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II SEMINÁRIO DA LINHA DE PESQUISA

EDUCAÇÃO, CULTURA, SOCIEDADE


PPGEDU/FAED/UFMS - 2022

DITOS, ESCRITOS, SILENCIADOS:


SUJEITOS HISTÓRICOS NA
CONTEMPORANEIDADE

ANAIS ELETRÔNICOS
17, 18 e 19 de agosto 2022
ISBN 978-85-88523-91-3
Prof. Dr. Marcelo Augusto Turine
Reitor

Profa. Dra. Fabiany de Cássia Tavares Silva


Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação
Projeto: 2º Ciclo Virtual de Extensão “35 anos de Produção de Conhecimento no
PPGEDU”

Profa. Dra. Jacira Helena do Vale Pereira de Assis


Coordenadora da Linha de Pesquisa
Educação, Cultura, Sociedade
Coordenadora Geral do Seminário

2
COMISSÕES
Logística Científica Secretaria
Linoel Leal Ordóñez Sandra Novais Sousa Marcelo Victor da Rosa
Antônio Carlos do Dayana de Oliveira Arruda Jacira Helena do Valle
Nascimento Osório Jéssica Lima Urbieta Pereira de Assis
Marcelo Correa Pires Átila Maria do N. Corrêa Agna dos Santos
Guilherme Henrique Weverlin Ferreira Brizola Anicésio
Pinheiro Bruna da Conceição
Ana Luiza Benato e Ximenes
Silva Cleide Maria dos
Passos
Arruda
Cristian Lopes Gomes
Isabelle da Cruz
Fernandes
Roselaine Alves Olmo
Tânia Cristina Barreto
de Souza Bello

Comissão Organizadora dos Anais


Antônio Carlos do Nascimento Osório
Linoel de Jesus Leal Ordóñez
Marcelo Correa Pires
Guilherme Henrique Pinheiro
Ana Luiza Benato e Silva

3
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

III Encontro Sul-Mato-Grossense de Pesquisadores em Educação – Linha de Pesquisa


Educação, Cultura, Sociedade (2022: Campo Grande, MS). ESPEDU – III Encontro
Sul-Mato-Grossense de Pesquisadores em Educação: Anais eletrônicos do II
Seminário da Linha de Pesquisa Educação, Cultura, Sociedade
PPGEDU/FAED/UFMS. Organização: Coordenação Geral do Seminário: Jacira
Helena do Vale Pereira de Assis. Comissão organizadora dos Anais: Antônio Carlos
do Nascimento Osório; Linoel de Jesus Leal Ordóñez; Marcelo Correa Pires;
Guilherme Henrique Pinheiro; Ana Luiza Benato e Silva. Campo Grande, MS. 2022.
Páginas 1-146.
ISBN 978-85-88523-91-3.
Pesquisa educacional – Mato Grosso do Sul – Seminário.

4
Índice
Apresentação 7

EIXO 1: QUESTÕES DE MIGRAÇÃO, RAÇA E ETNIA 8

BANCAS DE HETEROIDENTIFICAÇÃO NO MATO GROSSO DO


SUL:CONSIDERAÇÕES POR MEIO DE UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA NA
9
REVISTA ABPN
Bruna da Conceição Ximenes

LUTAS E RESISTÊNCIAS ÉTNICOS-RACIAIS E O PENSAMENTO ADORNIANO


PARA UMA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA 16
Luís Carlos dos Santos Nunes

A LEI 10639 DE 2003: UM CAMPO DE TENSÕES POLÍTICAS


25
Verônica Fernandes

EIXO 2: QUESTÕES DAS DIFERENÇAS/DEFICIÊNCIAS 30

O PARADOXO DA INCLUSÃO DE SUJEITOS SURDOS NO ENSINO SUPERIOR


31
Carlos Roberto de Oliveira Lima

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: REFLEXÕES E POSSIBILIDADES 36
Elisangela Mitiko Higa Kubota Maekawa

A TRANSLINGUAGEM NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA


EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS 41
Karine Albuquerque de Negreiros

O ENSINO BILINGUE PARA SURDOS EM UMA PERPECTIVA TRANSLÍGUE:


DIÁLOGOS COM ENSINO-APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS 48
Nelson Dias

EIXO 4: QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO,


58
CULTURA, DIFERENÇA, DESIGUALDADE

ESCAVANDO O OBJETO
59
Ana Luiza Benato e Silva

AS FERRAMENTAS FOUCALTIANAS: Potencialidades de pesquisa


64
Guilherme Henrique Pinheiro

INSTITUCIONALIDADE DA PSICOLOGIA JURÍDICA: REFLEXÃO SOBRE A


PRÁTICA PROFISSIONAL NA ÁREA JURÍDICA 69
Jonathas Ferreira Santos

A GOVERNAMENTALIDADE NA REFORMA DO ENSINO MÉDIO – LEI Nº


13.415/2017 74
Marcelo Correa Pires

O ENCELAMENTO DO ENSINO NA PENITENCIÁRIA FEDERAL DE CAMPO


GRANDE/MS 79
Clayton da Silva Barcelos

SUJEITOS EGRESSOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:


84
INCURSÕES EM FOUCAULT
5
Dayana de Oliveira Arruda

FRAGMENTOS CURRICULARES: PEDAGOGIA


89
Thaís Cardozo de Souza

PROGRAMAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA: REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA NA


REALIDADE ESCOLAR 100
Weverlin Ferreira Brizola

EIXO 6: QUESTÕES DE MEMÓRIA: BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS E


105
INSTITUIÇÕES ESCOLARES

A TRAJETÓRIA DE OLIVA ENCISO NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES


FILANTRÓPICAS, INCLUSIVAS E PROFISSIONALIZANTES NÃO ESTATAIS 106
Adriana Espindola Britez

O COLÉGIO NOSSA SENHORA AUXILIADORA E O IMPRESSO ESCOLAR


ECOS JUVENIS: UM OBJETO EM CONSTRUÇÃO 111
Cristian Lopez Gomes

PERCALÇOS E PERCURSO DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA


PERSPECTIVA BOURDEUSIANA (2009 - 2019): ABORDAGENS BIOGRÁFICAS
NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO.
116
Stephanie Amaya

A TRAJETÓRIA DA CONGREGAÇÃO SALESIANA NO CAMPO EDUCACIONAL


NO SUL DO ANTIGO MATO GROSSO (1989-1977) 121
Heloise Vargas de Andrade

A IMPRENSA ESCOLAR SALESIANA EM CAMPO GRANDE/MT (1935-1947): EM


ESTUDO O PERIÓDICO ESCOLAR O GINÁSIO 126
Jéssica Lima Urbieta

AS FILHAS DE MARIA AUXILIADORA NO SUL DO ANTIGO MATO GROSSO:


LEVANTAMENTO DE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS 131
Roselaine Alves Olmo

A TRAJETÓRIA DE MULHERES CIENTISTAS SOB A PERSPECTIVA DAS


TEORIAS DE PIERRE BOURDIEU
Zélia Vieira de Quevedo Bakargi
137

REGISTROS: FOTOGRAFIAS DOS EVENTOS 142

6
O PARADOXO DA INCLUSÃO DE SUJEITOS SURDOS NO
ENSINO SUPERIOR

Carlos Roberto de Oliveira Lima1


Oliveira.lima@ufms.br
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Introdução

Neste texto, realizo uma exposição de falas oriundas de entrevistas realizadas com
acadêmicos surdos da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) campus
cidade universitária. Neste sentido, se faz inportante pontuar que a instituição principia uma
formalização de seu olhar para o atendimento a pessoas com deficiência a partir da criação do
Programa INCLUIR. A existência deste programa, segundo Cleudimara Sanches Sartori Silva
(2013), é um fruto da Portaria nº 3.284/03, conjugada com o decreto nº 5.296/04, que
regulamenta a Lei nº 10.048/00 e a Lei 10.098/00, juntamente com o decreto nº 5.626/05, que
regulamenta a Lei da Língua Brasileira de Sinais.
Na UFMS, o embrião do Programa INCLUIR se instaurou no ano de 2006, quando a
Instituição foi contemplada com recursos para a aquisição de materiais específicos para
acadêmicos com deficiências. Cleudimara Sanches Sartori Silva (2013, p. 94) pontua que, neste
edital de 2006, “[...] a UFMS foi contemplada e não foram solicitados recursos para contratação
de pessoas e, devido aos prazos não cumpridos, a UFMS teve que devolver quase 50% do
recurso recebido”.
Esse formato do Programa INCLUIR, onde docentes ligados à área da Educação Especial
se inscreviam em editais para receberem recursos para promoverem ações de inclusão, esteve
em vigor até 2011 quando, por intermédio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI), o Programa passou a ter a finalidade de institucionalizar as
ações de acessibilidade nas Instituições de Ensino Superior (IES) por meio de criação de Núcleos
de Acessibilidade (SANTANA, 2016).

1
Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGEdu/UFMS). Integrante do
Grupo de Estudos e de Investigação Acadêmica nos Referenciais Foucaultianos (GEIARF/CNPq).
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Foi institucionalizada, então, na UFMS, uma Divisão que levou o nome de Divisão de
Acessibilidade e Ações Afirmativas (DIAF), hoje denominada Secretaria de Acessibilidade e
Ações Afirmativas (SEAAF) cujo fim é atender o público alvo da Educação Especial.
Nos tópicos seguintes elucido os percursos metodológicos da pesquisa e a divisão
trabalhada nos três distintos períodos institucionais apresentados: período de resistência, de
transição e inclusivo.

Percursos metodológicos e a divisão temporal como estratégia de análise


Para proceder ao levantamento de dados, utilizei como instrumento de pesquisa
entrevistas semiestruturadas. O roteiro das entrevistas foi composto por perguntas abertas. As
entrevistas foram realizadas por intermédio do aplicativo Google Meet. As entrevistas foram
filmadas, salvas, transcritas e categorizadas. O tempo total de diálogo para as cinco entrevistas
foi de três horas e dez minutos.
As leituras das narrativas surdas são realizadas a partir dos referenciais foucaultianos e
com o apoio de autores como Judith Butler e Guacira Lopes Louro que atuam trabalhando com
questões relativas à formação de subjetividades.
Dentre os acadêmicos contactados, cinco discentes se disponibilizaram a conceder
entrevista, sendo, três com vínculos encerrados com a instituição e, dois que estão regularmente
matriculados no período vigente desta pesquisa ocorrida entre 2020 e 2021.
Ao perceber que os estudantes que aceitaram participar desta análise pertenciam a
períodos institucionais muito diferentes, havendo participantes que estiveram na instituição em
1992 e outros que estão regularmente matriculados, optei por dividi-los em três períodos de
análise.

Período de Resistência: decurso anterior a 2000


Este período inicial é caracterizado pela falta de registros institucionais voltados às
atividades políticas de inclusão, de permanência e educação para as pessoas com deficiência
dentro deste ambiente educacional. Neste cenário, Senhor Antônio 2 ingressa na UFMS no ano
de 1992, aos 31 anos de idade, no Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo.
Em sua perspectiva, por estar nos anos iniciais da implantação do curso de Jornalismo, a UFMS
apresentava muitas “deficiências”.
Frente à época em que ingressou, Senhor Antônio, se considerava um “capiau, [que] não

2
Os nomes utilizados nesta pesquisa são fictícios para proteçao da identidade dos entrevistados.
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tinha o instinto de sobrevivência que eu tenho hoje como cidadão”. Por este motivo, se submeteu
aos procedimentos de sua época, sujeitando-se a situações que hoje “não aceitaria”. A surdez
para o Senhor Antônio ocorreu aos seus 22 anos de idade.
A convivência com os demais acadêmicos durante períodos de trabalho em grupo se
apresentava como um momento hostil. De certa forma, essa hostilidade é apontada pelo
entrevistado devido a suas mais variadas intersecções: “[...] eu usava aquela prótese retro
auricular [...] eu sou calvo, uso óculos [...]eu entrei em um processo de depressão [...] A minha
imagem também nunca foi lá grandes coisas [...] eu era um dos mais velhos da turma [...] fui
discriminado por ser pobre”.

Os termos que o Senhor Antônio pontua para o reconhecimento de si mesmo, de acordo


com os estudos foucaultianos, estão envoltos em regimes de verdades3. Estes estão, até certo
ponto, fora do sujeito, e por base nestes regimes, o sujeito reconhece-se a si mesmo. Em outras
palavras, estes “[...] regimes[s] de verdade que decide[m] quais formas de ser serão
reconhecíveis e não reconhecíveis” (BUTLER, 2015, p. 35).

Período de Transição: gradual implantação das políticas inclusivas (2001-2012)


O segundo período de atendimento aos acadêmicos surdos na UFMS é caracterizado
pelas mudanças decorrentes da aplicação de leis e decretos sancionados. Neste período,
estiveram na Instituição o Senhor José, que cursou História de 2009 a 2013, e Mauro que cursou
Direito de 2003 a 2008.
Segundo relatos do Senhor José, sempre fora bem aceito. Os professores de sua época
apresentavam consideração pelo mesmo. Sua maior dificuldade estava em relação a questão
tecnológica: “O meu problema, sabe qual foi? Não foi nem ouvir. Eu era zero à esquerda na
informática [...] Todos os trabalhos digitais tinham esse negócio de tal de PDF, de Power Point,
e eu ficava “Vissh!”. Meu medo era esse [...]”. Por apresentar este “problema” Senhor José
utiliza uma técnica para suprimir esta necessidade: “Então, o que eu fazia para suprir ali a
deficiência? Eu que fazia as pesquisas, você está entendendo? Eu ia para a biblioteca procurar
livros, porque eu gosto de procurar pesquisas em livros”.
Diferentemente do período de resistência, nota-se uma mudança no discurso em relação

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Por regime de verdade, entende-se a política geral que cria e acolhe a verdade, “isto é, os tipos de discurso que
ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados
verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados
para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro”
(FOUCAULT, 2019, p. 52).
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ao posicionamento dos professores, dos colegas de classe e dos próprios sujeitos surdos, cada
qual a partir de suas intersecções. Entretanto, traços ainda comuns entre estes dois períodos
podem ser evidenciados em relação ao posicionamento do sujeito surdo sobre si mesmo: Senhor
Antônio: “[...] eu atribuía a ela [a surdez] a culpa por ter sido assim”. Senhor José: “[...] o que
eu fazia para suprir, ali, a deficiência? Eu que fazia as pesquisas [...]”. Mauro: “[...] dependia
de mim”.
A forma como tais discursos se apresentam aloca seus significados às experiências destes
sujeitos que estão atravessados e marcados pelas relações de poder. De acordo com Louro (2019,
p. 28), “[...] historicamente, os sujeitos tornam-se conscientes de seus corpos na medida em que
há um investimento disciplinar sobre eles”.

Período inclusivo: aplicação das leis inclusivas (2013 aos dias atuais)
Este período é caracterizado pela criação da antiga DIAF, hoje, SEAAF, pela contratação
de profissionais tradutores intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (TILS) e pelas
implantações das políticas de cotas e de permanência. A partir da efetivação destas Políticas
Públicas, percebe-se o ingresso do surdo sinalizante.
Com estas efetivações, Clarice, que entrou no curso de Medicina Veterinária aos 22 anos
de idade, e André, que entrou no curso de Audiovisual aos 20 anos de idade, puderam dar
continuidade a suas vidas acadêmicas no Ensino Superior – ambos surdos sinalizantes.
Existe uma relação de poder entranhada na relação entre acadêmicos surdos e TILS neste
limiar que pode resultar em atritos, caso não seja devidamente equilibrada. Exemplos destes
atritos aparecem neste relato de Clarice: “Alguns dos intérpretes também dizem as suas opiniões
em relação a mim ‘É melhor você ir para outro curso!’ [...] Também dizem: ‘É melhor você ir
para um curso mais leve’. [...] ‘Seria incrível, sensacional, você ir para o curso de Letras-
Libras’”.
Este discurso representa uma destas tensões. Existe, neste trecho, a noção de que aos
surdos caberia se formar em Letras-Libras por ser um curso que utiliza a Língua de Sinais e
poderia ser considerado mais “fácil” do que o curso de Medicina Veterinária, por exemplo,
dando a subentender que todo surdo, por ser surdo, estaria fadado a ser professor de Libras, o
que não se constitui como uma regra.

À guisa de conclusão
As análises acerca da produção dos discursos surdos mostraram que tais sujeitos são

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subjetivados, segundo os períodos em que estão alocados, a uma norma social, seja linguística
ou auditiva, que os fazem julgarem-se negativamente em relação a esta norma, o que revela uma
tensão que, ora se manifesta no próprio sujeito que internaliza esta diferença e procura formas
de encaixar-se à norma, ora no relacional, denunciando a in(ex)clusão em uma tentativa de
alterar as condições sociais em que se encontram.
Como demonstrou Foucault, todo discurso é produto de relações de poder. E no caso do
atendimento aos surdos na UFMS, tais relações de poder se manifestam neste dispositivo
pedagógico que age diretamente na forma de subjetivação destes discentes surdos fazendo-os
verem, narrarem, julgarem e governarem a si mesmos como sujeitos inscritos negativamente e
abaixo da norma institucional. Os entrevistados narraram situações que registram a tensão
gerada pelo esforço de adaptação ao processo de Educação Inclusiva – esforço físico, cognitivo
e emocional. Convivendo com os ouvintes, os discentes surdos se defrontam com a necessidade
de adequar-se à norma, sob o risco de serem considerados inaptos para o aprendizado no Ensino
Superior.

REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2015.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo
educado: pedagogias da sexualidade. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. p. 7-42.

SANTANA, Leila Lima de Souza. Acesso e permanência na educação superior - estratégias e ações
da divisão de acessibilidade e ações afirmativas/ DIAF na UFMS. 2016. 159 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Campo Grande, 2016.
Disponível em: https://repositorio.ufms.br:8443/jspui/handle/123456789/2840. Acesso em: 26 ago.
2020.

SILVA, Cleudimara Sanches Sartori. Acesso e permanência do estudante deficiente na educação


superior: análise do programa Incluir na universidade federal de Mato Grosso do Sul (2005 – 2010).
2013. 128 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Católica Dom Bosco, UCDB,
Campo Grande, 2013. Disponível em: https://site.ucdb.br/public/md-dissertacoes/1031482-cleudimara-
sanches.pdf. Acesso em: 24 set. 2020.

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