvolve-se sobre análise das diversas posições acerca do problema
em curso. Foram selecionados um livro e três artigos nacionais in-
dexados na base de dados da Scielo. Depois, introduzidos dois livros
que tratam sobre o tema. Com os resultados forma considerados que
as concepções teóricas no campo educacional sugerem repensar a
formação do professor a partir de sua própria prática, redirecionando
os caminhos a seguir, direcionados sobre das dificuldades e proble-
mas que irão surgindo no desenvolver de sua profissão. As perspec-
tivas para a educação e a relação com a formação docente condicio-
nam uma relação entre a teoria e a prática, o processo de ensino e a
relação com a aprendizagem a partir da relação social do sujeito e
sua cultura sobre a racionalidade técnicas do currículo universitário,
no passado e no presente.
PALAVRAS-CHAVE: Formação docente. Ensino. Educação.
91
INTRODUÇÃO
As reflexões abordadas sobre a prática e qualificação da formação
docente na atualidade trazem discussões sobre a desarticulação da teo-
ria e da prática na formação que vem ocorrendo sobre o ensino e que
acabam incidindo sobre a prática do professor em sala de aula.
Teórico como Schön (1983-1987) afirmam que a principal dificul-
dade da qualificação e formação do professor está na fragmentação da
teoria e a sua aplicabilidade na prática, da desarticulação das disciplinas
proponentes a uma realidade escolar, a racionalidade técnicas do currí-
culo universitário, preocupado na formação teórica do professor e pou-
co abrangente nos padrões práticos de ensino e a aplicação de modelos
fragmentados de ensino que não corroboram com a relação teoria e
prática enquanto sentido único e não dialógico.
Por isso o tema justifica-se para uma discussão mais aprofundada e
que elucidem alguns pontos na história da própria formação docente e
que responda a esta realidade.
Essas características configuram o aspecto investigativo da formação
do professor, isto é, no momento em que o professor articula a sua prá-
tica com base na realidade do seu ensino, problematizando e inferindo
acerca da realidade que se apresenta em sala de aula, sugerindo resulta-
dos a partir do levantamento de hipóteses e de investigação.
Caracteriza-se, então, como ato docente do fazer pedagógico a par-
tir da pesquisa em seu próprio campo. Esse professor passa a ser consi-
derado o professor investigador pautando as reflexões sobre a prática,
exercitando o “saber sobre o saber e fazer docente”.
A preocupação que se situa nesse discurso é levada em consideração
sobre o perfil de um novo professor pesquisador e que tenha condições
de perpassar esses saberes dentro de sua prática para os alunos.
Estas considerações mostram a relação da formação do professor
baseadas em disciplinas articuladoras e de cunho tradicionalista que in-
terfere diretamente na qualificação desse profissional enquanto sujeito.
Ainda assim, são levados a efeito de observação que a própria prática
92
na formação do professor induza as considerações mais latentes em
sala de aula, que é o processo de relação ensino- aprendizagem, profes-
sor- aluno.
Como passar do tempo às literaturas têm se mostrado preocupadas
por apresentar um novo modelo de ensino que promova uma efetiva
mudança na didática ao mesmo tempo em que qualifique o perfil inves-
tigativo tanto do professor quanto do aluno em função da elaboração
do conhecimento inovador. Neste sentido quais as mudanças ocorridas
na formação docente capazes de demarcarem transformações de con-
ceitos e percepções sobre sua formação?
Os estudos aplicados para discutir a formação dos professores ten-
dem a explicitar a necessidade de o professor responsabilizar-se por
uma prática pedagógica tangenciando modelos de cooperação, teoriza-
ção da prática e da pesquisa e valorização dos estímulos e participação
dos alunos nas atividades.
Esse modelo se assemelha ao processo construtivista da educação
fomentando as proposições que deveriam reflete sobre a prática docen-
te desde o início de sua formação.
Com base nas informações que investigam a prática docente, ainda
nos cursos de licenciaturas, fica claro que existem reveses sobre os pro-
blemas da formação inicial do professor.
Mas a responsabilidade sobre a transformação dos aspectos didáticos
na tentativa de inovar a prática pedagógica ainda reside na responsabili-
dade do professor e sobre a sua formação para o século XXI.
Nesse caminho, situar as mudanças ocorridas na formação docente
capazes de demarcarem transformações de conceitos e percepções so-
bre sua formação se faz o objetivo deste artigo.
1. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e constou da pes-
quisa bibliográfica, pois procurou se basear em “referências teóricas
publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos
93
prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta
(FONSECA, 2002, p. 32)”. A pesquisa desenvolve-se sobre análise das
diversas posições acerca do problema em curso.
Foram selecionados um livro e três artigos nacionais indexados na
base de dados da Sacie-lo, utilizando-se da intersecção dos seguintes
descritores: Formação docente- História da formação docente - Educa-
ção- Práticas de Ensino- Aprendizagem.
Além destes, mais dois livros, de Dermeval Saviani (2013-2015), fo-
ram considerados para a discussão sobre a formação de professores.
A tabela abaixo mostra o agrupamento das fontes utilizadas com a
obra, autores, título da obra e ano.
94
Nesse sentido a inter-relação feita para os interlocutores, neste dis-
curso, trata-se de discutir em uma linha condutora que levem às respos-
tas ao questionamento feito neste trabalho.
Foram tabuladas e analisadas as informações trazidas sob a discussão
da formação docentes nos períodos que consistiram na organização da
Educação brasileira até os tempos atuais, considerando discussões so-
bre a racionalidade técnicas do currículo universitário, no passado e no
presente, e a significação do ensino a partir da estruturação das leis de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. A partir da interpretação das
informações foi averiguada a importância dada por cada autor sobre o
tema, inferindo sobre a Formação Docente.
95
década, importando ao conhecimento como linha para o processo de
ensino e de aprendizagem e sobre a formação docente nos períodos
que consistiram na organização da Educação brasileira.
96
sob responsabilidade da Igreja. Para alguns estudiosos, como Niskier(
2001), foi a primeira atitude desastrosa que “levou o ensino brasileiro
ao caos, através de suas famosas ‘aulas régias’.” Enquanto que o projeto
educacional Jesuítico levava em consideração a própria estrutura social
brasileira da época; e o modelo de homem necessário para a época Co-
lonial, a política educacional como outra qualquer de Pombal era lógi-
ca, prática e centrada nas relações econômicas anglo-portuguesa.
Esta ideia parte do princípio de que a estrutura jesuítica possuía or-
ganizada formação acadêmica. A partir do momento de sua expulsão,
as ideias pombalinas passam a ministrar aulas régias. Um grande marco
na história brasileira, fadada ao fracasso.
O grande ápice das discussões voltadas para a popularização à edu-
cação no Brasil se dá a partir do interesse da construção das universi-
dades. Essa transição de interesses relativos à educação no Brasil vem
sendo demarcada desde a descaracterização do tipo de ensino Jesuítico,
passando por interesses estadísticos pombalinos, que inicia o processo
de separação dos grupos sociais pelo direito a educação civilizatória,
isto é, no sentido de atender, de fato, aos interesses do Estado.
Além disso, demarca o grande problema da educação com a reestru-
turação da educação brasileira, com as mudanças daquilo que se pode
chamar de currículo jesuítico e pombalino. Para Souza (2008):
97
Com a acentuação política sendo pulsada juntamente com o desen-
volvimento do Brasil, o país começa a dar os primeiros passos rumo a
um tipo de instrução que deveria ser concretizado dentro da realidade
brasileira.
Mas este ranço histórico demarcado até hoje conceitua a importân-
cia o ensino e que se cristaliza sobre a formação do professor, ao mesmo
tempo em que separam os dotados deste saber pela simples formação
acadêmica; uma concepção que vem aos poucos sendo desconsiderada
a partir dos estudos e movimentos contemporâneos sobre a educação
brasileira e sobre a importância dada a formação acadêmicas de todos
os brasileiros. Para Fiorentini et al. (1998, p. 314):
98
educacional, mas a dinâmica real trazida pelas disciplinas curriculares
faz com que esta dinâmica se torne difusa e o professor tenha que dis-
por de métodos e técnicas que tenha:
É neste sentido que o professor deve cuidar para que o seu pro-
cesso de formação não implique em restringir o sujeito aprendente
com formas prontas e ditadas pela nuance acadêmica do professor,
isto é, da sua racionalidade técnicas. De acordo a Gómez (1995,
p. 102):
99
práticas pedagógicas a partir da formação e dos saberes constituídos
nos cursos de formação, começaram, neste período a ser estruturada
a própria prática do professor, sob a perspectiva e estudos de discipli-
nas curriculares que promovessem saberes científicos sistematizados,
sem desconsiderar os valores e princípios que norteavam a ação edu-
cativa. Para Silva (1997, p. 3):
100
c) É pragmático, voltado para a solução de problemas: sistematizando o
saber e condicionando a prática docente ao encontro das necessidades da
sociedade.
d) É destinado a um grupo que de forma competente poderá fazer uso
deles: um modelo que se utiliza da cientificidade dos métodos e especializa
a formação docente.
e) É avaliado e autogerido pelo grupo de pares: consequentemente a for-
mação se dará por um currículo formulado para uma formação docente
que viabilize o processo de reflexão.
f ) Requer improvisação e adaptação a situações novas num processo de re-
flexão: os saberes docentes mesmo possuindo uma gama curricular proce-
dente para a sua formação, necessitará da realidade para aplicar sua teoria
e reformulá-la sempre que necessário.
g) Exige uma formação contínua para acompanhar sua evolução. É neste
sentido que se estabelece a relação de desenvolvimento na formação do-
cente a partir do objeto de inferência em cada década histórica.
h) Sua utilização é de responsabilidade do próprio profissional. A forma-
ção docente configura a este sujeito a responsabilidade social e ética sobre
os saberes adquiridos para a formação de outros sujeitos.
101
Neste sentido a formação docente configura a formação profissional
igualmente importante como a prática social.
A relação entre a formação do professor e sua prática para dentro da
sala de aula. Segundo Catini (1997) apud Silva (2009, p.11):
102
literatura, numa busca de se identificarem os diferentes saberes implíci-
tos na prática docente.
103
Tabela 2: Principais Tendências Pedagógicas usadas na Educação Brasileira
104
Já na Escola nova contrapunha a tradicional no sentido de focar no
sujeito a condição equalizadora na sociedade.
A tendência tecnicista previa a produtividades, estudo de métodos
e técnicas que absorvessem as práticas e a aprendizagem em um mes-
mo caminho. Dentro dessa visão tecnicista, acentua-se a divisão do tra-
balho pedagógico, desenvolvem- se os serviços de Supervisão, inician-
do-se nos cursos de Pedagogia, a partir da implementação do Parecer
252/1969, a formação dos especialistas. TANURI (2001, p. 79). Este pro-
cesso fragmentou as disciplinas e cursos em detrimento deste tipo de
formação. Para Tanuri (2001, p. 81):
105
Com os saberes das disciplinas curriculares e de formação profissional man-
tém uma “relação de exterioridade”, ou alienação, porque já os recebe deter-
minados em seu conteúdo e forma. Portanto esses conhecimentos não lhes
pertencem, nem são definidos ou selecionados por eles. Não obstante, com
os saberes da experiência o professorado mantém uma “relação de interiori-
dade”. E por meio dos saberes da experiência, os docentes se apropriam dos
saberes das disciplinas, dos saberes curriculares e profissionais.
106
condições sociais vigentes. Assim, a Pedagogia Histórico-Crítica, segun-
do Saviani (2009), a marginalidade deixa de ser vista predominantemen-
te sob o ângulo da ignorância, mais do rejeitado, ou seja, deve-se levar
em consideração contexto escolar e social ao qual o sujeito está inseri-
do e imbricado de história e cultura.
Considerando o aspecto pedagógico na pedagogia histórico-crítica,
o significado da tríade conteúdo-forma-destinatário para o planejamen-
to de ensino de acordo a MARTINS (2013), diz respeito à forma didáti-
co pedagógica que conduzirá o processo de ensino a partir do planeja-
mento, levando em consideração o defendido pelos discursos, que cita
o aluno como sujeito sócio cultural, que acumula saberes para o seu
processo de aprendizagem.
Esta inferência diz respeito à compreensão do sujeito- destinatário,
na intenção de não confundir o aluno como mero receptor das men-
sagens. Ainda a relação de “conteúdo-forma”, sobre as propostas de a
transmissão de conteúdos não ser no modelo tradicional ou meramen-
te conteudíssima, mas que mantenham especificidades e características
histórico crítica.
Dessa forma, os fundamentos da Pedagogia Histórico-Crítica proce-
dem ao trabalho pedagógico fazendo relação social, cultural e política,
historicamente construídos ao longo da história da sociedade.
Neste sentido a papel da escola reside em socializar o saber sistemati-
zado, tendo a concepção de que os conhecimentos serão utilizados dentro
da constante cultural e social do sujeito, sem abrir mão do saber científico,
ou seja, a escola tem a ver com o problema da ciência. Com efeito, ciência
é exatamente saber metódico, sistematizado (SAVIANI, 2003, p. 14).
Esta realidade apresente como uma constante em todo o processo
da formação docente na história brasileira. Se as observações forem fei-
tas traçando o caminho da prática do professor na sociedade, tem-se
ao mesmo tempo a necessidade de formalizar o entendimento da for-
mação do professor nas diferentes LDBs e na legislação que amparou
e ampara toda a história da formação docente na educação brasileira.
107
Tanuri (2001) destaca em seu artigo alguns pontos principais da LDB
5692/71, da qual se pode inferir acerca da realidade para representar o
palco de mudanças históricas sobre a formação docente, mostrado na
tabela abaixo.
108
do professor ainda persistem numa dissociação entre a formação e a
prática cotidiana, não enfatizando a questão dos saberes que são mobi-
lizados na prática, ou seja, os saberes da experiência.
É relevante considerar que os constituintes legais da Lei de Diretri-
zes e Bases que vigoram hoje, tentam corrigir os pressupostos da lei
passada, debatendo a contento, pelo menos na teoria, a formação do
professor, a partir da reestruturação do currículo, da obrigatoriedade
do ensino superior e de práticas pedagógicas que construam sentido
para intervir no processo educativo.
A relação com a prática docente e a qualidade da prática pedagógica
institui uma dinâmica a partir de conteúdo, materiais, métodos, ativi-
dades dentro do processo de ensino, mas que se fortificam e se confi-
guram a partir daquilo que o professor aprende, na prática, depois da
universidade. Por isso é importante considerar que dentro do palco his-
tórico, do qual se desenvolveu e se configurou a formação pedagógica
docente, instituem-se outros valores dos quais o professor só será capaz
de aprender com a prática.
A informação trazida dentro do contexto histórico em relação à
formação docente contextualiza algumas premissas dentro da própria
base curricular de formação do professor que deve ser reconduzido ao
pensamento de teoria prática vinculada à formação docente e aos pro-
blemas éticos sociais e políticos da Educação. Segundo Gómes ( 1995,
p. 102):
109
O ensino está relacionado a diversos outros fatores sobre uma pers-
pectiva pedagógica que vai diretamente ao encontro da qualidade da-
quilo que se aprendeu enquanto aluno.
A formação deve intervir nas práticas educativas com o objetivo
de auxiliar na resolução de problemas sociais, do qual a inserção dos
professores revigora o processo de reflexão-ação dentro do contexto
educacional. “Quanto mais um saber é desenvolvido, formalizado, sis-
tematizado, como acontece com as ciências e os saberes contemporâ-
neos, mais se revela longo e complexo o processo de aprendizagem que
exige, por sua vez, uma formalização e uma sistematização adequada.
(TARDIF, 1991, p. 219).
A Valorização do magistério a partir da Lei 9394/96 considerou dentre
outras coisas a formação docente como palco das grandes mudanças sobre
o processo educacional que refletirá no modelo de ensino, transformando
desta forma a própria prática docente quanto à relação de inserir os sujeitos
na sociedade. Apensar dos entraves de uma prática emancipadora julgando
como direito aquilo contido na lei, a formação do professor provoca gran-
des discussões sobre a teoria e a prática aplicadas nesta formação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças ocorridas na formação docente foram capazes de de-
marcar transformações de conceitos e percepções sobre sua formação.
Dentre elas estão os marcos históricos concebido das mudanças educa-
cionais desde a década de 1960 a 1980 até os dias atuais, marcados pelo
contexto histórico do Brasil.
Em outro momento, a consolidação das Leis de Diretrizes e Bases
da Educação brasileira que configuraram um aporte teórico a partir
das tendências pedagógicas que foram redesenhando o palco educacio-
nal e trazendo à tona a importância à formação docente, ao processo
de ensino e à aprendizagem. Na mesma linha a LDB 9394/96, ainda
configura aspectos importantes sobre a educação em seu art. 3º, onde
afirma existência de vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
110
as práticas sociais, coabitando neste discurso a formação do professor
como ponte indispensável para os resultados da aprendizagem sobre
em sala de aula.
Os estudos aplicados sobre a formação profissional revelam que os
caminhos traçados historicamente ainda deixam marcas sobre a própria
prática do professor, cheio de revezes e modelos técnicos e de uma for-
mação com perfil, muitas vezes, tradicionais.
No entanto, se considera em todas as teorias que a formação docen-
te é um ato indispensável e socialmente relevante para a construção de
uma sociedade onde os sujeitos sejam autônomos e capazes de intervir
de maneira crítica sobre as situações que dependem de seu posiciona-
mento como sujeitos sociais.
Para isso sugere-se que as instituições responsáveis pela formação de
professores viabilizem modelos teóricos práticos sobre o currículo, isto
é, que a teoria aplicada em sala de aula seja voltada para a experiência
prática e contextualizada. Não se concebe uma formação docente com
linhas teóricas respaldadas em suposições sem a plasticidade de uma
prática que se reelabora com ações práticas.
Assim será possível experimentar os métodos e técnicas adquiridos
nas universidades e proceder sob a perspectiva científica se aquela teo-
ria estudada de fato valida toda a formação docente.
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NOTAS
1. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental.
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia do Paraguai - UC/Py. Professor e
Advogado. E-mail: ivanbragall@yahoo.com.br
2. Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP. Doutorando em Qualidade e
Produção Animal pela Universidade de São Paulo-USP. E-mail: eugenioyokoya@yahoo.com.br
3. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Columbia de Assunção-Py, Pastor
da Igreja Evangélica Luterana do Brasil no município de Cerejeiras-RO. E-mail: PrcarlosCAR-
LOSschneiderPrcarlos@hotmail.com
4. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade San Lorenzo - UNISAL - PY. E-mail:
tarcilioforte@yahoo.com.br
5. Pós-Doutor em Ciências da Educação pela Univesidad Iberoamericana-PY. Doutor em Ciên-
cias da Educação pela Universidad Americana-PY. E-mail: profnetoseverino@gmail.com
6. Especialista em Coordenação Pedagógica pela Faculdade Regional de Filosofia e Ciências
e Letras de Candeias. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências Educacionais. Li-
cenciada em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail: ajanemorocx@
yahoo.com.br
113
VII.
EDUCAÇÃO E OS AGENTES SOCIAIS
Autora: Maria José Alacrino1
Coautores: Mara Dias Pereira2
Sueleide Alves de Souza Lima3
Lilia de Melo Lauriano Oliveira4
Helder Henrique Jacovetti Gasperoto5
RESUMO
Este artigo teve como perspectiva de análise as formas de interação entre
o indivíduo e o meio, tecendo uma discussão com alguns autores como Mil-
ton Santos e Lev Vygotsky para ressaltar a importância do território enquan-
to local de interações e da abordagem da psicologia sócio histórica. Tendo em
vista a complexidade do assunto, o objetivo desta investigação é contribuir
para uma visão educacional dos agentes que influenciam o aprendizado e
as relações que são pautadas com o discente no ambiente escolar e fora dele.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento. Psicologia da Educação.
Processos. Interação. Indivíduos.
RESUMEN
This paper aimed to analyze the forms of interaction between the
individual and the environment, weaving a discussion with some au-
thors such as Milton Santos, Lev Vygotsky to emphasize the importan-
ce of the territory as a place of interactions and the approach of so-
ciohistorical psychology. Considering the complexity of the subject the
objective of this research is to contribute to an educational vision of
the agents that influence the learning and the relations that are based
with the student in the school environment and outside.
PALABRAS CLAVES: Development. Educational Psychology. Pro-
cesses. Interaction. Individuals.
115
INTRODUÇÃO
A cidade torna-se espaço de aprendizado por meio dos significados
dos lugares. E a comunidade, onde esse indivíduo está inserido, é cons-
truto dessa representatividade.
Cada paisagem ou local remete embates, onde as articulações políti-
cas interpõem um jogo entre os atores e os agentes sociais. Não obstan-
te, todas as questões de dificuldades para vida em sociedade se materia-
lizam no território.
A realidade educacional brasileira ao longo dos anos foi sendo cons-
truída, superando os momentos de instabilidade versus estabilida-
de, juntamente as instâncias de crises sociais. Isso caracterizou todas
as rupturas com os modelos educacionais de cada época, e, nos dias
atuais, é fácil constatar a necessidade da redemocratização da educação.
Diante de muitos problemas sociais, temos, nesse contexto, a inser-
ção da escola e do indivíduo enquanto cidadão de direito, concebendo
assim a educação enquanto agente de mudança social. A escola precisa
se aproximar do cenário social, tal qual é sua importância de historici-
dade, onde culmina a cultura de um povo, permeando assim a mudan-
ça de mentalidade e uma nova visão de mundo.
É importante enfatizar a inserção do território, pautado numa dimensão
de espaço construído e como forma de pertencimento do cidadão. Afirman-
do, assim, a importância da historicidade e da cultura dos seus habitantes.
Algumas indagações se fazem constantes no dia a dia dos processos
educacionais. Dentro desse emaranhado de questionamentos, os estu-
dos de muitas áreas da educação vêm tentando direcionar essas aborda-
gens de forma assertiva.
Sabe-se que o processo de educação e apropriação da cultura é de
suma importância para o desenvolvimento do ser humano e começa
antes mesmo do indivíduo adentrar na escola e ainda continua no de-
correr de toda sua vida. Dentro dos aspectos legais ou fora deles, den-
tro da escola ou fora dessa, o desenvolvimento do ser humano perpassa
um tempo indefinido.
116
O presente artigo aborda a importância do desenvolvimento e da
cultura nos processos de apropriação do conhecimento. E traz em
questão as abordagens da educação para tecer discussão a respeito do
referido assunto.
Procura-se dessa forma, trazer o discurso de alguns autores para
fundamentar algumas dinâmicas no contexto social e educacional, ten-
do em vista as formas coletivas de socialização, que fazem parte da vida
de cada cidadão.
Neste artigo, a ênfase é tentar compreender os agentes sociais. Den-
tre eles a interação do indivíduo e o meio, permeando assim suas rela-
ções para a vida em sociedade, bem como o contexto da aquisição do
conhecimento.
Dentro desse parâmetro tem fundamentada a visão do geógrafo
Milton Santos (2007) que estabelece a função do espaço para o cida-
dão, centrando as dinâmicas que se fazem presentes nesse espaço de re
(produção) social, e assim, determinando a posição do indivíduo no ter-
ritório, também destaca os problemas oriundos da exclusão e segrega-
ção social e sobremodo a importância do sentimento de pertencimento
para se perceber cidadão de direitos.
Destaca se a ênfase na visão humanista do educador Paulo Freire
(1987) que mostra a pedagogia como forma de dominação e opressão e
a importância da libertação como fator de uma crítica aliada à pratica.
Ou seja, a ação de se tornar a “Ser Mais” compreendendo cada indiví-
duo o seu posicionamento diante da natureza e diante do outro.
Para somar nessa discussão a importância da visão do psicólogo Lev
Vygotsky (2003) sobre o interacionismo, que atenta para o desenvolvi-
mento, em que o pensamento é construído levando em consideração o
ambiente histórico e social. Dessa forma contempla a interação social
como um papel fundamental nos processos de desenvolvimento cog-
nitivo entre os pares e individualmente, estabelecendo a importância
dos fatores culturais onde o homem modifica o meio e o meio modifica
o homem
117
2. METODOLOGIA
O estudo foi realizado por meio da discussão dos referidos autores,
Milton Santos, Paulo Freire e Lev Vygotsky, Mayor que fizeram parte
do referencial teórico, levando em consideração os desafios e perspecti-
vas dos processos educacionais e a vida em sociedade.
Compreende nesse contexto alguns pontos de vista dos teóricos
destacados sobre a educação, o território e a psicologia da educação,
tendo como prioridade o desenvolvimento do indivíduo, bem como as
dimensões culturais do seu meio.
3. REVISÃO DA LITERATURA
Considerando o desenvolvimento e a abordagem do contexto atual
no que diz respeito a ciência, tecnologia, saúde, educação, economia
e demais áreas, discutir a respeito dos problemas centrais de um povo,
uma nação ou uma comunidade, incluí sabermos sobre os estágios al-
cançados pelo estatus do desenvolvimento.
O conceito de desenvolvimento pode ser entendido como processo
de evolução, crescimento ou mudança.
Neste artigo, a ênfase é o desenvolvimento do território e o desen-
volvimento educacional, tendo como foco o desenvolvimento integral
do ser humano por meio da educação.
A logística do capital está associada ao trabalho, que por sua vez,
requer subsídios do mundo do conhecimento. Entretanto, o processo
de globalização interfere de forma perversa nos processos educacionais.
Pode se dizer que a engrenagem capitalista, associada ao consumis-
mo, reflete em toda a sociedade, suas concepções errôneas, de forma
acrítica da realidade, colocando a educação ou o capital imaterial, em
segundo plano.
É por meio da educação que se promove o desenvolvimento integral
do ser humano, mas, existe uma tirania instituída, pela busca do lucro,
pelas grandes empresas em contrapartida instigando o consumo pelo
cidadão em lugar do “Ser”.
118
Sob o ponto de vista de Milton Santos (2007):
119
bem-estar, acesso a meios de transportes, infraestruturas, equipamen-
tos, dentre outros suportes materiais.
Assim, a crise vivida nas cidades, hoje, é definida por todas as instân-
cias de crises existentes, desemprego, ineficiência dos serviços públicos
indispensáveis como hospitais públicos, segurança pública, moradia, e
outros, o que torna a vida inviável para muitas pessoas.
Com razão em Santos, (2007):
120
As rápidas transformações ocorridas, tendo em vista o ambiente do
trabalho, assim como as questões pautadas no desenvolvimento cienti-
fico e tecnológico, colocam a educação em uma posição de destaque,
neste meio, situa a escola enquanto equipamento primordial, para favo-
recer o conhecimento e a apropriação da cultura pelos indivíduos.
Vale ressaltar que muitas localidades distantes e segregadas têm a escola
como único meio de pertencimento. Muitas vezes o espaço escolar tem um
papel importante no processo de socialização dessas comunidades excluídas.
Embora, seja importante destacar que todo processo de interação
do indivíduo com a escola e com o território é passível de muitas in-
fluências, é relevante enfatizar os estudos da psicologia da educação
nos dias atuais, contemplando o indivíduo como um todo nas suas rela-
ções com o meio em que se encontra.
Em se tratando dos processos educacionais é importante o papel
que a psicologia da educação representa tendo em vista o educador, o
educando e o lugar da escola.
A psicologia estuda o que caracteriza o comportamento huma-
no nas suas diversidades, tenta compreender o todo, isto é, o homem
como ser social e o seu desenvolvimento, visando a educação como
centro desse processo.
É certo que na escola esse processo se caracteriza de diversas for-
mas, buscando várias vertentes para compreender o ensino e a aprendi-
zagem e a interação entre educador e educando.
São muitos os estudiosos que contribuíram buscando compreender
os fenômenos construídos levando em consideração o desenvolvimen-
to do ser humano e sua inteligência.
Destaco nesse artigo a discussão do estudioso e psicólogo Lev Vy-
gotsky, que vislumbrou o ensino como processo social. Destaco sua
obra, a formação social da mente, 2003, para compreensão dos pontos
de vista do referido autor.
O psicólogo bielo-russo nasceu em 1896 e morreu em 1934, aos 37
anos, vítima de tuberculose. Era membro de uma família culta e com boas
121
condições econômicas, o que contribuiu para sua formação; graduou-se em
direito e fez estudos em diversas áreas; trabalhou como professor e formou
um grupo de estudo junto com Luria e Leontiev; fundou um laboratório
de psicologia buscando um novo olhar para a psicologia da educação; escre-
veu vários artigos científicos e deixou um estudo sólido para compreender
a interação do homem com a cultura e o processo do aprendizado.
Segundo Vygotsky (2003), “assim, o aprendizado é um aspecto ne-
cessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psico-
lógicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” (p.118).
Vygotsky (2003) tem em seus estudos uma preocupação com o papel
da escola, do educador. E, com a intervenção pedagógica, vê a escola
como um lugar importante de formação do indivíduo.
O aprendizado para Vygotsky (2003) acontece da interação do ser
humano com o meio, divide seu trabalho em quatro entradas que vão
explicar todo o processo, são essas as entradas: Filogênese, Sociogêne-
se, Ontogênese e Microgênese.
Traduzindo o que significa cada entrada: Sociogênese - história de cada
grupo cultural; Filogênese- história da espécie humana; Ontogênese - his-
tória do indivíduo da espécie, do nascimento à morte; Microgênese - as
experiências vividas pelo indivíduo em sua própria história singular.
A teoria de Vygotsky aborda outras dimensões de estudo para com-
preender o desenvolvimento do ser humano, a descrição nesse estudo
é apenas uma pequena abordagem de sua teoria. Assim, para Vygotsky
(2003), o aprendizado é mediado e vai sendo conduzido e construído
culturalmente. É importante o papel de cada ser humano nesse proces-
so, pois o sujeito só é sujeito no contexto social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A modernidade impõe condições, instauradas pela segregação, pela
exclusão, pela desigualdade social e violência, além da complexidade
cultural, e todos esses fatores influenciam a vida e a forma de viver nos
lugares.
122
A dinâmica imposta pela engrenagem capitalista trazem impactos na
vida dos cidadãos, gerando condições inapropriadas de sobrevivência.
As concepções modernas de vida precisam ser analisadas à luz dos
processos de desenvolvimento, priorizando a educação, tendo em vista
um valor de troca que depende da efetiva formação do indivíduo, para
exercer seu pleno direito de cidadão.
Falar em educação pressupõe participação coletiva e o envolvimen-
to dos cidadãos em busca de modelos de democracia que contemplem
o desenvolvimento de maneira plena.
No meio educacional é necessário levar em consideração a ansieda-
de de educadores e educandos. Levar em consideração a realidade que
vem do território, onde cada lugar imprime sua marca e traz em si uma
complexidade de dinâmicas sociais.
Todavia, o processo educacional é considerado um dos mais impor-
tantes aspectos para o desenvolvimento social. É por meio da educação
que um povo ou cada indivíduo chega a plenitude do ser, pois não exis-
te meio termo nesse contexto.
A pauta da educação como ação social, cultural e política deve tra-
duzir o comprometimento com o coletivo e com a totalidade das re-
lações humanas. E isso começa no espaço habitado, no território, na
comunidade de cada cidadão, especialmente com respeito a cultura de
seus habitantes.
Partimos do entendimento que essa discussão exige a considera-
ção da importância, da interação do indivíduo com o meio social. E
sua própria história construída com o outro, sem separar o processo
histórico social do seu meio, do seu território e de sua cultura. Nessa
perspectiva a tarefa da educação é educar e reeducar contemplando o
desenvolvimento como um todo.
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NOTAS
1. Mestre em Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Vale da Paraí-
ba - UNIVAP. E-mail: tecalacrino@yahoo.com.br
2. Doutora em Ciência da Educação pela Universidad Americana. Mestre em Saúde Pública
pela Fundação Oswaldo Cruz. Graduada em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá, UNE-
SA. Graduada em Administração. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. E-mail: mara-
dpereira@yahoo.com.br
3. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Americana - Assunção - PY. E-mail: sue-
leidesouza2@gmail.com
4. Mestranda em Ciências da Educação pela Universidad Autônoma de Asunción PY. E-mail:
liliaoliveira2000yahoo.com.br
5. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidad Tecnológica Intercontinental -
UTIC. Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. Graduado
em Geografia pela Universidade de São Paulo - USP e em Pedagogia pela ASMEC. E-mail:
heldergeo@hotmail.com
124
VIII.
EDUCAÇÃO COMPARADA: DEFINIÇÕES
E FINS PARA A EDUCAÇÃO
Autor: Ivan Braga de Souza1
Coautores: Francisco Tarcilio Teles Forte2
Juliette Duarte de Souza3
Marcos Simões4
Kátia Bezerra5
RESUMO
A Educação Comparada-EC traz aspectos que se debruçam em
contemplar os desafios dentro do contexto das ciências, abrangendo a
pesquisa a partir da comparação entre dois ou mais elementos, sempre
marcados pela evolução do pensamento humano e por sua interferên-
cia no processo. Inferir sobre os caminhos metodológicos utilizados
pela Educação Comparada enquanto instrumentos de investigações
sobre o processo educativos configura-se o objetivo deste discurso.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica baseada nas fontes documentais
a fim de compreender um determinado objeto e questiona-se quais
os caminhos metodológicos utilizados pela Educação Comparada en-
quanto instrumentos de investigações sobre o processo educativos. A
pesquisa mostra a Educação Comparada como um importante instru-
mento científico que se baseia nos métodos científicos, porém, exige-
-se uma só forma de investigar e determinar os resultados. Define-se
como um instrumento de comparação intercultural, marcou a evolu-
ção do pensamento humano, sempre esteve presente na própria cons-
trução do saber.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Comparada. Sistema Educativo.
Pesquisa.
125
INTRODUÇÃO
Vários são os parâmetros utilizados para definir a presença dos com-
ponentes da educação dentro de um contexto educativo. As proposi-
ções interculturais da estrutura e do processo educativo, bem como dos
seus elementos sofrem grandes influências de interlocutores da área
da Educação tomando uma dimensão pedagógica que movimentam
e condicionam as mudanças educacionais. Neste sentido, a Educação
Comparada define-se como um instrumento de comparação intercul-
tural, no sentido em que a Sociologia, a História, a Antropologia, a Po-
lítica e a Educação são campos de investigação do sistema, e modula-se
dos métodos e metas do sistema educativo e do processo dos rendimen-
tos Educacionais.
Os rumos da ciência predominam a arte indutiva e analítica nos di-
ferentes ramos do conhecimento. Garcia Garrido (1986) classifica es-
tes dois modelos em linhas predominantemente analíticas e sintéticas,
buscando a resolução de problemas na educação comparada, surge no
interesse de indicar e comparar métodos acessíveis ao acesso do saber
específico.
Como um importante instrumento científico a Educação Compa-
rada continua baseando-se nos métodos que exigem uma só forma de
investigar e determinar os resultados. Não deve ser entendido como
uma disciplina porque seu campo de investigação propõe uma busca
complexa sobre a pesquisa e sobre o sistema educacional em âmbito
nacional e internacional. Desta forma questionam-se quais os caminhos
metodológicos utilizados pela Educação Comparada enquanto instru-
mentos de investigações sobre o processo educativos?
CIAVATA (2009) diz que comparação parte da analogia que é o pro-
cesso de perceber as diferenças e semelhanças na relação com o outro,
pessoas e objeto. Comparação é uma constante na produção intelec-
tual, não apenas nos trabalhos acadêmicos, mas também nos apren-
dizados da vida cotidiana. Neste sentido a justificativa dada para esta
discussão está justaposto as relações sócio ambientais das quais se
126
encontraram a relação do próprio homem e as características e particu-
laridades dos elementos por meios investigativos, ou seja, é inerente do
homem a busca constante pelas respostas sobre tudo o que lhe rodeia.
De acordo com FERREIRA (2008) apud Arantes e Queluz (2014, p.
3) a comparação sempre marcou a evolução do pensamento humano,
sempre esteve presente na própria construção do saber. Por isso as re-
lações de caráter prático e investigativo sempre acompanharam os pre-
ceitos das relações, mantendo o caminho da interlocução aberto a in-
vestigações, principalmente no campo da educação.
Portanto, inferir sobre os caminhos metodológicos utilizados pela
Educação Comparada enquanto instrumentos de investigações sobre o
processo educativos configura-se o objetivo deste discurso.
1. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fa-
ses, desde a formulação do problema até a apresentação e discussão de
resultados.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que consiste em uma técnica
de investigação baseada nas fontes documentais a fim de compreender
um determinado objeto.
A pesquisa é qualitativa que, de acordo a Minayo (2001), trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações,
dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à opera-
cionalização de variáveis. Para este fim foram selecionados três artigos
escolhidos para servirem de amostra para as discussões. O objetivo da
amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela
pequena ou grande o que importa é que ela seja capaz de produzir no-
vas informações (DESLAURIERS, 1991, p. 58).
Utilizando-se a intersecção dos seguintes descritores: educação
comparada – educação- pesquisa, foram escolhidos os títulos: Artigos
- Educação Comparada: abordagem histórica, possibilidades e limites
127
de Margareth Gomes Rosa Arantes e Lara Cristina de Queluz (2014), O
sentido da educação Comparada: uma compreensão sobre a constru-
ção de uma identidade de Antônio Gomes Ferreira, publicado (2008) e
o livro: Educação Comparada: panorama internacional e perspectiva,
organizado por Robert Cowen, Andreas M. Kazamias e Elaine Ulterhal-
ter. (2012).
Como forma de tratamento dos dados levantados ao longo da pes-
quisa, foi feita fichamento tabulado de cada teoria baseados a partir
da interpretação das informações averiguadas por cada autor sobre o
tema, inferindo sobre a importância a Educação Comparada em três
análises: conceito, incidência e ênfase.
128
faz-se bastante mais uso da comparação do que se pensa, podendo-se
mesmo dizer que ela contribuiu tanto para o progresso das Ciências da
Educação como da Psicologia Daele (1993) apud Ferreira (2008, p. 125).
Na EC o princípio básico é a comparação podendo assumir várias
linhas e Campos a partir dos desafios que se encontram dentro da pes-
quisa. A maior parte das vezes, ela tem assumido uma dimensão inter-
nacional, mas pode também assumir uma nacional, regional ou supra-
nacional Halls (1990) apud Ferreira (2008, p. 125).
A partir da estreita relação com a educação muitos estudos apon-
tam a estruturação do ato de comparar a relação específica de proble-
mas organizacionais, sistemas de ensino, relações sociais, políticos eco-
nômicos e culturais. Apesar de se poder inventariar já muitos estudos
que procuram fugir da simples organização dos sistemas educativos,
avançando sobre temas mais específicos e enquadrando espaços mais
amplos que os países, como, por exemplo, a situação das mulheres no
mundo da educação UNESCO (1995) apud Ferreira (2008, p. 125).
A partir do histórico da EC percebe-se o quantitativo de discursos e
teorias que focam sobre o sistema educativo as condições de interesse
sobre o processo de educação. Como é óbvio, a educação é um ele-
mento central tanto dos processos de globalização económica e cultu-
ral como das tendências de união política que se verificam em algumas
regiões do mundo. Altbach (1991) apud Ferreira (2008, p. 125).
Interessa-se ainda para o estudo sobre o sistema educativo obser-
var a realidade que introduzem melhorias ao sistema, especialmente
ao que diz respeito a comparações posteriores nos diferentes níveis de
informação e linhas de pesquisa. O sistema educativo é o Lócus da pes-
quisa da Educação Comparada, porém, repercutem sobre outras linhas
sociais a preocupação interdisciplinar de considerá-los como aporte
percursor das informações trazidas pela EC.
A principal contribuição do estudo da educação comparada é que,
se abordado de maneira adequada, trata dos ‘princípios fundamen-
tais’ e favorece ‘a aquisição de uma atitude filosófica’ na análise e, na
129
sequência, na estimulação de um entendimento mais claro dos proble-
mas educacionais. O estudo torna a educação mais capaz de penetrar
o espírito e a tradição dos sistemas de educação de sua própria nação
(KANDEL, 1955, p. 12; KANDEL, 1933, p. 20) apud Cowen, et. al.
(2012, p.66).
Neste pensamento alguns contribuintes dentro da prática da EC se
fazem interessantes ao discriminar os seus conceitos a partir dessas teo-
rias. Por sua vez, a colaboração e participação de diversos especialistas
das ciências sociais têm contribuído fortemente para enriquecer a EC.
(HALLS, 1990) apud Ferreira (2008, p. 125).
As considerações trazidas por essas teorias descrevem e traduzem
as análises efetuadas a partir da EC realizando e recolhendo análise de
dados, reformulando as conclusões analíticas que dão condições de in-
terpretar, dentro do campo comparativo, sobre os caminhos metodoló-
gicos utilizados pela Educação Comparada enquanto instrumentos de
investigações sobre o processo educativos.
A tabela abaixo mostra os teóricos e as diferentes dimensões teóricas
que abordam a educação comparada, sua interpretação e a forma de
abordagem dentro do campo científico.
130
Tabela1: Quadro comparativo dos conceitos sobre a E.C.
131
As teorias analisadas concordam entre si que a Educação Compa-
rada foca seus estudos a partir dos problemas e das necessidades do
sistema educacional como princípio para outras particularidades das
Ciências Sociais como a Economia e Política. Segundo CIAVATA (2009,
p. 130):
132
pesquisas sobre educação comparada devem prover novos meios para
aprimorar a ciência da educação.
133
• Fatores seculares: Humanismo, Socialismo, Nacionalismo, Demo-
cracia; que incidem sobre os fatos educativos e processos educativos.
134
propósito da brochura ser fundamentalmente de carácter prático, não
devemos esquecer que foi ele quem, pela primeira vez e logo num título,
utilizou o termo “educação comparada” e se preocupou em traçar as li-
nhas em que devia assentar um estudo conducente à elaboração de uma
“obra sobre a educação comparada”.
135
a partir do sistema de ensino viabilizam todas as áreas mantendo um
campo intercultural sobre a pesquisa.
A metodologia utilizada como campo investigativo dentro da educa-
ção comparada traz uma perspectiva multifacetada dos indicativos que
constrói as concepções humanas constituindo um questionário mental,
reformulando as bases e princípios desejáveis a partir da investigação.
Por isso a EC é considerada como um campo objetivo, científico
e epistêmico que possui um único objetivo de edificar socialmente a
influência do homem sobre sua vida. Certamente por isso Julllien de
Paris interpretava a educação como “a verdadeira base da edificação
social, fonte primária de hábitos e opiniões, que exerce uma poderosa
influência sobre toda a vida” (FRASER, 1964, p. 35).
Acreditava que a educação pode exercer uma influência decisiva so-
bre o “renascimento” intelectual e moral do homem, sobre o bem-es-
tar nacional e sobre a construção das nações (KALOYIANNAKI, 2001)
apud Ferreira (2009, p. 33); Cowen at al (2012).
Nesta mesma linha Noah & Eckstein (1969) e Lê Thành Khôi (1961)
estendem a educação comparada para o campo da ciência investigativa.
de qualquer modo a comparação sobre a educação tem um propósito.
Para Ferreira (2008, p. 125):
Ela nunca é gratuita. Quando rigorosamente efetuada, a leitura dos
aspectos comuns e das diferenças relativas a uma problemática fornecem
informações mais interessantes que as resultantes de uma leitura dessa
mesma problemática num só contexto. A comparação em educação gera
uma dinâmica de raciocínio que obriga a identificar semelhanças e dife-
renças entre dois ou mais factos, fenómenos ou processos educativos e a
interpretá-las levando em consideração a relação destes com o contexto
social, político, económico, cultural, etc. a que pertencem. Daí a necessi-
dade de outros dados, da compreensão de outros discursos.
136
processo educativo. Interpretá-los seria considerar os elementos deste con-
texto social como política, economia e cultura como abrangência organi-
zativa que afirmam a objetividade da abordagem comparativa dentro do
contexto educacional. As principais incidências da EC na pesquisa sobre
a educação sugerem inferências diretas sobre o sistema educacional. Para
melhor interpretar esse campo toma-se como base a explicação de Ciavata
(2009) apud Arantes e Queluz (2014, p. 3).
137
Para melhor compreender a abordagem sobre as incidências temos
“Alguns exemplos onde são realizados estudos da Educação Compara-
da: A situação das mulheres no mundo da educação (UNESCO, 1995);
O problema do financiamento com a educação (HALLS, 1990); A situa-
ção dos currículos escolares (FORQUIN, 1999; PUSCI, 1990); os siste-
mas de formação profissional (ROTHE, 1995), apud Arantes e Queluz
(2014).
Convém destacar as preocupações iniciais que implicam numa revi-
são de recursos metodológicos. Neles estão inclusos o princípio da edu-
cação comparada que utilizam de métodos e técnicas para auxiliar os
questionamentos em entrevistas e testes de observação sempre partin-
do da fonte comparativa entre dois ou mais elementos. Normalmente
utiliza-se de fontes internacionais para pontuar e fragmentação as teo-
rias que serão analisadas a partir de um ponto de partida. Esta relação
considera-se importante para interpretação de dados e as conclusões
analíticas pela seleção, exclusão, inferências, diferenças e semelhanças
para que se reconheça o processo de comparação. Franco (2000) apud
Arantes e Queluz ( 2014):
138
O princípio da comparação é a questão do outro, o reconhecimento do
outro e de si mesmo através do outro. A comparação é um processo de
perceber diferenças e as semelhanças e de assumir valores nesta relação de
reconhecimento de si próprio e do outro. Trata-se de compreender o ou-
tro a partir dele próprio e, por exclusão, reconhecer-se na diferença.
139
convincentes na medida em que a sociologia, a história, a antropologia, a
política, a educação etc., para ficar só nas ciências humanas e/ou sociais,
são remetidas à história de sua elaboração. Nelas estão presentes os sujei-
tos sociais que as produziram e as ideologias que permearam suas idéias
sobre a verdade científica.
140
o carácter prático da Educação Comparada. É certo que a Educação
Comparada sempre esteve voltada para a investigação dos mecanismos
que interferem diretamente no sistema educacional.
A educação sempre manteve relação com os aspectos sociais de desen-
volvimento, de economia, de cultura e de política sendo um palco inte-
ressante para as investigações no campo comparativo tanto em vias inter-
nacionais, como princípio para possíveis comparações a serem analisadas;
quanto no campo nacional, onde as estruturas sociais são inerentes do
próprio sistema fazendo com que a realidade das comparações entre re-
giões, entre etnias existentes, sistema de ensino da região em detrimento
do próprio sistema de ensino brasileiro, sejam condições suficientes para
que se tenha em mãos um campo vasto de investigação, com visão mais
ampla para discussão em diversos temas dentro da educação comparada.
Para Correa (2011) apud Arantes e Queluz (2014, p. 8):
141
Para as autoras compreender a dinâmica dos sistemas educacionais
ou de aspectos a eles relacionados por via da comparação é o desafio e
a uma necessidade nos tempos atuais. Elas destacam a importância do
entendimento sobre a EC sempre focalizando como uma necessidade
humana, inferindo que a comparação sempre marcou a evolução do
pensamento humano, fornecendo informações e aspectos em diferen-
tes visões para um determinado problema.
O artigo traça um panorama histórico sobre a EC e conceitua al-
gumas informações sobre teorias que deram base a instituição his-
tórica desta teoria. Em contrapartida, nas análises do artigo intitu-
lado “O sentido da educação Comparada: uma compreensão sobre
a construção de uma identidade” de Antônio Gomes Ferreira (2008)
mantém uma linha bem mais próxima do histórico destes autores, ou
seja, enquanto Arantes e Queluz, (2014) elaboram uma síntese histó-
rica da EC, enunciando cada teórico em seu tempo, Ferreira (2008) se
atém em aprofundar-se na vida de cada um deles, complementando
as ideias de Arantes e Queluz. Esta organização procede do interesse
de explicar mais amiúde a existência da EC, sua importância à relação
com os caminhos metodológicos utilizados na época de sua criação,
para que se tenha uma visão holística sobre s fatos que compões os
conceitos da EC e sua importância às dinâmicas do sistema educacio-
nal. Segundo Ferreira (2008, p. 125):
142
Nesta literatura, as nuances da EC estreitamente relacionadas ao sis-
tema educativo, mantém uma função socializadora ao tempo que se
discutem outra área tangenciais do sistema social. “Na Educação Com-
parada, claro está, a comparação é de fundamental importância, mas
não é o único campo em que ela assume função tão preponderante.
Basta tão só invocar a literatura comparada, o direito comparado e a
política comparada, por exemplo, para vermos que ela é aí absoluta-
mente essencial.” (FERREIRA, 2008, p. 125).
Nestes moldes, as referências às teorias citadas no artigo como as de
(ALTBACH, 1991) apud Ferreira (2008, p.135) consideram importantes
a EC como sendo “um elemento central tanto dos processos de globali-
zação econômica e cultural como das tendências de união política que
se verificam em algumas regiões do mundo”. Validando o que Ferreira
(2008) afirma para a EC.
As teorias abordadas nestes material, a saber: Friedrich Schnei-
der(1964) dividiu a evolução da Educação Comparada em dois períodos:
o da pedagogia do estrangeiro e o da pedagogia comparada propria-
mente dita; George Bereday(1972), o percurso da Educação Compara-
da reparte-se por três períodos, sendo um designado de empréstimo,
outro de predição e o último de análise; Alexandre Vexliard(1967) apon-
ta a existência de quatro períodos para o trajeto da Educação Compara-
da; Noah e Eckstein (1969) dizem que história da Educação Comparada
pode ser subdividida em cinco períodos, cada um orientado por uma
motivação específica, bem como por um tipo de trabalho comparativo.
Apud FERREIRA (2008, p. 126-127). Neste sentido é possível observar
que a história da EC esteve longe de percorrer um caminho linear para
compreensão dos determinantes de seus caminhos metodológicos, mas
que numa visão mais ampla não se perde de vista a intenção funcio-
nal da EC.
No livro “Educação Comparada: panorama internacional e pers-
pectiva”, Cowen, Kazamias e Ulterhalter (2012) abrangem o campo
desta investigação mantendo a linha da pesquisa a partir do panorama
143
internacional para a EC. Já foi comentado que a relação da EC segue
linhas internacionais e nacionais, mas a relevância deste contexto re-
vela-se a partir das leituras que “mostram a construção da educação
comparada como um discurso, incluindo a evolução da educação com-
parada como um discurso acadêmico, até o final da década de 1970.”
(Cowen e Kazamias, 2012, p. 16) e do contexto internacional pelas li-
nhas de pesquisa de Victor Cousin, da França, e Horace Mann, Calvin
Stowe e Henry Barnard, dos Estados Unidos da América.
O material bibliográfico se encontra adequado às perspectivas da
pesquisa, no tocante aos possíveis interesses de elucidar ao leitor sobre
a EC. Todos traçam a seu modo o contexto histórico da EC, deixando
o leitor a par dos principais critérios, a saber, sobre a EC. Na mesma
intenção são descritos teorias e fatos que situam em relação à EC, dei-
xando os leitores próximos, a contento, da relação científica e dos cami-
nhos metodológicos percorrido por teóricos que deixaram seu legado
no campo educacional e na pesquisa em educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao abordar os estudos sobre a Educação Comparada dentro do sis-
tema educativo apontam-se algumas complexibilidades das relações im-
parciais e interdisciplinares dos setores da sociedade, situação em que
implica a Educação Comparada estudos mais apurados e interpretati-
vos sobre o sistema educacional.
A partir dos estudos fica claro que o objetivo da Educação Compa-
rada está sobre sistemas educacionais, mas protagonizam relações em
outras linhas de conflito dentro deste parâmetro. Deste modo, os ca-
minhos metodológicos utilizados por esta teoria científica, enquanto
instrumento de investigação sobre o processo educativo, permeiam as
relações das teorias trazidas para conceituar e dar objetivos práticos a
sua fundamentação no campo científico.
Também como metodologia retoma-se a incidências e abordagens
interpretativas no campo de investigação que fundamentam e teorizam
144
as linhas de pesquisa a serem seguidas no campo metodológico. No sis-
tema educativo as incidências da investigação da Educação Comparada
recaem sobre as abordagens educativas, pedagógica, fenomenológica
e o próprio processo educativo sem que com isso fragilizar o processo
de investigação e inferências concebendo o sistema educativo apenas
como espaços escolares.
Para isso, a Educação Comparada se resguarda de metodologias e
técnicas que permeiam pelos ambientes político, econômico e cultural
e que se traduz tanto no processo de globalização quanto das tendên-
cias internacionais e nacionais no sistema de ensino.
É importante considerar que a comparação é fundamental para to-
das as literaturas que contribuem com o progresso das Ciências da Edu-
cação, efetuando desta forma caminhos que se estruturam a partir da
investigação das diferenças e semelhanças, que configuram os proble-
mas sociais.
Por fim sugere-se que os estudos sobre a Educação Comparada
sejam aprofundados no campo das Ciências Educacionais, justifican-
do a sua importância executando em linhas que abordem a dimensão
técnica e a capacidade sofisticada de comparação, dentro do sistema
educativo.
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NOTAS
1. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental.
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia do Paraguai - UC/Py. Professor e
Advogado. E-mail: ivanbragall@yahoo.com.br
2. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade San Lorenzo - UNISAL - PY. E-mail:
tarcilioforte@yahoo.com.br
3. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay. Mestre em
Ciências da Educação pela Universidad Americana - PY. Graduada em Pedagogia pelas Faculda-
de de Educação Montenegro. E-mail: julietduarte@hotmail.com
4. Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental - UTI-
C-PY. E-mail: simoes.apress@hotmail.com
5. Mestre em Educação com ênfase em Investigação Educativa pela Universidad Católica de
Asunción- PY. Especialista em Psicomotricidade pela Universidade do Estado do Pará. Biomédica
e Professora efetiva da Universidade do Estado do Pará. E-mail: ktiarbezerra@yahoo.com.br
147
IX.
O PSICOPATA PERANTE O CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO
Autor: Fabiano Bezerra Martins1
Coautores: Marcos Simões2
Renato Ferreira de Araújo3
Fernanda Pereira Moraes de Araújo 4
Edna Resende Camisão Aquino5
RESUMO
O Psicopata é o agente caracterizado por comportamentos deli-
tuosos, portador de transtornos antissociais e dissocias. Os delitos
praticados por psicopata em geral são executados com requintes de
crueldade, tendo em vista que este não tem afeição por outro ser
humano. A psicopatia causa dissenso até mesmo entre os pesquisa-
dores da Ciência Médica. No ordenamento jurídico brasileiro não
há nenhum diploma legal que trate do assunto de forma específica,
assim esses criminosos são tratados como presos comuns. Destarte,
nota-se a existência de um limbo jurídico que dificulta aplicação do
direito penal nos casos de agentes psicopatas. Nesse sentido, apre-
senta-se a problemática para julgar e aplicar a pena adequada para
esses agentes psicopatas. Sem outra saída, a doutrina e a jurispru-
dência adotam as possibilidades a seguir: julgam como imputáveis,
e aplica-se a pena privativa de liberdade, ou são reconhecidos como
semi-imputáveis, e julgados com abatimento na pena, ou serão con-
siderados inimputáveis e sofrerão uma medida de segurança. Neste
artigo serão abordados os aspectos relativos à conceituação de quem
é o psicopata, como ele se apresenta como perigo à sociedade, como
o Direito Penal se comporta perante o psicopata, tentando abordar
as perspectivas de solução para a correta aplicação e comprimento
149
da pena, assim como para a elaboração de políticas públicas para a
prevenção e tratamentos de portadores desse transtorno.
PALAVRAS-CHAVE: Psicopata; Direito Penal; Imputabilidade.
ABSTRACT
The psychopathis the agentcharacterizedby criminal behaviorwi-
thantisocialanddissociativedisorders. The crimes practicedbypsycho-
paths in general are executedwithrefinements of cruelties, since it has
no affection for anotherhumanbeing. Psychopathy causes dissent even
among Medical Science researchers. In the Brazilian legal system the-
reis no legal diploma thatdealswith the subject in a specificway, sothe-
secriminals are treated as ordinaryprisoners. Thus, it isnoted the exis-
tence of a legal limbo thathinders the application of criminal law in
cases of psychopathicagents. In thissense, the problemispresented to
judgeandapply the appropriatepenalty for thesepsychopathicagents.
With no otherway, doctrineandjurisprudenceadopt the followingpossi-
bilities: Theyjudge as imputable, andimprisonment, or are recognized
as semi-attributable, andjudgedwith a penalty in the penalty, orwillbe-
consideredunimpeachableandwillsuffer a securitymeasure. In thisar-
ticlewillbeapproached the real aspects of the conception of who the
psychopathis, howhepresentshimself as a danger to society, as the Cri-
minal Law behaves in front of the psychopath, tries to approach the
prospects of solution for the correctapplicationandlength of the sen-
tence, as welland for the elaboration of public policies for the preven-
tionandtreatment of patientswiththisdisorder.
KEYWORDS: Psycho; Criminal Law; Imputability.
INTRODUÇÃO
A pesquisa visa estudar o agente portador de psicopatia, bem como
os crimes por eles cometidos, fazendo uma análise da aplicação do Di-
reito Penal Brasileiro nos casos que envolvem esses agentes, observan-
do a ação dos psicopatas sob o prisma das teorias do Direito Penal, com
150
observância à culpabilidade e à imputabilidade. Posteriormente, exa-
minar pelo prisma da ciência médica e psicológica as particularidades
da psicopatia e suas características, para assim determinar quem é o
psicopata. E, por fim, estudar a psicopatia com foco no Direito Penal e
na jurisprudência no que se refere ao tratamento aplicado aos casos de
crimes praticados por psicopatas.
O objetivo principal deste trabalho é detectar os possíveis impactos
jurídicos das penas aplicadas aos portadores de psicopatia e analisar se a
legislação penal pátria está preparada para aplicação das penas adequa-
das para esse tipo diferenciado de criminoso.
A presente pesquisa demonstra-se oportuna, visto que a psicopatia é
um tema de ampla relevância para as ciências humanas e consequente-
mente jurídicas, pelo prisma de que os crimes cometidos por agentes com
transtorno de personalidade antissocial são crimes bárbaros e que causam
grande comoção social e repercussão midiática. Nesse diapasão, o Direito
vem se debruçando sobre o tema, visando encontrar meios para sanar os
questionamentos a respeito da psicopatia perante o Direito Penal.
Diante da problematizarão do tema, vários questionamentos são
suscitados, como a falta de segurança no diagnóstico, a ineficácia dos
tratamentos existentes, índices elevados de reincidências, crimes vio-
lentos e em série, assim como os arranjos usados para obtenção de
benefícios dentro dos sistemas prisionais brasileiros. Com todos esses
fatores, agregados a tantos outros que envolvem o tema, questiona-se
de que forma a ciência penal brasileira está enfrentando o fenômeno da
psicopatia? Quais os parâmetros adotados para estabelecer a existência
ou não da imputabilidade do portador de psicopatia? Qual seria a aloca-
ção do agente psicopata no sistema penal?
Com base nesses questionamentos, o presente trabalho aborda o
tema do psicopata perante o código penal brasileiro, com foco nos efei-
tos jurídicos em face dos crimes cometidos por agentes psicopatas, li-
mitando-se na análise da aplicação do sistema penal brasileiro nos casos
envolvendo esses agentes.
151
O sistema penal brasileiro vem demonstrando fragilidade das nor-
mas penais nos casos de crimes cometidos por portador de psicopatia.
Parte dos doutrinadores brasileiros consideram o agente psicopata um
inimputável, sob alegação de ser este um doente de ordem psíquica,
considerando ser está doença transtorno de personalidade antissocial.
O entendimento dessa parte da doutrina pátria é antagonista ao cres-
cente consenso de que o portador de psicopatia tem plenas condições
mentais lógicas e cognitivas de diferenciar o certo do errado, além das
consequências dos atos ilícitos que praticam. A doutrina médica psi-
quiatra aponta o agente portador de psicopatia como um criminoso
contumaz que deseja praticar atos ilícitos, não por doença mental, mas
pelo prazer em transgredir as leis, pela incapacidade de ter empatia e
pela total falta de respeito pelo sentimento de outros, além de sempre
achar que sairá sempre impune, daí a razão pela qual sempre agem de
forma sistemática, habitual e reiterada. Dessa forma, observa-se que
não se trata o agente psicopata de um inimputável.
1. REFERENCIAL TEÓRICO
152
como Transtorno de Personalidade Antissocial, por outro lado, há a Or-
ganização Mundial da Saúde (CID-10), que descreve como Transtorno
de Personalidade Dissocial. Contudo, independentemente da nomen-
clatura apresentada, o portador desse fenômeno é real, e suas ações tra-
zem prejuízo para a segurança e ordem pública, necessitando de estu-
dos urgentes e conclusivos para o tratamento do tema.
Dessa forma, manifesta-se para a ciência jurídica a necessidade con-
creta de se chegar a uma nomenclatura clara e objetiva, que expresse as
reais características e definições adequadas do portador de psicopatia,
para que haja uma melhor aplicação dos conceitos jurídicos, especifica-
mente do Direito Penal.
1.2 O PSICOPATA
O termo psicopata em sua literalidade dá uma conotação de doen-
ça mental, de uma patologia psíquica, devido à etimologia da palavra
(do grego, psyche = mente; e pathos = doença) (SILVA, A., 2014, p. 37).
Entretanto, até a atualidade, os estudos realizados no âmbito da ciência
médica e psicológica não enquadram a psicopatia como uma doença
mental, atribuindo a ela uma das espécies de transtorno de personalida-
de. Segundo Maria Ferreira Achá (2011), por mais que suas características
sejam semelhantes ao (TPAS) Transtorno de Personalidade Antissocial,
no entanto, seria apenas um diagnóstico da medicina, enquanto a palavra
psicopata traz para ciência jurídica o meio de classificar esses agentes que
apresentam comportamentos de insensibilidade afetiva e condutas antis-
sociais em práticas criminais. O primeiro estudo sobre o tema psicopatia
foi publicado pelo renomado psiquiatra Hervey Cleckley, no livro The
Mask of Sanity (A Máscara da Santidade), em que o autor afirma que a
psicopatia era um tipo de problema muito conhecido e, por outro lado,
era ignorado pela sociedade (Hare, 2013 p. 74).
No início do século XIX, o psiquiatra francês Philippe Pinel (1745-
1826) foi um dos primeiros médicos sobre o tema. Segundo ele, o psi-
copata sofria de “Mania de Delírio”, atribuindo ao agente psicopata um
153
comportamento de total e absoluta falta de remorso e inteira falta de
contenção, sendo o padrão distinto do mal comumente cometido por
homens comuns (Hare, 2013 p. 41).
Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva (SILVIA, 2014, p.38), esses indiví-
duos não são considerados loucos, não apresentam nenhum tipo de de-
sorientação, tampouco apresentam delírios ou alucinações. Continua a
autora afirmando que os atos desses agentes não advêm de uma mente
adoecida, mas de um raciocínio lógico, frio e calculista, ainda acresci-
dos da completa incapacidade de tratar outras pessoas como seres pen-
santes e com sentimentos.
Segundo a Psicóloga, especialista em psicopatia, Dra. Mariana de Araú-
jo Guedes (Segredos da Mente, 2016, p. 5), diferentemente do que co-
mumente se acredita, esse transtorno de personalidade não gera perda do
juízo da realidade. Assim, o psicopata não é um “louco”, não sofre de alu-
cinações e delírios como ocorre nos casos de esquizofrenia. Ainda comple-
menta a especialista que, ao contrário do esquizofrênico, o psicopata do-
mina a realidade em seu favor, nem tampouco há alternância de períodos
com e sem sintomas, como acontece nos casos de ansiedade e depressão.
154
A psicopatia é caracterizada pela completa ausência de empatia por
outro ser humano. A psicopatia pode ser classificada como “daltonismo
moral”, conforme ensina o Professor da Universidade de Direito Penal
Autônoma de Madrid, Manuel Cancio Meliá:
155
classes sociais e financeiras, sendo esses os principais responsáveis por
crimes cruéis e violentos.
A psicopata enxerga o ser humano de forma desfigurada, como uma
ferramenta para beneficiá-lo ou proporciona-lhe prazer, de forma a ser
usada e descartada sem qualquer encargo de consciência. Essa seria a
essência do psicopata, o não reconhecimento da dignidade humana no
outro ou até mesmo o não reconhecimento da natureza humana. (Cos-
ta, 2014, p. 14).
156
obstar a prática de ações cruéis, maus-tratos ou delitos diversos, pois
não conseguem resistir à tentação.
Nesse sentido, os estudos da psicopatia apontam que esses indiví-
duos não se submetem às leis ou não as enxergam como obstáculos
para a concretização de seus desejos. Por esse prisma, eles encaram a lei
como uma simples barreira a ser ultrapassada.
São pessoas de comportamentos perigosos, não importando se são
psicopatas primários ou secundários, sempre irão apresentar compor-
tamentos danosos ao convívio social, o que pode mudar em relação ao
grau de psicopatia apresentada são os modos operantes para exercer as
atividades criminosas.
Um exemplo claro são os crimes de roubo, desvio de recursos públicos,
estupros, extorsão, sequestro, tráfico de drogas, assassinatos, dentre outras
formas de ações criminosas. Assim, se pode observar que, em sua maioria,
os psicopatas não comentem um só tipo de atividade delituosa específica,
mas, transitam pelas diversas modalidades de crimes, o que é denominado
por Robert D. Hare como versatilidade criminosa. (SILVA, 2014, p. 102-103)
Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva (SILVA, 2014, p.104), os psicopa-
tas não saem para trabalhar, saem para caçar. Ela afirma que a grande
maioria dos agentes psicopatas utilizam suas atividades profissionais
para conquistarem poder e controle sobre suas “presas”. Complementa
ainda a pesquisadora que essas ocupações os auxiliam em sua camu-
flagem social. Essa camuflagem faz com que passem despercebidos
no convívio social por parecerem pessoas responsáveis em suas várias
profissões. Nesse diapasão, pode-se usar como exemplos: policiais que
dirigem grupos criminosos, juízes que comentem os mesmos crimes
que julgam; banqueiros que disseminam boatos no mundo financeiro;
líderes religiosos que abusam dos fiéis financeiramente e, por vezes,
sexualmente; políticos e chefes de Estado que utilizam o poder a seu
proveito, tendo em vista que a política propicia um poder de massa que
serve como ferramenta para que o psicopata faça a maior quantidade
de vítimas possíveis.
157
Assim, o psicopata com o seu comportamento danoso à sociedade,
pode cometer delitos de pequena importância como contravenções pe-
nais ao crime mais perverso que é o crime de corrupção, que resulta
nas mortes de milhares de pessoas em virtude da falta das verbas des-
viadas em proveito próprio.
158
psicopatas. Já em relação à capacidade cognitiva existe um aumento
na região cerebral chamada de amígdala cerebral, também conhecida
como “coração cerebral”, que proporciona ao agente psicopata uma
alta capacidade de raciocínio. Destarte, os psicopatas tendem a serem
mais racionais do que emocionais.
A segunda teoria é a Teoria Ambiental e Social, essa teoria funda-
menta-se no fato de que a manifestação do fenômeno psicopático ad-
vém de resultado de traumas psicológicos sofridos pelo agente. Esses
abusos poderiam causar graves danos psicológicos às pessoas que te-
riam maiores predisposição a agir de modo violento, mesmo ainda na
juventude.
159
natural a cometerem crimes cruéis. Já os de fatores secundários são
considerados com atitudes de menor frieza e que em “tese” reflete um
pouco mais sobre as consequências dos atos ilícitos praticados.
A pesquisadora Ana Beatriz Barbosa Silva ensina que os psicopatas
são indivíduos que não demonstram freios morais ou capacidade de
demonstrar sofrimento emocional, dessa forma, não seria possível tra-
tamento de um sofrimento que não existe. Assim, todas as técnicas de
tratamentos com psicoterapias são ineficazes.
Segundo Hare, os tratamentos não demonstram eficácia:
160
vive, interagindo com frenética dialética social. Dessa forma, também é
a Ciência Jurídica. O Direito, além de suas teorias e vestes dogmáticas,
é uma realidade cultural e histórica e em constante transformação, in-
tegrada pela dinâmica de seus elementos, fato, valor e norma. (REALE,
2002, p. 336-337).
Dessa forma, a Ciência Jurídica embalada por suas teorias e com
foco em seus objetivos, integrada nas questões da dialética social, não
poderia deixar de apreciar o fenômeno da psicopatia, tema esse con-
troverso na ciência médica, mas, que está intimamente ligado à ciência
jurídica, mais especificamente no âmbito penal.
Em 1941, estudos realizados por Harvey Milton Cleckley, estudioso
do fenômeno da psicopatia, tanto na Ciência Médica quanto na Ciência
Jurídica, concluiu que não havia diferenciação de tratamentos aplicados
aos portadores de psicopatia para os demais portadores de patologia
mental. Desse modo, os agentes portadores de instabilidade moral e
características antissociais eram considerados como loucos. Assim, ora
eram tratados como inimputáveis por seus atos, ora eram caracteriza-
dos como criminosos. (Silva, 2014, p. 68).
A Ciência Médica ainda não conseguiu definir o conceito de psico-
patia. Essa definição é de extrema importância para o universo jurídi-
co-penal, especialmente no que diz respeito à classificação natural dos
criminosos, assim como para o conceito de culpabilidade.
Segundo Fernando Capez (Capez, 2011, p. 325), a culpabilidade
é a possibilidade de considerar alguém culpado pela prática de uma
infração penal. Costuma ser definida como juízo de censurabilidade
e reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e
ilícito.
É nesse sentido que surge a necessidade de desassociar a figura do
psicopata de um portador de doença mental. O portador de patologia
mental enquadra-se na qualidade de inimputável, pois sua patologia en-
contra-se elencada no Manual de Diagnóstico e Estatística das Per-
turbações Mentais (DSM-V).
161
Um dos principais elementos da culpabilidade é a imputabilidade,
esse requesito é capaz de isentar a culpa, assim, se não há culpa, não
haverá crime.
Os inimputáveis são aqueles indivíduos que são incapazes de com-
preender o caráter ilícito dos seus atos, seja esse entendimento abso-
luto ou relativo. Assim, no momento do cometimento do crime, esses
não têm discernimento da gravidade ou potencialidade do ato, por esse
motivo não são penalizados pelos seus atos e ficam sujeitos somente a
medidas de segurança.
O artigo 26 do Código Penal Brasileiro prescreve:
O direito penal não pode castigar um fato cometido por quem não reúna
capacidade mental suficiente para compreender o que faz ou de se deter-
minar de acordo com esse entendimento. Não pune os inimputáveis (Ca-
pez, 2011, p.44).
162
criminais, em contraposição às resistências mentais e emocionais que pos-
sui. Vencidas estas resistências por fatores desencadeantes, haverá a prática
do delito.(Nahum, 2010)
163
apresentado-se para outros detentos e para a direção dessas instituições
como presos exemplares. Manuel de Juan Espinosa (2013, p. 580) ex-
plica que por esses motivos ele tem 2,5 vezes maior probabilidade em
relação aos demais detentos de serem postos em liberdade.
No Brasil, o adjetivo psicopata vem sendo usado como meio de jus-
tificar uma doença mental e assim aplicar a substituição de pena a cri-
minosos violentos por medida de segurança, sob a justificativa da impu-
tabilidade do psicopata (Milhomem, 2011).
De acordo com Manuel Cancio Meliá (2013, p. 533), o fenômeno
psicopata é uma questão antropológica, pois pode ser detectado em
todas as épocas em uma proporção da população masculina na média
de 0,5% a 1,5%. Esse fenômeno é constatado quase que predominante-
mente no sexo masculino.
Esses dados são complementados pela Psiquiatra Dra. Ana Beatriz
Barbosa Silva (2014, p. 54), que segundo a classificação da DSM-IV-TR,
o Transtorno da Personalidade Antissocial é de cerca de 3% em homens
e 1% em mulheres.
Segundo Manuel Cancio Meliá (2013, p. 533), no meio do sistema
prisional, a proporção é de que 15% a 25% da população carcerária se-
jam composta de agentes psicopatas.
Dessa forma, é inegável a existência do problema assim como a sua com-
plexidade. Há a necessidade de um olhar mais aprofundado do problema pela
Ciência Penal, assim como políticas criminais adequadas ao enfrentamento do
tema, como a alocação desses agentes em locais com estruturas adequadas,
com cuidados diferenciados e favoráveis para a punição desses criminosos.
Segundo o marquês de Beccaria, Cesare Bonesana:
164
Diante do exposto, dentre outros fatores, observa-se que o modo
como o sistema penal brasileiro tem tratado esses agentes psicopatas
não se mostra o mais adequado. Assim, faz-se necessária uma definição
jurídica quanto ao fenômeno da psicopatia.
165
centrada em um gama de critérios que definem a psicopatia como
doença ou transtorno não está elencado no rol do DSM-V e do CID-10,
que deveriam atribuir os requisitos clínicos para os psicopatas, tratando
assim o comportamento típico de agente psicopata com transtorno an-
tissocial e dissocial.
Segundo o DSM-V a definição de transtorno antissocial é:
166
A análise dos estudos da psicopatia nas últimas décadas vem trazen-
do grandes avanços científicos, causando impactos relevantes no que
concerne às investigações da psicopatia; capitaneada por Robert D.
Hare (1991), que analisou o fenômeno da psicopatia em diferentes con-
textos forenses e clínicos, abrangendo realidades diferentes.
Essa pluralidade de pesquisas trouxe a lume os indicadores que me-
lhor definem o transtorno de personalidade, assim, possibilitando re-
lacionar os indicadores de personalidade antissocial e dissocial com a
figura do psicopata, em seus aspectos conceituais e empíricos. Isso tor-
na possível traçar pelo menos em “teste” um perfil psicopático para re-
ferenciar possíveis crimes cometidos por esses agentes. Robert D. Hare
Hervey e Milton CLeckley criaram um questionário chamado de (Esca-
la de Hare) para diagnosticar e classificar os portadores desse transtor-
no de personalidade.
Tal classificação atribui duas categorias de psicopatia – primário e se-
cundário. Sendo o primeiro o mais danoso, pois não possui freios morais.
Assim, são capazes de cometerem crimes cruéis sem que tenham o menor
sentimento de culpa ou arrependimento. Segundo Manuel Cancio Meliá,
os psicopatas são “daltônicos morais” por não terem empatia ou qualquer
sentimento pelo ser humano, mas com pleno domínio de suas emoções,
dessa forma, aprende a dialogar, a reproduzir expressões e gestos, manifes-
tar sentimentos, sem que experimente realmente tais sentimentos.
A segunda categoria é considerada pela Psiquiatra Ana Beatriz Barbo-
za Silva, como sendo a menos danosa, que compreende os agentes que
possuem o mínimo de freio moral e são responsáveis por pequenos deli-
tos, mas de forma sistemática e repetitiva. Entretanto, mesmo sendo em
grau inferior podem se tornar tão perigosos como a primeira classe.
Para Hare (Hare, 2013, p. 9), a psicopatia não é uma doença, e por essa
condição, evidentemente, não existe cura, para ele, as tentativas terapêu-
ticas para encontrar um melhor método de tratamento foram ineficazes.
Para a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, os psicopatas são indiví-
duos que não demonstram freios morais ou capacidade de demonstrar
167
sofrimento emocional, dessa forma não seria possível tratamento de
um sofrimento que não existe.
Assim, afere-se que a ausência de tratamento dá-se devido à falta
absoluta de patologia, assim, não se pode afirmar que o psicopata é
um doente mental. Tal análise é fundamental na seara criminal, ten-
do em vista a classificação de culpabilidade e imputabilidade do agente
psicopata.
Para Fernado Capez (Capez, 2011, p.44), o direito penal não se aplica
aos portadores de doença mental, tendo em vista que esses não podem
determinar o caráter ilícito dos seus atos.
O artigo 26 Código Penal Brasileiro isenta de pena o agente que
apresentar doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, por não entender o caráter ilícito dos atos praticados.
Desse modo, o conceito de psicopata alude que se trata de indiví-
duos que possuem completo discernimento de seus atos ilícitos e com
plena capacidade de controlar seus impulsos e emoções, assim sendo,
no momento da prática dos atos ilícitos, como contravenções penais e
crimes, ele possui plena consciência dos seus atos.
Assim, vale relembrar o conceito de crime no aspecto analítico en-
sinado por Fenando Capez (CAPEZ, 2014, p. 134): é aquele que busca,
sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime.
Quais sejam: fato tipo, ilícito e culpável. Por essa ótica, só será possível
determinar um crime se ele for composto pelos três requisitos deste.
Fernado Capez conceitua o fato típico como fato material que se amol-
da perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei
penal, que são: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade.
A conduta no entendimento de Fernando Capez é:
168
Destarte, se a conduta é uma ação ou omissão humana, consciente
e voluntária, a ação praticada por pessoa doente mental é considerada
inconsciente e involuntária, não se adequando a essa definição, assim o
doente mental seria considerado inimputável na sua conduta.
Sendo desse modo, fica a pergunta que precisa ser respondida pela
ciência médica e aplicada na ciência jurídica: o psicopata por não se en-
caixar no rol de doenças mentais do DSM-V e do CID – 10, e por ter
pleno gozo de suas funções cognitivas é considerado imputável?
De acordo com Manuel Cancio Meliá (2013, p. 533), o fenômeno
psicopata é uma questão antropológica, pois pode ser detectada em
todas as épocas em uma proporção da população masculina na média
de 0,5% a 1,5%. Esse fenômeno é constatado quase que predominante-
mente no sexo masculino.
Esses dados são complementados pela Psiquiatra Dra. Ana Beatriz
Barbosa Silva (2014, p. 54), que segundo a classificação da DSM-IV-TR,
o transtorno da personalidade antissocial é de cerca de 3% em homens
e 1% em mulheres, sendo esses dados de amostras retiradas do convívio
comunitário. Essas taxas têm maiores prevalências associadas aos con-
textos forenses e penitenciários. Desse percentual, a minoria é compos-
ta pelos psicopatas classificados como primários, o tipo mais grave do
transtorno, ou seja, aqueles capazes de crimes cruéis e violentos, cujo
índice de reincidência delituoso é elevado. (SILVA, 2014,p. 56)
O índice pode parecer pequeno, a princípio 4% da população. À pri-
meira vista parece ser ínfimo, mas em uma cidade como Fortaleza (Cea-
rá), que segundo dados do IBGE, em 2018, tinha uma população estima-
da em 2.643.247milhões de habitantes, assim a cada cem pessoas, quatro
delas estão praticando atos reprováveis ou criminosos, em graus variáveis
de periculosidade. E por média estimativa, existiria em Fortaleza cerca de
105.730 pessoas com transtorno antissocial, ou seja, psicopatas.
Nesse sentido, é de extrema importância o aprofundamento dos
estudos sobre o fenômeno da psicopatia, sobre como conhecer suas
características, meios de intervenção e aplicação penal. Assim, talvez
169
possibilite a diminuição das reincidências criminais, pois esses agentes
por serem criminosos sistemáticos e contumazes, reincidem mais do
que os criminosos comuns.
É importante conhecer as características da psicopatia para intervir
nesse tipo de população, encontrada, em maior número, nas institui-
ções prisionais. Dessa forma, talvez seja possível diminuir as reincidên-
cias criminais, pois já está comprovado que indivíduos diagnosticados
como psicopatas têm maiores chances de reincidir em crimes, em re-
lação aos que não possuem o diagnóstico desse transtorno de perso-
nalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicopatia vem sendo um mistério a ser desvendado pela ciência
médica quanto à causa e ao tratamento. As inúmeras pesquisas sobre
o assunto vêm aumentando o conhecimento da ciência sobre o tema,
mesmo assim, tais informações ainda são insuficientes para pelos me-
nos caracterizá-la com doença mental.
A Ciência Médica entra em divergência sobre a conceituação provisória
da psicopatia como doença mental. Esse antagonismo é atribuído à dificul-
dade de atestar o limite patológico ou normal do portador de psicopatia.
Na Ciência Jurídica, existem diferentes entendimentos sobre o tema
controvertido, alguns entendem que o psicopata é um doente mental,
portanto, inimputável, sendo passível apenas de mandado de segurança.
Tal tese é constantemente suscitada por advogados de defesa. Outros atri-
buem que são transtornos de ordem patológica mental temporária, como
um surto psicótico, assim sendo, aplicável a semi-imputabilidade; e, por
derradeiro, há aqueles que entendem que a psicopatia não é uma doença
mental, mas um traço falho de personalidade, descartando a possibilidade
de uma enfermidade e atribuindo a esse agente a imputabilidade.
O Código Penal Brasileiro não faz referência ao psicopata, mas a
doutrina pátria atribui à psicopatia causa de semi-imputabilidade, atri-
buindo a ela o status de transtorno de ordem psíquica ou mental.
170
Nesse sentido, os delitos cometidos por agentes psicopatas são con-
siderados crimes imputáveis, dessa forma, são tratados como presos
comuns, não tendo diferenciação para os outros criminosos. Entretan-
to, o índice de reincidência dos portadores de psicopatia é superior aos
demais, tendo em vista o caráter sistemático e contumaz que esses co-
mentem seus crimes, que são característicos do transtorno antissocial.
Nesse diapasão, observa-se a necessidade da adequação das normas pe-
nais e do sistema penitenciário brasileiro na tratativa desses agentes.
Desse modo, mostra-se necessário a realização de exames forenses
criminológicos no processo penal, quando o criminoso for suspeito do
transtorno de personalidade antissocial – psicopata. Pode-se, assim, ser
aplicado o teste desenvolvido por Hare, o PCL-R, por profissionais qua-
lificados, psicólogos e psiquiatras forenses.
Com a média de 4% da população com transtorno de psicopatia,
o sistema penal brasileiro não se mostra adequado para apenar esses
agentes de forma definitiva, em virtude de vedação constitucional, ten-
do em vista que esses sempre reincidem.
Nesse sentido, não se visualiza um fim para essa discussão. Não se
tem uma definição da ação correta a se tomar nos casos de crimes co-
metidos por psicopatas, ficando a cargo dos magistrados, que por sua
vez se vêm perdidos sem saber como proceder, por não ter referências
médicas sobre o assunto, que assim influenciam na ordem jurídica.
Por fim, o tema necessita de mais estudos para melhor conhecer
suas formas de manifestações, causas e possíveis tratamentos; com o
intuito de uma melhor aplicação da pena, como para o desenvolvimen-
to de políticas públicas para minimizar a incidência do transtorno de
personalidade antissocial – psicopata.
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173
NOTAS
1. Professor de Filosofia. Advogado especializado em Direito Criminal e Direito da Saúde. Só-
cio do escritório M3 Advogados. Mestrando em Ciências da Educação - Universidad Tecnolo-
gica Intercontinental – UTIC. Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia - FEST.
Graduado em Filosofia pela Faculdade Entre Rios do Piauí - FAERPI. Bacharel em Direito pelo
Centro Universitário da Grande Fortaleza – UNIGRANDE. Pós-Graduando em Direito Penal e
Processo Penal pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. Pós-Graduando em Direito Mé-
dico pela Faculdade de Paraíso do Norte - FAPAN. Pós-Graduando em Direito Processual Civil
pela Faculdade Educacional da Lapa - FAEL. Membro Associado da Associação dos Advoga-
dos Criminalistas do Ceará-ACRIECE e do International Center for Criminal Studies - ICCS.
E-mail: prof.fabianomartins@gmail.com / martins@fabianomartins.adv.br
2. Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental - UTI-
C-PY. E-mail: simoes.apress@hotmail.com
3. Doutorando em Ciências da Educação Pela Universidad Autónoma de Asunción. Mestre em
Ciências Jurídicas pela Universidad Iberoamericana - UNIBE. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Cândido Mendes - UCAM. E-mail: renatoaraujo_adv@yahoo.com.br
4. Doutoranda em Ciências da Educação Pela Universidad Autónoma de Asunción. Mestre em
Ciências Jurídicas pela Universidad Iberoamericana - UNIBE. Graduada em Direito pela Univer-
sidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). E-mail: nandapemoraes@yahoo.com.br
5. Doutora em Ciências da Educação (Universidad Americana, Assunção - Paraguai 2014).
Mestre em Ciências da Educação (Universidad Americana Assunção - Paraguai, 2012). Gradua-
da em Enfermagem e Obstetrícia (Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, 1979). Es-
pecialização em Enfermagem do Trabalho (Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia
de Vitória - EMESCAM, 1979). Curso de Habilitação Em Enfermagem de Saúde Pública (Uni-
versidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, 1980). Bacharel em Direito (Instituto Metodista
Bennett, 1997 - Certificado de Habilitação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil 1997).
Curso Regular Fundação Escola Superior da Defensoria do Estado do Rio de Janeiro -FESUDE-
PERJ, 1998; Colégio Pedro II (1987). Chefe de Saúde do Colégio Pedro II. E-mail: ednaaquino@
hotmail.com
174
X
O HÁBITO DA LEITURA ECLÉTICA EVITA
MENTALIDADES PERIFÉRICAS
Autora: Ângela do Céo Gonzaga de Vasconcelos1
RESUMO
Este artigo baseou-se na realidade cotidiana vivida por mim, não só
por conviver e observar o comportamento de pessoas, na área teatral e
em outras, como também pela realidade observada, em diversas salas
de aula, nas quais ministrei aulas de Língua Portuguesa para alunos do
nível Fundamental II e Ensino Médio, em Recife-Pernambuco-Brasil.
Buscou mostrar a importância de se ter uma vasta leitura e o conheci-
mento de diversas obras literárias de vários gêneros, que possibilite o
leitor a compreender o mundo que o cerca. Buscou, ainda, a reflexão
sobre como despertar o interesse do aluno pela leitura, compreensão
e análise de obras literárias, tendo a proximidade presencial do escritor
das mesmas, para conversas, debates e reflexões, assim como despertar,
no leitor, o prazer e a relevância de se ter uma leitura eclética, possibi-
litando o afastamento da situação de se permanecer à margem intelec-
tual ou periférica.
Palavras-chave: leitura; eclética; interesse; prazer; literatura.
INTRODUÇÃO
Este artigo, o qual se intitula “O hábito da leitura eclética evita men-
talidades periféricas”, fará uma abordagem sobre o comportamento das
pessoas sobre a receptividade de uma obra literária, com base na diver-
sidade de leitura prévia que essas pessoas possuem.
É fato que, se a pessoa possui uma vasta cultura, fruto de uma lei-
tura eclética, mais fácil será a compreensão de obras literárias diversas,
175
haja vista que a leitura eclética, diversificada e abrangente, abre inúme-
ras possibilidades à compreensão de mundo, fazendo com que o indiví-
duo se torne apto a compreender melhor os textos que recebe.
Vale ressaltar, também, que o indivíduo que não possui o hábito da
leitura ou lê apenas sobre assuntos que lhe interessam, deixando de ter
uma leitura eclética, acaba construindo uma mentalidade periférica, ou
seja, fica à margem da sociedade, no que se refere à perfeita receptivida-
de textual, haja vista que possivelmente não compreende com maestria
os textos literários que recebe para interpretação e análise.
O artigo em questão possui os seguintes objetivos: mostrar a impor-
tância de se ter uma vasta leitura e o conhecimento de diversas obras
literárias de vários gêneros, que possibilite o leitor a compreender o
mundo que o cerca; refletir sobre maneiras de despertar o interesse do
aluno pela leitura, compreensão e análise de obras literárias, tendo a
proximidade presencial do escritor da mesma, para conversas, debates
e reflexões; despertar, no leitor, o prazer e a relevância de se ter uma
leitura eclética, possibilitando o afastamento da situação de se perma-
necer à margem intelectual ou periférica da sociedade.
Sobre o porquê da relevância de se ter uma leitura eclética, faz-se
necessário contar-lhes um triste episódio que vivi, mais ou menos há
cinco anos, no moderno e imponente Teatro Maria Sylvia Nunes, em
Belém do Pará.
Tudo aconteceu durante a encenação do espetáculo teatral “Fim do
jogo”, de Samuel Beckett.2
Tratava-se de uma comédia, cujos protagonistas eram interpretados
pelo ator Édson Celulari e pelo ator paraense Cacá de Carvalho. E, é claro,
você já deve ter imaginado: o teatro lotou. O público belenense queria ver
de perto os atores e desejava, também, rir bastante, divertir-se!
O que a plateia não esperava, todavia, era deparar-se com aquele
tipo de espetáculo exótico, diferente das comédias comuns (aquelas do
tipo pastelão), a que muitos estavam acostumados. Ao se depararem
com um texto sério, introspectivo, simbolista, decepcionaram-se.
176
Assustei-me, então, ao detectar pessoas saindo de fininho, antes do
término do espetáculo. E outras que, ao final, comentaram que não
haviam gostado.
Não conseguindo conter minha curiosidade, perguntei a alguns co-
nhecidos sobre o porquê de não terem gostado da peça e, para minha
surpresa, obtive, entre outras, as seguintes respostas:
-Ah! Não gostei da peça porque não vi graça nenhuma. Não conse-
gui rir de nada;
-Sei lá! Achei o texto esquisito. Não entendi bem. Achei confuso,
chato. Esperava algo melhor.
Senti uma tremenda frustração por ver pessoas possuidoras de gran-
des lacunas mentais, quanto à verdadeira leitura: aquela que gera co-
nhecimentos, capacitando os indivíduos não só a decodificar os sím-
bolos gráficos, como também a compreender, interpretar e analisar os
pormenores e a totalidade de um texto de maior profundidade.
Lembrei-me, então, do papel que a leitura exerce, na vida escolar.
Todo ser humano, ao chegar à escola, já traz consigo, à sala de aula,
sua bagagem cultural. Já consegue executar sua leitura de mundo, antes
mesmo de conhecer o alfabeto.
Vale ressaltar, ainda, que, “para a comunicação realizar-se, faz-se ne-
cessário que haja aquele que produz a mensagem (primeiro interlocu-
tor) e aquele que recebe a mensagem (segundo interlocutor), ou seja,
um emissor e um receptor.” (MACEDO, 2012, pág. 20)
Entretanto, o segundo interlocutor precisa estar atento e preparado
para compreender determinadas mensagens; o indivíduo, além da leitura
sinônimo da decodificação de símbolos gráficos, precisa dominar outros
tipos de leitura; precisa ser eclético e ter uma leitura ampla o bastante, que
lhe dê suporte a inserir-se em outras situações literárias e culturais.
O que as pessoas insatisfeitas, citadas anteriormente, não sabiam é
que o espetáculo a que iriam assistir mostrar-lhes-ia um texto de gran-
diosíssimo valor literário. Não se tratava de uma comédia tradicional,
comum, que se caracteriza por extrair da plateia gargalhadas soltas,
177
sonoras; mas sim, tratava-se de uma comédia velada, representativa do
Teatro do Absurdo.3
A comédia representativa do Teatro do Absurdo é aquela que realmente
cumpre o seu papel original (desde a Grécia): mostrar os homens piores do
que eles são. Uma comédia que se assemelha ao Naturalismo brasileiro.4
1. SINOPSE DO NATURALISMO
Faz-se necessário, para entender bem o naturalismo, apoderar-se de
um contexto histórico, porque “entender um texto é compreender cla-
ramente as ideias expressas pelo autor para, então, interpretar e extra-
polar essas ideias. Nesse momento o leitor deve ajustar as informações
contidas no contexto em análise às que ele possui em seu arquivo de
conhecimentos.” (FAULSTICH, 2014, pág. 25)
Por esta razão, e para entender o Naturalismo, deve-se levar em con-
sideração que, para os naturalistas do século XIX, todo homem era um
ser patológico e suas patologias não eram físicas e sim morais: a clepto-
mania, mentira, inveja, traição, taras sexuais, ciúme, ódio, etc..
O Naturalismo afirmava que nossas doenças morais ou eram cau-
sadas pelo fator “hereditariedade” (filho de peixe, peixinho é.) ou pelo
meio-ambiente (O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe.).
Na verdade, tanto os textos naturalistas como a dramaturgia pertencen-
te ao Teatro do Absurdo intencionavam denunciar as mazelas humanas.
O ser humano, ao tomar conhecimento do conteúdo desses dois ti-
pos de texto, acabavam se conscientizando da necessidade de se buscar
uma mudança que os corrigisse, com o objetivo de levar a humanidade
à perfeição. As pessoas sempre ansiaram pela humanização do homem
materialista, pela perfeição de caráter, pela paz social.
178
Samuel Beckett, escritor irlandês, criador do Teatro do Absurdo e
autor da peça teatral “Esperando Godot”, certa vez, foi questionado
pelo encenador norte-americano Alan Schneider sobre o significado de
“Godot”.5
Ele respondeu o seguinte: -“Se eu soubesse, teria dito na peça.” (MA-
GALDI, 1989, p. 341)
O texto da obra teatral “Esperando Godot” demonstra ao especta-
dor perspicaz o lado efêmero da existência: “As mulheres dão à luz dei-
tadas sobre túmulos” e “do fundo da cova, indolentemente, o coveiro
aplica seu fórceps”. A peça traduz o mistério da existência e o cenário é
uma estrada deserta, em que há somente uma árvore e os dois palhaços
ansiosos, esperando Godot.
O espectador perspicaz, verdadeiramente letrado e possuidor de
uma leitura eclética, após assistir ao espetáculo teatral em questão,
pode fazer, entre outras, a seguinte leitura: “Todos nós, seres humanos,
estamos sempre à espera de algo, não é mesmo? Seria coincidência?”. É
tudo uma questão de saber ler, saber interpretar.
179
“antes de lançar-se a uma redação que o ocupará por vários meses e, às
vezes, vários anos, o escritor começa geralmente por dedicar-se a um
trabalho de reflexão preliminar, durante o qual ele utiliza a sua bibliote-
ca e seus próprios dossiês de anotações para determinar a natureza de
seu próximo projeto.” (BIASI, 2010, pág. 47)
Quanto à leitura do texto em questão (Esperando Godot), “tragé-
dia, farsa, elevação, vulgaridade, desespero, riso, desempenho rigoroso
e brincadeiras de music-hall são mobilizados, o tempo todo, para se al-
cançar o objetivo precípuo do teatro – a presença convincente do ator,
diante da assembleia de espectadores”.6
Nesta relevante obra, “Não se sabe quem é Godot, mas Wladimir
conhece as vantagens de sua vinda. Se ele chegar, ‘esta noite, a gente
pode dormir na casa dele, no calor, no seco, a barriga cheia, sobre a pa-
lha. Vale a pena a gente esperar, não vale?’ À falta de explicação para a
existência, o homem se consola com esses pequenos confortos. Ou são
eles o próprio Godot?
Na imensa miséria das personagens, restam-lhes os sentimentos hu-
manos melhores. O que fica na peça não é o pontapé que Estragon des-
fere por vingança em Lucky. E que, aliás, lhe dói mais que o machucado
na vítima. Fica a ternura de Wladimir, tirando o paletó, para agasalhar
o sono de Estragon. Todas as tentativas de separar-se fracassam, em
face da exigência que um tem do outro. Juntos, os dois podem esperar
interminavelmente. O homem precisa do irmão, condenado que está a
viver. E essa pungente fraternidade é a vitória sobre o nada.”7
Quando o ser humano compreende e pode explicar as situações
que acontecem, no mundo, de forma racional, por mais imperfeito
que este mundo seja, pode considerar que é um mundo familiar. Mas,
quando não há como explicar determinados acontecimentos e o ho-
mem passa a ser privado da luz da razão, do raciocínio, ele passa a ser
um estranho, um exilado, sem esperança, sem pátria, perdido, como
um ator sem plateia. Desta forma se constitui o assunto tema do Tea-
tro do Absurdo.
180
“Mas não é somente o assunto que define o que é aqui chamado
de Teatro do Absurdo. Um sentido semelhante da ausência de sentido
da vida, da inevitável degradação dos ideais, da pureza e dos objetivos
é também o tema de grande parte da obra de dramaturgos como Gi-
raudoux, Anouilh, Salcrou, Sarte e Camus. No entanto, esses autores
diferem dos do Absurdo num aspecto importantíssimo: apresentam sua
noção de irracionalidade da condição humana sob forma de raciocínio
extremamente lúcido e logicamente construído, enquanto o Teatro do
Absurdo procura expressar a sua noção da falta de sentido da condição
humana e da insuficiência da atitude racional por um repúdio aberto
dos recursos racionais e do pensamento discursivo.”8
Volto a afirmar que o indivíduo precisa não somente ser alfabetiza-
do, sendo capaz de decodificar verbalmente ou silenciosamente os sím-
bolos gráficos (letras), mas possuir um nível de letramento satisfatório,
a ponto de ter um grau elevado de intimidade com diversos tipos de
texto (poesia, conto realista, conto surrealista, crônica, novela, roman-
ce, ensaio, fábula...), podendo compreendê-los, interpretá-los e, obvia-
mente, tendo capacidade para analisá-los, aplicando-os à realidade.
181
Às abstrações da vida, há desejos relevantes de decifrarmos seus mais
elípticos enigmas...
Lembro-me perfeitamente: sempre reclamara da solidão, naquela rua
constantemente deserta e sombria, apesar de todo aquele isolamento ava-
randado ser suficiente para ter-se paz, longe do turbilhão poluidor da cida-
de grande e devoradora de almas.
Fora acostumada, no passado, a ter companhias diversas: meninas com
suas bonecas... moçoilas sonhadoras... jovens universitárias...Não me acos-
tumara à situação paradoxal d’agora.
Algum tempo já decorrera e o silêncio me incomodava. Apenas a natu-
reza sussurrava ao meu ouvido lirismos poéticos...
Vivi uma agradável surpresa, ao divisar, no casarão à frente, um novo
morador: homem alto, elegante, postura perfeita, cabeleira lissótrica e
alva: experiência vital.
Via-o apenas no alpendre, caminhando lentamente, pois seus oitenta
anos não lhe permitiam uma maior rapidez.
Nenhum olhar, nenhum sorriso, nenhum bom-dia!
Sua vasta cabeleira, por vezes, brilhava, em contato com a brisa e os
raios solares.
Aparecia sempre as mesmas horas, pela manhã e ao ocaso, antes do jantar.
Não sei por quê, nunca tentara falar-lhe.
No mês seguinte, pensei tê-lo visto esboçar-me um sorriso, que, por in-
certeza, não correspondera. Seus cabelos estavam negros. Provavelmente
deveria ser vaidoso, pensei.
Eram extremamente intrigantes as efêmeras cenas, que até me faziam
perder o sono.
Começava a ter impressão de que meu vizinho remoçava, a cada dia,
semana ou mês que se passavam.
No terceiro mês, com perplexidade, via-o caminhar, a mesma hora de
sempre, com uma xícara nas mãos e uma aparência mais viril, sem se preo-
cupar com uma antiga bengala que usava nas semanas iniciais de sua che-
gada. Creio que tomava chá ou café.
182
Algo me fez sentir insegura. Não sei se seu olhar ou mesmo um gesto
repentino que o fez sorrir, novamente, em minha direção.
Desta vez, tive certeza: ele notara minha presença feminina. Eu, moça
morena, trinta anos, cheia de sonhos e esperanças...
Timidamente, retribuí-lhe o gesto com um rápido sorriso e, sem saber
por quê, entrei, impedindo qualquer palavra entre nós.
No mês seguinte, pela manhã, via-o, sorrateiramente, por uma fresta
de minha janela. Usava uma roupa mais jovem, um par de óculos escuros e
lia um jornal, no alpendre, à hora de costume.
Não abri a janela.
Havia em minh’alma um profundo embaraço; sentia vontade de fa-
lar-lhe; entretanto, algo que me era desconhecido, impedia nossa apro-
ximação.
Já no quinto mês, era imprescindível que nos conhecêssemos; no en-
tanto, suas constantes mudanças faziam-me retroceder, a cada visão sur-
preendente. Ele, a cada dia, tornava-se mais jovem. Parecia que era pos-
suidor de uma fórmula mágica: agora, era um homem forte, aparentando
uns quarenta anos, cabelos nigérrimos, com ar elegante, olhar despreocu-
pado e místico...
Aos poucos, assustava-me e não sabia como agir.
Em setembro, senti vontade de colher flores. O sol estava lindo! Era
uma bela manhã.
O romantismo invadia-me o peito. Senti um desejo irresistível de bater
à sua janela e conversar com aquele misterioso vizinho. Contar-lhe-ia meu
grande sonho: -ser mãe...
No instante em que cortava as hastes de algumas rosas e dálias, meus
olhos encontraram-se com os dele. Senti um estranho carinho... algo nele
me atraiu – um sentimento diferente, puro, o qual eu não soubera explicar.
Passaram-se os dias...
Agora tudo mudara: ele era um forte moço de trinta anos, pele macia,
braços largos, musculosos, mãos espalmadas e soltas, expressão de uma
assustadora liberdade...
183
Minh’alma inquietava-se. O medo apoderou-se de mim. Não podia
compreender tudo aquilo. Por que ele não me falava nenhuma palavra,
nenhum monossílabo sequer? E aquele olhar sempre voltado para mim?...
Decerto a solidão fizera-me mal. Um mal insuperável, irremediável...
precisava de um analista... psiquiatra... testemunha?
Isso! Tentaria falar com alguém; não ficaria sozinha, tendo aquelas alu-
cinantes visões. A presença de alguém ajudar-me-ia, decerto, a desvendar
aquele nefasto enigma.
Era outubro. Preparava-me para sair em busca de uma amiga, quan-
do o vi: um menino de uns quinze anos, meigo, a olhar-me nitidamente,
como a querer falar-me. Era lindo! Lábios graúdos, jeito primaveril... segu-
rava a mesma xícara; o mesmo horário: o pôr do sol; a mesma expressão
abstrata...
Senti novamente aquele carinho que não entendia: magia lírica...
Entrei e pus-me a chorar. Não queria acreditar em mim mesma. Tudo
parecia um eterno pesadelo.
Comecei a passar mal. Não queria mais olhar em direção àquela casa.
Em meados de novembro, sofri mais, quando o vi menino. Aparentava
cinco anos e jogava bolas de gude no alpendre. Era madrinho...
Comovi-me com aquela cena. Emudeci. Não sentia vontade de alimen-
tar-me. A tristeza invadia meu ser...
No nono mês, via-o engatinhar sozinho. Senti uma imensa vontade de
colocá-lo nos braços; entretanto, não conseguia mais sair de casa, a febre
tomava conta de mim.
Foram meses de muita angústia. Sozinha, sem um desabafo, um om-
bro amigo...
Sentia fome, desesperança...
As dores de cabeça constante faziam-me temer o futuro.
O tempo passou e o silêncio tomou conta da casa. Não o veria mais,
pois não ouvia rumores de passos, discos na vitrola, luzes ligadas, ruídos
de bolas de gude, choros, engatinhamentos...
Agora, o alpendre estava vazio. Vazio, também, estava meu ego...
184
Às vezes, sentia-me tonta, enfraquecia, lentamente.
Numa certa manhã de dezembro, resolvi ir ao médico. Jamais passaria
o Natal daquela maneira.
Precisava enfeitar a casa, comprar um pinheiro, nozes, castanhas, passas...
Tomei coragem a contar-lhe os sintomas e o resultado foi o melhor
presente de Natal que já tivera, em todos os anos de minha existência: es-
tava grávida!...”
Ao trabalhar este texto, em diversas instituições de Recife-Pe, tanto em
uma escola do estado (Escola Professor Olívio Montenegro), como em es-
colas particulares (Colégio Decisão, Colégio Contato e Escola Agnes Ers-
kine), no período em que lá residi (1986 a 1991), tive a grata surpresa de
constatar que o aluno possui interesse em descobrir o novo; possui capaci-
dade intelectual para interpretar de forma inteligente o texto literário. Só
lhe falta incentivo e oportunidade. Muitas vezes, o educador precisa, pri-
meiramente, despertar em si próprio o prazer de ler para, depois, fazê-lo
em seu aluno.
Após terem lido “Fértil Regressão”, os educandos fizeram algumas co-
locações e perguntas bem interessantes. Leiamo-las:
-Professora, acho que o que a mulher viu foi o filho dela com oitenta
anos e, depois, em todas as idades anteriores, visse? Ela teve foi uma visão!
-Eu acho que o homem misterioso era o filho dela com oitenta
anos, que regrediu, regrediu, regrediu, até passar pra barriga dela, tá en-
tendendo?
-Em quê a senhora se inspirou pra fazer essa história?
-Como foi que a senhora conseguiu lançar um livro? Eu queria lançar
um, também.
-De quem a mulher engravidou, se ela morava sozinha?
-Será que ela engravidou do vizinho? Mas, se foi dele, foi uma gravidez
só em pensamento, né (risos)?
A partir deste texto, creio ter sido benéfica a ideia de levar à sala de aula
textos escritos por autores que pudessem estar presentes para conversar
com os alunos. Para eles, os leitores alunos, foi fantástica a oportunidade
185
que tiveram de poder conversar comigo e tirar as possíveis dúvidas sobre
o texto. Dialogando com a própria escritora parece que os ânimos aumen-
taram, junto com o interesse pela leitura e pelo gênero literário “conto
surrealista”.
A partir desta experiência que deu muito certo, convidei, então, ou-
tros autores que com eles pudessem estar pessoalmente, após a leitura dos
textos. Estiveram em minhas salas de aula, dentre outros, Paulo Caldas10 e
José Américo de Lima.11
O que aconteceu, e sempre acontece, é a troca existente de aprendi-
zagens entre educando e educador. Os alunos são, de fato, aqueles que
aprendem, mas que, de repente, ensinam; e nós, professores, aqueles que
ensinam, mas que, de repente, aprendem.
E, através desta experiência, aprendi aspectos relacionados aos misté-
rios surrealistas que eu mesma criei. E o mais interessante: meus alunos fi-
zeram-me enxergar possíveis explicações convincentes a algumas situações
literário-metafísico-textuais.
A introdução deste e de outros textos que escrevi à sala de aula, vieram
comprovar a teoria de que o escritor domina o que escreve até certo pon-
to. Muitas vezes, ele cria um narrador onisciente, mas ele, o próprio autor,
não é tão onisciente assim. Ele domina o texto até uma certa parte e ao
leitor perspicaz cabe interpretar e solucionar os mistérios surrealistas que
o próprio autor não conseguiu decifrar.
Muitos falam que o jovem não gosta de ler. Porém, esta afirmação já
foi transformada num preconceito. Parece uma lei quase imutável. Faz-se
relevante que transformemos isso.
Todavia, a família e a escola precisam selecionar o que o estudante vai
ler e a maneira como esta leitura lhe será ofertada. Às vezes, ele rejeita a
leitura porque a escolha é mal feita, não lhe despertando o interesse. É a
tão famosa “leitura obrigatória” – triste termo, sinônimo de arbitrariedade
linguística, imposição. É a leitura antônima de prazer, satisfação, deleite.
O professor precisa ser astuto, sábio, pois, com o aperfeiçoamen-
to da imagem (através da televisão, vídeos, computadores...), o jovem
186
distanciou-se da leitura tradicional: a dos livros impressos. Então, para con-
viver com a modernidade, o professor precisa resgatar no aluno o prazer
de ler: LER O LIVRO IMPRESSO!... processo em que o próprio leitor vai,
aos poucos, construindo as cenas, as imagens, aa características físicas das
personagens...
Desta forma, o educando, depois de ter feito a leitura mais simples
(decodificação de símbolos gráficos), passará às etapas da compreensão
(entendimento do texto em sua estrutura superficial), possuindo, conse-
quentemente, mais facilidade para atingir os campos da interpretação lin-
guística (entendimento global do texto, em sua estrutura profunda).
187
5.4- O educador deve lembrar, sempre, que ler é dar sentido às coi-
sas, às pessoas ligadas a elas, ao motivo de sua existência, ao tempo,
ao espaço que ocuparam e ocupam, ao momento histórico e lugar
em que foram criadas... Deve-se ler com os sentidos, as emoções, o
intelecto.
5.5- É preciso, desde cedo, impressionar a criança pelo livro. Fazê-
-la perceber que, dentro dele, há belíssimas histórias, canções de ninar,
pessoas que fazem parte das histórias, mistérios a serem desvendados,
imagens coloridas a serem apreciadas, monstros, bruxas, fadas, duen-
des, castelos, príncipes e princesas... Ess es contatos iniciais propiciam
à criança a descoberta do livro como um objeto especial, diferentes dos
outros brinquedos, mas que, também, é fonte de prazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Precisamos evidenciar que a criança, ao nascer, já se predispõe à
leitura. Cabe, portanto, aos pais e educadores aproximá-la da vida, do
mundo, do livro. Aproximá-la, na verdade, dos três tipos de leitura exis-
tentes: a leitura Sensorial, a Emocional e a Racional.
A Sensorial caracteriza-se por apresentar a visão, o tato, o olfato,
a audição e o gosto como os referenciais mais elementares do ato
de ler.
Quando uma leitura nos faz ficar alegres ou deprimidos, des-
pertando a curiosidade e estimulando a imaginação e fantasia, pro-
vocando descobertas, lembranças, deixamos de ler apenas com os
sentidos para entrar em outro estágio de leitura: o da leitura Emo-
cional. Nela, emerge a empatia, tendência que nos leva a sentir o
que sentiríamos, caso estivéssemos em lugar desta ou daquela per-
sonagem ficcional.
A leitura Racional caracteriza-se por estar no plano da intelectuali-
dade, do senso, do status letrado. Acrescenta à Sensorial e à Emocional
o fato de estabelecer uma ponte entre leitor e conhecimento.
188
O importante é sabermos que estes três níveis de leitura estão inter-
-relacionados; acontecem quase que simultaneamente, mesmo sendo
um ou outro privilegiado; todavia, não há uma hierarquia.
É muito difícil realizar-se uma leitura apenas Sensorial, Emocional
ou Racional, pelo fato de ser próprio do ser humano inter-relacionar
sensação, emoção e razão, em todas as situações por ele vividas.
Entretanto, o que mais nos importa é trabalhar a leitura de forma a
proporcionar prazer, ludicidade, deleite, em busca de crescimento pes-
soal, social, intelectual, para que a criança torne-se um adulto letrado o
suficiente para não ficar à margem da sociedade, com uma mentalidade
vazia e periférica, “saindo antes do final dos espetáculos da vida”, sem
aproveitá-los, compreendê-los e, principalmente, sem crescer com eles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Editorial, 2001.
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Edusp, 1999.
VASCONCELOS, Ângela do Céo Gonzaga de. Lirismos Antiefêmeros. Recife: Baga-
ço, 1991.
189
NOTAS
1. Graduada em Letras pela UFPA - Universidade Federal do Pará. Especialista em Língua Por-
tuguesa pela UFPA - Universidade federal do Pará. Mestre em Estudos Literários pela UFPA
- Universidade Federal do Pará. Doutoranda em Ciências da Educação pela UAA - Universidade
Autônoma de Asunción-Py. Professora do CTRB - Colégio Tenente Rêgo Barros. E-mail: ange-
laatriz@yahoo.com.br
2. Samuel Beckett fala nos temas da velhice e morte. As peças não se preocupam com enredo
linear (Não contam tradicionalmente uma história com início, meio e fim.). Assemelham-se a
pequenos contos ou poemas ditos, em cena, por atores.
3. Teatro amargo, desesperançado. Acredita que o homem não possui salvação. Pessimista de
uma certa facção romântica, na saída suicida, na não saída. O dramaturgo apresenta o homem
como um exilado, em seu próprio mundo, irremediavelmente. Há um divórcio entre o homem
e sua própria vida; entre autor e cenário. O homem não acredita mais na comunicação. Não
crê em nada: nem na religião, política, no amor, na fé, na amizade. A segunda guerra mundial
trouxe um amargor aos que criam na paz e o Teatro do Absurdo parece até não propor nada:
só a desesperança.
4. Período literário realista (segunda metade do século XIX), que estudava o comportamento
humano, analisando o homem e suas patologias morais.
5. Godot é um personagem da peça “Esperando Godot”, escrita em 1946, por Samuel Beckett.
Trata-se de um personagem apenas citado, durante o texto inteiro. Ele é ansiosamente espe-
rado por dois clows vagabundos, chamados Wladimir e Estragon. Durante a peça inteira, eles
esperam, ansiosamente, Godot, que não chega nunca.
6. O TEXTO NO TEATRO, p. 344.
7. O TEXTO NO TEATRO, p. 344 e 345.
8. ESSLIM, MARTIM. O Teatro do Absurdo. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.
9. VASCONCELOS, Ângela do Céo Gonzaga de. “Lirismos Antiefêmeros”. Recife-Pe, Ed. Ba-
gaço, 1991.
10. Escritor pernambucano, poeta e romancista, autor de “Esses bichos maravilhosos e suas
incríveis aventuras”, “República dos bichos”, etc..
11. Escritor pernambucano, cronista, contista e romancista, autor de “Maratona”, “No tempo
das sombras”, “Índio curumim”, etc..
190
XI
NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO: CONCEITOS
E ABORDAGENS SOBRE A APRENDIZAGEM
Autor: Ivan Braga de Souza1
Coautores: Sueleide Alves de Souza Lima2
Lillian da Silva Oliveira3
Mara Dias Pereira4
Laudeci Medeiros Mindelo5
RESUMO
A Neurociência se torna uma revolução na área educacional, obje-
to de estudos de diversas teorias que procuram dinamizar o tema na
tentativa de encontrar subsídios que facilitem a relação do processo de
ensino capaz de promover uma formação completa aos sujeitos. Neste
sentido questionou-se qual a relação existente entre a neurociência e
educação e as contribuições das descobertas da ciência para esta últi-
ma e os campos de atuação no contexto educacional. Trata-se de uma
pesquisa de natureza qualitativa e constou da pesquisa bibliográfica em
cinco artigos escolhidos para análise. No campo educacional, na atua-
lidade, não há como se pensar em aprendizagem sem a corporificação
das relações da neurociência para compreender como funciona o cére-
bro e o desenvolvimento das capacidades cognitivas que possam favo-
recer o processo cognitivo e de aprendizagem, tornando- se um tema
vasto e de suma importância para a Educação.
PALAVRAS - CHAVE: Neurociência. Educação. Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Com as mudanças decorrentes na Educação, grandes são os interes-
ses por áreas que expliquem a relação do processo de aprendizagem hu-
mana e o seu desenvolvimento. Os desafios da educação em encontrar
191
os caminhos sobre a melhor forma de interagir ensino e aprendizagem
faz com que se ampliem os campos de pesquisas para melhor descrever
sobre como as pessoas aprendem e como se dá este processo.
A forma de aprender a ler e escrever, fazer cálculos e problematizar
questões, diferenciadas em cada sujeito, é determinado pela seletivida-
de dos processos mentais relacionadas às atividades do sistema nervoso,
do qual o campo da neurociência vem explicar o que acontece com o
cérebro humano ao ser estimulado e quais os efeitos no comportamen-
to e na cognição.
Neste entendimento a Neurociência se torna uma revolução na área
educacional, porque passa a explicar a aprendizagem a partir dos pro-
cessos neurais e das relações estabelecidas entre as atividades do cére-
bro a partir de sinapses.
A aprendizagem sempre foi objeto de estudos de diversas teorias que
procuram dinamizar o tema, na tentativa de encontrar subsídios que fa-
cilitem a relação do processo de ensino e que promova uma formação
completa aos sujeitos e equalize o campo do processo de compreensão
daquilo que é ensinado para todos.
Compreender o funcionamento do cérebro passa a ser uma das
maiores discussões dentro da Educação, porque a partir das investiga-
ções feitas no campo da neurociência, se percebe que o processo com-
plexo de absorção de informações não se dá simplesmente pela assimi-
lação conteúdos ou de informações trazidas pelo professor para a sala
de aula. É, portanto, na neurociência que serão revelados como o cére-
bro utiliza de suas propriedades neurais para dar o suporte à formação
da aprendizagem.
Os questionamentos feitos acerca da neurociência como aparato
para a educação discutem como o cérebro aprende e como os cam-
pos neurais se comportam em meio ao estímulo da memória e o seu
armazenamento de informações. Estas perguntas fazem com que a
neurociência extraída do campo da Biologia, venha trazer contribui-
ções importantes, de forma que os profissionais da Educação estejam
192
preparados para lidar com o processo, sem que com isso necessitem
adentrar profundamente no campo da medicina para inteirar-se do
processo.
No entanto deve-se considerar que a neurociência como palco das
pesquisas educacionais ainda é um campo a ser descoberto, pois pos-
sui linhas de pesquisa científicas em todos os ramos da biologia poden-
do contribuir significativamente na psicologia, psiquiatria, psicanálise,
além da Educação.
Nesta linha os questionamentos sobre qual a relação existente entre
a neurociência e educação, ao mesmo tempo em que se consideram
quais são contribuições das descobertas da ciência para esta última e os
campos de atuação no contexto educacional, tem levado a vários estu-
dos sobre o tema.
Os estudos sobre a neurociência na Educação habilitam aos profes-
sores a repensar o modo de ensinar e aprender como campos distintos,
mas que em um dado momento se encontram nos diferentes processos
cognitivos como memória, cognição e consciência ligadas ao conheci-
mento e necessários à aprendizagem.
Assim, o objetivo deste artigo é discutir as contribuições das desco-
bertas da neurociência para a educação.
1. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e constou da pes-
quisa bibliográfica que consiste em uma técnica de investigação baseada
nas fontes documentais a fim de compreender um determinado objeto.
Segundo Gil (2007, p.17), a pesquisa é definida como um procedimento
racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas
aos problemas que são propostos. A pesquisa desenvolve-se por um
processo constituído de várias fases, desde a formulação do problema
até a apresentação e discussão de resultados.
Foram selecionados dez artigos e destes apenas cinco foram esco-
lhidos para análise. São artigos nacionais indexados na base de dados
193
da CIELO, utilizando a intersecção dos seguintes descritores: educação
– aprendizagem - neurociência e utilizados como variáveis: ano de pu-
blicação, instrumento utilizado, amostra e revista de publicação.
No primeiro momento foram selecionados aos materiais que trata-
vam sobre a neurociência por ser o foco central do estudo, com a inten-
ção de traçar um parâmetro da contribuição na neurociência enquanto
área Biológica no campo educacional.
Como forma de tratamento dos dados levantados ao longo da pes-
quisa foi feita a análise dos conteúdos e logo após o fichamento de cada
teoria. Este fichamento consistiu em tabular as informações sobre a im-
portância da neurociência na Educação e a relação com o processo de
aprendizagem, compreendendo aspectos cognitivos, construções men-
tais, e atividades do sistema nervoso.
A partir da interpretação das informações foi averiguada a importân-
cia dada por cada autor sobre o tema, inferindo sobre a importância da
neurociência para a educação.
A neurociência como campo de investigação científica vem sendo
tratada na educação para explicar como funciona o cérebro ao ser es-
timulado no processo de aprendizagem. Ainda é um campo que está
sendo investigado e para isso há a necessidade de conhecer teorias e re-
ferenciais que tratem do tema de forma holística sobre sua importância
na educação e sua relação com o psiquismo humano.
A seguir foram feitas análises com base em cinco elementos identi-
ficados nesta pesquisa sobre neurociência na aprendizagem, utilizados
na tabulação de dados dos artigos pesquisados: a intersecção da neuro-
ciência com a Educação; discussões sobre a Neurociência e objeto de
estudo nos campos neurociência/ Educação.
194
a apreensão do conhecimento, são necessárias, além da maturação de
estruturas neurobiológicas e psíquicas, condições psicológicas e emo-
cionais equilibradas, para permitir que o indivíduo interaja de forma
eficiente no processo da aprendizagem. LIMA (2011, p. 09)
A relação existente entre a educação, os processos que levam a
aprendizagem mantêm uma estreita ligação com o funcionamento do
cérebro e a forma de articulação dos campos neurais imprescindíveis
para a definição do processo funcional em pauta. Com isso a neuro-
ciência torna-se um campo de pesquisa que irá definir e explicar os ca-
minhos que levam ao desenvolvimento e aprendizagem.
Constatamos que dos dez artigos analisados, cinco deles não corres-
pondiam à discussão porque tratavam de temas específicos na relação
com a neurociência como a educação física, fonoaudiologia, esporte
coletivo, psiquiatria e andrologia, e que, em primeiro plano, não consti-
tuíam uma discussão direta sobre o tema de interesse.
Outros cinco artigos selecionados possuíam um caráter direcional e
seletivo em que se discutem os processos metais e as funções cerebrais
de modo a chamar à atenção para a colaboração no processo de apren-
dizagem.
Os artigos pesquisados foram publicados por profissionais que des-
crevem a neurociência em áreas de pesquisas das quais possuí grande
contribuição.
Os gráficos abaixo mostram a relação do tema, demonstrando a im-
portância das descobertas feitas na neurociência e sua contribuição para
a educação, trazendo com subtemas: aprendizagem, formação de pro-
fessores, sistema nervoso, pedagogia, métodos, memória e emoção, po-
rém o foco do discurso recai em discussões sobre a temática específica.
A necessidade de uma discussão mais apurada sobre a neurociência
dentro do campo educacional tem trazido o interesse sobre conclusões
dos estudos de área cerebral, sob diversas perspectivas, fazendo com
que grandes teóricos da área da Psicologia, Psiquiatria, Neurologia e
também da Educação travem discussões enriquecedoras sobre o tema.
195
O que a neurociência defende sobre o processo de aprendizagem
mostram os diferentes caminhos sobre o funcionamento cerebral e
as experiências exteriores associadas ao conhecimento e as concep-
ções cognitivas, que permitem observar o desenvolvimento signifi-
cativo do cérebro, das atividades do sistema nervoso no campo edu-
cacional.
Os artigos em análise mostram que a neurociência não fornece es-
tratégias de ensino, mas que as contribuições trazidas por esta área res-
pondem aos principais questionamentos no campo pedagógico sobre o
desenvolvimento do cérebro e o processo de aprendizagem, dialogando
com as relações do sujeito aprendiz nos espaços escolares.
Isso demonstra que as teorias descritas por profissionais da área da
saúde intervêm de forma significativa, pois permite ao professor en-
riquecer seu processo de ensino, utilizando as contribuições da neu-
rociência em função da aprendizagem dos alunos, compreendendo a
relação desta com a memória e com o conhecimento em constante in-
teração com o mundo externo. Para Mora (2004, p. 94):
196
Tabela 1: intersecção da neurociência com a Educação.
197
É relevante observar que os profissionais da área da saúde aplicam
o seu discurso no cunho educacional, como linha de pesquisa, mas fo-
cam a estrutura dissertativa nas explicações acerca da contribuição da
neurociência na educação, explicando o funcionamento do cérebro, da
memória, para o desenvolvimento da aprendizagem aferindo as expli-
cações mais aprofundadas na sua área de formação. As discussões sobre
memória, pensamento, cérebro, percepção interseccionam com apren-
dizagem e cognição, traçando um caminho linear para as descobertas
da relação entre a neurociência e a aprendizagem, sendo de fundamen-
tal importância a interlocução nas áreas de saúde e educação para acen-
tuar esta relação.
Segundo Izquierdo (2002, p. 9) “memória é a aquisição, a formação,
a conservação e a evocação de informação. A aquisição é também cha-
mada de aprendizagem: só se ‘grava’ aquilo que foi aprendido.”
A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recupe-
ração. É neste sentindo, que a relação da neurociência se condiciona
com o processo de ensino e aprendizagem perfazendo-se tema impor-
tante para as duas áreas em discussão: neurociência e aprendizagem.
A tabela 1 demonstra ainda, que a intersecção feita sob o viés das pa-
lavras chave estreitam a discussão sobre neurociência e aprendizagem
estreitando as relações entre os temas e o campo do discurso da pesqui-
sa de seus idealizadores.
Segundo Schacter (1996) e Fields, (2005), nossa habilidade de pensar
e armazenar lembranças depende de atividades físico-químicas comple-
xas que ocorrem nos circuitos neuronais, que estão presentes no cére-
bro e na medula espinha.
A importância dada a relação entre a neurociência e educação ini-
cia-se dentro deste entendimento, de que o cérebro age de forma rá-
pida e útil. Assim, “O professor tem o dever de preparar os estudantes
para pensar, para aprender a serem flexíveis, ou seja, para serem aptos
a sobreviver na nossa aldeia de informação acelerada.” (Fonseca, 1998,
p. 315).
198
O cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativando as sinapses,
tornando- as mais “intensas”. Em decorrência, estas sinapses consti-
tuem-se em circuitos que processam as informações, com capacidade
molecular de armazenamento destas informações. As associações rela-
cionadas ao contexto cerebral e suas funções tornam a relação de me-
mória e percepção das atividades com o meio, condição essencial para
a aprendizagem.
A “percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais à
memória e à cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo, so-
bre nós mesmos e orientar nosso comportamento.” (Lent, 2001, p. 557).
Esta função do cérebro se associa a outras funções desenvolvidas em
outros hemisférios que darão base para o processo de aprendizagem.
Para Lent (2001, p. 594):
199
o desconhecido em conhecimento. É a conjunção do reconhecimento
e da descoberta. Aprender comporta a união do conhecido e do desco-
nhecido” (Morin, 1999, p. 70).
Além disto, as considerações sobre o processo de como aprender
leva a outro campo, o da função do cérebro e de como se estrutura
o seu funcionamento. Com grande relevância toma-se como base as
questões sobre o pensamento, ou abstrair, armazenar as informações.
Ratey (2001, p. 198), descreve que:
200
os alunos como indivíduos parece, aliás, muito pouco desenvolvida nos
alunos-professores (...). A aquisição de sensibilidade relativa às diferenças
entre os alunos constitui uma das principais características do trabalho do-
cente. Essa sensibilidade exige do professor um investimento contínuo e
em longuíssimo prazo, assim como a disposição de estar constantemente
revisando o repertório de saberes adquiridos por meio da experiência.
201
A tabela 2 mostra que a neurociência tem aberto diferentes focos de
discussão para melhor entender o processo de aprendizagem. A neuro-
ciência utiliza-se de experimentos comportamentais e uso de aparelhos
utilizados na área da saúde como a ressonância magnética e tomografia
e com esses instrumentos é possível observar as atividades e sua intera-
ção com o meio.
202
O desenvolvimento do cérebro depende da composição de centenas
de milhões de neurônios que integram um circuito potencial no de-
senvolvimento cerebral, interagindo com o ambiente; as experiências
vivenciadas pelas células se modificam e se refletem transformando-se
em comportamento. Neste sentido é importante considerar que o de-
senvolvimento difere de um sujeito para o outro, dependendo dos am-
bientes aos quais elas interagem. Duboc (2011, p. 28) considera que:
203
completados.” A zona de desenvolvimento potencial são funções que
se encontram em processo de maturação e necessitam de auxílio ex-
terno para se desenvolverem e a zona de desenvolvimento proximal se
caracteriza “pelas mesmas funções e capacidades ainda em formação,
porém em um estágio avançado, em nível superior, isto é, falta muito
pouco para completar a maturidade necessária”. (DUBOC, 2011, p. 28)
As inúmeras pesquisas desenvolvidas sobre o cérebro no processo de
aprendizagem influenciam o desenvolvimento da construção de conhe-
cimentos sobre a perspectiva tanto da neurociência no campo educa-
cional, quanto da própria neurociência na área da saúde.
O cérebro precisa de estímulo para manter-se vivo e atuante, de
maneira que cada indivíduo convivendo em ambientes estimuladores,
também estará estimulando o seu cérebro a aprendizagem, favorecen-
do para que as práticas didáticas sejam potencialmente interventoras
no ensino. Hart (2002) apud Ramos (2014, p. 264) conjectura afirman-
do que “ensinar sem levar em conta o funcionamento do cérebro seria
como tentar desenhar uma luva sem considerar a existência da mão.”.
Nesta mesma linha, o Sistema Nervoso (SN), por meio de seu inte-
grante mais complexo, o cérebro, recebe e processa os estímulos am-
bientais e elabora respostas adaptativas que garantem a sobrevivência
do indivíduo e a preservação da espécie. Halpern; O’Connell (2000)
Ferrari et al (2001).
As atividades que engendram o funcionamento do sistema nervo-
so como um eficiente centro automatismo de decisões integram pro-
cessos conjugados do fenômeno da consciência e da adaptação externa
dos organismos, que dão condições para que o cérebro consiga integrar
ideias, sensações, sons, cheiros, luz, todos catalogados no complexo sis-
tema do córtex cerebral.
Para compreender melhor o sistema nervoso é necessária uma pro-
funda investigação sobre as descrições do complexo equipamento ce-
rebral, ainda assim, é possível perceber que cada um dos hemisférios
que constitui o cérebro possui determinadas funções que finalizam por
204
constituir-se essencialmente por fibras nervosas quem impulsionam as
informações para o cérebro, responsável por receber e formular as va-
riáveis necessárias para o conhecimento e a aprendizagem. O sistema
nervoso, portanto, é dotado de estações que transmitem a todos os seus
hemisférios, a partir de receptores, as informações necessárias para aquilo
que se constitui em aprendizagem e cognição no mundo externo.
Kolb; Whishaw (2002) dizem que funções relacionadas à cognição
e às emoções, presentes no cotidiano e nas relações sociais, como sen-
tir e perceber, gostar e rir, dormir e comer, falar e se movimentar,
compreender e calcular, ter atenção, lembrar e esquecer, planejar,
julgar e decidir, ajudar, pensar, imaginar, se emocionar, são compor-
tamentos que dependem do funcionamento do cérebro. Educar e
aprender também. Por isso o norte dado ao processo de compreensão
do funcionamento do cérebro dentro do processo de educacional se
tornou um dos grandes elementos chave para a descoberta da ciência
educacional.
As relações de atividades cerebrais nos seres humanos embora ainda
em profundos estudos consideram a importância da relação com o am-
biente enquanto consequência prática da consolidação das sinapses que
se atêm em aumentar ou diminuir a transmissão dos impulsos nervosos
a partir das estimulações e experiências externas conexões neurais.
Esta adequação ambiental é chamada de plasticidade cerebral, onde
se obtém um tipo de aprendizagem caracterizada por aquilo que o cére-
bro é capaz de acrescentar as informações obtidas.
Os estímulos recebidos pelo sujeito são passadas para o cérebro que
se mostra estimulado, fundamentando aquilo que discutimos como ca-
racterísticas para o processo de aprendizagem, esse exercício de estimu-
lação cerebral a partir do meio ambiente e das coisas que circundam as
pessoas tornam-se processos evolutivos de aprendizagem direcionado
por informações cerebrais para cada indivíduo e diferente a partir das
vivências de cada um, o que resulta no processo linear e de raciocínio
lógico tanto para memória e criatividade quanto para as diferentes
205
emoções. Isso configura ainda, que ao ser estimulado, o cérebro adicio-
na novas experiências mantendo-o mais ágil e ativo.
Na tabela abaixo as discussões trazidas pelos teóricos reforçam a ideia
da memória com elemento coadjuvante no processo de aprendizagem.
206
Focar nesta relação sugere pensar a neurociência auxiliando o pro-
cesso educativo a partir do funcionamento do cérebro e não o contrá-
rio. Hard (200) apud Ramos (2014, p. 264) diz que: “Ensinar sem levar
em conta o funcionamento do cérebro seria como tentar desenhar uma
luva sem considerar a existência da mão”.
Com isto as discussões das teorias trazidas sugerem um aprofunda-
mento sobre a neurociências, o funcionamento do cérebro, suas inter-
conexões internas, para só então agregar valores a partir daquilo que o
entendimento sobre a memória pode oferecer. Entende-se com a capa-
cidade de agregar dados novos a informações já armazenadas na me-
mória, estabelecendo relações entre o novo e o já conhecido e recons-
truindo aquilo que já foi aprendido, num reprocessamento constante
das interpretações advindas da percepção, que caracteriza a plasticidade
do cérebro. Izquierdo (2002) apud Carvalho (2010, p. 539-540).
A neurociência vem como um campo da pesquisa que auxiliará a
desenvolver novos caminhos sobre a prática de ensino e aprendizagem
que auxiliem as pessoas a compreenderem como de fato a aprendizagem
pode acontecer. Para a educação é um caminho a ser percorrido em fun-
ção do processo cognitivo e de novos rumos para a aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao compreender as propriedades neurais que dão suporte às áreas cogni-
tivas e os caminhos que levam à aprendizagem se tornam mais evidentes e
as possíveis intervenções da neurociência para o desenvolvimento cognitivo.
As concepções de desenvolvimento do ensino e aprendizagem se
dão a partir de estruturas conquistadas por estágios. Qualquer apren-
dizagem deverá ser medida em relação às competências cognitivas, na
qual a aprendizagem acontecerá de acordo a sua evolução mental e
com o interesse pelo objeto, na interação com o meio.
As expressões das funções cerebrais em suas manifestações elemen-
tares e superiores tornam-se a primeira elucidação sobre o campo do
desenvolvimento da neurociência na aprendizagem, considerando o
207
desenvolvimento biológico e o social como vertentes do processo de
cognição.
Neste sentido a neurociência explica como e o que acontece no mo-
mento da aprendizagem torna-se um subsídio que fomentará as pes-
quisas no campo da Educação e que viabilizará o processo de ensino e
aprendizagem interagindo com as características de aprendizagem dos
sujeitos envolvidos.
As contribuições das descobertas da neurociência para a atuação
no contexto educacional têm levado a vários estudos sobre o tema, de
modo que áreas de atuação de profissionais da Psicologia, Pedagogia,
Educação Especial e da Neurociência contribuem para entender de for-
ma abrangente o desenvolvimento do sujeito, trazendo ao palco destas
discussões os modelos de aprendizagem para explicar como os indiví-
duos se utilizam do conhecimento adquirido a partir das observações
feitas sobre as atividades cerebrais potencializadas pela integração entre
o corpo e o meio social.
As considerações trazidas pelos artigos inferem que as atividades ce-
rebrais podem explicar como os indivíduos interpretam e utilizam os
conhecimentos adquiridos. As discussões sobre cérebro e memória des-
tacam uma necessidade de compreender as capacidades mentais a partir
do processo de atenção e o de cognição dentro dos estudos sobre neuro-
ciência cognitiva, destacando fundamental importância para o processo
de ensino e mudanças de paradigmas dentro dos espaços escolares.
No campo educacional, na atualidade, não há como se pensar em
aprendizagem sem a corporificação das relações da neurociência para
compreender como funciona o cérebro e o desenvolvimento das capa-
cidades cognitivas que possam favorecer o processo cognitivo. Na mes-
ma linha, professores e profissionais da área educacional necessitam de
aportes teóricos mais profundo que submetam os saberes educacionais
ao funcionamento da mente humana em todas as suas nuances, isto é,
interpretando que cada sujeito apreende as informações de formas dis-
tintas, de acordo aos estímulos que cada uma recebe.
208
Com isso, considera-se que a capacidade humana e desenvolvimen-
to da sua aprendizagem são funcionalmente dependentes daquilo que o
cérebro consegue abstrair em cada um dos seus hemisférios.
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VYGOTSKY. L. A Formação Social da Mente o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
NOTAS
1. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Tecnológica Intercontinental.
Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia do Paraguai - UC/Py. Professor e
Advogado. E-mail: ivanbragall@yahoo.com.br
2. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Americana - Assunção - PY. E-mail: sue-
leidesouza2@gmail.com
3. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia del Paraguay. Metre
em Ciências da Educação pela Universidad Columbia del Paraguay. E-mail: lillianoliveira@
uol.com.br
4. Doutora em Ciência da Educação pela Universidad Americana. Mestre em Saúde Pública
pela Fundação Oswaldo Cruz. Graduada em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá, UNE-
SA. Graduada em Administração. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. E-mail: mara-
dpereira@yahoo.com.br
5. Pós-Doutor em Gestão e Inovação Educativa para uma Sociedade Inclusiva pela Universidad
Autonoma de Asunción- UAA - PY. E-mail: medeiroslaudeci@yahoo.com.br
210
XII.
ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO
PARTICULAR DE ENSINO MÉDIO: O
MATERIAL DIDÁTICO APOSTILADO E A
COMPREENSÃO DA ATIVIDADE DOCENTE
EMINENTEMENTE RELACIONAL
Autor: Jefferson Antonio do Prado1
RESUMO
Esta comunicação visa compartilhar uma pesquisa sobre que com-
preensão o professor tem investido sobre ele no que se refere a sua
atividade docente no tocante ao conjunto de exigências que se confi-
guram no pacote pedagógico nas redes de relações interdependentes
de uma escola particular no interior de SP, cujo material adotado é
apostilado. Tais conjuntos de exigências acompanham a estrutura or-
ganizacional, os pressupostos, os valores, as condições e metodologia
de trabalho, os horários das aulas, as disciplinas, o nome da escola, a
rede pela qual ela se vincula e em especial o material apostilado siste-
matizado adotado que se trata de um dos fios das teias de inter-rela-
ção de poder que auxilia o professor a compreender sua atividade pe-
dagógica eminentemente relacional. Desse fato, coube investigar em
que medida as tensões no espaço e no tempo da sala de aula de uma
escola particular franqueada instrumentalizaram o olhar do professor
auxiliando na compreensão de sua atividade docente, bem como se
sua condição de trabalho pode ou não ser compreendida nestas ten-
sões que, como já citei, se configura no pacote pedagógico adotado
pela rede de sistema de ensino franqueada.
PALAVRAS-CHAVE: Atividade Docente. Inter-relação. Material
Apostilado.
211
ABSTRACT
This communication aims to share research on understanding what
the teacher has invested about it in relation to their teaching with res-
pect to the set of requirements that are configured in the package pe-
dagogical networks of interdependent relations of a private school in
São Paulo state, whose Material used is apostilled. Such sets of requi-
rements attached to organizational structure, assumptions, values ,
conditions and methodology of work, class schedules, disciplines, the
school name, the network for which it is linked, and in particular the
material apostilled systematized adopted that it is one of the threads of
the webs of interrelation of power that helps the teacher understand
his pedagogical activity highly relational. From this fact, it fell to inves-
tigate to what extent the tensions in space and time in the classroom
in a private school franchise commodification look the teacher assis-
ting in understanding their teaching, as well as its working condition or
cannot be understood in these tensions, which as already mentioned is
configured in the package adopted by the educational network of fran-
chised education system.
KEY-WORDS: Teaching Activities. Interrelationships. Material
Apostilled.
1. INTRODUÇÃO
Esta investigação foi desenvolvida a partir de minhas observações en-
quanto docente. Desde 2001 sou formado em Letras e venho atuando
como professor de Português, mais especificamente na frente de redação.
Ao lecionar em uma escola particular de uma cidade, no interior de São
Paulo, percebi que, é comum a compra de uma franquia que implica num
pacote que contém: o nome da escola, a rede a qual ela se vincula, a meto-
dologia de trabalho, grade curricular e o material pedagógico apostilado.
A proposta de produção da redação aos alunos é sugerida, pela
instituição escolar, com um tema determinado ao gênero do tex-
to, numa tipologia extremamente pedagógica (narrativa, descritiva,
212
argumentativa), concentrando-se as aulas e o material didático na ex-
posição das fases de cada sequência, principalmente da argumentação,
com o gênero escolar dissertação, definido como um texto composto
de introdução (dado), desenvolvimento (justificativa) e conclusão.
Como se trata de uma atividade “simulada”, visto que o material
utilizado advém de uma franquia, a avaliação se aproxima das condi-
ções de produção do vestibular, em que o aluno dispõe de uma hora e
quarenta minutos aproximadamente para elaborar e compor seu texto.
Aqui, observo como aparentemente limitante o trabalho do profes-
sor, pois ele acumula as instruções de correção do simulado, que diz
como há que se corrigi-los, da forma como é oferecido, ou seja, crité-
rios já determinados pela franquia escolar, os quais revelam um con-
junto de conhecimentos postos em circulação na nossa sociedade a
propósito de como um texto deve ser estruturado, apenas treinando os
educandos no desempenho de destrezas, favorecendo mais uma repeti-
ção de conhecimentos e uma reprodução de ideias.
No tocante a tais questões, isto faz parecer, que a atividade pedagó-
gica do docente seja tencionada por um conjunto de exigências ado-
tado pela rede de franquia escolar, dentre eles o material apostilado,
uma vez que possivelmente a autoridade da apostila é maior que a do
professor, pautadas em relações às quais separam os que pensam dos
que executam, capturando hipoteticamente o saber e o fazer docente,
mantendo o sujeito professor, refém.
Diante disso, averiguou-se, nas relações de configuração de uma es-
cola particular franqueada, que compreensão tem o professor de sua
atividade pedagógica ao ser mediado também pelo material apostilado
utilizado, e investigar como esta atividade pedagógica se dá na com-
preensão deste docente, uma vez que ela está interdependentemente
(ELIAS, 2001) ligada nas relações de poder (FOUCAULT, 2004), ao su-
jeito professor na rede de franquia enquanto espaço institucional.
Verificou-se, na instituição particular investigada, junto aos professo-
res que trabalham diretamente com técnicas de redação nos 3º anos de
213
Ensino Médio e curso pré-vestibular, como suas relações se estabelecem
de fato; elucidou de que forma as tensões interdependentes instrumen-
talizam o olhar do professor na compreensão de sua atividade eminente-
mente relacional e observou se o professor exercita mecanismos de fuga,
ou seja, reinventa estratégias didáticas ao trabalhar com o material apos-
tilado, uma vez que possivelmente sua atividade pedagógica é domestica-
da pela instituição de ensino franqueado na qual está vinculado.
Hipoteticamente apontou-se que o fazer pedagógico, embora seja
tencionado por um conjunto de exigências adotado pela rede de fran-
quia escolar; tais como a estrutura organizacional, os pressupostos, os
valores, as condições e metodologia de trabalho, os horários das au-
las, as disciplinas, o nome da escola, a rede pela qual se vincula, e em
especial o material apostilado sistematizado; oportuniza possibilidades
para que o professor, nas brechas e fissuras, no tempo e espaço da sala
de aula, nos limites e nas possibilidades do trabalho docente, reinvente
estratégias didáticas e pedagógicas que o auxiliam na compreensão de
sua atividade eminentemente relacional.
Do ponto de vista da aplicação e métodos e técnicas de pesquisa, este
trabalho, trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual na tentativa de elu-
cidar a hipótese levantada, optou por coletar e avaliar dados por meio da
aplicação de questionário junto a professores de Língua Portuguesa.
A investigação foi desenvolvida em uma instituição particular de en-
sino fundamental, médio e curso pré-vestibular de uma instituição par-
ticular de Ensino Franqueada, no interior de São Paulo- SP.
Responderam ao questionário oito dos dez docentes de Língua Por-
tuguesa, especificamente os docentes de técnicas de redação que atuam
nos terceiros anos de ensino médio e cursinho pré-vestibular.
Quanto à escolha dos professores ela se deu em detrimento destes
profissionais manterem com os alunos um número maior de aulas,
uma vez que as atividades de produção de textos, propostas pela insti-
tuição particular franqueada de ensino se aproximam das condições de
produção do vestibular.
214
Acredito ser importante ressaltar que a identidade dos professores
foi preservada a fim de deixá-los à vontade para a formulação de crí-
ticas. Para sociologizá-los, caracterizei os docentes como: Professo-
ra R, 35 anos; Professor G, 40 anos; Professora P, 29 anos; Professora
A, 23anos; Professora G, 31 anos; Professora D, 38anos; Professora S,
42anos; Professor R, 33 anos.
A princípio a proposta foi a de entrevistar tais docentes e transcre-
ver tais entrevistas. Contudo, jornadas exaustivas de até 60h semanais
de trabalho, de alguns destes docentes, inviabilizaram tal possibilidade.
Nesse caso, o questionário elaborado com doze perguntas abertas foi
proposto aos oito professores participantes para que o respondessem
em suas residências, nas cidades em que moram. Esses professores fo-
ram por mim contatados, na unidade escolar em que lecionam durante
os intervalos de suas aulas matutinas.
2. QUADRO TEÓRICO
Para dar suporte a esta análise, recorri, a um estudo bibliográfico
de autores na filosofia e na educação como, Foucault (2004), Bourdieu
(1989), e em especial na sociologia, tal como Norbert Elias, aproprian-
do-me do valioso conceito de “configuração”, “redes”, “teias”, “tra-
mas”, “inter-relações”, ”interdependências” e “habitus social” (ELIAS,
1994c p.249-250), por ele utilizado,
Em Elias, (1994b p. 13-14), estamos sempre lidando com a noção
de indivíduo dentro de uma reflexão mais ampla que é a relação entre
indivíduo e sociedade. Elias concebe a sociedade como uma rede de
funções que as pessoas exercem, umas sobre as outras interdependen-
temente.
Nesse caso, acredito que a instituição escolar possa ser compreen-
dida como uma configuração, (conceito preciso utilizado por Norbert
Elias, tal como citei acima), uma rede de inter-relações nas quais as ten-
sões vão de construindo nas malhas e teias de interdependência desta
instituição.
215
Entendo a rede particular fraqueada de Ensino como uma “trama”,
tal como Norbert Elias compreendia a sociedade de Corte do Rei Luís
XIV no Palácio de Versalhes, na França, no século XVIII. A configura-
ção da corte constituída de seus rituais e cerimoniais sustentavam na-
quela sociedade o controle e o poder do Rei. Tal controle e poder era
tecido nos fios de cada uma das teias de relações que compunha a socie-
dade daquela época (ELIAS, 2001).
Penso a escola franqueada tal como uma instituição (corte), cujas
tensões (conjunto de exigências - Ex: pacote pedagógico, metodologia,
horários, interdições, e em especial o material apostilado), pode se tra-
tar-se, por alusão, de tramas e fios de teias nas malhas de inter-relações
da instituição particular escolar que talvez possa instrumentalizar e re-
finar o olhar do professor na compreensão de sua atividade docente à
medida que ela vai se constituindo no espaço e no tempo, nas brechas e
fissuras da sala de aula.
3. METODOLOGIA
A escolha do instrumento metodológico utilizado para a análise
das respostas ao questionário e sua categorização baseou-se em Bar-
din (2007) e em Ludke e André (1986, p.45), sendo para essas últimas,
a tarefa de análise de dados, “implica, num primeiro momento, na
organização de todo material coletado, dividindo-o em partes, rela-
cionando-as e procurando identificar nele tendências e padrões re-
levantes. Num segundo momento essas tendências e padrões serão
reavaliados, buscando-se relações e inferências num nível de abstração
mais elevado”.
Os dados coletados por meio do questionário aplicado com doze
perguntas foram analisados de acordo com as seguintes categorias:
“material apostilado”; “conteúdos”; “condições de trabalho”; “perda
da qualidade relacional”; ”medo”; “tempo”; “punição”; “vigilância”;
“controle”; “mecanismos de fuga”; “a domesticação do professor”;
“compreensão da atividade pedagógica”. É importante ressaltar que
216
as respostas ao questionário estão digitadas, por mim na íntegra, tais
como foram respondidos pelos professores avaliados de Língua Por-
tuguesa.
Para arrolar esta análise, optei em primeira instância por abordar a
questão do poder a partir da noção de campo2 em Bourdieu. Além dis-
so, trago novamente as considerações de poder discutidas por Foucault,
bem como as tecidas por Norbert Elias no que concerne às tramalida-
des das tensões e sua respectiva repercussão figurada nas inter-relações
humanas.
A instituição escolar, tal como já citei ao longo desta pesquisa, tra-
ta-se toda ela, de um campo de forças, de um espaço totalmente insti-
tuído, institucionalizado, um “campo de força”, termo este citado por
Bourdieu,
217
objetiva de sua consciência ou de suas disposições previamente orga-
nizadas e preparadas para tal, a reconhecem e creem nela, prestando-
-lhe obediência.
O poder simbólico é, para Bourdieu, uma forma transformada, irre-
conhecível, transfigurada e legitimada das outras formas de poder. As
leis de transformação que regem a transmutação de diferentes espécies
de capital em capital simbólico e, em particular, o trabalho de dissimu-
lação e transfiguração que assegura uma verdadeira transformação das
relações de força, transforma essas forças em poder simbólico, capaz
de produzir efeitos reais, sem gasto aparente de energia (BOURDIEU,
1977, p.408-411).
Na interação rotineira do dia a dia, a relação material didático e
profissional docente se figura enquanto relações de poder formal e im-
pessoal, próprio das organizações burocráticas, ditado em nome dos
órgãos administrativos do sistema, poder este que serve de escudo e
de justificação para o exercício do poder simbólico pelos dirigentes da
instituição: os atores (professores) se submetem às ordens e exigências
de superiores que as impõem enquanto “arautos” dos órgãos oficiais,
os verdadeiros impositores.
Aliar o poder simbólico ao poder formal e impessoal das organiza-
ções burocráticas pode parecer, à primeira vista, uma tarefa impossível.
No entanto, foi esta a realidade detectada na escola analisada, nas rela-
ções do dia-a-dia: os atores (professores) interagem sob o comando do
mantenedor cujas decisões se figura num poder simbólico, reconhecido
por todos e vivenciado sem muitos questionamentos.
Existem hierarquias a serem respeitadas, tarefas a serem executadas,
regras a serem cumpridas e todo um aparato burocrático, definido em
estatutos e regimentos pré-estabelecidos, que norteiam as ações e inte-
rações dos professores dentro da instituição.
Desde o momento em que entram na escola até a hora da saída, são
submetidos a uma série de regras para o exercício de suas atividades, os
quais acatam, em sinal de conivência com a ordem estabelecida.
218
E, nesta cadeia hierárquica é exercido o poder impessoal, apoiado
nas normas regimentais, nas leis e nas ordens vindas dos órgãos admi-
nistrativos do sistema de ensino. A ordem procede de cima e todos os
atores envolvidos estão no mesmo barco, sujeitos ao mesmo estatuto e
aos mesmos órgãos administrativos (matriz), independente da unidade
em que mantenham vínculo empregatício.
Deste fato, o professor se encontra submetido ao poder do emprega-
dor, bem como a vontade do material apostilado pré-estabelecido uma
vez que tal material trata-se da materialização da franquia que tem tan-
to uma carga de poder tanto da própria escola e seu nome, quanto dos
autores do material, quanto das teorias científicas que as sustentam.
Neste sentido, é importante ressaltar o argumento básico elaborado
por Norbert Elias, ou seja, que há diferentes fontes de poder3; que ela é
política, econômica, de conhecimento, dentre outras e que se expressa
de variadas formas.
O poder é fruto das relações e, portanto, não é um fato posto e situa-
do que pode ser isolado como uma coisa qualquer, mas é algo relacio-
nal, que faz parte das interações humanas. Segundo Elias,
(...) o poder tem haver com o fato que existem grupos ou indivíduos que
podem reter ou monopolizar aquilo que os outros necessitam, como por
exemplo, comida, amor, segurança, conhecimento, etc. Portanto, quanto
maior as necessidades desses últimos, maior é a proporção de poder que
detêm os primeiros (ELIAS, 1994b, p.53).
219
emergência de grupo de classes subalternas por meio das lutas pelo di-
reito a educação, por exemplo.
Todavia, o sentido do processo de monopolização que entende ape-
nas o poder de decisão nas mãos de cada vez menor número de indiví-
duos, perde a ideia de um processo em relação com a longa duração.
Para Elias, não significa dizer que um número cada vez menor de pes-
soas se torna livre e, mais e mais pessoas se tornam não livres. Mas,
220
Desde fato, considerando que o termo “equilíbrio de poder” não é
necessariamente sinônimo de igualdade de poder, Elias (1986) aponta
que tanto nas relações bipolares, como por exemplo, a de pai e filho ou
de senhor e escravo, e nas relações multipolares ou multipessoais,
221
fornecendo deste fato elementos mais palpáveis sobre as trocas nas es-
truturas sociais.
A instituição escolar, por alusão, nas sociedades mais diferenciadas
de hoje, se configuram também como umas das principais cadeias orga-
nizativas de que se servem diferentes grupos com o intuito de controlar
e dirigir uns aos outros, uma vez que um dos pilares de sua manuten-
ção depende hoje em parte monopólio do conhecimento, cuja balança
de poder é movimentada no interior das relações interdependentes.
222
relação ao uso em virtude do cronograma pré-estabelecido, o que ge-
ralmente limitava os espaços de criação, mas que de maneira geral o
material lhes dava suporte, tal como se observa nas respostas a seguir:
223
4.2 MEDO, TEMPO, PUNIÇÃO, VIGILÂNCIA, CONTROLE, ME-
CANISMOS DE FUGA
Há o medo do atraso, das sansões punitivas, mas mesmo assim a
programação se cumpre em termos, uma vez que, a princípio todos
responderam que “sim” a questão do cumprimento do calendário,
embora com ressalvas, como a afirmação de que este “cumprir” só foi
conquistado após alguns anos de experiência, adaptação e costume, tal
como respondeu o professor G, 40 anos,
224
consciência de que suas práticas pedagógicas são controladas, vigiadas
e domesticadas pelo sistema da rede privada de ensino tal como revela
a seguinte resposta:
225
para que suas dúvidas fossem esclarecidas, bem como a troca de informa-
ções efetuadas entre os pares. Também que as aulas fossem divididas em
duas partes: explicação e trabalho dos alunos. E o mais importante, que
o material estivesse mais atualizado e que houvesse “menos” aulas para
que pudéssemos trazer propostas novas e diferentes em apoio ao que foi
ensinado, cuja meta estivesse centrada na participação dos alunos também
nessa busca (Professora R, 35 anos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desse fato, percebe-se que o material apostilado se figura como um
método cuja manutenção de poder e controle na sala de aula se dão em
detrimento do trabalho pedagógico. A instituição particular fraqueada
se transforma, neste caso, num lugar onde se exercita certo tipo de rela-
ção de poder, por determinado grupo.
Todo este conjunto de situações, nas inter-relações que se dão no co-
tidiano da prática docente, nos remete à ideia de que o professor ao “in-
tervir” nas decisões relativas ao controle de suas aulas a partir do mate-
rial didático que medeia sua atividade exercita mecanismos de fuga, de
“resistência”, que colabora para que este profissional some e incorpore
conhecimentos sobre o conteúdo de sua disciplina.
Em suma, a análise e a exposição desta pesquisa sobre as possibilida-
des de intervenção do professor no contexto de sua atividade pedagógi-
ca nas intuições franqueadas, que adotam como referência e prioridade
o material apostilado, deixam ultrapassar uma lufada.
Dizer, por exemplo, que as formas de preparação e seleção de nos-
sos alunos para as provas de acesso ao ensino superior, vendidas e nego-
ciadas pelos cursinhos e seus respectivos sistemas de ensino são exclu-
dentes, imparciais e injustas.
E, o que ainda acontece é a preservação de um sistema de pri-
vilégios onde os mais favorecidos são os componentes da chamada
“indústria dos vestibulares”, fomentada pelo apostilado, cuja lógi-
ca de funcionamento tentei equacionar ao longo desta dissertação,
226
especificamente em relação aos apontamentos deste estudo, em es-
pecial no tocante ao material didático considerado o “astro” sob o
qual se movem as relações construídas entre as matrizes deste mode-
lo de educação franqueada.
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jun, 1977.
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FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso: aula inaugural no Còllege de France, pronuncia-
da em 02 de dezembro de 1970, 2º ed. São Paulo: Loyola, 1996.
___________. Microfísica do poder. 19 ed. São Paulo: Graal, 2004.
___________. Vigiar e Punir. 22ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2000.
LUDKE, M. & ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo:
Editora Pedagógica e Universitária, 1986.
227
5) Aponte quais são para você as maiores qualidades e os maiores
defeitos deste material.
6) Existe a possibilidade de incorporação nas aulas de algum tipo de
material extra-apostila? Quais? De que forma você os utiliza?
7) Você cumpre a programação estabelecida pelas apostilas em tem-
po hábil? Justifique.
8)Você considera exigente a programação estabelecida no conteúdo
apostilado? Por quê?
9) Como professor, você observa se há exigências produzidas pelo
material apostilado didático que tenciona o saber e o conhecer de sua
prática pedagógica? Justifique.
10)Você acha possível compreender sua atividade docente a partir
das relações pedagógicas mediadas pelo material apostilado na rede de
franquia escolar? Justifique.
11) Qual(s) outra(s) exigência(s), em sua opinião, adotada(s) pela ins-
tituição particular franqueada de ensino tenciona o conhecer e o saber
da atividade docente no tempo e no espaço da sala de aula? Justifique.
12) No tocante ao material apostilado utilizado qual(s) sugestão(s)
você proporia à rede de ensino onde você atua para tornar ainda mais
viável em sala de aula sua atividade pedagógica? Justifique
NOTAS
1. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia Del Paraguay-PY. Mestre em
Educação pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: pradoj2000@yahoo.com.br
2. Para Bourdieu, o campo é um universo complexo de relações objetivas de interdependências
entre subcampos ao mesmo tempo autônomos e unidos pela solidariedade orgânica de uma
verdadeira divisão do trabalho de dominação. Diz respeito a uma população, ou seja, um con-
junto de agentes suscetíveis de serem submetidos a participações reais e unidos por interação
ou ligações reais e diretamente observáveis (1989 p.373-374).
3. As referências sobre o poder que abordo neste capítulo acerca dos conceitos de Norbert
Elias são frutos de entrevista por ele concedida a Peter Lucas e publicada com o título “Conoci-
miento y Poder” e à obra “Os Estabelecidos e os Outsiders”, escrito em parceria com J.Scotson.
228
XIII.
ESTRUTURA DO PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO
Autores: Jefferson Antonio do Prado1
Maria José Alacrino2
RESUMO
Este Artigo traz como perspectiva de análise a estrutura do Projeto
Político Pedagógigo, situando nesse contexto a forma de articulação do
PPP, por meio dos princípios teóricos e legais que o regem. O assun-
to em questão envolve o processo de conhecimento das diretrizes do
projeto politico pedagógico, dos profissionais da escola, assim como da
clientela escolar em sua totalidade. O objetivo do estudo é ampliar a
visão da organização do projeto politico pedagógico tecendo comen-
tários com alguns autores do meio educacional sobre a importância de
conhecer e apropriar das diretrizes do PPP, para uma conjunta partici-
pação coletiva em prol da efetividade da educação.
PALAVRAS-CHAVE: Projeto politico pedagógico, organização, di-
retrizes, educação.
INTRODUÇÃO
Tendo em vista a importância do Projeto Politico Pedagógico para a
efetivação das diretrizes que perpassam o trabalho dentro da escola, é
relevante dar conhecimento aos profissionais da área educacional assim
como da clientela escolar da pauta dos princípios norteadores do PPP.
Com vista aos processos de mudanças nos norteadores teóricos
educacionais é mister trazer à luz as metas e demandas de cada reali-
dade escolar. Para que esse trabalho seja desenvolvido é necessário o
engajamento de todos os que fazem parte da comunidade escolar, é um
229
trabalho conjunto tendo em vista o conhecimento do lugar onde a es-
cola se situa, assim como o conhecimento das necessidades da clientela.
O projeto politico pedagógico traz como especificidade a particu-
laridade cultural de cada lugar e as demandas de cada clientela, tendo
como primordial nesse primeiro momento o compromisso e o envolvi-
mento nesse processo, dos gestores da escola e dos professores.
O objetivo desse estudo é traçar um panorama da organização e es-
trutura do projeto politico pedagógico como forma de ampliar a visão
dos gestores, educadores e demais participantes dessa clientela escolar.
2. METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada por meio dos princípios norteadores do pro-
jeto politico pedagógico que fizeram parte das bases teóricas.
Com vista à realidade educacional do lugar onde a escola se situa
trazendo a importância dos desafios e metas no que tange a educação
para uma sociedade do conhecimento.
Nesse contexto destaca a importância do conhecimento dos nortea-
dores do Projeto Politico Pedagógico sobre as dimensões culturais do-
seu meio.
3. DISCUSSÃO
O conceito do Projeto Politico Pedagógico engloba as perspectivas
da dimensão do que é um projeto, do como se faz o presente papel do
desempenho do ato politico e das diretrizes do norteador pedagógigo
no contexto escolar.
São possivelmente ações que refletem no se fazer e no como se fazer,
segundo o dicionário uma das definições de projeto, significa: Plano; plane-
jamento que se faz com a intenção de realizar ou desenvolver alguma coisa:
projeto de lei. Dando continuidade aos significados de politico: aquele que
se dedica à política; e o que vem a ser o pedagógico: Que se refere à peda-
gogia, ciência que se dedica ao processo de educação dos jovens, estudando
os problemas que se relacionam com o seu desenvolvimento.
230
Segundo Freire (1987):
231
E complementando para o ensino nos termos da Lei de Diretrizes e
Base da Educação, Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, situa se com
razão o Art. 1º ao apontar que educação:
5. MARCO REFERENCIAL
O “Marco Referencial” expressa a posição da instituição que plane-
ja em relação à sua identidade, visão de mundo, utopia, valores, ob-
jetivos, compromissos. Indica o “rumo”, o horizonte, a direção que a
instituição escolheu fundamentado em elementos teóricos da filosofia,
das ciências. Apoia-se em crenças, na cultura da coletividade envolvida.
Implica, portanto, opção e fundamentação.
No Marco Referencial somos desafiados a expressar o sentido do
nosso trabalho pedagógico e as grandes perspectivas para a caminhada
rumo a sua concretização.
232
Vários questionamentos precisam ser respondidos, entre eles destaca-se:
quais são os fundamentos do nosso querer em relação à escola? O que se
espera da escola pública hoje? Que cidadão queremos formar e para qual
sociedade? Que escolhas fazemos em torno das concepções de educação,
de ensino aprendizagem, de avaliação, para atingir os objetivos previstos
A função maior do Marco Referencial é a de tensionar a realidade no
sentido da sua superação/transformação e, em termos metodológicos,
fornecer parâmetros, critérios para a realização do Diagnóstico. Está
organizado da seguinte forma:
6. MARCO SITUACIONAL
O “Marco Situacional” é a percepção do grupo em torno da realida-
de em geral: como a vê, quais seus traços mais marcantes, qual a rela-
ção do quadro sócio-econômico, político e cultural mais amplo e o co-
tidiano da escola. Sua importância se deve ao fato de que pode desvelar
os elementos estruturais que condicionam a instituição e seus agentes.
Nesse Marco o que se pretende é a explicitação de uma visão geral
da realidade e não apenas uma análise da instituição na perspectiva mi-
cro, pois isto será feito na fase do Diagnóstico. A seguir, exemplos de
questões para elaboração do Marco Situacional:
233
• Quais são os sinais no mundo atual que nos entristecem/indig-
nam? Por quê?
• Que concepções temos de: Educação? Conhecimento? Escola?
Comunidade? Sala de aula? Professor? Aluno?
7. MARCO FILOSÓFICO
O “Marco Filosófico” equivale aos princípios norteadores do ideal
geral da instituição escolar. Fundamenta a proposta de sociedade, pes-
soa e educação assumida pelo grupo que compõe a equipe escolar e sua
comunidade.
Embora toda educação se baseie numa visão de homem e de socie-
dade, nem sempre as escolas explicitam ou discutem consciente e inten-
cionalmente as concepções subjacentes às suas práticas.
O processo de elaboração do Marco Filosófico dá esta oportunidade
tanto de explicitação, quanto de debate e busca de um consenso míni-
mo em torno de conteúdos epistemológicos, éticos, político-pedagógi-
cos e metodológicos.
Sugestão de Questões para Elaboração do Marco Filosófico:
8. MARCO OPERATIVO
O “Marco Operativo” é a explicitação do ideal da instituição escolar,
tendo em vista aquilo que queremos ou devemos ser. Diz respeito à
organização das ações da coletividade escolar naqueles campos de atua-
ção que compreendem a as três principais dimensões que configuram a
práxis educativa, quais sejam: a dimensão pedagógica, a dimensão co-
munitária e a dimensão administrativa.
234
A elaboração do Marco Operativo deve ser compatível e coerente
com o Marco Situacional e, em especial, com o Marco Filósófico, pois,
caso isso não ocorra, pode haver desarticulação entre a realidade geral
e as grandes finalidades assumidas. O Diagnóstico e a Programação são
elaborados com base nas indicações levantadas pelo Marco Operativo.
9. DIAGNÓSTICO
A comunidade escolar deve levantar as características atuais da esco-
la, suas limitações e possibilidades, os seus elementos identificadores, a
imagem que se quer construir quanto a seu papel na comunidade em
que está inserida.
Esse levantamento dos traços identificadores da escola constitui um
diagnóstico que servirá de base para a definição dos objetivos a perse-
guir, do modelo de gestão a ser adotado, dos conteúdos que devem ser
trabalhados, das formas de organização e funcionamento da unidade
escolar e sua função social no contexto local e global.
O diagnóstico trabalha a dimensão da realidade: Que características
(sociais, econômicas, culturais) têm a comunidade e a clientela a que
a escola atende? Como se apresenta à realidade da escola hoje? Que
características têm a sua gestão? Como se dá a participação da comu-
nidade nessa gestão? Que formas de organização escolar são adotadas?
Como estão as relações interpessoais no interior da escola? Que
características têm o trabalho pedagógico desenvolvido? Como se
apresentam os resultados da aprendizagem? Que processos e instru-
mentos de avaliação são utilizados? O diagnóstico não deve apenas ser
descritivo, mas tem de ser também analítico. Deve identificar necessi-
dades de mudanças, ou seja, responder: o que nos falta para ser o que
desejamos?
Essas e outras questões, a depender do momento e do contexto, po-
derão ser utilizadas tanto para identificar quanto para avaliar os avan-
ços alcançados pela escola na construção de sua identidade e contem-
plar essa questão no seu projeto político-pedagógico.
235
Aqui, vale ressaltar um dos grandes problemas que se vive, hoje, no
Brasil: a dificuldade de dispor de dados confiáveis que retratem o mais
fielmente possível a realidade da educação, sobretudo da educação bási-
ca, e que possam servir de apoio a um planejamento exequível.
Assim, é necessário que as escolas sejam cuidadosas no levantamen-
to de seus dados, de forma que eles possam de fato indicar como está
o seu funcionamento não só para o Censo, como para seu próprio uso,
no acompanhamento do seu desempenho.
10. PROGRAMAÇÃO
A programação é a definição do que vai ser feito e dos meios para
a superação dos problemas detectados, em busca da qualidade da edu-
cação oferecida pela escola. É a proposta de ação. Ou seja: definição
do que é necessário e possível fazer para diminuir a distância entre o
que a escola é e o que deveria ser. Quanto à periodicidade, a programa-
ção ou projeto pode ter abrangência anual, bianual ou outra definida
pelo grupo.
Necessidade e Possibilidade são os dois critérios fundamentais a par-
tir dos quais se define a programação. É preciso analisar criticamente os
limites da possibilidade a fim de superá-los.
É o conjunto de ações concretas definidos pela instituição, no espa-
ço de tempo disponível, que tem por objetivo superar as necessidades
identificadas. Dito de outra forma é a proposta de ação para sanar (satis-
fazer) as necessidades apresentadas pelo Diagnóstico (Gandin, 1991:45).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A continuidade dos processos normativos conta com ações efetivas
que permeiam a sociedade na sua essência de participação, sendo assim
precisam envolver a sociedade e requer esfoço para se constituir em
ações de consciência e transformação.
Nos questionamentos retratados pelo: “Marco Situacional” de
(onde estamos, como vemos a realidade), pelo “Marco Doutrinal ou
236
Filosófico” de (para onde queremos ir), pelo “Marco Operativo” de
(que horizonte queremos para nossa ação) traça se o diagnostico da
realidade da unidade escolar no contexto local e global.
As práticas educativas acontecem no engajamento de princípios teó-
ricos legais que sejam coerentes com a prática, sendo o importante o
viés da humanização diante da pesperctiva de transformação social.
237
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político-pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1ª ed. 2004.
NOTAS
1. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia Del Paraguay - PY. Mestre
em Educação pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: pradoj2000@yahoo.com.br
2. Mestre em Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Vale da Paraí-
ba - UNIVAP. E-mail: tecalacrino@yahoo.com.br
238
XIV
CRIANÇA SURDA: DISCURSOS
TENDENCIOSOS E INSTRUMENTOS DE
ACESSO UTILIZADOS EQUIVOCADAMENTE
NA PROMOÇÃO DE EXCLUSÃO
Autor: Kátia Cirlene de Amorim Nakahodo1
Coautores: Jefferson Antonio do Prado2
Elen Pereira Gomes3
RESUMO
O objetivo deste trabalho é propor um olhar crítico diante de prá-
ticas equivocadas consonantes com a realidade das pessoas surdas e de
sua aprendizagem, já que paradigmas antigos que ainda são presen-
tes, possivelmente promovem a exclusão. De acordo com a história, o
oralismo foi uma imposição que trouxe diversos problemas e fracasso
escolar. No entanto, a comunidade Surda organizou-se e conquistou
direitos civis e de uso da língua de sinais como primeira língua e a lín-
gua portuguesa como segunda língua, mesmo diante das conquistas e
de uma história que retrata extermínio, segregação, atrocidades e in-
consistências sem considerar suas diferenças. Ainda temos os pais in-
fluenciados pela área da saúde impondo escolhas veladas de imposição
da oralidade e crianças surdas que deveriam ser estimuladas precoce-
mente, evitando prejuízos em relação à aprendizagem escolar e à vida.
Não proibindo o estímulo da oralidade, a proposta bilíngue reforça a
importância no estímulo para aprendizagem na potencialidade, na vi-
sualidade e não na audição ou na fala, possibilitando à criança surda a
liberdade na expressão de ideias.
PALAVRAS-CHAVE: Discursos. Direitos. Influência. Bilinguismo,
Potencialidade.
239
INTRODUÇÃO
Recontando suscintamente a história dos surdos por meio de di-
versas fontes bibliográficas, contando com a ajuda de especialistas que
descrevem tempo e lugar ocupado pelo surdo desde a antiguidade por
meio de um mapa de construção de paradigmas que terrivelmente cul-
minaram na estimulação precária de crianças surdas em nome de uma
inclusão tendenciosa que leva a exclusão.
Fatos consagrados revelam inicialmente que as pessoas surdas na an-
tiguidade eram exterminadas bem como todas as pessoas que nasciam
com qualquer deficiência, futuramente adoradas e posteriormente se-
gregadas em sanatórios longe de suas famílias.
Famílias orientadas pela ciência médica submeteram-nos as mais
brutais e terríveis atrocidades em busca da correção do ouvido de seus
filhos surdos, enxergando a surdez como moléstia que deveria ser tra-
tada na busca de recuperação. Sujeitos a testes registrados pelo médico
Jean Marc Itard em 1821, Itard, detinha influência científica direta em
uma escola para crianças surdas em Paris.
De acordo com Moura (1996), Itard por meio de cirurgia, separava
isolava o órgão patologicamente afetado, analisando de modo minu-
cioso a estrutura do ouvido para melhor compreendê-lo, em algumas
bibliografias é usado o termo dissecar, aplicou cargas elétricas nas ore-
lhas, introduziu sanguessugas, atravessou tímpanos com objetos per-
furantes, fraturou crânios de alunos surdos, entre outras crueldades,
justificava seus atos extremistas que em nome da cura da enfermidade
não importava o sofrimento que fosse causado.
240
utilizar outras formas de intervenção? Transformar uma das grandes figu-
ras da medicina e da educação dos surdos (mesmo que se tenha posição
contrária à defendida por ele) num algoz é, no mínimo, temerário. (Moura
1996, p. 42)
241
grande influência neste congresso. Os únicos países contra a proibição
eram os Estados Unidos e Grã-Bretanha, havia professores surdos tam-
bém, mas as suas vozes não foram ouvidas e excluídas de seus direitos de
votarem (p.33).
242
deveria ser acolhida e amada, é vista apenas como um ouvido que deve
ser curado de acordo com Petean (1995, p.69).
243
Documentos legais apontam o resguardado à família à escolha da
abordagem educativa e pedagógica utilizada como meio formativo do
filho surdo. Contudo, é perceptível uma contradição no que tange a
escolha da opção.
Baseando-se no conceito da palavra opção, segundo o dicionário
HOAIS, seria a ação de optar, de escolher entre duas ou várias coisas,
escolha, preferência. Portanto, supõe-se que não haja escolha, já que
desde o primeiro caminho percorrido pelos pais é a busca da cura e
da reparação da surdez, refletindo sobre essa problemática é percebido
que há uma velada imposição da oralidade.
A problemática vai além das escolhas, a abordagem oralista não ad-
mite o uso da língua de sinais sem ao menos levar em consideração
questões de percepção visual. De acordo com Bergès (1997) as práticas
orais, sem considerar a potencialidade e o desenvolvimento natural, e
cada momento do processo de aprendizagem da língua de sinais, pro-
picia essa imposição com discurso de opção e apresentam algumas im-
plicações sérias:
244
Portanto, é reconhecido por especialistas que dominar a leitura la-
bial e a decodificação dos sons leva-se muito tempo, trazendo prejuízo
a etapas de desenvolvimento escolar. Aprender falar para ser compreen-
dido e parecer-se o mais próximo possível de um ouvinte e ainda assim
ser reconhecido pela doença e pela falta de audição pela fala diferente.
Os maiores problemas evidenciados por meio das analises bibliográ-
ficas por meio da história que especialistas ouvintes determinam a vida
escolar das crianças surdas, não consideram a opinião dentro das pers-
pectivas da pessoa surda é percorrido o caminho da aceitação ouvinte e
não da perspectiva de quem vive a surdez.
245
optar pelo tipo de abordagem educacional seus filhos, em alguns mo-
mentos o documento revela inconsistências quando descreve o bilin-
guismo, no entanto esse trabalho limita-se em abordar a questão da
escolha das famílias pela opção da abordagem pedagógica que poderá
trazer marcas irreparáveis como vimos em citações anteriores.
O Conselho Nacional de Educação aprovou a Resolução Nº 02/2001
que institui as Diretrizes nacionais para educação especial na educação
básica. Essas Diretrizes incluem os alunos surdos no grupo daqueles
com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos de-
mais alunos, e que demanda a utilização de linguagens e códigos aplicá-
veis. O parágrafo 2º do art. 12 dessa Resolução diz:
Diante de pesquisas e citações que nos permite inferir que uma pos-
sível influência interfere escolhas às cegas por uma metodologia que
não garante aprendizagem na reflexão em relação a esta escolha ten-
denciosa e injusta com as famílias e com a criança surda, levando em
consideração, saber que, antes de uma opção na forma de educar deve
haver conhecimento de duas ou mais abordagens. Levar em considera-
ção um fator essencial e conceitual que legitima uma escolha.
Se colocarmos de forma não tendenciosa, apontando abordagens
como a perspectiva clínica e a versão “sócio-antropológica”, dificulda-
des reais de aprendizagem e fracasso escolar deveriam ser questionadas
246
para que assim a melhor opção, e com consciência crítica, pudessem ser
agregados a discursos da surdez.
Ao abrir precedentes equívocos na escolarização maquiando as dife-
renças e suprimindo potencialidades, refletindo e questionando a res-
peito do momento em que é apresentada aos pais a opção.
Quando e em que momento a opção na visão sócio antropológica
é apresentada? Qual é seu argumento central? Que potencialidade tem
criança surda em seu processo de aquisição de linguagem por meio da
visualidade e por meio da oralidade? Em qual formato é proporcionan-
do acesso? A uma língua de sinais precocemente fazendo parte da vida
da criança traria mais possibilidades de compreensão?
O que permite a chegada de conhecimento de mundo, expressão
de ideias, comparações e questionamentos próprios da sua etapa de
aprendizagem significativa, tendo como máxima o direito de ser acei-
to e ensinado por meio de sua língua natural evitando possíveis defa-
sagens pode garantir acesso ao surdo pertencer ao seu momento de
aprendizagem.
O mesmo acontece na educação de indígenas e quilombolas que es-
cutam tem direitos à educação significativa. Pessoas com cegueira que
por meio de uma leitura específica tem direito de acesso significativo.
Portanto evidências nos revelam um resquício de cem anos de oralis-
mo nos levando a questionar que a escolha por influencia da saúde tem
sido tendenciosas e equivocadamente tem determinado o que e como
acontece no ambiente educacional.
Lançando mão da BNCC construída a fim de atender a aprendiza-
gem pelos eixos estruturantes como a interação e brincadeiras que per-
mite o acesso aos seis direitos de aprendizagem: “conhecer-se, conviver,
expressar, brincar, explorar e participar”, propõe-se um desafio: deve
ser feito antes de impor a oralidade que será aprendida tardiamente,
provocando rupturas e possível negação dos direitos da criança surda
na educação infantil que terá que lidar provavelmente com a defasagem
por etapas de aprendizagem que deveriam ser naturais e significativas.
247
A premissa básica da abordagem sócio antropológica compreende
que pessoas surdas por não ouvirem estímulos auditivos não lhe farão
sentido. Tomando como exemplo: uma simples brincadeira das cadei-
ras, para os ouvintes é realizada por meio do som e para crianças surdas
a luz é acessa ou apagada no momento em que a música acaba.
Uma atividade de proporção de saber aproximadamente quantas
tampinhas tem em uma caixa, certamente a criança surda ficará aquém
a resposta esperada, contudo se estimulada precocemente terá possi-
bilidades maiores de equidade em relação aos colegas, a aquisição da
língua oral não seria capaz de oferecer subsídios para compreender a
proposta.
Portanto, com na visão sócio - antropológica a oferta da educação
bilíngue tem como pressuposto principal a aquisição da língua natural
como primeira língua e a língua portuguesa, no caso do Brasil como
segunda língua. Como nos exemplos apresentados anteriormente a
criança seria ensinada por meio da língua de sinais, durante o processo
escolar a criança e os próprios colegas e professor sabem Libras no mo-
mento das interações e gradativamente essa aprendizagem acontece.
As possibilidades de construção de bases sólidas para o letramento
com menos possibilidades de defasagens, nesse caso a língua de sinais
serve de ponte para aprendizagem da segunda língua. O ideal é que a
família tenha acesso à língua de sinais e faça uso corrente dela no am-
biente familiar.
O estímulo da fala não se dá em sala de aula. Terapias da fala não são
trabalhadas na escola, segundo Brasil (1996):
248
A história retrata fracasso escolar por meio da imposição do ora-
lismo determinado no congresso de Milão. Práticas de medicalização,
experiências cruéis em nome de ciência e prestígio por meio de varias
militâncias e politização da comunidade surda que recupera o direito
de uso de sua própria língua legalmente reconhecida.
Contribuições com pesquisas que sócio históricas surgindo a abor-
dagem bilíngue com uma visão antropológica que valoriza a diferen-
ça e a potencialidade das pessoas surdas, dentro deste contexto de
realizações importantes para uma comunidade que se estruturou e
organizou sendo protagonista de sua história, Machado (2008) afir-
ma que “parece haver um consenso mudo, por exemplo, sobre o fato
de que, se todos falam, esse estudante deve também falar” Machado
(2008, p. 24).
A pessoa que escuta entende pela oralidade, o surdo não escuta logo
as informações chegam a ele pelo canal visual e não auditivo. Para Ma-
rilena Chauí a linguagem dá possibilidades de exprimir o pensamento
possibilitando a participação indagando, questionando na busca do per-
tencimento que se dá de forma espontânea, esse direito de pertencer
vem além do falar ou entender o que se fala, é necessário pensar e ex-
pressar-se de forma natural.
Documentos elaborados para a acessibilidade são usados como fer-
ramenta de exclusão, falando da opção de escolha da família quanto à
abordagem educacional, contudo desde a mais tenra idade os pais so-
frem influência direta ainda com resquícios da área da saúde que por
muitos anos via a surdez como doença na busca do reparo da surdez, as
práticas oralistas vêm sendo imposta de maneira velada.
Após esse luto citado pelo autor surgem situações adversas e orien-
tações equivocadas como clínico patológico em detrimento de estímu-
los cognitivos para as variadas habilidades previstas na BNCC (2017)
com princípios e eixos estruturantes na educação infantil de importân-
cia desde sua mais tenra idade o acesso esses estímulos de habilidades
são prejudicados em relação à equidade em relação a criança ouvinte.
249
A língua de sinais possibilita a aprendizagem natural, centrado na
potencialidade inata da visualidade, a língua de sinais poderia oferecer
esse desenvolvimento em equidade a uma criança ouvinte que recebe
estímulos mesmo antes de nascer. Dificilmente os pais são orientados
a procurar um profissional que os ajude entender os processos de de-
senvolvimento cognitivo por meio do que o filho o inverso é feito, pelo
que lhe falta é estimulado.
Fazendo um comparativo a criança cega em relação a criança surda
que respeitado o direito de acessibilidade por meio do Braile que mes-
mo com o uso de órteses e próteses são estimulados desde os primeiros
anos a compreender os estímulos por meio também do braile, durante
de histórias é ofertado reconhecer os símbolos por meio das tecnolo-
gias possíveis de reconhecimento desses símbolos ao escrever e ler futu-
ramente por meio do braile principalmente por sua potencialidade tátil
é estimulada e respeitada. O mesmo não acontece com a criança surda,
pois segundo SANTANA (2007)
250
A abordagem bilíngue tem a proposta voltada a educação significa-
tiva por meio de uma língua que serve de ponte para o aprendizado de
uma segunda língua. Goldfeld (1997) refere-se ao bilinguismo como:
A melhor opção educacional para a criança surda, pois a expõe a uma lín-
gua, de fácil acesso, a língua de sinais, que pode evitar o atraso da lingua-
gem e possibilitar um pleno desenvolvimento cognitivo, além de expor a
criança à linguagem oral, que é essencial para seu convívio com a comuni-
dade ouvinte e a sua própria família” (p.160)
251
comunicação e aprendizagem por meio da potencialidade permitindo
o acesso por meio da diferença na percepção visual do mundo ao redor.
Portanto, é necessária a construção de políticas de acesso que não
permita essas contradições que ao falar de igualdade de oportunidade
oferecer recursos adequados com iguais oportunidades de acesso a es-
colarização respeitando a pluralidade. Isso permite que os pais conhe-
çam e sejam assistidos para melhor encaminharem seus filhos evitando
equívocos na sua formação tendo acesso precoce a linguagem e a lín-
gua natural, já que a percepção não é a auditiva.
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taria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
NOTAS
1. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela FAPSS de São Caetano do Sul.
E-mail: kamorim686@gmail.com
2. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia Del Paraguay. Mestre em
Educação pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. E-mail: pradoj2000@yahoo.com.br
3. Mestranda em Educação Bilíngue pelo INES. Especialista em Educação Especial e Inclusiva
pelo INES. E-mail: elengomes33@bol.com.br
253
XV
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM:
UMA ANÁLISE
Autor: Bernard Pereira Almeida1
Coautores: Kátia Cirlene de Amorim Nakahodo2
Mara Dias Pereira3
Nívea Maria Silva Farias4
Juliette Duarte de Souza5
Manoel Augusto Miranda Dourado6
Márcia Marques da Silva7
RESUMO
Todos passamos pelo processo de aprendizagem em nossas vidas.
Ao nascermos, aprendemos a emitir sons, mostrar desejos, caminhar,
falar, brincar e mais. Em uma certa idade, inicia-se a vida escolar, na
qual será o momento de aprender a alfabetização e o letramento.
Nessa fase, algumas crianças começam a apresentar dificuldades de
aprendizagem, o que pode ser identificado como um distúrbio, ou
seja, um fator que atrapalha a compreensão de uma criança sobre um
conhecimento. Entre esses distúrbios há a dislexia que é a dificuldade
no desenvolvimento da leitura; a disgrafia, que é a dificuldade na es-
crita; a discalculia, que é a dificuldade em contas matemáticas e mais.
Com base nessas dificuldades, o trabalho em questão buscou apresen-
tar métodos de intervenção e solução para que as crianças com dis-
túrbios possam aprender e se desenvolver como as demais. Para essa
pesquisa, de cunho qualitativo, foi feita uma investigação pedagógica
dos métodos aplicados às crianças com dificuldades e distúrbios de
aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: Distúrbio de Aprendizagem; Dificuldade;
Crianças; Aprendizagem.
255
1. INTRODUÇÃO
Alguns fatores cooperam para o insucesso da aprendizagem de
uma criança durante sua fase na escola. Além de dificuldades econô-
micas e sociais, existem as dificuldades de aprendizagem, ou distúr-
bios de aprendizagem. Os distúrbios de aprendizagem são deficiências
neurológicas que podem atrapalhar o desenvolvimento intelectual da
criança em relação à sua escrita, sua leitura, aos cálculos matemáticos
e outras.
No entanto, essas dificuldades podem ser tratadas e, assim, a criança
pode adquirir conhecimento como qualquer outra, mesmo que possua
um distúrbio. Para que sejam tratadas, então, esses distúrbios devem
ser, primeiramente identificados e diagnosticados. Não se pode confun-
dir uma mera dificuldade em relação a um conteúdo com um distúrbio
de aprendizagem. Distúrbios são as dificuldades persistentes e contí-
nuas e merecem, portanto, maior atenção.
Assim, com o objetivo de apresentar alguns dos distúrbios que
acometem algumas das crianças durante seu processo de aprendiza-
gem, o estudo em questão busca encontrar meios pedagógicos de se
intervir em tais distúrbios, permitindo que a criança desenvolva-se
normalmente em seu intelecto. Para chegar a conclusão esperada, o
trabalho parte de uma pesquisa de estratégia qualitativa, investigan-
do métodos pedagógicos para o tratamento de distúrbios de apren-
dizagem.
Dessa forma, o estudo a seguir, dividido em dois capítulos, busca
fazer uma apresentação desses distúrbios de aprendizagem, para, en-
tão, propor meios de intervenção e solução dessas dificuldades. Assim,
o primeiro capítulo, denominado dificuldades de aprendizagem dedica-se
a apresentar alguns dos mais comuns distúrbios de aprendizagem, sen-
do a dislexia, a dislalia, a disgrafia, a discalculia e o TDAH, ou trans-
torno de déficit de atenção/hiperatividade. Então, apresentará, no
segundo capítulo, algumas propostas de intervenção baseadas nessas
dificuldades.
256
2. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
As dificuldades de aprendizagem envolvem muitos fatores, podendo
estar relacionadas aos fatores fisiológicos, neurológicos e psicológicos,
como um mau funcionamento das funções cerebrais, fatores biológi-
cos, distúrbios e outros, como já pontuado alhures (ALMEIDA, 2019).
Porém, há uma grande importância em se identificar, em um aluno,
a diferença entre as dificuldades de aprendizagem e os distúrbios de
aprendizagem. Segundo Barbosa:
257
Figura 1 - Localização das funções específicas no processo de aquisição de aprendizagem
2.1 DISLEXIA
Segundo Signor (2015, p. 971), a dislexia “é entendida como uma desor-
dem neuro(bio)lógica que compromete a aquisição e o desenvolvimento
258
da linguagem escrita”. Esse distúrbio está entre os diagnósticos frequentes
de dificuldades nas escolas.
2.2 DISLALIA
A dislalia é, segundo (SOUZA, 2015, p. 6), “um distúrbio de articula-
ção comumente observado na sociedade, que consiste na dificuldade de
pronunciar determinados sons, podendo interferir também no aprendi-
zado da escrita”. Esta, apesar de parecer um distúrbio de menor impor-
tância se comparado a dislexia, é tão prejudicial quanto.
259
Não é incomum vermos crianças que, ao iniciarem seu processo de
aprendizagem, troquem algumas letras na fala, como o p pelo b, ou vi-
ce-versa. Então, as escolas buscam a superação dessa dificuldade foné-
tica tão comum nessas crianças. Porém, mesmo que algumas superem
essas dificuldades, outras não conseguem com a mesma facilidade, e,
aqui, deve-se ter a atenção para uma provável dislalia.
Logo, até certa idade é normal que crianças troquem algumas le-
tras por seus sons semelhantes, mas a persistência dessas trocas pode
ser um distúrbio de aprendizagem, isto é, uma dislalia. Segundo Souza
(2015, p. 6), considera-se a idade de oito anos como a idade aproximada
em que a criança atinge a maturidade necessária para produzir devida-
mente os sons linguísticos. Ao passar dessa idade, se o problema persis-
tir, deve ser feita uma avaliação médica que informará se há o distúrbio.
2.3 DISGRAFIA
A disgrafia é a dificuldade na escrita, ou, mais precisamente, como
colocado pelo dicionário informal (2013), é a “perturbação na faculda-
de de exprimir ideias por escrito”. Sendo assim, esse distúrbio envolve
uma certa dificuldade no desenvolvimento da escrita, sendo identifi-
cada quando a criança que escreve não consegue alcançar uma escrita
compreensiva da mesma forma que as demais crianças de sua idade.
260
diferentes e escrita confusa, sendo assim chamada de letra feia. Isso acontece
devido a uma incapacidade de recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar
este grafismo escreve muito lentamente o que acaba unindo inadequada-
mente as letras, tornando a letra ilegível. (MAGALHÃES, 2015, p. 13)
Dessa forma, por vezes essa dificuldade pode ser confundida com a
disortografia, que é outro distúrbio relacionado à escrita. O desenvolvi-
mento da escrita de forma inadequada, sendo a junção de letras ou pa-
lavras de forma incorreta, e demais problemas na escrita causados por
esse distúrbio, pode, também, atrapalhar que a criança se desenvolva
bem intelectualmente, pois ela não consegue compreender sua escrita.
2.4 DISCALCULIA
A Matemática, assim como o Português, está entre as matérias mais
essenciais no aprendizado das crianças, e uma dificuldade que impeça
que a criança se desenvolva bem intelectualmente nessa matéria pode
comprometer o seu futuro.
261
Segundo o estudo de Pimentel e Lara (2017, p. 6-7), existem seis ti-
pos de discalculia: a discalculia verbal, que é a dificuldade em nomear
quantidades matemáticas, como os números e os símbolos; a discalcu-
lia practognóstica, que é a dificuldade de enumerar e comparar objetos
reais ou imagens; a discalculia léxica, sendo a dificuldade na leitura dos
símbolos matemáticos; a discalculia gráfica, que é a dificuldade na es-
crita desses símbolos; a discalculia ideognóstica, que é a dificuldade na
compreensão matemática e formular operações mentais; e a discalculia
operacional, ou dificuldade na execução de operações e cálculos.
Assim, há a necessidade de que o funcionamento do cérebro da
criança em relação às suas habilidades matemáticas seja analisado e
compreendido. A discalculia deve ser, então, intervinda, como as de-
mais dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Crescer com tal difi-
culdade, sem o tratamento necessário, pode corromper todo o aprendi-
zado da criança, impedindo-a de se desenvolver bem intelectualmente.
Então, mesmo que seja um distúrbio ainda pouco estudado, já mostra
sua grande importância e complexidade.
2.5 TDAH
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, ou TDAH, é
uma das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças mais
estudada, pois é um dos fatores que mais encaminha crianças ao sistema
de saúde educacional. Segundo o Portal Anvisa (2012, p. 1), o TDAH, “fre-
quentemente associado com outros problemas comportamentais ou emo-
cionais, caracteriza-se por hiperatividade, dificuldade de concentração, im-
pulsividade e desatenção inadequada para a idade mental da criança”.
262
sejam responsáveis por uma vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genética ao
transtorno, à qual somam-se diferentes agentes ambientais. Desta forma, o
surgimento e a evolução do TDAH em um indivíduo parece depender de
quais genes de suscetibilidade estão agindo, de quanto cada um deles contri-
bui para a doença (ou seja, qual o tamanho do efeito de cada um) e da intera-
ção desses genes entre si e com o ambiente. (CLÍNICA RUBEDO, 2019)
263
A aprendizagem é tida como “um processo de mudança de comporta-
mento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neu-
rológicos, relacionais e ambientais” (INFOESCOLA, 2019). E entre os fato-
res que interferem na aprendizagem estão os fatores sociais, econômicos,
físicos e mentais, e identificar esses fatores é essencial para poder intervi-los.
264
modo de ser deve-se levar em conta seus aspectos orgânicos, cognitivos,
socioculturais e pedagógicos.
Então, entendendo qual era o problema, os pais, professores, psicopeda-
gogos e demais profissionais da educação e familiares puderam desenvolver
métodos de ensinar as crianças que possuíam essas dificuldades de forma que
aprendessem igualmente às outras. Nesse processo de ensino-aprendizagem,
então, é importante que as crianças com distúrbios sejam acompanhadas de
forma atenciosa, porém, não diferenciada das demais, para que se sintam iguais.
265
essas dificuldades de uma vez por todas ou podem apenas servir de
apoio para que o estudante consiga compreender melhor. O importan-
te é que a criança possa se desenvolver intelectualmente durante o seu
processo de aprendizagem. A leitura, a escrita e os cálculos matemáti-
cos são de essencial importância no conhecimento de todos. Portanto,
deve-se buscar de todos os meios pedagógicos para que as crianças não
sejam limitadas por causa de suas dificuldades de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o intuito de apresentar métodos pedagógicos de intervenção às
dificuldades e distúrbios de aprendizagem que as crianças apresentam
durante seu ensino, alguns dos distúrbios mais comuns entre as crianças
foram analisados e discutidos. Esses distúrbios, como a dislexia, a disgra-
fia, a dislalia, a discalculia, o TDAH, e outros, atrapalham o desenvolvi-
mento intelectual das crianças na escola, pois impedem que as crianças
compreendam bem a leitura, a escrita, a matemática e mais. Porém, a
não compreensão de conteúdos essenciais acarretam também o mau de-
senvolvimento da criança em demais matérias, se não entendem o que
leem, não compreendem um texto, seja ele de qual matéria for.
Para evitar, então, que as crianças passassem por dificuldades de
aprendizagem, sem compreender o conteúdo, o que pode lhes causar
o insucesso escolar, foram desenvolvidas estratégias de ensino focadas
na aprendizagem de crianças com distúrbios. Mas antes que essas estra-
tégias sejam aplicadas às crianças, é essencial que os professores com-
preendam a necessidade de sua maior atenção e foco a essas crianças,
pois necessitam de um ensino mais atencioso e especial, sem que, po-
rém, se sintam excluídas ou diferentes das demais crianças.
Então, a partir do momento em que os professores compreendem
que as crianças com distúrbios carecem de maior atenção e acompa-
nhamento, eles podem utilizar táticas práticas de aula, sendo práticas
esportivas ou recreativas que trabalhem no desenvolvimento inte-
lectual da criança. Podem acompanhá-la de perto durante as aulas
266
teóricas, verificando se a criança acompanha a matéria e entende o con-
teúdo, que pode, também, ser explicados por métodos que facilitem a
compreensão das crianças com distúrbios de aprendizagem.
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Grande: III CINTEDI, 2015.
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nal Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Erechim: URI, 2009.
PIMENTEL, Letícia da S.; LARA, Isabel C. M. de. Discalculia: O cérebro e as habili-
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SIGNOR, Rita. Dislexia: uma análise histórica e social. Rev. bras. linguist. apl. vol.
15, n° 4, Belo Horizonte out./dez. 2015. Pág. 971-999. Disponível em: <http://dx.
doi.org/10.1590/1984-639820158213>. Acesso em: 26 set. 2019.
SOUZA, Mariana Castro de. Dislalia na Escola. Instituto de Física de São Carlos –
IFSC. São Carlos: USP, 2015.
NOTAS
1. Doutorando em Educação, Mestre em Direito, Especialista em Direito do Trabalho. Espe-
cialista em Previdenciário. Especialista em Pedagogia e Docência do Ensino Superior. Advoga-
do Militante e Professor Universitário. E-mail: bernardadv@hotmail.com
2. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela FAPSS de São Caetano do Sul.
E-mail: kamorim686@gmail.com
3. Doutora em Ciência da Educação pela Universidad Americana. Mestre em Saúde Pública
pela Fundação Oswaldo Cruz. Graduada em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá, UNE-
SA. Graduada em Administração. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. E-mail: mara-
dpereira@yahoo.com.br
4. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. E-mail: amor-
faria7@hotmail.com
5. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay. Mestre em
Ciências da Educação pela Universidad Americana - PY. Graduada em Pedagogia pelas Faculda-
de de Educação Montenegro. E-mail: julietduarte@hotmail.com
6. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade Columbia del Paraguay. Mestre em Ciências
da Educação pela Universidade da Madeira- Funchal - Portugal. E-mail: md.manoel@bol.com.br
7. Márcia Marques da Silva. Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Columbia del
Paraguay - PY. E-mail: marcia.digah@gmail.com
268
XVI
EDUCAÇÃO LUTERANA E EDUCAÇÃO
PÚBLICA: UM NOVO PARADIGMA
Autor: Carlos Henrique Schneider1
RESUMO
A pesquisa é realizada em torno da educação luterana e da educação
pública. As práticas correspondem à sociedade brasileira, que além de
confessional possui várias religiões que vão do cristianismo ao sincretis-
mo. O novo paradigm proposto aponta-nos a tensão existente no pro-
cesso educacional brasileiro. Neste trabalho procuramos mostrar que
a educação luterana é uma educação confessional, religiosa e cristã,
enquanto a educação pública é a educação oferecida pelo governo bra-
sileiro. Aponta-nos, também, que a educação pública promove a escola
secular, ou seja, a escola secular é mostrada para discutir a multiplicida-
de de conteúdo e a influência da religião. Dessa forma, há uma tensão
existente na escola confessional cristã, na escola secular e na sociedade
confessional brasileira de educação pública.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Luterana, Educação Pública, Pa-
radigma.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa se desenvolve em torno da educação Luterana e a edu-
cação Pública. Práticas estas que correspondem com a sociedade brasi-
leira. A sociedade além de ser confessional, possui diversas religiões que
vão do cristianismo ao sincretismo.
O novo paradigma proposto no título mostra que a pesquisa reve-
lou a tensão existente no processo educacional brasileiro. Neste tra-
balho procuramos mostrar que a educação luterana é uma educação
269
confessional, religiosa e cristã, enquanto que a educação pública é a
educação oferecida pelo governo do Brasil.
A educação pública promove a escola laica, ou seja, a escola laica se
propõe a discutir a multiplicidade dos seus conteúdos sem a influência
da religião. Dados estes conhecimentos, perguntamos como é a socie-
dade brasileira.
Encontramos a resposta nas pesquisas de Ingo Wulf horst, o qual nos
mostra que a sociedade é confessional. Portanto, nossa pesquisa mostra
a tensão que existe entre a escola confessional cristã, a escola laica e a
sociedade confessional brasileira que usufrui do ensino público que por
sua vez promove um programa de ensino laico.
1. METODOLOGIA
Este trabalho se desenvolve a partir do princípio metodológico des-
critivo, de fonte e análise documental com revisão bibliográfica. Vamos
extrair da literatura as considerações já trabalhadas, que envolvem a
educação luterana e a educação pública, envolvendo a sociedade brasi-
leira e as normativas do governo do Brasil que se referem à educação
pública. Em nossa conclusão, queremos encontrar uma nova proposta,
a qual vai nos impulsionar em mais reflexões.
Estamos em busca de conhecimentos que nos ajudam a entender e
compreender o vasto campo educativo que nos envolve, abordamos em
nossa reflexão a tensão entre a escola pública e laica com a tensão dos alu-
nos da sociedade pluralista e religiosa, que desencadeia a sociedade confes-
sional, pois os cidadãos frequentam suas religiões no seu cotidiano e en-
quanto seres humanos precisam ser humanizados pela escola mediante um
programa de educação pública, no caso do Brasil, este programa é laico.
270
luterana nasce a partir do processo educacional praticado até então
pelo sistema feudal da Idade Média. A educação até então era formal e
padecia de inúmeras falhas, segundo Dr. Martinho Lutero, reformador
luterano do século XV.
271
compradores de material, consumidores de ideias e opiniões que esta-
vam sendo escritas, impressas e divulgadas, por consequência também
seriam pessoas mais informadas.
Embora a leitura incentivada e tida como oficial fosse a leitura dos
textos bíblicos, muitas coisas começaram a mudar neste período. Ob-
serve que as mudanças começam a acontecer dentro de um contexto
social, político, religioso e também educacional. O contexto educacio-
nal é pouco explorado pela literatura por ser uma proposta subjetiva.
Raramente conseguimos observar e notificar os pressupostos educa-
tivos que estão por detrás das ações, práticas e comportamentos das
pessoas. Não é costume fazer esta leitura, muito embora ela exista, seja
possível e requer esta identificação em busca de entender contextos e
movimentos históricos.
Diante de novas necessidades pedagógicas e filosóficas para atender
as demandas educacionais da época. Percebemos que o modelo feudal e
a ideologia da idade média não oferecem mais as respostas que a socie-
dade requer. Este é o espaço existente e latente na sociedade da época.
É neste contexto que surgiram novas propostas e novos conceitos sobre
educação. A educação passou a ser pensada, e valorizada, além de estar
sempre em ação à criatividade humana, ligada à tecnologia da época e
aliada aos avanços possíveis no campo da criatividade humana.
Estes avanços são inúmeros e relatos, e nos permitem fazer reflexões
no contexto social dos dias de hoje. Para atender a temática, a qual nos
propomos vamos nos ater à educação confessional Luterana e a educa-
ção laica praticada na escola pública no Governo do Brasil. A legislação
brasileira através da Lei nº8.793 de 21 de dezembro de 1993 em seu
inciso IV da Constituição Federal autoriza a educação confessional no
Brasil.
272
QUADRO: Lei que autoriza a educação confessional no Brasil
§ 2º. O aluno não será alvo de reprovação acadêmica nem lhe será atribuída
nota nessa disciplina.
273
Diante desta tensão, educação confessional e educação laica tece-
mos a seguinte questão. A sociedade é laica ou confessional? Sendo o
Brasil um país que possui liberdade de culto a todos os credos? Confor-
me o artigo 5º parágrafo VI da Constituição Federal, sobre a liberdade
religiosa, nos mostra que embora a constituição governe o país de for-
ma laica, permanece o direito de culto. O direito da liberdade de culto
permanece e conforme Wulf horst (1996) a sociedade brasileira é acen-
tuadamente religiosa, o que a designa em uma sociedade confessional.
3. A EDUCAÇÃO CONFESSIONAL
Conforme os escritos de Steyer (1996) a Educação Confessional Cris-
tã e Luterana foi trazida ao Brasil por ocasião do tratado de Imigração
no ano de 1800, quando o governo do Brasil aceitou receber imigrantes
alemães para trabalhar as terras do sul do país. Tal interesse transpassa-
va a ocupação das terras. Também existiam as especulações financeiras,
voltadas para a produtividade e os rendimentos do Reino. Enfim, o tra-
tado de Imigração está diretamente ligado aos planos da organização
social, política e financeira da Colônia portuguesa chamada Brasil.
A educação luterana é confessional, conforme Jahsmann (1987) é a
filosofia das éticas múltiplas. As éticas múltiplas evidenciam a formação
integral do ser humano. O programa educacional trazido pelo imigran-
te também está em evidencia. No contexto dos anos de 1800, por oca-
sião do tratado de Imigração com os alemães, o governo brasileiro teria
educação dos imigrantes proporcionada por eles mesmos.
Era costume e tradição na Europa da época, no território alemão, a
família se responsabilizar pela educação. A Filosofia Luterana de Edu-
cação propunha: “Ao lado de cada Igreja uma escola”. Segundo Sonkim
(2012) que a educação pública praticada pelo governo brasileiro é laica,
ou seja, é a educação das éticas mínimas, ou seja, a escola ensina os ele-
mentos básicos para a cidadania.
Dr. Martinho Lutero (1995, vol. 5, pg 308) em seu escrito de 1524 cha-
ma a atenção para o movimento social e político em que a Alemanha está
274
passando na época. As pessoas do campo estão saindo e todas vão morar
na cidade. A cidade está ficando cheia de pessoas, famílias com seus fi-
lhos, sem trabalho e sem educação.
O estado não possui profissionais adequados e em quantidade sufi-
ciente para acolher e trabalhar com todas as crianças. Portanto o estado
político deve se acelerar para habilitar pessoas para cuidar da educa-
ção. É importante olhar os seres humanos como filhos de Deus. Eles
enquanto crianças são seres que precisam de cuidados. “Deus em sua
infinita graça confiou a vida, o corpo e alma, além de outros bens como
a honra, a moral e agora é vez do estado político lhes oferecer a digni-
dade humana”.
O poder político na visão de Lutero tem sua responsabilidade volta-
da para com os seus patriotas, ou seja, com aqueles que nascem no país.
Agir com responsabilidade ética implica cuidar bem da educação das
crianças. Desenvolvendo estes cuidados o governo age com responsa-
bilidade. Sua responsabilidade possui implicações religiosas, pois cuidar
do próximo agrada a Deus. Uma das formas de cuidar é oferecer edu-
cação a todos.
O poder político também possui responsabilidades que vão além
do país, e da Igreja. O poder político possui responsabilidades com o
mundo, ou seja, é dever de quem governa, governar para o bem das
pessoas. Uma nação que não possui cuidados educativos tende a sofrer
inúmeros danos. O estado enquanto administração pública ou político
não precisa ser religioso, mas precisa conduzir a nação para promover o
bem, gerando paz e tranquilidade.
Para Warth (2000) os danos sempre serão de ordem pessoal. Em pri-
meira instancia quem sofre são os humanos. Para que tais males não
assolem pessoas, cidades e reinos; é preciso investir na educação. A
educação precisa ser completa. O cidadão no seu dia a dia possui di-
versos desafios e lutas pessoais. Enquanto cidadão precisa estar habili-
tado e por consequência quem deve habilitar o cidadão ao bem viver,
com bom discernimento, crítico ativo, participativo, produtivo e outras
275
habilidades deve ser o estado político, usando como instrumento edu-
cativo a escola.
Para Lutero a educação confessional é a base da construção de uma
sociedade organizada. A sociedade organizada é a sociedade pautada
na lei do amor ao próximo. Do cuidado com o outro, da assistência
pessoal e coletiva. Lutero escreve na explicação do quinto mandamento
em seu catecismo menor sobre os cuidados para com o próximo.
Para Jahsmann (1987) não é possível trabalhar a educação confessio-
nal sem aplicar a teologia. A Teologia é a Filosofia de Educação Cristã.
Mesmo assim, na escola confessional se ensinam todas as outras disci-
plinas com seus conteúdos. O que precisa ficar bem esclarecido é: “ Á
medida que a teologia determina o ponto de vista de alguém, seu com-
portamento ou seu pensamento”, ela é a filosofia de vida deste alguém.
Em Jahsmann (1987) encontramos o conceito que define e o argu-
mento que justifica a Filosofia Luterana de Educação, como: educação
confessional e cristã. A educação confessional é a educação das éticas
múltiplas, voltadas para a existência humana. A ética Cristã, é baseada
na escritura sagrada. Toda ela foi pensada a partir de correntes huma-
nistas. Devido ao humanismo, sempre temos a ética confessional volta-
da para os seres humanos e em tentativas de amenizar inconveniências
que se distanciam do humano.
4. A EDUCAÇÃO PUBLICA/LAICA
A educação pública desenvolvida no Brasil, no período contempo-
râneo, quando desenvolvida pelo estado é laica, ou seja, é um processo
educativo em que se discutem inúmeros temas sem a religião. A reli-
gião, seja ela qual for, não pertence ao estado político da nação. Isto
não significa dizer que no estado laico as práticas religiosas são impedi-
das, porém as religiões possuem suas ações separadas do estado.
As religiões agem de forma independente com liberdade para ex-
pressar suas vivencias e sua espiritualidade, de forma livre. O estado
laico não impede as manifestações culturais e religiosas, porém não as
276
pratica dentro de suas escolas. O corpo pedagógico da escola precisa
estar voltado para estas informações e administrar com conhecimento
o processo educativo. Os alunos, tal qual a sua religião, trarão para sala
de aulas, usos e costumes que estão inseridos em suas vidas a partir da
religião que praticam.
O processo educativo do estado laico requer profissionais de educa-
ção que tenham a percepção e o entendimento sobre a realidade. Quan-
do falamos que o professor deve conhecer a realidade dos alunos, da
escola, etc..., um dos aspectos da realidade é a religiosidade dos alunos
e suas implicações em salas de aulas do estado laico.
Conforme Lopes (2009) para conhecer a realidade e se manter atua-
lizado dentro do processo educacional, o diálogo é fundamental. Não
é possível uma proposta educacional sem dialogo. Não é possível o co-
nhecimento da realidade sem dialogo. Nesta pesquisa podemos ir além,
estender nossa compreensão com auxílio do pensamento do autor.
Lopes (2009) nos remete ao diálogo para conhecimento da realida-
de. Mas entendemos também por diálogo com a possibilidade de en-
tender as práticas existenciais de nosso aluno em seu cotidiano. Nosso
objetivo nesta pesquisa é discutir as práticas da escola pública, também
laica, ou seja, sem a presença da religião nas discussões e debates dos
conteúdos.
A escola pública, embora laica não pode esquecer que em seu am-
biente existencial os alunos frequentam a religião/igreja. Conforme
Wulf horst (1996) a sociedade brasileira é confessional, embora nem to-
dos sejam cristãos. O que acontece na prática é: O estudante sai de sua
casa como alguém guiado, dirigido ou abençoado e entra na escola.
A escola precisa ter sensibilidade ao receber este aluno em seu meio.
Sua função não é desfazer as práticas nem os sentimentos do aluno. A
função da escola é considerar estes elementos presentes, enquanto ser
humano, como valores que lhe são atribuídos e a partir de então traba-
lhar os conteúdos pedagógicos da forma laica. Trabalhando sempre a
compreensão da multiplicidade.
277
A escola pública e laica se reserva ao direito de discutir de forma
múltipla os conteúdos e os temas essenciais à formação. Segundo Wul-
f horst (1996) a sociedade brasileira não é laica. A escola por sua vez
promove a construção de um dilema existencial. A sociedade é confes-
sional e a escola é laica. Para Lopes (2009) é de fundamental importân-
cia o diálogo do profissional de educação com estes conhecimentos.
Entendemos que os temas e conteúdos podem ser discutidos na sua
multiplicidade e não acarretam a necessidade de debates confessionais.
Mas entendemos a partir das reflexões de Lopes (2009) que não pode-
mos ignorar o diálogo, o conhecimento da realidade, os usos e os costu-
mes religiosos que são praticados na vida cotidiana dos alunos.
278
diferentes entre as religiões. Estas diferenças repercutem as ações, as
práticas e também o refletem tanto em casa junto de familiares enquan-
to na escola.
O profissional de educação do estado, promotor da educação pú-
blica precisa ter o entendimento de que a sociedade se manifesta em
seus atos e suas ações dentro da escola, pois os alunos vivem e se com-
portam dentro da escola assim como se comportam em suas casas. O
profissional de educação que estiver apto a fazer esta leitura em seus
alunos irá conhecer, entender e interpretar a realidade com muita pro-
ximidade do real.
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diversidade religiosa oferece a diversidade da ética e da moral. Thums
(1996) entende que ambas produzem ações e comportamentos dentro
da escola. Neste sentido ele propõe a educação dos sentimentos; como
alternativa para contemplar e compensar a diversidade. A educação dos
sentimentos, em seu entendimento acaba diminuindo a tensão entre
ações laicas e confessionais dentro da escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre a educação luterana e educação pública: Um
novo paradigma, nos mostra que existe uma tensão vivenciada pela
sociedade e pela escola. A sociedade se comporta de forma confessio-
nal e frequenta a escola luterana. A escola luterana é confessional e
cristã, enquanto que a sociedade é confessional, porém praticante de
várias religiões. A religiosidade no Brasil é vasta e nem sempre cristã,
porém esta mesma sociedade frequenta uma escola pública, laica en-
quanto que em sua cultura familiar frequenta suas igrejas. Portanto
de forma geral, ou um percentual bem alto da sociedade frequenta
suas igrejas, quem frequenta igrejas possui confissão de fé, ou confes-
sionalidade.
A pergunta que fica no final deste artigo é o seguinte? A sociedade
escolar é a mesma sociedade que frequenta igrejas, ou grupos religio-
sos, mas nas escolas públicas seguem o currículo laico. Até onde en-
tendemos, na construção do Projeto Político Pedagógico da escola e
escola deveria levantar os dados religiosos. A maioria dos alunos sendo
religiosa a escola deveria construir um PPP com currículo religioso tal
qual a população que a frequenta. Isto é o que entendemos por justo,
ou coerente, independente da escola ser pública e laica.
A sociedade confessional, confessional conforme vimos, ela frequen-
ta a escola pública. A escola pública, oferecida pelo governo do Brasil,
é laica. Novamente aparece a tensão entre a sociedade confessional e a
escola que é laica. Enquanto os alunos que frequentam a escola trazem
em seus históricos valores e sentimentos confessionais. A escola pública
280
trabalha com princípios e conceitos laicos. O que permite a escola tra-
balhar com a multiplicidade.
Para diminuir a tensão e também manter o clima organizacional,
baseado nas reflexões e, a execução dos conteúdos pedagógicos, se faz
necessário o diálogo, aberto. Requer dos profissionais o conhecimento
devido, da religiosidade que envolve a escola. Do reconhecimento da
ética e da moral que dirige a história de vida dos alunos.
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NOTA
1. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Columbia de Assunção-Py, Pastor
da Igreja Evangélica Luterana do Brasil no município de Cerejeiras-RO. E-mail: PrcarlosCAR-
LOSschneiderPrcarlos@hotmail.com
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Este livro foi composto em Dante
MT pela Editora Autografia.